ISSN 1984-428X
AGROBASE 090437
VOLUME 03
Nº 2
AGOSTO 2011
ISSN 1984-428X
AGROBASE 090437
Publicação Quadrimestral Científica e Tecnológica - IFSULDEMINAS
v.3 – n.2 – Agosto/2011
Pouso Alegre – Minas Gerais
Agosto – 2011
REVISTA AGROGEOAMBIENTAL, V. 03, Nº 02, 2011, POUSO ALEGRE-MG, REVISTA AGROGEOAMBIENTAL, 2011
QUADRIMESTRAL: Maio, Junho, Julho, Agosto. ISSN 1984-428X
1. Agronomia, Eng. Agrícola, Zootecnia, Geomática, Geologia, Eng. Florestal, Eng. de Pesca,
Hidrologia, Geologia e Ecologia.
1. Revista Agrogeoambiental, Pouso Alegre - MG, Brasil
Agrogeoambiental, V. 3, n. 2, 123 pag. (2011)
IFSULDEMINAS – MG 2011. Quadrimestral
(Abril-2011)
ISSN 1984-428X
1. Agronomia. 2. Eng. Agrícola. 3. Zootecnia. 4. Geomática.
5. Geologia. 6. Eng. Florestal. 7. Eng. de Pesca. 8.Hidrologia.
9. Geologia. 10. Ecologia.
Os artigos assinados e postados são de inteira responsabilidade dos autores e não expressam, necessariamente, a
opinião da Comissão Editorial da Revista Agrogeoambiental ou do IFSULDEMINAS.
É permitido a reprodução total ou parcial dos artigos desta revista, desde que citada a fonte.
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AGROBASE 090437
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Marcelo Bregagnoli
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Revisores Associados
Agnaldo Martins Serra Junior – INPE
José Euclides Stipp Paterniani – UNICAMP
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José Jorge G. Garcia – IFSULDEMINAS
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Alessandro S. Carvalho – IFSULDEMINAS
José Venícius de Souza – IFSULDEMINAS
Ana Cristina F. M. Silva – IFSULDEMINAS
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Angelita Duarte Corrêa – UFLA
Julierme W. da Penha – IFSULDEMINAS
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Carlos Alberto Silva – UFLA
Laércio Lourdes – IFSULDEMINAS
Carlos E. de Andrade – IFSULDEMINAS
Lucia Ferreira – IFSULDEMINAS
Carlos Edward C. Freitas – UFAM
Luciana Faria – IFSULDEMINAS
Carlos Magno de Lima – IFSULDEMINAS
Luiz Flávio R. Fernandes – IFSULDEMINAS
Claudino Ortigara – IFSULDEMINAS
Marcos Caldeira Ribeiro – IFSULDEMINAS
Cléber Kouri de Souza – IFSULDEMINAS
Maria de Fátima F. Bueno – IFSULDEMINAS
Denis M. Roston – UNICAMP
Maria José Brito Zakia – ESALQ
Éder C. Dos Santos – IFSULDEMINAS
Max Wilson de Oliveira – IFSULDEMINAS
Edilson Lopes Serra – UFLA
Miguel Angel I.T. D. Pino – IFSULDEMINAS
Edu Max da Silva – IFSULDEMINAS
Mozar José de Brito – UFLA
Erick Menezes de Azevedo – UNIFEI
Mozart Martins Ferreira – UFLA
Fabiano Ribeiro do Vale – UFLA
Oswaldo F. Bueno – IFSULDEMINAS
Fabrício Gomes Gonçalves – UFES
Paulo César Lima Segantine – USP
Felipe Moreton Chohfi – UNICAMP
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Gerson de F. S. Valente – IFSULDEMINAS
Rosa Toyoko S. Frighetto – EMBRAPA
Geslaine Frimaio da Silva – UNIP
Silvio H. Dellesposte Andolfato – UTFPR
Jamil de Morais Pereira – IFSULDEMINAS
Verônica S. Paula Morais – IFSULDEMINAS
João O. Araújo Neto - IFSULDEMINAS
Vitor Gonçalves Bahia – UFLA
Joel Augusto Muniz – UFLA
Walter de Paula Lima – ESALQ
José Alberto C. Souza Dias – IAC
Wilson Roberto Pereira – IFSULDEMINAS
Tiragem: 500 exemplares – e-mail: [email protected]
Ministério da Educação
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais
Presidente da Replública
Dilma Roussef
Ministro da Educação
Fernando Haddad
Secretário de Educação Profissional e Tecnológica
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Reitor do IFSULDEMINAS
Sérgio Pedini
Pró-Reitor de Administração e Planejamento
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Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação
Marcelo Bregagnoli
Pró-Reitor de Ensino
Marcelo Simão da Rosa
Pró-Reitor de Desenvolvimento Institucional
Mauro Alberti Filho
Pró-Reitor de Extensão
Renato Ferreira de Oliveira
Editorial
É com imensa alegria que apresentamos a edição nº 2 do ano de 2011 da Revista
Agrogeoambiental.
A existência desse periódico se deve aos companheiros idealizadores e colaboradores do campus
Inconfidentes, que em uma atitude integradora, ofertou um de seus maiores patrimônios culturais ao IFSULDEMINAS, que torna institucional a partir desde volume. Com a aprovação da Câmara de Pesquisa,
Pós-Graduação e Inovação (CAPEPI) e da Reitoria, a Revista Agrogeoambiental, fonte de informação
sobre pesquisa e inovação, se torna mais uma opção para a divulgação do conhecimento científico gerado por docentes, pesquisadores e estudantes do Instituto e suas coirmãs espalhadas pelo país. Além
dessas, outras pesquisas são oriundas de Universidades, Fundações e demais organizações científicas
do Sul de Minas Gerais e de outras regiões do Estado e do País.
Vale ressaltar que, com a Lei de criação dos Institutos Federais (Lei 11.892/2008), o princípio da
unidade deve ser constante, em cada ação promovida pelo IFSULDEMINAS, buscando de forma contínua a formação de cidadãos críticos, criativos, competentes e humanistas. Porém, aperfeiçoando-se em
técnicas modernas e inovadoras, com aplicação para o desenvolvimento sustentável do Sul de Minas
Gerais.
Sendo assim, o Instituto em questão possui seis campi (Inconfidentes, Machado, Muzambinho,
Passos, Poços de Caldas e Pouso Alegre) e 14 Polos de Rede, distribuídos em todo Sul de Minas Gerais, totalizando 8590 alunos em curso presenciais e a distância de ensino médio, técnico, tecnológico,
superior e de Lato sensu.Dessa forma, todos trabalhando com a indissociabilidade do ensino x pesquisa
x extensão, voltados para a formação de pessoas capazes de contribuir com a melhoria da qualidade de
vida e do desenvolvimento dos Arranjos Produtivos Locais, através de pesquisas aplicadas e extensionista.
Nesta perspectiva, ações de fomento à pesquisa foram e estão sendo implantadas no Instituto,
como a aprovação junto ao CNPq de cotas para os programas PIBIC e PIBITI; aprovação no Conselho
Superior de normativa de destino orçamentário dos campi à pesquisa, tanto para bolsas, quanto para
finaciamento de projetos; reconhecimento da excelência da pesquisa do IFSULDEMINAS, junto à FAPEMIG que ampliou o número de bolsas destinadas ao Instituto. Além do mais, são vários os exemplos
de professores que tiveram suas pesquisas aprovadas em agências de fomento externo, tendo como
objeto fim, o desenvolvimento sustentável do Sul de Minas Gerais e, destacadamente, o envolvimento
do discente em atividades de pesquisa, proporcionado a ampliação do conhecimento decorrente do seu
envolvimento na atividade científica.
A partir deste volume, prestaremos uma homenagem àqueles que tiveram relavante importância
para efetivação da Revista Agrogeoambiental e na atividade científica no IFSULDEMINAS. Nesta primeira menção, faremos uma justa referência ao professor Marlei Rodrigues Franco, um dos fundadores da
Revista Agrogeoambiental, atuante na defesa da qualidade do ensino no campus Inconfidentes e em todo
IFSULDEMINAS.
Agradecemos a todos autores que enviaram suas pesquisas e acreditaram na consolidação desta
ideia chamada: Revista Agrogeoambiental. Boa leitura a todos!
Sumário
Adição de Resíduos Orgânicos ao Substrato para Produção de Mudas de Café em Tubete - Sérgio Luiz Santana de Almeida; Franciane Diniz Cogo; Bruna Oliveira Gonçalves†; Bruno Teixeira Ribeiro; Katia Alves Campos e
Augusto Ramalho de Morais . ................................................................................................................................... 9
Comparação entre a Feição de Hidrografia Extraída de uma Imagem do Srtm (Shuttle Radar Topography
Mission) e a Vetorizada pelo Módulo Arcscan/ Arcgis®: Estudo de Caso para Fins de Análise Hidrológica
na Bacia Hidrográfica do Rio Grande, Divisa entre os Estados de MG E SP - Sady Júnior Martins da Costa de
Menezes; Thiago Porto Maia Soares; Vanessa Mendes Lana; Cleverson Alves de Lima; Fernando Soares de Oliveira; Claubert Wagner Guimarães de Menezes; Carlos Antonio Alvares Soares Ribeiro e Vicente Paulo Soares
.................................................................................................................................................................................15
Balanço Hídrico para Pinheiral, Rio de Janeiro - Antonio Passos Portilho; Marcelo Carazo Castro; Guilherme de
Souza Alves; Nathan Fernandes de Aguiar e Marilena Souza da Silva . . ...............................................................21
Fatores a serem considerados para o lançamento de nova marca de café orgânico - Dayanny Carvalho
Lopes; José Messias Miranda e André Delly Veiga . . ..............................................................................................29
Avaliação da Produtividade e Adaptabilidade de Acessos de Amendoim Forrageiro para Potencial Formação/Consorciação de Pastagens no Sul de Minas Gerais - Michender Werison Motta Pereira; Kátia Regina
de Carvalho e Lílian Vilela de Andrade Pinto . . ......................................................................................................37
Acúmulo de Açucares em Variedades de Cana Influenciadas por Diferentes Supressões de Irrigação e
Adubação - Franklin Meireles de Oliveira; Ignacio Aspiazú; Marcos Koiti Kondo; Iran Dias Borges; Rodinei Facco
Pegoraro e Poliana Batista de Aguilar . . ..................................................................................................................47
Avaliação da Sobrevivência e do Desenvolvimento de Mudas de Capim Vetiver (Vetivena Zizanioides) em
Raízes Nuas e Produzidas em Saquinhos de Polietileno Plantadas em Diferentes Espaçamentos - Leandro
Luiz de Andrade; Lilian Vilela de Andrade Pinto; Michender Werison Motta Pereira e Rafael Xavier Souza . . ......57
Caracterização da Frota Pesqueira de Coari, Médio Rio Solimões (Amazonas-Brasil) - Sandrelly Oliveira Inomata e Carlos Edwar de Carvalho Freitas . . .............................................................................................................65
Análise Comparativa entre Indicadores de Avaliação do Desenvolvimento Sustentável em Comunidades
Ribeirinhas no Estado do Amazonas - Frandiney dos Reis e Alexandre Almir F. Rivas . . ..................................71
Efeito de Atividades Antrópicas Sobre A Mata Do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia
Minas Gerais Campus São João Evangelista (IFMG-SJE) - Eduardo Felipe Ribeiro; Paulo do Nascimento; Aderlan Gomes da Silva; Gustavo de Almeida Santos e Diêgo Gomes Júnior . ..............................................................83
Cultivo do Feijoeiro em Solo de Baixa Fertilidade em Sucessão à Cultivares de Batata Submetidas a
Diferentes Adubações - Marcelo Bregagnoli; Keigo Minami; Ariana Vieira Silva e Raul Henrique Sartori . .........93
Análise de Sistemas de Geração de Energia Elétrica com Base na Pegada Ecológica Modificada - Bruno
Silva de Carvalho; Carlos Cezar da Silva e Cezar Augusto Frimaio da Silva . . .....................................................101
Relação entre o Comportamento de Aves, A Conformação da Paisagem Fragmentada e A Estrutura das
Populações de Plantas - Bruno Senna Corrêa e Aloysio Souza de Moura . . ......................................................109
Homenagem ao Professor Marley . .....................................................................................................122
Revista Agroambiental - Agosto/2011
Adição de Resíduos Orgânicos ao Substrato para Produção de Mudas
de Café em Tubete
Sérgio Luiz Santana de Almeida, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais,
Campus Machado, [email protected]. Franciane Diniz Cogo, Universidade Federal de
Lavras, Departamento de Ciência do Solo, [email protected]. Bruna Oliveira Gonçalves†, Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais, Campus, [email protected]. Bruno
Teixeira Ribeiro, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais, Campus Machado,
[email protected]. Katia Alves Campos, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas
Gerais, Campus Machado, [email protected]. Augusto Ramalho de Morais, Universidade Federal
de Lavras, [email protected]
RESUMO
Com o objetivo de avaliar os efeitos dos substratos no desenvolvimento inicial de ca-feeiros (Coffea arabica
L.) plantados em tubetes, foi conduzido, em viveiro de café no Institu-to Federal do Sul de Minas (IFSULDEMINAS),
campus Machado, no sul de Minas Gerais. O delineamento experimental utilizado foi de blocos casualizados em
esquema fatorial 3x5, com três repetições. Cada parcela foi constituída por três tubetes com capacidade
volumétrica de 51 ml cada. Os fatores em estudo foram os três genótipos de Coffea arabica (Catuaí Vermelho IAC
44, Catucaí Amarelo 2SL e Mundo Novo IAC 379-19) e as cinco adições ao substrato comercial foram: húmus
de minhoca, esterco bovino de curral, esterco curtido de galinha, palha curtida de café (resíduos da máquina
de beneficiamento) e, como testemunha, o substra-to comercial puro. Os tratamentos foram constituídos por 50%
do produto comercial, 10% de vermiculita e 5% de areia grossa, adicionando-se aos 35% restantes os tratamentos citados anteriormente. Verificou-se a possibilidade de substituir nesta proporção o substrato comercial
por fonte de material orgânico.
Palavras-chave: Coffea arabica, tubete, substrato.
Coffee Seedlings Growing In Substrate Amended With Differentes Organic
Residues
ABSTRACT
Aiming to evaluate the effects doe substrates in the initial development of coffee (Coffea arabica L.) planted in
plas-tic tubes, was carried out at coffee nursery at the Federal Institute of Southern Minas IFSULDEMINAS - Machado
Campus, located in southern Minas Gerais. The experimental design was randomized blocks in factorial scheme
3x5, with three replications. Each plot consisted of three tubes with a volume capacity of 120 ml each, and the
factors were the three genotypes of Coffea arabica (IAC Catuaí Red 44, Yel-low Catucaí 2SL and Mundo Novo IAC
379-19) and the five additions to commercial substrate were earthworm compost, farmyard manure, chicken manure
and tanned, leathery coffee straw (waste processing machine) and as a witness, the pure commercial substrate.
The treatments were to be composed of 50% of the commercial product, 10% vermiculite and 5% coarse sand,
adding - if, in the remaining 35% treatments mentioned previously. There was the possibility of replacing 35 % of
the substrate by commercial source of orga nic material.
Key words: Coffea arabica, tube, substrates.
9
Adição de Resíduos Orgânicos ao Substrato para Produção de Mudas de Café em Tubete
INTRODUÇÃO
A atividade cafeeira tem expressivo destaque
na economia, havendo indícios de que os níveis de
produção estão subindo gradualmente, nos diversos
países produtores.
Estimativas
divulgadas
recentemente
(ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO CAFÉ – OIC,
2010) indicam que a produção total do ano-safra de
2010/11 deve girar em torno de 133 a 135 milhões de
sacas. Diante da grande produção e, conseqüentemente,
da área plantada, e ainda, por se tratar de uma cultura perene, é totalmente relevante produzir mudas que
se adaptem às condições climáticas, principalmente durante a transferência do viveiro para o campo. Assim,
a produção de mudas de cafeeiro com qualidade é o
início para se obter um bom stand na lavoura.
É de grande importância que na composição
do substrato estejam presentes todos os nutrientes
necessários para o desenvolvimento das plantas e que
eles estejam disponíveis, além de apresentar aspectos
como: grande porosidade, alta capacidade de troca catiônica, boa retenção de água, livre de pragas, patógenos e ser economicamente viável.
Vários materiais têm sido empregados na produção de mudas em tubetes, isoladamente ou em misturas, destacando-se a vermiculita, o esterco bovino,
a “moinha” de carvão, a serragem, o bagaço de cana,
a acícula e casca de pinus, a casca de eucalipto
compos-tada, a casca de arroz calcinada, o húmus de
minhoca e a turfa (CAMPINHO JUNIOR; IKEMORI;
MARTINS, 1984; GUIMARÃES et al., 1998).
A principal dificuldade é aliar qualidade ao
baixo custo na produção do substrato. Nesta técnica,
apesar de usado em menor volume, são utilizados
constituintes que apresentam custos mais elevados.
Considerando-se o custo de produção de mudas cafeeiras, o substrato é responsável por 38% do
custo de produção (tubetes de 120 mL), desprezandose o custo com a aduba-ção (GUIMARÃES et al.,
1998). Assim, é necessário buscar novas estratégias
de manejo que visem minimizar tais investimentos.
Diversas pesquisas estão sendo realizadas no
intuito de verificar a eficiência de tecnologias alterna
tivas na formação do substrato. No trabalho realizado
com mudas de café em tubete utilizando esterco bovino
na proporção de 80%, adubado com Osmocote®, obteve-se maior altura de planta, massa seca de raízes e
de parte aérea (ANDRADE NE-TO; MENDES; GUIMARÃES, 1999).
No estudo realizado com húmus de minhoca
adicionado ao substrato artificial, na proporção de 80%
ou em uso exclusivo (100%) acrescido de fertilizante de
liberação gradual, foi constatado aumento na área foliar
das mudas de cafeeiro e, como conseqüência, acúmulo
de massa seca, tanto na parte aérea quanto no sistema
radicular. O uso de esterco bovino acima de 30% e de
cama de peru, também acrescidos de fertilizante de liberação gradual, não alterou as características vegetativas
das mudas de cafeeiro (DIAS; MELO; SILVEIRA, 2009).
Na pesquisa realizada com composto orgânico,
cama de aviário, palha de café carbonizada, casca de
arroz carbonizada e termofosfato acrescido de cinza,
observou-se que mudas produzidas nos substratos
mencionados não diferiram entre si quanto à altura, mas
apresentaram diferença significativa quanto ao peso
seco da parte aérea (MIRANDA; RICCI, 2001).
Tendo em vista a necessidade de encontrar um
substrato economicamente viável para a formação de
mudas em tubetes, com a realização deste trabalho buscou avaliar a eficiência de substratos alternativos para a
produção de mudas de café.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi realizado no viveiro de produção
de mudas de café do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas (IFSULDEMINAS),
campus Machado, MG.
Adotou-se o delineamento em blocos inteiramente ca-sualizados, com três repeti-ções, em esquema fatorial 3x5, constituindo 15 tratamentos formados pelas combinações entre os fatores em estudo:
três genótipos de Coffea arabica (Catuaí Vermelho IAC
44, Catucaí Amarelo 2SL e Mundo Novo IAC 19) e as
quatro adições ao substrato comercial (húmus de
minhoca, esterco bovino esterco de galinhas, palha de
café) e como testemunha o substrato comercial puro,
com os percentuais distribuídos conforme a Tabela 1.
Tabela 1. Caracterização das adições ao substrato comercial quanto ao percentual dos componentes do substrato.
Resíduos orgânicos
Vermiculita (%)
A
Húmus de minhoca (35%)
50
10
5
B
Esterco de bovino (35%)
50
10
5
C
Esterco de galinha (35%)
50
10
5
D
Palha de café (35%)
50
10
5
E
-
85
10
5
10
Revista Agroambiental - Agosto/2011
As parcelas foram constituídas por três tubetes com capacidade volumétrica de 120 ml cada
um, e para a produção das mudas, foram colocadas, de acordo com o sorteio, duas sementes das
cultivares Catuaí Vermelho IAC 44, Catucaí Amarelo
2SL e Mundo Novo IAC 379-19, respectivamente.
Os testes que validam os pressupostos da análise de variância, Shapiro-Wilks, para a normalidade e
Bartlett, para a homocedasticidade de variâncias, atestaram tais pressupostos.
Quando as mudas atingiram o estágio palito de
fósforo foi realizado desbaste deixando-se apenas uma
planta por tubete, mantendo-as sob sombrite (50% de
passagem de luz) e irrigadas diariamente com uso de
microaspersores, com vazão nominal de 60 L h-1.
Para a validação da analise de variância foi aplicado os testes Shapiro-Wilks, para a normalidade e Bartlett para a homocedasticidade, que demostrou que as
hipóteses são sa-tisfatórias; em seguida procedeu-se o
teste de F que indicou que não houve interação entre os
fatores cultivares e substratos para nenhuma das características avaliadas, indicando que os fatores agem de
maneira independente sobre tais características (Tabela
2).
Após 180 dias à semeadura foram avaliadas as
características: altura de planta, comprimento das raízes, número total de folhas, diâmetro do caule e a massa
fresca e seca do sistema radicular e da parte aérea.
As médias foram submetidas ao teste de F ao
nível de 5% de significância e aos testes de normalidade dos erros e de homocedasticidade de variâncias, respectivamente por meio dos testes de ShapiroWilks e Bar-tlett. Todos os testes foram realizados
utilizando-se o programa “R” (R DEVELOPMENT CORE TEAM, 2008).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados para ao substrato alternativos estão de acordo com os apresentados por Vallone et al.
(2010), que também utilizaram, como fonte alternativa,
material orgânico. Observou-se que o comportamento
das mudas de cafeeiro em todos os tratamentos foi
semelhante para as três cultivares em estudo.
Tabela 2. Resumos das análises de variância para as variáveis avaliadas no experimento sobre substratos alternativos para a produção de
mudas de cafeeiro (Coffea arabica L.), em tubetes para as avaliações de crescimento de planta (Machado, MG, 2010).
Teste de F
Causas de Variação
Cultivares
Substrato
Bloco
Int. C x S
Altura
N°de
Comp.
Massas Verdes (g)
Parte
Massas Secas (g)
Parte
raiz
raiz
Total
folhas
2
0,37
0,43
0,90
0,10
0,17
0,16
0,14
0,15
0,25
0,17
2
0,76
0,65
0,36
0,70
0,64
0,77
0,65
0,77
0,26
0,70
4
0,80
0,68
0.91
0,57
0,98
0,23
0,86
0,80
0,82
0,80
8
0,92
0,68
0,77
0,93
0,95
0,93
0,97
0,71
0,42
0,69
As médias observadas para as variáveis alturas, comprimento radicular, número de folhas, diâmetro,
massa verde radicular, massa seca aérea, massa verde da parte aérea, massa seca da parte aérea, massa
verde total e massa seca total de mudas de cafeeiro,
em função de diferentes substratos e cultivares, para as
cultivares e para os diferentes substra-tos, não apresentaram diferença significativa estão representadas nas
Figuras 1 e 2.
as fontes de substratos obtidos por diferentes fontes de
matéria orgânica, destaca-se a eficiência dos compostos
utilizados nas características avaliadas. Andrada Neto,
Mendes e Guimarães (1999) encontraram o mesmo resultado comparado ao produto comercial quanto ao uso
da fonte de matéria orgânica de húmus de minhoca, o
que representou uma substituição de 35% do substrato.
Já para o esterco bovino os resultados são contraditórios.
Trabalhos realizados buscando-se alternativa
para o substrato para a produção de mudas de cafeeiros. A grande maioria deles discorda quanto ao resultado
encontrado, por apresentar diferenças entre o substrato
comercial e o alternativo. Estes substratos não são os
mesmos utilizados neste trabalho (ANDRADE NETO, et
al, 1999; CUNHA, 2002).
Da mesma forma, Dias, Melo e Silveira (2009),
ao adicionarem 40% de cama de peru ao substrato artificial, constataram que essa adição favoreceu o desenvolvimento das mudas do cafeeiro, enquanto que o
esterco bovino ao ser acrescido ao substrato artificial,
independente de sua proporção, prejudicou o desenvolvimento das mudas.
Com relação aos efeitos não significativos para
11
Adição de Resíduos Orgânicos ao Substrato para Produção de Mudas de Café em Tubete
Figura 1 – Representação gráfica das avaliações - valores médios das características de crescimento de altura
da planta, comprimento da raiz, diâmetro de caule, massa verde radi-cular (MVR), massa seca radicular (MSR),
massa verde da parte aérea (MVPA), massa seca da parte aérea (MSPA), massa verde total (MVT) e massa seca
total (MST) de mudas de cafeeiros em função de diferentes cultivares. IFSULDEMINAS, Machado, MG, 2009.
Figura 2 – Representação gráfica das avaliações - valores médios das características de crescimento de altura,
comprimento da raiz, diâmetro de caule, massa verde radicular (MVR), massa seca radicular (MSR), massa verde
da parte aérea (MVPA), massa seca da parte aérea (MSPA), massa verde total (MVT) e massa seca total (MST)
de mudas de cafeeiros, em função de componentes do substrato. IFSULDEMINAS, Machado, MG, 2009.
12
Revista Agroambiental - Agosto/2011
CONCLUSÕES
O uso de fontes de matéria orgânica aviária,
bovino e húmus de minhoca na substi-tuição de 35% do
substrato tradicional, pode ser uma alternativa para a
fertilização do substrato para mudas de cafeeiro em
tu-bete, pois as características de crescimento não
diferem quando comparados ao substrato comercial puro.
AGRADECIMENTO (S)
Os autores agradecem ao Instituto Federal
de Minas Gerais (IFSULDEMINAS), campus Machado,
pela ajuda na condução experimental; à Cooperativa dos
Alunos, COE-TAGRI pelo apoio financeiro e a FAPEMIG pela concessão da bolsa de iniciação científica e a
empresa AGROPLASTICOS pela doação dos tubetes.
Agradecem também a Deus, pelo privilégio
de ter convivido e trabalhado com a bolsista do
programa BIC-Jr. FAPEMIG Bruna Oliveira Gonçalves
uma das participantes deste projeto e dedicam a sua
conclusão em sua memória.
REFERÊNCIAS
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GUIMARÃES, P. T. G.; et al., Produção de mudas de
cafeeiros em tubetes. In: TORRES, G.; et al., (Ed.). Cafeicultura: tecnologia para produção. Belo Horizonte:
EPAMIG, 1998. p. 98-109.
MIRANDA, S. C.; RICCI, M. dos S. F. Substratos alternativos para mudas em tubetes. In: SIMPÓSIO DE
PESQUISA DOS CAFÉS DO BRASIL, 2., 2001, Vitória.
Anais… Vitó-ria: EMBRAPA, 2001. 2633-2638.
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO CAFÉ. Preços
do café devem recuar com chegada da safra 2010/11.
2010. Disponível em: <http://www.integrada.coop.br/
notas/502/OIC:-preço-do-cafe-devem-recuar-comchegada-da-safra-2010e11>. Acesso em: 19 ago. 2010.
R DEVELOPMENT CORE TEAM. R: A language and
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R Foundation for Statistical Computing, 2008. ISBN
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VALLONE, H. S.; GUIMARÃES, R. J.; MENDES, A. N. et
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INTERNACIONAL: MÉTODOS DE PRODUÇÃO E CONTROLE DE QUALIDADE DE SEMENTES E MUDAS
FLORESTAIS, 1., 1984, Curitiba. Anais... Curitiba:
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CUNHA, R. L.; SOUZA, C. A. S.; ATAUALPA DE ANDRA-DE NETO, A.; MELO, B. AVALIAÇÃO DE
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DIAS, R.; MELO, B. D.; SILVEIRA, M. D. Fontes e
proporções de material orgânico para a produção de
mudas de cafeeiro em tubetes. Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v. 33, n. 3, p. 758-764, maio/jun. 2009.
13
Revista Agroambiental - Agosto/2011
Comparação Entre a Feição de Hidrografia Extraída de uma Imagem do
SRTM (Shuttle Radar Topography Mission) e a Vetorizada pelo Módulo
ArcScan/ArcGIS®: Estudo de Caso para Fins de Análise Hidrológica na Bacia
Hidrográfica do Rio Grande, Divisa entre os Estados de MG e SP
Sady Júnior Martins da Costa de Menezes, Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Engenharia
Florestal, Viçosa, MG, 36570-000, [email protected]
Thiago Porto Maia Soares, Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Engenharia Florestal, Viçosa, MG,
36570-000, [email protected]
Vanessa Mendes Lana, Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Engenharia Florestal, Viçosa, MG,
36570-000, [email protected]
Cleverson Alves de Lima, Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Engenharia Florestal, Viçosa, MG,
36570-000, [email protected]
Fernando Soares de Oliveira, Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Engenharia Florestal, Viçosa,
MG, 36570-000, [email protected]
Claubert Wagner Guimarães de Menezes, Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Engenharia
Florestal, Viçosa, MG, 36570-000, [email protected]
Carlos Antonio Alvares Soares Ribeiro, Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Engenharia Florestal,
Viçosa, MG, 36570-000, [email protected]
Vicente Paulo Soares, Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Engenharia Florestal, Viçosa, MG,
36570-000, [email protected]
RESUMO
O SRTM - Shutle Radar Topography Mission – é uma missão o qual gerou-se uma base topográfica
digital de alta resolução. A SRTM consiste num sistema de radar especialmente modificado que voou a bordo
do Endea-vour (ônibus espacial), em fevereiro de 2000. As imagens obtidas pelo SRTM garantiu amplas aplicações em estudos espaciais, uma vez que os processos de comunicação visual para a produção de cartografia de
base e mapas de precisão da análise espacial foram utilizados. O presente estudo foi baseado em duas etapas
de processamento de dados: inicialmente, incidiu sobre a manipulação de bases vetorizadas (dados de hidrografia
obtidos pelo IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e, em seguida, gerou-se informações vetorizadas a
partir de imagens SRTM. A área de estudo é a Bacia do Rio Grande, MG/SP. Usando o programa de Sistemas de
Informação Geográfica - ArcGIS 9.3.1 - foi obtido pelo módulo Spatial Analyst a hidrografia que foi extraída do
SRTM. Após essa extração, foram comparadas as informações obtidas com o IBGE (vetor da base de dados
utilizando o módulo Arcscan/ArcGIS) e as informações obtidas pelo SRTM. Verificou-se uma ligeira diferença entre
a distribuição e a concentração dos prováveis canais de drenagem entre os mapas dos vetores gerados (IBGE x
SRTM). O trabalho demonstrou o uso dos dados do SRTM possibilitando a atualização de dados da rede
hidrográfica de extensas áreas de modo bastante facilitado, com a vantagem de ser organizado pela mesma
equipe e pelo mesmo processo metodológico, sem riscos de desigualdades durante sua geração.
Palavras-chave: Sistema de Informações Geográficas, dados SRTM, análise da hidrografia
Comparison of hydrographic feature extracted from an SRTM image (Shuttle
Radar Topography Mission) and vectored by the module Arcscan/ArcGIS®: a
case study for analysis hydrological basin of the Rio Grande border between
the states of MG and SP
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Comparação Entre a Feição de Hidrografia Extraída de uma Imagem do SRTM (Shuttle Radar Topography Mission) e a Vetorizada pelo Módulo ArcScan/ArcGIS®: Estudo de Caso para Fins de Análise Hidrológica na Bacia Hidrográfica do Rio Grande, Divisa entre os Estados de MG e SP
ABSTRACT
The SRTM - Shutle Radar Topography Mission
- a mission which is generated based on a complete topographic digital terrestrial high resolution. The SRTM
consists of a specially modified radar system that flew
aboard the Endeavour (space shuttle) in February 2000.
The images obtained by the SRTM has ensured broad
applications in spatial studies, since the processes of visual communication to the production of basic cartography and precision maps of spatial analysis. This study
was based on two steps of processing of data: initially
focused on existing vector manipulation of information
(data on hydrography obtained by IBGE – Brazilian Institute of Geography and Statistics) and then propose the
generation of information from SRTM images. The study
area is the Rio Grande Basin, MG/SP. Using the program
of Geographic Information Systems - ArcGIS 9.3.1 - was
obtained by the hydrography Spatial Analyst module,
which is extracted from the SRTM. After this extraction,
we compared the information obtained from the IBGE
(vectored by the data base module Arcscan/ArcGIS) as
obtained by the SRTM. Subject to the maps, there is a
slight difference between the concentration distribution
channels likely passage of waterways between the maps
of the vectors generated (IBGE against SRTM). The study is valid because the work can enable the SRTM data
update of the hydrographic network of extensive areas of
fairly easy, with the advantage of being organized by the
same team and by the same methodological process, without risk of inequality during his generation.
Keywords: Geographic Information System,
SRTM data, hydrography’s analisys
INTRODUÇÂO
As informações sobre o projeto SRTM (Shuttle
Radar Topographic Mission) relatadas a seguir foram retiradas do sítio do JPL (Jet Propulsion Laboratory) da
NASA (2010) (National Aeronautics and Space Administration). O projeto advém de cooperação entre a NASA
e a NIMA (National Imagery and Mapping Agency), do
DOD (Departamento de Defesa) dos Estados Unidos e
das agências espaciais da Alemanha e da Itália. A missão usou o mesmo instrumento utilizado em 1994 no
programa Spaceborne Imaging Radar-C/X-Band Synthetic Aperture Radar (SIR-C/X-SAR), a bordo do ônibus
espacial Endeavour. Porém o arranjo foi projetado para
coletar medidas tridimensionais da superfície terrestre
através de interferometria. Para tanto, a nave foi munida
de um mastro de 60m, em cuja extremidade foram instaladas antenas para bandas C e X, além de melhorados
os dispositivos de controle de navegação (Figura 1).
Figura 1 – Demonstração da obtenção da imagem SRTM pelo ônibus espacial Endeavour.
Fonte: Google (2010)
O sobrevôo da SRTM ocorreu no período de 11
a 22 de Fevereiro de 2000, durante o qual foram percorridas 16 órbitas por dia, num total de 176 órbitas. O sobrevôo foi concluído com a coleta de 12 TB de dados que
vêm sendo processados para formação de Modelos Digitais de Elevação (MDE). O processamento dos dados
coletados visou à formação de um MDE mundial, elaborado continente por continente, iniciado com a América
do Norte. A conclusão de cada continente segue-se o
16
envio dos dados ao NIMA, onde estes são editados, verificados e ajustados aos padrões norte-americanos de
exatidão de mapas (National Map Accuracy Standards).
Estes mapas são então devolvidos à NASA pra distribuição pública através da USGS (United States Geological Survey). Foram gerados MDE sob a resolução de
30m (a rigor, em coordenadas geográficas, com 1 arco
segundo, ou 1”, ou ainda 0,000277°) para os Estados
Unidos e planejados sob 90m (a rigor, 3” ou 0,000833°)
Revista Agroambiental - Agosto/2011
para o resto do mundo. O datum e o elipsóide de
referência são WGS84, com dados de z em metros
inteiros.
Embora a NIMA aplicasse várias operações de
pós-tratamento, que incluem remoção de picos e vórtices, nas informações que acompanham os dados, o
usuário é lembrado que suas características (inerentes
a todo dado geo-espacial) devem condicionar seu desempenho ante aplicações específicas: uma característica dos dados SRTM que o torna inadequado para
uma determinada aplicação pode ser inócua para outra.
Informa-se ainda que nenhuma edição foi aplicada sobre os dados e que o conjunto em questão contém um
grande número de vãos e outros pontos espúrios, com
valores extremamente altos (picos) ou extremamente
baixos (vórtices). Corpos d’água serão geralmente mal
definidos, assim como as linhas de costa. Esta informações são fornecidas pelo JPL sobre o programa SRTM
(Valeriano, 2004).
MATERIAL E MÉTODOS
A bacia do Rio Grande se localiza na bacia do
Paraná e está dividida entre os Estados de São Paulo e
Minas Gerais. Ela pode ser dividida em três regiões fisiográficas: alto, médio e baixo Rio Grande e caracteriza-se
por um período chuvoso de seis a sete meses (outubro
a março/abril), com uma concentração de mais de 80%
das chuvas no verão. Os meses de setembro e maio são
considerados de transição. Na região do alto Rio Grande
o relevo é marcado por escarpas e reversos planaltos da
Serra da Mantiqueira, com altitudes variando entre 800
e 2700 m. Na região do médio Rio Grande o relevo é
constituído por planícies interioranas fluviais e/ou fluvilacustres e por patamares da bacia do Paraná que ocorrem na porção ocidental. Na região do baixo Rio Grande
o relevo é constituído por planalto central e por planícies
interioranas fluviais e/ou fluvilacustres. Nas duas últimas
regiões da bacia as altitudes oscilam entre 200 e 750 m,
alcançando 1600 m em alguns locais (Paz, 2007).
A bacia do Rio Grande compreende uma área
de 145.000 km2 (Figura 2). Além do rio que dá nome à
bacia (Rio Grande) e que é um dos formadores do Rio
Paraná, outros rios de destaque na bacia são: Turvo,
Mogi-Guaçu, Pardo, Sapucaí, Verde e das Mortes.
Figura 2 – Localização da Bacia do Rio Grande. Fonte: Paz (2007).
A bacia do Rio Grande possui 7.728.951 habitantes distribuídos em 443 municípios. A região apresenta industrialização crescente, com destaque para a
agroindústria de alta tecnologia. As atividades agrícolas
são mais intensas no médio e no baixo Rio Grande, sendo que a bacia possui um grande potencial para irrigação. De acordo com o estudo dos usos consuntivos da
água na bacia do Rio Grande, realizado pelo Operador
Nacional do Sistema Elétrico (ONS, 2003), a irrigação
ocupa o posto de maior consumidora de água na região,
variando entre 72% e 33%, dependendo do local, e com
média de 53% de todo o consumo de água. Em seguida
vêm os usos: dessedentação animal, abastecimento urbano, indústrias e, por último, abastecimento rural.
A bacia em questão tem grande importância no
contexto da geração hidroelétrica brasileira, sendo responsável por aproximadamente 11,7% da produção
nacional, com uma capacidade instalada de cerca de
7.722 MW (ANEEL, 2005). Na bacia do Rio Grande
encontram-se centros urbanos com crescimento expressivo, os quais exercem forte pressão sobre a utilização
17
Comparação Entre a Feição de Hidrografia Extraída de uma Imagem do SRTM (Shuttle Radar Topography Mission) e a Vetorizada pelo Módulo ArcScan/ArcGIS®: Estudo de Caso para Fins de Análise Hidrológica na Bacia Hidrográfica do Rio Grande, Divisa entre os Estados de MG e SP
dos recursos hídricos. De acordo com Hernandes (2006),
a bacia do Rio Turvo, localizada próxima à foz do Rio
Grande, está prestes a entrar em situação crítica de uso
de água, devido às condições de baixa disponibilidade
hídrica, às altas taxas de evapotranspiração, ao déficit
hídrico prolongado, aos irrigantes sem o requerimento
de outorga e ao possível crescimento no número de
solicitações para a irrigação. O reservatório de Furnas
também vem passando por conflitos do uso da água. Segundo Santos et al. (2003), o rebaixamento prolongado
do nível de água em Furnas e o intenso crescimento das
atividades econômicas ocasionaram redução da atividade agrícola em 40% e o assoreamento do reservatório.
O objetivo do trabalho é demonstrar o uso dos
dados SRTM na construção de uma rede hidrográfica
vetorizada de forma a auxiliar num “primeiro instante”,
possíveis tomadas de decisão pela análise hidrológica
dos dados gerados. Comparou esta base de dados obtida (SRTM) com os vetores disponíveis numa base de
dados do IBGE (uso do programa computacional ArcGIS, módulo ArcScan). Apresentou um exemplo para a
região de Barretos/SP, carta IBGE 2599-2, que faz parte
da Bacia Hidrográfica do Rio Grande, para melhor visualização da metodologia proposta.
O ArcGIS é um Sistema de Informações Geográficas (SIG) de última geração desenvolvido pelo Environmental Systems Research Institute (ESRI). Atualmente,
suporta três níveis funcionais de licença – ArcView, ArcEditor e o ArcInfo (licença completa). O ArcGIS Desktop
é um SIG integrado e consiste de cinco principais componentes, a saber: ArcMap, ArcCatalog, ArcGlobe, ArcScene e ArcToolbox. A última versão do ArcGIS é a 9.3.1
(Sanchez, 2004). O módulo ArcScan é uma extensão de
conversão do formato raster para vetor dentro do ambiente de geoprocessamento (ArcGIS 9.3.1). Esta extensão permite converter automaticamente as imagens
escaneadas de mapas em feições vetorizadas. Possui
ferramentas que permitem uma pré-correção da imagem
(a)
quanto as suas possíveis falhas apresentadas, seja nas
conexões incompletas de mananciais hídricos ou curvas de nível, seja na limpeza de possíveis interferências
provenientes da confecção original e escaneamento do
mapa. A ESRI tem uma parcela dominante do mercado
de software de SIG, havendo um uso do seu software
por cerca de 77% dos profissionais da área.
A área de estudo, a Bacia Hidrográfica do Rio
Grande, limite entre MG e SP, já conta com coleção
de arquivos vetoriais digitalizados a partir dos mapas
hidrográficos do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística, em escala 1:50.000 e 1:100.000. Por meio
do programa de Sistemas de Informação Geográfica –
ArcGIS 9.3.1 – obteve-se a hidrografia (vetor da
superfície de drenagem) pelo módulo Analista Espacial
(Spatial Analyst Tools) do ArcGIS, sendo esta extraída
do SRTM.
Os comandos utilizados pelo módulo Analista
Espacial do ArcGIS são listados em seqüência:
• Comando Fill: esta função preenche as possíveis depressões espúrias encontradas na imagem do
SRTM;
• Comando Flow Direction: esta função obtém a
direção do fluxo;
• Comando Flow Accumulation: esta função obtém o fluxo acumulado;
• Comando Con: esta função testa se uma
condição fornecida pelo usuáro é verdadeira ou falsa e
baseado nisto executa diferentes tarefas. Utilizou para
obter uma imagem raster com as drenagens extraídas;
• Comando Stream to Feature: transforma o raster em vetor e gerar um arquivo de polyline (polilinha:
linhas contínuas compostas por vários segmentos) para
representar a drenagem.
(b)
Figura 3 – Exemplo da aplicação da metodologia em uma imagem SRTM: (a) Drenagem visível na imagem; (b)
Extração da drenagem pelo ArcGIS visualizando os vetores criados.
18
Revista Agroambiental - Agosto/2011
Após esta extração, comparou-se as informações obtidas
tanto do IBGE (base de dados vetorizada pelo módulo
ArcScan/ArcGIS) quanto a obtida pelo SRTM.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Figura 3 demonstra a vetorização das áreas
de drenagem criadas ao utilizar os comandos do Analista Espacial (ArcGIS 9.3.1), visualizando portanto os
(a)
vetores criados sobre os possíveis canais identificados
pelo programa computacional e pelas rotinas do ArcGIS
na imagem do SRTM.
Da área total da Bacia Hidrográfica do Rio Grande
(Figura 4), extraímos apenas uma porção para facilitar a
explicação e análise, conforme citado na metodologia.
Tomamos a carta de Barretos 2599-2 para análise tanto
do vetor originado pelo IBGE quanto pela extração feita
nos dados do SRTM.
(b)
Figura 4 – (a) Imagem SRTM sobreposta à imagem do Google Earth visualizando a Bacia Hidrográfica do Rio
Grande, divisa MG/SP; (b) Extração da drenagem usando o ArcGIS.
A Figura 5 demonstra o processo desde a vetorização pelo módulo ArcScan/ArcGIS e a sua sobreposição no
vetor gerado do SRTM.
(a)
(b)
(c)
(d)
19
Comparação Entre a Feição de Hidrografia Extraída de uma Imagem do SRTM (Shuttle Radar Topography Mission) e a Vetorizada pelo Módulo ArcScan/ArcGIS®: Estudo de Caso para Fins de Análise Hidrológica na Bacia Hidrográfica do Rio Grande, Divisa entre os Estados de MG e SP
Figura 5 – (a) Vetor do IBGE da hidrografia de Barretos/SP; (b) Extração da drenagem usando o Analista Espacial/ArcGIS para a localidade de Barretos/SP e vizinhos; (c) Sobreposição dos dados obtidos: IBGE x SRTM;
(d) Ampliação na feição de hidrografia para fins de comparação (IBGE x SRTM).
Observada as imagens (Figuras 5c e 5d), notase uma significativa diferença entre a distribuição da
concentração de talvegues ou canaletas (canais) de
provável passagem de cursos d´água entre os mapas
dos vetores gerados (IBGE x SRTM). Comparando os
resultados obtidos a partir dos estudos no SRTM com os
produtos vetoriais obtido pelo IBGE (módulo ArcScan/
ArcGIS) existentes para a área em estudo, é importante
observar que a resolução do SRTM é de pixel de 90 metros e a resolução do IBGE pode ser dada pelo padrão
de exatidão cartográfica.
O estudo mostra a aproximação da drenagem
obtida pelo SRTM em comparação com o vetor do IBGE
(Figura 5d). Estudos devem ser conduzidos de forma a
usar esta extração para uma modelagem mais precisa,
porém para uma análise inicial visando uma tomada de
decisão, a alternativa de se obter esta drenagem até
possuir os dados vetorizados do IBGE, mostrou-se interessante.
CONCLUSÃO
Mesmo apresentando pior resolução, o trabalho com o SRTM pode possibilitar a atualização de dados da rede hidrográfica de extensas áreas de modo
bastante facilitado, com a vantagem de ser organizado
pela mesma equipe e pelo mesmo processo metodológico, sem riscos de desigualdades durante sua geração.
Demonstrou-se portanto uma maneira de se obter a
malha hidrográfica quando não se possui tal informação
na área de análise ou caso a informação obtida não é
de inteira confiança o que poderia surtir em resultados
que não descreveria uma possível realidade ao se trabalhar tais dados, invalidando assim o estudo em questão.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Cadernos Temáticos ANEEL: energia assegurada.
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hidrográfica do Turvo/Grande – SP. In: XVI Congresso Nacional de Irrigação e Drenagem, 2006, Goiânia. Anais...
Goiânia: ABID, 2006, CD-ROM.
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SRTM – Shuttle Radar Topography Mission. Disponível em: <http://www2.jpl.nasa.gov/srtm/>. Acesso em:
01 out. 2010.
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da água nas principais bacias do Sistema Interligado
Nacional – SIN. Brasília: 2003.
PAZ, A. R. Previsão de afluência a reservatórios
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IPH:RS; CPTEC/INPE; IAGCA/USP, 2007, 188p.
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Redlands, CA, USA. ESRI, 2004, 140p.
SANTOS, A. H. M.; Bortoni, E. da C.; Junior, L. U. R.;
Garcia, M. A. R. A. A exploração de reservatórios e os
comitês de bacias: uma análise prospectiva para o caso
da UHE de Furnas. In: XV Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, 2003, Curitiba. Anais...Curitiba: ABRH,
2003, CD-ROM.
VALERIANO, M.M. – Modelo Digital de Elevação com
dados SRTM disponíveis para a América do Sul.
INPE: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais –
INPE-10550-RPQ/756, São José dos Campos, 72p.,
2004
AGRADECIMENTOS
A CAPES pela concessão da bolsa permitindo realizar este trabalho.
Revista Agroambiental - Agosto/2011
Balanço Hídrico para Pinheiral, Rio de Janeiro
Antonio Passos Portilho1,4 ([email protected]); Marcelo Carazo Castro1 ([email protected]);
Guilherme de Souza Alves2,5 ([email protected]); Nathan Fernandes de Aguiar2,5
([email protected]); Marilena Souza da Silva3,5([email protected])
1Docente; Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro - Campus Nilo Peçanha,
Pinheiral-RJ. 2Discente do Curso Técnico em Agropecuária; Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
do Rio de Janeiro – Campus Nilo Peçanha, Pinheiral-RJ. 3Discente do Curso Técnico em Informática; Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro – Campus Nilo Peçanha, Pinheiral-RJ. 4autor para
correspondência – endereço: Rua José Breves 550, centro, Pinheiral-RJ, 27197-000. 5Bolsista do Projeto Jovens
Talentos-Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro(FAPERJ)/Centro de Ciência do Rio de
Janeiro(CECIERJ).
RESUMO
O trabalho visou à obtenção do balanço hídrico climatológico pelo método de Thornthwaite & Mather
(1955) para o município de Pinheiral, localizado na região do Médio Paraíba Fluminense e sua aplicação no
planejamento agropecuário local. Foram utilizados dados de 64 meses coletados a partir de abril de 2005 pela
estação meteorológica automática do IFRJ em Pinheiral.
Palavras-chave: Balanço hídrico; planejamento agropecuário; irrigação.
Water Balance for Pinheiral, RJ
ABSTRACT
The work was aimed at achieving the climatic water balance by the method of Thornthwaite & Mather(1955)
for the city of Pinheiral, located in the Middle Paraíba Fluminense, and apply it to the local agricultural planning. We
utilized data collected 64 months from April 2005 by the automatic weather station of the IFRJ in Pinheiral.
Keywords: Water balance; agricultural planning; irrigation.
INTRODUÇÃO
O solo agrícola pode ser visto como um reservatório de água onde as entradas e saídas podem ser contabilizadas por um balanço hídrico que respeita o Princípio de Conservação de Massa em um volume de solo
vegetado. A entrada de água no solo refere-se à precipitação pluvial, à irrigação e à ascensão capilar enquanto a
saída refere-se à evapotranspiração e à percolação. Genericamente, estas variáveis podem ser correlacionadas
em o balanço hídrico como apresentado na equação 1.
(PRC + IRR + ASC) - (ET + PER) = ARM
(1)
em que: PRC = precipitação pluvial, mm;
IRR = irrigação, mm;
ASC = ascensão capilar, mm;
ET = evapotranspiração, mm;
PER = percolação, mm;
ARM = variação do armazenamento de água no solo, mm.
21
Balanço Hídrico para Pinheiral, Rio de Janeiro
O balanço hídrico, em função da aplicação a que
se destina, pode ser elaborado em diversas bases temporais, como a diária e a mensal. Nesse sentido, Mota
(1977) menciona que a base diária é preferida para as
operações agrícolas do dia-a-dia, enquanto a mensal
pode ser utilizada para o planejamento de longo prazo
de recursos hídricos.
Para bases temporais de pequeno intervalo,
Carvalho et al. (2009), por exemplo, utilizaram o balanço
hídrico diário para indicar, de maneira precisa, o momento de irrigar e o volume de água a ser aplicado. Aliás,
Moura et al. (1994) mencionam que o balanço hídrico é
uma metodologia bastante empregada por diversos pesquisadores na determinação do consumo de água pelas
culturas agrícolas, pois descreve as condições hídricas
nas quais as mesmas se desenvolvem. Esses autores
empregaram o método do balanço hídrico para estimar
o consumo de água pela cultura da cenoura para a região de Piracicaba/SP. Já Silva et al. (2001) estimaram,
com bons resultados, o consumo de água da mangueira
irrigada utilizando para isso o método do balanço hídrico
do solo apresentado na equação 1.
Nied et al. (2005) usaram o balanço hídrico diário para escolher a época de plantio do milho em Santa
Maria-RS, que apresente o menor risco de ocorrência de
deficiência hídrica, dentre as 42 datas simuladas.
Feiz & Rangel (2008) estudaram a melhor época
de semeadura da soja na região de Dourados-MS em
função da deficiência hídrica e do fotoperíodo. Para análise da deficiência hídrica, os autores usaram o balanço
hídrico diário e concluíram que a semeadura da soja,
em novembro e dezembro, são mais favoráveis à região
analisada.
Felicio et al. (1999) avaliaram a disponibilidade
hídrica do solo em Capão Bonito-SP, entre 1991 e 1995,
por meio de balanços hídricos decendiais, aplicando-os
ao desempenho agronômico da triticale. Das três épocas de semeadura estudadas, os autores puderam recomendar uma que produziria melhores rendimentos, bem
como genótipos mais adequados ao plantio em cada
época de semeadura avaliada e ainda apresentaram um
comparativo de desempenho de genótipos diferentes de
triticale em uma mesma época de semeadura.
Para valores mensais, considerando a entrada
apenas a partir da precipitação pluvial, Thornthwaite &
Mather (1955) propuseram uma metodologia de cálculo que efetuasse a formulação da equação 1 de forma
genérica e facilitada para uma região qualquer. Vianello
& Alves (2006) mencionam que tal metodologia é amplamente adotada no mundo.
O balanço de água no solo, estimado pelo estudo de Thornthwaite & Mather (1955) em escala mensal pode ser aplicado, de acordo com Dourado Neto et
al. (2010), para caracterização hidrológica destinada ao
22
manejo da água, para estudos ambientais e para o planejamento agrícola que define o uso da terra e as práticas agrícolas.
O balanço hídrico pode se referir a uma série
longa de dados meteorológicos em termos de média
mensal, recebendo neste caso o nome de balanço hídrico climatológico. Galvani (2008) menciona que tal balanço pode ser aplicado para: a) comparação da disponibilidade hídrica entre regiões diferentes; b) caracterização
de períodos secos e seus efeitos na agricultura, como
redução da produção e impactos sociais; c) zoneamento agroclimático classificando as regiões como sendo
“apta”, “marginal” ou “inapta” em função das exigências
térmicas e hídricas de uma determinada cultura; d) determinação das melhores épocas de semeadura em função das restrições hídricas locais; e) comparação entre
os anos padrões denominados “normais” com aqueles
denominados “secos” e/ou “úmidos” e f) avaliação quantitativa das deficiências e excedentes hídricos permitindo uma comparação da intensidade da estação seca.
Além disso, Galvani (2008) usou o balanço hídrico climatológico de Thornthwaite & Mather (1955) para
comparar o clima das cidades de Piracicaba-SP, São
Paulo-SP e Paris, França identificando regimes hídricos
distintos de deficiência e excessos hídricos nestas localidades.
O uso de modelos estatísticos para previsão de
safras é um fator chave para o agronegócio, pois permite conhecer antecipadamente a tendência de aumento
ou redução da produção de uma cultura qualquer em
função das características meteorológicas reinantes. No
caso da cultura do citrus, Paulino et al. (2007) desenvolveram um modelo que emprega o balanço hídrico de
Thornthwaite & Mather (1955) para estimativa de produtividade de laranjeiras com base na influência de variáveis meteorológicas durante as fases de crescimento
vegetativo, pré-florescimento, florescimento e início de
crescimento dos frutos, para a região de Limeira/SP.
Já Dourado Neto et al. (1999) desenvolveram
um modelo matemático cossenoidal que estima o armazenamento de água no solo com o objetivo de prever a produção de culturas agrícolas anuais, baseado
igualmente no balanço hídrico de Thornthwaite & Mather
(1955).
Souza et al. (2006) estimaram a produtividade
do eucalipto na Bacia do Rio Doce, em Minas Gerais, a
partir do crescimento do mesmo e das chuvas ocorridas,
empregando-se para tal o balanço hídrico com a mesma metodologia proposta por Thornthwaite & Mather
(1955).
Ribeiro et al. (2006) avaliaram as condições
ambientais propícias para a ocorrência da indução do
florescimento de laranjeiras no Estado de São Paulo e
concluíram que a deficiência hídrica é a principal variá-
Revista Agroambiental - Agosto/2011
vel ambiental de indução na região centro-norte do Estado de São Paulo. Nesse estudo, os autores usaram o
balanço hídrico climatológico apresentado por Thornthwaite & Mather (1955).
De acordo com Tubelis (1988), o balanço hídrico pode ser aplicado ao planejamento agrícola por meio
da adequação do cultivo às condições climáticas locais
evitando-se, assim, imprevistos e maiores prejuízos decorrentes das variáveis climáticas. Santos et al. (2010),
por exemplo, elaboraram o balanço hídrico mensal para
a região de Marinópolis-SP pelo método de Thornthwaite & Mather (1955) com dados disponibilizados por uma
estação agrometeorológica automática. Por meio dese
estudo, os autores concluíram que haveria risco elevado
com o cultivo, sem o uso de sistemas de irrigação, em
oito meses do ano, naquela região.
Pruski et al. (2001) desenvolveram um modelo
hidrológico para estimar o escoamento superficial em
áreas sob condições agrícolas baseado em diversos
processos associados ao balanço hídrico. O modelo
pode ser utilizado, ainda, de acordo com seus autores,
para o dimensionamento de estruturas hidráulicas, para
o monitoramento ambiental e, também, para o manejo
de sistemas de irrigação.
Na busca do conhecimento das características
climáticas de um local qualquer e sua posterior comparação com outros lugares, são empregados Sistemas de
Classificação Climáticas, dentre os quais se destacam o
de Köppen e o de Thornthwaite. O sistema de Köppen
é bastante empregado no mundo e considera apenas o
tipo de vegetação natural como um indicador do clima,
sendo recomendado apenas para estudos geográficos
e climatológicos. O sistema de Thornthwaite difere do
de Köppen devido à utilização de parâmetros do solo
e de elementos meteorológicos, como a precipitação e
temperatura sendo, por isso, mais adequado para aplicações agrícolas. Esse sistema possibilita, por exemplo,
a extrapolação de informações agrícolas de uma zona
para outra com mesmas características (Rolim et al.,
2007).
Efetuando a classificação climática para o Estado de São Paulo, Rolim et al. (2007) observaram que o
sistema de Thornthwaite apresentou melhores resultados em relação ao de Köppen, atribuindo isso a maior
sensibilidade do mesmo às características de chuva,
temperatura e relevo. Os autores concluíram que não se
pode estabelecer uma relação entre estes dois sistemas
de classificação climática.
Correia Filho et al. (2010) efetuaram o balanço
hídrico climatológico para o Estado do Rio Grande do
Norte utilizando para isso a metodologia de Thornthwaite & Mather (1955) e identificaram regiões com semelhança em excesso e em déficit hídrico naquele Estado.
Rolim et al. (2007) observaram uma boa relação entre a
qualidade natural de bebida de café e os tipos de clima
determinados pela classificação climática de Thornthwaite para o Estado de São Paulo. Eles observaram que os
climas B3 e B4 correspondem à bebida tipo “Mole” e que
os climas B2, C2 e B1 conferem à bebida, respectivamente, a denominação de “Dura adstringente”,
“Dura, pouco adstringente” e “Riada”.
Um exemplo de zoneamento agrícola é o
apresentado por Pommer et al. (2009) que analisaram
o clima em Campos dos Goytacazes-RJ. Esses autores
concluíram que esse município é adequado para a produção vitícola sendo possível a colheita em mais de uma
época durante o ano.
Dantas et al. (2007) utilizaram o balanço hídrico
pelo método de Thornthwaite & Mather (1955) para avaliar as mudanças recentes no clima de Lavras-MG, em
relação àquele observado no período de 1961 a 1990.
Perceberam que a classificação climática de Thornthwaite mudou de B3r B’3a para B2r B’3a no período
mais recente, porém não houve alteração na classificação
climática de Köppen, permanecendo, então, Cwa.
O Instituto Nacional de Meteorologia mantém
uma página na internet na qual é possível visualizar o
balanço hídrico climatológico de suas estações em todo
o território brasileiro (INMET, 2010). Entretanto, essas
informações são apresentadas sob a forma gráfica, o
que dificulta a obtenção de valores precisos e se restringem a locais bastante específicos. No Estado do Rio
de Janeiro, por exemplo, são apenas nove estações.
O município de Pinheiral está localizado na
região do Médio Paraíba Fluminense, na sub-bacia do
ribeirão Cachimbal que compõe a bacia hidrográfica do rio
Paraíba do Sul, localizada entre as latitudes 22°29’03”`S
e 22°35’27”S e entre as longitudes 43°54’49”W e
44°04’05”W, numa altitude que varia entre 400 e 600
m. O clima da região, de acordo com a classificação de
Köppen apresentado por Menezes (2008), apresenta
duas formas distintas, a saber: Cwa representando clima
temperado de inverno seco e verão chuvoso e Am que
representa clima tropical chuvoso com inverno seco.
Apesar das informações genéricas a respeito da
região de Pinheiral-RJ, ressalta-se que esse município
não possui uma caracterização climática mais específica que possibilite um planejamento agropecuário mais
apurado, como aquele obtido a partir do balanço hídrico.
Assim, este trabalho visa à obtenção e análise do balanço hídrico no município de Pinheiral identificando, assim,
elementos para o planejamento agropecuário local.
MATERIAL E MÉTODOS
Os dados meteorológicos utilizados neste trabalho foram obtidos na estação meteorológica automática marca Metos, modelo C-907C, instalada no Instituto
23
Balanço Hídrico para Pinheiral, Rio de Janeiro
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de
Janeiro campus Nilo Peçanha, em Pinheiral-RJ, na latitude de 22º31’S, longitude de 43º59’W e altitude de 396
m. A base de dados empregada abrangeu o período de
abril de 2005 a julho de 2010.
O balanço hídrico foi elaborado pelo método
de Thornthwaite 7 Mather (1955), com a determinação
da evapotranspiração, segundo, Thornthwaite (1948),
conforme metodologias apresentadas por Vianello &
Alves (2006) e Pereira et al. (1997). Nesse balanço,
considerou-se uma Capacidade de Água Disponível do
perfil do solo de 100 mm, por ser um valor normalmente
empregado para classificação climática, de acordo com
Vianello & Alves (2006). Ressalta-se o atendimento da
demanda hídrica de diversas culturas, segundo Correia
Filho et al. (2010).
Figura 1: Visão da estação meteorológica do Campus Nilo Peçanha/Pinheiral do
ção, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O Quadro 1 apresentado a seguir, mostra o balanço hídrico para Pinheiral-RJ pelo método de Thorntwaite & Mather (1955) e a Figura 2 mostra sua representação gráfica. Para o cálculo da evapotranspiração
potencial não ajustada pelo método de Thornthwaite,
MÊS T (ºC)
Instituto Federal de Educa-
segundo Vianello & Alves (2006), encontrou-se o índice
térmico anual (I) igual a 105,1322 e a constante “a” igual
a 2,3085.
Quadro 1 - Balanço Hídrico pelo Método de Thornthwaite & Mather (1955) para o Município de PinheiralRJ entre Abril de 2005 e Julho de 2010
EP
(mm)
P
(mm)
P-EP
(mm)
Neg. Acum.
(mm)
ARM
(mm)
ALT
(mm)
ER
(mm)
DEF
(mm)
EXC
(mm)
JAN
23,4
117
162
110
-
100
-
117
-
110
FEV
24,0
108
162
54
-
100
-
108
-
54
MAR
23,6
109
107
-2
-2
98
-2
109
-
-
ABR
21,6
82
60
-22
-24
79
-19
79
3
-
MAI
18,6
57
51
-6
-30
74
-5
56
1
-
JUN
17,5
46
24
-22
-52
59
-15
39
7
-
JUL
17,5
49
43
-6
-58
56
-3
46
3
-
AGO
18,9
61
34
-27
-85
43
-13
47
14
-
SET
19,1
63
52
-11
-96
38
-5
57
6
-
OUT
21,8
94
126
32
-36
70
32
94
-
-
NOV
22,1
98
211
113
-
100
30
98
-
83
DEZ
22,7
111
119
8
-
100
-
111
-
8
Σ
-
995
1216
221
-
-
0
961
34
255
24
Revista Agroambiental - Agosto/2011
Onde T = temperatura média mensal; EP = evapotranspiração potencial; P = precipitação; Neg. Acum. = negativo
acumulado; ARM = armazenamento de água no solo; ALT = alteração do armazenamento; ER = evapotranspiração
real; DEF = deficiência hídrica; EXC = excedente hídrico.
Figura 2 - Representação do Balanço Hídrico para o Município de Pinheiral-RJ apresentado no Quadro 1, onde P
= precipitação, EP = evapotranspiração potencial, ER = evapotranspiração real
Camargo & Camargo (1993) mencionam que
o balanço hídrico tradicional de Thornthwaite & Mather
(1955), como apresentado na Figura 2, é representado
por linhas que indicam a precipitação mensal (P) e a evapotranspiração potencial (EP). Essa última corresponde,
de acordo com esses autores, à precipitação ideal no
período de forma a não sobrar nem faltar água no solo
para uso das plantas.
suprimiu a coluna de “Negativo Acumulado” do balanço
hídrico de Thornthwaite & Mather (1955), sem que se alterasse os valores finais de evapotranspiração real, deficiência e excesso hídrico numa simplificação que visa a
facilitação dos cálculos tornando, assim, o entendimento do balanço hídrico mais fácil.
Em sua forma gráfica tradicional de apresentação do balanço hídrico (Figura 2), tem-se informações
completas do mesmo, como deficiências e excedentes
hídricos, retirada e reposição de água no solo. Essas
informações, segundo Camargo & Camargo (1993), às
vezes dificulta a interpretação dos mesmos e, por isso,
os autores desenvolveram uma representação gráfica
simplificada dos resultados do balanço hídrico de Thornthwaite & Mather (1955) empregando apenas informações de deficiência e excedentes hídricos.
Pelo Quadro 1, a precipitação média mensal observada foi de 101,3 mm e a precipitação média total
anual foi de 1216 mm, sendo os meses de janeiro e novembro os mais chuvosos com 227 mm e 211 mm, respectivamente registrados. Os meses de junho e agosto
foram os mais secos, com valores médios registrados
de 24 mm e 37 mm, respectivamente. As maiores demandas evapotranspirométricas médias mensais foram
observadas em janeiro e dezembro e as menores em
junho e junho, respectivamente 117 mm, 111 mm, 46 mm
e 49 mm, com um valor total médio anual de 995 mm e
valor médio mensal de 82,9 mm.
Nessa mesma linha de simplificação das informações do balanço hídrico, como apresentado no Quadro 1, Pereira (2005) desenvolveu uma metodologia que
A evapotranspiração potencial no verão foi de
336 mm. Observou-se, ainda, a existência de uma deficiência hídrica anual de 34 mm, que se estende por um
25
Balanço Hídrico para Pinheiral, Rio de Janeiro
período de seis meses, de abril a setembro, com maior
intensidade em agosto, no valor de 14 mm. Já o excesso
hídrico anual foi de 255 mm, observado entre os meses
de novembro e fevereiro, com pico em janeiro de 110
mm. Outros valores de evapotranspiração, precipitação,
excessos e deficiências hídricas podem ser vistos no
Quadro 1 e na Figura 2.
A estação do Instituto Nacional de Meteorologia
mais próxima de Pinheiral é a de Piraí-RJ, como apresentado por INMET (2010), distante aproximadamente
16 km da estação empregada neste trabalho. Observase pelo balanço hídrico climatológico desta estação,
referente ao período de 1961 a 1990, que o excedente
hídrico ocorre ao longo de seis meses entre novembro e
abril, com valores máximos em dezembro e janeiro, contra apenas os quatro meses observados em Pinheiral.
Já o déficit de água no solo ocorre ao longo de quatro
meses, entre junho e setembro, com valores mais pronunciados em agosto, contra os seis meses observados
em Pinheiral. Na estação do INMET em Piraí, geralmente, observa-se, em termos anuais, um excedente muitas
vezes superior ao déficit, o que foi também observado
em Pinheiral. Apesar de os balanços hídricos de Pinheiral e Piraí terem um mesmo comportamento geral com
relação aos períodos de ocorrência dos excessos e deficiências hídricas ao longo do ano, o clima de Pinheiral
apresenta-se mais seco que o de Piraí.
Mota (1977) apresenta valores médios mensais
de deficiência e excesso de água no solo obtidos pelo
balanço hídrico climatológico realizado para o período
de 1931 a 1960, bem como de precipitações mensais,
referentes a 28 cidades pertencentes as cinco regiões
geográficas brasileiras. Estas 28 cidades estão assim
distribuídas: oito na região Norte, cinco na região Nordeste, sete na região Sudeste, três na região CentroOeste e cinco na região Sul. A precipitação anual média
das 28 cidades é de 1742 mm, com máximo de 2921
mm em Uaupés-AM e mínimo de 477 mm em MacauRN. A deficiência de água no solo média é de 227 mm
com maior valor em Macau-RN, menor valor não nulo de
25 mm em Porto Alegre-RS e 10 valores nulos, sendo
quatro na região Sul, dois nas regiões Norte e Sudeste, e um nas regiões Centro-Oeste e Nordeste. Outro
aspcto significativo é que o excesso hídrico médio é de
682 mm, com maior valor de 1989 mm em Paracatu-MG,
menor valor não nulo de 192 mm em Cuiabá-MT e quatro valores nulos, sendo três na região nordeste e um na
região centro-oeste. Comparando estas cidades com Pinheiral, tem-se que 17 delas possuem deficiência hídrica
superior a de Pinheiral e 21 apresentaram um excesso
hídrico superior a ela, embora 22 dessas cidades apresentem precipitação média anual superior à Pinheiral.
Esse contexto indica que, no Brasil tomando-se
como base apenas os valores apresentados por Mota
(1977), Pinheiral é uma cidade com baixo volume de
26
chuvas, todavia com boa distribuição delas e capaz de
equilibrar, satisfatoriamente, o gasto de água pelas culturas perenes ao longo do ano.
Comparando-se as características climáticas de
Pinheiral, conforme apresentado pelo balanço hídrico no
Quadro 1, com as de Paris, na França, apresentadas
por Galvani (2008), observa-se que: a) a precipitação
total anual em Pinheiral é 87% maior, respectivamente
1216mm e 650mm para Pinheiral e Paris; b) a evapotranspiração real total anual em Pinheiral é 69% maior,
respectivamente 961mm e 567mm; c) o excesso hídrico
total anual em Pinheiral é 211% maior, respectivamente
255mm e 82mm, sendo que em ambas cidades ele ocorre com maior intensidade nos meses de janeiro e fevereiro; d) a deficiência hídrica total anual em Pinheiral é
48% menor, respectivamente 34mm e 66mm, ocorrendo
em maior intensidade em ambas as localidades entre os
meses de julho e setembro. Apesar da grande diferença
absoluta de chuva entre as duas cidades, equivalente
a 566 mm, a diferença entre os excessos hídricos, bem
como a diferença entre as deficiências hídricas, foram
significativamente menor. Isso decorre do fato da diferença das evapotranspirações reais totais anuais
ser significativamente maior em Pinheiral, em valores
absolutos, equivalente no caso a 394 mm, motivado
principalmente pela grande diferença de temperatura
média anual, que em Pinheiral é de 20,9ºC e em Paris é de 12,0ºC.
Para fins de classificação climática de Pinheiral-RJ pelo sistema de Thornthwaite, de acordo com
metodologia apresentada por Vianello & Alves (2006),
obteve-se Índice Hídrico, Índice de Aridez e Índice de
Umidade, respectivamente de 25,6; 3,4 e 22,2. Esses
valores possibilitam a classificação climática do município
como B1r B’3 a’, ou seja, clima úmido, com pequena
deficiência hídrica (nos meses de abril a setembro),
mesotérmico, com evapotranspiração potencial anual de
995 mm e concentração da evapotranspiração potencial
no verão igual a 33,8%.
A referida classificação pode ser correlacionada
à qualidade esperada de bebida de café. Historicamente,
Menezes (2008) menciona que a região de Pinheiral-RJ
foi o principal centro de produção nacional desta cultura
durante várias décadas do século XIX. Extrapolando as
características das zonas agroecológicas analisadas por
Rolim et al. (2007) no Estado de São Paulo para Pinheiral-RJ, com base na mesma classificação climática de
Thornthwaite, no caso B1, pode-se esperar que o café
produzido em Pinheiral-RJ proporcione uma bebida do
tipo “Riada”.
CONCLUSÃO
Uma vez que a precipitação anual registrada foi
superior à evapotranspiração potencial anual, respecti-
Revista Agroambiental - Agosto/2011
vamente 1.216 mm e 995 mm, o volume de chuvas que
ocorreram seriam suficientes para atender a toda
demanda hídrica das culturas que utilizam uma CAD
equivalente a 100 mm, se elas ocorressem de forma
mais uniforme ao longo do ano.
FIETZ, Carlos R.; RANGEL, Marco A. S. Época de
semeadura da soja para a região de Dourados - MS,
com base na de ciência hídrica e no fotoperíodo. Engenharia Agrícola, Jaboticabal, v. 28, n. 4, dez. 2008.
O município de Pinheiral-RJ apresenta seis meses de deficiência hídrica no solo e quatro de excesso
hídrico, de forma que o plantio das culturas anuais
deveria ser realizado até outubro e a colheita deveria
ser feita, preferencialmente, de abril a setembro.
GALVANI, Emerson. Estudo comparativo dos elementos
do Balanço Hídrico Climatológico para duas cidades do
Estado de São Paulo e para Paris. Confins, n.4, 2008.
Disponível em: <http://confins.revues.org/4733>. Acesso
em: 26 dez. 2010.
Em síntese, para o planejamento das atividades
agrícolas em Pinheiral-RJ, espera-se que a agricultura
de sequeiro tenha seu melhor desempenho nos meses
de novembro, dezembro, janeiro e fevereiro, que são os
mais úmidos; ao passo que nos meses de julho, agosto e setembro, o cultivo de culturas anuais necessita de
irrigação suplementar devido aos menores níveis de
armazenamento de água no solo.
INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA (INMET).
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28
Revista Agroambiental - Agosto/2011
Fatores a Serem Considerados para o Lançamento de
Nova Marca de Café Orgânico
Dayanny Carvalho Lopes.¹, Prof. Dr. José Messias Miranda², Prof. Dr. André Delly Veiga³.
¹Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Campus Pouso Alegre
[email protected]
²Universidade José do Rosário Vellano – Unifenas, Alfenas MG – [email protected]
³Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Campus Machado RESUMO
A demanda por produtos orgânicos aumenta no mundo todo e gera oportunidades de mercado em diversas
regiões do planeta. Cria oportunidades, principalmente para pequenos e médios produtores, incluindo comunidades
de agricultores familiares e vários outros componentes da cadeia produtiva, o que pode auxiliar o desenvolvimento de áreas rurais próximas aos grandes centros urbanos e a corredores de exportação. Percebe-se que os consumidores estão mais preocupados com a questão relacionada à saúde e meio ambiente. Com relação a isso o
mercado está carente de produtos voltados para a sustentabilidade. Em face da preocupação dos consumidores
com o bem-estar, a Coopfam colocará no mercado um novo produto sustentável: o café orgânico DaTerra. Em razão disto foi realizada uma pesquisa para verificar os fatores a serem considerados para o lançamento do novo
produto. O principal objetivo desse estudo foi analisar os fatores a serem considerados para o lançamento da marca
de café no mercado. A pesquisa descritiva foi realizada nos principais supermercados de Machado e Poço Fundo/
MG, com a ajuda de um questionário. Os resultados demonstraram que campanhas institucionais de esclarecimento devem ser formuladas, devido à pouca informação que os consumidores possuem sobre os cafés orgânicos e
as estratégias para o lançamento do produto deverão ser voltadas para os consumidores que desconhecem um
produto orgânico.
Palavras-chave: Comunicação, Marcas, Marketing, Café Orgânico.
Factors to be Considered for the Launch of a
New Brand of Organic Coffee
ABSTRACT
The demand for organic products increases worldwide and creates market opportunities in various regions
of the world, especially for small and medium producers, including communities of family farmers and various other
components of the production chain, which may help the development of rural areas close to large urban centers
and export corridors. It is observed that consumers are more concerned with issues related to health and environment, and in this regard the market lacks sustainable products. In face of the consumers’ concern about welfare,
Coopfam will launch onto the market a new sustainable product: DaTerra organic coffee. A research was then carried out in the supermarkets of Machado and Poço Fundo, MG, by means of a questionnaire, to verify the factors to
be considered for launching a new product, as is the main purpose of this study: to launch a new brand of coffee.
The results showed that institutional clarification campaigns should be formulated, due to the lack of information of
consumers with regard to organic coffee, and strategies for launching this product will aim at consumers who are
unaware of organic products.
Keywords: Communication, Brand, Marketing, Organic Coffee.
29
Fatores a Serem Considerados para o Lançamento de Nova Marca de Café Orgânico.
INTRODUÇÃO
É crescente a preocupação da sociedade com a
saúde, a qualidade de vida e do meio ambiente, levando
os consumidores a valorizarem a adoção de métodos
de produção agrícolas que garantam a qualidade dos
produtos e que sejam menos agressivos ao meio
ambiente e socialmente justos com os trabalhadores rurais. É neste contexto que a agricultura orgânica surge
como alternativa para produção agrícola mais sustentável, ambientalmente equilibrada e socialmente justa
(SAES et al, 2002).
A demanda por produtos orgânicos aumenta
no mundo todo e gera oportunidades de mercado em
diversas regiões do planeta. Cria oportunidades, principalmente para pequenos e médios produtores, incluindo
comunidades de agricultores familiares e vários outros
componentes da cadeia produtiva, o que pode auxiliar o
desenvolvimento de áreas rurais próximas aos grandes
centros urbanos e a corredores de exportação (NEVES
et al., 2004).
A busca por atributos diferenciados em produtos
agroindustriais está mostrando um crescimento constante na última década, fruto de mudanças nas preferências
dos consumidores. Há consumidores dispostos a pagar
mais por produtos que possuem alguns atributos desejados. A possibilidade de diferenciação e segmentação
de produtos é um entre os fatores mais relevantes que
nos últimos anos estão influenciando a competitividade
dos produtos agroindustriais. Em conseqüência disso,
alguns atributos de qualidade, passíveis de certificação, estão sendo incorporados, como instrumento de
concorrência do produto final. Além disso, a crescente
demanda, particularmente em países desenvolvidos, por
produtos saudáveis e socialmente corretos, possibilitam
o surgimento de produtos diferenciados, com novos
atributos.
O principal objetivo desse estudo foi avaliar os
fatores considerados para o lançamento da nova marca
de café orgânico no mercado e o objetivo específico, caracterizar os fatores para o lançamento da nova marca
de café.
REFERENCIAL TEÓRICO
A diferenciação de produtos pode ser entendida
como uma busca de liderança por qualidade, aqui
definida como a presença de determinados atributos
desejáveis pelos consumidores (PEREIRA et al, 2004).
As diferenças entre os produtos podem ser reais ou
imaginadas, tangíveis ou intangíveis. No caso de diferenciação de commodities pode haver de fato uma
pequena diferença real no produto. Mas as bases para
a diferenciação também podem estar relacionadas a
uma imagem a ele associada, ao seu lugar de origem, ou
ainda ao uso exclusivo de um nome (KOTLER, 2000).
Atualmente busca-se adequar mais o marke-
30
ting no contexto do agronegócio. Apesar de utilizarem os mesmos conceitos, consideram-se algumas particularidades das firmas agroalimentares como a natureza
dos produtos, características de demanda, comportamento do consumidor, dispersão do setor agropecuário,
concentração do setor de distribuição e importância dos
sistemas cooperativistas. A tendência apresentada é uma
abordagem sistêmica que propõe um trabalho com as
cadeias agroindustriais de trás para frente, identificando
o consumidor final, suas características e padrões de
referencias, pois ele é o elemento dinamizador das
cadeias agroindustriais modernas. Na busca de satisfazer o mercado-alvo dentro de um determinado prazo, a
empresa planeja, implementa e controla um conjunto de
variáveis mercadológicas (SILVA; BATALHA, 1997).
As exigências dos consumidores de café
vêm aumentando ao longo dos anos e o Brasil, maior
produtor mundial, mostrou-se extremamente acomodado no que diz respeito ao tratamento mercadológico
desse produto. A maioria dos produtores, exportadores
e segmentos políticos não souberam realizar campanhas
de marketing eficazes para valorizar a imagem do
produto brasileiro. O problema é mais complexo do que
parece, não sendo o único defeito, a ausência de marketing (PEREIR et al, 2004).
Café Orgânico
Apesar da pequena porcentagem que representa em relação à cafeicultura brasileira, o café orgânico
é uma atividade com enorme potencial de promover a
preservação ambiental e valorização social e econômica de uma região e representa uma ótima oportunidade para fortalecer as organizações de pequenos
produtores e reduzir as desigualdades sociais (SAES et
al., 2002).
O café orgânico é cultivado sob as regras
da agricultura orgânica, que tem como objetivo o fortalecimento dos processos biológicos, por meio de diversificação de culturas, fertilização com adubos orgânicos e
controle biológico de pragas. Esse conceito apresenta
fortes características de preservação ambiental, mas
também considera aspectos econômicos e sociais da
produção agrícola, porém com ênfase menor que nos
produtos fair trade (comércio justo) (SAES et al., 2002).
Também conhecido como café ecológico, é geralmente cultivado em sistema de produção sombreado. Estudo realizado por Harkaly et al. (1997) com
produtores orgânicos de café de Minas Gerais mostra
sistemas de produção de café consorciados com milho
e feijão, com uso intensivo de mão de obra. Os autores demonstram a viabilidade técnica e econômica dos
cultivos orgânicos em relação aos convencionais. A colocação do produto num mercado diferenciado, no entanto, é apontada como o principal componente de sua
viabilidade econômica. O café é um dos produtos
Revista Agroambiental - Agosto/2011
orgânicos mais importantes exportados pelos países
em desenvolvimento. Em 1997 foi autorizada pela
União Européia a importação de 69 toneladas de café
verde orgânico do México e 35 toneladas da Costa Rica.
O café orgânico pode ser encontrado em lojas especializadas e supermercados da Alemanha, Dinamarca,
França, Holanda, Inglaterra, Suécia e Suíça (UNCTAD,
1999).
O cultivo de café orgânico segue regras próprias
do sistema orgânico de produção, cujo mercado interno e externo vem se expandindo muito rapidamente.
Abrem-se assim novas perspectivas na economia rural
brasileira, principalmente para os pequenos produtores.
Para o café ser rotulado como orgânico, tanto
sua produção como seu processamento precisam ser
monitorados por certificadores credenciados. Nos países exportadores de produtos orgânicos, a certificação
pode se feita por organizações locais, por parcerias entre agências locais e internacionais, por organizações
internacionais, ou por uma de suas filiais. Em alguns
casos, os serviços de certificação podem ser sub-contratados ou ainda podem ser realizados por grupos de
pequenos produtores, desde que sejam desenvolvidos
mecanismos de inspeção e de controle interno conforme
os padrões da agricultura orgânica (UNCTAD, 1999).
O Mercado de Café Orgânico
O mercado de produtos orgânicos é predominantemente constituído por consumidores conscientes
das questões ligadas à saúde e questões de caráter ambiental e social.
A agricultura orgânica ganha cada vez mais espaço na economia mundial. O segmento de produtos
orgânicos tem crescido cerca de 20% ao ano, tanto em
países desenvolvidos como em desenvolvimento é o
segmento que mais cresce dentro do setor de alimentos.
(YUSSEFI & WILLER, 2003).
O consumo de cafés especiais, como o café
orgânico, gourmet, sombreados e socialmente justos,
também está aumentando. Os preços destes cafés no
mercado nacional e internacional são mais atraentes
para os produtores, como consequência de suas características de produção, qualidade e menor oferta (RICCI
et al., 2002).
O mercado internacional de café orgânico é dominado
pelo México, que comercializa mais de 30 mil toneladas
ao ano e é o maior produtor, com uma área estimada
em 70.838 ha (10,4% de toda a área cultivada com café
naquele país) (YUSSEFI & WILLER, 2003). Peru (onde
30% da produção de café é orgânica), Bolívia, Colômbia,
Nicarágua, Guatemala e Costa Rica são também importantes produtores de café (RICCI et al., 2002).
De acordo com Caixeta e Pedini (2002), a cafeicultura orgânica no Brasil tem mantido taxas de cres-
cimento próximas a 100% ao ano e ocupa uma área
de 13.000 ha e mais de 419 produtores. Entretanto, é
preciso investir esforços na produção de café orgânico,
aliando qualidade e sustentabilidade socioambiental, garantindo assim competitividade nas exportações.
Agricultura orgânica é o sistema de manejo sustentável da unidade de produção com enfoque sistêmico
que privilegia a preservação ambiental, a agrobiodiversidade, os ciclos biogeoquímicos e a qualidade de vida
humana (RICCI et al., 2002). Este tipo de agricultura aplica os conhecimentos da ecologia no manejo da unidade
de produção, baseada numa visão holística da unidade
de produção. Isto significa que o todo é mais do que os
diferentes elementos que o compõem. A unidade de produção é tratada como um organismo integrado com a
flora e a fauna. Portanto, é muito mais do que uma troca
de insumos químicos por insumos orgânicos/biológicos/
ecológicos (RICCI et al., 2002).
O café orgânico é um produto diferenciado, de
maior valor agregado, cujo mercado tem crescido e se
fortalecido ao longo dos anos (CAIXETA, 2000).
Marketing
Segundo Kotler & Keller, 2006 as marcas identificam a origem ou o fabricante de um produto e permitem que os consumidores –sejam indivíduos ou organizações – atribuam a responsabilidade pelo produto a
determinado fabricante ou distribuidor. Os consumidores
podem avaliar um produto idêntico de forma diferente,
dependendo de como sua marca é estabelecida. Eles
conhecem as marcas por meio de experiências anteriores com o produto e do programa de marketing do produto.
A função da comunicação de marketing é o meio
pelo qual as empresas buscam informar, persuadir, e
lembrar os consumidores – direta ou indiretamente – sobre os produtos e marcas que comercializam. Num certo
sentido, a comunicação de marketing representa a ‘voz’
da marca e é o meio pelo qual ela estabelece um diálogo
e constrói relacionamentos com os consumidores (KOTLER; KELLER, 2006).
A cor não é o único fator que auxilia a embalagem a promover venda, mas é uma parte importante
de todo o processo. A cor exerce uma influência muito
grande na vida de cada um e disso ninguém duvida. Não
se compra apenas pela cor, ela não é um produto. Em
geral, nos relacionamos com a cor de maneira subjetiva,
embora esteja sempre ligada a algo físico ou imaginada
em pensamentos (DANGER, 1973).
Dentro de uma visão integrada de planejamento
do marketing no agronegócio, são muitos os fatores que
estabelecem uma perspectiva de crescimento de consumo de um certo produto. Dentre as ações de planejamento de marketing pode-se destacar a segmentação
de mercado (MEGIDO; XAVIER, 2003).
31
Fatores a Serem Considerados para o Lançamento de Nova Marca de Café Orgânico.
Para Karsaklian (2000), segmentação de mercado é dividir um mercado em grupos de compradores
potenciais, que tenham semelhantes necessidades e desejos, percepção de valores ou comportamento de compra. O mercado de café, tanto no Brasil quanto no resto
do mundo, parece estar se segmentando por si próprio
uma vez que são poucas as iniciativas concretas neste
sentido. O consumidor, cada vez mais exigente, passa a
ditar as regras daquilo que ele quer comprar.
isoladamente e sim em cooperação com entidades públicas e privadas do sistema agroindustrial do café. Para
que esta estratégia de diferenciação seja eficaz, é importante que o produtor ou a empresa considerem os desejos e as necessidades dos consumidores. Os atributos
diferenciadores só terão real valor se os consumidores
perceberem e aprovarem essas mudanças (PEREIRA et
al., 2004).
Uma vez que o produtor de café, ou a indústria
de torrefação, tenha definido seu mercado alvo, é
preciso posicionar o produto nesse mercado. Isto significa que um produto deve conseguir ocupar lugar claro,
distinto e desejável, em relação ao produto dos
concorrentes na mente dos consumidores. Para Koltler
(2000), “posicionamento é o ato de desenvolver a oferta e a imagem da empresa, de maneira que ocupe uma
posição competitiva distinta e significativa na mente dos
consumidores”.
Para atingir os objetivos propostos a pesquisa
foi realizada por meio de dados secundários e primários.
O estudo proposto possui caráter descritivo e qualitativo. Foi realizada uma pesquisa exploratória, na qual se
buscou verificar os fatores a serem considerados para o
lançamento da nova marca de café no mercado. A metodologia adotada partiu dos indícios dados pelos processos levantados na pesquisa bibliográfica, adaptada para
se encaixar nas restrições a que este trabalho esteve
exposto.
É importante identificar as diferenças realmente importantes para o consumidor, levando-se em conta
suas percepções, impressões e seus sentimentos, para
que resultem em benefícios percebidos, difíceis de ser
copiados pelos concorrentes, compatíveis com o poder
de compra dos consumidores e que agreguem valor ao
produto, sendo lucrativo à empresa ou ao produtor. É
possível posicionar um produto com base em um ou
mais fatores de diferenciação, mas o posicionamento
com base em muitos fatores pode gerar confusão ou
descrença para o consumidor.
Zylbersztajn e Farina (2001) conceituaram as
formas de diferenciação para o café:
“O conceito de café especiais está intimamente ligado
ao prazer proporcionado pela bebida. Destacam-se por
algum atributo especifico atribuído ao produto, ao processo de produção ou ao serviço a ele associado. Diferenciam-se por características como qualidade superior
da bebida, aspecto dos grãos, forma de colheita, tipo de
preparo, historia, origem dos plantios, variedades raras
e quantidades limitadas, entre outras. Podem também
incluir parâmetros de diferenciação que se relacionam
à sustentabilidade econômica, ambiental e social da
produção, de modo a promover maior equidade entre
os elos da cadeia produtiva. Mudanças no processo
industrial também levam à diferenciação, com adição
de substancias, como aromatizados, ou com sua subtração, como os descafeinados. A rastreabilidade e a
incorporação de serviços também são fatores de diferenciação e, portanto, de agregação de valor”.
Cabe a cada produtor ou torrefador, no caso de se embrenharem pelo mundo dos cafés diferenciados, descobrir
suas aptidões e encaixar em um destes segmentos. A
diferenciação revela um mercado em plena ascendência
e segmentá-lo não é tarefa para ser desenvolvida
32
MATERIAL E MÉTODOS
Coleta de dados
A coleta de dados aconteceu em duas etapas
consecutivas. A primeira foi preparatória e a segunda
etapa foi a execução (coleta de dados).
A fase preparatória consistiu na “entrada em
cena” do ambiente organizacional. Esta introdução se
deu por intermédio de uma comunicação formal, autorizando a pesquisa de documentos e acesso às informações necessárias. Por um período de duas semanas,
acompanhou-se o processo de integração na empresa,
como se fosse um novo funcionário. Durante esse período, a principal fonte de coleta de dados foi a observação
direta. Em conjunto com a observação direta, foi possível
conversar o gerente da Cooperativa para verificar quais
seriam os procedimentos adotados para o lançamento
do novo produto.
Para a segunda fase, a coleta de dados, utilizaram-se entrevistas através de questionários, com os
consumidores nos locais de compra para definir quais
fatores influenciam no momento da compra do produto,
com questionário semiestruturado. Em seguida, o tema
foi aprofundado, sendo questionada a opinião do entrevistado sobre o assunto. Abordados todos os aspectos
da entrevista, uma pergunta do tipo geral foi realizada.
O levantamento de dados foi realizado com a população
das cidades de Machado e Poço Fundo/MG, visto que a
cidade de Machado possui uma população estimada de
38.684 habitantes e Poço Fundo possui 15.961 habitantes (IBGE, 2010).
Para coletas de dados através da aplicação do
questionário foram realizadas abordagens em 4 supermercados de Machado e 2 supermercados em Poço
Fundo (sendo que estes supermercados são os que
possuem maior movimento), entre os dias 27 de setembro e 02 de outubro de 2010. A amostra foi selecionada
Revista Agroambiental - Agosto/2011
por conveniência nos supermercados.
Os questionários foram aplicados a 250 pessoas, sendo que 175 na cidade de Machado e as outras 75
na cidade de Poço Fundo.
A organização dos dados foi feita computandose as frequências percentuais sendo representados
através dos gráficos de colunas e setores.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na avaliação quanto ao gênero dos participantes da pesquisa, mostra-se bem dividida: 45,2% do sexo
masculino e 54,8% do sexo feminino, invalidando os velhos paradigmas de que apenas, ou na grande maioria
das vezes, as compras são realizadas pelo sexo feminino.
Um resultado importante foi o constatado em
relação à faixa etária, nota-se uma maioria de pessoas
acima de 46 anos, confirmando Kotler (2006), que relata
que os jovens não possuem tradição e hábito de fazer
compras destinadas à alimentação e higiene do lar, deixando essa tarefa a cargo dos adultos.
Quando questionados sobre o consumo de café,
70% consomem a bebida rotineiramente e os outros 30%
não consomem, mas já experimentaram alguma vez.
Ao avaliar sobre a quantidade de xícaras de
café consumidas diariamente, 38% consomem até 3 xícaras ao dia, 30% dos entrevistados consomem de 3 a
5 xícaras, e 32% dos entrevistados consomem mais de
5 xícaras por dia e nenhuma pessoa declarou que não
toma café.
Em relação aos horários que melhor caracterizam o consumo de café 37,2% o fazem na hora do lanche e refeições, 48% disseram que tomam café sempre
que tem vontade, 10% bebem café em reuniões de trabalho e/ou encontros sociais e 5% tomam café sempre
que fumam. Analisado o hábito de consumo de café,
percebe-se que os consumidores não deixam de tomar o
café diariamente e sempre que possível procuram tomar
a bebida.
Quanto aos critérios mais utilizados na escolha
de um café na hora da compra (GRÁF. 1), o sabor (25%)
e a marca (23%) são os mais importantes, seguidos do
preço (17%), qualidade (17%), aroma (8%), selo ABIC
(8%), e embalagem (2%). Dentre os critérios para a decisão de compra dos entrevistados. Isto mostra que o consumidor escolhe o café pelo sabor relacionado à marca
na hora da compra, mostrando que não é fácil adentrar
neste mercado rapidamente. É preciso fazer um trabalho
de marketing para o café ocupar mais espaço nos meios
de comunicação, focando a marca e a embalagem para
atrair a atenção dos consumidores.
GRÁFICO 1 – Critérios de escolha de compra do café.
Questionados se conhecem o selo de pureza
ABIC, 79,2% dos consumidores responderam que conhecem e os outros 20,8% não conhecem o selo ABIC.
Uma maioria significante conhece o selo, sendo importante porque mostra que o consumidor se preocupa com
a qualidade da bebida e a imagem do café. A pesquisa
revelou que 62% levam em consideração o selo ABIC
na hora da compra e 38% não se preocupam com o selo
ABIC, demonstrando que o selo significa confiabilidade
na hora da escolha de compra do café.
Os consumidores de café entrevistados mostraram que são tradicionais quando vão comprar o café
no supermercado; 85% preferem comprar o café torrado
e moído, 8% buscam o café instantâneo, 3% procuram
comprar cafés especiais, 3%, cappuccino e 1% prefere
o café em grãos para a máquina de espresso.
Dentre os produtos com o mesmo preço, o fator
33
Fatores a Serem Considerados para o Lançamento de Nova Marca de Café Orgânico.
que leva à decisão de escolha do produto ficou com a
marca (80%), seguido da qualidade, 10%, embalagem,
9%, e tipo de embalagem, 1%. Este resultado reflete a
importância da marca na venda do produto, a lealdade
dos consumidores à marcas tradicionais e as marcas
com um forte apelo de propaganda.
Como a maioria dos entrevistados compra o
café que é consumido em casa, procurou-se saber sobre
o grau de importância das características do café. A Tabela 1 mostra que o critério mais importante na escolha
do café foi o sabor, com 86% das opiniões, seguido pelo
aroma (72%) e a cor da bebida (41%), fator importante
no critério de escolha.
TABELA 1 - Critério de escolha do café segundo os entrevistados
Fator
Sabor
Aroma
Cor da bebida
Grau de Importância
Muito importante
Importante
13
Pouco importante
Muito importante
1
72
Importante
25
Pouco importante
Muito importante
3
33
Importante
41
Pouco importante
26
Ao perguntar se o consumidor estaria disposto a
pagar mais por um café de qualidade, a grande maioria
(90%) afirmou que sim, confirmando que os consumidores estão exigentes com relação à qualidade de vida,
consumindo produtos que tenham custo/beneficio e lhe
tragam prazer.
Apesar de a região pesquisada ser produtora
de café orgânico, a maioria dos entrevistados (60%)
não conhece café orgânico e não sabe como é a produção do mesmo. Isso indica que é necessário realizar
campanhas de marketing para ocupar um espaço na
mente do consumidor, desse tipo de café, trabalhando
o mercado e fortalecer a marca. De acordo com a pesquisa 80% disseram que nunca compraram ou viram
café orgânico em algum supermercado, mostrando que
a campanha de marketing deve ser feita não somente
com relação aos consumidores, mas também para os
varejistas que ainda não tem conhecimento desse tipo
de café. Entende-se como campanha de marketing direcionada para os varejistas, não as campanhas institucionais, mas campanhas individuais para cada varejista
da própria torrefadora ou produtora como as ações de
merchandising dentro dos PDVs (ponto de venda), para
conscientizar e apresentar o produto café orgânico aos
varejistas. Como foi comprovado na pesquisa mostrada
sobre cafés especiais do Instituto Pensa 2001, mostrouse que os supermercadistas sugerem que as empresas
invistam em divulgação dos cafés especiais.
Ao serem questionados sobre a produção dos
cafés orgânicos (sustentáveis) a grande maioria (72%)
dos consumidores demonstrou mais uma vez serem
34
ImportânciaPercentual (%)
86
leigos no assunto e desconhecem que a produção sustentável preserva o meio ambiente e garante melhores
condições de vida aos produtores.
Quando questionados a respeito da importância
do visual do produto, 45,2 % responderam que o visual
do produto é muito importante, enquanto outros 37,8%
responderam que o visual do produto é importante. Sendo assim, 82% dos consumidores consideram o visual como um pré-requisito básico para a compra de um
produto. Essa importância do visual do produto para o
consumidor cogita que as pessoas comparam produtos,
e, em muitos casos, deixam de levar um produto com
uma aparência que não o agrada. Dentre os 17% que
responderam que o visual era pouco ou não importante,
o principal argumento é que eles estavam mais preocupados com o preço.
Em se tratando da influencia da cor, embalagem
ou local do produto, 48% dos consumidores responderam que sempre se sentem influenciados pela cor do
produto, embalagem ou local, 34,4% dos consumidores
disseram que nunca sentem influenciados pela cor do
produto, da embalagem ou do local são, e 17,6% dos
consumidores eventualmente se sentem influenciados.
Sendo assim, é perceptível que a maioria dos consumidores já estão habituados com um produto ou não presta
atenção nessas variáveis.
A respeito de optar por produtos de acordo com
as cores dos mesmos, 74,4% dos consumidores raramente procuram comprar produtos com suas cores preferidas, 16% responderam que sempre compram produtos com suas cores preferidas, e 9,6% responderam
Revista Agroambiental - Agosto/2011
que eventualmente o fazem. Constatou-se que os consumidores não consideram a cor como um fator determinante na escolha de um produto, mas em alguns produtos e em determinadas situações a cor se torna fator
importante na escolha.
Para verificar a utilização de cores na embalagem perguntou-se “As cores utilizadas na embalagem
chamam a sua atenção?”, e 70% dos entrevistados
responderam que as cores utilizadas nas embalagens
sempre chamam a atenção, enquanto outros 20% responderam que eventualmente as cores chamam a sua
atenção, e outros 10% disseram que raramente as cores
da embalagem chamam atenção. Os consumidores, em
sua maioria se sentem atraídos pelas cores da embalagem, o que sugere a cor como um fator importante no
reconhecimento de um produto.
Sobre o tipo de embalagem para a compra do
café, 74% disseram que preferem a do tipo almofada, e
os outros 26% preferem o café embalado a vácuo. Estes
resultados estão conforme a pesquisa da InterScience,
que mostra a diminuição para a embalagem do tipo almofada e aumento para a vácuo.
que possuem cores mais vibrantes; logo recomenda-se
que a embalagem do novo produto seja com cores que
lembrem o produto e possua todas as informações necessárias.
Ações voltadas para os consumidores de café
serão realizadas antes, durante e depois do lançamento do produto, uma vez que a pesquisa mostrou que a
maioria deles não conhece café orgânico, sendo importante a realização de estratégias de lançamento para
atrair a atenção do consumidor e fazer com que a marca
fique conhecida entre os consumidores e se torne dentro
de pouco tempo uma das marcas mais lembradas na
região.
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de Minas. In: ZAMBOLIM, L. (Ed.). Café: produtividade,
qualidade e sustentabilidade. Viçosa: UFV, Departamento de Fitopatologia, 2000. p. 323-330.
Pode-se dizer que a cor é um fator importante
na compra de um produto, mas existem outros fatores
que também são tão ou mais importantes que o visual.
Em geral, a marca é um dos fatores que facilitam o processo de troca e uma parte importante no conjunto dos
fatores que interferem na decisão de compra.
DANGER, Eric P. A cor na comunicação. Rio de Janeiro:
Fórum, 1973. p.211
CONCLUSÃO
KARSAKLIAN, E. Comportamento do Consumidor. São
Paulo: Atlas, 2000
Ao longo do estudo foram identificados diversos
fatores que poderão auxiliar futuras ações no sentido de
fomentar o consumo do produto e melhorar a sua eficiência e competitividade no mercado de cafés orgânicos,
como o lançamento de uma nova marca de café. Este
estudo foi realizado para avaliar os fatores para o lançamento do café orgânico no mercado, considerando que
os consumidores estão ávidos por produtos que tragam
benefícios para a saúde. Pode-se concluir que o produto
será bem recebido pelos consumidores, atingindo o objetivo geral do estudo.
Os atributos que estão relacionados à experiência passada na determinação da compra são sabor e
marca. A reputação e a constância de padrões levam à
associação entre sabor preferido e fidelidade à marca.
Estratégias coletivas visando ao aumento do
consumo geral de café deveriam aproveitar a imagem
positiva do Selo de Pureza. O selo é mais importante
para os cafés médios e inferiores, já que identifica apenas pureza. Os cafés especiais podem abstrair do selo,
mas teriam que manter padrões bem definidos e estáveis.
Através do estudo realizado, observa-se que os
consumidores preferem embalagens mais atrativas e
IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. População das Cidades – Censo 2010. Disponível
em: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1
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Movement (IFOAM), 2003.128 p.
36
Revista Agroambiental - Agosto/2011
Avaliação da Produtividade e Adaptabilidade de Acessos de Amendoim
Forrageiro para Potencial Formação/Consorciação de Pastagens no Sul de
Minas Gerais
Michender Werison Motta Pereira - Tecnólogo em Gestão Ambiental pelo IFSULDEMINAS Campus Inconfidentes,
Praça Tiradentes, 416, centro, Inconfidentes/MG. CEP: 37576-000 - [email protected]
Kátia Regina de Carvalho Balieiro - Prof.ª DSc. no IFSULDEMINAS Campus Inconfidentes, Praça Tiradentes, 416,
centro, Inconfidentes/MG. CEP: 37576-000 - [email protected]
Lílian Vilela de Andrade Pinto - Prof.ª DSc. no IFSULDEMINAS Campus Inconfidentes, Praça Tiradentes, 416,
centro, Inconfidentes/MG. CEP: 37576-000 - [email protected]
RESUMO
O objetivo deste trabalho foi avaliar a produção e adaptabilidade de cinco acessos de A. pintoi (BRA 031496,
BRA 015121, BRA 013251, BRA 030333 e BRA 022683) e um acesso de A. repens (BRA 031801), visando fomentar
estudos para o estabelecimento de cultivares mais produtivas em pastagens da região Sul de Minas Gerais. Os
estudos se deram em dois momentos, sendo, o primeiro com a realização do experimento em bandejas para análise
da taxa de pegamento dos acessos em casa de vegetação e, o segundo, com a experimentação realizada em vasos, onde cada acesso foi analisado quanto a sobrevivência das mudas, número e comprimento médio de estolões,
produção de matéria seca da parte aérea e radicular e taxa de sobrevivência. O acesso de A. pintoi BRA 031496
apresentou os maiores índices de taxa de pegamento em bandejas (70%) e produção de matéria seca da parte
aérea (21,1g) e radicular (7,0g), além de boa perfilhação, acompanhada de uma considerável taxa de crescimento
dos estolões. Já o acesso de A. repens BRA 031801 apresentou os menores resultados de taxa de pegamento em
bandeja (33,33%), comprimento médio dos estolões aos 45 e 90 dias após o plantio (15,6cm e 16,7cm respectivamente) e produção de matéria seca da parte aérea (10,7g) e radicular (4,7g). Após o enraizamento das mudas
em bandejas de isopor todos os acessos promoveram 100% de sobrevivência em vasos.
Palavras-Chave: Amendoim Forrageiro, produtividade, estabelecimento e pastagens.
Productivity and Adaptability Evaluation of Arachis (spp) for Potential
Pastures Uses in South of Minas Gerais State - Brazil
ABSTRACT
The objective of this study was to evaluate the production and adaptability of five samples of A. pintoi (BRA
031496, BRA 015121, BRA 013251, BRA 030333 and BRA 022683) and one sample of A. repens (BRA 031801) to
support studies for the establishment of pastures in south of Minas Gerais state, Brazil. The studies took place in
two stages, the first to perform the experiment in trays for analysis of the rate of fixation of the samples in the
greenhouse and the second trial in pots, when the samples was assessed for seedling survival , average number
and length of stolons, weight of dry matter of leaves and root and survival rate. The sample A. pintoi BRA 031496
showed the highest rate of fixation indices in trays (70%) and dry matter production of leaves (21.1 g) and root (7.0
g), and good affiliation, accompanied by a considerable growth rate stolons. A. repens BRA 031801 had the lowest
rate of fixation results in a tray (33.33%), the average length of stolons at 45 and 90 days after planting (15.6 cm
and 16.7 cm respectively) and production of dry matter of the leaves (10.7 g) and root (4.7 g). After rooting in trays
all samples had 100% survival in pots.
Key Words: Arachis spp, pasture, productivity, and pasture establishment, forage peanut
37
Avaliação da Produtividade e Adaptabilidade de Acessos de Amendoim Forrageiro para
Potencial Formação/Consorciação de Pastagens no Sul de Minas Gerais
INTRODUÇÃO
As pastagens referem-se a todas as variedades
botânicas apreendidas sob formas de pastejo, que fazem o gado viver, crescer, engordar e manter sua saúde e fertilidade (Primavesi, 1986). Segundo Queiroz et
al. (2005) em 75% da área ocupada pela agropecuária
no Brasil estão inseridas pastagens, o que corresponde
a 20% do território nacional. Além disso, o autor destaca a importância das pastagens para a produção animal, onde 88% da carne produzida no pais é oriunda de
rebanhos mantidos exclusivamente em pastagens.
Segundo Purcino et al. (2005) as pastagens de
leguminosas são tidas como bancos de proteína por possuir valor protéico superior ao apresentado pelas gramíneas forrageiras. Lima et al. (2003) descreveram que
o teor médio de proteína bruta (PB) em Arachis pintoi é
de 13% e 18% respectivamente na seca e nas águas.
Primavesi (1986) referencia um teor de PB médio nas
gramíneas como sendo 6,10% e 6,81% respectivamente nas estação seca e na estação das águas.
Barcellos, et al. (2008) destacam os estilosantes (Stylosanthes spp.), o amendoim forrageiro (Arachis
spp) e a leucena (Leucaena spp.) como cultivares ou gêneros botânicos com maior estoque de informações por
serem estes os mais cultivados e/ou mais promissores.
Inúmeros autores vêm destacando as leguminosas de clima tropical para a formação de pastagens
em consórcio com gramíneas. Purcino et al. (2005)
descreveram os seguintes valores de incorporação do
nitrogênio no solo em kg.ha-1: 60-150 para amendoim
forrageiro; 70-200 para calopogônio; 300-400 para crotalária; 30-196 para estilosantes; 80-160 para feijão-deporco; 280 para feijão-guandu; 180 para lab-lab; 250-400
para leucena; 100 para puerária; 181-200 para siratro e
181-200 para soja perene.
Neste sentido, o amendoim forrageiro vem se
destacando entre as leguminosas indicadas para o uso
em pastagens devido a grande quantidade de N fixado,
boa produção de matéria seca, alto valor nutritivo, boa
persistência, grande capacidade de cobertura do solo e
boa adaptação a solos mal drenados (Lima et al., 2003).
O Arachis spp (amendoim forrageiro) é uma leguminosa rasteira com inúmeras vantagens botânicas,
biológicas e ambientais principalmente quando associada à sua utilização como potencial forrageiro, seja em
consórcio com gramíneas, na adubação verde ou empregado em rotação com outras culturas. Baptista et al.
(2007) reportaram que o amendoim forrageiro empregado isoladamente ou consorciado, apresentou boa palatabilidade (grande aceitação pelos animais), além de
suprir as necessidades diárias, em função dos dados da
análise bromatológica efetuada.
De acordo com Lima et al. (2003), o amendoim
38
forrageiro pode ser usado tanto na consorciação com
gramíneas, como para recuperação de pastagens puras
em processos de degradação. Sua densa rede de estolhos tem impacto positivo no controle da erosão (Calegari, 1995). Por ser ainda uma leguminosa perene, age
como fixadora de nitrogênio e promove boa cobertura de
solo controlando o crescimento de plantas invasoras.
É uma espécie de exploração nacional recente,
apresentando alta produção de forragem e persistência
satisfatória. Além disso, a característica constatada pelo
incremento da produção animal em função de bons conteúdos de proteína bruta e digestibilidade, tem tornado
o amendoim forrageiro uma das melhores alternativas
de suplementação com menor custo. Sobretudo, é uma
espécie prolífera que além de tornar-se uma nova opção
forrageira em pastejo consorciado, pode ser uma atividade bastante rentável em termos produção de feno e
de sementes (Nascimento, 2006).
Devido a estas e outras importantes características, o amendoim forrageiro vem despertando o
interesse de inúmeros pesquisadores, visando a sua
ratificação como recurso forrageiro para pecuária brasileira, os quais estão obtendo resultados promissores
em seus trabalhos de pesquisa. Andrade et al. (2004)
descreveram a tolerância ao sombreamento; Valentim et
al. (2003), estudaram a velocidade de estabelecimento
de alguns acessos na Amazônia ocidental; Rossetto e
Alves (2008) descreveram respostas positivas a tratamentos pré-germinativos das sementes; Purcino et al.
(2005) descreveram sobre os benefícios do uso de leguminosas na alimentação de bovinos.
O amendoim forrageiro é uma leguminosa muito utilizada na região Norte do Brasil, onde apresentou
excelente adaptabilidade e produtividade. Entretanto
nas condições de clima do Sul de Minas Gerais foram
realizados poucos estudos, necessitando-se, portando,
mais informações sobre esta espécie e seu potencial de
multiplicação para recomendá-la para implantação em
pastagens Sul mineira.
O conhecimento das características produtivas,
de adaptação e de estabelecimento do amendoim forrageiro em cada região torna-se indispensável para sua
indicação como recurso forrageiro para a pecuária brasileira.
Sendo assim, o objetivo geral do presente estudo foi avaliar a produção e adaptabilidade de seis acessos de amendoim forrageiro, para subsidiar pesquisas
à campo visando recomendá-lo para implantação nos
ambientes pastoris da região Sul de Minas Gerais. Os
objetivos específicos foram: i) avaliar a taxa de pegamento de estolões dos seis acessos repicados em bandejas com substrato de vermiculita; ii) determinar as
diferenças entre acessos quanto à produção de matéria seca da parte aérea e da parte radicular; iii) determinar as diferenças entre acessos quanto ao número e
Revista Agroambiental - Agosto/2011
comprimento médio dos estolões e iv) determinar a taxa
de sobrevivência das plantas em vasos.
MATERIAIS E MÉTODOS
O experimento foi realizado no Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas
Gerais - campus Inconfidentes.
O município de Inconfidentes localiza-se no sul
do estado de Minas Gerais e apresenta altitude média
de 855m e posição geográfica de latitude S 22° 19” 00’e
longitude W 46° 19” 40’. O clima da região, segundo a
classificação de KOËPPEN é do tipo subtropical de inverno seco e verão quente (Cwa), com duas estações
definidas: chuvosa (outubro a março) e seca (abril a
setembro), com médias anuais de precipitação e temperatura de 1.800mm e 19ºC, respectivamente. Destaca-
se que tais condições de clima e altitude se enquadram
dentro dos limites exigidos ao bom desenvolvimento do
amendoim forrageiro.
Segundo descrito por Montenegro e Pinzón (1997); Rincón et al. (1992) o amendoim forrageiro desenvolve-se
bem em clima tropical ou subtropical, que ofereça precipitação anual superior a 1500 mm e secas inferiores
a quatro meses. Cresce bem desde o nível do mar até
1.800m de altitude.
Foram utilizados seis acessos de plantas matrizes de
amendoim forrageiro demonstrados pela tabela 1. Estes
acessos foram trazidos da unidade EMBRAPA Agrobiologia localizada no município de Seropédica/RJ
em janeiro de 2006.
Tabela 1. Número dos acessos e espécies de amendoim forrageiro utilizados no estudo em Inconfidentes, MG.
Acessos
Espécie
BRA 031801
BRA 031496
BRA 015121
BRA 013251
BRA 030333
BRA 022683
Arachis repens
Arachis pintoi
Arachis pintoi
Arachis pintoi
Arachis pintoi
Arachis pintoi
A pesquisa se estabeleceu em duas fases, sendo a primeira denominada experimento em bandeja e o
segundo experimento em vasos.
Experimento em bandejas
O delineamento experimental utilizado nesta
etapa foi inteiramente casualizado, com seis tratamentos (acessos de amendoim forrageiro) e três repetições.
Para tanto foram repicadas 60 mudas de cada acesso
em 3 bandejas de isopor (20 mudas por bandeja) utilizando-se vermiculita como substrato. A figura 1 representa acessos de amendoim forrageiro repicados em
bandejas de isopor.
Três dias após o plantio as mudas foram inoculadas com Rhizobium (ssp) selecionado para esta
leguminosa. No decorrer do experimento a irrigação foi
realizada uma vez ao dia.
Nessa etapa experimental, o parâmetro mensurado foi a taxa de pegamento das mudas, sendo calculado com base no número de mudas existentes de cada
acesso, após 60 dias, em relação ao número de estolões
plantados.
Figura 1. Acessos de amendoim forrageiro repicados em bandejas de isopor, Inconfidentes/MG (Fonte: Dados
Pessoais).
39
Avaliação da Produtividade e Adaptabilidade de Acessos de Amendoim Forrageiro para
Potencial Formação/Consorciação de Pastagens no Sul de Minas Gerais
Experimento em vasos
Foram selecionadas nove mudas por acesso,
homogêneas em relação ao tamanho, quantidade e
tamanho das folhas, para plantio de três mudas por
vaso de cinco litros, conforme visualiza-se na figura 2.
O substrato utilizado foi composto de mistura de 40%
de húmus, 10% de areia e 50% de terra de barranco.
Após o plantio das mudas empregou-se uma cobertura
de 2cm de palha de café.
O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado com seis tratamentos (acessos
de amendoim forrageiro) e três repetições, totalizando
18 unidades experimentais alocadas em estufa com
cobertura de sombrite 30%.
Figura 2. Acessos de amendoim forrageiro plantados em vasos, Inconfidentes/MG (Fonte: Dados pessoais).
Foi realizada a irrigação do experimento uma
vez ao dia até 30 dias após o plantio e a cada 3 dias
posteriormente. Aos 45 dias após o plantio foram mensurados o número e comprimento médio dos estolões de
cada unidade experimental (vaso).
Análise estatística
Aos 90 dias após o plantio foram aferidos os seguintes parâmetros: a) taxa de sobrevivência das mudas
(%); b) número de estolões; c) comprimento médio dos
estolões (cm); d) produção média de matéria seca da
parte aérea (g); e) produção média de matéria seca da
porção radicular (g).
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A taxa de sobrevivência das mudas foi determinada por meio do número de plantas existentes em cada
vaso no final do experimento, em relação ao número de
mudas plantadas.
O comprimento médio dos estolões foi determinado medindo-se cada um dos estolões existentes na
parcela com auxilio de régua graduada e fita métrica.
A determinação da matéria seca da parte aérea
foi realizada cortando-se a biomassa aérea ao nível do
solo, com auxílio de tesoura de poda. O material vegetativo tanto da parte aérea quanto da radicular foram desidratados em estufa de ventilação forçada à 65ºC, por 72
horas e pesados em balança de precisão.
Os dados relativos foram registrados para posterior tabulação e análise.
40
Em ambas as etapas os dados foram submetidos à análise de variância (ANAVA) e as médias comparadas pelo teste de Tukey, ao nível de 5% significância,
usando-se o programa SISVAR 4.3 (Ferreira, 2000).
Experimento em bandejas
Taxa de pegamento dos estolões em bandejas
A taxa de pegamento das mudas dos seis acessos de amendoim forrageiro repicadas em bandejas de
isopor apresentou diferença estatística apenas entre o
acesso BRA 031496 e os demais, sendo este com maior
taxa de pegamento dos estolões (70%) conforme demonstrado na figura 3.
Já os acessos BRA 013251, BRA 030333, BRA
031801, BRA 015121, e BRA 022683 não diferiram estatisticamente entre si para esta variável apresentando taxas de pegamento respectivamente de 33,33%; 33,33%;
33,33%; 45% e 48,33%, conforme demonstrado na figura 3.
As colunas do gráfico seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de
probabilidade.
Revista Agroambiental - Agosto/2011
Figura 3. Taxa de pegamento de seis acessos de amendoim forrageiro repicados em bandejas de isopor, Inconfidentes/MG.
Tais resultados revelaram que o acesso BRA
031496, nas condições descritas, foi superior, com base
na alta taxa de pegamento em bandejas, quando comparado com os demais acessos analisados, que apresentaram menores índices de pegamento nas condições
experimentais.
Estudos demonstram que o amendoim forrageiro quando adaptado as condições climáticas do local de
plantio apresentam altas taxas de pegamento. Valentim
et al. (2003) estudando a velocidade de estabelecimento
de outros 11 acessos de amendoim forrageiro nas condições climáticas do Acre, observaram taxas de pegamento superiores a 84%.
Experimento em vasos
Número de estolões
O número de estolões dos acessos aos 45 e 90
dias após o plantio não apresentou diferença estatística
significativa ao teste de Tukey (P<0,05). Entretanto, a figura 4 demonstra que o acesso BRA 031496 apresentou
18 estolões aos 45 dias e 23 aos 90 dias, sendo o acesso
com maior perfilhação de estolões dentre os estudados
em ambos os períodos. Destaca-se ainda que o acesso
BRA 030333 apresentou as menores quantidades de estolões, sendo 12 e 13 estolões respectivamente aos 45 e
90 dias após o plantio.
Figura 4. Número médio de estolões de seis acessos de amendoim forrageiro aos 45 e 90 dias após o plantio
em vasos, Inconfidentes/MG.
Comprimento médio dos Estolões
Aos 45 dias após o plantio, a variável comprimento médio dos estolões apresentou diferença estatística dos acessos BRA 031801 e BRA 030333 para os
demais, como demonstra a tabela 2. Os acessos BRA
022683, BRA 013251, BRA 015121 e BRA 031496 apre-
sentaram respectivamente 18,5cm; 22,6cm; 22,7cm e
28,9cm de comprimento médio dos estolões. O acesso
BRA 030333 destacou-se dos demais, apresentando o
maior comprimento médio dos estolões (33,0cm) e o
acesso BRA 031801 apresentou o menor valor (15,6cm),
conforme demonstrado pela tabela 2 e figura 5.
41
Avaliação da Produtividade e Adaptabilidade de Acessos de Amendoim Forrageiro para
Potencial Formação/Consorciação de Pastagens no Sul de Minas Gerais
Tabela 2. Comprimento médio dos estolões de seis acessos de amendoim forrageiro aos 45 e 90 dias após o plantio
em vasos, Inconfidentes/MG.
Acessos
BRA 030333
BRA 031496
BRA 015121
BRA 013251
BRA 022683
BRA 031801
CV (%)
Comprimento de estolões (cm)
45 dias após o plantio
90 dias após o plantio
33,0 a
34,7 a
28,9 ab
31,5 ab
22,7 ab
23,8 ab
22,6 ab
25,4 ab
18,5 ab
20,6 ab
15,6 b
16,7 b
23,77
22,41
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey (P<0,05).
Aos 90 dias após o plantio observou-se um crescimento pouco expressivo em relação à análise anterior
(45 dias) para os seis acessos. Na tabela 2, nota-se que
os resultados da análise estatística apresentaram mesma tendência que os apresentados aos 45 dias após
o plantio das mudas, onde os acessos BRA 031801
(16,7cm) e BRA 030333 (34,7cm) mantiveram-se com
maiores valores de crescimento dos estolões.
Na figura 5 é apresentada uma relação entre o
comprimento médio dos estolões de cada acesso aos 45
e 90 dias após o plantio em vasos.
Figura 5. Comprimento médio de estolões de seis acessos de amendoim forrageiro aos 45 e 90 dias após o plantio
em vasos, Inconfidentes/MG.
O acesso BRA 030333 apresenta-se como um
acesso de crescimento horizontal, dado ao baixo número
de estolões produzidos destacado na figura 4, entretanto
com maior crescimento individual dos estolões destacado
na tabela 2 e figura 5. Já o Acesso BRA 031496 apresentou comportamento mais uniforme para estas variáveis, possuindo uma boa perfilhação, acompanhada
de uma considerável taxa de crescimento dos estolões.
Sendo assim o acesso BRA 031496 apresenta-se como
um acesso com grande potencial de crescimento e de
rápida cobertura do solo, podendo ser indicado para utilização em pastagens mal formadas ou mesmo em maior
grau de degradação.
42
Produção de matéria seca (MS) da parte aérea e radicular
Conforme demonstra a tabela 3 e a figura 6, o
acesso de A. pintoi BRA 031496 com uma produção de
matéria seca da parte aérea de 23,1g aos 90 dias após
o plantio apresentou-se como o mais produtivo dentre
os seis acessos estudados, diferindo estatisticamente.
Os acessos BRA 022683, BRA 030333 e BRA 015121
apresentaram valores medianos de produção de matéria
seca foliar, não diferindo significativamente entre si. Já
os acessos BRA 031801 e BRA 013251 apresentaramse estatisticamente equivalentes quanto a este parâmetro, sendo os acessos com os menores valores
de produção de matéria seca da parte aérea (10,7g e
14,2g respectivamente).
Revista Agroambiental - Agosto/2011
Tabela 3. Produção média de matéria seca da parte aérea e radicular de seis acessos de amendoim forrageiro
aos 90 dias após o plantio em vasos, Inconfidentes/MG.
Acessos
BRA 031496
BRA 015121
BRA 030333
BRA 022683
BRA 013251
BRA 031801
CV (%)
Produção de Matéria Seca (g)
Parte aérea
Parte radicular
23,1 a
7,0 a
17,9 ab
6,5 a
15,7 ab
5,3 a
15,1 ab
6,6 a
14,2 b
5,8 a
10,7 b
4,7 a
18,30
20,60
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey (P<0,05).
Figura 6. Produção média de matéria seca da parte aérea e radicular de seis acessos de amendoim forrageiro
aos 90 dias após o plantio em vasos, Inconfidentes/MG.
Estas considerações relacionam-se com os resultados apresentados anteriormente, confirmando a
maior perfilhação e crescimento horizontal (comprimento dos estolões) do acesso BRA 031496 com uma maior
produção de matéria seca da parte aérea em relação
aos demais acessos estudados.
Entretanto estes resultados diferem dos apresentados pelos mesmos acessos nas condições ambientais e de campo no Acre. Valentim et al. (2001) estudando 11 acessos (incluindo os acessos BRA 031801,
BRA 031496, BRA 015121, BRA 030333 e BRA 022683)
encontraram maior produtividade para os acessos BRA
031801 e BRA 030333, sendo respectivamente 2,39
t.ha-1 e 2,08 t.ha-1. Já o acesso BRA 031496, apresentou uma produção de 1,85 t.ha-1, seguido pelos acessos
BRA 015121 e BRA 022683 com 1,73 t.ha-1 e 1,11 t.ha-1
respectivamente.
Dentre os cinco acessos avaliados no estado do
Acre e em Inconfidentes/MG, o acesso de BRA 031496
revelou-se como promissor para implantação no Sul
de Minas, sendo mais produtivo que os demais nestas
condições climáticas e experimentais. Já o acesso BRA
031801 não apresentou bons resultados nas condições
citadas, sendo mais produtivo no estado do Acre (Amazônia Ocidental). É importante destacar as distintas condições experimentais nos dois trabalhos.
O acesso BRA 031801 é o único acesso do
experimento que pertence à espécie A repens, sendo
possivelmente este o motivo de seus resultados insatisfatórios nas condições do presente experimento no Sul
de Minas quando comparados às espécies de A. pintoi.
A tabela 3 e a figura 6 demonstram ainda que
os seis acessos de amendoim forrageiro não apresentaram diferenças estatísticas para a variável produção de
matéria seca da raiz, entretanto o acesso BRA 031496
apresentou a maior massa seca radicular (7,0g), seguido
dos acessos BRA 022683, BRA 015121, BRA 013251,
BRA 030333 e BRA 031801 com produção de matéria
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Avaliação da Produtividade e Adaptabilidade de Acessos de Amendoim Forrageiro para
Potencial Formação/Consorciação de Pastagens no Sul de Minas Gerais
seca radicular de 6,6g; 6,5g; 5,8g; 5,3g e 4,7g respectivamente.
Taxa de Sobrevivência das mudas
Conforme apresentado na tabela 4, obteve-se
nestas condições experimentais resultados satisfatórios
quanto a taxa de sobrevivência das mudas, onde todas
as mudas plantadas dos seis acessos sobreviveram ao
período de avaliação (90 dias), resultando em uma taxa
de sobrevivência de 100%.
Os valores de sobrevivência das mudas em
vasos quando comparados com os resultados referentes à taxa de pegamento em bandejas, indicam que há
uma limitação dos acessos ao pegamento dos estolões
repicados em bandejas nas condições experimentais
fornecidas como demonstra a figura 3. Entretanto a tabela 4 demonstra que, uma vez enraizadas, as mudas
cresceram bem, isto é, não houve mortalidade, mesmo
quando replantadas ou transferidas para condições mais
próximas às de campo, como foi o caso do plantio em
vasos.
Tabela 4. Taxa de sobrevivência das mudas de seis acessos de amendoim forrageiro aos 90 dias após o plantio
em vasos, Inconfidentes/MG.
Acessos de amendoim forrageiro
BRA 031801
BRA 031496
BRA 015121
BRA 013251
BRA 030333
BRA 022683
CV (%)
Taxa de Sobrevivência (%)
100 a
100 a
100 a
100 a
100 a
100 a
0,00
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey (P<0,05).
CONCLUSÕES
AGRADECIMENTOS
O acesso de A. pintoi BRA 031496 apresentou
os maiores índices de taxa de pegamento em bandejas (70%) e produção de matéria seca da parte aérea
(21,1g) e radicular (7,0g), além de boa perfilhação,
acompanhada de uma considerável taxa de crescimento
dos estolões.
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
de Minas Gerais (FAPEMIG) pela bolsa de iniciação
científica PIBIC.
O acesso de A. repens BRA 031801 apresentou
os menores resultados de taxa de pegamento em bandeja (33,33%), de comprimento médio dos estolões aos
45 e 90 dias após o plantio (15,6cm e 16,7cm respectivamente) e produção de matéria seca da parte aérea
(10,7g) e radicular (4,7g).
Após o enraizamento das mudas em bandejas
de isopor, todos os acessos promoveram 100% de
sobrevivência em vasos.
O acesso BRA 031496 se destacou nos experimentos, devendo ser empregado em futuros experimentos a campo visando sua multiplicação e recomendação
em programas de melhoramentos das pastagens do Sul
de Minas Gerais, dada a sua alta taxa de pegamento,
sobrevivência e produção de matéria seca. Porém mais
pesquisas são necessárias para investigar seu potencial
a campo em relação à cobertura do solo, aspectos
bromatológicos e persistência ao pastejo nas condições
do Sul de Minas.
44
Ao IFSULDEMINAS – Campus Inconfidentes
e seus servidores por todo o apoio de infra-estrutura e
mão de obra.
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2003.
45
Revista Agroambiental - Agosto/2011
Acúmulo de Açucares em Variedades de Cana Influenciadas por Diferentes
supressões de Irrigação e Adubação
Franklin Meireles de Oliveira *, Ignacio Aspiazú, Marcos Koiti Kondo, Iran Dias Borges, Rodinei Facco Pegoraro,
Poliana Batista de Aguilar
*Autor para correspondência
Parte da dissertação de Mestrado do primeiro autor, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Produção
Vegetal no Semiárido do Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Estadual de Montes Claros,
Av. Reinaldo Viana, 2.630, C. P. 91, Janaúba-MG, Brasil, 39.440-000.
Grupo do Departamento de Ciências Agrárias/ Manejo de grandes culturas, CCET-UNIMONTES-MG,
correspondente: [email protected]
endereço: Rua Grão Mogol, 474, Vila Formosa, Taiobeiras-MG, 39550-000.
RESUMO
Objetivou-se, neste trabalho, avaliar as características tecnológicas de acúmulo de açúcares e ação
da invertase de duas variedades de cana-de-açúcar submetidas a diferentes supressões de irrigação e níveis
de adubação. O experimento foi instalado na Fazenda Experimental da Universidade Estadual de Montes Claros,
em Janaúba-MG. O solo da área experimental foi classificado como Latossolo Vermelho Distrófico textura média,
(LVd); (EMBRAPA, 1999), o delineamento utilizado foi o de blocos casualizados, três repetições, em parcelas subdivididas
(2 x 3 x 6) , sendo duas variedades de cana-de-açúcar RB85- 5453 e SP80-1816, três épocas de supressão de
irrigação mais precipitação após corte (DIAC) caracterizadas aos 165, 195 e 225 dias, e na subparcela adubouse seis níveis de adubação mineral. As variáveis foram: brix, AR, ART, ATR e umidade. Os níveis de adubação
interferiram na qualidade do caldo obtendo uma média geral de 24,30° brix, com a variedade RB85-5453 obtendo
maiores valores para todas as variáveis analisadas. Observou-se valor de 0,8% AR na variedade SP80-1816 e
mínimo na variedade RB85-5453 com 0,35 %AR, no parâmetro ATR, verificou-se que a variedade RB85-5453
apresentou melhor resultado, tendo possibilidade de atingir teores superiores a 189,25 kg de ATR t-1. O nível 6
de adubação obteve melhor desempenho nas condições de realização deste trabalho. A RB85-5453 é a mais
indicada para a região, pois conseguiu altos níveis em produção industrial.
PALAVRAS CHAVE: análises industriais, fertilização, semiárido e sacarose.
Accumulation of Sugars in Sugarcane Varieties Affected by Deletions of
Different Irrigation and Fertilization
ABSTRACT
The aim of this study was to evaluate the technical characteristics of the accumulation of sugars and
invertase action of two varieties of sugar cane under different deletions of irrigation and fertilization levels. The
experiment was conducted at the Experimental Farm of Universidade Estadual de Montes Claros, in Janaúba-MG.
The experimental area was classified as Oxisol, medium texture, (Oxisol) (EMBRAPA, 1999), the design was a
randomized complete block, three replications in split plot (2 x 3 x 6), two varieties of cane sugar RB85-5453 and
SP80-1816, three times more precipitation suppression irrigation after cutting (DIAC) characterized at 165, 195 and
225 days, and fertilizer as subplots were six levels of mineral fertilizer. The variables were: brix, AR, TRS, TRS, and
humidity. Nutrient levels interfere with the quality of the juice obtained an overall average of 24.30 ° brix, with the
variety RB85-5453 obtaining higher values for all variables. Observed value of 0.8% AR in the variety SP80-1816
and minimum in variety RB85-5453 with 0.35% AR in the ATR parameter, it was found that the variety RB85-5453
showed better results, with the possibility of reaching levels higher than 189.25 kg TRS t-1. 6 The level of fertilization showed the best performance in terms of this work The RB85-5453 is the best for the region because high levels
achieved in industrial production.
KEYWORDS: industrial analysis, fertilization, semiarid and sucrose.
47
Acúmulo de Açucares em Variedades de Cana Influenciadas por Diferentes supressões de Irrigação e Adubação
INTRODUÇÃO
Em todo o Brasil, a cana-de-açúcar tem sido remunerada por seus índices qualitativos, de modo que,
quanto melhor a qualidade da matéria prima maior é o
preço pago por tonelada de colmos. A cultura da canade-açúcar passou a ser considerada, recentemente,
uma realidade no quesito energético, valorizada pela
capacidade que tem de gerar energia limpa e renovável. Em nível mundial, começa a haver uma corrida por
combustíveis mais ‘limpos’, entretanto, quando o assunto é expandir as fronteiras agrícolas para a produção de
bicombustíveis, teme-se os seus reflexos na diminuição
de áreas para a produção de alimentos. Essa parece ser
uma das grandes vantagens para o Brasil, país de dimensões continentais, dispondo, ainda, de terras para
a expansão de cultivo da cana-de-açúcar, além de renovação na extração de etanol uma sustentável fonte de
energia combustível.
Diversos fatores interferem na produção e maturação da cultura da cana-de-açúcar, sendo os principais a interação edafoclimática, o manejo da cultura e a
cultivar escolhida (César et al., 1987). Esses fatores que
interferem na produção e qualidade da cana-de-açúcar
estão sendo constantemente estudados sob diferentes
aspectos. Estudar a cultura no seu ambiente de desenvolvimento pode gerar uma enorme quantidade de informações para adequar o melhor manejo e cultivar para
os específicos ambientes (solo e clima). Assim é possível explorar ao máximo o local de produção para conseqüentemente maior lucratividade ou competitividade
para as agroindústrias da cana-de- açúcar.
A refratometria, na escala brix, constitui em um
método físico para medir a quantidade de sólidos solúveis presentes em uma amostra. Baseia-se em um sistema de graduação de aparelhos especialmente para ser
utilizado na indústria açucareira, mais precisamente na
análise de açúcares em geral que estejam em solução.
Segundo Delgado & César (1977); Paranhos (1987); Lopes & Parazzi (1992) a maturação da cana-de-açúcar
pode ser determinada pelos parâmetros tecnológicos
(Brix, Pol, Pureza e Açúcares Redutores).
Segundo Horii (2004) as cultivares de cana-deaçúcar, devido aos diferentes comportamentos de maturação, são agrupadas em precoces (quando apresentam
um teor de Pol acima de 13% no início de maio), médias
(quando atingem a maturação em julho) e tardias (pico
de maturação em agosto/setembro). Além disto podem
ser consideradas como de PUI curto (< 120 dias), PUI
médio (120 a 150 dias) e PUI longo (>150 dias).
Em algumas regiões do País, a exemplo do Nordeste e, especificamente, no Norte de Minas Gerais, há
interesses em se verticalizar a produção, aumentando
a produtividade agrícola e industrial, com melhorias na
qualidade da matéria-prima. Nesse sentido, os produtores Mineiros têm investido, maciçamente, em irrigação
48
e adubação, como principais tecnologias para o aumento de produtividade e qualidade da cultura de cana-deaçúcar. Considerando a escassez de recursos hídricos,
um dos problemas da expansão da agricultura irrigada
no Estado, inclusive no setor sucroalcooleiro, é imprescindível e urgente se estudar práticas de manejo mais
eficientes do uso de água, igualmente importante é se
identificar os principais problemas de ordem nutricional
das plantas, em cada área de produção, visando garantir
a sustentabilidade da exploração da cultura.
Na literatura, são variadas as informações sobre demanda hídrica da cana-de-açúcar, segundo Doorembos & Kassam (1979), a cultura exige entre 1500 e
2500 mm ano-1. Estudando os efeitos da irrigação sobre
a qualidade da cana ‘CP 65-357, submetida a três níveis
de irrigação (99, 85 e 65% da fração de esgotamento da
água do solo), no Estado do Texas, Wiedenfeld (1995)
obteve rendimentos em açúcar de 13, 10 e 7,5 t ha-1,
respectivamente, sem variar a pureza (87, 86 e 85%),
posteriormente, Wiedenfeld (2000) avaliou diferentes
tratamentos de estresse hídrico na cultura, em cinco diferentes estádios de desenvolvimento, registrando reduções de 11% no rendimento em açúcar, quando a cultura
foi submetida ao estresse no período entre 257 e 272
dias após o plantio e de 19% quando o estresse hídrico
ocorreu entre 302 e 347 dias após o plantio. Dantas Neto
et al. (2006) testaram lâminas de irrigação, variando entre 807 e 1343 mm, na cultura de cana-de-açúcar e verificaram comportamento linear positivo sobre as variáveis
de crescimento e quadrático para sacarose (POL), com
valor de 18,1% quando as plantas foram irrigadas com
1125 mm. Moura et al. (2005) observaram diferenças em
ºBrix, Pol e PCC em estudos, comparando a cana irrigada com a cana de sequeiro, aumentando 5,00, 10,79 e
8,63%, respectivamente, quando houve irrigação.
Dentro deste enfoque, procurando atender às
necessidades atuais de manejo, o presente trabalho
teve por objetivo estudar o comportamento de duas
variedades comerciais de cana-de-açúcar, quanto às
características tecnológicas de acúmulo de açúcares e
ação da invertase influenciada por diferentes épocas de
supressão de irrigação e distintos níveis de adubação,
nas condições edafoclimáticas da região Norte do Estado de Minas Gerais.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi instalado na Fazenda Experimental da Universidade Estadual de Montes Claros, em
Janaúba – MG. O solo da área experimental foi classificado como Latossolo Vermelho Distrófico textura
média, (LVd); (EMBRAPA, 1999), o delineamento utilizado foi o de blocos casualizados, com três repetições,
em parcelas subdivididas (2 x 3 x 6) , sendo utilizado
na parcela duas variedades de cana-de-açúcar RB855453 e SP80-1816 e três épocas distintas de supressão de irrigação mais precipitação após corte (DIAC)
Revista Agroambiental - Agosto/2011
caracterizadas aos 165, 195 e 225 dias, foi utilizado
o sistema de irrigação por aspersão convencional com
aspersores de baixa pressão. A lâmina de irrigação foi
determinada levando-se em consideração a precipitação e eficiência do sistema utilizado, bem como a evapotranspiração da cultura (ETc e Kc da cana-de-açúcar)
(BERNARDO et al., 2005), dispensando-a na ocorrência
de precipitação. Dados climáticos obtidos a partir da estação meteorológica da Epamig, Nova Porteirinha-MG.
Na subparcela adubou-se em uma só vez seis níveis de
adubação mineral, 1 (0 kg ha-1 de N e K2O), 2 (14 kg
ha-1 de N e 33 kg ha-1 de K2O), 3 (29 kg ha-1 de N e
66 kg ha-1 de K2O), 4 (43 kg ha-1 de N e 100 kg ha-1
de K2O), 5 (57 kg ha-1 de N e 133 kg ha-1 de K2O), 6
(71 kg ha-1 de N e 166 kg ha-1 de K2O) das fontes de
Sulfato de Amônia e Cloreto de Potássio. As variáveis
da cultura utilizadas foram: brix, AR, ART, ATR e umidade. Foram feitas duas analises de todas as parcelas, a
primeira analise no mês de agosto (300 dias após corte) e a segunda em setembro (330 dias após corte) de
2010 no laboratório Industrial da Usina São Judas Tadeu (SADA Bioenergia e Agricultura), no município de
Jaíba-MG, foram coletados 3 colmos inteiros aleatórios
em cada sub-parcela e transportados no transcorrer de
1 hora para o laboratório, simulando o tempo real de colheita, conforme (CONSECANA, 2006).
Análise de Brix e Pol foram feitos pelo método
da prensa hidráulica, sendo do caldo feita a análise do
Brix (refratométrico) e determinada por métodos sacarimétricos (polarímetros ou sacarímetros) o Pol% caldo =
(1,0078 x leit. sacar. + 0,0444) x (0,2607 – 0,009882 x
Brix). O bagaço foi chamado de “Bolo Úmido”. O peso
do bolo úmido (P.B.U.) foi obtido em balança eletrônica. Os resultados obtidos (leitura Sacarimétrica, Brix e
PBU), foram lançados em um programa de computador
(CHB), obtendo-se os demais resultados: Pol da cana,
fibra, pureza, AR, brix da cana, umidade, ATR e ART
com os seguintes cálculos: Fibra = (0,08 x PBU) + 0,876
(FERNANDES, 2000). O coeficiente “C” representa a
transformação do caldo extraído em todo o caldo absoluto, ou seja, é a extração de todo caldo proveniente da
prensa hidráulica. C = (1,0313 – 0,00575 x FIBRA). Posteriormente encontra-se o Brix% cana = Brix do caldo x
(1 – 0,01) x C e Pol% cana = Pol no caldo x (1 – 0,01 x
FIBRA) x C, a pureza foi obtida pela fórmula: PUREZA =
(Pol% cana) / (Brix% cana) x 100. O cálculo dos açúcares redutores no caldo foi feito pela fórmula: AR% caldo
= (3,641 – 0,0343 x PUREZA); a AR% cana = AR no caldo x (1 – 0,01 x FIBRA) x C. Os açúcares redutores totais foram determinados pela seguinte equação: ART%
caldo = (Pol no caldo / 0,95) + AR e ART% cana = ART
do caldo x (1 – 0,01 x FIBRA) x C. Conhecendo-se a Pol
da cana (PC) e os açúcares redutores da cana (ARC), o
açúcar total recuperável é calculado pela equação: ATR
= 10 x PC x 1,05263 x 0,905 + 10 x ARC x 0,905, onde:
10 x PC = pol por tonelada de cana; 1,05263 = coeficiente estequiométrico para a conversão da sacarose em
açúcares redutores; 0,905 = coeficiente de recuperação,
para uma perda industrial de 9,5% (nove e meio por cento) e 10 x ARC = açúcares redutores por tonelada de
cana. O Álcool hidratado estimado pelo calculo: ART%
caldo x 10 x 0,6475= 100% de álcool, posteriormente
transforma-se para 85%, considerada a eficiência do
processo fermentativo.
A distribuição da precipitação no experimento ao
longo do ciclo fenológico da cultura (360 dias), em intervalos quinzenais encontra-se na Figura 1.
Figura 1. Dados médios de temperatura, em graus Celsius (ºC), e precipitação pluvial acumulada por quinzena,
em milímetros (mm), em Janaúba-MG, de 01/10/2009 a 30/09/2010. Dados obtidos na Estação Climatológica da
EPAMIG, Nova Porteirinha-MG, 2011.
49
Acúmulo de Açucares em Variedades de Cana Influenciadas por Diferentes supressões de Irrigação e Adubação
As quantidades de água aplicadas por meio da
irrigação durante os três períodos de supressão foram,
L1 (165 DIAC) = 918 mm, L2 (195 DIAC) = 1.242 mm e
L3 (225 DIAC) = 1.539 mm. A precipitação aproveitável
(Pap) acumulada no mesmo período foi de 873,8; 891,2;
e 902,4 mm respectivamente, resultando em quantidades totais de água aplicadas para os três DIAC distintos
de L1 + Pap ( 165 DIAC)= 1.791,8mm, L2 + Pap (195
DIAC) = 2.133,2mm e L3 + Pap (225 DIAC)= 2.441,4
mm.
Foi feita a média dos dados de coleta dos dois
meses, esta media foi submetida à análise de variância e, quando houve diferença significativa pelo teste
F, realizou-se a comparação das medias pelo teste de
Scott Knott (p < 0,05) para todas as variáveis estudadas,
utilizando-se do programa software SISVAR.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Verifica-se na tabela 1 que há interações entre
variedades, DIAC e níveis de adubação, tendo a variedade RB85-5453 valores maiores para todas as variáveis analisadas, o que pode ser explicado pelo seu comportamento precoce em sua maturação.
Tabela 1. Resumo das análises de variância para variáveis Umidade, Brix, Açúcares teórico recuperáveis (ATR),
açúcares redutores (AR) e açucares redutores totais (ART), Janaúba, MG, 2010.
QUADRADOO MÉDIO
UMIDADE
BRIX
(%)
(%)
ATR
Kg t-1
ART
AR
F.V.
G.L
BLOCO
2
1,7759
0,560
7,32
0.3719
0,0004
VAR
1
241,8014*
150,92*
10583,892*
136.5075*
0,430*
DIAC
2
11,0759*
7,47*
419,7014*
4.7971
0,016*
VAR*DIAC
2
2,8071
3,51*
286,7941*
4.4560
0,027*
erro 1
10
1,9244
0,795
69,027
1.2784
0,0001
NÍV
5
1,1792
0,706
78,237
1.4494
0,026*
(%)
VAR*NÍV
5
0,6431
0,301
44,747
0.5487
0,010*
DIAC*NÍV
10
1,6670*
0,766
74,439
0.8988
0,018*
10
0,8145*
0,564
40,435
0.4561
0,004*
erro 2
60
0,7356
0,408
52,724
0.7683
0,0009
Total corrigido
107
CV 1 (%) =
2
2,09
3,67
4,82
5.96
4,33
CV 2 (%) =
1
1,29
2,63
4,21
4.62
5,14
Média geral:
2
66,496
24,308
172,388
18.986
0,598
VAR*DIAC*
NÍV
1 variedade (VAR), 2 período em dias de precipitação mais irrigação até a época de supressão (DIAC),3 níveis de
adubação (NIV). * valores significativos estatisticamente (p<0,05) pelo teste F.
As variedades apresentaram uma média geral
de 24,30° Brix (Tabela 1). Os atributos de qualidade da
matéria prima são os mais importantes para a indústria
canavieira, visto que vão definir os rendimentos em açúcar e álcool.
Constata-se na tabela 2 que as variedades diferiram estatisticamente na variável Brix em todos os
tratamentos, com a variedade RB85-5453 superando
em valores a variedade SP80-1816. Nos tratamentos da
variedade RB85-5453 não houve diferenças entre DIAC,
logo as diferentes supressões de irrigação não interferiram na porcentagem de sólidos solúveis acumulados
50
na variedade, porém, na SP80-1816 houve diferenças
entre os DIAC dentro de cada nível de adubação com
os menores valores encontrados nos menores DIAC. A
água disponível para a planta é essencial, uma vez que
promove a síntese, acúmulo e a translocação da sacarose nos colmos, podendo os produtores manipular a irrigação visando à melhoria da maturação. As diferentes
disponibilidades hídricas e nutricionais não afetaram a
umidade das variedades estudadas. Relatou-se valor
máximo de 70 % aos 165 DIAC no nível 2 na variedade SP80-1816 e mínimo de 64,36 % no nível 1 aos 195
DIAC da variedade RB85-5453.
Revista Agroambiental - Agosto/2011
TABELA 2 Médias dos valores de Brix em caldo e umidade no desdobramento do período de irrigação e precipitação (DIAC) com variedades dentro de cada nível de adubação.
NÍVEIS
1
2
3
4
5
6
BRIX
UMIDADE
(%)
(%)
DIAC
SP80-1816
RB85-5453
SP80-1816
RB85-5453
165
21,89bA
24,74aA
68,28aA
64,70 bA
195
21,41bA
24,84aA
68,10aA
64,36bA
225
22,79bA
23,81aA
67,41aA
64,98 bA
165
21,85bB
25,36aA
70,00aA
65,46 bA
195
23,35bA
25,33aA
67,55aB
64,88 bA
225
23,57bA
25,08aA
67,66aB
65,81 bA
165
22,58bB
25,22aA
68,56aA
65,45 bA
195
22,38bB
24,97aA
68,81aA
65,28 bA
225
24,03bA
25,71aA
67,18aA
64,61 bA
165
21,97bB
25,24aA
69,10aA
65,63 bA
195
23,25bA
24,57aA
67,68aA
66,00 bA
225
24,39bA
25,55aA
66,26aB
64,68 aA
165
23,36bA
25,68aA
67,96aA
65,06 bA
195
21,87bB
25,45aA
69,20aA
65,35 bA
225
24,07bA
26,25aA
66,73aB
63,80 bA
165
22,55bA
26,01aA
68,38aA
64,63 bA
195
23,06bA
25,10aA
67,65aA
65,30 bA
225
23,85bA
25,87aA
67,30aA
64,01 bA
(1)Nível 1 (0 kg ha-1 de N e K2O), 2 (14 kg ha-1 de N e 33 kg ha-1 de K2O), 3 (29 kg ha-1 de N e 66 kg ha-1 de
K2O), 4 (43 kg ha-1 de N e 100 kg ha-1 de K2O), 5 (57 kg ha-1 de N e 133 kg ha-1 de K2O), 6 (71 kg ha-1 de N e
166 kg ha-1 de K2O). (2)Médias dentro de cada atributo seguidas por letras minúsculas distintas na linha diferem
entre si estatisticamente pelo teste de Scott Knott a 5 % de probabilidade. (3)Médias dentro de cada nível seguidas por letras maiúsculas distintas na coluna diferem entre si estatisticamente pelo teste de Scott Knott a 5 % de
probabilidade.
Melo et al. (1998) verificaram, para diferentes
variedades, média de umidade de 70,64 % para cana
integral e 71,88 % para cana despontada, ratificando os
valores encontrados neste trabalho.
Na tabela 3 encontram-se as médias de níveis
de adubação dentro de cada DIAC e variedades. Para a
variável Brix, houve diferença significativa apenas aos
195 DIAC na variedade SP80-1816. Algumas variedades têm comportamento distinto com relação ao nitrogênio sendo capazes de utilizar mais nitrogênio do que outras, como também em relação o acúmulo de sacarose,
ou seja, altas doses podem não afetar a qualidade dos
caldos. É um efeito variável, que tem sido observado.
Vários trabalhos demonstraram que água e nitrogênio
estando em excesso, a planta não amadurece, correlacionando-se positivamente com a umidade e açúcares
redutores, e negativamente com a sacarose.
Nesta pesquisa, as variedades mostraram comportamento oposto, o nitrogênio não interferiu na quali-
dade do caldo pelo fato, principalmente, da quantidade
disponibilizada dos diferentes níveis de adubação nitrogenada que se encontraram de moderado para baixo de
acordo com CFSEMG (1999). No caso de cana irrigada,
a maturação deve ser monitorada mediante o controle
da aplicação de nitrogênio e da irrigação. A redução da
água para controle da irrigação diminui a absorção de
nitrogênio pela planta. Em regiões úmidas e quentes, é
difícil reduzir a quantidade de água do solo nos períodos
de maturação e, consequentemente, a quantidade de nitrogênio aplicada deve ser moderada.
O potássio favoreceu a síntese, o acúmulo e a
translocação da sacarose, aumentando a qualidade do
caldo das variedades pesquisadas. Verificou-se que as
diferenças em qualidade medidas por brix dos tratamentos foram influenciadas diretamente pelos diferentes
níveis de potássio, uma vez que estava mais disponível para a planta e participa de diversas funções indispensáveis na cana-de-açúcar, a exemplo do processo
fotossintético, determinante na síntese de açúcares.
51
Acúmulo de Açucares em Variedades de Cana Influenciadas por Diferentes supressões de Irrigação e Adubação
Tabela 3. Médias dos valores de brix e umidade interagindo cada nível de adubação dentro dos períodos
de supressões ( “DIAC”) e variedades.
VAR
DIAC
NÍVEIS
1
2
3
4
5
6
BRIX(%)
SP80-1816
RB85-5453
165
21,89a
21,85a
22,58a
21,97a
23,36a
22,55a
195
21,41a
23,35a
22,38b
23,25a
21,87b
23,06a
225
22,79a
23,57a
24,03a
24,39a
24,07a
23,85a
165
24,74a
25,36a
25,22a
25,24a
25,68a
26,01a
195
24,84a
25,33a
24,97a
24,57a
25,45a
25,10a
225
23,81a
25,08a
25,71a
25,55a
26,25a
25,87a
UMIDADE(%)
SP80-1816
RB85-5453
165
68,28a
70,00a
68,56a
69,10a
67,96a
68,38a
195
68,10a
67,55a
68,81a
67,68a
69,20a
67,65a
225
67,41a
67,66a
67,18a
66,26a
66,73a
67,30a
165
64,70a
65,46a
65,45a
65,63a
65,06a
64,63a
195
64,36a
64,88a
65,28a
66,00a
65,35a
65,30a
225
64,98a
65,81a
64,61a
64,68a
63,80a
64,01a
(1)Nível 1 (0 kg ha-1 de N e K O), 2 (14 kg ha-1 de N e 33 kg ha-1 de K O), 3 (29 kg ha-1 de N e 66 kg ha-1 de
2
2
K2O), 4 (43 kg ha-1 de N e 100 kg ha-1 de K2O), 5 (57 kg ha-1 de N e 133 kg ha-1 de K2O), 6 (71 kg ha-1 de N e
166 kg ha-1 de K2O). (2)Médias dentro de cada atributo seguidas por letras minúsculas distintas na linha diferem
entre si estatisticamente pelo teste de Scott Knott a 5 % de probabilidade.
Sua ação está intimamente associada à natureza catalítica na formação de carboidratos e no desdobramento e
translocação do amido.
Dantas Neto et al. (2006), estudando diferentes
lâminas totais de irrigação e doses de adubação nitrogênio + potássio, não registraram diferença na qualidade
tecnológica da variedade SP 79-1011, sugerindo que a
adubação com nitrogênio não interfere na qualidade tecnológica da cana-de-açúcar, mas influencia no primeiro estádio fenológico, o vegetativo, assim corroborando
com os obtidos por Costa et al. (2003), que verificaram
que a adubação nitrogenada (100 kg ha-1) não afetou a
qualidade tecnológica da cana-de-açúcar.
Prado e Pancelli (2006) obtiveram resultados na
primeira soqueira, e observaram que não houve efeito
significativo dos diferentes tratamentos de adubação nitrogenada na qualidade tecnológica dos colmos da soqueira de cana. Moura et al. (2005) encontraram valores
próximos de Brix para diferentes doses de adubação de
cobertura de nitrogênio com irrigação, com valor médio
de 19,76 °Brix de variedade não relatada.
tivamente. No parâmetro AR observou-se interação em
todos os tratamentos com a variedade SP80-1816 superando os valores na maioria dos tratamentos. Esses
valores estão dentro dos aceitáveis na produção sucroalcooleira, pois esse parâmetro em grandes quantidades
se encontra na condição de prejuízos na produção de
álcool e principalmente de açúcar.
Destacou-se na tabela 4 valor máximo de 0,8%
AR no DIAC 165 da variedade SP80-1816 no nível 2 e
mínimo na variedade RB85-5453 aos 225 DIAC no nível
4 com 0,35% AR. Estes valores dão indícios que um período vegetativo de boa disponibilidade hídrica e nutritiva
para a cultura da cana na região Nortemineira desempenha bons rendimentos de sacarose acumulada no colmo
da cana e boa produtividade que atenda ao processamento industrial de açúcar e álcool.
Prado e Pancelli (2006), analisando diferentes adubações com nitrogênio, encontraram valores
de 0,65% AR com adubação de 200 kg ha-1, e 0,83%
AR com 0 kg ha-1, evidenciaram que os diferentes tratamentos não influenciaram esta qualidade tecnológica
da cana. Esses resultados corroboram os encontrados
neste trabalho, demonstrando que os diferentes níveis
de adubação não foram influentes na %AR (tabela 4).
Na tabela 4 têm-se os valores médios AR, ATR
e ART, que apresentaram valores médios de 0,598%,
172,389kg ATR t-1 e 18,98 % ART (tabela 1 ), respecTabela 4. Médias dos valores de porcentagens de Açúcares redutores (AR), Açúcares teórico recuperáveis (ATR)
e litros álcool esperado por tonelada de cana (LITRS ÁLCOOL) do caldo no desdobramento do período de irrigação
e precipitação (DIAC) com variedades dentro de cada nível de adubação.
52
Revista Agroambiental - Agosto/2011
AR(%)
NÍVEIS
1
2
3
4
5
6
ATR(%)
ART(%)
DIAC
SP80-1816
RB85-5453
SP80-1816
RB85-5453
SP80-1816
RB85-5453
165
0,55aC
0,59aA
166,92bA
181,23aA
18.44bA
20.02 aA
195
0,74aA
0,55bB
159,74bA
180,82aA
17.65bA
19.98 aA
225
0,68aB
0,62bA
166,35bA
180,11aA
18.38aA
19.90 aA
165
0,80aA
0,62bA
147,86bB
181,06aA
15.78bB
20.00 aA
195
0,73aB
0,53bB
162,21bA
181,47aA
17.48bA
20.03 aA
225
0,67aB
0,55bB
166,60aA
175,26aA
18.04aA
19.36 aA
165
0,60aA
0,56aA
161,67bB
181,96aA
17.68bB
20.10 aA
195
0,72aC
0,53bA
161,53bB
181,34aA
17.66bB
20.04 aA
225
0,52aA
0,46bB
175,35aA
186,44aA
19.37aA
20.60 aA
165
0,67aA
0,59bA
151,39bB
179,47aA
17.04bB
19.83 aA
195
0,67aB
0,44bB
160,16bB
178,98aA
17.69bB
19.77 aA
225
0,59aC
0,35bC
173,57bA
186,53aA
19.18aA
20.61 aA
165
0,68aA
0,60bA
163,18bA
181,88aA
17.71bA
20.09 aA
195
0,65aA
0,56bB
153,76bA
179,65aA
17.06bA
19.85 aA
225
0,65aA
0,54bB
168,86bA
183,44aA
18.65bA
20.27 aA
165
0,56aB
0,49bB
156,87bA
189,25aA
17.33bA
20.91 aA
195
0,66aA
0,47bB
162,12bA
185,46aA
17.91bA
20.49 aA
225
0,69aA
0,54bA
166,59bA
186,76aA
18.40bA
20.08 aA
(1)Nível 1 (0 kg ha-1 de N e K2O), 2 (14 kg ha-1 de N e 33 kg ha-1 de K2O), 3 (29 kg ha-1 de N e 66 kg ha-1 de
K2O), 4 (43 kg ha-1 de N e 100 kg ha-1 de K2O), 5 (57 kg ha-1 de N e 133 kg ha-1 de K2O), 6 (71 kg ha-1 de N e
166 kg ha-1 de K2O). (2)Médias dentro de cada atributo seguidas por letras minúsculas distintas na linha diferem
entre si estatisticamente pelo teste de Scott Knott a 5 % de probabilidade. (3)Médias dentro de cada nível seguidas por letras maiúsculas distintas na coluna diferem entre si estatisticamente pelo teste de Scott Knott a 5 % de
probabilidade
Dos atributos analisados, o açúcar total recuperável (ATR) é muito importante tanto para indústria
quanto para os produtores. Pois em função dele é que
as unidades industriais elaboram o preço pago aos produtores, seguindo uma metodologia descrita pela (CONSECANA, 2006).
Observando o parâmetro ATR, verificou-se que
a variedade RB85-5453 apresentou melhor resultado,
tendo possibilidade de atingir teores superiores a 189,25
kg de ATR t-1. Nos tratamentos de DIAC houve diferenças significativas (p<0,05) apenas aos 165 DIAC nos níveis 2, 3 e 4, indicando que maior disponibilidade hídrica
favorece o rendimento teórico de açúcar.
Na variável ART a variedade SP obteve um
desempenho melhor com valores menores em porcen-
tagem, atingindo os 17,04% ART no manejo 4 aos 165
DIAP, valor máximo de 19,37% ART no manejo 3 aos
225 DIAP este não diferiu dos valores encontrados na
variedade SP. Isto é evidente uma vez que os valores de
% AR na variedade SP foram maiores, tendo uma tendência de maior recuperação na variedade RB de menor
% AR. Os manejos de adubação não diferiram nos valores de %ART (tabela 2), não influenciando seu resultado
final.
Todos os índices discutidos neste trabalho são
usados como base de cálculo para se determinar a
quantidade de açúcares totais recuperáveis, expressos em kg de ATR t-1 de cana. Pelos resultados
desta pesquisa comprova-se que a qualidade da matéria-prima pode ser melhorada com a irrigação.
Tabela 5 Médias dos valores de porcentagens de açúcares redutores (AR) , açúcares teórico recuperáveis (ATR)
do caldo e litros álcool esperado por tonelada de cana (LITRS ALCOOL), interagindo cada nível de adubação dentro
dos períodos ( Dias de irrigação mais precipitação após corte “DIAC”) e variedades
53
Acúmulo de Açucares em Variedades de Cana Influenciadas por Diferentes supressões de Irrigação e Adubação
VAR
DIAC
NÍVEIS
1
2
3
4
5
6
AR (%)
SP80-1816
RB85-5453
SP80-1816
RB85-5453
165
0,55 c
0,80 a
0,60 c
0,67 b
0,68 b
0,56c
195
0,74 a
0,73 a
0,72 a
0,67 b
0,65 b
0,66b
225
0,68 a
0,67 a
0,52 c
0,59 b
0,65 a
0,69a
165
0,59 a
0,62 a
0,56 a
0,59 a
0,60 a
0,49b
195
0,55 a
0,53 a
0,53 a
0,44 b
0,56 a
0,47b
225
0,62 a
0,55 b
0,46 c
ATR (kg t-1)
0,35 d
0,54 c
0,54c
165
166,92a
147,86b
161,67a
151,39b
161,67a
156,87b
195
159,74a
162,21a
161,53a
160,16a
153,76a
162,12a
225
166,35a
166,60a
175,35a
173,57a
168,86a
166,59a
165
181,23a
181,06a
181,96a
179,47a
181,88a
189,25a
195
180,82a
181,47a
181,34a
178,98a
179,65a
185,46a
225
180,11a
175,26a
186,44a
186,53a
183,44a
186,76a
ART (%)
SP80-1816
RB85-5453
165
18.44 a
15.78 b
17.68 a
17.04 a
17.71 a
17.33 a
195
17.65 a
17.48 a
17.66 a
17.69 a
17.06 a
17.91 a
225
18.38 a
18.04 a
19.37 a
19.18 a
18.65 a
18.40 a
165
20.02 a
20.00 a
20.10 a
19.83 a
20.09 a
20.91 a
195
19.98 a
20.03 a
20.04 a
19.77 a
19.85 a
20.49 a
225
19.90 a
19.36 a
20.60 a
20.61 a
20.27 a
20.08 a
CONCLUSÃO
1. O período de 225 DIAC foi o melhor em desempenho, porém tendo valores próximos em qualidade
tecnológica nas demais supressões.
2. O nível 6 de adubação obteve melhor desempenho nas condições de realização deste trabalho.
3. A variedade RB85-5453 teve maior desempenho em qualidade tecnológica mostrando-se adequada
a colheita mais cedo na região.
4. As variedades RB85-5453 e SP80-1816 são
promissoras para região Nortemineira, tendo boa adaptação às condições edafoclimáticas, porém a variedade
RB85-5453 é a mais indicada para a região, nas condições de realização deste trabalho, assim atendendo às
exigências de produção sucroalcooleira no seu terceiro
ciclo de produtividade.
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N fertilizer. Agricultural Water Management., Elsevier,
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55
Revista Agroambiental - Agosto/2011
Avaliação da Sobrevivência e do Desenvolvimento de Mudas de Capim Vetiver
(Vetiveria zizanioides) em Raízes Nuas e Produzidas em Saquinhos de Polietileno
Plantadas em Diferentes Espaçamentos
Leandro Luiz de Andrade - Tecnólogo em Gestão Ambiental pelo IFSULDEMINAS Campus Inconfidentes, Praça
Tiradentes, 416, centro, Inconfidentes/MG. CEP: 37576-000 - [email protected], Lilian Vilela de
Andrade Pinto - Prof.ª DSc. no IFSULDEMINAS Campus Inconfidentes, Praça Tiradentes, 416, centro,
Inconfidentes/MG. CEP: 37576-000 - [email protected], Michender Werison Motta Pereira - Pós-Graduando
em Gestão Ambiental no IFSULDEMINAS Campus Inconfidentes, Praça Tiradentes, 416, centro, Inconfidentes/
MG. CEP: 37576-000 - [email protected], Rafael Xavier Souza - Graduando Tecnologia em
Gestão Ambiental no IFSULDEMINAS Campus Inconfidentes, Praça Tiradentes, 416, centro, Inconfidentes/MG.
CEP: 37576-000, [email protected]
RESUMO
A utilização de plantas para estabilização de solos caracteriza-se como uma técnica de baixo custo
quando comparado com as grandes obras de bioengenharia. Desta forma, o capim vetiver (Vetiveria zizanioides)
apresenta-se como uma boa opção de planta pioneira na reabilitação e estabilização de solos pois possui uma
enorme capacidade de sobreviver à secas prolongadas uma vez que suas raízes atingem uma enorme profundidade (até 3 m), lhe proporcionando retirar água do solo mesmo nas épocas de estiagem. Além disso, apresentam
grande capacidade na estabilização de solos sujeitos a processos erosivos e com déficit nutricional, aumentando o
poder de agregação do solo. Neste sentido o objetivo do presente trabalho foi avaliar a sobrevivência e desenvolvimento de mudas de capim vetiver (V. zizanioides) em raízes nuas e produzidas em saquinhos de polietileno
plantadas em diferentes espaçamentos, visando-se futuros projetos de proteção de encostas com esta gramínea.
O experimento foi realizado na fazenda escola do IFSULDEMINAS – campus Inconfidentes, MG, em uma encosta
experimental, com declividade média de 30° e rampa de 6 m. Foram avaliados 2 tipos de mudas de capim vetiver
(raízes nuas e produzidas em saquinhos de polietileno) e 9 diferentes espaçamentos. Os parâmetros mensurados
foram a taxa de sobrevivência das mudas 60 dias após o plantio; altura e diâmetro ao nível do solo das plantas no
período de 150 à 270 dias após o plantio. Concluiu-se que: i) a taxa de sobrevivência, o diâmetro ao nível do solo
e a altura das plantas de vetiver não é influenciada pelo espaçamento de plantio; ii) as plantas provenientes de
mudas de vetiver produzidas em saquinhos de polietileno apresentam taxa de sobrevivência e diâmetro ao nível
do solo superior àquelas plantadas diretamente no campo (raízes nuas); e iii) mudas produzidas em raízes nuas
inicialmente apresentam menores valores de altura, entretanto após certo período de tempo estas mudas atingem
valores similares ou maiores que os apresentados por mudas produzidas em saquinhos de polietileno.
Palavras-Chave: Proteção de encostas, diâmetro ao nível do solo, taxa de sobrevivência, altura de plantas,
produção de mudas.
Evaluation of Survival and Development of Seedlings of Vetiver Grass
(Vetiveria zizanioides) in Bare Rooted and Grown in Polyethylene Bags Planted
at Different Spacings
ABSTRACT
The use of plants for soil stabilization is characterized as a low cost technique compared to the great works
of bioengineering. Thus, the vetiver grass shows itself as a good choice of pioneer plant in the rehabilitation and soil
stabilization, as it has a great capacity to survive prolonged drought because its roots reach an enormous depth of
3m permiting it to remove water from ground even in times of drought, besides they have a high capacity to stabilize
soil erosion or suffering nutritional deficits, increasing the power of soil aggregation. In this sense the purpose of
this study is to evaluate the survival and development of seedlings of vetiver grass (Vetiveria zizanioides) in bare
root and grown in polyethylene bags planted at different spacings, aiming future projects to protect the slopes with
this grass. The experiment was conducted at the school IFSULDEMINAS - campus Inconfidentes/MG/Brazil in an
experimental slope of 30 degrees and ramp of 6 m. It was planted two types of seedlings of vetiver grass (bare rooted and grown in polyethylene bags) and 9 different spacings. The measured parameters were the survival rate of
seedlings 60 days after planting, height and diameter at ground level of the plants in the period of 150 to 270 days
after planting. It was concluded that: i) the survival rate, diameter at ground level and plant height of vetiver is not
57
Avaliação da Sobrevivência e do Desenvolvimento de Mudas de Capim Vetiver (Vetiveria zizanioides) em Raízes
Nuas e Produzidas em Saquinhos de Polietileno Plantadas em Diferentes Espaçamentos
influenced by plant spacing. ii) the plants from seedlings
of vetiver grown in polyethylene bags have survival rate
and diameter at ground level higher than those planted
directly in the field (bare root) and iii) seedlings grown in
bare root initially have lower values of height, however
after a certain period of time these seedlings reach similar or higher values than those submitted by seedlings
grown in polythene bags.
Keywords: Protection of slopes, diameter at ground
level, survival rate, plant height, seedling production.
INTRODUÇÃO
O solo, substrato básico a sobrevivência das
plantas suporta sobre sua superfície os mais diversos
usos para satisfazer as necessidades humanas de
obter fonte para seu sustento e sobrevivência. Os usos
do solo trazem alterações drásticas em suas características físicas decorrentes da exposição do mesmo as
águas de precipitação que originam as erosões (Bertoni
& Lom-bardi Neto, 1990).
A erosão hídrica, em sua maioria, é o resultado
das águas que escoam sobre as encostas, causando o
arraste de partículas de solo e material orgânico para
regiões mais baixas da paisagem/encosta. A encosta
quando desprotegida, apresentando superfície nua, sem
estrutura que contenha a força das águas fica propicia
ao processo de erosão. Com o início do processo erosivo a desestabilização do solo aumenta pois a derivação
do solo leva consigo não apenas material superficial,
carregando também grande parte da matéria orgânica
integrante deste solo (Bertoni & Lombardi Neto, 1990).
Moreira (2006) destaca que a degradação é
um processo induzido pelo homem ou por acidente natural que diminui a atual e futura capacidade produtiva
do ecossistema.
Segundo Castro (2007), a principal forma de
degradação do solo constitui-se do processo erosivo.
Caputi (1997) destaca que no mundo inteiro a perda de
solos cultivados em decorrência do arraste de partículas
por águas provenientes de precipitações representa milhões de toneladas por ano. Isso provoca o empobrecimento dos terrenos cultivados, tornando-os cada vez mais
improdutivos, numa época em que a população mundial
aumenta significativamente, e a demanda por alimentos,
conseqüentemente, também aumenta (Pereira, 2006).
Além dos prejuízos econômico-ambientais, os
processos erosivos podem afetar diretamente a sociedade.
Grandes cidades sofrem com o mau planejamento que
amplia as possibilidades de crescimento descontrolado,
normalmente dando margem para que a cidade cresça
em direção as encostas. O fato real de que cidades são
fundadas ao pé de encostas traz diversas conseqüências, pois com o início das chuvas as áreas
58
de encostas ficam instáveis a tal ponto que ocasionam
deslizamentos que levam até a margem dos rios tudo
que está à sua frente, casas, carros quando não vidas.
A utilização de plantas para estabilização de
solos caracteriza-se como uma técnica de baixo custo
quando comparado com as grandes obras de bioengenharia (Martinho, 2005).
Desta forma, o capim vetiver apresenta-se como
uma boa opção de planta pioneira na reabilitação e estabilização de solos, pois possuí uma enorme capacidade
de sobreviver à secas prolongadas uma vez que suas
raízes atingem uma enorme profundidade lhe proporcionando retirar água do solo mesmo nas épocas de estiagem, alem de apresentarem grande capacidade em
estabilizar solos sujeitos ou sofrendo processos erosivos
e com déficit nutricional aumentando o poder de agregação do solo (Castro, 2007).
O vetiver é usado na conservação de solos agrícolas, estabilização de locais inclinados, reabilitação de
solos salinos e contaminados, como barreira efetiva para
controle de erosão e sedimentos (Truong & Hart, 2001).
Segundo Pereira (2006), o capim vetiver apresenta rápido crescimento em altura e diâmetro. Este
bom crescimento se deve principalmente a capacidade
da planta em aproveitar melhor o nitrogênio incorporado
ao solo.
O vetiver se adapta às mais diversas e inóspitas
condições edafoclimáticas, assim sendo se desenvolve
onde nenhuma outra planta sobreviveria (Truong, 2000).
Extremamente rústica, o vetiver é simultaneamente hidrófilo e xerófilo, além de resistir a extremos hídricos
(300–3.000 mm/ano), também tolera extremos térmicos
(-14ºC a +55ºC). O vetiver vegeta em praticamente qualquer tipo de terreno, tolerando solos de baixa fertilidade,
e com valores extremos de pH (3-10), salinidade e toxidez. Caso venha a ser enterrado, pelo deslocamento e o
acumulo de sedimentos, os nós do capim vetiver emitem
novas raízes, que nivelam a planta com a nova superfície do terreno.
Neste sentido o objetivo do presente trabalho foi
avaliar a sobrevivência e o desenvolvimento de mudas
de capim vetiver (V. zizanioides) em raízes nuas e
produzidas em saquinhos de polietileno plantadas em
diferentes espaçamentos, visando-se futuros projetos
de proteção de encostas com esta gramínea.
MATERIAIS E MÉTODOS
Caracterização da área
O experimento foi instalado em uma encosta experimental com declividade média de 30º e rampa de
6m. As mudas de capim vetiver (V. zizanioides) foram
plantadas em 9 espaçamentos conforme demonstra a
tabela 1.
Revista Agroambiental - Agosto/2011
Tabela 1. Espaçamentos de plantio utilizados no experimento
Espaçamentos
Entre Linhas (m)
Entre plantas (m)
1x0,15
1
0,15
1x0,30
1
0,30
1x0,45
1
0,45
1,5x0,15
1,5
0,15
1,5x0,30
1,5
0,30
1,5x0,45
1,5
0,45
2x0,15
2
0,15
2x0,30
2
0,30
2x0,45
2
0,45
O município de Inconfidentes localiza-se no sul
do estado de Minas Gerais e apresenta altitude média
de 855m e posição geográfica de latitude S 22° 19” 00’e
longitude W 46° 19” 40’. O clima da região, segundo a
classificação de KOËPPEN é do tipo tropical úmido
(CWb), com duas estações definidas: chuvosa (outubro
a março) e seca (abril a setembro), com médias anuais
de 1.800mm e 19ºC de precipitação e temperatura,
respectivamente.
foram:
Os parâmetros mensurados no experimento
i) taxa de sobrevivência das mudas, sendo determinada
com base no número de mudas existentes na área 60
dias após o plantio em relação ao número de mudas
plantadas.
ii) altura das plantas a cada 30 dias (Figura 1A).
iii) diâmetro ao nível do solo das plantas a cada 30 dias
(Figura 1B).
Os parâmetros altura e diâmetro das plantas foram determinados no período de 150 a 270 dias após o
plantio, com auxilio de fita métrica e paquímetro digital,
respectivamente, totalizando 5 medições.
Todos os parâmetros mensurados foram avaliados em função do espaçamento de plantio e do tipo de
muda utilizada.
Figura 1. A) Avaliação da altura das plantas de vetiver, com fita métrica. B) Avaliação do diâmetro ao nível do solo
das plantas de vetiver com auxílio de paquímetro digital.
Experimento 1 – Efeito do espaçamento de
plantio
Para avaliar o efeito do espaçamento de plantio
em plantas de capim vetiver foi utilizado o delineamento experimental em blocos casualizados, sendo 9 tratamentos (espaçamentos, conforme tabela 1) e 3 blocos/
repetições.
A área de cada parcela é de 15 m2, sendo
2,5m de largura por 6m de comprimento. Para controlar o efeito dos diferentes tratamentos deixou-se uma
bordadura com plantas de 0,5m nas laterais de cada
parcela,totalizando uma área útil de 9 m2(Figura 2).
59
Avaliação da Sobrevivência e do Desenvolvimento de Mudas de Capim Vetiver (Vetiveria zizanioides) em Raízes
Nuas e Produzidas em Saquinhos de Polietileno Plantadas em Diferentes Espaçamentos
Figura 2. Croqui de um bloco do experimento: A) Bloco com as 9 parcelas dos diferentes espaçamentos. B) Parcela de 15 m2, bordadura de 0,5 m nas laterais da parcela e área útil de 9 m2.
Experimento 2 – Efeito do tipo de muda
Para avaliar o efeito do tipo de muda foram utilizados
dois tratamentos, sendo mudas em raízes nuas e mudas
produzidas em saquinhos de polietileno (Figura 3), com
320 repetições (plantas).
Figura 3. Mudas de vetiver: A) Produzidas em saquinhos de polietileno. B) Produzidas em raízes nuas.
As mudas de saquinhos foram selecionadas e
padronizadas a partir de matrizes de qualidade, fazendo-se o uso de substrato composto por esterco bovino
previamente curtido e terra de barranco. As mudas ficaram no viveiro de mudas do IFSULDEMINAS - Campus
60
Inconfidentes por 90 dias e em seguida foram plantadas
na encosta experimental. Já as mudas em raízes nuas
foram desmembradas de matrizes de qualidade e plantadas diretamente na encosta experimental (Figura 4).
Revista Agroambiental - Agosto/2011
Figura 4. Plantio das mudas na encosta experimental, Inconfidentes/MG.
Análise estatística
A análise dos dados dos parâmetros mensurados foi realizada por meio da análise de variância
(ANOVA) e as médias dos dados foram comparadas
pelo teste de Tukey, ao nível de 5% significância,
usando-se o programa SISVAR 4.3 (Ferreira, 2000).
RESULTADOS E DISCUSÃO
Experimento 1 – Efeito do espaçamento
de plantio
Taxa de sobrevivência
Os diferentes espaçamentos de plantio
estudados não apresentaram influência significativa na
taxa sobrevivência das mudas de vetiver, conforme
demonstrado pela tabela 2.
Tabela 2. Taxa de sobrevivência de mudas de vetiver sob diferentes espaçamentos, Inconfidentes/MG.
Espaçamento (m)
2 x 0,45
Taxa de sobrevivência (%)
2 x 0,30
89,81 a
1,5 x 0,15
91,48 a
1,5 x 0,30
93,33 a
1 x 0,45
93,88 a
1,5 x 0,45
94,29 a
1 x 0,30
94,71 a
1 x 0,15
95,23 a
2 x 0,15
96,76 a
CV
5,29%
85,72 a
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey (P<0,05).
Altura das plantas
A altura das plantas de capim vetiver não
apresentou diferença significativa em função do espaçamento de plantio ( Tabela 3 ). Isso se deve ao fato
de que as plantas de vetiver por conter um sistema radicular muito profundo, que segundo Pereira (2006) pode alcançar 3 metros de profundidade, não competem
entre si mesmo em diferentes espaçamentos.
61
Avaliação da Sobrevivência e do Desenvolvimento de Mudas de Capim Vetiver (Vetiveria zizanioides) em Raízes
Nuas e Produzidas em Saquinhos de Polietileno Plantadas em Diferentes Espaçamentos
Tabela 3. Altura, em metros, das plantas de capim vetiver, dos 150 aos 270 dias após o plantio em diferentes
espaçamentos, Inconfidentes/MG.
Idade (dias)
Crescimento no Período (m)
Espaçamento (m)
150
180
210
240
270
1 x 0,15
0,66 a
0,76 a
0,92 a
1,25 a
1,32 a
0,66 a
1 x 0,30
0,62 a
0,85 a
0,96 a
1,26 a
1,36 a
0,74 a
1 x 0,45
0,52 a
0,65 a
0,79 a
1,00 a
1,15
0,63 a
1,5 x 0,15
0,67 a
0,80 a
0,86 a
1,06 a
1,25
0,58 a
1,5 x 0,30
0,70 a
0,89 a
0,94 a
1,15 a
1,22
0,52 a
1,5 x 0,45
0,69 a
0,83 a
0,94 a
1,18 a
1,27
0,58 a
2 x 0,15
0,63 a
0,81 a
0,88 a
1,08 a
1,19
0,56 a
2 x 0,30
0,48 a
0,61 a
0,78 a
1,04 a
1,18
0,70 a
2 x 0,45
0,53 a
0,65 a
0,80 a
0,97 a
1,12
0,59 a
CV (%)
17,19
14,63
10,34
16,90
14,27
13,34
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey (P<0,05).
Diâmetro das plantas
O diâmetro ao nível do solo das plantas em função do espaçamento de plantio não apresentou diferença estatística para nenhum dos espaçamentos testados.
Destaca-se que todos os espaçamentos testados apresentaram crescimento similar (Figura 5).
Estes resultados são importantes do ponto de
vista de proteção do solo pelas plantas. Conforme descrito por Truong & Hart (2001), quanto maior diâmetro
ao nível do solo maior a capacidade de retenção de sedimentos da planta.
Estes resultados demonstram que o plantio de
vetiver em encostas inclinadas pode ser efetuado levando-se em consideração as necessidades do projeto, ou
seja, em caso de necessidade de cobertura do solo mais
rápida, deverão ser utilizados espaçamentos menores,
e caso a necessidade seja por um menor custo de proteção, poderão ser utilizados espaçamentos de plantio
maiores, que empregam menos mudas, insumos e mão
de obra. Desta forma, em ambas as situações o diâmetro ao nível do solo das plantas terá comportamento similar.
Figura 5. Diâmetro ao nível do solo, em milímetros, das plantas de capim vetiver, dos 150 aos 270 dias após o
plantio em diferentes espaçamentos, Inconfidentes/MG.
62
Revista Agroambiental - Agosto/2011
Experimento 2 – Efeito do tipo de muda
ferença significativa (Tabela 4), onde o plantio de mudas em raízes nuas apresentou taxa de sobrevivência
Taxa de sobrevivência
inferior (86,85%) às mudas previamente preparadas em
Quanto ao tipo de muda, pode-se observar di- saquinhos de polietileno (95,76 %).
Tabela 4. Taxa de sobrevivência de mudas de vetiver em raízes nuas e produzidas em saquinhos de polietileno,
Inconfidentes/MG.
Tipo de Muda
Mudas em Saquinhos de polietileno
Mudas em “Raizes Nuas”
CV
Taxa de Sobrevivência (%)
95,76 a
86,85 b
7,30%
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey (P<0,05).
Altura das plantas
Estes resultados estão relacionados ao fato
das mudas em saquinhos de polietileno já estarem enraizadas e aclimatadas no momento do plantio, tendo,
portanto, maiores condições e meios de sobreviver no
campo quando comparadas as mudas em raízes nuas
que não passam por este processo.
Pereira (2006) referenciou os benefícios de
utilizarem-se mudas de vetiver enraizadas em saquinhos, dado a uma maior taxa de pegamento, apesar do
aumento do custo de plantio.
Entretanto destacam-se os dois tipos de mudas
apresentaram taxa de sobrevivência satisfatória, estando acima de 85%.
As plantas de capim vetiver, provenientes de
mudas em raízes nuas, inicialmente possuem desenvolvimento em altura inferior àquelas produzidas em
saquinhos de polietileno, entretanto, com o passar do
tempo, aos 240 dias após o plantio, o valor da altura
destas mudas alcançam estatisticamente aquelas produzidas em saquinhos de polietileno, podendo inclusive
ultrapassá-las (Tabela 5, Figura 6).
No período analisado, as plantas provenientes
de mudas em raízes nuas destacaram-se com o maior
crescimento no período, sendo 0,70m, não diferindo
estatisticamente das mudas produzidas em saquinhos
que obtiveram crescimento de 0,61m (Tabela 5).
Tabela 5. Altura, em metros, de plantas de capim vetiver, dos 150 aos 270 dias após o plantio das mudas em
raízes nuas e produzidas em saquinhos de polietileno, Inconfidentes/MG.
Idade (dias)
Crescimento no Período (m)
Espaçamento (m)
150
180
210
240
270
Saquinhos
0,57 a
0,71 a
0,83 a
1,09 a
1,18 a
0,61 a
Raizes Nuas
0,50 b
0,62 a
0,71 b
1,00 a
1,20 a
0,70 a
CV (%)
10,51
13,96
11,71
17,79
13,20
13,98
63
Avaliação da Sobrevivência e do Desenvolvimento de Mudas de Capim Vetiver (Vetiveria zizanioides) em Raízes
Nuas e Produzidas em Saquinhos de Polietileno Plantadas em Diferentes Espaçamentos
Figura 6. Altura (m) e desvio padrão de plantas de capim vetiver, dos 150 aos 270 dias após o plantio das mudas
em raízes nuas e produzidas em saquinhos de polietileno, Inconfidentes/MG.
Diâmetro das plantas
O diâmetro ao nível do solo em função do tipo de
muda apresentou diferença estatística apenas aos 270
dias, conforme demonstra a tabela 6. Observa-se que
em todo o período analisado as mudas produzidas em
saquinhos de polietileno apresentaram diâmetro ao nível
do solo superior àquelas em raízes nuas. Estes resultados relacionam-se com os apresentados pela análise da
taxa de sobrevivência das mudas, onde as mudas de
vetiver produzidas em saquinhos de polietileno apresentam taxa de sobrevivência no campo superior àquelas
plantadas diretamente no campo (raízes nuas).
Tabela 6. Diâmetro ao nível do solo, em milímetros, das plantas de capim vetiver, dos 150 aos 270 dias após o
plantio das mudas em raízes nuas e produzidas em saquinhos de polietileno, Inconfidentes/MG.
Idade (dias)
Crescimento no Período (m)
Espaçamento (m)
150
180
210
240
270
Saquinhos
30,94 a
32,49 a
33,41 a
57,39 a
79,40 a
48,46 a
Raizes Nuas
25,85 a
27,11 a
28,66 a
46,50 a
61,41 b
35,56 a
CV (%)
30,14
29,14
29,07
26,90
15,28
16,43
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey (P<0,05).
Destaca-se que aos 270 dias após o plantio, o
diâmetro ao nível do solo das mudas de saquinhos de
polietileno (79,40 mm) diferiu estatisticamente das mudas produzidas em raízes nuas (61,41 mm) fato este que
demonstra um aumento em diâmetro ao nível do solo
maior em mudas produzidas em saquinho de polietileno
em relação às mudas de raízes nuas.
CONCLUSÕES
A taxa de sobrevivência, diâmetro ao nível do
solo e altura das plantas de vetiver não são influenciados pelo espaçamento de plantio.
As plantas provenientes de mudas de vetiver
produzidas em saquinhos de polietileno apresentam
taxa de sobrevivência e diâmetro ao nível do solo superior àquelas plantadas diretamente no campo (raízes
nuas).
Mudas produzidas em raízes nuas inicialmente
apresentam menores valores de altura, entretanto após
certo período de tempo estas mudas atingem valores
similares ou maiores que os apresentados por mudas
produzidas em saquinhos de polietileno.
AGRADECIMENTOS
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
de Minas Gerais (FAPEMIG) pelo apoio financeiro ao
projeto e bolsa de iniciação científica do quarto autor.
Ao IFSULDEMINAS – Campus Inconfidentes
e seus servidores por todo o apoio de infra-estrutura e
mão de obra.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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solo. São Paulo, 2. ed., Ícone, 1990. 355p.
64
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PASTAGENS, 3., 1997, Jaboticabal. Anais... Jaboticabal: UNESP-FCAV, 1997. p. 273-288.
CASTRO, P. T. da C.; Cobertura vegetal e indicadores
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MOREIRA, P.R. Manejo do solo e recomposição da
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MG. 2004. 155f. Tese (Doutorado em Ciências Biológicas) - Instituto de Biociências da Universidade Estadual
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TRUONG, P.N. HART, B. Sistema Vetiver para tratamento de águas residuais. Boletim Técnico No. 2001 /
2. Rede Vetiver para as Orlas do Pacifico. Royal Projetos
Admistrativos de Desenvolvimento, Bangkok, Tailândia.,
2001.
Revista Agroambiental - Agosto/2011
Caracterização da Frota Pesqueira de Coari, Médio Rio Solimões
(Amazonas – Brasil)
Sandrelly Oliveira Inomata, PPG Ciências Pesqueiras nos Trópicos, Universidade Federal do Amazonas,
[email protected],
Carlos Edwar de Carvalho Freitas, Departamento de Ciências Pesqueiras, Universidade Federal do
Amazonas, [email protected].
RESUMO
Os aspectos físicos, operacionais e econômicos da frota pesqueira no município de Coari, situado na região do Médio Rio Solimões (Estado do Amazonas), foram analisados por meio de dados coletados diretamente no
porto de desembarque e dados secundários no período de setembro de 2008 a outubro de 2009 obtidos junto às
entidades de classe ligadas à atividade pesqueira. A frota pesqueira do município de Coari foi composta, em sua
maioria, por canoas motorizadas (7,6 m ±1,29), e por barcos pesqueiros com média de comprimento de 12,8 m
(±1,94). Os lagos Coari e Juçara foram os principais locais de captura do pescado. A malhadeira foi o apetrecho de
pesca mais utilizado durante as expedições. As principais espécies capturadas foram as da ordem Characiforme,
jaraqui (Semaprochilodus spp.), pacu (Mylossoma duriventre, Myleus sp.), sardinha (Triportheus spp.) e curimatã
(Prochilodus nigricans). O componente dos custos mais oneroso durante as pescarias de canoas motorizadas foi
o combustível. Estes resultados podem subsidiar a elaboração de políticas de investimento e medidas adequadas
de manejo para melhoria da atividade pesqueira na região de Coari.
Palavras-chave: desembarque pesqueiro, rendimento econômico, Coari, Médio Rio Solimões.
Characterization of the Fishing Fleet of Coari, Middle Stretch of the
Solimões River (Amazonas – Brazil)
ABSTRACT
The physical, operational and economic features of the fishing fleet that landed in the municipality of Coari,
Middle Solimões River (State of Amazonas), were analyzed using data collected of fish landing and through secondary data obtained from federal institutions and the Amazonas Association of Fishermen. The data collections were
from September 2008 to October 2009. The fishing fleet of Coari was composed mostly by motorized canoes (7,6
m ±1,29) and fishing boats with length mean of 12,8 m (±1,94). Lake Coari and Lake Juçara were the main fishing
ground for catching the fish. The gillnets were the most commonly used fishing gear during fishing expeditions.
Characids as the jaraqui (Semaprochilodus spp.), pacu (Mylossoma duriventre, Myleus sp.), sardines (Triportheus
spp.) and curimatã (Prochilodus nigricans) were the most exploited fish. Due motorized canoes, the fuel was the
most expensive component for the fisheries expeditions. This results helps to elaborate several investment polices
to improve the productive capacity and management fisheries.
Key-words: fishing landings, economic revenue, Coari, Middle Solimões River.
INTRODUÇÃO
A pesca é uma das atividades mais importantes na região amazônica. Seu exercício envolve direta ou
indiretamente 200.000 pessoas, tanto moradores da zona rural quanto da zona urbana, que têm à atividade como
fonte de renda principal ou complementar (Fisher et al., 1992). Sendo extremamente importante para o desenvolvimento da região (Bittencourt & Cox-Fernandes, 1990) e para o abastecimento dos grandes centros urbanos
(Batista, 1998; Santos & Ferreira, 1999).
A pesca continental da Amazônia apresenta baixo nível de inovação tecnológica. As principais tecnologias incorporadas à pesca remontam as décadas de 60 e 70, quando a introdução de redes confeccionadas com
linhas de náilon, o uso de motores a diesel e de caixas de isopor nas embarcações pesqueiras proporcionaram
maior poder de captura (Marrul Filho, 2003), permitindo pescarias de maior duração e em locais mais distantes
da base (Mérona, 1993; Batista et al., 2004; Batista & Petrere, 2003).
65
Caracterização da Frota Pesqueira de Coari, Médio Rio Solimões (Amazonas – Brasil)
A despeito da importância da pesca regional,
ainda são poucas as informações sobre a dinâmica das
pescarias que ocorrem em determinadas regiões da
Amazônia. Nesse sentido, estudos como a caracterização da frota pesqueira, visando avaliar o potencial da
atividade de uma determinada região, como é o caso
da frota do município de Coari no Estado do Amazonas,
constituem passos importantes para avaliar o status da
pesca como atividade geradora de emprego e renda,
sendo essenciais na previsão dos impactos positivos e
negativos causados pela atividade que possam influenciar sua produtividade.
A maior parte da riqueza gerada no município
é proveniente da exploração e produção de gás natural
e petróleo, levando Coari à categoria de quarto município mais rico do Norte brasileiro e o segundo do estado
do Amazonas (IBGE, 2007). Ao mesmo tempo, esta riqueza vem resultando em um rápido crescimento populacional com consequente aumento na pressão sobre
os recursos naturais, em especial os pesqueiros.
Diante ao exposto, o presente trabalho apresenta
os aspectos físicos, operacionais e econômicos da frota
pesqueira que atua no município de Coari, região do
Médio Rio Solimões, Estado do Amazonas, básicos para o entendimento da dinâmica da pesca nesta região.
Tais informações podem subsidiar a elaboração de políticas de investimento, visando melhorar a capacidade
produtiva do setor e medidas de manejo adequadas
à promoção da sustentabilidade dos estoques pesqueiros.
MATERIAL E MÉTODOS
Área de estudo
Este estudo foi realizado no município de Coari,
situado na região do Médio Rio Solimões, no Estado
do Amazonas (Figura 1). O município possui área geográfica de 57.277,90 Km2, distante 362,4 Km em linha
reta de Manaus (IBGE, 2007). Coari está localizada entre os lagos Coari e Mamiá, e tem à sua frente o Rio
Solimões.
Figura 1: Mapa de localização do município de Coari, Amazonas, Brasil. Fonte: Base de dados IBGE 2010.
Coleta dos dados
Os dados foram coletados por meio de entrevistas realizadas com os pescadores no período de outubro
de 2008 a setembro de 2009. Neste período, foram aplicados 210 questionários estruturados aos proprietários
ou encarregados dos barcos de pesca e, pescadores ou
66
marreteiros que desembarcaram pescado naquele período e que faziam parte da frota atuante no município
de Coari. As informações versaram sobre: i) tipo de embarcação (canoa ou barco); ii) características físicas da
embarcação (comprimento (m), motor (HP) e combustível) e; iii) características das pescarias (apetrechos de
Revista Agroambiental - Agosto/2011
de pesca utilizados, local da pesca e espécies capturadas).
Para identificar os custos envolvidos nas expedições de pesca foram coletados dados sobre custos
variáveis: combustível e gelo, custos fixos: manutenção,
depreciação do bem e taxas, incidentes nas etapas de
produção e comercialização. A produção de pescado
por embarcação foi estimada com base na quantidade
informada pelo pescador e no peso médio das espécies. Para cálculo da receita das pescarias foi utilizada
a informação do preço médio do quilograma de pescado
vendido ao consumidor, coletado em registro mensal no
mercado municipal.
Para o levantamento do número de embarcações e do número de pessoas ligadas à atividade, dados
secundários foram coletados nas instituições ligadas a
atividade pesqueira (Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas- IDAM, Colônia Z-56 e Sindicato de Pescadores do
município de Coari). Os dados relacionados ao período
do ciclo hidrológico (nível do rio), com o desembarque
pesqueiro e frequência das principais espécies explotadas foram referenciados às cotas da estação de Itapeuá,
na calha do Solimões, próximo ao município de Coari
(ANA/CPRM, 2010).
Análise dos dados
Os dados foram armazenados em planilhas eletrônicas e em seguida analisados por meio de estatística
descritiva, para obtenção das frequências de ocorrência
e medida de tendência central (média) e medida de dispersão dos dados (desvio padrão) (Zar, 2009).
Os estudos econômicos relativos aos custos, receita e lucro das expedições de pesca foram calculados
como: 1) Custos Variáveis (CV) = consumo de combustível + consumo de gelo; 2) Custos Fixos (CF) = custos envolvendo as despesas com manutenção da embarcação
(ME) (casco e motor) + manutenção de apetrechos (MA)
de pesca + depreciação do bem (DE) + taxas (TX).
O cálculo da receita das expedições de pesca
foi efetuado usando a quantidade de pescado capturado
por espécie multiplicada pelo preço médio de comercialização do quilo do pescado. O lucro foi obtido da dedução dos custos fixos e variáveis da receita no período,
sendo L = R – Ct. Não foi possível realizar os cálculos
econômicos para os barcos pesqueiros, em virtude da
falta de dados para permitir uma análise em todos os períodos do ciclo hidrológico, pois os barcos pesqueiros só
atracaram no porto de desembarque durante o período
de cheia.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A frota pesqueira sediada no município de Coari
foi composta por dois tipos de embarcações: canoas
motorizadas e barcos pesqueiros de pequeno e médio
porte. De acordo com dados fornecidos pela Colônia
Z-56 e pela Associação dos Pescadores, a pesca foi
desenvolvida por 51 barcos e por aproximadamente
1.900 canoas motorizadas, incluindo mais de 2.000
pescadores artesanais. Foram realizadas entrevistas com
210 pescadores, registrando informações de 170 canoas motorizadas e 40 barcos pesqueiros de pequeno
e médio porte. O numero proporcionalmente baixo de
canoas motorizadas incluídas na amostra reflete o uso
múltiplo destas embarcações, pois apesar de registradas nas associações da categoria como embarcações
de pesca, elas são usadas indistintamente para
transporte de pessoas e mercadorias.
A média de comprimento das canoas motorizadas foi de 7,6 m (±1,29), com amplitude variando entre
4 e 10 m. Os barcos pesqueiros apresentaram média de
comprimento de 12,8 m (±1,94) com amplitude variando
entre 10 e 17 m. Corroborando com estudo já realizado
no município de Coari por Corrêa (2009), os dados físicos relacionados aos tamanhos das embarcações da
frota se assemelham aos de outras regiões já estudadas
na Amazônia (Batista, 2003; Cardoso et al., 2004; Isaac
et al., 2008; Gonçalves & Batista, 2008).
Quanto a potência, as canoas motorizadas apresentaram motores de propulsão com potência variando
entre 5,0 a 5,5 HP, sendo que mais de 60 % tinham potência de 5,5 HP. Em relação aos barcos, a amplitude
foi de 5,5 a 110 HP, tendo como valor modal a potência
de 25 HP. O combustível utilizado pelas embarcações
variou com o tipo de motor, sendo a gasolina utilizada
em 81 % dos motores e o diesel em 19 %.
Ainda que com limitada capacidade de armazenamento (450 kg), os desembarques das canoas motorizadas apresentaram o maior percentual do total dos
desembarques no município. Devido à possibilidade de
acesso das canoas motorizadas a um maior número de
ambientes, como as áreas inundadas, inacessível aos
barcos até mesmo durante a cheia. Desembarques efetuados por pescadores de canoas motorizadas foram
igualmente identificados no Baixo Rio Amazonas (Isaac
et al., 2004). A ausência de registros de canoas a remo
durante o estudo pode estar relacionada com a utilização destas como embarcações auxiliares durante as expedições dos barcos pesqueiros (Faria Júnior & Batista,
2006).
Os barcos pesqueiros desembarcam no mercado municipal de Coari somente no período da cheia,
porém, realizam expedições durante todo o ano. Nos
outros períodos os barcos atuam como armazenadores
de pescado. Batista et al., (2007) já havia descrito esta
multifuncionalidade para embarcações deste tipo na calha do Solimões-Amazonas.
Os pescadores da região de Coari citaram
mais de 200 locais de pesca. O local de pesca que
67
Caracterização da Frota Pesqueira de Coari, Médio Rio Solimões (Amazonas – Brasil)
apresentou maior frequência de utilização foram os
lagos (51,3 %), seguido dos rios (32,8 %) e da foz de
rio (6,1 %). Sendo que os lagos Coari e Juçara foram
os mais citados. Portanto, os pescadores de Coari demonstraram grande preferência pelas pescarias nos lagos da planície adjacente, como foi descrito para o
Baixo Rio Amazonas (Cerdeira & Ruffino, 2000; Almeida et al., 2004). Uma característica peculiar observada
no período do estudo foi à ausência de expedições de
pesca em igarapés, especialmente no período de seca,
quando esse tipo de ambiente é explotado com maior
frequência por pescadores de canoas motorizadas de
outras regiões da Amazônia (Cardoso & Freitas, 2007).
Na região amazônica, as espécies-alvo das
pescarias comerciais são preferencialmente peixes da
ordem Characiformes (Batista et al., 2004; Santos &
Santos, 2005). Os dados do presente estudo corroboraram este padrão. As espécies com maior frequência
nas pescarias foram: jaraquis (Semaprochilodus spp.)
(31,71 %), pacus (várias espécies de Myleinae) (22,03
%), sardinha (Triportheus spp.) (13,33 %) e curimatã
(Prochilo-dus nigricans) (13,22 %), os quais representaram mais de 80 % do total.
O jaraqui é a espécie mais popular pela grande
aceitação e consumo pelas populações de baixa renda.
Este faz parte do grupo de espécies que realizam
migrações sazonais com fins reprodutivos, trófico ou de
dispersão, conforme o nível do rio e cumprem parte de
seu ciclo de vida nos lagos, no período de enchente, onde
se alimentam e crescem intensamente (Ribeiro, 1983).
Foi identificada a participação expressiva de espécies
sedentárias e que habitam preferencialmente ambientes
lênticos, como tucunaré (Cichla spp.) e aruanã (Osteoglossum bicirrhosum). Isso pode ter ocorrido devido à
elevada utilização dos lagos durante as capturas dos
pescadores comerciais, fato já destacado por Cardoso &
Freitas (2007) para as pescarias realizadas pelos pes-
cadores de canoas motorizadas na região do médio rio
Madeira.
Sete apetrechos de pesca foram utilizados pela
frota pesqueira do município de Coari. A malhadeira, a
rede, a tarrafa e tramalha foram consideradas os mais
eficientes pelos pescadores. Dentre estes, o principal
apetrecho de pesca utilizado nas capturas efetuadas
pela frota pesqueira foi a malhadeira (84 %). A preferência pela malhadeira pode ser atribuída por este aparelho
ser amplamente utilizado em pescarias de pequena escala, além do baixo custo em termos de aquisição e do
pouco trabalho que o mesmo exige para a sua utilização
(Reis & Pawson, 1992). Segundo Freitas et al., (2002),
os apetrechos de pesca são usados de acordo com a
época do ano e espécie a ser capturada. A pesca comercial realizada no município de Coari pode ser caracterizada como multiaparelhos, em função dos diferentes tipos de aparelhos de pesca utilizados pelos pescadores.
A análise dos custos, receita e lucro da atividade pesqueira foi baseada nos registros de 290 pescarias de canoas motorizadas. As canoas motorizadas
tiveram uma produção média de pescado de 232,03
kg (±139,13). Resultando em uma receita média de
R$ 388,54 (±161,29) e um lucro médio de R$ 341,61
(±159,92), a atividade apresentou uma lucratividade em
torno de 89 %.
A partir das informações fornecidas pelos pescadores os custos fixos foram estimados, estes independem da produção atingida pelas expedições de pesca.
Os pescadores informaram o valor estimado referente
à manutenção das embarcações, incluindo os custos
de manutenção do casco, motor e apetrechos de pesca, nos permitindo gerar uma média dos valores. Para
o casco da embarcação e para o motor de propulsão a
depreciação foi calculada considerando o preço de mercado e o tempo de vida útil dos bens (Tabela 1).
Tabela 1: Custos fixos (R$) estimados para as canoas motorizadas do município de Coari, Médio Rio
Solimões, Amazonas.
Custos (R$)
Custos fixos de canoas motorizadas
Manutenção
Depreciação
Taxas
Valor* (R$)
Vida útil
(anos)
Anual
Diário
Anual
Diário
Diário
Motor
(5,5hp)
940,00
10
47,00
0,13
94,00
0,26
0,49
Casco (8
m)
2.400,00
10
120,00
0,33
240,00
0,66
-
Apetrechos
de pesca
(diversos)
600,00
5
30,00
0,08
120,00
0,33
-
3.340,00
-
197,00
0,55
454,00
1,24
0,49
Total
*valor unitário
Fonte: IDAM/Coari (2010).
68
Revista Agroambiental - Agosto/2011
Os custos fixos variaram em valores mensais,
semestrais e anuais e, por isso, os mesmos foram divididos pela quantidade de dias no ano e convertidos em
valores diários.
Os custos variáveis estão diretamente relacionados a quantidade de trabalho envolvida na produção
de pescado, quanto maior a duração das pescarias e a
distancia dos pesqueiros, maiores serão os custos referentes ao gelo e ao combustível. Diante disso, o custo
total das pescarias realizadas por canoas motorizadas
apresentou valores médios de R$ 44,38 (±6,71). A des-
pesa referente ao combustível (76,64 %) foi a mais onerosa na composição dos custos das pescarias, refletindo
a importância da decisão de escolher o local de pesca
para o resultado liquido das pescarias de pequena escala da Amazônia.
O custo médio das expedições de pesca na
cheia foi mais elevado do que nos demais períodos, enquanto que o lucro médio das pescarias nos períodos
de enchente e cheia (época da safra) foi maior do que o
das pescarias nos períodos de vazante e seca (época da
entressafra) (Figura 2).
Figura 2: Valores médios da produção, custo e lucro das canoas motorizadas em relação ao nível hidrológico (cm)
no município de Coari.
O pulso de inundação, isto é, às grandes variações do nível das águas entre 8 as épocas de seca
e cheia, é um fator controlador do ecossistema das várzeas Amazônicas (Junk et al., 1989), influenciando os
processos de explotação da biota aquática. A atividade
pesqueira é influenciada pelo regime das águas, pois
este ajuda a determinar os períodos de safra e
entressafra de pescado, ou seja, períodos de alta e
baixa produtividade das pescarias. Consequentemente
estes períodos influenciam os preços em função da elevada ou escassa oferta de pescado, pois quanto maior
for a oferta, maior será a concorrência para repasse do
produto ao consumidor a um preço mínimo. No entanto,
a lucratividade da atividade é ainda influenciada pelas
ocorrência diferenciada de espécies ao longo do ciclo
hidrológico.
CONCLUSÃO
malhadeira foi o apetrecho de pesca mais utilizado
durante as expedições. As principais espécies capturadas foram as da ordem Characiforme, jaraqui
(Semaprochilodus spp.), pacu (Mylossoma duriventre, Myleus sp.), sardinha (Tripor-theus spp.) e
curimatã (Prochilodus nigricans). O componente dos
custos mais oneroso durante as pescarias de canoas
motorizadas foi o combustível. De um modo geral, os
aspectos físicos, operacionais e econômicos da frota
pesqueira que desembarcou na região de Coari foram
similares às frotas que atuam em outras regiões já
estudadas na Amazônia (Batista, 2003; Cardoso et al.,
2004; Isaac et al., 2008; Gonçalves & Batista, 2008). As
análises apresentadas refletem as informações iniciais
de um processo de coleta de dados que necessita ser
contínuo a fim de subsidiar estratégias sustentáveis de
manejo das pescarias amazônicas.
A frota pesqueira do município de Coari foi composta, em sua maioria, por canoas motorizadas (7,6 m
±1,29), e por barcos pesqueiros com média de comprimento de 12,8 m (±1,94). Os lagos Coari e Juçara
foram os principais locais de captura do pescado. A
Agradecemos aos pescadores de Coari pela
disponibilidade em nos conceder informações. A Edilsa (coletora), ao seu Sebastião (administrador do
Mercado Municipal), ao IDAM/Coari, à Colônia Z-56 e
AGRADECIMENTOS
69
Caracterização da Frota Pesqueira de Coari, Médio Rio Solimões (Amazonas – Brasil)
Associação dos Pescadores do município. À Petrobras
e FINEP pelo apoio financeiro recebido por meio do Projeto PIATAM IV e ao CNPq pela concessão da bolsa de
iniciação científica.
CARDOSO, R.S. & FREITAS, C.E.C. A pesca de pequena escala no rio Madeira pelos desembarques ocorridos
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Revista Agroambiental - Agosto/2011
Análise Comparativa entre Indicadores de Avaliação do Desenvolvimento
Sustentável em Comunidades Ribeirinhas no Estado do Amazonas
FRANDINEY DOS REIS FEIJÃO - Instituto Federal do Amazonas, Manaus/AM, Cep: 69020-120,
frandiney@ifam. edu.br, [email protected].
ALEXANDRE ALMIR F. RIVAS – Departamento de Economia e Analise/UFAM, Manaus/AM, CEP:
69077-000, [email protected]
RESUMO
Os indicadores de desenvolvimento sustentável são instrumentos de avaliação essenciais para
acompanhamento do progresso rumo ao Desenvolvimento Sustentável (DS). A importância da utilização desta
ferramenta para a implementação de políticas públicas, baseadas no DS, ocorreu na Conferência das Nações Unidas
sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, em 1992. Desta forma, o objetivo deste trabalho foi
realizar uma análise comparativa entre indicadores que avaliaram a evolução da Cidadania, Desenvolvimento, Renda e
Pobreza em comunidades ribeirinhas no Estado do Amazonas, para verificar as similaridades e diferenças entre essas
ferramentas, assim como, a eficácia enquanto instrumento de avaliação para a tomada de decisão na elaboração de
politicas públicas. Os dados primários foram coletados na base de dados Piatam, e os secundários através pesquisa
bibliográfica e documental, no período de 2008 a 2009. A análise comparativa foi realizada através da caracterização do
Sistema de Indicadores Piatam (SIP); Descrição histórica, teórica e empírica dos indicadores de Cidadania (ICP),
Desenvolvimento (ID), Renda e Pobreza (IRP); e Análise cruzada entre os indicadores considerando escopo, esfera,
dados, participação, e interface para construção de uma visão crítica dos principais aspectos que os caracterizaram.
Através dos resultados verificou-se que os indicadores são partes integrantes do SIP que evidenciou a dinâmica
do desenvolvimento de comunidades na Amazônia a partir de três blocos de indicadores: socioeconômico; biótico e
físico. As similaridades encontradas entre os indicadores de Cidadania, Desenvolvimento, Renda e Pobreza
foram: nas dimensões abordadas - econômica e social; na esfera - local e individual; nos dados - quantitativos e
altamente agregados; e na utilização da abordagem top down. As principais diferenças estão refletidas na metodologia, pois, enquanto, o ICP elaborou seu próprio método de avaliação considerado de fácil entendimento o
ID e o IR adaptaram metodologias do âmbito internacional para o local, consideradas complexas. Os resultados
dos indicadores também divergiram, enquanto o ICP e o IRP apresentaram resultados similares de bem estar o ID
apresentou resultado acima da média. Estes indicadores podem ser considerados eficazes, pois, foram elaborados
com dados de base sólida e metodologias que agrupam variáveis que refletem o bem estar de comunidades
ribeirinhas na Amazônia. Desta forma, os resultados advindos destes instrumentos de avaliação podem influenciar o poder público na tomada de decisão para implementação de politicas públicas rumo ao desenvolvimento
sustentável.
PALAVRAS - CHAVE: Indicadores de desenvolvimento sustentável, Sistema de Indicadores Piatam, Comunidades Ribeirinhas, Amazônia.
Comparative Analysis Among Sustainable Development Avaluation Indicators
of Riberinhas Communities in the Amazonas State
ABSTRACT
Indicators of sustainable development are essential tools for assessment to monitor the progress towards
Sustainable Development (SD). The importance of using this tool for the implementation of public policies based
on SD, occurred in the United Nations Conference on Environment and Development in Rio de Janeiro in 1992.
Thus, the objective of this study is to develop a comparative analysis of indicators that assessed the evolution of
Citizenship, Development, Income and Poverty in ribeirinhas communities in Amazonas State. The study also aims
to verify the similarities and differences among these tools, as well as its effectiveness as assessment tool for decision making in public policies development. Primary data were collected in the Piatam data base, and the secondary
ones through literature research and documents from 2008 to 2009. The comparative analysis was performed by
characterizing the Piatam Indicator System (PIS), historical, theoretical and empirical description, Citzenship indicators (PCI), Development indicators (DI), Income and Poverty (PIP) and cross-analysis between the indicators considering scope, sphere, data, participation, and interface to build a critical view of the main aspects that characterized
them. Through the results it was evident that the indicators are part of the PIS which highlighted the dynamics of
community development in the Amazonia region from three blocks of indicators: socioeconomic, biotic and physical.
71
Análise Comparativa entre Indicadores de Avaliação do Desenvolvimento Sustentável em Comunidades
Ribeirinhas no Estado do Amazonas
The similarities among Citizenship, Development, Income and Poverty indicators were: dimensions addressed
- economic and social; sphere - local and individual; data
- quantitative and highly aggregated; and the use of top
down approach. The main differences are reflected in the
methodology, because, while, CI has developed its own
method of evaluation considered easy to understand the
DI and RI adapted methodologies from the international to the local scope, which were considered complex
ones. The results of the indicators also diverged, while
the PCI and PIR presented similar results for the welfare,
DI showed above average results. These results can be
considered effective, since they were prepared with solid data base and methodologies that combine variables
that reflect the well being of ribeirinha communities in the
Amazonia region. Thus, the results arising from these
assessment tools can influence the government in decision making for implementation of public policies towards
sustainable development.
institucional, as publicações adicionais foram em 2004 e
2008 (IBGE, 2008).
KEYWORDS: Sustainable Development Indicators, Indicator System Piatam, Ribeirinhas Communities, Amazonia.
Área de Estudo
INTRODUÇÃO
Os indicadores de desenvolvimento sustentável
(IDS) são produtos de um sistema de informação que
expressam os valores que a sociedade coloca em aspectos sociais, ambientais e econômicos do desenvolvimento sustentável ou da qualidade de vida nos níveis
local, nacional e internacional (Sheng, 1997).
Para o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) os IDS são instrumentos essenciais para
guiar a ação e subsidiar o acompanhamento e a avaliação do progresso alcançado rumo ao desenvolvimento
sustentável (IBGE, 2008).
A elaboração de indicadores ambientais e de
desenvolvimento sustentável iniciou-se na década de
1980 no Canadá e em alguns países da Europa. Mas,
foi somente na Conferencia das Nações Unidas sobre o
Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro,
em 1992, em decorrência da Agenda 21, que foi reconhecido o importante papel destes instrumentos para
subsidiar a tomada de decisões baseados no desenvolvimento sustentável (Nações Unidas, 2007).
A Comissão de Desenvolvimento Sustentável
(CDS), das Nações Unidas organizou em 1995 um programa de trabalho para elaborar um sistema de indicadores com a missão de monitorar os avanços em direção
ao desenvolvimento sustentável baseada no que está
expresso nos princípios da Agenda 21 (Ribeiro, 2006;
Bellen, 2007; Nações Unidas, 2007).
No Brasil a primeira publicação de IDS foi em
2002 pelo IBGE e seguiram um marco ordenador proposto pela CDS das Nações Unidas, que os organizou
em quatro dimensões: ambiental, social, econômica e
72
No Amazonas, para avaliar os complexos sistemas da Amazônia pesquisadores do Projeto Piatam ,
elaboraram, em 2007, o Sistema de Indicadores Piatam
(SIP) demonstrados através dos diferentes processos:
físicos, ecológicos, econômicos ou sociais dentro do
contexto regional (Rivas et al., 2007).
Desta forma, o objetivo deste trabalho foi
realizar uma análise comparativa entre indicadores de
desenvolvimento sustentável que avaliaram a evolução da Cidadania, Desenvolvimento, Renda e Pobreza
em comunidades ribeirinhas no Estado do Amazonas,
para verificar as similaridades e diferenças entre estas
ferramentas, assim como, a eficácia destes indicadores enquanto instrumento de avaliação para a tomada
de decisão na elaboração de politicas públicas.
MATERIAL E MÉTODOS
A área de estudo desta pesquisa é o trecho
“linear” de, aproximadamente, 400 quilômetros, da
Amazônia, contendo o rio Solimões e sua várzea, entre
o município de Coari e a confluência dos rios Solimões e
Negro, nas proximidades de Manaus. Nessa área estão
situadas às comunidades Santa Luzia do Baixio, Nossa
Senhora das Graças, Nossa Senhora de Nazaré, Bom
Jesus, Santo Antonio, Matrixã, Lauro Sodré, Esperança
II, Santa Luzia do Babaçuzinho, conforme Figura 1.
Coleta de dados
Para este estudo os dados primários foram
coletados na base de dados Piatam, e os secundários
através de uma extensa pesquisa bibliográfica e documental em sites especializados, livros, artigos e dissertação publicadas concernentes à temática estudada, no
período de 2008 a 2009.
A escolha do SIP ocorreu de forma intencional.
No entanto, um dos critérios considerados ocorreu em
função desse sistema ter sido desenvolvido para
monitorar a realidade socioeconômica e ambiental de
comunidades ribeirinhas na Amazônia que estão sofrendo externalidades advindas do processo de
“desenvolvimento” da Amazônia a partir da construção
de grandes obras (gasoduto Coari Manaus).
Após a escolha do SIP foi selecionado dentro
deste sistema uma amostra de indicadores que contemplasse diretamente a realidade dos moradores da
área de estudo e optou-se por indicadores da dimensão
socioeconômica porque segundo Rivas (2007) através
de uma análise mais aprofundada é possível o entendimento sobre o bem estar dessas comunidades. Na
seleção final foram escolhidos os indicadores de Cidadania, Desenvolvimento, Renda e Pobreza, considerados úteis por Rivas (2007), para avaliar o progresso
Revista Agroambiental - Agosto/2011
das condições socioeconômicas das comunidades da
área de estudo.
Analise dos dados
A metodologia utilizada neste estudo é uma
síntese da análise comparativa desenvolvida por Bellen (2007) capaz de avaliar aspectos relevantes na
formulação de sistema de indicadores para avaliação
de sustentabilidade através da Caracterização Sistema
de Indicadores; Descrição histórica, teórica e empírica
dos indicadores amostrados; e Análise cruzada entre os
indicadores, conforme informações a seguir:
Na caracterização foram verificados os procedimentos que orientaram a elaboração do Sistema de
Indicadores Piatam. histórico, instituições e pessoas envolvidas na elaboração dos indicadores. Na fundamentação teórica foram descritos os fundamentação empírica dos indicadores evidenciou-se os exemplos práticos
de aplicação destes instrumentos de avaliação.
Figura 1: Mapa de localização das comunidades estudadas pelo Piatam.
Fonte: Base de Dados Piatam, 2008.
Na categoria escopo, verificaram-se quais as dimensões que predominam em cada um dos indicadores
para avaliar a sustentabilidade considerando a ecológica, social, econômica e Institucional.
Através da esfera foi possível verificar o tipo de
unidade a qual o instrumento de avaliação se aplica: global, continental, nacional, regional, local, ou individual.
Os dados dos indicadores foram verificados a
partir do tipo e grau de agregação. Quanto à tipologia
foi verificado se os dados utilizados foram quantitativos
ou qualitativos. Em referencia ao grau de agregação os
indicadores foram analisados através da localização relativa de seus índices, indicadores e dados da pirâmide
de informação. O topo da pirâmide corresponde ao grau
máximo de agregação e a base representa os dados primários desagregados.
Na participação analisou-se o envolvimento dos
atores sociais nos instrumentos de avaliação através
das abordagens: top-down, onde o processo de avaliação é orientado predominantemente por especialista; e
a abordagem bottom-up, que confere um o peso maior
de participação ao publico alvo.
A interface analisou os indicadores através da
facilidade que os usuários têm de observar e interpretar
os resultados obtidos num processo de avaliação. Os
principais elementos de interface são: a capacidade de
entendimento, a facilidade de visualização e a interpretação dos resultados e o processo de educação ambiental.
Para isso, os indicadores foram analisados através das
subcategorias: complexidade, apresentação, abertura e
potencial educativo.
Os parâmetros utilizados para verificar o grau
de complexidade referem-se aos cálculos utilizados por
seus autores para determinação do índice. Isto significa
que quanto mais simples os cálculos melhor para o entendimento dos usuários.
A apresentação refere-se às facilidades oferecidas pelo indicador aos usuários para verificar a direção
do processo de desenvolvimento através dos valores
apresentados no resultado final. Os resultados finais dos
indicadores também são comparados para verificar as
similaridades entre estes.
A abertura, que está ligada com as categorias
complexidade e a apresentação, procura mostrar em
que grau os valores implícitos de um sistema de avaliação são revelados ao público alvo. O grau de abertura
73
Análise Comparativa entre Indicadores de Avaliação do Desenvolvimento Sustentável em Comunidades
Ribeirinhas no Estado do Amazonas
desses instrumentos de avaliação é analisado através
da pirâmide de informações que contém os dados primários, dados analisados, indicadores e índices das
ferramentas. Quanto maior a possibilidade de observar
todas essas informações simultaneamente na interface
da ferramenta maior é o grau de abertura.
e Facilidade de interpretação.
O potencial educativo é a última categoria de
análise onde foi verificada a capacidade dos indicadores
de representar para o público os dilemas que emergem
da sociedade a partir do processo de desenvolvimento e
de que forma, os resultados dos problemas ambientais
podem influenciar o poder publico na tomada de decisão.
A área socioeconômica apresentou três tipos
de indicadores relacionados às atividades produtivas,
condições de renda e bem-estar social e saúde. O meio
biótico apresentou o maior número de indicadores e os
principais temas abordados foram: peixes, entomologia,
flora e macrófitas aquáticas. O meio físico foi representado através do solo e água.
RESULTADOS
Caracterização do Sistema de Indicadores
Piatam (SIP)
O SIP é um sistema de indicadores e atributos
que foi elaborado no Projeto Piatam, por pesquisadores
de diferentes áreas temáticas de instituições parceiras
do Piatam, através de série histórica de dados necessários ao monitoramento da realidade social e ambiental
de comunidades ribeirinhas no Estado do Amazonas.
O Piatam é um projeto interinstitucional e interdisciplinar que envolve instituições de ensino e pesquisa
e tem como principal meta a caracterização socioambiental da área de atuação da Petrobras no Estado do
Amazonas.
As instituições participantes desse projeto foram
Universidade Federal do Amazonas, Coordenação dos
Programas de Pós Graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Fundação Centro
de Análise Pesquisa e Inovação Tecnológica, Instituto
Nacional de Pesquisas da Amazônia, Financiadora de
Estudos e Projeto e PETROBRAS.
O início das pesquisas foi em 2001, com a identificação e diagnóstico da área de estudo através de
dados pretéritos e coleta de dados por área temática,
em séries temporais que perdurou até 2006. Todas as
informações e dados pré-existentes foram levantados e
incorporados à BDI – Piatam. De 2002 a 2006 paralelamente a coleta de dados ocorreu a pré-seleção, seleção
e validação final dos indicadores e atributos.
O conceito de indicador adotado por seus autores para nortear a elaboração do sistema foi: “O indicador é uma representação didática da realidade”.
Os critérios utilizados para elaboração dos indicadores foram: Existência de dados representativos,
de base sólida; Possibilidade de construção de modelos
de simulação e cálculo dedicados à sua quantificação;
Exequibilidade do estabelecimento de metas e valores
de referencia; Possibilidade de manter a informação atualizada; Relevância do significado do próprio indicador;
74
O sistema de indicadores foi elaborado a partir
de três blocos: socioeconômico com 10 indicadores, 3
subindicadores e 1 atributo; biótico, com 21 indicadores,
11 subindicadores e 1 atributo; e físico constituído de 10
atributos.
Descrição histórica, teórica e empírica dos
Indicadores.
Índice de Cidadania Piatam (ICP)
Este indicador está relacionado ao bem estar
social através da Cidadania. As pesquisas tiveram seu
inicio em 2001 com a definição da área de estudo. Os
dados primários foram coletados nos anos de 2005 e
2006, através de formulários focais e questionários entregues aos coletores, em diferentes ciclos sazonais,
considerando a unidade familiar das comunidades de
atuação do Piatam. Os resultados do ICP evidenciam
Índices Geral e Individual de Cidadania.
O ICP está fundamentado no conceito de exclusão social. Entretanto, para Fraxe et al. (2007) o Índice
de Exclusão/Inclusão Social (IEIS) comumente utilizado
pelas diferentes instituições de pesquisas para avaliar
a situação socioeconômica dos grupos que vivem nas
metrópoles das diferentes regiões do Brasil não contemplam as complexas variáveis que representam a realidade de comunidades ribeirinhas, devido às especificidades do modo de vida amazônico (ritmo de vida, cultura,
trabalho, relações de trabalho e outras atividades do cotidiano) que é diferente.
Desta forma, os pesquisadores procuraram desenvolver um índice que contemplasse os diferentes aspectos de vida tradicional que foi elaborado através da
seguinte metodologia:
1.Foram escolhidas cinco variáveis, consideradas relevantes para obtenção de um resultado próximo da realidade das comunidades: renda, alimentação, saúde,
escolaridade e organização social;
2.Para cada variável foi definido um valor em nota decimal para medição, onde foram atribuídas boas notas, a
boas situações e más notas a más situações que somados, obtêm-se o ICP.
3.O ICP tem por finalidade mostrar por meio da variação
numérica de “0” a “1” um índice composto capaz de visualizar os parâmetros reais da pior e da melhor incidência
de uma variável.
Revista Agroambiental - Agosto/2011
Para a classificação dos resultados de cidadania
foi utilizada a seguinte legenda: de 0.000 a 0.250 – crítico; de 0.251 a 0.500 - baixo; de 0.501 - 0.750 - médio;
é de 0.751 - 1.000 – ótimo, assim como, a legenda de
quatro cores (vermelho – crítico, laranja – baixo, amarelo
– médio, e verde – ótimo).
Este indicador foi utilizado por seus autores para
avaliar a Cidadania de nove comunidades estudadas
pelo Piatam. Através dos resultados foi possível verificar que menor ICP Individual apresentado foi para a comunidade Santo Antônio (0,378) e o maior para Santa
Luzia do Baixio (0,767), enquanto o ICP Geral revelou
que estas comunidades estão com um baixo nível de cidadania (0,497). A Figura 2 abaixo evidencia o diagrama
dos procedimentos do ICP.
Figura 2: Diagrama dos procedimentos do ICP, onde: ICP= Índice de Cidadania Piatam; Rc = Renda Comunitária;
Ac=Alimentação Comunitária; Sc= Saúde Comunitária; Ec=Escolaridade Comunitária; e OS= Organização Social.
Fonte: Adaptado de Fraxe et. al.,(2007)
Índice de Desenvolvimento (ID PIATAM)
O ID é parte integrante dos indicadores relativos
às condições de renda e bem-estar social. As pesquisas
para elaboração deste indicador tiveram seu inicio em
2001 com a definição da área de estudo. Os dados primários foram coletados nas comunidades durante o mês
de setembro de 2006.
Os questionários utilizados na coleta de dados
foram adaptados de padrão internacional, em conformidade com os utilizados pelo IBGE, para captar a realidade local e adequar-se à escala do universo considerado.
Para aferir o nível de desenvolvimento humano nas comunidades foram abordadas as dimensões: educação,
longevidade e renda, com uma modificação em um dos
subcomponentes, educação. O ID Piatam foi publicado
por Teixeira & Rivas em 2007.
Para o ÍD Piatam foram considerados os conceitos de pobreza, analfabetismo, educação, esperança de
vida, e taxa de natalidade.
O roteiro metodológico utilizado pelos pesquisadores assemelhou-se ao utilizado para o Índice de
Desenvolvimento Humano – IDH/PNUD, o qual é um
índice produzido a partir do cálculo da média aritmética
de três outros índices relativos à educação, longevidade
e à renda. Este indicador foi utilizado por seus autores,
em 2007, para avaliar o desenvolvimento de nove comunidades estudadas pelo Piatam. A leitura dos resultados
é a partir de legenda que varia 0 (nenhum desenvolvimento) até 1 (desenvolvimento total), através de quatro
níveis: entre 0,00 e 0,25 – crítico; de 0,26 e 0,50 – baixo;
de 0,51 a 0,75 – médio; e para 0,76 a 1,00 - alto.
Os valores resultantes dos subíndices foram:
educação: 0,774; longevidade: 0,683; renda: 0,503; e o
ID Geral da área estudada foi de 0, 653. Para os autores
do ID Piatam este resultado não deve ser comparado
com os resultados do ÍDH/PNUD ou Índice de Desenvolvimento do Município (IDH-M) que cobre as áreas urbanas e rurais dos municípios, porque a renda levantada
na pesquisa de campo nas áreas rurais não inclui seu
componente não monetário, devendo ser, portanto, inferior à que se observadas nas áreas urbanas. A Figura
3 abaixo evidencia o diagrama dos procedimentos do
ICP.
75
Análise Comparativa entre Indicadores de Avaliação do Desenvolvimento Sustentável em Comunidades
Ribeirinhas no Estado do Amazonas
Figura 3: Diagrama do ID Piatam.
Fonte: Adaptado de Teixeira & Rivas (2007)
Índice de Renda e Pobreza (IRP)
O Índice de Renda e Pobreza está relacionado à renda e bem estar. As pesquisas para elaboração
deste indicador tiveram seu início em 2001, através da
definição da área de estudo. Os dados primários para a
análise da pobreza e indigência foram obtidos durante
pesquisa de campo, realizada durante o mês de setembro de 2006, que posteriormente foram armazenados na
base do Piatam.
Os dados inerentes à renda foram levantados a
partir de dois grupos: (i) principais atividades realizadas
pelos ribeirinhos durante o dia, independente de serem
ou não geradoras de rendimentos; e (ii) fonte e formas
de rendimento. Rivas & Mourão publicaram os resultados deste indicador em 2007.
O conceito utilizado para este indicador foi de
renda e pobreza nas diversas esferas da sociedade. Os
autores utilizaram para elaboração deste indicador duas
metodologias: a do Banco Mundial que adota como critério o valor de US$ 2,00/dia em poder de compra para
delimitação da linha de pobreza e o valor de US$ 1,00/
dia em poder de compra para delimitação da linha de
indigência; e a do PNUD (2007) que adota como critério
para determinação das linhas de pobreza a proporção
dos indivíduos que vivem em domicílios particulares permanentes com renda equivalente a ½ de salário-mínimo
e para a linha de indigência, o valor de ¼ de saláriomínimo.
número de residentes em situação de pobreza declarada, desconsiderado os valores não monetários.
Os resultados baseados nos métodos do Banco
Mundial evidenciaram que o percentual do número de
pessoas na linha de indigência varia de 2,39 a 16,46%.
Quanto à “linha de pobreza” esse percentual varia de
3,85 a 35,29%.
No método adotado pelo PNUD, o percentual de
pessoas na “linha de indigência”, varia de 3,85 a 20%,
enquanto que o percentual de pessoas na linha de pobreza é de 3,85 a 38,82%.
Com relação à linha de indigência, em ambos os
métodos, a comunidade de Bom Jesus, seguida da comunidade de Lauro Sodré, foi a que apresentou o maior
percentual, 35,29%. Quando observada a linha de pobreza, não há diferença significativa entre várias comunidades, permanecendo nos maiores percentuais pelos
totais populacionais Bom Jesus e Lauro Sodré, além da
comunidade Santa Luzia do Buiuçuzinho e Nossa Senhora de Nazaré. A Figura 4 abaixo evidencia o diagrama dos procedimentos do ICP.
DISCUSSÃO
Análise comparativa entre os indicadores de
Cidadania, Desenvolvimento Renda e Pobreza.
Escopo
Visando os rendimentos totais, os cálculos utilizados para a determinação da linha de pobreza e indigência concentraram-se na fonte e forma dos rendimentos.
No Quadro 1, através da classificação quanto ao
escopo, verificou-se que estes indicadores representam
o bem estar através das dimensões social e econômica,
conjuntamente. E a única variável comum entre os indicadores é renda.
Este indicador foi utilizado para avaliar pobreza e indigência em nove comunidades estudadas pelo
Piatam. Os resultados obtidos através do indicador demonstraram que as comunidades possuem significativo
Nos IDS do IBGE (2008) as dimensões estão
claramente definidas em ambiental, social, econômica,
e institucional e são representadas através de temas.
76
Revista Agroambiental - Agosto/2011
Os temas abordados na dimensão social são:
população, trabalho e rendimento, saúde, educação, habitação, e segurança; e na dimensão econômica estão:
quadro econômico e padrões e produção de consumo.
Figura 4: Diagrama do IRP Piatam.
Fonte: Adaptado de Rivas& Mourão (2007)
Nos IDS da CDS das Nações Unidas (2007) os
indicadores não são definidos quanto à dimensão, mas
através de temas e subtemas.
Quadro 1
Classificação dos indicadores quanto ao escopo
Escopo
Indicador
Ecológica
Social
Econômico
Índice de Cidadania
Piatam
√
√
Índice de Desenvolvimento
√
√
Índice de Renda e Pobreza
√
√
Fonte: Pesquisa de campo (2009)
Esfera
O Quadro 2 evidencia a classificação das metodologias quanto a esfera. Desta forma, todos os indicadores avaliaram as esferas local e individual.
Institucional
Hardi & Zidan (1997) e a OCDE (2008) evidenciam que encontrar modos para comparação entre diferentes países ou regiões que não compartilhem a mesma historia, cultura, nível econômico e desenvolvimento
social ou condições física é um desafio.
Quadro 2
Classificação dos indicadores quanto à esfera – modelo teórico
Esfera do Indicador
Global
Continental
Nacional
Regional
Local
Individual
Índice de Cidadania
√
√
Índice de Desenvolvimento
√
√
Índice de Renda e Pobreza
√
√
Fonte: Pesquisa de campo (2009)
Dados
Os dados das metodologias foram avaliados
quanto ao tipo e grau de agregação. Quanto ao tipo os
dados são quantitativos, pois, todos os resultados são
apresentados em valores numéricos.
77
Análise Comparativa entre Indicadores de Avaliação do Desenvolvimento Sustentável em Comunidades
Ribeirinhas no Estado do Amazonas
O grau de agregação foi verificado através da
pirâmide de informações construída a partir da fundamentação histórica, teórica, e das experiências práticas,
conforme Quadro 3 abaixo. Onde foram constatados que
todos os indicadores são altamente agregados, pois, os
resultados individuais são apresentados através de um
índice numérico. Entretanto, para chegar ao índice geral
essas ferramentas passaram por várias etapas que en-
Fonte: Pesquisa de campo (2009)
Participação
Conforme Quadro 4 a classificação dos indicadores quanto a participação é Top-down, pois, todos os
métodos de avaliação são orientados predominantemente por especialista, não incluindo, portanto, a participação
de atores sociais no processo. Comparativamente, o ID
e o ÍRP utilizaram métodos adaptados a partir de outras
metodologias, enquanto, o ICP utilizou método elaborado
pelos seus autores. Entretanto, todos os indicadores
78
volveram dados primários, indicadores e subíndices.
A CDS das Nações Unidas (2007) considera os
indicadores agregados potenciais, pois, os resultados
apresentados podem levar as melhores decisões e mais
efetivas ações simplificando a tomada de decisão na implementação de politicas publicas em direção às metas
do desenvolvimento sustentável.
utilizaram variáveis considerando as particularidades da
área de estudo.
Para Hardi & Zidan (1997) a avaliação do progresso rumo ao desenvolvimento sustentável deve obter
ampla representação do público: profissional, técnico e
comunitário; e garantir a participação dos tomadores de
decisão para assegurar uma forte ligação na adoção de
politicas e nos resultados da ação.
Revista Agroambiental - Agosto/2011
Interface
por especialistas.
A discussão da interface ocorreu a partir das
subcategorias: complexidade, apresentação, abertura, e
potencial educativo. Entretanto, todas as categorias de
analise são consideradas para observar as ferramentas
sob uma perspectiva crítica.
No IRP os conceitos são de fácil entendimento, entretanto os métodos utilizados (Banco Mundial e
PNUD) são considerados complexos, pois, dependem
de um grau de conhecimento bastante elevado para entendimento dos cálculos.
Complexidade
Comparativamente, o grau de complexidade
do ICP é menor frente ao ID e IRP, pois, os cálculos
apresentados foram mais simples, ou seja, o método envolveu média aritmética e media ponderada. Outro fator
importante é que todos os indicadores se defrontam com
a necessidade de agregação.
Através do Quadro 5 pode-se considerar que
entre os métodos de avalição mais complexos foram o
ID e IRP.
No ID apesar da simplicidade aparente dos conceitos de pobreza, analfabetismo, educação, esperança
de vida e taxa de natalidade, existe a necessidade de
cálculos considerados relativamente complexos inerentes à educação e renda. Essa complexidade é reforçada
na categoria de análise, participação, quando observa se que a abordagem utilizada pelos autores é orientada
Para Bellen (2007) um dos elementos importantes que caracterizam uma ferramenta de avaliação
é seu grau de complexidade, portanto, os métodos que
procuram avaliar a sustentabilidade devem buscar a
simplicidade.
Fonte: Pesquisa de campo (2009)
Apresentação
No Quadro 6 estão dispostos os resultados
quanto a apresentação. Comparativamente os métodos
do ICP, ID e IRP apresentam seus resultados de maneira diferente, apesar de contarem, também, com índices
numéricos.
No ICP além dos índices os resultados também
podem ser visto através de legenda e escala de quatro
cores. No ID os resultados podem ser visualizados por
meio de Legenda. Enquanto no IRP a representação visual é através de gráfico inerente a Pobreza e Indigência
que requer a interpretação dos resultados representados nos eixos desses gráficos.
79
Análise Comparativa entre Indicadores de Avaliação do Desenvolvimento Sustentável em Comunidades
Ribeirinhas no Estado do Amazonas
Abertura
A classificação dos indicadores quanto a abertura está disposto no Quadro 7, que baseada na pirâmide
de informações demonstra a possibilidade de visualizar
os dados contidos no indicador que resultaram nos subíndices e no índice geral.
O ÍRP apresenta o menor grau de abertura entre
as ferramentas estudadas. Pois, mesmo sendo possível observar o resultado final através dos índices e no
gráfico, na interface deste instrumento de avaliação não
é possível visualizar o peso atribuído as variáveis que
compõe esta ferramenta.
Comparativamente o ICP é o indicador que apresenta maior abertura dentre os indicadores, pois, todas
Potencial educativo
Conforme Quadro 8, que reflete o potencial educativo dos indicadores, o ICP emerge para a sociedade o
bem estar de comunidades ribeirinhas, através da cidadania, claramente entendida, a partir da representação
visual, com cálculos de fácil entendimento que influen-
80
as informações estão visíveis na metodologia do indicador, que e além de exibir em sua interface o índice geral
de sustentabilidade e os subíndices ainda apresenta o
peso atribuído a cada indicador.
Para Bellen (2007) quanto maior a possibilidade de observar todas as informações simultaneamente
na interface do indicador, ou seja, no seu resultado final
maior é a abertura do sistema, além de todas as informações utilizadas, os indicadores também devem mostrar o
peso atribuído a cada uma delas nos diferentes níveis da
pirâmide.
Hardi & Zidan (1997) também concordam que
os instrumentos de avaliação devem ser acessíveis e
que os autores devem tornar explícitos nas metodologias todas as informações e interpretações.
ciam a tomada decisão para implementação de politicas
públicas.
Enquanto o ID evidencia a sustentabilidade de
comunidade amazônica através do desenvolvimento
humano. Embora, os cálculos utilizados nesta metodologia sejam considerados complexos os resultados
Revista Agroambiental - Agosto/2011
estão visíveis através de índices e legenda. Os resultados que apontaram o IDH individual e geral acima média,
podem não influenciar os tomadores de decisão para a
implementação de politicas públicas.
IBGE. Indicadores de Desenvolvimento Sustentável:
Brasil 2008 – 1ª. ed. Coordenação de Geografia. Rio de
Janeiro. IBGE, 2008, 479p.
O IRP evidencia o percentual de pobreza e indigência das comunidades, e mesmo que seus métodos
sejam considerados complexos, os resultados apresentados deste indicador, podem auxiliar no processo decisório para a tomada de decisão na implementação de
politicas públicas.
ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION
AND DEVELOPMENT (OECD). Insights: Sustainable
Development: Linking Economy, Society, Environment. OECD 2008 por STRANGE, Tracey & BAYLEY,
Anne. Acesso em 24 de nov. 2008. Disponível em http://
www.oecd.org.
CONCLUSÃO
UNITED NATIONS, Indicators of Sustainable Development: Guidelines and Methodologies, 3. ed. UN Sales Publication, New York, 2007, 99p. Acesso em 08 de
jan. de 2008. On line. Disponível em: http://www.un.org/
esa/sustdev/natlinfo/indicators/guidelines.pdf.
O Sistema de Indicadores Piatam evidenciou a
dinâmica do desenvolvimento de comunidades da Amazônia a partir de três blocos de indicadores: socioeconômico; biótico e físico.
As similaridades encontradas entre os indicadores de Cidadania, Desenvolvimento, Renda e Pobreza
foram: nas dimensões abordadas - econômica e social;
na esfera - local e individual; nos dados - quantitativos e
altamente agregados; e na utilização da abordagem top
down.
As principais diferenças estão refletidas na metodologia, pois, enquanto, o ICP elaborou seu próprio
método de avaliação considerado de fácil entendimento
o ID e o IR adaptaram metodologias do âmbito internacional para o local, consideradas complexas. Os resultados dos indicadores também divergiram, enquanto o ICP
e o IRP apresentaram resultados similares de bem estar
o ID apresentou resultado acima da média.
Estes indicadores podem ser considerados eficazes, pois, foram elaborados com dados advindos de
base solida e metodologias que agrupam variáveis que
refletem o bem estar de comunidades ribeirinhas na
Amazônia, ambientes considerados complexos. Desta
forma, os resultados advindos destes instrumentos de
avaliação podem influenciar o poder público na tomada de decisão para implementação de politicas públicas
rumo ao desenvolvimento sustentável.
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uma análise comparativa. Reimpressão. Rio de Janeiro. Editora FGV, 2007, 256p.
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É um projeto interinstitucional e interdisciplinar que envolve instituições de ensino e pesquisa e tem como principal meta a caracterização Socioambiental da área se
atuação da Petrobras no Estado do Amazonas (RIVAS
et. al., 2007:17).
81
Análise Comparativa entre Indicadores de Avaliação do Desenvolvimento Sustentável em Comunidades
Ribeirinhas no Estado do Amazonas
Ver Eurostat. Disponível em: http://ec.europa.eu/eurostat.
Ver Indicadores de Desenvolvimento Sustentável
IBGE 2002. Disponível em: http://www.ibge.gov.br
Ver Indicadores de desenvolvimento sustentável:
Brasil 2008. Disponível em: http://www.ibge.gov.br
Ver Indicadores sociambientais e atributos de referência para o trecho Urucu - Coari - Manaus. Rio Solimões. Amazônia Ocidental. Disponível em: http://www.
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ANDRADE, L. M. de A. 2005. Indicadores de Sustentabilidade na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do
Piranha (Manacapuru, Amazonas, Brasil). Manaus. Universidade Federal do Amazonas.143p.
82
Revista Agroambiental - Agosto/2011
Efeito de Atividades Antrópicas Sobre a Mata do Instituto Federal de
Educação Ciência e Tecnologia Minas Gerais – campus São João
Evangelista (IFMG-SJE)
Eduardo Felipe Ribeiro, [email protected], Tecnólogo em Silvic., IFMG-SJE.
Paulo do Nascimento, professor do IFMG-SJE.
[email protected], Biólogo, Mestre em Meio Ambiente e Sustentabilidade
Aderlan Gomes da Silva, professor do IFMG-SJE.
[email protected], Engenheiro Florestal, Doutor em Fitopatologia,
Gustavo de Almeida Santos, Tecnólogo em Silvicultura, IFMG-SJE.
Diêgo Gomes Júnior, Tecnólogo em Silvicultura, IFMG-SJE.
RESUMO
A vegetação ainda é fonte de energia para atividades de parte considerável da população. Os objetivos deste trabalho foram: constatar a extração de madeira num fragmento de Mata Atlântica do IFMG-SJE;
verificar as causas dessa extração; estipular indicadores florestais que sinalizam a pressão antrópica sofrida e
obter percepções básicas sobre o ambiente. Realizaram-se entrevistas orientadas nos bairros Centenários I e II e
Engenho de Serra. Detectaram-se as plantas mais retiradas pelos moradores (angico, canudo-de-pito, murici e
pau-jacaré), que tiveram medidas os seus diâmetros a altura o peito (DAP) em parcelas de 1000m² (50 x 20m). Os
DAPs foram submetidos ao teste de Tukey. Os DAPs foram medidos com uma suta e um gabarito de 1,30 m. Nos
tocos remanescentes com sinais de corte e mediram-se os DAPs e encontrou-se uma classe de DAP preferencial
de extração. Em função da baixa escolaridade e do baixo poder aquisitivo dos moradores, há extração de madeira
nessa mata. Os DAPs e o uso de questionários foram eficazes no diagnóstico de interferência antrópica nessa
mata. Envolver os moradores em projetos de educação ambiental e socioeconômico pode favorecer a proteção
desse fragmento de Mata.
Palavras Chave: Degradação florestal, ambiente antropizado, educação ambiental.
Effect of Human Activities on the Forest of the Federal Institute of Science
and Technology Education Minas Gerais - campus São João Evangelista
(IFMG-SJE)
ABSTRACT
The vegetation is still a source of energy for activities of a considerable part of the population. Our objectives were: to establish the logging in a fragment of Atlantic Forest IFMG-SJE; determine the causes of extraction;
provide indicators that signal the forest suffered human disturbance, to obtain basic perceptions about the environment. Interviews were conducted in targeted neighborhoods Centenários I and II and Engenho de Serra. Plants
were detected more withdrawals by residents (angico, canudo-de-pito, murici and pau-jacaré), which measures had
their diameters at breast height (DBH) in parcels of 1000m ² (50 x 20m). The DBH were submitted to Tukey’s test.
The DBHs were measured with a caliper and a template of 1.30 m. In the remaining stumps with signs of cut and
measured the DBH and found himself a preferred class of DBH extraction. As a function of low education and low
income residents, there are logging this forest. The use of questionnaires and DBH have been effective in the diagnosis of human interference that forest. Involve residents in environmental education projects and socioeconomic
may favor the protection of this forest fragment.
Keywords: Forest degradation, anthropic environment, environmental education.
83
Efeito de Atividades Antrópicas Sobre a Mata do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia
Minas Gerais – campus São João Evangelista (IFMG-SJE)
INTRODUÇÃO
Diferente da forma atual, a relação do homem
com a natureza num período que antecede ao cartesianismo era dado pelo respeito e temor aos fenômenos
naturais do planeta. A partir do pensamento antropocentrista, o homem passa então a destruir os recursos naturais de forma generalizada. Em relação a vegetação,
o Brasil é um dos países que mais colaboraram para
sua destruição, embora, num contexto global, preserve
consideráveis áreas de floresta.
A abordagem sobre a Ecologia Política, tecida
por Trevizan (2011), mostra que “a sociedade capitalista e o estado moderno são vistos por ele como os maiores responsáveis pela degradação dos recursos naturais”. Talvez por considerar que os problemas naturais
sejam naturais e até mesmo necessários é que mesmo
de forma inconsciente tenha havido promoção desigual
da modernização agrícola. Essa desigualdade levou os
pequenos agricultores a intensificar a exploração dos
recursos naturais, como forma de aumentar a produção.
Assim, eliminar florestas para uso agrícola, aliada ao
mau uso do solo e dos recursos hídricos, tem contribuído de forma negativa para ampliar os problemas ambientais criados pelo atual modo de produção.
A Mata Atlântica, por inserir-se no espaço mais
disputado pelo crescimento populacional e econômico
do Brasil, é um dos biomas mais ameaçados com a
exploração desses recursos. A pressão sobre as florestas se dá pela expansão de áreas para a agropecuária,
pela retirada ilegal de madeiras e mesmo para abastecimento de indústrias moveleiras. Os remanescentes
desse bioma localizam-se normalmente em áreas de difícil acesso e em regiões pouco desenvolvidas economicamente. Mesmo com as fitofisionomias muitas vezes
mal conservadas a Mata Atlântica é um conjunto florestal complexo, possuindo várias áreas em regeneração
(Lino & Simões, 2002).
Apesar dos atuais avanços tecnológicos, estima-se que parte considerável da população ainda
utilize lenha ou outros resíduos vegetais como fonte de
energia para atividades ligadas à sua subsistência e isso pode afetar a biodiversidade remanescente, através
da fragmentação florestal que atinge a maior parte dos
biomas brasileiros (Pereira, et al., 2003).
Entre as espécies arbóreas predominantes na
área de fragmento florestal com domínio de Mata Atlântica, podemos citar: Angico, Canudo-de-pito, Pau-jacaré
e Murici (Nunes et al., 2003). O angico (Anadenathera
sp), Mimosoideaceae, possui madeira pesada, ótima para
lenha e carvão. Apresenta frequência elevada e padrão
de dispersão descontínua e irregular. Ocorre principalmente em formações primárias e secundárias, em solos
bem drenados, aonde chega a formar populações quase
puras, produzindo grande quantidade de sementes viá-
84
veis. (Lorenzi, 2002).
O canudo-de-pito (Mabea stulifera) é uma Euphorbiaceae nativa, lactescente e arbórea (Vieira et al.,
1997). Para Lorenzi (2002) essa espécie é pioneira típica de vegetação secundária, de terrenos arenosos com
baixa fertilidade e alta acidez. Ocorre normalmente
agregada em bordas de matas e em locais muito antropiza-dos, raramente encontrada isolada e no interior de
mata primária densa.
Byrsonima sericea é uma Malpighiaceae arbustiva conhecida como murici, possui copa ovalada e
densa, casca áspera e pode atingir 16 m de altura. Tem
preferência por solos argilosos e férteis ao longo de rios
e córregos, também ocorre em capoeiras e beiras de
matas e capões (Lorenzi, 2002).
Piptadenia gonoacantha (pau-jacaré) é pioneira
a secundária inicial, que ocorre de Minas Gerais a Santa Catarina, quase que exclusivamente em associações
secundárias como capoeiras, em solos de fertilidade variada (Carvalho, 1999). Possui tronco normalmente tortuoso, com cristas aculeadas por toda sua extensão. Sua
casca possui cristas lineares longitudinais interligadas
por outras menores transversais, lembrando o couro de
jacaré, motivo de seu nome. A madeira é de baixa resistência e altamente susceptível ao ataque de térmitas
(Trevisan et al., 2003). Segundo Lorenzi (2002), é uma
das melhores madeiras para carvão e lenha.
A educação ambiental é instrumento básico e
indispensável para sustentabilidade dos processos de
preservação ambiental. Para Zaneti et al. (2002) existe uma insustentabilidade da estrutura sócio-ambiental
das cidades, tanto das relações entre as pessoas, como
das relações das pessoas com a natureza. Para que essas relações sejam viáveis, é necessário que haja uma
educação ambiental integrada que proporcione as condições necessárias para a produção de conhecimentos
e habilidades, visando à participação coletiva na gestão
do uso de recursos naturais.
Características particulares tornam certas espécies de plantas mais susceptíveis a extração. Acredita-se
que populações humanas, circunvizinhas de remanescentes florestais, utilizem diferenciadamente os recursos
florestais.
Os objetivos deste trabalho foram: constatar e
verificar as causas da extração de madeira na Mata do
IFMG-SJE; detectar as espécies de plantas mais retiradas pelos moradores do entorno dessa mata; obter percepções básicas de conservação ambiental dos moradores; diagnosticar a finalidade das madeiras extraídas;
constatar as condições socioeconômicas dos moradores
e estipular critérios que sinalizem a pressão antrópica
sofrida por esse fragmento de Mata Atlântica.
Revista Agroambiental - Agosto/2011
METODOLOGIA
Este trabalho foi desenvolvido num fragmento
de Mata Atlântica (Figura 1), do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia Minas Gerais (IFMGSJE), no município de São João Evangelista, aqui denominado Mata do IFMG-SJE, no período de abril de
2008 a maio de 2009.
Figura 1 – Mapa da mata do IFMG-SJE com as divisões de áreas e suas respectivas parcelas alocadas neste experimento.
A Mata do IFMG-SJE possui aproximadamente
80,00 hectares (Scolforo et al., 2008), confronta, dentro
do campus, com plantações e pastagens e externamente com residências do bairro Engenho de Serra (Pombal)
e com uma fazenda de exploração pecuária. Esse município fica na região Centro Nordeste de Minas Gerais,
no Vale do Rio Doce, mais especificamente na Bacia do
Suaçuí, próximo aos vales do Jequitinhonha e Mucuri
(IBGE, 2009). O clima nessa região é segundo Köppen
- (2010) Aw - Tropical Continental com chuvas de verão
e inverno seco. A temperatura média anual é de 22°C,
a precipitação média anual é de 1.180 mm e a altitude
média é de 680m (portalsjevanjelista, 2009).
Realizaram-se noventa entrevistas, orientadas
por um questionário, com moradores dos bairros Engenho de Serra e Centenários (I e II), escolhidos em função
de sua proximidade com a Mata do IFMG-SJE.
Processou-se em percentagem os dados relativos às espécies de plantas mais utilizadas pela população, a fim de constatar as espécies mais retiradas da
mata pelos moradores. Dentro da mata, em 22 parcelas
georreferenciadas de 1000m² (50x20m), mediu-se, através de uma suta e um gabarito de 1,30 m, o Diâmetro
à Altura do Peito (DAP) dos indivíduos acima de 2,5 cm
diâmetro, dessas espécies.
As parcelas foram lançadas a uma distância mínima de 30 m, segundo ao método de amostragem em
dois estágios, que consiste na divisão da população em
unidades de primeiro estágio, com determinada homogeneidade (Soares et al., 2006). Essas unidades foram
subdivididas em unidades de segundo estágio (parcelas), definidas pelo método de amostragem a esmo ou
sem norma, um tipo de amostragem não probabilística
(Costa Neto, 1977).
Na Mata do IFMG-SJE as unidades de primeiro
e segundo estágio foram: área de borda (16,25 ha) com
oito parcelas (5% dessa área); áreas de acesso à mata
via trilhas (6,47 ha) com seis parcelas (10% dessa área)
e áreas de mata fechada sem acesso por trilhas (54,96
ha) com oito parcelas (1,5% dessa área).
Durante a coleta de dados, também se obteve
o diâmetro de tocos remanescentes de árvores, com
sinais de corte, encontrados ao longo da mata, independente de ocorrerem ou não nas parcelas alocadas.
Não foi possível saber de quais espécies eram os tocos restantes das plantas cortadas, mas a partir deles
85
Efeito de Atividades Antrópicas Sobre a Mata do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia
Minas Gerais – campus São João Evangelista (IFMG-SJE)
obteve-se um intervalo de diâmetro preferencial de extração (classe) das plantas. Salienta-se que a classe de
diâmetro preferencial trata-se de uma aproximação, pois
os tocos remanescentes estavam a cerca de 50 cm do
solo e os DAPs foram tomados a 1,30 m e dependendo
da conicidade da árvore, pode haver uma maior ou menor interferência na diferença dos diâmetros. A partir da
classe de diâmetro preferencial e dos DAPs obtidos para
as quatro espécies, formaram-se as demais classes de
DAP.
fornecendo parâmetros para a discussão e interpretação
dos dados.
Os dados obtidos nas entrevistas orientadas foram tabulados e em função das características dos dados
e dos objetivos deste trabalho, optou-se pela análise unidimensional dos dados. Segundo Auricchio (2003), essa
análise é simples e consiste na tabulação das respostas
com resultados em percentuais e plotados em tabelas,
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Fez-se por local (trilha, mata fechada e borda) e
por espécies mais exploradas (angico, murici, pau-jacaré e canudo-de-pito) as médias dos DAPs. Comparou-se
essas médias entre os locais e entre as espécies pelo
teste de Tukey ao nível de 5% de significância, após a
realização da ANOVA dos DAPs recolhidos. Utilizou-se
o software SAEG (SAEG, 2007) para o tratamento estatístico dos dados.
A baixa escolaridade dos pais e uma melhora
na escolaridade dos filhos em reação aos pais (Tabela
1) indicam conscientização das pessoas em relação à
importância da educação formal em suas vidas.
Tabela 1 – Escolaridade dos moradores (pais e filhos) entrevistados por bairro.
Bairros
Centenário I
Centenário II
Engenho de Serra
Média (%)
Escolaridade pais (%)
1ª a 4ª série
82,2
73,3
66,7
74,1
Fundamental
-
6,7
13,3
6,7
Médio
17,8
20,0
13,3
17,0
Superior
-
-
6,7
2,2
Escolaridade filhos (%)
1ª a 4ª série
39,2
33,3
19,3
30,6
Fundamental
30,4
46,6
42,0
39,7
Médio
26,1
13,3
25,8
21,7
Superior
4,3
6,8
12,9
8,0
Para Gomes & Sparta (2005) o interesse por
educação parece consolidado entre os jovens. A baixa
renda familiar (até dois salários mínimos) declarada por
82,2% dos entrevistados (Tabela 2) e a baixa escolarida-
de da maioria dos pais indicam o baixo poder aquisitivo
da população entrevistada. Para IBGE (2009), o acesso
a bens e serviços básicos depende quase que exclusivamente do nível de renda atingido pelas famílias.
Tabela 2 – Número de moradores por residência e renda familiar por bairro em %.
Bairro
Número de moradores por residência
Renda familiar (salário mínimo)
Até 2
3a5
6a8
De 1 a 2
De 2 a 4
Mais de 4
Centenário I
13,3
73,3
13,3
Mais de 8 Menos de 1
-
20,0
66,7
13,3
-
Centenário II
20
60
13,3
6,7
13,3
86,7
-
-
Engenho de Serra
20
50
30
-
6,7
53,3
40,0
-
Média
17,8
61,1
18,9
2,2
13,3
68,9
17,8
-
Em média 62,3% dos entrevistados utilizavam
lenha em suas atividades. Destes (34,4%) utilizam-na
há mais de 10 anos (Tabela 3). Esses dados consonam
com os de Botrel et al. (2006) segundo os quais consumir lenha como combustível (energia) relaciona-se ao
86
fator econômico da população. A extração de madeira
na Mata do IFMG-SJE ocorre em função do baixo poder
aquisitivo da população. Durante as entrevistas vários
moradores afirmaram usar lenha para reduzir gastos
com energia elétrica e gás de cozinha.
Revista Agroambiental - Agosto/2011
Tabela 3 – Tempo de utilização de lenha pelos moradores entrevistados por bairro.
Tempo (anos)
1a3
3a6
6 a 10
Mais de 10
Total de usuários
Não utiliza mais
Nunca utilizou
Centenário I
6,7
46,7
53,4
20,0
26,7
% de resposta/bairro
Centenário II
Engenho de Serra
20,0
26,7
6,7
13,3
10,0
33,3
23,3
60,0
73,3
13,3
6,7
26,7
20,0
As características socioeconômicas da população podem influir diretamente na maneira como eles
agem em relação à mata. Para Silva et al. (2003), as
dificuldades sócio-econômicas criam uma condição adversa à percepção ambiental pelos indivíduos, conduzindo-os a desenvolver condutas e ações degradadoras do
ambiente.
A partir da percepção do meio ambiente pelos
moradores estabelece-se um entendimento das relações entre eles e o ambiente circundante. Para Pelissari
et al. (2004), percepção ambiental é a tomada de consciência do ambiente pelo homem, é o ato de perceber o
ambiente em que está inserido, aprendendo a proteger e
a cuidar desse ambiente. Para esses autores um desafio
Média
15,6
6,7
5,6
34,4
62,3
13,3
24,5
à proteção dos fragmentos florestais é a existência de
diferentes percepções sobre valores e sua importância
entre os indivíduos de culturas ou grupos sócio-econômicos diferentes.
Para 62,2% dos entrevistados, a Mata do IFMGSJE é essencial para a vida da fauna e flora local e para
a qualidade de vida da população (Tabela 4). Para 4,4%
deles a percepção sobre a mata baseia-se na capacidade dela fornecer recursos às pessoas, gerando uma visão utilitarista da natureza. Para Camargo et al. (2008),
o olhar utilitarista faz as pessoas serem a favor da preservação das matas por elas lhes fornecer recursos materiais.
Tabela 4 – Percepção ambiental da Mata do IFMG-SJE segundo os moradores entrevistados por bairro.
Percepção
Bairros
Centenário I
(%)
Centenário II
(%)
Engenho de Serra (%)
Média (%)
Local que fornece recursos florestais
e animais
-
6,7
6,7
4,4
Local de beleza rara por estar tão perto de uma área urbana
46,7
33,3
20,0
33,3
Essencial para vida de espécies da
fauna e flora e qualidade de vida da
população
53,3
60,0
73,3
62,2
A maioria dos entrevistados (88,9%) não contribui de forma direta para a conservação da mata, mas
tem vontade de vê-la conservada e por isso aprovam a
idéia de se adotar mecanismos para sua conservação
(Tabela 5). Para eles, a mata é importante, mas eles não
sabiam argumentar satisfatoriamente suas posições.
Segundo eles “ela é purificadora do ar” ou “evita o efeito
estufa” e por isso deve ser conservada.
Tabela 5 – Contribuição dos entrevistados para a conservação da Mata do IFMG-SJE por bairros.
87
Efeito de Atividades Antrópicas Sobre a Mata do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia
Minas Gerais – campus São João Evangelista (IFMG-SJE)
Tabela 5 – Contribuição dos entrevistados para a conservação da Mata do IFMG-SJE por bairros.
Contribuição
Porcentagem de respostas por bairros
Média (%)
Centenário I
Centenário II
Engenho de Serra
De alguma maneira contribui para sua
conservação
6,7
-
16,7
7,8
Não contribui, mas tem vontade de vêla conservada
93,3
100,0
73,3
88,9
Não tem interesse na sua conservação
-
-
10,0
3,3
No Bairro Engenho de Serra, 10% dos entrevistados não tem interesse na conservação da Mata do
IFMG-SJE. Segundo Camargo et al. (2008) pessoas sem
interesse em conservar os remanescentes enxergam as
matas como algo inútil, sem sentido na vida delas. Elas
preferem viver o seu bairro, lócus “civilizado”, urbano.
Silva et al. (2003), em trabalho sobre percepção
ambiental com moradores do povoado de Guabiraba
Contribuição
Percebe-se uma relação de “intimidade” dos
moradores do bairro Engenho de Serra com a Mata do
IFMG-SJE (Tabela 6).
Porcentagem de respostas por bairros
Centenário I
Centenário II
Engenho de Serra
Média (%)
sim
20,0
26,7
66,7
37,8
não
80,0
73,3
33,3
62,2
Afirmaram conhecer o interior dessa mata 66,7%
dos moradores, no entanto, só nesse bairro detectou-se
(Tabela 5) morador sem interesse em preservar esse
fragmento de mata.
Em campo constataram-se cercas destruídas e/
ou a sua inexistência em certos pontos da área limítrofe
da mata com a cidade, possibilitando o livre trânsito de
moradores e animais domésticos à mata, além de servir
de passagem para o escoamento de lenha extraída. Mediante essa realidade constatada, a questão relevante
que se coloca é: será possível conservar uma mata praticamente urbana apenas com vigilância e controle de
acesso a essa mata?
Em um estudo sobre a percepção ambiental de
visitantes do parque Estadual da Serra do Rola Moça,
em Minas Gerais, Jacobi et al. (2004) verificaram que a
maioria dos grupos estudados considera desvantajoso o
fato de uma reserva se situar próximo a centros urbanos.
Para Serrão (2002), a preservação de uma floresta depende da participação dos moradores do entorno e dos
visitantes.
Para proteção do remanescente em estudo
acredita-se que a atuação do IFMG-SJE para além dos
perímetros legais de sua mata seja imprescindível. É
necessário construir laços afetivos entre os moradores
e a mata, principalmente entre os que a utilizam como
fonte de lenha. Nesse sentido, ações efetivas de educação ambiental do IFMG-SJE e da prefeitura de São João
Evangelista (PMSJE) precisam integrar a comunidade
88
em Recife-PE, encontraram 26,6% das respostas à pergunta: “como preservar a mata de Dois Irmãos?” como
sendo: “não sabiam como preservar a mata”. Outras respostas foram: “fiscalizando” 18,3% e “não desmatando”
16,6%.
e o remanescente, com o propósito de garantir de fato
a conservação do mesmo. Deve-se compatibilizar a necessidade de extrativismo (lenha) de alguns moradores
(aspectos sócio-econômicos) com a conservação do remanescente (aspectos educativo-conservacionistas) de
Mata Atlântica em estudo.
Os dados obtidos no presente trabalho como trilhas e clareiras no interior da mata; sinais de ferramentas em troncos de árvores; pedaços de troncos de árvores cortadas e a presença de espécies características
de área de mata em recuperação (pioneiras ou “plantas
de sol”), tais como cipós, bambus, imbaúbas e canudode-pito, possibilitam afirmar que existem intervenções
humanas no fragmento estudado.
Boa parte das intervenções constatadas em
campo neste trabalho consonam com Gomes et al.
(2004), segundo os quais a presença de bambus caracteriza floresta explorada e exploração seletiva, abertura
de clareiras e outras interferências antrópicas, podem
aumentar a incidência de cipós nos fragmento florestais.
O canudo-de-pito, apesar de explorado, é um importante indicador de pressão antrópica, pois segundo Pereira
(2007) essa espécie é normalmente encontrada agregada em bordas ou em áreas com impacto antrópico acentuado.
Não houve diferenças estatísticas significativas
entre as médias dos diâmetros das espécies, quando
se considera apenas o local onde as plantas se encontram na mata (Tabela 7). Isso implica na retirada
Revista Agroambiental - Agosto/2011
indiscriminada das espécies, independente do local,
quando elas atingem determinado diâmetro na mata.
Tabela 7 – Nº de indivíduos e médias dos DAPs (cm) por local.
Locais
Nº de indivíduos
Médias (cm)
Mata Fechada
95
19.2 A
Borda
191
17.4 A
Trilha
160
Médias seguidas de mesma letra não se diferem pelo teste de Tukey a 5% significância.
A partir do diâmetro de tocos remanescentes de
árvores com sinais de corte, encontrados ao longo da
mata, obteve-se um intervalo de diâmetro preferencial
de extração das plantas (10,7 a 24,5 cm), com média
de 17,6 cm. Essa média é a mesma encontrada para
os DAPs nos diferentes locais da mata, quando se somam todos os indivíduos encontrados nas parcelas. Isso
indica, a rigor, que todas as plantas encontradas estão
susceptíveis ao corte uma vez que o DAP médio delas
é o mesmo que aquele encontrado para os tocos remanescentes.
Não foi possível saber de quais espécies eram
os tocos remanescentes das plantas cortadas, e não
foram investigados os motivos da preferência por esse
DAP, mas pressupõe-se ser pela facilidade de transporte
das plantas retiradas até as residências dos extratores.
Constatar diferentes diâmetros de espécies vegetais em determinado fragmento de mata num dado
momento possibilita vislumbrar o processo natural de recomposição da vegetação, mas também a percepção da
extração aleatória ou não de determinadas espécies em
função de determinado interesse do extrativista. Relacionar DAPs com a extração de determinadas espécies,
16.5 A
pode indicar qual delas é mais explorada num determinado ambiente em algum momento. Presença de muitos
DAPs baixos, sinaliza regeneração, mas também que os
DAPs ausentes podem ter sido explorados, não garantindo a recomposição esperada nos diferentes estágios
subseqüentes de desenvolvimento populacional de determinada espécie. DAPs um pouco maiores ausentes
significam que plantas com um padrão médio de DAP
bons para a exploração foram suprimidas da vegetação.
Além disso, ausência ou redução do número de indivíduos com determinados DAPs podem indicar extração ou
outros fenômenos antrópicos ou naturais passados, manifestados na estrutura atual da comunidade vegetal.
As diferenças estatísticas nos DAPs verificadas
entre as espécies (Tabela 8) devem estar refletindo
aspectos fenológicos naturais das espécies. Murici e
angico devem ser ainda plantas jovens em função
dos DAPs médios encontrados, pois segundo Lorenzi
(2002), Byrsonima sericea (murici) e Anadenathera sp
(angico) pode chegar, respectivamente, a 70 e 80 cm
de diâmetro. Mabea stulifera (canudo-de-pito), pode ter
DAP com até 30 cm (Vieira et al., 1997) Piptadenia gonoacantha (pau-jacaré) pode chegar a 50 cm de DAP
(Trevisan et al., 2003).
Tabela 8 – Comparação das médias dos DAPs das espécies encontradas no fragmento de mata.
Espécies
N° de indivíduos
Murici
Angico
Médias dos DAPs (cm)
28
27.4009 A
130
19.8823 B
89
15.7921 BC
Pau-jacaré
Canudo-de-pito
145
14.8614 C
Médias seguidas de mesma letra não se diferem pelo teste de Tukey a 5% significância.
Os diâmetros das espécies, tomados individualmente nas parcelas, foram reunidos por local e separados por classe de diâmetro (Tabela 9). Uma das classes
(10,7 a 24,5 cm) contém a média dos tocos remanescentes (17,6 cm) medidos na mata, independente das
parcelas. Essa classe é formada pelo desvio padrão (6,9
cm) no entorno da média dos tocos remanescentes.
que nas trilhas, praticamente em todas as classes de
DAPs. Esses números são discrepantes quando se compara os DAPs entre 40 e 60 cm. É necessário investigar
mais o problema, mas há sinalização de que a presença
de árvores grandes na borda exerce um efeito tampão
sobre os extratores das plantas, protegendo-os da extração que ocorre normalmente no interior da mata.
Na borda há um maior número de indivíduos do
89
Efeito de Atividades Antrópicas Sobre a Mata do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia
Minas Gerais – campus São João Evangelista (IFMG-SJE)
Tabela 9 – Número de indivíduos por local em cada classe de diâmetro.
Local
Classes de diâmetro (cm)
Total de indivíduos
2,5 - 10,7
10,7 - 24,5
24,5 - 40
40 - 60
60 - 80
por local
Borda
80
66
34
10
1
191
Trilha
41
44
18
2
1
106
Mata fechada
23
53
11
5
3
95
Total de indivíduos
144
163
63
17
5
392
Na borda há um número elevado de indivíduos
na classe de 2,5 a 10,7 cm e em todos locais há poucos
indivíduos na última classe de diâmetro, indicando estar
esta mata sempre nos estágios iniciais regeneração das
plantas, pois apesar da extração o banco de sementes
é mantido. É preciso estudos continuados na Mata do
IFMG-SJE, a fim se verificar os quantitativos populacionais ao longo dos tempos, para cada classe de diâmetro.
Segundo Nunes et al. (2003) geralmente florestas maduras apresentam maior número de árvores com áreas basais grandes (próximo do diâmetro máximo da espécie),
enquanto aquelas em estádios mais iniciais de regeneração, formam grandes adensamentos de árvores finas.
Nas trilhas observa-se, a partir da segunda classe, um número gradativamente decrescente de indivíduos nas classes de maior diâmetro. Resultados esperados, uma vez que o acréscimo de biomassa nas áreas
sob mata é menor em função da menor disponibilidade
interna de luz. Embora na área de borda seja maior o
número de indivíduos na penúltima classe em relação às
outras áreas, entende-se que os exemplares de planta
com diâmetros maiores, que persistem vivos na borda,
tenham tido tempo suficiente para atingir o porte verificado, encontrando condições que favoreceram esse crescimento. Áreas de borda podem incrementar localmente
área basal de indivíduos devido à maior incidência de luz
(Nunes et al., 2003).
De forma geral verifica-se, a partir da segunda
classe de diâmetros, que o número total de indivíduos
cai. Apenas 5,6% deles localizam-se nas duas últimas
classes (Tabela 9). Isso indica que a mata encontra-se
em processo de sucessão ecológica, não sendo, portanto uma mata remanescente original. Para Nunes et
al. (2003) áreas que sofreram perturbações severas,
possuem maior densidade de árvores finas e as áreas
que sofreram distúrbios mais leves apresentam maior
densidade de árvores altas e grossas, indicando estádio
regenerativo avançado.
Para 91,4% dos moradores a madeira extraída
tinha fins energéticos (Tabela 10). Apenas 8,6% dos entrevistados usavam-na de forma estrutural (cercas, caibros e vigas para construção). Esses dados confirmam
a exploração de madeira na Mata do IFMG-SJE e indiretamente pressão antrópica sobre os demais organismos
dependentes desse fragmento florestal. Para Pereira et
al. (2003) a exploração de subsistência afeta a fauna e a
flora de um remanescente de vegetação colocando em
risco a biota local. Para esses autores é possível minimizar a exploração dos remanescentes, a curto e médio
prazo, através de ações de natureza educativo-ambiental na comunidade do local.
Tabela 10 – Destino dado à madeira extraída pelos moradores por bairro.
Finalidade da madeira
Lenha
% de uso por bairro
Centenário I
Centenário II
Engenho de Serra
Média de consumo
(%)
100
90,9
83,3
91,4
Estrutural
–
9,1
16,7
8,6
Móveis
–
–
–
–
Comércio
–
–
–
–
CONCLUSÃO
Avaliando informações e imagens coletadas em
campo constatam-se a retirada de madeira na Mata do
IFMG-SJE, principalmente para fins energéticos, sendo
de baixa expressão seu uso para fins estruturais. Os moradores extraem lenha da mata em função de seu baixo
90
poder aquisitivo e percebem essa mata como importante
na qualidade de suas vidas.
O uso dos DAPs das espécies mais exploradas
pelos moradores, associado às entrevistas orientadas
por questionário e as imagens serviram como indicadores de pressão antrópica sobre esse fragmento de
Revista Agroambiental - Agosto/2011
mata, visto que a partir deles confirmou-se a pressão
sofrida por essa mata. Essa pressão ocorre em função
de uma DAP médio independente do local (borda, trilha
e mata fechada) de extração.
O envolvimento dos moradores em projetos de
educação socioambiental deve ser garantido a fim de
proteger a Mata do IFMG-SJE, que merece atenção institucional, principalmente do campus onde se encontra
inserida.
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92
Revista Agroambiental - Agosto/2011
Cultivo do Feijoeiro em Solo de Baixa Fertilidade em Sucessão à Cultivares
de Batata Submetidas a Diferentes Adubações
1Marcelo Bregagnoli; 2Keigo Minami; 3Ariana Vieira Silva; 4Raul Henrique Sartori
1IFSULDEMINAS – campus Muzambinho, caixa postal 02, 37890-000, Muzambinho, MG, 035 – 3571-5051,
e-mail: [email protected]
2ESALQ/USP, Departamento de Fitotecnia, Piracicaba, SP, e-mail: [email protected]
3IFSULDEMINAS – campus Muzambinho, caixa postal 02, 37890-000, Muzambinho, MG, 035 – 3571-5051,
e-mail: [email protected]
4IFSULDEMINAS – campus Muzambinho, caixa postal 02, 37890-000, Muzambinho, MG, 035 – 3571-5051,
e-mail: [email protected]
RESUMO
A utilização de adubos residuais da batateira na sucessão de culturas, especialmente para o feijão, por se tratar
de uma planta de baixa exigência nutricional e um produto que constituí o hábito alimentar do brasileiro, mesmo sendo
pouco estudada e compreendida pelos agricultores. Assim, objetivou-se com o presente estudo, avaliar o teor foliar e a
produtividade do feijoeiro em sucessão a diferentes cultivares de batata, em solo de baixa fertilidade, sob diferentes
adubações e a melhor interação na produção de batata, em massa seca total, e o feijoeiro. O experimento foi
instalado em Latossolo Vermelho Distrófico, de textura franco-arenosa, município de Nova Resende, sul de Minas
Gerais, no inverno de 2004 (batata) e verão 2004/2005 (feijoeiro). O delineamento estatístico foi de blocos ao
acaso, com quatro repetições e esquema fatorial 3 x 4 envolvendo com três cultivares de batata (Atlantic, Asterix e
Lady Rosetta) e quatro adubações no plantio (1, 2 e 4 t ha-1 de fertilizante formulado 4-14-8) e mais um
tratamento testemunha, constituído por adubação recomendada com base na análise de solo (40 kg de N + 420
kg P2O5 + 220 kg de K2O ha-1). Em sucessão, na safra das águas, nas mesmas parcelas anteriores, implantouse a cultura do feijoeiro, cultivar Pérola (grupo carioca). A concentração de fertilizantes anteriormente utilizadas
para a cultura da batata não afetou a germinação do feijoeiro. Os resultados da análise foliar do feijoeiro, aos 55
dias após semeadura, indicaram maiores valores acumulados de N e P na dose de 4 t ha-1 da formulação
NPK, mas com efeito depressivo sobre o teor de Mg. Nas parcelas posteriores a cultivar de batata Lady Rosetta,
o teor de Ca foi reduzido. Os teores de Cu foram elevados, sobretudo nos tratamentos cultivados anteriormente
com ‘Atlantic’ e no tratamento com 4 t 4-14-8 ha-1. A adubação de acordo com a análise de solo resultou no maior
teor foliar de B no feijoeiro, 60% superiores aos demais tratamentos de adubações. A adubação de acordo com a
análise de solo resultou na maior produtividade no feijoeiro em cultivo sucessivo. A adubação com 2 t 4-14-8 ha-1
resultou na melhor interação para a produção de massa seca total da batata e produtividade de grãos no feijoeiro.
Palavras-chave: Solanum tuberosum L.; Phaseolus vulgaris L.; sucessão de culturas.
Crops field of Bean in Soil of Low Fertility in Succession to Potato Cultivars
Under Different Fertilization
ABSTRACT
The use of residual fertilizer in the potato crop succession, especially for beans, especially because it is a
plant of low nutritional requirements and a product that is the one of the main Brazilian food and eating habits, even
though it is still a crop little studied and understood by farmers. Thus, the aim of the present study was to evaluate the
content and productivity of bean leaf in succession to different potato cultivars in low fertility soil under different fertilization and better interaction in potato production, total dry mass, and the bean. The experiment was installed in a
typic dystrophic, sandy loam texture, in the city of Nova Resende, south of Minas Gerais, during the winter of 2004
(potato) and summer 2004/2005 (bean). The statistical design was randomized blocks with four replications and 3 x
4 factorial design involving three potato cultivars (Atlantic, Asterix and Lady Rosetta) and four fertilization at planting
(1, 2 and 4 t ha-1 fertilizer formulated 4-14-8), plus a control treatment, consisting of fertilizer recommended on the
basis of analysis of soil (40 kg N + 420 kg P2O5 + 220 kg K2O ha-1). In succession, the harvest of the waters, in
the same previous installments, it was implanted black bean cultivar Perola (Group Carioca). The fertilizer concentration previously used for cultivation of potatoes did not affect the germination of bean. The results of the analysis
of bean leaf, 55 days after sowing, indicated higher values of N and P accumulated in a dose of 4 t ha-1 NPK, but
93
Cultivo do Feijoeiro em Solo de Baixa Fertilidade em Sucessão à Cultivares de
Batata Submetidas a Diferentes Adubações
depressing effect on the Mg content. In the plots after
the potato cultivar Lady Rosetta, the Ca content was reduced. The levels of Cu were high, especially in the earlier treatments grown with ‘Atlantic’ and treatment with 4
t ha-1 4-14-8. The fertilizer according to the soil analysis
resulted in higher foliar B in the bean, 60% higher than
other fertilization treatments. The fertilizer according to soil
analysis resulted in higher productivity in the bean crop
in succession. A 4-14-8 fertilizer with 2 t ha-1 resulted in
better interaction for the production of total dry mass of
potato and grain yield in common bean.
Key words: Solanum tuberosum L.; Phaseolus vulgaris L.; sequential crops.
INTRODUÇÃO
De cultivo complexo, ciclo curto e alta produção
por área, a batateira é exigente em nutrientes, com a
adubação influenciando na quantidade e qualidade dos
tubérculos (Filgueira, 2000). A extração de nutrientes pela cultura é variável em função de diferentes cultivares,
condições edafoclimáticas, tratos culturais, tubérculossemente, adubos utilizados e da quantidade de nutrientes absorvidos e exportados pelos tubérculos (Fontes,
1997).
O excesso da adubação pode tornar a atividade
onerosa e afetar a qualidade dos tubérculos. A batateira
ocupa a primeira posição no consumo de fertilizantes, entre
as culturas mais cultivadas no Brasil, em média de 2,3 a
2,8 t ha-1 de fertilizantes no plantio (Neves et al., 2003),
chegando a 6 t ha-1 (Ribeiro, 1999). Analisando 1000
experimentos de diferentes países, verificou-se que as
maiores produções de batata foram atingidas quando se
empregou de 200 a 300 kg de N, 100 a 200 kg de P2O5
e 100 kg de K2O ha-1 (Perrenoud, 1993).
A aquisição de batata-semente, defensivos e
fertilizantes na bataticultura, representa de 65 a 85% do
custo final (Camargo Filho, 2001). Os impactos
ambientais advindos desta prática devem ser considerados, como a lixiviação de K e N, contaminando o
lençol freático (Bregagnoli, 2006).
Estratégias são necessárias para aperfeiçoar a
aplicação de fertilizantes (eficiência econômica), com
grandes quantidades de nutrientes empregadas para a
batateira, superiores às necessidades fisiológicas, com
baixo aproveitamento pela planta (Fontes, 1997). Teores
foliares de nutrientes servem como importante indicativo da eficiência da absorção dos nutrientes contidos no
solo, assim como a sucessão de culturas são estratégias verificando-se o sistema como um todo, no entanto,
com pouco embasamento científico.
Inúmeras são as tentativas de aproveitamento destes nutrientes no solo remanescentes da cultura
da batata, como na cana-de-açúcar (Goviden, 1990;
Iman et al., 1990), no milho (Batugal et al., 1990; Silva
et al., 2000; Kikuti et al., 2002a) e, especialmente para o feijoeiro (Silva Filho, 1986, Kikuti et al., 2002b),
cultura de fácil cultivo, de elevada demanda interna
e de excelente valor de mercado, aumentando a
eficiência do sistema com maiores períodos de rotação
e menor uso da solanácea, resultando em vantagens
agronômicas e ambientais (Stark & Porter, 2005).
No sul de Minas Gerais, a utilização de feijão
em sucessão a batata é uma atividade bastante difundida, onde se tem estudado diversas interações entre
espécies vegetais, cultivares, estratégias de adubação
e safras, etc.(Kikuti et al., 2002b). Busca-se a maior
utilização e eficiência do uso solo, com rentabilidade
das culturas, com maior retorno financeiro.
Objetivou-se, com o presente estudo, avaliar o teor foliar e a produtividade do feijoeiro (cultivar
Pérola) em sucessão a diferentes cultivares de batata,
em solo de baixa fertilidade, sob diferentes adubações
e a melhor interação na produção de batata, em massa seca total, e o feijoeiro.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido no período de 18
de junho a 07 de outubro de 2004 (batata) e de 20 de
outubro de 2004 a 15 de fevereiro de 2005 (feijão),
na Fazenda Goiabeiras, município de Nova Resende,
sul de Minas Gerais, 21º 7’ 14” latitude (S) e 46º 26’ 0”
longitude (W) a 1210 m de altitude.
Durante o cultivo da batata, a temperatura
média foi de 17,3ºC, a precipitação pluvial foi 93,6 mm,
suplantados com irrigação. Durante o ciclo do feijoeiro,
a temperatura média foi de 19,6ºC e a precipitação 978
mm no ciclo. O solo da área experimental é Latossolo
Vermelho Distrófico, de textura franco-arenosa e suas
características químicas apresentadas na Tabela 1.
Tabela 1 - Resultado análise de solo antes da instalação cãs culturas da batata e do feijoeiro. Nova Resende (MG),
2004
pH M.O. P2O5 K2O
Ca
Mg
Al H+Al SB
T
V
Zn
Fe
Mn
Cu
B
S
H2O
dag
kg-1
mg
dm-3
cmolc
dm-3
%
mg
dm-3
6,12
2,74
4,7
127
1,8
0,7
94
0,03
2,5
2,8
5,32
53
3,16
107
15,2
1,48
0,7
8,4
Revista Agroambiental - Agosto/2011
O cultivo da batata ocorreu em delineamento experimental de blocos ao acaso, com quatro repetições e
esquema fatorial de 3 x 4 envolvendo três cultivares de
batata (Atlantic, Asterix e Lady Rosetta) e quatro adubações no plantio da solanácea (1, 2 e 4 t ha-1 do formulado 4-14-8), mais adubação recomendada (Fontes,
1997), com base na análise de solo (40 kg de N + 420
kg P2O5 + 220 kg de K2O ha-1 utilizando como fontes
sulfato de amônio, superfosfato simples e cloreto de potássio). Em cobertura para todos os tratamentos foram
utilizados 150 kg ha-1de sulfato de amônio (sulfato de
amônio). A área da parcela experimental para a batata
foi de 7,2 m2, com tubérculos em quatro linhas de plantio, espaçada 0,8 metro entre linhas e 0,3 metro entre tubérculos, com a densidade de 41.667 tubérculos ha-1.
Em sucessão instalou-se a cultura do feijoeiro,
cultivar Pérola (grupo carioca), utilizando as mesmas
parcelas experimentais da batateira com 7,2 m2. As parcelas foram constituídas por 3 linhas de 5 metros, espaçadas 0,5 m entre si e 12 sementes por metro, utilizando
os adubos residuais da cultura da batata. As sementes
utilizadas para plantio apresentavam 92% de germinação, 0,5% de impurezas e estande final de 220.000 plantas ha-1.
A leguminosa recebeu adubação de cobertura
com 30 kg de N e 10 kg de K2O ha-1 (fonte formulado
30-00-10) e aplicação foliar em pré-florada (40 dias após
semeio – DAS) com fungicida (metalaxyl), inseticida
(malathion) e fertilizante solúvel (10-10-10 + Mg, Zn, Cu,
Mn e Mo).
Na batata, avaliou-se a produtividade de tubérculos e o teor de massa seca total (MST). No feijoeiro,
avaliou-se o número de plantas emergidas (15 DAS); o
teor foliar de nutrientes foliares (55 DAS) e a produtividade de grãos (colheita).
O teor de nutrientes foi determinado pelo terceiro
trifólio de plantas coletados ao acaso, utilizando digestão nitro-perclórica para os elementos, exceto para N e B
obtidos, via digestão catalítica e seca, respectivamente
(Sarruge & Haag, 1974). Os métodos empregados para
determinação foram: K (espectrofotometria de chama), P
(colorometria do metavanadato), S (turbidimetria do sulfato de Bário), Ca, Mg, Zn, Cu, Mn e Fe (espectrometria
de absorção atômica), B (colorometria da azometina-H)
e N (semi-Kjeldahl), (Malavolta et al., 1997). A produtividade do feijoeiro foi determinada a partir da colheita das
vagens no estádio de maturação, secas em terreiro e
pesado os grãos.
Realizou-se a análise estatística, a distribuição
normal e o desvio padrão dos resultados, a homogeneidade das variâncias e o Teste de Tukey para comparação das médias, a 5% de probabilidade, utilizando o
software estatístico SAS.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Germinação do feijoeiro
Não existiram diferenças significativas entre
os tratamentos quanto à emergência das plantas do
feijoeiro (P≥0,05), demonstrando que a quantidade de
fertilizantes utilizados para a batata, não influiu sobre a
germinação do feijão em sucessão, não apresentando
higroscopicidade à semente no período chuvoso, no
qual foi instalado o experimento.
Teor foliar de nutrientes
O teor dos nutrientes foliares do feijoeiro aos 55
DAS apresentou diferenças significativas (P<0,05) entre
as parcelas nos tratamentos: adubações e cultivares de
batata cultivada anteriormente.
O teor de N apresentou variação de 4,85 a
5,32% entre os tratamentos, com valores concordantes
com Malavolta et al. (1997), que relatam como ideal para
o feijoeiro de 3 a 5%. Os maiores teores de N foram
observados na dose máxima de fertilizante (4 t 4-14-8
ha-1) em todas cultivares de batata anteriormente cultivadas, similar ao observado por Silva et al. (2000) para
a mesma dose do adubo residual na cultura do feijão.
Similar ao ocorrido com N, o teor de P foi de
0,36% na maior adubação anterior (4 t 4-14-8 ha-1),
16,7% superior as demais adubações residuais. Malavolta et al. (1997) definem como valores ideais de P
aqueles entre 0,2 e 0,3%, valores inferiores aos obtidos
neste experimento, apontando que o uso de adubação
residual da batateira para o feijoeiro, atende à necessidade da planta em P.
Com relação ao teor de K, a variação foi de 2,09
a 2,58%, dentro da faixa recomendada de 2,00 a 2,50%
(Malavolta et al., 1997), sem diferenças significativas entre os tratamentos (adubação x cultivares batata). Provavelmente, isso decorre a baixa capacidade residual
do K, altamente lixiviável, sobretudo em solos de textura
arenosa (Fassbender & Bornemiza, 1987).
Na análise foliar do feijoeiro nas parcelas anteriormente cultivadas com ‘Lady Rosetta’ (em todas as
adubações), houve um decréscimo de 8% no teor de Ca,
quando comparada as demais cultivares de batata. No
tratamento com 2 t 4-14-8 ha-1, observaou o maior teor
de Ca foliar para o feijoeiro (média de 1,92%), 12,5% superior às demais adubações. O teor recomendado para
o feijoeiro é de 1,50 a 2,00% (Malavolta et al.,1997).
Os teores foliares de Mg e S médios observados foram de 0,40 e 0,38%, respectivamente, menores
que os indicados por Malavolta et al. (1997) que são de
0,40 a 0,70% (Mg) e 0,50 a 1,00% (S). O baixo teor de
Mg foliar se deve provavelmente, a elevada adubação
potássica empregada na batata (efeito antagônico K x
Mg), que na menor dosagem da formulação 4-14-8 (2 t)
foi de 80 kg e, na maior (4 t), 320 kg de K2O ha-1 plantio,
95
Cultivo do Feijoeiro em Solo de Baixa Fertilidade em Sucessão à Cultivares de
Batata Submetidas a Diferentes Adubações
o que pode ter exercido forte influência sobre a absorção de Mg pelo feijoeiro. A adubação de acordo com a
análise de solo utilizada para a batateira, residual ao
feijoeiro, resultou no menor teor foliar de S com 0,34%
aos 55 DAS, mesmo com a presença de sulfatos na sua
composição.
Na análise foliar para os micronutrientes, o teor
de Fe foi elevado (mas dentro do recomendado), sobretudo na adubação com 4 t 4-14-8 ha-1, com 360 mg kg-1
nas folhas do feijoeiro, com as demais adubações apresentando média de 282 mg kg-1. Entre as cultivares de
batata anteriormente cultivada, ‘Lady Rosetta’ apresentou 15% menos. O teor foliar de Fe para o feijoeiro é de
100 a 400 mg kg-1 (Malavolta et al.,1997).
O teor foliar de Zn para o feijoeiro nas parcelas
anteriormente cultivadas com a cultivar Asterix apresentou 15% mais Zn (82,8 mg kg-1), dentro da faixa ideal
para o feijoeiro que é de 20 a 100 mg kg-1 (Malavolta et
al., 1997).
O menor teor de Mn foi observado onde, anteriormente, havia sido utilizada a cultivar Lady Rosetta
(16% menor) com 217,3 mg kg-1, mas dentro do ideal,
que varia de 30 a 300 mg kg-1 (Malavolta et al.,1997).
O cultivo sucessivo do feijoeiro nas parcelas
anteriormente cultivadas com ‘Atlantic’, resultou em altos teores de Cu foliar, com 45,5 mg kg-1, 23% superior
as demais cultivares, sendo que para este elemento, a
adubação de maior incremento no teor foliar de Cu, foi
aquela feita na dose de 4 t 4-14-8 ha-1, elevando em
55% o teor foliar do feijoeiro (57,0 mg kg-1). O teor de Cu
observado neste experimento para todos os tratamentos
e suas interações (adubação x cultivares de batata), são
superiores ao recomendado por Malavolta et al. (1997)
que varia de 10 a 20 mg kg-1, proveniente do elevado
emprego de fungicidas a base de íons metálicos como
o Cu, utilizados para a batateira, uma vez que na análise foliar e de tubérculos na colheita da batata, também
apresentaram elevado valor para este elemento.
Em relação ao teor foliar de B, este micronutriente apresentou elevada concentração no resíduo da batateira, quando se empregou a adubação de acordo com
a análise de solo, 60% superior as demais adubações
(107 mg kg-1) valor acima do recomendado por Malavolta et al. (1997) que é de 30 a 60 mg kg-1. Cuidados
devem ser tomados para o correto balanceamento entre
nutrientes, pois, o excesso de B pode interferir na dinâmica de absorção e translocação do Zn e N na batateira
(Westermann, 2005).
Produtividade do feijoeiro x produção de MS
da batata
As cultivares de batata anteriormente cultivada, apresentaram diferentes acúmulos de massa
seca total (MST) nos tubérculos (P≤0,01). Esta medida
torna-se importante, uma vez que o maior acúmulo de
MS pelos tubérculos, teoricamente, pode resultar em
menor disponibilidade de nutrientes às culturas sucessivas, uma vez que estes são componentes importantes da MS, especialmente na batateira. ‘Atlantic’ foi a
cultivar que mais acumulou MS nos tubérculos colhidos,
totalizando 3063 kg ha-1, superior a ‘Asterix’ que apresentou 2527 kg de MS ha-1. Com menor acúmulo de
MS, ‘Lady Rosetta’ apresentou 2216 kg ha-1 (Figura 1).
Figura 1. Produção de massa seca de tubérculos de batata sob diferentes adubações em solo de baixa fertilidade.
Nova Resende (MG), 2004
Médias de mesma letra, minúsculas comparando adubações e, maiúsculas comparando cultivares, não se diferem
entre si, a 5% de probabilidade pelo Teste de Tukey.
96
Revista Agroambiental - Agosto/2011
Entre as adubações testadas, aquela feita com 2
t 4-14-8 ha-1 foi a que propiciou o maior acúmulo de MS
nos tubérculos de batata, com 3143 kg ha-1, seguidas
das adubações com 1 e 4 t 4-14-8 ha-1, respectivamen-
te, 2759 e 2673 kg de MS ha-1. A adubação de acordo
com a análise de solo resultou no menor acúmulo de MS
pelas cultivares de batata, em solo de baixa fertilidade,
com média de 1832 kg ha-1 (Tabela 2).
Tabela 2 - Produção de massa seca dos tubérculos (PMST), classe I (PMSI), classe II (PMSII), classe III (PMSIII)
e classe IV (PMSIV) de cultivares de batata sob diferentes adubações em solo de baixa fertilidade. Nova Resende
(MG), 2004
PMST
PMSI
PMSII
Cultivar
Atlantic
Asterix
Lady Rosetta
PMSIII
PMSIV
kg ha-1
3063 A
2527
772 A
B
2216
C
324
B
282
B
1336 A
732
963
855 AB
C
B
1072 A
710
B
135
C
423 A
281
B
Adubação
1 t 4-14-8 ha-1
2 t 4-14-8 ha-1
4 t 4-14-8 ha-1
2759
b
3143 a
2673
b
381 bc
1090 a
998 a
328 a
639 a
1231 a
1042 a
270 a
544 ab
967 ab
937 a
265 a
275
754
40 kg N +
420 kg P2O5 +
1832
c
c
b
539
b
255 a
220 kg K2O ha-1
Médias seguidas de mesma letra, minúscula comparando adubações e maiúscula comparando cultivares nas colunas, não diferem estatisticamente entre si, a 5% de probabilidade pelo Teste de Tukey.
Na avaliação da produtividade do feijoeiro em
função do aproveitamento do adubo residual deixado
pelas interações cultivares de batata x adubações, em
solo de baixa fertilidade, ocorreram diferenças altamente significativas (P<0,01) em relação às adubações residuais empregadas, sem interferência das cultivares de
batatas anteriormente utilizadas.
A adubação residual de maior incremento na
produtividade do feijoeiro foi aquela que se empregou a
adubação de acordo com a análise de solo para a cultu-
ra da batata, resultando em 2502 kg ha-1 de grãos, superior as demais adubações da formulação com 4-14-8.
A mesma adubação resultou na menor produtividade entre as cultivares de batata (acúmulo de MS) (Figura 2),
demonstrando que a adubação de acordo com a análise
de solo para a cultura da batata, com altas dosagens de
nutrientes e com as fontes utilizadas (sulfato de amônio,
superfosfato simples e cloreto de potássio), não reverteram em produtividade na cultura da batata, mas foram
reaproveitados pelo feijoeiro.
97
Cultivo do Feijoeiro em Solo de Baixa Fertilidade em Sucessão à Cultivares de
Batata Submetidas a Diferentes Adubações
Figura 2. Produtividade do feijoeiro cultivado sob quatro adubações residuais de três cultivares de batata. Nova
Resende (MG), 2005
As adubações com 2 e 4 t de 4-14-8 ha-1 re- bações. 2006. 141 p. Tese (Doutorado em Fitotecnia)
sultaram em 2172 e 2191 kg ha-1 de grãos para o feijo- – Escola Superior de Agricultura ‘Luiz de Queiroz’, Piraeiro, respectivamente, sem diferença entre si. Mesmas cicaba, 2006.
produtividade entre essas duas dosagens de fertilizan- CAMARGO FILHO, W.P. Produto Interno Bruto (PIB) da
tes, residuais da batateira, foi observado por Silva et al. cadeia produtiva da batata. Batata Show, Itapetininga,
(2000) no para a cultura do milho, utilizando as duas ano1, n.2, p.22, 2001.
quantidades (2 e 4 t) da formulação 4-14-8, sem diferenCASTRO, A.M.C.; BOARETTO, A.E. Adubação foliar do
ças significativas na produção de milho.
feijoeiro com nutrientes, vitamina B1 e metionina. CienCom menor produtividade, mas semelhante à tífica, São Paulo, v.a6, p. 173-178, 2002.
adubação com 2 t de 4-14-8 ha-1, a adubação com 1
tonelada do formulado, resultou na produção de 1907 FASSBENDER, H.W.; BORNEMIZA, E. Química del
kg ha-1 de feijão. A produção de MS dos tubérculos das suelos, con énfasis en suelos de América latina. Turcultivares de batata para as adubações com 1, 2 e 4 t de rialba, IICA, 1987. 420p.
4-14-8 ha-1 foram, respectivamente, 2759, 3143 e 2673 FILGUEIRA, F.A.R. Novo manual de olericultura: agrokg de MS ha-1, sendo as adubações com 1 e 4 t iguais tecnologia moderna na comercialização de hortaliças.
entre si e inferiores a adubação de 2 t de 4-14-8 ha-1.
Viçosa:UFV, 2000. 402p.
As produtividades de feijão obtidas neste expe- FONTES, P.C.R. Preparo do solo, nutrição mineral e
rimento foram semelhantes àquelas obtidas por Castro adubação da batateira. Viçosa, UFV, 1997. 42p.
& Boaretto (2002), em condição de alto grau tecnológico
do feijoeiro na época das águas, que apresentaram ren- GOVINDEN, N.; Intercropping of sugar-cane with potato
dimentos entre 1900 a 2370 kg ha-1. Kikuti et al. (2002) in Mauritius: A successful, cropping system. Field Crop
obteve-se produtividades entre 826 e 2210 kg ha-1 para Research, Amsterdan, v.25, n.1-2, p.99-110, 1990.
o feijoeiro, utilizando adubo residual da batateira, na sa- IMAN, S.A.; HOSSAIN, A.H.M.D.; SIKKA, L.C.; MIDMOfra das águas, valores similares ao obtido neste experi- RE, D.J. Agronomic management of potato/sugarcane
mento. Os mesmos autores observaram que a produtivi- intercropping and its economic implications. Field Crop
dade, em mesmas condições de solo (adubo residual), Research, Amsterdan, v.25, p.111-122, 1990.
foi superior na safra inverno-primavera, com irrigação
KIKUTI, H.; ANDRADE, M.J.B.; RAMALHO, M.A.P. Ressuplementar, sob adubação 3 t 4-14-8 ha-1.
posta diferencial de cultivares de milho ao efeito residual
CONCLUSÕES
da adubação da batata. Ciência e Agrotecnologia, LaEm solo de textura franco-arenosa de baixa fer- vras, v.26, n.1, p.108-116, 2002a.
tilidade, a maior produtividade do feijoeiro foi obtida sob
a utilização da adubação residual da batateira baseada
na recomendação da análise de solo. Porém, na associação produtividade feijoeiro e produção de batata em
MS, a adubação com 2 t 4-14-8 ha-1 mostrou-se eficaz
no acúmulo de MS para a cultura da batata, com elevação dos teores de nutrientes foliares e produtividade do
feijoeiro em cultivo sucessivo, acima da média.
AGRADECIMENTOS
A FAPESP pelo apoio financeiro dado ao projeto e a Técnica de Laboratório Elaine Cristina Ferreira do
Laboratório de Análise de Solos e Tecido Foliar do IFSULDEMINAS – campus Muzambinho, pelo empenho e
dedicação.
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99
Revista Agroambiental - Agosto/2011
Análise de Sistemas de Geração de Energia Elétrica com Base na Pegada
Ecológica Modificada
Bruno Silva de Carvalho, [email protected] - IFSULDEMINAS;
Carlos Cezar da Silva, [email protected] – IFSULDEMINAS;
Cezar Augusto Frimaio da Silva, [email protected] - UFABC
RESUMO
O presente trabalho determina a Pegada Ecológica modificada e a Capacidade de Carga (Zhao et al.,
2004) de três sistemas de geração de energia elétrica com uso de combustíveis renováveis e as compara. Foram estudados os sistemas de Utilização de Resíduos Sólidos Urbanos em um Aterro Sanitário na cidade de São
Paulo (Frimaio, 2011), Estação de Tratamento de Efluentes na cidade de Uppsala na Suécia (Bjorklund, et al., 2001)
e uma Usina Autônoma localizada em São Paulo (Silva, 2006). Os resultados obtidos apontam que o sistema de
Aproveitamento de resíduos apresenta melhor performance com relação ao sistema de Estação de Tratamento
de Esgoto a Usina Autônoma.
Palavras chaves: emergia, pegada ecológica, usina autônoma, resíduos, energia, ETE.
Analysis of Systems of Generation of Electric Energy on the Basis of the
Modified Ecological Footprint
ABSTRACT
The present work determines the modified Ecological Footprint and the Load Capacity (Zhao et al., 2004)
of three systems of generation of electric energy with fuel use you renewed it compares and them. The systems
Station of Treatment of in the city of Uppsala in Sweden (Bjorklund, et al., 2001) in São Paulo had been studied
of Use of Urban Solid Residues in Sanitary Aterro in the city of São Paulo (Frimaio, 2011) Effluent located Independent Plant and, (It hisses, 2006). The gotten results point that the system of Exploitation of residues
better presents performance with regard to the system of Station of Treatment of Sewer the Independent Plant.
Key words: emergy, ecological footprint, independent plant, residues, energy, STS
INTRODUÇÃO
Atualmente, a questão ambiental é discutida em todos os meios de comunicação: jornais, revistas,
programas de televisão, rádio, etc. Alguns dos assuntos mais abordados são: a questão do aquecimento global,
derretimento de geleiras, catástrofes, mas se quer paramos para pensar o que muitas vezes é a causa desses
acontecimentos. Preocupa-se muito em colocar a culpa em quem está a nossa volta, ou em quem polui mais ou
gera mais resíduos do que nós, mas esquecemos que as nossas ações de uma forma ou de outra acaba por
produzir algum tipo de resíduo, danificando assim o ambiente em que vivemos. Cada ser humano que habita o
nosso planeta deixa um “rastro”, uma “marca”, uma Pegada Ecológica. É interessante que pudéssemos aprender
a ver as nossas atitudes individualmente, e não simplesmente as atitudes coletivas.
Pegada Ecológica
A Pegada Ecológica pode ser comparada ao simples caminhar sobre a areia na praia, quando caminhamos
calmamente e prestando a atenção em nossos passos podemos verificar o pequeno rastro que deixamos
nela, mas quando começamos a correr ou andar com maior intensidade com movimentos mais bruscos, a nossa
pegada será maior e mais profunda. É necessário levar em consideração cada um que estão nessa caminhada,
cada um terá uma pegada maior ou menor. É citada na literatura como um indicador de sustentabilidade, a qual
tem como proposta a quantificação das áreas necessárias para produzir recursos e assimilar os resíduos
gerados por certa população (Wackernagel e Rees, 1994).
Pegada Ecológica Modificada
Utilizando a síntese em emergia Odum, (1996), Zhao et al. (2004) propõem uma cálculo de Pegada
Ecológica (PE) e Capacidade de Carga (Cc) modificadas. Assim, a Pegada Ecológica modificada é considerada
como
101
Análise de Sistemas de Geração de Energia Elétrica com Base na Pegada Ecológica Modificada
a área da região que corresponde ao fornecimento de
recursos não renováveis e provenientes da economia
ao sistema.
Breve histórico sobre a geração de energia
Por volta do século XVIII, através da Revolução
Industrial onde que houve um desenvolvimento tecnológico através do carvão como principal fonte de energia,
veio também a concepção de que a natureza seria uma
fonte de ilimitada de recursos à disposição do homem
(Hemery et. al., 1993). Com a descoberta do petróleo,
o carvão deixa de ser a principal fonte de energia No
século XX, o uso intensificado do petróleo impulsionou
ainda mais o processo de industrialização e os desenvolvimentos econômicos, ocasionando intensa modificação do espaço ocupado pelo homem (Santos, 1977).
Já o do uso da geração de eletricidade impulsionou os avanços tecnológicos e criou uma forte dependência dos combustíveis fósseis para geração de
energia, a exemplo do carvão mineral. (Strapasson,
2004). Atualmente, o consumo de energia elétrica vem
crescendo a cada dia mais, tanto no setor industrial, comercial ou residencial. Se esse aumento continuar de
forma significativa pode ser que venha ocorrer uma crise devido à escassez energética. Segundo Goldemberg
(1998), esse consumo de energia vem crescendo em
média 2%, ao ano na última década com perspectiva de
que venha a duplicar em 30 anos se esse consumo de
energia elétrica continuar dessa forma. Em específico,
no Brasil isso significa uma rápida exaustão de reservas
de combustíveis fósseis.
Segundo Braga (2002), fontes renováveis são
os recursos naturais que depois de utilizados ficam disponíveis novamente naturalmente através de ciclos que
ocorrem na natureza, ou seja, sua taxa de uso é menor
que a taxa de regeneração. Atualmente, o desenvolvimento sustentável é visto como uma necessidade global, para que as gerações vindouras tenham condições
de sobrevivência (Brundtland, 1987). Apesar do Brasil
não estar entre os países desenvolvidos estabelecidos
no protocolo de Kyoto em 1992, é necessário seguir o
princípio de responsabilidade comum, pois é uma questão que diz respeito à todas nações. A necessidade de
utilização de fontes de energias renováveis é de grande
importância, uma vez que contribuem para a mitigação
das emissões de gases de efeito estufa (GEE) (Udaeta,
1997).
A princípio as usinas elétricas utilizavam o carvão mineral como combustível, sendo substituído por
outros combustíveis fósseis como, por exemplo, energia nuclear. Existem usinas hidrelétricas que obtém a
energia través do acionamento de turbinas pela queda
d’água sendo este um sistema de geração de longa vida
útil e renovável, podendo acarretar conseqüências ao
meio ambiente como perda da biodiversidade.
102
Fontes renováveis como a energia eólica também são utilizadas, mas, em pequena escala, sendo obtida através da energia cinética dos ventos onde que,
as células de combustível, que combinam eletroquimicamente hidrogênio e oxigênio para produzir eletricidade,
energia geotérmica, como também à conversão solar
direta em eletricidade, através de um sistema chamado fotovoltaico (sistema constituído de um conjunto de
painéis para a captação de energia solar). Segundo estimativas de Hall (1991), a utilização de um terço dos
resíduos disponíveis seria capaz de atender a 10% do
consumo elétrico mundial e com a implantação de um
programa de plantio de 100 milhões de hectares de culturas especialmente para esta atividade, seria possível
atender 30% do consumo.
Descrição dos Sistemas
Aterro Sanitário
O aterro sanitário utilizado como base para este
trabalho está localizado na cidade de São Paulo, opera
com a carga anual de 1,70 toneladas de resíduos sólidos.
ETE
A estação de tratamento de esgoto situa-se na
cidade de Uppsala, Suécia, que trata de 100.000 m³ de
esgoto anualmente pelo método de Lodo Ativado. De
acordo com o protocolo de Kyoto (MRE, 1997), que estabelece que até 2010 o uso de fontes de energia renovável deveria alcançar 10% da matriz energética (Braga
et al, 2002),
Usina autônoma
A usina autônoma é idealizada para o Estado
de São Paulo em uma área de 4.360 ha, onde 1.494
ha seriam utilizados para o plantio de cana, produzindo
40.000 litros de álcool diários, e 27,1 kWh de eletricidade
excedente por tonelada de cana utilizando uma caldeira
de 67 bar/480˚C, operando durante 210 dias ao ano.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A revisão bibliográfica está dividida em duas
partes, a primeira trata de apresentar as bibliografias
utilizadas como base de dados para este trabalho, a segunda parte apresenta as bibliografias que utilizaram a
pegada ecológica modificada (Zhao et al, 2004)
Primeira parte, para a realização dos cálculos
necessários para a elaboração deste trabalho, foram utilizados as bibliografias apresentadas abaixo:
Frimaio (2011) descreve que devemos considerar que a queima do biogás gerado no aterro sanitário,
além de gerar eletricidade, também transforma o metano
em dióxido de carbono e vapor d’água, e seu aproveitamento deve ser considerado, uma vez que num período
de 100 anos, 1 grama de metano contribuiria 21 vezes
mais para a formação do efeito estufa do que 1 grama
Revista Agroambiental - Agosto/2011
da dióxido de carbono (World Bank, 2004).
Frimaio (2011) realizou a contabilidade em
emergia do Aterro Sanitário São João, dessa forma foi
possível estimar todos os fluxos de energia que o sistema utiliza, assim sendo, alguns insumos foram contabilizados, como por exemplo, maquinários e materiais
de construção. Os fluxos de energia do sistema foram
transformados para uma métrica comum, o joule de
emergia solar, através da multiplicação das quantidades
de cada insumo pela sua respectiva transformidade
Corsini et. al (2011), concluem que através do
indicador ELR verificou-se que o resultado obtido pelo
sistema da usina autônoma representa que a energia
solar dos recursos não renováveis e dos recursos advindos do sistema econômico é 2,12 vezes maior que a
energia solar equivalente dos recursos renováveis utilizados, indicando uma baixa carga ambiental e um baixo
estresse ambiental. Devido ao resultado obtido no índice
de sustentabilidade, fica clara a necessidade de melhorias com o intuito de ter um aumento na sustentabilidade
do ciclo.
Bjoklund et al., (2001), realizaram o estudo em
uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) verificando que o sistema apresenta poucas fontes de energia
renovável, seu índice é de 0,0657%, sendo inferior ao
mínimo de 10% estabelecido pelo protocolo de Kyoto
(MRE, 1997). Com relação ao índice de sustentabilidade, o valor obtido é muito baixo, com isso é necessário
que haja grandes melhorias para que ocorra aumento na
sustentabilidade do ciclo.
utilizado para geração de energia elétrica, seria ineficiente, pois a transformidade encontrada é maior do que
as de outras fontes de energia elétrica.
Silva (2006) fez a comparação entre dois sistemas, o primeiro utiliza um sistema de biodigestão no Estado do Rio de Janeiro e o segundo opera com o sistema
de Lodo Ativado na Estação de Tratamento de Efluentes
no Estado de São Paulo. Foram quantificadas as emergias envolvidas nestes sistemas e comparado os dois
modelos de tratamento utilizando indicadores ambientais. Comparando esses dois sistemas pode-se verificar
que o sistema de Lodo Ativado apresentou melhor performance com relação à Capacidade de Carga e à Pegada Ecológica. Quando calculado e diferença entre esses
dois indicadores observou-se que o Biodigestor obteve
um valor negativo, apresentando um déficit de área.
OBJETIVOS
Objetivo Geral
O presente artigo tem como objetivo realizar o
cálculo da Pegada Ecológica modificada dos sistemas
propostos, que utilizaram a Contabilidade em emergia
e compará-las. O primeiro trata da Geração de Energia
Instalado em uma Usina Autônoma no Estado de São
Paulo, o segundo em uma Estação de Tratamento de
Esgoto (ETE) situada em Uppsala, Suécia e o terceiro
sistema é sobre o Aproveitamento Energético dos Resíduos Sólidos Urbanos em Aterro Sanitário no Estado de
São Paulo.
Objetivos Específicos
Segunda parte, aqui são apresentadas as bibliografias de trabalhos que utilizaram a pegada ecológica
modificada como métrica.
Apresentar o resultado dos sistemas estudados,
determinando o superávit ou déficit de área de cada sistema.
Odum (1996) desenvolveu e aplicou a metodologia em emergia para o cálculo de sistemas ambientais,
processos industriais e serviços. Utilizando a síntese
emergética Odum, (1996) e Zhao et al, (2004) propuseram um cálculo de Pegada Ecológica (PE) e Capacidade de Carga (Cc) modificadas, sendo assim a Pegada
Ecológica modificada é considerada como a área da região que corresponde ao fornecimento de recursos não
renováveis e provenientes da economia. É considerada
a capacidade de carga, a área necessária para o fornecimento de recursos renováveis ao sistemas. A diferença entre os dois valores (Cc-PE), mostrará se o sistema
está em débito ou em crédito com a biosfera.
METODOLOGIA
Björklund et al. (2001), calcularam a transformidade da energia elétrica gerada através do aproveitamento do biogás produzido por um biodigestor instalado
na estação de tratamento de esgoto com sistema de tratamento convencional, na Suécia. Comparando o valor
obtido com a transformidade da energia elétrica utilizada
no sistema, que é composta por uma parte de energia
elétrica de usina nuclear e outra parte por energia elétrica de hidroelétrica, concluíram que se o sistema fosse
A pegada ecológica modificada estabelece uma
relação entre a emergia e pegada ecológica, desenvolvida por Rees e Wackernagel (1994), associa os recursos
utilizados por um sistema à área necessária para o suprimento destes recursos.
Zhao et al. (2004) associam os fluxos de emergia, que também representam os recursos utilizados
por um sistema, a uma área. Desta forma, propõem um
cálculo de pegada ecológica modificada, que leva em
conta os recursos utilizados pelo sistema (N+F+R) em
relação à densidade emergética local. Zhao et al (2004)
propõem ainda o cálculo da Capacidade de Carga modificada (Cc), que leva em conta a emergia renovável do
sistema e a densidade emergética do planeta. Quanto
maior o valor de Cc, ou seja, quanto maior for o fluxo de
emergia renovável utilizada pelo sistema, maior será o
tempo em que o ambiente poderá suportar este sistema.
A Pegada Ecológica é calculada através da razão entre os recursos não renováveis somado com os
103
Análise de Sistemas de Geração de Energia Elétrica com Base na Pegada Ecológica Modificada
recursos pagos, dividido pela emergia da região sobre a
área da região conforme equação 1.
A Capacidade de Carga é dado pelo razão entre
os recursos renováveis divididos pela emergia da Terra
pela área da Terra, de acordo com a equação 2.
A diferença entre Cc e PE indica um débito
(custo ao planeta) ou crédito (benefício ao planeta)
do sistema para com o meio ambiente, é calculada
pela razão entre a área da Terra pela emergia da
Terra, multiplicado pela diferença entre os recursos
renováveis e
representada na equação 4, multiplicado
pela somatória dos recursos não renováveis e os
recursos pagos.
Equação 1
Equação 2
Equação 3
O valor de EmT refere-se à emergia total da Terra e
AT é a área da Terra, sendo R a emergia renovável
utilizada pelo sistema,
é a razão entre a área
da região sobre a área da Terra estudada, dividido
g/y= (Amp/At)/(Emp/Emt)
pela razão entre a emergia da região pela emergia
da Terra. EmP é ao total de emergia da região em
que está o sistema e AP é a área desta região, conforme equação 4.
Equação 4
Tabela 1 . Avaliação da Emergia da Estação de Tratamento de Esgoto em Uppsala, Suécia. (adaptado
de Björklund et al., 2001)
104
Revista Agroambiental - Agosto/2011
Tabela 2 . Avaliação da Emergia da Usina Autonoma, São Paulo. (adaptado de Silva, 2009)
Tabela 3 . Avaliação da Emergia de Aproveitamento Energético dos Resíduos Sólidos Urbanos em Aterro Sanitário, São Paulo. (adaptado de Frimaio, 2011)
Os resultados obtidos com o uso da metodologia utilizando as equações 1, 2 e 3, são apresentadas na tabela 4.
105
Análise de Sistemas de Geração de Energia Elétrica com Base na Pegada Ecológica Modificada
Tabela 4. Cálculo da PE e da Cc dos sistemas da estação de tratamento de esgoto (ETE), usina autônoma e
aproveitamento de resíduos sólidos urbanos em uma aterro, segundo a proposta de Zhao et al., 2004(*).
(*) Cálculos detalhados no anexo.
Verifica-se que o resultado obtido no sistema
de Aproveitamento de Resíduos com relação à Pegada
Ecológica é 34,91 vezes maior que o valor do sistema de
Usina Autônoma e 2.433.1010 vezes maior que a Estação de Tratamento de Efluentes, dessa forma o sistema
com a menor pegada ecológica é a Estação de Tratamento de Efluentes. Indicando que a Usina autônoma é
o sistema que necessita de maior área para implementação.
Com relação à Capacidade de Carga o maior
valor obtido foi o do Sistema de Aproveitamento de Resíduos, sendo ele 12,20 vezes maior que a Usina Autônoma e 3,39.1014 vezes maior que o sistema de Aproveitamento de Resíduos. Indicando que, sendo o maior fluxo
de emergia renovável pelo sistema, maior será o tempo
em que o ambiente poderá suportar este sistema.
Verifica-se que o resultado da diferença entre a
Capacidade de Carga e a Pegada Ecológica foi melhor
na Estação de Tratamento de Esgoto, sendo que este
é 3,17.1003 menor que a Usina Autônoma e 3,39.1005
vezes menor que o sistema de Aproveitamento de Resíduos.
CONCLUSÕES
Foram realizados o cálculo da Pegada Ecológica modificada, da Capacidade de Carga, e a diferença
entre esses indicadores. A partir dos resultados determinados, verifica-se que o sistema de produção de energia elétrica com Aproveitamento de resíduos apresenta
melhor desempenho, pois a área excedente segundo a
metodologia aplicada é maior, sendo assim o “rastro”
deixado no planeta por esse sistema é bem inferior comparado aos sistemas discutidos.
Para que os sistemas de geração de energia
106
elétrica na ETE e na Usina Autônoma possam apresentar melhor desempenho, seria necessária a substituição
de alguns fluxos de energia de fontes pagas por recursos de fontes renováveis.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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107
Revista Agroambiental - Agosto/2011
REVISÃO:
Relação Entre o Comportamento de Aves, a Conformação da Paisagem
Fragmentada e a Estrutura das Populações de Plantas
Bruno Senna Corrêa, Aloysio Souza de Moura
RESUMO
O processo de fragmentação do Bioma Cerrado é fruto da expansão agrícola. A paisagem fragmentada
atualmente no Bioma é composta por manchas de fragmentos florestais isolados ou conectados por corredores
de vegetação, natural ou introduzida. As aves são excelentes dispersores e contribuem para a conformação e
dinâmica de ambientes fragmentados uma vez que estão diretamente relacionadas com os vegetais. São necessários estudos complementares e mais complexos envolvendo essa área, somando os esforços de estudos de
frugivoria e dispersão, visando à reconstrução e reabilitação de ambientes fragmentados. No presente manuscrito
são apresentadas algumas relações entre a distribuição e comportamento de aves e a estrutura da paisagem
fragmentada, sob o ponto de vista da vegetação.
Palavras-chave: estrutura de paisagem, dispersão de propágulos, diversidade de aves
Relation Between Bird Behavior, Landscape Conformation and Plant
Population Structure
ABSTRACT
The process of spalling of the Cerrado Biome is fruit of the agricultural expansion. The fragmented landscape currently in this Biome is composed for spots of forest fragments isolated or hardwired by corridors of vegetation, natural or introduced. The birds are excellent dispersive and contribute for the conformation and fragmented
environment dynamics a time that directly is related with vegetables. Complementary and more complex studies
are necessary involving this area, adding the efforts of frugivory studies and dispersion, aiming at the fragmented
environment reconstruction and whitewashing. In the gift manuscript some relations between the distribution and
behavior of birds are presented and the structure of the broken up landscape, under the point of view of the vegetation.
Keywords: structure of landscape, dispersion of propagules, bird diversity
INTRODUÇÃO
Aves são excelentes representantes de fauna que agem como dispersores de sementes e propágulos. Nos
ambientes tropicais, dentre os representantes da fauna, aves, insetos e morcegos são os principais dispersores
dos vegetais. Desta forma, destaca-se sua importância na dinâmica de bordas em ambientes fragmentados e
em conexões de paisagem fragmentada (corredores ecológicos).
O presente trabalho tem por objetivo: apresentar a importância de aves nos processos ecológicos de
contribuição para a conformação de paisagem fragmentada e a estrutura das plantas nas fitofisionomias florestais
(borda e interior).
REFERENCIAL TEÓRICO
a) Comportamento das aves
Os animais frugívoros exercem um importante papel na demografia das comunidades vegetais pois:
a) interagem no momento em que as plantas estão no estágio final do ciclo reprodutivo, podendo favorecer ou
comprometer o sucesso desta fase (Jordano, 1989); b) o padrão de deposição das sementes no ambiente pelos
frugívoros afeta diretamente a sobrevivência das sementes e o estabelecimento das plântulas (Howe et al.,
1985; Katusic-Malmborg e Willson, 1988), e c) promovem a distribuição espacial dos futuros indivíduos adultos
na floresta ao descartar as sementes após a ingestão (Janzen et al., 1976; Jordano, 1992). Essas considerações
são relevantes uma vez que, nas florestas tropicais, 50 a 90% das espécies arbóreas produzem frutos adaptados
para a dispersão por animais (Howe e Smallwood, 1982).
109
Relação Entre o Comportamento de Aves, a Conformação da Paisagem Fragmentada e a
Estrutura das Populações de Plantas
Em relação ao comportamento das aves, podemse relacionar os hábitos alimentares, com diferentes estratégias de forrageamento, os processos de nidificação
diretamente relacionados à disponibilidade de recursos
alimentares para permanência em determinada área,
sendo este último, um fator diretamente relacionado com
a distribuição da estrutura populacional de espécies vegetais de dispersão zoocórica. A estratégia reprodutiva
é um dos principais fatores que levam as aves a buscar
recursos energéticos para poder cumprir seu ciclo biológico. Para obter energia necessária aos processos vitais
e à perpetuação da espécie, o processo evolutivo das
aves permitiu o desenvolvimento de características específicas que incluem memória de localização, visão desenvolvida e estratégias complexas para forrageamento
de recursos alimentares. Dessa forma, observa-se fundamental os processos de manuseio de frutos que visa,
diretamente a busca por um recurso energético para a
ave e, também diretamente uma estratégia pela qual a
espécie vegetal poderá dispersar suas sementes. Esse
processo de dispersão pode ser observado sob diferentes aspectos, tendo em vista a família ou as famílias de
aves a serem atraídas, o tipo de dieta das famílias (guildas alimentares), se específico (somente frutos) ou generalista (frutos, insetos, néctar). Nesse aspecto, observam-se alguns aspectos relevantes para a situação de
ambientes fragmentados, sejam eles naturais ou efeito
de ação antrópica.
A comunidade vegetal de um determinado
fragmento florestal está diretamente relacionada com a
fauna dispersora. As espécies frutíferas apresentam um
ciclo anual pré-definido pelo fotoperiodismo, ação dos
fitohormônios, disponibilidade de luz, disponibilidade de
água e recursos minerais no solo, relações ecológicas com
outros organismos (micorrizas por exemplo são bastante
comuns em raízes de espécies florestais), presença ou
ausência de lâmina de água, entre outros. Esses fatores
abióticos e os fatores bióticos estão diretamente
relacionados com a dinâmica da comunidade vegetal e,
portanto regem o comportamento das aves. Por exemplo, em casos de abertura de clareiras, ocorre alteração
na dinâmica de dispersão de sementes devido às mudanças provocadas na estrutura horizontal e vertical da
comunidade vegetal, podendo levar a novas taxas de
recrutamento, podendo contribuir ou prejudicar a dinâmica
de uma população. Krugel et al (2006) trabalhando com
frugivoria de Nectandra megapotamica (Lauraceae) em
floresta estacional decídua no Rio Grande do Sul. A espécie Nectandra megapotamica possui características que
a incluem no sistema de dispersão generalista, exceto
pelo alto valor nutritivo dos seus frutos. No presente
trabalho, totalizando 70 h de observação focal registradas 726 visitas de 21 espécies de aves. As aves consideradas como potencialmente dispersoras de N. megapotamica foram Turdus albicollis, T. ru ventris, Pitangus
sulphuratus e T. amaurochalinus entre as residentes, e
110
Tyrannus savanna e Myiodynastes maculatus entre as
migratórias. As aves com dieta generalista pareceram
favorecer a dispersão de N. megapotamica, pois
consumiram os frutos inteiros, realizaram visitas curtas
(menos de 3 minutos) e apresentaram maior freqüência
de visitação que, por sua vez, está relacionada a uma
maior remoção dos frutos.
A fragmentação e as bordas resultantes podem
alterar a abundância de plantas frutíferas e aves frugívoras (Restrepo et al., 1999). Em relação ao processo
de dispersão de frutos, observa-se que grande quantidade de espécies vegetais de florestas Neotropicais é
dispersa por aves e mamíferos (Morellato e Leitão-Filho,
1992). Esse processo inclui espécies de árvores de dossel, com sementes grandes, dispersadas por frugívoros
de maior porte (tucanos, jacus, cotingas, tinguaçus e
planadeiras) (Howe e Smallwood, 1982), que estão propensos a se tornarem vulneráveis podendo fracassar
na dispersão de sementes em ambientes fragmentados
(Galetti, 2003). No caso de frutos pequenos de espécies
de sub-bosque, uma ampla variedade de aves generalistas os consome (tangarás, sanhaços e tiranídeos)
(Loiselle e Blake, 1999), sendo estas aves não consideradas altamente afetadas pela fragmentação (Aleixo e
Vielliard, 1995).
Segundo Aizen e Feinsinger (1994) e Santos
e Telleria (1994), é importante destacar o potencial de
interrupção de interações mutualísticas entre animais e
plantas, como polinização e dispersão de sementes. Algumas famílias de plantas como Melastomataceae e Rubiaceae, que produzem frutos escuros (pretos ou roxos)
ou avermelhados são facilmente encontradas por aves
de interior de florestas, que buscam recursos no subbosque. Essa guilda de plantas, apesar de ser muito importante para manutenção de aves frugívoras pequenas,
parece não ser ameaçada pela modificação de hábitat
em processos de fragmentação. (Silva et al., 2002).
Loiselle e Blacke (2002), sugerem que algumas
espécies de aves podem ser muito importantes para determinadas guildas de plantas, como é observado com a
extinção de Pipra sp., (Pipridae), pequena ave frugívora,
extinta, na Costa Rica, que levou à redução drástica da
chuva de sementes e da distribuição de algumas espécies de Melastomataceae.
Mudanças na composição das espécies de aves
em fragmentos pequenos podem afetar a probabilidade
de dispersão de sementes, podendo alterar a comunidade de sub-bosque (Galetti, 2003).
Wenny e Levey (1998) estudando a dispersão
de sementes direcionada por em floretas tropicais
chuvosas, observaram que quatro das cinco espécies
de aves registradas jacu preto(Chamaepetes unicolor)
Cracidae, quetzal (Pharomachrus mocinno) Trogonidae,
tucano esmeralda (Aulacorhynchus prasinus) Ramphastidae, araponga (Procnias tricarunculata) Cotingidae,
Revista Agroambiental - Agosto/2011
sabiá (Turdus plebejus) Turdidae, que geralmente permanecem na árvore em frutificação ou próxima a ela
(Wheelwright, 1991) dispersaram a maioria das sementes dentro de 20 m da árvore parental em floresta com
dossel fechado (fig 1 A). Em contraste, machos de aves
canoras florestais, gastam em torno de 80 % do dia vocalizando, onde advertem as fêmeas com altos sons
(Snow, 1977). Tais cantos foram observados no estudo
de Wenny e Levey (1998) próximos a árvores mortas,
nas bordas de clareiras. Assim, a maioria das sementes
dispersadas (59 %) por aves canoras em poleiros, caí
ram em sítios mais distantes que 40 m das árvores conspecíficas e a maioria (52 %), também caiu em clareiras
(Fig. 1 B). O teste de padrão total de dispersão obtido foi
bimodal, com picos próximos às árvores parentais e sob
o canto das aves canoras. A sobreposição entre os picos
gerados pelas aves canoras e pelas outras espécies na
dispersão foi pequeno (comparar A com B) e usualmente causado pelas fêmeas de aves canoras, que gastam
pouco tempo nos poleiros e regurgitam sementes sobre
ou perto das árvores parentais.
Figura 1. A frequência das sementes dispersadas (A e B) e a sobrevivência de recrutas em 1 ano (C) como funções
da distância de O. endresiana em frutificação mais próxima e a cobertura de dossel para jacus, quetzals, tucanos
(n=128) (A) e aves canoras (n=56) (B). Cada barra representa a proporção de sementes dispersadas por dispersores particulares (A e B) ou recrutamento (C) em cada distância/categoria de cobertura de dossel. No estudo de
Wenny e Levey, (1998) todas as aves canoras estavam mais distantes que 40 m da árvore frutífera mais próxima.
Valores inferiores a 90 % para cobertura de dossel representam clareiras. Notar a distribuição bimodal de recrutamento de indivíduos jovens (C) que reflete a dispersão de semente, com um pico próximo às árvores parentais
(A) e um segundo pico correspondente às aves canoras (B). O crescimento da entrada de sementes em grandes
distâncias não é um resultado do crescimento de áreas com distância, mas é devido à concentração de sementes
na vizinhança de poleiros de aves canoras. Em particular, o número de sementes dispersadas para clareiras por
aves canoras foi maior que o esperado por tentativa (X2 = 36.45, df = 1, P < 0.001), baseado na área do sítio de
estudo (5 ha) em clareiras (5,3 %) e floresta (94,7 %). Não houve sobrevivência de recrutas nas duas categorias
de dossel mais baixas, sugerindo um limite para o benefício de maiores níveis de luz (Wenny e Levey, 1998).
b) Conformação da paisagem
(fragmentos, matriz, corredores)
fragmentada
Os hábitats alterados na matriz circunvizinha
de paisagem é uma fonte de colonizadores potenciais,
também apropriados para colonização por espécies que
podem persistir em tais hábitats. A habilidade de espécies para sobreviver em fragmentos pode depender dos
hábitats circunvizinhos e se as espécies usam tais hábitats (Stouffer & Bierregaard, 1995a,b; Laurance et al.,
1997a,b; Renjifo, 2001). Em relação à tendência deste
nível de paisagem para fragmentos florestais tropicais,
observa-se maior atenção a valores de conservação de
terras fora de reservas que incluem ambientes fragmentados, florestas secundárias, terras particulares e hábitats de campo como plantações de café (Brown & Lugo,
1990; Turner & Corlett, 1996; Daily, 2001)
111
Relação Entre o Comportamento de Aves, a Conformação da Paisagem Fragmentada e a
Estrutura das Populações de Plantas
ponte que une a polinização com o recrutamento que levará ao estabelecimento de novas plantas adultas (Harper, 1977). A fecundidade de uma planta em particular
ou de uma população de plantas depende não somente
do sucesso no estágio de polinização, mas também no
sucesso de estabelecimento e crescimento dos novos indivíduos. As novas sementes produzidas a cada estação
reprodutiva representam não apenas novos indivíduos
que são acrescidos à população em termos numéricos,
mas também distintos genótipos a serem acrescentados
ao acervo genético populacional. Portanto, a dispersão
das sementes une todo o ciclo reprodutivo das plantas e
pode ter importantes conseqüências para a demografia
e a estrutura genética populacionais (Jordano & Godoy,
2002).
O grau de isolamento do fragmento, isto é, uma medida de
quão separado o fragmento está de outras áreas que
podem servir como fonte de animais e sementes, é um
fator importante para as interações entre as plantas e os
dispersores de sementes. Muitos animais frugívoros não
atravessam áreas abertas ou evitam ambientes
perturbados (Estrada et al., 1993; Silva et al., 1996). Dessa
forma, fragmentos isolados tendem a receber menos
sementes de outras áreas e apresentar menor abundância
e riqueza de animais frugívoros. A literatura mostra que o
grau de isolamento de um fragmento está negativamente
relacionado com a riqueza de plantas zoocóricas (van
Ruremonde & Kalkhoven,1991; Ochoa-Gaona et al., 2004).
Os efeitos do isolamento podem ser minimizados pela
composição da matriz que circunda o fragmento e, em
maior escala, pela composição da paisagem onde o
fragmento está inserido. Esses dois fatores podem
influenciar a conectividade do ambiente e, portanto, o fluxo
de animais e sementes no fragmento (Metzger, 2000;
Graham, 2001). A permeabilidade da matriz à fauna, é
um fator relevante na dinâmica da comunidade vegetal.
Em fragmentos florestais amazônicos, por exemplo,
matrizes compostas por árvores do gênero Cecropia
(Cecropiaceae) são mais favoráveis à fauna que matrizes
onde predominam plantas do gênero Vismia (Clusiaceae)
e, em comparação com pastagens, ambos os tipos de
matrizes são mais permeáveis à fauna (Laurance et al.,
2002). A influência da paisagem na composição faunística de um fragmento pode se estender por vários
quilômetros. Na Austrália, Price et al. (1999) verificaram
que a porcentagem de cobertura florestal em um raio de
50 km a partir de determinado fragmento de floresta foi
determinante para a ocorrência de algumas espécies de
aves frugívoras nos fragmentos. No sudeste do Brasil,
aves migratórias são comuns em fragmentos de floresta
onde participam ativamente da dispersão das sementes
(Galetti & Pizo, 1996; Pizo, 1997). Naturalmente, a ocorrência destas aves nos fragmentos e, conseqüentemente, o seu papel como dispersoras de sementes sofrem
influência das alterações ambientais que ocorrem ao
longo da rota de migração,
112
que pode se estender por várias centenas de quilômetros (Martin & Karr, 1986). Concluindo, as interações entre plantas e dispersores de sementes estão sujeitas a
uma série de alterações em ambientes fragmentados. A
magnitude dos efeitos da fragmentação sobre estas interações depende de: (1) fatores que, em escalas local e
regional, afetam a dinâmica das populações de animais
frugívoros em fragmentos, alterando sua composição e
abundância, (2) características das plantas que as tornam mais ou menos suscetíveis à extinção ou diminuição na abundância dos dispersores e (3) características
inerentes à interação. Dentre os primeiros destacam-se
a área, a forma e o grau de isolamento do fragmento, as
perturbações a que está ou esteve sujeito (por exemplo,
extração de madeira, caça, fogo), a natureza da matriz
circundante e a conectividade da paisagem onde se insere. Características importantes da planta são a morfologia do fruto e suas exigências para germinação das sementes e estabelecimento das plântulas (Bruna, 1999;
Benítez-Malvido & Martínez-Ramos, 2003). Em relação
às características da interação em si, destacam-se o grau
de especialização da interação e o nível de redundância
no papel desempenhado pelos vários dispersores que
participam da interação. Interações mais especializadas,
ou seja, que envolvem menor número de participantes,
são naturalmente mais suscetíveis à extinção ou diminuição na abundância dos dispersores (Asquith et al.,
1999). A maioria dos sistemas de dispersão, no entanto,
envolve vários dispersores e é possível que alguns deles
sejam funcionalmente redundantes no que se refere ao
papel que desempenham como dispersores de sementes. As evidências disponíveis, entretanto, mostram que
isso raramente ocorre, pois os diferentes dispersores
diferem em aspectos qualitativos e/ou quantitativos da
dispersão que promovem e a extinção de um único dispersor, ou pior, de um conjunto deles, pode resultar em
alterações importantes para a estrutura e o recrutamento das populações de plantas (Loiselle & Blake, 2000)
e, em última instância, para toda a comunidade (Howe,
1984). Assim, se entendemos que a biodiversidade vai
além do conjunto de espécies que compõem o ambiente
e engloba também as interações entre elas, justifica-se
plenamente todo o esforço de manejo dos fragmentos e
da paisagem circundante para minimizar os efeitos da
fragmentação sobre as interações entre as plantas e os
dispersores de suas sementes.
A principal influência demográfica da dispersão das sementes advém de processos de limitação
associados ao número limitado de sementes que são
dispersas com sucesso ou à limitada chegada de sementes a locais que oferecem alguma possibilidade de
recrutamento bem-sucedido. Os efeitos dos animais
frugívoros sobre as plantas vão além da remoção das
sementes, pois eles têm múltiplas, e nem sempre imediatas, influências sobre as sementes, plântulas e jovens. Os animais frugívoros podem limitar o crescimento
Revista Agroambiental - Agosto/2011
populacional das plantas se a quantidade de sementes que dispersam é insuficiente ou se a qualidade de
dispersão que promovem é inadequada (isto é quando
depositam sementes em locais com baixa probabilidade
de recrutamento; (Schupp, 1993). A idéia de limitação
no recrutamento das plantas relacionada à atividade dos
animais diz que esta atividade é insuficiente para produzir o máximo recrutamento a partir das sementes produzidas em uma dada estação reprodutiva; se a atividade
dos animais frugívoros fosse aumentada, teríamos um
maior número de sementes removidas para locais seguros para o recrutamento. Por exemplo, os frugívoros
podem dispersar com sucesso uma alta proporção das
sementes produzidas em uma população de plantas. No
entanto, eles limitam o recrutamento nesta população se
a dispersão é direcionada para locais de alta densidade
coespecífica, onde prevalecem mecanismos de mortalidade dependentes de densidade, ou seja, se depositam
as sementes em locais de baixa qualidade (Jordano et
al., 2006).
Uma revisão das limitações inerentes à sucessão florestal em áreas degradadas tropicais a partir da
chuva de sementes produzida por frugívoros é apresentada por Duncan & Chapman (2002), dentre as quais podemos destacar as seguintes:
a) Condições inóspitas de temperatura, umidade e nutrientes no solo que irá receber as sementes, dificultando a germinação e o estabelecimento.
b) Altas taxas de predação, principalmente por roedores
e formigas.
c) Competição local com gramíneas de rápido crescimento, que limitam o desenvolvimento das plântulas de
espécies zoocóricas.
d) Ocorrência freqüente do fogo em paisagens abertas
e degradadas.
e) Baixo número de sementes que chegam às áreas alteradas, em quantidade insuficiente para dar início a um
processo sucessional bem-sucedido.
f) Chuva de sementes nem sempre é dirigida aos sítios
onde o estabelecimento de espécies arbóreas é esperado.
g) Na composição específica da chuva de sementes gerada por frugívoros em áreas degradadas, geralmente
faltam espécies arbóreas dos estágios intermediários e
avançados da sucessão, cujo recrutamento é necessário para alavancar o processo sucessional para além do
estágio de pioneiras.
h) O recrutamento de espécies lenhosas a partir de poleiros artificiais em áreas muito grandes deveria exigir
alta densidade dessas estruturas, elevando os custos da
sua implantação e diluindo a chuva de sementes entre
os poleiros.
Há ainda quatro conceitos-chave no processo
de limitação que são derivados do estágio de dispersão
das sementes: limitação na produção de fruto (ou limitação de fonte; Clark et al., 1999; Turnbull et al., 2000),
limitação de dispersão, limitação de recrutamento e limitação de estabelecimento (Jordano & Godoy, 2002;
Muller-Landau et al., 2002). Os fatores que influenciam
o número absoluto de sementes disponível para a dispersão são determinados durante a fase pré-dispersão,
de maneira que o número total de sementes produzidas
em uma população representa o número máximo de
sementes que pode efetivamente recrutar em um dado
episódio reprodutivo. Se a atividade dos animais frugívoros não é limitante, todas essas sementes poderiam
eventualmente recrutar. Polinização ineficiente, conflitos
de alocação de recursos, predação de flores e predação
pré-dispersão das sementes estão entre as principais
causas da limitação de fonte. A limitação de recrutamento abrange todos os estágios entre a remoção dos frutos
e o estabelecimento dos adultos nos quais pode haver a
perda de propágulos (Muller-Landau et al., 2002), embora ela seja mais freqüentemente aplicada aos estágios
pós-dispersão, isto é, após a deposição das sementes
pelos dispersores. A limitação da dispersão inclui todos
os processos que podem limitar o número de sementes que chegam a locais seguros para o recrutamento;
portanto, ela engloba a remoção e a deposição das sementes. Se as sementes são dispersas em quantidade
suficiente, porém são depositadas em locais de baixa
qualidade, então o recrutamento é limitado pela atividade dos dispersores, isto é, o estabelecimento é limitado
pela dispersão de má qualidade e não pela eventual pequena quantidade de sementes dispersadas. Portanto,
podemos entender a limitação de dispersão como potencialmente agindo durante duas fases: na limitação de
dispersão em si e na limitação de estabelecimento. Junto com a limitação de fonte, a limitação de dispersão é
o principal fator a determinar potencialmente a limitação
de recrutamento, isto é, o insucesso da prole produzida em um dado episódio reprodutivo em se estabelecer
produzindo adultos reprodutivos. Isto representa uma visão expandida da dispersão como um estágio-chave no
recrutamento das plantas, que enfatiza o papel potencial
das interações com os dispersores de sementes sobre
os efeitos que afetam as populações de plantas (Jordano et al., 2006).
Um protocolo para o estudo da limitação de recrutamento foi recentemente proposto por Muller-Landau
et al. (2002). Começando pelo monitoramento da chuva
de sementes por meio de coletores de sementes é possível monitorar a emergência de plântulas associadas a
esta chuva de sementes em diferentes pontos de determinada área. A limitação na chegada de sementes (limitação de fonte) pode ser estimada como a proporção de
pontos de amostragem que não receberam sementes.
A limitação de dispersão pode ser estimada comparando-se a proporção de coletores que de fato receberam
113
Relação Entre o Comportamento de Aves, a Conformação da Paisagem Fragmentada e a
Estrutura das Populações de Plantas
sementes com à proporção que seria esperada segundo
um modelo randômico de dispersão das sementes. Por
fim, a limitação de estabelecimento pode ser estimada
combinando-se os dados de chegada das sementes e
emergência das plântulas nos pontos de amostragem e
calculando-se em seguida a redução no estabelecimento de plântulas nos pontos onde as sementes chegaram
(Muller-Landau et al., 2002). Estes métodos para estimar os processos de limitação basicamente dividem o
número de oportunidades de recrutamento perdidas (ou
seja, locais onde a espécie não recruta) entre aquelas
perdidas devido à não chegada das sementes e aquelas perdidas devido a falhas no estabelecimento. Estes
estudos nos informam que a maioria (isto é, >80 %) das
espécies arbóreas tropicais em uma dada localidade
atinge com suas sementes não mais que, em média,
5% dos coletores de sementes por ano, o que sugere
extensa limitação de fonte. Tal limitação pode ser ainda
mais exacerbada caso os dispersores tenham, por ação
antrópica, desaparecido de determinada área (Jordano
et al., 2006).
Estudos da estrutura da comunidade de aves
paisagens fragmentadas (fragmentos florestais neotropicais e plantações de café e cardamom (tempero)) na
Índia, relacionando o efeito do estrato vegetal, a conectividade e a distribuição de aves de floresta. O total de
espécies de aves observadas para os 4 estratos de hábitat foi: 43 espécies (controle – floresta tropical chuvosa
– 1 sítio), 95 espécies (fragmentos de floresta tropical
chuvosa – 5 sítios), 76 espécies (plantações de café – 5
sítios) e 49 espécies (plantação de cardamom – 1 sítio).
Entre o total de espécies na comunidade em cada um
dos 4 estratos (controle, fragmentos, plantação de café
e plantação de cardamom) a porcentagem de espécies
de aves de floresta tropical chuvosa foi maior no controle
(95,3%) e na plantação de cardamom sob sombra natural (89,9%). Aves de floresta secundária infiltraram dentro de fragmentos de floresta tropical chuvosa e em plantações de café e a porcentagem de espécies de aves
de floresta tropical chuvosa foi menor 70,5% e 59,2%,
respectivamente para cada estrato. Essas diferenças no
número de espécies de floresta primária e floresta secundária entre os 4 estratos trabalhados foi estatisticamente significante χ² = 34.1, df = 3, P < 0.001 (Raman,
2004).
No caso da relação de corredores ecológicos e
aves dispersoras de sementes, observa-se ser de grande importância à presença de aves frugívoras presentes em ambientes de corredores. Os corredores podem
ser artificiais ou naturais e, tem por objetivos, permitir a
movimentação de espécies chave da fauna (endêmicas,
raras, ameaçadas), o fluxo gênico de espécies vegetais
(preferencialmente dispersadas pela fauna), fornecer recursos para a fauna e permitir o uso desses recursos
para possibilitar a ocorrência dos processos ecológicos
necessários para a história ecológica do ambiente. Den-
114
Revista Agroambiental - Agosto/2011
horários do dia. Esses dados sugerem que a capacidade
de adaptação das aves é a resposta ao nível de isolamento e à qualidade do hábitat na busca de recursos. A
eficiência dos corredores estudados é parcial em pelo
menos dois aspectos: 1. se por um lado observa-se a
tendência de sucesso reprodutivo de espécies vegetais
florestais, seja pelo local de deposição das sementes
pelas aves, como pelo fluxo gênico que pode ocorrer
em fragmentos ou corredores vizinhos; 2. no conceito
de metapopulações, a dinâmica das comunidades em
cada fragmento podem sofrer influência de diferente fatores em diferentes intensidades; dessa forma, pode-se
pensar em diferentes situações de dinâmica dentro de
cada fragmento, que ao ser visitado por grupos de dispersores, podem receber recursos biológicos que pode
favorecer ou dificultar os processos ecológicos, podendo levar ao declínio populacional de espécies vegetais
florestais de interior, reduzindo assim a diversidade de
espécies de um fragmento. Parece que a matriz circunvizinha influencia diretamente a distribuição de aves ao
longo da matriz e quem sabe pode influenciar a dinâmica da comunidade vegetal nos fragmentos e corredores.
Para descobrir esse aspecto, é necessário relacionar,
dentre outros fatores, a relação das espécies de aves
frugívoras e espécies vegetais por ela dispersadas, em
corredores, em fragmentos e na matriz (Corrêa et al.,
2011 no prelo).
Para permitir a correta implantação e utilização
eficiente de corredores ecológico é necessário implementar estratégias de manejo que incluam: 1. coleta de
dados quantitativos de movimentação de organismos em
corredores (escala, taxas e freqüência de movimentos);
2.coleta de dados de populações animais que vivem em
corredores; 3. coleta de dados de ecologia e comportamento de organismos que vivem em corredores e como
isso afeta o uso dos corredores (informações sobre estratégias de sobrevivência, uso de recursos, capacidade
de deslocamento).
c) Estrutura das populações de plantas
Teorias de dispersão de sementes e regeneração de florestas tropicais sugerem que as vantagens da
dispersão para a maioria das plantas é escape da predação próxima à árvore parental e colonização de locais
vagos (clareiras), locais nos quais são imprevisíveis no
espaço e no tempo. Aves possuem um papel significativo na dispersão de sementes fornecendo dispersão direta a sítios favoráveis e, portanto podem influenciar nos
padrões de recrutamento e na diversidade de espécies
em florestas tropicais (Wenny e Levey, 1998).
A dispersão de sementes determina o arranjo
especial e o ambiente físico das sementes, dessa forma é um importante passo para o ciclo reprodutivo da
maioria das plantas (Harper, 1977; Willson, 1992). Em
florestas Neotropicais, aves são importantes, porque
acima de 75% das espécies de plantas produzem frutos
ingeridos por aves (Stiles, 1985; Herrera et al., 1994). A
fragmentação de florestas é um processo que reduz o
ambiente a parcelas menores. Esse processo leva ao
desaparecimento de espécies de aves florestais de interior e, conseqüentemente promove alterações na dinâmica de espécies vegetais com frutos dispersados por
ornitocoria (Cordeiro & Howe, 2003).
Aves que dispersam sementes de Leptonychia
(Sterculiaceae) em florestas contínuas são raras ou
ausentes em pequenos fragmentos, sendo observado
menor quantidade de sementes removidas de cada árvore e menor indivíduos jovens de Leptonychia em fragmentos menores do que em florestas contínuas. Esse
resultado forneceu evidência sólida da deficiência da
dispersão em ambientes fragmentados e os impactos no
ciclo reprodutivo de espécie vegetal dispersada por aves
(Cordeiro & Howe, 2003).
Considerando os custos energéticos da planta
para produção de estruturas de dispersão, tipo pericarpo
carnoso, como recompense, é razoável esperar vantagens na dispersão de sementes (Thompson & Willson,
1978; Wheelwright & Orians, 1982). Três vantagens não
exclusivas foram propostas por Howe (1982,1986): (i)
escape de alta mortalidade de sementes ou recrutas sob
e perto de árvores parentais (Hipótese de Escape); (ii)
colonização de sítios imprevisíveis, efêmeros ou novos
(clareiras) (Hipótese de colonização); e (iii) dispersão
direta a microhábitat favoráveis (Hipótese de dispersão
direta).
A hipótese de Escape (Janzen, 1970; Connell,
1970) é esperada ser uma vantagem para a maioria das
plantas e é baseada em numerosos estudos de densidade ou distância dependentes da mortalidade próximo aos
parentais (Howe, 1982; Howe et al., 1985; Clark & Clark,
1984; Crawley, 1992; Wilson, 1992; Wills et al., 1997).
Entretanto, a colonização ou dispersão direta também
pode ser importante para que sementes escapem da
mortalidade. A hipótese da colonização é mais relevante
quando sítios apropriados para o estabelecimento são
imprevisíveis ou aleatoriamente distribuídos, com é o
caso de abertura de clareiras pela queda de árvores em
florestas tropicais (Howe, 1982; Murray, 1988; Van der
Meer & Bongers, 1996). Em florestas tropicais chuvosas,
praticamente todo o dossel de espécies de plantas (não
obstante o grau de tolerância à sombra) necessita de um
mínimo de clareiras para alcançar a maturidade reprodutiva (Hubbel a Foster, 1986; Swaine & Whitmore, 1988;
Denslow & Hartshorne, 1994; Clark, 1994). A estratégia
esperada de dispersão dessas espécies de plantas é via
colonização, cobrindo o solo com propágulos capazes
de realizar dormência ou crescimento suprimido até a
formação de clareiras e o aumento dos níveis de luz que
permitam a germinação, crescimento rápido e/ou maiores chances de sobrevivência (Howe, 1982; Brandani et
al., 1988; Schupp & Howe, 1989). Alternativamente, a
115
Relação Entre o Comportamento de Aves, a Conformação da Paisagem Fragmentada e a
Estrutura das Populações de Plantas
dispersão direta pode resultar se a planta atrai dispersores que depositam sementes não aleatoriamente em
locais apropriados, desse modo aumentando a aptidão da
planta (Reid, 1989; Sargent, 1995). Embora a dispersão
direta tem sido postulada para dispersão por vertebrados em plantas tropicais (McKey, 1975; Howe, 1982; Levey, 1988) nunca foi demonstrado através de dispersão
não aleatória para sítios favoráveis para crescimento de
recrutas e sobrevivência.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
A relação entre aves canoras e a estrutura
populacional de plantas em ambientes fragmentados,
entre outros fatores, está relacionado aos diferentes
tipos de frutos ingeridos pelas espécies de aves dispersoras (Wheelwright et al., 1984), estando ativas em poleiros
por pelo menos 4 meses em ambientes florestais Neotropicais durante a estação reprodutiva (Snow, 1977).
O processo de dispersão, associado à diversidade de
espécies vegetais frutíferas e os fatores abióticos, irão
propiciar a dinâmica das populações vegetais no fragmento, favorecendo uma heterogeneidade espacial e
vertical diretamente relacionada com esses fatores.
Corroborando os resultados observados por Wenny &
Levey (1998), o padrão de dispersão de frutos para espécies comuns de plantas por aves canoras é bastante
parecido ao observado em Monte Verde, assim como
em florestas Neotropicais onde existem aves canoras.
Outras espécies que usam habitualmente poleiros ou
sítios de defecação como dançarinos (Pipridae) podem
ter influência desproporcional no local de recrutamento de espécies de plantas (Krijger, 1997).
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A dispersão de sementes de Ocotea endresiana por aves canoras é uma das ligações mais evidentes
entre a dispersão e o sucesso reprodutivo de árvores
florestais tropicais já documentado (Wenny & Levey,
1998). A falta de outros exemplos similares vão da dificuldade de se observar os dispersores através do dossel até a deposição de sementes. A dinâmica de clareiras é importante e necessária para regeneração de
muitas espécies de árvores e dispersores como as aves
canoras parecem promover dispersão direcionada para
clareiras. A perda desses dispersores pode levar a uma
redução da aptidão para espécies de árvores levando a
alterações na estrutura da comunidade de florestas
tropicais.
CONCLUSÃO
São necessários estudos complementares e periódicos (décadas de banco de dados) da dinâmica de
aves em ambientes de borda de fragmentos florestais
nas mesmas áreas, como estratégias de predição da
conformação das paisagens em áreas fragmentadas. O
conhecimento de alguns destes atributos ecológicos
podem direcionar estratégias específicas para projetos
de preservação de áreas prioritárias (hotspots).
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DO SUL DE MINAS GERAIS IFSULDEMINAS
REVISTA AGROGEOAMBIENTAL – ISSN 1984-428X
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Revista Agroambiental
Título:
Deverá ser apresentado com fonte tamanho 14, maiúsculo, negrito, centralizado. Autor(es). O(s) nome(s)
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Texto (corpo do artigo):
Com fonte tamanho 11, espaçamento 1,5, justificado.
Referências bibliográficas:
Apresentadas em ordem alfabética, justificadas a esquerda, conforme normas abaixo:
1. As citações dos autores no texto: Deverão ser feitas com apenas inicial maiúscula seguidas do ano
de publicação, conforme exemplos: Resultados semelhantes foram também observados por Silva & Souza (1999) e Soares et al. (2000), como uma má formação congênita (Batista, 2001; Correa et al., 2002);
2. Referências: As Referências deverão ser efetuadas no estilo ABNT (NBR 6023/2000) conforme normas próprias da revista;
3. Citação de livro: MALAVOLTA, E. Manual de química agrícola: adubos e adubação. 3ª ed. São Paulo.
Agronômica Ceres, 1981. 596p..
4. Capítulo de livro:
GORBAMAN, A. A comparative pathology of thyroid. In: HAZARD, J.B.; SMITH, D.E. The thyroid. Baltimore: Williams & Wilkins, 1964. Cap.2, p.32-48.
5. Artigo completo (citar todos os autores): Sempre que possível o autor deverá acrescentar a url
para o artigo referenciado e o número de identificação DOI (Digital Object Identifiers): ROCHA, L.C.D.;
CARVALHO, G.A.; FREITAS, J.A.Toxicidade de produtos fitossanitários utilizados na cultura do crisântemo para ninfas de Orius insidiosus (Say, 1832) (Hemiptera: Anthocoridae). Revista Agrogeoambiental,
Inconfidentes, v.01, n.01, p.123-134, 2009.
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Águas de Lindóia. Anais... Brasília: Embrapa Café, 2007. (CD-ROM)
7. Tese, dissertação, monografia: PINTO, L.V.A. Germinação de sementes de lobeira (Solanum lycocarpum) ST. HIL: mecanismo e regulação. 2007. 67p. Tese (Doutorado em Engenharia Florestal) - Universidade Federal de Lavras.
8. Boletim técnico/Circular técnico: SOUZA, J.C.; SILVA, R.A.; REIS, P.R. Complexo larva-alfinete e
larva-arame importantes pragas subterrâneas na cultura da batata. Lavras: EPAMIG, 2007. 3p. (Circular
Técnica, 6).
9. Documentos eletrônicos: GRIFON, D.M. Artroscopic diagnosis of elbow displasia. In: WORLD
SMALL ANIMAL VETERINARY CONGRESS, 31., 2006, Prague, Czech Republic. Proceedings… Prague: WSAVA, 2006. p.630-636. Acesso em 12 fev. 2007. Online. Disponível em: http://www.ivis.org/proceedings/wsava/2006/lecture22/Griffon1.pdf?LA=1
EMBRAPA. Projeto da Embrapa avalia a absorção de poluentes do lodo de esgoto pelo milho, Jaguariuna, 30 jul. 2009. Acesso em 19 ago. 2009. Online. Disponível em <http://www.cnpma.embrapa.br/
nova/mostra2.php3?id=528>
Agradecimentos:
Opcional, respeitando-se o máximo de 12 páginas do artigo e 5 da nota técnica.
120
Revista Agroambiental
Tabelas, Figuras, Gráficos:
Localizados após primeira referência feita aos mesmos. Figuras e gráficos, com melhor contraste, devem
ser fornecidos por email. Figuras em formato .jpg ou .gif.
Notas de rodapé:
Com fonte Arial tamanho 10, justificado.
Lista de verificação:
Atentar para o a “Lista de verificação” antes da submissão da proposta. A Lista encontra-se disponível no
site na página.
Demais informações:
Sugere-se que informações outras não mencionadas nesta orientação devam seguir as normas da ABNT.
Ou consultar o Chefia Editorial da Revista Agrogeoambiental
ENDEREÇO:
Revista AGROGEOAMBIENTAL
Rua Ciomara Amaral de Paula, 167 – Bairro Medicina
Pouso Alegre – MG – CEP: 37.550-000
Tel.: +55 35 3449 6185/6150 – Fax: +55 35 3449 6158/6151
[email protected]
121
Professor
Marlei Rodrigues Franco
“idealizador e criador da Revista Agroambiental”
Professor Marlei Rodrigues Franco, nascido em 27 de abril de 1949, na cidade mineira de
Boa Esperança. Exerce a docência a trinta e seis anos, sendo trinta e três na Rede Federal.
Juntamente com seu filho, Thiago Cruz Rodrigues Franco – na época acadêmico de agrimensura do IFSULDEMINAS – foi idealizador e criador da Revista Científica e Tecnológica
Agrogeoambiental. Esta foi criada na então Escola Agrotécnica Federal de Inconfidentes,
hoje campus do IFSULDEMINAS, com tiragem quadrimestral e primeira edição em abril de
2009. O referido professor tomou tal iniciativa por entender existir larga demanda para tal
informativo e da importância para Instituição em contar com um periódico científico. Cabe
lembrar que o idealizador contou com a preciosa colaboração dos colegas Lílian Vilela
Andrade Pinto e Luiz Carlos Dias Rocha, além dos servidores Heleno Lupinacci e Luighi
Fabiano Barbato Silveira.
“A preparação e veiculação de um
periódico científico e tecnológico, cuidadosamente elaborado, foi
uma legítima aspiração de nossa
comunidade e colegas de outras
instituições que vem se concretizando com a Revista Agrogeoambiental.”
O periódico que tem sido distribuído, avaliado e cada vez mais bem indexado pela comunidade nacional.
122
O Instituto Federal de Educação e Tecnologia do
Sul de Minas Gerais - IFSULDEMINAS, possui mais
de 9.000 mil alunos em cerca de 42 cursos, todos
gratuitos, presenciais e à distância, nos seguintes
níveis:
.
.
.
.
.
Técnicos
Técnólogos
Superiores de Licenciatura
Superiores de Bacharelado
Pós-graduação
Hoje, além dos Polos de Rede e Núcleos Avançados
que atuam diretamente em mais de 30 municípios, o Instituto é composto por seus campi nas
cidades de: Inconfidentes, Machado, Muzambinho, Passos, Poços de Caldas e Pouso alegre
onde está estrategicamente localizada a Reitoria, a fim de reunir e interligar os campi em toda
estrutura educacional e administrativa.
NOSSA MISSÃO
Promover a Excelência na oferta da educação Profissional e Tecnológica, em todos
os níveis, formando cidadão críticos, competentes e humanistas, articulando ensino,
pesquisa e extensão e contribuindo para o desenvolvimento sustentável do Sul de
Minas Gerais.
Mapa do Sul do Estado de Minas Gerais
Map of the South of the State of Minas Gerais
1 Muzambinho
2 Machado
3 Inconfidentes
4 Passos
5 Poços de Caldas
6 Pouso Alegre
campi
117
Endereço: Rua Ciomara Amaral de Paula, 167
Bairro: Medicina - Cep: 37550-000 - Pouso Alegre/MG
e-mail: [email protected]
site: www.ifsuldeminas.edu.br
Fone: (35) 3449-6185
118
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VOLUME 03 Nº 2 AGOSTO 2011