Podemos falar “se isso lhe APROUVER”?
Mais uma vez, a indagação acima, diante do amplo universo verbal de nosso léxico,
convida o leitor ao conhecimento de verbos pouco usuais: aprazer, desprazer e
prazer.
Há detalhe intrigante: ouve-se por aí a forma “se isso lhe aprouver...”, entretanto
poucos associariam o tempo em destaque ao verbo aprazer, que tem o sentido de
“causar ou sentir prazer”. É mais usado nas terceiras pessoas (do singular e do
plural). Portanto, pode-se usar apraz, aprazia, aprazerá, aprouve, aprouvera,
aprouvesse.
A forma “aprouver” indica o futuro do subjuntivo do verbo aprazer, bastante comum
como verbo transitivo indireto (“Todas as manhãs, o sol lhe apraz.”) ou intransitivo
(“Poucos são os comentários que aprazem.”).
Para o dicionarista Houaiss, o verbo aprazer é irregular, nos tempos derivados do
pretérito perfeito, apresentando formas interessantes, como aprouve, aprouvera,
aprouvesse, entre outras.
Fernando Pessoa dele se valeu em emblemático trecho da poesia “Deixemos
Lídia”:
“Não de outro modo mais divino ou menos / Deve aprazer-nos conduzir a vida, /
Quer sob o ouro de Apolo / Ou a prata de Diana” .
Nessa esteira, Carlos Drummond de Andrade lançou-o em “Dissolução”:
“Escurece, e não me seduz / tatear sequer uma lâmpada / Pois que aprouve ao dia
findar, aceito a noite...”.
A reboque da literatura de prol, seguiram os versos de Vinicius de Moraes, em
“Para viver um grande Amor”: “...É muito necessário ter em vista / um crédito de
rosas na florista / muito mais, muito mais que na modista! / para aprazer ao grande
amor...”
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É relevante notar que aprazer pode servir como paradigma na conjugação de
outros verbos, como:
(I) desprazer, no sentido de “desagradar”. Exemplos:
O contrato não lhe desprouve, mas agradou a ele.
É provável que isso despraza os contratantes.
O choro intenso lhe despraz.
(II) prazer, no sentido de “queira Deus, tomara, oxalá”. Exemplos:
Prouvera a Deus.
Se a Ele prouver, que praza a todos.
Como sinônimo de aprazer, o verbo prazer é igualmente irregular, devendo ser
usado apenas na 3ª pessoa do singular. Há formas curiosas, como: praz, prazia,
prouve, prouvera, prazerá, prazeria, praza, entre outras.
É fato que se trata de verbos pouco usuais, todavia podem ser utilizados no dia a
dia do usuário do português de rigor. O importante é utilizar o verbo, conhecendo
aquilo que se anuncia. Aliás, este rápido estudo permitirá a enunciação da forma
“se isso lhe aprouver...”, com a dose exata de “autoridade” na fala, comum àqueles
que falam sabendo o que dizem...
Prof. Eduardo Sabbag
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