03
talvez a revista mais
doce da madeira
açúcar 03 | Suplemento que não pode ser vendido separadamente do jornal | design açúcar ricardo tadeu barros | foto capa © Élvio Fernandes
BOCA DOCE
valentina jesus
a menina
da telefonia
P. 15
NA RUA
graffiti
confissões aos
muros da cidade
P. 12
O PALCO E O TRONO
diogo correia pinto
e sofia canha
à conversa no conservatório
P. 3
The Kids
diogo e pedro
de malas aviadas
fundada 2015
2 | açúcar | SÁB 14 NOV 2015
divagações de uma mente diluvianamente opípara
Outono é Verónica
“Verónica é
independência, é CRÓNICA
força, é languidez e Bárbara Gil Pereira
dureza. É um ramo [email protected]
de rosas vermelho
com cartão e um
pedido de desculpas.
É ópera em Milão, é
Callas nas colunas.
É o esfarelado da
agulha num vinil
daquelas pessoas, um nique jaz a rodopiar. ou
cho, provavelmente composÉ o piroso que sabe to apenas por mim própria,
que não tem paciência para
bem (…) Começo Fernando Pessoa. O atrofio
tímido, o transcendente,
a perceber o o invisível... Não consigo.
publicamente em
Fernando... Porque Assumi-lo
certos círculos chega a ser
se eu não fosse loura pior que assumir que se sofre
de um síndrome qualquer
gostava mesmo de incontornável de índole intestinal. Automaticamente,
ser: Verónica.” olham para nós num misto
s
de pena e nojo. Um encolher
de ombros e um meio sorriso de paralisia facial, um
coitadinha não percebe, um
como é que é possível, um
laivo de condescendência.
Exactamente como se dá
a quem solta ventosidades
sonoramente em público sem
querer. Mas não consigo, e
já que se fala em flatulência,
assumo: não tenho esfíncter
para Pessoa! E o que é aquela merda dos heterónimos?
Alguém percebe aquilo? É
um alter-ego mas não é?...
Vestia-se assim , mas não era
assado , e as cartas e o jasmandro...? No entanto, apesar desta assumida heresia,
há pouco tempo dei por mim
a empatizar um pouco mais
com Pessoa. Pela razão aparentemente mais inusitada.
A pergunta foi: se não fosses
loura o que gostavas de ser?
E o meu subconsciente prontamente regurgitou: se eu
não fosse loura gostava de ser
Verónica! Verónica é nome
de amante. Verónica é nome
de mulher madura, enxuta,
morenaça de olhos verdes,
cabelos pretos brilhantes, ondulado Pantene, laca Elnett.
É nome de gaja boa na cama,
de roupa interior de renda
preta, de meias de vidro. De
quem geme, baixinho com
calor. De mãos delicadas com
rouge noir que afagam um
peito peludo ligeiramente grisalho e sussurram qualquer
coisa como «Ali Kerim Bey».
Verónica é cheiro a anos 80, a
Opium, a Shalimar. É casaco
de peles em cima dos ombros,
é stiletto preto de verniz, é
alcatifa sangue de boi com 7
cm de espessura. É lobby de
hotel com latões lustrosos,
é carrinho de Flambées em
cobre, é empregado de laço, é
cocktail de camarão, é crepe
suzette. É filet mignon com
molho bearnês. Veronica é
Outono. É almoço e tardes
ociosas. Verónica é Monte
Carlo, Champs Elysées, Park
Avenue e Gambrinus num
só. Verónica é Buenos Aires e
Via Venetto. Verónica é piano
bar. É Chanel vermelho nos
lábios, sorriso discreto, voz
baixa. É sem perguntas, sem
cobranças. Verónica é independência, é força, é languidez e dureza. É um ramo de
rosas vermelho com cartão
e um pedido de desculpas.
É ópera em Milão, é Callas
nas colunas. É o esfarelado
da agulha num vinil que jaz
a rodopiar. É o piroso que
sabe bem. O Moonlighting
do Al Jarreau , a harmónica
do Thielemans. É pé direito
e portas francesas com resguardo viradas para rua. É
copa das árvores, é tecto trabalhado a gesso, é o ranger
do soalho em casquinha. É
Martini. É Cinzano. É Puccini
e Estoril. É Fellini. É casino.
É Champagne no brilho metalizado de um Mercedes 220
SE coupé. Verónica é miopia
velada, é sabedoria, é compreensão. É par de óculos
com correntes ao pescoço,
uma caneta pequena dourada. É um compacto opulento.
Daqueles que fazem clac.
Verónica é dunhill king size,
é sombra dos olhos púrpura,
é khol. É tirar a partícula de
tabaco da língua rosada. É
toque de caxemira e beijo
de veludo. É tensão, é bossa
nova no elevador de espelhos
fumados. É nua contra um
smoking com laço desfeito.
Verónica é loja de lingerie,
é caixa com papel sulfite, é
saco com cordões de seda.
Verónica é mistério. Verónica
é vintage. Começo a perceber
o Fernando... Porque se eu
não fosse loura gostava mesmo de ser: Verónica.
a
SÁB 14 NOV 2015 | açúcar | 3
o palco e o trono
Edição por Cláudia Sousa
Sofia Canha e Diogo Correia Pinto
Diogo Correia Pinto - Sei que é
natural do Jardim do Mar, como
é que iniciou a sua atividade política?
Sofia Canha - Eu li, uma vez,
que um político não se faz quando entra para a política ativa. O
político pode ser qualquer pessoa que tenha uma sensibilidade interventiva, que olhe à sua
volta e o que vê não lhe seja indiferente.
DCP – Começou muito jovem a
ter esse papel interventivo, certo?
SC – Este papel interventivo
começa muito cedo, vem num
contexto, primeiro, familiar, e
depois, comunitário.
Houve ali [no Jardim do Mar]
Diogo Correia
Pinto aproveitou
a ocasião para
questionar
como é que um
político consegue
comprometer-se
com a verdade,
quando vive
numa civilização
virada para
o espetáculo
e para o
“bombástico”
aquilo a que eu chamo um microcosmos político em relação
ao resto do conselho.
Tenho 45 anos, mas vivi, ainda em criança, situações muito curiosas. Por exemplo, as
mulheres fumavam, pura e
simplesmente para se emanciparem.
DCP – E faziam isso de forma
consciente?!
SC - Era consciente. Não era
um ato de rebeldia, mas de
emancipação. Fumavam não
com o intuito de chocar os
outros, mas para mostrar um
pleno direito conquistado pelo
25 de Abril.
DCP – E acha que o resto da Madeira era mais conservador?
SC - Eu dei este exemplo, mas
esta situação acaba por ser residual perante outras, como o encontro de pessoas, as reuniões
que se faziam comummente entre homens, mulheres e amigos,
que cantavam, e que conversavam sobre política. Primeiro,
em (alguma) clandestinidade, e
depois, mais abertamente.
Lembro-me que no Jardim do
Mar foi criada uma cooperativa para dar acesso a bens mais
económicos.
Havia dois padres marcantes
em termos do que era o ideário
político da altura. O padre Cruz
e o padre Araújo, que saíram de
uma leva de padres que foram
ameaçados e que tiveram de
sair da região, e eram os dois do
Jardim do Mar. Esta freguesia
tinha uns 300 habitantes e ti-
Este é mais
um encontro
inusitado, onde
o palco e o trono
surgem no
mesmo plano.
Desta feita, a
Açúcar lançou
o repto a um
espírito livre do
mundo político
e a uma mente
acutilante
do mundo
das artes.
Sofia Canha,
professora
de Português
e Inglês e
deputada do PS
na Assembleia
Legislativa
da Região
Autónoma da
Madeira,
e Diogo Correia
Pinto, ator,
encenador e
professor de
interpretação
no
Conservatório
- Escolas
das Artes da
Madeira.
O ‘terreno’ do
entrevistador
foi o cenário
escolhido para
a conversa.
4 | açúcar | SÁB 14 NOV 2015
Neste encontro
ficou reduzida a
distância entre
o poder e as
artes
Os artistas têm
sempre uma
sensibilidade
mais apurada em
relação ao mundo
e à vida
Quem está
mais dotado de
pensamento e
de sensibilidade
para a
intervenção deve
usar isso em favor
dos outros
Sofia Canha.
nha pessoas que tinham estudado, que tinham tirado o secundário. Isso, só por si, pode não
ser nada...
DCP – Mas permite ter uma
maior abertura, uma ideia mais
alargada das coisas...
SC – Exatamente, permite ter
uma atitude mais tolerante.
DCP – Tolerante em que sentido? Aquela pequena comunidade, afinal, era tolerante?
SC – Era, no aceitar de novas
ideias, novos comportamentos,
ainda que, muito marcada pela
Igreja. Mas, como digo, teve estes dois padres, que tinham uma
tendência mais de esquerda, um
deles até criou a cooperativa.
Os valores cristãos eram interventivos. Cristo era interventivo
na sociedade, não se acomodou,
e esses valores condicionaram-me. Acho que, sobretudo, quem
está mais dotado de pensamento e de sensibilidade para a intervenção deve usar isso em
favor dos outros.
DCP – [Até entrar na Política]
por que razão nunca tinha sido
militante?
SC - Porque eu nunca quis. Achava que a minha intervenção era
mais cívica e não partidária.
Até assumir um compromisso
partidário, aí filiei-me. Antes
disso, colaborei com o Partido
Socialista em vários projetos
políticos, por ser o partido com
que mais me identificava.
Eu não queria entrar na máquina.
DCP – Como é que um espírito
livre consegue estar perante a
disciplina partidária?
É uma questão de compromisso
e de responsabilidade. Sou um
espírito livre no sentido em que
posso escolher a responsabilidade de assumir um compromisso ou de não assumir. Podia
não aceitar. E até foi só à terceira tentativa que cedi. Eu, no pleno uso da minha liberdade e do
meu pensamento, escolhi assumir um compromisso político.
SC – Mas eu falo em relação a
quando está na Assembleia, enquanto deputada, há situações
em que não concorda, como é
que lida com isso?
SC - Mais uma vez, se eu assumi um compromisso, tenho,
de antemão, responsabilidades
para com a estrutura em que
estou inserida, neste caso, o
Grupo Parlamentar do Partido
Socialista.
Muitas pessoas preferem não
assumir um compromisso partidário, porque querem manter-se nesse estado livre. Mas
depois, qual é a influência que
têm nos decisores? Nenhuma. É
sempre um ato individual e não
coletivo.
DCP - Procura ser consensual
em todas as suas ações?
SC - Não. O consenso é difícil.
Eu procuro ser diplomática, entender o ponto de vista do outro.
DCP - Está há pouco tempo na
política e, se calhar, também
ainda está a aprender um pouco
daquilo que é o jogo político...
SC- Sim, estou a aprender muito
(risos)
DCP - Numa civilização de espetáculo, onde se privilegia o
bombástico, de que modo o político consegue aceitar as regras
do jogo e, ao mesmo tempo,
manter um compromisso para
com a verdade sem ser uma espécie de personagem?
SC - Eu não procuro os ‹sound
bites›. Tenho, até, por vezes, um
discurso demasiado pedagógico na Assembleia. No entanto,
a partir de o momento em que
não me encaixar, ou que ache
que não é isto que a política
precisa, ou que não é isto que as
pessoas querem, eu saio.
Enquanto eu tiver espaço de liberdade e de atuação, à luz dos
compromissos que eu assumi,
estou bem. A partir do momento em que eu sentir que estou ali
a mais, então, saio.
DCP - Estamos aqui numa instituição de referência da música,
[Conservatório] que completa,
no próximo ano, 70 anos. Quer
deixar alguma mensagem?
SC - Eu espero que esta instituição tenha muitos mais anos,
que seja saudável, representativa daquilo que é, e que crie
mais artistas.
Os artistas têm sempre uma
sensibilidade mais apurada em
relação ao mundo e à vida.
DCP - O professor também é um
emissor de memórias da cultura
de um país. Sendo professora de
Português, como vê estas novas
gerações aculturadas pela sociedade anglo-saxónica, que, muita
das vezes, não conhece a cultura
recente do seu próprio país?
SC – Vejo com muita preocupação, como todos os professores.
Eu valorizo muito, no lugar certo, a tradição, porque dá raízes
a um povo. Preocupa-me esta
descaracterização dos países e
das culturas. Somos quase todos iguais.
a
SÁB 14 NOV 2015 | açúcar | 5
manos garcia de
“malas aviadas”
para lisboa
Diogo e Pedro Garcia, de 16 e 18 anos, tentaram a sua sorte em programas televisivos
nacionais de caça-talentos. A experiência enriquecedora fez com que os músicos
não parassem de lutar para chegarem ao mundo do estrelato. A ilha começa a ser
demasiado pequena para tanto talento e, por isso, o mais certo é mudarem-se para
Lisboa e depois para Nova Iorque. Tudo por causa de um sonho.
ENTREVISTA
Sandra S. Gonçalves
[email protected]
a
vossa carreira no mundo da
música começou muito cedo.
Quando é que descobriram que
queriam ser cantores?
Pedro Garcia: Sempre gostámos
de cantar, mas tudo começou
quando, em 2009, uma prima
nossa nos inscreveu no concurso
“Funchal a Cantar”, onde concorremos na freguesia de Santa
Maria Maior e ficámos em primeiro lugar com a música “Senhora do Mar”.
Depois, seguiu-se o programa da
TVI “Uma Canção Para Ti”, em
que ambos participamos, mas
em anos diferentes. Eu em 2009
e o Diogo em 2011.
A participação nesse programa
de caça-talentos, apresentado
por Cristina Ferreira e Manuel
Luís Goucha, foi uma rampa de
lançamento para o mundo do
espetáculo?
Diogo Garcia: Participar em
“Uma Canção Para Ti” foi bastante gratificante para mim, porque cheguei aos cinco finalistas,
e, tanto eu como o Pedro, recebemos imensos elogios do júri, especialmente do Luís Jardim que,
como é da Madeira, apoiou-nos
imenso. Podemos dizer que a
nossa passagem por este programa fez com que não desistíssemos de investir num sonho que
temos em comum.
Já mais crescidos, com 14 e 17
anos, depois dessa experiência
enriquecedora, seguiu-se o pro-
grama “The Voice”, da RTP-1...
Pedro Garcia: É verdade, no
ano passado participei no “The
Voice”, onde cheguei até à
meia-final. Foi pena não ter ido
mais além, mas depois o Diogo
concorreu ao “The Voice Kids”
e venceu. Não ganhou um, ganhou outro (risos).
Na prova cega, qual foi a sensação de veres todas as cadeiras
a virar assim que começaste a
cantar? Estavas à espera?
Pedro Garcia: Foi um momento
bastante emocionante, não estava à espera que virassem todas
as cadeiras, pensei que fosse virar apenas uma. O momento foi
de tal forma especial que só me
apetecia largar o microfone e celebrar o facto de ter entrado para
o “The Voice” (risos). Digamos
que foi o início de uma grande
aventura que durou seis meses e
que foi vivida com muita intensidade, onde tive a oportunidade
de conviver com pessoas extra-
ordinárias, que têm o mesmo
sonho que eu, e também com diversos artistas conceituados.
Quando o Mickael Carreira
opinou sobre a tua atuação,
uma das coisas que te disse foi
que, mesmo que não ficasses
na equipa dele, queria trabalhar contigo. Isso aconteceu ou
foi apenas uma forma de persuasão para que o escolhesses
como mentor?
Pedro Garcia: Cheguei a atuar
em dois concertos do Mickael,
mas penso que quando ele disse
isso foi para que ficasse na sua
equipa (risos). Pelo menos até
agora não me contactou nesse
sentido, mas caso ele queira trabalhar comigo estou à sua inteira disposição.
Porque é que escolheste o Anselmo Ralph?
Pedro Garcia: Antes de entrar
no programa já ia com a ideia
de que se ele virasse a cadeira ia
«A música “Ar” é
a minha favorita
e será o segundo
videoclip do
disco, que sairá
em Dezembro.»
Diogo Garcia
6 | açúcar | SÁB 14 NOV 2015
Queremos ser cantores internacionais e viver
em Nova Iorque
escolhê-lo, porque era o cantor
do momento, mas se fosse hoje
teria ficado com o Mickael Carreira, porque é de Portugal e não
é tão ocupado como o Anselmo
Ralph, que está sempre a viajar
de um lado para o outro.
E tu, Diogo, qual foi a sensação
de virares as cadeiras dos mentores do “The Voice Kids”?
Diogo Garcia: A sensação foi
idêntica à do meu irmão. É um
momento que nunca mais se
esquece, mas foi um pouco estranho ver apenas três cadeiras
quando já estava habituado a
ver quatro na altura em que o
Pedro era concorrente do programa. O Anselmo Ralph já conhecia bem, a Daniela Mercury
e a Raquel Tavares foram duas
grandes surpresas.
A tua opção recaiu sobre a Daniela Mercury. Foi uma boa
escolha, tendo em conta o facto
de ser uma cantora conceituada e reconhecida internacionalmente?
Diogo Garcia: Escolhia-a exatamente por essa razão. A Daniela Mercury, por ser uma artista
internacional, tem o dobro da
experiência dos outros dois mentores e, por isso, aprendi imenso
com ela em termos vocais e práticos, como segurar no microfone e ter a postura certa em cima
do palco. Ela estava sempre a dizer para não olhar para o chão,
por isso passei o programa inteiro a olhar para cima (risos).
Estavas à espera de chegar à
final e trazer o “troféu” para a
Madeira?
Diogo Garcia: Não estava nada
à espera de ganhar, porque a
Madeira, como é uma ilha pequena, pensei que não tivesse
tanto poder de voto, mas, pelos vistos, não foram apenas
os madeirenses que votaram.
Fiquei bastante surpreendido por ter imensas pessoas do
continente a apoiarem-me, o
que também acabou por ditar a
minha vitória.
O que sentiste no momento em
que ouviste os apresentadores
a anunciarem que eras tu o
vencedor?
Diogo Garcia: A minha primeira reação foi chorar, porque
senti que estava a realizar um
sonho… A gravação de um disco
estava mais perto do que nunca.
Depois, quando caí na real, tinha
um monte de pessoas à minha
volta a festejar a vitória. Foi
inesquecível, não dá para explicar...
Pedro Garcia: Antes de desvendarem o nome do vencedor estava tão ou mais nervoso do que
ele, e quando percebi que o Diogo
tinha sido o escolhido do público,
dei um pulo, saltei imensas cadeiras e fui ter com ele ao palco
para celebrar um momento que
nunca mais iremos esquecer.
Desde o programa “Uma Canção Para Ti” que os vossos pais
têm sido incansáveis convosco,
fazendo de tudo para apoiar
uma carreira que nem sempre
é vista com bons olhos, sobretudo na Região. Nada disto
teria sido possível se não tivessem o apoio deles?
Pedro Garcia: Esta área já é tão
complicada com ajuda, imagina
sem ajuda. Os nossos pais têm
sido impecáveis connosco, sempre sentiram que a nossa vida
passava pela música e levam-nos onde for preciso para irmos
mais além na nossa carreira. Só
espero que um dia possamos retribuir tudo o que têm feito por
«Costumo dizer
que para ser
bom tem que
doer (risos).
Nesta área,
como em todas
as outras,
temos de ser
dedicados e
esforçados,
porque
quanto mais
trabalharmos
melhores
resultados
teremos.»
Pedro Garcia
nós e todo o dinheiro que têm
gasto connosco. Eles merecem...
Tal como já mencionaram, o
mundo do espetáculo é complicado, que conselhos é que vos
costumam dar?
Pedro Garcia: Dizem para nunca perdermos a humildade, porque isso é a base de tudo, e sermos simpáticos e educados para
todas as pessoas.
Uma das vossas referências é
a dupla Anjos. Identificam-se
com estes artistas pelo facto de
serem irmãos e de terem lutado muito para chegarem longe
no mundo da música?
Diogo Garcia: Os Anjos continuam a ser uma referência, porque
têm uma história de vida parecida com a nossa, e, se eles chegaram lá, por que não haveremos
de chegar?
Pedro Garcia: Além dos Anjos,
o Cristiano Ronaldo também é
uma fonte de inspiração, porque
nasceu na mesma ilha que nós e
hoje é o melhor jogador de futebol do mundo, por isso, nada é
impossível.
Para quando uma música em
conjunto?
Pedro Garcia: Nós em casa estamos sempre a gravar músicas e
até temos algumas cantadas em
conjunto, mas ainda não as tornamos públicas, quem sabe um
dia...
Como tem sido a vossa vida
depois da passagem pelo “The
Voice”?
Pedro Garcia: Felizmente tive
bastante trabalho este verão,
dei 28 concertos um pouco por
toda a Região, um dos quais
no “NOS Summer Openning”,
no Parque de Santa Catarina,
onde abri o espetáculo do Carlão. Entretanto, gravei três músicas, em conjunto com concorrentes do “The Voice”, que irão
sair em breve. E além disso,
lancei a música “Só a Ti”, em
versão house e acústica, e gravei o videoclip do tema “Perde
as Manias”.
Essa música é intrigante...
escreveste-a para alguém em
especial?
Pedro Garcia: Quando escrevo
uma letra não quer dizer que
a história tenha acontecido comigo ou que seja dedicada a
alguém. O meu objetivo é fazer
com que as pessoas se identifiquem com as minhas músicas,
SÁB 14 NOV 2015 | açúcar | 7
Os artistas não querem ficar na Madeira por causa das limitações
que existem ao nível das artes.
«A única certeza
que tenho é que,
apesar de gostar
muito da Madeira,
se quiser mesmo
gravar um disco
tenho de sair
de cá, porque,
infelizmente, não
há produtores a
esse nível.»
Pedro Garcia
porque é uma forma de cativar
o público.
O Diogo parece que está com a
“cabeça no ar” (risos), como é
que tem sido a tua vida depois
de venceres o “The Voice Kids”,
tens te dedicado a 100 por cento na promoção do álbum “O
Que Eu Sou”?
Diogo Garcia: Estou um pouco
cansado (risos)...desde que saí
do programa tenho dado alguns
concertos cá, com o meu irmão,
mas tenho de gerir bem o meu
tempo, porque ando muito entre
a Madeira e Lisboa por causa do
álbum que saiu há pouco tempo.
Não é complicado para um
jovem de 16 anos andar num
constante “corre-corre”?
Diogo Garcia: Sou uma pessoa
que gosta muito de viajar, obviamente que era menos cansativo
se vivêssemos em Lisboa, mas
quem corre por gosto não cansa.
Pedro Garcia: Costumo dizer que para ser bom tem que
doer (risos). Nesta área, como
em todas as outras, temos de
ser dedicados e esforçados,
porque quanto mais trabalharmos melhores resultados
teremos.
Lembras-te do dia em que seguraste pela primeira vez o
álbum nas mãos, o que é que
sentiste?
Diogo Garcia: Senti vontade de
chorar, não chorei, mas estava
quase (risos)... Agora a sério,
quando vi aquele retângulo na
mão com a minha foto senti que
estava a concretizar um sonho e
tive vontade de vê-lo à venda nas
lojas, para que as pessoas comprassem e decorassem as letras
das músicas para cantarem comigo nos concertos.
A música “Ar” irá fazer parte
da banda sonora de “Santa Bárbara”, da TVI, este é mais um
passo em frente na tua carreira
como cantor, tendo em conta
que é a primeira vez que a música de um madeirense entra
numa telenovela?
Diogo Garcia: Sem dúvida que
sim. A música “Ar” é a minha favorita e será o segundo videoclip
do disco, que sairá em Dezembro. Além disso, sinto-me lisonjeado pelo facto de o primeiro
videoclip “Sinto-me Livre Contigo”, assim como o álbum, estarem constantemente a passar na
televisão.
Nestes primeiros dias a publicidade passará na RTP-1 e depois
na RTP-Madeira e no Panda Biggs, mas o meu foco principal é
a SIC, porque, na minha opinião,
é a melhor televisão de Portugal.
Pedro Garcia: Ainda não tenho
nada em vista, mas com esforço
e dedicação lá chegarei. A única
certeza que tenho é que, apesar
de gostar muito da Madeira, se
quiser mesmo gravar um disco
tenho de sair de cá, porque, infelizmente, não há produtores a
esse nível.
Diogo Garcia: É e não é... (risos). Mas esse é um sonho que
não carrego sozinho. Tanto eu
como o Pedro queremos ser
cantores internacionais e viver
em Nova Iorque. As grandes
editoras de artistas, como Justin Bieber e Ariana Grande, ou
estão em Londres ou na América. Mas isso é um passo que
será dado apenas mais tarde.
Em primeiro lugar, vamos tentar cimentar uma carreira em
Portugal e depois tentaremos
a nossa sorte noutro país, para
mostrar o nosso trabalho ao
mundo inteiro.
A Região é bastante limitada ao
nível das artes, em geral, sentem que para voarem mais alto
têm de sair da Região e fixar
residência em Lisboa?
Desde que cá chegamos (Praça do Povo), ainda não pararam de ser assediados (risos),
isto costuma acontecer no
vosso dia-a-dia?
Pedro Garcia: Todas as semanas, tanto eu como o Diogo, falamos com os nossos pais sobre
isso e eles dizem que é para termos calma, que essa mudança
não pode acontecer assim de repente. Não é algo que está para
breve, mas, mais cedo ou mais
tarde, vai acabar por acontecer.
Pedro Garcia: Costuma acontecer com muita frequência,
mas já estamos habituados
(risos). As pessoas que me reconhecem na rua costumam
pedir-me para dar um autógrafo e tirar uma fotografia. Mas
um dia destes aconteceu-se um
episódio curioso no continente:
estava no metro e uma miúda
que estava do outro lado da
linha olhou para mim e disse
para dar a volta, mas eu não
O Diogo já gravou um disco,
agora faltas tu, Pedro...
Mas o Diogo sonha ir mais
além...Lisboa não é o suficiente?
a conhecia. Decidi fazê-lo para
satisfazer a curiosidade e foi aí
que percebi que apenas queria
tirar uma fotografia e dizer que
gostava do videoclip “Perde as
Manias”.
Fiquei contente pelo facto de
não estar “em casa” e, mesmo
assim, as pessoas reconhecerem-me, o que significa que,
de uma forma ou de outra,
causei impacto, e isso é gratificante.
Diogo Garcia: Já me aconteceram várias situações engraçadas, a última foi no metro
do Porto, onde estava com a
minha equipa de andebol e,
numa brincadeira com os colegas, acenei a uma rapariga que
ficou toda derretida e de boa
aberta (risos).
Música e fãs à parte, passemos para um assunto mais
sério: como é que vai a escola?
Pedro Garcia: Neste momento
estou a tirar o 12º ano, na Escola Secundária Francisco Francisco, e o Pedro está no 10º ano,
na Escola Jaime Moniz. O nosso objetivo é concluir o Secundário e depois dedicarmo-nos a
100 por cento à música. Dê por
onde der...
a
8 | açúcar | SÁB 14 NOV 2015
fotógrafo
andré gonçalves
André Gonçalves é
natural da Calheta.
Descobriu muito
cedo a sua forma de
expressão artística,
mas só recentemente
decidiu apostar a
sério na sua vocação
– a fotografia – e
começou a divulgar
os seus trabalhos.
Começou por criar
uma página no
Facebook, seguindose a presença assídua
no site olhares.
com. Não tardou a
ganhar visibilidade,
despertando o
interesse de várias
publicações – as
suas fotografias
já ilustraram a
revista nacional
Zoom Fotografia
Prática e as revistas
internacionais Dark
Beauty Magazine e
Blur Magazine.
d
efine-se como um foto-entusiasta. Lunático, excêntrico,
bizarro, boémio, versátil,
expressivo. Retrata o interior
de uma mente caótica, por
vezes, alienada do que o
rodeia. Retrata o que vê e o
que concebe, expressando-se
através de retratos, autorretratos e/ou imagens.
A sua inspiração advém de
uma dialética aprimorada
entre a arte, essencialmente
conceptual, e um toque de
surrealismo. O resultado?
Imagens que, de uma forma
ou de outra, nos fazem submergir no seu imaginário.
Esta invasão, consentida, é
um gesto provocatório em
que o artista empreende
para oferecer ao espetador
a mesma intensidade que
confere às suas criações
– espoletadas a partir do
seu assumido fascínio pelo
incomum.
As suas fotografias, profundamente interpelativas,
possuem “alma, identidade e
presença”. A cada uma delas
corresponde uma narrativa,
e cada personagem por ele
criada traz na penumbra
um passado, um segredo,
uma emoção. Contador
de histórias através das
imagens, André Gonçalves
preocupa-se em transmitir
uma mensagem que inquiete. Que transforme. Que
emocione.
SÁB 14 NOV 2015 | açúcar | 9
horas vagas [ livro, filme, música]
Sandra Sousa
https://estrelasnocolo.wordpress.com/
A
té que sejas minha é
um thriller psicológico muito intenso,
sendo uma leitura
voraz que pode ser feita em
apenas poucos dias. Nestas
páginas conhecemos Zoe,
uma jovem que acabou de ser
contratada para ajudar a cuidar do bebé de Claudia que
está prestes a nascer. Conhecemos também Lorraine, que
leva a cabo, paralelamente,
uma investigação e que se vê
confrontada com a sua relação turbulenta com a filha e
com o marido que também é
O
novo filme de Danny
Boyle ( Quem quer ser
Bilionário? ) não é uma
biografia completa
e enfadonha da vida de Steve
Jobs, génio da informática e
das tecnologias digitais, mas
um drama sobre os bastidores dos auditórios onde foram
apresentados o Macintosh,
N
o âmbito do ciclo sobre o realizador nipónico Yasujiro Ozu,
a RTP2 apresenta A
Flor do Equinócio, com exibição já hoje, dia 14 de novembro,
pelas 22h45. O primeiro filme a
cores deste mestre não apenas
do cinema oriental como de
todo o mundo centraliza-se nas
Boiler Room
U
m projeto Londrino
lançado em Março
de 2010. Os Djs são
convidados a tocar
sempre ao vivo e pela internet
(LiveStream) sets de 60 minutos. Originalmente criado
como complemento da revista
“Platform”, as primeiras transmissões foram com artistas do
“underground londrino” e em
“Call Centers”, edifícios de telemarketing ou “Boiler Rooms”,
como lá são conhecidos.
Com o passar do tempo, a
livro [ TopSeller ]
Até Que Sejas Minha de Samantha Hayes
investigador. O foco principal
do livro é a obsessão pela maternidade, e esta obsessão é
levada a níveis assustadores
quando o leitor se depara com
a morte de jovens gestantes.
A trama é descrita através
da perspetiva destas três mulheres e desde o início que
desconfiamos destas personagens já que existem coisas
que não batem certo. A narrativa de Claudia é uma narrativa obsessiva já que esta
acredita que existe alguém
que lhe quer mal, e a narrativa de Zoe é algo confusa, já
que não conseguimos perceber ao certo quais são as suas
intenções.
O livro tem um ritmo lento, é
aos poucos que vamos entrando na vida das personagens
e só mesmo no final é que os
conhecemos verdadeiramente.
Gostei de todas as personagens, porque todas elas, em algum momento do livro foram
cruciais para o seu desenvolvimento.
Considerei este livro brilhante
pelo que não se lê. Sim, isso
mesmo. Pelo que não se lê.
Porque na realidade este livro
cinema & televisão
-sonora e Daniel Pemberton
revelam. Com o brilhante argumento de Aaron Sorkin (A
Rede Social) e poderosas interpretações de Michael Fassbender e Kate Winslet - que deverão ser nomeados ao Óscar -,
o espetador é asfixiado num
meio onde não há espaço para
perdedores.
relações familiares do Japão
em período pós-guerra, tendo
enfoque na vida de um homem
de negócios, que tem problemas com a filha. Esta espera
casar com o homem que ama,
mas o pai rejeita - um exemplo
dos códigos de conduta rígidos
que dominavam a sociedade japonesa desse período.
Nos filmes do cineasta encontramos a recriação de temas
tão mundanos e comuns a todas as sociedades como o conflito entre gerações mais velhas com gerações mais novas
que lutam por tomar decisões,
independentemente das consequências . Uma obra-prima
que dá gosto (re)descobrir.
por Ricardo Tadeu Barros
programação foi diversificando e contando com artistas de
renome como: Frankie Knuckles, Sven Vath, Richie Hawtin, Ricardo Villalobos, Carl
Cox, Michael Mayer, Kerri
Chandler, Marcel Dettmann,
Ben Klock, Levon Vincent.
Enquanto escrevo este texto
para a Açúcar, estou a ouvir
LIFE, Hugo Mendez da Label
Sofrito, o DJ que está de serviço a passar o seu set com o
intuito de angariar, mediante
a venda de 350 bilhetes dispo-
a
Virgílio Jesus
o NeXT e o iMac - produtos
que mudariam a sua carreira
para sempre. Nesse ambiente
frenético e stressante, é-nos
apresentado um Jobs cobarde
por rejeitar a paternidade da
sua filha, orgulhoso por pensar ser o melhor - mesmo que
o seja -, e o maestro que lidera
a orquestra, tal como a banda-
música
é perfeito nos seus pormenores e nas suas desconfianças.
Pelo que não está escrito e por
aquilo que o leitor tem de ver
além do que lá está descrito.
É uma obra que se debruça
sobre as emoções mais profundas do ser humano e do
quanto uma pessoa é capaz de
fazer para conseguir algo que
quer intensamente.
É um livro repleto de mistério
e de suspense que o deixará
sem dúvida preso a cada linha.
Perturbador e violento, são os
melhores adjetivos para descrever esta obra.
a
a
níveis on line, algum dinheiro
para produzirem aquele que
será o primeiro festival de
música da Ilha afro-cubana e
eletrónicos, em maio de 2016,
Manana Cuba Takeover.
Ken Ishii Produtor da Label
Sapporo, compôs a música
para a cerimónia de abertura
dos Jogos Olímpicos de Inverno em Nagano, e, por ser da
minha geração, talvez seja um
dos músicos que mais gosto de
ouvir a tocar “sininhos”.
Entre nós, os Moullinex & Xinobi dão ananases em Lisboa
pelo segundo ano consecutivo, e para o ano há mais. Sempre com a chancela de Boiler
Room.
a
[email protected]
Steve Jobs
Data de estreia 12 de novembro
Realizador Danny Boyle
Elenco Michael Fassbender, Kate
Winslet, Seth Rogen, Katherine
Waterston e Jeff Daniels
Género Drama/Biografia
A Flor do
Equinócio
Yasujiro Ozu
RTP 2,
sábado 14 de Nov.
22h45
19:00 Phrased Londres 9.11.2015
20:00 Hugo Mendez Londres 9.11.2015
Moullinex & Xinobi Lisboa 2104
Ken Ishii Berlim 22.10.2014
10 | açúcar | SÁB 14 NOV 2015
feliz com menos
Profissão: Mãe
amos fazer xixi? –
pergunta-me ela e
continua – É uma
emergência! – Isto
justamente na
hora em que arranjei um
tempinho para me sentar
à frente do computador e
escrever este texto. Passou algum tempo, umas
horas. Ambos dormem e,
finalmente, após três ou
quatro tentativas cá estou
eu sozinha com os meus
pensamentos. São raros
estes momentos desde que
fui mãe. Se calhar, hoje eles
sentiram que eu realmente
necessitava de namorar
umas letras, aninhar palavras no consolo de uma
folha branca, quase para libertar parte de mim. Certo,
eu disse que era raro?
Reitero. Ele acordou, dorme
agora calmamente no meu
colo enquanto escrevo.
Sou o que comumente designamos de mãe a tempo inteiro, não concordo. Mãe é
mãe e pronto. Sou sim, uma
mãe que optou por não trabalhar fora, cuido dos meus
filhos a tempo integral. Esta
decisão a dois foi a melhor
forma que encontrámos
para ter uma vida mais
calma, mais saudável e mais
feliz. Deste modo, todos os
dias ofertamos aos nossos
filhos o que de melhor conseguimos lhes dar, o nosso
tempo. Não pensem que o
fazemos porque nos saiu a
lotaria ou que meu marido
é milionário (ele é professor). Apenas optámos pela
qualidade em detrimento
da quantidade. Além dos
benefícios de uma alimentação mais cuidada, de uma
rotina mais calma, também
Ana Marques
terapeuta da fala
Débora G. Pereira
www.simplesmentenatural.com
V
Doutoranda em Ciências da Cognição
e da Linguagem
Mestre em Terapia da Fala
Pós-graduada em
Neurodesenvolvimento em Pediatria
[email protected]
S
ão cada vez mais as
crianças que apresentam dificuldades
na função alimentar,
estando associados
às mesmas, hábitos orais
tardios e alterações de
integração sensório motora oral, comprometendo
ainda mais esta função. Na
área da terapia da fala, a
alimentação é tratada no
âmbito das funções estomatognáticas, de onde fazem
poupamos dinheiro que,
obrigatoriamente, gastaríamos se eu fosse trabalhar.
Saliente-se, que tendo em
conta a creche, o combustível, as roupas e a alimentação, eu basicamente ia
pagar para trabalhar (não
se riam, há quem o faça e
não se dê conta).
Entre o “nada melhor para
os teus filhos”, o “não te
aborreces?” ou o “fazes desenhos com eles? Também
tens tempo!”, numa dança
entre o pulsar ambíguo da
admiração e da irritabilidade, noto que as pessoas
não são indiferentes a este
tema. Por vezes, contactamme. Falam-me da vergonha
de assumir perante a sociedade que não ambicionam
uma carreira de sucesso,
de aspirarem um papel
importante, mas no seu seio
familiar. Para alguns, este
é um acariciar a memória
com aquela sensação quente
de segurança, carinho e
cuidado na infância. Para
outros soará como um
sacrifício desnecessário,
uma diminuição da mulher.
Para mim, é uma enorme
satisfação vê-los crescer,
cuidar deles e do marido.
Enquanto isso, trago à tona
bocadinhos de mim, não me
anulo, não deixo afundar o
calor que emana em mim,
aquilo que sou e o que quero
fazer. Sou um elo de ligação
que nos mantém fortes.
Delicio-me com aqueles
primeiros passos e com a
doçura daquele abraço que
não se espera. Na verdade,
caro leitor, seja qual for a
sua escolha, haverá sempre
quem a julgue, não viva
para impressionar os outros,
impressione-se a si próprio.
Uma semana muito feliz.
a
“O meu filho não mastiga... E agora?!...”
parte um conjunto de estruturas que exercem funções
básicas, tais como: sucção,
mastigação, deglutição, fala
e respiração.
O processo da diversificação
alimentar da criança é uma
etapa importante do seu desenvolvimento psicomotor,
envolve não só a aprendizagem dos movimentos motores orais para segurar o
alimento, morder, mastigar
e controlá-lo na cavidade
oral até à sua prática com
os diferentes alimentos que
lhe são oferecidos, como
também aspetos psicossociais, uma vez que requer
interação comunicativa com
o cuidador.
Uma criança que apre-
sente dificuldades ao nível
da alimentação pode ter
problemas na introdução
e tolerância dos alimentos sólidos, bem como no
aprazimento da refeição, o
que pode contribuir para
um atraso no desenvolvimento sensorial e distúrbios
psicossociais.
Estas dificuldades aparecem
muitas vezes pela introdução tardia da variação
alimentar quanto à sua
consistência, textura e sabor
na dieta da criança, pois
quanto mais tardio for o
início das transições alimentares, mais dificuldades os
pais/cuidadores irão encontrar neste processo.
Alguns dos sinais de alerta
para estas perturbações
alimentares de base sensorial são:
náusea na presença do alimento; vomita facilmente;
cospe o alimento; mantém o
alimento dentro da boca
sem saber o que fazer com
ele, guardando-o na bochecha; apresenta padrões da
mastigação alterados; não
gosta de tocar nos alimentos; limpa sistematicamente
a boca após cada colherada/
garfada; muito resistente
à introdução de novos alimentos; a hora da refeição
é demorada e feita com
menos prazer pelo impacto
emocional que causa nos
cuidadores e na própria
criança, por não conseguir
realizar essa mesma tarefa
que é mastigar!
Perante estas dificuldades,
torna-se imprescindível
o trabalho preventivo e a
atuação do terapeuta da fala
com formação específica
em neurodesenvolvimento
e motricidade orofacial,
pois a especificidade desta
atuação, visa não apenas o
diagnóstico, mas também o
tratamento precoce das alterações estomatognáticas,
que colmatam patologias
ligadas à área da comunicação, prevenindo ou
minimizando os seus efeitos.
Polvilhe a alimentação das
crianças de saudáveis aromas e sabores. Um conselho
+Saúde!
a
SÁB 14 NOV 2015 | açúcar | 11
na moda
s
a
r
g
e
R
Sem
a
s raízes do passado servem
de inspiração para muitos
designers e juntamse às
tendências inspiradas pelo
streetstyle. Este Outono/
Inverno não foi diferente
e a década mais liberal de
todos os tempos voltou em
força e inundou as passerelles. Tom Ford, Anna Sui,
Valentino, Burberry, Chloé,
entre outros, inspiraramse
nos anos 70 para as suas
coleções e as marcas mais
acessíveis como a Zara,
Mango, H&M entre outras
não tardaram em reproduzir essa tendência.
Com as silhuetas e os materiais a dominarem este
estilo urbano, a década de
70 reapareceu renovada,
numa interpretação mais
moderna, mais sofisticada,
menos exagerada e enfatizando a sensualidade da
mulher, realçando sempre o
seu aspecto natural.
Apesar de não ser das
minhas tendências favoritas, admito que o regresso
deste espírito mais liberal
tornou a moda rígida de
outros anos numa maneira
mais relaxada, mais genuína
e autêntica de se vestir. A
individualidade passou a ser
mais valorizada.
Desta tendência, destaquese
o facto de quase nada ser
proibido, tudo pode ser
misturado e conjugado. O
truque é brincar com as
texturas, volumes, misturar
o velho e o novo, sem exageros, claro, e nunca esquecendo o que realmente nos
favorece!
Se é fã deste estilo não será
difícil adequarse às tendências. Destaco, primeiro, o
tecido chave: a camurça, que
apesar de ser mais comum
no camel e castanho(a opção
mais segura e intemporal),
existe já em outros tons. O
veludo aparece também em
grande destaque. Para completar o look existem várias
peças a ter em conta como:
franjas, sejam em bolsas,
saias, casacos, camisas, estampados, principalmente de
flores, crochet, calças flare
(antes denominadas como
boca de sino), são ótimas
para alongar a silhueta e
conjugar com uma parte
de cima mais justa ou até
um body, muito em voga
também, jeans simples (em
peças descomplicadas e
lavagens clássicas), vestidos
longos, saias, tanto curtas
como longas, estilo militar,
patchwork, etc. Lembrese
que sequiser ousar dos estampados e das tonalidades,
conjugueos sempre com os
seus básicos intemporais,
dará um toque pessoal aos
looks. O importante? Definir
o estilo, ser criativa e revelar
atitude!
a
foto ©Laura Capontes
Laura Capontes
[email protected]
12 | açúcar | SÁB 14 NOV 2015
na rua
graffiti as confiss
Ricardo Canessa
licenciou-se
em Engenharia
Informática,
mas é no grafiti
que encontra
a sua forma
de expressão
mais autêntica.
Em criança, já
era apaixonado
pelo desenho,
porém, só mais
tarde os traços
viriam a soltarse das folhas
dos cadernos.
Fez da cave da
própria casa um
laboratório, queria
preparar-se antes
de trazer a sua
arte para a rua
Susana de Figueiredo
[email protected]
é
filho de mãe madeirense
e pai lisboeta. Nasceu em
Lisboa, e foi na capital que
viveu até aos 10 anos, altura em que, com a mãe, se
muda para a Madeira. Nessa idade, ainda não tinha
ouvido falar de graffiti, mas
a paixão pela arte já se insi-
nuava nas linhas que, com
uma disciplina quotidiana,
e um rigor quase adulto, ia
atirando ao papel. “Quando
vim para a Madeira, não me
adaptei facilmente, o ensino
na escola era completamente diferente daquele
a que estava habituado,
foi difícil fazer amigos, e,
então, refugiei-me muito
no desenho.” O gosto foi
crescendo e ganhando cada
vez mais expressão nas
páginas dos cadernos que ia
colecionando, mas que não
mostrava a ninguém. Eram
uma espécie de diários
secretos. Começou pelo desenho abstrato, o exercício
era espontâneo, desprovido
de qualquer racionalismo
ou preocupação estética, resultando apenas da “necessidade diária de desenhar”.
Com o tempo, foi aperfeiçoando a técnica e aguçando
o gosto, mas a arte ainda
estava longe de assumir um
grande plano na vida de Ricardo Canessa.Terminado o
Ensino Secundário, ingressa no curso de Engenharia
Informática, na universidade do Algarve. “Gostava de
computadores e como não
encarava a arte como profissão, o curso pareceu-me
uma boa opção. E até foi.”
Acabou por concluir a licenciatura na Universidade
da Madeira e, pouco tempo
depois, decide abrir uma
empresa de publicidade. É,
em parte, o contacto com
as artes gráficas e o design,
a par da paixão primeira
pelo desenho, que desperta
em Ricardo o interesse pelo
graffiti. E, por outro lado,
a ideia de fazer graffitis
na Madeira, um terreno
praticamente virgem no
que toca à arte urbana,
SÁB 14 NOV 2015 | açúcar | 13
“Os meus amigos gozaram comigo quando disse que ia ser graffiter”
ões possíveis aos muros da cidade
“risquei a
minha cave
toda.
pintava e
repintava
vezes sem
conta”
representa para Ricardo
um desafio. “Quando disse
aos meus amigos que ia
dedicar-me ao graffiti, eles
gozaram comigo, disseram-me que estava doido.” (risos). A reação deu-lhe ainda
mais força para seguir em
frente. Regressou à Universidade da Madeira para
estudar arte e multimédia,
fez da cave da sua casa um
laboratório, uma espécie
de redoma artística para os
ensaios de graffiti. Queria
estar devidamente preparado, antes de trazer à rua
as suas obras. Os ‘testes’
correram bem, as paredes
da cave foram “pintadas e
repintadas vezes sem conta”. No princípio, predominavam os traços abstratos
dos primeiros desenhos,
mas, aos poucos, Ricardo
foi descobrindo uma linha
mais realista. Voltou-se
para os rostos, assumindo
uma predileção pelas fisionomias mais complexas.
Viciou-se no pormenor, na
exigência do realismo.
Estava, finalmente, pronto,
para se mostrar nas ruas,
mas impunha-se, agora, outro desafio: onde? Ao con-
trário de outras cidades europeias, como Lisboa, que é,
inclusivamente, a capital da
Europa com mais trabalhos
de graffiti legal, o Funchal
não tem qualquer cultura
nesta corrente artística. E a
verdade é que o preconceito
inerente ao graffiti também
não joga a favor da emancipação destes artistas. Ainda
muito associado aos atos
de vandalismo e marginalidade que ditaram as suas
formas mais primitivas,
este movimento urbano tende a ser olhado com alguma
desconfiança. No entanto,
Ricardo Canessa desmistifica e afirma que o graffiti
nada tem a ver com violência ou provocação negativa, bem pelo contrário. “
Vandalizar não faz parte da
minha filosofia, o meu principal objetivo é conseguir
espalhar pela cidade beleza,
arte e mensagens positivas.
Por todo o mundo, há peças
de graffiti lindíssimas.
Engana-se, redondamente,
quem pensa que o graffiti é
encher os muros de palavrões e obscenidades. Não
é. Até porque, quem vai
por aí, nunca será levado a
sério neste meio.” Na Madeira, as ‘telas’ de cimento
são escassas, ou melhor,
“proibidas”. Ricardo é da
opinião que os municípios
deveriam definir zonas para
‘grafitar’, e dá até algumas
ideias: “os túneis das vias
rápidas são espaços tristes,
cinzentos, tal como o parque de Água de Pena, por
exemplo, que é uma excelente infraestrutura, mas
igualmente cinzenta. Falta
cor nesta cidade.” Apesar do discurso ser quase
sempre otimista, por vezes
sobressai-lhe nas palavras
alguma mágoa. “Há muito
preconceito na Madeira,
tudo o que é diferente é
visto com maus olhos… Não
vou dizer que isto é o fim
do mundo, mas anda lá per-
to.” Felizmente, nem tudo é
mau, e o artista reconhece
que algumas mentalidades
já se vão revelando mais
“arejadas”. Sintoma disso
são os convites que recebe
para intervir em fachadas
de bares, lojas e até instituições de caridade. “Há uns
tempos, a instituição Vila
Mar pediu-me para pintar
parte do muro do campo de
futebol, cerca de 4 metros,
foi um trabalho que me
deu um gozo muito particular, porque os miúdos
envolveram-se imenso no
processo, quiseram ajudar-me a pintar, e o entusiasmo foi tal que acabámos
por colorir o muro todo.
Às instituições de caridade
só cobro o custo das tintas,
o resto é comigo.” O espírito solidário é um traço
marcado da cultura graffiti,
não é por acaso que muitos
graffiters trabalham em
grupo, nem é por acaso que
muitos trabalhos denunciam injustiças sociais. Exposta fora das galerias, este
tipo de arte pública permite
uma interpelação massificada, representando, para
alguns, o expoente máximo
da democratização da arte.
Ricardo Canessa não é fundamentalista; apesar de defender uma maior abertura
dos madeirenses ao graffiti,
entende que este movimento não deve ser “invasivo”,
ao ponto de colidir com a
identidade da Região. “Não
podemos colocar tudo no
mesmo saco. Cada cidade
tem as suas características
próprias, a sua cultura, as
expetativas dos turistas,
etc., e eu sei perfeitamente
que quem visita o Funchal
não está à espera de encontrar muros pintados por
todo o lado. O que eu digo é
que o graffiti tem, ainda assim, um espaço interessante por preencher, porque
o que existe atualmente é
quase nada.
a
14 | açúcar | SÁB 14 NOV 2015
mais açúcar
Roulado de banana com mel de cana e uvas secas
Octávio Freitas
Executive Chef
FourViews | Funchal
[email protected]
Ingredientes
200 g
300 g
70 g
50 ml
20 g
q.b.
1
2 c.sopa
Massa brick
Banana
Uvas secas
Vinho Madeira
Manteiga
Hortelã
Ovos
Mel de cana
Confeção
Corte a banana aos cubinhos
e envolva com uma colher de
chá de sumo de limão.
Numa caçarola adicione a
manteiga, banana, uvas Secas
e estufe em lume brando, finalize este processo aromatizando com o vinho madeira e
o mel de cana.
Após o preparado anterior estar frio, recheie a massa brick
dando-lhe a forma de roulado.
Pincele o roulado com ovo e
leve ao forno a 180 Cº durante
15 minutos.
Depois de frio, emprate, cortando em fatias, e decore com
açúcar refinado e folhas de
hortelã.
Dica
mergulhe as bananas primeiro em sumo de laranja ou de
limão, para evitar que fiquem
escuras.
a
2 Porções
Duração: 35 Minutos
Dificuldade: Média
Diamantes de matcha
Joana Gonçalves
Chef pasteleira
Eleven | Lisboa
[email protected]
O Clássico um porto seguro!
O
Clássico é um daqueles restaurantes
que serve de porto
seguro para ir almoçar ou jantar. Porque tem
uma sala fantástica? Certamente essa não é a principal
razão, a sala é, a meu ver, o
ponto mais fraco deste local.
Demasiado grande e sem
ambiente. A esplanada? Sim,
em dias de bom tempo a esplanada sobre a falésia, com
o oceano ao fundo é, sem dúvida, um argumento a favor.
O serviço? Também, o serviço é muito acima da média
dos restaurantes madeirenses, começando no Sr. Eleutério, chefe de Sala, e passando pela restante equipa. Aqui
chegados, já identifiquei dois
Bater a manteiga com o açúcar. Adicionar a farinha e
matcha. Formar rolos com a
massa e panar em açúcar demerara. refrigerar por uma
hora. Cortar
200gr
manteiga
100gr
açúcar em pó
250gr farinha
20gr
matcha
Açúcar demerara
a
António Janela
pontos a favor, mas o mais
importante é.... Acertou, é a
cozinha, e, neste particular,
a cozinha do Clássico, apesar de não ser nem criativa
ou inventiva, nem é essa a
sua “praia”, é muito segura.
O Chefe Manuel comanda
uma equipa que apresenta
uma cozinha de cariz tradicional, boas matérias-primas
e, mais do que isso, a comida nesta cozinha é verdadeiramente cozinhada, com
tempo e condimento. Seja o
peixe do dia, o polvo ou os
vários arrozes, o que vem
para o prato é legítimo, sabe
exactamente ao que é. Aqui
não há lugar a invenções. É
por isto que o Clássico é um
porto seguro.
a
SÁB 14 NOV 2015 | açúcar | 15
boca doce
Valentina Jesus
(animadora de rádio na Antena 3 )
1
[email protected]
Três características da sua
personalidade que melhor
o definem?
Persistente, genuína e justa.
14
2
A crítica mais construtiva
que já lhe fizeram?
E a mais injusta?
Não sejas tão impaciente
e cabeça no ar. A mais absurda, não fales tanto.
3
A decisão mais importante
que teve de tomar?
Trocar a efetividade por um
contrato de 6 meses.
4
A sua dúvida mais
persistente?
Serei boa e criativa o suficiente para poder continuar
a fazer parte deste mundo
da comunicação?!
5
Um arrependimento?
Só do que não fiz… Soa a cliché, mas tudo o que passei
faz de mim aquilo que sou.
11
Quem são os seus heróis
na vida real?
Os meus pais.
6
Um ato de coragem?
A minha vida diária. Tento
sempre fazer coisas que à
partida podem assustar-me.
7
Uma atitude imperdoável?
Todas as que envolvam
falta de espinha dorsal
8
A companhia ideal para
uma conversa metafísica?
Qualquer pessoa que, como
eu, seja apaixonada pelo ser
humano e tudo o que ele envolve. Que não se importe de
passar horas a observar pessoas (é a minha ‘pancada’).
Mas tendo essa possibilidade,
o Woody Allen.
12
9
Qual é a sua maior extravagância?
Música e literatura em formato físico. Numa altura em
que as tecnologias tomaram
conta do mundo, é uma extravagância têlos espalhados
pela casa. Nada bate o toque.
10
Uma doce memória da
infância?
As brincadeiras com a avó
Maria, o bebé chorão e o
pudim boca doce!
O que distingue um
madeirense de um continental
Resumidamente, o estar
sempre em festa. Onde
está um madeirense está
um festeiro.
13
Que opinião tem dos
madeirenses que escondem o sotaque?
Vejo com bons olhos.
Não vejo nisso uma
forma de esconder as
raízes, ou falta de
orgulho. Muitas vezes,
a aldeia global em que
vivemos levanos a fazêlo.
Que expressão madeirense usa com mais
frequência?
Uah mãe c’os nervos.
15
A quem gostaria de pagar
uma poncha?
A minha primeira opção
seria pagar uma poncha ao
Gabriel Garcia Marquez…
Infelizmente, não sendo já
possível, Keith Richards.
16
5 segredos da ilha?
LOCAL
o meu rincão florido, São
Jorge do mar à montanha.
HOTEL
Estalagem da Ponta do Sol
RESTAURANTE
Taberna Madeira.
Doses perfeitas.
LOJA
Armazéns do Mercado,
ao sábado de manhã.
ATIVIDADE AO AR LIVRE
Fácil... Bodyboard!
Download

açúcar - JM Madeira