editorial
A Associação Empresarial de Ponte de Lima têm o privilégio de apresentar a edição
de 2010, do anuário “O Anunciador das Feiras Novas” para mais uma vez anunciar, receber e celebrar as maiores e mais genuínas romarias populares do Alto Minho, a pérola
limiana – as Feiras Novas.
Ano após ano é editada esta publicação que tem acompanhado muitas gerações e
que pretende elevar as festas limianas, criando, mantendo e fortalecendo a união e as
relações entre os limianos e seus visitantes, fazendo das festas uma referência nacional,
gerando uma experiência única pelo facto das pessoas nelas participarem activamente.
Festas concelhias espelhadas numa publicação de cultura e tradição, colorida com os
contributos das empresas do concelho.
Aqui estamos, mais um ano... Mais uma oportunidade para iniciar projectos e dar continuidade a outros que vislumbramos como vitais para o nosso crescimento e para o contributo
no processo de desenvolvimento social e económico da região em que nos encontramos.
É neste sentido que a centenária Associação Empresarial de Ponte de Lima trabalha
e afirma a sua capacidade de intervenção institucional, de dinamização do movimento
associativo e de desenvolvimento de actividades que contribuem para o fortalecimento
da actividade económica e da envolvente sociocultural.
Nos lugares comuns mas familiares, onde nos encontramos ano após ano, que são as
raízes da nossa terra, as tradicionais e centenárias Feiras Novas são dias e noites de festa,
cor, alegria e ritmo que atraiam pessoas para a romaria, para a diversão e para o comércio
por terras limianas.
Este é sem dúvida um momento em que a nossa vila alto-minhota, banhada pelo rio
Lima, está em movimento!
Somos anualmente visitados por milhares de pessoas que procuram o carácter pitoresco da nossa vila, das nossas gentes, dos nossos produtos, mas este é sem dúvida um
momento de excelência. Momento de aposta clara e determinada nas empresas da região!
As mesmas empresas que ao longos dos tempos têm contribuído para a manutenção
da publicação que temos em mãos e das tradicionais festas – as Feiras Novas.
Desde a maior à mais pequena, todas as empresas contribuem para a continuidade e
sustentabilidade destas tradições que fazem parte da nossa história, que fazem parte do
nosso percurso.
Observar as partes para melhor compreender o todo e assim criar uma dinâmica integrada e mais eficaz, só se torna possível com o devoto contributo e a gratidão de alguns
intervenientes, autores e artistas, que nos presenteiam com a sua erudição e criatividade; colaboradores que se entregam na concretização deste anuário; e por último, mas
não menos importante, a homenagem e reverência ao consagrado apoio e contributo dos
empresários, pois sem eles isto não seria possível!
Bem hajam!
João Pimenta
Presidente da AEPL
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FICHA TÉCNICA
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
Publicação Anual de Informação, Cultura, Turismo e Artes Limianas
Registado no INPI – 316607
Fundado por Augusto de Castro e Sousa
Reeditado por Alberto do Vale Loureiro
Ano XXVII – II Série – N.º XXVII
Propriedade, Administração e Edição | Associação Empresarial de Ponte de Lima
(Instituição de Utilidade Pública).
COLABORAÇÃO
Textos João Pimenta, Victor Mendes, Franclim Castro Sousa, Amândio Sousa Dantas, Amândio de
Sousa Vieira, Alberto do Vale Loureiro, José Carlos Loureiro, António Manuel Couto Viana, Alberto
A. Abreu, José Velho Dantas, Adelino Tito de Morais, João Carlos Gonçalves, Maria Anabela Tito de
Morais, António Porto-Além, Sandra Baptista de Matos, Mário Leitão, Luís Dantas, Carlos Gomes,
Márcia Alves, José Lima, Francisca Martins, José Sousa Vieira, António Matos Reis, Rui Quintela,
José Ernesto Costa, Porfírio Pereira da Silva, Américo Carneiro, Cláudio Lima, Maria Brandão, João
Gonçalves da Costa, Gaspar Pacheco Maia, Ermelinda Mendes, Maria Helena Távora.
Coordenação Alberto do Vale Loureiro
Publicidade Carlos Araújo
Paginação Patrício Brito
Fotografia Amândio Vieira e colaboração dos Autores.
Capa Amândio Vieira. (Jovem da Rusga - Correlhã, no cortejo das Feiras Novas)
Impressão e Acabamento Gráfica Casa dos Rapazes – Viana do Castelo
Tiragem 1800 exemplares
ISSN 1647-0524
Depósito Legal 298211/09
Seja um colaborador mais activo deixando a sua opinião na internet em:
http://anunciadordasfeirasnovas.blogspot.com
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O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
a nossa festa maior
- as Feiras Novas
Neste primeiro ano de mandato autárquico, na qualidade de Presidente da Câmara Municipal, solicitam-me algumas palavras alusivas à nossa festa maior – as Feiras
Novas – para o periódico anual, contributo ímpar para a cultura das nossas gentes e
exemplo de perseverança e longevidade, “O Anunciador das Feiras Novas”, a quem
desde já aqui deixo o meu reconhecimento por tudo quanto tem realizado pela Maior
Romaria do País.
À primeira vista, pode parecer fácil falar das Feiras Novas. Porém, em oposição,
existe um sentimento de que tudo já foi dito, atendendo às descrições, aos livros
publicados, à poesia, às quadras soltas, às incontáveis reportagens trazidas a público
pelos mais diversos órgãos de comunicação social, às histórias e estórias contadas de
pais para filhos, às mais vivas memórias e recordações que nos levam a outros tempos
e que criam, em novos e menos jovens, uma certa ansiedade pela chegada daquele
fim-de-semana de Setembro que sempre marcou e marcará as nossas vidas – o fimde-semana das Feiras Novas.
Contudo, se escrever e descrever, no caso de querermos ser mais ambiciosos, se
torna difícil, pela falta de adjectivos abrangentes da grandiosidade do evento, viver as
Feiras Novas é uma obrigação.
E quando refiro a vivência, quero mencionar a espontaneidade de todos quantos
fazem parte da festa – a Comissão de Festas e colaboradores, modelo de dedicação a uma
causa; os moradores, pelo amor que devotam à maior manifestação da cultura popular
em Portugal; os visitantes e turistas, por sempre dizerem presente; as crianças, pelo seu
tão peculiar brilho nos olhos quando, boquiabertas, admiram e se divertem na festa…
Todos eles constituem o maior conjunto de estúrdios reunidos num pedaço de
Terra, nesta Ponte de Lima orgulho de gerações, pois, como diz o Povo, “em Ponte,
nas Feiras Novas, há sempre uma grande astúrdia!”.
Pelo que fica dito, permito-me uma mensagem de boas-vindas, abrindo de par em
par as portas desta secular localidade, para que não hesitem em fazer parte das Feiras
Novas – não vos queremos espectadores; desejamos que cada um de vós seja um actor
participativo e activo e que sinta o viver limiano e minhoto em todo o seu esplendor,
do romper da aurora até às altas horas da madrugada.
Aqui é proibido estar parado!
Dance, cante, vibre e encante nas Feiras Novas, a romaria por excelência, onde
todos somos semelhantes no viver da felicidade, pois, como disse Balzac, “a alegria só
pode brotar de entre as pessoas que se sentem iguais”.
Victor Mendes
Presidente da CMPL
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O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
PONTELIMENSE:
Contribue com o teu óbulo, na medida que puderes, para a realização das Festas Concelhias.
No máximo que te for possível não recuses. Se vives fora da terra, mostra que a tens presente com o
presente para as suas festas, que enviarás, por qualquer meio, à Comissão.
Não dizemos: sê bairrista! – porque o és.
Mas lembramos-te que, hoje em dia, só o é quem o prova. É-te agora dada oportunidade.
Cardeal Saraiva, 21 de Agosto de 1964
Começaram assim as Feiras Novas de 1964. Este apelo deixa perceber das dificuldades
que as Comissões de Festas enfrentavam para levar a cabo a sua realização. Ao tempo a
Câmara Municipal dava o apoio possível, pouco. As Festas eram realizadas de acordo com
a boa vontade do povo do concelho e do seu contributo pecuniário. É certo que a própria
Festa gerava alguma receita mas também muito pouco para se fazer frente aos custos.
Várias gerações de limianos tomaram a peito a realização das Feiras Novas, enfrentando as dificuldades e conseguindo superá-las.
Desde de 1826 que assim é. As Festas foram crescendo, misturadas com anos menos
bons porque o resultado do peditório não satisfazia os eventuais compromissos.
O apelo da Comissão de 1964 antevê um fraco contributo do povo do concelho no
ano anterior.
Estávamos em plena guerra colonial e o sentimento que se vivia era preocupante. A
emigração, especialmente para França, estava no auge. Os limianos abandonavam a sua
terra na procura de melhores dias.
Socialmente os ventos não eram favoráveis.
Estamos em 2010, os ventos não são socialmente favoráveis. A realidade porém é outra.
As condições para a Festa se realizar são mais acessíveis, os apoios dos empresários são significativos, a Câmara Municipal dá um importante apoio logístico, o povo do concelho de uma
forma ou de outra também dá um bom apoio, as freguesias responsabilizam-se pelos números
mais importantes, as associações estão bem vivas e também fazem parte deste grande e belo
empreendimento e a Comissão continua com o mesmo espírito de servir como em 1826.
São estes condimentos que fazem de Ponte de Lima um concelho feliz, onde há referências culturais que sustentam a identidade e cidadãos que trabalham pela sua propagação
e transmissão.
Esta felicidade em toda a sua expressão vive-se nas Feiras Novas. No rosto do artesão,
do agricultor, do fidalgo, do empresário, da criança, do jovem.
Esta felicidade sobrevoa os céus das Feiras Novas estatelando-se nas ruas, nos largos,
nas alamedas, assentando arraiais no tocador de concertina, no tangedor de gado, no portador do bombo ou da gaita e no mais comum dos cidadãos apanhado por esta rede de
tradições ancestrais.
Contribue com o teu óbulo de alegria!
Franclim Castro Sousa
Presidente da Comissão de Festas
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el rei e as feiras novas
Eu não qu’ria acreditar
Que el-rei vinha às feiras novas
Pôr barraca p’ra feirar;
Mas desde que vi as provas
Já não posso duvidar.
Mas… os ministros de Estado
Bem mostram cabeça fraca
Em no ter aconselhado
A pôr a real barraca
Ali na… feira do gado.
De cima da ponte olhei
P’ra o muro de S. João
Onde está o mastro e notei
Que grandes letras lá ‘stão
Marcando o lugar de el-rei.
Archeiros, municipal,
Muita festa e muito viva,
O hino nacional
Ao passar a comitiva…
– Vamos ter festa real!
Fica a gente abananada…
E então com que prazer
Eu hei-de, pela calada,
Chegar-me à tenda e dizer:
– Bote lá meia canada!
RISONHO
O Commercio do Lima, n.º 4, 13 de Setembro de 1906
(Extraído do livro Feiras Novas 1826-2006 de Amândio Vieira)
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QUADRAS AO GOSTO POPULAR
FEIRAS NOVAS
Abre a rapariga, a roda,
Entra o rapaz também,
Andamento & concertina;
E o povo num vai e vem.
Toda a cantiga se solta,
Ao leve passo na volta,
A hora brilha, saudosa,
No instante: a saia roda...
Canta o pobre, canta o rico,
Não se mede a condição,
Os olhos abrem de brilho,
Como se abre o coração.
Cada cantiga, uma oferenda:
A quem a quiser cantar;
O dia e a madrugada
Por todos sabe esperar...
Canta o pobre, canta o rico,
O fogo: ouro no ar
Os olhos abrem de brilho –
Assim se irmana o cantar.
Feiras Novas – quem o diz:
Assim novas, na lembrança;
Desde do alto à raiz –
Assim Diónísios dança!
Amândio Sousa Dantas, Ano 2010
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PONTE DE LIMA
Tel. 258 931 200
V.N. CERVEIRA
Tel. 251 792 500
V.N. CERVEIRA (PINGO DOCE)
Tel. 251 794 400
CAMINHA
Tel. 258 724 300
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MONUMENTO ÀS
FEIRAS NOVAS E AO FOLCLORE
As Feiras Novas – Festas do Concelho de Ponte
de Lima, a romaria por excelência, correm no sangue
das gentes há mais de 150 anos. Foi a 5 de Maio de
1826 que o Povo da Vila obteve autorização de D.
pedro IV para as realizar, em Setembro, ligadas ao
culto de Nossa Senhora das Dores: “constatando por
tudo que das ditas feiras resultava vantagens pela prontidão de comprar e vender os precisos para o uso doméstico... determinando... se faça feira de todos os géneros,
mercadorias e gados na sobredita Vila...”.
Associadas às Feiras Novas estiveram sempre as
mais variadas manisfestações etnográficas, pelo que
ponte de Lima pode honrar-se de ser o Berço do Folclore, pelo menos, desde 1892. Nesse ano, um rancho de Ponte de Lima exibia-se no Porto.
Comentava o jornal “O Phantasma”: “Eu vi-os
partir. Eles, rapazes alentados de viola ao ombro, contentes como cucos, e elas, guapas garridamente vestidas.
Iam ao Porto, representar uma espadelada, entre descantes da caninha verde e chula, mostrar no palco do
Príncipe Real”.
Por sua vez, um jornal daquela cidade acrescentava: “tiveram os portuenses ocasião de ver com os seus
próprios olhos o que é uma estúrdia no Minho. Lavradores e lavradeiras de puro-sangue. Música genuína da
aldeia; cantadores e cantadeiras de fina raça; danças e
cantares, tudo, enfim, que o Minho de melhor tem”.
Monumento da autoria do Artista Plástico Salvador Vieira, numa iniciativa conjunta do Município de Ponte de Lima, da Associação Concelhia
das Feiras Novas e da Associação de Folclore de Ponte de Lima.
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noite da música
Sexta-Feira 10
20.30h GRUPO DE FADOS DE COIMBRA CAPAS NEGRAS Jardim do Paço do Marquês
No cenário deslumbrante dos Jardins do Paço do Marquês esta apresentação, de aproximadamente uma hora, conta a história do fado e da Canção de Coimbra. É um espectáculo que recorda
os temas mais conhecidos de Coimbra. Muitos cantores são aqui evocados como Luiz Goes, José
Afonso, Edmundo Bettencourt e António Menano. A parte instrumental, recorda grandes guitarristas de Coimbra como Carlos e Artur Paredes, António Portugal e António Pinho Brojo. Vivam
a saudade de Coimbra com capas negras.
21.00h Entrada da “bandinha da alegria” Animação de Rua
Vai sendo tradição esta banda constituir um dos números mais animados da abertura das Festas.
Vieram, gostaram, animaram e é como diz o povo “pegaram estaca”. O resto é com eles, as ruas, os
largos vão continuar a viver um verdadeiro ambiente de festa com estes “contagiadores de alegria”.
22.00h bandas de música Concerto - Largo de Camões
Banda de Música da Casa do Povo de Moreira do Lima
Banda Musical de Rio Mau
As bandas da noitada. Estes concertos como marca das Feiras Novas, são um desafio a uma nova forma
de comunicação musical em que se cria uma profunda empatia entre os músicos e o público. Cada
execução é mais um tempero para uma noite de singular tradição.
22.00h CANTARES AO DESAFIO Alameda de S. João
Os cantares ao desafio, definidores duma tradição que mora no coração do Alto Minho, onde nasceram e criaram raízes famosos cantadores e cantadeiras. A senda continua, a tradição mantém-se e os
intérpretes andam por aí a semear a sua criatividade, a espalhar a sua brejeirice e a descobrir a careca
a uns tantos.
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Rusgas e concertinas
Sábado 11
00.30h TUNAS Largo de Camões
Estudantuna e Spestuna Universidade Fernando Pessoa
Tesa e Tunesa – Escola Superior Agrária
As tunas nunca faltam à chamada. Pela assiduidade com que estão presentes nas Feiras Novas, pela
forma como transitam de uma ano para outro, merecem estar no quadro de honra da Festa. O público
aprecia e os estudantes retribuem.
08.30h CONCURSO PECUÁRIO Expolima-Parque de S. João
Grupo de Música Popular da Feitosa
Estar na Expolima durante esta manhã, é assistir a um dos mais belos espectáculos das Feiras
Novas e um dos melhores de todas as festas de Portugal. É a força de um país a quem querem
arrancar as raízes. A ruralidade na sua mais viva expressão.
09.00h ZÉS PEREIRAS E GAITEIROS
Gigantones e Cabeçudos, Os Populares de Fornelos, Voluntários de Baião, Bombos de Santo André, Unidos da Paródia, Amigos da Borga, Bombos de Viariz e Grupo de Zés Pereiras e Cabeçudos
“Os Malinos”.
09.00h BANDAS DE MÚSICA Praça de Camões
Grupo de Cultura Musical de Ponte de Lima
Banda Marcial de Tarouquela
12.00h CONCENTRAÇÃO DOS ZÉS PEREIRAS Largo de Camões
15.00h CORRIDA DE GARRANOS Expolima-Parque de S. João
“Garranos do Minho, garranos da Galiza, garranos de Entre Minho e Galiza, os dos nossos montes
limianos e os das serras de entre Tui e Baiona; irmão de raça, netos de aqueles de quem Plínio
já discorria, únicos garranos da Europa, rústicos e valentes no seu andar travadinho, espécie de
andadura, marcha lateral e não de bípedes cruzados.” (Conde d’Aurora)
16.00h Cortejo Etnográfico
Anais, Arcos, Arcozelo, Ardegão, Bárrio, Beiral do Lima, Cabaços, Calvelo, Correlhã, Estorãos,
Feitosa, Fornelos, Freixo, Gaifar, Gondufe, Labruja, Navió, Poiares, Ponte de Lima, Queijada,
Rebordões de Santa Maria, Refoios, Ribeira, Santa Cruz, Serdedelo, Vilar do Monte e Vitorino
das Donas.
Mais uma vez as freguesias do concelho vão percorrer as ruas mostrando ancestrais usos e costumes. É o Alto Minho na sua genuinidade, como só Ponte de Lima consegue representar. Tratase de reviver vidas vividas, percursos plenos de naturalidade, tal como foram, tal como muitos
poucos ainda são. Uma forte ligação à feira de Ponte, a mais antiga de Portugal, ao campo, ao
pastoreio, ao artesanato. Um manancial com singelo odor a humanidade.
Noite das rusgas
22.00h Rusgas, Concertinas e Folclore
Nesta noite, os nossos olhos só vêem dia. O seu brilho a assistir ao esplendor do toque de concertina, ao entusiasmo dos grupos, às entradas furtivas de cantadores e cantadeiras do improviso,
fazem desta noite um verdadeiro hino às Feiras Novas e à cultura popular do norte de Portugal.
Ponte de Lima terá sempre esta vontade enorme de acolher a concertina como rainha da festa.
Os tocadores de todo o lado conhecem a importância deste palco, do amor à concertina que, com
jornadas como esta, conseguiu levantar-se das cinzas e conquistar o seu espaço e os jovens. O
encontro das Feiras Novas é uma homenagem permanente a esta grande paixão e a esta grande
alegria de ser português. É também uma contínua homenagem aos tocadores já desaparecidos,
nestas primeiras Feiras Novas com o Félix ausente, contudo ao nosso lado.
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fogo de artifício
Domingo 12
01.00h Fogo
08.00h SALVA DE MORTEIROS
08.30h ZÉS PEREIRAS E GAITEIROS Arruadas
Gigantones e Cabeçudos, Os Populares de Fornelos, Voluntários de Baião, Bombos de Santo André, Unidos da Paródia, Amigos da Borga, Bombos de Viariz e Grupo de Zés P’reiras e Cabeçudos
“Os Malinos”.
Grupo de Gaitas de Frouma de Piñor - Orense
Banda de Gaitas de “Charamuscas” - Bembrive - Vigo.
09.00h Bandas de Música Largo de Camões
Banda Filarmónica de Amares
Banda Filarmónica de Mamarrosa
12.00h CONCENTRAÇÃO DE ZÉS PEREIRAS Praça de Camões
16.00h CORTEJO “PONTE DE LIMA, TERRA COM IDENTIDADE”
Passar na grande festa, algumas figuras e instituições que fizeram da benemerência a sua atitude
nobre de vida, não é mais que expressar a gratidão de toda a comunidade, aos homens que tornaram Ponte de Lima mais rico e mais igual. Neste ano de combate à pobreza e à exclusão social
é muito oportuno e justo recordar aqueles que, em condições bem mais difíceis souberam dar de
si pelos outros. A Festa também vive deste espírito solidário, sendo ela própria uma expressão de
solidariedade e comunhão de sentimentos.
Noite do FOGO
19.00h FESTIVAL DE FOLCLORE Alameda de S. João
Rusga Típica da Correlhã
Grupo Danças e Cantares do Neiva (Sandiães)
Grupo das Espadeladeiras de Rebordões Souto
Rancho Folclórico das Lavradeiras de Gondufe
21.00h Alameda de S. João
Rancho Folclórico Santo Estevão da Boalhosa
Grupo Folclórico de S. Marta de Serdedelo
Rancho Folclórico de San Cyr França
Rancho Folclórico da Casa do Concelho P. Lima
Rancho das Lavradeiras de S. Martinho da Gandra
Rancho Folclórico da Ribeira
Rancho Folclórico da Casa do Povo de Poiares
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21.00h Campo do Arnado
Grupo Etno-Juvenil da Casa do Povo de Freixo
Rancho Folclórico da Correlhã
Grupo Etno-Folclórico de Refoios do Lima
Grupo Folclórico da Gemieira
Rancho Folclórico de Calheiros
Grupo Danças e Cantares de Ponte de Lima
Grupo Danças e Cantares de Vitorino de Piães.
21.30h GRUPO POPULAR “PILHA GALINHAS” Arruadas
Interpretam música popular portuguesa com humor à mistura. Movimento, música alegre e divertida, darão ainda mais alegria à festa.
orquestra
Segunda-feira 13
01.00h ESPECTACULAR SESSÃO DE FOGO DE ARTIFÍCIO
O grande fogo entre pontes para mais uma vez maravilhar toda a multidão. Num cenário fantástico tendo o Lima como regaço, os flamejantes foguetes enchem os céus de magia, como que
chamando os santos a assistir ao grandioso espectáculo.
08.00h SALVA DE MORTEIROS
09.00h BANDAS DE MÚSICA Largo de Camões
Banda de Música de S. Martinho da Gandra
Banda da Casa do Povo de Moreira do Lima
10.30h MISSA SOLENE Igreja Matriz
A celebração da Missa é o centro de toda a vida Cristã. Nela culmina toda a acção pela qual Deus
em Cristo, santifica o mundo, e todo o culto pelo qual ao homem, por meio do mesmo Cristo,
Filho de Deus, prestam a adoração ao Pai (I.G.M.R.1). Presente junto da Cruz, Maria vive e sente
os sofrimentos de seu Filho.
Em 1729 é construído na Igreja Matriz o altar em talha dourada, em honra de Nossa Senhora das
Dores. Pelo ano de 1792 era já costume a realização da Festa com novena pelos cristãos limianos.
As Festas das Dores, depois Festas de Setembro, hoje Feiras Novas, tal como a sua origem testemunha, tiveram sempre como número relevante do programa, a celebração litúrgica. É nesta
linha de culto público que em 1956, ressurge a solene procissão em honra da Padroeira da Festa,
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por sugestão do então Prior da Vila, D. Carlos Pinheiro.
16.30h IMPONENTE PROCISSÃO EM HONRA DE NOSSA SENHORA DAS DORES
Nesta fantástica relação entre o profano e o religioso, depois da euforia dos dias anteriores, como
que uma transmutação espiritual perpassa por toda a vila, para numa sublime mudança, recolhermos aos momentos maravilhosos de assistir a esta procissão que cosntitui a grandiosa homenagem
à Mãe, que está sempre presente em todos os dias da festa e que ilumina os corações dos festeiros.
Noite do baile
20.30h MÚSICA PORTUGUESA Largo de Camões
“Grupo Cantares de Outono”
Um grupo do vizinho concelho de Arcos de Valdevez regressa às Feiras Novas para mostrar a sua
evolução na execução da mais pura música popular portuguesa.
22.00h “GRUPO ALTA FREQUÊNCIA” Largo de Camões
Vindo da raia transmontana, mais concretamente de Chaves, este grupo imprime à sua actuação um
ritmo inebriante, com movimento, cor e alegria, transmitida de forma superior ao público presente.
00.30h FOGO
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COMO HOMENAGEM A D. CARLOS PINHEIRO
- O PADRE CARLOS E A PROCISSÃO A NOSSA SENHORA DAS DORES
NAS FEIRAS NOVAS
Amândio de Sousa Vieira
Não existiriam Feiras Novas, nem
nada sobre a terra que tenha a mão do
homem, se a vontade e inteligência não
exercessem a sua função.
Em 1956, perfeitamente integrado
nas tradições desta terra (cedo a adoptou
como sua), entendeu participar e melhorar o programa das Feiras Novas.
Aliando a sua acção pastoral às nossas melhores tradições, recria a Procissão
em Honra de Nossa Senhora das Dores,
padroeira da festa, que durante muitas
décadas ficou quase no esquecimento. Esta manifestação religiosa, noutros
tempos, era orgulho dos habitantes de
Ponte de Lima.
Poderá ter sido em Setembro de 1910
a última Procissão em honra a N.ª S.ª das
Dores, até 1956. As referências que encontramos, em 1926, 1927 e 1929, são
de manifestações feitas pelas Feiras Novas em honra de Santa Teresinha e Santa Maria Madalena.
Esta iniciativa do Sr. Padre Carlos
mereceu os maiores elogios da imprensa
local e, desde então, nunca mais deixou
de se realizar, salvo um ou outro ano em
que a chuva a interrompeu.
Era um rapazinho muito pequeno quando principiei a participar na Procissão das
Feiras Novas. Recordo, com muita saudade, a Sr.ª D. Angústia Correia que me escolhia sempre para Menino Jesus, contrariando a minha vontade de brilhar com um capacete romano. Terminei como Senhor dos Passos, sempre com a atenção e o carinho
que o Sr. Padre Carlos dedicava a todas as crianças. Guardo na memória a delicadeza
com que nos tratava, a compreensão para os nossos pequeníssimos pecados. Ficou
guardado no meu coração de criança o sorriso, quando da minha Primeira Comunhão
entro aflito na sacristia, momentos antes da cerimónia, para uma terceira confissão
depois de mais um percalço.
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
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Nunca deixou, mesmo quando as
suas funções eram noutros lugares, de
estar muito presente. A “sua” Igreja Matriz, que com tanto esmero recuperou,
era o local de eleição para estar connosco. É justo realçar a cordialidade do Sr.
Padre José Sousa que sempre o recebeu
com a maior elegância.
Como Bispo estendia-se por outros
lugares o seu apostolado, mas escolheu
Ponte de Lima para viver e, por isso mesmo, continuou a dar ao Instituto Limiano, Museu dos Terceiros, que fundou,
muito do seu saber. Com ele convivi e
participei com alegria em muitas exposições. Tive a feliz sorte de ilustrar dois
dos seus livros, “Arte, Beleza e Culto das
Imagens de Nossa Senhora” e “A Ínsua
de Caminha”, 2.ª edição.
Muito se vai escrever e é de grande
justiça que a sua vida exemplar não seja
esquecida. Guardarei, enquanto viver, a
sua amizade.
Tinha sincero amor por Ponte de
Lima. Escolhendo esta terra para morrer
deu-nos mais uma prova da sua estima.
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O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
vivências das feiras Novas
– os irmãos “hortas”
Alberto do Vale Loureiro
O ambiente festivo que caracteriza as «Feiras Novas» só é possível mercê da
anuência voluntária prestada pelos intervenientes que colaboram na sua realização.
Entre os muitos que contribuem com a sua disponibilidade, destacamos, com especial referência, os irmãos «Hortas», pelo regular hábito que têm mantido na participação dos cortejos que integram o programa festivo. E fazem-no garbosamente!
Homens simples, honrados, sempre dispostos a enfrentar as incompatibilidades
da vida, pela qual travaram sempre os maiores desafios, demonstraram sempre, ao
longo da sua caminhada, uma grande aptidão para a vivência e integração nas comunidades onde exerceram as suas profissões, fazendo parte de diversos organismos e
instituições de âmbito local onde a sua estima não passou despercebida.
Para que melhor possamos aquilatar das capacidades destes activos e simpáticos
limianos aqui deixamos algumas notas que demonstram o quanto tem sido prestimosa a sua acção em prol das comunidades.
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
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JOAQUIM BARROS PEREIRA
Natural de Ponte de Lima, nasceu
em 3 de Maio de 1942. Frequentou o
ensino básico, enveredando depois, por
força das circunstâncias, pela agricultura. Aos 18 anos ruma a Lisboa onde,
além de cultivar quintais, trabalhou
como padeiro e empregado de balcão.
Cumprido o serviço militar consegue,
emprego da Companhia Carris de Lisboa, como guarda-freio e, na mira de
melhores condições de vida, sai do País,
alargando os seus horizontes de vida na
Alemanha. Volvidos 4 anos regressou ao
seu Portugal retomando o exercício da
sua profissão na Carris pela qual passou
à situação de aposentado.
Na sua terra participou, mais que
uma vez, na encenação «Os Turcos de
Crasto». Desfila, como figurante, nos
cortejos das «Feiras Novas» há 18 anos,
e pensa, ainda, fazê-lo por mais tempo.
Pratica, como amador, atletismo. É
pai de 2 filhos e avô de 4 netos.
NARCISO BARROS PEREIRA
Viu a luz do dia em 30 de Agosto de
1948 em Ponte de Lima. Terminada a
instrução primária ocupou o seu tempo
na agricultura até ingressar na Farmácia
Brito e mais tarde na Farmácia Cerqueira. Passados alguns anos e com a experiência profissional adquirida na sua terra
natal, ciente das suas capacidades, procura nova situação de vida rumando até
Valongo, onde exerce as suas funções há
mais de 40 anos.
O Narciso, aproveitando os seus conhecimentos, exerceu com elevado entusiasmo as funções de massagista em
vários clubes da região de Valongo. Tal
como seu irmão Joaquim praticou, durante alguns anos, atletismo amador.
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O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
Preso às tradições culturais da sua terra participou, por várias vezes, na peça teatral «OsTurcos de Crasto». Há 30 anos(!) que desfila nos cortejos das «Feiras Novas»
sendo o mais antigo dos irmãos a prestar a sua participação e pensa ainda fazê-lo
enquanto tiver força e ânimo para tal.
Prestou serviço militar. Constituiu família na localidade onde exerce a sua profissão, é pai de 2 filhas (Patrícia e Vânia), as quais, muito honradamente, por várias
vezes, também desfilaram nos cortejos das nossas festas maiores.
JOSÉ BARROS PEREIRA
Nasceu em Ponte de Lima a 14 de Abril de 1939. Como os restantes irmãos,
depois do ensino primário, foi a agricultura o primeiro contacto com o trabalho,
ajudando os pais no sustento da família. Em 1955, depois de passar por emprego
em Ponte de Lima e na região, faz a sua primeira viagem de comboio com destino a
Lisboa trabalhando no comércio (mercearia e vinhos), até ser chamado, em 1960, a
cumprir serviço militar. Ao fim de 15 meses de preparação, o regime de então, impôslhe, (como a tantos outros), a ingrata missão de «defender» o ultramar português na
então chamada província de Angola, para onde embarca em 1961, terminando a sua
«obrigação» 2 anos depois, não sem que, aproveitando o tempo, profissionalizar-se
com a carta de condução, o que lhe serviu para exercer as funções de distribuição
do sector de padaria e pastelaria. Procurando valorizar a sua vida consegue emprego
na TAP, em Lisboa, como auxiliar de mecânico, mas por pouco tempo, o necessário
para envidar novo rumo, desta vez para a Alemanha, exercendo as suas funções
numa fábrica têxtil durante 14 anos. Preocupado em cada vez mais melhorar as condições económicas, decidiu prestar os seus serviços numa fábrica de fundição onde
se manteve até à sua aposentação. Com a vida estabilizada optou por residir naquela
grande nação sem nunca esquecer o seu torrão natal, aqui se deslocando, reavivando
memórias e dando a sua prestimosa colaboração, há 12 anos, como figurante nos
cortejos das «Feiras Novas», esperando, tal como seus irmãos, continuar a fazê-lo por
mais anos.
José Barros Pereira, desempenhou, na sua vida comunitária, acções de relevo: foi
um dos fundadores do clube de futebol Portuguesa de Desportos de Kaiserslauten,
dando também o seu contributo como jogador até as forças o permitirem. Fez parte
dum grupo musical de coros e do Movimento da Mensagem de Fátima. Na Missão
Católica Portuguesa deu o seu melhor, mais de 20 anos. No Conselho Paroquial desempenhou vários cargos. Deu ainda o seu contributo à imprensa da comunidade
portuguesa.
Não deixa descendentes.
JOÃO DE BARROS PEREIRA
Nasceu na antiga rua do Pinheiro (hoje rua General Norton de Matos), Ponte de
Lima, a 12 de Janeiro de 1933. Para não fugir à regra e porque as circunstâncias assim
o exigiam, ajudou os pais nas lides da lavoura. Depois da escola primária obtém o
primeiro emprego nos conceituados armazéns do Sr. Manuel Brito. Aí permanece até
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
25
ser chamado ao cumprimento do serviço militar em Lisboa, especializando-se
como telegrafista. Findo o dever militar,
sentiu a necessidade de procurar trabalho na capital, já que aí as possibilidades eram maiores. Consegue-o na altura em que as obras do metropolitano
decorriam na baixa lisboeta, iniciando
a sua labuta como ajudante de carpinteiro. Demonstrando vontade férrea de
vencer, e mercê da sua aplicação, consegue fixar-se nas oficinas da empresa
do metropolitano como serralheiro de
primeira, onde obteve a sua aposentação ao fim de 40 anos de serviço.
Participou na encenação do teatro
popular «Os Turcos de Crasto» e há 18
anos que oferece a sua presença como figurante nos cortejos das «Feiras Novas»
e está disposto a dar o seu contributo por
mais anos. Jogou futebol na Associação
Desportiva «Os Limianos» e, curiosamente, frequentou a aprendizagem de
toureiro. Demonstrando aptidão para o
canto faz parte dos coros do metropolitano de Lisboa e do S. L. Benfica. E para
manter o vigor físico praticou, e ainda o
faz, atletismo amador.
É pai de 2 filhos e avô de um neto.
NOTA FINAL
Também o irmão António, residente na Alemanha, participou, há cinco anos,
juntamente com seu filho «Tozé», no cortejo das «Feiras Novas», aquando da sua
permanência, em gozo de férias, em Ponte de Lima.
A disponibilidade e generosidade dos irmãos «Hortas», são exemplo único do
quanto é possível fazer pela sua terra, virtudes que muito apreciamos e que demonstram como é possível manter uma unidade familiar aliada a um genuino e salutar
limianismo.
Obrigado, bons Amigos.
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O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
RETRATO DAS FEIRAS NOVAS (I)
AS FEIRAS NOVAS NO “A AURORA DO LIMA”
José Carlos Loureiro
Na edição de 16 de Setembro de
1947, o jornal “A Aurora do Lima” (ano
92º, nº 92) referindo-se às Feiras Novas,
afirmava que “Ponte de Lima (...) goza
e diverte-se”. Para o jornalista, a vila
reserva ao forasteiro a possibilidade de
apreciar “panoramas deslumbrantes e
monumentos grandiosos”. Uma subida
ao Monte da Madalena não defrauda o
visitante que não deixará de ficar “extasiado com o que ante os seus olhos se
descortina”. Acrescenta que “além disto
que muito superficialmente apontamos,
encontra no local da Feira barracas com
bons acepipes e com óptimas recordações”. Encerra notando que “com certeza que também por lá cairá a praga dos
alto-falantes, anunciando “panelas” ou
“paneladas”. Eram os sinais de entrada
numa outra ordem da vida moderna.
Na mesma edição, faz-se uma referência ao primeiro número de “O Anunciador das Feiras Novas” (Setembro, 1947,
ano I, nº 1) nestes termos: “publicação anual, insere magnifica colaboração e bons
annuncios, que são o essencial para o bom resultado deste genero de propaganda”. Era
seu editor Augusto Castro e Sousa.
Aproximadamente trinta anos depois, o mesmo jornal noticiava que uma comissão procurava levar a efeito as “grandes festas de Ponte de Lima”, nos dias 14, 15 e
16 de Setembro. Prometia-se que as iluminações seriam surpreendentes e que a festa
religiosa, particularmente a procissão, teriam o “brilho costumado”. De acordo com
o redactor:
Zés P’reiras, grupos folclóricos, cantares ao desafio, feiras francas, concertos musicais, arraial minhoto, a alegria do povo neste novo Portugal Livre, constituem
atractivos de muito apreço e bem organizados.
Estávamos em Setembro de 1974.
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Publicidade inserida no opúscolo “FEIRAS NOVAS”, edição da Tipografia Augusto de Sousa, Ponte de Lima, Setembro de 1951.
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O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
O SARRABULHO E AS FEIRAS NOVAS
“A CASA LINA”
Amândio de Sousa Vieira
Nasceu o sarrabulho nas casas dos lavradores minhotos. No concelho
de Ponte de Lima tornou-se prato obrigatório após a matança do porco, tão
tradicional, por necessária na boa gestão das nossas casas de lavoura.
Podemos dizer que por aqui nasceu e cresceu, apreciado nas boas “Casas
de Pasto”, antecessoras dos restaurantes do nosso tempo. Pelas Feiras Novas
ganhava direito a prato principal e, ontem como hoje, é quase obrigatório
levar daqui o gosto de uma boa sarrabulhada. Nunca serão vividas na sua
plenitude, estas grandes festas, sem o ter devidamente apreciado.
Existiu durante muito tempo (cerca de 40 anos) uma casa que, situada no
coração da vila, servia este manjar com requintes de qualidade: muitas vezes
mais parecia que estávamos em casa de lavrador abastado.
Embora a sua casa se tenha extinguido naturalmente a D. Adelina só
recentemente nos deixou. A sua saúde não lhe permitiu usufruir do nosso
total reconhecimento.
Quase todas as semanas, ao longo de muitos anos, matava-se o porco e as
suas mãos experientes preparavam os produtos para uma perfeita confecção,
talvez o segredo para o seu extraordinário sarrabulho.
D. Adelina era esposa de Augusto de Castro e Sousa, fundador desta
revista em 1947. Ele, além de jornalista (escrevia muito bem), editor e mestre
tipógrafo, também dominava a guitarra, ficando célebres as sessões que, ao
fim da tarde, com o seu amigo Aníbal Marinho, que escrevia poesia e tocava
numa viola fabricada pelo meu bisavô Secundino, enchiam aquela rua de
suave melancolia. Pelas feiras e, naturalmente, nas Feiras Novas, outros
exímios se lhes juntavam.
Nunca isso incomodou a D. Adelina, metida nas suas canseiras levou
sempre com grande dignidade a sua casa, educou exemplarmente os seus
filhos e ainda teve a alegria de ter tido perto de si os netos.
A história é feita de grandes acontecimentos, mas o importante são as pessoas,
como a D. Adelina que com o seu trabalho e exemplo preencheu perfeitamente
a sua existência.
É justa esta lembrança, o “Anunciador” também lhe deve alguma coisa e
as Feiras Novas tiveram nas suas mãos razões para serem lembradas com mais
satisfação. Contribuiu, a par com outras grandes cozinheiras como ela, para
que hoje Ponte de Lima possa usufruir de uma valia que dá trabalho a muita
gente, riqueza e fama à nossa gastronomia.
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
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O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
RAÚL TEIXEIRA - POETA LIMIANO
António Manuel Couto Viana
Raúl Manuel Teixeira («O Raúl – assim era tratado na roda dos seus admiradores» – como afirma o douto Abade
de Baçal, que lhe dedica algumas linhas
admiradoras, num texto intitulado Os
Notáveis) nasceu em Bragança (freguesia da Sé), a 13 de Agosto de 1884,
filho de Francisco Inácio Teixeira e D.
Guilhermina Maria, ambos igualmente
bragançanos. Casou no Porto em 1894,
número que decerto o padre Francisco
Manuel Alves (ou alguma gralha importuna) errou, visto que, nesta data, o noivo teria apenas 10 anos de idade. Foi pai
de três filhas.
Doutorou-se em Direito na Universidade de Coimbra e, seguindo a magistratura, foi delegado do procurador da
República, em várias comarcas, vindo,
finalmente, assumir o cargo em Ponte de
Lima, em 1921.
Na vila limiana exerceu uma acção brilhante a favor das artes, sendo da sua responsabilidade a Exposição de Arte Antiga, facultada ao público no palacete Mimoso,
no Alto das Pereiras, durante as Feiras Novas do ano em que se instalava em Ponte,
numa casa do arrabalde de São João.
Foi com êxito, o empreendimento, a ponto do crítico d’arte Pedro Vitorino haver
escrito na revista Lusa, de Cláudio Basto, palavras muito elogiosas para quanto viu
exposto, cedido por casas fidalgas de Ponte, bem como da matriz, da Ordem Terceira
de S. Francisco e Misericórdia.
Nesse mesmo ano, contribuiu para a organização de uma celebérrima tourada
pontelimesa, juntamente com o Conde d’Aurora, onde exibiu a sua arte genial de
cavaleiro tauromáquico D. Ruy da Câmara (Ribeira).
Este evento faz que o «senhor delegado» escrevesse, anonimamente, um divertido
folheto em verso, Adeus que à Vida diz António Plácido, onde a memorável corrida vem
descrita com os seus intervenientes plenos de galhardia («Dir-se-ia que pairava sobre
a praça / o espírito gentil de Marialva»).
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
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Nesta engraçadíssima e colorida poesia, há seis quadras referindo a cavalgada que
vai buscar o gado aos altos da Armada (quanta vez lá fui, a cavalo num garrano destas
bandas, para gozar o panorama soberbo da montanha), onde a inspiração do poeta
melhor se reconhece como limiana:
«Véspera de São João – mal rompe a madrugada –
A noite toda a cobrir o burgo com o seu manto –
Lá vai pelo Arrabalde a caminho da Armada
a guisalhante cavalgada
buscar o gado que é do Santo.
(...)
A cavalgada chega enfim
garrida, rútila e olímpiaca,
vibra em redor som de festim
e de canção dionisíaca.
Chegam as moças de Beiral,
De Serdedelo e da Ribeira,
Em bando alacre e triunfal,
Como as do Couto e Gemieira.
Toca a comer! – à sombra amiga
Todos já estendem os farnéis;
Brinda no ar terna cantiga,
Bailam Marias com Manéis.
Oh! Que alegria transbordante,
Policromia cenográfica!
Gargantas moças em descante
E em bacanal coreográfica.
‘Stá preso o gado. O verde vinho
Pla multidão em riso arde...
Toca a montar! Eia! a caminho
Pra entrar na vila às 6 da tarde.»
Pouco se conhece da produção poética de Raúl Teixeira.
Graças à gentileza do meu ilustre amigo, o engenheiro João Gomes Abreu Lima, a
que Ponte já tanto deve de iniciativas culturais, tenho em meu poder uma fotocópia
do manuscrito de Bragança por um Canudo, de Raúl Teixeira, revista em 1 prólogo,
3 actos e 6 quadros, inédita, pois, segundo o Abade de Baçal, o autor apenas deu à
estampa as coplas, em 1908.
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O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
(Curiosamente, o texto foi terminado às 8,45 horas da noite, no dia e ano do
trágico regicídio de um Bragança, que Portugal passou a ver «por um canudo» – a
expressão, embora de um mau-gosto irreverente, corresponde à verdade.)
Aos 24 anos, o escritor mostra-se ainda incipiente na escrita e com pouca propensão para o verso.
Da revista, extraio um monólogo, decerto inédito, em que um jogador com azar se
lamenta, depois de haver frequentado o Grémio da terra, mais esvaziador de carteiras
do que as assembleias provincianas dos finais do século XIX ou começo do XX, tão
bem retratadas n’A Capital queiroziana e n’O Pinto, do Conde d’Aurora.
Neste recitativo se comprova o que o Abade de Baçal sobre ele escreve in Os Notáveis:
«... uma individualidade literária assás comprovada no jornalismo e em produção
de maior fôlego impressas, cheias de fino espírito, de verve cáustica, revelada pela
blague esfusiante de hilariedade.»:
«No grémio entra um cidadão
c’o do seu mês parco ordenado
e apenas passa o portão
logo se hab’tua a depenado.
Mal chega à sala do bilhar
logo o pai preto o desafia ...
Perde ... um tostão ... mas a brincar ...
− porque uns tostões não são quantia ...
E d’uns vinténs assim se livra,
d’um cobre vil, de um cobre sujo ...
− E para ver se se equilibra
o sócio sobredito cujo
põe-se à procura de parceiro
dos sempre certos lá na casa,
e tenta o ganho d’um dinheiro
na sala de jogos de vasa.
Perde ... umas c’roas ... pouco milho
ao solo, bridge, voltarete ...
apanha ainda o seu codilho
mas ... isso pouco o compromete.
Então, depois, um outro sócio
convida-o para o baccarat ,
e pr’a passar um tempo d’ócio
lá se resolve a ir p’ra lá.
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
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Puxa a carteira e notas tira:
− Vinte mil réis assim se vão! −
Mas ainda que ele os desaufira
isso não é para aflição.
E assim co’ a poche quase exausta
e c’um calixto sempre à beira,
com esta noite negra infausta
o resto tira da algibeira.
Porém, não finda aqui o fado,
triste odisseia d’um pecante,
− pois lá caminha o desgraçado
p’rá sala junto ao restaurante!
E há então o crack final!
na lage enfim fica a bater
e lá se foi o capital
com que contava p’ra viver.
Mas há saída, numa disputa
por um motivo fútil, vão,
envolve o pobre numa luta
na qual apanha um entalão.
E assim recolhe ao prédio
d’esta maneira ... e o verde aberto
lá se resigna, que remédio,
com este fado duro, incerto.
...
No fim do mês, inda por cima
sacam-lhe então oito tostões:
e os quais, assim, são da propina
de tão ... suaves sensações.»
No entanto, o que faz Raúl Teixeira poeta limiano é este belo poema publicado em
1934, no Arquivo de Viana do Castelo, sob a direcção de Abel Viana, Alberto Meira,
Dr. José de Alpuim de Agorreta (gerente) e Manuel Couto Viana.
Intitula-se Ribeira-Lima, foi escrito em Ponte de Lima, em Outubro de 1923, e é
dedicado à Maria-Zé Libreira.
É uma despedida à paisagem que durante tão poucos mas fecundos anos o enfeitiçou, onde a natureza, no encanto da sua simplicidade bucólica, se entrelaça com a
erudição literária e artística do poeta:
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O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
«Outono, a fulva quadra álacre e melodiosa
toda a rir em rubis de um purpúreo esplendor,
com a volúpia enche o Val’ de emanações de rosa,
de embriaguês de luz e bacanais de cor.
Paisagem que um encanto espiritual anima
de helénico perfume e eclogal aspecto,
− sobre o leito osquestral, viridente do Lima
Não é água que corre: − é, sim, o mel do Hymeto.
Há ninfas a correr entre verdes salgueiros,
e faunos a espreitar, de capricórnia fonte;
há beijos, pelo ar, de zéfiros fagueiros,
e odes sensuais, febris, de Anacreonte.
Ó ribeira de mito e legenda doirada,
tua beleza divina é inegável que é
uma tela de Pan, p’ra modelo deixada
a Puvis de Chavannes, a Corot, a Millet.
Ó rio feiticeiro, ó filtro de alto encanto,
dágua em seda e cristal rescendente a jasmim,
que a Bernardes ouviste o inspirado canto,
que a chama da Estesia acendes dentro de mim!
Despeço-me de ti, d’alma em f’rida, a sangrar,
a saudade a pungir-me, exânime indeciso ...
− tal como se dissera, em torvo soluçar,
um derradeiro adeus ao Sol do Paraíso.»
Classificar a água do Lima «seda e cristal» enobrece o estro de um poeta.
Em Os Notáveis lê-se:
«... tem colaborado (...) Para os pobres de Ponte de Lima − Homenagem a Amélia
Rey Colaço, 1922. Nesta publicação inseriu o soneto «Marinela», que também saiu no
Cardeal Saraiva, semanário de Ponte de Lima, de 23 de Março de 1922.»
Ora pesquisas feitas, a meu pedido, na colecção do periódico pontelimês, resultaram infrutíferas: a composição que evoca Marinela, a estreia de Amélia no teatro, não
se encontra lá.
E ignora-se a existência de Para os pobres de Ponte de Lima, decerto publicação
única que ninguém teve o cuidado de conservar.
Raúl Teixeira editou, também, na vila limiana, um pequeno folheto crítico ao priO ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
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meiro romance, D. Aleixo, do Conde d’Aurora, em que vestiu a melhor sociedade de
Ponte (quer fidalga quer literata) com a casaca, as anquinhas e a peruca do século
XVIII, a seroar no solar de Nossa Senhora d’Aurora.
Numa linguagem castigada e humorística, a obrinha lê-se com um sorriso de deleite.
Pouco mais de dez anos após ter abandonado Ponte de Lima, em 1935, encontrava-se a dirigir o Museu de Bragança Abade de Baçal.
Aí fui encontrá-lo nos anos 50, quando me desloquei a terras bragançanas numa
Missão da Campanha Nacional de Educação de Adultos.
Num abraço, falei-lhe do Conde d’Aurora, das suas publicações da Ribeira-Lima,
de meu pai, da sua poesia...
03.04.2010
NOTA DO COORDENADOR:
Esta foi a última contribuição literária enviada por António Manuel Couto Viana para “O Anunciador das
Feiras Novas”. Pouco tempo depois (08/06/2010), deu-se o seu passamento.
Como preito de homenagem, registamos nas páginas desta revista, os passos mais significativos da vida desta
ilustre figura, cujo conhecimento aconselhamos.
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Direcção Técnica: Dr.ª Rosa Maria Neves Garrido
Laboratório Central
Quinta da Graciosa, Bloco A, Loja C/D
4990-013 Ponte de Lima
Telef. 258 900 100 - Fax 258 741 047
Email: [email protected]
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Tel. 258 941 131 . Fax 258 942 076
Largo da Matriz
4990.045 Ponte de Lima
Propriedade: Manuel Amadeu Pimenta, Lda.
Dir. Técnica: Maria Manuela Santos Pimenta
Largo de S. João
4990.049 Ponte de Lima
Tel. 258 941 197
Fax. 258 743 598
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O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
A RIBEIRA-LIMA CULTURAL
ENTRE A MONARQUIA E A REPÚBLICA
Alberto A. Abreu
Na passagem do século XIX para o XX, Portugal assistiu a profundas transformações, que, se não alteraram a estrutura económica da sociedade e apenas buliram
em certos pontos dos segmentos dos extremos inferior e superior do tecido social,
trouxeram profundas mudanças nas concepções e comportamentos. Não ampliaram
o debate político nem ideológico nem filosófico, vicejando mesmo no terreno aberto
desde meados do século XIX e foi nele que medraram. Mas trouxeram a aplicação objectiva de tantas ideias que apenas tinham crescido em tese. O anticlericalismo deixou
de ser um propósito de mentes “bem-pensantes”, para dar origem ao moderno edifício
jurídico em que o Estado saiu reforçado, com a sua separação da Igreja, com a tutela
das famílias e das pessoas (leis do registo civil e do divórcio), com a diminuição do poder social da Igreja a quem foram retirados os bens e a possibilidade de manifestações
públicas e perseguição dos recalcitrantes (jesuítas e bispos refractários). Ao mesmo
tempo, regulamentou-se o direito à greve, decerto mais para conter a onda anarquista
(que será dominante até ao começo do Estado Novo) do que para conter ideias socialistas – que não terão tido maior expressão do que a que tinham no século XIX até à
constituição da III Internacional e à fundação do P.C.P. a partir da Federação Maximalista Portuguesa (o qual reunia no seu II Congresso em 1926, no ano em que surgia
o Estado Novo). O debate político é que se alargou consideravelmente: para além
das querelas entre regeneradores e históricos, avilistas e progressistas e ultimamente
regeneradores liberais. Subiram à ribalta os socialistas federalistas e não federalistas,
os republicanos cindiram-se nas três facções – democráticos, evolucionistas e unionistas – destes emergiram os sidonistas e os centristas de Egas Moniz e Cunha Leal,
os monárquicos cindiram-se em outras duas correntes – manuelistas e legitimistas – e
viram nascer no seu seio os integralistas. Os católicos dividiram-se em três orientações: os adversos à República e os dispostos a colaborar e os que vão sucessivamente
procurando um suporte associativo nas organizações católicas que se foram sucedendo meteoricamente na cena portuguesa, com maior ou menor participação política.
E, ao lado de todos estes, começaram a despontar, medrando no terreno anárquico
de 16 anos de regime com 8 Presidentes da República e 45 governos, os simpatizantes
por soluções de força como as que tinham protagonizado Benito Mussolini na Itália e
Primo de Rivera na Espanha.
Foi neste meio século de amplo debate ideológico – de 1876 (criação do Centro
Republicano Democrático de Lisboa) até 1926 – que foi projectada, nasceu e morreu
a I República Portuguesa, numa época de grande viragem cultural, que se saldou pela
vigência do positivismo e das várias iniciativas anti-positivistas, e nos campos literário
e artístico pelo decadentismo, o simbolismo e o modernismo.
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
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Como é habitual em movimentos, como o republicano e respectivo respaldo positivista e cientista, que desde as Luzes se dizem “progressistas”, os republicanos entendiam que trabalhavam para o futuro e que a história lhes havia de dar razão1. Para não
alargarmos demasiado o leque de exemplaridade, vou servir-me dum opúsculo constituído por uma recolha de poesias compostas graciosamente para, com o produto da
venda, socorrer as famílias dos implicados na revolta republicana de 31 de Janeiro de
1891 e que nesse ano contou já com pelo menos duas edições. Na literatura que contém, as lutas pela República, i.e., pelo progresso na senda do futuro, mereciam serem
qualificadas com uma adjectivação proveniente do campo semântico da aristocracia
e da religião, por se entenderem como “as mais nobres, mais santas e mais justificadas
luctas”. Quem as conduz é “a alma nacional”. E é ela, muito embora hipoteticamente
servida por pessoas religiosamente críticas ou já indiferentes, que se apropria da linguagem do clero, como sua. Ora, quem profere estas afirmações é, logo na introdução,
a classe dos barbeiros e cabeleireiros do Porto, editora do opúsculo. Outro dos adjectivos usados – mas desta vez por um poeta – é “sagrado”, em todas as suas flexões2.
Quando fosse proclamada a República, então, nasceria uma “aurora santa”3, uma
“luminosa aurora”4. O pensamento republicano é verdade e caminho. “É uma estrada
ideal innundada de luz / – A estrada da verdade”5.
Para qualificar os adversários ficava reservada uma adjectivação do campo semântico oposto: “ignóbil” (não nobre), e uma enunciação ligada a desmandos sexuais:
“orgias”, “prostituir”6. Eram “mentirosos” e “lixo politico”, e o que diziam eram “sophismas” que “lançavam veneno em consciencias, fomentavam odios, produziam corrupção, professavam triumphalmente a iniquidade”. Era com estes conservadores que
se fomentava “o syndicato, […] a divida fluctuante, triumphava o compadrio, […]
crescia o cynismo”7. As forças anti-republicanas são, numa linguagem sem dúvida já
contaminada de certo socialismo: “a infâmia” que explora (“faz festim” à custa de) a
miséria do “roto aldeão” e “dizem missa ao Deus Milhão”8. A caminhada para a República é a dum “corcel fugaz que trota no futuro”, face a Portugal, que se encontrava a
“cahir na lama do monturo, / Como um rafeiro vil”9.
Politicamente, juntava-se este positivismo e iluminismo a um jacobinismo, que degenerou depois num pensamento libertário. Tomando um exemplo típico e que muito
viria a ter com a nossa região, Aquilino Ribeiro, cujo republicanismo fora sempre de
matriz libertária10, escrevia de Paris em 13 de Novembro de 1909 para o jornal A Beira
que “ser republicano em França é ser anticlerical, irreligioso”11, e ele mesmo rastreou
a influência e presença do jacobinismo em Portugal12.
A alvorada1891: I.
A alvorada 1891: VII.
G. Junqueiro, in A alvorada 1891: XI.
(4)
V. Oudinot, in A alvorada 1891: XIII.
(5)
A. Mesquita, in A alvorada 1891: XVI.
(6)
R. Freitas, in A alvorada 1891: VII.
(7)
A alvorada 1891: VIII-IX.
(8)
G. Junqueiro, in A Alvorada 1891: XI-XII.
(9)
C. Alves, in A alvorada 1891: XIV.
(10)
J. Reis 1988: 51, 54, 76, 86, 111.
(11)
Apd J. Reis 1988: 45.
(12)
Apd J. Reis 1988: 72.
(1)
(2)
(3)
42
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
Para a nata intelectual que protagonizava este movimento de ideias, a interrogação que se levantava era: como construir este mundo novo? Mas cedo as soluções
cientista e positivista começaram a deixar de satisfazer. Foi todo o movimento dos
Nabis e dos simbolistas, de Gustave Moreau, Odilon Redon e Puvis de Chavannes,
entre nós de António Carneiro e Aurélia de Sousa. É o período em que se expande
o anticlericalismo de Guerra Junqueiro mas também aquele em que desponta e se
retoma o discurso místico e simbólico em João da Rocha (João Loureiro da Rocha
Barbosa e Vasconcelos, 1868-1921) e Teófilo Carneiro (Teófilo Maciel Pais Carneiro,
1891-1949).
Um dos primeiros contestatários do positivismo foi o limiano Domingos Tarroso.
Tarroso, que teve necessariamente uma formação positivista, cedo a abandonou, dizendo que só foi positivista “enquanto via pouco, sabendo sobre os problemas da filosofia apenas tão pouco como Augusto Comte”13; e foi com o intuito de o refutar que
escreveu a sua Filosofia da existência, com a qual se gabava de ser o mais jovem filósofo
de toda a história (ganhando por quatro anos a Augusto Comte), que se destinava
a rebater a lei dos três estados e a que deu esse título para lhe sugerir um campo de
especulação metafísica. Ao contrário de Comte, formulou, em vez de três estados de
evolução, aquilo que definiu como três pilares do ser: pré-átomo, consciência humana, Deus. E apresentou também uma classificação das ciências, necessariamente diversa14. Todavia, não se refugiou no voluntarismo de Schopenhauer, antes admitindo
o dualismo eu-natureza, o que o aproxima de Spencer15.
Nos dois pólos opostos – do positivismo e do anti-positivismo – era, porém, o mesmo que se entendia acerca da cultura portuguesa. Ao abrir a sua Filosofia da existência,
Domingos Tarroso caracteriza-a como caldo onde campeia “a inaptidão paralítica, a
ignorância férrea, o obscurantismo imundo e a bestialidade imensurável”. Vive-se no
meio da “confusão desoladora, e cruciante desta profunda e desordenada decadência”;
dum “país microcéfalo” que se vai removendo com uma bestialização seráfica num
eterno estado de idiotismo”, “turba declamatória” que não saberá ler e compreender o
seu livro, para a qual ele será “como uma coisa estranha, desconhecida, ininteligível”,
porque só lê e entende romances de livros de contos ou versos, a que chama “encadeamentos de frases vãs, ocas, inúteis e nauseabundas […]viradas e reviradas e mil
vezes sabidas e repetidas”. A única filosofia a que essa gente seria permeável seria a de
Augusto Comte, o positivismo, por isso mesmo já constituído em “monomania”16. Por
essa altura, Alberto Pimentel e, na sua esteira, Eça de Queirós, diziam que Portugal
era “uma choldra”. E em 1911 José Caldas inscrevia como epígrafe do seu Fora da terra
o verso de Petrarca17 “Ignobilis patriae ciuis sum”. Domingos Tarroso denuncia (com o
mau-humor que lhe é típico) a falta de estrutura filosófica séria na cultura portuguesa
do seu tempo18. Aliás, segundo ele mesmo confessa, só mostraram interesse pela sua
D. Tarroso 1881: II.
J.E. Pereira 1998.
Cf J.C. Carvalho, in D. Tarroso 1881.
(16)
D. Tarroso 1881: I-II.
(17)
Dialoghi, 4.
(18)
D. Tarroso 1881: II.
(13)
(14)
(15)
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
43
Filosofia da existência José Maria da Cunha Seixas, João de Deus, Antero de Quental, José Caldas e Alexandre Marques da Paixão, particularmente Seixas, Antero e
Marques da Paixão, que lhe enviaram apreciações críticas sobre o projecto da obra19.
Cunha Seixas afirma, na carta que Tarroso inclui na introdução ao seu livro, que o
positivismo é, afinal, uma “suposta filosofia, que não passa de um grosseiro dogmatismo e de arbitrárias negações”20; e que, “seja qual for a importância do materialismo, é
certo que a todo o momento claudica”, pelo que não pode fornecer uma base segura21.
Ao optimismo do ethos naturalista sucede-se uma visão predominantemente pessimista. Assim, um dos heróis dum conto de João da Rocha (“O paralytico”) é um
jovem fracassado; do sonho com proezas e feitos militares redundou numa frechada
num combate em Zanzibar, de que resultou a amputação duma perna e a postura
definitivamente paralítica, “inutil”, frente ao mundo que via mover-se para lá da sua
janela. E, nesse mesmo conto, subverte-se o paradigma da regeneração do sangue e
da raça com casamentos entre pessoas de diferentes classes sociais22, que tinha dado
o ser a romances tão em voga nos finais do século anterior, como Os fidalgos da casa
mourisca de Júlio Dinis.
Nesta transição de pensamento encontramos dois escritores paradigmáticos, de
Viana do Castelo e de Ponte de Lima: o referido e multifacetado João da Rocha, poeta, curioso pelas ciências ocultas, contista, e o limiano Teófilo Carneiro, ele também
poeta. Do ponto de vista político, lutaram pelos mesmos ideais antes de 5 de Outubro,
altura em que Teófilo era jovem e Rocha já um homem maduro. Depois divergiram:
João da Rocha (“Frei”) alinhou no Partido Evolucionista (de António José de Almeida que fez vir a Viana do Castelo e de quem morreu como adjunto) e Teófilo Carneiro,
embora sempre moderado, alinhou no Partido Democrático de Afonso Costa, tendo
sido deputado em duas legislaturas23.
Teófilo Carneiro só escreveu um livro de poesias, editado postumamente com este
mesmo título em 1952, como colecção do seu espólio poético. Aí vemos a lenta mas
segura formação do seu estro simbolista, através, porém, dum percurso que nunca
enjeitou a tradição quinhentista, nomeadamente dos poetas do Lima. É o caso, inclusivamente, das bucólicas virgilianas, adoptadas por via quinhentista (“Pastor de
ovelhas me sonhei um dia”, “Tinha zagala e cão, mundos de amor…”)24 e outras
sugestões clássicas, inclusivamente a preferência pelo soneto. A presença de Diogo
Bernardes não precisava Teófilo de a denunciar25, como com acerto afirmou António
Manuel Couto Viana26. Êxito continuaram a ter, porém, os temas decadentistas como
a morte, que motiva dois belíssimos sonetos muito sentidos à sua esposa, falecida an-
D. Tarroso 1881: III.
Apd D. Tarroso 1881: V.
Apd D. Tarroso 1881: VIII-IX.
(22)
J. Rocha 1901: 75-76.
(23)
A.A. Abreu História de Viana do Castelo, 3 (3), 124-125; J.C.O. Martins 2008: 339b.
(24)
T. Carneiro 1952: 61.
(25)
T. Carneiro 1952: 34.
(26)
A.M.C. Viana 1979.
(19)
(20)
(21)
44
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
tes dele e ainda mais na flor da idade27. Obra dum poeta que fez o trajecto através do
simbolismo, Carneiro define-a pela sua “voz ausente”, rosto “da cor das rosas brancas
ao poente”, e que, quando cantava, “dava ao chorar um som dif’rente”. Seu coração
era um jardim de rosas “a cair de sono” e “Tinha o ar duma orquídea ao abandono, /
Um ar de lenda”.
A linguagem nefelibata, ao gosto de Eugénio de Castro, compraz-se nos ambientes
orientais, na joalharia exquise, no requinte descritivo com recurso a clichés e personagens de raças exóticas28. Assim Teófilo descreve a beleza peregrina duma mulher qualificando-a de aragonesa, e comparando-a a Helena de Tróia e, excepção notável num
ambiente limiano com rumores do rio e gorjeio de aves, por ser bela como uma pomba: bela mas sem saber cantar29. A metáfora é erigida, ou complexificada, até ao nível
do símbolo e recorre-se frequentemente a sinestesias. Ao contrário do positivismo da
literatura realista e seu prolongamento parnasiano, abundam agora as prosopopeias
e animizações da natureza como a que ditou a Teófilo Carneiro o belo verso “Os rios
são poetas a cantar!”30 Os choupos “dizem segredos trémulos à terra” e as noras tiram
cá para fora a dor da terra, que não pode sem lágrimas dar pão31. Toda a natureza é
animal, e por isso também morre32. Mas já é simbolista a evocação da agonia da tarde,
com um sol pálido e triste, que parece que “ia esconder-se p’ra chorar!”, uma “lua de
gelo”, “o vento era uma alma a soluçar…” e uma violeta “toda a tremer” a dizer adeus
ao sol. Então, “as rosas começavam a dormir”. Tudo, afinal, simbolizava a tristeza do
poeta. Até “a tarde era uma boca de mulher, / Cansada, fatigada de sorrir!...”33 E, na
poética teofiliana, há uma reversibilidade, por vezes declarada, entre a aurora e o fim
da tarde34. Retoma-se a linguagem de sugestão religiosa, que tinha sido proscrita ou
apropriada pelo jacobinismo, e é com ela que Teófilo Carneiro enaltece a mãe e a mulher amada; os homens continuam a afirmar-se como um Teófilo Carneiro, “sempre
descrente”35. Em oposição ao racionalismo meridiano, aparecem cenários nocturnos
e tenebrosos nos contos de João da Rocha e a loucura, além de tema destes contos,
é a medida teofiliana do amor36. Assim Teófilo Carneiro também fala da loucura do
vento quando agita as ondas, do mesmo modo que põe as folhas a bailar37. Recorre-se
à temática das lendas, nomeadamente das moiras encantadas38. Aparecem os sonhos
e em Teófilo Carneiro um “sonho mutilado”39.
T. Carneiro 1952: 85-87.
T. Carneiro 1952: 26.
T. Carneiro 1952: 67.
(30)
T. Carneiro 1952: 69.
(31)
T. Carneiro 1952: 46, 47.
(32)
T. Carneiro 1952: 13, 14, 31-32. 37.
(33)
T. Carneiro 1952: 74.
(34)
T. Carneiro 1952: 77.
(35)
T. Carneiro 1952: 17.
(36)
T. Carneiro 1952: 19, 20-21.
(37)
T. Carneiro 1952: 57.
(38)
T. Carneiro 1952: 29.
(39)
T. Carneiro 1952: 28.
(27)
(28)
(29)
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
45
O sol celebra bodas com a natureza,
“matrimónio sacrossanto”; o sol é “luminoso criador”; as coisas ficam mais
contentes quando sol as beija; as franças
nos matagais formam “coretos imensos”
onde cantam as aves; os vaga-lumes são
“tigelinhas acesas”; os “místicos” choupos vestem “estolas verde-escuras” com
que “dão ar de igreja aos choupais”. Toda
a natureza é uma festa40.
Já da fase simbolista é o tema –
clássico – do amor adoração, também,
à guisa desta literatura de transição,
transposto em termos simbólico-religiosos e de vassalagem feudal, em relação
a uma mulher, que já não é a amada,
amante ou querida, mas o mesmo amor
(“Tornas-te, assim, amor, santa ou rainha”). E a mulher volve depois “amorperfeito”, quando o poeta (servindo-se,
aliás, dum jogo de metáforas do campo
semântico da cantaria para exprimir
tanto as formas poéticas como o corpo
da amada) reconhece a sua incapacidade para descrever a “luz da perfeição”
que é o seu corpo e alma41.
Medalhão de António Cruz no Passeio 25 de Abril, em
Ponte de Lima. (Foto José Mesquita)
Na diegese teofiliana, a doença torna-se símbolo da paixão por também ela
poder ser curada pela mulher amada42. A paixão, a sede de amor, é um “temporal
desfeito”, que avassala o coração dentro do peito. E aquilo por que um homem anseia
é por uma paixão correspondida e sentida: “Se esta me dá seus beijos cor de rosa /
Aquela dá-me o seu deslumbramento / E est’outra sua graça melindrosa”. Mas nenhuma dá ao poeta o sentimento por que suspira43.
A paisagem natural da Ribeira Lima é paisagem que convida ao amor. O Rio Lima
cria ilusões de presenças femininas44. É uma paisagem sensual, com “aroma dos noivados / Como se o ar florisse em laranjal”, muitos elementos sugerem corpos enlaçados,
e a terra parece um leito conjugal; os píncaros dos montes são “redondos como seios”
e o Rio Lima avança “em lúbricos coleios”45. As “oliveiras / são monjas a cantar salmos
T. Carneiro 1952: 50-55.
T. Carneiro 1952: 60, 63.
T. Carneiro 1952: 68.
(43)
T. Carneiro 1952: 71.
(44)
T. Carneiro 1952: 79.
(45)
T. Carneiro 1952: 75.
(40)
(41)
(42)
46
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
aéreos”. No longe da paisagem, “as carvalheiras / São névoas verdes, são… fumos etéreos”; “anda o silêncio a fecundar mil gritos / Há pela terra ensaios de lamentos…”,
e “Os cravos encarnados, cor de sangue, / Falam de crimes, falam-nos de horrores”46.
À noite, “o luar é leite e a lua branca um seio”. Sob ela, o Lima encontra-se “preso
em doce enleio”. E voltamos à sugestão religiosa e litúrgica com que os nefelibatas
combateram a irreligiosidade jacobina que deu suporte à escrita naturalista e realista: todo o cromatismo se converte ao preto e branco, “O verde de esmeralda toma
uma cor lunar “ e toda a natureza assume, afinal, uma postura mística e religiosa47.
E, ao contrário da lua foice de João da Rocha, mas seguindo a mesma lógica, Teófilo
Carneiro refere-nos “seios que são luas / Luas de amor em carne enluarada”48. Excepcional nos nossos poetas é o tema da neve, que Teófilo Carneiro não enjeita. Erigida à
categoria de símbolo, a neve descolora todo o verde do Minho “sob a algidez nevada
dos cristais”; até elas, “palidamente as folhas vão caindo […] num tremor gelado”.
Nesta desolação, porém, os tordos cantam, mas “em concertos de notas tiritantes”.
Esta brancura da neve, que tudo domina, também traz as sensações místicas e agradáveis: um “alvor suavíssimo de sedas” (releve-se a aliteração), “a relva tem desmaios
de loucura”, e a neve cai “como poeira mística e suave, / Que a terra vem sarar”; e a
brancura da neve sugere-lhe paisagens da Grécia Antiga pelo poeta já vividas e protagonizadas, onde vai “cantando nardos e verbenas”49.
No mar dos olhos da amada (“mar castanho”) o poeta vaga os seus “olhos pálidos”,
que se prendem às ondas desse mar num enleio que é sofrimento (“tortura”)50. Mas,
como símbolo que são, esses olhos podem também ser azuis. Neste caso, ela “traz o
céu nos olhos a brilhar”. E o símbolo desdobra-se depois numa série de metáforas de
matriz teológica, segundo as quais ela (mulher senhora) exigiria “graça divina” a quem
não pode corresponder mais do que com “trémulos de prece”51.
Depois do sentimento de crise finissecular, sentido intensamente na literatura, na
passagem do século XIX para o século XX, a reacção anti-positivista exprimira-se por
atitudes profundamente disfóricas até mesmo de desespero e niilismo. Na primeira
das Angustias de João da Rocha (“Na terra”), o cenário era, ainda ao gosto ultraromântico decadentista, o dum castelo junto ao mar, em noite de tempestade e com
o gemido dum piano, “uma lua em foice”, no qual conversam dois amigos, situados
nos extremos da condição social – um rico e um pobre. Seguindo o decorrer da conversa, descobrem que “a vida é um vasto mar: vagalhões, cóleras, correntes, espumas,
redemoinhos, naufrágios” e verificam que felicidade se não encontra em nada daquilo
que está ao alcance dos homens, mais remoto ou mais próximo, mais profunda ou
mais corriqueiramente ético: nem no crime, nem na ciência, nem na ilusão, nem no
arrependimento, nem na inconsciência, nem no isolamento, nem na penitência, nem
T. Carneiro 1952: 45.
T. Carneiro 1952: 78.
T. Carneiro 1952: 25.
(49)
T. Carneiro 1952: 42-44.
(50)
T. Carneiro 1952: 62.
(51)
T. Carneiro 1952: 64.
(46)
(47)
(48)
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
47
no amor, na resignação, na paciência, ou na virtude52. O conto
“Vontade” começa por um incesto e trata da morte e do domínio
dum malvado sobre inocentes53.
Sobre a morte versa também o
conto anterior, “A velha”54. E em
Teófilo Carneiro o berço sugere a
tumba, o cemitério55.
O conto “A suggestão”56 passa-se num hospital de doentes
mentais, uma das quais, “somnambula”, suscitou particular
atenção do médico (Armando),
que até lhe chamava “namorada
platonica”. Subjaz-lhe a crença
de que entre as pessoas flui uma
comunicação como de fluidos
magnéticos. Quando a sonâmbula estava para morrer, Armando
tê-la-á sugestionado a que, depois
de morta aparecesse à meia-noite
como se estivesse viva, perante
todo o corpo clínico; e ele acreditou que tal seria possível, apesar
de o velho professor – positivo –
ter denunciado esta experiência
como “perigosa, anti-scientifica e
sobretudo muito cruel”. Todavia,
João da Rocha. Crayon de António Carneiro
ela apareceu à meia-noite, mas
envolta num lençol. Ninguém, a
não ser o velho professor se arriscou a lhe levantar o véu, dizendo: “Os mortos não
fazem mal. Vou vêr”. Verificou-se, então, que não era a sonâmbula, mas a sua vizinha
da cama ao lado, a quem ela teria sugestionado a cumprir a impossível promessa feita
à sugestão de Armando. É este mundo das profundezas da mente humana que agora
se torna assunto literário. Quão longe estamos de A relíquia, cujo cenário começa em
Viana do Castelo no fim do século XIX!
J. Rocha 1901: 14, 19-22.
J. Rocha 1901: 43-57.
J. Rocha 1901: 27-41.
(55)
T. Carneiro 1952: 30.
(56)
J. Rocha 1901: 59-70.
(52)
(53)
(54)
48
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
Inscreve-se também na onda anti-positivista o pantiteísmo de Cunha Seixas, em
muito paralelo à apologética retórica do Pe Sena Freitas57. Ora, o pantiteísmo é um dos
temas da conversa entre Maurício e Manoel na primeira das Angústias (“Na terra”) de
João da Rocha. Para Manoel, “a lua é Deus”, a maré é “Deus que devaneia e Deus que
se concentra, o adormecer e o despertar, […] baixa-mar e preamar”58. Vemos idêntica concepção na defesa do homem interior em várias cartas de Antero de Quental.
No anti-positivismo de Domingos Tarroso, também a partir do “pré-átomo” se chega
até Deus através da consciência humana. E Tarroso voltou à carga em O monopólio
da ciência oficial. Um dos efeitos poéticos destas concepções foi o recurso a símbolos
religiosos, as referências temáticas ou pelo menos tópicas à morte, o satanismo como
o de Fradique Mendes, o retomar do tema também satânico de D. João (como em A
morte de D. João de Guerra Junqueiro), i.e., grande parte do fundo e forma das Prosas
bárbaras de Eça de Queirós, a primeira prosa poética da língua portuguesa, que ainda
não é pré-simbolista, por ser preferencialmente ainda tardo-romântica59.
Já em Transfigurações (1882) António Feijó apresentava a natureza como redentora e nas Líricas e bucólicas (1884) essa mesma natureza aparece animizada, embora
raramente se ultrapasse a barreira do símile, ficando-se Feijó pela metáfora, sem atingir o símbolo, pelo que Líricas e bucólicas se integra muito melhor no parnasianismo do
que na poesia dos vates nefelibatas60.
Na passagem do século XIX para o XX, em função da vigência das correntes anti-positivistas desenvolve-se a pesquisa e a literatura hermética de carácter mediúnico
e similares, de que foram epígonos, entre tantos homens célebres, Fernando Pessoa e
em Viana do Castelo João da Rocha, autor dumas Memorias de um “médium” (1900),
que chegou a pertencer ao círculo esotérico de Papus. Em Angústias, Rocha coloca na
boca de um dos personagens (Manoel de “A terra”) a tese da evolução linear e infinita
e da transmigração do espírito do homem: “A sua vida propria […] donde provém?
De outras vidas mais rudimentares. Em que se transforma, depois da morte? É de crer
que em outras vidas, superiores talvez, até que o cyclo ascendente se feche, no infinito do tempo e do espaço, na mesma essencia divina. É esse, deve ser esse, o fim da
creação”.61 Correspondendo a esta ordem de preocupações, fundou-se em Lisboa em
1913 o jornal Novos horisontes, que se definia, no complemento de título, como “jornal da élite intelectual da sociedade”. Dirigia-se aos “espiritualistas” e “psiquistas”. A
partir do nº 38, transformou-se num periódico vianense, com redacção na Vila Esfinge, mas alterando o complemento de título para “revista geral das sciencias psíquicas”.
E os temas que, segundo o próprio cabeçalho, se propunha tratar eram: “Sciencia da
Vida, Psicologia, Filosofia, Magnetismo, Hipnotismo, Espiritismo, Ocultismo, etc.”.
Sem publicidade, este jornal teve uma vida difícil: no nº 39 (1915), a sua composição
e impressão passou para as oficinas Modelo e no último número publicado (43-44,
1916) a respectiva redacção localizava-se na Rua das Rosas, 6162.
J.C.S. Pereira 1975: 105.
J. Rocha 1901: 14, 15, 25-26.
J.C.S. Pereira 1975: 107-109.
(60)
J.C.S. Pereira 1975: 115-116.
(61)
J. Rocha 1901: 15.
(62)
R.A.F. Viana e A.J. Barroso 2009: 410.
(57)
(58)
(59)
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
49
Obras citadas
A ALVORADA DE 31 DE JANEIRO
1891, A alvorada de 31 de Janeiro, 2ª ed., Porto, Typ. da Empreza Litteraria e Typographica;
CARNEIRO, Teófilo
1952, Poesias, Ponte de Lima, Tip. Avelino Guimarães;
MARTINS, José Cândido de Oliveira
2008, Dr. Teófilo Carneiro, in “Figuras limianas” coord. José Gomes de Abreu, Ponte de Lima, Município de Ponte de
Lima, p. 339-341;
PEREIRA, José Carlos Seabra
1975, Decadentismo e simbolismo na poesia portuguesa, Coimbra, I.A.C. Centro de Estudos Românicos;
PEREIRA, José Esteves
1998, A natureza em Domingos Tarroso, in “O pensamento de Miguel Reale: actas do IV Colóquio Tobias Barreto”,
Viana do Castelo, Câmara Municipal, p. 357-366;
REIS, Jorge
1988, Aquilino em Paris, col. “Outras obras”, Lisboa, Vega;
ROCHA, João da
1901, Angustias, Famalicão, Typ. Minerva;
TARROSO, Domingos
1881, Filosofia da existência: esboço sintético de uma filosofia nova, apresent., fix txt José Couto Viana de Carvalho,
S.l., Estratégias Criativas, 2008;
VIANA, António Manuel Couto
1979, Teófilo Carneiro, in “Poetas minhotos, poetas do Minho”, Viana do Castelo, Câmara Municipal, 2, p. 357-362;
VIANA, Rui Alberto Faria; BARROSO, António José
2009, Publicações periódicas vianenses, pref. Defensor Moura, Viana do Castelo, Câmara Municipal;
50
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
51
Lugar do Carvalho
Correlhã
4990 PONTE DE LIMA
Tlm. 912 188 011
Tlm. 914 633 134
52
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
53
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O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
A TOPONÍMIA EM PONTE DE LIMA DURANTE
A PRIMEIRA REPÚBLICA
José Velho Dantas
Uma das maneiras para entendermos
os homens, as terras e as épocas em que
viveram é certamente através da toponímia, dos nomes que foram atribuídos
aos lugares, aos caminhos, encruzilhadas,
becos, azinhagas, praças e avenidas. Nos
nomes destes espaços estão sempre plasmadas as histórias, as ânsias e as referências de uma dada era.
Segundo o relato bíblico das Origens,
Deus outorgou ao homem o poder de nomear os outros produtos da criação e a verdade é que, a partir desse momento primordial, jamais o ser humano abdicou dessa
prerrogativa. Começou com os animais dos
campos e com as aves dos céus mas depressa foi estendendo o sortilégio de dar nomes
a toda a fábrica humana, atingindo a mais
complexa de todas: a urbe.
Ponte de Lima, burgo de implantação medieval, desde cedo criou uma toponímia,
que foi evoluindo com o tempo, que foi depositando diversas camadas, sobrepondose as mais recentes às anteriores, sem que, felizmente, alguns dos nomes mais antigos
tenham deixado de penetrar, como por poros, até às mais novas películas. Designações
de elementos e marcos naturais e paisagísticos, que deram lugar a designações de actividades e profissões, que deram lugar a designações de personalidades e eventos políticos, que deram ainda lugar a outras designações de personalidades e eventos políticos.
O tempo da Primeira República foi, de um modo geral, por motivos políticos e de
afirmação da nova ideologia e dos seus promotores, uma época fértil em alterações e
criação de nova toponímia. Esta vila junto ao Lima não ficou alheia a esse fenómeno,
bem pelo contrário. As Actas Camarárias, reflectindo de resto uma das atribuições
da autarquia, que consistia na faculdade de determinar a denominação dos espaços
públicos, constituem a fonte mais rica de informações sobre este assunto.
Ainda no mesmo mês que assistiu ao advento da República em Portugal, mais precisamente a 22 de Outubro de 1910, foi aprovada, em sessão da Comissão Municipal
Republicana1, uma proposta do vice-presidente Francisco Pereira Campos cujo propó(1)
Livro das Actas da Câmara Municipal de Ponte de Lima, 1908-1911, fls.198v-199
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
55
sito era obliterar as designações de todas as artérias e espaços que tinham sido baptizados na época da Monarquia Constitucional com o nome de vários representantes da
Família Real, substituindo-os por datas, acontecimentos e personagens relacionadas
com a República. Para as novas autoridades locais, o novo programa toponímico constituía um modo de registar “um facto singularíssimo da nossa história contemporânea, e ao
mesmo tempo era a justa consagração de alguns dos cidadãos mais beneméritos no serviço
patriótico da redempção de Portugal.”
Sucedendo ao antigo Largo dos Açougues, A Praça da Rainha devia o nome a D.
Maria II, a quem os liberais triunfantes quiseram homenagear quando o Município,
em 1840, decidiu inaugurar o largo fronteiro aos Paços do Concelho, para embelezar
a vila e dotá-la de um espaço que funcionasse como mercado no período das cheias2.
Passou a chamar-se Praça da República.
A Avenida D. Luís Filipe, assim decidida baptizar pela Câmara, num estranho
augúrio, a 05 de Outubro de 19013, “como memória de tão honroso acontecimento”, que
foi o da visita à localidade, poucos dias depois, de Sua Alteza Real o Príncipe, “herdeiro
presuntivo do trono português”, tomou o nome de Avenida Cinco de Outubro.
A Rua D. Luís I, assinalando a presença na vila daquele monarca a 30 de Junho de
1872 e a sua anuência perante a abertura de uma estrada que o povo e os edis limianos
reclamavam para unir Ponte de Lima e Barcelos, adoptou o nome de Rua Trinta e Um
de Janeiro, efeméride republicana que lembrava a sublevação militar fracassada no
Porto em 1891.
O Passeio D. Fernando foi mudado para Passeio Cândido dos Reis, em homenagem
ao almirante que logo após a implantação da República foi elevado à categoria de
mártir da Pátria.
Para a Rua D. Pedro chegou a ser sugerida, pelo vogal Bento Gonçalves Pereira,
a designação de Rua Tito de Moraes4, na altura 2.º Tenente da Marinha, “uma das
figuras em destaque na heróica e gloriosa jornada daquele memorável dia, e filho de um
nosso ilustre conterrâneo”. Todavia, o autor da proposta inicial frisou que, seguindo
as orientações de diversas municipalidades do país, entendeu ser aconselhável não
incluir na nova toponímia nomes de pessoas ainda vivas, salientando que tal postura
não pressupunha “menos consideração para com o valente e ilustre marinheiro”. Ficou a
mencionada Rua D. Pedro a chamar-se Rua José Falcão, em memória do reputado
matemático, autor da “Cartilha do Povo” e arauto das ideias republicanas nas últimas
décadas do século XIX.
Motivações de cariz político continuaram na génese das alterações à toponímia.
Em 02 de Janeiro de 1919 foram aprovadas a passagem da Rua do Rosário a Rua
Presidente Sidónio Pais e a passagem da Rua Formosa a Rua Primeiro de Dezembro
de 16405. No ano seguinte, fazendo já tábua rasa do argumento de só consagrar os
Miguel Roque dos Reis Lemos, Apontamentos para as Memórias das Antiguidades de Ponte de Lima, fls. 288-290.
Livro das Actas da Câmara Municipal de Ponte de Lima, 1898-1902, fl. 168.
Tito Augusto de Morais, filho de Manuel do Carmo Rodrigues de Morais, foi encarregado de tomar o comando do cruzador São
Rafael, dirigindo entre os dias 04 e 05 de Outubro todas as operações militares que o navio teve de levar a efeito no rio Tejo até à
Proclamação da República.
(5)
Livro das Actas da Câmara Municipal de Ponte de Lima, 1918-1923, fl.77v.
(2)
(3)
(4)
56
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
mortos, é deliberada, em 17 de Abril de 19206, no seguimento de uma proposta do
vereador Casimiro Gonçalves, a passagem da Rua José Falcão a Rua General Norton
de Matos, “porque além de dilecto filho desta terra e ter nascido nesta rua, é uma glória da
Nação, é um dos vultos mais proeminentes da República Portuguesa”, atribuindo o nome
daquele à Rua da Abadia. Mais tarde, a 12 de Fevereiro de 19217, é decidido que ao
Largo de São João “seja dado o nome de Largo de Treze de Fevereiro, data comemorativa
da Restauração da República no Norte do País”.
Não se pense, porém, que a sede de assinalar e perpetuar a nova situação política e
os seus protagonistas foi o único factor a guiar o modo de nomear os espaços públicos.
Nem todas as modificações foram ditadas pela frescura dos acontecimentos políticos.
Se a toponímia pode servir como instrumento para apontar o porvir, a verdade é que
sempre constituiu uma ferramenta eficaz para caucionar e evocar o passado. Ponte
de Lima, terra antiquíssima e de pergaminhos, sempre se vangloriou da sua história
multissecular. Os dirigentes camarários da época da Primeira República tiveram esse
facto muito presente na consciência.
É assim que, imbuídos desse espírito, deliberam, em sessão de 27 de Dezembro
de 19138, “para não se apagar de todo a memória da praça-forte que fora Ponte do Lima,
cercada de muros, torres e portas, segundo a traça do fundador D. Pedro I”, que a então
Rua de São José passasse a denominar-se Rua da Torre de São Paulo, a da Cadeia se
chamasse Rua da Porta Nova e se designasse como Largo da Picota “o pequeno largo
existente em frente das escadas que dão acesso para cima do muro e confina com a rua da
Matriz”.
Este gosto por espaços e monumentos que trazem o sabor de outras eras e que
ajudam a fortalecer o sentimento de apego dos habitantes ao lugar das suas raízes e do
seu quotidiano é também comprovado na própria vontade manifestada pelo recémempossado presidente Joaquim de Azevedo Medeiros Lima a propósito do pelourinho,
cujas peças se encontravam dispersas por vários locais da vila. Na reunião de 07 de
Novembro de 19189 o novo representante máximo do poder local, após traçar um historial do antigo “instrumento e símbolo da jurisdição municipal”, bem devedor por sinal
das páginas de Miguel Roque dos Reis Lemos, propõe que os diversos componentes
do pelourinho sejam coligidos para o mesmo poder ser colocado “no pequeno largo que
existe por cima da fonte da Praça da República.”10
Se a toponímia une a história ao presente através da sinalização e rememoração
de antigas referências espaciais e de antigos eventos, a verdade é que também o faz
lembrando as figuras grandes do passado da terra. A melhor oportunidade que a este
respeito surgiu foi a abertura da actual Avenida António Feijó e da série de ruas perpendiculares que nasceram associadas a essa artéria principal da parte nova da vila,
Livro das Actas da Câmara Municipal de Ponte de Lima, 1918-1923, fl.148v.
Livro das Actas da Câmara Municipal de Ponte de Lima, 1918-1923, fl. 191v.
Livro das Actas da Câmara Municipal de Ponte de Lima, 1913-1915, fl. 53v.
(9)
Livro das Actas da Câmara Municipal de Ponte de Lima, 1918-1923, fls. 57-57v.
(10)
Esta intenção, que só se materializará mais tarde, remontava de resto ao momento em que o pelourinho fora desmontado e
retirado do areal, em 1857. Ver Miguel Roque dos Reis Lemos, Apontamentos para as Memórias das Antiguidades de Ponte de
Lima, fls. 52-54. Cf. Anais Municipais de Ponte de Lima, Ponte de Lima, 2003, 3.ª ed., pp.132-135.
(6)
(7)
(8)
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
57
ao princípio ainda designada na documentação como “avenida nova” ou “avenida
central”. Era forçoso dar nomes a esta realidade urbanística emergente e assim aconteceu com uma proposta da lavra do presidente Francisco Malheiro Pereira Peixoto,
na sessão de 20 de Março de 191811, que não resistimos a transcrever na íntegra, dada
a sua riqueza informativa e até literária, uma verdadeira pérola na escrita quase sempre árida e estereotipada das actas camarárias:
“Por fim o Sr. Presidente apresentou a seguinte proposta, que foi aprovada: «Os homens notáveis, se dão brilho e honra à nação a que pertencem e à época em que viveram,
são sobretudo motivo de justificadíssimo orgulho das terras onde nasceram. Relembrar e
glorificar os seus nomes é dever sacratíssimo e imprescindível daqueles que têm por obrigação fomentar o desenvolvimento material e moral das localidades. Ponte do Lima, que tem
sobejo motivo de ufanar-se de uma gloriosa plêiade de filhos seus, que através dos tempos e
do mundo souberam honrar o nome português na terra que lhes foi berço, tem, a respeito
de muitos deles, cometido uma grande falta de gratidão, não lhes comemorando os feitos e
não lhes perpetuando a memória pela única forma que o pode fazer: - dando os seus nomes
às ruas da sede do concelho – para que esta simples e modesta consagração os lembre aos
seus actuais concidadãos, e lhes sirva de estímulo e exemplo. E assim o grande diplomata
e estadista António de Araújo e Azevedo, Conde da Barca, representante de Portugal em
(11)
58
Livro das Actas da Câmara Municipal de Ponte de Lima, 1915-1918, fls. 198v-200.
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
França e Ministro de Estado numa das épocas mais agitadas da Europa, geralmente louvado e apreciado, natural da freguesia de Sá. O audaz descobridor da Terra Nova, João
Álvares Fagundes, da Casa do Outeiro, freguesia de Moreira12. Inácio Perestrelo, natural
de Arcozelo, o discreto conspirador, ardente e convicto liberal, a quem a ameaça de morte
infamante não conseguiu amortecer o ardor das convicções e deu a vida pelos princípios que
abraçara. Os Marqueses de Ponte do Lima, que desde as fortalezas de Arzila às campanhas
napoleónicas, desde a corte de Afonso V até à de José I, ilustraram a pátria portuguesa com
feitos heróicos e ditos de agudo espírito. Os irmãos Malheiros (Lourenço e Estevão), que
com risco de vida levantaram na vila voz por D. João I contra Castela e abriram as portas
do castelo aos portugueses. Vasco Martins de Melo, natural da Correlhã, companheiro de
Nuno Álvares, presente na tomada de Ponte do Lima, onde evidenciou o seu bom coração e
generosidade, e que havia de morrer, vítima da sua temeridade, na batalha de Aljubarrota,
como esforçado e leal cavaleiro que era. O padre António Pereira, da rua do Postigo, erudito
oratoriano, sábio teólogo, conceituado humanista, convicto liberal, acérrimo defensor das
regalias da Coroa, deputado às Cortes de 1820. Doutor João de Abreu Maia, natural de
Arcozelo, fundador da Sociedade Económica de Ponte do Lima, fomentador das reformas
pombalinas nesta região, e que toda a vida trabalhou em favor da grandeza da sua terra,
com o exemplo, palavra e autoridade. Correia Caldeira e Joaquim Silvestre de Sousa, ambos
nascidos na rua do Carrecido, o primeiro político, estadista e deputado às Cortes de 1820,
(12)
Francisco Malheiro Pereira Peixoto faz aqui eco de uma tradição, segundo a qual o navegador João Álvares Fagundes, nativo de
Viana do Castelo, seria da Casa e Quinta do Outeiro, em Moreira do Lima.
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
59
o segundo poeta e liberal, autor da única tradução existente do Lutrin de Boileau. E, para
finalizar, o grande Cardeal Saraiva, que todo o país venera e conhece, que com os seus
vastíssimos conhecimentos de história e filosofia, de filologia e arqueologia, é sobejamente
notável pelas suas obras, como um dos maiores vultos literários e políticos do século XVIII,
nascido também na rua do Carrecido desta vila.
Considerando portanto que só o último recebera a consagração, dando-se-lhe o nome da
rua em que nasceu e que mesmo a este, visto só existir o local da rua, é necessário glorificar
condignamente o seu nome, proponho que a nova avenida seja chamada Avenida Cardeal
Saraiva; que a rua que liga esta ao largo da Matriz, se chame Rua Conde da Barca; que
a rotunda onde esta finda se chame Praça Inácio Perestrelo; que a primeira travessa da
Avenida para a Lapa se denomine Rua dos Irmãos Malheiros; a travessa fronteira, que liga
a Avenida às Pereiras, tome o nome Rua Vasco Martins de Melo; que a segunda travessa
do lado esquerdo, quem sobe a Avenida que liga esta com o caminho do Olho Marinho se
chame Rua João de Abreu Maia; que as duas restantes travessas do lado direito quem sobe e
que ligam a avenida com o antigo caminho da Lapa à Graciosa se chamem, a imediatamente
superior à Rua dos Irmãos Malheiro, se apelide Rua Correia Caldeira, e a segunda e última
Rua Joaquim Silvestre de Sousa; que ao Largo da Lapa se chame Terreiro dos Marqueses;
que a rua que liga a estrada de Barcelos com a Avenida 5 de Outubro, junto aos Terceiros,
se fique chamando Rua Padre António Pereira; que a rua que liga a de Vasco da Gama à
barreira, se chame Rua Álvares Fagundes; e que finalmente, em virtude de na antiga rua do
Carrecido terem nascido tantos conterrâneos ilustres, proponho igualmente, que a travessa
que liga a Rua Conde da Barca com a de D. Leonel de Lima, para que não esqueça, se
chame Rua do Carrecido.”
Esta proposta tão desenvolvida, a que se juntou posteriormente a figura de Fernão
de Magalhães para nomear a rua da fonte da vila13, constituiu na época todo um programa de homenagem a personalidades distintas de Ponte de Lima nos mais variados
campos do saber e da acção política. A roda do tempo continuou a girar e muitos
destes nomes foram entretanto apagados das placas toponímicas. Felizmente, espíritos
esclarecidos desta Terra fizeram questão de novamente os chamar até nós através da
edição de Figuras Limianas14.
(13)
Livro das Actas da Câmara Municipal de Ponte de Lima, 1918-1923, fls. 207-207v. A proposta do vice-presidente Guilherme Pereira de Castro foi apresentada e aprovada na sessão de 30 de Abril de 1921, na sequência das comemorações do 4.º centenário
da “morte trágica do egrégio navegador” e da hipótese aventada pelo investigador António Baião numa comunicação à Academia
de Ciências de Lisboa, defendendo o nascimento de Fernão de Magalhães no Termo de Ponte de Lima.
(14)
Seria injusto não destacar aqui, entre eles, a figura de João Gomes d’Abreu, o coordenador da obra e autor de muitos dos textos.
Parafraseando Dante Alighieri, valeu “o longo estudo e o grande amor” que desde há muito dedica às coisas limianas e que o
fizeram penetrar neste volume.
60
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
CAMILO E PONTE DE LIMA
- NOTAS PARA UM ROTEIRO
Adelino Tito de Morais
Na década de oitenta do século passado, deslocamo-nos por várias vezes à Casa de
Ceide, esse valioso repositório de recordações do maior romancista português.
Entre a documentação consultada, contavam-se cartas recebidas por Camilo Castelo Branco de vários colegas de letras, amigos, admiradores e outras respostas solicitadas pelo romancista do Amor de Perdição para suas obras em preparação.
Companheiro de algumas dessas viagens realizadas a Famalicão, foi o velho amigo,
Limianista desde sempre, o arqueólogo e Padre Manuel Dias. Outras vezes, foi companhia de viagem o saudoso bibliófilo e Camilianista, José Maria de Oliveira Pimenta,
que completava algumas edições do “desterrado” de Ceide através de fotocópias da
colecção lá existente.
Hoje, volvidos trinta anos, e porque o tempo para elaborar a nossa colaboração
deste ano para “ O Anunciador das Feiras Novas “ é curto, face a outros compromissos com outras publicações também assumidos, deixamos umas ligeiras notas para a
possibilidade dum novo Roteiro Cultural no concelho: Camilo e Ponte de Lima.
Vamos referir-nos a amizades, referências a Ponte de Lima e seu património em
algumas das suas obras, nomeadamente em A Maria da Fonte e nas Estrelas Propícias1.
Convento de Refóios de Lima
(1)
Referências á família do Conde da Barca da Casa de Sá, e o célebre Abade de Lobrigos.
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
61
Entre a correspondência organizada no museu camiliano a partir de 1920, avulta
uma carta do médico António Inácio Pereira de Freitas. Natural das Caldas de Vizela,
foi nomeado médico municipal em Ponte de Lima, onde faleceu em 1905, mas deixando grande saudade entre seus pacientes e numerosos amigos.
A relação de Inácio de Freitas com a nossa terra, ficou registada a letras de ouro,
não só com a sua colaboração em fundar instituições, integrar seus órgãos sociais, ou
deixar seu traço na arquitectura.
O médico foi quem mandou construir o chalett, depois de vendido por sua viúva
denominado de – Villa Belmira – frente à casa dos Norton de Matos, no início do
bairro do Pinheiro.
O eclético edifício foi idealizado pelo clínico no seguimento da sua visita à Exposição Internacional de Paris em 1889, embora tenha sido concluído pelo torna - viagem
José Maria Cerqueira, que no Pará fez fortuna, e nestas paragens mandou construir a
Quinta do Bom Gosto e Vila Marieta, na freguesia da Seara.
Uma carta do médico Inácio de Freitas guardada em Ceide,2 sem data, faz referência a artigos que ele publicara em folhetins.
Tratava-se de “ um aranzel … literatura como em terapêutica, guardar a boca por
muito tempo nem sempre dá bom resultado “.
Camilo, consultou também o clínico de Ponte de Lima por causa da doença que o
atormentava (a cegueira), de acordo com correspondência trocada com outros amigos, a que nos referiremos posteriormente.
De Tomás Mendes Norton3, o pai do General José Mendes Ribeiro Norton de Matos, havia por esse tempo em Ceide sete missivas, datadas de 1885 a 1885.
Tratava-se de recomendar o médico Freitas a Camilo, bem como de convidar o
destinatário a visitar o Convento de Refóios de Lima, onde dizia encontrara telas de
Rafael, entre outro acervo artístico deixado pelos frades.
Ora, não correspondia à verdade tal afirmação, e Camilo nunca corruborou de
tal descoberta, pese embora Tomás Norton tenha publicado uma obra em francês4
sobre a sua descoberta, mas que esteve dezenas de anos guardado nas arrecadações da
Imprensa Nacional.
Outra missiva do abastado proprietário limiano, faz referência a D. Santiago
Garcia de Mendoza, um guerrilheiro galego, que naturalizado português, foi nosso
Consul em Marselha, que casara com uma herdeira da casa do Visconde da Azenha
em Guimarães.
Em Ponte de Lima, Mendoza, pela herança da esposa, foi proprietário da Casa de
Crasto, às portas da vila, e da Quinta do Vilar, na freguesia da Gemieira. Na sede do
concelho, comprara a antiga Casa das Portas de Braga, da família Coelho de Araújo,
e lhe mandou colocar o segundo piso.
Carta número 314, de acordo com o catálogo inserido em Camillo Homenageado: o escriptor da Graça e da beleza. Commissão de
Homenagem posthuma ao fecundo romancista, por José de Azevedo Menezes (Presidente) e outros, Famalicão, 1921, página 69.
Fidalgo Cavaleiro da Casa Real, Comendador de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, nasceu em Viana do Castelo a 31
de Janeiro de 1839, e faleceu na Quinta do Baganheiro, freguesia da Queijada a 1 de Maio de 1920.
(4)
Oeuvres sue les Oeuvres d´Art de Raphael Sanzio de Urbino au Monastére de Refojos de Lima …, Lisbonne, 1888
(2)
(3)
62
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
Villa Belmira / Chalett Dr. Freitas
A título de curiosidade, registe-se, que entre o recheio da casa, em cuja almoeda
participara Guerra Junqueiro, avultava um quadro de Rubens, sabemos há cinquenta
anos ainda na mão de um coleccionador em Nova Iorque.
Outra Figura Limiana que se correspondeu com Camilo Castelo Branco, foi João
Gomes de Abreu e Lima.
Senhor da Casa do Outeiro em Arcozelo, Tesoureiro da Fazenda Pública em Ponte
de Lima, falecido em 1935, deixou entre seus escritos, um folheto sobre a naturalidade
de Diogo Bernardes, afirmando que ele era de Ponte da Barca, também terra natal do
fidalgo de Paço Vedro de Magalhães.
Aliás, o estudo biográfico foi enviado a Camilo nas Feiras Novas de 1886, conforme a carta número 325 do catálogo da casa do romancista.
Deixamos então uns apontamentos para sumário da ligação de Camilo ao nosso
concelho, cujo percurso poderá ser iniciado pela sede, como constatamos, seguindo
por Arcozelo, Refóios de Lima e Sá.
Ponte de lima, Julho 2010
(5)
Camillo Homenageado etc, …página 12.
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
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64
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
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66
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
“um dia inolvidável para a história de ponte de lima”
- A proclamação da república nos paços do nosso concelho
João Carlos Gonçalves
Com este título, fazia manchete o jornal local “O Commercio do Lima” de 8 de
Outubro de 2010, assinalando a proclamação de República em Ponte de Lima, dois dias
após a proclamação a partir da varanda dos Paços do Concelho de Lisboa, difundida para
todo o país através do telégrafo. Quarenta e oito horas depois, da Capital, Ponte de Lima
festejava efusivamente a mudança de regime, no salão nobre da Câmara Municipal.
A notícia da proclamação chegou a Ponte de Lima através dos diários nacionais,
com os jornais a serem avidamente disputados na vila. A ansiedade era grande, enquanto não chegava a confirmação oficial das mudanças operadas em Lisboa.
No entanto, às duas horas da tarde do dia 7 de Outubro de 1910, a sala de sessões
do Município estava cheia de gente, que acedeu entusiasticamente, com uma alegria
incontida ao convite da Comissão Municipal Republicana, constituída pelos senhores
José Barbosa Perre, Francisco Pereira Campos, Bento António Gonçalves Pereira e Albino de Mattos. Foi Francisco Pereira Campos quem lavrou a “Acta da Proclamação”,
com o seguinte teor:
Francisco Pereira Campos que assumiu a Presidência da
Comissão Municipal depois de Barbosa Perre ter sido nomeado Administrador do Concelho.
António José Barbosa Perre, Secretário da Comissão
Municipal Republicana e Administrador do Concelho.
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
67
“Aos sete dias de Outubro de 1910 e
segundo da proclamação da República
Portuguesa, compareceram nos Paços do
Concelho a Comissão Municipal Republicana representada pelos seus membros,
os cidadãos António José Barbosa Perre,
Francisco Pereira Campos, Bento António
Gonçalves Pereira e Albino de Mattos e
grande massa de cidadãos. Da cerimónia,
esteve ausente o seu Presidente, Sr. Manoel José d’Oliveira, ausente do concelho.
Como não estivesse presente nenhum dos
membros da vereação resolveu-se hastear a
bandeira vermelha e verde, com o dístico
Pátria e Liberdade e marcar para o dia seguinte a entrega e representar este acto a
proclamação do novo regime.”
Finalizado o acto de proclamação,
usou da palavra Artur Cunha, cuja intervenção foi muito aplaudida pelos presentes, que reproduzimos na íntegra:
“Cidadãos:
Não sou orador, nem é preciso sê-lo
quando as palavras são sinceras e as dita
o coração. O acto a que acabais de assistir
é grandioso na sua singeleza e generosidade. Não é um acto de torpe vingança de
Notícia de “O Commercio do Lima” sobre a proclamação
que seriam capazes os nossos adversários
da República em Ponte de Lima.
mas sim o resultado fatal da emancipação
do espírito português por tanto tempo alçapremado aos desígnios da reacção e das ditaduras. Somos enfim livres. Mas não deveis esquecer que a nossa liberdade custou muito
sangue aos heróicos defensores da nossa causa. É pois sobre esse sangue que ainda
quente borbulha pelas calçadas de Lisboa que nós devemos prestar o nosso juramento
de fidelidade à República. E agora que o último Bragança deve ir a caminho do desterro lembrai-vos que mais do que nunca precisamos de conglobar os nossos esforços
para o ressurgimento desta terra portuguesa, e para que aos olhos do mundo inteiro ela
volte a ser digna da memória dos seus antepassados.
Viva a Liberdade!
Viva a República!”
68
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
Por seu turno, António José Barbosa Perre, decano dos republicanos pontelimenses
e secretário da Comissão Municipal, fez a seguinte alocução:
“Cidadãos:
Na ausência do Presidente da Comissão Municipal Republicana, eu como secretário, assumo esse lugar e declaro que viemos aqui, para, com o vosso concurso, assistirmos a que hasteie o novo símbolo da nossa pátria, implantando neste heróico e
legendário país a República Portuguesa.
Viva a Pátria e a Liberdade!”
A acta da proclamação foi assinada pela Comissão Municipal Republicana, pelo
Juiz da Comarca e, depois, por todos os presentes na cerimónia.
Após o hastear da bandeira republicana nos Paços do Concelho, que foi acompanhado pela execução do hino nacional – A Portuguesa, interpretada pela Banda dos
Artistas, e por uma salva de tiros, organizou-se um cortejo que percorreu as principais
ruas da vila de Ponte de Lima, sempre acompanhado pela música da Banda, que interpretou várias vezes o hino, que hoje é um dos símbolos da nacionalidade. As ruas pelas
quais passou o cortejo foram: Boaventura José Vieira, Rua de D. Pedro, Rua António
Feijó, Rua João Rodrigues de Morais, Largo Dr. Magalhães, Rua do Souto, Largo da
Matriz, Rua da Abadia, Largo de Camões, Rua do Rosário, Largo de S. João, Rua Vasco
da Gama e bairro de Além da Ponte.
Ainda nos Paços do concelho foi lido um telegrama emitido pelo Governo Civil
de Viana do Castelo, dando conta da proclamação da República, no Salão Nobre dos
Paços do Município de Lisboa, no dia 5 de Outubro de 1910, pelas 11 horas da manhã,
tendo sido constituído o Governo Provisório, liderado por Teófilo Braga.
À noite, cerca das 10h00, no “Hotel do Passeio”, os republicanos participaram num
banquete onde convergiram “todas as classes (…) notando-se uma promiscuidade deveras interessante de todos os elementos sociais”, relatava “O Commércio do Lima”
que, sobre o ambiente vivido durante o repasto sublinhava: “A Portuguesa, entoada
delirantemente por todos os assistentes a cada passo, fazia vibrar de emoção o coração
de todos aqueles que bem compreendiam o alto significado desse hino entusiasta”.
Durante a celebração, usaram da palavra Candido da Cruz, Francisco Pereira Campos, Guilherme Mata, o jovem Teófilo Carneiro, “um novo cheio de talento e com
ideias modernas”.
As manifestações de regozijo continuaram nos dias subsequentes, envolvendo a população, demonstrando uma grande adesão por parte desta ao novo regime. Era um
momento de esperança, em que se esperavam dias melhores para o futuro. No domingo, 9 de Outubro, a Banda dos Artistas, omnipresente nas festas espontâneas e momentos oficiais que se realizaram em Ponte de Lima, voltou a percorrer as ruas da vila
entoando “A Portuguesa” no que foi seguida por muitos populares. Até ao anoitecer,
no Largo de Camões, actuou interpretando diversos temas do seu repertório.
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
69
No dia 10 de Outubro, segunda-feira, pelas 9h00 da manhã, a Comissão Municipal
Republicana tomou posse, sendo composta pelos seguintes cidadãos: Dr. Manoel José d’
Oliveira, António José Barbosa Perre, Francisco Pereira Campos, Bento António Gonçalves Pereira, Albino de Mattos, José d’ Oliveira Martins d’ Albuquerque e Bernardo de
Oliveira Gomes da Cunha. Como suplentes ficaram Manoel de Sousa Amorim, Anselmo Armando Reis de Sequeiros, António José de Sousa, José Bento de Lima Fernandes,
Avelino Pereira Guimarães, Antonio de Passos da Silva Brito e Manoel José d’ Araújo.
Barbosa Perre, depois da posse, dirigiu-se aos presentes, lendo o seguinte discurso:
“Cidadãos:
Mais uma vez vos convidamos para praticardes um novo acto de civismo que demonstra quanto o nosso bom povo ama a sua até hoje infeliz pátria. Viestes assistir
a este acto solene de posse, que os poderes de outro regímen entregaram à Comissão
Municipal Republicana, representando o governo provisório da República Portuguesa.
Ponte de Lima que em diferentes épocas da nossa história mostrou sempre o seu
anhelo pela liberdade, mais uma vez provou a sua tendência natural.
Digo natural, cidadãos, porque no mesmo nosso povo analfabeto e rude, há pouco
feitio para algemas, e as que se lhe tem querido lançar, ele, de quando em quando, em
diferentes épocas da nossa história, abre os braços com os seus nervos d’ aço e quebra-as
como se fossem simples cadeias de papel.
Postal da “Praça da Rainha”, anterior à proclamação da República.
70
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
Aqui nesta terra, como em todo o país, à excepção da capital, nem uma gota de
sangue correu.
Apenas na capital correu o sangue heróico da nossa raça, em luta de irmãos, porque era lá que a dinastia de Bragança, essa raça proscrita, com a ajuda de iludidos,
tinha concentrado as suas forças. Foi ainda esse passado nefasto, com as suas garras
de hiena e nas vascas da agonia, que quis no seu último estertor sacrificar o nosso
sangue generoso.
Eu, hoje, um velho como vedes, há 30 anos que trabalho pela emancipação desta
pobre pátria.
Os mais velhos dos presentes sabem tanto disso como eu e os mais novos esses criaram-se, vendo-me sempre na brecha, sem um desalento, sofrendo calúnias, aguentando
infâmias, mas sempre firme, tendo por guia a estrela do meu ideal.
Há 30 anos principiei só, nesta terra, a trabalhar, quando aqui o falar em ser-se
republicano, era o mesmo que significar um mau carácter, um matador, um malvado. Vós sabeis a minha vida. Eu nunca fui um mau. Na minha idade sofri meia vida
de sacrifícios, de verdadeiro martírio. Com a saúde de outros tempos, e por querer
explicar-vos os tristes dias reservados à nossa pobre pátria, que eu presentia de uma
forma clara, evidente, palpável, e ainda com as sandices e doestos dos cínicos e egoístas,
a irrascibilidade do meu feitio tremia, e este meu pobre coração crescia, avolumava-se,
e hoje é um órgão molestado.
Apesar de tudo cheguei ao termo da minha viagem ideal.
Agora morrerei com a serenidade do justo, pois deixo esta pátria entregue em mãos
honradas, de verdadeiros portugueses.
Agradeço em nome da Comissão Municipal Republicana a vossa comparência a
este acto, pois que aqui em grande número estais, desde o cidadão juiz de direito até
ao mais humilde operário, e em nome da mesma, cujo quadro completamos com os
cidadãos José de Oliveira Martins d’ Albuquerque e Bernardo de Oliveira Gomes da
Cunha, efectivos e António Passos da Silva Brito e Manoel de Sousa Amorim, substitutos, se assim for vossa vontade, declaramos pela nossa honra que envidaremos todos os
nossos esforços para que o seu procedimento honre a República Portuguesa.
Viva a Pátria e a Liberdade!
Viva a República Portuguesa!”
Finalizado o discurso nos Paços do Concelho, Barbosa Perre dirigiu-se ao pátio dos
Paços do concelho, acompanhado de todos os presentes, onde procedeu à leitura da
Proclamação, nos seguintes termos:
“Cidadãos:
Na quarta-feira, dia 5, foi promulgada a República de Portugal na sala nobre do Município de Lisboa, depois de terminado o movimento da Revolução Nacional, e desde sexta-feira, dia 7, flutua nos Paços deste concelho a gloriosa bandeira desse novo regímen nacional.
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
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Foi aqui aclamada, como em todas as localidades do país, como um símbolo de redenção e de esperança, sendo como tem acontecido em todas as conquistas do progresso,
baptizada no sangue generoso dos seus conquistadores.
Assim, cidadãos, com o coração rejubilante, eu tenho a insigne honra de, na qualidade de cidadão mais velho da comissão que acaba de ser investida no nobre mandato
municipal, proclamar a República Portuguesa e declarar perpetuamente abolida a dinastia de Bragança.”
Estas palavras foram recebidas com uma forte aclamação e vivas à República. Por
outro lado, na Praça da Rainha, justo das escadas que conduziam ao edifício municipal, encontrava-se uma força de Infantaria 3, liderada pelo Tenente Joaquim Augusto
d’ Oliveira que, ao ser hasteada a bandeira Republicana, mandou apresentar armas.
Nesse mesmo momento a Banda dos Artistas entoou “A Portuguesa”, no meio de um
clima de festa, com muitas palmas e vivas. Uma salva de 21 tiros foi queimada e os sinos
das torres da vila tocaram festivamente. A festa continuou até ao final do dia, sempre
animada pela incontornável Banda dos Artistas.
Na quinta-feira, dia 13 de Outubro realizou-se a primeira sessão ordinária da Comissão Municipal, onde se procedeu à eleição do Presidente e Vice-Presidente por
voto secreto. O principal cargo foi atribuído a António José Barbosa Perre, enquanto a
ocupar a vice-presidência ficou Francisco Pereira Campos. Seguidamente, e tendo em
conta que o Presidente deveria assumir, na sequência do convite do Governador Civil,
o cargo de Administrador do Concelho, que se encontrava vago, convidou o Vice-Presidente a substituí-lo, enquanto Manoel de Sousa Amorim ascendeu a Vice-Presidente.
Com a proclamação a “Praça da República”, onde estão situados os Paços do Concelho, tomam o lugar da “Praça da Rainha”.
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Antepaço - Arcozelo - 4990-231 Ponte de Lima
Telefone: 258 942 394 - Fax: 258 943 614
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www .calcadacosta.pt
1939
71 ANOS DE PRESTÍGIO COMERCIAL
2010
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BREVEMENTE TAMBÉM EM
ARCOS DE VALDEVEZ
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EM BUSCA DA «EXPLICAÇÃO HISTÓRICA»
DO ANJO DA GUARDA?
Maria Anabela Tito de Morais
No sentido de tentar dar uma justificação ,«…a opinião largamente divulgada é a de
que uma explicação histórica é aquela que implica uma referência ao passado, de um modo
tal que a distingue de todas as outras espécies de explicações»1. Constata-se muito pouco
deste «conceito», apenas nos elucida para alguns problemas preliminares de representação
de uma tal definição, ou seja, como uma introdução ao pequeno trabalho que nos propomos realizar acerca do « Anjo da Guarda»
Neste estudo, começarei por procurar uma razão causal do tipo comum, baseandome em alguns conceitos ou atributos e depois analisar o comportamento social, que possa
estar implícito na sua construção.
O meu percurso tem início numa visita a Guimarães, ao Padrão do Salado, o que me
levou a redigir estas poucas linhas ao « Anjo da Guarda», pelo facto de encontrar semelhanças na arquitectura dos templos.
Vista integral do Padrão do Salado
Vista integral do Anjo da Guarda
O primeiro, dedicado à Nª Senhora da Vitória ( Fig.1), mandando erigir por altura da
comemoração da Vitória da Batalha do Salado, travada em 1340, segundo documentação
encontrada, foi mandado construir por um vimaranense.
O templo dedicado ao «Anjo da Guarda»,( Fig.2) de momento desconheço documentação escrita que permita constatar a razão pela qual foi mandado construir, nem qualquer
referencia à data de construção. Talvez seja anterior ao Padrão do Salado, em virtude do
seu estilo arquitectónico ter reminiscências românicas.
(1)
Gardiner, Patrick (1984). A Explicação histórica.In Teorias da história. Fundação Calouste Gulbenkian.p436
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Vista de Ponte de Lima, século XVII ( Anjo da Guarda parcialmente destruído). Edição Câmara Municipal de Ponte de Lima,
original encontra-se nos E.U.A.
O que parece mais correcto é que o « Anjo da Guarda» insere-se na arquitectura final do
românico e/ou início do gótico2, pelos quatro arcos ogivais do Galaico – Português, sustentados por delgadas colunas graníticas3, com os capiteis, os cestos que tendem para o arredondado e a sua decoração de diferentes motivos vegetalistas em cada um deles4. As palmetas
estilizadas, os acantos ou as folhas lisas que parecem rematar em botão pouco relevadas.
Cobre o templo uma abóbada cruzada de pedra, rematada por um florão de cariz gótico
mas, talvez reconstruída posteriormente.5 De ressaltar, que na imagem abaixo do século
XVIII, não existe o coruchéu, possivelmente destruído pelas cheias,6 conforme comprova
o desenho da Vista de Ponte de Lima (fig.3), mas parece ter sido reconstruído no mesmo
século. Rematam esta cobertura pilastras, talvez de obras realizadas em 1774/75, a expensas de devotos e do município.
No altar do interior do templo, de frente para o visitante, encontra-se o arcanjo Miguel
(vulgo Anjo da Guarda), em granito policromado possivelmente também do final do século XVIII. Na época estaria patente um mural do arcanjo Miguel ou escultura em madeira?
À direita do espectador, encontram-se alminhas com uma pedra oca, fechada com
uma fenda por onde os devotos e romeiros metem as suas esmolas, que em tempos deveriam ser repartidas a meias com o Prior de Arcozelo, também ele Clérigo da Capela de
Nossa Senhora da Esperança, perto da Torre Velha (Fig.2) e, posteriormente, o clérigo de
Santo António da Torre Velha, com a construção deste templo em 1804-1814.
A razão pela qual foi o «Anjo da Guarda» construído é uma incógnita, conforme acima
referimos. Será que o templo é da mesma época de construção da ponte medieval, ou anterior? O facto de não terem sobrevivido nenhum livro de Vereações da Câmara de Ponte de
Românico tardio que vai aparecendo com aproximações aos elementos góticos e estética gótica. Apenas acrescentamos mais
dois elementos a planta do templo é de cariz gótico, com corpo de corte quadrangular e a forma de organização o espaço modular
com bastante luminusidade.
(3)
Estas delgadas colunas graníticas da região são semelhantes às do portal da igreja matriz de Ponte de Lima. Aqui integram-se
em espessos pilares com sapatas.
(4)
Os capitéis e colunas são muito idênticos aos da porta principal da Igreja Matriz e alguns motivos vegetalistas são os mesmos.
(5)
Também nesta abóboda encontramos semelhanças com a do Padrão do Salado.
(6)
Só muito recentemente as cheias deixaram de causar problemas à vila de Ponte de Lima.
(2)
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O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
Lima, anterior ao século XVI, impossibilita tal descoberta. A data da construção da ponte
gótica , também é em parte desconhecida. O que se sabe é que é D. Dinis quem custeia
algumas obras e é concretizada por D. Pedro I. Partindo da segunda hipótese, de que o
templo é anterior à ponte, parece-nos plausível referir que, possivelmente, seria local de
oração dos romeiros, mercadores, agricultores, funcionários régios , tabeliães e outros, que
entrassem na muralhada7, primeiro pela travessia de barcas (já de si um perigo e solicitar
a intervenção do santo )e depois pela ponte, passando pela Torre Velha (Além da Ponte),
margem direita do Lima, para feiras e festividades litúrgicas.
As feiras, aglutinação de pessoas, sempre foram locais de assaltos, violência e outros perigos. Numa altura em que a religiosidade era rotina diária que permitia a salvação das almas
e protegia os crentes, nada mais natural que o anjo das colheitas fosse muitas vezes o eleito.
Como abordar essa experiência religiosa? Tal facto, exige-nos uma prévia distinção entre
a fenomenologia religiosa, ou seja, a manifestação objectiva da religião e a prática religiosa
desta população limiana, isto é , o seu carácter subjectivo. Assim, religião (do latin re-ligare)
tem por significado ligar de novo. Nesse sentido, procura-se a união do ser humano com
Deus, através do rito e vivência interior, e o templo seria um local dessa relação.
Nesta Idade Média, o ser humano, mais do que nunca, confrontava-se com a sua
própria finitude, isto é, estava condicionado à morte, tendo consciência desse facto, sentindo-se dependente, contingente e limitado, recorria ao seu santo. Além disto, a fome,
a doença, as catástrofes, a dor, a ignorância e a morte geram no ser humano sentimentos
de insegurança, ameaça, insatisfação, fragilidade, angústia e medo, o que mais uma vez,
o leva a uma atitude de reverência perante o santo. Essa relação com o Ser Superior, no
Além, permite ao homem o encontro com a salvação e resolução dos seus problemas .
Se observarmos com alguma atenção, diariamente, mas mais em dias de Feira e Feiras
Novas vêm-se muitos fieis a orar, antes de transporem a ponte, para entrar na vila.O orar
ao santo confere-lhes a direcção aos actos individuais, que passam a inscrever-se num
registo de eternidade.
Aqui ficam opiniões que permitem ao leitor decidir, optando pela que lhe pareça mais
justa. O espectador contempla ambos os templos, e ao interpretá-los colabora na transformação da realidade, e a sua interpretação recria a obra (à sua maneira) e, por conseguinte
,relê a realidade (transfigurando-a).
Bibliografia
Andrade, Amélia ( s.d.) Um espaço urbano medieval: Ponte de Lima, opina que entre os anos de 1376, Ponte de Lima era
uma perímetro recém –amuralhado.p.148
Araújo, José Rosa (1970). Para a pequena História Os Romanos. Limiana. nº7, página Arqueologia Artística.
Barreiros, Padre Aguiar (1926). Igrejas e Capelas Românicas da Ribeira Lima. Marques Abreu.
Guimarães do passado e do presente. 1.ª ed. Guimarães: Câmara Municipal, 1985.
Melo, Maria de Fátima ( 1967). Arqueologia do Concelho de Ponte de Lima. Faculdade de Letras de Lisboa.
Morais,Tito (2002).Como se fundou a vila de Ponte de Lima, salienta que um documento de 19 de Maio de 1370, já faz
referência«…muro e cerca…nove casas torres…». p.21.
Teixeira, Fernando ( 2007). O Padrão e a Oliveira.Guimarães.
Vieira, Augusto ( 1986). Minho Pitoresco. Tomo I. Rotary Club de Valença. 2.ª Edição. Refere-se que duas torres caíram
em 1857,1858.
(7)
Parece que desde o foral D.Teresa se faz referencia a uma cinta de muralhas.
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anjo da guarda
Quem ao longo das serras mais despidas,
Vai ao meu lado, segue passo a passo,
E me leva até ao cimo das subidas,
Sem eu sentir... com o braço no meu braço!
Vem pela noite, quando de cansaço,
A dor e a morte foram esquecidas...
E brilham mais estrelas pelo espaço,
As que eram quase extintas, mais ardidas...
– As árvores apartam do caminho,
Somem-se as pedras quando nós subimos,
Abranda mais e alarga-se o caminho...
Quem é – vejo-lhe os olhos, só... Fulgura!
Leva-me pela mão até aos cimos,
E invisível, aponta-me pra a Altura!...
António Porto-Além
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O RESTAURO DO TEATRO DIOGO BERNARDES
Sandra Baptista de Matos / Mário Leitão
Um edifício teatral encerra sempre duas vertentes patrimoniais: a sua monumentalidade arquitectónica e a multifacetada carga cultural que nele se promove. Para
que esse património se preserve e se torne culturalmente rentável é preciso, quase
sempre, uma intervenção continuada dos poderes públicos, a nível municipal ou da
parte dos governantes. Com o nosso velho Teatro assim aconteceu nos últimos tempos: a Câmara Municipal e a Secretaria de Estado da Cultura deram as mãos, as obras
de recuperação realizaram-se e a comunidade limiana passou a dispor de actividades
culturais diversificadas, muito frequentes e de indiscutível valor para a sociedade1.
Na bibliografia existente sobre a história do Teatro Diogo Bernardes (fundado estatutariamente em 1893 e inaugurado em 1896) são referidos importantes aspectos
históricos da sua construção, sobretudo no que respeita à iniciativa popular e privada
que se congregou para lançar a ideia, elaborar um projecto e construir o edifício2. Os
seus 114 anos de existência foram povoados por momentos de maior ou menor actividade, como cinema, soirées dançantes, bailes carnavalescos, ópera, animatógrafo,
cinema sonoro (a partir de 1932), teatro e récitas, variedades musicais, conferências
e, até, comícios políticos3 4. No entanto, houve muitos períodos de inactividade e
abandono, só interrompidos por diversas iniciativas de populares e de colectividades
que organizavam bailes de Carnaval, récitas e peças teatrais5.
Até o edifício entrar em obras em 1966, já na posse de Aurélio Pereira Fernandes
(Regatal – Arcozelo) ainda havia exibição regular de filmes, tendo ficado na nossa memória “Os Dez Mandamentos”, “Música no Coração”, “Marisol”, “Fernandel”,
“Cantinflas” e muitas outras películas que faziam as delícias da população nas tardes
domingueiras, especialmente quando Os Limianos jogavam fora. No anos lectivos de
64/65 e 65/66 realizaram-se importantes récitas escolares sob a égide do Teatro Académico Limiano6 e, apesar da sua crescente degradação, o cinema e os bailes de carnaval ainda aconteciam mais ou menos regularmente7.
Durante a década de 70, e apesar dos milhares de contos que o novo proprietário
gastara em obras de recuperação, o prédio deixou de ser explorado e entrou em franca
degradação. Passou a ser oficina de serração, carpintaria, armazém de mercearia, espigueiro, dormitório de pombos e ninho de ratazanas. Mas, teimosamente, a movimen-
VIEIRA, Amândio Sousa – Teatro Diogo Bernardes: 1893 -199. In O Anunciador das Feiras Novas. Nº X. Ponte de Lima. 1993.
TITO DE MORAIS, Adelino – Teatro Diogo Bernardes: Um Século de História (1896-2006).
LOUREIRO, Carlos – Memórias: Carnaval em Ponte de Lima. In O Anunciador das Feiras Novas. Nº XI. Ponte de Lima. 1994.
(4)
MOREIRA, Maria Gorete; FERNANDES, Margarida – O Teatro de Amadores em Ponte de Lima. In O Anunciador das Feiras Novas.
Nº XXIII. Ponte de Lima. 2006.
(5)
VIEIRA, Amândio Sousa –O Ressurgimento do Teatro Diogo Bernardes. In O Anunciador das Feiras Novas. Nº IV. Ponte de Lima. 1987.
(6)
O Teatro Académico Limiano foi criado no Externato Cardeal Saraiva pelos finalistas de Teologia João Rodrigues de Sousa e António Oliveira Fernandes, ambos naturais de S. João da Ribeira, com o apoio do Padre João de Oliveira Lopes, sendo director o Cónego
Carlos Francisco Martins Pinheiro, recentemente falecido no cargo de Bispo Auxiliar de Braga resignatário.
(7)
LIMA, Dantas – O Movimento Teatral em Ponte de Lima nos últimos 40 anos. In Revista LIMIANA. Nº 5, Novembro/2007.
(1)
(2)
(3)
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83
tação popular (a mesma força poderosa
que em 1893 lhe deu origem!) fez-se
sentir e em 1986, 1987 e 1988 o prédio
acolheu estrondosos bailes de Carnaval
que deixavam à porta muita gente, porque sempre se esgotava a lotação. Para a
história limiana entraram nesses anos os
nomes de Acácio de Lourdes, António
Guimarães Antunes da Silva (Toneca),
António Abílio Sá Lima, Adinamérico
Fernandes Pinto, Manuel Martins Gonçalves de Magalhães (Néu Eva) e Maria
Alice Vieira Marinho (mulher de Acácio
de Lourdes), como principias motivadores da recuperação das tradicionais verbenas carnavalescas. No baile de 1987,
Amândio Sousa Vieira recordou desta
forma a emoção vivida: “Até o Germano lá estava à porta, eficiente e simpático
como nos bons tempos, a alegria sentida de
tanta gente, que encheu até mais não aqueComissão dos Bailes de Carnaval de 86/87/88: Acácio de
Lourdes, Toneca, Sá Lima, Adinamérico, Néu Eva e Alice
las salas, fizeram que de novo o Teatro, que
Marinho. A esta comissão se deve a recuperação do nosso
muitos de nós pensavam perdido, revivesse
Teatro, como precursores da posterior iniciativa de Acácio
de Lourdes.
de novo…” (In O Anunciador das Feiras
Novas, Agosto/87).
Os bailes tinham dois objectivos bem precisos: arrecadar fundos para os nossos
Bombeiros Voluntários e tentar manter o velho Teatro em funcionamento, ainda que
intermitentemente. Isto não era tarefa fácil, pois já em 1966 o actor Jacinto Ramos
se referia ao seu estado de abandono, “uma pequena maravilha, um traçado idêntico ao
antigo Apolo, mas mais vetusto, repleto de imundícies, sem água… sentindo a emoção do
sacerdote ao tomar conta da sua igreja em ruínas…”8.
A revisão histórica do restauro do nosso Teatro é uma imposição moral, pois existe a tendência de as instituições oficiais e os poderes públicos, por força dos actos
inaugurais, ofuscarem as iniciativas populares, tanto individuais como associativas. É
comum serem os autarcas, os ministros e os presidentes a receber a coroa de louros,
num trono erguido sobre os ombros dos seus concidadãos, feitos súbditos. No caso
presente, a Câmara Municipal, apesar da sua comparticipação de 30.000 contos na
compra do edifício, só merece parte dos encómios, pois igual verba foi concedida
pela Secretaria de Estado da Cultura. Porém, a maior de todas as coroas deveria ter
pousado sob a cabeça da população limiana e dos seus líderes espontâneos que, generosa e sacrificadamente, carregaram sobre si a pesada missão de recuperar um edifício
condenado à ruína. E é especialmente aqui que assenta a razão de ser deste nosso
(8)
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RAMOS, JACINTO – Tem 73 anos o Teatro de Ponte de Lima. Jornal de Notícias. Porto. 11Nov1966.
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trabalho. A história da criação e restauro
do edifício tem sido bastante divulgada e
objecto de estudo de vários autores, mas
há um pormenor da máxima importância
que tem ficado esquecido: à frente dessa
movimentação popular encontrava-se
Acácio de Lourdes, a quem dedicamos
este nosso singelo trabalho.
Discreto e sereno, este homem passou
despercebido nos anais da história limiana. Muitos outros cidadãos foram referidos e merecidamente louvados pelo seu
contributo para esta causa, mas é chegada
a hora de corrigir a lacuna e permitir que
o foco de luz se alargue também ao seu
trabalho persistente e silencioso!
Foi ele que em 1986 lançou a ideia
Dois dias depois do abaixo-assinado entrar na Câmara
dos bailes de carnaval, procurando resMunicipal, o Cardeal Saraiva assumiu declaradamente a
tituir aos seus concidadãos uma tradição
defesa do projecto.
cultural há muito tempo interrompida.
Seis anos mais tarde, de Março de 1992, foi também ele que tomou a iniciativa de redigir um abaixo-assinado dirigido à Câmara Municipal, sensibilizado pelas palavras de
Jacinto Ramos durante a sua passagem pela vila, na representação da sua peça Diário
de Um Louco, 26 anos antes.
Quando começou a recolher assinaturas, Acácio de Lourdes enfrentou a crítica
torpe, a palmada manhosa nas suas costas e o sorriso de desdém de colegas de trabalho
e de amigos. Até um vereador municipal lhe chamou tolo! O mesmo que mais tarde
viria a regozijar-se pela transformação do Teatro no importantíssimo instrumento cultural que hoje temos.
O jornal Público e o Diário do Minho, além do Primeiro de Janeiro, divulgaram diversas notícias sobre o Teatro Diogo
Bernardes.
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
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Para angariar as 1300 assinaturas do
seu requerimento, Acácio de Lourdes valeu-se das suas amizades de velha glória
da Associação Desportiva Os Limianos,
utilizou os seus conhecimentos de antigo funcionário do Grémio, realçou a
sua condição de funcionário municipal e
assumiu o seu espírito de voluntário da
Comissão de Festas das Feiras Novas. No
seu conjunto, eram argumentos suficientemente pesados para surtirem efeito. E
foi o que aconteceu, quando o Presidente
Fernando Calheiros se apaixonou pela
Acácio de Lourdes foi reconhecido unanimemente como
ideia e explorou todos os seus contactos
autor, mentor e líder do abaixo-assinado, entregue na Câmara Municipal no dia 16 de Março de 1992. Foi pela
com o Dr. Santana Lopes, Secretário de
sua modéstia que Acácio de Lurdes cedeu a José Pinto
Estado da Cultura de então.
Fernandes (Zaragata), seu colega de trabalho no município e camarada na equipa Os Limianos, a honra de priDe facto, só com a ajuda do poder
meiro subscritor.
central era possível salvar o edifício da
ruína total. Já em 1987 o Presidente da
Câmara Dr. Francisco Maia de Abreu Lima se sentia impotente para abordar esse
recuperação, embora se manifestasse muito interessado na solução do problema, a
ponto de solicitar a sua classificação ao Instituto Português do Património Cultural
para impedir a sua total degradação9.
Outro aspecto interessante dessa longa odisseia iniciada em 1986 foi a movimentação popular que se criou à volta dessa comissão de bailes, responsável pela retirada
de entulho e lixo, pela carpintaria aplicada para reparar buracos no palco, pelo levantamento das centenas de cadeiras da plateia, pela limpeza e pintura das frisas, camarotes e galeria, pela gigantesca reparação eléctrica, pela recuperação das instalações
sanitárias, etc. Foram muitas semanas de longos dias e noites de voluntariosa azáfama,
sem horários para a família, sem tempos livres e com refeições precárias. No papel de
supervisora da limpeza e da decoração, ombreando generosidade com os restantes
membros, salientou-se a saudosa Alice Marinho. Toneca Silva, na sua barbearia, centralizava o secretariado e a tesouraria da comissão, enquanto Abílio Sá Lima assumia
as relações públicas, valendo-se da sua condição de homem da rádio, jornalista e técnico de turismo. Os outros dois comissários, Adinamérico e Néu Eva, colaboravam em
todas as frentes de batalha. Foram todos incansáveis! Durante esses três anos, Ponte
de Lima reviveu os bailes de carnaval de outrora. E nos dois anos seguintes, perante o
enorme êxito alcançado, os nossos Bombeiros Voluntários e Os Limianos repetiram a
sua realização, auferindo bons lucros para as suas actividades.
Depois, a degradação acentuou-se por não haver dinheiro que bastasse para a
manutenção do prédio. Precisava de uma restauração profunda, global e específica,
só possível com a intervenção estatal e municipal. Em 1988, após o último baile da
(9)
LOUREIRO, Alberto do Vale – Presidente da Autarquia Limarense em entrevista. In O Anunciador das Feiras Novas. Nº IV. Ponte
de Lima. 1987
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O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
comissão, essa ideia instalou-se na mente
de Acácio de Lourdes. Aparentemente
adormecida, viria a tornar-se realidade
através do seu abaixo-assinado. Foi uma
tarefa árdua, praticamente feita de porta
a porta, pois nem todos tinham a sensibilidade de quem lutava para manter a
dignidade do edifício tão louvado pelos
forasteiros e esquecido pelos da casa.
Actualmente, grande parte da vida
cultural deste concelho passa pelo Teatro Diogo Bernardes. É um espaço de
beleza inquestionável e que ocupa um
lugar especial no coração dos limianos.
Recordamos a inauguração após o último restauro, que foi um momento de
alegria para todos. Nesse dia muitas recordações vieram à memória, especialmente as noites fabulosas dos bailes de
Carnaval. Posteriormente assistimos à
apresentação do novo pano de boca que
tem como base o anterior, que representava a vila limiana. Ponte de Lima começava, assim, a dar valor à sua história, ao
seu património e à cultura. Quem se dirige à bilheteira poder ver na parede um
pequeno painel a eternizar o nome daqueles que contribuíram para as últimas
obras de restauro. Porém, nada recorda
a intervenção corajosa e empenhada de
um grupo de limianos que não quis deixar morrer o nosso Teatro.
Para que os nossos conterrâneos não
esqueçam toda essa generosidade, para
que os vindouros respeitem o esforço
dessas pessoas e para que os visitantes do
Teatro Diogo Bernardes se emocionem
ao transporem as suas portas, aqui fica
este registo histórico, a nossa admiração
sincera e uma memória especial para os
que já partiram (Alice, Toneca, Adinamérico e Néu Eva).
Sendo um dos 12 filhos de Américo Sarameleiro e de Lúcia Capitolino, Acácio de Lourdes herdou dos progenitores
a humildade, a descrição, a lealdade e o espírito de generosidade que o caracterizam. É um homem invulgarmente
culto, provavelmente o maior cinéfilo da nossa região. O
seu amor pelo cinema e a enorme colecção de filmes que
possui são, seguramente, reflexos de ter sido grande frequentador do nosso Teatro ao longo da sua vida. Como
antigo jogador de Os Limianos e membro da Comissão
de Festas durante mais de 30 anos, este ex-funcionário
municipal é modelo de dinamismo e de homem honrado.
Nunca saberemos qual teria sido o destino do Teatro Diogo Bernardes sem a sua generosa iniciativa. Que no dia 4
de Março de 2011 o Município saiba assumir a homenagem que este homem merece!
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O «ECHO DO LIMA» E A GERAÇÃO COIMBRÃ DE 62
Luís Dantas
O Echo do Lima começou a circular no dia 12 de Agosto de 1866.
Pelo título do periódico, que era bissemanário, o seu ângulo de visão privilegiava o
que se dizia e redizia em Ponte de Lima, mas também se dilatava para o debate das questões fundamentais do país e do mundo. Os seus redactores e colunistas foram figuras
exponenciais da nossa intelectualidade: António de Magalhães Barros de Araújo Queirós1 (1838-1888), Manuel Joaquim Penha Fortuna2, José Ernesto de Sousa Caldas3 (18421932), Padre Joaquim Alves Mateus4 (1835-1903). Todos eles passaram por Coimbra,
concluíram cursos de Direito ou de Teologia, excluindo o vianense José Caldas. Vieram
também de lá, da geração de 62, os outros colaboradores, condiscípulos de José de Sá
Coutinho e ex-membros da Associação O Raio: Francisco Roberto de Araújo de Magalhães
Barros5 (1840-1929), Augusto Carlos Cardoso Pinto Osório6 (1842-1920) e Alberto Teles
de Utra‑Machado7 (1840-1924). Este grupo ínclito soube construir um jornalismo cultural
de matérias equilibradas entre a vida histórica e a literatura, as marés políticas e os ritmos
económicos, o dia-a-dia da região e o sonho de uma idade nova:
«Esta vila pela sua posição topográfica, e pelos campos feracíssimos, que a cercam, está
destinada a ser no futuro uma terra importantíssima.
Erma de afeições, votada ao esquecimento pelos poderes públicos, há‑de levantar‑se
da apatia, em que há muito tempo jaz. E nesse dia abençoado, quando vir no seu seio o
movimento e a circulação, cortados de estradas os seus ricos campos, explorada a navegação do Lima, e unidos no interesse comum os seus habitantes, surgirá para ela uma nova
época de prosperidade e engrandecimento.»8
Durante anos e anos a navegação do Lima foi visão do futuro. O Conde da Barca,
«pelos fins do ano de 1779 conseguiu organizar em Ponte de Lima a Sociedade económica
dos amigos do bem público, destinada a promover a agricultura, a indústria e o comércio,
tomando A. de Araújo muito a peito fazer desenvolver e prosperar a criação do bicho-daseda, a cultura da amoreira branca, que mandou vir de outros países da Europa, por ser
desconhecida em Portugal, e a fabricação dos tecidos de seda; projectou a desobstrução
e canalização do rio Lima, com o fim de aumentar a navegação e o tráfego do comércio
naquela região e de restituir aos povoados ribeirinhos do Lima a antiga prosperidade de
outras eras; ainda que nesta empresa fosse coadjuvado por pessoas ilustradas e de boa
António de Magalhães Barros de Araújo Queirós. Advogado. Nasceu em Ponte de Lima.
Manuel Joaquim Penha Fortuna. Natural de Braga. Irmão de João Penha. Deputado.
José Ernesto de Sousa Caldas. Nasceu em Viana do Castelo. Escritor e Jornalista.
(4)
Joaquim Alves Mateus. Nasceu em Santa Comba Dão. Escritor. Orador sagrado. Deputado e par do Reino.
(5)
Francisco Roberto de Araújo de Magalhães Barros. Magistrado. Nasceu em Ponte de Lima.
(6)
Augusto Carlos Cardoso Pinto Osório. Nasceu na freguesia de Jolda, concelho de Arcos de Valdevez. Magistrado. Foi Juiz Presidente do Supremo Tribunal da Justiça.
(7)
Alberto Teles de Utra-Machado. Nasceu em Angra do Heroísmo, Ilha Terceira, Açores. Advogado. Poeta. Jornalista.
(8)
O Echo do Lima, N.º 11, 16 de Setembro de 1866.
(1)
(2)
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O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
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vontade, entre outros, o célebre abade José Correia da Serra9 e o duque de Lafões10, este
projecto não chegou a vingar.»11 Mas continuou o sonho de levantar a economia e a
cultura da região minhota. O jovem José de Sá Coutinho, que veio a ser Membro do 22.º
Conselho Governativo da Índia (1866) com José Inácio de Brito e o Arcebispo D. António Sebastião Valente12, Governador Civil de Coimbra, Visconde e 2.º Conde d’Aurora,
Fidalgo‑cavaleiro da Casa Real e Juiz Desembargador na Relação do Porto, e os jornalistas
do Echo tinham um ideal comum. Em 1864, quando foi Administrador do concelho da
Barca, «realiza a grande proeza de ir de barco de Ponte de Lima àquela vila, ali chegando
«entre mil aclamações»13. Dizia-se então que «o passeio à margem do Lima, assemelha‑se
com as Delícias de Sevilha.
Uma excursão subindo o rio é muito agradável.
Nada mais encantador no mundo que as margens do Lima, o celebrado Lethes dos
poetas.»14 Mas, para além disso, José de Sá Coutinho tencionava retomar o projecto do
Conde da Barca, discutir a viabilidade comercial e turística do Rio Lima e tornar mais
intenso o transporte à vela e à vara.
Na época de ardentes discussões, de imaginação para cobrar impostos, de municípios
ameaçados de extermínio, de muito boa gente de luneta, em roda grande, a «ver talvez
José Francisco Correia da Serra (1750-1823). Naturalista. Diplomata. Fundador da Academia Real das Ciências em Lisboa.
D. João Carlos de Bragança Sousa Ligne Tavares Mascarenhas da Silva, 2.º Duque de Lafões (1719-1806). Marechal-General
do Exército Português. Fundador da Academia Real das Ciências em Lisboa.
(11)
Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, Vol. II, Fascículo n.º 1, Rio de Janeiro, 1877, pg. 7.
(12)
José F. Ferreira Martins, Os Vice-Reis da Índia (1505-1917), Imprensa Nacional, Lisboa, 1935, pg. 35
(13)
Miguel Roque dos Reis Lemos, Anais Municipais de Ponte de Lima, 2.ª edição revista e apresentada por A.M. Reis, Câmara
Municipal de Ponte de Lima, Ponte de Lima, 1977, pg. 205.
(14)
Inácio Manuel de Lemos, Guia luso-brasileiro do viajante na Europa, Tipografia de António José da Silva Teixeira, Porto, 1859, pg. 44
(9)
(10)
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a Galiza estendida até ao Douro…»15, sem o cenho carregado, o jornal limiano foi uma
poderosa arma para o exercício da política, do patriotismo, do conhecimento cientifico,
do debate de ideias, da veiculação dos valores democráticos, e não escondia a grande afinidade com os Reformistas na briga contra Regeneradores, na crítica às portarias dos seus
ministérios, como aquela que «mandou entregar à fazenda pública os quartéis militares de
S. João de Deus, antigo alojamento da tropa nesta vila, e um dos prédios mais espaçosos,
que existem na nossa terra.»16 E neste caso concreto, coube ao Echo do Lima, despertar
as consciências:
«O Sr. Administrador do concelho tomou posse em nome do tesouro da casa e do
terreno contíguo, e segundo nos consta já procedeu à competente avaliação, devendo ser
tudo arrematado em hasta pública.17 Não sabemos os motivos, que levaram o Sr. Fontes
Pereira de Melo a guiar o camartelo destruidor para esta vila. O que nós não podemos é
ficar silenciosos ante este acto do Sr. Ministro da guerra, e desde já, como filhos desta terra
e propugnadores dos seus interesses, prometemos envidar todos os nossos esforços para
que não seja posto em hasta pública um edifício de tanta utilidade para este concelho, e
que provavelmente, nas mãos de algum especulador, irá ser demolido, como já aconteceu
ao convento dos extintos Capuchos.»18
O Echo do Lima, ao longo dos anos, contribuiu para o progresso intelectual da sociedade limiana e do país na segunda metade do século XIX. Mereceu o respeito de jornalistas, de poetas e de escritores. «No Eco do Lima», escreveu Teófilo Braga, «Pinto Osório
começou a publicar em 1866 composições de João de Deus, tais como A Pomba, A.L.C.,
A vizinha do 4.º andar, A…, Desânimo, De luto, Sonho»19, Folha Caída, Aos Seus Olhos,
Margarida, Mãe e Filho.
O Poeta do Amor, que esteve em Coimbra dez anos para obter o canudo, continuou
a morar na cidade do Mondego, de casa em casa, na vida boémia, na animação das modinhas e dos sons da viola, nos dois dedos de prosa, no convívio literário e fraterno com a
geração coimbrã de 62. Os seus versos começaram a ser publicados, a partir de 1855, no
Académico, Estreia Literária, Ateneu, Prelúdios Literários, Instituto, Fósforo. Mas a sua popularidade, o seu prestígio literário, deve-se, em parte, aos manuscritos da obra lírica e satírica que circulam de mão em mão e espertam intensas ressonâncias na voz dos estudantes.
Muitos desses originais, ditados ou oferecidos aos confrades, perderam‑se irremediavelmente ou foram recuperados de modo imperfeito. Salvaram‑se os outros que estavam
bem guardados nas pastas e nas memórias dos estudantes. «Eram colectores dedicados o
seu condiscípulo Rocha Viana – que o forçou a completar a formatura, ameaçando‑o de
que perderia com ele o ano –, João de Sousa Vilhena, Pinto Osório, Guimarães Fonseca,
Rodrigo Veloso.»20 Foram estes jovens que pugnaram pela divulgação da sua obra, iniciada
pelo artigo de Antero de Quental, A propósito de um Poeta, publicado no n.º 7 do Fósforo
em 1861. Depois disso, a critica literária reconheceu o valor da sua voz poética.
Eça de Queirós, Os Maias, Porto Editora, Porto, 1997, pg. 167.
O Echo do Lima, N.º 11, 16 de Setembro de 1866.
Dois anos depois (em 1868), o velho hospital de S. João de Deus «foi arrematado em hasta pública, por 1.800$000 réis, pelo
negociante limarense António Caetano da Costa, que o revendeu à Santa Casa, por 1.876$952 réis, em 1874» e está hoje transformado no Quartel dos Bombeiros Voluntários.
(18)
O Echo do Lima, N.º 11, 16 de Setembro de 1866.
(19)
Teófilo Braga, Escorço Biográfico, in O Festival de João de Deus, Antiga Casa Bertrand – José Bastos – Editor, Lisboa, 1905, pg. XXIII.
(20)
Teófilo Braga, Escorço Biográfico, in O Festival de João de Deus, Antiga Casa Bertrand – José Bastos – Editor, Lisboa, 1905, pg. XXI.
(15)
(16)
(17)
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CARTAS HIDROGRÁFICAS DO RIO LIMA
Carlos Gomes
Pese embora a sua indescritível beleza, o rio Lima não constitui apenas lenda a evocar a mitologia grega ou fonte
de inspiração de poetas como Bernardes
e Feijó. Tão venerado pela tranquilidade das suas margens e os seus pôr-dosol avermelhados, também tem sido
ao longo dos séculos causa de dores e
tormentos para as suas populações ribeirinhas quando as suas cheias incontroladas alagam campos e inundam habitações, como frequentemente sucede
em Ponte de Lima, ou ainda quando
esconde as suas armadilhas para ceifar
a vida àqueles que por vezes se afoitam
a atravessá-lo, confiantes na serenidade
das suas águas e reduzida profundidade
do seu leito. Desde tempos imemoráveis
proveu também o sustento a inúmeras
O Comandante Almeida Carvalho dirigiu os
levantamentos hidrográficos efectuados em 1913.
famílias, nomeadamente de pescadores,
barqueiros e até de marnotos que outrora se dedicavam à extracção do sal. O rio Lima é também fonte de produção de
energia hidroeléctrica, local de extracção de inertes, zona de construção naval, porto
comercial e área de turismo e lazer. Naturalmente, também a sua fauna tem sido
objecto de estudo por parte dos biólogos e a preservação da qualidade das suas águas
e da vegetação envolvente alvo de preocupação de ambientalistas e organismos ligados à preservação do meio ambiente. Em síntese, este rio que banha a nossa região e
ao qual Ponte de Lima deve o seu nome, constitui ainda uma mais-valia em termos
socio-económicos para o país.
Também no que se refere ao conhecimento da morfologia do seu leito e das dinâmicas que comporta, o rio Lima tem sido objecto de estudo por parte de hidrógrafos.
Como é óbvio, a maior parte desses estudos incide preferencialmente mais a jusante,
numa área mais próxima da sua foz, em virtude da sua importância como zona de
maior tráfego fluvial e marítimo e devido à necessidade de assegurar a segurança
da navegação e os acessos ao cais comercial. Como é sabido, o rio Lima sempre se
caracterizou pelo seu elevado nível de assoreamento, como aliás se comprova pela
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facilidade que os exércitos romanos comandados por Décimus Junius Brutus tiveram
ao atravessá-lo, aparte a sua superstição em face do mítico Lethes que os levava a
esquecer a pátria. Contudo, este constitui um dos fenómenos que se encontra na origem das cíclicas cheias que afectam a região em virtude da falta de regularização das
suas margens e do leito de cheia. De igual modo, o transporte dos inertes efectuado
pelas correntes faz aumentar perigosamente o assoreamento junto à barra, na zona
apropriadamente denominada de Cabedelo, o que obriga a constantes dragagens a
fim de assegurar a navegabilidade em condições de segurança naquele local.
Com efeito, o documento mais antigo de que há registo data de 1782, sob a designação “Carta Corographica Das Correntes Do Rio / Lima Desde Villa Mou Ate A Foz
Lima” e faz actualmente parte do espólio histórico do Instituto Geográfico Portu-
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guês. Trata-se de uma carta de grande
pormenor, incluindo uma vista da parte
marginal da “Villa de Vianna” com o
castelo de S. Tiago e relevos sombreados
e mencionando, entre outros aspectos,
as suas características, identificação dos
técnicos envolvidos e área abrangida,
através dos seguintes dizeres: CARTA
COROGRAPHICA DAS CORRENTES DO RIO / LIMA DESDE VILLA
MOU ATE A FOZ LIMA/pella ordem
do Illm°., & Exm°. Snr. Gal. Joze Joaquim
de Miranda Henriques, que / governou as
armas da provincia do Minho em virtude
da ordem / de S. Magde. expedida ao dor.
Juiz de fora da Villa de Vianna / em a qual
vão notadas todas as sondas da barra, &
dos diferentes / canaes, as linhas de baixamar, prayamar, agoas vivas, os areiaes / &
ilhas tanto as que se cobrem com as agoas
/ vivas, & os areiaes que se descobrem de
verão e / embaração a navegação”. Nela
consta ainda o seguinte: “feito pelo ajudante de infantaria com o exercicio de engenheiro Francisco Pinheiro da Cunha”. “As
linhas de cor amarela notão o projecto de
melhorar o rio Lima, por ordem de S. Magestade, de Abril de 1782. Os números são
as sondas, as setas notão as correntes do rio, as ancoras, os sitios onde os navios dão fundo”.
“Ms., color., em papel. 1 059 x 309 mm. Esc. gráf. “de meya legoa, ou de 1 409 braças =
234 mm.”. Refira-se que, à data da edição da referida carta, reinava em Portugal D.
Maria I que, por alvará régio passado no Palácio de Queluz em 30 de Junho de 1798,
viria a criar a “Sociedade Real Marítima, Militar e Geográfica para o Desenho, Gravura,
e Impressão das Cartas Hydrograficas, Geográficas, e Militares”.
Em 1902 foi publicada uma carta hidrográfica resultante do “levantamento hydrographico expedito” levado a efeito por aspirantes da Marinha sob a direcção do Capitão-tenente Hugo de Lacerda, operação que envolveu o vapor Bérrio. De novo,
em 1913, a Missão Hidrográfica da Costa de Portugal publica o “Plano hidrográfico
da Barra e Porto do Rio Lima”, o qual apresenta uma descrição mais pormenorizada da linha de costa relativamente à anterior, incluindo um maior número de perfis de sondagem e linhas a definir zonas de enfiamento e sinalização entre outros.
Neste levantamento estiveram envolvidos o Capitão-tenente Almeida Carvalho e
o Primeiro-tenente Herz, o primeiro dos quais viria mais tarde a dar o nome a uma
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dos navios da marinha de guerra portuguesa que durante várias décadas esteve ao
serviço da hidrografia. Outro “Plano Hidrográfico” veio a ser editado em 1933, agora
por determinação da Direcção Geral da Marinha. À semelhança da carta de 1902,
também esta inclui desenhos a ponto e linha representando vistas panorâmicas das
margens do rio Lima, as quais nos dão uma ideia da construção existente à época. Em
1960, foi criado o Instituto Hidrográfico, entidade que ficou a partir de então incumbida da execução de levantamentos hidrográficos e da produção de cartas náuticas
oficiais, mantendo actualizado o fólio de cartas hidrográficas relativas à foz do rio
Lima, as quais acompanham já a evolução para o formato digital. Convém salientar
que, apesar da generalidade da produção cartográfica respeitante ao rio Lima incidir
particularmente na área junto à foz pelas razões que inicialmente apontámos, isso
não significa que ao longo dos tempos não tenham sido efectuados outros levanta100
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mentos hidrográficos a montante, nomeadamente nas imediações de Ponte de Lima.
Sucede mesmo que, para além desse aspecto, a realização de estudos hidrográficos
do rio Lima pode representar o meio mais adequado de conhecer os seus problemas
com vista à resolução de problemas ambientais, nomeadamente a regularização das
suas margens, eliminação de fundões e eventual abertura de um canal navegável,
sem necessidade de erguer barragens artificiais que colocam em causa a própria vida
animal. A importância socio-económica, turística, ambiental e cultural do rio Lima é
por demais valiosa para que a resolução dos seus problemas continuem a ser encarados de uma forma aligeirada, sem recurso aos mais modernos métodos científicos que
podem proporcionar uma melhor avaliação das situações a resolver. Para a História
fica a memória dos trabalhos de sondagem efectuados no rio Lima e o seu registo gráfico nas cartas hidrográficas que constituem património documental do nosso país.
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MARIA DE PONTE
Luís Dantas
Os elementos que servem de base a este trabalho já estavam presentes em
criações anteriores, como a dos Cabeçudos e Gigantones das Festas tradicionais de Ponte de Lima. É o mesmo mundo onírico, as mesmas nuances, o mesmo estilo decorativo na abordagem das temáticas regionalistas. Há nesta figura, Maria de Ponte, para lá da intensidade interior da autora, o registo de factos
humanos, dos meandros da vida quotidiana, da alegria da luz solar. Trata-se de
uma concepção poética sugerida pela cor, forma, relevo e ritmo, na evocação
da mulher das nossas bandas em dia de feira e de luminárias. Podia ser de
outro jeito, mas foi assim observada: encorpada, redonda, olhos esbugalhados
de espanto, riso largo e matreiro ao correr do beiço, rosto afogueado, traje pitoresco, arrecadas em forma de coração. Bem se vê que está ali uma minhota
desamarrada, não para sachar milho ou ir ao rabisco, mas para viver os usos e
costumes, os ritos pagãos e religiosos, como a Vaca das Cordas e as Procissões,
para se divertir na romaria, beber meia malga de vinho, dançar o vira, cantar à
desgarrada e viajar, ida e volta, na garupa de um garrano.
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CLÁUDIO LIMA E LUÍS DANTAS
40 ANOS DE VIDA LITERÁRIA (1970-2010)
Pode considerar-se feliz este ano de 2010, no que às
letras limianas diz respeito.
Cláudio Lima e Luís Dantas têm o mérito de poder
completar, com honra, 40 anos de presença assídua e
profícua nas nossas letras.
Cada um com o seu estilo e diversidade, com obras
de uma qualidade que os torna dignos da nossa admiração e reconhecimento.
Tem obrigação “O Anunciador das Feiras Novas”,
por os ter como colaboradores, de lembrar esta efeméride, mostrando assim, desta forma simples mas
sentida, não estar desatento ao que temos de melhor.
Cláudio Lima
Luís Dantas
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AS ESCOLAS DE ESTORÃOS
José Lima
No inicio, a educação estava limitada
às “elites”, às famílias com posses, que,
ou “recrutavam” professores para aulas
particulares nas suas residências, ou recorriam a instituições religiosas, normalmente os conventos.
Estorãos, como freguesia considerada
pobre, pelas suas culturas agrícolas e fracos rendimentos, não se integrava neste
meio aristocrata e ou de burguesia.
Há, no entanto, personalidades que
naturais de Estorãos, se distinguiram, é o
caso do Padre João de Caldas Bacelar e
Sousa (1407) que foi pároco em Monção
e deixou escritos sobre famílias do Minho1 e segundo registos de 1759, Estorãos teve alguém que se destacou: “frei
Manoel de Sam Francisco da ordem de
lóios, que chegou andar nos anais da
fama por suas letras…”2
Capa do Livro de Leitura da 3ª Classe, fazendo a apologia
à Mocidade e ao nacionalismo.
A mais antiga notícia de escola em
Estorãos, data de 1854, que se passa
a descrever:
“Professores Primários – Em 30 de Agosto de 1854, João Manuel Rodrigues Barbosa
abriu, em Estorãos, a aula de ensino primário com quatro alunos. Dava aulas de três horas
e meia por dia e tinha agora oito alunos.
Este professor deixara a cadeira em 18 de Abril de 1853, a José Pereira do Nascimento
que a serviu, e bem, até meados de Outubro do mesmo ano. (Ofª de 26/X/1854).” 3.
Aqui podemos depreender que este “professor” João Barbosa teria sido o pioneiro
do ensino em Estorãos. Sim, porque quando se lê “ abriu a aula de ensino primário”,
conclui-se que antes não existia.
(1) Anais Municipais de Ponte de Lima, Capitulo XXXV
(2) Arquivo de Ponte de Lima – Vol. VII – 1986
(3) Limiana/Cardeal Saraiva nº 2897 de 21/11/1980.
Nota do autor: As datas indicadas, estão de acordo com a publicação de origem, mas admite-se que estejam trocadas, assim, onde
está 1854 será 1853 e vice-versa.
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Numa acta de 21 de Abril de 1861, da Junta Paroquial da Freguesia de Estorãos,
é dada conta da necessidade de “…edificar uma Casa para a Escola Régia do ensino
primário, em vez d’estas o Professor fazendo suas funções em uma casa que a Parochia não
tem domínio e mesmo pela sua incapacidade, julgando a mesma Junta, que se deve edificar
uma com capacidades que lhe são devidas, para uma tão útil função pública e de Estado…”
Pelo tesoureiro da Junta de Freguesia me foi entregue a quantia de 200 mil
reis, pela construção completa de uma casa de escola para esta freguesia.
Estorãos, 2 de Janeiro de 1862
José Pereira do Nascimento.
Documento “solto”, sobre a construção da escola
Excerto de uma acta na Escola de Estorãos em 28 de Julho de 1867.
“…Reunião na casa da Escola de Estorãos, de cidadãos das freguesias de Moreira
e Bertiandos, por convite do Inspector das
Escolas José Joaquim Araújo Salgado, que
por lhe parecer que esta escola poderia ser
comum às três freguesias…
…Considerou a casa pequena e com
falta de condições higiénicas e pedagógicas.
Considerou que esta escola era mais conveniente apenas para Estorãos e Moreira…
…Quanto a mobília e utensílios é indispensável um estrado e respectiva banca
para o professor, duas cadeiras de palhinha,
campainha e relógio, quarenta tinteiros de
vidro e oito bancos, duas tábuas pretas e
oitenta lousas, conjunto completo de pesos
Típica sala de aula, que se manteve até aos nossos
e medidas, mapas dos ditos e de Portugal,
tempos.
balança métrica…”
… papel, tinta, aparos, livros de leitura para pobres, mas também candeeiros e luzes para
a aula nocturna durante os meses de Outubro a Maio, uma vez que o respectivo Professor
se preste a fazer este importante serviço…
…Que por último também era necessário que se votassem os meios necessários para
reforma ou construção da casa da Escola e da do Mestre com o competente quintal, devendo
tanto nestas como a respeito da mobília, observar as disposições da Lei de vinte e sete de
Junho e Portaria de vinte de Julho de 1866 das quais ele, Inspector oferecera um exemplar
às respectivas Juntas. Como a Junta de Paróquia da Freguesia de Bertiandos, apesar da amizade com a devida antecedência, não compareceu a este acto e se manifestasse no meio da
Assembleia a opinião de que por causa das inundações das suas veigas e alguns pântanos, se
tornaria mais difícil e mais demorada a vinda dos meninos no Inverno a esta Escola.
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Passaram as duas Juntas a discutir as
propostas acima referidas e deliberaram…
…e que para a habitação do Professor com
o competente quintal se expropriasse o terreno
vizinho da Escola, que fosse bastante, a não de
adquirir amigavelmente e que se fizesse as obras
necessárias para a mesma habitação.
Deliberaram mais, que se fizesse toda
a mobília e se comprasse os utensílios, propostos pelo Inspector, e se votassem todos
os anos as verbas necessárias para prover
a Escola de papel, tina, penas para todos
os alunos, de livros para os pobres e de luzes para as aulas nocturnas. Deliberaram
finalmente que são as despesas ordinárias
e extraordinárias que ficam votadas, não
importem em mais de quatrocentos mil reis
e que a metade desta quantia, contando-se
com a outra por parte do Governo, seja dividida de corte e com que a metade, a cada
uma das freguesias, e que seja por donativos
das Confrarias…
Esta acta foi escrita pelo secretário José
Pereira do Nascimento (Professor de EstoArmário dos sólidos.
rãos) e assinadas pelos: Presidente, Francisco Manuel Justiniano Pereira (Abade de Estorãos), Inspector das Escolas do Distrito,
José Joaquim de Araújo Salgado, Regedor, Francisco José Rodrigues, Presidente da Junta de
Moreira, José Vieira Basto e os membros das Confrarias de Moreira e Estorãos.(N.I.)
Dezassete anos mais tarde os registos dizem-nos: “Do Presidente da Junta de Instrução Escolar do Distrito, de 7.1.1884 – envia os requerimentos dos professores concorrentes
às escolas do ensino elementar das freguesias de Estorãos e Freixo. A Câmara escolheu para
Estorãos, Manuel Cerqueira do Rego e para Freixo, Joaquim Ferreira de Abreu, ambos
pelo tempo de 3 anos, com o ordenado de 100.000 reis e as gratificações legais. Mandaram
dar conhecimento aos interessados e aos professores que iam sair e mandaram enviar para
o Governo Civil a aposentação do professor actual de Estorãos, Luís António da Silva
Gonçalves.”4
Podemos ler em Ponte de Lima - Estudos de História Local que em 1889, o subinspector do Circulo de Viana do Castelo afirmava que “se algumas há (escolas) que
(4)
Arquivo de Ponte de Lima – Vol. V – 1984.
Devido às condições degradantes do documento, proveniente da humidade, não é possível fazer a sua leitura, integral.
(N.I.)
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
113
ocupam bons edifícios, como Gandra, Ribeira e a do sexo masculino da Vila e regulares a da
Queijada, Fornelos, Freixo e Estorãos…
Mapa 1 – Distribuição de escolas públicas no concelho
de Ponte de Lima em 1860.
Mapa 2 - áreas de influência das escolas públicas do
concelho 1871.
…A título de exemplo, em 1877-78, verificamos que há percentagens de abandono no
decurso do ano lectivo na ordem dos 40% (Freixo), 37% (Estorãos) e 35,3% (Rebordões). A
maior parte das freguesias tem percentagem de não conclusão do ano lectivo superior a 20%. 5
Gráfico – Movimento de escolas públicas do concelho (ano lectivo 1877-1878).
(5)
Loureiro, José Carlos de Magalhães – A educação no concelho de Ponte de Lima na segunda metade do século XIX, in Estudos
de História Local, Ponte de Lima: Município de Ponte de Lima, 2009.
114
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
Escola das Penas
Quanto se sabe, aquela a que se chama “a primeira escola” ou a “escola velha” de Estorãos é a das Penas, no lugar
com o mesmo nome, que numa primeira
fase, era de apenas uma sala, mista (feminino e masculino). Quando mais tarde se tornou obrigatório, a divisão por
sexos, a aula feminina passou a funcionar na casa que foi da tia Alexandrina,
(actual residência da Presidente da Junta de Estorãos, Eng.ª Irene Lourenço),
como posto de ensino. Admite-se que
aqui tenha vivido o Professor José Fernandes Martins, quando veio exercer
para Estorãos.
Escola das Penas.
Quando a escola das Penas, entrou em
obras para comportar os dois sexos, a “turma” masculina passou a ter aulas na casa
dos caseiros da Quinta do Rei, (propriedade do Prof. José Fernandes Martins).
Depois de construída a segunda
sala, ficaram a funcionar as duas salas
de aula, masculino e feminino. Muitos
anos depois, esta escola, acabaria por
ser desactivada, tendo mais tarde vindo a funcionar a telescola, com a 5ª e
6ª classe. Posteriormente, as salas foram
cedidas ao Grupo Cultural de Estorãos,
para aulas de música, e ao Agrupamento
de Escuteiros de Estorãos. Hoje, apenas
“alberga” a Junta de Agricultores do Vale
do Rio Estorãos (regadio).
Os professores Martins
José Fernandes Martins, nascido em
1877 e natural da freguesia de S. João da
Ribeira, foi colocado em Estorãos como
professor do ensino primário, onde exerceu até à reforma. Em 10 de Junho de
1963, foi condecorado com a Medalha
Casa que funcionou como posto de ensino.
Casa onde em tempos funcionou como escola, na Quinta
do Rei.
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
115
de Mérito da Instituição Pública, pelo então Presidente da República, Almirante Américo Tomás
Aqui casou com a Srª Dª Francisca (sobrinha neta
do abade de Estorãos referido na acta de 1867) de
quem teve cinco filhos, quatro rapazes e uma menina.
Os rapazes viriam a ser professores como o pai, tendo
para isso frequentado a Escola do Magistério Primário
de Braga, com a excepção do filho mais velho, José
Martins que concluiu o curso em Viana do Castelo.
Medalha atribuída ao Prof. José Fernandes
Martins.
116
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
Todos eles, casaram com professoras, o que contribuiu para que alguns netos e bisnetos do Prof. Martins,
viessem a exercer as suas actividades profissionais, ligadas ao ensino. Os filhos, José, Aníbal, João, e Custódio,
exerceram a sua actividade em escola do concelho de
Ponte de Lima, tendo mais tarde, saído para Viana e
Porto, no entanto o José Martins (pai) e o José Martins
(filho), exerceram na freguesia de Estorãos.
Já todos falecidos, com excepção da filha, Aurora,
que em Dezembro passado fez 102 anos.
Cadernos Escolares fazendo apologia à Mocidade Portuguesa.
Escola da Gramela 1
O Prof. José Martins (filho), a exercer na escola de Estorãos, moveu todas
as suas influências para a criação de uma
nova escola, na “Meia de Cima”, por
considerar desumano, que as crianças,
especialmente dos lugares do Cerquido
e das Mãos, tivessem de percorrer a pé,
a larga distância para chegar à escola, e
depois o regresso.
Eram caminhos “de cabras”, à chuva e
ao frio, numa época em que a roupa era
pouca e fraca, e a alimentação escassa.
Escola da Gramela 2
Mais tarde é construída a escola,
Escola da Gramela 1, a caminho do Cerquido.
chamada de Gramela 2, no lugar da Igreja, que funcionou com duas salas mistas,
até ao fim do ano lectivo 2006/2007. As crianças foram integradas no Núcleo Escolar,
que se centraliza na escola de Moreira do Lima.
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
117
Esta escola, depois de desactivada, por
protocolo estabelecido com a Junta de Freguesia, foi cedida uma sala ao Grupo Cultural de Estorãos, que entretanto abandonou a escola das Penas, e outra à Associação A Ponte, igualmente de Estorãos.
Escola da Gramela 2, frente à Junta de Freguesia. A
última a ser desactivada.
Estorãos sem escolas
Estorãos, uma freguesia que teve três
escola, hoje sem nenhuma. Restam-lhe
as escolas de música, de concertina, de
artes, como é o teatro e foi o curso de
cabeçudos, e o que mais irá surgir. O
importante é que as pessoas dinâmicas e
com iniciativa usem estes espaços para o
enriquecimento da freguesia.
Mas em breve…
Com os projectos aprovados e a obra
a concurso, o Vereador da Cultura Dr.
Franklin Sousa, já afirmou que teremos
em território de Estorãos, o Centro Educativo das Lagoas, em Setembro de 2011.
Só nos sentimos felizes, porque as
crianças vão poder usufruir das melhores
condições.
2008/2010
Perspectiva do Centro Educativo das Lagoas a construir
em Estorãos.
Bibliografia
- O passado da Escola, o futuro do Ensino – Ministério da Educação / 1990
- Loureiro, José Carlos de Magalhães – A educação no concelho de Ponte de Lima na segunda metade doséculo XIX – Ponde de Lima – Estudos de História Local. Ponte de Lima: Município de Ponte de Lima, 2009.
118
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
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120
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
JOSÉ LOPES MARTINS (1910-1996)
Francisca Martins / Luís Dantas
José Lopes Martins nasceu em 28
de Fevereiro de 1910, no lugar de Crasto, freguesia da Ribeira, Ponte de Lima.
Era filho de Manuel Gonçalves Martins
e de Domingas Carvalho Lopes. Ainda
jovem, começou a interiorizar os valores
daquela burguesia triunfante – que adquiriu um grande prestígio numa ocasião
histórica de amplos sucessos técnicos, sociais, políticos e económicos – dos novos
industriais e comerciantes: a atitude de
integridade, o culto do trabalho, o empenho pessoal, o respeito pela palavra dada,
a finura do trato, a exaltação da família,
da educação e dos estudos. Tais normas
de comportamento eram transmitidas de
pais para filhos: «Nada se obtém, não se
chega a nada, se não se tiver perseverança e tenacidade no estudo e aquele que é
aéreo, pouco atento, corre grande risco
de ser também assim nos negócios e na
sua conduta de adulto. Ora tu sabes que estamos num século em que os homens só
têm valor por si próprios e que todos os dias vemos empregados inteligentes e corajosos tomarem o lugar dos seus patrões.»1
O seu percurso lembra os obreiros que subiram os degraus da escala social, como
o Francisco de Almeida Grandela (1852-1934), marçano aos onze anos de idade,
fundador da Loja do Povo (1881), dono dos grandes armazéns Grandela; Manuel
Pinto de Azevedo (1874-1959), trabalhador infantil na indústria têxtil, que fundou
depois várias fábricas de tecidos e fiação, um capitão da indústria no norte do país;
Andrew Carnegie (1835-1919), o rapazinho escocês, a caminho dos Estados Unidos
num barco de emigrantes, operário têxtil aos 13 anos e, mais tarde, um dos maiores
industriais americanos; Marius Berliet (1866-1949), aprendiz de tecelão na oficina
do pai aos 15 anos, estudante nos cursos nocturnos de mecânica e de inglês, inventor
de máquinas, construtor de motores, de carros (1894-1895) e dos camiões Berliet
(1896); Albino Sousa Cruz (1870-1964), que abalou de Santo Tirso para o Brasil –
(1)
Carta de Madame Motte Bossut a seu filho Léon, 11 de Fevereiro de 1856.
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
121
tinha então 15 anos – trabalhou numa
fábrica de cigarros, tendo‑se estabelecido em 1903 no centro do Rio de Janeiro
e construindo, dia após dia, a maior Tabaqueira da América Latina. É claro que
são casos de excepção, mas não deixa de
ser infinda e significativa a lista desta elite trabalhadora proveniente dos campos,
das pequenas oficinas e do comércio. A
conjuntura favorável, a força de vontade, a audácia e a inteligência explicam o
sucesso dos novos patrões que se instalam nas vilas, nas e cidades e nas zonas
industriais.
José Lopes Martins, aos 19 anos de
idade, era já industrial e comerciante.
Ao que se sabe, tinha amor ao conhecimento concreto, à ciência, e possuía biblioteca com uma boa colecção de livros
sobre esoterismo. Fazia até reuniões, em
loja secreta, num clima espiritualista, com vários companheiros, como o Professor
José Correia, o Contabilista João Barros, José Morgado de Morais e Nelson Cardoso.
Não se podem devassar os ritos de consagração, a arte de descobrir, as revelações,
os modos de interiorizar, porque se perderam as actas perfumadas de incenso. Mas
o esoterismo representa uma forma de alcançar a sabedoria, a liberdade, a nobreza,
pela objectividade da inteligência, da vontade e da alma. O exercício supremo tinha
sempre um objectivo: melhorar a vida humana em todas as suas dimensões.
A sua grande obra é, sem dúvida, os Armazéns Limienses. Mas participou numa
indústria de serração provida de engenhos hidráulicos e fundou duas fábricas de guarda‑chuvas, na Rua Formosa e Rua do Souto. Por ali passou muita gente assalariada,
homens e mulheres de famílias limianas.
A economia em Ponte de Lima, nas primeiras décadas do século XX, caracterizava-se ainda pela produção artesanal da Fábrica de Chocolates de Alberto Cardoso, na
Rua Vasco da Gama, dos Curtumes e Tecelagem; pela moagem tradicional; os fornos
da cal; a cadência lenta dos transportes fluviais e terrestres; a iluminação2 doméstica
através do candeeiro de petróleo; o pequeno comércio do Bazar Sameiro, no Largo da
Matriz, da Tipografia Confiança, na Rua Vasco da Gama, da Chapelaria Flor do Lima,
da Farmácia de S. João, dos jornais Cardeal Saraiva, Rio Lima e Democracia do Lima, do
Teatro Diogo Bernardes, das Padarias ou Confeitarias Moderna (Rua Cardeal Saraiva),
Amorim (Rua do Rosário), Bijou (Rua Boaventura José Vieira), dos Hotéis ou Pensões, das Lojas de Ourives, dos Cafés e das Mercearias.
(2)
122
A instalação eléctrica estava ainda em curso no ano de 1922
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
José Lopes Martins veio dar um novo impulso ao desenvolvimento local e aguardava, com grande expectativa, a linha férrea do Alto Minho, defendida firmemente
por deputados e senadores eleitos por Ponte de Lima, Viana do Castelo e Braga. O
Padre Doutor Rodrigo Fontinha, ex‑presidente da Câmara Municipal de Viana do
Castelo, deputado por Ponte de Lima às Constituintes de 1911, não só compreendia a
situação económica e social da província do Minho, como sublinhava a importância
da via‑férrea: «já na República se tem feito diversas representações sem que se tenha
feito absolutamente nada, no sentido de atender às justas reclamações daquela região,
onde a população é muito densa, onde o tráfego é grande, onde o solo é fertilíssimo,
onde a natureza é de uma vegetação luxuriante sem igual, onde há inúmeras quedas
de água, que convém aproveitar para as industrias, que ali estão num estado primitivo, onde é excelente, não só em qualidade, mas também em quantidade, a produção
vinícola, onde há riquezas soberbas, que estão por explorar, por não existirem os meios
de transporte, quer de estradas, quer de caminhos-de-ferro»3. Todos os empresários
acreditavam na viação rápida, na redução das distâncias, no transporte mais barato
de mercadorias ou matérias-primas, num mercado mais amplo – mas as obras foram
interrompidas pela firma Canha & Formigal, o plano não foi por diante, e o ritmo
do urbanismo, dos negócios ou dos investimentos acabou por abrandar no vale do
Lima. Mesmo assim, a sua actividade dilatou‑se no tempo. Ao longo da vida, por um
longo período, fez amigos devotados e dedicou‑se à causa pública com fervor, denodo,
altruísmo e rectidão republicana. Após a segunda guerra mundial, acreditava na restauração do regime democrático e foi um dos apoiantes da candidatura à Presidência
da República do General Norton de Matos (1949) e de Humberto Delgado (1958),
tendo sido ele o cidadão indicado para fiscalizar as urnas de voto.
José Lopes Martins esteve na direcção da Associação dos Comerciantes, Associação de Socorros Mútuos, Caixa de Crédito Agrícola e na Adega Cooperativa, que
registou, nesse ciclo económico, importantes desenvolvimentos. É reconhecida a sua
iniciativa, como Provedor da Santa Casa da Misericórdia, ao chamar médicos oncologistas da cidade do Porto para introduzir tratamentos cirúrgicos e de radioterapia
contra o cancro no Hospital da vila.
Reinaldo Varela, em 1963, no filme que realizou sobre Ponte de Lima para a Rádio
Televisão Portuguesa, evoca a «terra santa», os sinos da igreja, os «velhos solares»,
os monumentos, o casario, as paisagens idílicas, o Rio Lima, os seus poetas (António
Feijó, Teófilo Carneiro, António Ferreira, Sebastião Pereira da Cunha, Campos Monteiro, António Pereira Cardoso, Alcides Pereira, António Vieira Lisboa e Geraldo
Dantas), os camponeses, os pastores, as lavadeiras, os barqueiros, as raparigas que vão
à fonte, a gente do povo, e duas figuras de vulto da sociedade da época: o Dr. José
Benvindo de Araújo, representante do poder local, e José Lopes Martins, um símbolo
da indústria, do comércio e da renovação das instituições.
(3)
Rodrigo Fontinha, Diário da Câmara dos Deputados, 30 de Novembro de 1911
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
123
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124
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
A TIA ROSA PAULA
Luís Dantas
A Rosa Paula tinha a reputação de vender as melhores pingas e os mais saborosos
petiscos nas grandes romarias minhotas Nas vésperas do Senhor da Saúde (Sá), Nossa
Senhora da Boa Morte (Correlhã), Senhor do Socorro (Labruja), Santa Justa (São
Pedro de Arcos), São Bartolomeu (Ponte da Barca), Senhora da Peneda (Gavieira,
Arcos de Valdevez), Santa Marta (Portuzelo) e Nossa Senhora da Agonia (Viana do
Castelo), os dias eram longos e desdobravam‑se em agradáveis afazeres: a matança do
porco, a preparação das carnes, dos enchidos, do frango estufado, das pataniscas, dos
bolinhos de bacalhau, das sardinhas de escabeche.
Pela madrugada, à luz do petromax, a sua gente estava a caminho com as iguarias,
fogões, potes, tachos de ferro, caçarolas, travessas, pratos, talheres, malgas, canecas,
mesas, armações e lonas da quitanda, pipas de vinte almudes de vinho tinto. Ia de
barco, partindo do Cais de Nossa Senhora da Guia, ou em carros de bois ataviados
com ramagens verdes.
No recinto do arraial, de dia e de noite, no meio do burburinho habitual, não tinha mãos a medir. Por ali aparecia toda a espécie de clientela para os comes-e-bebes:
lavradores, jornaleiros, mulheres abastadas das aldeias (as estimadoras), criadas de servir, pregoeiros, peixeiras, vendedores ambulantes, homens dos ofícios, bufarinheiros,
tocadores de concertina, poetas de meia‑tigela, cantadores, abades das redondezas,
comerciantes, empresários, novos‑ricos das minas de volfrâmio, boémios do café, da
assembleia, do banquete, do bailarico, do bandolim, do liceu ou da universidade, doutores e fidalgos amantes da gastronomia.
A Rosa Paula, que já enxergava ao longe a sua freguesia, tinha sempre banca reservada ao ar livre para o escol de vila ou cidade. Sabia ao que vinha essa tropa fandanga – tomar parte na tagarelice e encher a pança: duas, três travessas de arroz de
sarrabulho, e outras tantas de rojões, tripa enfarinhada, belouras, fígado, batatinhas
louras, castanhas assadas, rodelas de limão e raminhos de salsa.
Sentava‑se com eles por pouco tempo, não só a escutar falas blandiciosas, fanfarronices, chalaças e despautérios, mas intrometendo‑se com resposta pronta e a tempo,
sem arroubos de mau humor, tal era a troca de olhares alegres e a harmonia das suas
afeições. Eram assim aquelas turmas pândegas, no arremedo de pequenas peguilhas,
a puxarem‑lhe pela língua, à espera de um trocadilho, de um rifão a propósito, de um
dito afiado. E se um desses peralvilhos espertos tinha olhos azuis, a pertinácia da virtude e da gabarolice, não deixava de manifestar a sua falta de ingenuidade e o sentido
da ironia: nunca vi nenhum santo de olho branco. Era uma expressão que costumava
repetir e que acordava sempre na alta-roda uma breve gargalhada. De pilhéria em
pilhéria, numa segunda rodada de verdasco, vazavam‑se as seis malgas de quartilho.
«Esse briol», dizia ela, «é de Ranhados, de Refóios.» E um cavalheiro forte, sedutor,
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
125
bigode farfalhudo, parava de beber, punha‑se a cismar, e celebrava em voz alta, com
pronúncia brasileira erudita, a bela frase de um filósofo espanhol: este «vinho dá alegria aos campos, exalta os corações, faz brilhar as pupilas e ensina os pés a dançar.» A
dona da tenda gostava de continuar ali, não era tempo perdido, mas o velho costume
de observar as regras da boa educação lembrava-lhe a hora de pôr fim à conversa e
deixar em sossego os actores do repasto. Além disso, tinha mais o que fazer.
Em Ponte, com as Feiras Novas, encerrava o ciclo das festas de verão. Feitas as
contas de somar e de subtrair, não saía rica nem pobre do negócio. Naquele mundo,
tal como era, o ganho e a lazeira andam de feira em feira. Mas para a Tia Rosa Paula,
com o seu feitio naturalmente bom, a vida tingia‑se de prazeres mais altos, de emoções
ardentes e de ideias inabaláveis: Mais valem Amigos na Praça, que dinheiro na arca.
Do Outono ao Inverno, tirando o domingo e as segundas do mercado quinzenal, os
dias corriam desbotados e indiferentes. Na sua venda, ali no Passeio ou na Rua Inácio
Perestrelo, recostada num cadeirão, passava horas a fazer renda. Num sábado, quando menos esperava, deparou portas adentro com um senhor de fato de linho branco,
camisa de seda e chapéu panamá: como passa a Senhora? Venho encomendar-lhe
para este domingo um sarrabulho à tripa forra. Somos meia dúzia. Ah, ia esquecendo
o vinho: tinto de Ranhados, de Refóios!
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O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
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O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
FEIRAS NOVAS - 1909
ANTÓNIO FEIJÓ, UMA VISITA INFRUTUOSA
José Sousa Vieira
Chegou, com a sua família, a Portugal no fim do ano de 1908. Por cá permaneceu
até meados de Março de 1910 naquela que foi a sua última visita, em vida, ao país.
António Feijó, poeta e diplomata, nascido em Ponte de Lima em 1859, não deixou
de aproveitar para ver a sua terra natal e, em carta ao seu amigo Luís de Magalhães
(Feijó, Rui, António Feijó, Cartas a Luís de Magalhães, Vol II. INCM, 2004), datada
de 28 de Setembro de 1909, da Casa de Vilar, Lousada, manifesta a sua decepção pelas
condições climatéricas o terem impedido de desfrutar, como desejava, essa ocasião.
Era dia de Feiras Novas que, na sua data fundadora, 19, 20 e 21 de Setembro, nesse
ano, domingo, segunda e terça-feira, se realizavam envoltas em forte expectativa. É,
pelo menos, o que nos obriga a inferir a consulta a diversos números do jornal local, O
Commercio do Lima, “o jornal de maior formato do districto”, sob o comando de Pelágio
dos Reys Lemos, seu derradeiro director. Mas o tempo, alheio à vontade humana, em
constante birra chorosa com as feiras limarenses, não fossem elas dedicadas a Nossa
Senhora das Dores!, transformou-as em enxurrada, também de lamentos.
Tinham ficado pelo projecto algumas intenções, como a de uma “magestosa procissão
com o concurso de todas as irmandades do concelho”, e outras iniciativas agendadas
viram-se impedidas: as iluminações, a cargo de António Pereira as da margem do
rio e, cremos, iniciativa de uma comissão de moradores, as da rua de Souto, João de
Souza Guerra, a gás acetileno, as do largo de Camões, José de Sousa Guerra as do
passeio de D. Fernando, do “Casa Nova” as da rua de S. José e de António Linhares
as do largo do dr. Magalhães até à rua João Rodrigues de Moraes, onde este residia
e seu filho, o juiz da festa desse ano, Filinto Moraes; as duas touradas, para as quais
o empresário Francisco Augusto Dantas encarregou Francisco José de Barros, da
Ribeira, de realizar obras de reparação na praça de touros, e que contavam com a
participação, entre outros, do cavaleiro Aires de Mendonça, do espada Chicorrito,
do bandarilheiro Manuel dos Santos, de Braziliza Chaves, anunciada como “arrojada,
Temerária”, do Morgado de Covas, em deferência para com os seus amigos, e de “14
touros de bela estampa e bastante corpulentos” que tinham chegado a Ponte de Lima no
dia 17 de Setembro; os fogos de artifício dos barquenses Manuel José Vieira Cálom,
Alberto Gomes da Costa & Filhos e João António de Sousa; no largo de Camões, o
exercício de ataque a uma simulação de incêndio por “todo o corpo activo dos Bombeiros
Voluntários, com o respectivo material”; o “atraente festival”, na noite do dia 21, também
no Largo de Camões, “oferecido às damas de Ponte do Lima, abrilhantado pela banda
regimental de infantaria 8, de Braga”.
Prevaleceram, como programado, as cerimónias religiosas, com “a exposição de
alfaias, vasos sagrados, etc.”, na igreja Matriz, aberta ao meio-dia do dia 19, e, no
mesmo templo, a “missa solene a grande instrumental e sermão pelo abalisado orador
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
129
Aspecto do Pavilhão de Portugal, na Exposição do Rio de Janeiro de 1908, que terá servido de modelo ao “panneau”
referido (ver pág. 43 do livro Feiras Novas 1826-2006, de Amândio de Sousa Vieira).
rev. Sr. Geraldo de Vasconcélos”, na manhã do dia 21. No dia 19, pela manhã, a feira
de gado foi muito concorrida, mas a chegada da chuva, “que saiu-se á estacada com
uma furia tremenda, por volta das 11 horas… continuamente até ao fim da tarde, pôs em
debandada uma grande parte dos forasteiros que, desanimados, se retiraram para as suas
terras”. Os mais resistentes ainda presenciaram, nessa noite, no Largo de Camões, a
“Kermesse” e” um bocado de música”, pela Banda dos Artistas. Nos dois restantes dias
das feiras, para além das já referidas cerimónias religiosas, só a música foi intervalando
com a chuva, numa disputa desigual e de sonoridades distintas. Para além da Banda
local, a dos Artistas, estavam contratadas as de Távora e Mazarefes.
Feijó terá estado em Ponte de Lima a 20 de Setembro, pois na sua carta refere que
“não houve feira, nem fogo, nem iluminações”, e, embora no dia 19 estivesse prevista
iluminação, no Largo de Camões, e fogo, era no dia 20, o principal dos festejos, que
ambos os números tinham a sua máxima expressão. Valeu ao poeta e à sua esposa (os
filhos desconhecemos se os acompanharam até Ponte de Lima) a solicitude amiga do
Padre João Inácio de Araújo Lima que os recolheu em sua casa e lhes serviu “uma
canja aguada mas reconfortante… esplêndida por sinal!”. Daí, à 1 da manhã, partiram
para Viana de onde tinham saído às 11 da manhã, com paragem em Bertiandos, “onde
foram “pedir de almoçar” e se demoraram até às 3 da tarde.
130
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
Esta situação poderá ter estado na origem da prosa do Conde d’Aurora, Um
encontro memorável (ver, Vieira, Amândio de Sousa, Foto Lethes, 2003), muito embora
diversas discrepâncias, culpa, talvez, da imaginação literária e da memória do autor
que só produziu esse precioso texto 20 anos volvidos.
Certo é que o nosso vate não terá aproveitado o facto de logo no domingo seguinte,
dia 26, se terem realizado todas as iluminações, que a organização caprichou em não
deixar no olvido, o fogo, “confeccionado por dois haveis pirotecnicos”, e, durante o dia,
terem actuado três bandas de música, “uma dellas a dos Artistas desta villa”. “À noite
não faltou também o competente coro dos Zés Preiras que, atroando os ares com a sua
zabumbada infernal, arrastava atraz de si, em alegre multidão, o povo das nossas aldeias”.
Falharam, para se desagravar o programa, o Festival, devido à “banda regimental de
infantaria 8 estar comprometida” para o Bom Jesus, e as touradas, por o gado ter “de
estar em Espinho para uma ou duas corridas que lá tem de haver”.
E, possivelmente, também não terá visto as fotografias que José Pereira Marinho
tirou às iluminações e, no dia seguinte, 27, estiverem expostas no estabelecimento de
José Pereira Pinto.
Uma dessas fotografias, a “do explendido panneau que se ostentava na margem direita
do Lima e que pelo admirável conjunto de todos os seus lumes era dum efeito surpreendente,
verdadeiramente maravilhoso”, representando “o palácio que o governo brazileiro ofereceu ao
português na exposição ultimamente ali realisada”, está incluída no livro de Amândio de
Sousa Vieira, Feiras Novas 1826-2006, por sortilégio ao lado de uma de António Feijó.
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
131
Telem.: 965 109 081 | Tel.: 258 942 761
Quinta da Graciosa | Ponte de Lima
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O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
OS VÁRIOS ROSTOS DO MANUEL CARAVANA
NOS CORTEJOS HISTÓRICOS
Luís Dantas
«O Cortejo Histórico, logo no início
dos anos setenta, vem trazer às festas um
programa verdadeiramente brilhante.
Conjugando espectáculo com história
(ficaram célebres os primeiros cortejos),
tem servido para dar a conhecer o passado
importante desta terra.
Iniciativa do Sr. Padre Manuel Dias, a
quem as Feiras Novas devem alguns dos
seus números mais apreciados.»1 O Cortejo Histórico foi acolhido com o carinho e
o entusiasmo da gente limiana de todas as
condições sociais e de todas as idades, que
não só aplaudiu como foi figurante e trouxe
ao nosso convívio as personagens de outros
tempos que contribuíram para a nossa História Global: D. Teresa, D. Pedro, D. João I,
Nuno Álvares Pereira, D. Manuel I, Prior
do Crato, S. Jorge, D. João IV, D. Pedro IV,
D. Maria II, Cardeal Saraiva, D. Luís Filipe, Joaquim Mousinho de Albuquerque,
Beato Francisco Pacheco, Conde da Barca, Martim Soares, João Álvares Fagundes,
António Feijó, Norton de Matos, Condes,
Escudeiros, Aios, Pajens, Arautos, Alferes,
Generais, Palafreneiros, Notários, Damas,
Fidalgos, Plebeus, Mulheres a caminho da
feira, Pedreiros e os seus Ajudantes, Monárquicos, Republicanos, Representantes
dos nossos Bombeiros, da Santa Casa da
Misericórdia, do Asilo da Infância Desvalida D. Maria Pia, do Asilo dos Velhos, da Oficina de S. José, da Associação Desportiva «Os
Limianos», dos Sindicatos, dos Grémios, das Bandas de Música.
Manuel Caravana, um limiano a viver em Lisboa, tipógrafo, músico, dirigente de instituições regionais e gastronómicas, vive, desde há muito, a sua paixão pelas Feiras Novas
1 (1) Amândio de Sousa Vieira, Feiras Novas (1826-2006), Ponte de Lima, 2006, pg. 133
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
133
e pelo Cortejo Histórico. Foi Juiz da Procissão com veste e vara, Cardeal Saraiva (17661845), General Norton de Matos (1867-1955), D. Manuel I (1469-1521), Prior do Crato,
da Ordem dos Hospitaleiros (1531-1595), Bispo, Notário, Oficial do exército Francês.
É preciso agora dar um salto no tempo e fazer desfilar nas ruas da vila as outras figuras
notáveis de Ponte de Lima: Brigadeiro José de Sá Coutinho, Dr. José de Sá Coutinho (2.º
Conde d’Aurora), Dr. José de Sá Coutinho (3.º Conde d’Aurora), Delfim Guimarães,
Conselheiro Augusto Pinto Osório, Doutor António Correia Caldeira, Amélia Janny,
Coronel Inácio Perestrelo Marinho Pereira, Teófilo Carneiro, António Vieira Lisboa, Dr.
António Inácio Pereira de Freitas, João Gomes de Abreu Lima, Dr. Feliciano Guimarães,
Sebastião Sanhudo, Tarquínio Vieira, Avelino Guimarães e muitos outros.
134
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
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O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
SUGESTÕES PARA UMA VISITA
António Matos Reis
Ao forasteiro que durante algum tempo se detenha na vila de Ponte de Lima, por
ocasião das festas anuais – as Feiras Novas – ou em qualquer outra data, e deseje conhecer melhor o Património cultural material da povoação, aconselhamos, desta vez,
uma visita às igrejas locais, embora nos limitemos aquelas que são mais antigas e ricas
em obras de arte, e excluindo as capelas que, por fazerem parte de casas particulares,
não estão habitualmente franqueadas ao público. Deixamos de lado, por conseguinte,
neste breve apontamento, as igrejas da Senhora da Lapa e da Senhora da Misericórdia
das Pereiras, assim como as capelas das Casas da Aurora e da Garrida.
Não incluímos também o a capelinha de S. João, à beira-rio, situada a nascente da
vila, no topo de um avenida a que deu o nome, e antes do novo espaço recentemente
criado para feiras e outras realizações e designado como Expolima. O templozinho,
acabado em 1867, de planta poligonal, com uma platibanda de estilo híbrido e uma
porta neogótica, é de reduzido valor estético, ainda que valha a pena um ligeiro desvio até lá, para, durante uns momentos, acompanharmos no seu deslizar o «saudoso,
brando e claro Lima» das Elegias de Diogo Bernardes.
Igreja Matriz de Ponte de Lima
A Igreja Matriz de Ponte de Lima foi concluída sob o reinado de D. Afonso V, no
séc. XV, data que nos legou o esbelto pórtico, de linhas ainda góticas, da entrada; a
rosácea é uma reconstituição do século XX, decalcada sobre a da Igreja de S. Francisco, do Porto. Depois da fundação, a igreja sofreu muitas obras que a alteraram,
especialmente no fim do séc. XVI: arcos,
pilastras, abóbadas apaineladas. Além da
serena imagem de N.a Sr.a com o Menino,
esculpida em pedra na primeira metade
do século XVI, e do expressivo frontal da
capela-mor, de uma Pietá e uma Sagrada Família, que pudemos ver na sacristia, merecem atenção a capela da Sr.a da
Conceição, sob uma abóbada gótica estrelada, à direita de quem entra; o altar
da Sr.a das Dores, feito por Miguel Coelho, em 1729, e o da Senhora da Piedade,
actualmente da invocação da Senhora de
Fátima; a abóbada e a frente da capela do
Igreja Matriz de Ponte de Lima
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
137
Ss.mo, agora do mártir Francisco Pacheco,
também obra dos canteiros limianos da
família de João Lopes, da segunda metade de quinhentos.
Igreja da Misericórdia
Fundada por alvará régio de Agosto
de 1530, a Misericórdia de Ponte de Lima
assumiu em 10 de Agosto de 1551 a administração do Hospital da Praça, fronteiro à
Igreja Matriz da vila, e, como se tratava do
único edifício que possuía dentro dos muros da vila, transformou-o em sede das suas
principais actividades. As instalações não
eram amplas, e tiveram necessariamente
de ser ampliadas e melhoradas com o andar dos tempos. Pelo que à igreja diz respeito, o pórtico do lado nascente, aquele
através do qual a população da vila tinha
Igreja da Misericórdia
acesso aos actos litúrgicos, deverá ser da
primeira metade do séc. XVII, e, todo em
granito, é constituído por duas altas colunas toscanas sobre plintos almofadados; sobre o
terço médio da arquitrave duas novas colunas toscanas, mais pequenas, enquadram um
relevo rectangular, que representa a Sr.ª da Misericórdia, rodeada por um rei e um bispo,
sobre os quais dois anjos seguram o manto protector da padroeira.
No séc. XVIII, tanto a igreja como o hospital foram profundamente remodelados.
Em 1737 a Irmandade decidiu alargar a capela-mor, para nela erguer um novo retábulo,
da autoria do entalhador Miguel Coelho, o qual apenas foi colocado em 1742. Desse
retábulo sobreviveu a certamente melhor peça, o magnífico frontal do altar-mor, composto por dezanove figuras talhadas em madeira, que representam o episódio evangélico da multiplicação dos pães. A Miguel Coelho, a Irmandade encomendou também
o forro do templo, constituído por uma abóbada repartida em vários tramos por falsas
ogivas entalhadas em madeira, a sugerir o estilo gótico, como sucede noutras igrejas de
estilo barroco da região, e foi policromado com elementos decorativos em voga naquela
época: vasos assimétricos, volutas, grinaldas, flores, bustos e meninos. Uma resolução
da mesa dá-nos a saber que também foram encomendadas a Miguel Coelho as obras do
púlpito e do coro.
Prolongando-se trabalhos pela segunda metade do século, em 1754 levou-se a cabo
a «obra dos azimbórios», isto é, a abóbada de pedraria em “caixotões”, da capela-mor.
138
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
Capela da Senhora da Penha
de França
Face à janela setentrional da antiga
cadeia (a “Cadeia Velha”), está a capela
de Nossa Senhora da Penha de França,
construída em 1592, para que os reclusos
assistissem aos ofícios religiosos através
das grades, A construção actualmente
existente dever-se-á já à Confraria, fundada pouco antes de 1700, que o passou a
administrar, com o intento de cumprir os
votos do fundador. Das primeiras décadas
do século XVIII é, sem qualquer dúvida, o
belo retábulo altar-mor de boa talha, que a
enriquece, no estilo do “barroco nacional”.
Igrejas de Santo António
e S. Francisco dos Terceiros
A meio da frondosa avenida marginal,
que acompanha o rio, a poente da vila,
deparamos com dois templos vizinhos:
as igrejas de S. Francisco dos Terceiros
e de Santo António dos Frades. Pertencia esta ao Convento do mesmo nome, a
cuja sombra floresceu a Ordem Terceira
e a respectiva igreja.
Fundado em 1481, o mosteiro de Santo
Retábulo da Capela da Senhora da Penha de França.
António adoptou desde o início a regra de
S. Francisco e, tendo adoptado a reforma
dos capuchos, ficou a pertencer, desde 1568, à Província de Santo António dos Capuchos do
Reino de Portugal. Dos vinte e quatro conventos que então a ordem tinha no país só em
quatro se fazia o noviciado, sendo um deles o de Ponte de Lima, que era um dos maiores
da mesma ordem em Portugal: o edifício tinha instalações para 18 frades professos e um
número maior de leigos, além das dependências destinadas às aulas e ao acolhimento de um
grande número de noviços. Em 1706 passou a fazer parte da Província da Conceição, nela
se conservando integrado até à extinção dos conventos, ordenada em 1834. Dele, no
presente, pouco mais resta do que a igreja. Fundada no século XV, e muito modificada
posteriormente, foi desafecta ao culto para ser transformada em museu, em conjunto
com o templo vizinho. Nela se podem ver duas capelas tumulares, sobressaindo numa
os túmulos brasonados e na outra o estilo manuelino das arcaturas externas; na sacristia, as paredes foram revestidas com interessantes azulejos de “figura avulsa”, de
modelos variados, sob um tecto de madeira colorida.
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
139
S. Francisco dos Terceiros
Na harmoniosa igreja de S. Francisco
dos Terceiros, paralela ao rio, é mister observar os retábulos barrocos, o púlpito, as
sanefas e mais talha, feitos segundo o risco de José Álvares de Araújo, conhecido
Igreja de Santo António
executante dos retábulos da Sr.a do Rosário, na igreja de S. Domingos, Viana do
Castelo, assim como da capela de S. Martinho de Tibães, sob riscos de André Soares, em
1756; na ábside, mantém-se um cadeiral de estilo neoclássico, de cerca de 1801-1802,
atribuível, pelo seu estilo, ao italiano Luís Chiari; vale a pena visitar o pequeno claustro
setecentista, de colunas toscanas, a sacristia e a sala das sessões da Ordem.
Capela da Senhora
da Guia
No topo da Avenida, junto à ponte construída no século XX, situa-se a capela de
Nossa Senhora da Guia, que
possui um austero pórtico do
séc. XVII e tem anexa a casa
do capelão, da mesma época,
e guarda, no seu interior, rica
talha setecentista, boas imagens, interessantes azulejos e
o tecto da capela-mor de madeira policromada.
Capela da Senhora da Guia
140
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
professor josé cândido Martins
«O Anunciador das Feiras Novas» é uma
revista anual que tem como objectivo a promoção de todas as vertentes que considera
positivas para o desenvolvimento cultural,
artístico e económico desta região, com destaque para a divulgação dos nossos valores
humanos mais representativos.
José Cândido de Oliveira Martins, doutorado em Teoria da Literatura, é docente
e investigador da Universidade Católica
Portuguesa. Tem leccionado seminários e
cursos breves em outras universidades ao
nível do mestrado e doutoramento, em
Portugal e noutros países (Espanha, França e Brasil). Além de artigos vários para
revistas da especialidade, de participação
em congressos e colóquios, e de colaboração em obras colectivas, publicou alguns
livros: Teoria da Paródia Surrealista (1995);
Para uma Leitura de ‘Maria Moisés’ de Camilo Castelo Branco (1997); Naufrágio de Sepúlveda. Texto e Intertexto (1997); Para uma Leitura da Poesia de Bocage (1999); Para uma Leitura
da Poesia Neoclássica e Pré-Romântica (2000); Fidelino de Figueiredo e a Crítica da Teoria
Literária Positivista (2007); e Viajar com… António Feijó (Porto, 2009). Organizou ainda a
edição de vários autores, com fixação do texto e introdução crítica: Camilo Castelo Branco, Eusébio Macário / A Corja (2003); Novelas do Minho (2006); e Morgado de Fafe em Lisboa (2009); António Feijó, Poesias Completas (2004) e Poesias Dispersas e Inéditas (2005);
Teófilo Carneiro, Poesias e Outros Dispersos (2006); Diogo Bernardes, O Lima (2009).
Profundamente ligado à sua terra tem dedicado muito do seu tempo na defesa e promoção dos grandes vultos da nossa literatura: Diogo Bernardes, António Feijó, Teófilo
Carneiro, etc.
São inúmeras as conferências por todo o mundo, a sua acção cultural é constante. Um
dos seus últimos trabalhos acaba de ser publicado pela prestigiada editora «Ópera Omnia»
em parceria com o autor Sérgio Guimarães de Sousa, «Leituras do Desejo em Camilo
Castelo Branco».
A merecer reconhecimento das forças vivas desta terra, para que possamos continuar
a ter orgulho, em não sermos ingratos para os que, com tanta honra, nos representam.
O Coordenador desta revista muito se congratula em contar como colaborador, desde
1998, tão elevado e distinto representante da cultura limiana, esperando que a sua acção
em prol da literatura possa continuar a enriquecer as mentes ciosas do conhecimento.
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
141
142
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
IGREJA PAROQUIAL DA CORRELHÃ
- AS SUAS METAMORFOSES
Rui Quintela
Este tema foi-me sugerido pelo conteúdo de uma carta publicada no Semanário “O
LIMA” – ANNO VII, de 9 de Janeiro de 1898 – Numero 353)1 (1), que adiante transcreverei, na íntegra, respeitando a grafia com que saiu do prelo.
Para que não haja mal entendidos, declaro-me, desde já, um ignorante em matéria de
arqueologia, mormente no ramo da arqueologia sacra. Por assim ser, nada opinarei acerca
de datas, estilos, etc., limitando-me, tão-só, a citar autores de reconhecido mérito, para
sustentar a tese de que a Igreja Paroquial da Correlhã sofreu, ao longo dos tempos, várias
metamorfoses, um vocábulo eufémico que utilizo para desculpar a ignorância dos que,
leigos como eu, quiçá com menos bom senso, cometeram autênticos atropelos.
Antes de referir algumas das mutilações de que a Igreja Paroquial da Correlhã foi alvo,
convém caracterizá-la quanto ao estilo e localizá-la no tempo. Porém, para a distinguir da
nova igreja que está incorporada no Centro Pastoral, apelidá-la-ei, com toda a propriedade, de igreja românica.
No dizer de Lourenço Alves2, “….Embora a data que exibe (ERA MCXX) na verga da
porta do lado norte faça remontar a sua construção à primeira metade do séc. XII, não é crível que esta data se ajuste às características do tipo de arquitectura manifestado pelos vestígios que ainda restam da primitiva igreja, que denunciam um românico francamente tardio”.
Por seu turno, António Matos Reis3, refere-se-lhe nos seguintes termos: “… A igreja
paroquial da Correlhã é um templo de ascendência românica, já escalavrado pelo tempo e
pela tantas vezes desacertada mão dos homens. Ampliada há alguns séculos, como outras
das redondezas, não esconde uma certa desproporção entre a nave e a abside.[…] Segundo Carlos Alberto Ferreira de Almeida, “embora o tímpano do portal norte, com uma
cruz vasada que parece de boa época, nos dê uma data de 1182, todos os outros vestígios
românicos que aí encontramos, desde os capiteis às bases, às impostas e aos cachorros mais
antigos, tudo aponta para uma construção dos fins do séc. XIII”.
Falarei agora das “metamorfoses”:
Citando novamente Lourenço Alves, este autor refere a dado passo que…”A fachada
foi barbaramente mutilada no século passado4, deixando dela apenas duas arquivoltas algo
ogivadas, assentes numa imposta lisa, a parte do lado norte e decorada do lado sul…”.
Voltando a António Matos Reis, respigarei o seguinte lamento deste Arqueólogo
“…Na primeira metade do século passado, ainda lhe substituíram o tímpano da porta
principal por um ornato sem gosto, assim como uma janela, gradeada pelo exterior, mudaram a fresta sobrejacente, e, há pouco mais de cinquenta anos5, encobriram uma parte
Refira-se, como curiosidade que este Semanário era publicado aos domingos, sendo seu proprietário Joaquim Lemos.
In Ensaio Monográfico da Correlhã 1995 - / Coordenação,. Pe. José Luís de Sousa Ribeiro, - A Igreja da Correlhã - pág.195-200
In O Anunciador das Feiras Novas – 1990 – Ano 7 / Direcção e Coordenação. – Alberto do Vale Loureiro – Templos Medievais
na freguesia da Correlhã – pág. 84-86.
(4)
Uma vez que o autor publicou este artigo em 1995, o século passado era o XIX
(5)
Uma vez que o autor publicou este artigo em 1990, deve ler-se “há pouco mais de setenta anos, encobriram”.
(1)
(2)
(3)
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
143
da fachada principal com uma descomunal torre sineira, a jeito de castelo, rematada em
falsas ameias.”
Posto isto, deixo transcrita a carta que, como já disse, despoletou este assunto:
“CARTA
É d’um nosso assignante a criteriosa carta que segue e que julgamos bem fundo
calará no animo dos cavalheiros promotores dos melhoramentos a realisar no campanario
da egreja parochial da Correlhã:
Snr. Redactor.
No ultimo numero de “O Lima”6 li que uma commissão de moradores da Correlhã
intenta levar a effeito a reconstrucção da torre da egreja parochial d’aquela freguesia, que
segundo me informam, se acha em estado de ruina.
Fazendo absoluta justiça aos bons desejos da digna commissão promotora d’aquele
melhoramento sem querer em nada offender ou deslustrar os seus intentos, permita-me V.
tornar publicas por este meio algumas considerações que o caso me sugeriu.
A egreja parochial da Correlhã é uma das mais antigas deste concelho.
De estilo gottico puro, de uma architectura severa e simples, é uma das poucas que por
estes sitios se offerece ao estudo dos curiosos e intendedores. Os barbaros d’estes ultimos
tempos já sacrilegamente lhe mutilaram o portico principal. Acharam que era alto de mais
Embora o tentasse, não encontrei, com grande pena minha, este número do Jornal “O Lima”. Seria interessante ver em que termos era defendida a reconstrução da torre e, quem sabe, os nomes dos elementos da comissão de moradores, correndo embora
o risco de aí encontrar algum antepassado meu.
(6)
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O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
para as suas aspirações e largo em demasis7 para os seus acanhados espíritos, e, sem mais
atenção pela arte, atulharam-no de cal e pedras, abrindo uma pequena porta, mesquinha,
feia e acanhada, sem arte nem elegância, mas mais em harmonia com os seus modos de
ver. Esta barbara mutilação é facil de remediar, desfazendo o tapamento em pedra e cal que
cobre o portico ogival d’entrada , e esperamos que alguem mais sensato o faça.
Mas ver que na construcção da torre é despresado o estylo do resto da fabrica e se
vai construir ao pé da velha egreja uma torre de alvenaria e cal com cupula em forma
de “pêra” como é uso e costume nos nossos sitios, será uma barbaridade sem egual e um
mal sem remedio, que ficará a atestar ás gerações futuras a nossa falta de criterio e crassa
ignorância!!!...
Confiamos que isto se evitará e que alguem mais sensato acate como deve estas considerações e, influa para que a torre reconstruída o seja de forma a não destoar do resto
da egreja, formando um conjunto harmonico e do mesmo estylo architectonico do resto
do edificio.
Ahi fica o aviso e Deus queira que desta vez se evite uma obra absurda8, como infelizmente muitas se têm realisado n’esta terra onde abunda a politica e falta quasi sempre o
bom senso e bom critério.
De V. etc”
……
Felizmente que nos dias de hoje, tais desmandos seriam mais difíceis de acontecer, uma
vez que, a nível nacional, existe o IGESPAR (Instituto de Gestão do Património Arquitectónico) e a nível distrital existe o Gabinete Diocesano de Arte Sacra.
P.S. Espero que este meu escrito não seja mal interpretado. Não vá alguém pensar que pretendo liderar um
qualquer movimento para corrigir as barbaridades cometidas, mormente deitar a torre sineira abaixo, por mais
inestética que seja.
Diga-se, porém, em abono da verdade, que, entretanto já alguma coisa foi corrigida, na medida do possível,
nomeadamente a nível do adro. Com efeito, retirou-se o coreto, demoliu-se o salão paroquial e o muro que
separava o adro da capela de Santo Abdão. Com estas demolições foi possível restituir a dignidade possível às
sepulturas antropomórficas existentes no adro.
Agradecimentos: Agradeço ao Sr. Amândio de Sousa Vieira (Foto Lethes) a gentileza
de me ter facultado o exemplar (original) do Semanário onde a carta supra transcrita foi
publicada, bem assim como a fotografia que ilustra este texto e que foi reproduzida de um
exemplar da colecção recentemente oferecida à Câmara Municipal de Ponte de Lima.
Agradeço também a Graciete Teixeira e aos meus três filhos o apoio informático prestado.
Trata-se de uma gralha tipográfica que escapou ao revisor. Obviamente que quem escreveu queria dizer demasia.
Pela configuração que a Igreja apresenta nos nossos dias, conclui-se que não foi evitada na totalidade a “obra absurda”.E digo na
totalidade, uma vez que, pelo menos, a cúpula em forma de “pêra” não foi avante. Pelos vistos, “a criteriosa carta” do assinante,
cujo nome se ignora, não foi totalmente debalde.
(7)
(8)
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209-217
[email protected]
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O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
ENG.º JOSÉ DO LAGO ARRAIS TORRES DE MAGALHÃES
- CAVALEIRO DA ORDEM DE S. GREGÓRIO MAGNO
Rui Quintela
Sempre que escrevi para “O Anunciador das Feiras Novas”, tive a preocupação
de fazê-lo sobre temas que dissessem respeito à Correlhã. Com o presente artigo
abro uma excepção. Mas é uma excepção
que tem duas atenuantes: A primeira,
como adiante se verificará, prende-se
com o facto de haver alguma conexão entre este trabalho e um outro publicado em
páginas posteriores, relativo à Igreja Paroquial da Correlhã; A outra é de natureza
sentimental: É que a minha mãe era natural de Vitorino de Piães, circunstância
que me habilita a poder gabar-me de ter
uma “costela” daquela freguesia.
Imediatamente após a transcrição
da carta que deu origem ao trabalho
intitulado “IGREJA PAROQUIAL DA
CORRELHÃ – As suas metamorfoses”,
Eng.º José do Lago A. Torres Magalhães.
escrevi o seguinte: “Felizmente que nos
dias de hoje, tais desmandos seriam mais difíceis de acontecer, uma vez que, a nível
nacional, existe o IGESPAR (Instituto de Gestão do Património Arquitectónico) e a
nível distrital existe o Gabinete Diocesano de Arte Sacra”. A este último Organismo
cabe, grosso modo, tutelar, com aturado e paciente acompanhamento pedagógico, todas as obras de restauro, de acréscimo ou de demolição do património eclesiástico do
Distrito de Viana do Castelo.
Por coincidência temporal, tive conhecimento de que o epigrafado, que integra
este Gabinete Diocesano, em regime de voluntariado, havia sido agraciado com o
título honorífico de Cavaleiro da Ordem de S. Gregório Magno, título este concedido
pelo Papa Bento XVI no dia 20 de Março.
A atribuição de tão honrosa distinção, com a qual, estou certo, toda a comunidade
limiana (e do restante distrito) se congratulará, é uma notícia que vem mesmo a talho
de foice, uma vez que o agora agraciado, mercê da sua criteriosa colaboração, ao longo
de 33 anos, ao nível de obras, muito contribuiu e, por certo, continuará a contribuir
para que desmandos do jaez a que se refere o texto relativo às metamorfoses da Igreja
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
147
Paroquial da Correlhã tenham sido evitados. Não conseguiu evitar os erros relatados
no supracitado texto porque ou ainda não era nascido ou, se era, ainda não fazia parte
daquele Gabinete. Porém, terá evitado outros, mesmo aqui na nossa freguesia.
O Engº. José do Lago Arrais Torres de Magalhães é natural de Vitorino de Piães,
onde nasceu a 31 de Março de 1932, tendo-se licenciado em Engenharia Civil pela
Universidade do Porto.
Pelos relevantes serviços prestados na extinta Comissão de Coordenação da Região Norte, onde se sobressaiu “e pelo apoio técnico prestado às colectividades sociais e culturais do Distrito de Viana do Castelo, com particular evidência para as do
Concelho de Ponte de Lima”, a nossa Edilidade, em Sessão Solene comemorativa do
Dia de Ponte de Lima, realizada em 4 de Março de 2009, no Teatro Diogo Bernardes,
distinguiu-o também, com toda a justiça, com a Medalha de Mérito Social.
BiBLIOgrafia
Jornal “ALTO MINHO”, Bissemanário – nº. 865, de 24 de Maio de 2010. – pág. 5
LIMIANA - Revista Bimestral – Ano III – Nº. 12 – Abril de 2009.
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O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
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O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
rancho folclórico da correlhã
50.º ANIVERSÁRIO
Alberto do Vale Loureiro
Com a presença de individualidades da região, assim como de antigos elementos,
o Rancho Folclórico da Correlhã iniciou, no dia 31 de Janeiro deste ano, as comemorações do 50.º aniversário da sua fundação.
Ao longo da sua existência, este rancho folclórico tem exercido com proficiência,
conhecimento e mestria, uma actividade frutuosa em todos os aspectos relacionados
com a etnografia e o folclore, exibindo, de forma brilhante e exemplar, as suas danças
e cantares, com extraordinário brilho e notável respeito pelos costumes e tradições
de antanho, sendo um digno embaixador cultural de Ponte de Lima em Portugal e no
mundo, que lhe conferem assinalável grandeza e notoriedade.
Tal distinção é fruto de uma acção conjunta dos seus directores evidenciada no
esforço e competência em manter um nível de qualidade já assumido e caracterizado
pela capacidade de realização nas sucessivas melhorias introduzidas que muito têm
valorizado e enriquecido o folclore regional e nacional.
Fundado em Janeiro de 1960, com a finalidade de manter vivas as tradições, usos
e costumes, tem sede própria na importante e próspera freguesia da Correlhã, situada
na margem esquerda do Rio Lima e faz parte integrante das 51 freguesias do Concelho
de Ponte de Lima.
O Rancho Folclórico da Correlhã nos seus primórdios
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
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Fez a sua primeira apresentação pública no dia 12 de Junho de 1960, nas festas de
Santo António na vila de Ponte de Lima.
No seu rico palmarés ufana-se de ter participado nos melhores e mais conceituados festivais nacionais e internacionais com apresentações em todo o país (continente e ilhas), Brasil, Venezuela, Mónaco, Espanha, França, Itália, Luxemburgo, Tunis,
Hungria, etc. sendo de destacar o 2.º e 3.º lugar, a nível mundial, no Word FolkDance
Festival de Palma de Maiorca, o 1.º lugar em instrumental e trajes, em Agricento (Cecília-Itália), Festival do Algarve, Festival dos Açores e Celestino Graça (Santarém).
Actuou em todos os canais de televisão portugueses e em alguns estrangeiros.
Em fonografia tem várias gravações, de grande qualidade, registadas através dos
mais diversos meios tecnológicos.
Dos seus trajes, genuínos de rara beleza cromática, com predominância do vermelho, destacam-se os de Lavradeira, de ir à Romaria, de Domingar, de Trabalho, de ir à
Fonte, ir à Feira, de Morgada, de Mordomas e de Noivos.
Sua tocata é composta por instrumentos tradicionais portugueses, conferindo-lhe, pelo
seu conjunto e originalidade, uma sonoridade musical de apreciável beleza e harmonia.
Tem em actividade, desde 1990, uma Escola de Folclore Infantil.
É membro efectivo da Federação de Folclore de Portugal e está inscrito em instituições ligadas à cultura, à formação e ao lazer.
Neste meio século de vida, eivados de grande sucesso, felicitamos todos os intervenientes
do Rancho Folclórico da Correlhã que, desde o seu início, e com a experiência adquirida,
continuarão, certamente, a dignificar o folclore e a honrar os pergaminhos conquistados.
O Rancho Folclórico da Correlhã no seu 50.º Aniversário, 31 de Janeiro de 2010.
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FONOGRAFIA MUSICAL DA CORRELHÃ
- 2.ª ACTUALIZAÇÃO
Rui Quintela
Para melhor compreensão deste tema e para evitar repetir-me, tomo a liberdade de
remeter os eventuais interessados para duas edições de “O Anunciador das Feiras Novas”: a de 1990 (Páginas 120 a 126 inclusive) e a de 2007 (página 201 a 205 inclusive).
Na edição deste ano retomo a temática para dar a conhecer a gravação de dois
registos discográficos, na modalidade de “CD”, por parte de dois Agrupamentos da
Correlhã.
Desde que haja mais do que um interveniente, tenho, por norma, respeitar a ordem alfabética dos mesmos e, não vai ser desta vez que deixarei de seguir essa metodologia. No caso vertente, até a ordem cronológica da edição dos fonogramas aconselha
a que comece pelo:
GRUPO DA PORTELA
O Grupo da Portela é, até há data
em que escrevo (fins de Maio de 2010),
o mais recente Agrupamento musical
nado e criado nesta freguesia.
Muito embora já viesse a exibir-se
informalmente quando a ocasião se proporcionava, o certo é que a sua apresentação pública aconteceu no dia 23 de
Junho de 2009, na Festa de S. João, da
Correlhã, podendo, assim, considerar
esta data como a que constará da sua cédula pessoal.
A sua actual constituição é a seguinte
(por ordem alfabética, para não ferir susceptibilidades): Afonso Barreiros, Arlindo Barreiros, Armando Silva, Carolina Alves,
Eduardo Malheiro, João Silva, José Luís Malheiro, José Martins e Manuel Alves.
Pois o Grupo da Portela (1) deu a conhecer toda a sua pujança (mandando às malvas a sua média de idades), através do lançamento do seu primeiro CD promocional,
sob o título genérico Primavera.
Graças à sua inquestionável qualidade, os temas gravados, que a seguir se relacionarão, caíram, de imediato, no goto (leia-se ouvido) dos cultores da Música Tradicional
Portuguesa da Região do Alto Minho.
Ei-los: 1 – Primavera – letra e música de José Luís Malheiro; 2 – Romã; 3 – Valsa
Minhota; 4 – Domingos em Festa – letra e música de José Luís Malheiro; 5 – Quadras
soltas; 6 – La Paloma; 7 – Olho de Santo – Letra de José Luís Malheiro; 8 – Lição de
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Namoro; 9 Trapalhada; 10 – Vai de Roda – letra: Grupo da Portela; 11 – Puladinha;
12 – Hino da Portela – letra: Grupo da Portela.
A gestação deste CD aconteceu no lugar da Portela, onde se fizeram e continuam
a fazer-se os ensaios, circunstância que inspirou o nome do Grupo. Por sua vez, o parto verificou-se no lugar da Bezerra – Correlhã, nos Estúdios Artevídeo, propriedade
de Modesto Miranda. A quadra natalícia não podia ser a mais apropriada para o seu
nascimento.
Esta gravação contou ainda com a participação especial e pontual de Modesto
Miranda: Catanholas e Fotografia da Capa e de Nuno Malheiro: Baixo acústico e
masterização.
Como se pode verificar pela fotografia da capa do fonograma em apreço, o instrumento dominante, para além da voz, é a concertina. Inclui também um bombo.
Presentemente, conta ainda com uma viola (violão), sendo seu executante, Armando
Silva. Como na altura da gravação ainda não fazia parte do Grupo, não aparece na
fotografia da capa do CD. Por certo, não faltarão oportunidades para que tal aconteça.
Obviamente que, para além do gosto pela música, em geral e pelo toque da concertina em particular, há ainda um outro factor importante que congrega, ainda mais,
os elementos diletantes deste Agrupamento, qual seja o salutar convívio / confraternização que lhes proporciona uma reconfortante vertente lúdica. Não é por acaso que
há quem chame a este Grupo “Os Amigos da Portela” (1).
Observação:
(1) – Vistas bem as coisas, não me parece uma denominação contra-natura. Bem
pelo contrário, afigura-se-me totalmente consentânea com a sua vivência. Se o baptismo deste Agrupamento fosse a votos, o meu iria para “Os Amigos da Portela”.
GRUPO “QUATRO VENTOS”
Na memorável noite de 7 de Maio do
ano em curso, no Teatro Diogo Bernardes, a rebentar pelas costuras – não estou
a hiperbolizar a adjectivação – o Grupo
“Quatro Ventos” fez a apresentação pública, sem pompa mas com circunstância,
do seu mais recente trabalho discográfico,
um CD com o título pleno de propriedade
Com Tradição.
Por economia de espaço e, sobretudo,
por desnecessidade, não vou trasladar,
aqui e agora o invejável currículo, sabendo-se que parte dele se encontra plasmado nas duas edições supra referenciadas
de “O Anunciador das Feiras Novas”.
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O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
Com melhor poder de síntese, o Coordenador de “O Anunciador das Feiras Novas”, da Edição de 2009., nas páginas 157 e 158, da Edição de 2009, fez o historial
deste Agrupamento.
Por imperativo temático, a minha atenção vai para o mais recente “rebento” do
Grupo “Quatro Ventos”, de seu nome Com Tradição. Nele foram gravados quinze
temas, a saber: 1 – Vira do Pedido (1); 2 – João Barandão; 3 – Malhão Corrido (1);
4 – Vira D’ Aqui; 5 – Senhor da Pedra; 6 – Senhora da Agonia (1); 7 – Braguelim (1);
8 – As Armas do Meu Adúfe; 9 – Ciranda; 10 – Rio Lima (2); 11 – Zé da Carapuça;
12 – S. Gonçalo de Amarante; 13 – S. João; 14 – Chula das Feiras Novas (1); 15 –
Desgarrada. (1) Gaspar Lima; (2) António Lima.
Este excelente trabalho foi gravado e masterizado por Eugénio Brito e Gaspar Lima. A
cantiga S. João, cuja genuinidade me apraz registar, teve a preciosa colaboração do denominado “Coro das Oito”.
Intervieram na presente gravação os seguintes elementos (por ordem alfabética,
como convém): António Lima (bandolim, viola e Voz); Domingos Araújo (cavaquinho); Domingos Pinto (viola e coros); Engrácia Lima (Voz e percussões); Eugénio Brito (cavaquinho, acordeão, viola braguesa, bandolim e coros); Gaspar Lima (acordeão,
bandolim, viola braguesa, cavaquinho, viola e voz); Jorge Carneiro (viola, percussões
e voz); Nair Pereira Lima (percussões, voz e coros); Teresa Lima Fiúza (viola braguesa,
percussões e Voz) e Carlos Fiúza (som, imagem e vídeo).
O CD em questão não vale só pela música nele gravada. Vale também pela capa,
que, no meu conceito estético, é uma autêntica obra de arte, concebida pelo talento
da Designer limiana, Madalena Vieira Martins. Vale ainda pela prosa poética, da autoria de Amândio Sousa Vieira e do Grupo “Quatro Ventos”, contida no invólucro de
papel que “agasalha” o neófito, propriamente dito. Gostaria de transcrevê-la. Porém,
tenho a clara noção de que já abusei do espaço supostamente concedido. Todavia,
quem quiser fruir desses nacos de prosa poética, pode fazê-lo. Para tanto, basta adquirir o fonograma em apreço. O que acima ficou dito não é publicidade. É, apenas e
tão-só, uma sugestão.
Estou convencido de que, face à aceitação que estes dois excelentes trabalhos tiveram, cada um na sua vertente, não tardará muito em que terei de voltar às páginas
de “O Anunciador das Feiras Novas” para fazer uma nova actualização. A acontecer,
fá-lo-ei com muito gosto.
Agradecimentos (por ordem alfabética): ao Sr. Amândio de Sousa Vieira (Foto
Lethes) a gentileza de me ter facultado a fotografia da capa do CD Com Tradição, do
Grupo Quatro Ventos; ao Sr. Modesto Miranda pela cedência da fotografia da capa do
CD Primavera, do Grupo da Portela. Agradeço também a Graciete Teixeira e aos meus
três filhos o apoio informático prestado.
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
157
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O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
RETRATO DAS FEIRAS NOVAS (II)
PREPARANDO AS FEIRAS NOVAS EM 1899
José Carlos Loureiro
A notícia tem mais de cem anos. Os preparativos para as Feiras
Novas ocupavam a atenção dos habitantes da vila. Transcrevendo
o jornal A Semana de 7 de Setembro de 1899 (nº 378, VIII ano):
Estão-se já construindo no passeio de D. Fernando as barracas
para as feiras annuaes, realisadas nos proximos dias 19, 20 e
21. (...) Tambem no largo fronteiro ao Senhor do Pecegueiro,
onde já funcciona ha dias uma roda de cavallinho de páu,
se trabalha activamente na construção de dous barracões
destinados a Fantoches e outros divertimentos, que os snrs.
Fortunato Marianno e Cosme Siciliani vão exhibir ao publico
pela mesma occasião.
Na edição do mesmo periódico de 14 de Setembro de 1899
é dado a conhecer a preparação da “corrida de 12 touros”, cujos
bilhetes se encontravam à venda no estabelecimento do sr. Narciso
Alves dos Santos, sito no Largo de Camões. O jornal A Semana
noticiava a chegada, nesse mesmo dia, do “curro para as touradas
(...) sendo 12 animaes de bonita estampa”. Segundo o artigo,
(…) foram ao encontro, estrada de Tamel, alguns trens repletos
de afficionados e varios individuos a cavallo, entrando n’esta
villa pouco depois das 7 horas da tarde, o que foi uma grande
imprudencia (...). Os touros ao entrar na rua estrada perto
do Paço do Marquez, voltaram, felizmente irmanados, em
direcção ao jardim da Rainha d’onde sem tresmalharem, foram
conduzidos para as veigas de Bertiandos, tendo atravessado
pacificamente as ruas José Abreu Coutinho, largo das Pereiras,
calçada dos Artistas, largo S. João e rua do Rosário, por entre
immenso povo, entre curiosos e individuos surprehendidos, e
n’uma enorme vozeria do rapazio.
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
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Lugar do Carvalhal - Fontão - P. Lima
258 732 086
FOTOCÓPIAS A CORES
E EM
GRANDES FORMATOS
[email protected]
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O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
R. Cónego B. Correia - P. Lima
258 732 086
A ESTIRPE LIMIANA DA FAMÍLIA
“PEREIRA COUTINHO”
Porfírio Pereira da Silva
Viajando pela Estrada Nacional n.º
203, estrada essa que nos leva de Viana
do Castelo a Ponte de Lima, pela margem esquerda do mitológico Lethes, encontra-se, a cerca de 17 quilómetros da
capital de distrito, na freguesia de Vitorino das Donas, como escreveria António
Lambert Pereira da Silva, um estradão assombrado por gigantes carvalheiras no fim
do qual se destaca uma casa de senhorial
aspecto1. É o velho e nobre Paço de Vitorino, outrora denominado Quinta do
Barco. Foi cabeça de morgado instituído
em 1653 e passou a ser designado por
Paço de Vitorino, por ter acolhido, em
1580, D. António Prior do Crato, aquando da sua fuga às tropas espanholas, depois de desfeito o seu sonho patriótico,
procurou asilo2.
Mais tarde, em 1836, chamaram-lhe Casa Queimada por ter sido incendiada pelos
liberais3 e quando El-Rei D. Carlos I fez Conde de Paço de Vitorino, Francisco de Abreu
de Lima Pereira Coutinho, ficou conhecido definitivamente por Paço de Vitorino.
Flanqueado por um alto muro de ameias chanfradas, nele se abre um imponente portão rematado por uma pedra de armas: Escudo esquartelado: no 1.º quartel,
ABREUS; de vermelho, 5 cotos de asa de águia de ouro, cortados em sangue; no 2.º,
COUTINHOS; de ouro, 5 estrelas de 5 pontas de vermelho; no 3.º, PEREIRA; de
vermelho, cruz florida de prata, vazia de campo; no 4.º, LIMAS; de ouro, 4 palas de
vermelho: sobreposto Logier; em campo verde, uma asna de ouro e vermelho com as
cores desencontradas entre 3 cabeças de leão de ouro. Coroa de marquês.
cit. SILVA, António Lambert Pereira da, p. 185.
É tradição noutras casas da margem esquerda do Rio Lima que D. António Prior do Crato aí estivesse exilado, e por isso passarem a denominar-se de Paço. São exemplo disso: Paço de Anha, Paço de Geraz do Lima e Paço de Vila Fria, todos no concelho de
Viana do Castelo.
(3)
Segundo o nosso particular amigo e historiador Albano Sordo, esta versão não corresponde à realidade, dado que nesse mesmo
dia foi assaltada a Casa do Arrabalde – de Francisco Melo Gama e Araújo – de onde os ladrões encapuzados levaram tudo, desde
dinheiro, prata, jóias e até mobílias, carregadas nos dorsos de mulas. Estas riquezas tinham vindo da Índia, onde o mesmo Francisco Araújo fora Brigadeiro. Os ladrões pegaram fogo ao Paço de Vitorino, precisamente para atraírem à casa os “Fidalgos de Ponte
de Lima”. Este “rocambolesco” acontecimento levou à miséria a família de Melo Gama e Araújo.
(1)
(2)
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
161
Transporto este portão armoriado, deparamos com um largo terreiro, tendo como
pano de fundo o velho Solar dos Abreus e Limas. O edifício, na sua actual arquitectura, parece ter sido mandado construir por João de Abreu de Lima Logier, para
substituir a antiga casa da Quinta do Barco e terminado por volta de 1780, pelo seu
bisneto Gonçalo de Abreu Coutinho.
Vejamos como António Lambert Pereira da Silva descreve este Solar, na altura
que o visitou: «De um andar nobre muito baixo, a parte central recuada dos corpos
extremos, mas ligando-os entre si, forma uma linda varanda de arcaria com uma elegantíssima escada de balaústres, de lanços opostos. A cimalha toda ameada tinha, a
meios a pedra de armas da casa, – os 5 cotos de asa dos Abreus – que o ciclone de 15
de Fevereiro de 1941 derrubou e que, infelizmente, ainda não voltou a ocupar o seu
lugar. Digna de reparo é a capela4 perto do portão da entrada e no correr do muro,
com os seus dois arcos sineiros de pedra trabalhada, os fogaréus nos cunhais, o emolduramento da janela que a ilumina e o remate da porta da entrada, que lembra, visto
de certo ângulo, duas enormes asas abertas como a proteger piedosamente os fiéis.
Os jardins, com os seus buxos, suas fontes e tanques, suas estátuas em granito
representando Neptuno, Diana e Mercúrio, a adorável capelinha de N.ª Senhora da
Piedade, dão a este conjunto uma expressão de grandeza que se quadra bem com os
apelidos fidalgos dos seus possuidores.
(4)
162
Segundo o historiador medievalista e museógrafo, António Matos Reis, a fachada desta capela é de estilo rocaille tardio.
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
As nobres ligações que, no decorrer dos séculos, os Abreus e Limas contraíram,
ficaram vincadas nessas evocativas pedras de armas que encontramos ao percorrer
os seus jardins. Mas a par desses padrões de nobreza não foram também esquecidos
os Santos protectores dos Senhores do solar: S. Bento e Santo António lá figuram, o
primeiro sobre o tanque do terreiro, o segundo na fonte do jardim.
Em 23 de Julho 1836, o Paço foi pasto da fúria fratricida que então dividiu Portugal. Era seu Senhor, Francisco de Abreu Pereira Coutinho, legitimista convicto. A
turba liberal, em represália às suas ideias políticas, assalta, rouba e incendeia o velho
solar, fazendo desaparecer para sempre preciosidades»5. Nem o Conde d’Aurora escapou ao seu encanto: «Cá abaixo, pelas feras veigas, vergeis do Lima, rompem pelo
arvoredo secular as cornijas Casa do Paço de Vitorino (que um ramal de um milhar de
passos, e uma larga e majestosa carreira de grandiosos sobreiros, suspensa entre duas
lindas curvas azuis do rio, distancia da estrada). Antiga Casa do Barco, de Abreus Coutinhos (no brasão: armas de Abreus, “em chefe”), foi queimada pelos liberais durante
as lutas civis: ainda conheci o senhor da casa, Francisco de Abreu (1.º conde de Paço
de Vitorino, título de João Franco), nascido no corpo de cavalariças lateral da casa,
quando o pai regressara do exílio em Londres, onde a tradição diz que chegou a trabalhar como criado de mesa»6.
(5)
(6)
Ob. cit., p. 186-187.
Cit. AURORA, p. 195-196.
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
163
Antes de chegarmos a António de Abreu Coutinho, convenhamos em referir a
ancestralidade desta família alto-minhota, que começou por volta de 1500 e tal com
António Ramos, que era Senhor da Casa e Quinta do Barco e foi Capitão de Infantaria nas Índias e General do Mar do Sul. Casou com D. Ana Lima. Foi sua filha D.
Francisca de Lima, que foi herdeira de seus pais e casou com Álvaro de Abreu Soares,
Fidalgo da Casa Real, Sargento-mor de Viana pelos anos de 1596. Do casamento de
D. Francisca de Lima com Álvaro Abreu Soares, nasceu Manuel de Abreu de Lima,
Senhor da Casa e Quinta do Barco e Fidalgo da Casa Real. Este, por sua vez, casou
com D. Vitória Barbosa de Miranda, filha de Heitor Tinoco Salgado e de sua mulher
D. Antónia Barbosa de Miranda. Foi herdeira da Casa e Quinta do Barco, a filha
destes, D. Francisca de Lima e Abreu, que casou, em 1638, com Guilherme Logier
Kempenaer, Cavaleiro flamengo, natural de Anvers, filho de João de Kempenaer Logier, Governador de Vassenar em Flandres, e de sua mulher Cornélia de Vos, filha de
Ervando de Vos, Senador de Bruxelas, e de Joana de Wilhens. Guilherme Kempenaer
e sua mulher D. Francisca, em 1647, fundaram a capela de Santo Cristo na igreja dos
frades Carmelitas do Convento do Carmo, em Viana do Castelo7 e a 3 de Fevereiro de
1653 instituíram em morgado a Quinta do Barco.
João de Abreu de Lima Logier, sucedeu a seus pais, D. Francisca e Guilherme Logier, no morgadio do Barco e Paço de Vitorino. Militou como voluntário nas Guerras
da Aclamação, e, ainda que suscitando
algumas dúvidas, a ele se deve a transformação da Casa do Barco no actual
Paço de Vitorino. Casou com D. Francisca Coutinho Pereira, natural de Vila
Nova de Cerveira, filha de Álvaro de
Cerveira de Azambuja, Juiz de Fora de
Vila Franca de Xira, e de sua mulher, D.
Filipa Coutinho, filha herdeira de Francisco Pereira Coutinho, 4.º neto do 2.º
Conde de Marialva, e de sua mulher D.
Inês Pinto. Seguiram-se-lhes Manuel
Coutinho de Abreu e Lima e Logier, Fidalgo Cavaleiro da Casa Real, Mestre de
Campo de Auxiliares e Familiar do Santo Ofício. Teve a mercê da Comenda das
Moendas de Soure na Ordem de Cristo.
Senhor do Morgado do Barco e Paço de
Vitorino, casou com D. Luísa Antónia
Pereira de Castro, viúva de seu primo
Manuel Coelho de Araújo, Senhor da
(7)
Esta capela, que fica do lado esquerdo do altar-mor da igreja do Carmo, é encimada pela pedra de armas da família: composição
esquartelada: 1.º e 4.º quartéis, LOGIER; e 2.º e 3.º, ABREUS. Timbre de Logier.
164
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
Quinta da Fonte dos Gatos em Ponte da Barca, filha de João da Costa Pereira, Governador da Ilha de S. Miguel, e de sua mulher D. Maria de Castro e Sousa. Foi seu
filho: Francisco de Abreu Coutinho de Lima, Cavaleiro da Ordem de Cristo, Fidalgo
da Casa Real, Capitão de Infantaria, Senhor do Morgado do Barco e Paço de Vitorino.
Viveu pelos anos de 1740 e casou com D. Sebastiana Rosa de Sá Sotomaior, filha de
João de Sá Sotomaior, Senhor do Morgado da Aurora em Ponte de Lima, morgado
instituído por ele em 1 de Julho de 1744, e de sua mulher D. Maria de Lima Barreto
da Gama Pacheco e Castro.
Gonçalo de Abreu Coutinho, filho de Francisco Abreu e de D. Sebastiana Rosa,
foi Senhor do Paço de Vitorino, 6.° Morgado do Barco, 3.° do de Alvar (Arcos de
Valdevez) e 5.° do de Cortegaça pelo seu casamento. Foi também Senhor da Casa dos
Kempenaers, Coudel-mor de Viana e Fidalgo da Casa Real. Casou com D. Maria Joana da Rocha Fagundes do Rego Barreto de Barros, filha herdeira de Afonso da Rocha
Fagundes, 4.° Morgado de Cortegaça8, e de sua mulher D. Maria Rosa de Barros do
Rego Barreto, da Casa do Quintal em Santa Maria de Geraz do Lima. Foi seu filho:
N. 1 ANTÓNIO DE ABREU COUTINHO, Senhor do Paço e Morgado do Barco
em Vitorino das Donas, Fidalgo Cavaleiro da Casa Real (Alvará de 20 de Setembro
de 1798), nasceu a 10 de Agosto de 1777 e faleceu a 21 de Outubro de 1821, tendo
casado, a 13 de Dezembro de 1801, com D. Isabel Tomásia de Jesus Pimenta Correia
Feijó, que nasceu a 25 de Outubro de 1777, filha de Tomás Correia Feijó – bisavô do
grande poeta António Feijó –, Senhor da Casa de Anta, na Correlhã (Ponte de Lima),
e de sua mulher D. Isabel de Barbosa Pimenta Furtado de Mendonça.
2. Francisco António, que segue.
2. D. Maria Joaquina, nasceu a 11 de Novembro de 1803.
2. António de Abreu Coutinho, Cadete de Caçadores n.º 12, faleceu a
12 de Dezembro de 1826.
2. José Maria de Abreu Coutinho, Ajudante do General Mac-Donell em
1846, que faleceu a 4 de Março de 1882.
2. Joaquim de Abreu Pereira Coutinho.
2. D. Maria Joana de Abreu Pereira Coutinho, que faleceu a 6 de Junho
de 1826.
2. João de Abreu Coutinho.
2. Félix de Abreu Coutinho, Cônsul de Portugal, em S. Paulo (Brasil).
Nos anos 60 do século XX era representante do vínculo de Cortegaça, vínculo instituído anteriormente a 1640 por Francisco
Fagundes Quesado Peixoto, o 2.° Visconde de Cortegaça, António de Magalhães Barros de Araújo Queirós, ilustre magistrado e
notável homem de letras, o qual referiremos mais adiante.
(8)
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
165
2. Luís de Abreu Coutinho, nasceu a 28 de Julho de 18219.
2. Manuel de Abreu Coutinho.
N 2. FRANCISCO ANTÓNIO DE ABREU PEREIRA COUTINHO, sucessor, Fidalgo Cavaleiro da Casa Real, Tenente-coronel das Milícias da Barca e Fidalgo da
Casa Real, chefiou o movimento miguelista da Ribeira Lima comparecendo em Viana
como milhares de homens sob o seu comando. Nasceu a 30 de Novembro de 1802 e
faleceu a 29 de Maio de 1864, tendo casado, em 1849, com sua prima D. Catarina de
Sena Pereira Pimenta de Sá Furtado de Mendonça, da Casa da Barrosa, em Lanheses
(Viana do Castelo), que nasceu em 1817 e faleceu a 4 de Outubro de 1881.
3. Francisco, que segue.
3. José, que segue no § 1.º
3. António de Abreu de Lima Pereira Coutinho, 1.º Visconde de Cortegaça (Decreto de 2 de Maio de 1907), Senhor da Casa e Quinta de
Cortegaça, em Subportela (Viana do Castelo), que nasceu a 11 de Novembro de 1854 e casou, a 15 de Agosto de 1881, com D. Maria José
Perestrelo de Alarcão Marinho Pereira de Araújo, filha de Francisco Perestrelo Marinho Pereira de Araújo e de sua mulher D. Maria José de
Alarcão Velásquez Sarmento Osório, da Casa de Sinde, s. g.
3. Miguel de Abreu de Lima Pereira Coutinho, nasceu a 8 de Maio de
1855 e faleceu, em S. Paulo (Brasil), a 18 de Junho de 1921, tendo casado com D. Braziliana Hortênsia dos Santos.
4. D. Maria José de Abreu Pereira Coutinho.
4. D. Argentina de Abreu Pereira Coutinho, casada com
Peregrino Viana, de S. Paulo (Brasil), c. g.
4. Ulisses de Abreu e Lima Pereira Coutinho, Bacharel
formado em Direito e Promotor Público na cidade de S.
Paulo (Brasil), etc., casado e c. g.
4. Miguel de Abreu e Lima Pereira Coutinho, Bacharel
formado em Medicina, Médico da Assistência Pública em
S. Paulo.
4. D. Maria da Conceição, casada e c. g.
3. D. Maria José, que segue no § 2.º
3. Joaquim de Abreu e Lima Pereira Coutinho, Comendador da Ordem
da Conceição, nasceu a 10 de Setembro de 1861 e faleceu, em S. Paulo
(9)
Deste Luís de Abreu de Lima Pereira Coutinho soubemos – através de sua bisneta D. Maria Carlota de Andrade Coutinho, natural do Brasil, mas moradora em Miami, Florida (U.S.A.) – que foi para o Brasil com seu irmão Manuel de Abreu de Lima Pereira
Coutinho e que casou com D. Francisca Franco de Andrade. Deste matrimónio nasceu Francisco de Andrade Coutinho que, por sua
vez, casou com Alzira Ferreira Penteado, filha de Elysiario Ferreira de Andrade Camargo e de sua mulher D. Maria Joana Penteado.
Tiveram Sylvio de Andrade Coutinho que casou com D. Maria Carlota de Moraes Pinto, filha de Firmiano de Moraes Pinto e de sua
mulher D. Cândida de Arruda Botelho, filha de António Carlos de Arruda Botelho (Conde de Pinhal) e de D. Anna Carolina de Mello
Oliveira (Condessa do Pinhal). Por último, referimo-nos a D. Maria Carlota de Andrade Coutinho, filha de Sylvio de Andrade Coutinho
e de Maria Carlota de Morais Pinto, que casou Luiz Gonzaga de Toledo Filho (Sénior Vice President of DELTA BANK, em Miami,
Florida). Desta ilustre ramificação dos «Pereiras Coutinhos», já se encontram gerações no Brasil, no México e nos Estados Unidos,
nomeadamente em Miami, Florida.
166
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
(Brasil), a 12 de Outubro de 1927, tendo casado, com D. Cecília Alves Pereira.
4. D. Maria das Dores Pereira Coutinho, casada com
Manuel de Almeida Guedes, de S. Paulo (Brasil), c. g.
4. Luciano de Abreu de Lima Pereira Coutinho.
4. Fernandino Pereira Coutinho, que casou com D. Alice
de Castro e de sua mulher D. Hermínia de Castro, c. g.
N 3. FRANCISCO DE ABREU DE LIMA PEREIRA COUTINHO, Fidalgo da Casa
Real, 1.º Conde do Paço de Vitorino (Decreto de 27 de Fevereiro de 1907), sucessor,
nasceu a 24 de Outubro de 1850 e faleceu a 7 de Fevereiro de 1921, tendo casado, a
14 de Setembro de 1885, com D. Sebastiana Augusta Calheiros de Noronha CasteloBranco Pita de Avilez e Menezes, que nasceu a 1 de Março de 1858 e faleceu a 29
de Abril de 1918, filha herdeira de Francisco Xavier Calheiros de Noronha, Fidalgo
da Casa Real e Senhor da Torre de Geraz (Viana do Castelo) e de sua mulher D. Joaquina Werneck de Abreu Brandão e Vasconcelos, Senhora da Honra de Gondufe em
Mangualde, da Torre de Geraz, da Casa de Werneck e da Casa de Ois do Bairro em
Mogofores. Foi ele quem vendeu a Casa dos Kempenaer Logier em Viana.
4. D. Maria de Jesus de Abreu Calheiros de Noronha Pereira Coutinho,
nasceu a 22 de Setembro de 1886 e casou com Luís António Malheiro
de Távora de Abreu Lima, 2.º Conde da Carreira, c. g.
4. Francisco, que segue.
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
167
4. António de Abreu Calheiros de Noronha Pereira Coutinho, Senhor da
Torre de Geraz em Viana do Castelo, nasceu a 1 de Dezembro de 1888 e
casou, em 27 de Maio de 1925, com sua prima co-irmã D. Maria Branca
de Abreu de Magalhães Pereira Coutinho, que nasceu a 27 de Janeiro de
1893, filha de seu tio paterno José de Abreu e Lima Pereira Coutinho.
5. António, m. m.
5. D. Maria Aurora de Abreu Calheiros de Noronha
Pereira Coutinho (filha perfilhada), que nasceu a 17 de
Maio de 1914.
4. D. Joaquina, m. m.
4. José de Abreu Calheiros de Noronha Pereira Coutinho, nasceu a 1 de
Dezembro de 1891, sendo aluno do 5.º ano de Direito da Universidade
de Coimbra, a 15 de Novembro de 1915, tendo casado, a 25 de Janeiro
de 1913, com D. Maria da Conceição Lobo Machado de Melo e Sampaio, que passou a segundas núpcias com seu cunhado o 2.º Conde do
Paço de Vitorino, como adiante se diz.
5. D. Maria da Conceição, m. m.
5. D. Maria Margarida, m. m.
4. D. Maria da Nazaré, m. m.
4. D. Maria dos Prazeres, casada, a 1 de Agosto de 1925, com Francisco
de Almada de Viamonte de Sousa da Silveira, 2.º Visconde de Viamonte
da Silveira, c. g.
N 4. FRANCISCO DE ABREU CALHEIROS DE NORONHA PEREIRA COUTINHO, por mercê de El-Rei D. Manuel II no exílio, é 2.º Conde do Paço de Vitorino,
Senhor do Paço de Vitorino das Donas, da Quinta da Rasca em S. Bento, nasceu a 19
de Setembro de 1887 e casou, a 21 de Dezembro de 1922, com sua cunhada (viúva
de seu irmão José) D. Maria da Conceição Lobo Machado de Melo e Sampaio, que
nasceu a 23 de Outubro de 1891, filha de Pedro Lobo de Sousa Machado Cardoso
de Menezes (filho do 1.º Visconde do Paço de Nespereira) e de sua mulher D. Maria
Margarida de Melo e Sampaio (filha dos 1.º Barões de Pombeiro de Riba Vizela).
5. Francisco, nasceu a 29 de Janeiro de 1924 e faleceu a 18 de Setembro
de 1925.
5. Pedro de Abreu Calheiros de Noronha Lobo Machado Pereira Coutinho, gémeo do anterior.
5. António de Abreu Calheiros de Noronha Lobo Machado Pereira Coutinho, nasceu a 9 de Outubro de 1926.
§ 1.º
N 3. JOSÉ DE ABREU DE LIMA PEREIRA COUTINHO, filho de Francisco António de Abreu Pereira Coutinho, nasceu a 25 de Abril de 1852 e faleceu a 14 de Dezembro de 1920, tendo casado, a 27 de Dezembro de 1883, com D. Maria Augusta de
168
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
Magalhães Barros de Araújo Queiroz, que nasceu a 27 de Outubro de 1852, filha do
Dr. João Roberto de Araújo Queiroz, Juiz de Fora de Alijó, e de sua mulher D. Maria
Rita de Magalhães Barros Lanços Cardoso Barreto, Senhora da Quinta de Creste em
S. Salvador do campo (Barcelos).
4. Francisco, que segue.
4. José de Abreu de Magalhães Pereira Coutinho, Bacharel formado em
Direito, Juiz de Direito em Lisboa, nasceu a 6 de Março de 1886 e casou
a 10 de Agosto de 1918, com D. Maria Eulália Ribeiro Freire Pereira
Brettes Jardim, filha de António Leite Pereira Jardim (Monte-São), e de
sua mulher D. Hermínia Augusta Pereira Brettes.
4. D. Maria da Conceição, nasceu a 31 de Outubro de 1887.
4. Gonçalo de Abreu Magalhães Pereira Coutinho, nasceu a 17 de Março de 1890 e casou a 17 de Abril de 1926, com D. Emília Carolina Neto
Afonso, filha de Leopoldo Afonso, grande proprietário e capitalista de
Lisboa, e de sua mulher D. Albertina Gomes Neto.
4. D. Maria Branca, casada com seu primo co-irmão António de Abreu
Calheiros de Noronha Pereira Coutinho (atrás referida).
4. D. Sofia, nasceu a 1 de Dezembro e faleceu a 20 de Abril de 1914.
4. D. Maria Angelina, nasceu a 14 de Agosto de 1896.
N 4. FRANCISCO DE ABREU DE MAGALHÃES PEREIRA COUTINHO, Bacharel formado em Direito, Deputado da Nação, antigo Notário em Ponte de Lima,
advogado nos auditórios de Braga, nasceu a 22 de Setembro de 1884 e casou, a 25 de
Novembro de 1920, com D. Estela Pita Ayala da Câmara de Abreu Teixeira, que nasceu a 26 de Junho de 1896, filha de Diogo Pita de Abreu Teixeira, senhor da Casa do
Monte em Vila de Punhe (Viana do Castelo), e de sua mulher e sobrinha D. Carolina
Sofia Pita da Silva Rego.
5. D. Maria Eugenia, nasceu a 1 de Outubro de 1922.
5. José, nasceu a 13 de Dezembro de 1923.
5. Diogo, nasceu a 20 de Setembro de 1925.
5. D. Branca, nasceu a 19 de Janeiro de 1929.
5. Gonçalo, nasceu a 28 de Junho de 1931.
§ 2.º
N 3. D. MARIA JOSÉ DE ABREU DE LIMA PEREIRA COUTINHO, filha de Francisco António de Abreu de Lima Pereira Coutinho, nasceu a 29 de Junho de 1856 e
faleceu na Casa das Pereiras (Ponte de Lima) a 11 de Setembro de 1926, tendo casado, a 4 de Fevereiro de 1878, com António de Magalhães Barros de Araújo Queiroz,
Bacharel formado em Direito, Presidente da Câmara Municipal de Ponte de Lima,
distinto advogado e jornalista, que nasceu a 12 de Fevereiro de 1838 e faleceu a 19
de Dezembro de 1888, filho do Dr. João Roberto de Araújo Queiroz, Juiz de Fora em
Alijó, e de sua mulher D. Maria Rita de Magalhães Barros de Lanços Cardoso Barreto,
Senhora da Quinta de Creste, em S. Salvador do Campo (Barcelos).
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
169
4. D. Catarina de Magalhães, que nasceu no Paço de Vitorino a 22 de
Dezembro de 1878 e faleceu em 1879.
4. D. Ana de Magalhães, que m. m.
4. D. Ana de Magalhães, que m. m.
4. António de Magalhães Barros de Araújo Queiroz, 2.º Visconde de
Cortegaça, Bacharel formado em Direito pela Universidade de Coimbra,
seguiu a carreira da magistratura, e atingiu o grau de Juiz Conselheiro do
Supremo Tribunal de Justiça. Várias vezes Presidente da Câmara Municipal de Ponte de Lima; membro do Instituto Histórico do Minho, cidadão honorário de Vieira do Minho, e distinto genealogista. Foi Senhor do
Solar e quinta de Cortegaça, na freguesia de Subportela, Viana do Castelo, antigo vínculo instituído, há mais de 300 anos, por seus antepassados
Francisco Vaz Peixoto Fagundes e Maria da Rocha Jácome, bem como
de todos os mais bens (de que foi universal herdeiro) de seu tio materno
António de Abreu e Lima Pereira Coutinho, 1.º Visconde de Cortegaça
em sua vida (falecido a 22 de Fevereiro de 1933), que, no seu testamento, como frisante prova de afeição, querendo que ele, absolutamente, o
representasse, deixou manifestado o desejo de que usasse o seu título.
Nasceu na Casa das Pereiras, em Ponte de Lima, a 19 de Março de 1882
e faleceu na Casa de Cortegaça a 19 de Junho de 1961, solteiro e s. g.
4. Francisco de Magalhães Barros de Araújo Queiroz, Bacharel formado
em Direito e diplomado com os cursos especiais administrativos e colonial, pela Universidade de Coimbra, Subdelegado do Procurador Régio
de Ponte de Lima (1908) e na extinta comarca de Amares (1910), Presidente da Câmara Municipal de Ponte de Lima, distinto escritor e jornalista. Foi Senhor da Casa das Pereiras, onde nasceu a 29 de Setembro de
1883 e faleceu a 5 de Abril de 1966, solteiro e s. g.
4. José de Magalhães Queiroz de Abreu Coutinho, Capitão de Infantaria
(reformado em 1937). Oficial muito distinto, prestou relevantes serviços
à Pátria, no continente, na ilha da Madeira e em África, durante o trágico cerco de Nevala, por ocasião da guerra contra os alemães, pelo que
foi agraciado com a Cruz de Guerra de 2.ª classe e com a Comenda de
São Bento de Aviz: Tenente José de Magalhães Queiroz de Abreu Coutinho,
condecorado com a Cruz de Guerra de 2.ª classe pelo valor e abnegação com
que fez fogo aos baluartes do fortim de Nevala durante os combates de 22 e
28.11.1916, com as suas metralhadoras sem guarnições tendo apenas um
oficial como auxiliar, procedendo sempre, com maior dedicação, entusiasmo e
valentia, expondo-se durante a luta com risco de vida, por isso que o inimigo
alvejava de preferência as suas posições10. Nasceu na Casa das Pereiras a 18
de Abril 1885 e faleceu a 23 de Dezembro de 1952. Casou na capela do
cit. «Boletim Militar das Colónias», n.º 5 de 29 de Maio de 1919, p. 266 e n.º 6 de 11 de Junho de 1919, p. 373; «Livro de Oiro
da Infantaria», p. 132; «Anais Municipais» de Ponte de Lima, 1938, p. 169.
(10)
170
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
Solar de Pomarchão (Ponte de Lima), a 19 de Janeiro de 1925, com D.
Maria Madalena Malheiro Pereira de Castro, que nasceu a 19 de Janeiro
de 1899, filha de Gaspar Pereira de Castro, Coronel de Engenharia, e de
sua mulher D. Clara Malheiro Reymão Pereira de Castro.
5. D. Maria Leonor de Magalhães de Lançós de Abreu
(e Menezes Pereira) Coutinho, nasceu em Ponte de Lima
a 5 de Novembro de 1925. Casou no Porto, a 13 de Maio
de 1951, com Manuel Maria Duff Burnay Pereira, natural de Lisboa, filho de Isaac Pereira e de sua mulher D.
Madalena Duff Burnay. Tiveram cinco filhos: (6) José de
Abreu Coutinho Burnay Pereira, que nasceu a 4 de Abril
de 1952; (6) Carlos, que m. m.; (6) D. Clara Maria, que
nasceu a 21 de Março de 1956; (6) D. Virgínia, que nasceu a 12 de Agosto de 1959; e, finalmente, (6) D. Maria
Madalena, que nasceu a 26 de Dezembro de 1965.
5. Pedro, que segue.
5. D. Maria José de Magalhães e Lançós de Abreu Coutinho, que nasceu em Viana do Castelo a 15 de Outubro
de 1929. Casou em Vitorino das Donas, a 19 de Maio de
1953, com Frederico Maria de Santa Clara Duff Burnay,
natural de Lisboa, filho de António Duff Burnay e de sua
mulher D. Madalena de Santa Clara. Tiveram, também,
cinco filhos. A saber: (6) Frederico Guilherme de Abreu
Coutinho Duff Burnay, que nasceu a 5 de Abril de 1954;
(6) António Maria, que nasceu a 24 de Janeiro de 1956;
(6) D. Maria do Rosário, que nasceu a 5 de Janeiro de
1958; (6) João Maria, que nasceu a 28 de Fevereiro de
1960; e, finalmente, (6) D. Margarida Maria, que nasceu
a 6 de Fevereiro de 1963.
5. João Maria de Magalhães e Menezes de Abreu Coutinho, que nasceu em Viana do Castelo a 21 de Abril de
1931. Casou no Porto, em 1959, com D. Maria Judite
Bandeira Claudino de Morais, que nasceu no Porto a 1
de Agosto de 1935, filha de António Claudino de Morais,
do Peso da Régua, e de sua mulher D. Maria Judite Lobo
Bandeira, do Porto. Tiveram dos filhos: (6) João, que nasceu em S. Paulo (Brasil) a 17 de Fevereiro de 1960; e, (6)
D. Maria Cristina, que nasceu na mesma cidade a 21 de
Janeiro de 1962.
5. D. Maria Isabel de Magalhães de Abreu Coutinho,
que segue no Paço de Lanheses (Viana do Castelo).
5. D. Maria Rita de Magalhães de Abreu Coutinho, que
nasceu em Viana do Castelo a 30 de Março de 1934.
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
171
Casou em Viana do Castelo, a 11 de Agosto de 1962,
com José Luís de Abreu Castelo-Branco, Licenciado em
Medicina, que nasceu em Coimbra a 11 de Dezembro de
1929, filho de Manuel de Abreu Castelo-Branco (Fornos
de Algodres), Major de Infantaria na reserva, engenheiro civil, etc. e de sua mulher D. Maria Luísa de Queiroz
Pinto de Mesquita de Carvalho e Vasconcelos. Tiveram
dois filhos: (6) D. Maria Luísa de Magalhães de Abreu
Castelo-Branco, que nasceu a 28 de Maio de 1965; e, (6)
Manuel de Abreu Castelo-Branco, que nasceu a 22 de
Junho de 1964.
5. Margarida Maria de Magalhães de Abreu Coutinho,
que nasceu em Viana do Castelo a 3 de Março de 1935.
5. D. Maria Madalena de Magalhães de Abreu Coutinho, que nasceu em Viana do Castelo a 3 de Agosto de
1936.
5. António Luís de Magalhães de Abreu Coutinho, oficial do exército, que combateu heroicamente, na Província da Guiné, tendo sido condecorado com a Cruz de
Guerra de 2.ª classe. Nasceu em Viana do Castelo a 15 de
Agosto de 1939.
4. D. Maria Rita de Magalhães de Abreu Coutinho, Senhora da Quinta
dos Abades – por disposição testamentária do Conselheiro Barreto Pimentel, falecido em 1917 –, em S. Martinho da Gandra (Ponte de Lima),
do prazo da quinta de Sarnados, da casa do Chafariz na vila de Ponte de
Lima – por disposição testamentária do Dr. José Manuel de Brito Cicio,
falecido em 1918 –, nasceu na Casa das Pereiras a 9 de Novembro de
1886. Em 1967, vivia solteira.
4. João Roberto de Magalhães, que nasceu na Casa das Pereiras a 22 de
Setembro de 1888 e morreu de poucos meses.
N 5. PEDRO DE MAGALHÃES E LANÇÓS DE ABREU COUTINHO, Senhor do
Solar de Cortegaça (Subportela – Viana do Castelo) e da Casa das Pereiras em Ponte
de Lima, aluno do 3.º ano de sociologia do «Instituto de Estudos Superiores» de Évora, nasceu em Viana do Castelo a 8 de Julho de 1928. Casou em Évora, a 12 de Maio
de 1955, com D. Maria Filomena da Câmara Manoel Reynolds, que nasceu em Évora
a 12 de Janeiro de 1934, filha de William Francis Perdigão Reynolds e de sua mulher
D. Francisca Carolina de Calça e Pina da Câmara Manoel.
6. D. Maria Inácia Reynolds de Abreu Coutinho, que nasceu a 3 de
Fevereiro de 1957.
6. D. Maria Rita Reynolds de Abreu Coutinho, que nasceu a 1 de Outubro de 1958.
6. Luís de Magalhães Reynolds de Abreu Coutinho, que nasceu a 26 de
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O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
Março de 1960.
6. D. Maria Teresa Reynolds de Abreu Coutinho, que nasceu a 18 de
Julho de 1961.
6. Guilherme de Castro Reynolds de Abreu Coutinho, que nasceu a 15
de Fevereiro de 1965.
PAÇO DE LANHESES
(Viana do Castelo)
N 5. D. MARIA ISABEL DE MAGALHÃES DE ABREU COUTINHO, que nasceu
em Viana do Castelo a 20 de Junho de 1932. Casou na capela do Solar de Pomarchão,
a 25 de Julho de 1960, com Dom Luís Francisco Vaz de Almada, que nasceu na quinta
da Fonte aos Olivais (Lisboa) a 9 de Novembro de 1927, filho primogénito de Dom
Lourenço Vaz de Almada, 6.º Conde de Almada, e de sua mulher D. Helena Luísa da
Câmara Viterbo.
6. Lourenço José Vaz de Almada, que nasceu no Paço de Lanheses (Viana do Castelo) a 13 de Abril de 1961. Casou com D. Maria Antónia
Sousa Machado Portocarreiro, cujo primogénito é D. Luís Manuel de
Almada, que nasceu em 1982.
6. Miguel Vaz de Almada, que nasceu no Paço de Lanheses a 9 de Setembro de 1962.
6. D. Maria Ana Vaz de Almada, que nasceu no Paço de Lanheses a 11
de Março de 1964.
6. José Maria Vaz de Almada, que nasceu no Paço de Lanheses a 22 de
Fevereiro de 1967.
6. D. Maria Rita Vaz de Almada, que nasceu a 26 de Março de 1972.
BIBLIOGRAFIA
AFFONSO, Domingos Araújo; VALDEZ, Ruy Dique Travassos – Livro de Oiro da Nobreza. Braga: Tipografia «Pax», 1939.
APARÍCIO, Victor – Os Almadas. int. Artur Vaz. Lisboa: Junta de Freguesia de Almada, 1996.
AURORA, Conde d’ – Roteiro da Ribeira Lima. 3.ª ed. Porto: Livraria Simões Lopes, 1959.
CASTELLO BRANCO, José Barbosa Canaes de Figueiredo – Árvores e Costados de Famílias Ilustres de Portugal. Braga:
Edições Carvalhos de Basto, Lda., 1990.
CORTEGAÇA, Visconde de – Nobiliário de Alentem. Viana do Castelo, 1955.
FELGUEIRAS GAYO, Manuel José da Costa – Nobiliário de Famílias de Portugal 3.ª ed. Braga: Edições Carvalhos de Basto, 1992.
MACHADO, José de Sousa – Últimas gerações de Entre Douro e Minho. Braga: Tipografia da «Pax», 1932.
QUEIROZ, Alberto de Magalhães – Uma Família Minhota. Braga: ed. autor, 1967.
SILVA, António Lambert Pereira da – Nobres Casas de Portugal. Porto: Livraria Tavares Martins, s/d.
ZÚQUETE, Afonso Eduardo Marins; FARIA, António Machado de – Armorial Lusitano. Lisboa: Editorial Enciclopédia, Lda., 1961.
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
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Telef. 258 931 074/75
Fax. 258 931 076
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ESTORÃOS - UM LUGAR NA HISTÓRIA
Américo Carneiro
As romagens a Santa Justa tinham, ainda na década de 50, grande vigor. No nosso
concelho e vila eram vivamente animadas pelas mulheres, que cuidavam da sua “organização”. Logo ao romper da aurora, homens montados a cavalo (que, depois, iriam escoltar os
“ranchos”…) faziam soar estridentes cornetas por Ponte de Lima e aldeias, “chamando”
o povo. Organizados os grupos, encaminhavam-se para Santa Justa, cantando, tocando e
dançando pelo caminho, com seus ricos farnéis – -“que era pr`a passar o dia…”. Seguia-se
a festa e o convívio com os concelhos vizinhos e, claro está, com “os primos da Galiza”, sendo este encontro muito ansiado já que da Galiza esperavam aprender as últimas “modinhas
e novidades”, que, depois, traziam para as suas terras, tendo-lhes, em troca, ensinado as
nossas-para igual efeito,… claro está.
Ocupavam os Génios, no variadíssimo friso das divindades do Mundo Romano,
um lugar de eleição e, ao mesmo tempo, de fácil compreensão para a mescla dos Povos que integravam o Império, verdadeira manta de retalhos cosida pelo centralismo
de Roma: Exprimindo a ideia da força geradora por um lado, e protectora e conservadora por outro, a todos os actos da vida presidindo, habitando os quatro cantos da
Natureza, tutelavam de forma especial a vida humana, resguardando-a, e propiciando a procriação, acto sobre o qual reinavam. À sua veneração se associavam os ideais
de saúde, alegria, abundância, discernimento, acreditando-se que governavam sobre
todas as coisas: Pessoas, povoações, instituições … lugares, rios, montes…
Se para os Romanos, que ocupavam os novos territórios, não se levantavam pruridos, regra geral, com a adopção ou “reconversão” das divindades indígenas, também
para os locais se não levantariam, certamente, grandes obstáculos na adoração
dos ídolos romanos – Até porque muitos deles condensavam ideias e geravam-se na
mesma gama de concepções da vida e do mundo …
E vem tudo isto a propósito do facto de, em 1903, e aquando de obras de remodelação na Igreja Paroquial de Estorãos, se ter descoberto um pequeno altar – ara
votiva – que uns datam do séc. II, outros dos sécs. III/IV, no qual uma CAMALA,
“filha de ARQUIO, de TALÁBRIGA, oferece de boa vontade o seu voto ao GENIO
TIAURANCEAICO” – Pode achar-se esta ara no Museu Nacional de Arqueologia e
Etnologia de Lisboa (N.º E 6150), tendo as seguintes dimensões e características: 124
X 64,8 X 62,9 cm, sendo a altura das letras de 4,5/7, em estado de boa conservação e
de fácil leitura, mantendo um “plinto” de inserção no solo de forma esferóide.1
(1)
JOSÉ MANUEL GARCIA – “RELIGIÕES ANTIGAS DE PORTUGAL” – Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1991, Págs. 357.
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
177
Esta CAMALA, que frisa ter a sua
origem em região diversa, bem pode ter
sido uma romeira – como muitos e muitas outras! – e sobre este altar ter sacrificado algum animal por uma intenção
especial de saúde ou desejada fertilidade – nunca o saberemos ! – levantando
esse voto às alturas de um GÉNIO que
reinava sobre uma localidade denominada TIAURAUCE ou TIAURANCE
(O sábio Leite de Vasconcelos explica
que “… é agora a primeira vez que nas
inscrições peninsulares aparece precedido
do substantivo GENIUS um nome divino e adjectival em –AICUS; como este
GENIO o é verosímilmente de uma
localidade, corrobora-se assim … que as
divindades cujos nomes acabavam em –AICUS deviam ser “GENII LOCI”… )(i.e.
“Génios dos Lugares”)2.
A ser assim, esta localidade não
poderia ser outra senão a do vizinho
CASTRO DA BOUÇA DO CRASTO,
500m a norte do local do achamento da
ara votiva, povoação que terá tido a sua origem na Idade do Ferro e cujo povoamento
se terá mantido até ao período Suevo-Visigótico, de acordo com os materiais, cerâmicos e outros, e as estruturas – forno, casas, duas muralhas e fosso, que nos indicam o
local como séde de vigoroso culto a esta divindade genial que, de tão bem-sucedida
e propícia, se transformou num ponto DE PEREGRINAÇÃO tanto para os mais
próximos como para os mais longínquos … Todo o LUGAR (“locus”) seria um
santuário, e ao sítio (depois cristianizado) onde se achou o voto de Camala , corresponderia o “fanum” (afinidade com as actuais “casas de promessas”dos modernos
santuários…).
Esta importante Povoação chamar-se-ia TIAURAUCE ou TIAURANCE, origem, creio eu, do nome da actual Freguesia de Estorãos : TIAURANCE> TIAURANS> TURANS > (S)TURANS> ESTURÃOS ! …
Dentro dos limites actuais da freguesia se comprova a antiguidade do seu povoamento: No Cerquido, o topónimo SOCRASTO (= Sob, debaixo, do Castro),
e a existência de fragmentos de tégulas, indicam ocupação humana entre a Idade
do Ferro e a Romanização, de gente que talvez já então se dedicava à exploração
(2)
J. LEITE DE VASCONCELOS – “RELIGIÕES DA LUSITÂNIA”- Reimpressão da Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1988,
Págs. 199 e 200, Volume III.
178
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
mineira … e aquele Castro a que o topónimo se refere – talvez oculto pelas casas actuais – poderia tratar-se do “CRASTO D`USSO” que as Inquirições Régias de 1258
documentam ( Em “SANCTI SALVATORIS DE ASTURIANIS”) … Ou lembrará
este o Castro que ocupou o Monte do Castelo ( Castelo altimedievo elevado sobre
aquela fundação castreja)? Já em 1758, Francisco da Silva, Abade de Estorãos, dando
resposta ao inquérito que então se fazia sobre os efeitos do terramoto, realçava o arcaísmo do seu povoamento: “… no princípio dela está o Monte de Casais de fraco monte,
e este sítio se olham vestígios DE TRINCHEIRAS, E ESTRADAS ENCOBERTAS, tradição que fora tudo fabricado pelos MOUROS, tem o CASTELO chamado da Formiga,
que o cerca em ponta aguda, sítio deleitável à vista, e é tradição que NESTE MONTE
RESIDIRAM MUITO OS MOUROS, ONDE SE TEM ACHADO VESTÍGIOS DA
SUA HABITAÇÃO, POR APARECEREM TIJOLOS E FERROS VELHOS…”3(3)
E continuando a atestar tradições e cultos: ”…Para a parte do poente há um monte a
que chamam o Castelo da Formiga, e dizem assistiram nele os Mouros; ainda se vêem ALGUNS SINAIS NAS RUÍNAS DE VÁRIOS EDIFÍCIOS. Para este lado, na Serra de
Arga, há uma Ermida dedicada a SANTA JUSTA, imagem milagrosa; Principalmente
é advogada PARA DAR SUCESSÃO”.
(3)
PADRE LUÍS CARDOSO – “DICIONÁRIO GEOGRÁFICO”, Manuscrito do Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 14, n.º 102.
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
179
Já em 1706, o Padre António Carvalho da Costa, na sua “Corografia Portuguesa”,
lembrava: “Acima do arruinado Castelo da Formiga está a Ermida de Santa Justa Virgem
e Mártir, natural de Sevilha, mui visitada com clamores de muitas Freguesias, e ROMAGENS de toda esta ribeira; é advogada daqueles QUE NÃO TÊM FILHOS, e quando
lhos vão pedir, LHE LEVAM DE OFERTA FRANGOS E FRANGAS BRANCAS e
obra Deus por sua intercessão grandes maravilhas.”
Maravilhas que até meados do Séc. XX puderam ser atestadas por muitos daqueles PEREGRINOS (como CAMALA…) que da Ribeira-Lima, da Ribeira-Minho
e da Galiza, rumavam a estas santas paragens em grandes e coloridas romarias (muitas vezes fazendo-se sujeitar à prova do Penedo da Virgindade – suave ordálio… que
fazia parte do caminho…), trocando modinhas, cantigas, danças e “novidades”, para
fazer a Festa DA VIDA, DA SAÚDE E DA FERTILIDADE, para ofertar frangas
e frangos brancos (como a Pureza…) ou, na falta deles, pombas e pombos brancos
com patas e asas atadas com fitinhas também elas brancas, postos “em sacrifício” aos
pés da imagem de Santa Justa, rogando-se intercessão para que, do acto amoroso –
quantas vezes praticado depois desta purificação, e “debaixo de uma giesteira ainda a
deitar flor” – nascesse o filho tão desejado….
Não falta sequer, por aqui, uma Fonte, chamada “da virtude”, à qual, naturalmente, se atribuem grandes qualidades terapêuticas …
E, de resto, por todos é sabido, desde tempos imemoriais por toda esta Serra
d`Arga houve cultos importantes ligados à Saúde… e que àquela sempre os Povos
chamaram… A MONTANHA SANTA 4.
Ribeira do Lima,
Festas da Exaltação da Santa Cruz/ 2010.
(4)
Génios conhecidos na velha Lusitânia: - O LAQUINIENSIS, em S. Miguel de Vizela; O TURGALENSIUM , em Trujillo –
Estremadura Espanhola; O TIAURANCEAICO, de Estorãos; O TONCOBRICENSIUM ou LONCOBRICENSIUM – No Castro de
Freixo, em Marco de Canavezes.
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O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
estória
Vinha de longe aquele caminheiro,
Quase desfalecido de cansado
E, mal chegado ao campo do Arnado,
Pôs-se a olhar o rio feiticeiro.
Vendo-se horas a fio prisioneiro
Daquele fluir tão ledo e sossegado,
Esqueceu-se de tudo, até do enfado
E da fraqueza de um dia inteiro…
Mas eis que se aproxima um limiano
E com aquele jeito franco e humano
Que é nosso apanágio e nosso orgulho,
Indagou qual a sua precisão,
Ouvindo de pronto: um bom vinhão
E um divino arroz de sarrabulho…
Cláudio Lima
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
181
Telemóvel 96 469 50 92 - 4900 PONTE DE LIMA
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O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
LAR PARTICULAR PARA IDOSOS EM REFÓIOS DO LIMA
LAR RESIDENCIAL SANTA MARIA DOS ANJOS
“Deus quer, o Homem sonha, a obra nasce”.
(Fernando Pessoa)
Construir um lar vocacionado para os
mais idosos é um acto de amor e justiça.
Por isso é para “O Anunciador das Feiras Novas” gratificante noticiar esta iniciativa que muito honra os seus promotores.
Todos os que tiverem uma vida longa
serão um dia mais velhos, como é natural, precisarão de cuidados e atenção: a
mesma que durante a vida a maior parte
dedicou aos outros. Tudo que se faça será
sempre pouco para quem tanto merece.
Encontra-se em fase avançada de
construção o novo Lar particular de idosos, situado no coração da freguesia de
Refóios. É pertença e está sob a orientação de João Antunes e sua esposa Ana
Maria Araújo Antunes, com formação
em Geriatria e estágios realizados em vários lares do Distrito. A D. Ana Maria,
com 43 anos vê concretizar-se o sonho pelo qual se entusiasma e luta. Esta aventura
de abrir um lar é, antes de mais, uma opção por vocação; ou seja, o gosto e a convicção
pessoal de que cuidar de idosos significa entregar-se a uma causa nobre e representa
um fascinante desafio de humanização. Consciente de que pelas mais diferenciadas
razões, as famílias sentem enormes dificuldades em cuidar dos seus idosos, o surgir
de um novo lar, em nosso concelho é, sem dúvida, oferecer a oportunidade, a alguns
idosos, para viverem a etapa da vida em que se encontram com muita dignidade, uma
maior qualidade de vida e, simultaneamente, de tranquilidade para os seus familiares.
É com espírito de família, de sã convivência, de amizade e de estima mútua que a
Direcção do lar quer fomentar entre todos, e na sua relação com o meio envolvente.
As excelentes acessibilidades ao Lar, a beleza da paisagem natural onde o mesmo
está situado, as condições internas de conforto que oferece, a proximidade e simpatia
dos habitantes de Refóios são condições que, eventualmente, aliciam e favorecem a
opção por este Lar residencial.
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
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O Lar em fase final de construção, 22.06.2010.
Este projecto que também teve o apoio da ADRIL é composto por quartos de
casal, quartos individuais e espaços vários de convívio e actividades comuns, o Lar
oferece segurança e o conforto necessário ao idoso. É de realçar a existência de capela integrada no complexo, possibilitando o recolhimento, a oração e a expressão livre
de fé dos próprios utentes e de quem a frequente. A nossa região é marcadamente
cristã, valores que o Lar quer promover. Aliás, nesta facha etária, o fenómeno do
religioso e o retorno e busca do sagrado (Deus) é uma vivência muito frequente e
intensa que importa sempre respeitar e favorecer.
Visite o Lar de Santa Maria dos Anjos, em Refóios do Lima.
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Telef. (+351) 258 938 435
Fax (+351) 258 938 437
Telem. (+351) 966 022 578
[email protected]
ARTESÃOS LIMIANOS
– MANUEL LUÍS FERREIRA MARTINS
Alberto do Vale Loureiro
Tudo começou na oficina de carpintaria do seu amigo Arménio Magalhães, de
quem já fizemos referência na edição n.º 20, ano de 2003, aos seus dotes de artesão.
Dele recebeu o Manuel Martins os primeiros tópicos relacionados com a arte de trabalhar a madeira, colhendo os ensinamentos que lhe deram a capacidade de transpor
o seu talento em peças elaboradas com admirável gosto artístico, retratando, entre
outros, os monumentos da sua terra e a escultura de índole religiosa.
Iniciou os primeiros passos de artesão elaborando uma peça referente ao património limiano representando a fachada da capela da Senhora da Lapa. Seguiram-se
outros trabalhos relacionados com o tema e com o passar do tempo e a experiência
adquirida no contacto com a madeira e no manuseamento das ferramentas, percebe
que algo mais poderia fazer, dando então início à fase da escultura relacionada com a
estatuária moldando um dos santos populares sobejamente festejado e muito querido
da população da urbe limiana (S. João), trabalho que incentivou ainda mais o seu
gosto por este tipo de arte, não mais parando, até ao presente, o seu entusiasmo em
fazer mais e melhor.
São já consideráveis as obras realizadas pelo seu talento às quais se reconhece o
estatuto de uma fase de maturidade artística que lhe confere certa notabilidade. A
atestá-lo, as encomendas que lhe são confiadas entre as quais se encontra em execução a fachada da capela de S. João.
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
185
Aquando do contacto que tivemos
com este artesão limiano tivemos a oportunidade de apreciar alguns trabalhos na
fase de acabamento chamando-nos especial atenção, pelo seu estilo apurado,
a Torre da Cadeia e a Ponte Medieval.
Da conversa então encetada, muito
apreciamos a sua humildade em aceitar
ideias e sugestões que convergiam no
sentido de apuramento de pormenores
que ele entendeu por bem acolher.
Manuel Martins confessa-nos que a
escultura é o seu refúgio e para a qual é
necessária muita paciência, dizendo-nos
que a adquiriu no seio da família, pois seu avô materno era marceneiro e seu pai
exerceu (e ainda exerce), a profissão de relojoeiro. Gostava de criar o seu próprio
estilo porque, diz-nos, «o trabalho que faço são reproduções e a escultura é tudo aquilo que e imaginação conceba como tal». No entanto, a sua persistência em apurar
artisticamente os seus trabalhos limita-o, de certa forma, por não possuir um espaço
apropriado para a sua laboração. É um desiderato que pensa, venha a concretizar-se.
Oxalá o sonho passe à realidade.
Manuel Luís Ferreira Martins constituiu família, sendo pai de dois filhos. É funcionário do Município de Ponte de Lima. Antes, porém, trabalhou em vários ramos
de actividade desde a construção civil, pichelaria, hotelaria, passando pelo turismo
de habitação. Esteve emigrado durante 4 anos.
Pela sua persistência, vontade e querer, aqui registamos, com muito agrado, a faceta
artística presente nos dotes deste membro da comunidade limiana, a quem felicitamos.
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O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
FIGURAS POPULARES DE PONTE DE LIMA
– UMA OBRA ESTIMÁVEL DE LUÍS DANTAS
Cláudio Lima
Superiormente coordenado pelo Eng.º
João Gomes d’Abreu Lima, veio a lume
em fins de 2008, mas com apresentação
pública apenas em 28 de Fevereiro de
2009, o volumoso e aprimorado livro das
figuras limianas, culminando uma série
que, sob a bandeira de Ponte de Lima Terra
Rica de Humanidade, deu a conhecer, em
tomos de excelente apresentação gráfica
e reconhecida competência nos domínios
temáticos, as nossas riquezas e potencialidades, naturais e humanas, do património
material e imaterial.
Trata, pois, este volume (o 4º e último de uma primeira fase do projecto)
do nosso património histórico-humano,
dele constando, num elencar que reputo criterioso (foram excluídas personalidades vivas) e quanto possível exaustivo, todos aqueles que, limianos de
berço, adopção e / ou afectivo vínculo, se foram da lei da morte libertando (Camões),
evidenciando-se nos domínios da ciência ou da arte, da política ou da religião, num
quadro magnífico de cento e quarenta e seis entradas cronologicamente balizadas
entre o séc. XII (D. Afonso Ansemondes) e inícios do sec. XXI (morte de João Marcos) — e elaboradas por cinquenta distintos especialistas nas diversas áreas do saber
e da investigação.
Ponte de Lima como que cumpriu uma obrigação, um dever de gratidão para com
os seus egrégios antepessados, convocando-os e enaltecendo-os nesta bela e valiosa
obra bibliográfica. Acontece que nem só de altas figuras históricas vive a memória e
o afecto de uma comunidade; ao rés-do-chão, no lajedo puído por acção do tempo,
perpassam outros e diferentes personagens que, se não ficaram lembrados em livros
municipais, perduram reverenciados pelo povo anónimo, como ícones vivos dos seus
valores e das suas atribulações. São as figuras populares.
Luís Dantas que as vinha (e vem) evocando nas folhas dos jornais, seleccionou
um punhado delas e, num livrinho franzino mas convidativo, brindou-nos com um
belo e oportuno complemento à obra magna dos nossos notáveis. Nele podemos
relembrar vinte e cinco figuras típicas, já desaparecidas do nosso meio, e uma activiO ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
187
dade diária e emblemática do nosso rio, também praticamente caída em desuso — a
das lavadeiras com seus mexericos e cantigas, vergadas sobre seus lavadouros rentes à
correnteza ou embandeirando a roupa em rudimentares estendais ou estacas no areal. Das figuras típicas, apenas uma é feminina, alcunhada pelo rapazio de A República.
São esboços leves, evocações sucintas, mas que nos prendem a atenção e nos
conquistam o sentimento pelo que tais figuras, a bem dizer sem estatuto, deixaram
de pitoresco e saudade na sua passagem sofrida, boémia e bizarra pelas artérias, becos
ou esconsos da nossa terra. Uma interessante galeria que merece permanecer na
memória colectiva e selectiva dos limianos, como agentes menores, mas nem por isso
desprezíveis, da nossa história social do século passado. Luís Dantas conheceu muitos
deles, ouviu-lhes as façanhas e as patranhas, estudou-lhes os tiques, as ambições e
a lazeira, quase sempre anestesiados por boas medidas de vinho ou de aguardente.
Aportavam à vila vindos de localidades circunvizinhas, outros de longes terras, alguns nem se sabia bem de onde.
Mostravam os seus dotes de artistas ou
de jograis, de biscateiros ou de pândegos
e mandriões. Especialistas na arte de levar a vidinha sem grandes consumições,
embora também sem especiais mimos e
abundâncias. Poucos eram os que afivelavam máscara de desgraçados ou sofredores. O seu esteriótipo aponta-os como
escanzelados e trangalhadanças, trajando farpelas no fio e a pedir sabão. Descolavam uns cobres da caridade cristão
ou da farra estudantil que lhes puxava
pela língua destravada e viperina. Depois alavam para as tasquinhas ou cafés,
onde os derretiam em tigelas de vinho,
copos de cerveja, calinhos de bagaço.
Um dos aspectos mais interessantes dessa gente — e que não passou indiferente
a Luís Dantas — consiste no seu extravagante linguajar, eivado de calão, de gíria, de
ditotes e crítica mordaz, quer de personalidades, quer de costumes locais, atropelando não raras vezes a decência e a gramática, mesmo quando pretendendo inculcar
uma filosofia básica, pragmática e judiciosa. “Se o vinho tivesse espinhas não havia
por aí nenhuma criatura que não tivesse já morrido esgasgada” , opina João da Bomba
(pg. 24). E logo na pg. 26 o precioso néctar tornava-se num tónus espiritual para o
Fazenda: “Bebia uma, duas, três canadas de carrascão e cogitava. O vinho dava-lhe
momentos mágicos de recolhimento”.
Anote-se que o vinho, bebida popular e popularizada pelo Estado Novo (o verdinho dava de beber a um milhão de portugueses, segundo a cantiga) é praticamente
transversal a todas estas vidas airadas, que encontram nele uma espécie de refúgio
188
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
contra a hostilidade da sorte. Acontece com o São Roque, “a viver do repouso dos biscates, da pesca, da caça, da meia canada de vinho, de um caldo de couves e de uma
galinha surripiada.” (pg. 44) e com o Zé Ferreiro, sempre que ia à feira. “Demoravase nas vendas a escorripichar malgas de vinho. Ao cair da noite discursava numa
atroada impetuosa.” (pg. 54). E sem esquecer o Cachadinha, taberneiro e cantador
de grande gabarito, que deixou um vazio na arte de bem folgar e bem desafiar. Levou a concertina para a tumba e, provavelmente, andará nos terreiros celestiais a
espremer-lhe a mesma alegria que espalhou por este vale de lágrimas…
Se, para algumas almas rectas (quantas vezes cheias de zig-zagues…) tais comportamentos eram censuráveis, ofensivos da boa cidadania e da boa moral, para o
comum dos nossos conterrâneos eles representavam uma espécie de folclore indispensável, contraponto à gravata e às unhas envernizadas. E por isso, quando um
deles desaparecia, era um pouco do “espírito do lugar” que empobrecia; um figurante
que, ausentando-se, deixava a cena da vida descaracterizada.
Não é, pois, de admirar que um limiano tão culto e sensível aos nossos valores
humanos, como Luís Dantas, se tenha de há muito e com muito empenho interessado por esse segmento da nossa sociedade, que engloba pobres-diabos e truões mas
também músicos e poetas, carrejões e alquiladores, alveitares e moços de recados;
gente que, por detrás de uma aparência descuidada e amorfa, tem um coração que
bate e sofre por uma linda rapariga que a desdenha — some-te da vista! — ou por
uma família que lhe bate com a porta da rejeição.
“Imaginei-me uma daquelas figuras”, confessou o Autor ao jornal Cardeal Saraiva
(12.06.2009). Eu diria mais: Luis Dantas imaginou-se cada uma daquelas figuras, tal
o carinho e a perfeição do detalhe com que as esboça e retoca, para que não caiam
nos limbos do definitivo esquecimento. Desde Lourenço, o Preto e a sua flauta mágica
ao Néu Franquinha, que de criador de porcos e galináceos passou a cicerone credenciado, é todo um friso de personagens cujo perfil como que se levanta diante dos
nossos olhos; “personagens únicos, com os seus amores e desamores, as suas paixões
e a forma peculiar de existir e de agarrar a vida”, como observa Daniel Campelo em
texto de abertura.
E João Alpuim Botelho, que assina o prefácio, acrescenta com todo o cabimento
que “o que torna este livro verdadeiramente especial é a capacidade de encontrar
estas pessoas, no meio da multidão anónima (cada vez mais globalizada e idêntica) e
de perceber que os seus comportamentos, apontados como ridículos e considerados
paródicos, representam um tempo e um modo de vida que desaparece”.
Acredito e lamento que um livro com estas características gráficas e esta tiragem
relativamente limitada não chegue à grande maioria do nosso povo humilde, de onde
brotou e a quem prioritariamente se destina. Seria óptimo que o nosso Município
pensasse numa reedição, menos colada às figuras limianas, tipo livro de bolso e a
preço módico. Até porque, entretanto, Luís Dantas esboçou mais figuras: O Se Francisco, o Manuel Ponte Nova, a Mena — e outras terá na forja, de modo a aumentar e
valorizar a reedição que aqui se propõe.
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
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O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
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amigo!
Amigo
Corre comigo
Por estes campos floridos
Vem colher a madressilva
Vem ver o romper da aurora
Vem ver crianças saltar
Vem ver o Lima a correr
Vem escutar o murmúrio
De almas que sabem viver,
De almas que sabem amar
Amigo, anda daí
Vem colher mágoas com flores,
Vem colher rosas silvestres
Vem ver o Lima a correr
Vem escutar os cantores
Desta paisagem limiana
Vem, vem amigo sonhar!
Maria Brandão
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O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
Carlos de Lima Magalhães
Alberto do Vale Loureiro
Setembro de 2009. Deixa o mundo
dos vivos este dedicado e assíduo colaborador desta publicação. O decesso
deu-se no dia 18, por coincidência o
primeiro dia das Feiras Novas, tantas
vezes demonstradas no sentimento da
sua veia poética através da imprensa da
nossa região.
O Carlos, também conhecido por
(Menã), nasceu em Ponte de Lima no
dia 8 de Abril de 1932. Oriundo de família humilde teve uma infância própria
da vivência da época em que o acesso à
cultura e ao mundo do trabalho era privilégio de alguns, impedimento que o levou (como a muitos outros), a suportar
as mais duras lutas por uma vida digna e
honrada fora da sua tão querida e amada Ponte de Lima. Como consequência,
Carlos de Lima Magalhães (Menã)
aos 25 anos de idade, ruma a Lisboa em
busca de melhores condições de vida.
Dotado de nobres sentimentos e dando juz aos seus dotes de inspiração na arte de
escrever em verso, iniciou os seus primeiros escritos aos 48 anos de idade publicando
em 1983 o seu primeiro livro intitulado «Paz e Amor».
De regresso ao chão limiano fixa-se na freguesia de Arcozelo, onde viveu o resto
dos seus anos. Em Setembro de 1993 chega o momento da publicação do seu segundo
livro «Arcozelo o Outro Lado do Rio» com o patrocínio da Junta de Freguesia (que
aproveita o ensejo para lhe prestar a devida homenagem), a colaboração da Câmara
Municipal de Ponte de Lima, Governo Civil do Distrito e Instituto da Juventude.
Publicou ainda um terceiro livro «Ponte de Lima e Eu».
Carlos de Lima Magalhães debruçou-se sempre pelas melhores causas sendo de
revelar a sua grande dedicação pelo trabalho e apego à família. Enfrentou as vicissitudes da vida e delas deu testemunho do seu carácter através dos seus ideais eivados
dos mais elevados e nobres sentimentos.
Do seu livro «Arcozelo o Outro Lado do Rio», em jeito de homenagem, extraímos
da página 33 a última estrofe do seu poema «Já Pouco Importa», que revela bem o
quanto a vida lhe foi adversa: «Qual o meu pecado, Senhor e meu Deus? / Qual o castigo
que virá agora? / Se são assim tantos os pecados meus / Levai-me Senhor, já daqui embora.»
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
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O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
pharmAcia brito
- uma farmácia centenária
Alberto do Vale Loureiro
Fundada em 1908 pelo Dr. Júlio José de Brito, iniciou a sua actividade na esquina
de uma casa, existente no Largo Dr. António de Magalhães, entretanto demolida,
para dar lugar ao actual edifício destinado ao Asylo D. Maria Pia, no qual funcionou
o carismático Colégio Maria Pia (hoje Lar com o mesmo nome), e onde se encontra,
também, instalado o Centro Social e Paroquial de Ponte de Lima. Actualmente as
suas instalações confinam-se a um belo e bem conservado edifício da família Nogueira
de Brito, que faz esquina entre o Largo Dr. António de Magalhães e a Rua do Souto.
As farmácias, à semelhança do que acontecia com outros estabelecimentos do
comércio citadino, ocupavam, noutros tempos (e talvez ainda hoje), funções que não
eram adstritas à sua actividade, prolongando a sua acção a outros serviços caracterizados pela disponibilidade em atender solicitações dos seus clientes relacionadas
com aspectos burocráticos e, não raras vezes, procedimentos de vocação solidária e
de prestabilidade que se caracterizavam pela reciprocidade que então se mantinha
Edifício da Farmácia Brito (foto de 1910).
O mesmo edifício, na actualidade, (foto de 2010)
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
197
entre os seus fregueses, havendo,
em muitos casos, lugar para uma
apreciável permanência como lugar de tertúlia.
Assim se cimentava um relacionamento social cuja feição se
traduzia no enriquecimento das
relações que favoreciam, de forma inequívoca, a personalização
comercial da época.
Com o passar dos anos e a
evolução técnica e científica então operada, e apesar do design
decorativo porque passaram alguns estabelecimentos, esta farmácia actualizou, de forma sabia
e feliz, a sua imagem e funcionalidade, sem desvirtuar a estética,
que tanto a caracteriza, e a qual
nos habituamos a apreciar sendo
motivo de curiosidade e atenção
de quem nos visita.
Impresso (memorando), dos anos 30.
De notar que esta conceituada farmácia exerceu sempre a sua actividade baseada na sucessão familiar, ficando,
depois da morte do seu fundador, nas mãos do Dr. Eurípedes Eleazar de Brito e Merícia
Venuzina de Brito. Mais tarde deu continuidade o Dr. José Luís Nogueira de Brito e
actualmente é responsável o Dr. Bernardo Prieto Nogueira de Brito.
O passado da Pharmacia Brito, pela sua incontestável riqueza, bem merecia a edição
de um opúsculo que, com certeza, um dia será feito por competente esquadrinhador.
Se assim acontecer será mais um contributo para a história do comércio pontelimense.
Largo de Camões | C. Comercial Rio Lima, Lj, 26-27 | T. 258 743 330 | 4990 Ponte de Lima
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O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
PLANTAS RARAS DA POÇA GRANDE
DE FALDEJÃES - ARCOZELO
João Gonçalves da Costa
Este ano tivemos a sorte de visitar a Poça Grande, na freguesia de Arcozelo, lugar
de Faldejães. Confesso que ignorava o que havia naquela extensa toalha de água coberta totalmente pelas folhas da Boleia Branca, ou Golfão branco, cujo nome botânica
é a Nymphaea alba, que conhecíamos a sua grande expansão através das Logoas de
Bertiandos-S. Pedro de Arcos. Depois de ter corrido para lá uma meia dúzia de vezes,
acompanhado pelo Sr. M. P. Gonçalves, acabámos por compor um boa lista de espécies
de muito valor científico e cultural. Dentre esses espécies algumas não estão dadas
para a Beira Lima, não se conheciam neste local, porque para lá só iam curiosos, como
nós, ou animais para beber, antes desta Paça ter sido recuperada, mas não totalmente.
Do Projecto constavam mais elementos que ainda não foram concretizados. Só pedimos aos responsáveis da Autarquia que nos avisem com antecedência, para que algumas das tais espécies raras e inéditas para o Norte, não sejam literalmente destruídas.
Voltaremos a este tema, dentro de pouco tempo, alargando o conhecimento noutro
trabalho com mais rigor e ilustração, até porque neste espaço convivem as plantas
com muitos animais.
Pequena Lista de Plantas
da Poça Grande
Adenocarpus complicatus DC. Subsp. intermedius (DC.) P. Cout.
Agrostis castellana Bois et Reut.
Alcea rósea L. cv.”Flor Azul”
Alisma plango-aquatica L.
Allium triquetrum L.
Andryala integrifolia L.
Anogramma leptophylla (L.) Link
Arisarum vulgare Targ-Ttozz.
Arum italicum Mill. Subsp. italicum
Asplenium billotii F. W. Schultz
Athyrium filix-femina (L.) Roth
Betula celtibérica Rothm. et Vasc.
Bidens frondosa L.
Blechnum homophyllum (Merino) A. et D.
Loeve
Blechnum spicanta (L.) Roh
Briz minor L.
Entrada na Poça Grande
Briza máxima L.
Bromus rigidus Roth
Bromus sterilis L.
Calluna vulgaris (L.) Hill
Calystegia intermedia G. Costa
Calystegia sepium (L.) R. Br.
Calystegia silvatica (Kit.) Griseb.
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
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Parte da Poça inacabada a Nordeste.
Extensão de Nymphaea alba.
Flores brancas da Boleia.
Boleia com flores roseas.
200
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
Canna iridiflora Ruiz et Pavon
Canna x generalis Bailey
Carex laevigata Sm.
Carex muricata L. subs. lamprocarpa Celak
Cerastium glomeratum Thuill
Ceterach officinarum DC.
Conyza hybrida
Cortaderia selloana (Schultes et Schultes)
Ascherson et Graebner
Crepis capillaris (L.) Wallr.
Cyperus eragrostis Lamk.
Cyperus involucratus Rottball
Cyperus longus L.
Eleogiton fluitans L.
Erica umbellata L.
Euphorbia peplus L.
Frangula alnus Miller
Fumaria muralis Koch subsp. muralis
Geranium lucidum L.
Geranium purpureum Vill.
Hordeum murinum L.
Iris pseudacorus L.
Isolepis pseudosetacea(Dav.) Vasc.
Isolepis setácea (L.) R. Br.
Juncus bulbosus L.
Juncus effusus L.
Juncus gerardi Loisel.
Juncus heterophyllus Dufour
Lamium galeobdon (L.) L. CV “Variegatum”
Lotus uliginosus Schkuhr
Ludwigia palustris (L.) Elliott
Luzula campestris (L.) DC.
Luzula multiflora (Retz) Lej subsp. multiflora
Lythrum junceum Banks et Solander
Lythrum salicaria L.
Mentha aquática L.
Mentha pulegium L.
Mentha suaveolens Ehrh.
Mercurialis annua L.
Nasturtium officinale L.
Nerium oleander L.
Nymphaea alba L. ( Lótus branco)
Oenanthe crocata L.
Osmunda regalis L.
Oxalis corniculata L
Oxalis pés-caprae L.
Panicum repens L.
Paspalum paspalodes (Michx.) Scribner
Peucedanum lancifolium Lge.
Poa annua L.
Poa trivialis L.
Polypodium interjectum Shivas
Populus alba L.
Populus nigra L. subsp.. caudina (Ten.) Bug.
Potentilla erecta (L.) Raeschel
Prunella vulgaris L. subsp. vulgaris
Pseudognaphalium luteo-album (L.) Hilliard
et B.L. Burtt
Pteridium aquilinum (L.) Kuhn
Quercus robur L.
Ranunculus repens L.
Rubus caesius DC.
Rubus divaricatus P. J. Muell.
Rubus rhombifolius Boenn
Rubus ulmifolius schott
Rumex acetosa L. subsp. acetosa
Rumex angiocarous Murb.
Rumex bucephalophorus L.subsp. hispanicus (Steinh.) Reichb. Fils.
Rumex conglomeratus Murr.
Rumex crispus L.
Rumex induratus Boiss. et Reut.
Rumex obtusifolius L.
Rumex pulcher L.
Ruscus aculeatus L.
Salix alba L. subsp. alba
Salix atrocineria Brot.
Salix salvifolia Brot.subsp. salvifolia
Sambucus nigra L.
Schoenoplectus mucronatus (L.) Palla
Scrophularia scorodonia L. subs. multiflora
(Lge.) Franco
Sherardia arvensis (L.) Vill.
Silene alba (Miller) Krause subsp. alba
Silene gallia L.
Solanum dulcamara L.
Typha e Boleia com flores.
Planta aromática local.
Solanum nigrum L. subsp. nigrum
Solanum sublobatum Roemer et Schultes
Sonchus oleraceus L.
Spirodela polyrrhiza (L.) Schleiden
Stellaria alsine Grimm
Stellaria media (L.) Vill.
Stenotaphrum secundatum(Walter) Graebner
Thymelaea broterana P. Cout.
Tolpis barbata (L.) Gaert.
Trifolium campestre Schrebner in Sturm
Trifolium glomeratum L.
Trifolium subterraneum L.
Typha latifolia L.
Ulex europaeus L.
Ulex minor Roth
Umbilicus rupestris (Salisb.) Dandy
Urtica dioica L.
Vicia benghalensis L.
Vicia hirsuta (L.) S.F.Gray,
Vicia sativa L. subsp. macrocarpa (Moris)
Arcang.
Vicia sativa L. subsp. nigra (L.) Ehrhr.
Porto, 2010-05-20.
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
201
de novo, as raparigas
Eternamente Jovem
Infinitamente Feliz
O coração generoso de certas raparigas.
A elas pertence toda a jovialidade
Toda a luz penetrante,
Subjacente às manhãs radiosas de céu primaveril!
Quem – como elas – semeia a Alegria das Flores
[orvalhadas,
Distribui a frescura das tardes visitadas pelo canto
[dos grilos?
Quem – como elas – nos ampara na adversidade,
Nos indica a estrada transitável, em noites de
[nevoeiro?
Algumas sombreavam os seus olhos
Bem voltados para a Alegria de Viver
Sempre atentos às marés dum Amor inesperado.
Outras pintavam os lábios com cores esbatidas,
Muitíssimo suaves,
Que provocavam no rosto feições imprevistas.
Foram elas que nos libertaram das angústias mais
[densas
Nos deliciaram com suaves Sorrisos,
Vidas bem atentas a todas facetas da ternura!...
Ponte de Lima, Maio de 1991
Gaspar Pacheco Maia
Do livro “SINAIS”, edição do autor, pág.30, 1993.
202
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
203
feiras novas
Feiras Novas tão lembradas
Romaria sem igual
São as festas mais antigas
Que existem em Portugal
Pois as nossas Feiras Novas
Têm tantas coisas de novo
Os cortejos têm suas lendas
São a alegria do povo
204
Tanta fama elas têm
Tanta gente nos visita
São milhares de forasteiros
Pois em casa ninguém fica
Temos boa gastronomia
Ninguém se pode queixar
Os vinhos são cinco estrelas
Mas não se pode abusar
Para os lados de S. João
Mesmo em frente do rio
Nas tascas dos Cachadinhas
Cantam lá ao desafio
As pessoas não se cansam
Cada um traz o seu par
É gente de toda a idade
A cantar e a dançar
No nosso Largo de Camões
Ouvem-se as bandas a tocar
Cabeçudos e os bombos
Que não param de ribombar
Dança-se por todo o lado
Sempre ao virar de uma esquina
Há sempre aquela alegria
Do toque da concertina
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
É a alegria do povo
Nestes dias de folia
Canta-se, dança-se e bebe-se
São dias de muita alegria
São as nossas Feiras Novas
Tão alegres à noitinha
Os jovens são aos milhares
Juntos ali na Rampinha
A gente é aos milhares
Já era assim no passado
São assim as Feiras Novas
É gente por todo o lado
As Feiras Novas terminam
Com a linda procissão
Nos rostos se vê a fé
Que trazem no coração
Se vieres às Feiras Novas
Traz tua saia rodada
Para poderes dançar o vira
E cantares a desgarrada
O fogo é a coisa mais bela
Com suas cores coloridas
Ele tem sua magia
Faz parte das nossas vidas
Muitos gostam de se sentar
Mesmo na beirada do rio
Ali comem sua merenda
E cantam ao desafio
Quem vier a Ponte de Lima
Terá muito que contar
Que nas próximas Feiras Novas
Aqui terá de voltar
Ermelinda Mendes
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
205
EM jeito de homenagem às lavadeiras
José Ernesto Costa
Nas margens do Lima de um outro tempo fervilhavam as lavadeiras para as quais
contribuíram os restaurantes, tascas e particulares. Estas, enquanto se dedicavam à
lavagem e esperavam pela secagem da roupa, cantarolavam, contavam histórias, falavam dos moços que atiravam piropos ou se aproximavam delas, com a intenção de
mirar os joelhos!...
Nessa difícil tarefa, sobretudo nos dias de calor mais intenso, o sorriso de cada
lavadeira não era menos expressivo à brancura das toalhas de linho que se reflectia no
olhar de satisfação após a azáfama de cada jorna.
Profissão dura que, conforme o tamanho de cada peça, exigia um esforço de movimentos devido ao manuseamento do processo de lavagem, tendo, como agravante, o
facto de ser transportada à cabeça.
Mas as margens dum rio Lima distante beneficiavam desse colorido, de uma vida
de convívio constante, que hoje nos mergulha na saudade.
O registo desta foto que ilustra o texto foi efectuado por um turista alemão, aquando de uma visita a esta terra de Ponte, e tem como personagem a «Maria da Inês» com
o seu sorriso brilhante.
206
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
perfil popular das feiras novas
félix - tocador de concertina
Alberto do Vale Loureiro
Instrumento musical de grande popularidade, a concertina é, só por si,
um elemento imprescindível nas festas
ou romarias minhotas de reconhecido
cariz tradicional, cuja importância lhe
confere um conjunto de atributos que,
acompanhados de outros instrumentos
musicais de origem popular, difundem
uma atmosfera festiva e contagiante
que anima e enche de alegria todos
quantos participam nos eventos que o
povo se encarrega, genuinamente, sem
artifícios, demonstrando toda a sua espontaneidade, de uma alma impregnada de valores que só ele sabe expandir.
Recordamos, com saudade, um veterano tocador de concertina – O Félix
– cuja presença era apreciada pelo premir dos dedos nas teclas da sua velha
e inseparável «companheira» e pelo
tipicismo que emprestava ao meio ambiente em que se inseria.
E as Feiras Novas foram, indesmentivelmente, o grande de palco que o
Félix sempre pisou, com alegria, alma
e prazer.
Rendemo-nos, manifestando o nosso reconhecimento, ao seu jeito garrido,
ao seu cunho popular, à sua forma de
estar no seio do povo onde a sua presença era de constante e peculiar simpatia.
Desapareceu mais um pedaço da alma
das Feiras Novas.
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
207
208
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
Alberto do Vale Loureiro
A efeméride foi comemorada com uma edição composta por 104 páginas que registaram o percurso da história deste hebdomadário ao longo de um século de vida. Nele são
lembrados os momentos que caracterizaram
a sua existência e as circunstâncias que o
levaram a acompanhar as diversas facetas
do progresso e transformação da sociedade.
Apresentou o seu primeiro número em
15 de Fevereiro de 1910. O seu cabeçalho
designava-o como um «semanário imparcial» publicado às terças-feiras, tendo
como director António José de Oliveira.
A Redacção e Administração era na rua
António Feijó, sendo o aspecto gráfico
(composição e impressão), da responsabilidade da Typografia Confiança, instalada
na Rua Vasco da Gama, em Ponte de Lima.
Foi seu fundador o Conselheiro António
Maria Gonçalves Ferreira. Era propriedade
da empresa designada em título.
Ponte de Lima via nascer este periódico com natural expectativa, numa socieConselheiro António Ferreira
dade conturbada, que em nada favorecia
(Fundador do Jornal “Cardeal Saraiva”
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
209
a vinda ao mundo de um «menino» que, apesar das dificuldades, aparentava um aspecto
rechonchudo, luzidio, dotado de uma compleição física que aparentava robustez, sem qualquer sintoma que indicasse uma patologia mórbida, que viesse a definhá-lo logo à nascença.
E assim aconteceu! De acordo com os seus princípios regulados pelos ideais enunciados no seu artigo de fundo «Principiando», diz: «…o nosso modesto hebdomadário, será
inteiramente imparcial, defendendo sempre os bons princípios e proclamando bem alto a verdadeira justiça…». Mais adiante justifica a designação do seu cabeçalho: «…o titulo, que lhe
demos, mostra claramente o nosso fim e a nossa conducta». E dando ênfase à base moral da
sua escolha afirma: «…Espirito accentuadamente liberal, caracter recto, o Cardeal Saraiva,
210
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
1.º Director
António José de Oliveira
2.º Director
Avelino Guimarães
3.º Director
José Oliveira Pimenta
nosso insigne conterraneo, foi, no dizer de Castilho, o maior philosopho do século passado e um
dos introductores da liberdade em Portugal.».
Apesar das várias vicissitudes que lhe advieram o jornal procurou, dentro dos parâmetros que o levaram ao seu aparecimento, exercer as suas funções como regionalista, defensor dos interesses do concelho. Posteriormente, e por força das transformações operadas
no aspecto tecnológico e a necessidade de acompanhar os tempos, alargou a sua acção
informativa à Ribeira Lima e mesmo ao Alto Minho, tendo para tanto, de aumentar o número de páginas, sem contudo deixar de dar primazia aos acontecimentos locais, levando
avante os seus intentos de forma convicta e tenaz, ininterruptamente. Actualmente, este
«menino» atingiu uma invejável maturidade que adquiriu ao longo da sua vida conferindo-lhe, com todo o mérito, o estatuto de respeitável ancião que anda «HÁ CEM ANOS
A PÔR O PRETO NO BRANCO».
Para a posteridade, aqui deixamos registado, por ordem cronológica, os que enfrentaram a difícil missão de directores deste semanário: Fundador: Conselheiro António Ferreira; 1.º Director: António José de Oliveira; 2.º Director: Avelino Guimarães; 3.º Director:
José Oliveira Pimenta; 4.º Director: Alcides Pereira; 5.ª Directora: Maria Carolina Guimarães; 6.º Director (em exercício): Avelino Castro.
4.º Director
Alcides Pereira
5.ª Directora
Maria Carolina Guimarães
6.º Director (em exercício)
Avelino Castro
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
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O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
Instituto britânico
30 anos ao serviço do ensino em ponte de Lima
Maria Helena Távora
O INSTITUTO BRITÂNICO de PONTE de LIMA comemorou o seu 30º aniversário com várias actividades que decorreram ao longo do ano lectivo de 2009 2010.
No âmbito das comemorações e em jeito de encerramento da actividade lectiva
realizou na Assembleia Municipal a cerimónia de entrega de diplomas onde os alunos
participaram com várias actuações demonstrando assim, o seu grau de aprendizagem
Não podia deixar de expressar a minha alegria ao comemorar os trinta anos desta
escola, que tem um papel fundamental na divulgação da língua e cultura Britânicas
por onde, passaram mais de 5.000 alunos, e, pelo facto de ter sido convidada a dirigir
a secção do I. B. em Ponte de Lima, no ano de 1979. De facto, bem diferente do ensino oficial, onde me encontrava a leccionar na altura, aqui, exigindo mais dinâmica,
por uma necessidade de estar a par de
todas as mudanças, que o mundo cada
vez mais globalizado vem exigindo.
É, por conseguinte, muito mais motivador e gratificante, pois, os resultados obtidos são prova do nosso sucesso
como educadores e ao mesmo tempo são
qualificações reconhecidas, para exercer
qualquer actividade profissional, que
requeira competências linguísticas em
qualquer área
Num mundo em constante mudança, onde o aumento de conhecimentos
linguísticos desempenha um papel cada
vez mais importante na aquisição de
competências, no mercado de trabalho ou mesmo no desenvolvimento pessoal, respondendo mais adequadamente aos grandes desafios do novo século, o INSTITUTO
BRITÂNICO tem contribuído ao longo destes anos, com a sua vasta experiência e
constante inovação, para o desenvolvimento cultural das crianças, jovens e adultos
não só de P. de Lima, como de outros concelhos vizinhos.
Tendo sido uma tarefa árdua, contudo, conseguimos ao longo destes anos fundar
a ASSOCIAÇÃO LUSO-BRITÂNICA de PONTE de LIMA, Associação sem quaisquer fins lucrativos, bem como todo o carácter político e religioso, receber a Medalha
de Mérito Cultural pelo Município de Ponte de Lima, estabelecer vários protocolos de
cooperação, coordenar o ensino da língua Inglesa no 1º ciclo do ensino básico como
entidade parceira do Município de Ponte de Lima, desde a sua Implementação como
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
213
actividade de enriquecimento curricular,
obter a homologação pelo Ministério da
Educação dos cursos de Inglês, Alemão
e Espanhol, obter o Estatuto de Utilidade Publica e, não menos importante,
certificar muito dos alunos que por aqui
passaram através da obtenção de diplomas das maiores organizações Europeias
de avaliação educacional (University of
Cambridge, Goethe Institut e Instituto
Cervantes)
É, com muito orgulho, que temos recebido por parte de antigos alunos muito
carinho e gratidão, pois, de alguma forma fizemos parte do seu desenvolvimento, no seu passado com o nosso saber
fazer e, presentemente, fazemos parte do seu currículo.
Porque, principalmente o INGLÊS, deixou de ser um luxo ou mesmo uma maisvalia, para passar a significar crescimento, desenvolvimento e melhores condições
para acompanhar as rápidas mudanças da globalização do mundo e da consequente
necessidade da uma língua eficiente para a comunicação, o INSTITUTO BRITÂNICO tem sido fundamental ao considerar os interesses e motivações dos nossos alunos,
garantindo as aprendizagens essenciais para a formação de cidadãos autónomos, e,
capazes de actuarem na sociedade, com competência, dignidade e responsabilidade
Pois, através do seu empenho, podem intervir no meio onde vivem, serem bem sucedidos, terem um bom desempenho em situações sociais e profissionais, assim como
no âmbito do ensino superior e tendo a escola INSTITUTO BRITANICO como um
caminho para que isso aconteça.
O INSTITUTO BRITÂNICO tem muito para oferecer á comunidade. É também
uma entidade empregadora, que se preocupa com a formação contínua dos seus professores bem como, a utilização das novas tecnologias no ensino com o uso de quadros
e manuais interactivos facilitadores de aprendizagem.
Por último, gostaria de agradecer o apoio do Município de Ponte de Lima ao longo destes anos, em especial ao Eng. Daniel Campelo, distinto sócio honorário desta
Instituição, Miss Lucy Bravo Examinations Marketing Manager do British Council
do Porto, Amândio Dantas, distinto sócio honorário desta Instituição, Santa Casa da
Misericórdia de Ponte de Lima (pela cedência gratuita das instalações aquanddo do
início da sua actividade) Imprensa local, Associação Luso - Britânica do Minho., English Language Centre, See Learning Center Cenertec , Universidade de Glamorgan
–Cardiff, aos corpos sociais da Associação Luso-Britânica de Ponte de Lima a todos
o meu muito obrigada,
Bem hajam!
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O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
antónio manuel couto viana
Alberto do Vale Loureiro
Na tarde do dia 8 de Junho de 2010,
deixou o espaço físico da vida terrena,
aos 87 anos, esta proeminente figura
da literatura contemporânea, de quem
tivemos a honra de contar como colaborador desta revista.
Poeta, escritor, dramaturgo, actor,
contista, ensaísta, memorialista, tradutor, gastrólogo e autor de vários livros,
António Manuel Couto Viana presenteou-nos, durante muitos anos, com
trabalhos de incomensurável valor literário, os quais, pelo seu conteúdo e fácil
assimilação, muito contribuíram para o
conhecimento e dimensão da cultura,
na sua generalidade.
Natural de Viana do Castelo, o seu
nascimento ocorre a 24 de Janeiro de
1923. Publica o seu primeiro livro de
poemas em 1948, intitulado O Avestruz Lírico. Dirigiu, com David Mourão
Ferreira e Luís de Macedo, as folhas de
poesia Távola Redonda e, mais tarde, a
revista de cultura Graal. Integrou, também, o conselho de redacção da revista
Tempo Presente.
Foi autor de mais de uma centena de
obras, sobretudo de poesia, que ocuparam lugar de relevo nos escaparates das
livrarias, valendo-lhe vários prémios literários, entre os quais destacamos: Prémio
Antero de Quental, por 2 vezes; Prémio de Poesia Luso-Galaico Valle-Inclán; Prémio Nacional de Poesia, Academia das Ciências, Sociedade Histórica da Independência de Portugal e Camilo Pessanha, da Fundação Oriente.
Desde cedo interessou-se pelo teatro. Em 1946, por intermédio de David Mourão
Ferreira, estreia-se como actor e figurinista, no Teatro Estúdio do Salitre, em Lisboa,
mas já anteriormente tinha dado os primeiros passos no Teatro Sá de Miranda, em
Viana do Castelo.
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
215
Também colaborou como actor, cenógrafo, encenador e empresário em várias
companhias, como o Teatro da Mocidade, o Teatro do Gerifalto e a Companhia Nacional de Teatro. Uma boa parte da sua actividade teatral como actor, encenador e
autor foi dirigida às crianças.
Foi orientador artístico da Oficina de Teatro da Universidade de Coimbra, encenou para o Círculo Portuense de Ópera e para a Companhia Portuguesa de Ópera
(Teatro da Trindade), foi Mestre de Arte de Cena do Teatro Nacional de S. Carlos e
colaborador da Companhia de Ópera de Câmara do Real Theatro de Queluz. Pertenceu, como actor, cenógrafo e encenador, ao Teatro-Estúdio do Salitre.
Com uma Bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian, frequentou, com aprovação,
um curso de teatro, em Veneza.
Participou em alguns filmes portugueses e estrangeiros e em dezenas de peças para
o palco e a televisão.
Como actor-encenador, professor e empresário teatral, recebeu o Prémio da Crítica e o Prémio António Pinheiro.
Para além da poesia e do teatro dedicou-se também à literatura infantil, através
de ensaios, escrita e tradução de livros. Dirigiu, entre outras edições infanto-juvenis,
a publicação Camarada.
Exerceu funções docentes em Macau. Foi distinguido com o Prémio Sande Lemos
– Identidade Portuguesa, da Sociedade Histórica da Independência de Portugal.
Foi o primeiro juiz da Confraria de Gastrónomos do Minho, graças aos textos que
publicou sobre a matéria; Membro de Honra da Confraria Gastronómica do Alentejo
e obteve, com o seu livro A Musa à Mesa, o Prémio d’A Panela ao Lume.
Foi sócio da Associação Portuguesa de Genealogia, do Círculo Eça de Queiroz,
da Sociedade Histórica de Independência de Portugal, do Centro Cultural do Alto
Minho, da Sociedade Portuguesa de Autores, da Sociedade Portuguesa de Escritores,
Sócio de Mérito do Centro de Estudos Regionais, sócio correspondente da Academia
Lusíada de Ciências, Artes e Letras de S. Paulo (Brasil) e da Academia de Ciências
de Lisboa e sócio honorário da Associação Portuguesa de Poetas.
Pertenceu ao Conselho de Leitura de Ensino e Bolsas da Fundação Calouste
Gulbenkian.
Foi agraciado com as seguintes condecorações: Banda da Cruz de Mérito, GrãoCruz da Falange Galega, Grande Oficialato da Ordem do Infante Dom Henrique e a
Medalha de Mérito Cultural da Cidade de Viana do Castelo.
Também Ponte de Lima o distinguiu, através das suas instituições, pelas suas qualidades intelectuais e artísticas, não fora Couto Viana um apaixonado pela Ribeira
Lima. Assim o município limiano atribuiu-lhe a medalha de Mérito Cultural. A Casa
do Concelho de Ponte de Lima (agremiação representativa da comunidade pontelimense em Lisboa), prestou-lhe, mais que uma vez, e em momentos propícios, o
devido preito de homenagem, conferindo-lhe o alto galardão de Sócio Honorário,
distinção bem acolhida pelos laços de afinidade que o ligaram à região limiana, que
se habituou a amar. Daí o seu sentimento poético, que a seguir transcrevemos:
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O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
…Quem me dera
visitar Ponte de Lima
nesta plena Primavera!
…
Gozar a natureza
da vila ribeirinha!
Chamar, a tanta beleza,
minha!
…
que eu vá, agora, lá acima,
para amar Ponte de Lima
no ardor da PrimaVera!
António Manuel Couto Viana era um indefectível apreciador da gastronomia
limiana, e sabia, como ninguém, degustar o seu prato tão preferido ­– o sarrabulho à
moda de Ponte. Tinha, também, grande afecto, desde a sua mocidade, por tudo o que
se passava em Ponte de Lima, especialmente a partir de 1939, ano em que passou a
gozar férias, com a família, em S. Martinho da Gandra, freguesia do concelho pontelimense. Nessa altura não perdia, nem uma pitada, os momentos da vida quotidiana
da época que lhe suscitassem prazer. Assim acontecia nos dias de feira quinzenais que
ele vivia com redobrado entusiasmo e excitação: «…Eu entrava em Ponte, na companhia de meus Pais e de minhas Irmãs, na charrete de um amigo nosso…» Aí chegado,
num ápice, sem mais delongas, deixava-se embevecer pelo característico ambiente
que o esperava: «…para logo nos misturarmos com o bulício dos feirantes, no vastíssmo
areal, ansiosos por descobrir, sob o toldo tosco das barracas, alguma peça artesanal que nos
recordasse, mais tarde, aquele local e aquele tempo tão gratos à nossa sensibilidade.»
Por altura das Feiras Novas, que ele dizia «…bem mais autênticas do que a Romaria
d’Agonia,…» vibrava com os improvisados descantes ao som da concertina e o contagiante rodopiar das moças em exuberante e expressiva manifestação popular. As
Feiras Novas estavam-lhe no coração.
O Largo de Camões era para ele um local propício para, num café ou numa esplanada, trocar dois dedos de conversa com os intelectuais e artistas da época.
«O Anunciador das Feiras Novas», que desde 1997 teve a honra de contar com
a preciosíssima colaboração deste tão ilustre personagem, recorda-o, com saudade,
prestando-lhe a devida homenagem. Jamais se apagará da cultura nacional tão elevado e ilustre cidadão.
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
217
Tel. 258 741 095 - Fax 258 753 255 - Telem. 91 915 35 04
Telem. 96 888 38 18
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O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
josé luís afonso branco
Alberto do Vale Loureiro
Perdemos mais um Amigo e dedicado colaborador desta revista. Com o seu passamento ficamos desprovidos de uma das mais importantes referências no campo da literatura
da vasta plêiade que compõe «O Anunciador
das Feiras Novas».
Desde o início da sua colaboração nesta revista tivemos a oportunidade de privar
com ele em amiúde o que deu para nos conhecermos mais em detalhe sobre os nossos
pensamentos e ideais de vida. Tínhamos até
reflexões em comum que convergiam nas
análises que fazíamos sobre certas facetas da
vida da nossa sociedade.
Muito culto, espírito sereno, notável
pelo seu talento, distinguia-se também pela
sua afabilidade, próprio de quem nutre pelo
ser humano os mais elevados sentimentos,
os quais, pela forma como os expressava,
facilmente eram assimilados por quem com
ele tinha o privilégio de conversar.
Poeta e escritor, mestre na divulgação da língua portuguesa, é vasta a sua colaboração em
jornais e revistas da região. Tem uma extensa obra bibliográfica publicada em livros de investigação histórica e em opúsculos editados pelo próprio.
José Luís Afonso Branco nasceu na freguesia de Outeiro (Viana do Castelo), a 21 de Fevereiro de 1917. Depois da instrução primária ingressou no Seminário Diocesano de Braga.
Aí estudou Humanidades, Filosofia e Teologia, com elevadas classificações. Desistiu, porém,
de ser ordenado sacerdote. Enveredou pelo ensino e, mais tarde, frequentou a Faculdade de
Filosofia, na Pontifícia Universidade de Salamanca onde concluiu a licenciatura.
Exerceu docência no ensino particular, em Anadia e no Porto. Mais tarde optou por concorrer ao ensino oficial, sendo colocado na Escola Doutor Pedro Barbosa, em Viana do Castelo.
Foi membro do CER (Centro de Estudos Regionais), Viana do Castelo, onde tem publicada a
maior parte dos seus trabalhos e do qual fez parte dos seus órgãos directivos.
Recebeu, pela Câmara Municipal de Viana do Castelo, as insígnias de «Cidadão de Mérito».
Ao bom Amigo e colaborador desta revista o nosso preito de homenagem. Jamais olvidaremos o respeito pela sua memória.
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
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josé luís da silva
A 2 de Junho de 1925, nasceu em Ponte
de Lima, José Luís da Silva. Mas o povo limiano sempre lhe chamou Zé do Rogério. A
abreviatura do nome José e a particularidade
do nome do seu cunhado Rogério*, tornaramno assim conhecido no início da actividade
comercial, ao forno e balcão da Padaria de Rogério Guerra, desde o final dos anos trinta aos
quarenta. Trabalhava e ao mesmo tempo fez a
instrução primária, sobre a tutela do Professor Martins, destacando-se como um dos seus
mais brilhantes alunos, o que lhe valeu sempre
o eterno reconhecimento de seu mestre.
Como muitos outros, partiu para Lisboa
à procura de melhor vida. A experiência, não
lhe agradou. E um dia de regresso à terra,
António Martins oferece-lhe trabalho e melhores condições. Fica na Confeitaria Havaneza, onde permaneceu até meados dos anos
cinquenta. Abre, então por sua conta, o estabelecimento comercial que o tornou desde a
época, num dos mais respeitados comerciantes de Ponte de Lima – a Mercearia da Matriz.
A sua actividade fora do domínio profissional, foi caracterizada por um empenho social e religioso. Entre finais dos anos sessenta e princípio dos anos setenta, exerceu o cargo de secretário na
Junta de Freguesia de Ponte de Lima. Foi elemento da Direcção dos Bombeiros Voluntários de Ponte
de Lima. O seu cariz espiritual levou-a a participar nas actividades da paróquia de Ponte de Lima,
com especial dedicação à Comissão Fabriqueira. Já nas décadas de setenta e oitenta, foi dirigente da
Associação Comercial de Ponte de Lima e membro da direcção do Lar Nossa Senhora da Conceição.
Não foi director, mas sempre teve esse sentimento intenso: Os Limianos. Até a doença o trair,
sempre flutuou com ele a bandeira amarela e violeta. Aos domingos, dia de futebol em Ponte de Lima,
já com oitenta e quatro anos, continuava a ritualizar esse exercício de ser bom limiano: subia até ao
Cruzeiro, para bater palmas às jogadas e golos limarenses. Era um dos sócios mais antigos do clube.
Era casado com Maria da Cunha e pai de três filhos.
«O Anunciador das Feiras Novas, publicação que José Luís da Silva sempre apoiou, sem reservas, e especialmente o seu coordenador, que dele recebeu a maior estima e consideração, recordam este bom amigo, enaltecendo o seu exemplo de vida familiar e profissional, e a atenção que
sempre evidenciou por tudo o que o rodeava na comunidade limiana.
O seu passamento ocorreu em 24/10/2009. Contava 84 anos.
*Rogério Guerra, casado no seu primeiro matrimónio, com sua irmã Maria Nazaré Silva (falecida) e pai do actual proprietário Rogério da Silva Guerra.
220
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
220
manuel alves araújo
Conhecido por “Pimenta” do Sonho do Capitão, deixou a vida terrena, em circunstâncias
um tanto inesperadas, este laborioso, dedicado
e dinâmico empresário do ramo da restauração.
Vamos tratá-lo tal como era conhecido – o
Pimenta­­­­­­ ­–. E fazêmo-lo porque foi assim que
sempre ouvimos pronunciar o nome que ele
«adoptou», e, ao que parece, nunca demonstrou rejeição.
Tivemos o grato prazer de conhecer o Sr.
Pimenta há já alguns anos. Sempre admiramos
a sua capacidade empreendedora e enaltecemos
a corajosa e arrojada iniciativa da fundação de
um restaurante daquela envergadura. Chegamos mesmo a expressar-lhe a nossa satisfação, e
um certo orgulho, pelo facto de Ponte de Lima
ter um empreendimento do ramo hoteleiro que
reunia todos os níveis de qualidade e conforto
equiparados aos existentes em outras localidades, superando mesmo, em certos aspectos,
alguns meios conotados como mais avançados
do sector.
De semblante austero mas de espírito aberto e compreensivo, atento a tudo que o rodeava, o Sr. Pimenta muito raramente dizia não a quem o
solicitava havendo mesmo situações de grande pendor altruísta que muito surpreendia quem delas
beneficiou. A sua generosidade em disponibilizar-se para a comunidade em que estava inserido fez
dele um cidadão activo e participante na vida social. Desempenhou, com inexcedível zelo, vários
cargos na sua freguesia da Correlhã, nos mais variados sectores: Presidente da Associação de Futebol, Presidente da Associação de Pais da EB1, Tesoureiro da Junta de Freguesia, Membro do Conselho Paroquial para os Assuntos Económicos e Membro da Confraria do Santíssimo. Outras instituições locais usufruíram da sua dedicação sendo de destacar a de Membro da Associação Columbófila
Limiana, sócio e benemérito dos Bombeiros Voluntários de Ponte de Lima, sócio e benemérito da
Banda de Música de Ponte de Lima, Membro da Confraria do Sarrabulho e, não raras vezes, colaborou com vários tipos de iniciativas que, de forma pontual ou sistemática, beneficiaram da sua
cooperação contando-se, entre elas, a Associação Desportiva «Os Limianos» e outros organismos e
actividades culturais.
O Pimenta (de seu nome Manuel Alves Araújo) viu a luz do dia no ano de 1957. Frequentou a
instrução primária na Escola da Correlhã, continuou os seus estudos em Ponte de Lima e em Viana do
Castelo, onde concluiu o seu curso na então denominada Escola Industrial e Comercial de Viana do
Castelo. Contava 52 anos de idade.
A revista «O Anunciador das Feiras Novas», muito particularmente o coordenador e responsável pela sua reedição, a quem o Sr. Pimenta dispensou especial estima, prestam-lhe a devida homenagem e lamentam o vazio que deixa no seio da comunidade dos empresários limianos. Obrigado
bom Amigo. Até sempre.
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
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ANTÓNIO DA COSTA PEREIRA (1933-2009)
António da Costa Pereira, desde
muito jovem ligado ao folclore de
S. Martinho da Gandra, exerceu 54
anos de verdadeira dedicação, dignamente lembrados e reconhecidos
pelo Rancho Folclórico das Lavradeiras de S. Martinho da Gandra,
que lhe prestou significativa homenagem aquando da passagem do
55.º aniversário deste conceituado
representante do folclore limiano.
Sente esta revista, obrigação,
pela sua forte ligação às Feiras Novas, lembrar aqueles que na realidade contribuíram para o brilho e
a fama que estas festas alcançaram.
De uma rusga, que na altura se
agrupou com o intuito de se divertir nas Feiras Novas, deu origem ao
aparecimento do Rancho de S. Martinho, perfeito exemplo do que na
realidade são os grupos de folclore,
manifestação tão comum no passado e que se traduz na vivência do
presente destes agrupamentos.
Também isso se deve a António
Pereira que, entusiasticamente, com grande paixão, dedicou a sua vida permanecendo à
frente dos destinos do Rancho, com apego, competência e generosidade.
Muito do encanto das Feiras Novas se fica devendo a homens como este. Recordá-lo
é entender a «alma» da festa, este ano, com mais uma saudade.
Que o seu exemplo frutifique e seja motivo de admiração de todos nós.
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O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
João de sousa calçada
Conhecêmo-lo, ocasionalmente, aquando da preparação da edição número dois,
em segunda série, desta revista. Nela decidimos inserir um Especial Correlhã que teve
a colaboração literária de autores locais e a
participação de empresas desta importante
freguesia do concelho. Nessa altura, quando
iniciávamos a pesquisa de adesão publicitária
de empresas locais e perante o nosso desconhecimento da totalidade das mesmas, surge
o Sr. Calçada, de forma inesperada, oferecendo a sua disponibilidade em acompanhar-me
na difícil tarefa de angariação. Confesso que
muito me sensibilizou a sua atitude e notei,
de imediato, que estava perante uma pessoa
de bem com sentimentos de entreajuda e
afeição. Assim aconteceu. Com o passar do
tempo e o conhecimento das nossas personalidades gerou-se uma saudável empatia que
nos levou a uma duradoira amizade.
João de Sousa Calçada era um homem simples, honrado e de coração aberto que serviu
dignamente a sua família com denodado esforço e dedicação. Notávamos nele o especial cuidado que manifestava pelas lides agrícolas na sua propriedade e não descurava um centímetro
de terra que fosse. Generoso, desprendia-se do fruto do seu trabalho em favor dos que lhe
mereciam atenções. Sempre atento e solícito não deixava o seu amigo partir sem que algo da
sua generosidade ficasse por realizar.
É sempre difícil de descrever a percepção que sentimos pela perda de um familiar ou de um
amigo, mesmo até de alguém que nos merece o respeito e admiração ou ainda por qualquer ser
humano vítima de injustiças que a própria sociedade lhe inflige. O Sr. Calçada pelo seu vincado
carácter e elevado altruísmo deixa-nos um exemplo de vida digno de registar. Por tais virtudes
e porque delas somos testemunho, aqui lhe prestamos a nossa homenagem.
«O Anunciador das Feiras Novas», o seu reeditor e coordenador e a comunidade estão-lhe
gratos. Até sempre, bom Amigo.
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
223
índice
A nossa festa maior - as Feiras Novas . .............................................................................................................3
Pontelimense ......................................................................................................................................................5
El Rei e as Feiras Novas .....................................................................................................................................9
Quadras ao Gosto Popular .............................................................................................................................. 11
Monumento às Feiras Novas e ao Folclore .................................................................................................... 13
Como Homenagem a D. Carlos Pinheiro ........................................................................................................ 21
Vivências das Feiras Novas - Irmãos “Hortas” . ............................................................................................. 23
Retrato das Feiras Novas (I) - As Feiras Novas no “A Aurora do Lima” .........................................................27
O Sarrabulho e as Feiras Novas - “Casa Lina” ................................................................................................31
Raúl Teixeira - Poeta Limiano .......................................................................................................................... 33
A Ribeira-Lima Cultural entre a Monarquia e a República .............................................................................41
A toponímia em Ponte de Lima durante a primeira República ..................................................................... 55
Camilo e Ponte de Lima - Notas para um roteiro . ..........................................................................................61
Um dia inolvidável para a história de Ponte de Lima .................................................................................... 67
Em busca da «Explicação Histórica» do Anjo da Guarda ............................................................................... 77
Anjo da Guarda .................................................................................................................................................81
O restuaro do Teatro Diogo Bernardes ........................................................................................................... 83
O «Echo do Lima» e a geração Coimbrã de 62 . ..............................................................................................91
Cartas Hidrográficas do rio Lima .....................................................................................................................97
Maria de Ponte . ............................................................................................................................................. 106
Cláudio Lima e Luís Dantas - 40 anos de vida literária (1970-2010) ........................................................ 109
As Escolas de Estorãos . ................................................................................................................................ 111
José Lopes Martins (1910-1996) ................................................................................................................. 121
A tia Rosa Paula ............................................................................................................................................. 125
Feiras Novas - 1909 - António Feijó, uma visita infutuosa ......................................................................... 129
Os vários rostos do Manuel Caravana nos cortejos históricos ................................................................... 133
Sugestões para uma visita . .......................................................................................................................... 137
Professor José Cândido Martins ................................................................................................................... 141
Igreja Paroquial da Correlhã - As suas metamorfoses ................................................................................ 143
Eng.º José do Lago Arrais Torres de Magalhães - Cavaleiro da Ordem de S. Gregório Magno . ............... 147
Rancho Folclórico da Correlhã - 50.º Aniversário ........................................................................................ 151
Fonografia Musical da Correlhã - 2.ª Actualização ...................................................................................... 155
Retrato das Feiras Novas (II) - Preparando as Feiras Novas em 1899 ...................................................... 159
A estirpe Limiana da família “Pereira Coutinho” ......................................................................................... 161
Estorãos - Um lugar na História .................................................................................................................... 177
Estória . ........................................................................................................................................................... 181
Lar particular para idosos em Refóios do Lima - Lar residencial Santa Maria dos Anjos ........................ 183
Artesãos Limianos - Manuel Luís Ferreira Martins . .................................................................................... 185
Figuras Populares de Ponte de Lima - Uma obra estimável de Luís Dantas ............................................. 187
Amigo! ............................................................................................................................................................. 194
Carlos de Lima Magalhães . .......................................................................................................................... 195
Pharmacia Brito - Uma Farmácia centenária ............................................................................................... 197
Plantas raras da Poça Grande de Faldejães - Arcozelo . ............................................................................. 199
De Novo, as Raparigas .................................................................................................................................. 202
Feiras Novas . ................................................................................................................................................. 204
Em jeito de homenagem às lavadeiras ........................................................................................................ 206
Perfil popular das Feiras Novas - Félix Tocador de Concertina ................................................................... 207
Jornal “Cardeal Saraiva” - 100 anos ............................................................................................................ 209
Instituto Britânico de Ponte de Lima - 30 Anos............................................................................................ 213
António Manuel Couto Viana . ....................................................................................................................... 215
José Luís Afonso Branco . .............................................................................................................................. 219
José Luís da Silva . ......................................................................................................................................... 220
Manuel Alves Araújo ...................................................................................................................................... 221
António da Costa Pereira (1933-2009) . ...................................................................................................... 222
João de Sousa Calçada ................................................................................................................................. 223
224
O ANUNCIADOR DAS FEIRAS NOVAS
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(i) as Feiras Novas No - Associação Empresarial de Ponte de Lima