Empreendedorismo: Estudo sobre a Configuração Empreendedora na Região de Mossoró/RN Autoria: Thaiseany de Freitas Rêgo, Ana Maria Magalhães Correia, Luciana Batista Sales, Andrea Kaliany da Costa Lima, Fernando Antonio Prado Gimenez Resumo O objetivo do estudo consiste em identificar as configurações empreendedoras na Região Mossoró/RN, observando as dimensões de contexto, ambiente e indivíduo. Para tanto, elaborou-se um questionário com indicadores sócio-demográficos e de caracterização das empresas, bem como afirmações sobre a abordagem empreendedora. A pesquisa baseou-se em uma amostragem não probabilística por acessibilidade, contemplando 80 respondentes. Posteriormente, procedeu-se com a adoção de algumas análises estatísticas (fatorial, clusters, estatística descritiva). Com o estudo, identificou-se a formação de três clusters, com comportamentos diferenciados quanto à abordagem das configurações, representando empresas inovadoras de vida intermediária (20%), mediana (6,25%) e longa (73,75%). 1 1 Introdução O empreendedorismo é um assunto que tem atraído à atenção de muitos pesquisadores (MILLES e SNOW, 1978; SHANE e VENKATARAMAN, 2000; FERREIRA, 2005; ALVAREZ e BARNEY, 2007), por se tratar de um tema relevante e atual, que traz benefícios e transformações econômicas para a sociedade. O estímulo ao empreendedorismo é importante, mas não basta estimulá-lo, pois é necessário criar um ambiente favorável ao desenvolvimento dos mercados e perceber as influências recebidas, de modo que seja definida a ideia de negócio e das competências distintivas, fazendo com que os empreendedores apresentem um diferencial competitivo diante de seus concorrentes. O empreendedorismo é uma ação humana, um fenômeno complexo, que depende da interação entre pessoas, envolvendo a viabilização e articulação de recursos. Os estudos sobre empreendedorismo requerem a compreensão sobre a sua influência face às dimensões de contexto e empreendimentos, e a partir disso a ação empreendedora se manifesta como uma constelação multidimensional de variáveis, que podem ocorrer em conjunto e ao mesmo tempo, não existindo causa ou efeito (MILLER, 1987; MEYER, TSUI e HININGS, 1993). Nesse sentido, o presente trabalho tem por objetivo identificar configurações empreendedoras da Região de Mossoró/RN, observando as dimensões de contexto, ambiente e das pessoas que empreendem, com base em uma abordagem das configurações. Destaca-se que este estudo é pioneiro, ao aplicar as dimensões referentes a um modelo integrado sobre abordagem das configurações na Região de Mossoró/RN. Segundo dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE, 2010), essa região apresenta 5.044 empresas, que atuam em atividades de agronegócio, comércio, construção, indústria e serviços. O trabalho oferece ainda, uma contribuição acadêmica e, também, um direcionamento sobre as ações empreendedoras em um ambiente dinâmico. Logo, além dessa introdução, o argumento central desse artigo se desenvolve a partir da aplicação de um modelo integrado da ação empreendedora (abordagem das configurações), proposto por Gimenez, Ferreira e Ramos (2008). Ao final, procura-se ilustrar como esse modelo integrado da ação empreendedora ajuda na compreensão do empreendedorismo na Região de Mossoró/RN. A seguir, apresenta-se uma discussão conceitual sobre o empreendedorismo. 2 Empreendedorismo Apesar da multiplicidade de definições para o fenômeno do empreendedorismo, há relativo consenso acerca de algumas de suas dimensões e características centrais (MACIEL, DAMKE e CAMARGO, 2009), como a criação e desenvolvimento de um novo negócio, sendo um importante elemento para o desenvolvimento econômico de uma sociedade (GIMENEZ e INÁCIO JR, 2002). Nesse sentido, segundo Souza e Trindade (2009), o tema tem crescido em interesse e importância para as economias regionais e para os governos, preocupados em desenvolver políticas públicas capazes de fomentar a atividade empreendedora e gerar desenvolvimento econômico. Em virtude dessa importância do empreendedorismo para o desenvolvimento econômico das nações, os estudos sobre o tema, como área de conhecimento, vêm sendo foco de análises sistemáticas, principalmente nos países em desenvolvimento (GIMENEZ, FERREIRA e RAMOS, 2008). Nesse sentido, tem sido objeto de estudo multidisciplinar, que abarca diferentes áreas do conhecimento, como a economia, a psicologia e a sociologia. 2 Os economistas, autores seminais no estudo sobre o empreendedorismo, destacam a importância do empreendedor para o desenvolvimento econômico da sociedade. A abordagem psicológica, behaviorista ou comportamental fundamenta-se em características para justificar o perfil do empreendedor. E a abordagem sociológica, na visão de Guimarães (2002) e Feuerschütte (2006), leva em consideração o contexto em que os indivíduos estão inseridos em grupos sociais, enfatizando que as experiências vividas influenciam na escolha dos que empreendem (FERREIRA, 2005). Entretanto, para que um campo de estudo seja útil, em termos teóricos e empíricos, tem de apresentar um arcabouço conceitual que possa dar explicações acerca de um conjunto de fenômenos de forma ainda não explicada por estruturas teóricas já disponíveis em outros campos das ciências sociais (SHANE e VENKATARAMAN, 2000). Desta forma, mais recentemente, uma nova abordagem sustentada proposta por Gimenez, Ferreira e Ramos (2008), focaliza o empreendedorismo em uma perspectiva multidimensional, vinculando a sua explicação aos traços individuais, aos fatores econômicos e ambientais, bem como as características do futuro empreendimento (FERREIRA, 2005). Segundo Inácio Jr (2002), o empreendedorismo deve ser visto de uma forma mais integradora que pressupõe o uso de um número maior de variáveis articuladas de forma mais complexa do que a simples relação causa-efeito que é característica dos estudos anteriores. Para o escopo deste trabalho, entende-se que o fenômeno se caracteriza por meio das relações do indivíduo com a criação de novos valores, interagindo com o ambiente e com o empreendimento em um processo ao longo do tempo. Essa ênfase pode ser visualizada na concepção de que o empreendedorismo centra-se em um processo de mudança, eclosão e criação de um novo valor (BRUYAT e JULIEN, 2000). Desse modo, o empreendedor é um ser humano capaz de criar, apreender e influenciar o ambiente (BRUYAT e JULIEN, 2000) na descoberta e criação de oportunidades: identificação das condições organizacionais e contextuais que possibilitam a inovação (ALVAREZ e BARNEY, 2007). A temática da inovação e da capacidade empreendedora tem sido intensamente pesquisada por diversos autores (RICKARDS, 2000; PADRO, 2001; HUNG, MONDEJAR, 2005). Sendo assim, Filion e Lima (2009), complementam que a expressão empreendedora inclui obviamente a geração de uma inovação, de uma novidade que produz valor agregado em comparação àquilo que existia antes. É a capacidade de apreender e de tirar proveito das oportunidades empreendedoras que permite ao fundador-empreendedor se diferenciarem, inovar e gerar valor agregado. Nesse sentido, uma base teórica que promete cumprir este requisito de entendimento pode ser encontrada na abordagem das configurações. As configurações são inerentemente entidades multidimensionais, em que os principais atributos são fortemente inter-relacionados e se reforçam mutuamente (DESS, NEWPORT e RASHEED, 1993). Para Korunka et al. (2003), a abordagem das configurações permite um enfoque abrangente e uma análise integrada, que fornece uma base para intervenções eficazes. Com relação a isso, o próximo tópico discorre sobre a natureza da abordagem das configurações, destacando suas características para agregação das várias dimensões do empreendedorismo. 3 Abordagem das configurações De acordo com Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (1998), a eficácia das organizações não se explica pela presença de um ou outro atributo específico, mas sim, pela correlação de vários atributos que produzem interações entre si e se complementam. Esta característica de complementaridade e interdependência caracteriza o que diversos pesquisadores denominam configuração (MILLER e FRIESEN, 1984; MILLER, 1987; MILLES e SNOW, 1978). 3 Nesse sentido, as organizações, na perspectiva da escola da configuração, constroem sua história baseada em períodos alternados de estabilidade e transformação (MACIEL, DAMKE e CAMARGO, 2009). Em sentido amplo, Mintzberg (1990) refere-se a esta escola, como sendo da configuração e da transformação, ou seja, em estados organizacionais atuais, cujo contexto permite uma determinada configuração no ambiente, enquanto o processo de produzir estratégias no sentido de adaptação ao ambiente pode ser visto como uma transformação. Em uma visão mais além, a adaptação segundo Korunka et al. (2003), inclui a definição e especificação de aspectos que descrevem a personalidade, recursos pessoais, ambiente e organização de atividades como áreas de configuração, como mostra a Figura 1. Cada processo de inicialização pode, portanto, ser descrito utilizando um perfil de aspectos destas quatro áreas de configuração. Figura 1. Modelo de configuração associada ao desempenho empreendedor Fonte: KORUNKA, C. et al. (2003). The entrepreneurial personality in the context of resources, environment, and the startup process – A configurational approach (p. 28). Entrepreneurship theory and practice. A fim de descrever a personalidade, os autores supracitados identificam aspectos que são identificados como relevantes para a personalidade empreendedora. Dentre eles, estão as variáveis de lócus de controle, propensão ao risco, necessidade de realização e iniciativa pessoal. Os recursos no processo de abertura estão especialmente relacionados com os recursos pessoais do novo empreendedor. Esses recursos incluem o capital humano do novo empreendedor, ou seja, seu/sua experiência de instrução e/ou profissionalização que se encontra relacionada ao novo empreendimento, bem como a posição financeira do novo empreendedor (a renda, independência financeira, e apoio do banco) (KORUNKA et al., 2003). O ambiente do processo de abertura inclui aspectos microssociais (restrições, familiares, suporte) e macrossociais (redes sociais baseadas em antigas experiências). Outras fortes influências ambientais podem resultar em uma condição de impulso (AMIT e MULLER, 1996), definida como uma necessidade específica para iniciar um negócio novo e mais intenso, por exemplo, em razão da perda de um emprego anterior. Outra influência ambiental é a existência (ou inexistência) de modelos, tanto no microssocial como nos contextos macrossociais. E por fim, as atividades da organização em um processo de abertura incluem aspectos cognitivos (planejamento, decisões) e ações (aquisição de recursos). Sob essa ótica, Gimenez, Ferreira e Ramos (2008), corroboram que essa proposição baseia-se na possibilidade de diferenciação dessas três dimensões em subdimensões mais específicas, que são usualmente tratadas na literatura do empreendedorismo (Figura 2). 4 Figura 2. Dimensões da ação empreendedora Fonte: GIMENEZ, Fernando Antonio Prado; FERREIRA, Jane Mendes; RAMOS, Simone Cristina. (2008). Configuração empreendedora ou configurações empreendedoras? Indo um pouco além de Mintzberg (p. 8). Anais XXXII Encontro da ANPAD, 32, Rio de Janeiro. Indivíduo: a compreensão dessa dimensão envolve o entendimento de aspectos associados à necessidade de realização, à motivação para empreender; e ao controle do processo empreendedor; Empreendimento: nessa dimensão, assume relevância o estágio do negócio em termos de ciclo de vida, o nível de restrições ao domínio da tecnologia, e a existência de vínculo com outras organizações; Contexto: dinamismo ambiental, complexidade e clima competitivo predominante no ambiente são os aspectos que aparentam ter maior aderência às diferentes manifestações do empreendedorismo. Ainda de acordo com os autores supracitados, a lógica das configurações pode ser traduzida, então, na diferenciação de estados de cada uma das subdimensões apresentadas (Figura 3). Para o indivíduo Para o empreendimento Para o contexto a) necessidade de realização: baixa x alta b) motivação para empreender: por necessidade x por oportunidade x social c) controle do processo empreendedor: no x na equipe a) estágio do negócio: início ou crescimento (emergente) x maduro ou declínio (estabelecido) b) domínio da tecnologia: público x proprietário (restrito) c) tipo de autonomia: independente x corporativo x rede a) dinamismo: baixo x alto b) complexidade: baixa x alta c) clima: hostil x favorável Figura 3. Sub-dimensões da ação empreendedora O campo do construto apresentado na Figura 3 pode ser operacionalizado visando distinguir entre indivíduos com maior ou menor intensidade de necessidade de realização, podendo assim, apontar dois estados discretos possíveis: baixa ou alta necessidade de realização. Em relação ao empreendimento, dois estados discretos formam este construto: o estágio emergente, que engloba os exercícios iniciais do ciclo de vida, e as práticas de maturidade e declínio, que são agrupados na etapa estabelecida. Por fim, a dimensão do contexto relaciona-se com o ritmo de mudança, a complexidade ambiental e o clima competitivo predominante no contexto do novo empreendimento (GIMENEZ, FERREIRA e RAMOS, 2008). 5 Segundo Korunka et al. (2003), os efeitos mútuos dessas variáveis formam e modificam a configuração do indivíduo e da empresa ao longo do tempo. Assim, o desenvolvimento de uma organização pode ser reconstruído como uma cadeia de configurações. Em princípio, as configurações são exclusivas, mas algumas semelhanças podem permitir a criação de tipologias ou taxonomias de configurações. Experiências com certos tipos de configurações podem ajudar a identificar a posição estratégica de um novo empreendimento e avaliar as suas perspectivas de desenvolvimento futuro. Ela também pode ajudar a encontrar as intervenções para promover o desenvolvimento de empreendimentos bem sucedidos. Diante do exposto, verifica-se que a abordagem das configurações argumenta que as organizações, ao determinarem os elementos de estratégia, estrutura, processo e ambiente, tendem a continuarem unidas para as configurações (MEYER, TSUI e HININGS, 1993). Assim, os resultados de desempenho de ambos podem revelar a coerência dos fatores estruturais e estratégicos, e a harmonia desses fatores com elementos contextuais. Isto implica que, para poderem ser eficazes, as organizações devem ter configurações que são internamente consistentes e que se coadunem com várias dimensões contextuais (KETCHEN, THOMAS e SNOW, 1993; MILLER, 1984, 1987). 4 Aspectos metodológicos Para alcançar o objetivo do presente estudo, fez-se necessário adotar uma amostragem não probabilística por acessibilidade, nos setores de indústria, comércio e serviços (ex.: construção civil, farmácia, supermercado, lanchonete, escritório de contabilidade, frigorífico e indústria de beneficiamento de sal). O estudo levou em consideração a aplicação de 152 questionários, no período de 28 de março a 4 de abril de 2012, junto aos empreendedor-fundadores da Região de Mossoró, no Estado do Rio Grande do Norte (RN), dos quais se obteve o retorno de 80 questionários (52,63%). De acordo com dados do SEBRAE (2010), Mossoró está localizada na Mesorregião do Oeste Potiguar, Microrregião de Mossoró, ocupando uma área de 2.110 km², com um Produto Interno Bruto (PIB) de mais de 2 milhões de reais, e cujo perfil dos empreendimentos abarca atividades de agronegócio, comércio, construção, estrutura, indústria e serviços. O referido instrumento de coleta foi subdividido em duas partes, uma que trata sobre os elementos pontuais do perfil do empreendedor-fundador (sócio-demográficas) e das características gerais da empresa, e outra que abarca 40 (quarenta) afirmações relacionadas à abordagem das configurações, quanto ao nível de concordância e discordância do respondente em relação à abertura da empresa, e que adere a escala Likert de cinco pontos (discordo totalmente, discordo, indiferente, concordo, concordo totalmente). O questionário foi construído com base em informações do SEBRAE, quanto ao porte das empresas, bem como de elementos sobre as suas características, e de pontos enumerados pelo estudo de Gimenez, Ferreira e Ramos (2008), quanto à abordagem das configurações. Com o propósito de validar o instrumento de coleta e garantir a fidedignidade das dimensões do construto, fez-se necessário calcular o Alfa de Cronbach, verificando a consistência interna da escala do questionário, cujo limite inferior geralmente aceito é de 0,70 (CORRAR, PAULO e DIAS FILHO, 2009), e que no presente trabalho correspondeu a 0,764 (48 quesitos), demonstrando assim um nível de consistência aceitável. Para verificar a confiabilidade dos dados e realizar as análises estatísticas (fatorial e de cluster), fez-se necessário adotar o Statistic Package for Social Sciencies (SPSS 17.0), ferramenta essa que permitiu examinar as correlações entre as afirmações, bem como verificar se as mesmas se agrupam em fatores/dimensões (Figura 4). 6 DIMENSÃO FATOR (F) F-1c – Competitividade C F-2c – Clima F-3c – Dinamismo F-4c – Complexidade F-1e – Sucesso do negócio E F-2e – Domínio da tecnologia F-3e – Dificuldade do negócio F-4e – Autonomia F-1i – Motivação para empreender F-2i – Conhecimento I F-3i – Necessidade de realização F-4i – Atuação profissional F-5i – Inovação AFIRMAÇÕES 2. as tecnologias existentes eram acessíveis ao meu negócio 13. dispunha de capital acessível no mercado financeiro 32. considerava a intensidade de concorrência alta 34. escolhi esse ramo porque outros estavam tendo sucesso nele 3. considerava o ambiente favorável e com boas perspectivas 22. acreditava no baixo risco do negócio 26. havia estabilidade no mercado em que atuo 23. busquei me antecipar as tendências do mercado 27. o mercado para o produto estava em expansão 36. o mercado precisava de novos ofertantes 16. negociei com um único fornecedor 24. dispunha de investidores a aplicar no negócio 7. o negócio visava atender uma necessidade social 12. avaliei o custo do negócio e o retorno que ele me daria 25. elaborei um plano de negócio 33. dispunha do capital inicial e outros recursos para implantação do negócio 29. possuía produtos específicos, para atender a determinados clientes 30. tinha exclusividade sobre as tecnologias necessárias para aquele negócio 31. apresentei uma novidade para o mercado consumidor 17. o produto exigia pouco conteúdo tecnológico 39. senti dificuldade em montar o quadro de funcionários 4. ela passou a fazer parte de um grupo empresarial já existente 5. estabeleci parcerias com outras empresas 14. ela passou a integrar uma rede com outras empresas parceiras 19. realizei um desejo pessoal 20. sempre acreditei no sucesso do negócio 37. percebi uma oportunidade de mercado 11. a ideia surgiu do conhecimento adquirido em um curso 18. possuía a formação acadêmica completa 1. a ideia do negócio não partiu só de mim 9. quis ter horários flexíveis de trabalho 15. estava desempregado e não conseguia arranjar emprego 28. pensava em status e reconhecimento da sociedade 21. tinha conhecimento sobre o mercado 35. já tinha uma experiência profissional anterior no ramo 40. tinha necessidade de criar algo novo Figura 4. Distribuição das afirmações por dimensões e fatores Ao proceder com a análise fatorial, que visa avaliar as variáveis em estudo, de modo a identificar as dimensões de variabilidades comuns (CORRAR, PAULO e DIAS FILHO, 2009), foi gerada uma matriz de fatores rotacionária para cada dimensão, sobre as quais se observaram os valores diagonais, sendo levados em consideração apenas aqueles que apresentaram valores absolutos acima de 0,5 (corte de cargas fatoriais). Com a finalização dessa etapa, passou-se então, a adoção da técnica multivariada de análise de cluster, de modo a revelar os possíveis agrupamentos naturais (CORRAR, PAULO e DIAS FILHO, 2009), de empreendedor-fundadores na Região de Mossoró, no que diz respeito à abordagem das configurações empreendedoras. Para iniciar esse tipo de análise, adotou-se o cluster hierárquico, gerando o Dendrogram (Método Ward), que subsidiou visualmente a construção de três clusters (k-means), denominados da seguinte forma: Cluster 1 – Empresas inovadoras de vida longa. Cluster 2 – Empresas inovadoras de vida intermediária. Cluster 3 – Empresas inovadoras de vida mediana. 7 Entretanto, de modo a confirmar a validade dos clusters, em termos de similaridade, procedeu-se ainda com a análise da estatística descritiva, para caracterizar cada agrupamento, bem como permitir a sua respectiva comparação, mediante a adoção dos dados sóciodemográficos e de caracterização da empresa, obtidos com a aplicação do questionário. 5 Apresentação e análise dos resultados Para iniciar a análise dos dados, procedeu-se com a realização do Teste KMO e de Bartlett, de modo a averiguar se há adequação dos dados obtidos no estudo para a realização da análise fatorial (Tabela 1). Tabela 1: Teste KMO e Bartlett's Kaiser-Meyer-Olkin Measure of Sampling Adequacy. Bartlett's Test of Sphericity Approx. Chi-Square DF Sig. 0,507 1248,513 780 ,000 O Teste KMO (KMO > 0,5) representa a variância dos dados considerados comuns a todas as variáveis em estudo (CORRAR, PAULO e DIAS FILHO, 2009). Por sua vez, de modo a compor os fatores relacionados à abordagem das configurações dos empreendedorfundadores da Região de Mossoró/RN, observou-se um KMO de 0,507, o que revela um baixo poder de explicação entre os fatores e as variáveis, bem como, uma maior adequação dos dados para a aplicação da análise fatorial. Corroborando com esse entendimento, o Teste de Bartlertt (esfericidade), apresentou significância menor do que 0,0001, o que indica que não há correlação entre os dados e confirma a possibilidade de adoção da análise fatorial, para o tratamento dos mesmos. Após a realização dos Testes de KMO e Bartlett, e a constatação da possibilidade de adoção da análise fatorial, partiu-se então para o processo de identificação dos fatores relacionados à abordagem das configurações definidos por Gimenez, Ferreira e Ramos (2008), em relação às dimensões de contexto, empreendimento e indivíduo. Com a análise fatorial, construíram-se matrizes de fatores rotacionárias para cada dimensão, uma vez que essa técnica estatística permitiu resumir as afirmativas em fatores (Tabela 2). Tabela 2: Principais fatores identificados FATOR (F) F-1c – Competitividade F-2c – Clima F-3c – Dinamismo F-4c – Complexidade F-1e – Sucesso do negócio F-2e – Domínio da tecnologia F-3e – Dificuldade do negócio F-4e – Autonomia F-1i – Motivação para empreender F-2i – Conhecimento F-3i – Necessidade de realização F-4i – Atuação profissional F-5i – Inovação % DA VARIÂNCIA TOTAL EXPLICADA PELO FATOR 20,511 14,400 11,631 9,996 20,211 13,042 11,658 9,155 18,574 13,150 10,400 9,353 7,691 % DA VARIÂNCIA EXPLICADA ACUMULADA 20,511 34,911 46,543 56,539 20,211 33,254 44,912 54,067 18,574 31,724 42,124 51,478 59,169 8 Com a análise fatorial observou-se a presença de quatro fatores na dimensão contexto (56,539% e KMO = 0,617) e mais quatro para o empreendimento (54,067% e KMO = 0,635), além de cinco fatores na dimensão indivíduo (59,169% e KMO = 0,586), uma vez que se adotou como critério de composição de cada fator, apenas aqueles com autovalores maiores do que 1,0 e cargas fatoriais iguais ou superiores a 0,5. Após a realização dessa etapa, observou-se a necessidade de exclusão de quatro afirmativas, nas dimensões indivíduo e empreendimento, uma vez que essas afirmativas apresentaram valores absolutos de carga fatorial abaixo de 0,5, o que indica insignificância para a análise. Com a construção dos fatores, os dados foram organizados de modo a permitir a aplicação da análise de cluster, que consiste na divisão da amostra estudada em subgrupos homogêneos, por meio da utilização dos métodos hierárquicos e não hierárquicos de agrupamento (CORRAR, PAULO e DIAS FILHO, 2009). Na construção dos clusters, levou-se em consideração a similaridade (distância euclidiana) das respostas referentes às afirmativas relacionadas à abordagem das configurações, observando os elementos que compõem cada grupo, de modo a garantir a homogeneidade dentro do grupo e a heterogeneidade entre os mesmos. Antes de determinar o número de clusters, aplicou-se o Método de Ward, com o propósito de combinar grupos com poucos elementos. E, quando da aplicação do método hierárquico de cluster, elaborou-se o diagrama de árvore (Dendrogram), objetivando conhecer a estrutura dos dados e determinar visualmente o corte dos grupos formados (Tabela 3). Tabela 3: Número de casos por Cluster Cluster Valid Missing 1 – Empresas inovadoras de vida longa 59,000 73,75% 2 – Empresas inovadoras de vida intermediária 16,000 20% 3 – Empresas inovadoras de vida mediana 5,000 80,000 ,000 6,25% Considerando os clusters e os fatores criados, observou-se que a amostra possui atitudes de pró-atividade, abarcando características tais como: Cluster 1 – Empresas inovadoras de vida longa: na dimensão indivíduo os empreendedores possuem uma alta necessidade de realização, sendo motivados por oportunidade e tendo o controle do processo de empreender centrado na equipe. No que diz respeito à dimensão empreendimento, o negócio já se encontrava estabelecido, com domínio tecnológico voltado ao proprietário e com autonomia independente. Já na dimensão contexto, o ambiente possui alto dinamismo e complexidade, bem como um clima favorável para o desenvolvimento do empreendimento. Cluster 2 – Empresas inovadoras de vida intermediária: na dimensão indivíduo os empreendedores possuem uma necessidade de realização mediana (entre alta e baixa), sendo motivados por oportunidade e tendo o controle do processo de empreender centrado no indivíduo. Em se tratando da dimensão empreendimento, o negócio é emergente, com domínio tecnológico voltado ao proprietário e com autonomia independente. Logo, na dimensão contexto, o ambiente possui dinamismo e complexidade mediana (entre alta e baixa), bem como um clima misto (hostil e favorável) para o desenvolvimento do empreendimento. Cluster 3 – Empresas inovadoras de vida mediana: na dimensão indivíduo os empreendedores possuem uma alta necessidade de realização, sendo motivados por 9 oportunidade e tendo o controle do processo de empreender centrado na equipe. Quanto à dimensão empreendimento, o negócio é emergente, com domínio tecnológico voltado ao proprietário e com autonomia independente. Na dimensão contexto, o ambiente possui alto dinamismo e complexidade, bem como um clima hostil para o desenvolvimento do empreendimento. 5.1 Análise descritiva dos clusters Corroborando com o estudo de Korunka et al. (2003), fez-se necessário confirmar a validade dos clusters, através de um estudo comparativo, utilizando-se da análise descritiva, com base nos indicadores sócio-demográficos e de caracterização das empresas encontrados para cada um dos clusters. Cluster 1 – Empresas inovadoras de vida longa: quanto aos indicadores sóciodemográficos, identificou-se a predominância do gênero masculino (81,4%), com faixa etária acima de 41 anos (50,8%) e formação acadêmica de nível superior completa (49,2%). Quanto à caracterização da empresa, observou-se um equilíbrio entre a distribuição da amostra nos setores de serviços (40,7%) e comércio (42,4%), bem como que o tempo de permanência no mercado encontra-se acima de 5 anos (60,9%), com atuação a nível municipal (42,4%). Cluster 2 – Empresas inovadoras de vida intermediária: quanto aos indicadores sócio-demográficos, identificou-se a predominância do gênero masculino (81,3%), com faixa etária acima de 41 anos (68,8%) e formação acadêmica de nível médio completo (43,8%). Em se tratando da caracterização da empresa, observou-se um maior destaque no setor de comércio (75%), bem como, que o tempo de permanência no mercado encontra-se acima de 5 anos (81,3%), com atuação a nível municipal (68,8%). Cluster 3 – Empresas inovadoras de vida mediana: quanto aos indicadores sóciodemográficos, identificou-se a predominância do gênero masculino (60%), com faixa etária acima de 41 anos (60%) e formação acadêmica de nível superior completa (80%). Já no que diz respeito à caracterização da empresa, observou-se um maior destaque no setor de serviços (60%), bem como que o tempo de permanência no mercado encontrase acima de 5 anos (80%), com atuação a nível estadual (80%). Por fim, quanto ao porte das empresas estudadas, observou-se ainda uma maior concentração de Microempresas (ME) e Empresas de pequeno porte (EPP), nos três clusters, o que representam (85%) de toda a amostra, e o que foi parcialmente confirmado com o quesito de quantidade de funcionários/colaboradores, baseado nas instruções apresentadas pelo SEBRAE (até 49 funcionários/colaboradores). Comparando os clusters, observou-se que a população masculina predomina em detrimento da feminina, com maior participação absoluta no cluster 1 (11 indivíduos), bem como a predominância de empreendedor-fundadores mais maduros, mais de 41 anos em todos os clusters. Constatou-se ainda, que os membros do cluster 1 e 3 possuem, predominantemente, formação acadêmica completa, bem como, que todos os clusters possuem abrangência de atuação pelo menos municipal, destacando-se os clusters 1 e 2. 6 Considerações finais No presente artigo, buscou-se identificar configurações empreendedoras da Região de Mossoró/RN, observando as dimensões de contexto, ambiente e indivíduo, com base em uma abordagem das configurações proposta por Gimenez, Ferreira e Ramos (2008). 10 Iniciou-se o estudo a partir do entendimento da abordagem das configurações de modo a permitir a adoção de elementos da estatística, que evidenciassem a formação de clusters voltados às empresas inovadoras, identificando-as como organizações pró-ativas, atingindo, desta forma, os objetivos propostos. Com base nas questões norteadoras deste estudo, o cluster 1, apresentou em relação à dimensão indivíduo, que os empreendedores possuem uma alta necessidade de realização, sendo motivados por oportunidade e tendo o controle do processo de empreender centrado na equipe. Na dimensão empreendimento, constatou-se que o negócio já se encontrava estabelecido, com domínio tecnológico voltado ao proprietário e com autonomia independente. Na dimensão contexto, verificou-se que o ambiente possui alto dinamismo e complexidade, bem como um clima favorável para o desenvolvimento do empreendimento, o que foi caracterizado como empresas inovadoras de vida longa. Os resultados do cluster 2 apontam que na dimensão indivíduo, os empreendedores possuem uma necessidade de realização mediana, sendo motivados por oportunidade e tendo o controle do processo de empreender centrado no indivíduo. Com relação à dimensão empreendimento, foi verificado que o negócio era emergente, com domínio tecnológico voltado ao proprietário e com autonomia independente e na dimensão contexto, o ambiente possui dinamismo e complexidade medianos, bem como, um clima misto para o desenvolvimento do empreendimento, identificado, neste estudo, como empresas inovadoras de vida intermediária. Em relação ao cluster 3, evidenciou-se que na dimensão indivíduo os empreendedores possuem uma alta necessidade de realização, sendo motivados por oportunidade e tendo o controle do processo de empreender centrado na equipe, na dimensão empreendimento, constatou-se que o negócio era emergente, com domínio tecnológico voltado ao proprietário e com autonomia independente. Na dimensão contexto, o ambiente possui alto dinamismo e complexidade, bem como um clima hostil para o desenvolvimento do empreendimento, sendo definido como empresas inovadoras de vida mediana. Observando as características dominantes relacionadas às dimensões estudadas, este estudo reforça a ideia de Gimenez, Ferreira e Ramos (2008), quando afirma que organizações de vida longa e mediana são manifestações frequentes da ação empreendedora. No entanto, este estudo proporcionou uma caracterização diferente daquelas estudadas pelos autores supracitados, ao qual corresponde a empresas inovadoras de vida intermediária, uma vez que a mesma atua entre um clima hostil e favorável, possuindo um nível mediano em relação ao processo de realização, dinamismo e complexidade. Nesse sentido, os resultados obtidos nessa pesquisa, são compatíveis com as teorias existentes, consolidando assim conhecimentos aprofundados sobre o tema abordado. As contribuições que este estudo apresenta estão relacionas ao surgimento de uma nova configuração, classificada como empresas de vida intermediária, como também, ao pioneirismo da pesquisa na Região de Mossoró/RN. Para um maior aprofundamento, sugerese que este estudo seja replicado longitudinalmente, para identificar a influência de novas configurações que interferem nas ações empreendedoras. Referências ALVAREZ, S. A.; BARNEY, J. B. Discovery and creation: alternative theories of entrepreneurial action. Strategic Management Journal, n. 1, p. 11-26, 2007. AMIT, R.; MULLER, E. “Push”—und “Pull”—Unternehmertum. Internationales Gewerbearchiv, 44(2), 90–103, 1996. 11 BRUYAT, C.; JULIEN, P. A. Defining the field of research in entrepreneurship. Journal of Business Venturing, v. 16, p. 165-180, 2000. CARLAND, J. W.; CARLAND, J. A.; HOY, F. S. An entrepreneurship index: an empirical validation. Frontiers of Entrepreneurship Research. Boston, v. 25, n. 3, p. 244-265, Mar. 1992. CORRAR, L. J.; PAULO, E.; DIAS FILHO, J. M. (coord.). Análise multivariada: para os cursos de administração, ciências contábeis e economia. FIPECAFI – Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras. 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