179 REIMPLANTE DE DENTES PERMANENTES AVULSIONADOS – RELATO DE CASO RICARDO MARTINS DE OLIVEIRA RUELLAS (*) ANTÔNIO CARLOS DE OLIVEIRA RUELLAS (**) CARLOS VENTURA DE OLIVEIRA RUELLAS (***) MARCELO MARTINS DE OLIVEIRA (****) ALUÍSIO MARTINS DE OLIVEIRA (*****) RESUMO Os autores descrevem um caso clínico de reimplante de dois incisivos superiores permanentes. Discutem os cuidados em relação a tratamento radicular, tratamento do alvéolo, exame radiográfico, imobilização e cuidados sistêmicos. DESCRITORES: avulsão dentária, reimplante, traumatismo. SUMMARY REIMPLANTATION OF AVULSED PERMANENT TEETH – REPORT OF CASE The authors describe a clinical case of reimplantation of two upper permanent incisors. They discuss the care in relation to root cleaning, socket preparation, radiographic examination, immobilization and sistemics care. KEY WORDS: tooth avulsion, reimplantation, traumatism. 1. INTRODUÇÃO Uma das principais causas de perdas de dentes permanentes anteriores é o traumatismo dentário. Em muitos casos, quando o traumatismo provoca a avulsão do dente, é possível realizar o reimplante no seu respectivo alvéolo. Os pacientes mais predispostos a este tipo de trauma são os portadores de maloclusão classe II 1ª divisão de Angle, onde há a presença de um acentuado “overjet”, deixando os incisivos superiores mais expostos ao risco de avulsão. O reimplante representa uma conduta conservadora, permitindo a preservação da função e da estética, protela ou evita a necessidade de trabalhos protéticos e reduz o impacto psicológico decorrente da perda imediata (Abrams, 1978; Matusow, 1985). Este artigo tem por objetivo relatar um caso clínico de reimplante de dois incisivos centrais permanentes superiores. 2. RELATO DO CASO Paciente M.V.S., 17 anos, apresentou-se na clínica odontológica com os dentes 11 e 21 avulsionados após traumatismo em tobogã. Os dentes haviam sido mantidos embrulhados em guardanapo e passavam-se, aproximadamente, nove horas após o acidente. Pelo exame clínico, verificou-se edema labial, sinais de fratura da tábua óssea vestibular, bem como fratura da borda incisal dos dentes 12, 11 e 21. Procedeu-se à lavagem dos elementos dentários avulsionados com soro fisiológico, segurando-os pelas coroas. As superfícies radiculares não foram tocadas, escovadas, esfregadas ou raspadas. Armazenaram-se os mesmos em solução fisiológica até que se procedesse o preparo dos alvéolos para os reimplantes. Realizou-se uma tomada radiográfica para verificar presença de possíveis fraturas ósseas ou dentárias (Figura 1). Os alvéolos foram lavados com soro fisiológico para remoção dos coágulos e levemente curetados para remoção de tecidos necrosados. Os elementos dentários avulsionados foram apreendidos pelas coroas, entre os dedos polegar e indicador, introduzidos lentamente nos alvéolos, usando os dentes vizinhos como referência para os seus reposicionamentos corretos e foram mantidos na posição final com leve pressão digital, por, (*) Mestrando em Ortodontia pela FO-UFRJ. (**) Professor de Ortodontia da FO-UFRJ e UNIFENAS. (***) Especialista em Prótese Dentária. (****) CD graduado pela EFOA. (*****) Aluno do Curso de Especialização em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial da UNIFENAS. R. Un. Alfenas, Alfenas, 4:179-181, 1 998 180 R. M. de O. RUELLAS et al. aproximadamente, três minutos, para evitar posterior recidiva. A imobilização foi feita por meio de contenção semi-rígida. Utilizou-se fio de aço “Twist-flex”, 0.018 polegadas, adaptado, passivamente, à forma da arcada e colado nas superfícies vestibulares dos dentes reimplantados e dos dentes vizinhos que serviram como ancoragem (Figura 2). A imobilização foi mantida por cinco semanas. Após os reimplantes, foi realizada outra tomada radiográfica. Foi prescrito antibiótico, por uma semana, em dosagem adequada e bochecho com clorexidina, com a finalidade de tratar possível infecção e de evitar acúmulo de placa bacteriana. Foi orientada higienização cuidadosa e repouso do dente (evitar seccionar alimentos com os dentes reimplantados por duas a três semanas). As bordas incisais fraturadas foram restauradas com resina fotoplimerizável. Foram realizados os tratamentos endodônticos dos dentes avulsionados após quatro dias (Figura 1). Figura 1- aAspecto radiográfico antes do reimplante e após o reimplante com o tratamento endodôntico realizado. 3. DISCUSSÃO Andreasen (1981), relata que os fatores etiológicos de avulsão dentária são, principalmente, os esportes e as brigas, bem como, em menor prevalência, crises de epilepsia, ausência de coordenação motora e acidentes automobilísticos, entre outros. O paciente relatado era portador de maloclusão Classe II, 1a divisão de Angle, o que tornou seus dentes mais expostos ao traumatismo. O reimplante é um dos procedimentos mais conservadores segundo Abrams (1978), embora o manuseio impróprio desta conduta ou do elemento dentário possa levar à perda dentária, como relatado por Shusterman, Meller e Kane (1976). O sucesso deste caso relatado dependerá da associação de vários fatores, tais como idade do paciente (Soares e Soares, 1987), tratamento da superfície radicular, terapia endodôntica, imobilização (Johnson, Goodrich e James, 1985), tempo decorrido até o reimplante (Andreasen, 1981; Coccia, 1980; Kehoe, 1986). O melhor meio de armazenagem é o próprio alvéolo (Johnson, Goodrich e James, 1985), podendo ser usado em ordem, de preferência, a própria saliva, o leite, seguido pela solução fisiológica (O’ Donnell e Wei, 1988). O envolvimento em lenço, papel ou mantido ao ar, desidrata os tecidos dentários e pode levar ao insucesso, segundo Rulli (1979). Embora, neste caso, o dente não tenha sido mantido em condições ideais e o tempo decorrido ter sido prolongado, após 4 meses ainda não houve comprometimento da eficácia do tratamento (Figura 2). É necessário a proservação trimestral, verificando, principalmente, a ocorrência de reabsorções radiculares, muito freqüentes em casos de reimplante de dentes. A imobilização semi-rígida permite arranjo funcional das fibras do ligamento periodontal, evitando a anquilose, como relatado por Massler (1974). Não foi recomendado, neste caso, a aplicação de anti-tetânico, pois o paciente havia sido submetido à profilaxia do tétano a menos de 5 anos, dispensandose tal conduta de acordo com O’Riordan, Ralstrom e Doerr (1982). Figura 2. Aspecto clínico com os dentes em contenção após o reimplante e quatro meses após o reimplante R. Un. Alfenas, Alfenas, 4:179-181,1998 REIMPLANTE DE DENTES PERMANENTES AVULSIONADOS – RELATO DE CASO 4.CONCLUSÕES Baseado nos resultados clínicos deste caso, conclui-se que o reimplante de dentes permanentes avulsionados é uma conduta clínica válida, preservando a função e estética, e evitando procedimentos protéticos. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRAMS, R.A. Replantation of an avulsed incisor. Case report. Quintessence Int., Berlim, v. 9, n. 11, p.85-87, Nov. 1978. ANDREASEN, J.O. Traumatics injuries of the teeth. 2 ed., Philadelphia: W.B. Saunders, 1981, p. 462. COCCIA, C.T. A clinical investigation of root resorption rates in reimplanted young permanent incisors: a five years study. J. Endod., Baltimore, v. 6, n. 1, p. 413-420, Jan. 1980. 181 O’RIORDAN, M.W.; RALSTROM, C.S. e DOERR, S.E. Treatment of avulsed permanent teeth: an update. J. Am. Dent. Assoc., Chicago, v. 105, n. 6, p. 1028-1030, Dec. 1982. RULLI, M.A. Aspectos biológicos dos reimplantes dentários. Uma síntese. Rev. 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