O Auto do Compaudescido
Extraído da fabulosa obra literária
“Tanto Faz”
A história que lhes conto aconteceu de verdade.
Ela já tem o final pronto, e é de muita qualidade.
É a história de um devoto muito, muito religioso,
Pois trazia, desde garoto, dois terços em cada bolso.
Ele já fez romaria, promessa e procissão.
Conhece todas as igrejas que existem no sertão.
Já bateu de porta em porta, procurando quem fizesse
Acontecer um milagre para o que não endurece.
Dizem que Santo Agostinho o pedido lhe negara,
Alegando o santinho que não era sua área.
Também São Francisco lhe negou a sua graça.
Porque corria o risco de nunca mais sair na praça.
São José, o protetor, disse não ao pedinte,
Disse “procure um doutor, durante o expediente”.
Santo Antonio, glorioso, que entende deste dilema.
Ficou bem silencioso quando ouviu o problema.
A São Bento, o sabido, também propôs o pedido,
Que entrou por uma orelha, e saiu pelo outro ouvido.
A todos pedia rezando, (às vezes, falando baixinho)
“Desejo ver o equipamento
levantar só um pouquinho.”
Solicitar para as santas nosso devoto evitou.
A vergonha era tanta, que só santo homem buscou.
Seja de dia ou de noite, no mês curto ou comprido,
Era conhecido como “o homem compaudescido”.
Já que do céu não vinha ajuda
para curar sua angústia,
Resolveu ir em busca de outro tipo de astúcia.
Choque forte, guaraná, pó de mico, chá de alho.
Nada lhe dava a alegria de ver subir o... rapaz.
Do outro lado das crendices decidiu de procurar
Uma ajuda, um milagre para o que só faz balançar.
Escolheu a encruzilhada e meia-noite foi a hora.
Para encurtar a conversa já pôs o defunto para fora.
Ficou ali esperando no vento frio que soprava,
Gelado, com o órgão que para baixo apontava.
Se a exigência fosse muita
quando o malvado chegasse,
Ele aceitaria com gosto, desde que a coisa acordasse.
Eis que veio a fumaça, azeda, com cheiro ruim.
Chegando das profundezas, ele veio, enfim.
“Quanto custa, ó senhor, da minha alma um pedaço?
O que peço é um milagre: transformar geléia em aço.”
O chefe das trevas logo pensou e respondeu:
“Seu problema é triste, mas é o contrário do meu.
Por este pequeno milagre nada te cobrarei.
Apenas um pequeno ajuste, e na zona serás rei.”
“Eu tenho esperado alguém com esta disposição,
Para fazer o equilíbrio com a força da gravitação.
O meu caso é o inverso da sua infelicidade.
Meu caso é de solidez por toda a eternidade.”
“A solução que proponho vai lhe deixar à vontade.
Vamos fazer a média de nossas qualidades.
Tu recebes a metade da minha rigidez.
Nenhum mortal no mundo terá tamanha altivez.”
“De sua flexibilidade eu vou me apropriar.
Podendo assim arrefecer este vetor perpendicular.”
“Mestre maligno, digo sim!” Aceita, com convicção.
Os dois fecham o acordo com um aperto de mão.
No dia seguinte, acordando, procura usando o tato.
E constata, feliz da vida, que era um homem de fato.
Foi para a casa das moças, lugar pouco respeitado.
Tinha pressa de por em uso o novo ressuscitado.
Escolheu a mais preparada a ensinar um debutante.
A professora espiava o poste esticado avante.
Sem muitas preliminares, o devoto já estava chegando
Perto de realizar aquilo que vivia sonhando.
Mas, pela janela uma luz intensa entra iluminando.
Interrompe na rede o casal que estava se preparando.
Era a aparição da santa que protege os mortais.
“Mas que hora! Não podia esperar um pouco mais?”
A santa explica ao devoto porque apareceu assim.
Ela cumpre as ordens que vêm do céu,
do Éden jardim.
“Estou aqui em hora boa, para a vós proteger.
Cancelar o acordo com as trevas, este é o meu dever”.
“Minha missão nesta terra é a todo custo evitar
Que a tentação leve os homens com o Outro assuntar.
E assim, eu declaro que seu acordo está desfeito!
Vá em paz, reze e pense. O que está feito está feito.”
E num desmilagre fortuito, sem barulho ou estalo.
O que de bandeira era mastro voltou a ser um badalo.
Novamente buscou... mas sem resultado, mais nada.
Nunca mais encontrou aquela encruzilhada.
Silicone, olho de sapo, mandrágora, tratamento,
Mandinga, macumba, alienígena, ungüento,
Força da mente, telecinésia, eletricidade.
Mas só via o resultado da força da gravidade.
De tentativa em tentativa, foi a todo lugar,
Gastou tudo o que tinha, sem jamais se curar.
O homem compaudescido morreu de pedir e sonhar.
Pois quando o Céu é contrário
não há o que se possa mudar.
O Auto do Compaudescido
FIM
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