03 talvez a revista mais doce da madeira açúcar 03 | Suplemento que não pode ser vendido separadamente do jornal | design açúcar ricardo tadeu barros | foto capa © Élvio Fernandes BOCA DOCE valentina jesus a menina da telefonia P. 15 NA RUA graffiti confissões aos muros da cidade P. 12 O PALCO E O TRONO diogo correia pinto e sofia canha à conversa no conservatório P. 3 The Kids diogo e pedro de malas aviadas fundada 2015 2 | açúcar | SÁB 14 NOV 2015 divagações de uma mente diluvianamente opípara Outono é Verónica “Verónica é independência, é CRÓNICA força, é languidez e Bárbara Gil Pereira dureza. É um ramo [email protected] de rosas vermelho com cartão e um pedido de desculpas. É ópera em Milão, é Callas nas colunas. É o esfarelado da agulha num vinil daquelas pessoas, um nique jaz a rodopiar. ou cho, provavelmente composÉ o piroso que sabe to apenas por mim própria, que não tem paciência para bem (…) Começo Fernando Pessoa. O atrofio tímido, o transcendente, a perceber o o invisível... Não consigo. publicamente em Fernando... Porque Assumi-lo certos círculos chega a ser se eu não fosse loura pior que assumir que se sofre de um síndrome qualquer gostava mesmo de incontornável de índole intestinal. Automaticamente, ser: Verónica.” olham para nós num misto s de pena e nojo. Um encolher de ombros e um meio sorriso de paralisia facial, um coitadinha não percebe, um como é que é possível, um laivo de condescendência. Exactamente como se dá a quem solta ventosidades sonoramente em público sem querer. Mas não consigo, e já que se fala em flatulência, assumo: não tenho esfíncter para Pessoa! E o que é aquela merda dos heterónimos? Alguém percebe aquilo? É um alter-ego mas não é?... Vestia-se assim , mas não era assado , e as cartas e o jasmandro...? No entanto, apesar desta assumida heresia, há pouco tempo dei por mim a empatizar um pouco mais com Pessoa. Pela razão aparentemente mais inusitada. A pergunta foi: se não fosses loura o que gostavas de ser? E o meu subconsciente prontamente regurgitou: se eu não fosse loura gostava de ser Verónica! Verónica é nome de amante. Verónica é nome de mulher madura, enxuta, morenaça de olhos verdes, cabelos pretos brilhantes, ondulado Pantene, laca Elnett. É nome de gaja boa na cama, de roupa interior de renda preta, de meias de vidro. De quem geme, baixinho com calor. De mãos delicadas com rouge noir que afagam um peito peludo ligeiramente grisalho e sussurram qualquer coisa como «Ali Kerim Bey». Verónica é cheiro a anos 80, a Opium, a Shalimar. É casaco de peles em cima dos ombros, é stiletto preto de verniz, é alcatifa sangue de boi com 7 cm de espessura. É lobby de hotel com latões lustrosos, é carrinho de Flambées em cobre, é empregado de laço, é cocktail de camarão, é crepe suzette. É filet mignon com molho bearnês. Veronica é Outono. É almoço e tardes ociosas. Verónica é Monte Carlo, Champs Elysées, Park Avenue e Gambrinus num só. Verónica é Buenos Aires e Via Venetto. Verónica é piano bar. É Chanel vermelho nos lábios, sorriso discreto, voz baixa. É sem perguntas, sem cobranças. Verónica é independência, é força, é languidez e dureza. É um ramo de rosas vermelho com cartão e um pedido de desculpas. É ópera em Milão, é Callas nas colunas. É o esfarelado da agulha num vinil que jaz a rodopiar. É o piroso que sabe bem. O Moonlighting do Al Jarreau , a harmónica do Thielemans. É pé direito e portas francesas com resguardo viradas para rua. É copa das árvores, é tecto trabalhado a gesso, é o ranger do soalho em casquinha. É Martini. É Cinzano. É Puccini e Estoril. É Fellini. É casino. É Champagne no brilho metalizado de um Mercedes 220 SE coupé. Verónica é miopia velada, é sabedoria, é compreensão. É par de óculos com correntes ao pescoço, uma caneta pequena dourada. É um compacto opulento. Daqueles que fazem clac. Verónica é dunhill king size, é sombra dos olhos púrpura, é khol. É tirar a partícula de tabaco da língua rosada. É toque de caxemira e beijo de veludo. É tensão, é bossa nova no elevador de espelhos fumados. É nua contra um smoking com laço desfeito. Verónica é loja de lingerie, é caixa com papel sulfite, é saco com cordões de seda. Verónica é mistério. Verónica é vintage. Começo a perceber o Fernando... Porque se eu não fosse loura gostava mesmo de ser: Verónica. a SÁB 14 NOV 2015 | açúcar | 3 o palco e o trono Edição por Cláudia Sousa Sofia Canha e Diogo Correia Pinto Diogo Correia Pinto - Sei que é natural do Jardim do Mar, como é que iniciou a sua atividade política? Sofia Canha - Eu li, uma vez, que um político não se faz quando entra para a política ativa. O político pode ser qualquer pessoa que tenha uma sensibilidade interventiva, que olhe à sua volta e o que vê não lhe seja indiferente. DCP – Começou muito jovem a ter esse papel interventivo, certo? SC – Este papel interventivo começa muito cedo, vem num contexto, primeiro, familiar, e depois, comunitário. Houve ali [no Jardim do Mar] Diogo Correia Pinto aproveitou a ocasião para questionar como é que um político consegue comprometer-se com a verdade, quando vive numa civilização virada para o espetáculo e para o “bombástico” aquilo a que eu chamo um microcosmos político em relação ao resto do conselho. Tenho 45 anos, mas vivi, ainda em criança, situações muito curiosas. Por exemplo, as mulheres fumavam, pura e simplesmente para se emanciparem. DCP – E faziam isso de forma consciente?! SC - Era consciente. Não era um ato de rebeldia, mas de emancipação. Fumavam não com o intuito de chocar os outros, mas para mostrar um pleno direito conquistado pelo 25 de Abril. DCP – E acha que o resto da Madeira era mais conservador? SC - Eu dei este exemplo, mas esta situação acaba por ser residual perante outras, como o encontro de pessoas, as reuniões que se faziam comummente entre homens, mulheres e amigos, que cantavam, e que conversavam sobre política. Primeiro, em (alguma) clandestinidade, e depois, mais abertamente. Lembro-me que no Jardim do Mar foi criada uma cooperativa para dar acesso a bens mais económicos. Havia dois padres marcantes em termos do que era o ideário político da altura. O padre Cruz e o padre Araújo, que saíram de uma leva de padres que foram ameaçados e que tiveram de sair da região, e eram os dois do Jardim do Mar. Esta freguesia tinha uns 300 habitantes e ti- Este é mais um encontro inusitado, onde o palco e o trono surgem no mesmo plano. Desta feita, a Açúcar lançou o repto a um espírito livre do mundo político e a uma mente acutilante do mundo das artes. Sofia Canha, professora de Português e Inglês e deputada do PS na Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira, e Diogo Correia Pinto, ator, encenador e professor de interpretação no Conservatório - Escolas das Artes da Madeira. O ‘terreno’ do entrevistador foi o cenário escolhido para a conversa. 4 | açúcar | SÁB 14 NOV 2015 Neste encontro ficou reduzida a distância entre o poder e as artes Os artistas têm sempre uma sensibilidade mais apurada em relação ao mundo e à vida Quem está mais dotado de pensamento e de sensibilidade para a intervenção deve usar isso em favor dos outros Sofia Canha. nha pessoas que tinham estudado, que tinham tirado o secundário. Isso, só por si, pode não ser nada... DCP – Mas permite ter uma maior abertura, uma ideia mais alargada das coisas... SC – Exatamente, permite ter uma atitude mais tolerante. DCP – Tolerante em que sentido? Aquela pequena comunidade, afinal, era tolerante? SC – Era, no aceitar de novas ideias, novos comportamentos, ainda que, muito marcada pela Igreja. Mas, como digo, teve estes dois padres, que tinham uma tendência mais de esquerda, um deles até criou a cooperativa. Os valores cristãos eram interventivos. Cristo era interventivo na sociedade, não se acomodou, e esses valores condicionaram-me. Acho que, sobretudo, quem está mais dotado de pensamento e de sensibilidade para a intervenção deve usar isso em favor dos outros. DCP – [Até entrar na Política] por que razão nunca tinha sido militante? SC - Porque eu nunca quis. Achava que a minha intervenção era mais cívica e não partidária. Até assumir um compromisso partidário, aí filiei-me. Antes disso, colaborei com o Partido Socialista em vários projetos políticos, por ser o partido com que mais me identificava. Eu não queria entrar na máquina. DCP – Como é que um espírito livre consegue estar perante a disciplina partidária? É uma questão de compromisso e de responsabilidade. Sou um espírito livre no sentido em que posso escolher a responsabilidade de assumir um compromisso ou de não assumir. Podia não aceitar. E até foi só à terceira tentativa que cedi. Eu, no pleno uso da minha liberdade e do meu pensamento, escolhi assumir um compromisso político. SC – Mas eu falo em relação a quando está na Assembleia, enquanto deputada, há situações em que não concorda, como é que lida com isso? SC - Mais uma vez, se eu assumi um compromisso, tenho, de antemão, responsabilidades para com a estrutura em que estou inserida, neste caso, o Grupo Parlamentar do Partido Socialista. Muitas pessoas preferem não assumir um compromisso partidário, porque querem manter-se nesse estado livre. Mas depois, qual é a influência que têm nos decisores? Nenhuma. É sempre um ato individual e não coletivo. DCP - Procura ser consensual em todas as suas ações? SC - Não. O consenso é difícil. Eu procuro ser diplomática, entender o ponto de vista do outro. DCP - Está há pouco tempo na política e, se calhar, também ainda está a aprender um pouco daquilo que é o jogo político... SC- Sim, estou a aprender muito (risos) DCP - Numa civilização de espetáculo, onde se privilegia o bombástico, de que modo o político consegue aceitar as regras do jogo e, ao mesmo tempo, manter um compromisso para com a verdade sem ser uma espécie de personagem? SC - Eu não procuro os ‹sound bites›. Tenho, até, por vezes, um discurso demasiado pedagógico na Assembleia. No entanto, a partir de o momento em que não me encaixar, ou que ache que não é isto que a política precisa, ou que não é isto que as pessoas querem, eu saio. Enquanto eu tiver espaço de liberdade e de atuação, à luz dos compromissos que eu assumi, estou bem. A partir do momento em que eu sentir que estou ali a mais, então, saio. DCP - Estamos aqui numa instituição de referência da música, [Conservatório] que completa, no próximo ano, 70 anos. Quer deixar alguma mensagem? SC - Eu espero que esta instituição tenha muitos mais anos, que seja saudável, representativa daquilo que é, e que crie mais artistas. Os artistas têm sempre uma sensibilidade mais apurada em relação ao mundo e à vida. DCP - O professor também é um emissor de memórias da cultura de um país. Sendo professora de Português, como vê estas novas gerações aculturadas pela sociedade anglo-saxónica, que, muita das vezes, não conhece a cultura recente do seu próprio país? SC – Vejo com muita preocupação, como todos os professores. Eu valorizo muito, no lugar certo, a tradição, porque dá raízes a um povo. Preocupa-me esta descaracterização dos países e das culturas. Somos quase todos iguais. a SÁB 14 NOV 2015 | açúcar | 5 manos garcia de “malas aviadas” para lisboa Diogo e Pedro Garcia, de 16 e 18 anos, tentaram a sua sorte em programas televisivos nacionais de caça-talentos. A experiência enriquecedora fez com que os músicos não parassem de lutar para chegarem ao mundo do estrelato. A ilha começa a ser demasiado pequena para tanto talento e, por isso, o mais certo é mudarem-se para Lisboa e depois para Nova Iorque. Tudo por causa de um sonho. ENTREVISTA Sandra S. Gonçalves [email protected] a vossa carreira no mundo da música começou muito cedo. Quando é que descobriram que queriam ser cantores? Pedro Garcia: Sempre gostámos de cantar, mas tudo começou quando, em 2009, uma prima nossa nos inscreveu no concurso “Funchal a Cantar”, onde concorremos na freguesia de Santa Maria Maior e ficámos em primeiro lugar com a música “Senhora do Mar”. Depois, seguiu-se o programa da TVI “Uma Canção Para Ti”, em que ambos participamos, mas em anos diferentes. Eu em 2009 e o Diogo em 2011. A participação nesse programa de caça-talentos, apresentado por Cristina Ferreira e Manuel Luís Goucha, foi uma rampa de lançamento para o mundo do espetáculo? Diogo Garcia: Participar em “Uma Canção Para Ti” foi bastante gratificante para mim, porque cheguei aos cinco finalistas, e, tanto eu como o Pedro, recebemos imensos elogios do júri, especialmente do Luís Jardim que, como é da Madeira, apoiou-nos imenso. Podemos dizer que a nossa passagem por este programa fez com que não desistíssemos de investir num sonho que temos em comum. Já mais crescidos, com 14 e 17 anos, depois dessa experiência enriquecedora, seguiu-se o pro- grama “The Voice”, da RTP-1... Pedro Garcia: É verdade, no ano passado participei no “The Voice”, onde cheguei até à meia-final. Foi pena não ter ido mais além, mas depois o Diogo concorreu ao “The Voice Kids” e venceu. Não ganhou um, ganhou outro (risos). Na prova cega, qual foi a sensação de veres todas as cadeiras a virar assim que começaste a cantar? Estavas à espera? Pedro Garcia: Foi um momento bastante emocionante, não estava à espera que virassem todas as cadeiras, pensei que fosse virar apenas uma. O momento foi de tal forma especial que só me apetecia largar o microfone e celebrar o facto de ter entrado para o “The Voice” (risos). Digamos que foi o início de uma grande aventura que durou seis meses e que foi vivida com muita intensidade, onde tive a oportunidade de conviver com pessoas extra- ordinárias, que têm o mesmo sonho que eu, e também com diversos artistas conceituados. Quando o Mickael Carreira opinou sobre a tua atuação, uma das coisas que te disse foi que, mesmo que não ficasses na equipa dele, queria trabalhar contigo. Isso aconteceu ou foi apenas uma forma de persuasão para que o escolhesses como mentor? Pedro Garcia: Cheguei a atuar em dois concertos do Mickael, mas penso que quando ele disse isso foi para que ficasse na sua equipa (risos). Pelo menos até agora não me contactou nesse sentido, mas caso ele queira trabalhar comigo estou à sua inteira disposição. Porque é que escolheste o Anselmo Ralph? Pedro Garcia: Antes de entrar no programa já ia com a ideia de que se ele virasse a cadeira ia «A música “Ar” é a minha favorita e será o segundo videoclip do disco, que sairá em Dezembro.» Diogo Garcia 6 | açúcar | SÁB 14 NOV 2015 Queremos ser cantores internacionais e viver em Nova Iorque escolhê-lo, porque era o cantor do momento, mas se fosse hoje teria ficado com o Mickael Carreira, porque é de Portugal e não é tão ocupado como o Anselmo Ralph, que está sempre a viajar de um lado para o outro. E tu, Diogo, qual foi a sensação de virares as cadeiras dos mentores do “The Voice Kids”? Diogo Garcia: A sensação foi idêntica à do meu irmão. É um momento que nunca mais se esquece, mas foi um pouco estranho ver apenas três cadeiras quando já estava habituado a ver quatro na altura em que o Pedro era concorrente do programa. O Anselmo Ralph já conhecia bem, a Daniela Mercury e a Raquel Tavares foram duas grandes surpresas. A tua opção recaiu sobre a Daniela Mercury. Foi uma boa escolha, tendo em conta o facto de ser uma cantora conceituada e reconhecida internacionalmente? Diogo Garcia: Escolhia-a exatamente por essa razão. A Daniela Mercury, por ser uma artista internacional, tem o dobro da experiência dos outros dois mentores e, por isso, aprendi imenso com ela em termos vocais e práticos, como segurar no microfone e ter a postura certa em cima do palco. Ela estava sempre a dizer para não olhar para o chão, por isso passei o programa inteiro a olhar para cima (risos). Estavas à espera de chegar à final e trazer o “troféu” para a Madeira? Diogo Garcia: Não estava nada à espera de ganhar, porque a Madeira, como é uma ilha pequena, pensei que não tivesse tanto poder de voto, mas, pelos vistos, não foram apenas os madeirenses que votaram. Fiquei bastante surpreendido por ter imensas pessoas do continente a apoiarem-me, o que também acabou por ditar a minha vitória. O que sentiste no momento em que ouviste os apresentadores a anunciarem que eras tu o vencedor? Diogo Garcia: A minha primeira reação foi chorar, porque senti que estava a realizar um sonho… A gravação de um disco estava mais perto do que nunca. Depois, quando caí na real, tinha um monte de pessoas à minha volta a festejar a vitória. Foi inesquecível, não dá para explicar... Pedro Garcia: Antes de desvendarem o nome do vencedor estava tão ou mais nervoso do que ele, e quando percebi que o Diogo tinha sido o escolhido do público, dei um pulo, saltei imensas cadeiras e fui ter com ele ao palco para celebrar um momento que nunca mais iremos esquecer. Desde o programa “Uma Canção Para Ti” que os vossos pais têm sido incansáveis convosco, fazendo de tudo para apoiar uma carreira que nem sempre é vista com bons olhos, sobretudo na Região. Nada disto teria sido possível se não tivessem o apoio deles? Pedro Garcia: Esta área já é tão complicada com ajuda, imagina sem ajuda. Os nossos pais têm sido impecáveis connosco, sempre sentiram que a nossa vida passava pela música e levam-nos onde for preciso para irmos mais além na nossa carreira. Só espero que um dia possamos retribuir tudo o que têm feito por «Costumo dizer que para ser bom tem que doer (risos). Nesta área, como em todas as outras, temos de ser dedicados e esforçados, porque quanto mais trabalharmos melhores resultados teremos.» Pedro Garcia nós e todo o dinheiro que têm gasto connosco. Eles merecem... Tal como já mencionaram, o mundo do espetáculo é complicado, que conselhos é que vos costumam dar? Pedro Garcia: Dizem para nunca perdermos a humildade, porque isso é a base de tudo, e sermos simpáticos e educados para todas as pessoas. Uma das vossas referências é a dupla Anjos. Identificam-se com estes artistas pelo facto de serem irmãos e de terem lutado muito para chegarem longe no mundo da música? Diogo Garcia: Os Anjos continuam a ser uma referência, porque têm uma história de vida parecida com a nossa, e, se eles chegaram lá, por que não haveremos de chegar? Pedro Garcia: Além dos Anjos, o Cristiano Ronaldo também é uma fonte de inspiração, porque nasceu na mesma ilha que nós e hoje é o melhor jogador de futebol do mundo, por isso, nada é impossível. Para quando uma música em conjunto? Pedro Garcia: Nós em casa estamos sempre a gravar músicas e até temos algumas cantadas em conjunto, mas ainda não as tornamos públicas, quem sabe um dia... Como tem sido a vossa vida depois da passagem pelo “The Voice”? Pedro Garcia: Felizmente tive bastante trabalho este verão, dei 28 concertos um pouco por toda a Região, um dos quais no “NOS Summer Openning”, no Parque de Santa Catarina, onde abri o espetáculo do Carlão. Entretanto, gravei três músicas, em conjunto com concorrentes do “The Voice”, que irão sair em breve. E além disso, lancei a música “Só a Ti”, em versão house e acústica, e gravei o videoclip do tema “Perde as Manias”. Essa música é intrigante... escreveste-a para alguém em especial? Pedro Garcia: Quando escrevo uma letra não quer dizer que a história tenha acontecido comigo ou que seja dedicada a alguém. O meu objetivo é fazer com que as pessoas se identifiquem com as minhas músicas, SÁB 14 NOV 2015 | açúcar | 7 Os artistas não querem ficar na Madeira por causa das limitações que existem ao nível das artes. «A única certeza que tenho é que, apesar de gostar muito da Madeira, se quiser mesmo gravar um disco tenho de sair de cá, porque, infelizmente, não há produtores a esse nível.» Pedro Garcia porque é uma forma de cativar o público. O Diogo parece que está com a “cabeça no ar” (risos), como é que tem sido a tua vida depois de venceres o “The Voice Kids”, tens te dedicado a 100 por cento na promoção do álbum “O Que Eu Sou”? Diogo Garcia: Estou um pouco cansado (risos)...desde que saí do programa tenho dado alguns concertos cá, com o meu irmão, mas tenho de gerir bem o meu tempo, porque ando muito entre a Madeira e Lisboa por causa do álbum que saiu há pouco tempo. Não é complicado para um jovem de 16 anos andar num constante “corre-corre”? Diogo Garcia: Sou uma pessoa que gosta muito de viajar, obviamente que era menos cansativo se vivêssemos em Lisboa, mas quem corre por gosto não cansa. Pedro Garcia: Costumo dizer que para ser bom tem que doer (risos). Nesta área, como em todas as outras, temos de ser dedicados e esforçados, porque quanto mais trabalharmos melhores resultados teremos. Lembras-te do dia em que seguraste pela primeira vez o álbum nas mãos, o que é que sentiste? Diogo Garcia: Senti vontade de chorar, não chorei, mas estava quase (risos)... Agora a sério, quando vi aquele retângulo na mão com a minha foto senti que estava a concretizar um sonho e tive vontade de vê-lo à venda nas lojas, para que as pessoas comprassem e decorassem as letras das músicas para cantarem comigo nos concertos. A música “Ar” irá fazer parte da banda sonora de “Santa Bárbara”, da TVI, este é mais um passo em frente na tua carreira como cantor, tendo em conta que é a primeira vez que a música de um madeirense entra numa telenovela? Diogo Garcia: Sem dúvida que sim. A música “Ar” é a minha favorita e será o segundo videoclip do disco, que sairá em Dezembro. Além disso, sinto-me lisonjeado pelo facto de o primeiro videoclip “Sinto-me Livre Contigo”, assim como o álbum, estarem constantemente a passar na televisão. Nestes primeiros dias a publicidade passará na RTP-1 e depois na RTP-Madeira e no Panda Biggs, mas o meu foco principal é a SIC, porque, na minha opinião, é a melhor televisão de Portugal. Pedro Garcia: Ainda não tenho nada em vista, mas com esforço e dedicação lá chegarei. A única certeza que tenho é que, apesar de gostar muito da Madeira, se quiser mesmo gravar um disco tenho de sair de cá, porque, infelizmente, não há produtores a esse nível. Diogo Garcia: É e não é... (risos). Mas esse é um sonho que não carrego sozinho. Tanto eu como o Pedro queremos ser cantores internacionais e viver em Nova Iorque. As grandes editoras de artistas, como Justin Bieber e Ariana Grande, ou estão em Londres ou na América. Mas isso é um passo que será dado apenas mais tarde. Em primeiro lugar, vamos tentar cimentar uma carreira em Portugal e depois tentaremos a nossa sorte noutro país, para mostrar o nosso trabalho ao mundo inteiro. A Região é bastante limitada ao nível das artes, em geral, sentem que para voarem mais alto têm de sair da Região e fixar residência em Lisboa? Desde que cá chegamos (Praça do Povo), ainda não pararam de ser assediados (risos), isto costuma acontecer no vosso dia-a-dia? Pedro Garcia: Todas as semanas, tanto eu como o Diogo, falamos com os nossos pais sobre isso e eles dizem que é para termos calma, que essa mudança não pode acontecer assim de repente. Não é algo que está para breve, mas, mais cedo ou mais tarde, vai acabar por acontecer. Pedro Garcia: Costuma acontecer com muita frequência, mas já estamos habituados (risos). As pessoas que me reconhecem na rua costumam pedir-me para dar um autógrafo e tirar uma fotografia. Mas um dia destes aconteceu-se um episódio curioso no continente: estava no metro e uma miúda que estava do outro lado da linha olhou para mim e disse para dar a volta, mas eu não O Diogo já gravou um disco, agora faltas tu, Pedro... Mas o Diogo sonha ir mais além...Lisboa não é o suficiente? a conhecia. Decidi fazê-lo para satisfazer a curiosidade e foi aí que percebi que apenas queria tirar uma fotografia e dizer que gostava do videoclip “Perde as Manias”. Fiquei contente pelo facto de não estar “em casa” e, mesmo assim, as pessoas reconhecerem-me, o que significa que, de uma forma ou de outra, causei impacto, e isso é gratificante. Diogo Garcia: Já me aconteceram várias situações engraçadas, a última foi no metro do Porto, onde estava com a minha equipa de andebol e, numa brincadeira com os colegas, acenei a uma rapariga que ficou toda derretida e de boa aberta (risos). Música e fãs à parte, passemos para um assunto mais sério: como é que vai a escola? Pedro Garcia: Neste momento estou a tirar o 12º ano, na Escola Secundária Francisco Francisco, e o Pedro está no 10º ano, na Escola Jaime Moniz. O nosso objetivo é concluir o Secundário e depois dedicarmo-nos a 100 por cento à música. Dê por onde der... a 8 | açúcar | SÁB 14 NOV 2015 fotógrafo andré gonçalves André Gonçalves é natural da Calheta. Descobriu muito cedo a sua forma de expressão artística, mas só recentemente decidiu apostar a sério na sua vocação – a fotografia – e começou a divulgar os seus trabalhos. Começou por criar uma página no Facebook, seguindose a presença assídua no site olhares. com. Não tardou a ganhar visibilidade, despertando o interesse de várias publicações – as suas fotografias já ilustraram a revista nacional Zoom Fotografia Prática e as revistas internacionais Dark Beauty Magazine e Blur Magazine. d efine-se como um foto-entusiasta. Lunático, excêntrico, bizarro, boémio, versátil, expressivo. Retrata o interior de uma mente caótica, por vezes, alienada do que o rodeia. Retrata o que vê e o que concebe, expressando-se através de retratos, autorretratos e/ou imagens. A sua inspiração advém de uma dialética aprimorada entre a arte, essencialmente conceptual, e um toque de surrealismo. O resultado? Imagens que, de uma forma ou de outra, nos fazem submergir no seu imaginário. Esta invasão, consentida, é um gesto provocatório em que o artista empreende para oferecer ao espetador a mesma intensidade que confere às suas criações – espoletadas a partir do seu assumido fascínio pelo incomum. As suas fotografias, profundamente interpelativas, possuem “alma, identidade e presença”. A cada uma delas corresponde uma narrativa, e cada personagem por ele criada traz na penumbra um passado, um segredo, uma emoção. Contador de histórias através das imagens, André Gonçalves preocupa-se em transmitir uma mensagem que inquiete. Que transforme. Que emocione. SÁB 14 NOV 2015 | açúcar | 9 horas vagas [ livro, filme, música] Sandra Sousa https://estrelasnocolo.wordpress.com/ A té que sejas minha é um thriller psicológico muito intenso, sendo uma leitura voraz que pode ser feita em apenas poucos dias. Nestas páginas conhecemos Zoe, uma jovem que acabou de ser contratada para ajudar a cuidar do bebé de Claudia que está prestes a nascer. Conhecemos também Lorraine, que leva a cabo, paralelamente, uma investigação e que se vê confrontada com a sua relação turbulenta com a filha e com o marido que também é O novo filme de Danny Boyle ( Quem quer ser Bilionário? ) não é uma biografia completa e enfadonha da vida de Steve Jobs, génio da informática e das tecnologias digitais, mas um drama sobre os bastidores dos auditórios onde foram apresentados o Macintosh, N o âmbito do ciclo sobre o realizador nipónico Yasujiro Ozu, a RTP2 apresenta A Flor do Equinócio, com exibição já hoje, dia 14 de novembro, pelas 22h45. O primeiro filme a cores deste mestre não apenas do cinema oriental como de todo o mundo centraliza-se nas Boiler Room U m projeto Londrino lançado em Março de 2010. Os Djs são convidados a tocar sempre ao vivo e pela internet (LiveStream) sets de 60 minutos. Originalmente criado como complemento da revista “Platform”, as primeiras transmissões foram com artistas do “underground londrino” e em “Call Centers”, edifícios de telemarketing ou “Boiler Rooms”, como lá são conhecidos. Com o passar do tempo, a livro [ TopSeller ] Até Que Sejas Minha de Samantha Hayes investigador. O foco principal do livro é a obsessão pela maternidade, e esta obsessão é levada a níveis assustadores quando o leitor se depara com a morte de jovens gestantes. A trama é descrita através da perspetiva destas três mulheres e desde o início que desconfiamos destas personagens já que existem coisas que não batem certo. A narrativa de Claudia é uma narrativa obsessiva já que esta acredita que existe alguém que lhe quer mal, e a narrativa de Zoe é algo confusa, já que não conseguimos perceber ao certo quais são as suas intenções. O livro tem um ritmo lento, é aos poucos que vamos entrando na vida das personagens e só mesmo no final é que os conhecemos verdadeiramente. Gostei de todas as personagens, porque todas elas, em algum momento do livro foram cruciais para o seu desenvolvimento. Considerei este livro brilhante pelo que não se lê. Sim, isso mesmo. Pelo que não se lê. Porque na realidade este livro cinema & televisão -sonora e Daniel Pemberton revelam. Com o brilhante argumento de Aaron Sorkin (A Rede Social) e poderosas interpretações de Michael Fassbender e Kate Winslet - que deverão ser nomeados ao Óscar -, o espetador é asfixiado num meio onde não há espaço para perdedores. relações familiares do Japão em período pós-guerra, tendo enfoque na vida de um homem de negócios, que tem problemas com a filha. Esta espera casar com o homem que ama, mas o pai rejeita - um exemplo dos códigos de conduta rígidos que dominavam a sociedade japonesa desse período. Nos filmes do cineasta encontramos a recriação de temas tão mundanos e comuns a todas as sociedades como o conflito entre gerações mais velhas com gerações mais novas que lutam por tomar decisões, independentemente das consequências . Uma obra-prima que dá gosto (re)descobrir. por Ricardo Tadeu Barros programação foi diversificando e contando com artistas de renome como: Frankie Knuckles, Sven Vath, Richie Hawtin, Ricardo Villalobos, Carl Cox, Michael Mayer, Kerri Chandler, Marcel Dettmann, Ben Klock, Levon Vincent. Enquanto escrevo este texto para a Açúcar, estou a ouvir LIFE, Hugo Mendez da Label Sofrito, o DJ que está de serviço a passar o seu set com o intuito de angariar, mediante a venda de 350 bilhetes dispo- a Virgílio Jesus o NeXT e o iMac - produtos que mudariam a sua carreira para sempre. Nesse ambiente frenético e stressante, é-nos apresentado um Jobs cobarde por rejeitar a paternidade da sua filha, orgulhoso por pensar ser o melhor - mesmo que o seja -, e o maestro que lidera a orquestra, tal como a banda- música é perfeito nos seus pormenores e nas suas desconfianças. Pelo que não está escrito e por aquilo que o leitor tem de ver além do que lá está descrito. É uma obra que se debruça sobre as emoções mais profundas do ser humano e do quanto uma pessoa é capaz de fazer para conseguir algo que quer intensamente. É um livro repleto de mistério e de suspense que o deixará sem dúvida preso a cada linha. Perturbador e violento, são os melhores adjetivos para descrever esta obra. a a níveis on line, algum dinheiro para produzirem aquele que será o primeiro festival de música da Ilha afro-cubana e eletrónicos, em maio de 2016, Manana Cuba Takeover. Ken Ishii Produtor da Label Sapporo, compôs a música para a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno em Nagano, e, por ser da minha geração, talvez seja um dos músicos que mais gosto de ouvir a tocar “sininhos”. Entre nós, os Moullinex & Xinobi dão ananases em Lisboa pelo segundo ano consecutivo, e para o ano há mais. Sempre com a chancela de Boiler Room. a [email protected] Steve Jobs Data de estreia 12 de novembro Realizador Danny Boyle Elenco Michael Fassbender, Kate Winslet, Seth Rogen, Katherine Waterston e Jeff Daniels Género Drama/Biografia A Flor do Equinócio Yasujiro Ozu RTP 2, sábado 14 de Nov. 22h45 19:00 Phrased Londres 9.11.2015 20:00 Hugo Mendez Londres 9.11.2015 Moullinex & Xinobi Lisboa 2104 Ken Ishii Berlim 22.10.2014 10 | açúcar | SÁB 14 NOV 2015 feliz com menos Profissão: Mãe amos fazer xixi? – pergunta-me ela e continua – É uma emergência! – Isto justamente na hora em que arranjei um tempinho para me sentar à frente do computador e escrever este texto. Passou algum tempo, umas horas. Ambos dormem e, finalmente, após três ou quatro tentativas cá estou eu sozinha com os meus pensamentos. São raros estes momentos desde que fui mãe. Se calhar, hoje eles sentiram que eu realmente necessitava de namorar umas letras, aninhar palavras no consolo de uma folha branca, quase para libertar parte de mim. Certo, eu disse que era raro? Reitero. Ele acordou, dorme agora calmamente no meu colo enquanto escrevo. Sou o que comumente designamos de mãe a tempo inteiro, não concordo. Mãe é mãe e pronto. Sou sim, uma mãe que optou por não trabalhar fora, cuido dos meus filhos a tempo integral. Esta decisão a dois foi a melhor forma que encontrámos para ter uma vida mais calma, mais saudável e mais feliz. Deste modo, todos os dias ofertamos aos nossos filhos o que de melhor conseguimos lhes dar, o nosso tempo. Não pensem que o fazemos porque nos saiu a lotaria ou que meu marido é milionário (ele é professor). Apenas optámos pela qualidade em detrimento da quantidade. Além dos benefícios de uma alimentação mais cuidada, de uma rotina mais calma, também Ana Marques terapeuta da fala Débora G. Pereira www.simplesmentenatural.com V Doutoranda em Ciências da Cognição e da Linguagem Mestre em Terapia da Fala Pós-graduada em Neurodesenvolvimento em Pediatria [email protected] S ão cada vez mais as crianças que apresentam dificuldades na função alimentar, estando associados às mesmas, hábitos orais tardios e alterações de integração sensório motora oral, comprometendo ainda mais esta função. Na área da terapia da fala, a alimentação é tratada no âmbito das funções estomatognáticas, de onde fazem poupamos dinheiro que, obrigatoriamente, gastaríamos se eu fosse trabalhar. Saliente-se, que tendo em conta a creche, o combustível, as roupas e a alimentação, eu basicamente ia pagar para trabalhar (não se riam, há quem o faça e não se dê conta). Entre o “nada melhor para os teus filhos”, o “não te aborreces?” ou o “fazes desenhos com eles? Também tens tempo!”, numa dança entre o pulsar ambíguo da admiração e da irritabilidade, noto que as pessoas não são indiferentes a este tema. Por vezes, contactamme. Falam-me da vergonha de assumir perante a sociedade que não ambicionam uma carreira de sucesso, de aspirarem um papel importante, mas no seu seio familiar. Para alguns, este é um acariciar a memória com aquela sensação quente de segurança, carinho e cuidado na infância. Para outros soará como um sacrifício desnecessário, uma diminuição da mulher. Para mim, é uma enorme satisfação vê-los crescer, cuidar deles e do marido. Enquanto isso, trago à tona bocadinhos de mim, não me anulo, não deixo afundar o calor que emana em mim, aquilo que sou e o que quero fazer. Sou um elo de ligação que nos mantém fortes. Delicio-me com aqueles primeiros passos e com a doçura daquele abraço que não se espera. Na verdade, caro leitor, seja qual for a sua escolha, haverá sempre quem a julgue, não viva para impressionar os outros, impressione-se a si próprio. Uma semana muito feliz. a “O meu filho não mastiga... E agora?!...” parte um conjunto de estruturas que exercem funções básicas, tais como: sucção, mastigação, deglutição, fala e respiração. O processo da diversificação alimentar da criança é uma etapa importante do seu desenvolvimento psicomotor, envolve não só a aprendizagem dos movimentos motores orais para segurar o alimento, morder, mastigar e controlá-lo na cavidade oral até à sua prática com os diferentes alimentos que lhe são oferecidos, como também aspetos psicossociais, uma vez que requer interação comunicativa com o cuidador. Uma criança que apre- sente dificuldades ao nível da alimentação pode ter problemas na introdução e tolerância dos alimentos sólidos, bem como no aprazimento da refeição, o que pode contribuir para um atraso no desenvolvimento sensorial e distúrbios psicossociais. Estas dificuldades aparecem muitas vezes pela introdução tardia da variação alimentar quanto à sua consistência, textura e sabor na dieta da criança, pois quanto mais tardio for o início das transições alimentares, mais dificuldades os pais/cuidadores irão encontrar neste processo. Alguns dos sinais de alerta para estas perturbações alimentares de base sensorial são: náusea na presença do alimento; vomita facilmente; cospe o alimento; mantém o alimento dentro da boca sem saber o que fazer com ele, guardando-o na bochecha; apresenta padrões da mastigação alterados; não gosta de tocar nos alimentos; limpa sistematicamente a boca após cada colherada/ garfada; muito resistente à introdução de novos alimentos; a hora da refeição é demorada e feita com menos prazer pelo impacto emocional que causa nos cuidadores e na própria criança, por não conseguir realizar essa mesma tarefa que é mastigar! Perante estas dificuldades, torna-se imprescindível o trabalho preventivo e a atuação do terapeuta da fala com formação específica em neurodesenvolvimento e motricidade orofacial, pois a especificidade desta atuação, visa não apenas o diagnóstico, mas também o tratamento precoce das alterações estomatognáticas, que colmatam patologias ligadas à área da comunicação, prevenindo ou minimizando os seus efeitos. Polvilhe a alimentação das crianças de saudáveis aromas e sabores. Um conselho +Saúde! a SÁB 14 NOV 2015 | açúcar | 11 na moda s a r g e R Sem a s raízes do passado servem de inspiração para muitos designers e juntamse às tendências inspiradas pelo streetstyle. Este Outono/ Inverno não foi diferente e a década mais liberal de todos os tempos voltou em força e inundou as passerelles. Tom Ford, Anna Sui, Valentino, Burberry, Chloé, entre outros, inspiraramse nos anos 70 para as suas coleções e as marcas mais acessíveis como a Zara, Mango, H&M entre outras não tardaram em reproduzir essa tendência. Com as silhuetas e os materiais a dominarem este estilo urbano, a década de 70 reapareceu renovada, numa interpretação mais moderna, mais sofisticada, menos exagerada e enfatizando a sensualidade da mulher, realçando sempre o seu aspecto natural. Apesar de não ser das minhas tendências favoritas, admito que o regresso deste espírito mais liberal tornou a moda rígida de outros anos numa maneira mais relaxada, mais genuína e autêntica de se vestir. A individualidade passou a ser mais valorizada. Desta tendência, destaquese o facto de quase nada ser proibido, tudo pode ser misturado e conjugado. O truque é brincar com as texturas, volumes, misturar o velho e o novo, sem exageros, claro, e nunca esquecendo o que realmente nos favorece! Se é fã deste estilo não será difícil adequarse às tendências. Destaco, primeiro, o tecido chave: a camurça, que apesar de ser mais comum no camel e castanho(a opção mais segura e intemporal), existe já em outros tons. O veludo aparece também em grande destaque. Para completar o look existem várias peças a ter em conta como: franjas, sejam em bolsas, saias, casacos, camisas, estampados, principalmente de flores, crochet, calças flare (antes denominadas como boca de sino), são ótimas para alongar a silhueta e conjugar com uma parte de cima mais justa ou até um body, muito em voga também, jeans simples (em peças descomplicadas e lavagens clássicas), vestidos longos, saias, tanto curtas como longas, estilo militar, patchwork, etc. Lembrese que sequiser ousar dos estampados e das tonalidades, conjugueos sempre com os seus básicos intemporais, dará um toque pessoal aos looks. O importante? Definir o estilo, ser criativa e revelar atitude! a foto ©Laura Capontes Laura Capontes [email protected] 12 | açúcar | SÁB 14 NOV 2015 na rua graffiti as confiss Ricardo Canessa licenciou-se em Engenharia Informática, mas é no grafiti que encontra a sua forma de expressão mais autêntica. Em criança, já era apaixonado pelo desenho, porém, só mais tarde os traços viriam a soltarse das folhas dos cadernos. Fez da cave da própria casa um laboratório, queria preparar-se antes de trazer a sua arte para a rua Susana de Figueiredo [email protected] é filho de mãe madeirense e pai lisboeta. Nasceu em Lisboa, e foi na capital que viveu até aos 10 anos, altura em que, com a mãe, se muda para a Madeira. Nessa idade, ainda não tinha ouvido falar de graffiti, mas a paixão pela arte já se insi- nuava nas linhas que, com uma disciplina quotidiana, e um rigor quase adulto, ia atirando ao papel. “Quando vim para a Madeira, não me adaptei facilmente, o ensino na escola era completamente diferente daquele a que estava habituado, foi difícil fazer amigos, e, então, refugiei-me muito no desenho.” O gosto foi crescendo e ganhando cada vez mais expressão nas páginas dos cadernos que ia colecionando, mas que não mostrava a ninguém. Eram uma espécie de diários secretos. Começou pelo desenho abstrato, o exercício era espontâneo, desprovido de qualquer racionalismo ou preocupação estética, resultando apenas da “necessidade diária de desenhar”. Com o tempo, foi aperfeiçoando a técnica e aguçando o gosto, mas a arte ainda estava longe de assumir um grande plano na vida de Ricardo Canessa.Terminado o Ensino Secundário, ingressa no curso de Engenharia Informática, na universidade do Algarve. “Gostava de computadores e como não encarava a arte como profissão, o curso pareceu-me uma boa opção. E até foi.” Acabou por concluir a licenciatura na Universidade da Madeira e, pouco tempo depois, decide abrir uma empresa de publicidade. É, em parte, o contacto com as artes gráficas e o design, a par da paixão primeira pelo desenho, que desperta em Ricardo o interesse pelo graffiti. E, por outro lado, a ideia de fazer graffitis na Madeira, um terreno praticamente virgem no que toca à arte urbana, SÁB 14 NOV 2015 | açúcar | 13 “Os meus amigos gozaram comigo quando disse que ia ser graffiter” ões possíveis aos muros da cidade “risquei a minha cave toda. pintava e repintava vezes sem conta” representa para Ricardo um desafio. “Quando disse aos meus amigos que ia dedicar-me ao graffiti, eles gozaram comigo, disseram-me que estava doido.” (risos). A reação deu-lhe ainda mais força para seguir em frente. Regressou à Universidade da Madeira para estudar arte e multimédia, fez da cave da sua casa um laboratório, uma espécie de redoma artística para os ensaios de graffiti. Queria estar devidamente preparado, antes de trazer à rua as suas obras. Os ‘testes’ correram bem, as paredes da cave foram “pintadas e repintadas vezes sem conta”. No princípio, predominavam os traços abstratos dos primeiros desenhos, mas, aos poucos, Ricardo foi descobrindo uma linha mais realista. Voltou-se para os rostos, assumindo uma predileção pelas fisionomias mais complexas. Viciou-se no pormenor, na exigência do realismo. Estava, finalmente, pronto, para se mostrar nas ruas, mas impunha-se, agora, outro desafio: onde? Ao con- trário de outras cidades europeias, como Lisboa, que é, inclusivamente, a capital da Europa com mais trabalhos de graffiti legal, o Funchal não tem qualquer cultura nesta corrente artística. E a verdade é que o preconceito inerente ao graffiti também não joga a favor da emancipação destes artistas. Ainda muito associado aos atos de vandalismo e marginalidade que ditaram as suas formas mais primitivas, este movimento urbano tende a ser olhado com alguma desconfiança. No entanto, Ricardo Canessa desmistifica e afirma que o graffiti nada tem a ver com violência ou provocação negativa, bem pelo contrário. “ Vandalizar não faz parte da minha filosofia, o meu principal objetivo é conseguir espalhar pela cidade beleza, arte e mensagens positivas. Por todo o mundo, há peças de graffiti lindíssimas. Engana-se, redondamente, quem pensa que o graffiti é encher os muros de palavrões e obscenidades. Não é. Até porque, quem vai por aí, nunca será levado a sério neste meio.” Na Madeira, as ‘telas’ de cimento são escassas, ou melhor, “proibidas”. Ricardo é da opinião que os municípios deveriam definir zonas para ‘grafitar’, e dá até algumas ideias: “os túneis das vias rápidas são espaços tristes, cinzentos, tal como o parque de Água de Pena, por exemplo, que é uma excelente infraestrutura, mas igualmente cinzenta. Falta cor nesta cidade.” Apesar do discurso ser quase sempre otimista, por vezes sobressai-lhe nas palavras alguma mágoa. “Há muito preconceito na Madeira, tudo o que é diferente é visto com maus olhos… Não vou dizer que isto é o fim do mundo, mas anda lá per- to.” Felizmente, nem tudo é mau, e o artista reconhece que algumas mentalidades já se vão revelando mais “arejadas”. Sintoma disso são os convites que recebe para intervir em fachadas de bares, lojas e até instituições de caridade. “Há uns tempos, a instituição Vila Mar pediu-me para pintar parte do muro do campo de futebol, cerca de 4 metros, foi um trabalho que me deu um gozo muito particular, porque os miúdos envolveram-se imenso no processo, quiseram ajudar-me a pintar, e o entusiasmo foi tal que acabámos por colorir o muro todo. Às instituições de caridade só cobro o custo das tintas, o resto é comigo.” O espírito solidário é um traço marcado da cultura graffiti, não é por acaso que muitos graffiters trabalham em grupo, nem é por acaso que muitos trabalhos denunciam injustiças sociais. Exposta fora das galerias, este tipo de arte pública permite uma interpelação massificada, representando, para alguns, o expoente máximo da democratização da arte. Ricardo Canessa não é fundamentalista; apesar de defender uma maior abertura dos madeirenses ao graffiti, entende que este movimento não deve ser “invasivo”, ao ponto de colidir com a identidade da Região. “Não podemos colocar tudo no mesmo saco. Cada cidade tem as suas características próprias, a sua cultura, as expetativas dos turistas, etc., e eu sei perfeitamente que quem visita o Funchal não está à espera de encontrar muros pintados por todo o lado. O que eu digo é que o graffiti tem, ainda assim, um espaço interessante por preencher, porque o que existe atualmente é quase nada. a 14 | açúcar | SÁB 14 NOV 2015 mais açúcar Roulado de banana com mel de cana e uvas secas Octávio Freitas Executive Chef FourViews | Funchal [email protected] Ingredientes 200 g 300 g 70 g 50 ml 20 g q.b. 1 2 c.sopa Massa brick Banana Uvas secas Vinho Madeira Manteiga Hortelã Ovos Mel de cana Confeção Corte a banana aos cubinhos e envolva com uma colher de chá de sumo de limão. Numa caçarola adicione a manteiga, banana, uvas Secas e estufe em lume brando, finalize este processo aromatizando com o vinho madeira e o mel de cana. Após o preparado anterior estar frio, recheie a massa brick dando-lhe a forma de roulado. Pincele o roulado com ovo e leve ao forno a 180 Cº durante 15 minutos. Depois de frio, emprate, cortando em fatias, e decore com açúcar refinado e folhas de hortelã. Dica mergulhe as bananas primeiro em sumo de laranja ou de limão, para evitar que fiquem escuras. a 2 Porções Duração: 35 Minutos Dificuldade: Média Diamantes de matcha Joana Gonçalves Chef pasteleira Eleven | Lisboa [email protected] O Clássico um porto seguro! O Clássico é um daqueles restaurantes que serve de porto seguro para ir almoçar ou jantar. Porque tem uma sala fantástica? Certamente essa não é a principal razão, a sala é, a meu ver, o ponto mais fraco deste local. Demasiado grande e sem ambiente. A esplanada? Sim, em dias de bom tempo a esplanada sobre a falésia, com o oceano ao fundo é, sem dúvida, um argumento a favor. O serviço? Também, o serviço é muito acima da média dos restaurantes madeirenses, começando no Sr. Eleutério, chefe de Sala, e passando pela restante equipa. Aqui chegados, já identifiquei dois Bater a manteiga com o açúcar. Adicionar a farinha e matcha. Formar rolos com a massa e panar em açúcar demerara. refrigerar por uma hora. Cortar 200gr manteiga 100gr açúcar em pó 250gr farinha 20gr matcha Açúcar demerara a António Janela pontos a favor, mas o mais importante é.... Acertou, é a cozinha, e, neste particular, a cozinha do Clássico, apesar de não ser nem criativa ou inventiva, nem é essa a sua “praia”, é muito segura. O Chefe Manuel comanda uma equipa que apresenta uma cozinha de cariz tradicional, boas matérias-primas e, mais do que isso, a comida nesta cozinha é verdadeiramente cozinhada, com tempo e condimento. Seja o peixe do dia, o polvo ou os vários arrozes, o que vem para o prato é legítimo, sabe exactamente ao que é. Aqui não há lugar a invenções. É por isto que o Clássico é um porto seguro. a SÁB 14 NOV 2015 | açúcar | 15 boca doce Valentina Jesus (animadora de rádio na Antena 3 ) 1 [email protected] Três características da sua personalidade que melhor o definem? Persistente, genuína e justa. 14 2 A crítica mais construtiva que já lhe fizeram? E a mais injusta? Não sejas tão impaciente e cabeça no ar. A mais absurda, não fales tanto. 3 A decisão mais importante que teve de tomar? Trocar a efetividade por um contrato de 6 meses. 4 A sua dúvida mais persistente? Serei boa e criativa o suficiente para poder continuar a fazer parte deste mundo da comunicação?! 5 Um arrependimento? Só do que não fiz… Soa a cliché, mas tudo o que passei faz de mim aquilo que sou. 11 Quem são os seus heróis na vida real? Os meus pais. 6 Um ato de coragem? A minha vida diária. Tento sempre fazer coisas que à partida podem assustar-me. 7 Uma atitude imperdoável? Todas as que envolvam falta de espinha dorsal 8 A companhia ideal para uma conversa metafísica? Qualquer pessoa que, como eu, seja apaixonada pelo ser humano e tudo o que ele envolve. Que não se importe de passar horas a observar pessoas (é a minha ‘pancada’). Mas tendo essa possibilidade, o Woody Allen. 12 9 Qual é a sua maior extravagância? Música e literatura em formato físico. Numa altura em que as tecnologias tomaram conta do mundo, é uma extravagância têlos espalhados pela casa. Nada bate o toque. 10 Uma doce memória da infância? As brincadeiras com a avó Maria, o bebé chorão e o pudim boca doce! O que distingue um madeirense de um continental Resumidamente, o estar sempre em festa. Onde está um madeirense está um festeiro. 13 Que opinião tem dos madeirenses que escondem o sotaque? Vejo com bons olhos. Não vejo nisso uma forma de esconder as raízes, ou falta de orgulho. Muitas vezes, a aldeia global em que vivemos levanos a fazêlo. Que expressão madeirense usa com mais frequência? Uah mãe c’os nervos. 15 A quem gostaria de pagar uma poncha? A minha primeira opção seria pagar uma poncha ao Gabriel Garcia Marquez… Infelizmente, não sendo já possível, Keith Richards. 16 5 segredos da ilha? LOCAL o meu rincão florido, São Jorge do mar à montanha. HOTEL Estalagem da Ponta do Sol RESTAURANTE Taberna Madeira. Doses perfeitas. LOJA Armazéns do Mercado, ao sábado de manhã. ATIVIDADE AO AR LIVRE Fácil... Bodyboard!