Declaração do presidente da Câmara Municipal de Loures – Bernardino Soares CONFERÊNCIA DE IMPRENSA “UM MÊS DE MANDATO” – 22/11/2013 Cumpre-se hoje o primeiro mês do mandato autárquico para que fomos eleitos. Fazemos por isso um balanço deste mês, do que encontrámos neste Município, do que tivemos de fazer e do que ainda vamos ter de pôr em prática. A situação que encontrámos nesta autarquia ultrapassou mesmo as expetativas mais negativas que tínhamos, seja em degradação financeira, seja em degradação da estrutura municipal. No plano financeiro, encontrámos um elevadíssimo nível de compromissos assumidos e não pagos, de mais de duas dezenas de milhões de euros, a que se vão acrescentando, a um ritmo quase diário, despesas assumidas mas que não cumpriram os procedimentos legais de aprovação no Município e que, que só em obras já feitas, ultrapassam um milhão de euros. Ao mesmo tempo, temos situações como a da urbanização da Meia Laranja, em que o Município acionou a garantia bancária do construtor para fazer face a obras que não tinham sido concluídas por ele, e depois gastou o dinheiro e não fez as obras, que agora teremos de fazer com recurso ao orçamento municipal. Por outro lado, é hoje uma incógnita qual será o montante em que a Câmara pode ser condenada nos numerosos processos judiciais em que é demandada, sendo certo que os valores em causa são, em muitos casos, muito elevados. Encontrámos dívidas ao movimento associativo do Concelho de mais de 200 mil euros, a acrescer à diminuição dos apoios nos últimos anos para associações, coletividades, bombeiros, movimento associativo de pais e escolas. Em relação aos protocolos com as freguesias, o mês de outubro não tinha sido pago quando tomámos posse. Encontrámos um empréstimo de curto prazo de 6 milhões de euros, para pagar ainda este ano e sem perspetiva de pagamento, o que nos obriga a atrasar outros compromissos para fazer face a este enorme montante sem comprometer ainda mais a gestão financeira da Câmara nos anos seguintes. E tudo isto ao mesmo tempo em que as receitas da Câmara diminuem, desde logo devido à ofensiva do Governo contra o Poder Local Democrático, que significará, a ser aprovado o Orçamento do Estado para 2014, uma nova redução na participação do Município nas receitas do Estado de mais de meio milhão de euros, que somada aos anos anteriores significa que o Município de Loures perderá, desde 2010, 3,5 milhões de euros, ou seja 15% das receitas vindas do Estado. Em simultâneo verifica-se uma diminuição da receitas próprias em resultado da crise económica, mas também pelo facto de a cobrança das verbas devidas ao Município ser bastante ineficiente. Mesmo no IMI, estima-se uma diminuição de cerca de meio milhão de euros em relação a 2012, com uma receita real que fica 4,5 milhões de euros abaixo da prevista pelo anterior Executivo. Esta situação aconselharia, aliás, numa perspetiva estritamente financeira, o aumento das taxas, mas sabemos que isso dificultaria ainda mais a vida de muitas pessoas que vivem neste Concelho. Foi por isso que, impedindo a situação financeira a sua diminuição, decidimos não propor o aumento do IMI, procurando ainda assim garantir o mínimo para o funcionamento do Município e dos indispensáveis serviços que presta à população. Esperamos criar condições para poder propor uma diminuição da taxa do IMI, mesmo que moderada, no orçamento seguinte. Encontrámos um Município a que faltam, em muitos setores, condições mínimas de funcionamento; em que não havia contratos de manutenção para os elevadores dos edifícios municipais; para os sistemas de bombagem essenciais em caso de chuva forte ou cheia; para os semáforos; ou para as grandes reparações dos parques infantis; em que não havia materiais de construção ou de intervenção na via pública; “stock” de sinais de trânsito; material de escritório ou outras coisas essenciais. Um Município em que as pavimentadoras da Câmara não funcionavam há muitos meses ou até anos, num dos casos por falta de pneus; em que se verifica uma degradação dos edifícios municipais, nos quais em muitos casos chove no interior; em que o crematório do Cemitério Municipal está parado há meses, com perda de importantes receitas para o Município e óbvios transtornos para a população; em que faltam fardamentos e instrumentos de trabalho essenciais para os trabalhadores. Encontrámos uma autarquia em que não havia diálogo, participação e envolvimento dos agentes locais; e em que não havia nenhuma perspetiva ou plano para o desenvolvimento da atividade económica. No caso do Turismo, Loures desistiu há vários anos de participar na Associação de Turismo de Lisboa. Não há sequer uma estratégia para aproveitar o novo quadro comunitário de apoio em que outras entidades estão já muito avançadas. E em que, sem que se encontre justificação, a Câmara de Loures abandonou um projeto de investimento na zona da várzea que a SIMTEJO se comprometia a financiar com 4,5 milhões de euros. No que respeita à educação, são milhares as refeições pagas que não são consumidas por ninguém. Na ação social, existem dezenas de milhares de euros de comparticipações financeiras a instituições, nomeadamente por obras que não estão cabimentadas. Uma autarquia em que muitos serviços não comunicavam entre si, com as inevitáveis ineficiências e duplicações e o desperdício associado; em que a Câmara tem um contrato de comunicações com uma rede e os SMAS têm contrato com outra; em que, tendo sido retirada uma parte do território ao Município (Parque das Nações), ninguém se lembrou de dizer à SIMTEJO que não deveríamos continuar a pagar a fatura referente a esse território. Mas, na Câmara de Loures, enquanto isto acontecia, foram gastos por ano centenas de milhares de euros em avenças inúteis, muitos milhares em viagens de que o Município não retirou qualquer proveito visível, e onde houve muitos outros gastos desnecessários, incluindo por exemplo seis (6) carros ao serviço da presidência da Câmara. Neste mês de trabalho já tomámos várias medidas essenciais. Elegemos de imediato o novo Conselho de Administração dos SMAS e mais recentemente da GesLoures. Respondemos às emergências que existiam na Câmara e nos Serviços Municipalizados, como a adjudicação de contratos para a manutenção de viaturas e limpeza das instalações dos SMAS ou o fornecimento de géneros alimentares para o refeitório, entre outros. Fizemos um plenário com os trabalhadores municipais, retomando a prática do seu envolvimento na gestão do Município. Fizemos uma reunião com todos os dirigentes municipais, para começar a inverter a situação de descoordenação em que encontrámos os serviços, criar ligações e sinergias, dando a conhecer as orientações da nova administração. Será uma prática regular. Garantimos o pagamento aos bombeiros e às freguesias em primeiro lugar, estando a fazer todos os esforços para responder a todas as questões em que estejam em risco situações de rutura para o Município ou para outras entidades, como os parceiros das Atividades de Enriquecimento Curricular. Estamos a fazer o recenseamento dos compromissos assumidos e das responsabilidades que cabem ao Município em cada processo e departamento. Retomámos o diálogo com a SIMTEJO, quer em relação à fatura a pagar, quer em relação às contrapartidas para o Município. Determinámos que os serviços de aprovisionamento da Câmara e dos SMAS devem concertar procedimentos, para realizar em conjunto concursos de interesse comum, de onde possam resultar poupanças para o Município. Estamos, aliás, a começar a prepara a renovação de importantes contratos a pôr a concurso, procurando acautelar devidamente os interesses do Município, o que em muitos casos não aconteceu nos contratos em vigor. Estamos a pagar o empréstimo de curto prazo. Lançámos a auditoria à gestão e à situação financeira do Município, a decorrer até Fevereiro de 2014, num processo que aproveita os recursos internos de qualidade de que a Câmara dispõe, garantindo a participação e a certificação das conclusões pelo Revisor Oficial de Contas. Determinámos a avaliação das avenças e da prestação de serviços, cuja análise está em curso. Esperamos ter resultados a curto prazo, que certamente se traduzirão em poupanças para o Município e em melhorias para a gestão dos serviços, aproveitando os recursos internos. Fizemos já reuniões com os moradores e outras entidades de novas urbanizações em que se verificaram incumprimentos dos construtores, perante a passividade e o abandono do Executivo anterior, como nos casos dos Terraços da Ponte, do Cristo-Rei e do Casal do Monte. Estamos a trabalhar na redução dos gastos com viaturas, designadamente ligeiras, resultante desde logo da drástica redução dos carros atribuídos aos gabinetes da presidência e dos vereadores. Escrevemos ao Ministério da Educação (DGESTE) exigindo o pagamento de verbas que se encontram em atraso desde 2011, perante a inércia da autarquia. Escrevemos ao ministro da Saúde e ao ministro da Administração Interna, para que possamos debater as necessidades de reforço dos serviços que tutelam no nosso Concelho. Procedemos à lavagem dos contentores do lixo, que tinha deixado de ser efetuado. Sabemos bem o que vamos ter de fazer. Estamos a construir um orçamento para 2014 fortemente condicionado pela situação, encargos e compromissos atrasados, a que se acrescentam outros fatores, como a situação económica que se agrava, ou o início do pagamento da dívida atrasada à SIMTEJO, que convenientemente o anterior executivo foi adiando e que começará a ser paga em Janeiro de 2014, num total anual de quase 3 milhões de euros. Teremos de adotar inevitáveis medidas de redução da despesa, mas procuraremos que estas não ponham em causa o essencial do funcionamento do Município e permitam lançar as bases para um relançamento da atividade municipal em prol das populações. Nelas se inclui o combate ao desperdício, seja ele em viagens, em carros desnecessários, em avenças ou em muitas pequenas coisas que, todas juntas, somam muito e que, também por razões simbólicas e de justiça, devem ser corrigidas. Os eleitos adotaram – e continuarão a adotar – uma postura de grande contenção no uso dos meios do Município, de que temos dado muitos e variados exemplos. Vamos lançar uma discussão com as freguesias, antecedida de trabalho interno dos serviços da Câmara, com vista à revisão dos protocolos de delegação de competências, desde logo imposta pela alteração do quadro legal nesta matéria. Vamos preparar a revisão da política fiscal e de taxas do Município, com vista à elaboração de um novo regulamento de taxas e às decisões a tomar em orçamentos futuros. Vamos trabalhar para aumentar a capacidade de intervenção do Município, gerando poupanças e garantindo a melhor qualidade do serviço prestado. Vamos alargar o prazo de discussão pública da revisão do PDM – que decorreu em boa parte no período de campanha eleitoral – e sobretudo vamos suscitar e organizar a discussão com as populações (depois de já o termos feito com os serviços municipais, o que não tinha acontecido antes), com reuniões nas freguesias e outros mecanismos que permitam que exista um conhecimento e discussão efetiva e não um mero cumprimento de uma formalidade. O mesmo se pode dizer em relação ao plano de pormenor do Correio-Mor, importante projeto para a cidade de Loures e para o Concelho, que deve por isso ser conhecido e debatido pela população e pelos agentes locais. Estamos a arrumar a casa. O processo vai ser demorado e difícil, mas é este o caminho que pode devolver a autarquia aos munícipes, voltando a desempenhar em pleno as suas atribuições. Usaremos de máxima transparência na gestão municipal, seja para dar a conhecer os problemas existentes, seja para justificar as medidas tomadas. Estamos certos que, com o empenho dos trabalhadores e a participação da população, o Município de Loures conseguirá voltar a ser uma referência de boa gestão e de apoio aos habitantes deste Concelho.