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DOMINGO, 24 DE ABRIL DE 2011
TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular
o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo
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PAINEL DO LEITOR
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Transição para uma economia verde
Arapongas
ACHIM STEINER
A transição para uma economia
verde, de baixo carbono e uso eficiente dos recursos naturais, virou
uma prioridade central dos esforços internacionais em busca do desenvolvimento sustentável, em um
século 21 em processo de transformação acelerada.
Governos vão se reunir novamente no próximo ano, no Brasil,
20 anos após a Cúpula da Terra do
Rio-1992, em meio a uma paisagem
de desafios persistentes e emergentes e contra o pano de fundo de crises recentes e atuais, que em parte
são desencadeadas pela maneira
como administramos os recursos
naturais finitos, ou, melhor, como
deixamos de administrá-los.
Uma economia verde, no contexto do desenvolvimento sustentável
e da erradicação da pobreza, é um
dos dois temas centrais da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável-2012, a
chamada Rio+20.
O engajamento do Brasil será
crucial para moldar a ambição internacional para a Rio+20, ao mesmo tempo em que destacará a experiência do próprio país, desde sua
economia à base de etanol até a
gestão aprimorada dos patrimônios baseados na natureza, incluindo a Amazônia.
O Pnuma (Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente) afirma que uma economia verde é do
interesse de todos os países —os ricos e os menos ricos, os desenvolvidos e os que estão em desenvolvimento, os de economia estatal ou
de mercado. Recentemente, o Pnuma lançou “Uma Transição para
uma Economia Verde”, e fui solicitado a compartilhar as conclusões
do relatório em um encontro extraordinário das comissões ambientais do Senado e da Câmara do
Brasil em 26 de abril.
O relatório sugere que o investimento de 2% do PIB global por ano
—ou seja, cerca de US$ 1,3 trilhão—
em dez setores-chave poderia deslanchar uma transição econômica
verde, desde que o investimento
fosse apoiado por políticas e medidas públicas inteligentes. O financiamento poderia vir em parte do
término gradual de subsídios “prejudiciais”, algo perto de US$ 1 trilhão, cobrindo desde combustíveis
fósseis até fertilizantes e pesca.
O estudo sobre a economia verde
destaca países em que já há transições em curso, como a República
da Coreia e Uganda.
Em 2011, a capacidade instalada
de fotovoltaicos provavelmente será de 50 GW —o equivalente a 50
reatores nucleares—, em países que
Manzano
Fiquei estarrecido ao ler na
Folha a reportagem “Arapongas
militares temiam golpe da igreja
contra regime” (Poder, 22/4), a
respeito de certo relatório de
“arapongas” do serviço secreto
sobre supostos planos e atividades da Igreja Católica em São Paulo, no início dos anos 80. Os planos seriam para “a derrubada do
governo” e até um “confronto armado para criar um Estado religioso independente do Vaticano”.
Minha perplexidade só aumentou ao ler sobre descrição de táticas que seriam usadas para alcançar tais objetivos. Podem existir
informações mais absurdas e ridículas do que essas?!
Elas mostram um total desconhecimento da história, da vida e
das atividades da Igreja Católica.
Se não foi por má-fé, para atingir
quem denunciava torturas contra
presos políticos, defendia os direitos humanos e se empenhava
pela redemocratização do país,
considero tais iniciativas, mesmo
assim, ofensivas à Igreja Católica
em São Paulo.
Fico indignado ao saber da existência de tais relatórios!
DOM ODILO PEDRO SCHERER, arcebispo de São
Paulo (São Paulo, SP)
Produto maquiado
A Rio+20 poderá marcar um
ponto de virada nos assuntos
globais, um momento em que
a estabilidade ambiental seja
transformada em realidade
vão de Bangladesh e Marrocos a
Alemanha e Emirados Árabes.
Haverá desafios —é possível que
empregos sejam perdidos inicialmente no setor da pesca, para que
os estoques de pescado superexplorados possam ser restaurados.
Mas, de modo global, uma economia verde gera mais empregos do
que os que são perdidos nos velhos
setores “marrons”.
A conferência Rio+20 representa
uma oportunidade de intensificar e
de acelerar esses “brotos verdes”.
Alguns países estão preocupados com tarifas verdes ou barreiras
comerciais. Esses são riscos que
precisam ser enfrentados, mas que
também são inerentes aos modelos
econômicos existentes em um
mundo em que os países competem
em um mercado global.
Vivemos em uma época de desafios múltiplos —muitos dos quais a
ciência vem confirmando que são
ainda mais palpáveis, reais e urgentes do que eram em 1992, incluindo as mudanças climáticas, a
perda da biodiversidade e a degradação dos solos. Mas também vivemos em um mundo de oportunidades inéditas para uma mudança
fundamental em relação aos caminhos econômicos, sociais e ambientais do passado.
A Rio+20 poderá ser apenas uma
data a mais no calendário. Mas
também poderá marcar um ponto
de virada nos assuntos globais, um
momento em que a promessa de
emprego, igualdade e estabilidade
ambiental feita 20 anos antes seja
transformada de ideal em realidade
para cerca de 7 bilhões de pessoas.
Tradução de CLARA ALLAIN .
ACHIM STEINER é subsecretário-geral da ONU e
diretor-executivo do Pnuma (Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente).
Virada da prevenção
FERNANDO BEZERRA COELHO
O desafio foi lançado. É hora de
fortalecer em nosso país a cultura
da prevenção. Fatos recentes deixaram marcas duras. O maior desastre natural de nossa história foi registrado na região serrana do Rio de
Janeiro. No Japão, autoridades ainda lutam contra as sequelas de um
tsunami. Trata-se de um debate
global, que merece reflexão e, acima de tudo, uma ação imediata.
Precisamos trabalhar de forma
contínua para que desastres não se
repitam e, principalmente, para
que nunca mais se percam tantas
vidas. No Brasil, o objetivo é um só:
construir uma nova proposta de política para a defesa civil, como deseja a presidente Dilma Rousseff.
A virada já começou. Durante
três dias, cerca de 60 especialistas
de diversos países se reuniram em
Brasília para trocar experiências.
De México, Colômbia, Noruega,
Alemanha, Estados Unidos e Itália
vieram os mais diversos relatos de
ações que, na prática, salvaram vidas. Representantes de defesas civis estaduais mostraram que muito
já se faz e que muito pode ser feito.
A partir das discussões, do
aprendizado e dos entendimentos
firmados no seminário internacio-
A seção recebe mensagens por e-mail ([email protected]), fax (0/xx/11/3223-1644) e correio (al.
Barão de Limeira, 425, São Paulo, CEP 01202-900). A Folha se reserva o direito de publicar trechos.
A reestruturação do Sistema
Nacional de Defesa Civil
passa por uma quebra de
paradigmas, que exige uma
mudança de cultura no país
nal de defesa civil, vamos encontrar nova maneira de trabalhar.
Há duas linhas de ação a seguir.
De um lado, o investimento maciço
em educação. A sociedade deve ter
claramente o conhecimento sobre
percepção de risco. Ao mesmo tempo, precisa estar preparada para lidar com situações adversas, entendendo seus direitos e suas obrigações. Do outro lado, são necessárias obras estruturantes.
Em parceria com todos os entes
federativos, União, Estados e municípios, devemos colocar o selo da
prevenção. Uma garantia de que as
obras irão eliminar ou mitigar os
riscos e, principalmente, cumprir
seu maior objetivo: proteger e poupar vidas. Em paralelo, são precisos
investimentos na capacitação dos
agentes de defesa civil.
Proporcionar apoio e estrutura
para que estes atuem na preparação das comunidades vulneráveis,
com ações de conscientização, treinamentos e simulados. Desde janeiro, o Ministério da Integração
Nacional tem visitado os municípios mais atingidos pelas chuvas.
Foram repassados ou empenhados
mais de R$ 500 milhões para o enfrentamento de desastres.
Estamos trabalhando para tornar ainda mais ágil tal processo. Em
parceria com a Controladoria-Geral
da União, está sendo desenvolvido
o Cartão da Defesa Civil, visando
aumentar a transparência da execução dos recursos para ações de
socorro, assistência e reabilitação.
Sabemos que a reestruturação do
Sistema Nacional de Defesa Civil
passa pela melhoria de processos,
tecnologias, políticas públicas eficazes, mobilização das comunidades e investimentos. Mas passa, sobretudo, por uma quebra de paradigmas, que exige uma mudança
de cultura, em que todos devem se
sentir integrantes de uma ação
maior, que visa a construção de
uma sociedade mais justa, fraterna
e segura. Esse é o nosso desafio, o
nosso compromisso com o Brasil.
FERNANDO BEZERRA COELHO, 53, é ministro da
Integração Nacional.
Quero manifestar a minha satisfação ao ver na Primeira Página de 22/4 a reportagem “Maquiagem de produtos cresce com
a inflação”. Ao meu ver, isso é um
crime praticado por indústrias,
com a conivência/cumplicidade
de grandes redes de supermercados e principalmente autoridades
responsáveis pelo setor.
Há seis anos, enviei um e-mail
ao Cade questionando essa adulteração de conteúdo e nunca obtive resposta.
FRANCISCO CARLOS DE MORAES SALLES (Uberlândia, MG)
★
Durante o Plano Cruzado, com
os preços congelados, as indústrias se viram obrigadas a manter
o preço. Mas não tiveram dúvidas: se não puderam aumentar
os preços, diminuíram a quantidade do produto. Eu era cliente
dos biscoitos Tostines e do chocolate Diamante Negro, que abusaram desse expediente. Nunca
mais os coloquei na boca.
DANIEL AUGUSTO JR. (São Paulo, SP)
Véu
Ao assumir a defesa da lei
francesa, a senhora Luiza Nagib
Eluf (“Ninguém pode gostar da
burca e do niqab”, “Tendências/Debates”, ontem) utiliza como argumento a inadmissível
opressão da mulher. Contudo
deixa descerrar o véu que esconde os verdadeiros motivos da
conduta do governo Sarkozy,
que é a intolerância religiosa.
CESAR CORDARO (São Paulo, SP)
Sacola plástica
Importante o acordo entre o
governo de São Paulo e os supermercados pelo fim das sacolas
de plástico. Acredito, porém, que
a medida será inócua se não for
acompanhada por uma política
pública baseada nos “Rs” (reduzir, reutilizar e reciclar). É uma
vergonha uma cidade como São
Paulo não ter uma eficiente coleta seletiva de lixo. As sacolinhas
plásticas têm que acabar, mas
sem uma política mais ampla,
com a qual as próprias redes de
supermercado poderiam contribuir, fica parecendo mais medida para cortar custos.
ALEXANDRE BARBOSA PEREIRA (São Paulo, SP)
★
Gostaria de saber como faremos o descarte do lixo doméstico
após a proibição do uso das sacolas distribuídas nos estabelecimentos comerciais? Teremos
que comprá-las, mas o problema
vai permanecer e só as fábricas
vão enriquecer.
ANTONIO ROSA (Cabo Frio, RJ)
Justiça
Os artigos “Justiça parceira do
crime”, sobre o roubo de armas
sob a guarda da Justiça, e “O macaco está certo”, sobre decisões
questionáveis de vários juízes
fluminenses (ambos em Opinião, 22/4), exemplificam outros
problemas na execução da justiça
e nas varas de primeira instância.
No caso da execução, os problemas incluem cadeias nas quais
os presos mantêm centrais telefônicas e recebem benefícios que reduzem suas penas para até 1/6 da
pena original e benesses que os
colocam nas ruas, a cada feriado,
para voltar a cometer crimes.
No caso das decisões, os defensores públicos e os advogados dativos, sem condições adequadas
de trabalho e em número reduzido, servem como álibis para condenações injustas de pequenos
traficantes e ladrões de galinha.
Junte-se a tudo isso o fato de
que muitos juízes não cumprem
prazos determinados pela lei nem
estão submetidos a sistemas de
avaliação de sua produtividade e
da qualidade de suas decisões.
RENATO FABIANO MATHEUS (Belo Horizonte, MG)
Unicamp
Ao ler sobre a reavaliação que
a reitoria da USP está fazendo
em seu sistema de segurança
após a ocorrência de sequestrosrelâmpagos, percebo que a conduta na Unicamp é diferente.
Os dirigentes da universidade
tentam varrer as ocorrências para baixo do tapete, como a comunidade universitária tem visto.
São inúmeros os roubos de carros, assaltos a caixas eletrônicos
e sequestros-relâmpagos.
Não adianta os dirigentes falarem que vão implantar controle
por câmeras. Há mais de dois
anos se escuta terem gasto mais
de R$ 2 milhões com câmeras
que não funcionam. Será que a
Unicamp não tem gente capaz de
elaborar um plano eficaz?
ANDERSON APARECIDO (Hortolândia, SP)
Aécio
Pouco me interessa se o senador Aécio Neves deixou de fazer
o teste do bafômetro e estava
com a CNH vencida. Como todo
cidadão comum, ele teve a prerrogativa de não fazer o teste (ninguém é obrigado a produzir provas contra si) e teve a CNH retida. Agora, quero saber se os órgãos de trânsito desse país colocarão em prática a lei que obriga
todos os cidadãos com a CNH
vencida a mais de 30 dias a realizar todo o procedimento de uma
pessoa que está tirando a carteira pela primeira vez?
EDMIR DE MACHADO MOURA (Caçapava, SP)
Classes
Por falar em memória curta, o
leitor Eduardo Gdikian (“Painel
do Leitor”, ontem) deveria se
lembrar que, na história recente
do Brasil, nunca tivemos uma
carga tributária tão brutal como
a que nos foi imposta sob o
governo Lula. E quem pagou
essa conta não foram nem os
pobres, que não têm com o que
contribuir, nem os ricos e poderosos, “amigos do imperador”,
mas sim a classe média.
JOSÉ L. ROCHA BELDERRAIN (S. J. dos Campos, SP)
Fronteira
Em debates durante a campanha, a então candidata Dilma caminhava de um lado a outro do
palco diante das câmeras e, em
tom professoral, dava aulas de
segurança de fronteira.
Desenvolvia o tema falando de
aviões de vigilância não tripulados, de estratégias operacionais
da Polícia Federal etc. Hoje, passados cem dias de seu governo, a
triste realidade: cortes de R$ 1,5
bilhão no orçamento do Ministério da Justiça.
ANTONIO AUGUSTO DE CASTRO OLIVEIRA
(Osasco, SP)
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