O ARCO CAPAZ VIA NÚMEROS COMPLEXOS Funções Analı́ticas I MATEMÁTICA — DCET — UESC Humberto José Bortolossi http://www.arbelos.hpg.com.br/ 1 Introdução Vamos demonstrar que o conjunto de pontos que satisfazem a equação z−a = θ, arg z−b onde a e b são números complexos e θ é um ângulo (todos fixos), é o arco capaz de ângulo θ sobre o segmento de reta com extremidades a e b, isto é, o lugar geométrico dos pontos z ∈ C tal que o ângulo azb é constante e igual a θ (figura (1)). z µ µ µ µ a b Figura 1: O arco capaz de ângulo θ sobre o segmento de reta com extremidades a e b. 2 Geometria euclidiana O texto que se segue foi extraı́do do livro “Geometria Euclidiana Plana” de João Lucas Marques Barbosa, publicado na Coleção do Professor de Matemática da Sociedade Brasileira de Matemática. 1 Um ângulo se denomina inscrito em uma circunferência se seu vértice A é um ponto da circunferência e seus lados cortam a circunferência em pontos B e C distintos do ponto A. Os pontos B e C determinam dois arcos. O arco que não contiver o ponto A é chamado de arco correspondente ao ângulo inscrito dado. Diremos também que o ângulo subtende o arco (figura (2)). A O C B Figura 2: Um ângulo inscrito em uma circunferência. Teorema 1 Todo ângulo inscrito em uma circunferência tem a metade da medida do arco correspondente. Demonstração: Consideremos primeiro o caso em que um dos lados do ângulo inscrito é um diâmetro. Seja A o vértice do ângulo inscrito e B e C os pontos em que seus lados cortam a circunferência. Neste caso, a medida do arco correspondente ao ângulo inscrito é a medida do ângulo B OC. Como BO = AO, então o triângulo OAB é isósceles e, portanto, OAB = OBA. Mas, então, = OAB + OBA = 2 C AB. B OC Portanto, neste caso particular, o teorema é verdadeiro. Suponhamos agora que nenhum dos lados do ângulo inscrito é um diâmetro. Tracemos então o diâmetro que passa pelo vértice A do ângulo inscrito. Seja D a outra extremidade deste diâmetro. Pelo primeiro caso, concluire = 2 B AD e que DOC = 2 DAC. mos que B OD 2 A A C B B A O C B O O C D D Figura 3: Os três casos do teorema 1. Neste ponto, temos de distinguir dois casos: (a) o diâmetro AD divide e (b) o diâmetro AD não divide o ângulo B AC (veja a o ângulo B AC + DAC = B AC. A demonsfigura (3)). No caso (a), temos que B AD tração é então completada somando-se as igualdades já encontradas: + DOC = 2 (B AD + DAC) = 2 B AC. B OD é exatamente a medida do arco correspondente Observe que B OD+D OC No caso (b), podem ainda advir duas situações distintas: ao ângulo B AC. e (ii) AB divide o ângulo C AD. Faremos o (i) AC divide o ângulo B AD = B AD − C AD. caso (i). Neste caso, B AC Então, utilizando as duas igualdade obtidas inicialmente, tem-se − C OD = 2 (B AD − C AD) = 2 B AC. B OD − C OD é exatamente a medida do arco corresAgora, observe que B OD pondente ao ângulo B AC. Corolário 1 Todos os ângulos inscritos que subtendem um mesmo arco têm a mesma medida. Em particular, todos os ângulos que subtendem uma semicircunferência são retos. Sendo assim, dados dois pontos A e B sobre uma circunferência, para todo = θ é constante. Este arco ponto A sobre um dos arcos, o ângulo B AC chama-se arco capaz do ângulo θ sobre o segmento BC. Um observador, portanto, que se mova sobre este arco, consegue ver o segmento BC sempre sob o mesmo ângulo. Naturalmente que se um ponto P pertence ao outro arco, o ângulo B PC é também constante e igual a 180◦ − θ. 3 3 Régua e compasso O texto que se segue foi extraı́do do livro “Construções Geométricas” de Eduardo Wagner, publicado na Coleção do Professor de Matemática da Sociedade Brasileira de Matemática. O B µ M C X Figura 4: A construção do arco capaz com régua e compasso. Para construir o arco capaz procedemos da seguinte forma. Dado o seg = θ mento BC (figura (4)), traçamos a sua mediatriz e o ângulo C BX (dado). A perpendicular a BX traçada por B encontra a mediatriz de BC em O, centro do arco capaz. O arco de centro O e extremidades B e C situado no semi-plano oposto a X (semi-planos relativos a BC) é o arco capaz do ângulo θ sobre BC. Para justificar a construção, observe que se M é o = θ, então teremos M BO = 90◦ − θ, ponto médio de BC e se C BX = θ e B OC = 2 θ. Portanto, como a medida do ângulo inscrito é a B OM metade da medida do ângulo central correspondente, teremos para qualquer ponto do arco construı́do, B PC = θ. 4 4 Usando números complexos Para demonstrar que o conjunto de pontos que satisfazem a equação z−a =θ arg z−b é o arco capaz de ângulo θ sobre o segmento de reta com extremidades a e b, basta observar que z1 θ = arg z2 é o ângulo entre z1 e z2 e considerar a figura (5). Im z {a a z {b z µ z {a z {b µ b 0 Re Figura 5: O conjunto de pontos que satisfazem arg((z − a)/(z − b)) = θ é o arco capaz de ângulo θ sobre o segmento de reta com extremidades a e b. Texto composto em LATEX2e, HJB, 30/04/2003. 5