Empreendedorismo: Estudo sobre a Configuração Empreendedora na Região de
Mossoró/RN
Autoria: Thaiseany de Freitas Rêgo, Ana Maria Magalhães Correia, Luciana Batista Sales,
Andrea Kaliany da Costa Lima, Fernando Antonio Prado Gimenez
Resumo
O objetivo do estudo consiste em identificar as configurações empreendedoras na Região
Mossoró/RN, observando as dimensões de contexto, ambiente e indivíduo. Para tanto,
elaborou-se um questionário com indicadores sócio-demográficos e de caracterização das
empresas, bem como afirmações sobre a abordagem empreendedora. A pesquisa baseou-se
em uma amostragem não probabilística por acessibilidade, contemplando 80 respondentes.
Posteriormente, procedeu-se com a adoção de algumas análises estatísticas (fatorial, clusters,
estatística descritiva). Com o estudo, identificou-se a formação de três clusters, com
comportamentos diferenciados quanto à abordagem das configurações, representando
empresas inovadoras de vida intermediária (20%), mediana (6,25%) e longa (73,75%).
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1
Introdução
O empreendedorismo é um assunto que tem atraído à atenção de muitos pesquisadores
(MILLES e SNOW, 1978; SHANE e VENKATARAMAN, 2000; FERREIRA, 2005;
ALVAREZ e BARNEY, 2007), por se tratar de um tema relevante e atual, que traz benefícios
e transformações econômicas para a sociedade.
O estímulo ao empreendedorismo é importante, mas não basta estimulá-lo, pois é
necessário criar um ambiente favorável ao desenvolvimento dos mercados e perceber as
influências recebidas, de modo que seja definida a ideia de negócio e das competências
distintivas, fazendo com que os empreendedores apresentem um diferencial competitivo
diante de seus concorrentes.
O empreendedorismo é uma ação humana, um fenômeno complexo, que depende da
interação entre pessoas, envolvendo a viabilização e articulação de recursos. Os estudos sobre
empreendedorismo requerem a compreensão sobre a sua influência face às dimensões de
contexto e empreendimentos, e a partir disso a ação empreendedora se manifesta como uma
constelação multidimensional de variáveis, que podem ocorrer em conjunto e ao mesmo
tempo, não existindo causa ou efeito (MILLER, 1987; MEYER, TSUI e HININGS, 1993).
Nesse sentido, o presente trabalho tem por objetivo identificar configurações
empreendedoras da Região de Mossoró/RN, observando as dimensões de contexto, ambiente
e das pessoas que empreendem, com base em uma abordagem das configurações.
Destaca-se que este estudo é pioneiro, ao aplicar as dimensões referentes a um modelo
integrado sobre abordagem das configurações na Região de Mossoró/RN. Segundo dados do
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE, 2010), essa região
apresenta 5.044 empresas, que atuam em atividades de agronegócio, comércio, construção,
indústria e serviços. O trabalho oferece ainda, uma contribuição acadêmica e, também, um
direcionamento sobre as ações empreendedoras em um ambiente dinâmico.
Logo, além dessa introdução, o argumento central desse artigo se desenvolve a partir
da aplicação de um modelo integrado da ação empreendedora (abordagem das configurações),
proposto por Gimenez, Ferreira e Ramos (2008). Ao final, procura-se ilustrar como esse
modelo integrado da ação empreendedora ajuda na compreensão do empreendedorismo na
Região de Mossoró/RN. A seguir, apresenta-se uma discussão conceitual sobre o
empreendedorismo.
2
Empreendedorismo
Apesar da multiplicidade de definições para o fenômeno do empreendedorismo, há
relativo consenso acerca de algumas de suas dimensões e características centrais (MACIEL,
DAMKE e CAMARGO, 2009), como a criação e desenvolvimento de um novo negócio,
sendo um importante elemento para o desenvolvimento econômico de uma sociedade
(GIMENEZ e INÁCIO JR, 2002).
Nesse sentido, segundo Souza e Trindade (2009), o tema tem crescido em interesse e
importância para as economias regionais e para os governos, preocupados em desenvolver
políticas públicas capazes de fomentar a atividade empreendedora e gerar desenvolvimento
econômico.
Em virtude dessa importância do empreendedorismo para o desenvolvimento
econômico das nações, os estudos sobre o tema, como área de conhecimento, vêm sendo foco
de análises sistemáticas, principalmente nos países em desenvolvimento (GIMENEZ,
FERREIRA e RAMOS, 2008). Nesse sentido, tem sido objeto de estudo multidisciplinar, que
abarca diferentes áreas do conhecimento, como a economia, a psicologia e a sociologia.
2
Os economistas, autores seminais no estudo sobre o empreendedorismo, destacam a
importância do empreendedor para o desenvolvimento econômico da sociedade. A abordagem
psicológica, behaviorista ou comportamental fundamenta-se em características para justificar
o perfil do empreendedor. E a abordagem sociológica, na visão de Guimarães (2002) e
Feuerschütte (2006), leva em consideração o contexto em que os indivíduos estão inseridos
em grupos sociais, enfatizando que as experiências vividas influenciam na escolha dos que
empreendem (FERREIRA, 2005).
Entretanto, para que um campo de estudo seja útil, em termos teóricos e empíricos,
tem de apresentar um arcabouço conceitual que possa dar explicações acerca de um conjunto
de fenômenos de forma ainda não explicada por estruturas teóricas já disponíveis em outros
campos das ciências sociais (SHANE e VENKATARAMAN, 2000). Desta forma, mais
recentemente, uma nova abordagem sustentada proposta por Gimenez, Ferreira e Ramos
(2008), focaliza o empreendedorismo em uma perspectiva multidimensional, vinculando a sua
explicação aos traços individuais, aos fatores econômicos e ambientais, bem como as
características do futuro empreendimento (FERREIRA, 2005).
Segundo Inácio Jr (2002), o empreendedorismo deve ser visto de uma forma mais
integradora que pressupõe o uso de um número maior de variáveis articuladas de forma mais
complexa do que a simples relação causa-efeito que é característica dos estudos anteriores.
Para o escopo deste trabalho, entende-se que o fenômeno se caracteriza por meio das relações
do indivíduo com a criação de novos valores, interagindo com o ambiente e com o
empreendimento em um processo ao longo do tempo.
Essa ênfase pode ser visualizada na concepção de que o empreendedorismo centra-se
em um processo de mudança, eclosão e criação de um novo valor (BRUYAT e JULIEN,
2000). Desse modo, o empreendedor é um ser humano capaz de criar, apreender e influenciar
o ambiente (BRUYAT e JULIEN, 2000) na descoberta e criação de oportunidades:
identificação das condições organizacionais e contextuais que possibilitam a inovação
(ALVAREZ e BARNEY, 2007).
A temática da inovação e da capacidade empreendedora tem sido intensamente
pesquisada por diversos autores (RICKARDS, 2000; PADRO, 2001; HUNG, MONDEJAR,
2005). Sendo assim, Filion e Lima (2009), complementam que a expressão empreendedora
inclui obviamente a geração de uma inovação, de uma novidade que produz valor agregado
em comparação àquilo que existia antes. É a capacidade de apreender e de tirar proveito das
oportunidades empreendedoras que permite ao fundador-empreendedor se diferenciarem,
inovar e gerar valor agregado.
Nesse sentido, uma base teórica que promete cumprir este requisito de entendimento
pode ser encontrada na abordagem das configurações. As configurações são inerentemente
entidades multidimensionais, em que os principais atributos são fortemente inter-relacionados
e se reforçam mutuamente (DESS, NEWPORT e RASHEED, 1993). Para Korunka et al.
(2003), a abordagem das configurações permite um enfoque abrangente e uma análise
integrada, que fornece uma base para intervenções eficazes. Com relação a isso, o próximo
tópico discorre sobre a natureza da abordagem das configurações, destacando suas
características para agregação das várias dimensões do empreendedorismo.
3
Abordagem das configurações
De acordo com Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (1998), a eficácia das organizações
não se explica pela presença de um ou outro atributo específico, mas sim, pela correlação de
vários atributos que produzem interações entre si e se complementam. Esta característica de
complementaridade e interdependência caracteriza o que diversos pesquisadores denominam
configuração (MILLER e FRIESEN, 1984; MILLER, 1987; MILLES e SNOW, 1978).
3
Nesse sentido, as organizações, na perspectiva da escola da configuração, constroem
sua história baseada em períodos alternados de estabilidade e transformação (MACIEL,
DAMKE e CAMARGO, 2009). Em sentido amplo, Mintzberg (1990) refere-se a esta escola,
como sendo da configuração e da transformação, ou seja, em estados organizacionais atuais,
cujo contexto permite uma determinada configuração no ambiente, enquanto o processo de
produzir estratégias no sentido de adaptação ao ambiente pode ser visto como uma
transformação.
Em uma visão mais além, a adaptação segundo Korunka et al. (2003), inclui a
definição e especificação de aspectos que descrevem a personalidade, recursos pessoais,
ambiente e organização de atividades como áreas de configuração, como mostra a Figura 1.
Cada processo de inicialização pode, portanto, ser descrito utilizando um perfil de aspectos
destas quatro áreas de configuração.
Figura 1. Modelo de configuração associada ao desempenho empreendedor
Fonte: KORUNKA, C. et al. (2003). The entrepreneurial personality in the context of resources, environment,
and the startup process – A configurational approach (p. 28). Entrepreneurship theory and practice.
A fim de descrever a personalidade, os autores supracitados identificam aspectos que
são identificados como relevantes para a personalidade empreendedora. Dentre eles, estão as
variáveis de lócus de controle, propensão ao risco, necessidade de realização e iniciativa
pessoal.
Os recursos no processo de abertura estão especialmente relacionados com os recursos
pessoais do novo empreendedor. Esses recursos incluem o capital humano do novo
empreendedor, ou seja, seu/sua experiência de instrução e/ou profissionalização que se
encontra relacionada ao novo empreendimento, bem como a posição financeira do novo
empreendedor (a renda, independência financeira, e apoio do banco) (KORUNKA et al.,
2003).
O ambiente do processo de abertura inclui aspectos microssociais (restrições,
familiares, suporte) e macrossociais (redes sociais baseadas em antigas experiências). Outras
fortes influências ambientais podem resultar em uma condição de impulso (AMIT e
MULLER, 1996), definida como uma necessidade específica para iniciar um negócio novo e
mais intenso, por exemplo, em razão da perda de um emprego anterior. Outra influência
ambiental é a existência (ou inexistência) de modelos, tanto no microssocial como nos
contextos macrossociais. E por fim, as atividades da organização em um processo de abertura
incluem aspectos cognitivos (planejamento, decisões) e ações (aquisição de recursos).
Sob essa ótica, Gimenez, Ferreira e Ramos (2008), corroboram que essa proposição
baseia-se na possibilidade de diferenciação dessas três dimensões em subdimensões mais
específicas, que são usualmente tratadas na literatura do empreendedorismo (Figura 2).
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Figura 2. Dimensões da ação empreendedora
Fonte: GIMENEZ, Fernando Antonio Prado; FERREIRA, Jane Mendes; RAMOS, Simone Cristina. (2008).
Configuração empreendedora ou configurações empreendedoras? Indo um pouco além de Mintzberg (p. 8).
Anais XXXII Encontro da ANPAD, 32, Rio de Janeiro.



Indivíduo: a compreensão dessa dimensão envolve o entendimento de aspectos
associados à necessidade de realização, à motivação para empreender; e ao controle do
processo empreendedor;
Empreendimento: nessa dimensão, assume relevância o estágio do negócio em termos
de ciclo de vida, o nível de restrições ao domínio da tecnologia, e a existência de
vínculo com outras organizações;
Contexto: dinamismo ambiental, complexidade e clima competitivo predominante no
ambiente são os aspectos que aparentam ter maior aderência às diferentes manifestações
do empreendedorismo.
Ainda de acordo com os autores supracitados, a lógica das configurações pode ser
traduzida, então, na diferenciação de estados de cada uma das subdimensões apresentadas
(Figura 3).
Para o indivíduo
Para o
empreendimento
Para o contexto
a) necessidade de realização: baixa x alta
b) motivação para empreender: por necessidade x por oportunidade x social
c) controle do processo empreendedor: no x na equipe
a) estágio do negócio: início ou crescimento (emergente) x maduro ou declínio
(estabelecido)
b) domínio da tecnologia: público x proprietário (restrito)
c) tipo de autonomia: independente x corporativo x rede
a) dinamismo: baixo x alto
b) complexidade: baixa x alta
c) clima: hostil x favorável
Figura 3. Sub-dimensões da ação empreendedora
O campo do construto apresentado na Figura 3 pode ser operacionalizado visando
distinguir entre indivíduos com maior ou menor intensidade de necessidade de realização,
podendo assim, apontar dois estados discretos possíveis: baixa ou alta necessidade de
realização. Em relação ao empreendimento, dois estados discretos formam este construto: o
estágio emergente, que engloba os exercícios iniciais do ciclo de vida, e as práticas de
maturidade e declínio, que são agrupados na etapa estabelecida. Por fim, a dimensão do
contexto relaciona-se com o ritmo de mudança, a complexidade ambiental e o clima
competitivo predominante no contexto do novo empreendimento (GIMENEZ, FERREIRA e
RAMOS, 2008).
5
Segundo Korunka et al. (2003), os efeitos mútuos dessas variáveis formam e
modificam a configuração do indivíduo e da empresa ao longo do tempo. Assim, o
desenvolvimento de uma organização pode ser reconstruído como uma cadeia de
configurações. Em princípio, as configurações são exclusivas, mas algumas semelhanças
podem permitir a criação de tipologias ou taxonomias de configurações. Experiências com
certos tipos de configurações podem ajudar a identificar a posição estratégica de um novo
empreendimento e avaliar as suas perspectivas de desenvolvimento futuro. Ela também pode
ajudar a encontrar as intervenções para promover o desenvolvimento de empreendimentos
bem sucedidos.
Diante do exposto, verifica-se que a abordagem das configurações argumenta que as
organizações, ao determinarem os elementos de estratégia, estrutura, processo e ambiente,
tendem a continuarem unidas para as configurações (MEYER, TSUI e HININGS, 1993).
Assim, os resultados de desempenho de ambos podem revelar a coerência dos fatores
estruturais e estratégicos, e a harmonia desses fatores com elementos contextuais. Isto implica
que, para poderem ser eficazes, as organizações devem ter configurações que são
internamente consistentes e que se coadunem com várias dimensões contextuais (KETCHEN,
THOMAS e SNOW, 1993; MILLER, 1984, 1987).
4
Aspectos metodológicos
Para alcançar o objetivo do presente estudo, fez-se necessário adotar uma amostragem
não probabilística por acessibilidade, nos setores de indústria, comércio e serviços (ex.:
construção civil, farmácia, supermercado, lanchonete, escritório de contabilidade, frigorífico e
indústria de beneficiamento de sal).
O estudo levou em consideração a aplicação de 152 questionários, no período de 28 de
março a 4 de abril de 2012, junto aos empreendedor-fundadores da Região de Mossoró, no
Estado do Rio Grande do Norte (RN), dos quais se obteve o retorno de 80 questionários
(52,63%).
De acordo com dados do SEBRAE (2010), Mossoró está localizada na Mesorregião do
Oeste Potiguar, Microrregião de Mossoró, ocupando uma área de 2.110 km², com um Produto
Interno Bruto (PIB) de mais de 2 milhões de reais, e cujo perfil dos empreendimentos abarca
atividades de agronegócio, comércio, construção, estrutura, indústria e serviços.
O referido instrumento de coleta foi subdividido em duas partes, uma que trata sobre
os elementos pontuais do perfil do empreendedor-fundador (sócio-demográficas) e das
características gerais da empresa, e outra que abarca 40 (quarenta) afirmações relacionadas à
abordagem das configurações, quanto ao nível de concordância e discordância do respondente
em relação à abertura da empresa, e que adere a escala Likert de cinco pontos (discordo
totalmente, discordo, indiferente, concordo, concordo totalmente).
O questionário foi construído com base em informações do SEBRAE, quanto ao porte
das empresas, bem como de elementos sobre as suas características, e de pontos enumerados
pelo estudo de Gimenez, Ferreira e Ramos (2008), quanto à abordagem das configurações.
Com o propósito de validar o instrumento de coleta e garantir a fidedignidade das
dimensões do construto, fez-se necessário calcular o Alfa de Cronbach, verificando a
consistência interna da escala do questionário, cujo limite inferior geralmente aceito é de 0,70
(CORRAR, PAULO e DIAS FILHO, 2009), e que no presente trabalho correspondeu a 0,764
(48 quesitos), demonstrando assim um nível de consistência aceitável.
Para verificar a confiabilidade dos dados e realizar as análises estatísticas (fatorial e de
cluster), fez-se necessário adotar o Statistic Package for Social Sciencies (SPSS 17.0),
ferramenta essa que permitiu examinar as correlações entre as afirmações, bem como verificar
se as mesmas se agrupam em fatores/dimensões (Figura 4).
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DIMENSÃO
FATOR (F)
F-1c –
Competitividade
C
F-2c – Clima
F-3c – Dinamismo
F-4c –
Complexidade
F-1e – Sucesso do
negócio
E
F-2e – Domínio da
tecnologia
F-3e – Dificuldade
do negócio
F-4e – Autonomia
F-1i – Motivação
para empreender
F-2i –
Conhecimento
I
F-3i – Necessidade
de realização
F-4i – Atuação
profissional
F-5i – Inovação
AFIRMAÇÕES
2. as tecnologias existentes eram acessíveis ao meu negócio
13. dispunha de capital acessível no mercado financeiro
32. considerava a intensidade de concorrência alta
34. escolhi esse ramo porque outros estavam tendo sucesso nele
3. considerava o ambiente favorável e com boas perspectivas
22. acreditava no baixo risco do negócio
26. havia estabilidade no mercado em que atuo
23. busquei me antecipar as tendências do mercado
27. o mercado para o produto estava em expansão
36. o mercado precisava de novos ofertantes
16. negociei com um único fornecedor
24. dispunha de investidores a aplicar no negócio
7. o negócio visava atender uma necessidade social
12. avaliei o custo do negócio e o retorno que ele me daria
25. elaborei um plano de negócio
33. dispunha do capital inicial e outros recursos para implantação do
negócio
29. possuía produtos específicos, para atender a determinados clientes
30. tinha exclusividade sobre as tecnologias necessárias para aquele
negócio
31. apresentei uma novidade para o mercado consumidor
17. o produto exigia pouco conteúdo tecnológico
39. senti dificuldade em montar o quadro de funcionários
4. ela passou a fazer parte de um grupo empresarial já existente
5. estabeleci parcerias com outras empresas
14. ela passou a integrar uma rede com outras empresas parceiras
19. realizei um desejo pessoal
20. sempre acreditei no sucesso do negócio
37. percebi uma oportunidade de mercado
11. a ideia surgiu do conhecimento adquirido em um curso
18. possuía a formação acadêmica completa
1. a ideia do negócio não partiu só de mim
9. quis ter horários flexíveis de trabalho
15. estava desempregado e não conseguia arranjar emprego
28. pensava em status e reconhecimento da sociedade
21. tinha conhecimento sobre o mercado
35. já tinha uma experiência profissional anterior no ramo
40. tinha necessidade de criar algo novo
Figura 4. Distribuição das afirmações por dimensões e fatores
Ao proceder com a análise fatorial, que visa avaliar as variáveis em estudo, de modo a
identificar as dimensões de variabilidades comuns (CORRAR, PAULO e DIAS FILHO,
2009), foi gerada uma matriz de fatores rotacionária para cada dimensão, sobre as quais se
observaram os valores diagonais, sendo levados em consideração apenas aqueles que
apresentaram valores absolutos acima de 0,5 (corte de cargas fatoriais).
Com a finalização dessa etapa, passou-se então, a adoção da técnica multivariada de
análise de cluster, de modo a revelar os possíveis agrupamentos naturais (CORRAR, PAULO
e DIAS FILHO, 2009), de empreendedor-fundadores na Região de Mossoró, no que diz
respeito à abordagem das configurações empreendedoras. Para iniciar esse tipo de análise,
adotou-se o cluster hierárquico, gerando o Dendrogram (Método Ward), que subsidiou
visualmente a construção de três clusters (k-means), denominados da seguinte forma:



Cluster 1 – Empresas inovadoras de vida longa.
Cluster 2 – Empresas inovadoras de vida intermediária.
Cluster 3 – Empresas inovadoras de vida mediana.
7
Entretanto, de modo a confirmar a validade dos clusters, em termos de similaridade,
procedeu-se ainda com a análise da estatística descritiva, para caracterizar cada agrupamento,
bem como permitir a sua respectiva comparação, mediante a adoção dos dados sóciodemográficos e de caracterização da empresa, obtidos com a aplicação do questionário.
5
Apresentação e análise dos resultados
Para iniciar a análise dos dados, procedeu-se com a realização do Teste KMO e de
Bartlett, de modo a averiguar se há adequação dos dados obtidos no estudo para a realização
da análise fatorial (Tabela 1).
Tabela 1:
Teste KMO e Bartlett's
Kaiser-Meyer-Olkin Measure of Sampling Adequacy.
Bartlett's Test of Sphericity
Approx. Chi-Square
DF
Sig.
0,507
1248,513
780
,000
O Teste KMO (KMO > 0,5) representa a variância dos dados considerados comuns a
todas as variáveis em estudo (CORRAR, PAULO e DIAS FILHO, 2009). Por sua vez, de
modo a compor os fatores relacionados à abordagem das configurações dos empreendedorfundadores da Região de Mossoró/RN, observou-se um KMO de 0,507, o que revela um baixo
poder de explicação entre os fatores e as variáveis, bem como, uma maior adequação dos
dados para a aplicação da análise fatorial.
Corroborando com esse entendimento, o Teste de Bartlertt (esfericidade), apresentou
significância menor do que 0,0001, o que indica que não há correlação entre os dados e
confirma a possibilidade de adoção da análise fatorial, para o tratamento dos mesmos.
Após a realização dos Testes de KMO e Bartlett, e a constatação da possibilidade de
adoção da análise fatorial, partiu-se então para o processo de identificação dos fatores
relacionados à abordagem das configurações definidos por Gimenez, Ferreira e Ramos
(2008), em relação às dimensões de contexto, empreendimento e indivíduo.
Com a análise fatorial, construíram-se matrizes de fatores rotacionárias para cada
dimensão, uma vez que essa técnica estatística permitiu resumir as afirmativas em fatores
(Tabela 2).
Tabela 2:
Principais fatores identificados
FATOR (F)
F-1c – Competitividade
F-2c – Clima
F-3c – Dinamismo
F-4c – Complexidade
F-1e – Sucesso do negócio
F-2e – Domínio da tecnologia
F-3e – Dificuldade do negócio
F-4e – Autonomia
F-1i – Motivação para empreender
F-2i – Conhecimento
F-3i – Necessidade de realização
F-4i – Atuação profissional
F-5i – Inovação
% DA VARIÂNCIA TOTAL
EXPLICADA PELO FATOR
20,511
14,400
11,631
9,996
20,211
13,042
11,658
9,155
18,574
13,150
10,400
9,353
7,691
% DA VARIÂNCIA
EXPLICADA ACUMULADA
20,511
34,911
46,543
56,539
20,211
33,254
44,912
54,067
18,574
31,724
42,124
51,478
59,169
8
Com a análise fatorial observou-se a presença de quatro fatores na dimensão contexto
(56,539% e KMO = 0,617) e mais quatro para o empreendimento (54,067% e KMO = 0,635),
além de cinco fatores na dimensão indivíduo (59,169% e KMO = 0,586), uma vez que se
adotou como critério de composição de cada fator, apenas aqueles com autovalores maiores
do que 1,0 e cargas fatoriais iguais ou superiores a 0,5.
Após a realização dessa etapa, observou-se a necessidade de exclusão de quatro
afirmativas, nas dimensões indivíduo e empreendimento, uma vez que essas afirmativas
apresentaram valores absolutos de carga fatorial abaixo de 0,5, o que indica insignificância
para a análise.
Com a construção dos fatores, os dados foram organizados de modo a permitir a
aplicação da análise de cluster, que consiste na divisão da amostra estudada em subgrupos
homogêneos, por meio da utilização dos métodos hierárquicos e não hierárquicos de
agrupamento (CORRAR, PAULO e DIAS FILHO, 2009).
Na construção dos clusters, levou-se em consideração a similaridade (distância
euclidiana) das respostas referentes às afirmativas relacionadas à abordagem das
configurações, observando os elementos que compõem cada grupo, de modo a garantir a
homogeneidade dentro do grupo e a heterogeneidade entre os mesmos.
Antes de determinar o número de clusters, aplicou-se o Método de Ward, com o
propósito de combinar grupos com poucos elementos. E, quando da aplicação do método
hierárquico de cluster, elaborou-se o diagrama de árvore (Dendrogram), objetivando conhecer
a estrutura dos dados e determinar visualmente o corte dos grupos formados (Tabela 3).
Tabela 3:
Número de casos por Cluster
Cluster
Valid
Missing
1 – Empresas inovadoras de vida longa
59,000
73,75%
2 – Empresas inovadoras de vida intermediária
16,000
20%
3 – Empresas inovadoras de vida mediana
5,000
80,000
,000
6,25%
Considerando os clusters e os fatores criados, observou-se que a amostra possui
atitudes de pró-atividade, abarcando características tais como:



Cluster 1 – Empresas inovadoras de vida longa: na dimensão indivíduo os
empreendedores possuem uma alta necessidade de realização, sendo motivados por
oportunidade e tendo o controle do processo de empreender centrado na equipe. No que
diz respeito à dimensão empreendimento, o negócio já se encontrava estabelecido, com
domínio tecnológico voltado ao proprietário e com autonomia independente. Já na
dimensão contexto, o ambiente possui alto dinamismo e complexidade, bem como um
clima favorável para o desenvolvimento do empreendimento.
Cluster 2 – Empresas inovadoras de vida intermediária: na dimensão indivíduo os
empreendedores possuem uma necessidade de realização mediana (entre alta e baixa),
sendo motivados por oportunidade e tendo o controle do processo de empreender
centrado no indivíduo. Em se tratando da dimensão empreendimento, o negócio é
emergente, com domínio tecnológico voltado ao proprietário e com autonomia
independente. Logo, na dimensão contexto, o ambiente possui dinamismo e
complexidade mediana (entre alta e baixa), bem como um clima misto (hostil e
favorável) para o desenvolvimento do empreendimento.
Cluster 3 – Empresas inovadoras de vida mediana: na dimensão indivíduo os
empreendedores possuem uma alta necessidade de realização, sendo motivados por
9
oportunidade e tendo o controle do processo de empreender centrado na equipe. Quanto
à dimensão empreendimento, o negócio é emergente, com domínio tecnológico voltado
ao proprietário e com autonomia independente. Na dimensão contexto, o ambiente
possui alto dinamismo e complexidade, bem como um clima hostil para o
desenvolvimento do empreendimento.
5.1 Análise descritiva dos clusters
Corroborando com o estudo de Korunka et al. (2003), fez-se necessário confirmar a
validade dos clusters, através de um estudo comparativo, utilizando-se da análise descritiva,
com base nos indicadores sócio-demográficos e de caracterização das empresas encontrados
para cada um dos clusters.



Cluster 1 – Empresas inovadoras de vida longa: quanto aos indicadores sóciodemográficos, identificou-se a predominância do gênero masculino (81,4%), com faixa
etária acima de 41 anos (50,8%) e formação acadêmica de nível superior completa
(49,2%). Quanto à caracterização da empresa, observou-se um equilíbrio entre a
distribuição da amostra nos setores de serviços (40,7%) e comércio (42,4%), bem como
que o tempo de permanência no mercado encontra-se acima de 5 anos (60,9%), com
atuação a nível municipal (42,4%).
Cluster 2 – Empresas inovadoras de vida intermediária: quanto aos indicadores
sócio-demográficos, identificou-se a predominância do gênero masculino (81,3%), com
faixa etária acima de 41 anos (68,8%) e formação acadêmica de nível médio completo
(43,8%). Em se tratando da caracterização da empresa, observou-se um maior destaque
no setor de comércio (75%), bem como, que o tempo de permanência no mercado
encontra-se acima de 5 anos (81,3%), com atuação a nível municipal (68,8%).
Cluster 3 – Empresas inovadoras de vida mediana: quanto aos indicadores sóciodemográficos, identificou-se a predominância do gênero masculino (60%), com faixa
etária acima de 41 anos (60%) e formação acadêmica de nível superior completa (80%).
Já no que diz respeito à caracterização da empresa, observou-se um maior destaque no
setor de serviços (60%), bem como que o tempo de permanência no mercado encontrase acima de 5 anos (80%), com atuação a nível estadual (80%).
Por fim, quanto ao porte das empresas estudadas, observou-se ainda uma maior
concentração de Microempresas (ME) e Empresas de pequeno porte (EPP), nos três clusters,
o que representam (85%) de toda a amostra, e o que foi parcialmente confirmado com o
quesito de quantidade de funcionários/colaboradores, baseado nas instruções apresentadas
pelo SEBRAE (até 49 funcionários/colaboradores).
Comparando os clusters, observou-se que a população masculina predomina em
detrimento da feminina, com maior participação absoluta no cluster 1 (11 indivíduos), bem
como a predominância de empreendedor-fundadores mais maduros, mais de 41 anos em todos
os clusters. Constatou-se ainda, que os membros do cluster 1 e 3 possuem,
predominantemente, formação acadêmica completa, bem como, que todos os clusters
possuem abrangência de atuação pelo menos municipal, destacando-se os clusters 1 e 2.
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Considerações finais
No presente artigo, buscou-se identificar configurações empreendedoras da Região de
Mossoró/RN, observando as dimensões de contexto, ambiente e indivíduo, com base em uma
abordagem das configurações proposta por Gimenez, Ferreira e Ramos (2008).
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Iniciou-se o estudo a partir do entendimento da abordagem das configurações de modo
a permitir a adoção de elementos da estatística, que evidenciassem a formação de clusters
voltados às empresas inovadoras, identificando-as como organizações pró-ativas, atingindo,
desta forma, os objetivos propostos.
Com base nas questões norteadoras deste estudo, o cluster 1, apresentou em relação à
dimensão indivíduo, que os empreendedores possuem uma alta necessidade de realização,
sendo motivados por oportunidade e tendo o controle do processo de empreender centrado na
equipe. Na dimensão empreendimento, constatou-se que o negócio já se encontrava
estabelecido, com domínio tecnológico voltado ao proprietário e com autonomia
independente. Na dimensão contexto, verificou-se que o ambiente possui alto dinamismo e
complexidade, bem como um clima favorável para o desenvolvimento do empreendimento, o
que foi caracterizado como empresas inovadoras de vida longa.
Os resultados do cluster 2 apontam que na dimensão indivíduo, os empreendedores
possuem uma necessidade de realização mediana, sendo motivados por oportunidade e tendo
o controle do processo de empreender centrado no indivíduo. Com relação à dimensão
empreendimento, foi verificado que o negócio era emergente, com domínio tecnológico
voltado ao proprietário e com autonomia independente e na dimensão contexto, o ambiente
possui dinamismo e complexidade medianos, bem como, um clima misto para o
desenvolvimento do empreendimento, identificado, neste estudo, como empresas inovadoras
de vida intermediária.
Em relação ao cluster 3, evidenciou-se que na dimensão indivíduo os empreendedores
possuem uma alta necessidade de realização, sendo motivados por oportunidade e tendo o
controle do processo de empreender centrado na equipe, na dimensão empreendimento,
constatou-se que o negócio era emergente, com domínio tecnológico voltado ao proprietário e
com autonomia independente. Na dimensão contexto, o ambiente possui alto dinamismo e
complexidade, bem como um clima hostil para o desenvolvimento do empreendimento, sendo
definido como empresas inovadoras de vida mediana.
Observando as características dominantes relacionadas às dimensões estudadas, este
estudo reforça a ideia de Gimenez, Ferreira e Ramos (2008), quando afirma que organizações
de vida longa e mediana são manifestações frequentes da ação empreendedora. No entanto,
este estudo proporcionou uma caracterização diferente daquelas estudadas pelos autores
supracitados, ao qual corresponde a empresas inovadoras de vida intermediária, uma vez que
a mesma atua entre um clima hostil e favorável, possuindo um nível mediano em relação ao
processo de realização, dinamismo e complexidade.
Nesse sentido, os resultados obtidos nessa pesquisa, são compatíveis com as teorias
existentes, consolidando assim conhecimentos aprofundados sobre o tema abordado. As
contribuições que este estudo apresenta estão relacionas ao surgimento de uma nova
configuração, classificada como empresas de vida intermediária, como também, ao
pioneirismo da pesquisa na Região de Mossoró/RN. Para um maior aprofundamento, sugerese que este estudo seja replicado longitudinalmente, para identificar a influência de novas
configurações que interferem nas ações empreendedoras.
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Empreendedorismo: Estudo sobre a Configuração