ISSN 1984-428X AGROBASE 090437 VOLUME 03 Nº 2 AGOSTO 2011 ISSN 1984-428X AGROBASE 090437 Publicação Quadrimestral Científica e Tecnológica - IFSULDEMINAS v.3 – n.2 – Agosto/2011 Pouso Alegre – Minas Gerais Agosto – 2011 REVISTA AGROGEOAMBIENTAL, V. 03, Nº 02, 2011, POUSO ALEGRE-MG, REVISTA AGROGEOAMBIENTAL, 2011 QUADRIMESTRAL: Maio, Junho, Julho, Agosto. ISSN 1984-428X 1. Agronomia, Eng. Agrícola, Zootecnia, Geomática, Geologia, Eng. Florestal, Eng. de Pesca, Hidrologia, Geologia e Ecologia. 1. Revista Agrogeoambiental, Pouso Alegre - MG, Brasil Agrogeoambiental, V. 3, n. 2, 123 pag. (2011) IFSULDEMINAS – MG 2011. Quadrimestral (Abril-2011) ISSN 1984-428X 1. Agronomia. 2. Eng. Agrícola. 3. Zootecnia. 4. Geomática. 5. Geologia. 6. Eng. Florestal. 7. Eng. de Pesca. 8.Hidrologia. 9. Geologia. 10. Ecologia. Os artigos assinados e postados são de inteira responsabilidade dos autores e não expressam, necessariamente, a opinião da Comissão Editorial da Revista Agrogeoambiental ou do IFSULDEMINAS. É permitido a reprodução total ou parcial dos artigos desta revista, desde que citada a fonte. ISSN 1984-428X AGROBASE 090437 Chefia Editorial Antônio Sérgio da Costa Luiz Carlos Dias Rocha Carlos Cezar da Silva Marcelo Bregagnoli Lilian Vilela Andrade Pinto Marlei Rodrigues Franco Secretárias Correspondência Arte Gráfica da Capa Ivoneide Vilas Boas Ortigara João Lucas de Paiva Pamela Hélia de Oliveira Cássia Mara Ribeiro de Paiva Eder José da Costa Sacconi Revisores Associados Agnaldo Martins Serra Junior – INPE José Euclides Stipp Paterniani – UNICAMP Agostinho Roberto de Abreu – UFLA José Jorge G. Garcia – IFSULDEMINAS Alexandre de Carvalho – IFSULDEMINAS José Luiz A. R. Pereira – IFSULDEMINAS Alessandro S. Carvalho – IFSULDEMINAS José Venícius de Souza – IFSULDEMINAS Ana Cristina F. M. Silva – IFSULDEMINAS Joyce S. Sousa – IFSULDEMINAS Angelita Duarte Corrêa – UFLA Julierme W. da Penha – IFSULDEMINAS Ângelo M. S. Oliveira – IFSULDEMINAS Kátia Regina C. Balieiro – IFSULDEMINAS Carlos Alberto Silva – UFLA Laércio Lourdes – IFSULDEMINAS Carlos E. de Andrade – IFSULDEMINAS Lucia Ferreira – IFSULDEMINAS Carlos Edward C. Freitas – UFAM Luciana Faria – IFSULDEMINAS Carlos Magno de Lima – IFSULDEMINAS Luiz Flávio R. Fernandes – IFSULDEMINAS Claudino Ortigara – IFSULDEMINAS Marcos Caldeira Ribeiro – IFSULDEMINAS Cléber Kouri de Souza – IFSULDEMINAS Maria de Fátima F. Bueno – IFSULDEMINAS Denis M. Roston – UNICAMP Maria José Brito Zakia – ESALQ Éder C. Dos Santos – IFSULDEMINAS Max Wilson de Oliveira – IFSULDEMINAS Edilson Lopes Serra – UFLA Miguel Angel I.T. D. Pino – IFSULDEMINAS Edu Max da Silva – IFSULDEMINAS Mozar José de Brito – UFLA Erick Menezes de Azevedo – UNIFEI Mozart Martins Ferreira – UFLA Fabiano Ribeiro do Vale – UFLA Oswaldo F. Bueno – IFSULDEMINAS Fabrício Gomes Gonçalves – UFES Paulo César Lima Segantine – USP Felipe Moreton Chohfi – UNICAMP Rodrigo P. De Oliveira – IFSULDEMINAS Gerson de F. S. Valente – IFSULDEMINAS Rosa Toyoko S. Frighetto – EMBRAPA Geslaine Frimaio da Silva – UNIP Silvio H. Dellesposte Andolfato – UTFPR Jamil de Morais Pereira – IFSULDEMINAS Verônica S. Paula Morais – IFSULDEMINAS João O. Araújo Neto - IFSULDEMINAS Vitor Gonçalves Bahia – UFLA Joel Augusto Muniz – UFLA Walter de Paula Lima – ESALQ José Alberto C. Souza Dias – IAC Wilson Roberto Pereira – IFSULDEMINAS Tiragem: 500 exemplares – e-mail: [email protected] Ministério da Educação Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais Presidente da Replública Dilma Roussef Ministro da Educação Fernando Haddad Secretário de Educação Profissional e Tecnológica Eliezer Moreira Pacheco Reitor do IFSULDEMINAS Sérgio Pedini Pró-Reitor de Administração e Planejamento José Jorge Guimarães Garcia Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação Marcelo Bregagnoli Pró-Reitor de Ensino Marcelo Simão da Rosa Pró-Reitor de Desenvolvimento Institucional Mauro Alberti Filho Pró-Reitor de Extensão Renato Ferreira de Oliveira Editorial É com imensa alegria que apresentamos a edição nº 2 do ano de 2011 da Revista Agrogeoambiental. A existência desse periódico se deve aos companheiros idealizadores e colaboradores do campus Inconfidentes, que em uma atitude integradora, ofertou um de seus maiores patrimônios culturais ao IFSULDEMINAS, que torna institucional a partir desde volume. Com a aprovação da Câmara de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação (CAPEPI) e da Reitoria, a Revista Agrogeoambiental, fonte de informação sobre pesquisa e inovação, se torna mais uma opção para a divulgação do conhecimento científico gerado por docentes, pesquisadores e estudantes do Instituto e suas coirmãs espalhadas pelo país. Além dessas, outras pesquisas são oriundas de Universidades, Fundações e demais organizações científicas do Sul de Minas Gerais e de outras regiões do Estado e do País. Vale ressaltar que, com a Lei de criação dos Institutos Federais (Lei 11.892/2008), o princípio da unidade deve ser constante, em cada ação promovida pelo IFSULDEMINAS, buscando de forma contínua a formação de cidadãos críticos, criativos, competentes e humanistas. Porém, aperfeiçoando-se em técnicas modernas e inovadoras, com aplicação para o desenvolvimento sustentável do Sul de Minas Gerais. Sendo assim, o Instituto em questão possui seis campi (Inconfidentes, Machado, Muzambinho, Passos, Poços de Caldas e Pouso Alegre) e 14 Polos de Rede, distribuídos em todo Sul de Minas Gerais, totalizando 8590 alunos em curso presenciais e a distância de ensino médio, técnico, tecnológico, superior e de Lato sensu.Dessa forma, todos trabalhando com a indissociabilidade do ensino x pesquisa x extensão, voltados para a formação de pessoas capazes de contribuir com a melhoria da qualidade de vida e do desenvolvimento dos Arranjos Produtivos Locais, através de pesquisas aplicadas e extensionista. Nesta perspectiva, ações de fomento à pesquisa foram e estão sendo implantadas no Instituto, como a aprovação junto ao CNPq de cotas para os programas PIBIC e PIBITI; aprovação no Conselho Superior de normativa de destino orçamentário dos campi à pesquisa, tanto para bolsas, quanto para finaciamento de projetos; reconhecimento da excelência da pesquisa do IFSULDEMINAS, junto à FAPEMIG que ampliou o número de bolsas destinadas ao Instituto. Além do mais, são vários os exemplos de professores que tiveram suas pesquisas aprovadas em agências de fomento externo, tendo como objeto fim, o desenvolvimento sustentável do Sul de Minas Gerais e, destacadamente, o envolvimento do discente em atividades de pesquisa, proporcionado a ampliação do conhecimento decorrente do seu envolvimento na atividade científica. A partir deste volume, prestaremos uma homenagem àqueles que tiveram relavante importância para efetivação da Revista Agrogeoambiental e na atividade científica no IFSULDEMINAS. Nesta primeira menção, faremos uma justa referência ao professor Marlei Rodrigues Franco, um dos fundadores da Revista Agrogeoambiental, atuante na defesa da qualidade do ensino no campus Inconfidentes e em todo IFSULDEMINAS. Agradecemos a todos autores que enviaram suas pesquisas e acreditaram na consolidação desta ideia chamada: Revista Agrogeoambiental. Boa leitura a todos! Sumário Adição de Resíduos Orgânicos ao Substrato para Produção de Mudas de Café em Tubete - Sérgio Luiz Santana de Almeida; Franciane Diniz Cogo; Bruna Oliveira Gonçalves†; Bruno Teixeira Ribeiro; Katia Alves Campos e Augusto Ramalho de Morais . ................................................................................................................................... 9 Comparação entre a Feição de Hidrografia Extraída de uma Imagem do Srtm (Shuttle Radar Topography Mission) e a Vetorizada pelo Módulo Arcscan/ Arcgis®: Estudo de Caso para Fins de Análise Hidrológica na Bacia Hidrográfica do Rio Grande, Divisa entre os Estados de MG E SP - Sady Júnior Martins da Costa de Menezes; Thiago Porto Maia Soares; Vanessa Mendes Lana; Cleverson Alves de Lima; Fernando Soares de Oliveira; Claubert Wagner Guimarães de Menezes; Carlos Antonio Alvares Soares Ribeiro e Vicente Paulo Soares .................................................................................................................................................................................15 Balanço Hídrico para Pinheiral, Rio de Janeiro - Antonio Passos Portilho; Marcelo Carazo Castro; Guilherme de Souza Alves; Nathan Fernandes de Aguiar e Marilena Souza da Silva . . ...............................................................21 Fatores a serem considerados para o lançamento de nova marca de café orgânico - Dayanny Carvalho Lopes; José Messias Miranda e André Delly Veiga . . ..............................................................................................29 Avaliação da Produtividade e Adaptabilidade de Acessos de Amendoim Forrageiro para Potencial Formação/Consorciação de Pastagens no Sul de Minas Gerais - Michender Werison Motta Pereira; Kátia Regina de Carvalho e Lílian Vilela de Andrade Pinto . . ......................................................................................................37 Acúmulo de Açucares em Variedades de Cana Influenciadas por Diferentes Supressões de Irrigação e Adubação - Franklin Meireles de Oliveira; Ignacio Aspiazú; Marcos Koiti Kondo; Iran Dias Borges; Rodinei Facco Pegoraro e Poliana Batista de Aguilar . . ..................................................................................................................47 Avaliação da Sobrevivência e do Desenvolvimento de Mudas de Capim Vetiver (Vetivena Zizanioides) em Raízes Nuas e Produzidas em Saquinhos de Polietileno Plantadas em Diferentes Espaçamentos - Leandro Luiz de Andrade; Lilian Vilela de Andrade Pinto; Michender Werison Motta Pereira e Rafael Xavier Souza . . ......57 Caracterização da Frota Pesqueira de Coari, Médio Rio Solimões (Amazonas-Brasil) - Sandrelly Oliveira Inomata e Carlos Edwar de Carvalho Freitas . . .............................................................................................................65 Análise Comparativa entre Indicadores de Avaliação do Desenvolvimento Sustentável em Comunidades Ribeirinhas no Estado do Amazonas - Frandiney dos Reis e Alexandre Almir F. Rivas . . ..................................71 Efeito de Atividades Antrópicas Sobre A Mata Do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia Minas Gerais Campus São João Evangelista (IFMG-SJE) - Eduardo Felipe Ribeiro; Paulo do Nascimento; Aderlan Gomes da Silva; Gustavo de Almeida Santos e Diêgo Gomes Júnior . ..............................................................83 Cultivo do Feijoeiro em Solo de Baixa Fertilidade em Sucessão à Cultivares de Batata Submetidas a Diferentes Adubações - Marcelo Bregagnoli; Keigo Minami; Ariana Vieira Silva e Raul Henrique Sartori . .........93 Análise de Sistemas de Geração de Energia Elétrica com Base na Pegada Ecológica Modificada - Bruno Silva de Carvalho; Carlos Cezar da Silva e Cezar Augusto Frimaio da Silva . . .....................................................101 Relação entre o Comportamento de Aves, A Conformação da Paisagem Fragmentada e A Estrutura das Populações de Plantas - Bruno Senna Corrêa e Aloysio Souza de Moura . . ......................................................109 Homenagem ao Professor Marley . .....................................................................................................122 Revista Agroambiental - Agosto/2011 Adição de Resíduos Orgânicos ao Substrato para Produção de Mudas de Café em Tubete Sérgio Luiz Santana de Almeida, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais, Campus Machado, [email protected]. Franciane Diniz Cogo, Universidade Federal de Lavras, Departamento de Ciência do Solo, [email protected]. Bruna Oliveira Gonçalves†, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais, Campus, [email protected]. Bruno Teixeira Ribeiro, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais, Campus Machado, [email protected]. Katia Alves Campos, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais, Campus Machado, [email protected]. Augusto Ramalho de Morais, Universidade Federal de Lavras, [email protected] RESUMO Com o objetivo de avaliar os efeitos dos substratos no desenvolvimento inicial de ca-feeiros (Coffea arabica L.) plantados em tubetes, foi conduzido, em viveiro de café no Institu-to Federal do Sul de Minas (IFSULDEMINAS), campus Machado, no sul de Minas Gerais. O delineamento experimental utilizado foi de blocos casualizados em esquema fatorial 3x5, com três repetições. Cada parcela foi constituída por três tubetes com capacidade volumétrica de 51 ml cada. Os fatores em estudo foram os três genótipos de Coffea arabica (Catuaí Vermelho IAC 44, Catucaí Amarelo 2SL e Mundo Novo IAC 379-19) e as cinco adições ao substrato comercial foram: húmus de minhoca, esterco bovino de curral, esterco curtido de galinha, palha curtida de café (resíduos da máquina de beneficiamento) e, como testemunha, o substra-to comercial puro. Os tratamentos foram constituídos por 50% do produto comercial, 10% de vermiculita e 5% de areia grossa, adicionando-se aos 35% restantes os tratamentos citados anteriormente. Verificou-se a possibilidade de substituir nesta proporção o substrato comercial por fonte de material orgânico. Palavras-chave: Coffea arabica, tubete, substrato. Coffee Seedlings Growing In Substrate Amended With Differentes Organic Residues ABSTRACT Aiming to evaluate the effects doe substrates in the initial development of coffee (Coffea arabica L.) planted in plas-tic tubes, was carried out at coffee nursery at the Federal Institute of Southern Minas IFSULDEMINAS - Machado Campus, located in southern Minas Gerais. The experimental design was randomized blocks in factorial scheme 3x5, with three replications. Each plot consisted of three tubes with a volume capacity of 120 ml each, and the factors were the three genotypes of Coffea arabica (IAC Catuaí Red 44, Yel-low Catucaí 2SL and Mundo Novo IAC 379-19) and the five additions to commercial substrate were earthworm compost, farmyard manure, chicken manure and tanned, leathery coffee straw (waste processing machine) and as a witness, the pure commercial substrate. The treatments were to be composed of 50% of the commercial product, 10% vermiculite and 5% coarse sand, adding - if, in the remaining 35% treatments mentioned previously. There was the possibility of replacing 35 % of the substrate by commercial source of orga nic material. Key words: Coffea arabica, tube, substrates. 9 Adição de Resíduos Orgânicos ao Substrato para Produção de Mudas de Café em Tubete INTRODUÇÃO A atividade cafeeira tem expressivo destaque na economia, havendo indícios de que os níveis de produção estão subindo gradualmente, nos diversos países produtores. Estimativas divulgadas recentemente (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO CAFÉ – OIC, 2010) indicam que a produção total do ano-safra de 2010/11 deve girar em torno de 133 a 135 milhões de sacas. Diante da grande produção e, conseqüentemente, da área plantada, e ainda, por se tratar de uma cultura perene, é totalmente relevante produzir mudas que se adaptem às condições climáticas, principalmente durante a transferência do viveiro para o campo. Assim, a produção de mudas de cafeeiro com qualidade é o início para se obter um bom stand na lavoura. É de grande importância que na composição do substrato estejam presentes todos os nutrientes necessários para o desenvolvimento das plantas e que eles estejam disponíveis, além de apresentar aspectos como: grande porosidade, alta capacidade de troca catiônica, boa retenção de água, livre de pragas, patógenos e ser economicamente viável. Vários materiais têm sido empregados na produção de mudas em tubetes, isoladamente ou em misturas, destacando-se a vermiculita, o esterco bovino, a “moinha” de carvão, a serragem, o bagaço de cana, a acícula e casca de pinus, a casca de eucalipto compos-tada, a casca de arroz calcinada, o húmus de minhoca e a turfa (CAMPINHO JUNIOR; IKEMORI; MARTINS, 1984; GUIMARÃES et al., 1998). A principal dificuldade é aliar qualidade ao baixo custo na produção do substrato. Nesta técnica, apesar de usado em menor volume, são utilizados constituintes que apresentam custos mais elevados. Considerando-se o custo de produção de mudas cafeeiras, o substrato é responsável por 38% do custo de produção (tubetes de 120 mL), desprezandose o custo com a aduba-ção (GUIMARÃES et al., 1998). Assim, é necessário buscar novas estratégias de manejo que visem minimizar tais investimentos. Diversas pesquisas estão sendo realizadas no intuito de verificar a eficiência de tecnologias alterna tivas na formação do substrato. No trabalho realizado com mudas de café em tubete utilizando esterco bovino na proporção de 80%, adubado com Osmocote®, obteve-se maior altura de planta, massa seca de raízes e de parte aérea (ANDRADE NE-TO; MENDES; GUIMARÃES, 1999). No estudo realizado com húmus de minhoca adicionado ao substrato artificial, na proporção de 80% ou em uso exclusivo (100%) acrescido de fertilizante de liberação gradual, foi constatado aumento na área foliar das mudas de cafeeiro e, como conseqüência, acúmulo de massa seca, tanto na parte aérea quanto no sistema radicular. O uso de esterco bovino acima de 30% e de cama de peru, também acrescidos de fertilizante de liberação gradual, não alterou as características vegetativas das mudas de cafeeiro (DIAS; MELO; SILVEIRA, 2009). Na pesquisa realizada com composto orgânico, cama de aviário, palha de café carbonizada, casca de arroz carbonizada e termofosfato acrescido de cinza, observou-se que mudas produzidas nos substratos mencionados não diferiram entre si quanto à altura, mas apresentaram diferença significativa quanto ao peso seco da parte aérea (MIRANDA; RICCI, 2001). Tendo em vista a necessidade de encontrar um substrato economicamente viável para a formação de mudas em tubetes, com a realização deste trabalho buscou avaliar a eficiência de substratos alternativos para a produção de mudas de café. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi realizado no viveiro de produção de mudas de café do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas (IFSULDEMINAS), campus Machado, MG. Adotou-se o delineamento em blocos inteiramente ca-sualizados, com três repeti-ções, em esquema fatorial 3x5, constituindo 15 tratamentos formados pelas combinações entre os fatores em estudo: três genótipos de Coffea arabica (Catuaí Vermelho IAC 44, Catucaí Amarelo 2SL e Mundo Novo IAC 19) e as quatro adições ao substrato comercial (húmus de minhoca, esterco bovino esterco de galinhas, palha de café) e como testemunha o substrato comercial puro, com os percentuais distribuídos conforme a Tabela 1. Tabela 1. Caracterização das adições ao substrato comercial quanto ao percentual dos componentes do substrato. Resíduos orgânicos Vermiculita (%) A Húmus de minhoca (35%) 50 10 5 B Esterco de bovino (35%) 50 10 5 C Esterco de galinha (35%) 50 10 5 D Palha de café (35%) 50 10 5 E - 85 10 5 10 Revista Agroambiental - Agosto/2011 As parcelas foram constituídas por três tubetes com capacidade volumétrica de 120 ml cada um, e para a produção das mudas, foram colocadas, de acordo com o sorteio, duas sementes das cultivares Catuaí Vermelho IAC 44, Catucaí Amarelo 2SL e Mundo Novo IAC 379-19, respectivamente. Os testes que validam os pressupostos da análise de variância, Shapiro-Wilks, para a normalidade e Bartlett, para a homocedasticidade de variâncias, atestaram tais pressupostos. Quando as mudas atingiram o estágio palito de fósforo foi realizado desbaste deixando-se apenas uma planta por tubete, mantendo-as sob sombrite (50% de passagem de luz) e irrigadas diariamente com uso de microaspersores, com vazão nominal de 60 L h-1. Para a validação da analise de variância foi aplicado os testes Shapiro-Wilks, para a normalidade e Bartlett para a homocedasticidade, que demostrou que as hipóteses são sa-tisfatórias; em seguida procedeu-se o teste de F que indicou que não houve interação entre os fatores cultivares e substratos para nenhuma das características avaliadas, indicando que os fatores agem de maneira independente sobre tais características (Tabela 2). Após 180 dias à semeadura foram avaliadas as características: altura de planta, comprimento das raízes, número total de folhas, diâmetro do caule e a massa fresca e seca do sistema radicular e da parte aérea. As médias foram submetidas ao teste de F ao nível de 5% de significância e aos testes de normalidade dos erros e de homocedasticidade de variâncias, respectivamente por meio dos testes de ShapiroWilks e Bar-tlett. Todos os testes foram realizados utilizando-se o programa “R” (R DEVELOPMENT CORE TEAM, 2008). RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados para ao substrato alternativos estão de acordo com os apresentados por Vallone et al. (2010), que também utilizaram, como fonte alternativa, material orgânico. Observou-se que o comportamento das mudas de cafeeiro em todos os tratamentos foi semelhante para as três cultivares em estudo. Tabela 2. Resumos das análises de variância para as variáveis avaliadas no experimento sobre substratos alternativos para a produção de mudas de cafeeiro (Coffea arabica L.), em tubetes para as avaliações de crescimento de planta (Machado, MG, 2010). Teste de F Causas de Variação Cultivares Substrato Bloco Int. C x S Altura N°de Comp. Massas Verdes (g) Parte Massas Secas (g) Parte raiz raiz Total folhas 2 0,37 0,43 0,90 0,10 0,17 0,16 0,14 0,15 0,25 0,17 2 0,76 0,65 0,36 0,70 0,64 0,77 0,65 0,77 0,26 0,70 4 0,80 0,68 0.91 0,57 0,98 0,23 0,86 0,80 0,82 0,80 8 0,92 0,68 0,77 0,93 0,95 0,93 0,97 0,71 0,42 0,69 As médias observadas para as variáveis alturas, comprimento radicular, número de folhas, diâmetro, massa verde radicular, massa seca aérea, massa verde da parte aérea, massa seca da parte aérea, massa verde total e massa seca total de mudas de cafeeiro, em função de diferentes substratos e cultivares, para as cultivares e para os diferentes substra-tos, não apresentaram diferença significativa estão representadas nas Figuras 1 e 2. as fontes de substratos obtidos por diferentes fontes de matéria orgânica, destaca-se a eficiência dos compostos utilizados nas características avaliadas. Andrada Neto, Mendes e Guimarães (1999) encontraram o mesmo resultado comparado ao produto comercial quanto ao uso da fonte de matéria orgânica de húmus de minhoca, o que representou uma substituição de 35% do substrato. Já para o esterco bovino os resultados são contraditórios. Trabalhos realizados buscando-se alternativa para o substrato para a produção de mudas de cafeeiros. A grande maioria deles discorda quanto ao resultado encontrado, por apresentar diferenças entre o substrato comercial e o alternativo. Estes substratos não são os mesmos utilizados neste trabalho (ANDRADE NETO, et al, 1999; CUNHA, 2002). Da mesma forma, Dias, Melo e Silveira (2009), ao adicionarem 40% de cama de peru ao substrato artificial, constataram que essa adição favoreceu o desenvolvimento das mudas do cafeeiro, enquanto que o esterco bovino ao ser acrescido ao substrato artificial, independente de sua proporção, prejudicou o desenvolvimento das mudas. Com relação aos efeitos não significativos para 11 Adição de Resíduos Orgânicos ao Substrato para Produção de Mudas de Café em Tubete Figura 1 – Representação gráfica das avaliações - valores médios das características de crescimento de altura da planta, comprimento da raiz, diâmetro de caule, massa verde radi-cular (MVR), massa seca radicular (MSR), massa verde da parte aérea (MVPA), massa seca da parte aérea (MSPA), massa verde total (MVT) e massa seca total (MST) de mudas de cafeeiros em função de diferentes cultivares. IFSULDEMINAS, Machado, MG, 2009. Figura 2 – Representação gráfica das avaliações - valores médios das características de crescimento de altura, comprimento da raiz, diâmetro de caule, massa verde radicular (MVR), massa seca radicular (MSR), massa verde da parte aérea (MVPA), massa seca da parte aérea (MSPA), massa verde total (MVT) e massa seca total (MST) de mudas de cafeeiros, em função de componentes do substrato. IFSULDEMINAS, Machado, MG, 2009. 12 Revista Agroambiental - Agosto/2011 CONCLUSÕES O uso de fontes de matéria orgânica aviária, bovino e húmus de minhoca na substi-tuição de 35% do substrato tradicional, pode ser uma alternativa para a fertilização do substrato para mudas de cafeeiro em tu-bete, pois as características de crescimento não diferem quando comparados ao substrato comercial puro. AGRADECIMENTO (S) Os autores agradecem ao Instituto Federal de Minas Gerais (IFSULDEMINAS), campus Machado, pela ajuda na condução experimental; à Cooperativa dos Alunos, COE-TAGRI pelo apoio financeiro e a FAPEMIG pela concessão da bolsa de iniciação científica e a empresa AGROPLASTICOS pela doação dos tubetes. Agradecem também a Deus, pelo privilégio de ter convivido e trabalhado com a bolsista do programa BIC-Jr. FAPEMIG Bruna Oliveira Gonçalves uma das participantes deste projeto e dedicam a sua conclusão em sua memória. REFERÊNCIAS ANDRADE NETO, A. de; MENDES, A. N. G.; GUIMARÃES, P. T. G. Avaliação de substratos alternativos e tipos de adubação para a produção de mudas de cafeeiro (Coffea arabica L.) em tubetes. Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v. 23, n. 2, p. 270-280, 1999. GUIMARÃES, P. T. G.; et al., Produção de mudas de cafeeiros em tubetes. In: TORRES, G.; et al., (Ed.). Cafeicultura: tecnologia para produção. Belo Horizonte: EPAMIG, 1998. p. 98-109. MIRANDA, S. C.; RICCI, M. dos S. F. Substratos alternativos para mudas em tubetes. In: SIMPÓSIO DE PESQUISA DOS CAFÉS DO BRASIL, 2., 2001, Vitória. Anais… Vitó-ria: EMBRAPA, 2001. 2633-2638. ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO CAFÉ. Preços do café devem recuar com chegada da safra 2010/11. 2010. Disponível em: <http://www.integrada.coop.br/ notas/502/OIC:-preço-do-cafe-devem-recuar-comchegada-da-safra-2010e11>. Acesso em: 19 ago. 2010. R DEVELOPMENT CORE TEAM. R: A language and environment for statistical computing. Vienna, Austria: R Foundation for Statistical Computing, 2008. ISBN 3-900051-07-0. VALLONE, H. S.; GUIMARÃES, R. J.; MENDES, A. N. et al. Efeitos de recipientes e substratos utilizados na produção de mudas de cafeeiro no desenvolvimento inicial em casa de vegetação, sob estresse hídrico. Ciência Agrotecnologia, Lavras, v. 34, n. 2, p. 320-328, 2010. CAMPINHOS JUNIOR, E; IKEMORI, Y. K; MARTINS, F. C. G. Determinação do meio de crescimento mais adequado à formação de mudas de Eucaliptus sp. e Pinus sp. em recipientes plásticos rígidos. In: SIMP ÓSIO INTERNACIONAL: MÉTODOS DE PRODUÇÃO E CONTROLE DE QUALIDADE DE SEMENTES E MUDAS FLORESTAIS, 1., 1984, Curitiba. Anais... Curitiba: UFPR, 1984. p. 350-365. CUNHA, R. L.; SOUZA, C. A. S.; ATAUALPA DE ANDRA-DE NETO, A.; MELO, B. AVALIAÇÃO DE SUBSTRATOS E TAMANHOS DE RECIPIENTES NA FORMA-ÇÃO DE MUDAS DE CAFEEIROS (Coffea arabica L.) EM TUBETES. Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v.26, n.1, p.7-12, 2002. DIAS, R.; MELO, B. D.; SILVEIRA, M. D. Fontes e proporções de material orgânico para a produção de mudas de cafeeiro em tubetes. Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v. 33, n. 3, p. 758-764, maio/jun. 2009. 13 Revista Agroambiental - Agosto/2011 Comparação Entre a Feição de Hidrografia Extraída de uma Imagem do SRTM (Shuttle Radar Topography Mission) e a Vetorizada pelo Módulo ArcScan/ArcGIS®: Estudo de Caso para Fins de Análise Hidrológica na Bacia Hidrográfica do Rio Grande, Divisa entre os Estados de MG e SP Sady Júnior Martins da Costa de Menezes, Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Engenharia Florestal, Viçosa, MG, 36570-000, [email protected] Thiago Porto Maia Soares, Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Engenharia Florestal, Viçosa, MG, 36570-000, [email protected] Vanessa Mendes Lana, Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Engenharia Florestal, Viçosa, MG, 36570-000, [email protected] Cleverson Alves de Lima, Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Engenharia Florestal, Viçosa, MG, 36570-000, [email protected] Fernando Soares de Oliveira, Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Engenharia Florestal, Viçosa, MG, 36570-000, [email protected] Claubert Wagner Guimarães de Menezes, Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Engenharia Florestal, Viçosa, MG, 36570-000, [email protected] Carlos Antonio Alvares Soares Ribeiro, Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Engenharia Florestal, Viçosa, MG, 36570-000, [email protected] Vicente Paulo Soares, Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Engenharia Florestal, Viçosa, MG, 36570-000, [email protected] RESUMO O SRTM - Shutle Radar Topography Mission – é uma missão o qual gerou-se uma base topográfica digital de alta resolução. A SRTM consiste num sistema de radar especialmente modificado que voou a bordo do Endea-vour (ônibus espacial), em fevereiro de 2000. As imagens obtidas pelo SRTM garantiu amplas aplicações em estudos espaciais, uma vez que os processos de comunicação visual para a produção de cartografia de base e mapas de precisão da análise espacial foram utilizados. O presente estudo foi baseado em duas etapas de processamento de dados: inicialmente, incidiu sobre a manipulação de bases vetorizadas (dados de hidrografia obtidos pelo IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e, em seguida, gerou-se informações vetorizadas a partir de imagens SRTM. A área de estudo é a Bacia do Rio Grande, MG/SP. Usando o programa de Sistemas de Informação Geográfica - ArcGIS 9.3.1 - foi obtido pelo módulo Spatial Analyst a hidrografia que foi extraída do SRTM. Após essa extração, foram comparadas as informações obtidas com o IBGE (vetor da base de dados utilizando o módulo Arcscan/ArcGIS) e as informações obtidas pelo SRTM. Verificou-se uma ligeira diferença entre a distribuição e a concentração dos prováveis canais de drenagem entre os mapas dos vetores gerados (IBGE x SRTM). O trabalho demonstrou o uso dos dados do SRTM possibilitando a atualização de dados da rede hidrográfica de extensas áreas de modo bastante facilitado, com a vantagem de ser organizado pela mesma equipe e pelo mesmo processo metodológico, sem riscos de desigualdades durante sua geração. Palavras-chave: Sistema de Informações Geográficas, dados SRTM, análise da hidrografia Comparison of hydrographic feature extracted from an SRTM image (Shuttle Radar Topography Mission) and vectored by the module Arcscan/ArcGIS®: a case study for analysis hydrological basin of the Rio Grande border between the states of MG and SP 15 Comparação Entre a Feição de Hidrografia Extraída de uma Imagem do SRTM (Shuttle Radar Topography Mission) e a Vetorizada pelo Módulo ArcScan/ArcGIS®: Estudo de Caso para Fins de Análise Hidrológica na Bacia Hidrográfica do Rio Grande, Divisa entre os Estados de MG e SP ABSTRACT The SRTM - Shutle Radar Topography Mission - a mission which is generated based on a complete topographic digital terrestrial high resolution. The SRTM consists of a specially modified radar system that flew aboard the Endeavour (space shuttle) in February 2000. The images obtained by the SRTM has ensured broad applications in spatial studies, since the processes of visual communication to the production of basic cartography and precision maps of spatial analysis. This study was based on two steps of processing of data: initially focused on existing vector manipulation of information (data on hydrography obtained by IBGE – Brazilian Institute of Geography and Statistics) and then propose the generation of information from SRTM images. The study area is the Rio Grande Basin, MG/SP. Using the program of Geographic Information Systems - ArcGIS 9.3.1 - was obtained by the hydrography Spatial Analyst module, which is extracted from the SRTM. After this extraction, we compared the information obtained from the IBGE (vectored by the data base module Arcscan/ArcGIS) as obtained by the SRTM. Subject to the maps, there is a slight difference between the concentration distribution channels likely passage of waterways between the maps of the vectors generated (IBGE against SRTM). The study is valid because the work can enable the SRTM data update of the hydrographic network of extensive areas of fairly easy, with the advantage of being organized by the same team and by the same methodological process, without risk of inequality during his generation. Keywords: Geographic Information System, SRTM data, hydrography’s analisys INTRODUÇÂO As informações sobre o projeto SRTM (Shuttle Radar Topographic Mission) relatadas a seguir foram retiradas do sítio do JPL (Jet Propulsion Laboratory) da NASA (2010) (National Aeronautics and Space Administration). O projeto advém de cooperação entre a NASA e a NIMA (National Imagery and Mapping Agency), do DOD (Departamento de Defesa) dos Estados Unidos e das agências espaciais da Alemanha e da Itália. A missão usou o mesmo instrumento utilizado em 1994 no programa Spaceborne Imaging Radar-C/X-Band Synthetic Aperture Radar (SIR-C/X-SAR), a bordo do ônibus espacial Endeavour. Porém o arranjo foi projetado para coletar medidas tridimensionais da superfície terrestre através de interferometria. Para tanto, a nave foi munida de um mastro de 60m, em cuja extremidade foram instaladas antenas para bandas C e X, além de melhorados os dispositivos de controle de navegação (Figura 1). Figura 1 – Demonstração da obtenção da imagem SRTM pelo ônibus espacial Endeavour. Fonte: Google (2010) O sobrevôo da SRTM ocorreu no período de 11 a 22 de Fevereiro de 2000, durante o qual foram percorridas 16 órbitas por dia, num total de 176 órbitas. O sobrevôo foi concluído com a coleta de 12 TB de dados que vêm sendo processados para formação de Modelos Digitais de Elevação (MDE). O processamento dos dados coletados visou à formação de um MDE mundial, elaborado continente por continente, iniciado com a América do Norte. A conclusão de cada continente segue-se o 16 envio dos dados ao NIMA, onde estes são editados, verificados e ajustados aos padrões norte-americanos de exatidão de mapas (National Map Accuracy Standards). Estes mapas são então devolvidos à NASA pra distribuição pública através da USGS (United States Geological Survey). Foram gerados MDE sob a resolução de 30m (a rigor, em coordenadas geográficas, com 1 arco segundo, ou 1”, ou ainda 0,000277°) para os Estados Unidos e planejados sob 90m (a rigor, 3” ou 0,000833°) Revista Agroambiental - Agosto/2011 para o resto do mundo. O datum e o elipsóide de referência são WGS84, com dados de z em metros inteiros. Embora a NIMA aplicasse várias operações de pós-tratamento, que incluem remoção de picos e vórtices, nas informações que acompanham os dados, o usuário é lembrado que suas características (inerentes a todo dado geo-espacial) devem condicionar seu desempenho ante aplicações específicas: uma característica dos dados SRTM que o torna inadequado para uma determinada aplicação pode ser inócua para outra. Informa-se ainda que nenhuma edição foi aplicada sobre os dados e que o conjunto em questão contém um grande número de vãos e outros pontos espúrios, com valores extremamente altos (picos) ou extremamente baixos (vórtices). Corpos d’água serão geralmente mal definidos, assim como as linhas de costa. Esta informações são fornecidas pelo JPL sobre o programa SRTM (Valeriano, 2004). MATERIAL E MÉTODOS A bacia do Rio Grande se localiza na bacia do Paraná e está dividida entre os Estados de São Paulo e Minas Gerais. Ela pode ser dividida em três regiões fisiográficas: alto, médio e baixo Rio Grande e caracteriza-se por um período chuvoso de seis a sete meses (outubro a março/abril), com uma concentração de mais de 80% das chuvas no verão. Os meses de setembro e maio são considerados de transição. Na região do alto Rio Grande o relevo é marcado por escarpas e reversos planaltos da Serra da Mantiqueira, com altitudes variando entre 800 e 2700 m. Na região do médio Rio Grande o relevo é constituído por planícies interioranas fluviais e/ou fluvilacustres e por patamares da bacia do Paraná que ocorrem na porção ocidental. Na região do baixo Rio Grande o relevo é constituído por planalto central e por planícies interioranas fluviais e/ou fluvilacustres. Nas duas últimas regiões da bacia as altitudes oscilam entre 200 e 750 m, alcançando 1600 m em alguns locais (Paz, 2007). A bacia do Rio Grande compreende uma área de 145.000 km2 (Figura 2). Além do rio que dá nome à bacia (Rio Grande) e que é um dos formadores do Rio Paraná, outros rios de destaque na bacia são: Turvo, Mogi-Guaçu, Pardo, Sapucaí, Verde e das Mortes. Figura 2 – Localização da Bacia do Rio Grande. Fonte: Paz (2007). A bacia do Rio Grande possui 7.728.951 habitantes distribuídos em 443 municípios. A região apresenta industrialização crescente, com destaque para a agroindústria de alta tecnologia. As atividades agrícolas são mais intensas no médio e no baixo Rio Grande, sendo que a bacia possui um grande potencial para irrigação. De acordo com o estudo dos usos consuntivos da água na bacia do Rio Grande, realizado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS, 2003), a irrigação ocupa o posto de maior consumidora de água na região, variando entre 72% e 33%, dependendo do local, e com média de 53% de todo o consumo de água. Em seguida vêm os usos: dessedentação animal, abastecimento urbano, indústrias e, por último, abastecimento rural. A bacia em questão tem grande importância no contexto da geração hidroelétrica brasileira, sendo responsável por aproximadamente 11,7% da produção nacional, com uma capacidade instalada de cerca de 7.722 MW (ANEEL, 2005). Na bacia do Rio Grande encontram-se centros urbanos com crescimento expressivo, os quais exercem forte pressão sobre a utilização 17 Comparação Entre a Feição de Hidrografia Extraída de uma Imagem do SRTM (Shuttle Radar Topography Mission) e a Vetorizada pelo Módulo ArcScan/ArcGIS®: Estudo de Caso para Fins de Análise Hidrológica na Bacia Hidrográfica do Rio Grande, Divisa entre os Estados de MG e SP dos recursos hídricos. De acordo com Hernandes (2006), a bacia do Rio Turvo, localizada próxima à foz do Rio Grande, está prestes a entrar em situação crítica de uso de água, devido às condições de baixa disponibilidade hídrica, às altas taxas de evapotranspiração, ao déficit hídrico prolongado, aos irrigantes sem o requerimento de outorga e ao possível crescimento no número de solicitações para a irrigação. O reservatório de Furnas também vem passando por conflitos do uso da água. Segundo Santos et al. (2003), o rebaixamento prolongado do nível de água em Furnas e o intenso crescimento das atividades econômicas ocasionaram redução da atividade agrícola em 40% e o assoreamento do reservatório. O objetivo do trabalho é demonstrar o uso dos dados SRTM na construção de uma rede hidrográfica vetorizada de forma a auxiliar num “primeiro instante”, possíveis tomadas de decisão pela análise hidrológica dos dados gerados. Comparou esta base de dados obtida (SRTM) com os vetores disponíveis numa base de dados do IBGE (uso do programa computacional ArcGIS, módulo ArcScan). Apresentou um exemplo para a região de Barretos/SP, carta IBGE 2599-2, que faz parte da Bacia Hidrográfica do Rio Grande, para melhor visualização da metodologia proposta. O ArcGIS é um Sistema de Informações Geográficas (SIG) de última geração desenvolvido pelo Environmental Systems Research Institute (ESRI). Atualmente, suporta três níveis funcionais de licença – ArcView, ArcEditor e o ArcInfo (licença completa). O ArcGIS Desktop é um SIG integrado e consiste de cinco principais componentes, a saber: ArcMap, ArcCatalog, ArcGlobe, ArcScene e ArcToolbox. A última versão do ArcGIS é a 9.3.1 (Sanchez, 2004). O módulo ArcScan é uma extensão de conversão do formato raster para vetor dentro do ambiente de geoprocessamento (ArcGIS 9.3.1). Esta extensão permite converter automaticamente as imagens escaneadas de mapas em feições vetorizadas. Possui ferramentas que permitem uma pré-correção da imagem (a) quanto as suas possíveis falhas apresentadas, seja nas conexões incompletas de mananciais hídricos ou curvas de nível, seja na limpeza de possíveis interferências provenientes da confecção original e escaneamento do mapa. A ESRI tem uma parcela dominante do mercado de software de SIG, havendo um uso do seu software por cerca de 77% dos profissionais da área. A área de estudo, a Bacia Hidrográfica do Rio Grande, limite entre MG e SP, já conta com coleção de arquivos vetoriais digitalizados a partir dos mapas hidrográficos do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em escala 1:50.000 e 1:100.000. Por meio do programa de Sistemas de Informação Geográfica – ArcGIS 9.3.1 – obteve-se a hidrografia (vetor da superfície de drenagem) pelo módulo Analista Espacial (Spatial Analyst Tools) do ArcGIS, sendo esta extraída do SRTM. Os comandos utilizados pelo módulo Analista Espacial do ArcGIS são listados em seqüência: • Comando Fill: esta função preenche as possíveis depressões espúrias encontradas na imagem do SRTM; • Comando Flow Direction: esta função obtém a direção do fluxo; • Comando Flow Accumulation: esta função obtém o fluxo acumulado; • Comando Con: esta função testa se uma condição fornecida pelo usuáro é verdadeira ou falsa e baseado nisto executa diferentes tarefas. Utilizou para obter uma imagem raster com as drenagens extraídas; • Comando Stream to Feature: transforma o raster em vetor e gerar um arquivo de polyline (polilinha: linhas contínuas compostas por vários segmentos) para representar a drenagem. (b) Figura 3 – Exemplo da aplicação da metodologia em uma imagem SRTM: (a) Drenagem visível na imagem; (b) Extração da drenagem pelo ArcGIS visualizando os vetores criados. 18 Revista Agroambiental - Agosto/2011 Após esta extração, comparou-se as informações obtidas tanto do IBGE (base de dados vetorizada pelo módulo ArcScan/ArcGIS) quanto a obtida pelo SRTM. RESULTADOS E DISCUSSÃO A Figura 3 demonstra a vetorização das áreas de drenagem criadas ao utilizar os comandos do Analista Espacial (ArcGIS 9.3.1), visualizando portanto os (a) vetores criados sobre os possíveis canais identificados pelo programa computacional e pelas rotinas do ArcGIS na imagem do SRTM. Da área total da Bacia Hidrográfica do Rio Grande (Figura 4), extraímos apenas uma porção para facilitar a explicação e análise, conforme citado na metodologia. Tomamos a carta de Barretos 2599-2 para análise tanto do vetor originado pelo IBGE quanto pela extração feita nos dados do SRTM. (b) Figura 4 – (a) Imagem SRTM sobreposta à imagem do Google Earth visualizando a Bacia Hidrográfica do Rio Grande, divisa MG/SP; (b) Extração da drenagem usando o ArcGIS. A Figura 5 demonstra o processo desde a vetorização pelo módulo ArcScan/ArcGIS e a sua sobreposição no vetor gerado do SRTM. (a) (b) (c) (d) 19 Comparação Entre a Feição de Hidrografia Extraída de uma Imagem do SRTM (Shuttle Radar Topography Mission) e a Vetorizada pelo Módulo ArcScan/ArcGIS®: Estudo de Caso para Fins de Análise Hidrológica na Bacia Hidrográfica do Rio Grande, Divisa entre os Estados de MG e SP Figura 5 – (a) Vetor do IBGE da hidrografia de Barretos/SP; (b) Extração da drenagem usando o Analista Espacial/ArcGIS para a localidade de Barretos/SP e vizinhos; (c) Sobreposição dos dados obtidos: IBGE x SRTM; (d) Ampliação na feição de hidrografia para fins de comparação (IBGE x SRTM). Observada as imagens (Figuras 5c e 5d), notase uma significativa diferença entre a distribuição da concentração de talvegues ou canaletas (canais) de provável passagem de cursos d´água entre os mapas dos vetores gerados (IBGE x SRTM). Comparando os resultados obtidos a partir dos estudos no SRTM com os produtos vetoriais obtido pelo IBGE (módulo ArcScan/ ArcGIS) existentes para a área em estudo, é importante observar que a resolução do SRTM é de pixel de 90 metros e a resolução do IBGE pode ser dada pelo padrão de exatidão cartográfica. O estudo mostra a aproximação da drenagem obtida pelo SRTM em comparação com o vetor do IBGE (Figura 5d). Estudos devem ser conduzidos de forma a usar esta extração para uma modelagem mais precisa, porém para uma análise inicial visando uma tomada de decisão, a alternativa de se obter esta drenagem até possuir os dados vetorizados do IBGE, mostrou-se interessante. CONCLUSÃO Mesmo apresentando pior resolução, o trabalho com o SRTM pode possibilitar a atualização de dados da rede hidrográfica de extensas áreas de modo bastante facilitado, com a vantagem de ser organizado pela mesma equipe e pelo mesmo processo metodológico, sem riscos de desigualdades durante sua geração. Demonstrou-se portanto uma maneira de se obter a malha hidrográfica quando não se possui tal informação na área de análise ou caso a informação obtida não é de inteira confiança o que poderia surtir em resultados que não descreveria uma possível realidade ao se trabalhar tais dados, invalidando assim o estudo em questão. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica (Brasil). Cadernos Temáticos ANEEL: energia assegurada. Brasília: ANEEL, 2005. 18 p. HERNANDES, A.; MEGDA, M.M.; HERNANDEZ. F.B.T.; ALTIMARE, A.; ZOCOLER, J.L. Uso da água na bacia hidrográfica do Turvo/Grande – SP. In: XVI Congresso Nacional de Irrigação e Drenagem, 2006, Goiânia. Anais... Goiânia: ABID, 2006, CD-ROM. NASA – National Aeronautics and Space Administration. SRTM – Shuttle Radar Topography Mission. Disponível em: <http://www2.jpl.nasa.gov/srtm/>. Acesso em: 01 out. 2010. 20 ONS - Operador Nacional do Sistema Elétrico. Estimativa das vazões para atividades de uso consuntivo da água nas principais bacias do Sistema Interligado Nacional – SIN. Brasília: 2003. PAZ, A. R. Previsão de afluência a reservatórios hidrelétricos – módulo 1 – Relatório Final. FINEP, IPH:RS; CPTEC/INPE; IAGCA/USP, 2007, 188p. SANCHEZ, P. ArcGIS 9, Using ArcScan for ArcGIS, Redlands, CA, USA. ESRI, 2004, 140p. SANTOS, A. H. M.; Bortoni, E. da C.; Junior, L. U. R.; Garcia, M. A. R. A. A exploração de reservatórios e os comitês de bacias: uma análise prospectiva para o caso da UHE de Furnas. In: XV Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, 2003, Curitiba. Anais...Curitiba: ABRH, 2003, CD-ROM. VALERIANO, M.M. – Modelo Digital de Elevação com dados SRTM disponíveis para a América do Sul. INPE: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE-10550-RPQ/756, São José dos Campos, 72p., 2004 AGRADECIMENTOS A CAPES pela concessão da bolsa permitindo realizar este trabalho. Revista Agroambiental - Agosto/2011 Balanço Hídrico para Pinheiral, Rio de Janeiro Antonio Passos Portilho1,4 ([email protected]); Marcelo Carazo Castro1 ([email protected]); Guilherme de Souza Alves2,5 ([email protected]); Nathan Fernandes de Aguiar2,5 ([email protected]); Marilena Souza da Silva3,5([email protected]) 1Docente; Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro - Campus Nilo Peçanha, Pinheiral-RJ. 2Discente do Curso Técnico em Agropecuária; Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro – Campus Nilo Peçanha, Pinheiral-RJ. 3Discente do Curso Técnico em Informática; Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro – Campus Nilo Peçanha, Pinheiral-RJ. 4autor para correspondência – endereço: Rua José Breves 550, centro, Pinheiral-RJ, 27197-000. 5Bolsista do Projeto Jovens Talentos-Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro(FAPERJ)/Centro de Ciência do Rio de Janeiro(CECIERJ). RESUMO O trabalho visou à obtenção do balanço hídrico climatológico pelo método de Thornthwaite & Mather (1955) para o município de Pinheiral, localizado na região do Médio Paraíba Fluminense e sua aplicação no planejamento agropecuário local. Foram utilizados dados de 64 meses coletados a partir de abril de 2005 pela estação meteorológica automática do IFRJ em Pinheiral. Palavras-chave: Balanço hídrico; planejamento agropecuário; irrigação. Water Balance for Pinheiral, RJ ABSTRACT The work was aimed at achieving the climatic water balance by the method of Thornthwaite & Mather(1955) for the city of Pinheiral, located in the Middle Paraíba Fluminense, and apply it to the local agricultural planning. We utilized data collected 64 months from April 2005 by the automatic weather station of the IFRJ in Pinheiral. Keywords: Water balance; agricultural planning; irrigation. INTRODUÇÃO O solo agrícola pode ser visto como um reservatório de água onde as entradas e saídas podem ser contabilizadas por um balanço hídrico que respeita o Princípio de Conservação de Massa em um volume de solo vegetado. A entrada de água no solo refere-se à precipitação pluvial, à irrigação e à ascensão capilar enquanto a saída refere-se à evapotranspiração e à percolação. Genericamente, estas variáveis podem ser correlacionadas em o balanço hídrico como apresentado na equação 1. (PRC + IRR + ASC) - (ET + PER) = ARM (1) em que: PRC = precipitação pluvial, mm; IRR = irrigação, mm; ASC = ascensão capilar, mm; ET = evapotranspiração, mm; PER = percolação, mm; ARM = variação do armazenamento de água no solo, mm. 21 Balanço Hídrico para Pinheiral, Rio de Janeiro O balanço hídrico, em função da aplicação a que se destina, pode ser elaborado em diversas bases temporais, como a diária e a mensal. Nesse sentido, Mota (1977) menciona que a base diária é preferida para as operações agrícolas do dia-a-dia, enquanto a mensal pode ser utilizada para o planejamento de longo prazo de recursos hídricos. Para bases temporais de pequeno intervalo, Carvalho et al. (2009), por exemplo, utilizaram o balanço hídrico diário para indicar, de maneira precisa, o momento de irrigar e o volume de água a ser aplicado. Aliás, Moura et al. (1994) mencionam que o balanço hídrico é uma metodologia bastante empregada por diversos pesquisadores na determinação do consumo de água pelas culturas agrícolas, pois descreve as condições hídricas nas quais as mesmas se desenvolvem. Esses autores empregaram o método do balanço hídrico para estimar o consumo de água pela cultura da cenoura para a região de Piracicaba/SP. Já Silva et al. (2001) estimaram, com bons resultados, o consumo de água da mangueira irrigada utilizando para isso o método do balanço hídrico do solo apresentado na equação 1. Nied et al. (2005) usaram o balanço hídrico diário para escolher a época de plantio do milho em Santa Maria-RS, que apresente o menor risco de ocorrência de deficiência hídrica, dentre as 42 datas simuladas. Feiz & Rangel (2008) estudaram a melhor época de semeadura da soja na região de Dourados-MS em função da deficiência hídrica e do fotoperíodo. Para análise da deficiência hídrica, os autores usaram o balanço hídrico diário e concluíram que a semeadura da soja, em novembro e dezembro, são mais favoráveis à região analisada. Felicio et al. (1999) avaliaram a disponibilidade hídrica do solo em Capão Bonito-SP, entre 1991 e 1995, por meio de balanços hídricos decendiais, aplicando-os ao desempenho agronômico da triticale. Das três épocas de semeadura estudadas, os autores puderam recomendar uma que produziria melhores rendimentos, bem como genótipos mais adequados ao plantio em cada época de semeadura avaliada e ainda apresentaram um comparativo de desempenho de genótipos diferentes de triticale em uma mesma época de semeadura. Para valores mensais, considerando a entrada apenas a partir da precipitação pluvial, Thornthwaite & Mather (1955) propuseram uma metodologia de cálculo que efetuasse a formulação da equação 1 de forma genérica e facilitada para uma região qualquer. Vianello & Alves (2006) mencionam que tal metodologia é amplamente adotada no mundo. O balanço de água no solo, estimado pelo estudo de Thornthwaite & Mather (1955) em escala mensal pode ser aplicado, de acordo com Dourado Neto et al. (2010), para caracterização hidrológica destinada ao 22 manejo da água, para estudos ambientais e para o planejamento agrícola que define o uso da terra e as práticas agrícolas. O balanço hídrico pode se referir a uma série longa de dados meteorológicos em termos de média mensal, recebendo neste caso o nome de balanço hídrico climatológico. Galvani (2008) menciona que tal balanço pode ser aplicado para: a) comparação da disponibilidade hídrica entre regiões diferentes; b) caracterização de períodos secos e seus efeitos na agricultura, como redução da produção e impactos sociais; c) zoneamento agroclimático classificando as regiões como sendo “apta”, “marginal” ou “inapta” em função das exigências térmicas e hídricas de uma determinada cultura; d) determinação das melhores épocas de semeadura em função das restrições hídricas locais; e) comparação entre os anos padrões denominados “normais” com aqueles denominados “secos” e/ou “úmidos” e f) avaliação quantitativa das deficiências e excedentes hídricos permitindo uma comparação da intensidade da estação seca. Além disso, Galvani (2008) usou o balanço hídrico climatológico de Thornthwaite & Mather (1955) para comparar o clima das cidades de Piracicaba-SP, São Paulo-SP e Paris, França identificando regimes hídricos distintos de deficiência e excessos hídricos nestas localidades. O uso de modelos estatísticos para previsão de safras é um fator chave para o agronegócio, pois permite conhecer antecipadamente a tendência de aumento ou redução da produção de uma cultura qualquer em função das características meteorológicas reinantes. No caso da cultura do citrus, Paulino et al. (2007) desenvolveram um modelo que emprega o balanço hídrico de Thornthwaite & Mather (1955) para estimativa de produtividade de laranjeiras com base na influência de variáveis meteorológicas durante as fases de crescimento vegetativo, pré-florescimento, florescimento e início de crescimento dos frutos, para a região de Limeira/SP. Já Dourado Neto et al. (1999) desenvolveram um modelo matemático cossenoidal que estima o armazenamento de água no solo com o objetivo de prever a produção de culturas agrícolas anuais, baseado igualmente no balanço hídrico de Thornthwaite & Mather (1955). Souza et al. (2006) estimaram a produtividade do eucalipto na Bacia do Rio Doce, em Minas Gerais, a partir do crescimento do mesmo e das chuvas ocorridas, empregando-se para tal o balanço hídrico com a mesma metodologia proposta por Thornthwaite & Mather (1955). Ribeiro et al. (2006) avaliaram as condições ambientais propícias para a ocorrência da indução do florescimento de laranjeiras no Estado de São Paulo e concluíram que a deficiência hídrica é a principal variá- Revista Agroambiental - Agosto/2011 vel ambiental de indução na região centro-norte do Estado de São Paulo. Nesse estudo, os autores usaram o balanço hídrico climatológico apresentado por Thornthwaite & Mather (1955). De acordo com Tubelis (1988), o balanço hídrico pode ser aplicado ao planejamento agrícola por meio da adequação do cultivo às condições climáticas locais evitando-se, assim, imprevistos e maiores prejuízos decorrentes das variáveis climáticas. Santos et al. (2010), por exemplo, elaboraram o balanço hídrico mensal para a região de Marinópolis-SP pelo método de Thornthwaite & Mather (1955) com dados disponibilizados por uma estação agrometeorológica automática. Por meio dese estudo, os autores concluíram que haveria risco elevado com o cultivo, sem o uso de sistemas de irrigação, em oito meses do ano, naquela região. Pruski et al. (2001) desenvolveram um modelo hidrológico para estimar o escoamento superficial em áreas sob condições agrícolas baseado em diversos processos associados ao balanço hídrico. O modelo pode ser utilizado, ainda, de acordo com seus autores, para o dimensionamento de estruturas hidráulicas, para o monitoramento ambiental e, também, para o manejo de sistemas de irrigação. Na busca do conhecimento das características climáticas de um local qualquer e sua posterior comparação com outros lugares, são empregados Sistemas de Classificação Climáticas, dentre os quais se destacam o de Köppen e o de Thornthwaite. O sistema de Köppen é bastante empregado no mundo e considera apenas o tipo de vegetação natural como um indicador do clima, sendo recomendado apenas para estudos geográficos e climatológicos. O sistema de Thornthwaite difere do de Köppen devido à utilização de parâmetros do solo e de elementos meteorológicos, como a precipitação e temperatura sendo, por isso, mais adequado para aplicações agrícolas. Esse sistema possibilita, por exemplo, a extrapolação de informações agrícolas de uma zona para outra com mesmas características (Rolim et al., 2007). Efetuando a classificação climática para o Estado de São Paulo, Rolim et al. (2007) observaram que o sistema de Thornthwaite apresentou melhores resultados em relação ao de Köppen, atribuindo isso a maior sensibilidade do mesmo às características de chuva, temperatura e relevo. Os autores concluíram que não se pode estabelecer uma relação entre estes dois sistemas de classificação climática. Correia Filho et al. (2010) efetuaram o balanço hídrico climatológico para o Estado do Rio Grande do Norte utilizando para isso a metodologia de Thornthwaite & Mather (1955) e identificaram regiões com semelhança em excesso e em déficit hídrico naquele Estado. Rolim et al. (2007) observaram uma boa relação entre a qualidade natural de bebida de café e os tipos de clima determinados pela classificação climática de Thornthwaite para o Estado de São Paulo. Eles observaram que os climas B3 e B4 correspondem à bebida tipo “Mole” e que os climas B2, C2 e B1 conferem à bebida, respectivamente, a denominação de “Dura adstringente”, “Dura, pouco adstringente” e “Riada”. Um exemplo de zoneamento agrícola é o apresentado por Pommer et al. (2009) que analisaram o clima em Campos dos Goytacazes-RJ. Esses autores concluíram que esse município é adequado para a produção vitícola sendo possível a colheita em mais de uma época durante o ano. Dantas et al. (2007) utilizaram o balanço hídrico pelo método de Thornthwaite & Mather (1955) para avaliar as mudanças recentes no clima de Lavras-MG, em relação àquele observado no período de 1961 a 1990. Perceberam que a classificação climática de Thornthwaite mudou de B3r B’3a para B2r B’3a no período mais recente, porém não houve alteração na classificação climática de Köppen, permanecendo, então, Cwa. O Instituto Nacional de Meteorologia mantém uma página na internet na qual é possível visualizar o balanço hídrico climatológico de suas estações em todo o território brasileiro (INMET, 2010). Entretanto, essas informações são apresentadas sob a forma gráfica, o que dificulta a obtenção de valores precisos e se restringem a locais bastante específicos. No Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, são apenas nove estações. O município de Pinheiral está localizado na região do Médio Paraíba Fluminense, na sub-bacia do ribeirão Cachimbal que compõe a bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul, localizada entre as latitudes 22°29’03”`S e 22°35’27”S e entre as longitudes 43°54’49”W e 44°04’05”W, numa altitude que varia entre 400 e 600 m. O clima da região, de acordo com a classificação de Köppen apresentado por Menezes (2008), apresenta duas formas distintas, a saber: Cwa representando clima temperado de inverno seco e verão chuvoso e Am que representa clima tropical chuvoso com inverno seco. Apesar das informações genéricas a respeito da região de Pinheiral-RJ, ressalta-se que esse município não possui uma caracterização climática mais específica que possibilite um planejamento agropecuário mais apurado, como aquele obtido a partir do balanço hídrico. Assim, este trabalho visa à obtenção e análise do balanço hídrico no município de Pinheiral identificando, assim, elementos para o planejamento agropecuário local. MATERIAL E MÉTODOS Os dados meteorológicos utilizados neste trabalho foram obtidos na estação meteorológica automática marca Metos, modelo C-907C, instalada no Instituto 23 Balanço Hídrico para Pinheiral, Rio de Janeiro Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro campus Nilo Peçanha, em Pinheiral-RJ, na latitude de 22º31’S, longitude de 43º59’W e altitude de 396 m. A base de dados empregada abrangeu o período de abril de 2005 a julho de 2010. O balanço hídrico foi elaborado pelo método de Thornthwaite 7 Mather (1955), com a determinação da evapotranspiração, segundo, Thornthwaite (1948), conforme metodologias apresentadas por Vianello & Alves (2006) e Pereira et al. (1997). Nesse balanço, considerou-se uma Capacidade de Água Disponível do perfil do solo de 100 mm, por ser um valor normalmente empregado para classificação climática, de acordo com Vianello & Alves (2006). Ressalta-se o atendimento da demanda hídrica de diversas culturas, segundo Correia Filho et al. (2010). Figura 1: Visão da estação meteorológica do Campus Nilo Peçanha/Pinheiral do ção, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro. RESULTADOS E DISCUSSÃO O Quadro 1 apresentado a seguir, mostra o balanço hídrico para Pinheiral-RJ pelo método de Thorntwaite & Mather (1955) e a Figura 2 mostra sua representação gráfica. Para o cálculo da evapotranspiração potencial não ajustada pelo método de Thornthwaite, MÊS T (ºC) Instituto Federal de Educa- segundo Vianello & Alves (2006), encontrou-se o índice térmico anual (I) igual a 105,1322 e a constante “a” igual a 2,3085. Quadro 1 - Balanço Hídrico pelo Método de Thornthwaite & Mather (1955) para o Município de PinheiralRJ entre Abril de 2005 e Julho de 2010 EP (mm) P (mm) P-EP (mm) Neg. Acum. (mm) ARM (mm) ALT (mm) ER (mm) DEF (mm) EXC (mm) JAN 23,4 117 162 110 - 100 - 117 - 110 FEV 24,0 108 162 54 - 100 - 108 - 54 MAR 23,6 109 107 -2 -2 98 -2 109 - - ABR 21,6 82 60 -22 -24 79 -19 79 3 - MAI 18,6 57 51 -6 -30 74 -5 56 1 - JUN 17,5 46 24 -22 -52 59 -15 39 7 - JUL 17,5 49 43 -6 -58 56 -3 46 3 - AGO 18,9 61 34 -27 -85 43 -13 47 14 - SET 19,1 63 52 -11 -96 38 -5 57 6 - OUT 21,8 94 126 32 -36 70 32 94 - - NOV 22,1 98 211 113 - 100 30 98 - 83 DEZ 22,7 111 119 8 - 100 - 111 - 8 Σ - 995 1216 221 - - 0 961 34 255 24 Revista Agroambiental - Agosto/2011 Onde T = temperatura média mensal; EP = evapotranspiração potencial; P = precipitação; Neg. Acum. = negativo acumulado; ARM = armazenamento de água no solo; ALT = alteração do armazenamento; ER = evapotranspiração real; DEF = deficiência hídrica; EXC = excedente hídrico. Figura 2 - Representação do Balanço Hídrico para o Município de Pinheiral-RJ apresentado no Quadro 1, onde P = precipitação, EP = evapotranspiração potencial, ER = evapotranspiração real Camargo & Camargo (1993) mencionam que o balanço hídrico tradicional de Thornthwaite & Mather (1955), como apresentado na Figura 2, é representado por linhas que indicam a precipitação mensal (P) e a evapotranspiração potencial (EP). Essa última corresponde, de acordo com esses autores, à precipitação ideal no período de forma a não sobrar nem faltar água no solo para uso das plantas. suprimiu a coluna de “Negativo Acumulado” do balanço hídrico de Thornthwaite & Mather (1955), sem que se alterasse os valores finais de evapotranspiração real, deficiência e excesso hídrico numa simplificação que visa a facilitação dos cálculos tornando, assim, o entendimento do balanço hídrico mais fácil. Em sua forma gráfica tradicional de apresentação do balanço hídrico (Figura 2), tem-se informações completas do mesmo, como deficiências e excedentes hídricos, retirada e reposição de água no solo. Essas informações, segundo Camargo & Camargo (1993), às vezes dificulta a interpretação dos mesmos e, por isso, os autores desenvolveram uma representação gráfica simplificada dos resultados do balanço hídrico de Thornthwaite & Mather (1955) empregando apenas informações de deficiência e excedentes hídricos. Pelo Quadro 1, a precipitação média mensal observada foi de 101,3 mm e a precipitação média total anual foi de 1216 mm, sendo os meses de janeiro e novembro os mais chuvosos com 227 mm e 211 mm, respectivamente registrados. Os meses de junho e agosto foram os mais secos, com valores médios registrados de 24 mm e 37 mm, respectivamente. As maiores demandas evapotranspirométricas médias mensais foram observadas em janeiro e dezembro e as menores em junho e junho, respectivamente 117 mm, 111 mm, 46 mm e 49 mm, com um valor total médio anual de 995 mm e valor médio mensal de 82,9 mm. Nessa mesma linha de simplificação das informações do balanço hídrico, como apresentado no Quadro 1, Pereira (2005) desenvolveu uma metodologia que A evapotranspiração potencial no verão foi de 336 mm. Observou-se, ainda, a existência de uma deficiência hídrica anual de 34 mm, que se estende por um 25 Balanço Hídrico para Pinheiral, Rio de Janeiro período de seis meses, de abril a setembro, com maior intensidade em agosto, no valor de 14 mm. Já o excesso hídrico anual foi de 255 mm, observado entre os meses de novembro e fevereiro, com pico em janeiro de 110 mm. Outros valores de evapotranspiração, precipitação, excessos e deficiências hídricas podem ser vistos no Quadro 1 e na Figura 2. A estação do Instituto Nacional de Meteorologia mais próxima de Pinheiral é a de Piraí-RJ, como apresentado por INMET (2010), distante aproximadamente 16 km da estação empregada neste trabalho. Observase pelo balanço hídrico climatológico desta estação, referente ao período de 1961 a 1990, que o excedente hídrico ocorre ao longo de seis meses entre novembro e abril, com valores máximos em dezembro e janeiro, contra apenas os quatro meses observados em Pinheiral. Já o déficit de água no solo ocorre ao longo de quatro meses, entre junho e setembro, com valores mais pronunciados em agosto, contra os seis meses observados em Pinheiral. Na estação do INMET em Piraí, geralmente, observa-se, em termos anuais, um excedente muitas vezes superior ao déficit, o que foi também observado em Pinheiral. Apesar de os balanços hídricos de Pinheiral e Piraí terem um mesmo comportamento geral com relação aos períodos de ocorrência dos excessos e deficiências hídricas ao longo do ano, o clima de Pinheiral apresenta-se mais seco que o de Piraí. Mota (1977) apresenta valores médios mensais de deficiência e excesso de água no solo obtidos pelo balanço hídrico climatológico realizado para o período de 1931 a 1960, bem como de precipitações mensais, referentes a 28 cidades pertencentes as cinco regiões geográficas brasileiras. Estas 28 cidades estão assim distribuídas: oito na região Norte, cinco na região Nordeste, sete na região Sudeste, três na região CentroOeste e cinco na região Sul. A precipitação anual média das 28 cidades é de 1742 mm, com máximo de 2921 mm em Uaupés-AM e mínimo de 477 mm em MacauRN. A deficiência de água no solo média é de 227 mm com maior valor em Macau-RN, menor valor não nulo de 25 mm em Porto Alegre-RS e 10 valores nulos, sendo quatro na região Sul, dois nas regiões Norte e Sudeste, e um nas regiões Centro-Oeste e Nordeste. Outro aspcto significativo é que o excesso hídrico médio é de 682 mm, com maior valor de 1989 mm em Paracatu-MG, menor valor não nulo de 192 mm em Cuiabá-MT e quatro valores nulos, sendo três na região nordeste e um na região centro-oeste. Comparando estas cidades com Pinheiral, tem-se que 17 delas possuem deficiência hídrica superior a de Pinheiral e 21 apresentaram um excesso hídrico superior a ela, embora 22 dessas cidades apresentem precipitação média anual superior à Pinheiral. Esse contexto indica que, no Brasil tomando-se como base apenas os valores apresentados por Mota (1977), Pinheiral é uma cidade com baixo volume de 26 chuvas, todavia com boa distribuição delas e capaz de equilibrar, satisfatoriamente, o gasto de água pelas culturas perenes ao longo do ano. Comparando-se as características climáticas de Pinheiral, conforme apresentado pelo balanço hídrico no Quadro 1, com as de Paris, na França, apresentadas por Galvani (2008), observa-se que: a) a precipitação total anual em Pinheiral é 87% maior, respectivamente 1216mm e 650mm para Pinheiral e Paris; b) a evapotranspiração real total anual em Pinheiral é 69% maior, respectivamente 961mm e 567mm; c) o excesso hídrico total anual em Pinheiral é 211% maior, respectivamente 255mm e 82mm, sendo que em ambas cidades ele ocorre com maior intensidade nos meses de janeiro e fevereiro; d) a deficiência hídrica total anual em Pinheiral é 48% menor, respectivamente 34mm e 66mm, ocorrendo em maior intensidade em ambas as localidades entre os meses de julho e setembro. Apesar da grande diferença absoluta de chuva entre as duas cidades, equivalente a 566 mm, a diferença entre os excessos hídricos, bem como a diferença entre as deficiências hídricas, foram significativamente menor. Isso decorre do fato da diferença das evapotranspirações reais totais anuais ser significativamente maior em Pinheiral, em valores absolutos, equivalente no caso a 394 mm, motivado principalmente pela grande diferença de temperatura média anual, que em Pinheiral é de 20,9ºC e em Paris é de 12,0ºC. Para fins de classificação climática de Pinheiral-RJ pelo sistema de Thornthwaite, de acordo com metodologia apresentada por Vianello & Alves (2006), obteve-se Índice Hídrico, Índice de Aridez e Índice de Umidade, respectivamente de 25,6; 3,4 e 22,2. Esses valores possibilitam a classificação climática do município como B1r B’3 a’, ou seja, clima úmido, com pequena deficiência hídrica (nos meses de abril a setembro), mesotérmico, com evapotranspiração potencial anual de 995 mm e concentração da evapotranspiração potencial no verão igual a 33,8%. A referida classificação pode ser correlacionada à qualidade esperada de bebida de café. Historicamente, Menezes (2008) menciona que a região de Pinheiral-RJ foi o principal centro de produção nacional desta cultura durante várias décadas do século XIX. Extrapolando as características das zonas agroecológicas analisadas por Rolim et al. (2007) no Estado de São Paulo para Pinheiral-RJ, com base na mesma classificação climática de Thornthwaite, no caso B1, pode-se esperar que o café produzido em Pinheiral-RJ proporcione uma bebida do tipo “Riada”. CONCLUSÃO Uma vez que a precipitação anual registrada foi superior à evapotranspiração potencial anual, respecti- Revista Agroambiental - Agosto/2011 vamente 1.216 mm e 995 mm, o volume de chuvas que ocorreram seriam suficientes para atender a toda demanda hídrica das culturas que utilizam uma CAD equivalente a 100 mm, se elas ocorressem de forma mais uniforme ao longo do ano. FIETZ, Carlos R.; RANGEL, Marco A. S. Época de semeadura da soja para a região de Dourados - MS, com base na de ciência hídrica e no fotoperíodo. Engenharia Agrícola, Jaboticabal, v. 28, n. 4, dez. 2008. O município de Pinheiral-RJ apresenta seis meses de deficiência hídrica no solo e quatro de excesso hídrico, de forma que o plantio das culturas anuais deveria ser realizado até outubro e a colheita deveria ser feita, preferencialmente, de abril a setembro. GALVANI, Emerson. Estudo comparativo dos elementos do Balanço Hídrico Climatológico para duas cidades do Estado de São Paulo e para Paris. Confins, n.4, 2008. Disponível em: <http://confins.revues.org/4733>. Acesso em: 26 dez. 2010. Em síntese, para o planejamento das atividades agrícolas em Pinheiral-RJ, espera-se que a agricultura de sequeiro tenha seu melhor desempenho nos meses de novembro, dezembro, janeiro e fevereiro, que são os mais úmidos; ao passo que nos meses de julho, agosto e setembro, o cultivo de culturas anuais necessita de irrigação suplementar devido aos menores níveis de armazenamento de água no solo. INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA (INMET). Balanço hídrico climático. Disponível em: <http://www. inmet.gov.br/html/agro.php?lnk=Hídrico%20Climático>. Acesso em: 29 dez 2010. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CAMARGO, Marcelo Bento Paes de; CAMARGO, Ângelo Paes de. Representação grá ca informatizada do extrato do balanço hídrico de Thornthwaite e Mather. Bragantia, Campinas, v. 52, n. 2, 1993. CARVALHO, M. A. de et al. Sistema de suporte à decisão para alocação de água em projetos de irrigação. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, Campina Grande, v. 13, n. 1, fev. 2009. CORREIA FILHO, W. L. F. et al. Estimativa do Balanço Hídrico Climatológico para o Estado do Rio Grande do Norte. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE METEOROLOGIA, 16., 2010, Belém. Anais... Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Meteorologia, 2010. DANTAS, A. A. A.; CARVALHO, L. G. de; FERREIRA, E. Classi cação e tendências climáticas em Lavras, MG. Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v. 31, n. 6, dez. 2007. DOURADO-NETO, D. et al. 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Percebe-se que os consumidores estão mais preocupados com a questão relacionada à saúde e meio ambiente. Com relação a isso o mercado está carente de produtos voltados para a sustentabilidade. Em face da preocupação dos consumidores com o bem-estar, a Coopfam colocará no mercado um novo produto sustentável: o café orgânico DaTerra. Em razão disto foi realizada uma pesquisa para verificar os fatores a serem considerados para o lançamento do novo produto. O principal objetivo desse estudo foi analisar os fatores a serem considerados para o lançamento da marca de café no mercado. A pesquisa descritiva foi realizada nos principais supermercados de Machado e Poço Fundo/ MG, com a ajuda de um questionário. Os resultados demonstraram que campanhas institucionais de esclarecimento devem ser formuladas, devido à pouca informação que os consumidores possuem sobre os cafés orgânicos e as estratégias para o lançamento do produto deverão ser voltadas para os consumidores que desconhecem um produto orgânico. Palavras-chave: Comunicação, Marcas, Marketing, Café Orgânico. Factors to be Considered for the Launch of a New Brand of Organic Coffee ABSTRACT The demand for organic products increases worldwide and creates market opportunities in various regions of the world, especially for small and medium producers, including communities of family farmers and various other components of the production chain, which may help the development of rural areas close to large urban centers and export corridors. It is observed that consumers are more concerned with issues related to health and environment, and in this regard the market lacks sustainable products. In face of the consumers’ concern about welfare, Coopfam will launch onto the market a new sustainable product: DaTerra organic coffee. A research was then carried out in the supermarkets of Machado and Poço Fundo, MG, by means of a questionnaire, to verify the factors to be considered for launching a new product, as is the main purpose of this study: to launch a new brand of coffee. The results showed that institutional clarification campaigns should be formulated, due to the lack of information of consumers with regard to organic coffee, and strategies for launching this product will aim at consumers who are unaware of organic products. Keywords: Communication, Brand, Marketing, Organic Coffee. 29 Fatores a Serem Considerados para o Lançamento de Nova Marca de Café Orgânico. INTRODUÇÃO É crescente a preocupação da sociedade com a saúde, a qualidade de vida e do meio ambiente, levando os consumidores a valorizarem a adoção de métodos de produção agrícolas que garantam a qualidade dos produtos e que sejam menos agressivos ao meio ambiente e socialmente justos com os trabalhadores rurais. É neste contexto que a agricultura orgânica surge como alternativa para produção agrícola mais sustentável, ambientalmente equilibrada e socialmente justa (SAES et al, 2002). A demanda por produtos orgânicos aumenta no mundo todo e gera oportunidades de mercado em diversas regiões do planeta. Cria oportunidades, principalmente para pequenos e médios produtores, incluindo comunidades de agricultores familiares e vários outros componentes da cadeia produtiva, o que pode auxiliar o desenvolvimento de áreas rurais próximas aos grandes centros urbanos e a corredores de exportação (NEVES et al., 2004). A busca por atributos diferenciados em produtos agroindustriais está mostrando um crescimento constante na última década, fruto de mudanças nas preferências dos consumidores. Há consumidores dispostos a pagar mais por produtos que possuem alguns atributos desejados. A possibilidade de diferenciação e segmentação de produtos é um entre os fatores mais relevantes que nos últimos anos estão influenciando a competitividade dos produtos agroindustriais. Em conseqüência disso, alguns atributos de qualidade, passíveis de certificação, estão sendo incorporados, como instrumento de concorrência do produto final. Além disso, a crescente demanda, particularmente em países desenvolvidos, por produtos saudáveis e socialmente corretos, possibilitam o surgimento de produtos diferenciados, com novos atributos. O principal objetivo desse estudo foi avaliar os fatores considerados para o lançamento da nova marca de café orgânico no mercado e o objetivo específico, caracterizar os fatores para o lançamento da nova marca de café. REFERENCIAL TEÓRICO A diferenciação de produtos pode ser entendida como uma busca de liderança por qualidade, aqui definida como a presença de determinados atributos desejáveis pelos consumidores (PEREIRA et al, 2004). As diferenças entre os produtos podem ser reais ou imaginadas, tangíveis ou intangíveis. No caso de diferenciação de commodities pode haver de fato uma pequena diferença real no produto. Mas as bases para a diferenciação também podem estar relacionadas a uma imagem a ele associada, ao seu lugar de origem, ou ainda ao uso exclusivo de um nome (KOTLER, 2000). Atualmente busca-se adequar mais o marke- 30 ting no contexto do agronegócio. Apesar de utilizarem os mesmos conceitos, consideram-se algumas particularidades das firmas agroalimentares como a natureza dos produtos, características de demanda, comportamento do consumidor, dispersão do setor agropecuário, concentração do setor de distribuição e importância dos sistemas cooperativistas. A tendência apresentada é uma abordagem sistêmica que propõe um trabalho com as cadeias agroindustriais de trás para frente, identificando o consumidor final, suas características e padrões de referencias, pois ele é o elemento dinamizador das cadeias agroindustriais modernas. Na busca de satisfazer o mercado-alvo dentro de um determinado prazo, a empresa planeja, implementa e controla um conjunto de variáveis mercadológicas (SILVA; BATALHA, 1997). As exigências dos consumidores de café vêm aumentando ao longo dos anos e o Brasil, maior produtor mundial, mostrou-se extremamente acomodado no que diz respeito ao tratamento mercadológico desse produto. A maioria dos produtores, exportadores e segmentos políticos não souberam realizar campanhas de marketing eficazes para valorizar a imagem do produto brasileiro. O problema é mais complexo do que parece, não sendo o único defeito, a ausência de marketing (PEREIR et al, 2004). Café Orgânico Apesar da pequena porcentagem que representa em relação à cafeicultura brasileira, o café orgânico é uma atividade com enorme potencial de promover a preservação ambiental e valorização social e econômica de uma região e representa uma ótima oportunidade para fortalecer as organizações de pequenos produtores e reduzir as desigualdades sociais (SAES et al., 2002). O café orgânico é cultivado sob as regras da agricultura orgânica, que tem como objetivo o fortalecimento dos processos biológicos, por meio de diversificação de culturas, fertilização com adubos orgânicos e controle biológico de pragas. Esse conceito apresenta fortes características de preservação ambiental, mas também considera aspectos econômicos e sociais da produção agrícola, porém com ênfase menor que nos produtos fair trade (comércio justo) (SAES et al., 2002). Também conhecido como café ecológico, é geralmente cultivado em sistema de produção sombreado. Estudo realizado por Harkaly et al. (1997) com produtores orgânicos de café de Minas Gerais mostra sistemas de produção de café consorciados com milho e feijão, com uso intensivo de mão de obra. Os autores demonstram a viabilidade técnica e econômica dos cultivos orgânicos em relação aos convencionais. A colocação do produto num mercado diferenciado, no entanto, é apontada como o principal componente de sua viabilidade econômica. O café é um dos produtos Revista Agroambiental - Agosto/2011 orgânicos mais importantes exportados pelos países em desenvolvimento. Em 1997 foi autorizada pela União Européia a importação de 69 toneladas de café verde orgânico do México e 35 toneladas da Costa Rica. O café orgânico pode ser encontrado em lojas especializadas e supermercados da Alemanha, Dinamarca, França, Holanda, Inglaterra, Suécia e Suíça (UNCTAD, 1999). O cultivo de café orgânico segue regras próprias do sistema orgânico de produção, cujo mercado interno e externo vem se expandindo muito rapidamente. Abrem-se assim novas perspectivas na economia rural brasileira, principalmente para os pequenos produtores. Para o café ser rotulado como orgânico, tanto sua produção como seu processamento precisam ser monitorados por certificadores credenciados. Nos países exportadores de produtos orgânicos, a certificação pode se feita por organizações locais, por parcerias entre agências locais e internacionais, por organizações internacionais, ou por uma de suas filiais. Em alguns casos, os serviços de certificação podem ser sub-contratados ou ainda podem ser realizados por grupos de pequenos produtores, desde que sejam desenvolvidos mecanismos de inspeção e de controle interno conforme os padrões da agricultura orgânica (UNCTAD, 1999). O Mercado de Café Orgânico O mercado de produtos orgânicos é predominantemente constituído por consumidores conscientes das questões ligadas à saúde e questões de caráter ambiental e social. A agricultura orgânica ganha cada vez mais espaço na economia mundial. O segmento de produtos orgânicos tem crescido cerca de 20% ao ano, tanto em países desenvolvidos como em desenvolvimento é o segmento que mais cresce dentro do setor de alimentos. (YUSSEFI & WILLER, 2003). O consumo de cafés especiais, como o café orgânico, gourmet, sombreados e socialmente justos, também está aumentando. Os preços destes cafés no mercado nacional e internacional são mais atraentes para os produtores, como consequência de suas características de produção, qualidade e menor oferta (RICCI et al., 2002). O mercado internacional de café orgânico é dominado pelo México, que comercializa mais de 30 mil toneladas ao ano e é o maior produtor, com uma área estimada em 70.838 ha (10,4% de toda a área cultivada com café naquele país) (YUSSEFI & WILLER, 2003). Peru (onde 30% da produção de café é orgânica), Bolívia, Colômbia, Nicarágua, Guatemala e Costa Rica são também importantes produtores de café (RICCI et al., 2002). De acordo com Caixeta e Pedini (2002), a cafeicultura orgânica no Brasil tem mantido taxas de cres- cimento próximas a 100% ao ano e ocupa uma área de 13.000 ha e mais de 419 produtores. Entretanto, é preciso investir esforços na produção de café orgânico, aliando qualidade e sustentabilidade socioambiental, garantindo assim competitividade nas exportações. Agricultura orgânica é o sistema de manejo sustentável da unidade de produção com enfoque sistêmico que privilegia a preservação ambiental, a agrobiodiversidade, os ciclos biogeoquímicos e a qualidade de vida humana (RICCI et al., 2002). Este tipo de agricultura aplica os conhecimentos da ecologia no manejo da unidade de produção, baseada numa visão holística da unidade de produção. Isto significa que o todo é mais do que os diferentes elementos que o compõem. A unidade de produção é tratada como um organismo integrado com a flora e a fauna. Portanto, é muito mais do que uma troca de insumos químicos por insumos orgânicos/biológicos/ ecológicos (RICCI et al., 2002). O café orgânico é um produto diferenciado, de maior valor agregado, cujo mercado tem crescido e se fortalecido ao longo dos anos (CAIXETA, 2000). Marketing Segundo Kotler & Keller, 2006 as marcas identificam a origem ou o fabricante de um produto e permitem que os consumidores –sejam indivíduos ou organizações – atribuam a responsabilidade pelo produto a determinado fabricante ou distribuidor. Os consumidores podem avaliar um produto idêntico de forma diferente, dependendo de como sua marca é estabelecida. Eles conhecem as marcas por meio de experiências anteriores com o produto e do programa de marketing do produto. A função da comunicação de marketing é o meio pelo qual as empresas buscam informar, persuadir, e lembrar os consumidores – direta ou indiretamente – sobre os produtos e marcas que comercializam. Num certo sentido, a comunicação de marketing representa a ‘voz’ da marca e é o meio pelo qual ela estabelece um diálogo e constrói relacionamentos com os consumidores (KOTLER; KELLER, 2006). A cor não é o único fator que auxilia a embalagem a promover venda, mas é uma parte importante de todo o processo. A cor exerce uma influência muito grande na vida de cada um e disso ninguém duvida. Não se compra apenas pela cor, ela não é um produto. Em geral, nos relacionamos com a cor de maneira subjetiva, embora esteja sempre ligada a algo físico ou imaginada em pensamentos (DANGER, 1973). Dentro de uma visão integrada de planejamento do marketing no agronegócio, são muitos os fatores que estabelecem uma perspectiva de crescimento de consumo de um certo produto. Dentre as ações de planejamento de marketing pode-se destacar a segmentação de mercado (MEGIDO; XAVIER, 2003). 31 Fatores a Serem Considerados para o Lançamento de Nova Marca de Café Orgânico. Para Karsaklian (2000), segmentação de mercado é dividir um mercado em grupos de compradores potenciais, que tenham semelhantes necessidades e desejos, percepção de valores ou comportamento de compra. O mercado de café, tanto no Brasil quanto no resto do mundo, parece estar se segmentando por si próprio uma vez que são poucas as iniciativas concretas neste sentido. O consumidor, cada vez mais exigente, passa a ditar as regras daquilo que ele quer comprar. isoladamente e sim em cooperação com entidades públicas e privadas do sistema agroindustrial do café. Para que esta estratégia de diferenciação seja eficaz, é importante que o produtor ou a empresa considerem os desejos e as necessidades dos consumidores. Os atributos diferenciadores só terão real valor se os consumidores perceberem e aprovarem essas mudanças (PEREIRA et al., 2004). Uma vez que o produtor de café, ou a indústria de torrefação, tenha definido seu mercado alvo, é preciso posicionar o produto nesse mercado. Isto significa que um produto deve conseguir ocupar lugar claro, distinto e desejável, em relação ao produto dos concorrentes na mente dos consumidores. Para Koltler (2000), “posicionamento é o ato de desenvolver a oferta e a imagem da empresa, de maneira que ocupe uma posição competitiva distinta e significativa na mente dos consumidores”. Para atingir os objetivos propostos a pesquisa foi realizada por meio de dados secundários e primários. O estudo proposto possui caráter descritivo e qualitativo. Foi realizada uma pesquisa exploratória, na qual se buscou verificar os fatores a serem considerados para o lançamento da nova marca de café no mercado. A metodologia adotada partiu dos indícios dados pelos processos levantados na pesquisa bibliográfica, adaptada para se encaixar nas restrições a que este trabalho esteve exposto. É importante identificar as diferenças realmente importantes para o consumidor, levando-se em conta suas percepções, impressões e seus sentimentos, para que resultem em benefícios percebidos, difíceis de ser copiados pelos concorrentes, compatíveis com o poder de compra dos consumidores e que agreguem valor ao produto, sendo lucrativo à empresa ou ao produtor. É possível posicionar um produto com base em um ou mais fatores de diferenciação, mas o posicionamento com base em muitos fatores pode gerar confusão ou descrença para o consumidor. Zylbersztajn e Farina (2001) conceituaram as formas de diferenciação para o café: “O conceito de café especiais está intimamente ligado ao prazer proporcionado pela bebida. Destacam-se por algum atributo especifico atribuído ao produto, ao processo de produção ou ao serviço a ele associado. Diferenciam-se por características como qualidade superior da bebida, aspecto dos grãos, forma de colheita, tipo de preparo, historia, origem dos plantios, variedades raras e quantidades limitadas, entre outras. Podem também incluir parâmetros de diferenciação que se relacionam à sustentabilidade econômica, ambiental e social da produção, de modo a promover maior equidade entre os elos da cadeia produtiva. Mudanças no processo industrial também levam à diferenciação, com adição de substancias, como aromatizados, ou com sua subtração, como os descafeinados. A rastreabilidade e a incorporação de serviços também são fatores de diferenciação e, portanto, de agregação de valor”. Cabe a cada produtor ou torrefador, no caso de se embrenharem pelo mundo dos cafés diferenciados, descobrir suas aptidões e encaixar em um destes segmentos. A diferenciação revela um mercado em plena ascendência e segmentá-lo não é tarefa para ser desenvolvida 32 MATERIAL E MÉTODOS Coleta de dados A coleta de dados aconteceu em duas etapas consecutivas. A primeira foi preparatória e a segunda etapa foi a execução (coleta de dados). A fase preparatória consistiu na “entrada em cena” do ambiente organizacional. Esta introdução se deu por intermédio de uma comunicação formal, autorizando a pesquisa de documentos e acesso às informações necessárias. Por um período de duas semanas, acompanhou-se o processo de integração na empresa, como se fosse um novo funcionário. Durante esse período, a principal fonte de coleta de dados foi a observação direta. Em conjunto com a observação direta, foi possível conversar o gerente da Cooperativa para verificar quais seriam os procedimentos adotados para o lançamento do novo produto. Para a segunda fase, a coleta de dados, utilizaram-se entrevistas através de questionários, com os consumidores nos locais de compra para definir quais fatores influenciam no momento da compra do produto, com questionário semiestruturado. Em seguida, o tema foi aprofundado, sendo questionada a opinião do entrevistado sobre o assunto. Abordados todos os aspectos da entrevista, uma pergunta do tipo geral foi realizada. O levantamento de dados foi realizado com a população das cidades de Machado e Poço Fundo/MG, visto que a cidade de Machado possui uma população estimada de 38.684 habitantes e Poço Fundo possui 15.961 habitantes (IBGE, 2010). Para coletas de dados através da aplicação do questionário foram realizadas abordagens em 4 supermercados de Machado e 2 supermercados em Poço Fundo (sendo que estes supermercados são os que possuem maior movimento), entre os dias 27 de setembro e 02 de outubro de 2010. A amostra foi selecionada Revista Agroambiental - Agosto/2011 por conveniência nos supermercados. Os questionários foram aplicados a 250 pessoas, sendo que 175 na cidade de Machado e as outras 75 na cidade de Poço Fundo. A organização dos dados foi feita computandose as frequências percentuais sendo representados através dos gráficos de colunas e setores. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na avaliação quanto ao gênero dos participantes da pesquisa, mostra-se bem dividida: 45,2% do sexo masculino e 54,8% do sexo feminino, invalidando os velhos paradigmas de que apenas, ou na grande maioria das vezes, as compras são realizadas pelo sexo feminino. Um resultado importante foi o constatado em relação à faixa etária, nota-se uma maioria de pessoas acima de 46 anos, confirmando Kotler (2006), que relata que os jovens não possuem tradição e hábito de fazer compras destinadas à alimentação e higiene do lar, deixando essa tarefa a cargo dos adultos. Quando questionados sobre o consumo de café, 70% consomem a bebida rotineiramente e os outros 30% não consomem, mas já experimentaram alguma vez. Ao avaliar sobre a quantidade de xícaras de café consumidas diariamente, 38% consomem até 3 xícaras ao dia, 30% dos entrevistados consomem de 3 a 5 xícaras, e 32% dos entrevistados consomem mais de 5 xícaras por dia e nenhuma pessoa declarou que não toma café. Em relação aos horários que melhor caracterizam o consumo de café 37,2% o fazem na hora do lanche e refeições, 48% disseram que tomam café sempre que tem vontade, 10% bebem café em reuniões de trabalho e/ou encontros sociais e 5% tomam café sempre que fumam. Analisado o hábito de consumo de café, percebe-se que os consumidores não deixam de tomar o café diariamente e sempre que possível procuram tomar a bebida. Quanto aos critérios mais utilizados na escolha de um café na hora da compra (GRÁF. 1), o sabor (25%) e a marca (23%) são os mais importantes, seguidos do preço (17%), qualidade (17%), aroma (8%), selo ABIC (8%), e embalagem (2%). Dentre os critérios para a decisão de compra dos entrevistados. Isto mostra que o consumidor escolhe o café pelo sabor relacionado à marca na hora da compra, mostrando que não é fácil adentrar neste mercado rapidamente. É preciso fazer um trabalho de marketing para o café ocupar mais espaço nos meios de comunicação, focando a marca e a embalagem para atrair a atenção dos consumidores. GRÁFICO 1 – Critérios de escolha de compra do café. Questionados se conhecem o selo de pureza ABIC, 79,2% dos consumidores responderam que conhecem e os outros 20,8% não conhecem o selo ABIC. Uma maioria significante conhece o selo, sendo importante porque mostra que o consumidor se preocupa com a qualidade da bebida e a imagem do café. A pesquisa revelou que 62% levam em consideração o selo ABIC na hora da compra e 38% não se preocupam com o selo ABIC, demonstrando que o selo significa confiabilidade na hora da escolha de compra do café. Os consumidores de café entrevistados mostraram que são tradicionais quando vão comprar o café no supermercado; 85% preferem comprar o café torrado e moído, 8% buscam o café instantâneo, 3% procuram comprar cafés especiais, 3%, cappuccino e 1% prefere o café em grãos para a máquina de espresso. Dentre os produtos com o mesmo preço, o fator 33 Fatores a Serem Considerados para o Lançamento de Nova Marca de Café Orgânico. que leva à decisão de escolha do produto ficou com a marca (80%), seguido da qualidade, 10%, embalagem, 9%, e tipo de embalagem, 1%. Este resultado reflete a importância da marca na venda do produto, a lealdade dos consumidores à marcas tradicionais e as marcas com um forte apelo de propaganda. Como a maioria dos entrevistados compra o café que é consumido em casa, procurou-se saber sobre o grau de importância das características do café. A Tabela 1 mostra que o critério mais importante na escolha do café foi o sabor, com 86% das opiniões, seguido pelo aroma (72%) e a cor da bebida (41%), fator importante no critério de escolha. TABELA 1 - Critério de escolha do café segundo os entrevistados Fator Sabor Aroma Cor da bebida Grau de Importância Muito importante Importante 13 Pouco importante Muito importante 1 72 Importante 25 Pouco importante Muito importante 3 33 Importante 41 Pouco importante 26 Ao perguntar se o consumidor estaria disposto a pagar mais por um café de qualidade, a grande maioria (90%) afirmou que sim, confirmando que os consumidores estão exigentes com relação à qualidade de vida, consumindo produtos que tenham custo/beneficio e lhe tragam prazer. Apesar de a região pesquisada ser produtora de café orgânico, a maioria dos entrevistados (60%) não conhece café orgânico e não sabe como é a produção do mesmo. Isso indica que é necessário realizar campanhas de marketing para ocupar um espaço na mente do consumidor, desse tipo de café, trabalhando o mercado e fortalecer a marca. De acordo com a pesquisa 80% disseram que nunca compraram ou viram café orgânico em algum supermercado, mostrando que a campanha de marketing deve ser feita não somente com relação aos consumidores, mas também para os varejistas que ainda não tem conhecimento desse tipo de café. Entende-se como campanha de marketing direcionada para os varejistas, não as campanhas institucionais, mas campanhas individuais para cada varejista da própria torrefadora ou produtora como as ações de merchandising dentro dos PDVs (ponto de venda), para conscientizar e apresentar o produto café orgânico aos varejistas. Como foi comprovado na pesquisa mostrada sobre cafés especiais do Instituto Pensa 2001, mostrouse que os supermercadistas sugerem que as empresas invistam em divulgação dos cafés especiais. Ao serem questionados sobre a produção dos cafés orgânicos (sustentáveis) a grande maioria (72%) dos consumidores demonstrou mais uma vez serem 34 ImportânciaPercentual (%) 86 leigos no assunto e desconhecem que a produção sustentável preserva o meio ambiente e garante melhores condições de vida aos produtores. Quando questionados a respeito da importância do visual do produto, 45,2 % responderam que o visual do produto é muito importante, enquanto outros 37,8% responderam que o visual do produto é importante. Sendo assim, 82% dos consumidores consideram o visual como um pré-requisito básico para a compra de um produto. Essa importância do visual do produto para o consumidor cogita que as pessoas comparam produtos, e, em muitos casos, deixam de levar um produto com uma aparência que não o agrada. Dentre os 17% que responderam que o visual era pouco ou não importante, o principal argumento é que eles estavam mais preocupados com o preço. Em se tratando da influencia da cor, embalagem ou local do produto, 48% dos consumidores responderam que sempre se sentem influenciados pela cor do produto, embalagem ou local, 34,4% dos consumidores disseram que nunca sentem influenciados pela cor do produto, da embalagem ou do local são, e 17,6% dos consumidores eventualmente se sentem influenciados. Sendo assim, é perceptível que a maioria dos consumidores já estão habituados com um produto ou não presta atenção nessas variáveis. A respeito de optar por produtos de acordo com as cores dos mesmos, 74,4% dos consumidores raramente procuram comprar produtos com suas cores preferidas, 16% responderam que sempre compram produtos com suas cores preferidas, e 9,6% responderam Revista Agroambiental - Agosto/2011 que eventualmente o fazem. Constatou-se que os consumidores não consideram a cor como um fator determinante na escolha de um produto, mas em alguns produtos e em determinadas situações a cor se torna fator importante na escolha. Para verificar a utilização de cores na embalagem perguntou-se “As cores utilizadas na embalagem chamam a sua atenção?”, e 70% dos entrevistados responderam que as cores utilizadas nas embalagens sempre chamam a atenção, enquanto outros 20% responderam que eventualmente as cores chamam a sua atenção, e outros 10% disseram que raramente as cores da embalagem chamam atenção. Os consumidores, em sua maioria se sentem atraídos pelas cores da embalagem, o que sugere a cor como um fator importante no reconhecimento de um produto. Sobre o tipo de embalagem para a compra do café, 74% disseram que preferem a do tipo almofada, e os outros 26% preferem o café embalado a vácuo. Estes resultados estão conforme a pesquisa da InterScience, que mostra a diminuição para a embalagem do tipo almofada e aumento para a vácuo. que possuem cores mais vibrantes; logo recomenda-se que a embalagem do novo produto seja com cores que lembrem o produto e possua todas as informações necessárias. Ações voltadas para os consumidores de café serão realizadas antes, durante e depois do lançamento do produto, uma vez que a pesquisa mostrou que a maioria deles não conhece café orgânico, sendo importante a realização de estratégias de lançamento para atrair a atenção do consumidor e fazer com que a marca fique conhecida entre os consumidores e se torne dentro de pouco tempo uma das marcas mais lembradas na região. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARBETA, P.A. Estatística aplicada às Ciências Sociais. 4 ed. Florianópolis: UFSC, 2001. 338p CAIXETA, I. F. A produção de café orgânico: alternativa para o desenvolvimento sustentado - o exemplo do sul de Minas. In: ZAMBOLIM, L. (Ed.). Café: produtividade, qualidade e sustentabilidade. Viçosa: UFV, Departamento de Fitopatologia, 2000. p. 323-330. Pode-se dizer que a cor é um fator importante na compra de um produto, mas existem outros fatores que também são tão ou mais importantes que o visual. Em geral, a marca é um dos fatores que facilitam o processo de troca e uma parte importante no conjunto dos fatores que interferem na decisão de compra. DANGER, Eric P. A cor na comunicação. Rio de Janeiro: Fórum, 1973. p.211 CONCLUSÃO KARSAKLIAN, E. Comportamento do Consumidor. São Paulo: Atlas, 2000 Ao longo do estudo foram identificados diversos fatores que poderão auxiliar futuras ações no sentido de fomentar o consumo do produto e melhorar a sua eficiência e competitividade no mercado de cafés orgânicos, como o lançamento de uma nova marca de café. Este estudo foi realizado para avaliar os fatores para o lançamento do café orgânico no mercado, considerando que os consumidores estão ávidos por produtos que tragam benefícios para a saúde. Pode-se concluir que o produto será bem recebido pelos consumidores, atingindo o objetivo geral do estudo. Os atributos que estão relacionados à experiência passada na determinação da compra são sabor e marca. A reputação e a constância de padrões levam à associação entre sabor preferido e fidelidade à marca. Estratégias coletivas visando ao aumento do consumo geral de café deveriam aproveitar a imagem positiva do Selo de Pureza. O selo é mais importante para os cafés médios e inferiores, já que identifica apenas pureza. Os cafés especiais podem abstrair do selo, mas teriam que manter padrões bem definidos e estáveis. Através do estudo realizado, observa-se que os consumidores preferem embalagens mais atrativas e IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. População das Cidades – Censo 2010. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1 Acesso em: 30 de janeiro de 2011. KOTLER, Philip e KELLER, Kevin. “Administração de Marketing” - 12a Edição. São Paulo: Prentice Hall, 2006. KOTLER, Phillip. Administração de marketing: análise, planejamento e controle. 10° ed. São Paulo: Prentice Hall, 2000. MEGIDO, J. L. T. & XAVIER, C. Marketing e Agribusiness. São Paulo: Atlas, 2003. NEVES, M. C. P.; RIBEIRO, R. de L. D.; PEIXOTO, R. dos G. T. Riscos associados ao uso de fertilizantes. In: ELEMENTOS de apoio para as boas práticas agrícolas e o sistema APPCC. Brasília: Campo PAS, 2004. p. 8797. PEREIRA, Sérgio Parreiras; BARTHOLO, Gabriel Ferreira; GUIMARÃES, Paulo Tácito Gontijo. Cafés especiais: iniciativas brasileiras e tendências de consumo. Belo Horizonte: EPAMIG, 2004. 80 p. (EPAMIG. Documentos, 41). SAES, Maria Sylvia et al.. Pequenos produtores e o segmento de cafés especiais no brasil: uma abordagem preliminar, 2002. 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TholeyTheley: International Federation of of Organic Agriculture Movement (IFOAM), 2003.128 p. 36 Revista Agroambiental - Agosto/2011 Avaliação da Produtividade e Adaptabilidade de Acessos de Amendoim Forrageiro para Potencial Formação/Consorciação de Pastagens no Sul de Minas Gerais Michender Werison Motta Pereira - Tecnólogo em Gestão Ambiental pelo IFSULDEMINAS Campus Inconfidentes, Praça Tiradentes, 416, centro, Inconfidentes/MG. CEP: 37576-000 - [email protected] Kátia Regina de Carvalho Balieiro - Prof.ª DSc. no IFSULDEMINAS Campus Inconfidentes, Praça Tiradentes, 416, centro, Inconfidentes/MG. CEP: 37576-000 - [email protected] Lílian Vilela de Andrade Pinto - Prof.ª DSc. no IFSULDEMINAS Campus Inconfidentes, Praça Tiradentes, 416, centro, Inconfidentes/MG. CEP: 37576-000 - [email protected] RESUMO O objetivo deste trabalho foi avaliar a produção e adaptabilidade de cinco acessos de A. pintoi (BRA 031496, BRA 015121, BRA 013251, BRA 030333 e BRA 022683) e um acesso de A. repens (BRA 031801), visando fomentar estudos para o estabelecimento de cultivares mais produtivas em pastagens da região Sul de Minas Gerais. Os estudos se deram em dois momentos, sendo, o primeiro com a realização do experimento em bandejas para análise da taxa de pegamento dos acessos em casa de vegetação e, o segundo, com a experimentação realizada em vasos, onde cada acesso foi analisado quanto a sobrevivência das mudas, número e comprimento médio de estolões, produção de matéria seca da parte aérea e radicular e taxa de sobrevivência. O acesso de A. pintoi BRA 031496 apresentou os maiores índices de taxa de pegamento em bandejas (70%) e produção de matéria seca da parte aérea (21,1g) e radicular (7,0g), além de boa perfilhação, acompanhada de uma considerável taxa de crescimento dos estolões. Já o acesso de A. repens BRA 031801 apresentou os menores resultados de taxa de pegamento em bandeja (33,33%), comprimento médio dos estolões aos 45 e 90 dias após o plantio (15,6cm e 16,7cm respectivamente) e produção de matéria seca da parte aérea (10,7g) e radicular (4,7g). Após o enraizamento das mudas em bandejas de isopor todos os acessos promoveram 100% de sobrevivência em vasos. Palavras-Chave: Amendoim Forrageiro, produtividade, estabelecimento e pastagens. Productivity and Adaptability Evaluation of Arachis (spp) for Potential Pastures Uses in South of Minas Gerais State - Brazil ABSTRACT The objective of this study was to evaluate the production and adaptability of five samples of A. pintoi (BRA 031496, BRA 015121, BRA 013251, BRA 030333 and BRA 022683) and one sample of A. repens (BRA 031801) to support studies for the establishment of pastures in south of Minas Gerais state, Brazil. The studies took place in two stages, the first to perform the experiment in trays for analysis of the rate of fixation of the samples in the greenhouse and the second trial in pots, when the samples was assessed for seedling survival , average number and length of stolons, weight of dry matter of leaves and root and survival rate. The sample A. pintoi BRA 031496 showed the highest rate of fixation indices in trays (70%) and dry matter production of leaves (21.1 g) and root (7.0 g), and good affiliation, accompanied by a considerable growth rate stolons. A. repens BRA 031801 had the lowest rate of fixation results in a tray (33.33%), the average length of stolons at 45 and 90 days after planting (15.6 cm and 16.7 cm respectively) and production of dry matter of the leaves (10.7 g) and root (4.7 g). After rooting in trays all samples had 100% survival in pots. Key Words: Arachis spp, pasture, productivity, and pasture establishment, forage peanut 37 Avaliação da Produtividade e Adaptabilidade de Acessos de Amendoim Forrageiro para Potencial Formação/Consorciação de Pastagens no Sul de Minas Gerais INTRODUÇÃO As pastagens referem-se a todas as variedades botânicas apreendidas sob formas de pastejo, que fazem o gado viver, crescer, engordar e manter sua saúde e fertilidade (Primavesi, 1986). Segundo Queiroz et al. (2005) em 75% da área ocupada pela agropecuária no Brasil estão inseridas pastagens, o que corresponde a 20% do território nacional. Além disso, o autor destaca a importância das pastagens para a produção animal, onde 88% da carne produzida no pais é oriunda de rebanhos mantidos exclusivamente em pastagens. Segundo Purcino et al. (2005) as pastagens de leguminosas são tidas como bancos de proteína por possuir valor protéico superior ao apresentado pelas gramíneas forrageiras. Lima et al. (2003) descreveram que o teor médio de proteína bruta (PB) em Arachis pintoi é de 13% e 18% respectivamente na seca e nas águas. Primavesi (1986) referencia um teor de PB médio nas gramíneas como sendo 6,10% e 6,81% respectivamente nas estação seca e na estação das águas. Barcellos, et al. (2008) destacam os estilosantes (Stylosanthes spp.), o amendoim forrageiro (Arachis spp) e a leucena (Leucaena spp.) como cultivares ou gêneros botânicos com maior estoque de informações por serem estes os mais cultivados e/ou mais promissores. Inúmeros autores vêm destacando as leguminosas de clima tropical para a formação de pastagens em consórcio com gramíneas. Purcino et al. (2005) descreveram os seguintes valores de incorporação do nitrogênio no solo em kg.ha-1: 60-150 para amendoim forrageiro; 70-200 para calopogônio; 300-400 para crotalária; 30-196 para estilosantes; 80-160 para feijão-deporco; 280 para feijão-guandu; 180 para lab-lab; 250-400 para leucena; 100 para puerária; 181-200 para siratro e 181-200 para soja perene. Neste sentido, o amendoim forrageiro vem se destacando entre as leguminosas indicadas para o uso em pastagens devido a grande quantidade de N fixado, boa produção de matéria seca, alto valor nutritivo, boa persistência, grande capacidade de cobertura do solo e boa adaptação a solos mal drenados (Lima et al., 2003). O Arachis spp (amendoim forrageiro) é uma leguminosa rasteira com inúmeras vantagens botânicas, biológicas e ambientais principalmente quando associada à sua utilização como potencial forrageiro, seja em consórcio com gramíneas, na adubação verde ou empregado em rotação com outras culturas. Baptista et al. (2007) reportaram que o amendoim forrageiro empregado isoladamente ou consorciado, apresentou boa palatabilidade (grande aceitação pelos animais), além de suprir as necessidades diárias, em função dos dados da análise bromatológica efetuada. De acordo com Lima et al. (2003), o amendoim 38 forrageiro pode ser usado tanto na consorciação com gramíneas, como para recuperação de pastagens puras em processos de degradação. Sua densa rede de estolhos tem impacto positivo no controle da erosão (Calegari, 1995). Por ser ainda uma leguminosa perene, age como fixadora de nitrogênio e promove boa cobertura de solo controlando o crescimento de plantas invasoras. É uma espécie de exploração nacional recente, apresentando alta produção de forragem e persistência satisfatória. Além disso, a característica constatada pelo incremento da produção animal em função de bons conteúdos de proteína bruta e digestibilidade, tem tornado o amendoim forrageiro uma das melhores alternativas de suplementação com menor custo. Sobretudo, é uma espécie prolífera que além de tornar-se uma nova opção forrageira em pastejo consorciado, pode ser uma atividade bastante rentável em termos produção de feno e de sementes (Nascimento, 2006). Devido a estas e outras importantes características, o amendoim forrageiro vem despertando o interesse de inúmeros pesquisadores, visando a sua ratificação como recurso forrageiro para pecuária brasileira, os quais estão obtendo resultados promissores em seus trabalhos de pesquisa. Andrade et al. (2004) descreveram a tolerância ao sombreamento; Valentim et al. (2003), estudaram a velocidade de estabelecimento de alguns acessos na Amazônia ocidental; Rossetto e Alves (2008) descreveram respostas positivas a tratamentos pré-germinativos das sementes; Purcino et al. (2005) descreveram sobre os benefícios do uso de leguminosas na alimentação de bovinos. O amendoim forrageiro é uma leguminosa muito utilizada na região Norte do Brasil, onde apresentou excelente adaptabilidade e produtividade. Entretanto nas condições de clima do Sul de Minas Gerais foram realizados poucos estudos, necessitando-se, portando, mais informações sobre esta espécie e seu potencial de multiplicação para recomendá-la para implantação em pastagens Sul mineira. O conhecimento das características produtivas, de adaptação e de estabelecimento do amendoim forrageiro em cada região torna-se indispensável para sua indicação como recurso forrageiro para a pecuária brasileira. Sendo assim, o objetivo geral do presente estudo foi avaliar a produção e adaptabilidade de seis acessos de amendoim forrageiro, para subsidiar pesquisas à campo visando recomendá-lo para implantação nos ambientes pastoris da região Sul de Minas Gerais. Os objetivos específicos foram: i) avaliar a taxa de pegamento de estolões dos seis acessos repicados em bandejas com substrato de vermiculita; ii) determinar as diferenças entre acessos quanto à produção de matéria seca da parte aérea e da parte radicular; iii) determinar as diferenças entre acessos quanto ao número e Revista Agroambiental - Agosto/2011 comprimento médio dos estolões e iv) determinar a taxa de sobrevivência das plantas em vasos. MATERIAIS E MÉTODOS O experimento foi realizado no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais - campus Inconfidentes. O município de Inconfidentes localiza-se no sul do estado de Minas Gerais e apresenta altitude média de 855m e posição geográfica de latitude S 22° 19” 00’e longitude W 46° 19” 40’. O clima da região, segundo a classificação de KOËPPEN é do tipo subtropical de inverno seco e verão quente (Cwa), com duas estações definidas: chuvosa (outubro a março) e seca (abril a setembro), com médias anuais de precipitação e temperatura de 1.800mm e 19ºC, respectivamente. Destaca- se que tais condições de clima e altitude se enquadram dentro dos limites exigidos ao bom desenvolvimento do amendoim forrageiro. Segundo descrito por Montenegro e Pinzón (1997); Rincón et al. (1992) o amendoim forrageiro desenvolve-se bem em clima tropical ou subtropical, que ofereça precipitação anual superior a 1500 mm e secas inferiores a quatro meses. Cresce bem desde o nível do mar até 1.800m de altitude. Foram utilizados seis acessos de plantas matrizes de amendoim forrageiro demonstrados pela tabela 1. Estes acessos foram trazidos da unidade EMBRAPA Agrobiologia localizada no município de Seropédica/RJ em janeiro de 2006. Tabela 1. Número dos acessos e espécies de amendoim forrageiro utilizados no estudo em Inconfidentes, MG. Acessos Espécie BRA 031801 BRA 031496 BRA 015121 BRA 013251 BRA 030333 BRA 022683 Arachis repens Arachis pintoi Arachis pintoi Arachis pintoi Arachis pintoi Arachis pintoi A pesquisa se estabeleceu em duas fases, sendo a primeira denominada experimento em bandeja e o segundo experimento em vasos. Experimento em bandejas O delineamento experimental utilizado nesta etapa foi inteiramente casualizado, com seis tratamentos (acessos de amendoim forrageiro) e três repetições. Para tanto foram repicadas 60 mudas de cada acesso em 3 bandejas de isopor (20 mudas por bandeja) utilizando-se vermiculita como substrato. A figura 1 representa acessos de amendoim forrageiro repicados em bandejas de isopor. Três dias após o plantio as mudas foram inoculadas com Rhizobium (ssp) selecionado para esta leguminosa. No decorrer do experimento a irrigação foi realizada uma vez ao dia. Nessa etapa experimental, o parâmetro mensurado foi a taxa de pegamento das mudas, sendo calculado com base no número de mudas existentes de cada acesso, após 60 dias, em relação ao número de estolões plantados. Figura 1. Acessos de amendoim forrageiro repicados em bandejas de isopor, Inconfidentes/MG (Fonte: Dados Pessoais). 39 Avaliação da Produtividade e Adaptabilidade de Acessos de Amendoim Forrageiro para Potencial Formação/Consorciação de Pastagens no Sul de Minas Gerais Experimento em vasos Foram selecionadas nove mudas por acesso, homogêneas em relação ao tamanho, quantidade e tamanho das folhas, para plantio de três mudas por vaso de cinco litros, conforme visualiza-se na figura 2. O substrato utilizado foi composto de mistura de 40% de húmus, 10% de areia e 50% de terra de barranco. Após o plantio das mudas empregou-se uma cobertura de 2cm de palha de café. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado com seis tratamentos (acessos de amendoim forrageiro) e três repetições, totalizando 18 unidades experimentais alocadas em estufa com cobertura de sombrite 30%. Figura 2. Acessos de amendoim forrageiro plantados em vasos, Inconfidentes/MG (Fonte: Dados pessoais). Foi realizada a irrigação do experimento uma vez ao dia até 30 dias após o plantio e a cada 3 dias posteriormente. Aos 45 dias após o plantio foram mensurados o número e comprimento médio dos estolões de cada unidade experimental (vaso). Análise estatística Aos 90 dias após o plantio foram aferidos os seguintes parâmetros: a) taxa de sobrevivência das mudas (%); b) número de estolões; c) comprimento médio dos estolões (cm); d) produção média de matéria seca da parte aérea (g); e) produção média de matéria seca da porção radicular (g). RESULTADOS E DISCUSSÕES A taxa de sobrevivência das mudas foi determinada por meio do número de plantas existentes em cada vaso no final do experimento, em relação ao número de mudas plantadas. O comprimento médio dos estolões foi determinado medindo-se cada um dos estolões existentes na parcela com auxilio de régua graduada e fita métrica. A determinação da matéria seca da parte aérea foi realizada cortando-se a biomassa aérea ao nível do solo, com auxílio de tesoura de poda. O material vegetativo tanto da parte aérea quanto da radicular foram desidratados em estufa de ventilação forçada à 65ºC, por 72 horas e pesados em balança de precisão. Os dados relativos foram registrados para posterior tabulação e análise. 40 Em ambas as etapas os dados foram submetidos à análise de variância (ANAVA) e as médias comparadas pelo teste de Tukey, ao nível de 5% significância, usando-se o programa SISVAR 4.3 (Ferreira, 2000). Experimento em bandejas Taxa de pegamento dos estolões em bandejas A taxa de pegamento das mudas dos seis acessos de amendoim forrageiro repicadas em bandejas de isopor apresentou diferença estatística apenas entre o acesso BRA 031496 e os demais, sendo este com maior taxa de pegamento dos estolões (70%) conforme demonstrado na figura 3. Já os acessos BRA 013251, BRA 030333, BRA 031801, BRA 015121, e BRA 022683 não diferiram estatisticamente entre si para esta variável apresentando taxas de pegamento respectivamente de 33,33%; 33,33%; 33,33%; 45% e 48,33%, conforme demonstrado na figura 3. As colunas do gráfico seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Revista Agroambiental - Agosto/2011 Figura 3. Taxa de pegamento de seis acessos de amendoim forrageiro repicados em bandejas de isopor, Inconfidentes/MG. Tais resultados revelaram que o acesso BRA 031496, nas condições descritas, foi superior, com base na alta taxa de pegamento em bandejas, quando comparado com os demais acessos analisados, que apresentaram menores índices de pegamento nas condições experimentais. Estudos demonstram que o amendoim forrageiro quando adaptado as condições climáticas do local de plantio apresentam altas taxas de pegamento. Valentim et al. (2003) estudando a velocidade de estabelecimento de outros 11 acessos de amendoim forrageiro nas condições climáticas do Acre, observaram taxas de pegamento superiores a 84%. Experimento em vasos Número de estolões O número de estolões dos acessos aos 45 e 90 dias após o plantio não apresentou diferença estatística significativa ao teste de Tukey (P<0,05). Entretanto, a figura 4 demonstra que o acesso BRA 031496 apresentou 18 estolões aos 45 dias e 23 aos 90 dias, sendo o acesso com maior perfilhação de estolões dentre os estudados em ambos os períodos. Destaca-se ainda que o acesso BRA 030333 apresentou as menores quantidades de estolões, sendo 12 e 13 estolões respectivamente aos 45 e 90 dias após o plantio. Figura 4. Número médio de estolões de seis acessos de amendoim forrageiro aos 45 e 90 dias após o plantio em vasos, Inconfidentes/MG. Comprimento médio dos Estolões Aos 45 dias após o plantio, a variável comprimento médio dos estolões apresentou diferença estatística dos acessos BRA 031801 e BRA 030333 para os demais, como demonstra a tabela 2. Os acessos BRA 022683, BRA 013251, BRA 015121 e BRA 031496 apre- sentaram respectivamente 18,5cm; 22,6cm; 22,7cm e 28,9cm de comprimento médio dos estolões. O acesso BRA 030333 destacou-se dos demais, apresentando o maior comprimento médio dos estolões (33,0cm) e o acesso BRA 031801 apresentou o menor valor (15,6cm), conforme demonstrado pela tabela 2 e figura 5. 41 Avaliação da Produtividade e Adaptabilidade de Acessos de Amendoim Forrageiro para Potencial Formação/Consorciação de Pastagens no Sul de Minas Gerais Tabela 2. Comprimento médio dos estolões de seis acessos de amendoim forrageiro aos 45 e 90 dias após o plantio em vasos, Inconfidentes/MG. Acessos BRA 030333 BRA 031496 BRA 015121 BRA 013251 BRA 022683 BRA 031801 CV (%) Comprimento de estolões (cm) 45 dias após o plantio 90 dias após o plantio 33,0 a 34,7 a 28,9 ab 31,5 ab 22,7 ab 23,8 ab 22,6 ab 25,4 ab 18,5 ab 20,6 ab 15,6 b 16,7 b 23,77 22,41 Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey (P<0,05). Aos 90 dias após o plantio observou-se um crescimento pouco expressivo em relação à análise anterior (45 dias) para os seis acessos. Na tabela 2, nota-se que os resultados da análise estatística apresentaram mesma tendência que os apresentados aos 45 dias após o plantio das mudas, onde os acessos BRA 031801 (16,7cm) e BRA 030333 (34,7cm) mantiveram-se com maiores valores de crescimento dos estolões. Na figura 5 é apresentada uma relação entre o comprimento médio dos estolões de cada acesso aos 45 e 90 dias após o plantio em vasos. Figura 5. Comprimento médio de estolões de seis acessos de amendoim forrageiro aos 45 e 90 dias após o plantio em vasos, Inconfidentes/MG. O acesso BRA 030333 apresenta-se como um acesso de crescimento horizontal, dado ao baixo número de estolões produzidos destacado na figura 4, entretanto com maior crescimento individual dos estolões destacado na tabela 2 e figura 5. Já o Acesso BRA 031496 apresentou comportamento mais uniforme para estas variáveis, possuindo uma boa perfilhação, acompanhada de uma considerável taxa de crescimento dos estolões. Sendo assim o acesso BRA 031496 apresenta-se como um acesso com grande potencial de crescimento e de rápida cobertura do solo, podendo ser indicado para utilização em pastagens mal formadas ou mesmo em maior grau de degradação. 42 Produção de matéria seca (MS) da parte aérea e radicular Conforme demonstra a tabela 3 e a figura 6, o acesso de A. pintoi BRA 031496 com uma produção de matéria seca da parte aérea de 23,1g aos 90 dias após o plantio apresentou-se como o mais produtivo dentre os seis acessos estudados, diferindo estatisticamente. Os acessos BRA 022683, BRA 030333 e BRA 015121 apresentaram valores medianos de produção de matéria seca foliar, não diferindo significativamente entre si. Já os acessos BRA 031801 e BRA 013251 apresentaramse estatisticamente equivalentes quanto a este parâmetro, sendo os acessos com os menores valores de produção de matéria seca da parte aérea (10,7g e 14,2g respectivamente). Revista Agroambiental - Agosto/2011 Tabela 3. Produção média de matéria seca da parte aérea e radicular de seis acessos de amendoim forrageiro aos 90 dias após o plantio em vasos, Inconfidentes/MG. Acessos BRA 031496 BRA 015121 BRA 030333 BRA 022683 BRA 013251 BRA 031801 CV (%) Produção de Matéria Seca (g) Parte aérea Parte radicular 23,1 a 7,0 a 17,9 ab 6,5 a 15,7 ab 5,3 a 15,1 ab 6,6 a 14,2 b 5,8 a 10,7 b 4,7 a 18,30 20,60 Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey (P<0,05). Figura 6. Produção média de matéria seca da parte aérea e radicular de seis acessos de amendoim forrageiro aos 90 dias após o plantio em vasos, Inconfidentes/MG. Estas considerações relacionam-se com os resultados apresentados anteriormente, confirmando a maior perfilhação e crescimento horizontal (comprimento dos estolões) do acesso BRA 031496 com uma maior produção de matéria seca da parte aérea em relação aos demais acessos estudados. Entretanto estes resultados diferem dos apresentados pelos mesmos acessos nas condições ambientais e de campo no Acre. Valentim et al. (2001) estudando 11 acessos (incluindo os acessos BRA 031801, BRA 031496, BRA 015121, BRA 030333 e BRA 022683) encontraram maior produtividade para os acessos BRA 031801 e BRA 030333, sendo respectivamente 2,39 t.ha-1 e 2,08 t.ha-1. Já o acesso BRA 031496, apresentou uma produção de 1,85 t.ha-1, seguido pelos acessos BRA 015121 e BRA 022683 com 1,73 t.ha-1 e 1,11 t.ha-1 respectivamente. Dentre os cinco acessos avaliados no estado do Acre e em Inconfidentes/MG, o acesso de BRA 031496 revelou-se como promissor para implantação no Sul de Minas, sendo mais produtivo que os demais nestas condições climáticas e experimentais. Já o acesso BRA 031801 não apresentou bons resultados nas condições citadas, sendo mais produtivo no estado do Acre (Amazônia Ocidental). É importante destacar as distintas condições experimentais nos dois trabalhos. O acesso BRA 031801 é o único acesso do experimento que pertence à espécie A repens, sendo possivelmente este o motivo de seus resultados insatisfatórios nas condições do presente experimento no Sul de Minas quando comparados às espécies de A. pintoi. A tabela 3 e a figura 6 demonstram ainda que os seis acessos de amendoim forrageiro não apresentaram diferenças estatísticas para a variável produção de matéria seca da raiz, entretanto o acesso BRA 031496 apresentou a maior massa seca radicular (7,0g), seguido dos acessos BRA 022683, BRA 015121, BRA 013251, BRA 030333 e BRA 031801 com produção de matéria 43 Avaliação da Produtividade e Adaptabilidade de Acessos de Amendoim Forrageiro para Potencial Formação/Consorciação de Pastagens no Sul de Minas Gerais seca radicular de 6,6g; 6,5g; 5,8g; 5,3g e 4,7g respectivamente. Taxa de Sobrevivência das mudas Conforme apresentado na tabela 4, obteve-se nestas condições experimentais resultados satisfatórios quanto a taxa de sobrevivência das mudas, onde todas as mudas plantadas dos seis acessos sobreviveram ao período de avaliação (90 dias), resultando em uma taxa de sobrevivência de 100%. Os valores de sobrevivência das mudas em vasos quando comparados com os resultados referentes à taxa de pegamento em bandejas, indicam que há uma limitação dos acessos ao pegamento dos estolões repicados em bandejas nas condições experimentais fornecidas como demonstra a figura 3. Entretanto a tabela 4 demonstra que, uma vez enraizadas, as mudas cresceram bem, isto é, não houve mortalidade, mesmo quando replantadas ou transferidas para condições mais próximas às de campo, como foi o caso do plantio em vasos. Tabela 4. Taxa de sobrevivência das mudas de seis acessos de amendoim forrageiro aos 90 dias após o plantio em vasos, Inconfidentes/MG. Acessos de amendoim forrageiro BRA 031801 BRA 031496 BRA 015121 BRA 013251 BRA 030333 BRA 022683 CV (%) Taxa de Sobrevivência (%) 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 0,00 Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey (P<0,05). CONCLUSÕES AGRADECIMENTOS O acesso de A. pintoi BRA 031496 apresentou os maiores índices de taxa de pegamento em bandejas (70%) e produção de matéria seca da parte aérea (21,1g) e radicular (7,0g), além de boa perfilhação, acompanhada de uma considerável taxa de crescimento dos estolões. À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) pela bolsa de iniciação científica PIBIC. O acesso de A. repens BRA 031801 apresentou os menores resultados de taxa de pegamento em bandeja (33,33%), de comprimento médio dos estolões aos 45 e 90 dias após o plantio (15,6cm e 16,7cm respectivamente) e produção de matéria seca da parte aérea (10,7g) e radicular (4,7g). Após o enraizamento das mudas em bandejas de isopor, todos os acessos promoveram 100% de sobrevivência em vasos. O acesso BRA 031496 se destacou nos experimentos, devendo ser empregado em futuros experimentos a campo visando sua multiplicação e recomendação em programas de melhoramentos das pastagens do Sul de Minas Gerais, dada a sua alta taxa de pegamento, sobrevivência e produção de matéria seca. Porém mais pesquisas são necessárias para investigar seu potencial a campo em relação à cobertura do solo, aspectos bromatológicos e persistência ao pastejo nas condições do Sul de Minas. 44 Ao IFSULDEMINAS – Campus Inconfidentes e seus servidores por todo o apoio de infra-estrutura e mão de obra. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, C. M. S.; VALENTIM, J.F.; CARNEIRO, J.C.; VAZ, F.A. Crescimento de gramíneas e leguminosas forrageiras tropicais sob sombreamento. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.39, n.03, p.263-270. 2004. BAPTISTA, C.R.W.; MORETINI, C.A.; MARTINEZ, J.L. Arachis pintoi, palatabilidade, crescimento e valor nutricional frente ao pastoreio de eqüinos adultos. 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Piracicaba: SBZ, 2001. p.292-294. LIMA, J.A.; PINTO, J.C.; EVANGELISTA, A.R.; SANTANA, R.A.V. Amendoim forrageiro (Arachis pintoi Krapov e Gregory), Lavras, 2003. Acesso em 31 mar. 2011. Online. Disponível em <http://www.editora.ufla.br/BolExtensão/pdfBE/bol_01.pdf> MONTENEGRO, R.; PINZÓN, B. Maní forrajero (Arachis pintoi Krapovickas e Gregory): Una alternativa para el sostenimiento de la ganaderia en Panamá. Panamá: IDIAP, 1997. 20p. (Boletim Técnico). NASCIMENTO, I.S. do. O cultivo de amendoim forrageiro. Revista Brasileira de Agrociência, v.12, n. 04, p.387-393, 2006. PRIMAVESI, A. M. Manejo ecológico de pastagens. 2 ed. São Paulo. Nobel, 1986. 184p. PURCINO, H.M.A.; BARCELOS, A.O.; VERZIGNASSI, J.R.; AROEIRA, L.J.; FERNANDES, C.D.; PACIULLO, D.S.C. Utilização e contribuição de leguminosas na produção animal. Informe Agropecuário, v.26, n.226, p. 76-96. 2005. QUEIROZ, D.S.; FONSECA, D.M. da; MOREIRA, L. de M. 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RESUMO Objetivou-se, neste trabalho, avaliar as características tecnológicas de acúmulo de açúcares e ação da invertase de duas variedades de cana-de-açúcar submetidas a diferentes supressões de irrigação e níveis de adubação. O experimento foi instalado na Fazenda Experimental da Universidade Estadual de Montes Claros, em Janaúba-MG. O solo da área experimental foi classificado como Latossolo Vermelho Distrófico textura média, (LVd); (EMBRAPA, 1999), o delineamento utilizado foi o de blocos casualizados, três repetições, em parcelas subdivididas (2 x 3 x 6) , sendo duas variedades de cana-de-açúcar RB85- 5453 e SP80-1816, três épocas de supressão de irrigação mais precipitação após corte (DIAC) caracterizadas aos 165, 195 e 225 dias, e na subparcela adubouse seis níveis de adubação mineral. As variáveis foram: brix, AR, ART, ATR e umidade. Os níveis de adubação interferiram na qualidade do caldo obtendo uma média geral de 24,30° brix, com a variedade RB85-5453 obtendo maiores valores para todas as variáveis analisadas. Observou-se valor de 0,8% AR na variedade SP80-1816 e mínimo na variedade RB85-5453 com 0,35 %AR, no parâmetro ATR, verificou-se que a variedade RB85-5453 apresentou melhor resultado, tendo possibilidade de atingir teores superiores a 189,25 kg de ATR t-1. O nível 6 de adubação obteve melhor desempenho nas condições de realização deste trabalho. A RB85-5453 é a mais indicada para a região, pois conseguiu altos níveis em produção industrial. PALAVRAS CHAVE: análises industriais, fertilização, semiárido e sacarose. Accumulation of Sugars in Sugarcane Varieties Affected by Deletions of Different Irrigation and Fertilization ABSTRACT The aim of this study was to evaluate the technical characteristics of the accumulation of sugars and invertase action of two varieties of sugar cane under different deletions of irrigation and fertilization levels. The experiment was conducted at the Experimental Farm of Universidade Estadual de Montes Claros, in Janaúba-MG. The experimental area was classified as Oxisol, medium texture, (Oxisol) (EMBRAPA, 1999), the design was a randomized complete block, three replications in split plot (2 x 3 x 6), two varieties of cane sugar RB85-5453 and SP80-1816, three times more precipitation suppression irrigation after cutting (DIAC) characterized at 165, 195 and 225 days, and fertilizer as subplots were six levels of mineral fertilizer. The variables were: brix, AR, TRS, TRS, and humidity. Nutrient levels interfere with the quality of the juice obtained an overall average of 24.30 ° brix, with the variety RB85-5453 obtaining higher values for all variables. Observed value of 0.8% AR in the variety SP80-1816 and minimum in variety RB85-5453 with 0.35% AR in the ATR parameter, it was found that the variety RB85-5453 showed better results, with the possibility of reaching levels higher than 189.25 kg TRS t-1. 6 The level of fertilization showed the best performance in terms of this work The RB85-5453 is the best for the region because high levels achieved in industrial production. KEYWORDS: industrial analysis, fertilization, semiarid and sucrose. 47 Acúmulo de Açucares em Variedades de Cana Influenciadas por Diferentes supressões de Irrigação e Adubação INTRODUÇÃO Em todo o Brasil, a cana-de-açúcar tem sido remunerada por seus índices qualitativos, de modo que, quanto melhor a qualidade da matéria prima maior é o preço pago por tonelada de colmos. A cultura da canade-açúcar passou a ser considerada, recentemente, uma realidade no quesito energético, valorizada pela capacidade que tem de gerar energia limpa e renovável. Em nível mundial, começa a haver uma corrida por combustíveis mais ‘limpos’, entretanto, quando o assunto é expandir as fronteiras agrícolas para a produção de bicombustíveis, teme-se os seus reflexos na diminuição de áreas para a produção de alimentos. Essa parece ser uma das grandes vantagens para o Brasil, país de dimensões continentais, dispondo, ainda, de terras para a expansão de cultivo da cana-de-açúcar, além de renovação na extração de etanol uma sustentável fonte de energia combustível. Diversos fatores interferem na produção e maturação da cultura da cana-de-açúcar, sendo os principais a interação edafoclimática, o manejo da cultura e a cultivar escolhida (César et al., 1987). Esses fatores que interferem na produção e qualidade da cana-de-açúcar estão sendo constantemente estudados sob diferentes aspectos. Estudar a cultura no seu ambiente de desenvolvimento pode gerar uma enorme quantidade de informações para adequar o melhor manejo e cultivar para os específicos ambientes (solo e clima). Assim é possível explorar ao máximo o local de produção para conseqüentemente maior lucratividade ou competitividade para as agroindústrias da cana-de- açúcar. A refratometria, na escala brix, constitui em um método físico para medir a quantidade de sólidos solúveis presentes em uma amostra. Baseia-se em um sistema de graduação de aparelhos especialmente para ser utilizado na indústria açucareira, mais precisamente na análise de açúcares em geral que estejam em solução. Segundo Delgado & César (1977); Paranhos (1987); Lopes & Parazzi (1992) a maturação da cana-de-açúcar pode ser determinada pelos parâmetros tecnológicos (Brix, Pol, Pureza e Açúcares Redutores). Segundo Horii (2004) as cultivares de cana-deaçúcar, devido aos diferentes comportamentos de maturação, são agrupadas em precoces (quando apresentam um teor de Pol acima de 13% no início de maio), médias (quando atingem a maturação em julho) e tardias (pico de maturação em agosto/setembro). Além disto podem ser consideradas como de PUI curto (< 120 dias), PUI médio (120 a 150 dias) e PUI longo (>150 dias). Em algumas regiões do País, a exemplo do Nordeste e, especificamente, no Norte de Minas Gerais, há interesses em se verticalizar a produção, aumentando a produtividade agrícola e industrial, com melhorias na qualidade da matéria-prima. Nesse sentido, os produtores Mineiros têm investido, maciçamente, em irrigação 48 e adubação, como principais tecnologias para o aumento de produtividade e qualidade da cultura de cana-deaçúcar. Considerando a escassez de recursos hídricos, um dos problemas da expansão da agricultura irrigada no Estado, inclusive no setor sucroalcooleiro, é imprescindível e urgente se estudar práticas de manejo mais eficientes do uso de água, igualmente importante é se identificar os principais problemas de ordem nutricional das plantas, em cada área de produção, visando garantir a sustentabilidade da exploração da cultura. Na literatura, são variadas as informações sobre demanda hídrica da cana-de-açúcar, segundo Doorembos & Kassam (1979), a cultura exige entre 1500 e 2500 mm ano-1. Estudando os efeitos da irrigação sobre a qualidade da cana ‘CP 65-357, submetida a três níveis de irrigação (99, 85 e 65% da fração de esgotamento da água do solo), no Estado do Texas, Wiedenfeld (1995) obteve rendimentos em açúcar de 13, 10 e 7,5 t ha-1, respectivamente, sem variar a pureza (87, 86 e 85%), posteriormente, Wiedenfeld (2000) avaliou diferentes tratamentos de estresse hídrico na cultura, em cinco diferentes estádios de desenvolvimento, registrando reduções de 11% no rendimento em açúcar, quando a cultura foi submetida ao estresse no período entre 257 e 272 dias após o plantio e de 19% quando o estresse hídrico ocorreu entre 302 e 347 dias após o plantio. Dantas Neto et al. (2006) testaram lâminas de irrigação, variando entre 807 e 1343 mm, na cultura de cana-de-açúcar e verificaram comportamento linear positivo sobre as variáveis de crescimento e quadrático para sacarose (POL), com valor de 18,1% quando as plantas foram irrigadas com 1125 mm. Moura et al. (2005) observaram diferenças em ºBrix, Pol e PCC em estudos, comparando a cana irrigada com a cana de sequeiro, aumentando 5,00, 10,79 e 8,63%, respectivamente, quando houve irrigação. Dentro deste enfoque, procurando atender às necessidades atuais de manejo, o presente trabalho teve por objetivo estudar o comportamento de duas variedades comerciais de cana-de-açúcar, quanto às características tecnológicas de acúmulo de açúcares e ação da invertase influenciada por diferentes épocas de supressão de irrigação e distintos níveis de adubação, nas condições edafoclimáticas da região Norte do Estado de Minas Gerais. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi instalado na Fazenda Experimental da Universidade Estadual de Montes Claros, em Janaúba – MG. O solo da área experimental foi classificado como Latossolo Vermelho Distrófico textura média, (LVd); (EMBRAPA, 1999), o delineamento utilizado foi o de blocos casualizados, com três repetições, em parcelas subdivididas (2 x 3 x 6) , sendo utilizado na parcela duas variedades de cana-de-açúcar RB855453 e SP80-1816 e três épocas distintas de supressão de irrigação mais precipitação após corte (DIAC) Revista Agroambiental - Agosto/2011 caracterizadas aos 165, 195 e 225 dias, foi utilizado o sistema de irrigação por aspersão convencional com aspersores de baixa pressão. A lâmina de irrigação foi determinada levando-se em consideração a precipitação e eficiência do sistema utilizado, bem como a evapotranspiração da cultura (ETc e Kc da cana-de-açúcar) (BERNARDO et al., 2005), dispensando-a na ocorrência de precipitação. Dados climáticos obtidos a partir da estação meteorológica da Epamig, Nova Porteirinha-MG. Na subparcela adubou-se em uma só vez seis níveis de adubação mineral, 1 (0 kg ha-1 de N e K2O), 2 (14 kg ha-1 de N e 33 kg ha-1 de K2O), 3 (29 kg ha-1 de N e 66 kg ha-1 de K2O), 4 (43 kg ha-1 de N e 100 kg ha-1 de K2O), 5 (57 kg ha-1 de N e 133 kg ha-1 de K2O), 6 (71 kg ha-1 de N e 166 kg ha-1 de K2O) das fontes de Sulfato de Amônia e Cloreto de Potássio. As variáveis da cultura utilizadas foram: brix, AR, ART, ATR e umidade. Foram feitas duas analises de todas as parcelas, a primeira analise no mês de agosto (300 dias após corte) e a segunda em setembro (330 dias após corte) de 2010 no laboratório Industrial da Usina São Judas Tadeu (SADA Bioenergia e Agricultura), no município de Jaíba-MG, foram coletados 3 colmos inteiros aleatórios em cada sub-parcela e transportados no transcorrer de 1 hora para o laboratório, simulando o tempo real de colheita, conforme (CONSECANA, 2006). Análise de Brix e Pol foram feitos pelo método da prensa hidráulica, sendo do caldo feita a análise do Brix (refratométrico) e determinada por métodos sacarimétricos (polarímetros ou sacarímetros) o Pol% caldo = (1,0078 x leit. sacar. + 0,0444) x (0,2607 – 0,009882 x Brix). O bagaço foi chamado de “Bolo Úmido”. O peso do bolo úmido (P.B.U.) foi obtido em balança eletrônica. Os resultados obtidos (leitura Sacarimétrica, Brix e PBU), foram lançados em um programa de computador (CHB), obtendo-se os demais resultados: Pol da cana, fibra, pureza, AR, brix da cana, umidade, ATR e ART com os seguintes cálculos: Fibra = (0,08 x PBU) + 0,876 (FERNANDES, 2000). O coeficiente “C” representa a transformação do caldo extraído em todo o caldo absoluto, ou seja, é a extração de todo caldo proveniente da prensa hidráulica. C = (1,0313 – 0,00575 x FIBRA). Posteriormente encontra-se o Brix% cana = Brix do caldo x (1 – 0,01) x C e Pol% cana = Pol no caldo x (1 – 0,01 x FIBRA) x C, a pureza foi obtida pela fórmula: PUREZA = (Pol% cana) / (Brix% cana) x 100. O cálculo dos açúcares redutores no caldo foi feito pela fórmula: AR% caldo = (3,641 – 0,0343 x PUREZA); a AR% cana = AR no caldo x (1 – 0,01 x FIBRA) x C. Os açúcares redutores totais foram determinados pela seguinte equação: ART% caldo = (Pol no caldo / 0,95) + AR e ART% cana = ART do caldo x (1 – 0,01 x FIBRA) x C. Conhecendo-se a Pol da cana (PC) e os açúcares redutores da cana (ARC), o açúcar total recuperável é calculado pela equação: ATR = 10 x PC x 1,05263 x 0,905 + 10 x ARC x 0,905, onde: 10 x PC = pol por tonelada de cana; 1,05263 = coeficiente estequiométrico para a conversão da sacarose em açúcares redutores; 0,905 = coeficiente de recuperação, para uma perda industrial de 9,5% (nove e meio por cento) e 10 x ARC = açúcares redutores por tonelada de cana. O Álcool hidratado estimado pelo calculo: ART% caldo x 10 x 0,6475= 100% de álcool, posteriormente transforma-se para 85%, considerada a eficiência do processo fermentativo. A distribuição da precipitação no experimento ao longo do ciclo fenológico da cultura (360 dias), em intervalos quinzenais encontra-se na Figura 1. Figura 1. Dados médios de temperatura, em graus Celsius (ºC), e precipitação pluvial acumulada por quinzena, em milímetros (mm), em Janaúba-MG, de 01/10/2009 a 30/09/2010. Dados obtidos na Estação Climatológica da EPAMIG, Nova Porteirinha-MG, 2011. 49 Acúmulo de Açucares em Variedades de Cana Influenciadas por Diferentes supressões de Irrigação e Adubação As quantidades de água aplicadas por meio da irrigação durante os três períodos de supressão foram, L1 (165 DIAC) = 918 mm, L2 (195 DIAC) = 1.242 mm e L3 (225 DIAC) = 1.539 mm. A precipitação aproveitável (Pap) acumulada no mesmo período foi de 873,8; 891,2; e 902,4 mm respectivamente, resultando em quantidades totais de água aplicadas para os três DIAC distintos de L1 + Pap ( 165 DIAC)= 1.791,8mm, L2 + Pap (195 DIAC) = 2.133,2mm e L3 + Pap (225 DIAC)= 2.441,4 mm. Foi feita a média dos dados de coleta dos dois meses, esta media foi submetida à análise de variância e, quando houve diferença significativa pelo teste F, realizou-se a comparação das medias pelo teste de Scott Knott (p < 0,05) para todas as variáveis estudadas, utilizando-se do programa software SISVAR. RESULTADOS E DISCUSSÃO Verifica-se na tabela 1 que há interações entre variedades, DIAC e níveis de adubação, tendo a variedade RB85-5453 valores maiores para todas as variáveis analisadas, o que pode ser explicado pelo seu comportamento precoce em sua maturação. Tabela 1. Resumo das análises de variância para variáveis Umidade, Brix, Açúcares teórico recuperáveis (ATR), açúcares redutores (AR) e açucares redutores totais (ART), Janaúba, MG, 2010. QUADRADOO MÉDIO UMIDADE BRIX (%) (%) ATR Kg t-1 ART AR F.V. G.L BLOCO 2 1,7759 0,560 7,32 0.3719 0,0004 VAR 1 241,8014* 150,92* 10583,892* 136.5075* 0,430* DIAC 2 11,0759* 7,47* 419,7014* 4.7971 0,016* VAR*DIAC 2 2,8071 3,51* 286,7941* 4.4560 0,027* erro 1 10 1,9244 0,795 69,027 1.2784 0,0001 NÍV 5 1,1792 0,706 78,237 1.4494 0,026* (%) VAR*NÍV 5 0,6431 0,301 44,747 0.5487 0,010* DIAC*NÍV 10 1,6670* 0,766 74,439 0.8988 0,018* 10 0,8145* 0,564 40,435 0.4561 0,004* erro 2 60 0,7356 0,408 52,724 0.7683 0,0009 Total corrigido 107 CV 1 (%) = 2 2,09 3,67 4,82 5.96 4,33 CV 2 (%) = 1 1,29 2,63 4,21 4.62 5,14 Média geral: 2 66,496 24,308 172,388 18.986 0,598 VAR*DIAC* NÍV 1 variedade (VAR), 2 período em dias de precipitação mais irrigação até a época de supressão (DIAC),3 níveis de adubação (NIV). * valores significativos estatisticamente (p<0,05) pelo teste F. As variedades apresentaram uma média geral de 24,30° Brix (Tabela 1). Os atributos de qualidade da matéria prima são os mais importantes para a indústria canavieira, visto que vão definir os rendimentos em açúcar e álcool. Constata-se na tabela 2 que as variedades diferiram estatisticamente na variável Brix em todos os tratamentos, com a variedade RB85-5453 superando em valores a variedade SP80-1816. Nos tratamentos da variedade RB85-5453 não houve diferenças entre DIAC, logo as diferentes supressões de irrigação não interferiram na porcentagem de sólidos solúveis acumulados 50 na variedade, porém, na SP80-1816 houve diferenças entre os DIAC dentro de cada nível de adubação com os menores valores encontrados nos menores DIAC. A água disponível para a planta é essencial, uma vez que promove a síntese, acúmulo e a translocação da sacarose nos colmos, podendo os produtores manipular a irrigação visando à melhoria da maturação. As diferentes disponibilidades hídricas e nutricionais não afetaram a umidade das variedades estudadas. Relatou-se valor máximo de 70 % aos 165 DIAC no nível 2 na variedade SP80-1816 e mínimo de 64,36 % no nível 1 aos 195 DIAC da variedade RB85-5453. Revista Agroambiental - Agosto/2011 TABELA 2 Médias dos valores de Brix em caldo e umidade no desdobramento do período de irrigação e precipitação (DIAC) com variedades dentro de cada nível de adubação. NÍVEIS 1 2 3 4 5 6 BRIX UMIDADE (%) (%) DIAC SP80-1816 RB85-5453 SP80-1816 RB85-5453 165 21,89bA 24,74aA 68,28aA 64,70 bA 195 21,41bA 24,84aA 68,10aA 64,36bA 225 22,79bA 23,81aA 67,41aA 64,98 bA 165 21,85bB 25,36aA 70,00aA 65,46 bA 195 23,35bA 25,33aA 67,55aB 64,88 bA 225 23,57bA 25,08aA 67,66aB 65,81 bA 165 22,58bB 25,22aA 68,56aA 65,45 bA 195 22,38bB 24,97aA 68,81aA 65,28 bA 225 24,03bA 25,71aA 67,18aA 64,61 bA 165 21,97bB 25,24aA 69,10aA 65,63 bA 195 23,25bA 24,57aA 67,68aA 66,00 bA 225 24,39bA 25,55aA 66,26aB 64,68 aA 165 23,36bA 25,68aA 67,96aA 65,06 bA 195 21,87bB 25,45aA 69,20aA 65,35 bA 225 24,07bA 26,25aA 66,73aB 63,80 bA 165 22,55bA 26,01aA 68,38aA 64,63 bA 195 23,06bA 25,10aA 67,65aA 65,30 bA 225 23,85bA 25,87aA 67,30aA 64,01 bA (1)Nível 1 (0 kg ha-1 de N e K2O), 2 (14 kg ha-1 de N e 33 kg ha-1 de K2O), 3 (29 kg ha-1 de N e 66 kg ha-1 de K2O), 4 (43 kg ha-1 de N e 100 kg ha-1 de K2O), 5 (57 kg ha-1 de N e 133 kg ha-1 de K2O), 6 (71 kg ha-1 de N e 166 kg ha-1 de K2O). (2)Médias dentro de cada atributo seguidas por letras minúsculas distintas na linha diferem entre si estatisticamente pelo teste de Scott Knott a 5 % de probabilidade. (3)Médias dentro de cada nível seguidas por letras maiúsculas distintas na coluna diferem entre si estatisticamente pelo teste de Scott Knott a 5 % de probabilidade. Melo et al. (1998) verificaram, para diferentes variedades, média de umidade de 70,64 % para cana integral e 71,88 % para cana despontada, ratificando os valores encontrados neste trabalho. Na tabela 3 encontram-se as médias de níveis de adubação dentro de cada DIAC e variedades. Para a variável Brix, houve diferença significativa apenas aos 195 DIAC na variedade SP80-1816. Algumas variedades têm comportamento distinto com relação ao nitrogênio sendo capazes de utilizar mais nitrogênio do que outras, como também em relação o acúmulo de sacarose, ou seja, altas doses podem não afetar a qualidade dos caldos. É um efeito variável, que tem sido observado. Vários trabalhos demonstraram que água e nitrogênio estando em excesso, a planta não amadurece, correlacionando-se positivamente com a umidade e açúcares redutores, e negativamente com a sacarose. Nesta pesquisa, as variedades mostraram comportamento oposto, o nitrogênio não interferiu na quali- dade do caldo pelo fato, principalmente, da quantidade disponibilizada dos diferentes níveis de adubação nitrogenada que se encontraram de moderado para baixo de acordo com CFSEMG (1999). No caso de cana irrigada, a maturação deve ser monitorada mediante o controle da aplicação de nitrogênio e da irrigação. A redução da água para controle da irrigação diminui a absorção de nitrogênio pela planta. Em regiões úmidas e quentes, é difícil reduzir a quantidade de água do solo nos períodos de maturação e, consequentemente, a quantidade de nitrogênio aplicada deve ser moderada. O potássio favoreceu a síntese, o acúmulo e a translocação da sacarose, aumentando a qualidade do caldo das variedades pesquisadas. Verificou-se que as diferenças em qualidade medidas por brix dos tratamentos foram influenciadas diretamente pelos diferentes níveis de potássio, uma vez que estava mais disponível para a planta e participa de diversas funções indispensáveis na cana-de-açúcar, a exemplo do processo fotossintético, determinante na síntese de açúcares. 51 Acúmulo de Açucares em Variedades de Cana Influenciadas por Diferentes supressões de Irrigação e Adubação Tabela 3. Médias dos valores de brix e umidade interagindo cada nível de adubação dentro dos períodos de supressões ( “DIAC”) e variedades. VAR DIAC NÍVEIS 1 2 3 4 5 6 BRIX(%) SP80-1816 RB85-5453 165 21,89a 21,85a 22,58a 21,97a 23,36a 22,55a 195 21,41a 23,35a 22,38b 23,25a 21,87b 23,06a 225 22,79a 23,57a 24,03a 24,39a 24,07a 23,85a 165 24,74a 25,36a 25,22a 25,24a 25,68a 26,01a 195 24,84a 25,33a 24,97a 24,57a 25,45a 25,10a 225 23,81a 25,08a 25,71a 25,55a 26,25a 25,87a UMIDADE(%) SP80-1816 RB85-5453 165 68,28a 70,00a 68,56a 69,10a 67,96a 68,38a 195 68,10a 67,55a 68,81a 67,68a 69,20a 67,65a 225 67,41a 67,66a 67,18a 66,26a 66,73a 67,30a 165 64,70a 65,46a 65,45a 65,63a 65,06a 64,63a 195 64,36a 64,88a 65,28a 66,00a 65,35a 65,30a 225 64,98a 65,81a 64,61a 64,68a 63,80a 64,01a (1)Nível 1 (0 kg ha-1 de N e K O), 2 (14 kg ha-1 de N e 33 kg ha-1 de K O), 3 (29 kg ha-1 de N e 66 kg ha-1 de 2 2 K2O), 4 (43 kg ha-1 de N e 100 kg ha-1 de K2O), 5 (57 kg ha-1 de N e 133 kg ha-1 de K2O), 6 (71 kg ha-1 de N e 166 kg ha-1 de K2O). (2)Médias dentro de cada atributo seguidas por letras minúsculas distintas na linha diferem entre si estatisticamente pelo teste de Scott Knott a 5 % de probabilidade. Sua ação está intimamente associada à natureza catalítica na formação de carboidratos e no desdobramento e translocação do amido. Dantas Neto et al. (2006), estudando diferentes lâminas totais de irrigação e doses de adubação nitrogênio + potássio, não registraram diferença na qualidade tecnológica da variedade SP 79-1011, sugerindo que a adubação com nitrogênio não interfere na qualidade tecnológica da cana-de-açúcar, mas influencia no primeiro estádio fenológico, o vegetativo, assim corroborando com os obtidos por Costa et al. (2003), que verificaram que a adubação nitrogenada (100 kg ha-1) não afetou a qualidade tecnológica da cana-de-açúcar. Prado e Pancelli (2006) obtiveram resultados na primeira soqueira, e observaram que não houve efeito significativo dos diferentes tratamentos de adubação nitrogenada na qualidade tecnológica dos colmos da soqueira de cana. Moura et al. (2005) encontraram valores próximos de Brix para diferentes doses de adubação de cobertura de nitrogênio com irrigação, com valor médio de 19,76 °Brix de variedade não relatada. tivamente. No parâmetro AR observou-se interação em todos os tratamentos com a variedade SP80-1816 superando os valores na maioria dos tratamentos. Esses valores estão dentro dos aceitáveis na produção sucroalcooleira, pois esse parâmetro em grandes quantidades se encontra na condição de prejuízos na produção de álcool e principalmente de açúcar. Destacou-se na tabela 4 valor máximo de 0,8% AR no DIAC 165 da variedade SP80-1816 no nível 2 e mínimo na variedade RB85-5453 aos 225 DIAC no nível 4 com 0,35% AR. Estes valores dão indícios que um período vegetativo de boa disponibilidade hídrica e nutritiva para a cultura da cana na região Nortemineira desempenha bons rendimentos de sacarose acumulada no colmo da cana e boa produtividade que atenda ao processamento industrial de açúcar e álcool. Prado e Pancelli (2006), analisando diferentes adubações com nitrogênio, encontraram valores de 0,65% AR com adubação de 200 kg ha-1, e 0,83% AR com 0 kg ha-1, evidenciaram que os diferentes tratamentos não influenciaram esta qualidade tecnológica da cana. Esses resultados corroboram os encontrados neste trabalho, demonstrando que os diferentes níveis de adubação não foram influentes na %AR (tabela 4). Na tabela 4 têm-se os valores médios AR, ATR e ART, que apresentaram valores médios de 0,598%, 172,389kg ATR t-1 e 18,98 % ART (tabela 1 ), respecTabela 4. Médias dos valores de porcentagens de Açúcares redutores (AR), Açúcares teórico recuperáveis (ATR) e litros álcool esperado por tonelada de cana (LITRS ÁLCOOL) do caldo no desdobramento do período de irrigação e precipitação (DIAC) com variedades dentro de cada nível de adubação. 52 Revista Agroambiental - Agosto/2011 AR(%) NÍVEIS 1 2 3 4 5 6 ATR(%) ART(%) DIAC SP80-1816 RB85-5453 SP80-1816 RB85-5453 SP80-1816 RB85-5453 165 0,55aC 0,59aA 166,92bA 181,23aA 18.44bA 20.02 aA 195 0,74aA 0,55bB 159,74bA 180,82aA 17.65bA 19.98 aA 225 0,68aB 0,62bA 166,35bA 180,11aA 18.38aA 19.90 aA 165 0,80aA 0,62bA 147,86bB 181,06aA 15.78bB 20.00 aA 195 0,73aB 0,53bB 162,21bA 181,47aA 17.48bA 20.03 aA 225 0,67aB 0,55bB 166,60aA 175,26aA 18.04aA 19.36 aA 165 0,60aA 0,56aA 161,67bB 181,96aA 17.68bB 20.10 aA 195 0,72aC 0,53bA 161,53bB 181,34aA 17.66bB 20.04 aA 225 0,52aA 0,46bB 175,35aA 186,44aA 19.37aA 20.60 aA 165 0,67aA 0,59bA 151,39bB 179,47aA 17.04bB 19.83 aA 195 0,67aB 0,44bB 160,16bB 178,98aA 17.69bB 19.77 aA 225 0,59aC 0,35bC 173,57bA 186,53aA 19.18aA 20.61 aA 165 0,68aA 0,60bA 163,18bA 181,88aA 17.71bA 20.09 aA 195 0,65aA 0,56bB 153,76bA 179,65aA 17.06bA 19.85 aA 225 0,65aA 0,54bB 168,86bA 183,44aA 18.65bA 20.27 aA 165 0,56aB 0,49bB 156,87bA 189,25aA 17.33bA 20.91 aA 195 0,66aA 0,47bB 162,12bA 185,46aA 17.91bA 20.49 aA 225 0,69aA 0,54bA 166,59bA 186,76aA 18.40bA 20.08 aA (1)Nível 1 (0 kg ha-1 de N e K2O), 2 (14 kg ha-1 de N e 33 kg ha-1 de K2O), 3 (29 kg ha-1 de N e 66 kg ha-1 de K2O), 4 (43 kg ha-1 de N e 100 kg ha-1 de K2O), 5 (57 kg ha-1 de N e 133 kg ha-1 de K2O), 6 (71 kg ha-1 de N e 166 kg ha-1 de K2O). (2)Médias dentro de cada atributo seguidas por letras minúsculas distintas na linha diferem entre si estatisticamente pelo teste de Scott Knott a 5 % de probabilidade. (3)Médias dentro de cada nível seguidas por letras maiúsculas distintas na coluna diferem entre si estatisticamente pelo teste de Scott Knott a 5 % de probabilidade Dos atributos analisados, o açúcar total recuperável (ATR) é muito importante tanto para indústria quanto para os produtores. Pois em função dele é que as unidades industriais elaboram o preço pago aos produtores, seguindo uma metodologia descrita pela (CONSECANA, 2006). Observando o parâmetro ATR, verificou-se que a variedade RB85-5453 apresentou melhor resultado, tendo possibilidade de atingir teores superiores a 189,25 kg de ATR t-1. Nos tratamentos de DIAC houve diferenças significativas (p<0,05) apenas aos 165 DIAC nos níveis 2, 3 e 4, indicando que maior disponibilidade hídrica favorece o rendimento teórico de açúcar. Na variável ART a variedade SP obteve um desempenho melhor com valores menores em porcen- tagem, atingindo os 17,04% ART no manejo 4 aos 165 DIAP, valor máximo de 19,37% ART no manejo 3 aos 225 DIAP este não diferiu dos valores encontrados na variedade SP. Isto é evidente uma vez que os valores de % AR na variedade SP foram maiores, tendo uma tendência de maior recuperação na variedade RB de menor % AR. Os manejos de adubação não diferiram nos valores de %ART (tabela 2), não influenciando seu resultado final. Todos os índices discutidos neste trabalho são usados como base de cálculo para se determinar a quantidade de açúcares totais recuperáveis, expressos em kg de ATR t-1 de cana. Pelos resultados desta pesquisa comprova-se que a qualidade da matéria-prima pode ser melhorada com a irrigação. Tabela 5 Médias dos valores de porcentagens de açúcares redutores (AR) , açúcares teórico recuperáveis (ATR) do caldo e litros álcool esperado por tonelada de cana (LITRS ALCOOL), interagindo cada nível de adubação dentro dos períodos ( Dias de irrigação mais precipitação após corte “DIAC”) e variedades 53 Acúmulo de Açucares em Variedades de Cana Influenciadas por Diferentes supressões de Irrigação e Adubação VAR DIAC NÍVEIS 1 2 3 4 5 6 AR (%) SP80-1816 RB85-5453 SP80-1816 RB85-5453 165 0,55 c 0,80 a 0,60 c 0,67 b 0,68 b 0,56c 195 0,74 a 0,73 a 0,72 a 0,67 b 0,65 b 0,66b 225 0,68 a 0,67 a 0,52 c 0,59 b 0,65 a 0,69a 165 0,59 a 0,62 a 0,56 a 0,59 a 0,60 a 0,49b 195 0,55 a 0,53 a 0,53 a 0,44 b 0,56 a 0,47b 225 0,62 a 0,55 b 0,46 c ATR (kg t-1) 0,35 d 0,54 c 0,54c 165 166,92a 147,86b 161,67a 151,39b 161,67a 156,87b 195 159,74a 162,21a 161,53a 160,16a 153,76a 162,12a 225 166,35a 166,60a 175,35a 173,57a 168,86a 166,59a 165 181,23a 181,06a 181,96a 179,47a 181,88a 189,25a 195 180,82a 181,47a 181,34a 178,98a 179,65a 185,46a 225 180,11a 175,26a 186,44a 186,53a 183,44a 186,76a ART (%) SP80-1816 RB85-5453 165 18.44 a 15.78 b 17.68 a 17.04 a 17.71 a 17.33 a 195 17.65 a 17.48 a 17.66 a 17.69 a 17.06 a 17.91 a 225 18.38 a 18.04 a 19.37 a 19.18 a 18.65 a 18.40 a 165 20.02 a 20.00 a 20.10 a 19.83 a 20.09 a 20.91 a 195 19.98 a 20.03 a 20.04 a 19.77 a 19.85 a 20.49 a 225 19.90 a 19.36 a 20.60 a 20.61 a 20.27 a 20.08 a CONCLUSÃO 1. O período de 225 DIAC foi o melhor em desempenho, porém tendo valores próximos em qualidade tecnológica nas demais supressões. 2. O nível 6 de adubação obteve melhor desempenho nas condições de realização deste trabalho. 3. A variedade RB85-5453 teve maior desempenho em qualidade tecnológica mostrando-se adequada a colheita mais cedo na região. 4. As variedades RB85-5453 e SP80-1816 são promissoras para região Nortemineira, tendo boa adaptação às condições edafoclimáticas, porém a variedade RB85-5453 é a mais indicada para a região, nas condições de realização deste trabalho, assim atendendo às exigências de produção sucroalcooleira no seu terceiro ciclo de produtividade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] BERNARDO, S. Manual de irrigação. 7. ed. Viçosa: Impressa Universitária, 2005. 611 p. [2] COMISSÃO DE FERTILIDADE DE SOLO DO ESTADO DE MINAS GERAIS (CFSEMG). Recomendações para o uso de corretivos e fertilizantes em Minas Gerais; 5ª aproximação. 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CEP: 37576-000, [email protected] RESUMO A utilização de plantas para estabilização de solos caracteriza-se como uma técnica de baixo custo quando comparado com as grandes obras de bioengenharia. Desta forma, o capim vetiver (Vetiveria zizanioides) apresenta-se como uma boa opção de planta pioneira na reabilitação e estabilização de solos pois possui uma enorme capacidade de sobreviver à secas prolongadas uma vez que suas raízes atingem uma enorme profundidade (até 3 m), lhe proporcionando retirar água do solo mesmo nas épocas de estiagem. Além disso, apresentam grande capacidade na estabilização de solos sujeitos a processos erosivos e com déficit nutricional, aumentando o poder de agregação do solo. Neste sentido o objetivo do presente trabalho foi avaliar a sobrevivência e desenvolvimento de mudas de capim vetiver (V. zizanioides) em raízes nuas e produzidas em saquinhos de polietileno plantadas em diferentes espaçamentos, visando-se futuros projetos de proteção de encostas com esta gramínea. O experimento foi realizado na fazenda escola do IFSULDEMINAS – campus Inconfidentes, MG, em uma encosta experimental, com declividade média de 30° e rampa de 6 m. Foram avaliados 2 tipos de mudas de capim vetiver (raízes nuas e produzidas em saquinhos de polietileno) e 9 diferentes espaçamentos. Os parâmetros mensurados foram a taxa de sobrevivência das mudas 60 dias após o plantio; altura e diâmetro ao nível do solo das plantas no período de 150 à 270 dias após o plantio. Concluiu-se que: i) a taxa de sobrevivência, o diâmetro ao nível do solo e a altura das plantas de vetiver não é influenciada pelo espaçamento de plantio; ii) as plantas provenientes de mudas de vetiver produzidas em saquinhos de polietileno apresentam taxa de sobrevivência e diâmetro ao nível do solo superior àquelas plantadas diretamente no campo (raízes nuas); e iii) mudas produzidas em raízes nuas inicialmente apresentam menores valores de altura, entretanto após certo período de tempo estas mudas atingem valores similares ou maiores que os apresentados por mudas produzidas em saquinhos de polietileno. Palavras-Chave: Proteção de encostas, diâmetro ao nível do solo, taxa de sobrevivência, altura de plantas, produção de mudas. Evaluation of Survival and Development of Seedlings of Vetiver Grass (Vetiveria zizanioides) in Bare Rooted and Grown in Polyethylene Bags Planted at Different Spacings ABSTRACT The use of plants for soil stabilization is characterized as a low cost technique compared to the great works of bioengineering. Thus, the vetiver grass shows itself as a good choice of pioneer plant in the rehabilitation and soil stabilization, as it has a great capacity to survive prolonged drought because its roots reach an enormous depth of 3m permiting it to remove water from ground even in times of drought, besides they have a high capacity to stabilize soil erosion or suffering nutritional deficits, increasing the power of soil aggregation. In this sense the purpose of this study is to evaluate the survival and development of seedlings of vetiver grass (Vetiveria zizanioides) in bare root and grown in polyethylene bags planted at different spacings, aiming future projects to protect the slopes with this grass. The experiment was conducted at the school IFSULDEMINAS - campus Inconfidentes/MG/Brazil in an experimental slope of 30 degrees and ramp of 6 m. It was planted two types of seedlings of vetiver grass (bare rooted and grown in polyethylene bags) and 9 different spacings. The measured parameters were the survival rate of seedlings 60 days after planting, height and diameter at ground level of the plants in the period of 150 to 270 days after planting. It was concluded that: i) the survival rate, diameter at ground level and plant height of vetiver is not 57 Avaliação da Sobrevivência e do Desenvolvimento de Mudas de Capim Vetiver (Vetiveria zizanioides) em Raízes Nuas e Produzidas em Saquinhos de Polietileno Plantadas em Diferentes Espaçamentos influenced by plant spacing. ii) the plants from seedlings of vetiver grown in polyethylene bags have survival rate and diameter at ground level higher than those planted directly in the field (bare root) and iii) seedlings grown in bare root initially have lower values of height, however after a certain period of time these seedlings reach similar or higher values than those submitted by seedlings grown in polythene bags. Keywords: Protection of slopes, diameter at ground level, survival rate, plant height, seedling production. INTRODUÇÃO O solo, substrato básico a sobrevivência das plantas suporta sobre sua superfície os mais diversos usos para satisfazer as necessidades humanas de obter fonte para seu sustento e sobrevivência. Os usos do solo trazem alterações drásticas em suas características físicas decorrentes da exposição do mesmo as águas de precipitação que originam as erosões (Bertoni & Lom-bardi Neto, 1990). A erosão hídrica, em sua maioria, é o resultado das águas que escoam sobre as encostas, causando o arraste de partículas de solo e material orgânico para regiões mais baixas da paisagem/encosta. A encosta quando desprotegida, apresentando superfície nua, sem estrutura que contenha a força das águas fica propicia ao processo de erosão. Com o início do processo erosivo a desestabilização do solo aumenta pois a derivação do solo leva consigo não apenas material superficial, carregando também grande parte da matéria orgânica integrante deste solo (Bertoni & Lombardi Neto, 1990). Moreira (2006) destaca que a degradação é um processo induzido pelo homem ou por acidente natural que diminui a atual e futura capacidade produtiva do ecossistema. Segundo Castro (2007), a principal forma de degradação do solo constitui-se do processo erosivo. Caputi (1997) destaca que no mundo inteiro a perda de solos cultivados em decorrência do arraste de partículas por águas provenientes de precipitações representa milhões de toneladas por ano. Isso provoca o empobrecimento dos terrenos cultivados, tornando-os cada vez mais improdutivos, numa época em que a população mundial aumenta significativamente, e a demanda por alimentos, conseqüentemente, também aumenta (Pereira, 2006). Além dos prejuízos econômico-ambientais, os processos erosivos podem afetar diretamente a sociedade. Grandes cidades sofrem com o mau planejamento que amplia as possibilidades de crescimento descontrolado, normalmente dando margem para que a cidade cresça em direção as encostas. O fato real de que cidades são fundadas ao pé de encostas traz diversas conseqüências, pois com o início das chuvas as áreas 58 de encostas ficam instáveis a tal ponto que ocasionam deslizamentos que levam até a margem dos rios tudo que está à sua frente, casas, carros quando não vidas. A utilização de plantas para estabilização de solos caracteriza-se como uma técnica de baixo custo quando comparado com as grandes obras de bioengenharia (Martinho, 2005). Desta forma, o capim vetiver apresenta-se como uma boa opção de planta pioneira na reabilitação e estabilização de solos, pois possuí uma enorme capacidade de sobreviver à secas prolongadas uma vez que suas raízes atingem uma enorme profundidade lhe proporcionando retirar água do solo mesmo nas épocas de estiagem, alem de apresentarem grande capacidade em estabilizar solos sujeitos ou sofrendo processos erosivos e com déficit nutricional aumentando o poder de agregação do solo (Castro, 2007). O vetiver é usado na conservação de solos agrícolas, estabilização de locais inclinados, reabilitação de solos salinos e contaminados, como barreira efetiva para controle de erosão e sedimentos (Truong & Hart, 2001). Segundo Pereira (2006), o capim vetiver apresenta rápido crescimento em altura e diâmetro. Este bom crescimento se deve principalmente a capacidade da planta em aproveitar melhor o nitrogênio incorporado ao solo. O vetiver se adapta às mais diversas e inóspitas condições edafoclimáticas, assim sendo se desenvolve onde nenhuma outra planta sobreviveria (Truong, 2000). Extremamente rústica, o vetiver é simultaneamente hidrófilo e xerófilo, além de resistir a extremos hídricos (300–3.000 mm/ano), também tolera extremos térmicos (-14ºC a +55ºC). O vetiver vegeta em praticamente qualquer tipo de terreno, tolerando solos de baixa fertilidade, e com valores extremos de pH (3-10), salinidade e toxidez. Caso venha a ser enterrado, pelo deslocamento e o acumulo de sedimentos, os nós do capim vetiver emitem novas raízes, que nivelam a planta com a nova superfície do terreno. Neste sentido o objetivo do presente trabalho foi avaliar a sobrevivência e o desenvolvimento de mudas de capim vetiver (V. zizanioides) em raízes nuas e produzidas em saquinhos de polietileno plantadas em diferentes espaçamentos, visando-se futuros projetos de proteção de encostas com esta gramínea. MATERIAIS E MÉTODOS Caracterização da área O experimento foi instalado em uma encosta experimental com declividade média de 30º e rampa de 6m. As mudas de capim vetiver (V. zizanioides) foram plantadas em 9 espaçamentos conforme demonstra a tabela 1. Revista Agroambiental - Agosto/2011 Tabela 1. Espaçamentos de plantio utilizados no experimento Espaçamentos Entre Linhas (m) Entre plantas (m) 1x0,15 1 0,15 1x0,30 1 0,30 1x0,45 1 0,45 1,5x0,15 1,5 0,15 1,5x0,30 1,5 0,30 1,5x0,45 1,5 0,45 2x0,15 2 0,15 2x0,30 2 0,30 2x0,45 2 0,45 O município de Inconfidentes localiza-se no sul do estado de Minas Gerais e apresenta altitude média de 855m e posição geográfica de latitude S 22° 19” 00’e longitude W 46° 19” 40’. O clima da região, segundo a classificação de KOËPPEN é do tipo tropical úmido (CWb), com duas estações definidas: chuvosa (outubro a março) e seca (abril a setembro), com médias anuais de 1.800mm e 19ºC de precipitação e temperatura, respectivamente. foram: Os parâmetros mensurados no experimento i) taxa de sobrevivência das mudas, sendo determinada com base no número de mudas existentes na área 60 dias após o plantio em relação ao número de mudas plantadas. ii) altura das plantas a cada 30 dias (Figura 1A). iii) diâmetro ao nível do solo das plantas a cada 30 dias (Figura 1B). Os parâmetros altura e diâmetro das plantas foram determinados no período de 150 a 270 dias após o plantio, com auxilio de fita métrica e paquímetro digital, respectivamente, totalizando 5 medições. Todos os parâmetros mensurados foram avaliados em função do espaçamento de plantio e do tipo de muda utilizada. Figura 1. A) Avaliação da altura das plantas de vetiver, com fita métrica. B) Avaliação do diâmetro ao nível do solo das plantas de vetiver com auxílio de paquímetro digital. Experimento 1 – Efeito do espaçamento de plantio Para avaliar o efeito do espaçamento de plantio em plantas de capim vetiver foi utilizado o delineamento experimental em blocos casualizados, sendo 9 tratamentos (espaçamentos, conforme tabela 1) e 3 blocos/ repetições. A área de cada parcela é de 15 m2, sendo 2,5m de largura por 6m de comprimento. Para controlar o efeito dos diferentes tratamentos deixou-se uma bordadura com plantas de 0,5m nas laterais de cada parcela,totalizando uma área útil de 9 m2(Figura 2). 59 Avaliação da Sobrevivência e do Desenvolvimento de Mudas de Capim Vetiver (Vetiveria zizanioides) em Raízes Nuas e Produzidas em Saquinhos de Polietileno Plantadas em Diferentes Espaçamentos Figura 2. Croqui de um bloco do experimento: A) Bloco com as 9 parcelas dos diferentes espaçamentos. B) Parcela de 15 m2, bordadura de 0,5 m nas laterais da parcela e área útil de 9 m2. Experimento 2 – Efeito do tipo de muda Para avaliar o efeito do tipo de muda foram utilizados dois tratamentos, sendo mudas em raízes nuas e mudas produzidas em saquinhos de polietileno (Figura 3), com 320 repetições (plantas). Figura 3. Mudas de vetiver: A) Produzidas em saquinhos de polietileno. B) Produzidas em raízes nuas. As mudas de saquinhos foram selecionadas e padronizadas a partir de matrizes de qualidade, fazendo-se o uso de substrato composto por esterco bovino previamente curtido e terra de barranco. As mudas ficaram no viveiro de mudas do IFSULDEMINAS - Campus 60 Inconfidentes por 90 dias e em seguida foram plantadas na encosta experimental. Já as mudas em raízes nuas foram desmembradas de matrizes de qualidade e plantadas diretamente na encosta experimental (Figura 4). Revista Agroambiental - Agosto/2011 Figura 4. Plantio das mudas na encosta experimental, Inconfidentes/MG. Análise estatística A análise dos dados dos parâmetros mensurados foi realizada por meio da análise de variância (ANOVA) e as médias dos dados foram comparadas pelo teste de Tukey, ao nível de 5% significância, usando-se o programa SISVAR 4.3 (Ferreira, 2000). RESULTADOS E DISCUSÃO Experimento 1 – Efeito do espaçamento de plantio Taxa de sobrevivência Os diferentes espaçamentos de plantio estudados não apresentaram influência significativa na taxa sobrevivência das mudas de vetiver, conforme demonstrado pela tabela 2. Tabela 2. Taxa de sobrevivência de mudas de vetiver sob diferentes espaçamentos, Inconfidentes/MG. Espaçamento (m) 2 x 0,45 Taxa de sobrevivência (%) 2 x 0,30 89,81 a 1,5 x 0,15 91,48 a 1,5 x 0,30 93,33 a 1 x 0,45 93,88 a 1,5 x 0,45 94,29 a 1 x 0,30 94,71 a 1 x 0,15 95,23 a 2 x 0,15 96,76 a CV 5,29% 85,72 a Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey (P<0,05). Altura das plantas A altura das plantas de capim vetiver não apresentou diferença significativa em função do espaçamento de plantio ( Tabela 3 ). Isso se deve ao fato de que as plantas de vetiver por conter um sistema radicular muito profundo, que segundo Pereira (2006) pode alcançar 3 metros de profundidade, não competem entre si mesmo em diferentes espaçamentos. 61 Avaliação da Sobrevivência e do Desenvolvimento de Mudas de Capim Vetiver (Vetiveria zizanioides) em Raízes Nuas e Produzidas em Saquinhos de Polietileno Plantadas em Diferentes Espaçamentos Tabela 3. Altura, em metros, das plantas de capim vetiver, dos 150 aos 270 dias após o plantio em diferentes espaçamentos, Inconfidentes/MG. Idade (dias) Crescimento no Período (m) Espaçamento (m) 150 180 210 240 270 1 x 0,15 0,66 a 0,76 a 0,92 a 1,25 a 1,32 a 0,66 a 1 x 0,30 0,62 a 0,85 a 0,96 a 1,26 a 1,36 a 0,74 a 1 x 0,45 0,52 a 0,65 a 0,79 a 1,00 a 1,15 0,63 a 1,5 x 0,15 0,67 a 0,80 a 0,86 a 1,06 a 1,25 0,58 a 1,5 x 0,30 0,70 a 0,89 a 0,94 a 1,15 a 1,22 0,52 a 1,5 x 0,45 0,69 a 0,83 a 0,94 a 1,18 a 1,27 0,58 a 2 x 0,15 0,63 a 0,81 a 0,88 a 1,08 a 1,19 0,56 a 2 x 0,30 0,48 a 0,61 a 0,78 a 1,04 a 1,18 0,70 a 2 x 0,45 0,53 a 0,65 a 0,80 a 0,97 a 1,12 0,59 a CV (%) 17,19 14,63 10,34 16,90 14,27 13,34 Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey (P<0,05). Diâmetro das plantas O diâmetro ao nível do solo das plantas em função do espaçamento de plantio não apresentou diferença estatística para nenhum dos espaçamentos testados. Destaca-se que todos os espaçamentos testados apresentaram crescimento similar (Figura 5). Estes resultados são importantes do ponto de vista de proteção do solo pelas plantas. Conforme descrito por Truong & Hart (2001), quanto maior diâmetro ao nível do solo maior a capacidade de retenção de sedimentos da planta. Estes resultados demonstram que o plantio de vetiver em encostas inclinadas pode ser efetuado levando-se em consideração as necessidades do projeto, ou seja, em caso de necessidade de cobertura do solo mais rápida, deverão ser utilizados espaçamentos menores, e caso a necessidade seja por um menor custo de proteção, poderão ser utilizados espaçamentos de plantio maiores, que empregam menos mudas, insumos e mão de obra. Desta forma, em ambas as situações o diâmetro ao nível do solo das plantas terá comportamento similar. Figura 5. Diâmetro ao nível do solo, em milímetros, das plantas de capim vetiver, dos 150 aos 270 dias após o plantio em diferentes espaçamentos, Inconfidentes/MG. 62 Revista Agroambiental - Agosto/2011 Experimento 2 – Efeito do tipo de muda ferença significativa (Tabela 4), onde o plantio de mudas em raízes nuas apresentou taxa de sobrevivência Taxa de sobrevivência inferior (86,85%) às mudas previamente preparadas em Quanto ao tipo de muda, pode-se observar di- saquinhos de polietileno (95,76 %). Tabela 4. Taxa de sobrevivência de mudas de vetiver em raízes nuas e produzidas em saquinhos de polietileno, Inconfidentes/MG. Tipo de Muda Mudas em Saquinhos de polietileno Mudas em “Raizes Nuas” CV Taxa de Sobrevivência (%) 95,76 a 86,85 b 7,30% Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey (P<0,05). Altura das plantas Estes resultados estão relacionados ao fato das mudas em saquinhos de polietileno já estarem enraizadas e aclimatadas no momento do plantio, tendo, portanto, maiores condições e meios de sobreviver no campo quando comparadas as mudas em raízes nuas que não passam por este processo. Pereira (2006) referenciou os benefícios de utilizarem-se mudas de vetiver enraizadas em saquinhos, dado a uma maior taxa de pegamento, apesar do aumento do custo de plantio. Entretanto destacam-se os dois tipos de mudas apresentaram taxa de sobrevivência satisfatória, estando acima de 85%. As plantas de capim vetiver, provenientes de mudas em raízes nuas, inicialmente possuem desenvolvimento em altura inferior àquelas produzidas em saquinhos de polietileno, entretanto, com o passar do tempo, aos 240 dias após o plantio, o valor da altura destas mudas alcançam estatisticamente aquelas produzidas em saquinhos de polietileno, podendo inclusive ultrapassá-las (Tabela 5, Figura 6). No período analisado, as plantas provenientes de mudas em raízes nuas destacaram-se com o maior crescimento no período, sendo 0,70m, não diferindo estatisticamente das mudas produzidas em saquinhos que obtiveram crescimento de 0,61m (Tabela 5). Tabela 5. Altura, em metros, de plantas de capim vetiver, dos 150 aos 270 dias após o plantio das mudas em raízes nuas e produzidas em saquinhos de polietileno, Inconfidentes/MG. Idade (dias) Crescimento no Período (m) Espaçamento (m) 150 180 210 240 270 Saquinhos 0,57 a 0,71 a 0,83 a 1,09 a 1,18 a 0,61 a Raizes Nuas 0,50 b 0,62 a 0,71 b 1,00 a 1,20 a 0,70 a CV (%) 10,51 13,96 11,71 17,79 13,20 13,98 63 Avaliação da Sobrevivência e do Desenvolvimento de Mudas de Capim Vetiver (Vetiveria zizanioides) em Raízes Nuas e Produzidas em Saquinhos de Polietileno Plantadas em Diferentes Espaçamentos Figura 6. Altura (m) e desvio padrão de plantas de capim vetiver, dos 150 aos 270 dias após o plantio das mudas em raízes nuas e produzidas em saquinhos de polietileno, Inconfidentes/MG. Diâmetro das plantas O diâmetro ao nível do solo em função do tipo de muda apresentou diferença estatística apenas aos 270 dias, conforme demonstra a tabela 6. Observa-se que em todo o período analisado as mudas produzidas em saquinhos de polietileno apresentaram diâmetro ao nível do solo superior àquelas em raízes nuas. Estes resultados relacionam-se com os apresentados pela análise da taxa de sobrevivência das mudas, onde as mudas de vetiver produzidas em saquinhos de polietileno apresentam taxa de sobrevivência no campo superior àquelas plantadas diretamente no campo (raízes nuas). Tabela 6. Diâmetro ao nível do solo, em milímetros, das plantas de capim vetiver, dos 150 aos 270 dias após o plantio das mudas em raízes nuas e produzidas em saquinhos de polietileno, Inconfidentes/MG. Idade (dias) Crescimento no Período (m) Espaçamento (m) 150 180 210 240 270 Saquinhos 30,94 a 32,49 a 33,41 a 57,39 a 79,40 a 48,46 a Raizes Nuas 25,85 a 27,11 a 28,66 a 46,50 a 61,41 b 35,56 a CV (%) 30,14 29,14 29,07 26,90 15,28 16,43 Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey (P<0,05). Destaca-se que aos 270 dias após o plantio, o diâmetro ao nível do solo das mudas de saquinhos de polietileno (79,40 mm) diferiu estatisticamente das mudas produzidas em raízes nuas (61,41 mm) fato este que demonstra um aumento em diâmetro ao nível do solo maior em mudas produzidas em saquinho de polietileno em relação às mudas de raízes nuas. CONCLUSÕES A taxa de sobrevivência, diâmetro ao nível do solo e altura das plantas de vetiver não são influenciados pelo espaçamento de plantio. As plantas provenientes de mudas de vetiver produzidas em saquinhos de polietileno apresentam taxa de sobrevivência e diâmetro ao nível do solo superior àquelas plantadas diretamente no campo (raízes nuas). Mudas produzidas em raízes nuas inicialmente apresentam menores valores de altura, entretanto após certo período de tempo estas mudas atingem valores similares ou maiores que os apresentados por mudas produzidas em saquinhos de polietileno. AGRADECIMENTOS À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) pelo apoio financeiro ao projeto e bolsa de iniciação científica do quarto autor. Ao IFSULDEMINAS – Campus Inconfidentes e seus servidores por todo o apoio de infra-estrutura e mão de obra. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BERTONI, J.; LOMBARDI NETO, F. Conservação do solo. São Paulo, 2. ed., Ícone, 1990. 355p. 64 CAPUTI, J. Manejo e conservação do solo e da água em pastagens. In: SIMPÓSIO SOBRE ECOSSISTEMAS DE PASTAGENS, 3., 1997, Jaboticabal. Anais... 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PEREIRA, A.R. Uso do vetiver na estabilização de taludes e encostas. Boletim técnico, Deflor Bioengenharia, ano 1 n.03, Set., 2006. TRUONG, P.N. HART, B. Sistema Vetiver para tratamento de águas residuais. Boletim Técnico No. 2001 / 2. Rede Vetiver para as Orlas do Pacifico. Royal Projetos Admistrativos de Desenvolvimento, Bangkok, Tailândia., 2001. Revista Agroambiental - Agosto/2011 Caracterização da Frota Pesqueira de Coari, Médio Rio Solimões (Amazonas – Brasil) Sandrelly Oliveira Inomata, PPG Ciências Pesqueiras nos Trópicos, Universidade Federal do Amazonas, [email protected], Carlos Edwar de Carvalho Freitas, Departamento de Ciências Pesqueiras, Universidade Federal do Amazonas, [email protected]. RESUMO Os aspectos físicos, operacionais e econômicos da frota pesqueira no município de Coari, situado na região do Médio Rio Solimões (Estado do Amazonas), foram analisados por meio de dados coletados diretamente no porto de desembarque e dados secundários no período de setembro de 2008 a outubro de 2009 obtidos junto às entidades de classe ligadas à atividade pesqueira. A frota pesqueira do município de Coari foi composta, em sua maioria, por canoas motorizadas (7,6 m ±1,29), e por barcos pesqueiros com média de comprimento de 12,8 m (±1,94). Os lagos Coari e Juçara foram os principais locais de captura do pescado. A malhadeira foi o apetrecho de pesca mais utilizado durante as expedições. As principais espécies capturadas foram as da ordem Characiforme, jaraqui (Semaprochilodus spp.), pacu (Mylossoma duriventre, Myleus sp.), sardinha (Triportheus spp.) e curimatã (Prochilodus nigricans). O componente dos custos mais oneroso durante as pescarias de canoas motorizadas foi o combustível. Estes resultados podem subsidiar a elaboração de políticas de investimento e medidas adequadas de manejo para melhoria da atividade pesqueira na região de Coari. Palavras-chave: desembarque pesqueiro, rendimento econômico, Coari, Médio Rio Solimões. Characterization of the Fishing Fleet of Coari, Middle Stretch of the Solimões River (Amazonas – Brazil) ABSTRACT The physical, operational and economic features of the fishing fleet that landed in the municipality of Coari, Middle Solimões River (State of Amazonas), were analyzed using data collected of fish landing and through secondary data obtained from federal institutions and the Amazonas Association of Fishermen. The data collections were from September 2008 to October 2009. The fishing fleet of Coari was composed mostly by motorized canoes (7,6 m ±1,29) and fishing boats with length mean of 12,8 m (±1,94). Lake Coari and Lake Juçara were the main fishing ground for catching the fish. The gillnets were the most commonly used fishing gear during fishing expeditions. Characids as the jaraqui (Semaprochilodus spp.), pacu (Mylossoma duriventre, Myleus sp.), sardines (Triportheus spp.) and curimatã (Prochilodus nigricans) were the most exploited fish. Due motorized canoes, the fuel was the most expensive component for the fisheries expeditions. This results helps to elaborate several investment polices to improve the productive capacity and management fisheries. Key-words: fishing landings, economic revenue, Coari, Middle Solimões River. INTRODUÇÃO A pesca é uma das atividades mais importantes na região amazônica. Seu exercício envolve direta ou indiretamente 200.000 pessoas, tanto moradores da zona rural quanto da zona urbana, que têm à atividade como fonte de renda principal ou complementar (Fisher et al., 1992). Sendo extremamente importante para o desenvolvimento da região (Bittencourt & Cox-Fernandes, 1990) e para o abastecimento dos grandes centros urbanos (Batista, 1998; Santos & Ferreira, 1999). A pesca continental da Amazônia apresenta baixo nível de inovação tecnológica. As principais tecnologias incorporadas à pesca remontam as décadas de 60 e 70, quando a introdução de redes confeccionadas com linhas de náilon, o uso de motores a diesel e de caixas de isopor nas embarcações pesqueiras proporcionaram maior poder de captura (Marrul Filho, 2003), permitindo pescarias de maior duração e em locais mais distantes da base (Mérona, 1993; Batista et al., 2004; Batista & Petrere, 2003). 65 Caracterização da Frota Pesqueira de Coari, Médio Rio Solimões (Amazonas – Brasil) A despeito da importância da pesca regional, ainda são poucas as informações sobre a dinâmica das pescarias que ocorrem em determinadas regiões da Amazônia. Nesse sentido, estudos como a caracterização da frota pesqueira, visando avaliar o potencial da atividade de uma determinada região, como é o caso da frota do município de Coari no Estado do Amazonas, constituem passos importantes para avaliar o status da pesca como atividade geradora de emprego e renda, sendo essenciais na previsão dos impactos positivos e negativos causados pela atividade que possam influenciar sua produtividade. A maior parte da riqueza gerada no município é proveniente da exploração e produção de gás natural e petróleo, levando Coari à categoria de quarto município mais rico do Norte brasileiro e o segundo do estado do Amazonas (IBGE, 2007). Ao mesmo tempo, esta riqueza vem resultando em um rápido crescimento populacional com consequente aumento na pressão sobre os recursos naturais, em especial os pesqueiros. Diante ao exposto, o presente trabalho apresenta os aspectos físicos, operacionais e econômicos da frota pesqueira que atua no município de Coari, região do Médio Rio Solimões, Estado do Amazonas, básicos para o entendimento da dinâmica da pesca nesta região. Tais informações podem subsidiar a elaboração de políticas de investimento, visando melhorar a capacidade produtiva do setor e medidas de manejo adequadas à promoção da sustentabilidade dos estoques pesqueiros. MATERIAL E MÉTODOS Área de estudo Este estudo foi realizado no município de Coari, situado na região do Médio Rio Solimões, no Estado do Amazonas (Figura 1). O município possui área geográfica de 57.277,90 Km2, distante 362,4 Km em linha reta de Manaus (IBGE, 2007). Coari está localizada entre os lagos Coari e Mamiá, e tem à sua frente o Rio Solimões. Figura 1: Mapa de localização do município de Coari, Amazonas, Brasil. Fonte: Base de dados IBGE 2010. Coleta dos dados Os dados foram coletados por meio de entrevistas realizadas com os pescadores no período de outubro de 2008 a setembro de 2009. Neste período, foram aplicados 210 questionários estruturados aos proprietários ou encarregados dos barcos de pesca e, pescadores ou 66 marreteiros que desembarcaram pescado naquele período e que faziam parte da frota atuante no município de Coari. As informações versaram sobre: i) tipo de embarcação (canoa ou barco); ii) características físicas da embarcação (comprimento (m), motor (HP) e combustível) e; iii) características das pescarias (apetrechos de Revista Agroambiental - Agosto/2011 de pesca utilizados, local da pesca e espécies capturadas). Para identificar os custos envolvidos nas expedições de pesca foram coletados dados sobre custos variáveis: combustível e gelo, custos fixos: manutenção, depreciação do bem e taxas, incidentes nas etapas de produção e comercialização. A produção de pescado por embarcação foi estimada com base na quantidade informada pelo pescador e no peso médio das espécies. Para cálculo da receita das pescarias foi utilizada a informação do preço médio do quilograma de pescado vendido ao consumidor, coletado em registro mensal no mercado municipal. Para o levantamento do número de embarcações e do número de pessoas ligadas à atividade, dados secundários foram coletados nas instituições ligadas a atividade pesqueira (Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas- IDAM, Colônia Z-56 e Sindicato de Pescadores do município de Coari). Os dados relacionados ao período do ciclo hidrológico (nível do rio), com o desembarque pesqueiro e frequência das principais espécies explotadas foram referenciados às cotas da estação de Itapeuá, na calha do Solimões, próximo ao município de Coari (ANA/CPRM, 2010). Análise dos dados Os dados foram armazenados em planilhas eletrônicas e em seguida analisados por meio de estatística descritiva, para obtenção das frequências de ocorrência e medida de tendência central (média) e medida de dispersão dos dados (desvio padrão) (Zar, 2009). Os estudos econômicos relativos aos custos, receita e lucro das expedições de pesca foram calculados como: 1) Custos Variáveis (CV) = consumo de combustível + consumo de gelo; 2) Custos Fixos (CF) = custos envolvendo as despesas com manutenção da embarcação (ME) (casco e motor) + manutenção de apetrechos (MA) de pesca + depreciação do bem (DE) + taxas (TX). O cálculo da receita das expedições de pesca foi efetuado usando a quantidade de pescado capturado por espécie multiplicada pelo preço médio de comercialização do quilo do pescado. O lucro foi obtido da dedução dos custos fixos e variáveis da receita no período, sendo L = R – Ct. Não foi possível realizar os cálculos econômicos para os barcos pesqueiros, em virtude da falta de dados para permitir uma análise em todos os períodos do ciclo hidrológico, pois os barcos pesqueiros só atracaram no porto de desembarque durante o período de cheia. RESULTADOS E DISCUSSÃO A frota pesqueira sediada no município de Coari foi composta por dois tipos de embarcações: canoas motorizadas e barcos pesqueiros de pequeno e médio porte. De acordo com dados fornecidos pela Colônia Z-56 e pela Associação dos Pescadores, a pesca foi desenvolvida por 51 barcos e por aproximadamente 1.900 canoas motorizadas, incluindo mais de 2.000 pescadores artesanais. Foram realizadas entrevistas com 210 pescadores, registrando informações de 170 canoas motorizadas e 40 barcos pesqueiros de pequeno e médio porte. O numero proporcionalmente baixo de canoas motorizadas incluídas na amostra reflete o uso múltiplo destas embarcações, pois apesar de registradas nas associações da categoria como embarcações de pesca, elas são usadas indistintamente para transporte de pessoas e mercadorias. A média de comprimento das canoas motorizadas foi de 7,6 m (±1,29), com amplitude variando entre 4 e 10 m. Os barcos pesqueiros apresentaram média de comprimento de 12,8 m (±1,94) com amplitude variando entre 10 e 17 m. Corroborando com estudo já realizado no município de Coari por Corrêa (2009), os dados físicos relacionados aos tamanhos das embarcações da frota se assemelham aos de outras regiões já estudadas na Amazônia (Batista, 2003; Cardoso et al., 2004; Isaac et al., 2008; Gonçalves & Batista, 2008). Quanto a potência, as canoas motorizadas apresentaram motores de propulsão com potência variando entre 5,0 a 5,5 HP, sendo que mais de 60 % tinham potência de 5,5 HP. Em relação aos barcos, a amplitude foi de 5,5 a 110 HP, tendo como valor modal a potência de 25 HP. O combustível utilizado pelas embarcações variou com o tipo de motor, sendo a gasolina utilizada em 81 % dos motores e o diesel em 19 %. Ainda que com limitada capacidade de armazenamento (450 kg), os desembarques das canoas motorizadas apresentaram o maior percentual do total dos desembarques no município. Devido à possibilidade de acesso das canoas motorizadas a um maior número de ambientes, como as áreas inundadas, inacessível aos barcos até mesmo durante a cheia. Desembarques efetuados por pescadores de canoas motorizadas foram igualmente identificados no Baixo Rio Amazonas (Isaac et al., 2004). A ausência de registros de canoas a remo durante o estudo pode estar relacionada com a utilização destas como embarcações auxiliares durante as expedições dos barcos pesqueiros (Faria Júnior & Batista, 2006). Os barcos pesqueiros desembarcam no mercado municipal de Coari somente no período da cheia, porém, realizam expedições durante todo o ano. Nos outros períodos os barcos atuam como armazenadores de pescado. Batista et al., (2007) já havia descrito esta multifuncionalidade para embarcações deste tipo na calha do Solimões-Amazonas. Os pescadores da região de Coari citaram mais de 200 locais de pesca. O local de pesca que 67 Caracterização da Frota Pesqueira de Coari, Médio Rio Solimões (Amazonas – Brasil) apresentou maior frequência de utilização foram os lagos (51,3 %), seguido dos rios (32,8 %) e da foz de rio (6,1 %). Sendo que os lagos Coari e Juçara foram os mais citados. Portanto, os pescadores de Coari demonstraram grande preferência pelas pescarias nos lagos da planície adjacente, como foi descrito para o Baixo Rio Amazonas (Cerdeira & Ruffino, 2000; Almeida et al., 2004). Uma característica peculiar observada no período do estudo foi à ausência de expedições de pesca em igarapés, especialmente no período de seca, quando esse tipo de ambiente é explotado com maior frequência por pescadores de canoas motorizadas de outras regiões da Amazônia (Cardoso & Freitas, 2007). Na região amazônica, as espécies-alvo das pescarias comerciais são preferencialmente peixes da ordem Characiformes (Batista et al., 2004; Santos & Santos, 2005). Os dados do presente estudo corroboraram este padrão. As espécies com maior frequência nas pescarias foram: jaraquis (Semaprochilodus spp.) (31,71 %), pacus (várias espécies de Myleinae) (22,03 %), sardinha (Triportheus spp.) (13,33 %) e curimatã (Prochilo-dus nigricans) (13,22 %), os quais representaram mais de 80 % do total. O jaraqui é a espécie mais popular pela grande aceitação e consumo pelas populações de baixa renda. Este faz parte do grupo de espécies que realizam migrações sazonais com fins reprodutivos, trófico ou de dispersão, conforme o nível do rio e cumprem parte de seu ciclo de vida nos lagos, no período de enchente, onde se alimentam e crescem intensamente (Ribeiro, 1983). Foi identificada a participação expressiva de espécies sedentárias e que habitam preferencialmente ambientes lênticos, como tucunaré (Cichla spp.) e aruanã (Osteoglossum bicirrhosum). Isso pode ter ocorrido devido à elevada utilização dos lagos durante as capturas dos pescadores comerciais, fato já destacado por Cardoso & Freitas (2007) para as pescarias realizadas pelos pes- cadores de canoas motorizadas na região do médio rio Madeira. Sete apetrechos de pesca foram utilizados pela frota pesqueira do município de Coari. A malhadeira, a rede, a tarrafa e tramalha foram consideradas os mais eficientes pelos pescadores. Dentre estes, o principal apetrecho de pesca utilizado nas capturas efetuadas pela frota pesqueira foi a malhadeira (84 %). A preferência pela malhadeira pode ser atribuída por este aparelho ser amplamente utilizado em pescarias de pequena escala, além do baixo custo em termos de aquisição e do pouco trabalho que o mesmo exige para a sua utilização (Reis & Pawson, 1992). Segundo Freitas et al., (2002), os apetrechos de pesca são usados de acordo com a época do ano e espécie a ser capturada. A pesca comercial realizada no município de Coari pode ser caracterizada como multiaparelhos, em função dos diferentes tipos de aparelhos de pesca utilizados pelos pescadores. A análise dos custos, receita e lucro da atividade pesqueira foi baseada nos registros de 290 pescarias de canoas motorizadas. As canoas motorizadas tiveram uma produção média de pescado de 232,03 kg (±139,13). Resultando em uma receita média de R$ 388,54 (±161,29) e um lucro médio de R$ 341,61 (±159,92), a atividade apresentou uma lucratividade em torno de 89 %. A partir das informações fornecidas pelos pescadores os custos fixos foram estimados, estes independem da produção atingida pelas expedições de pesca. Os pescadores informaram o valor estimado referente à manutenção das embarcações, incluindo os custos de manutenção do casco, motor e apetrechos de pesca, nos permitindo gerar uma média dos valores. Para o casco da embarcação e para o motor de propulsão a depreciação foi calculada considerando o preço de mercado e o tempo de vida útil dos bens (Tabela 1). Tabela 1: Custos fixos (R$) estimados para as canoas motorizadas do município de Coari, Médio Rio Solimões, Amazonas. Custos (R$) Custos fixos de canoas motorizadas Manutenção Depreciação Taxas Valor* (R$) Vida útil (anos) Anual Diário Anual Diário Diário Motor (5,5hp) 940,00 10 47,00 0,13 94,00 0,26 0,49 Casco (8 m) 2.400,00 10 120,00 0,33 240,00 0,66 - Apetrechos de pesca (diversos) 600,00 5 30,00 0,08 120,00 0,33 - 3.340,00 - 197,00 0,55 454,00 1,24 0,49 Total *valor unitário Fonte: IDAM/Coari (2010). 68 Revista Agroambiental - Agosto/2011 Os custos fixos variaram em valores mensais, semestrais e anuais e, por isso, os mesmos foram divididos pela quantidade de dias no ano e convertidos em valores diários. Os custos variáveis estão diretamente relacionados a quantidade de trabalho envolvida na produção de pescado, quanto maior a duração das pescarias e a distancia dos pesqueiros, maiores serão os custos referentes ao gelo e ao combustível. Diante disso, o custo total das pescarias realizadas por canoas motorizadas apresentou valores médios de R$ 44,38 (±6,71). A des- pesa referente ao combustível (76,64 %) foi a mais onerosa na composição dos custos das pescarias, refletindo a importância da decisão de escolher o local de pesca para o resultado liquido das pescarias de pequena escala da Amazônia. O custo médio das expedições de pesca na cheia foi mais elevado do que nos demais períodos, enquanto que o lucro médio das pescarias nos períodos de enchente e cheia (época da safra) foi maior do que o das pescarias nos períodos de vazante e seca (época da entressafra) (Figura 2). Figura 2: Valores médios da produção, custo e lucro das canoas motorizadas em relação ao nível hidrológico (cm) no município de Coari. O pulso de inundação, isto é, às grandes variações do nível das águas entre 8 as épocas de seca e cheia, é um fator controlador do ecossistema das várzeas Amazônicas (Junk et al., 1989), influenciando os processos de explotação da biota aquática. A atividade pesqueira é influenciada pelo regime das águas, pois este ajuda a determinar os períodos de safra e entressafra de pescado, ou seja, períodos de alta e baixa produtividade das pescarias. Consequentemente estes períodos influenciam os preços em função da elevada ou escassa oferta de pescado, pois quanto maior for a oferta, maior será a concorrência para repasse do produto ao consumidor a um preço mínimo. No entanto, a lucratividade da atividade é ainda influenciada pelas ocorrência diferenciada de espécies ao longo do ciclo hidrológico. CONCLUSÃO malhadeira foi o apetrecho de pesca mais utilizado durante as expedições. As principais espécies capturadas foram as da ordem Characiforme, jaraqui (Semaprochilodus spp.), pacu (Mylossoma duriventre, Myleus sp.), sardinha (Tripor-theus spp.) e curimatã (Prochilodus nigricans). O componente dos custos mais oneroso durante as pescarias de canoas motorizadas foi o combustível. De um modo geral, os aspectos físicos, operacionais e econômicos da frota pesqueira que desembarcou na região de Coari foram similares às frotas que atuam em outras regiões já estudadas na Amazônia (Batista, 2003; Cardoso et al., 2004; Isaac et al., 2008; Gonçalves & Batista, 2008). As análises apresentadas refletem as informações iniciais de um processo de coleta de dados que necessita ser contínuo a fim de subsidiar estratégias sustentáveis de manejo das pescarias amazônicas. A frota pesqueira do município de Coari foi composta, em sua maioria, por canoas motorizadas (7,6 m ±1,29), e por barcos pesqueiros com média de comprimento de 12,8 m (±1,94). Os lagos Coari e Juçara foram os principais locais de captura do pescado. A Agradecemos aos pescadores de Coari pela disponibilidade em nos conceder informações. A Edilsa (coletora), ao seu Sebastião (administrador do Mercado Municipal), ao IDAM/Coari, à Colônia Z-56 e AGRADECIMENTOS 69 Caracterização da Frota Pesqueira de Coari, Médio Rio Solimões (Amazonas – Brasil) Associação dos Pescadores do município. À Petrobras e FINEP pelo apoio financeiro recebido por meio do Projeto PIATAM IV e ao CNPq pela concessão da bolsa de iniciação científica. CARDOSO, R.S. & FREITAS, C.E.C. A pesca de pequena escala no rio Madeira pelos desembarques ocorridos em Manicoré (Estado do Amazonas), Brasil. Acta Amazonica, Manaus, v.38, n.04, p.781-787, 2008. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CERDEIRA, R.G.P. & RUFFINO, M.L. Fish catch among riverside communities around Lago Grande de Monte Alegre, Lower Amazon, Brazil. Fisheries Management Ecology, Oxford, v.07, p.355-374, 2000. ANA – Agência Nacional de Águas. Termo de Cooperação, CPRM/AM – Serviço Geológico do Brasil, 2010. ALMEIDA, O.T.; LORENZEN, K. & MCGRATH, D. 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Revista Agroambiental - Agosto/2011 Análise Comparativa entre Indicadores de Avaliação do Desenvolvimento Sustentável em Comunidades Ribeirinhas no Estado do Amazonas FRANDINEY DOS REIS FEIJÃO - Instituto Federal do Amazonas, Manaus/AM, Cep: 69020-120, frandiney@ifam. edu.br, [email protected]. ALEXANDRE ALMIR F. RIVAS – Departamento de Economia e Analise/UFAM, Manaus/AM, CEP: 69077-000, [email protected] RESUMO Os indicadores de desenvolvimento sustentável são instrumentos de avaliação essenciais para acompanhamento do progresso rumo ao Desenvolvimento Sustentável (DS). A importância da utilização desta ferramenta para a implementação de políticas públicas, baseadas no DS, ocorreu na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, em 1992. Desta forma, o objetivo deste trabalho foi realizar uma análise comparativa entre indicadores que avaliaram a evolução da Cidadania, Desenvolvimento, Renda e Pobreza em comunidades ribeirinhas no Estado do Amazonas, para verificar as similaridades e diferenças entre essas ferramentas, assim como, a eficácia enquanto instrumento de avaliação para a tomada de decisão na elaboração de politicas públicas. Os dados primários foram coletados na base de dados Piatam, e os secundários através pesquisa bibliográfica e documental, no período de 2008 a 2009. A análise comparativa foi realizada através da caracterização do Sistema de Indicadores Piatam (SIP); Descrição histórica, teórica e empírica dos indicadores de Cidadania (ICP), Desenvolvimento (ID), Renda e Pobreza (IRP); e Análise cruzada entre os indicadores considerando escopo, esfera, dados, participação, e interface para construção de uma visão crítica dos principais aspectos que os caracterizaram. Através dos resultados verificou-se que os indicadores são partes integrantes do SIP que evidenciou a dinâmica do desenvolvimento de comunidades na Amazônia a partir de três blocos de indicadores: socioeconômico; biótico e físico. As similaridades encontradas entre os indicadores de Cidadania, Desenvolvimento, Renda e Pobreza foram: nas dimensões abordadas - econômica e social; na esfera - local e individual; nos dados - quantitativos e altamente agregados; e na utilização da abordagem top down. As principais diferenças estão refletidas na metodologia, pois, enquanto, o ICP elaborou seu próprio método de avaliação considerado de fácil entendimento o ID e o IR adaptaram metodologias do âmbito internacional para o local, consideradas complexas. Os resultados dos indicadores também divergiram, enquanto o ICP e o IRP apresentaram resultados similares de bem estar o ID apresentou resultado acima da média. Estes indicadores podem ser considerados eficazes, pois, foram elaborados com dados de base sólida e metodologias que agrupam variáveis que refletem o bem estar de comunidades ribeirinhas na Amazônia. Desta forma, os resultados advindos destes instrumentos de avaliação podem influenciar o poder público na tomada de decisão para implementação de politicas públicas rumo ao desenvolvimento sustentável. PALAVRAS - CHAVE: Indicadores de desenvolvimento sustentável, Sistema de Indicadores Piatam, Comunidades Ribeirinhas, Amazônia. Comparative Analysis Among Sustainable Development Avaluation Indicators of Riberinhas Communities in the Amazonas State ABSTRACT Indicators of sustainable development are essential tools for assessment to monitor the progress towards Sustainable Development (SD). The importance of using this tool for the implementation of public policies based on SD, occurred in the United Nations Conference on Environment and Development in Rio de Janeiro in 1992. Thus, the objective of this study is to develop a comparative analysis of indicators that assessed the evolution of Citizenship, Development, Income and Poverty in ribeirinhas communities in Amazonas State. The study also aims to verify the similarities and differences among these tools, as well as its effectiveness as assessment tool for decision making in public policies development. Primary data were collected in the Piatam data base, and the secondary ones through literature research and documents from 2008 to 2009. The comparative analysis was performed by characterizing the Piatam Indicator System (PIS), historical, theoretical and empirical description, Citzenship indicators (PCI), Development indicators (DI), Income and Poverty (PIP) and cross-analysis between the indicators considering scope, sphere, data, participation, and interface to build a critical view of the main aspects that characterized them. Through the results it was evident that the indicators are part of the PIS which highlighted the dynamics of community development in the Amazonia region from three blocks of indicators: socioeconomic, biotic and physical. 71 Análise Comparativa entre Indicadores de Avaliação do Desenvolvimento Sustentável em Comunidades Ribeirinhas no Estado do Amazonas The similarities among Citizenship, Development, Income and Poverty indicators were: dimensions addressed - economic and social; sphere - local and individual; data - quantitative and highly aggregated; and the use of top down approach. The main differences are reflected in the methodology, because, while, CI has developed its own method of evaluation considered easy to understand the DI and RI adapted methodologies from the international to the local scope, which were considered complex ones. The results of the indicators also diverged, while the PCI and PIR presented similar results for the welfare, DI showed above average results. These results can be considered effective, since they were prepared with solid data base and methodologies that combine variables that reflect the well being of ribeirinha communities in the Amazonia region. Thus, the results arising from these assessment tools can influence the government in decision making for implementation of public policies towards sustainable development. institucional, as publicações adicionais foram em 2004 e 2008 (IBGE, 2008). KEYWORDS: Sustainable Development Indicators, Indicator System Piatam, Ribeirinhas Communities, Amazonia. Área de Estudo INTRODUÇÃO Os indicadores de desenvolvimento sustentável (IDS) são produtos de um sistema de informação que expressam os valores que a sociedade coloca em aspectos sociais, ambientais e econômicos do desenvolvimento sustentável ou da qualidade de vida nos níveis local, nacional e internacional (Sheng, 1997). Para o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) os IDS são instrumentos essenciais para guiar a ação e subsidiar o acompanhamento e a avaliação do progresso alcançado rumo ao desenvolvimento sustentável (IBGE, 2008). A elaboração de indicadores ambientais e de desenvolvimento sustentável iniciou-se na década de 1980 no Canadá e em alguns países da Europa. Mas, foi somente na Conferencia das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, em 1992, em decorrência da Agenda 21, que foi reconhecido o importante papel destes instrumentos para subsidiar a tomada de decisões baseados no desenvolvimento sustentável (Nações Unidas, 2007). A Comissão de Desenvolvimento Sustentável (CDS), das Nações Unidas organizou em 1995 um programa de trabalho para elaborar um sistema de indicadores com a missão de monitorar os avanços em direção ao desenvolvimento sustentável baseada no que está expresso nos princípios da Agenda 21 (Ribeiro, 2006; Bellen, 2007; Nações Unidas, 2007). No Brasil a primeira publicação de IDS foi em 2002 pelo IBGE e seguiram um marco ordenador proposto pela CDS das Nações Unidas, que os organizou em quatro dimensões: ambiental, social, econômica e 72 No Amazonas, para avaliar os complexos sistemas da Amazônia pesquisadores do Projeto Piatam , elaboraram, em 2007, o Sistema de Indicadores Piatam (SIP) demonstrados através dos diferentes processos: físicos, ecológicos, econômicos ou sociais dentro do contexto regional (Rivas et al., 2007). Desta forma, o objetivo deste trabalho foi realizar uma análise comparativa entre indicadores de desenvolvimento sustentável que avaliaram a evolução da Cidadania, Desenvolvimento, Renda e Pobreza em comunidades ribeirinhas no Estado do Amazonas, para verificar as similaridades e diferenças entre estas ferramentas, assim como, a eficácia destes indicadores enquanto instrumento de avaliação para a tomada de decisão na elaboração de politicas públicas. MATERIAL E MÉTODOS A área de estudo desta pesquisa é o trecho “linear” de, aproximadamente, 400 quilômetros, da Amazônia, contendo o rio Solimões e sua várzea, entre o município de Coari e a confluência dos rios Solimões e Negro, nas proximidades de Manaus. Nessa área estão situadas às comunidades Santa Luzia do Baixio, Nossa Senhora das Graças, Nossa Senhora de Nazaré, Bom Jesus, Santo Antonio, Matrixã, Lauro Sodré, Esperança II, Santa Luzia do Babaçuzinho, conforme Figura 1. Coleta de dados Para este estudo os dados primários foram coletados na base de dados Piatam, e os secundários através de uma extensa pesquisa bibliográfica e documental em sites especializados, livros, artigos e dissertação publicadas concernentes à temática estudada, no período de 2008 a 2009. A escolha do SIP ocorreu de forma intencional. No entanto, um dos critérios considerados ocorreu em função desse sistema ter sido desenvolvido para monitorar a realidade socioeconômica e ambiental de comunidades ribeirinhas na Amazônia que estão sofrendo externalidades advindas do processo de “desenvolvimento” da Amazônia a partir da construção de grandes obras (gasoduto Coari Manaus). Após a escolha do SIP foi selecionado dentro deste sistema uma amostra de indicadores que contemplasse diretamente a realidade dos moradores da área de estudo e optou-se por indicadores da dimensão socioeconômica porque segundo Rivas (2007) através de uma análise mais aprofundada é possível o entendimento sobre o bem estar dessas comunidades. Na seleção final foram escolhidos os indicadores de Cidadania, Desenvolvimento, Renda e Pobreza, considerados úteis por Rivas (2007), para avaliar o progresso Revista Agroambiental - Agosto/2011 das condições socioeconômicas das comunidades da área de estudo. Analise dos dados A metodologia utilizada neste estudo é uma síntese da análise comparativa desenvolvida por Bellen (2007) capaz de avaliar aspectos relevantes na formulação de sistema de indicadores para avaliação de sustentabilidade através da Caracterização Sistema de Indicadores; Descrição histórica, teórica e empírica dos indicadores amostrados; e Análise cruzada entre os indicadores, conforme informações a seguir: Na caracterização foram verificados os procedimentos que orientaram a elaboração do Sistema de Indicadores Piatam. histórico, instituições e pessoas envolvidas na elaboração dos indicadores. Na fundamentação teórica foram descritos os fundamentação empírica dos indicadores evidenciou-se os exemplos práticos de aplicação destes instrumentos de avaliação. Figura 1: Mapa de localização das comunidades estudadas pelo Piatam. Fonte: Base de Dados Piatam, 2008. Na categoria escopo, verificaram-se quais as dimensões que predominam em cada um dos indicadores para avaliar a sustentabilidade considerando a ecológica, social, econômica e Institucional. Através da esfera foi possível verificar o tipo de unidade a qual o instrumento de avaliação se aplica: global, continental, nacional, regional, local, ou individual. Os dados dos indicadores foram verificados a partir do tipo e grau de agregação. Quanto à tipologia foi verificado se os dados utilizados foram quantitativos ou qualitativos. Em referencia ao grau de agregação os indicadores foram analisados através da localização relativa de seus índices, indicadores e dados da pirâmide de informação. O topo da pirâmide corresponde ao grau máximo de agregação e a base representa os dados primários desagregados. Na participação analisou-se o envolvimento dos atores sociais nos instrumentos de avaliação através das abordagens: top-down, onde o processo de avaliação é orientado predominantemente por especialista; e a abordagem bottom-up, que confere um o peso maior de participação ao publico alvo. A interface analisou os indicadores através da facilidade que os usuários têm de observar e interpretar os resultados obtidos num processo de avaliação. Os principais elementos de interface são: a capacidade de entendimento, a facilidade de visualização e a interpretação dos resultados e o processo de educação ambiental. Para isso, os indicadores foram analisados através das subcategorias: complexidade, apresentação, abertura e potencial educativo. Os parâmetros utilizados para verificar o grau de complexidade referem-se aos cálculos utilizados por seus autores para determinação do índice. Isto significa que quanto mais simples os cálculos melhor para o entendimento dos usuários. A apresentação refere-se às facilidades oferecidas pelo indicador aos usuários para verificar a direção do processo de desenvolvimento através dos valores apresentados no resultado final. Os resultados finais dos indicadores também são comparados para verificar as similaridades entre estes. A abertura, que está ligada com as categorias complexidade e a apresentação, procura mostrar em que grau os valores implícitos de um sistema de avaliação são revelados ao público alvo. O grau de abertura 73 Análise Comparativa entre Indicadores de Avaliação do Desenvolvimento Sustentável em Comunidades Ribeirinhas no Estado do Amazonas desses instrumentos de avaliação é analisado através da pirâmide de informações que contém os dados primários, dados analisados, indicadores e índices das ferramentas. Quanto maior a possibilidade de observar todas essas informações simultaneamente na interface da ferramenta maior é o grau de abertura. e Facilidade de interpretação. O potencial educativo é a última categoria de análise onde foi verificada a capacidade dos indicadores de representar para o público os dilemas que emergem da sociedade a partir do processo de desenvolvimento e de que forma, os resultados dos problemas ambientais podem influenciar o poder publico na tomada de decisão. A área socioeconômica apresentou três tipos de indicadores relacionados às atividades produtivas, condições de renda e bem-estar social e saúde. O meio biótico apresentou o maior número de indicadores e os principais temas abordados foram: peixes, entomologia, flora e macrófitas aquáticas. O meio físico foi representado através do solo e água. RESULTADOS Caracterização do Sistema de Indicadores Piatam (SIP) O SIP é um sistema de indicadores e atributos que foi elaborado no Projeto Piatam, por pesquisadores de diferentes áreas temáticas de instituições parceiras do Piatam, através de série histórica de dados necessários ao monitoramento da realidade social e ambiental de comunidades ribeirinhas no Estado do Amazonas. O Piatam é um projeto interinstitucional e interdisciplinar que envolve instituições de ensino e pesquisa e tem como principal meta a caracterização socioambiental da área de atuação da Petrobras no Estado do Amazonas. As instituições participantes desse projeto foram Universidade Federal do Amazonas, Coordenação dos Programas de Pós Graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Fundação Centro de Análise Pesquisa e Inovação Tecnológica, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Financiadora de Estudos e Projeto e PETROBRAS. O início das pesquisas foi em 2001, com a identificação e diagnóstico da área de estudo através de dados pretéritos e coleta de dados por área temática, em séries temporais que perdurou até 2006. Todas as informações e dados pré-existentes foram levantados e incorporados à BDI – Piatam. De 2002 a 2006 paralelamente a coleta de dados ocorreu a pré-seleção, seleção e validação final dos indicadores e atributos. O conceito de indicador adotado por seus autores para nortear a elaboração do sistema foi: “O indicador é uma representação didática da realidade”. Os critérios utilizados para elaboração dos indicadores foram: Existência de dados representativos, de base sólida; Possibilidade de construção de modelos de simulação e cálculo dedicados à sua quantificação; Exequibilidade do estabelecimento de metas e valores de referencia; Possibilidade de manter a informação atualizada; Relevância do significado do próprio indicador; 74 O sistema de indicadores foi elaborado a partir de três blocos: socioeconômico com 10 indicadores, 3 subindicadores e 1 atributo; biótico, com 21 indicadores, 11 subindicadores e 1 atributo; e físico constituído de 10 atributos. Descrição histórica, teórica e empírica dos Indicadores. Índice de Cidadania Piatam (ICP) Este indicador está relacionado ao bem estar social através da Cidadania. As pesquisas tiveram seu inicio em 2001 com a definição da área de estudo. Os dados primários foram coletados nos anos de 2005 e 2006, através de formulários focais e questionários entregues aos coletores, em diferentes ciclos sazonais, considerando a unidade familiar das comunidades de atuação do Piatam. Os resultados do ICP evidenciam Índices Geral e Individual de Cidadania. O ICP está fundamentado no conceito de exclusão social. Entretanto, para Fraxe et al. (2007) o Índice de Exclusão/Inclusão Social (IEIS) comumente utilizado pelas diferentes instituições de pesquisas para avaliar a situação socioeconômica dos grupos que vivem nas metrópoles das diferentes regiões do Brasil não contemplam as complexas variáveis que representam a realidade de comunidades ribeirinhas, devido às especificidades do modo de vida amazônico (ritmo de vida, cultura, trabalho, relações de trabalho e outras atividades do cotidiano) que é diferente. Desta forma, os pesquisadores procuraram desenvolver um índice que contemplasse os diferentes aspectos de vida tradicional que foi elaborado através da seguinte metodologia: 1.Foram escolhidas cinco variáveis, consideradas relevantes para obtenção de um resultado próximo da realidade das comunidades: renda, alimentação, saúde, escolaridade e organização social; 2.Para cada variável foi definido um valor em nota decimal para medição, onde foram atribuídas boas notas, a boas situações e más notas a más situações que somados, obtêm-se o ICP. 3.O ICP tem por finalidade mostrar por meio da variação numérica de “0” a “1” um índice composto capaz de visualizar os parâmetros reais da pior e da melhor incidência de uma variável. Revista Agroambiental - Agosto/2011 Para a classificação dos resultados de cidadania foi utilizada a seguinte legenda: de 0.000 a 0.250 – crítico; de 0.251 a 0.500 - baixo; de 0.501 - 0.750 - médio; é de 0.751 - 1.000 – ótimo, assim como, a legenda de quatro cores (vermelho – crítico, laranja – baixo, amarelo – médio, e verde – ótimo). Este indicador foi utilizado por seus autores para avaliar a Cidadania de nove comunidades estudadas pelo Piatam. Através dos resultados foi possível verificar que menor ICP Individual apresentado foi para a comunidade Santo Antônio (0,378) e o maior para Santa Luzia do Baixio (0,767), enquanto o ICP Geral revelou que estas comunidades estão com um baixo nível de cidadania (0,497). A Figura 2 abaixo evidencia o diagrama dos procedimentos do ICP. Figura 2: Diagrama dos procedimentos do ICP, onde: ICP= Índice de Cidadania Piatam; Rc = Renda Comunitária; Ac=Alimentação Comunitária; Sc= Saúde Comunitária; Ec=Escolaridade Comunitária; e OS= Organização Social. Fonte: Adaptado de Fraxe et. al.,(2007) Índice de Desenvolvimento (ID PIATAM) O ID é parte integrante dos indicadores relativos às condições de renda e bem-estar social. As pesquisas para elaboração deste indicador tiveram seu inicio em 2001 com a definição da área de estudo. Os dados primários foram coletados nas comunidades durante o mês de setembro de 2006. Os questionários utilizados na coleta de dados foram adaptados de padrão internacional, em conformidade com os utilizados pelo IBGE, para captar a realidade local e adequar-se à escala do universo considerado. Para aferir o nível de desenvolvimento humano nas comunidades foram abordadas as dimensões: educação, longevidade e renda, com uma modificação em um dos subcomponentes, educação. O ID Piatam foi publicado por Teixeira & Rivas em 2007. Para o ÍD Piatam foram considerados os conceitos de pobreza, analfabetismo, educação, esperança de vida, e taxa de natalidade. O roteiro metodológico utilizado pelos pesquisadores assemelhou-se ao utilizado para o Índice de Desenvolvimento Humano – IDH/PNUD, o qual é um índice produzido a partir do cálculo da média aritmética de três outros índices relativos à educação, longevidade e à renda. Este indicador foi utilizado por seus autores, em 2007, para avaliar o desenvolvimento de nove comunidades estudadas pelo Piatam. A leitura dos resultados é a partir de legenda que varia 0 (nenhum desenvolvimento) até 1 (desenvolvimento total), através de quatro níveis: entre 0,00 e 0,25 – crítico; de 0,26 e 0,50 – baixo; de 0,51 a 0,75 – médio; e para 0,76 a 1,00 - alto. Os valores resultantes dos subíndices foram: educação: 0,774; longevidade: 0,683; renda: 0,503; e o ID Geral da área estudada foi de 0, 653. Para os autores do ID Piatam este resultado não deve ser comparado com os resultados do ÍDH/PNUD ou Índice de Desenvolvimento do Município (IDH-M) que cobre as áreas urbanas e rurais dos municípios, porque a renda levantada na pesquisa de campo nas áreas rurais não inclui seu componente não monetário, devendo ser, portanto, inferior à que se observadas nas áreas urbanas. A Figura 3 abaixo evidencia o diagrama dos procedimentos do ICP. 75 Análise Comparativa entre Indicadores de Avaliação do Desenvolvimento Sustentável em Comunidades Ribeirinhas no Estado do Amazonas Figura 3: Diagrama do ID Piatam. Fonte: Adaptado de Teixeira & Rivas (2007) Índice de Renda e Pobreza (IRP) O Índice de Renda e Pobreza está relacionado à renda e bem estar. As pesquisas para elaboração deste indicador tiveram seu início em 2001, através da definição da área de estudo. Os dados primários para a análise da pobreza e indigência foram obtidos durante pesquisa de campo, realizada durante o mês de setembro de 2006, que posteriormente foram armazenados na base do Piatam. Os dados inerentes à renda foram levantados a partir de dois grupos: (i) principais atividades realizadas pelos ribeirinhos durante o dia, independente de serem ou não geradoras de rendimentos; e (ii) fonte e formas de rendimento. Rivas & Mourão publicaram os resultados deste indicador em 2007. O conceito utilizado para este indicador foi de renda e pobreza nas diversas esferas da sociedade. Os autores utilizaram para elaboração deste indicador duas metodologias: a do Banco Mundial que adota como critério o valor de US$ 2,00/dia em poder de compra para delimitação da linha de pobreza e o valor de US$ 1,00/ dia em poder de compra para delimitação da linha de indigência; e a do PNUD (2007) que adota como critério para determinação das linhas de pobreza a proporção dos indivíduos que vivem em domicílios particulares permanentes com renda equivalente a ½ de salário-mínimo e para a linha de indigência, o valor de ¼ de saláriomínimo. número de residentes em situação de pobreza declarada, desconsiderado os valores não monetários. Os resultados baseados nos métodos do Banco Mundial evidenciaram que o percentual do número de pessoas na linha de indigência varia de 2,39 a 16,46%. Quanto à “linha de pobreza” esse percentual varia de 3,85 a 35,29%. No método adotado pelo PNUD, o percentual de pessoas na “linha de indigência”, varia de 3,85 a 20%, enquanto que o percentual de pessoas na linha de pobreza é de 3,85 a 38,82%. Com relação à linha de indigência, em ambos os métodos, a comunidade de Bom Jesus, seguida da comunidade de Lauro Sodré, foi a que apresentou o maior percentual, 35,29%. Quando observada a linha de pobreza, não há diferença significativa entre várias comunidades, permanecendo nos maiores percentuais pelos totais populacionais Bom Jesus e Lauro Sodré, além da comunidade Santa Luzia do Buiuçuzinho e Nossa Senhora de Nazaré. A Figura 4 abaixo evidencia o diagrama dos procedimentos do ICP. DISCUSSÃO Análise comparativa entre os indicadores de Cidadania, Desenvolvimento Renda e Pobreza. Escopo Visando os rendimentos totais, os cálculos utilizados para a determinação da linha de pobreza e indigência concentraram-se na fonte e forma dos rendimentos. No Quadro 1, através da classificação quanto ao escopo, verificou-se que estes indicadores representam o bem estar através das dimensões social e econômica, conjuntamente. E a única variável comum entre os indicadores é renda. Este indicador foi utilizado para avaliar pobreza e indigência em nove comunidades estudadas pelo Piatam. Os resultados obtidos através do indicador demonstraram que as comunidades possuem significativo Nos IDS do IBGE (2008) as dimensões estão claramente definidas em ambiental, social, econômica, e institucional e são representadas através de temas. 76 Revista Agroambiental - Agosto/2011 Os temas abordados na dimensão social são: população, trabalho e rendimento, saúde, educação, habitação, e segurança; e na dimensão econômica estão: quadro econômico e padrões e produção de consumo. Figura 4: Diagrama do IRP Piatam. Fonte: Adaptado de Rivas& Mourão (2007) Nos IDS da CDS das Nações Unidas (2007) os indicadores não são definidos quanto à dimensão, mas através de temas e subtemas. Quadro 1 Classificação dos indicadores quanto ao escopo Escopo Indicador Ecológica Social Econômico Índice de Cidadania Piatam √ √ Índice de Desenvolvimento √ √ Índice de Renda e Pobreza √ √ Fonte: Pesquisa de campo (2009) Esfera O Quadro 2 evidencia a classificação das metodologias quanto a esfera. Desta forma, todos os indicadores avaliaram as esferas local e individual. Institucional Hardi & Zidan (1997) e a OCDE (2008) evidenciam que encontrar modos para comparação entre diferentes países ou regiões que não compartilhem a mesma historia, cultura, nível econômico e desenvolvimento social ou condições física é um desafio. Quadro 2 Classificação dos indicadores quanto à esfera – modelo teórico Esfera do Indicador Global Continental Nacional Regional Local Individual Índice de Cidadania √ √ Índice de Desenvolvimento √ √ Índice de Renda e Pobreza √ √ Fonte: Pesquisa de campo (2009) Dados Os dados das metodologias foram avaliados quanto ao tipo e grau de agregação. Quanto ao tipo os dados são quantitativos, pois, todos os resultados são apresentados em valores numéricos. 77 Análise Comparativa entre Indicadores de Avaliação do Desenvolvimento Sustentável em Comunidades Ribeirinhas no Estado do Amazonas O grau de agregação foi verificado através da pirâmide de informações construída a partir da fundamentação histórica, teórica, e das experiências práticas, conforme Quadro 3 abaixo. Onde foram constatados que todos os indicadores são altamente agregados, pois, os resultados individuais são apresentados através de um índice numérico. Entretanto, para chegar ao índice geral essas ferramentas passaram por várias etapas que en- Fonte: Pesquisa de campo (2009) Participação Conforme Quadro 4 a classificação dos indicadores quanto a participação é Top-down, pois, todos os métodos de avaliação são orientados predominantemente por especialista, não incluindo, portanto, a participação de atores sociais no processo. Comparativamente, o ID e o ÍRP utilizaram métodos adaptados a partir de outras metodologias, enquanto, o ICP utilizou método elaborado pelos seus autores. Entretanto, todos os indicadores 78 volveram dados primários, indicadores e subíndices. A CDS das Nações Unidas (2007) considera os indicadores agregados potenciais, pois, os resultados apresentados podem levar as melhores decisões e mais efetivas ações simplificando a tomada de decisão na implementação de politicas publicas em direção às metas do desenvolvimento sustentável. utilizaram variáveis considerando as particularidades da área de estudo. Para Hardi & Zidan (1997) a avaliação do progresso rumo ao desenvolvimento sustentável deve obter ampla representação do público: profissional, técnico e comunitário; e garantir a participação dos tomadores de decisão para assegurar uma forte ligação na adoção de politicas e nos resultados da ação. Revista Agroambiental - Agosto/2011 Interface por especialistas. A discussão da interface ocorreu a partir das subcategorias: complexidade, apresentação, abertura, e potencial educativo. Entretanto, todas as categorias de analise são consideradas para observar as ferramentas sob uma perspectiva crítica. No IRP os conceitos são de fácil entendimento, entretanto os métodos utilizados (Banco Mundial e PNUD) são considerados complexos, pois, dependem de um grau de conhecimento bastante elevado para entendimento dos cálculos. Complexidade Comparativamente, o grau de complexidade do ICP é menor frente ao ID e IRP, pois, os cálculos apresentados foram mais simples, ou seja, o método envolveu média aritmética e media ponderada. Outro fator importante é que todos os indicadores se defrontam com a necessidade de agregação. Através do Quadro 5 pode-se considerar que entre os métodos de avalição mais complexos foram o ID e IRP. No ID apesar da simplicidade aparente dos conceitos de pobreza, analfabetismo, educação, esperança de vida e taxa de natalidade, existe a necessidade de cálculos considerados relativamente complexos inerentes à educação e renda. Essa complexidade é reforçada na categoria de análise, participação, quando observa se que a abordagem utilizada pelos autores é orientada Para Bellen (2007) um dos elementos importantes que caracterizam uma ferramenta de avaliação é seu grau de complexidade, portanto, os métodos que procuram avaliar a sustentabilidade devem buscar a simplicidade. Fonte: Pesquisa de campo (2009) Apresentação No Quadro 6 estão dispostos os resultados quanto a apresentação. Comparativamente os métodos do ICP, ID e IRP apresentam seus resultados de maneira diferente, apesar de contarem, também, com índices numéricos. No ICP além dos índices os resultados também podem ser visto através de legenda e escala de quatro cores. No ID os resultados podem ser visualizados por meio de Legenda. Enquanto no IRP a representação visual é através de gráfico inerente a Pobreza e Indigência que requer a interpretação dos resultados representados nos eixos desses gráficos. 79 Análise Comparativa entre Indicadores de Avaliação do Desenvolvimento Sustentável em Comunidades Ribeirinhas no Estado do Amazonas Abertura A classificação dos indicadores quanto a abertura está disposto no Quadro 7, que baseada na pirâmide de informações demonstra a possibilidade de visualizar os dados contidos no indicador que resultaram nos subíndices e no índice geral. O ÍRP apresenta o menor grau de abertura entre as ferramentas estudadas. Pois, mesmo sendo possível observar o resultado final através dos índices e no gráfico, na interface deste instrumento de avaliação não é possível visualizar o peso atribuído as variáveis que compõe esta ferramenta. Comparativamente o ICP é o indicador que apresenta maior abertura dentre os indicadores, pois, todas Potencial educativo Conforme Quadro 8, que reflete o potencial educativo dos indicadores, o ICP emerge para a sociedade o bem estar de comunidades ribeirinhas, através da cidadania, claramente entendida, a partir da representação visual, com cálculos de fácil entendimento que influen- 80 as informações estão visíveis na metodologia do indicador, que e além de exibir em sua interface o índice geral de sustentabilidade e os subíndices ainda apresenta o peso atribuído a cada indicador. Para Bellen (2007) quanto maior a possibilidade de observar todas as informações simultaneamente na interface do indicador, ou seja, no seu resultado final maior é a abertura do sistema, além de todas as informações utilizadas, os indicadores também devem mostrar o peso atribuído a cada uma delas nos diferentes níveis da pirâmide. Hardi & Zidan (1997) também concordam que os instrumentos de avaliação devem ser acessíveis e que os autores devem tornar explícitos nas metodologias todas as informações e interpretações. ciam a tomada decisão para implementação de politicas públicas. Enquanto o ID evidencia a sustentabilidade de comunidade amazônica através do desenvolvimento humano. Embora, os cálculos utilizados nesta metodologia sejam considerados complexos os resultados Revista Agroambiental - Agosto/2011 estão visíveis através de índices e legenda. Os resultados que apontaram o IDH individual e geral acima média, podem não influenciar os tomadores de decisão para a implementação de politicas públicas. IBGE. Indicadores de Desenvolvimento Sustentável: Brasil 2008 – 1ª. ed. Coordenação de Geografia. Rio de Janeiro. IBGE, 2008, 479p. O IRP evidencia o percentual de pobreza e indigência das comunidades, e mesmo que seus métodos sejam considerados complexos, os resultados apresentados deste indicador, podem auxiliar no processo decisório para a tomada de decisão na implementação de politicas públicas. ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT (OECD). Insights: Sustainable Development: Linking Economy, Society, Environment. OECD 2008 por STRANGE, Tracey & BAYLEY, Anne. Acesso em 24 de nov. 2008. Disponível em http:// www.oecd.org. CONCLUSÃO UNITED NATIONS, Indicators of Sustainable Development: Guidelines and Methodologies, 3. ed. UN Sales Publication, New York, 2007, 99p. Acesso em 08 de jan. de 2008. On line. Disponível em: http://www.un.org/ esa/sustdev/natlinfo/indicators/guidelines.pdf. O Sistema de Indicadores Piatam evidenciou a dinâmica do desenvolvimento de comunidades da Amazônia a partir de três blocos de indicadores: socioeconômico; biótico e físico. As similaridades encontradas entre os indicadores de Cidadania, Desenvolvimento, Renda e Pobreza foram: nas dimensões abordadas - econômica e social; na esfera - local e individual; nos dados - quantitativos e altamente agregados; e na utilização da abordagem top down. As principais diferenças estão refletidas na metodologia, pois, enquanto, o ICP elaborou seu próprio método de avaliação considerado de fácil entendimento o ID e o IR adaptaram metodologias do âmbito internacional para o local, consideradas complexas. Os resultados dos indicadores também divergiram, enquanto o ICP e o IRP apresentaram resultados similares de bem estar o ID apresentou resultado acima da média. Estes indicadores podem ser considerados eficazes, pois, foram elaborados com dados advindos de base solida e metodologias que agrupam variáveis que refletem o bem estar de comunidades ribeirinhas na Amazônia, ambientes considerados complexos. Desta forma, os resultados advindos destes instrumentos de avaliação podem influenciar o poder público na tomada de decisão para implementação de politicas públicas rumo ao desenvolvimento sustentável. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BELLEN, H. M. V. Indicadores de Sustentabilidade: uma análise comparativa. Reimpressão. Rio de Janeiro. Editora FGV, 2007, 256p. FRAXE, T.J. P.; BENIZ, G. A. A.; SOUZA, D. S. R.; WITKOSKI, A. C. Índice de Cidadania das Comunidades estudadas pelo Piatam. In: CAVALCANTE, K. V.; FREITAS, C. E C.; RIVAS, A. A. F. in: Indicadores Socioambientais e atributos de referencia para o trecho Urucu-Coari-Manaus, Rio Solimões, Amazônia Central. Manaus: EDUA, 2007. Cap. 1, p. 37 - 44. HARDI, P.; ZIDAN, T. J. Assessing Sustainable Development: Principles in Practice. The International Institute for Sustainable Development. Winnipeg, Manitoba. Canadian Cataloguing in Publication Data,1997. 175 p. RIBEIRO, J. C. J. Indicadores ambientais: avaliando a política de meio ambiente no Estado de Minas Gerais – ed. Semad, Belo Horizonte, 2006, 304 p. RIVAS, A. A. F.; CAVALCANTE, K. V.; FREITAS, C. E. C. O Sistema de Indicadores PIATAM. In: CAVALCANTE, K. V.; FREITAS, C. E C.; RIVAS, A. A. F. In: Indicadores Socioambientais e atributos de referencia para o trecho Urucu-Coari-Manaus, Rio Solimões, Amazônia Central. Manaus: EDUA, 2007. Cap. 1, p. 15-20. RIVAS, A. A. F.; CAVALCANTE, K. V.; FREITAS, C. E. C.; O Sistema de indicadores Piatam e sua contribuição para o entendimento da Amazônia. In: In: CAVALCANTE, K. V.; FREITAS, C. E C.; RIVAS, A. A. F. In: Indicadores Socioambientais e atributos de referencia para o trecho Urucu-Coari-Manaus, Rio Solimões, Amazônia Central. Manaus: EDUA, 2007. Cap. 5, p.149-158. RIVAS, A. A. F.; MOURÃO, R. Renda e Pobreza nas Comunidades Estudadas pelo Piatam. In: CAVALCANTE, K. V.; FREITAS, C. E C.; RIVAS, A. A. F. in: Indicadores Socioambientais e atributos de referencia para o trecho Urucu-Coari-Manaus, Rio Solimões, Amazônia Central. Manaus: EDUA, 2007. Cap. 1, p. 51-55. SHENG, F. Valores em Mudança e Construção de uma Sociedade Sustentável. In: CAVALCANTI, C.; Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e Políticas publicas. 2ª. ed. - São Paulo: Cortez Editora: Recife: Fundação Joaquim Nabuco. 1997, p. 165-178. TEIXEIRA, P.; RIVAS, A. A. F. Índice de Desenvolvimento do Piatam. In: Indicadores Socioambientais e atributos de referencia para o trecho Urucu-Coari-Manaus, Rio Solimões, Amazônia Central. Manaus: EDUA, 2007. Cap. 1, p.45-49. É um projeto interinstitucional e interdisciplinar que envolve instituições de ensino e pesquisa e tem como principal meta a caracterização Socioambiental da área se atuação da Petrobras no Estado do Amazonas (RIVAS et. al., 2007:17). 81 Análise Comparativa entre Indicadores de Avaliação do Desenvolvimento Sustentável em Comunidades Ribeirinhas no Estado do Amazonas Ver Eurostat. Disponível em: http://ec.europa.eu/eurostat. Ver Indicadores de Desenvolvimento Sustentável IBGE 2002. Disponível em: http://www.ibge.gov.br Ver Indicadores de desenvolvimento sustentável: Brasil 2008. Disponível em: http://www.ibge.gov.br Ver Indicadores sociambientais e atributos de referência para o trecho Urucu - Coari - Manaus. Rio Solimões. Amazônia Ocidental. Disponível em: http://www. institutopiatam.org.br/indicadores_web.pdf Ver ESDN Office. Disponível em: http://www.sd-network. eu//?k=quarterly%20reports&report_id=7 United Nations. 1996. Indicators of Sustainable Development Framework and Methodologies, United Nations Sales Publication No.E.96.II.A.16 (New York, August 1996). United Nations. 2001. Indicators of Sustainable Development: Guidelines and Methodologies, Second Edition, UN Sales Publication No.E.01.II.A.6 (New York, September 2001). 294p. United Nations. 2007. Indicators of Sustainable Development Guidelines and Methodologies, United Nations Sales Publication No.E.08.II.A.2 (New York, October, 2007). EUROSTAT. 2007. Measuring progress towards a more sustainable Europe. Luxembourg: Office for Official Publications of the European Communities. BELLEN, H. M. 2003. Desenvolvimento Sustentável: Uma Descrição das Principais Ferramentas de Avaliação. Revista Ambiente & Sociedade – Vol. VII nº. 1 jan./ jun. 2004.68-87. ANDRADE, L. M. de A. 2005. Indicadores de Sustentabilidade na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Piranha (Manacapuru, Amazonas, Brasil). Manaus. Universidade Federal do Amazonas.143p. 82 Revista Agroambiental - Agosto/2011 Efeito de Atividades Antrópicas Sobre a Mata do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia Minas Gerais – campus São João Evangelista (IFMG-SJE) Eduardo Felipe Ribeiro, [email protected], Tecnólogo em Silvic., IFMG-SJE. Paulo do Nascimento, professor do IFMG-SJE. [email protected], Biólogo, Mestre em Meio Ambiente e Sustentabilidade Aderlan Gomes da Silva, professor do IFMG-SJE. [email protected], Engenheiro Florestal, Doutor em Fitopatologia, Gustavo de Almeida Santos, Tecnólogo em Silvicultura, IFMG-SJE. Diêgo Gomes Júnior, Tecnólogo em Silvicultura, IFMG-SJE. RESUMO A vegetação ainda é fonte de energia para atividades de parte considerável da população. Os objetivos deste trabalho foram: constatar a extração de madeira num fragmento de Mata Atlântica do IFMG-SJE; verificar as causas dessa extração; estipular indicadores florestais que sinalizam a pressão antrópica sofrida e obter percepções básicas sobre o ambiente. Realizaram-se entrevistas orientadas nos bairros Centenários I e II e Engenho de Serra. Detectaram-se as plantas mais retiradas pelos moradores (angico, canudo-de-pito, murici e pau-jacaré), que tiveram medidas os seus diâmetros a altura o peito (DAP) em parcelas de 1000m² (50 x 20m). Os DAPs foram submetidos ao teste de Tukey. Os DAPs foram medidos com uma suta e um gabarito de 1,30 m. Nos tocos remanescentes com sinais de corte e mediram-se os DAPs e encontrou-se uma classe de DAP preferencial de extração. Em função da baixa escolaridade e do baixo poder aquisitivo dos moradores, há extração de madeira nessa mata. Os DAPs e o uso de questionários foram eficazes no diagnóstico de interferência antrópica nessa mata. Envolver os moradores em projetos de educação ambiental e socioeconômico pode favorecer a proteção desse fragmento de Mata. Palavras Chave: Degradação florestal, ambiente antropizado, educação ambiental. Effect of Human Activities on the Forest of the Federal Institute of Science and Technology Education Minas Gerais - campus São João Evangelista (IFMG-SJE) ABSTRACT The vegetation is still a source of energy for activities of a considerable part of the population. Our objectives were: to establish the logging in a fragment of Atlantic Forest IFMG-SJE; determine the causes of extraction; provide indicators that signal the forest suffered human disturbance, to obtain basic perceptions about the environment. Interviews were conducted in targeted neighborhoods Centenários I and II and Engenho de Serra. Plants were detected more withdrawals by residents (angico, canudo-de-pito, murici and pau-jacaré), which measures had their diameters at breast height (DBH) in parcels of 1000m ² (50 x 20m). The DBH were submitted to Tukey’s test. The DBHs were measured with a caliper and a template of 1.30 m. In the remaining stumps with signs of cut and measured the DBH and found himself a preferred class of DBH extraction. As a function of low education and low income residents, there are logging this forest. The use of questionnaires and DBH have been effective in the diagnosis of human interference that forest. Involve residents in environmental education projects and socioeconomic may favor the protection of this forest fragment. Keywords: Forest degradation, anthropic environment, environmental education. 83 Efeito de Atividades Antrópicas Sobre a Mata do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia Minas Gerais – campus São João Evangelista (IFMG-SJE) INTRODUÇÃO Diferente da forma atual, a relação do homem com a natureza num período que antecede ao cartesianismo era dado pelo respeito e temor aos fenômenos naturais do planeta. A partir do pensamento antropocentrista, o homem passa então a destruir os recursos naturais de forma generalizada. Em relação a vegetação, o Brasil é um dos países que mais colaboraram para sua destruição, embora, num contexto global, preserve consideráveis áreas de floresta. A abordagem sobre a Ecologia Política, tecida por Trevizan (2011), mostra que “a sociedade capitalista e o estado moderno são vistos por ele como os maiores responsáveis pela degradação dos recursos naturais”. Talvez por considerar que os problemas naturais sejam naturais e até mesmo necessários é que mesmo de forma inconsciente tenha havido promoção desigual da modernização agrícola. Essa desigualdade levou os pequenos agricultores a intensificar a exploração dos recursos naturais, como forma de aumentar a produção. Assim, eliminar florestas para uso agrícola, aliada ao mau uso do solo e dos recursos hídricos, tem contribuído de forma negativa para ampliar os problemas ambientais criados pelo atual modo de produção. A Mata Atlântica, por inserir-se no espaço mais disputado pelo crescimento populacional e econômico do Brasil, é um dos biomas mais ameaçados com a exploração desses recursos. A pressão sobre as florestas se dá pela expansão de áreas para a agropecuária, pela retirada ilegal de madeiras e mesmo para abastecimento de indústrias moveleiras. Os remanescentes desse bioma localizam-se normalmente em áreas de difícil acesso e em regiões pouco desenvolvidas economicamente. Mesmo com as fitofisionomias muitas vezes mal conservadas a Mata Atlântica é um conjunto florestal complexo, possuindo várias áreas em regeneração (Lino & Simões, 2002). Apesar dos atuais avanços tecnológicos, estima-se que parte considerável da população ainda utilize lenha ou outros resíduos vegetais como fonte de energia para atividades ligadas à sua subsistência e isso pode afetar a biodiversidade remanescente, através da fragmentação florestal que atinge a maior parte dos biomas brasileiros (Pereira, et al., 2003). Entre as espécies arbóreas predominantes na área de fragmento florestal com domínio de Mata Atlântica, podemos citar: Angico, Canudo-de-pito, Pau-jacaré e Murici (Nunes et al., 2003). O angico (Anadenathera sp), Mimosoideaceae, possui madeira pesada, ótima para lenha e carvão. Apresenta frequência elevada e padrão de dispersão descontínua e irregular. Ocorre principalmente em formações primárias e secundárias, em solos bem drenados, aonde chega a formar populações quase puras, produzindo grande quantidade de sementes viá- 84 veis. (Lorenzi, 2002). O canudo-de-pito (Mabea stulifera) é uma Euphorbiaceae nativa, lactescente e arbórea (Vieira et al., 1997). Para Lorenzi (2002) essa espécie é pioneira típica de vegetação secundária, de terrenos arenosos com baixa fertilidade e alta acidez. Ocorre normalmente agregada em bordas de matas e em locais muito antropiza-dos, raramente encontrada isolada e no interior de mata primária densa. Byrsonima sericea é uma Malpighiaceae arbustiva conhecida como murici, possui copa ovalada e densa, casca áspera e pode atingir 16 m de altura. Tem preferência por solos argilosos e férteis ao longo de rios e córregos, também ocorre em capoeiras e beiras de matas e capões (Lorenzi, 2002). Piptadenia gonoacantha (pau-jacaré) é pioneira a secundária inicial, que ocorre de Minas Gerais a Santa Catarina, quase que exclusivamente em associações secundárias como capoeiras, em solos de fertilidade variada (Carvalho, 1999). Possui tronco normalmente tortuoso, com cristas aculeadas por toda sua extensão. Sua casca possui cristas lineares longitudinais interligadas por outras menores transversais, lembrando o couro de jacaré, motivo de seu nome. A madeira é de baixa resistência e altamente susceptível ao ataque de térmitas (Trevisan et al., 2003). Segundo Lorenzi (2002), é uma das melhores madeiras para carvão e lenha. A educação ambiental é instrumento básico e indispensável para sustentabilidade dos processos de preservação ambiental. Para Zaneti et al. (2002) existe uma insustentabilidade da estrutura sócio-ambiental das cidades, tanto das relações entre as pessoas, como das relações das pessoas com a natureza. Para que essas relações sejam viáveis, é necessário que haja uma educação ambiental integrada que proporcione as condições necessárias para a produção de conhecimentos e habilidades, visando à participação coletiva na gestão do uso de recursos naturais. Características particulares tornam certas espécies de plantas mais susceptíveis a extração. Acredita-se que populações humanas, circunvizinhas de remanescentes florestais, utilizem diferenciadamente os recursos florestais. Os objetivos deste trabalho foram: constatar e verificar as causas da extração de madeira na Mata do IFMG-SJE; detectar as espécies de plantas mais retiradas pelos moradores do entorno dessa mata; obter percepções básicas de conservação ambiental dos moradores; diagnosticar a finalidade das madeiras extraídas; constatar as condições socioeconômicas dos moradores e estipular critérios que sinalizem a pressão antrópica sofrida por esse fragmento de Mata Atlântica. Revista Agroambiental - Agosto/2011 METODOLOGIA Este trabalho foi desenvolvido num fragmento de Mata Atlântica (Figura 1), do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Minas Gerais (IFMGSJE), no município de São João Evangelista, aqui denominado Mata do IFMG-SJE, no período de abril de 2008 a maio de 2009. Figura 1 – Mapa da mata do IFMG-SJE com as divisões de áreas e suas respectivas parcelas alocadas neste experimento. A Mata do IFMG-SJE possui aproximadamente 80,00 hectares (Scolforo et al., 2008), confronta, dentro do campus, com plantações e pastagens e externamente com residências do bairro Engenho de Serra (Pombal) e com uma fazenda de exploração pecuária. Esse município fica na região Centro Nordeste de Minas Gerais, no Vale do Rio Doce, mais especificamente na Bacia do Suaçuí, próximo aos vales do Jequitinhonha e Mucuri (IBGE, 2009). O clima nessa região é segundo Köppen - (2010) Aw - Tropical Continental com chuvas de verão e inverno seco. A temperatura média anual é de 22°C, a precipitação média anual é de 1.180 mm e a altitude média é de 680m (portalsjevanjelista, 2009). Realizaram-se noventa entrevistas, orientadas por um questionário, com moradores dos bairros Engenho de Serra e Centenários (I e II), escolhidos em função de sua proximidade com a Mata do IFMG-SJE. Processou-se em percentagem os dados relativos às espécies de plantas mais utilizadas pela população, a fim de constatar as espécies mais retiradas da mata pelos moradores. Dentro da mata, em 22 parcelas georreferenciadas de 1000m² (50x20m), mediu-se, através de uma suta e um gabarito de 1,30 m, o Diâmetro à Altura do Peito (DAP) dos indivíduos acima de 2,5 cm diâmetro, dessas espécies. As parcelas foram lançadas a uma distância mínima de 30 m, segundo ao método de amostragem em dois estágios, que consiste na divisão da população em unidades de primeiro estágio, com determinada homogeneidade (Soares et al., 2006). Essas unidades foram subdivididas em unidades de segundo estágio (parcelas), definidas pelo método de amostragem a esmo ou sem norma, um tipo de amostragem não probabilística (Costa Neto, 1977). Na Mata do IFMG-SJE as unidades de primeiro e segundo estágio foram: área de borda (16,25 ha) com oito parcelas (5% dessa área); áreas de acesso à mata via trilhas (6,47 ha) com seis parcelas (10% dessa área) e áreas de mata fechada sem acesso por trilhas (54,96 ha) com oito parcelas (1,5% dessa área). Durante a coleta de dados, também se obteve o diâmetro de tocos remanescentes de árvores, com sinais de corte, encontrados ao longo da mata, independente de ocorrerem ou não nas parcelas alocadas. Não foi possível saber de quais espécies eram os tocos restantes das plantas cortadas, mas a partir deles 85 Efeito de Atividades Antrópicas Sobre a Mata do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia Minas Gerais – campus São João Evangelista (IFMG-SJE) obteve-se um intervalo de diâmetro preferencial de extração (classe) das plantas. Salienta-se que a classe de diâmetro preferencial trata-se de uma aproximação, pois os tocos remanescentes estavam a cerca de 50 cm do solo e os DAPs foram tomados a 1,30 m e dependendo da conicidade da árvore, pode haver uma maior ou menor interferência na diferença dos diâmetros. A partir da classe de diâmetro preferencial e dos DAPs obtidos para as quatro espécies, formaram-se as demais classes de DAP. fornecendo parâmetros para a discussão e interpretação dos dados. Os dados obtidos nas entrevistas orientadas foram tabulados e em função das características dos dados e dos objetivos deste trabalho, optou-se pela análise unidimensional dos dados. Segundo Auricchio (2003), essa análise é simples e consiste na tabulação das respostas com resultados em percentuais e plotados em tabelas, RESULTADOS E DISCUSSÃO Fez-se por local (trilha, mata fechada e borda) e por espécies mais exploradas (angico, murici, pau-jacaré e canudo-de-pito) as médias dos DAPs. Comparou-se essas médias entre os locais e entre as espécies pelo teste de Tukey ao nível de 5% de significância, após a realização da ANOVA dos DAPs recolhidos. Utilizou-se o software SAEG (SAEG, 2007) para o tratamento estatístico dos dados. A baixa escolaridade dos pais e uma melhora na escolaridade dos filhos em reação aos pais (Tabela 1) indicam conscientização das pessoas em relação à importância da educação formal em suas vidas. Tabela 1 – Escolaridade dos moradores (pais e filhos) entrevistados por bairro. Bairros Centenário I Centenário II Engenho de Serra Média (%) Escolaridade pais (%) 1ª a 4ª série 82,2 73,3 66,7 74,1 Fundamental - 6,7 13,3 6,7 Médio 17,8 20,0 13,3 17,0 Superior - - 6,7 2,2 Escolaridade filhos (%) 1ª a 4ª série 39,2 33,3 19,3 30,6 Fundamental 30,4 46,6 42,0 39,7 Médio 26,1 13,3 25,8 21,7 Superior 4,3 6,8 12,9 8,0 Para Gomes & Sparta (2005) o interesse por educação parece consolidado entre os jovens. A baixa renda familiar (até dois salários mínimos) declarada por 82,2% dos entrevistados (Tabela 2) e a baixa escolarida- de da maioria dos pais indicam o baixo poder aquisitivo da população entrevistada. Para IBGE (2009), o acesso a bens e serviços básicos depende quase que exclusivamente do nível de renda atingido pelas famílias. Tabela 2 – Número de moradores por residência e renda familiar por bairro em %. Bairro Número de moradores por residência Renda familiar (salário mínimo) Até 2 3a5 6a8 De 1 a 2 De 2 a 4 Mais de 4 Centenário I 13,3 73,3 13,3 Mais de 8 Menos de 1 - 20,0 66,7 13,3 - Centenário II 20 60 13,3 6,7 13,3 86,7 - - Engenho de Serra 20 50 30 - 6,7 53,3 40,0 - Média 17,8 61,1 18,9 2,2 13,3 68,9 17,8 - Em média 62,3% dos entrevistados utilizavam lenha em suas atividades. Destes (34,4%) utilizam-na há mais de 10 anos (Tabela 3). Esses dados consonam com os de Botrel et al. (2006) segundo os quais consumir lenha como combustível (energia) relaciona-se ao 86 fator econômico da população. A extração de madeira na Mata do IFMG-SJE ocorre em função do baixo poder aquisitivo da população. Durante as entrevistas vários moradores afirmaram usar lenha para reduzir gastos com energia elétrica e gás de cozinha. Revista Agroambiental - Agosto/2011 Tabela 3 – Tempo de utilização de lenha pelos moradores entrevistados por bairro. Tempo (anos) 1a3 3a6 6 a 10 Mais de 10 Total de usuários Não utiliza mais Nunca utilizou Centenário I 6,7 46,7 53,4 20,0 26,7 % de resposta/bairro Centenário II Engenho de Serra 20,0 26,7 6,7 13,3 10,0 33,3 23,3 60,0 73,3 13,3 6,7 26,7 20,0 As características socioeconômicas da população podem influir diretamente na maneira como eles agem em relação à mata. Para Silva et al. (2003), as dificuldades sócio-econômicas criam uma condição adversa à percepção ambiental pelos indivíduos, conduzindo-os a desenvolver condutas e ações degradadoras do ambiente. A partir da percepção do meio ambiente pelos moradores estabelece-se um entendimento das relações entre eles e o ambiente circundante. Para Pelissari et al. (2004), percepção ambiental é a tomada de consciência do ambiente pelo homem, é o ato de perceber o ambiente em que está inserido, aprendendo a proteger e a cuidar desse ambiente. Para esses autores um desafio Média 15,6 6,7 5,6 34,4 62,3 13,3 24,5 à proteção dos fragmentos florestais é a existência de diferentes percepções sobre valores e sua importância entre os indivíduos de culturas ou grupos sócio-econômicos diferentes. Para 62,2% dos entrevistados, a Mata do IFMGSJE é essencial para a vida da fauna e flora local e para a qualidade de vida da população (Tabela 4). Para 4,4% deles a percepção sobre a mata baseia-se na capacidade dela fornecer recursos às pessoas, gerando uma visão utilitarista da natureza. Para Camargo et al. (2008), o olhar utilitarista faz as pessoas serem a favor da preservação das matas por elas lhes fornecer recursos materiais. Tabela 4 – Percepção ambiental da Mata do IFMG-SJE segundo os moradores entrevistados por bairro. Percepção Bairros Centenário I (%) Centenário II (%) Engenho de Serra (%) Média (%) Local que fornece recursos florestais e animais - 6,7 6,7 4,4 Local de beleza rara por estar tão perto de uma área urbana 46,7 33,3 20,0 33,3 Essencial para vida de espécies da fauna e flora e qualidade de vida da população 53,3 60,0 73,3 62,2 A maioria dos entrevistados (88,9%) não contribui de forma direta para a conservação da mata, mas tem vontade de vê-la conservada e por isso aprovam a idéia de se adotar mecanismos para sua conservação (Tabela 5). Para eles, a mata é importante, mas eles não sabiam argumentar satisfatoriamente suas posições. Segundo eles “ela é purificadora do ar” ou “evita o efeito estufa” e por isso deve ser conservada. Tabela 5 – Contribuição dos entrevistados para a conservação da Mata do IFMG-SJE por bairros. 87 Efeito de Atividades Antrópicas Sobre a Mata do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia Minas Gerais – campus São João Evangelista (IFMG-SJE) Tabela 5 – Contribuição dos entrevistados para a conservação da Mata do IFMG-SJE por bairros. Contribuição Porcentagem de respostas por bairros Média (%) Centenário I Centenário II Engenho de Serra De alguma maneira contribui para sua conservação 6,7 - 16,7 7,8 Não contribui, mas tem vontade de vêla conservada 93,3 100,0 73,3 88,9 Não tem interesse na sua conservação - - 10,0 3,3 No Bairro Engenho de Serra, 10% dos entrevistados não tem interesse na conservação da Mata do IFMG-SJE. Segundo Camargo et al. (2008) pessoas sem interesse em conservar os remanescentes enxergam as matas como algo inútil, sem sentido na vida delas. Elas preferem viver o seu bairro, lócus “civilizado”, urbano. Silva et al. (2003), em trabalho sobre percepção ambiental com moradores do povoado de Guabiraba Contribuição Percebe-se uma relação de “intimidade” dos moradores do bairro Engenho de Serra com a Mata do IFMG-SJE (Tabela 6). Porcentagem de respostas por bairros Centenário I Centenário II Engenho de Serra Média (%) sim 20,0 26,7 66,7 37,8 não 80,0 73,3 33,3 62,2 Afirmaram conhecer o interior dessa mata 66,7% dos moradores, no entanto, só nesse bairro detectou-se (Tabela 5) morador sem interesse em preservar esse fragmento de mata. Em campo constataram-se cercas destruídas e/ ou a sua inexistência em certos pontos da área limítrofe da mata com a cidade, possibilitando o livre trânsito de moradores e animais domésticos à mata, além de servir de passagem para o escoamento de lenha extraída. Mediante essa realidade constatada, a questão relevante que se coloca é: será possível conservar uma mata praticamente urbana apenas com vigilância e controle de acesso a essa mata? Em um estudo sobre a percepção ambiental de visitantes do parque Estadual da Serra do Rola Moça, em Minas Gerais, Jacobi et al. (2004) verificaram que a maioria dos grupos estudados considera desvantajoso o fato de uma reserva se situar próximo a centros urbanos. Para Serrão (2002), a preservação de uma floresta depende da participação dos moradores do entorno e dos visitantes. Para proteção do remanescente em estudo acredita-se que a atuação do IFMG-SJE para além dos perímetros legais de sua mata seja imprescindível. É necessário construir laços afetivos entre os moradores e a mata, principalmente entre os que a utilizam como fonte de lenha. Nesse sentido, ações efetivas de educação ambiental do IFMG-SJE e da prefeitura de São João Evangelista (PMSJE) precisam integrar a comunidade 88 em Recife-PE, encontraram 26,6% das respostas à pergunta: “como preservar a mata de Dois Irmãos?” como sendo: “não sabiam como preservar a mata”. Outras respostas foram: “fiscalizando” 18,3% e “não desmatando” 16,6%. e o remanescente, com o propósito de garantir de fato a conservação do mesmo. Deve-se compatibilizar a necessidade de extrativismo (lenha) de alguns moradores (aspectos sócio-econômicos) com a conservação do remanescente (aspectos educativo-conservacionistas) de Mata Atlântica em estudo. Os dados obtidos no presente trabalho como trilhas e clareiras no interior da mata; sinais de ferramentas em troncos de árvores; pedaços de troncos de árvores cortadas e a presença de espécies características de área de mata em recuperação (pioneiras ou “plantas de sol”), tais como cipós, bambus, imbaúbas e canudode-pito, possibilitam afirmar que existem intervenções humanas no fragmento estudado. Boa parte das intervenções constatadas em campo neste trabalho consonam com Gomes et al. (2004), segundo os quais a presença de bambus caracteriza floresta explorada e exploração seletiva, abertura de clareiras e outras interferências antrópicas, podem aumentar a incidência de cipós nos fragmento florestais. O canudo-de-pito, apesar de explorado, é um importante indicador de pressão antrópica, pois segundo Pereira (2007) essa espécie é normalmente encontrada agregada em bordas ou em áreas com impacto antrópico acentuado. Não houve diferenças estatísticas significativas entre as médias dos diâmetros das espécies, quando se considera apenas o local onde as plantas se encontram na mata (Tabela 7). Isso implica na retirada Revista Agroambiental - Agosto/2011 indiscriminada das espécies, independente do local, quando elas atingem determinado diâmetro na mata. Tabela 7 – Nº de indivíduos e médias dos DAPs (cm) por local. Locais Nº de indivíduos Médias (cm) Mata Fechada 95 19.2 A Borda 191 17.4 A Trilha 160 Médias seguidas de mesma letra não se diferem pelo teste de Tukey a 5% significância. A partir do diâmetro de tocos remanescentes de árvores com sinais de corte, encontrados ao longo da mata, obteve-se um intervalo de diâmetro preferencial de extração das plantas (10,7 a 24,5 cm), com média de 17,6 cm. Essa média é a mesma encontrada para os DAPs nos diferentes locais da mata, quando se somam todos os indivíduos encontrados nas parcelas. Isso indica, a rigor, que todas as plantas encontradas estão susceptíveis ao corte uma vez que o DAP médio delas é o mesmo que aquele encontrado para os tocos remanescentes. Não foi possível saber de quais espécies eram os tocos remanescentes das plantas cortadas, e não foram investigados os motivos da preferência por esse DAP, mas pressupõe-se ser pela facilidade de transporte das plantas retiradas até as residências dos extratores. Constatar diferentes diâmetros de espécies vegetais em determinado fragmento de mata num dado momento possibilita vislumbrar o processo natural de recomposição da vegetação, mas também a percepção da extração aleatória ou não de determinadas espécies em função de determinado interesse do extrativista. Relacionar DAPs com a extração de determinadas espécies, 16.5 A pode indicar qual delas é mais explorada num determinado ambiente em algum momento. Presença de muitos DAPs baixos, sinaliza regeneração, mas também que os DAPs ausentes podem ter sido explorados, não garantindo a recomposição esperada nos diferentes estágios subseqüentes de desenvolvimento populacional de determinada espécie. DAPs um pouco maiores ausentes significam que plantas com um padrão médio de DAP bons para a exploração foram suprimidas da vegetação. Além disso, ausência ou redução do número de indivíduos com determinados DAPs podem indicar extração ou outros fenômenos antrópicos ou naturais passados, manifestados na estrutura atual da comunidade vegetal. As diferenças estatísticas nos DAPs verificadas entre as espécies (Tabela 8) devem estar refletindo aspectos fenológicos naturais das espécies. Murici e angico devem ser ainda plantas jovens em função dos DAPs médios encontrados, pois segundo Lorenzi (2002), Byrsonima sericea (murici) e Anadenathera sp (angico) pode chegar, respectivamente, a 70 e 80 cm de diâmetro. Mabea stulifera (canudo-de-pito), pode ter DAP com até 30 cm (Vieira et al., 1997) Piptadenia gonoacantha (pau-jacaré) pode chegar a 50 cm de DAP (Trevisan et al., 2003). Tabela 8 – Comparação das médias dos DAPs das espécies encontradas no fragmento de mata. Espécies N° de indivíduos Murici Angico Médias dos DAPs (cm) 28 27.4009 A 130 19.8823 B 89 15.7921 BC Pau-jacaré Canudo-de-pito 145 14.8614 C Médias seguidas de mesma letra não se diferem pelo teste de Tukey a 5% significância. Os diâmetros das espécies, tomados individualmente nas parcelas, foram reunidos por local e separados por classe de diâmetro (Tabela 9). Uma das classes (10,7 a 24,5 cm) contém a média dos tocos remanescentes (17,6 cm) medidos na mata, independente das parcelas. Essa classe é formada pelo desvio padrão (6,9 cm) no entorno da média dos tocos remanescentes. que nas trilhas, praticamente em todas as classes de DAPs. Esses números são discrepantes quando se compara os DAPs entre 40 e 60 cm. É necessário investigar mais o problema, mas há sinalização de que a presença de árvores grandes na borda exerce um efeito tampão sobre os extratores das plantas, protegendo-os da extração que ocorre normalmente no interior da mata. Na borda há um maior número de indivíduos do 89 Efeito de Atividades Antrópicas Sobre a Mata do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia Minas Gerais – campus São João Evangelista (IFMG-SJE) Tabela 9 – Número de indivíduos por local em cada classe de diâmetro. Local Classes de diâmetro (cm) Total de indivíduos 2,5 - 10,7 10,7 - 24,5 24,5 - 40 40 - 60 60 - 80 por local Borda 80 66 34 10 1 191 Trilha 41 44 18 2 1 106 Mata fechada 23 53 11 5 3 95 Total de indivíduos 144 163 63 17 5 392 Na borda há um número elevado de indivíduos na classe de 2,5 a 10,7 cm e em todos locais há poucos indivíduos na última classe de diâmetro, indicando estar esta mata sempre nos estágios iniciais regeneração das plantas, pois apesar da extração o banco de sementes é mantido. É preciso estudos continuados na Mata do IFMG-SJE, a fim se verificar os quantitativos populacionais ao longo dos tempos, para cada classe de diâmetro. Segundo Nunes et al. (2003) geralmente florestas maduras apresentam maior número de árvores com áreas basais grandes (próximo do diâmetro máximo da espécie), enquanto aquelas em estádios mais iniciais de regeneração, formam grandes adensamentos de árvores finas. Nas trilhas observa-se, a partir da segunda classe, um número gradativamente decrescente de indivíduos nas classes de maior diâmetro. Resultados esperados, uma vez que o acréscimo de biomassa nas áreas sob mata é menor em função da menor disponibilidade interna de luz. Embora na área de borda seja maior o número de indivíduos na penúltima classe em relação às outras áreas, entende-se que os exemplares de planta com diâmetros maiores, que persistem vivos na borda, tenham tido tempo suficiente para atingir o porte verificado, encontrando condições que favoreceram esse crescimento. Áreas de borda podem incrementar localmente área basal de indivíduos devido à maior incidência de luz (Nunes et al., 2003). De forma geral verifica-se, a partir da segunda classe de diâmetros, que o número total de indivíduos cai. Apenas 5,6% deles localizam-se nas duas últimas classes (Tabela 9). Isso indica que a mata encontra-se em processo de sucessão ecológica, não sendo, portanto uma mata remanescente original. Para Nunes et al. (2003) áreas que sofreram perturbações severas, possuem maior densidade de árvores finas e as áreas que sofreram distúrbios mais leves apresentam maior densidade de árvores altas e grossas, indicando estádio regenerativo avançado. Para 91,4% dos moradores a madeira extraída tinha fins energéticos (Tabela 10). Apenas 8,6% dos entrevistados usavam-na de forma estrutural (cercas, caibros e vigas para construção). Esses dados confirmam a exploração de madeira na Mata do IFMG-SJE e indiretamente pressão antrópica sobre os demais organismos dependentes desse fragmento florestal. Para Pereira et al. (2003) a exploração de subsistência afeta a fauna e a flora de um remanescente de vegetação colocando em risco a biota local. Para esses autores é possível minimizar a exploração dos remanescentes, a curto e médio prazo, através de ações de natureza educativo-ambiental na comunidade do local. Tabela 10 – Destino dado à madeira extraída pelos moradores por bairro. Finalidade da madeira Lenha % de uso por bairro Centenário I Centenário II Engenho de Serra Média de consumo (%) 100 90,9 83,3 91,4 Estrutural – 9,1 16,7 8,6 Móveis – – – – Comércio – – – – CONCLUSÃO Avaliando informações e imagens coletadas em campo constatam-se a retirada de madeira na Mata do IFMG-SJE, principalmente para fins energéticos, sendo de baixa expressão seu uso para fins estruturais. Os moradores extraem lenha da mata em função de seu baixo 90 poder aquisitivo e percebem essa mata como importante na qualidade de suas vidas. O uso dos DAPs das espécies mais exploradas pelos moradores, associado às entrevistas orientadas por questionário e as imagens serviram como indicadores de pressão antrópica sobre esse fragmento de Revista Agroambiental - Agosto/2011 mata, visto que a partir deles confirmou-se a pressão sofrida por essa mata. Essa pressão ocorre em função de uma DAP médio independente do local (borda, trilha e mata fechada) de extração. O envolvimento dos moradores em projetos de educação socioambiental deve ser garantido a fim de proteger a Mata do IFMG-SJE, que merece atenção institucional, principalmente do campus onde se encontra inserida. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AURICCHIO, A. L. R, Diagnóstico socioambiental: subsídios para a formação do corredor ecológico Cantareira-Mantiqueira. Ubatuba, Instituto Pau Brasil de História Natural, relatório técnico, n. 3 2003. BOTREL, R. T.; RODRIGUES L. A.; GOMES, L. J.; CARVALHO, D. A.; FONTES, M. A. L. 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Assim, objetivou-se com o presente estudo, avaliar o teor foliar e a produtividade do feijoeiro em sucessão a diferentes cultivares de batata, em solo de baixa fertilidade, sob diferentes adubações e a melhor interação na produção de batata, em massa seca total, e o feijoeiro. O experimento foi instalado em Latossolo Vermelho Distrófico, de textura franco-arenosa, município de Nova Resende, sul de Minas Gerais, no inverno de 2004 (batata) e verão 2004/2005 (feijoeiro). O delineamento estatístico foi de blocos ao acaso, com quatro repetições e esquema fatorial 3 x 4 envolvendo com três cultivares de batata (Atlantic, Asterix e Lady Rosetta) e quatro adubações no plantio (1, 2 e 4 t ha-1 de fertilizante formulado 4-14-8) e mais um tratamento testemunha, constituído por adubação recomendada com base na análise de solo (40 kg de N + 420 kg P2O5 + 220 kg de K2O ha-1). Em sucessão, na safra das águas, nas mesmas parcelas anteriores, implantouse a cultura do feijoeiro, cultivar Pérola (grupo carioca). A concentração de fertilizantes anteriormente utilizadas para a cultura da batata não afetou a germinação do feijoeiro. Os resultados da análise foliar do feijoeiro, aos 55 dias após semeadura, indicaram maiores valores acumulados de N e P na dose de 4 t ha-1 da formulação NPK, mas com efeito depressivo sobre o teor de Mg. Nas parcelas posteriores a cultivar de batata Lady Rosetta, o teor de Ca foi reduzido. Os teores de Cu foram elevados, sobretudo nos tratamentos cultivados anteriormente com ‘Atlantic’ e no tratamento com 4 t 4-14-8 ha-1. A adubação de acordo com a análise de solo resultou no maior teor foliar de B no feijoeiro, 60% superiores aos demais tratamentos de adubações. A adubação de acordo com a análise de solo resultou na maior produtividade no feijoeiro em cultivo sucessivo. A adubação com 2 t 4-14-8 ha-1 resultou na melhor interação para a produção de massa seca total da batata e produtividade de grãos no feijoeiro. Palavras-chave: Solanum tuberosum L.; Phaseolus vulgaris L.; sucessão de culturas. Crops field of Bean in Soil of Low Fertility in Succession to Potato Cultivars Under Different Fertilization ABSTRACT The use of residual fertilizer in the potato crop succession, especially for beans, especially because it is a plant of low nutritional requirements and a product that is the one of the main Brazilian food and eating habits, even though it is still a crop little studied and understood by farmers. Thus, the aim of the present study was to evaluate the content and productivity of bean leaf in succession to different potato cultivars in low fertility soil under different fertilization and better interaction in potato production, total dry mass, and the bean. The experiment was installed in a typic dystrophic, sandy loam texture, in the city of Nova Resende, south of Minas Gerais, during the winter of 2004 (potato) and summer 2004/2005 (bean). The statistical design was randomized blocks with four replications and 3 x 4 factorial design involving three potato cultivars (Atlantic, Asterix and Lady Rosetta) and four fertilization at planting (1, 2 and 4 t ha-1 fertilizer formulated 4-14-8), plus a control treatment, consisting of fertilizer recommended on the basis of analysis of soil (40 kg N + 420 kg P2O5 + 220 kg K2O ha-1). In succession, the harvest of the waters, in the same previous installments, it was implanted black bean cultivar Perola (Group Carioca). The fertilizer concentration previously used for cultivation of potatoes did not affect the germination of bean. The results of the analysis of bean leaf, 55 days after sowing, indicated higher values of N and P accumulated in a dose of 4 t ha-1 NPK, but 93 Cultivo do Feijoeiro em Solo de Baixa Fertilidade em Sucessão à Cultivares de Batata Submetidas a Diferentes Adubações depressing effect on the Mg content. In the plots after the potato cultivar Lady Rosetta, the Ca content was reduced. The levels of Cu were high, especially in the earlier treatments grown with ‘Atlantic’ and treatment with 4 t ha-1 4-14-8. The fertilizer according to the soil analysis resulted in higher foliar B in the bean, 60% higher than other fertilization treatments. The fertilizer according to soil analysis resulted in higher productivity in the bean crop in succession. A 4-14-8 fertilizer with 2 t ha-1 resulted in better interaction for the production of total dry mass of potato and grain yield in common bean. Key words: Solanum tuberosum L.; Phaseolus vulgaris L.; sequential crops. INTRODUÇÃO De cultivo complexo, ciclo curto e alta produção por área, a batateira é exigente em nutrientes, com a adubação influenciando na quantidade e qualidade dos tubérculos (Filgueira, 2000). A extração de nutrientes pela cultura é variável em função de diferentes cultivares, condições edafoclimáticas, tratos culturais, tubérculossemente, adubos utilizados e da quantidade de nutrientes absorvidos e exportados pelos tubérculos (Fontes, 1997). O excesso da adubação pode tornar a atividade onerosa e afetar a qualidade dos tubérculos. A batateira ocupa a primeira posição no consumo de fertilizantes, entre as culturas mais cultivadas no Brasil, em média de 2,3 a 2,8 t ha-1 de fertilizantes no plantio (Neves et al., 2003), chegando a 6 t ha-1 (Ribeiro, 1999). Analisando 1000 experimentos de diferentes países, verificou-se que as maiores produções de batata foram atingidas quando se empregou de 200 a 300 kg de N, 100 a 200 kg de P2O5 e 100 kg de K2O ha-1 (Perrenoud, 1993). A aquisição de batata-semente, defensivos e fertilizantes na bataticultura, representa de 65 a 85% do custo final (Camargo Filho, 2001). Os impactos ambientais advindos desta prática devem ser considerados, como a lixiviação de K e N, contaminando o lençol freático (Bregagnoli, 2006). Estratégias são necessárias para aperfeiçoar a aplicação de fertilizantes (eficiência econômica), com grandes quantidades de nutrientes empregadas para a batateira, superiores às necessidades fisiológicas, com baixo aproveitamento pela planta (Fontes, 1997). Teores foliares de nutrientes servem como importante indicativo da eficiência da absorção dos nutrientes contidos no solo, assim como a sucessão de culturas são estratégias verificando-se o sistema como um todo, no entanto, com pouco embasamento científico. Inúmeras são as tentativas de aproveitamento destes nutrientes no solo remanescentes da cultura da batata, como na cana-de-açúcar (Goviden, 1990; Iman et al., 1990), no milho (Batugal et al., 1990; Silva et al., 2000; Kikuti et al., 2002a) e, especialmente para o feijoeiro (Silva Filho, 1986, Kikuti et al., 2002b), cultura de fácil cultivo, de elevada demanda interna e de excelente valor de mercado, aumentando a eficiência do sistema com maiores períodos de rotação e menor uso da solanácea, resultando em vantagens agronômicas e ambientais (Stark & Porter, 2005). No sul de Minas Gerais, a utilização de feijão em sucessão a batata é uma atividade bastante difundida, onde se tem estudado diversas interações entre espécies vegetais, cultivares, estratégias de adubação e safras, etc.(Kikuti et al., 2002b). Busca-se a maior utilização e eficiência do uso solo, com rentabilidade das culturas, com maior retorno financeiro. Objetivou-se, com o presente estudo, avaliar o teor foliar e a produtividade do feijoeiro (cultivar Pérola) em sucessão a diferentes cultivares de batata, em solo de baixa fertilidade, sob diferentes adubações e a melhor interação na produção de batata, em massa seca total, e o feijoeiro. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido no período de 18 de junho a 07 de outubro de 2004 (batata) e de 20 de outubro de 2004 a 15 de fevereiro de 2005 (feijão), na Fazenda Goiabeiras, município de Nova Resende, sul de Minas Gerais, 21º 7’ 14” latitude (S) e 46º 26’ 0” longitude (W) a 1210 m de altitude. Durante o cultivo da batata, a temperatura média foi de 17,3ºC, a precipitação pluvial foi 93,6 mm, suplantados com irrigação. Durante o ciclo do feijoeiro, a temperatura média foi de 19,6ºC e a precipitação 978 mm no ciclo. O solo da área experimental é Latossolo Vermelho Distrófico, de textura franco-arenosa e suas características químicas apresentadas na Tabela 1. Tabela 1 - Resultado análise de solo antes da instalação cãs culturas da batata e do feijoeiro. Nova Resende (MG), 2004 pH M.O. P2O5 K2O Ca Mg Al H+Al SB T V Zn Fe Mn Cu B S H2O dag kg-1 mg dm-3 cmolc dm-3 % mg dm-3 6,12 2,74 4,7 127 1,8 0,7 94 0,03 2,5 2,8 5,32 53 3,16 107 15,2 1,48 0,7 8,4 Revista Agroambiental - Agosto/2011 O cultivo da batata ocorreu em delineamento experimental de blocos ao acaso, com quatro repetições e esquema fatorial de 3 x 4 envolvendo três cultivares de batata (Atlantic, Asterix e Lady Rosetta) e quatro adubações no plantio da solanácea (1, 2 e 4 t ha-1 do formulado 4-14-8), mais adubação recomendada (Fontes, 1997), com base na análise de solo (40 kg de N + 420 kg P2O5 + 220 kg de K2O ha-1 utilizando como fontes sulfato de amônio, superfosfato simples e cloreto de potássio). Em cobertura para todos os tratamentos foram utilizados 150 kg ha-1de sulfato de amônio (sulfato de amônio). A área da parcela experimental para a batata foi de 7,2 m2, com tubérculos em quatro linhas de plantio, espaçada 0,8 metro entre linhas e 0,3 metro entre tubérculos, com a densidade de 41.667 tubérculos ha-1. Em sucessão instalou-se a cultura do feijoeiro, cultivar Pérola (grupo carioca), utilizando as mesmas parcelas experimentais da batateira com 7,2 m2. As parcelas foram constituídas por 3 linhas de 5 metros, espaçadas 0,5 m entre si e 12 sementes por metro, utilizando os adubos residuais da cultura da batata. As sementes utilizadas para plantio apresentavam 92% de germinação, 0,5% de impurezas e estande final de 220.000 plantas ha-1. A leguminosa recebeu adubação de cobertura com 30 kg de N e 10 kg de K2O ha-1 (fonte formulado 30-00-10) e aplicação foliar em pré-florada (40 dias após semeio – DAS) com fungicida (metalaxyl), inseticida (malathion) e fertilizante solúvel (10-10-10 + Mg, Zn, Cu, Mn e Mo). Na batata, avaliou-se a produtividade de tubérculos e o teor de massa seca total (MST). No feijoeiro, avaliou-se o número de plantas emergidas (15 DAS); o teor foliar de nutrientes foliares (55 DAS) e a produtividade de grãos (colheita). O teor de nutrientes foi determinado pelo terceiro trifólio de plantas coletados ao acaso, utilizando digestão nitro-perclórica para os elementos, exceto para N e B obtidos, via digestão catalítica e seca, respectivamente (Sarruge & Haag, 1974). Os métodos empregados para determinação foram: K (espectrofotometria de chama), P (colorometria do metavanadato), S (turbidimetria do sulfato de Bário), Ca, Mg, Zn, Cu, Mn e Fe (espectrometria de absorção atômica), B (colorometria da azometina-H) e N (semi-Kjeldahl), (Malavolta et al., 1997). A produtividade do feijoeiro foi determinada a partir da colheita das vagens no estádio de maturação, secas em terreiro e pesado os grãos. Realizou-se a análise estatística, a distribuição normal e o desvio padrão dos resultados, a homogeneidade das variâncias e o Teste de Tukey para comparação das médias, a 5% de probabilidade, utilizando o software estatístico SAS. RESULTADOS E DISCUSSÃO Germinação do feijoeiro Não existiram diferenças significativas entre os tratamentos quanto à emergência das plantas do feijoeiro (P≥0,05), demonstrando que a quantidade de fertilizantes utilizados para a batata, não influiu sobre a germinação do feijão em sucessão, não apresentando higroscopicidade à semente no período chuvoso, no qual foi instalado o experimento. Teor foliar de nutrientes O teor dos nutrientes foliares do feijoeiro aos 55 DAS apresentou diferenças significativas (P<0,05) entre as parcelas nos tratamentos: adubações e cultivares de batata cultivada anteriormente. O teor de N apresentou variação de 4,85 a 5,32% entre os tratamentos, com valores concordantes com Malavolta et al. (1997), que relatam como ideal para o feijoeiro de 3 a 5%. Os maiores teores de N foram observados na dose máxima de fertilizante (4 t 4-14-8 ha-1) em todas cultivares de batata anteriormente cultivadas, similar ao observado por Silva et al. (2000) para a mesma dose do adubo residual na cultura do feijão. Similar ao ocorrido com N, o teor de P foi de 0,36% na maior adubação anterior (4 t 4-14-8 ha-1), 16,7% superior as demais adubações residuais. Malavolta et al. (1997) definem como valores ideais de P aqueles entre 0,2 e 0,3%, valores inferiores aos obtidos neste experimento, apontando que o uso de adubação residual da batateira para o feijoeiro, atende à necessidade da planta em P. Com relação ao teor de K, a variação foi de 2,09 a 2,58%, dentro da faixa recomendada de 2,00 a 2,50% (Malavolta et al., 1997), sem diferenças significativas entre os tratamentos (adubação x cultivares batata). Provavelmente, isso decorre a baixa capacidade residual do K, altamente lixiviável, sobretudo em solos de textura arenosa (Fassbender & Bornemiza, 1987). Na análise foliar do feijoeiro nas parcelas anteriormente cultivadas com ‘Lady Rosetta’ (em todas as adubações), houve um decréscimo de 8% no teor de Ca, quando comparada as demais cultivares de batata. No tratamento com 2 t 4-14-8 ha-1, observaou o maior teor de Ca foliar para o feijoeiro (média de 1,92%), 12,5% superior às demais adubações. O teor recomendado para o feijoeiro é de 1,50 a 2,00% (Malavolta et al.,1997). Os teores foliares de Mg e S médios observados foram de 0,40 e 0,38%, respectivamente, menores que os indicados por Malavolta et al. (1997) que são de 0,40 a 0,70% (Mg) e 0,50 a 1,00% (S). O baixo teor de Mg foliar se deve provavelmente, a elevada adubação potássica empregada na batata (efeito antagônico K x Mg), que na menor dosagem da formulação 4-14-8 (2 t) foi de 80 kg e, na maior (4 t), 320 kg de K2O ha-1 plantio, 95 Cultivo do Feijoeiro em Solo de Baixa Fertilidade em Sucessão à Cultivares de Batata Submetidas a Diferentes Adubações o que pode ter exercido forte influência sobre a absorção de Mg pelo feijoeiro. A adubação de acordo com a análise de solo utilizada para a batateira, residual ao feijoeiro, resultou no menor teor foliar de S com 0,34% aos 55 DAS, mesmo com a presença de sulfatos na sua composição. Na análise foliar para os micronutrientes, o teor de Fe foi elevado (mas dentro do recomendado), sobretudo na adubação com 4 t 4-14-8 ha-1, com 360 mg kg-1 nas folhas do feijoeiro, com as demais adubações apresentando média de 282 mg kg-1. Entre as cultivares de batata anteriormente cultivada, ‘Lady Rosetta’ apresentou 15% menos. O teor foliar de Fe para o feijoeiro é de 100 a 400 mg kg-1 (Malavolta et al.,1997). O teor foliar de Zn para o feijoeiro nas parcelas anteriormente cultivadas com a cultivar Asterix apresentou 15% mais Zn (82,8 mg kg-1), dentro da faixa ideal para o feijoeiro que é de 20 a 100 mg kg-1 (Malavolta et al., 1997). O menor teor de Mn foi observado onde, anteriormente, havia sido utilizada a cultivar Lady Rosetta (16% menor) com 217,3 mg kg-1, mas dentro do ideal, que varia de 30 a 300 mg kg-1 (Malavolta et al.,1997). O cultivo sucessivo do feijoeiro nas parcelas anteriormente cultivadas com ‘Atlantic’, resultou em altos teores de Cu foliar, com 45,5 mg kg-1, 23% superior as demais cultivares, sendo que para este elemento, a adubação de maior incremento no teor foliar de Cu, foi aquela feita na dose de 4 t 4-14-8 ha-1, elevando em 55% o teor foliar do feijoeiro (57,0 mg kg-1). O teor de Cu observado neste experimento para todos os tratamentos e suas interações (adubação x cultivares de batata), são superiores ao recomendado por Malavolta et al. (1997) que varia de 10 a 20 mg kg-1, proveniente do elevado emprego de fungicidas a base de íons metálicos como o Cu, utilizados para a batateira, uma vez que na análise foliar e de tubérculos na colheita da batata, também apresentaram elevado valor para este elemento. Em relação ao teor foliar de B, este micronutriente apresentou elevada concentração no resíduo da batateira, quando se empregou a adubação de acordo com a análise de solo, 60% superior as demais adubações (107 mg kg-1) valor acima do recomendado por Malavolta et al. (1997) que é de 30 a 60 mg kg-1. Cuidados devem ser tomados para o correto balanceamento entre nutrientes, pois, o excesso de B pode interferir na dinâmica de absorção e translocação do Zn e N na batateira (Westermann, 2005). Produtividade do feijoeiro x produção de MS da batata As cultivares de batata anteriormente cultivada, apresentaram diferentes acúmulos de massa seca total (MST) nos tubérculos (P≤0,01). Esta medida torna-se importante, uma vez que o maior acúmulo de MS pelos tubérculos, teoricamente, pode resultar em menor disponibilidade de nutrientes às culturas sucessivas, uma vez que estes são componentes importantes da MS, especialmente na batateira. ‘Atlantic’ foi a cultivar que mais acumulou MS nos tubérculos colhidos, totalizando 3063 kg ha-1, superior a ‘Asterix’ que apresentou 2527 kg de MS ha-1. Com menor acúmulo de MS, ‘Lady Rosetta’ apresentou 2216 kg ha-1 (Figura 1). Figura 1. Produção de massa seca de tubérculos de batata sob diferentes adubações em solo de baixa fertilidade. Nova Resende (MG), 2004 Médias de mesma letra, minúsculas comparando adubações e, maiúsculas comparando cultivares, não se diferem entre si, a 5% de probabilidade pelo Teste de Tukey. 96 Revista Agroambiental - Agosto/2011 Entre as adubações testadas, aquela feita com 2 t 4-14-8 ha-1 foi a que propiciou o maior acúmulo de MS nos tubérculos de batata, com 3143 kg ha-1, seguidas das adubações com 1 e 4 t 4-14-8 ha-1, respectivamen- te, 2759 e 2673 kg de MS ha-1. A adubação de acordo com a análise de solo resultou no menor acúmulo de MS pelas cultivares de batata, em solo de baixa fertilidade, com média de 1832 kg ha-1 (Tabela 2). Tabela 2 - Produção de massa seca dos tubérculos (PMST), classe I (PMSI), classe II (PMSII), classe III (PMSIII) e classe IV (PMSIV) de cultivares de batata sob diferentes adubações em solo de baixa fertilidade. Nova Resende (MG), 2004 PMST PMSI PMSII Cultivar Atlantic Asterix Lady Rosetta PMSIII PMSIV kg ha-1 3063 A 2527 772 A B 2216 C 324 B 282 B 1336 A 732 963 855 AB C B 1072 A 710 B 135 C 423 A 281 B Adubação 1 t 4-14-8 ha-1 2 t 4-14-8 ha-1 4 t 4-14-8 ha-1 2759 b 3143 a 2673 b 381 bc 1090 a 998 a 328 a 639 a 1231 a 1042 a 270 a 544 ab 967 ab 937 a 265 a 275 754 40 kg N + 420 kg P2O5 + 1832 c c b 539 b 255 a 220 kg K2O ha-1 Médias seguidas de mesma letra, minúscula comparando adubações e maiúscula comparando cultivares nas colunas, não diferem estatisticamente entre si, a 5% de probabilidade pelo Teste de Tukey. Na avaliação da produtividade do feijoeiro em função do aproveitamento do adubo residual deixado pelas interações cultivares de batata x adubações, em solo de baixa fertilidade, ocorreram diferenças altamente significativas (P<0,01) em relação às adubações residuais empregadas, sem interferência das cultivares de batatas anteriormente utilizadas. A adubação residual de maior incremento na produtividade do feijoeiro foi aquela que se empregou a adubação de acordo com a análise de solo para a cultu- ra da batata, resultando em 2502 kg ha-1 de grãos, superior as demais adubações da formulação com 4-14-8. A mesma adubação resultou na menor produtividade entre as cultivares de batata (acúmulo de MS) (Figura 2), demonstrando que a adubação de acordo com a análise de solo para a cultura da batata, com altas dosagens de nutrientes e com as fontes utilizadas (sulfato de amônio, superfosfato simples e cloreto de potássio), não reverteram em produtividade na cultura da batata, mas foram reaproveitados pelo feijoeiro. 97 Cultivo do Feijoeiro em Solo de Baixa Fertilidade em Sucessão à Cultivares de Batata Submetidas a Diferentes Adubações Figura 2. Produtividade do feijoeiro cultivado sob quatro adubações residuais de três cultivares de batata. Nova Resende (MG), 2005 As adubações com 2 e 4 t de 4-14-8 ha-1 re- bações. 2006. 141 p. Tese (Doutorado em Fitotecnia) sultaram em 2172 e 2191 kg ha-1 de grãos para o feijo- – Escola Superior de Agricultura ‘Luiz de Queiroz’, Piraeiro, respectivamente, sem diferença entre si. Mesmas cicaba, 2006. produtividade entre essas duas dosagens de fertilizan- CAMARGO FILHO, W.P. Produto Interno Bruto (PIB) da tes, residuais da batateira, foi observado por Silva et al. cadeia produtiva da batata. Batata Show, Itapetininga, (2000) no para a cultura do milho, utilizando as duas ano1, n.2, p.22, 2001. quantidades (2 e 4 t) da formulação 4-14-8, sem diferenCASTRO, A.M.C.; BOARETTO, A.E. Adubação foliar do ças significativas na produção de milho. feijoeiro com nutrientes, vitamina B1 e metionina. CienCom menor produtividade, mas semelhante à tífica, São Paulo, v.a6, p. 173-178, 2002. adubação com 2 t de 4-14-8 ha-1, a adubação com 1 tonelada do formulado, resultou na produção de 1907 FASSBENDER, H.W.; BORNEMIZA, E. Química del kg ha-1 de feijão. A produção de MS dos tubérculos das suelos, con énfasis en suelos de América latina. Turcultivares de batata para as adubações com 1, 2 e 4 t de rialba, IICA, 1987. 420p. 4-14-8 ha-1 foram, respectivamente, 2759, 3143 e 2673 FILGUEIRA, F.A.R. Novo manual de olericultura: agrokg de MS ha-1, sendo as adubações com 1 e 4 t iguais tecnologia moderna na comercialização de hortaliças. entre si e inferiores a adubação de 2 t de 4-14-8 ha-1. Viçosa:UFV, 2000. 402p. As produtividades de feijão obtidas neste expe- FONTES, P.C.R. Preparo do solo, nutrição mineral e rimento foram semelhantes àquelas obtidas por Castro adubação da batateira. Viçosa, UFV, 1997. 42p. & Boaretto (2002), em condição de alto grau tecnológico do feijoeiro na época das águas, que apresentaram ren- GOVINDEN, N.; Intercropping of sugar-cane with potato dimentos entre 1900 a 2370 kg ha-1. Kikuti et al. (2002) in Mauritius: A successful, cropping system. Field Crop obteve-se produtividades entre 826 e 2210 kg ha-1 para Research, Amsterdan, v.25, n.1-2, p.99-110, 1990. o feijoeiro, utilizando adubo residual da batateira, na sa- IMAN, S.A.; HOSSAIN, A.H.M.D.; SIKKA, L.C.; MIDMOfra das águas, valores similares ao obtido neste experi- RE, D.J. Agronomic management of potato/sugarcane mento. Os mesmos autores observaram que a produtivi- intercropping and its economic implications. Field Crop dade, em mesmas condições de solo (adubo residual), Research, Amsterdan, v.25, p.111-122, 1990. foi superior na safra inverno-primavera, com irrigação KIKUTI, H.; ANDRADE, M.J.B.; RAMALHO, M.A.P. Ressuplementar, sob adubação 3 t 4-14-8 ha-1. posta diferencial de cultivares de milho ao efeito residual CONCLUSÕES da adubação da batata. Ciência e Agrotecnologia, LaEm solo de textura franco-arenosa de baixa fer- vras, v.26, n.1, p.108-116, 2002a. tilidade, a maior produtividade do feijoeiro foi obtida sob a utilização da adubação residual da batateira baseada na recomendação da análise de solo. Porém, na associação produtividade feijoeiro e produção de batata em MS, a adubação com 2 t 4-14-8 ha-1 mostrou-se eficaz no acúmulo de MS para a cultura da batata, com elevação dos teores de nutrientes foliares e produtividade do feijoeiro em cultivo sucessivo, acima da média. AGRADECIMENTOS A FAPESP pelo apoio financeiro dado ao projeto e a Técnica de Laboratório Elaine Cristina Ferreira do Laboratório de Análise de Solos e Tecido Foliar do IFSULDEMINAS – campus Muzambinho, pelo empenho e dedicação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BATUGAL, P.A.; CRUZ, A. de la; LIBUNAO, W.H.; KHWAJA, A.M. Intercropping potato with maize in Lowland Philippines. Field Crop Research, Amsterdan, v.25, n.12, p.83-97, 1990. BREGAGNOLI, M. Qualidade e produtividade de cultivares de batata para indústria sob diferentes adu- 98 KIKUTI, H.; ANDRADE, M.J.B.; RAMALHO, M.A.P.; ABREU, A.F.B. Viabilidade econômica da adubação adicional de genótipos de feijoeiro em relação ao resíduo da adubação da batata. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.37, n.4, p.455-461, 2002b. MALAVOLTA, E.; VITTI, G.C.; OLIVEIRA, S.A. Avaliação do estado nutricional das plantas: princípios e aplicações. 2 ed. Piracicaba: Potafós, 1997. 319p. NEVES, E.M.; RODRIGUES, L.; DAYOUB, M.; DRAGONE, P.S. Aplicação de fertilizantes na bataticultura. Comportamento de preços no Plano Real. Batata Show, Itapetininga, ano 3, n.6, p.20-21, 2003. PERRENOUD, S. Potato: fertilizer for yield and quality. Berne, International Potash Institute, 1993. 94p. (IPIBuletin,8). RIBEIRO, J.D.R. Associativismo garante futuro do produtor de batatas. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.20, n.197, p.5-6, 1999. Revista Agroambiental - Agosto/2011 SILVA FILHO, A.V. Efeito da adubação da batata (Solanum tuberosum L.) sobre o feijão-de-vagem (Phaseolus vulgaris L.) e milho verde (Zea mays L.). 1985. 120 p. Dissertação (Mestrado em Fitotecnia) – Universidade Federal de Lavras, Lavras, 1985. SILVA, E.C.; SILVA FILHO, A.V.; ALVARENGA, M.A.R. Efeito residual da adubação da batata sobre a produção do milho-verde em cultivo sucessivo. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.35, n.11, p.2151-2155, 2000. STARK, J.C.; PORTER, G.A. Potato nutrient management in sustainable cropping systems. American Journal of Potato Research, Orono, v. 82, p. 329-338, 2005. WESTERMANN, D.T. Nutritional requeriments of potatoes. American Journal of Potato Research, Orono, v. 82, p. 301-307, 2005. 99 Revista Agroambiental - Agosto/2011 Análise de Sistemas de Geração de Energia Elétrica com Base na Pegada Ecológica Modificada Bruno Silva de Carvalho, [email protected] - IFSULDEMINAS; Carlos Cezar da Silva, [email protected] – IFSULDEMINAS; Cezar Augusto Frimaio da Silva, [email protected] - UFABC RESUMO O presente trabalho determina a Pegada Ecológica modificada e a Capacidade de Carga (Zhao et al., 2004) de três sistemas de geração de energia elétrica com uso de combustíveis renováveis e as compara. Foram estudados os sistemas de Utilização de Resíduos Sólidos Urbanos em um Aterro Sanitário na cidade de São Paulo (Frimaio, 2011), Estação de Tratamento de Efluentes na cidade de Uppsala na Suécia (Bjorklund, et al., 2001) e uma Usina Autônoma localizada em São Paulo (Silva, 2006). Os resultados obtidos apontam que o sistema de Aproveitamento de resíduos apresenta melhor performance com relação ao sistema de Estação de Tratamento de Esgoto a Usina Autônoma. Palavras chaves: emergia, pegada ecológica, usina autônoma, resíduos, energia, ETE. Analysis of Systems of Generation of Electric Energy on the Basis of the Modified Ecological Footprint ABSTRACT The present work determines the modified Ecological Footprint and the Load Capacity (Zhao et al., 2004) of three systems of generation of electric energy with fuel use you renewed it compares and them. The systems Station of Treatment of in the city of Uppsala in Sweden (Bjorklund, et al., 2001) in São Paulo had been studied of Use of Urban Solid Residues in Sanitary Aterro in the city of São Paulo (Frimaio, 2011) Effluent located Independent Plant and, (It hisses, 2006). The gotten results point that the system of Exploitation of residues better presents performance with regard to the system of Station of Treatment of Sewer the Independent Plant. Key words: emergy, ecological footprint, independent plant, residues, energy, STS INTRODUÇÃO Atualmente, a questão ambiental é discutida em todos os meios de comunicação: jornais, revistas, programas de televisão, rádio, etc. Alguns dos assuntos mais abordados são: a questão do aquecimento global, derretimento de geleiras, catástrofes, mas se quer paramos para pensar o que muitas vezes é a causa desses acontecimentos. Preocupa-se muito em colocar a culpa em quem está a nossa volta, ou em quem polui mais ou gera mais resíduos do que nós, mas esquecemos que as nossas ações de uma forma ou de outra acaba por produzir algum tipo de resíduo, danificando assim o ambiente em que vivemos. Cada ser humano que habita o nosso planeta deixa um “rastro”, uma “marca”, uma Pegada Ecológica. É interessante que pudéssemos aprender a ver as nossas atitudes individualmente, e não simplesmente as atitudes coletivas. Pegada Ecológica A Pegada Ecológica pode ser comparada ao simples caminhar sobre a areia na praia, quando caminhamos calmamente e prestando a atenção em nossos passos podemos verificar o pequeno rastro que deixamos nela, mas quando começamos a correr ou andar com maior intensidade com movimentos mais bruscos, a nossa pegada será maior e mais profunda. É necessário levar em consideração cada um que estão nessa caminhada, cada um terá uma pegada maior ou menor. É citada na literatura como um indicador de sustentabilidade, a qual tem como proposta a quantificação das áreas necessárias para produzir recursos e assimilar os resíduos gerados por certa população (Wackernagel e Rees, 1994). Pegada Ecológica Modificada Utilizando a síntese em emergia Odum, (1996), Zhao et al. (2004) propõem uma cálculo de Pegada Ecológica (PE) e Capacidade de Carga (Cc) modificadas. Assim, a Pegada Ecológica modificada é considerada como 101 Análise de Sistemas de Geração de Energia Elétrica com Base na Pegada Ecológica Modificada a área da região que corresponde ao fornecimento de recursos não renováveis e provenientes da economia ao sistema. Breve histórico sobre a geração de energia Por volta do século XVIII, através da Revolução Industrial onde que houve um desenvolvimento tecnológico através do carvão como principal fonte de energia, veio também a concepção de que a natureza seria uma fonte de ilimitada de recursos à disposição do homem (Hemery et. al., 1993). Com a descoberta do petróleo, o carvão deixa de ser a principal fonte de energia No século XX, o uso intensificado do petróleo impulsionou ainda mais o processo de industrialização e os desenvolvimentos econômicos, ocasionando intensa modificação do espaço ocupado pelo homem (Santos, 1977). Já o do uso da geração de eletricidade impulsionou os avanços tecnológicos e criou uma forte dependência dos combustíveis fósseis para geração de energia, a exemplo do carvão mineral. (Strapasson, 2004). Atualmente, o consumo de energia elétrica vem crescendo a cada dia mais, tanto no setor industrial, comercial ou residencial. Se esse aumento continuar de forma significativa pode ser que venha ocorrer uma crise devido à escassez energética. Segundo Goldemberg (1998), esse consumo de energia vem crescendo em média 2%, ao ano na última década com perspectiva de que venha a duplicar em 30 anos se esse consumo de energia elétrica continuar dessa forma. Em específico, no Brasil isso significa uma rápida exaustão de reservas de combustíveis fósseis. Segundo Braga (2002), fontes renováveis são os recursos naturais que depois de utilizados ficam disponíveis novamente naturalmente através de ciclos que ocorrem na natureza, ou seja, sua taxa de uso é menor que a taxa de regeneração. Atualmente, o desenvolvimento sustentável é visto como uma necessidade global, para que as gerações vindouras tenham condições de sobrevivência (Brundtland, 1987). Apesar do Brasil não estar entre os países desenvolvidos estabelecidos no protocolo de Kyoto em 1992, é necessário seguir o princípio de responsabilidade comum, pois é uma questão que diz respeito à todas nações. A necessidade de utilização de fontes de energias renováveis é de grande importância, uma vez que contribuem para a mitigação das emissões de gases de efeito estufa (GEE) (Udaeta, 1997). A princípio as usinas elétricas utilizavam o carvão mineral como combustível, sendo substituído por outros combustíveis fósseis como, por exemplo, energia nuclear. Existem usinas hidrelétricas que obtém a energia través do acionamento de turbinas pela queda d’água sendo este um sistema de geração de longa vida útil e renovável, podendo acarretar conseqüências ao meio ambiente como perda da biodiversidade. 102 Fontes renováveis como a energia eólica também são utilizadas, mas, em pequena escala, sendo obtida através da energia cinética dos ventos onde que, as células de combustível, que combinam eletroquimicamente hidrogênio e oxigênio para produzir eletricidade, energia geotérmica, como também à conversão solar direta em eletricidade, através de um sistema chamado fotovoltaico (sistema constituído de um conjunto de painéis para a captação de energia solar). Segundo estimativas de Hall (1991), a utilização de um terço dos resíduos disponíveis seria capaz de atender a 10% do consumo elétrico mundial e com a implantação de um programa de plantio de 100 milhões de hectares de culturas especialmente para esta atividade, seria possível atender 30% do consumo. Descrição dos Sistemas Aterro Sanitário O aterro sanitário utilizado como base para este trabalho está localizado na cidade de São Paulo, opera com a carga anual de 1,70 toneladas de resíduos sólidos. ETE A estação de tratamento de esgoto situa-se na cidade de Uppsala, Suécia, que trata de 100.000 m³ de esgoto anualmente pelo método de Lodo Ativado. De acordo com o protocolo de Kyoto (MRE, 1997), que estabelece que até 2010 o uso de fontes de energia renovável deveria alcançar 10% da matriz energética (Braga et al, 2002), Usina autônoma A usina autônoma é idealizada para o Estado de São Paulo em uma área de 4.360 ha, onde 1.494 ha seriam utilizados para o plantio de cana, produzindo 40.000 litros de álcool diários, e 27,1 kWh de eletricidade excedente por tonelada de cana utilizando uma caldeira de 67 bar/480˚C, operando durante 210 dias ao ano. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA A revisão bibliográfica está dividida em duas partes, a primeira trata de apresentar as bibliografias utilizadas como base de dados para este trabalho, a segunda parte apresenta as bibliografias que utilizaram a pegada ecológica modificada (Zhao et al, 2004) Primeira parte, para a realização dos cálculos necessários para a elaboração deste trabalho, foram utilizados as bibliografias apresentadas abaixo: Frimaio (2011) descreve que devemos considerar que a queima do biogás gerado no aterro sanitário, além de gerar eletricidade, também transforma o metano em dióxido de carbono e vapor d’água, e seu aproveitamento deve ser considerado, uma vez que num período de 100 anos, 1 grama de metano contribuiria 21 vezes mais para a formação do efeito estufa do que 1 grama Revista Agroambiental - Agosto/2011 da dióxido de carbono (World Bank, 2004). Frimaio (2011) realizou a contabilidade em emergia do Aterro Sanitário São João, dessa forma foi possível estimar todos os fluxos de energia que o sistema utiliza, assim sendo, alguns insumos foram contabilizados, como por exemplo, maquinários e materiais de construção. Os fluxos de energia do sistema foram transformados para uma métrica comum, o joule de emergia solar, através da multiplicação das quantidades de cada insumo pela sua respectiva transformidade Corsini et. al (2011), concluem que através do indicador ELR verificou-se que o resultado obtido pelo sistema da usina autônoma representa que a energia solar dos recursos não renováveis e dos recursos advindos do sistema econômico é 2,12 vezes maior que a energia solar equivalente dos recursos renováveis utilizados, indicando uma baixa carga ambiental e um baixo estresse ambiental. Devido ao resultado obtido no índice de sustentabilidade, fica clara a necessidade de melhorias com o intuito de ter um aumento na sustentabilidade do ciclo. Bjoklund et al., (2001), realizaram o estudo em uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) verificando que o sistema apresenta poucas fontes de energia renovável, seu índice é de 0,0657%, sendo inferior ao mínimo de 10% estabelecido pelo protocolo de Kyoto (MRE, 1997). Com relação ao índice de sustentabilidade, o valor obtido é muito baixo, com isso é necessário que haja grandes melhorias para que ocorra aumento na sustentabilidade do ciclo. utilizado para geração de energia elétrica, seria ineficiente, pois a transformidade encontrada é maior do que as de outras fontes de energia elétrica. Silva (2006) fez a comparação entre dois sistemas, o primeiro utiliza um sistema de biodigestão no Estado do Rio de Janeiro e o segundo opera com o sistema de Lodo Ativado na Estação de Tratamento de Efluentes no Estado de São Paulo. Foram quantificadas as emergias envolvidas nestes sistemas e comparado os dois modelos de tratamento utilizando indicadores ambientais. Comparando esses dois sistemas pode-se verificar que o sistema de Lodo Ativado apresentou melhor performance com relação à Capacidade de Carga e à Pegada Ecológica. Quando calculado e diferença entre esses dois indicadores observou-se que o Biodigestor obteve um valor negativo, apresentando um déficit de área. OBJETIVOS Objetivo Geral O presente artigo tem como objetivo realizar o cálculo da Pegada Ecológica modificada dos sistemas propostos, que utilizaram a Contabilidade em emergia e compará-las. O primeiro trata da Geração de Energia Instalado em uma Usina Autônoma no Estado de São Paulo, o segundo em uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) situada em Uppsala, Suécia e o terceiro sistema é sobre o Aproveitamento Energético dos Resíduos Sólidos Urbanos em Aterro Sanitário no Estado de São Paulo. Objetivos Específicos Segunda parte, aqui são apresentadas as bibliografias de trabalhos que utilizaram a pegada ecológica modificada como métrica. Apresentar o resultado dos sistemas estudados, determinando o superávit ou déficit de área de cada sistema. Odum (1996) desenvolveu e aplicou a metodologia em emergia para o cálculo de sistemas ambientais, processos industriais e serviços. Utilizando a síntese emergética Odum, (1996) e Zhao et al, (2004) propuseram um cálculo de Pegada Ecológica (PE) e Capacidade de Carga (Cc) modificadas, sendo assim a Pegada Ecológica modificada é considerada como a área da região que corresponde ao fornecimento de recursos não renováveis e provenientes da economia. É considerada a capacidade de carga, a área necessária para o fornecimento de recursos renováveis ao sistemas. A diferença entre os dois valores (Cc-PE), mostrará se o sistema está em débito ou em crédito com a biosfera. METODOLOGIA Björklund et al. (2001), calcularam a transformidade da energia elétrica gerada através do aproveitamento do biogás produzido por um biodigestor instalado na estação de tratamento de esgoto com sistema de tratamento convencional, na Suécia. Comparando o valor obtido com a transformidade da energia elétrica utilizada no sistema, que é composta por uma parte de energia elétrica de usina nuclear e outra parte por energia elétrica de hidroelétrica, concluíram que se o sistema fosse A pegada ecológica modificada estabelece uma relação entre a emergia e pegada ecológica, desenvolvida por Rees e Wackernagel (1994), associa os recursos utilizados por um sistema à área necessária para o suprimento destes recursos. Zhao et al. (2004) associam os fluxos de emergia, que também representam os recursos utilizados por um sistema, a uma área. Desta forma, propõem um cálculo de pegada ecológica modificada, que leva em conta os recursos utilizados pelo sistema (N+F+R) em relação à densidade emergética local. Zhao et al (2004) propõem ainda o cálculo da Capacidade de Carga modificada (Cc), que leva em conta a emergia renovável do sistema e a densidade emergética do planeta. Quanto maior o valor de Cc, ou seja, quanto maior for o fluxo de emergia renovável utilizada pelo sistema, maior será o tempo em que o ambiente poderá suportar este sistema. A Pegada Ecológica é calculada através da razão entre os recursos não renováveis somado com os 103 Análise de Sistemas de Geração de Energia Elétrica com Base na Pegada Ecológica Modificada recursos pagos, dividido pela emergia da região sobre a área da região conforme equação 1. A Capacidade de Carga é dado pelo razão entre os recursos renováveis divididos pela emergia da Terra pela área da Terra, de acordo com a equação 2. A diferença entre Cc e PE indica um débito (custo ao planeta) ou crédito (benefício ao planeta) do sistema para com o meio ambiente, é calculada pela razão entre a área da Terra pela emergia da Terra, multiplicado pela diferença entre os recursos renováveis e representada na equação 4, multiplicado pela somatória dos recursos não renováveis e os recursos pagos. Equação 1 Equação 2 Equação 3 O valor de EmT refere-se à emergia total da Terra e AT é a área da Terra, sendo R a emergia renovável utilizada pelo sistema, é a razão entre a área da região sobre a área da Terra estudada, dividido g/y= (Amp/At)/(Emp/Emt) pela razão entre a emergia da região pela emergia da Terra. EmP é ao total de emergia da região em que está o sistema e AP é a área desta região, conforme equação 4. Equação 4 Tabela 1 . Avaliação da Emergia da Estação de Tratamento de Esgoto em Uppsala, Suécia. (adaptado de Björklund et al., 2001) 104 Revista Agroambiental - Agosto/2011 Tabela 2 . Avaliação da Emergia da Usina Autonoma, São Paulo. (adaptado de Silva, 2009) Tabela 3 . Avaliação da Emergia de Aproveitamento Energético dos Resíduos Sólidos Urbanos em Aterro Sanitário, São Paulo. (adaptado de Frimaio, 2011) Os resultados obtidos com o uso da metodologia utilizando as equações 1, 2 e 3, são apresentadas na tabela 4. 105 Análise de Sistemas de Geração de Energia Elétrica com Base na Pegada Ecológica Modificada Tabela 4. Cálculo da PE e da Cc dos sistemas da estação de tratamento de esgoto (ETE), usina autônoma e aproveitamento de resíduos sólidos urbanos em uma aterro, segundo a proposta de Zhao et al., 2004(*). (*) Cálculos detalhados no anexo. Verifica-se que o resultado obtido no sistema de Aproveitamento de Resíduos com relação à Pegada Ecológica é 34,91 vezes maior que o valor do sistema de Usina Autônoma e 2.433.1010 vezes maior que a Estação de Tratamento de Efluentes, dessa forma o sistema com a menor pegada ecológica é a Estação de Tratamento de Efluentes. Indicando que a Usina autônoma é o sistema que necessita de maior área para implementação. Com relação à Capacidade de Carga o maior valor obtido foi o do Sistema de Aproveitamento de Resíduos, sendo ele 12,20 vezes maior que a Usina Autônoma e 3,39.1014 vezes maior que o sistema de Aproveitamento de Resíduos. Indicando que, sendo o maior fluxo de emergia renovável pelo sistema, maior será o tempo em que o ambiente poderá suportar este sistema. Verifica-se que o resultado da diferença entre a Capacidade de Carga e a Pegada Ecológica foi melhor na Estação de Tratamento de Esgoto, sendo que este é 3,17.1003 menor que a Usina Autônoma e 3,39.1005 vezes menor que o sistema de Aproveitamento de Resíduos. CONCLUSÕES Foram realizados o cálculo da Pegada Ecológica modificada, da Capacidade de Carga, e a diferença entre esses indicadores. A partir dos resultados determinados, verifica-se que o sistema de produção de energia elétrica com Aproveitamento de resíduos apresenta melhor desempenho, pois a área excedente segundo a metodologia aplicada é maior, sendo assim o “rastro” deixado no planeta por esse sistema é bem inferior comparado aos sistemas discutidos. Para que os sistemas de geração de energia 106 elétrica na ETE e na Usina Autônoma possam apresentar melhor desempenho, seria necessária a substituição de alguns fluxos de energia de fontes pagas por recursos de fontes renováveis. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BJÖRKLUND, J.; GEBER, U; RYDBERG, T. (2001) Emergy analysis of municipal wastewater treatment and generation of electricity by digestion of sewage sludge, Resources, Conservation and Recycling, 31, p.293-316. BRAGA,B.; HESPANHOL,I.; CONEJO,J.G.L; BARROS,M.T.L; SPENCER,M.; PORTO,M.; NUCCI,N.; JULIANO,N.; EIGER,S. (2002) – Introdução à Engenharia Ambiental, São Paulo, Prendtice Hall BRUNDTLAND, G. 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A paisagem fragmentada atualmente no Bioma é composta por manchas de fragmentos florestais isolados ou conectados por corredores de vegetação, natural ou introduzida. As aves são excelentes dispersores e contribuem para a conformação e dinâmica de ambientes fragmentados uma vez que estão diretamente relacionadas com os vegetais. São necessários estudos complementares e mais complexos envolvendo essa área, somando os esforços de estudos de frugivoria e dispersão, visando à reconstrução e reabilitação de ambientes fragmentados. No presente manuscrito são apresentadas algumas relações entre a distribuição e comportamento de aves e a estrutura da paisagem fragmentada, sob o ponto de vista da vegetação. Palavras-chave: estrutura de paisagem, dispersão de propágulos, diversidade de aves Relation Between Bird Behavior, Landscape Conformation and Plant Population Structure ABSTRACT The process of spalling of the Cerrado Biome is fruit of the agricultural expansion. The fragmented landscape currently in this Biome is composed for spots of forest fragments isolated or hardwired by corridors of vegetation, natural or introduced. The birds are excellent dispersive and contribute for the conformation and fragmented environment dynamics a time that directly is related with vegetables. Complementary and more complex studies are necessary involving this area, adding the efforts of frugivory studies and dispersion, aiming at the fragmented environment reconstruction and whitewashing. In the gift manuscript some relations between the distribution and behavior of birds are presented and the structure of the broken up landscape, under the point of view of the vegetation. Keywords: structure of landscape, dispersion of propagules, bird diversity INTRODUÇÃO Aves são excelentes representantes de fauna que agem como dispersores de sementes e propágulos. Nos ambientes tropicais, dentre os representantes da fauna, aves, insetos e morcegos são os principais dispersores dos vegetais. Desta forma, destaca-se sua importância na dinâmica de bordas em ambientes fragmentados e em conexões de paisagem fragmentada (corredores ecológicos). O presente trabalho tem por objetivo: apresentar a importância de aves nos processos ecológicos de contribuição para a conformação de paisagem fragmentada e a estrutura das plantas nas fitofisionomias florestais (borda e interior). REFERENCIAL TEÓRICO a) Comportamento das aves Os animais frugívoros exercem um importante papel na demografia das comunidades vegetais pois: a) interagem no momento em que as plantas estão no estágio final do ciclo reprodutivo, podendo favorecer ou comprometer o sucesso desta fase (Jordano, 1989); b) o padrão de deposição das sementes no ambiente pelos frugívoros afeta diretamente a sobrevivência das sementes e o estabelecimento das plântulas (Howe et al., 1985; Katusic-Malmborg e Willson, 1988), e c) promovem a distribuição espacial dos futuros indivíduos adultos na floresta ao descartar as sementes após a ingestão (Janzen et al., 1976; Jordano, 1992). Essas considerações são relevantes uma vez que, nas florestas tropicais, 50 a 90% das espécies arbóreas produzem frutos adaptados para a dispersão por animais (Howe e Smallwood, 1982). 109 Relação Entre o Comportamento de Aves, a Conformação da Paisagem Fragmentada e a Estrutura das Populações de Plantas Em relação ao comportamento das aves, podemse relacionar os hábitos alimentares, com diferentes estratégias de forrageamento, os processos de nidificação diretamente relacionados à disponibilidade de recursos alimentares para permanência em determinada área, sendo este último, um fator diretamente relacionado com a distribuição da estrutura populacional de espécies vegetais de dispersão zoocórica. A estratégia reprodutiva é um dos principais fatores que levam as aves a buscar recursos energéticos para poder cumprir seu ciclo biológico. Para obter energia necessária aos processos vitais e à perpetuação da espécie, o processo evolutivo das aves permitiu o desenvolvimento de características específicas que incluem memória de localização, visão desenvolvida e estratégias complexas para forrageamento de recursos alimentares. Dessa forma, observa-se fundamental os processos de manuseio de frutos que visa, diretamente a busca por um recurso energético para a ave e, também diretamente uma estratégia pela qual a espécie vegetal poderá dispersar suas sementes. Esse processo de dispersão pode ser observado sob diferentes aspectos, tendo em vista a família ou as famílias de aves a serem atraídas, o tipo de dieta das famílias (guildas alimentares), se específico (somente frutos) ou generalista (frutos, insetos, néctar). Nesse aspecto, observam-se alguns aspectos relevantes para a situação de ambientes fragmentados, sejam eles naturais ou efeito de ação antrópica. A comunidade vegetal de um determinado fragmento florestal está diretamente relacionada com a fauna dispersora. As espécies frutíferas apresentam um ciclo anual pré-definido pelo fotoperiodismo, ação dos fitohormônios, disponibilidade de luz, disponibilidade de água e recursos minerais no solo, relações ecológicas com outros organismos (micorrizas por exemplo são bastante comuns em raízes de espécies florestais), presença ou ausência de lâmina de água, entre outros. Esses fatores abióticos e os fatores bióticos estão diretamente relacionados com a dinâmica da comunidade vegetal e, portanto regem o comportamento das aves. Por exemplo, em casos de abertura de clareiras, ocorre alteração na dinâmica de dispersão de sementes devido às mudanças provocadas na estrutura horizontal e vertical da comunidade vegetal, podendo levar a novas taxas de recrutamento, podendo contribuir ou prejudicar a dinâmica de uma população. Krugel et al (2006) trabalhando com frugivoria de Nectandra megapotamica (Lauraceae) em floresta estacional decídua no Rio Grande do Sul. A espécie Nectandra megapotamica possui características que a incluem no sistema de dispersão generalista, exceto pelo alto valor nutritivo dos seus frutos. No presente trabalho, totalizando 70 h de observação focal registradas 726 visitas de 21 espécies de aves. As aves consideradas como potencialmente dispersoras de N. megapotamica foram Turdus albicollis, T. ru ventris, Pitangus sulphuratus e T. amaurochalinus entre as residentes, e 110 Tyrannus savanna e Myiodynastes maculatus entre as migratórias. As aves com dieta generalista pareceram favorecer a dispersão de N. megapotamica, pois consumiram os frutos inteiros, realizaram visitas curtas (menos de 3 minutos) e apresentaram maior freqüência de visitação que, por sua vez, está relacionada a uma maior remoção dos frutos. A fragmentação e as bordas resultantes podem alterar a abundância de plantas frutíferas e aves frugívoras (Restrepo et al., 1999). Em relação ao processo de dispersão de frutos, observa-se que grande quantidade de espécies vegetais de florestas Neotropicais é dispersa por aves e mamíferos (Morellato e Leitão-Filho, 1992). Esse processo inclui espécies de árvores de dossel, com sementes grandes, dispersadas por frugívoros de maior porte (tucanos, jacus, cotingas, tinguaçus e planadeiras) (Howe e Smallwood, 1982), que estão propensos a se tornarem vulneráveis podendo fracassar na dispersão de sementes em ambientes fragmentados (Galetti, 2003). No caso de frutos pequenos de espécies de sub-bosque, uma ampla variedade de aves generalistas os consome (tangarás, sanhaços e tiranídeos) (Loiselle e Blake, 1999), sendo estas aves não consideradas altamente afetadas pela fragmentação (Aleixo e Vielliard, 1995). Segundo Aizen e Feinsinger (1994) e Santos e Telleria (1994), é importante destacar o potencial de interrupção de interações mutualísticas entre animais e plantas, como polinização e dispersão de sementes. Algumas famílias de plantas como Melastomataceae e Rubiaceae, que produzem frutos escuros (pretos ou roxos) ou avermelhados são facilmente encontradas por aves de interior de florestas, que buscam recursos no subbosque. Essa guilda de plantas, apesar de ser muito importante para manutenção de aves frugívoras pequenas, parece não ser ameaçada pela modificação de hábitat em processos de fragmentação. (Silva et al., 2002). Loiselle e Blacke (2002), sugerem que algumas espécies de aves podem ser muito importantes para determinadas guildas de plantas, como é observado com a extinção de Pipra sp., (Pipridae), pequena ave frugívora, extinta, na Costa Rica, que levou à redução drástica da chuva de sementes e da distribuição de algumas espécies de Melastomataceae. Mudanças na composição das espécies de aves em fragmentos pequenos podem afetar a probabilidade de dispersão de sementes, podendo alterar a comunidade de sub-bosque (Galetti, 2003). Wenny e Levey (1998) estudando a dispersão de sementes direcionada por em floretas tropicais chuvosas, observaram que quatro das cinco espécies de aves registradas jacu preto(Chamaepetes unicolor) Cracidae, quetzal (Pharomachrus mocinno) Trogonidae, tucano esmeralda (Aulacorhynchus prasinus) Ramphastidae, araponga (Procnias tricarunculata) Cotingidae, Revista Agroambiental - Agosto/2011 sabiá (Turdus plebejus) Turdidae, que geralmente permanecem na árvore em frutificação ou próxima a ela (Wheelwright, 1991) dispersaram a maioria das sementes dentro de 20 m da árvore parental em floresta com dossel fechado (fig 1 A). Em contraste, machos de aves canoras florestais, gastam em torno de 80 % do dia vocalizando, onde advertem as fêmeas com altos sons (Snow, 1977). Tais cantos foram observados no estudo de Wenny e Levey (1998) próximos a árvores mortas, nas bordas de clareiras. Assim, a maioria das sementes dispersadas (59 %) por aves canoras em poleiros, caí ram em sítios mais distantes que 40 m das árvores conspecíficas e a maioria (52 %), também caiu em clareiras (Fig. 1 B). O teste de padrão total de dispersão obtido foi bimodal, com picos próximos às árvores parentais e sob o canto das aves canoras. A sobreposição entre os picos gerados pelas aves canoras e pelas outras espécies na dispersão foi pequeno (comparar A com B) e usualmente causado pelas fêmeas de aves canoras, que gastam pouco tempo nos poleiros e regurgitam sementes sobre ou perto das árvores parentais. Figura 1. A frequência das sementes dispersadas (A e B) e a sobrevivência de recrutas em 1 ano (C) como funções da distância de O. endresiana em frutificação mais próxima e a cobertura de dossel para jacus, quetzals, tucanos (n=128) (A) e aves canoras (n=56) (B). Cada barra representa a proporção de sementes dispersadas por dispersores particulares (A e B) ou recrutamento (C) em cada distância/categoria de cobertura de dossel. No estudo de Wenny e Levey, (1998) todas as aves canoras estavam mais distantes que 40 m da árvore frutífera mais próxima. Valores inferiores a 90 % para cobertura de dossel representam clareiras. Notar a distribuição bimodal de recrutamento de indivíduos jovens (C) que reflete a dispersão de semente, com um pico próximo às árvores parentais (A) e um segundo pico correspondente às aves canoras (B). O crescimento da entrada de sementes em grandes distâncias não é um resultado do crescimento de áreas com distância, mas é devido à concentração de sementes na vizinhança de poleiros de aves canoras. Em particular, o número de sementes dispersadas para clareiras por aves canoras foi maior que o esperado por tentativa (X2 = 36.45, df = 1, P < 0.001), baseado na área do sítio de estudo (5 ha) em clareiras (5,3 %) e floresta (94,7 %). Não houve sobrevivência de recrutas nas duas categorias de dossel mais baixas, sugerindo um limite para o benefício de maiores níveis de luz (Wenny e Levey, 1998). b) Conformação da paisagem (fragmentos, matriz, corredores) fragmentada Os hábitats alterados na matriz circunvizinha de paisagem é uma fonte de colonizadores potenciais, também apropriados para colonização por espécies que podem persistir em tais hábitats. A habilidade de espécies para sobreviver em fragmentos pode depender dos hábitats circunvizinhos e se as espécies usam tais hábitats (Stouffer & Bierregaard, 1995a,b; Laurance et al., 1997a,b; Renjifo, 2001). Em relação à tendência deste nível de paisagem para fragmentos florestais tropicais, observa-se maior atenção a valores de conservação de terras fora de reservas que incluem ambientes fragmentados, florestas secundárias, terras particulares e hábitats de campo como plantações de café (Brown & Lugo, 1990; Turner & Corlett, 1996; Daily, 2001) 111 Relação Entre o Comportamento de Aves, a Conformação da Paisagem Fragmentada e a Estrutura das Populações de Plantas ponte que une a polinização com o recrutamento que levará ao estabelecimento de novas plantas adultas (Harper, 1977). A fecundidade de uma planta em particular ou de uma população de plantas depende não somente do sucesso no estágio de polinização, mas também no sucesso de estabelecimento e crescimento dos novos indivíduos. As novas sementes produzidas a cada estação reprodutiva representam não apenas novos indivíduos que são acrescidos à população em termos numéricos, mas também distintos genótipos a serem acrescentados ao acervo genético populacional. Portanto, a dispersão das sementes une todo o ciclo reprodutivo das plantas e pode ter importantes conseqüências para a demografia e a estrutura genética populacionais (Jordano & Godoy, 2002). O grau de isolamento do fragmento, isto é, uma medida de quão separado o fragmento está de outras áreas que podem servir como fonte de animais e sementes, é um fator importante para as interações entre as plantas e os dispersores de sementes. Muitos animais frugívoros não atravessam áreas abertas ou evitam ambientes perturbados (Estrada et al., 1993; Silva et al., 1996). Dessa forma, fragmentos isolados tendem a receber menos sementes de outras áreas e apresentar menor abundância e riqueza de animais frugívoros. A literatura mostra que o grau de isolamento de um fragmento está negativamente relacionado com a riqueza de plantas zoocóricas (van Ruremonde & Kalkhoven,1991; Ochoa-Gaona et al., 2004). Os efeitos do isolamento podem ser minimizados pela composição da matriz que circunda o fragmento e, em maior escala, pela composição da paisagem onde o fragmento está inserido. Esses dois fatores podem influenciar a conectividade do ambiente e, portanto, o fluxo de animais e sementes no fragmento (Metzger, 2000; Graham, 2001). A permeabilidade da matriz à fauna, é um fator relevante na dinâmica da comunidade vegetal. Em fragmentos florestais amazônicos, por exemplo, matrizes compostas por árvores do gênero Cecropia (Cecropiaceae) são mais favoráveis à fauna que matrizes onde predominam plantas do gênero Vismia (Clusiaceae) e, em comparação com pastagens, ambos os tipos de matrizes são mais permeáveis à fauna (Laurance et al., 2002). A influência da paisagem na composição faunística de um fragmento pode se estender por vários quilômetros. Na Austrália, Price et al. (1999) verificaram que a porcentagem de cobertura florestal em um raio de 50 km a partir de determinado fragmento de floresta foi determinante para a ocorrência de algumas espécies de aves frugívoras nos fragmentos. No sudeste do Brasil, aves migratórias são comuns em fragmentos de floresta onde participam ativamente da dispersão das sementes (Galetti & Pizo, 1996; Pizo, 1997). Naturalmente, a ocorrência destas aves nos fragmentos e, conseqüentemente, o seu papel como dispersoras de sementes sofrem influência das alterações ambientais que ocorrem ao longo da rota de migração, 112 que pode se estender por várias centenas de quilômetros (Martin & Karr, 1986). Concluindo, as interações entre plantas e dispersores de sementes estão sujeitas a uma série de alterações em ambientes fragmentados. A magnitude dos efeitos da fragmentação sobre estas interações depende de: (1) fatores que, em escalas local e regional, afetam a dinâmica das populações de animais frugívoros em fragmentos, alterando sua composição e abundância, (2) características das plantas que as tornam mais ou menos suscetíveis à extinção ou diminuição na abundância dos dispersores e (3) características inerentes à interação. Dentre os primeiros destacam-se a área, a forma e o grau de isolamento do fragmento, as perturbações a que está ou esteve sujeito (por exemplo, extração de madeira, caça, fogo), a natureza da matriz circundante e a conectividade da paisagem onde se insere. Características importantes da planta são a morfologia do fruto e suas exigências para germinação das sementes e estabelecimento das plântulas (Bruna, 1999; Benítez-Malvido & Martínez-Ramos, 2003). Em relação às características da interação em si, destacam-se o grau de especialização da interação e o nível de redundância no papel desempenhado pelos vários dispersores que participam da interação. Interações mais especializadas, ou seja, que envolvem menor número de participantes, são naturalmente mais suscetíveis à extinção ou diminuição na abundância dos dispersores (Asquith et al., 1999). A maioria dos sistemas de dispersão, no entanto, envolve vários dispersores e é possível que alguns deles sejam funcionalmente redundantes no que se refere ao papel que desempenham como dispersores de sementes. As evidências disponíveis, entretanto, mostram que isso raramente ocorre, pois os diferentes dispersores diferem em aspectos qualitativos e/ou quantitativos da dispersão que promovem e a extinção de um único dispersor, ou pior, de um conjunto deles, pode resultar em alterações importantes para a estrutura e o recrutamento das populações de plantas (Loiselle & Blake, 2000) e, em última instância, para toda a comunidade (Howe, 1984). Assim, se entendemos que a biodiversidade vai além do conjunto de espécies que compõem o ambiente e engloba também as interações entre elas, justifica-se plenamente todo o esforço de manejo dos fragmentos e da paisagem circundante para minimizar os efeitos da fragmentação sobre as interações entre as plantas e os dispersores de suas sementes. A principal influência demográfica da dispersão das sementes advém de processos de limitação associados ao número limitado de sementes que são dispersas com sucesso ou à limitada chegada de sementes a locais que oferecem alguma possibilidade de recrutamento bem-sucedido. Os efeitos dos animais frugívoros sobre as plantas vão além da remoção das sementes, pois eles têm múltiplas, e nem sempre imediatas, influências sobre as sementes, plântulas e jovens. Os animais frugívoros podem limitar o crescimento Revista Agroambiental - Agosto/2011 populacional das plantas se a quantidade de sementes que dispersam é insuficiente ou se a qualidade de dispersão que promovem é inadequada (isto é quando depositam sementes em locais com baixa probabilidade de recrutamento; (Schupp, 1993). A idéia de limitação no recrutamento das plantas relacionada à atividade dos animais diz que esta atividade é insuficiente para produzir o máximo recrutamento a partir das sementes produzidas em uma dada estação reprodutiva; se a atividade dos animais frugívoros fosse aumentada, teríamos um maior número de sementes removidas para locais seguros para o recrutamento. Por exemplo, os frugívoros podem dispersar com sucesso uma alta proporção das sementes produzidas em uma população de plantas. No entanto, eles limitam o recrutamento nesta população se a dispersão é direcionada para locais de alta densidade coespecífica, onde prevalecem mecanismos de mortalidade dependentes de densidade, ou seja, se depositam as sementes em locais de baixa qualidade (Jordano et al., 2006). Uma revisão das limitações inerentes à sucessão florestal em áreas degradadas tropicais a partir da chuva de sementes produzida por frugívoros é apresentada por Duncan & Chapman (2002), dentre as quais podemos destacar as seguintes: a) Condições inóspitas de temperatura, umidade e nutrientes no solo que irá receber as sementes, dificultando a germinação e o estabelecimento. b) Altas taxas de predação, principalmente por roedores e formigas. c) Competição local com gramíneas de rápido crescimento, que limitam o desenvolvimento das plântulas de espécies zoocóricas. d) Ocorrência freqüente do fogo em paisagens abertas e degradadas. e) Baixo número de sementes que chegam às áreas alteradas, em quantidade insuficiente para dar início a um processo sucessional bem-sucedido. f) Chuva de sementes nem sempre é dirigida aos sítios onde o estabelecimento de espécies arbóreas é esperado. g) Na composição específica da chuva de sementes gerada por frugívoros em áreas degradadas, geralmente faltam espécies arbóreas dos estágios intermediários e avançados da sucessão, cujo recrutamento é necessário para alavancar o processo sucessional para além do estágio de pioneiras. h) O recrutamento de espécies lenhosas a partir de poleiros artificiais em áreas muito grandes deveria exigir alta densidade dessas estruturas, elevando os custos da sua implantação e diluindo a chuva de sementes entre os poleiros. Há ainda quatro conceitos-chave no processo de limitação que são derivados do estágio de dispersão das sementes: limitação na produção de fruto (ou limitação de fonte; Clark et al., 1999; Turnbull et al., 2000), limitação de dispersão, limitação de recrutamento e limitação de estabelecimento (Jordano & Godoy, 2002; Muller-Landau et al., 2002). Os fatores que influenciam o número absoluto de sementes disponível para a dispersão são determinados durante a fase pré-dispersão, de maneira que o número total de sementes produzidas em uma população representa o número máximo de sementes que pode efetivamente recrutar em um dado episódio reprodutivo. Se a atividade dos animais frugívoros não é limitante, todas essas sementes poderiam eventualmente recrutar. Polinização ineficiente, conflitos de alocação de recursos, predação de flores e predação pré-dispersão das sementes estão entre as principais causas da limitação de fonte. A limitação de recrutamento abrange todos os estágios entre a remoção dos frutos e o estabelecimento dos adultos nos quais pode haver a perda de propágulos (Muller-Landau et al., 2002), embora ela seja mais freqüentemente aplicada aos estágios pós-dispersão, isto é, após a deposição das sementes pelos dispersores. A limitação da dispersão inclui todos os processos que podem limitar o número de sementes que chegam a locais seguros para o recrutamento; portanto, ela engloba a remoção e a deposição das sementes. Se as sementes são dispersas em quantidade suficiente, porém são depositadas em locais de baixa qualidade, então o recrutamento é limitado pela atividade dos dispersores, isto é, o estabelecimento é limitado pela dispersão de má qualidade e não pela eventual pequena quantidade de sementes dispersadas. Portanto, podemos entender a limitação de dispersão como potencialmente agindo durante duas fases: na limitação de dispersão em si e na limitação de estabelecimento. Junto com a limitação de fonte, a limitação de dispersão é o principal fator a determinar potencialmente a limitação de recrutamento, isto é, o insucesso da prole produzida em um dado episódio reprodutivo em se estabelecer produzindo adultos reprodutivos. Isto representa uma visão expandida da dispersão como um estágio-chave no recrutamento das plantas, que enfatiza o papel potencial das interações com os dispersores de sementes sobre os efeitos que afetam as populações de plantas (Jordano et al., 2006). Um protocolo para o estudo da limitação de recrutamento foi recentemente proposto por Muller-Landau et al. (2002). Começando pelo monitoramento da chuva de sementes por meio de coletores de sementes é possível monitorar a emergência de plântulas associadas a esta chuva de sementes em diferentes pontos de determinada área. A limitação na chegada de sementes (limitação de fonte) pode ser estimada como a proporção de pontos de amostragem que não receberam sementes. A limitação de dispersão pode ser estimada comparando-se a proporção de coletores que de fato receberam 113 Relação Entre o Comportamento de Aves, a Conformação da Paisagem Fragmentada e a Estrutura das Populações de Plantas sementes com à proporção que seria esperada segundo um modelo randômico de dispersão das sementes. Por fim, a limitação de estabelecimento pode ser estimada combinando-se os dados de chegada das sementes e emergência das plântulas nos pontos de amostragem e calculando-se em seguida a redução no estabelecimento de plântulas nos pontos onde as sementes chegaram (Muller-Landau et al., 2002). Estes métodos para estimar os processos de limitação basicamente dividem o número de oportunidades de recrutamento perdidas (ou seja, locais onde a espécie não recruta) entre aquelas perdidas devido à não chegada das sementes e aquelas perdidas devido a falhas no estabelecimento. Estes estudos nos informam que a maioria (isto é, >80 %) das espécies arbóreas tropicais em uma dada localidade atinge com suas sementes não mais que, em média, 5% dos coletores de sementes por ano, o que sugere extensa limitação de fonte. Tal limitação pode ser ainda mais exacerbada caso os dispersores tenham, por ação antrópica, desaparecido de determinada área (Jordano et al., 2006). Estudos da estrutura da comunidade de aves paisagens fragmentadas (fragmentos florestais neotropicais e plantações de café e cardamom (tempero)) na Índia, relacionando o efeito do estrato vegetal, a conectividade e a distribuição de aves de floresta. O total de espécies de aves observadas para os 4 estratos de hábitat foi: 43 espécies (controle – floresta tropical chuvosa – 1 sítio), 95 espécies (fragmentos de floresta tropical chuvosa – 5 sítios), 76 espécies (plantações de café – 5 sítios) e 49 espécies (plantação de cardamom – 1 sítio). Entre o total de espécies na comunidade em cada um dos 4 estratos (controle, fragmentos, plantação de café e plantação de cardamom) a porcentagem de espécies de aves de floresta tropical chuvosa foi maior no controle (95,3%) e na plantação de cardamom sob sombra natural (89,9%). Aves de floresta secundária infiltraram dentro de fragmentos de floresta tropical chuvosa e em plantações de café e a porcentagem de espécies de aves de floresta tropical chuvosa foi menor 70,5% e 59,2%, respectivamente para cada estrato. Essas diferenças no número de espécies de floresta primária e floresta secundária entre os 4 estratos trabalhados foi estatisticamente significante χ² = 34.1, df = 3, P < 0.001 (Raman, 2004). No caso da relação de corredores ecológicos e aves dispersoras de sementes, observa-se ser de grande importância à presença de aves frugívoras presentes em ambientes de corredores. Os corredores podem ser artificiais ou naturais e, tem por objetivos, permitir a movimentação de espécies chave da fauna (endêmicas, raras, ameaçadas), o fluxo gênico de espécies vegetais (preferencialmente dispersadas pela fauna), fornecer recursos para a fauna e permitir o uso desses recursos para possibilitar a ocorrência dos processos ecológicos necessários para a história ecológica do ambiente. Den- 114 Revista Agroambiental - Agosto/2011 horários do dia. Esses dados sugerem que a capacidade de adaptação das aves é a resposta ao nível de isolamento e à qualidade do hábitat na busca de recursos. A eficiência dos corredores estudados é parcial em pelo menos dois aspectos: 1. se por um lado observa-se a tendência de sucesso reprodutivo de espécies vegetais florestais, seja pelo local de deposição das sementes pelas aves, como pelo fluxo gênico que pode ocorrer em fragmentos ou corredores vizinhos; 2. no conceito de metapopulações, a dinâmica das comunidades em cada fragmento podem sofrer influência de diferente fatores em diferentes intensidades; dessa forma, pode-se pensar em diferentes situações de dinâmica dentro de cada fragmento, que ao ser visitado por grupos de dispersores, podem receber recursos biológicos que pode favorecer ou dificultar os processos ecológicos, podendo levar ao declínio populacional de espécies vegetais florestais de interior, reduzindo assim a diversidade de espécies de um fragmento. Parece que a matriz circunvizinha influencia diretamente a distribuição de aves ao longo da matriz e quem sabe pode influenciar a dinâmica da comunidade vegetal nos fragmentos e corredores. Para descobrir esse aspecto, é necessário relacionar, dentre outros fatores, a relação das espécies de aves frugívoras e espécies vegetais por ela dispersadas, em corredores, em fragmentos e na matriz (Corrêa et al., 2011 no prelo). Para permitir a correta implantação e utilização eficiente de corredores ecológico é necessário implementar estratégias de manejo que incluam: 1. coleta de dados quantitativos de movimentação de organismos em corredores (escala, taxas e freqüência de movimentos); 2.coleta de dados de populações animais que vivem em corredores; 3. coleta de dados de ecologia e comportamento de organismos que vivem em corredores e como isso afeta o uso dos corredores (informações sobre estratégias de sobrevivência, uso de recursos, capacidade de deslocamento). c) Estrutura das populações de plantas Teorias de dispersão de sementes e regeneração de florestas tropicais sugerem que as vantagens da dispersão para a maioria das plantas é escape da predação próxima à árvore parental e colonização de locais vagos (clareiras), locais nos quais são imprevisíveis no espaço e no tempo. Aves possuem um papel significativo na dispersão de sementes fornecendo dispersão direta a sítios favoráveis e, portanto podem influenciar nos padrões de recrutamento e na diversidade de espécies em florestas tropicais (Wenny e Levey, 1998). A dispersão de sementes determina o arranjo especial e o ambiente físico das sementes, dessa forma é um importante passo para o ciclo reprodutivo da maioria das plantas (Harper, 1977; Willson, 1992). Em florestas Neotropicais, aves são importantes, porque acima de 75% das espécies de plantas produzem frutos ingeridos por aves (Stiles, 1985; Herrera et al., 1994). A fragmentação de florestas é um processo que reduz o ambiente a parcelas menores. Esse processo leva ao desaparecimento de espécies de aves florestais de interior e, conseqüentemente promove alterações na dinâmica de espécies vegetais com frutos dispersados por ornitocoria (Cordeiro & Howe, 2003). Aves que dispersam sementes de Leptonychia (Sterculiaceae) em florestas contínuas são raras ou ausentes em pequenos fragmentos, sendo observado menor quantidade de sementes removidas de cada árvore e menor indivíduos jovens de Leptonychia em fragmentos menores do que em florestas contínuas. Esse resultado forneceu evidência sólida da deficiência da dispersão em ambientes fragmentados e os impactos no ciclo reprodutivo de espécie vegetal dispersada por aves (Cordeiro & Howe, 2003). Considerando os custos energéticos da planta para produção de estruturas de dispersão, tipo pericarpo carnoso, como recompense, é razoável esperar vantagens na dispersão de sementes (Thompson & Willson, 1978; Wheelwright & Orians, 1982). Três vantagens não exclusivas foram propostas por Howe (1982,1986): (i) escape de alta mortalidade de sementes ou recrutas sob e perto de árvores parentais (Hipótese de Escape); (ii) colonização de sítios imprevisíveis, efêmeros ou novos (clareiras) (Hipótese de colonização); e (iii) dispersão direta a microhábitat favoráveis (Hipótese de dispersão direta). A hipótese de Escape (Janzen, 1970; Connell, 1970) é esperada ser uma vantagem para a maioria das plantas e é baseada em numerosos estudos de densidade ou distância dependentes da mortalidade próximo aos parentais (Howe, 1982; Howe et al., 1985; Clark & Clark, 1984; Crawley, 1992; Wilson, 1992; Wills et al., 1997). Entretanto, a colonização ou dispersão direta também pode ser importante para que sementes escapem da mortalidade. A hipótese da colonização é mais relevante quando sítios apropriados para o estabelecimento são imprevisíveis ou aleatoriamente distribuídos, com é o caso de abertura de clareiras pela queda de árvores em florestas tropicais (Howe, 1982; Murray, 1988; Van der Meer & Bongers, 1996). Em florestas tropicais chuvosas, praticamente todo o dossel de espécies de plantas (não obstante o grau de tolerância à sombra) necessita de um mínimo de clareiras para alcançar a maturidade reprodutiva (Hubbel a Foster, 1986; Swaine & Whitmore, 1988; Denslow & Hartshorne, 1994; Clark, 1994). A estratégia esperada de dispersão dessas espécies de plantas é via colonização, cobrindo o solo com propágulos capazes de realizar dormência ou crescimento suprimido até a formação de clareiras e o aumento dos níveis de luz que permitam a germinação, crescimento rápido e/ou maiores chances de sobrevivência (Howe, 1982; Brandani et al., 1988; Schupp & Howe, 1989). Alternativamente, a 115 Relação Entre o Comportamento de Aves, a Conformação da Paisagem Fragmentada e a Estrutura das Populações de Plantas dispersão direta pode resultar se a planta atrai dispersores que depositam sementes não aleatoriamente em locais apropriados, desse modo aumentando a aptidão da planta (Reid, 1989; Sargent, 1995). Embora a dispersão direta tem sido postulada para dispersão por vertebrados em plantas tropicais (McKey, 1975; Howe, 1982; Levey, 1988) nunca foi demonstrado através de dispersão não aleatória para sítios favoráveis para crescimento de recrutas e sobrevivência. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS A relação entre aves canoras e a estrutura populacional de plantas em ambientes fragmentados, entre outros fatores, está relacionado aos diferentes tipos de frutos ingeridos pelas espécies de aves dispersoras (Wheelwright et al., 1984), estando ativas em poleiros por pelo menos 4 meses em ambientes florestais Neotropicais durante a estação reprodutiva (Snow, 1977). O processo de dispersão, associado à diversidade de espécies vegetais frutíferas e os fatores abióticos, irão propiciar a dinâmica das populações vegetais no fragmento, favorecendo uma heterogeneidade espacial e vertical diretamente relacionada com esses fatores. Corroborando os resultados observados por Wenny & Levey (1998), o padrão de dispersão de frutos para espécies comuns de plantas por aves canoras é bastante parecido ao observado em Monte Verde, assim como em florestas Neotropicais onde existem aves canoras. Outras espécies que usam habitualmente poleiros ou sítios de defecação como dançarinos (Pipridae) podem ter influência desproporcional no local de recrutamento de espécies de plantas (Krijger, 1997). ASQUITH, N. M., J. TERBORGH, A. E. ARNOLD & M. RIVEROS. The fruits the agouti ate: Hymenaea courbaril seed fate when its disperser is absent. Journal of Tropical Ecology, New York, v. 15, p. 229-235, 1999. A dispersão de sementes de Ocotea endresiana por aves canoras é uma das ligações mais evidentes entre a dispersão e o sucesso reprodutivo de árvores florestais tropicais já documentado (Wenny & Levey, 1998). A falta de outros exemplos similares vão da dificuldade de se observar os dispersores através do dossel até a deposição de sementes. A dinâmica de clareiras é importante e necessária para regeneração de muitas espécies de árvores e dispersores como as aves canoras parecem promover dispersão direcionada para clareiras. A perda desses dispersores pode levar a uma redução da aptidão para espécies de árvores levando a alterações na estrutura da comunidade de florestas tropicais. CONCLUSÃO São necessários estudos complementares e periódicos (décadas de banco de dados) da dinâmica de aves em ambientes de borda de fragmentos florestais nas mesmas áreas, como estratégias de predição da conformação das paisagens em áreas fragmentadas. O conhecimento de alguns destes atributos ecológicos podem direcionar estratégias específicas para projetos de preservação de áreas prioritárias (hotspots). 116 AIZEN, M.A.; FEINSINGER, P. Forest fragmentation, pollination, and plant reproduction in Chaco dry Forest, Argentina. Ecology, Durham, v. 75, p. 330-351, 1994. ALEIXO, A.; VIELLIARD, J. M. E. Composição e dinâmica da avifauna da mata de Santa Genebra, Campinas, São Paulo, Brasil. Revista Brasileira de Zoologia, Viçosa, v. 12, n. 3, p. 493-511, 1995. BENITEZ-MALVIDO, J. & M. MARTÍNEZ-RAMOS. Impact of forest fragmentation on understory plant species richness in Amazonia. Conservation Biology, Cambridge, v. 17, p. 389-400, 2003. BRANDANI, A.; HARTSHORN, G.S.; ORIANS, G. H. Journal of Tropical Ecology, New York, n. 4, p. 99– 119, 1988. BROWN, S.; LUGO, A. E. Tropical secondary forests. Journal of Tropical Ecology, New York, v. 6, n. 1, p. 1-32, 1990. BRUNA, E. M. Seed germination in rainforest fragments. 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Chipping Norton: Surrey Beatty & Sons Pty., 442 p., 1991. INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO SUL DE MINAS GERAIS IFSULDEMINAS REVISTA AGROGEOAMBIENTAL – ISSN 1984-428X Periodicidade: Instruções/Informações aos autores e leitores A Revista Agrogeoambiental é quadrimestral, editada nos meses de abril, agosto e dezembro de cada ano e disponível na versão impressa e on-line nos meses subsequentes. Prazo para entrega de artigos: A Revista Agrogeoambiental recebe artigos originais e de submissão exclusiva em qualquer momento do ano (fluxo contínuo). Da publicação do artigo: Poderá acontecer em um dos três momentos do ano. A Revista Agrogeoambiental enviará para revisores ou editores colaboradores sem identificação do autor e, após, o artigo poderá ser publicado sem restrição ou ser encaminhado ao autor com sugestões de mudança(s) ou não ser considerado para publicação. Abrangência: Trata-se de Revista científica e tecnológica que abrange as áreas de Agronomia, Zootecnia, Geomática, Geologia, Engenharia Florestal, Ecologia e Meio Ambiente. Composição do artigo: Título (Português e Inglês); Resumo; Palavras-chave; Abstract; Keywords; Introdução com Revisão de Literatura; Material e Métodos; Resultados e Discussão; Conclusão e Referências bibliográficas. Agradecimento(s); Fontes de Aquisição e Informe Verbal, quando for necessário o uso deve aparecer antes das referências. Antes das referências deverá também ser descrito quando apropriado que o trabalho foi aprovado pela Comissão de Ética e Biossegurança da instituição e que os estudos em animais foram realizados de acordo com normas éticas. Título: Descrever em português e inglês (caso o artigo seja em português) - inglês e português (caso o artigo seja em inglês). Somente a primeira letra do título do artigo deve ser maiúscula exceto no caso de nomes próprios. Evitar abreviaturas e nomes científicos no título. Esses devem aparecer nas palavras-chave e resumo e demais seções quando necessários. Corpo do artigo: Deve conter o contexto claro do trabalho, informes que permitam reprodução do mesmo, hipótese(s) testada(s). Idiomas: Português, inglês e espanhol. Envio de artigos para a Revista: Pelo endereço eletrônico: [email protected] Formatação: Total máximo de 12 páginas (Artigo ou Revisão); até 5 páginas (Nota científica); espaçamento 1,5. Com margens direita e esquerda de 2,5 cm e superior e inferior de 3,0 cm; Apresentação: Com editor de texto Word na versão 97 ou posterior ou BrOffice; tamanho A4 (210 x 297mm); páginas numeradas; fonte Arial, tamanho 11; espaçamento 1,5. A revista é impressa em preto e branco, portanto, gráficos e figuras coloridas devem ser modificadas para tons de cinza ou soluções similares. 119 Revista Agroambiental Título: Deverá ser apresentado com fonte tamanho 14, maiúsculo, negrito, centralizado. Autor(es). O(s) nome(s) completo(s) do(s) autor(es) deverá(ão) ser acompanhado(s) em linha da(s) Instituição(ões) a(s) qual(ais) pertence(m) e respectivo(s) endereço(s) eletrônico(s), separados por vírgula, com fonte tamanho 12 (autores) e tamanho 10 (endereços), centralizado. Texto (corpo do artigo): Com fonte tamanho 11, espaçamento 1,5, justificado. Referências bibliográficas: Apresentadas em ordem alfabética, justificadas a esquerda, conforme normas abaixo: 1. As citações dos autores no texto: Deverão ser feitas com apenas inicial maiúscula seguidas do ano de publicação, conforme exemplos: Resultados semelhantes foram também observados por Silva & Souza (1999) e Soares et al. (2000), como uma má formação congênita (Batista, 2001; Correa et al., 2002); 2. Referências: As Referências deverão ser efetuadas no estilo ABNT (NBR 6023/2000) conforme normas próprias da revista; 3. Citação de livro: MALAVOLTA, E. Manual de química agrícola: adubos e adubação. 3ª ed. São Paulo. Agronômica Ceres, 1981. 596p.. 4. Capítulo de livro: GORBAMAN, A. A comparative pathology of thyroid. In: HAZARD, J.B.; SMITH, D.E. The thyroid. Baltimore: Williams & Wilkins, 1964. Cap.2, p.32-48. 5. Artigo completo (citar todos os autores): Sempre que possível o autor deverá acrescentar a url para o artigo referenciado e o número de identificação DOI (Digital Object Identifiers): ROCHA, L.C.D.; CARVALHO, G.A.; FREITAS, J.A.Toxicidade de produtos fitossanitários utilizados na cultura do crisântemo para ninfas de Orius insidiosus (Say, 1832) (Hemiptera: Anthocoridae). Revista Agrogeoambiental, Inconfidentes, v.01, n.01, p.123-134, 2009. 6. Resumos: MARAFELI, P.P.; ZACARIAS, M.S.; REIS, P.R.; OLIVEIRA, A.C.S.; MESQUITA, D.N. Ocorrência e identificação de vespas predadoras (Hymenoptera: Vespidae) em cafezal orgânico em formação (Coffea arabica L.) e sua relação com a predação do bicho-mineiro, Leucoptera coffeella (Guér.-Mènev., 1842) (Lepidoptera: Lyonetiidae). In: SIMPÓSIO DE PESQUISA DOS CAFÉS DO BRASIL, 5., 2007, Águas de Lindóia. Anais... Brasília: Embrapa Café, 2007. (CD-ROM) 7. Tese, dissertação, monografia: PINTO, L.V.A. Germinação de sementes de lobeira (Solanum lycocarpum) ST. HIL: mecanismo e regulação. 2007. 67p. Tese (Doutorado em Engenharia Florestal) - Universidade Federal de Lavras. 8. Boletim técnico/Circular técnico: SOUZA, J.C.; SILVA, R.A.; REIS, P.R. Complexo larva-alfinete e larva-arame importantes pragas subterrâneas na cultura da batata. Lavras: EPAMIG, 2007. 3p. (Circular Técnica, 6). 9. Documentos eletrônicos: GRIFON, D.M. Artroscopic diagnosis of elbow displasia. In: WORLD SMALL ANIMAL VETERINARY CONGRESS, 31., 2006, Prague, Czech Republic. Proceedings… Prague: WSAVA, 2006. p.630-636. Acesso em 12 fev. 2007. Online. Disponível em: http://www.ivis.org/proceedings/wsava/2006/lecture22/Griffon1.pdf?LA=1 EMBRAPA. Projeto da Embrapa avalia a absorção de poluentes do lodo de esgoto pelo milho, Jaguariuna, 30 jul. 2009. Acesso em 19 ago. 2009. Online. Disponível em <http://www.cnpma.embrapa.br/ nova/mostra2.php3?id=528> Agradecimentos: Opcional, respeitando-se o máximo de 12 páginas do artigo e 5 da nota técnica. 120 Revista Agroambiental Tabelas, Figuras, Gráficos: Localizados após primeira referência feita aos mesmos. Figuras e gráficos, com melhor contraste, devem ser fornecidos por email. Figuras em formato .jpg ou .gif. Notas de rodapé: Com fonte Arial tamanho 10, justificado. Lista de verificação: Atentar para o a “Lista de verificação” antes da submissão da proposta. A Lista encontra-se disponível no site na página. Demais informações: Sugere-se que informações outras não mencionadas nesta orientação devam seguir as normas da ABNT. Ou consultar o Chefia Editorial da Revista Agrogeoambiental ENDEREÇO: Revista AGROGEOAMBIENTAL Rua Ciomara Amaral de Paula, 167 – Bairro Medicina Pouso Alegre – MG – CEP: 37.550-000 Tel.: +55 35 3449 6185/6150 – Fax: +55 35 3449 6158/6151 [email protected] 121 Professor Marlei Rodrigues Franco “idealizador e criador da Revista Agroambiental” Professor Marlei Rodrigues Franco, nascido em 27 de abril de 1949, na cidade mineira de Boa Esperança. Exerce a docência a trinta e seis anos, sendo trinta e três na Rede Federal. Juntamente com seu filho, Thiago Cruz Rodrigues Franco – na época acadêmico de agrimensura do IFSULDEMINAS – foi idealizador e criador da Revista Científica e Tecnológica Agrogeoambiental. Esta foi criada na então Escola Agrotécnica Federal de Inconfidentes, hoje campus do IFSULDEMINAS, com tiragem quadrimestral e primeira edição em abril de 2009. O referido professor tomou tal iniciativa por entender existir larga demanda para tal informativo e da importância para Instituição em contar com um periódico científico. Cabe lembrar que o idealizador contou com a preciosa colaboração dos colegas Lílian Vilela Andrade Pinto e Luiz Carlos Dias Rocha, além dos servidores Heleno Lupinacci e Luighi Fabiano Barbato Silveira. “A preparação e veiculação de um periódico científico e tecnológico, cuidadosamente elaborado, foi uma legítima aspiração de nossa comunidade e colegas de outras instituições que vem se concretizando com a Revista Agrogeoambiental.” O periódico que tem sido distribuído, avaliado e cada vez mais bem indexado pela comunidade nacional. 122 O Instituto Federal de Educação e Tecnologia do Sul de Minas Gerais - IFSULDEMINAS, possui mais de 9.000 mil alunos em cerca de 42 cursos, todos gratuitos, presenciais e à distância, nos seguintes níveis: . . . . . Técnicos Técnólogos Superiores de Licenciatura Superiores de Bacharelado Pós-graduação Hoje, além dos Polos de Rede e Núcleos Avançados que atuam diretamente em mais de 30 municípios, o Instituto é composto por seus campi nas cidades de: Inconfidentes, Machado, Muzambinho, Passos, Poços de Caldas e Pouso alegre onde está estrategicamente localizada a Reitoria, a fim de reunir e interligar os campi em toda estrutura educacional e administrativa. NOSSA MISSÃO Promover a Excelência na oferta da educação Profissional e Tecnológica, em todos os níveis, formando cidadão críticos, competentes e humanistas, articulando ensino, pesquisa e extensão e contribuindo para o desenvolvimento sustentável do Sul de Minas Gerais. Mapa do Sul do Estado de Minas Gerais Map of the South of the State of Minas Gerais 1 Muzambinho 2 Machado 3 Inconfidentes 4 Passos 5 Poços de Caldas 6 Pouso Alegre campi 117 Endereço: Rua Ciomara Amaral de Paula, 167 Bairro: Medicina - Cep: 37550-000 - Pouso Alegre/MG e-mail: [email protected] site: www.ifsuldeminas.edu.br Fone: (35) 3449-6185 118