1 BIOCOMBUSTÍVEIS – IMPORTÂNCIA DA INCLUSÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA NA MATRIZ CURRICULAR DE QUÍMICA NO ENSINO MÉDIO Janelane de Jesus Santos* Elber Ricardo Alves dos Santos** Alinne Oliveira Nunes*** Josevânia Teixeira Guedes**** Lenalda Dias dos Santos GT1- Espaços educativos, currículos e formação docente (saberes e práticas). RESUMO Este artigo relata a importância da inclusão do tema Biocombustíveis na matriz curricular dos alunos de Ensino Médio, partindo-se da avaliação de questionários aplicados a alunos de Nível Superior, graduandos em Licenciatura da Faculdade Pio Décimo e alunos de Ensino Médio do Colégio Estadual Tobias Barreto. Os resultados obtidos permitiram sugerir métodos de contextualização do tema, que podem ser facilmente adotados em sala de aula. Essa metodologia é capaz de aliar o assunto biocombustíveis aos temas abordados em Química e torná-lo mais compreensível e didático para os discentes, a fim de que os alunos passem a interagir na sociedade de forma crítica e construtiva. PALAVRAS-CHAVE: Biocombustíveis. Ensino de Química. Contextualização. RESUMEN Este artículo relata la importancia de incluir el tema de los biocombustibles en el currículo de estudiantes de secundaria, a partir de la evaluación de cuestionarios entregados a los estudiantes de nivel terciario, los estudiantes de la Facultad Pío X y los estudiantes de secundaria de lo Colegio Estatal Tobias Barreto . Los datos recogidos permiten proponer métodos de la contextualización del tema, que pueden ser fácilmente adoptados en el aula. Esta metodología es capaz de combinar los biocombustibles respecto a los temas estudiados en la química y hacerla más comprensible a los estudiantes, para que los estudiantes comienzan a interactuar en la sociedad de manera crítica y constructiva. PALABRAS CLAVE: Contextualización. * Biocombustibles. Enseñanza de la Química. Licenciada em Química. E-mail: [email protected] Licenciado em Química e Pós-graduando em Metodologia e Didática do Ensino Superior. E-mail: [email protected] *** Graduanda em Biologia Bacharelado e Técnica em Química. E-mail: [email protected] **** Mestranda em Educação pela Universidade Tiradentes (UNIT), especialista em Metodologia do Ensino, graduada em Pedagogia e Direito. Docente da Faculdade Pio Décimo (Aracaju-SE). Membro do Grupo de Pesquisa GPGFOP/UNIT. E-mail: [email protected] Mestre em Educação pela Universidade Federal da Paraíba. Diretora acadêmica da Faculdade Pio Décimo e Coordenadora do Curso de Licenciatura em Química da Faculdade Pio Décimo. Email: [email protected] ** 2 1 INTRODUÇÃO A sociedade urbana e industrial está se desenvolvendo com grande intensidade. Nos dias atuais, faz-se indispensável uma visão de crescimento atrelada a princípios de sustentabilidade. Preocupar-se com sustentabilidade é pensar em métodos de gerar mudanças que não degradam o meio ambiente e os meios sociais. Para Bermam (2002), as fontes alternativas são meios viáveis para os problemas energéticos do mundo, visto que são economicamente transitáveis. Uma das principais fontes provenientes de métodos alternativos são os biocombustíveis, que geram energia, produzindo trabalho. Devido aos bens que esse tipo de combustível promove, faz-se mister trazer esse tema para o ambiente educacional. Levando em consideração que o professor é um formador de opiniões, cabe ao mesmo explanar os conteúdos que estão envolvidos com o meio socioeconômico no qual o aluno está inserido. Essa iniciativa contribui para a formação de cidadãos críticos e atuantes na sociedade. A temática biocombustível é explanada de forma extremamente sucinta em sala de aula e os benefícios da implantação desse tipo de energia acabam por passar despercebidos na aprendizagem discente, pois constitui-se em um tema amplo que pode envolver, facilmente, discussões relativas à geografia, história, economia, política, química, entre outros. Dessa maneira, o docente pode trabalhar a realidade social, através da contextualização dos conteúdos, realizando um trabalho interdisciplinar. O Brasil é um dos países que apresenta maior potencial para conduzir a fabricação de bioenergia no mundo. A grande área territorial congregada às categorias geoclimáticas adequadas atribui ao país expressivos benefícios. Conforme Werneck (2009) o biocombustível pode ser produzido a partir de fontes renováveis como a cana de açúcar, o milho, o arroz, o trigo e oleaginosas em geral, constituindo-se uma fonte de energia muito menos poluente que os combustíveis fósseis utilizados atualmente, provenientes do petróleo e seus derivados. 3 De acordo com Doti & Guerra (2008) os biocombustíveis fazem parte de políticas públicas implantadas na sociedade, se tratando de um projeto de governo que diz respeito ao cotidiano atual, como forma de lidar com uma sociedade capitalista, industrial e urbana como o Brasil. O país já mostrou que pode desenvolver a produção do álcool combustível devido às grandes áreas produtoras de cana de açúcar. Vale ressaltar, porém, que existem algumas dificuldades com relação à política nacional do álcool, em especial na administração de preços. No entanto, o biocombustível, pode se tornar uma alternativa viável para uma futura substituição do petróleo. Diante disso, o assunto biocombustível é sugerido como um dos temas indispensáveis que o professor deve levar para os seus alunos como contextualização dos assuntos de Química em sala de aula, já que é um dos conteúdos mais debatidos na sociedade e encontra-se aliado à abordagem CTS (Ciência-Tecnologia-Sociedade). Conforme Muenchen et.al (2007, p.343) Entre as questões atuais associadas à Ciência e Tecnologia, encontra-se a temática biocombustíveis, a qual necessita ser abordada sob diferentes enfoques, incluindo aspectos associados à problemática energética e ambiental. Tomando como ponto de partida a relevância da temática biocombustíveis e a necessidade de trabalhá-la de forma adequada e contextual, visando a promoção de uma aprendizagem significativamente proveitosa, fez-se necessário realizar uma pesquisa, objetivando mostrar a realidade escolar acerca desse conteúdo. A partir dos dados obtidos, pôde-se apresentar uma metodologia capaz de propor aos professores e educandos um aprendizado expressivo no contexto dos biocombustíveis. Além disso, foi possível verificar a importância de incluir esse tema na matriz curricular dos estudantes do ensino médio, possibilitando ampliar os conteúdos relacionados que os envolve. 4 2 METODOLOGIA O trabalho foi desenvolvido em duas instituições de ensino: um colégio de ensino médio, o Colégio Estadual Tobias Barreto e uma instituição de nível superior, a Faculdade Pio Décimo. Foi apresentada uma pesquisa bibliográfica, descritiva e exploratória, em que métodos pré-determinados de coleta como os questionários foram tratados seguindo uma abordagem qualitativa. Além disso, realizaram-se visitas no colégio Tobias Barreto e na Faculdade Pio Décimo, ambos situados em Aracaju – Se, no período de setembro a dezembro de 2010. Os questionários visavam conhecer de que forma a temática biocombustível estava sendo inserida nas aulas de Química no terceiro ano do Ensino Médio e no curso de Licenciatura em Química. Para definir o tamanho da amostra foi utilizado o modelo estatístico abaixo (Pimentel Gomes): n0 = (1 / E0)2 Onde E0 = erro experimental (5% - considerado) µ = (n x n0 / n + n0) Nos quais: n = tamanho da população; µ = tamanho da amostra. Logo: 5 2 1 n0 E , E0= 5% o n0 = (1 / 0,05)2 n0 = 400 a = n x n 0 / n + n0 a = 210 x 400 / 210 + 400 a = 8400 / 610 a = 138 pessoas entrevistadas. A partir dos cálculos realizados acima, foi constatado que para obter uma amostragem significativa e não tendenciosa, seria necessário aplicar o questionário a 138 indivíduos. 3 DESENVOLVIMENTO Inicialmente foi realizada uma análise qualitativa dos resultados obtidos com a aplicação dos questionários, respondidos por graduandos do Curso de Licenciatura em Química da Faculdade Pio Décimo. Conforme os resultados analisados, a maioria desses estudantes afirmou que a temática do biocombustível deve ser bem abordada a fim de promover maior/melhor aprendizado por parte dos alunos do Ensino Médio. Ao realizar abordagens do cotidiano com os assuntos de Química, o professor, através da contextualização, promove maior interatividade e interesse no aprendizado, por parte dos educandos. Esta ferramenta didática mencionada, por sua vez, constitui-se fator indispensável para uma aprendizagem rica em 6 significados e correlações, vista como “um processo pelo qual uma nova informação se relaciona, de maneira substantiva (não literal) e não arbitrária, a um aspecto relevante da estrutura cognitiva do individuo” (Moreira, 1999, p. 14). Em suas pesquisas, Oliveira (2008, p. 29), relata que A ideia de estimular o aluno na atividade cientifica e preocupação com o meio ambiente deve-se ao fato de estarmos constantemente evoluindo tecnologicamente e, em função disto, gerar certos inconvenientes no que se refere à questões ambientais. É observada a continuada degradação dos recursos naturais do planeta assim como a produção de resíduos sólidos, líquidos e gasosos, o que pode gerar riscos a sobrevivência e afetar a qualidade de vida da espécie humana e demais seres vivos. Diante disso, o assunto biocombustível, bem como suas vantagens e desvantagens interagem como um dilema socioeconômico que deve ser discutido de forma crítica nos ambientes educacionais. A maioria dos graduandos respondeu também que o conteúdo deve ser bem explicado, e que, além disso, deve-se abordar sobre todo tipo de biocombustível, disponibilizando aos alunos tabelas sobre os biocombustíveis produzidos no mundo. A partir disto, o conteúdo passa a adquirir uma nova forma de explanação, facilitando a compreensão para os estudantes. Com esse método de ensino, o aprendizado sobre diversos assuntos da Química e, principalmente, os que envolvem o meio ambiente torna-se mais acessível para os alunos. Foi sugerido também a criação de projetos interdisciplinares e o incentivo à pesquisa, atualizando o ensino de Química, que por sua vez, beneficia o educador e o educando. Trivelato (2000, p. 43), relata em seus estudos que “é preciso ter uma preocupação em promover atividades em que os alunos se deparem com a solicitação de tomar posições e de construir juízos de valor”. Aliado à interdisciplinaridade, o conhecimento adquirido por contextualização enriquece ainda mais a aprendizagem dos dicentes, onde o educador estará inovando o método de ensino de Química, trazendo para si uma gratificação e 7 reconhecimento como professor pesquisador, que torna seus alunos pensantes e criticos para sociedade. Essa questão também foi muito mencionada pelos futuros educadores, considerando a alternativa: Contextualizar e trazer métodos de ensino e aprendizagem. Com a contextualização em sala de aula, o assunto biocombustível torna-se mais atrativo, sendo assim, pode-se considerar que o aproveitamento da disciplina nesse determinado conteúdo será muito mais amplo. Percebe-se então que motivar os educandos com a utilização de temas que abrangem a sustentabilidade e o meio ambiente e envolver os assuntos com o cotidiano podem ser aliados recursos para a otimização do processo educativo. No que diz respeito aos questionários respondidos pelos alunos no terceiro ano do Ensino Médio do colégio Tobias Barreto, grande parte definiu biocombustível como um assunto comentado no mundo, mas em questão de origem, malefícios e benefícios, afirmaram não possuir o conhecimento do tema. Percebe-se então, que há uma deficiência de aprendizagem nesse determinado conteúdo. A maioria dos alunos já estudou sobre o biocombustível. Contudo, segundo relatam os estudantes, o assunto foi exposto sem a preocupação devida e não houve aprendizagem significativa dos conteúdos de Química relacionados à temática. Ressaltam ainda que esse conteúdo não é muito abordado no vestibular, o que desencadeia persistentes dúvidas sobre o tema, por não haver uma ampla explanação. Observou-se também que os alunos acreditam que deveria existir uma abordagem mais intensa, visto que é um conteúdo presente na temática da sustentabilidade e que envolve o meio ambiente. Uma das maneiras de intensificar esse aprendizado é abordando todos os tipos de biocombustíveis, seus inúmeros benefícios e formas de produção. O professor pode levar para sala de aula, temas relacionados com a sustentabilidade, focar o biocombustível e tornar a aula mais dinâmica e proveitosa. Na visão discente, o biocombustível que o Brasil utiliza para o consumo, tratase apenas do etanol retirado da cana de açúcar, pelo fato da mídia enfatizar bastante e quase que exclusivamente essa forma de bioenergia. O dilema é 8 destacado pelo fato de que a ementa do terceiro ano do Ensino Médio está focada em abordagens sobre o etanol, porém não se fala muito em sala de aula sobre outros biocombustíveis utilizados pelo Brasil, o que deveria ser acrescido. Foi possível notar que para os alunos do Ensino Médio, o biocombustível possui considerável importância, tendo como principal objetivo, a preservação do meio ambiente. No entender deles, já que o prefixo “bio” significa vida e combustível está aliado à energia, entende-se que a importância do biocombustível é conservar a natureza, logo é um tema integrado à sustentabilidade, que foca em produzir sem destruir. O assunto bicombustível é um tema de caráter ambiental e econômico, envolvendo também o mercado do trabalho, pois é um recurso que abre as portas das empresas para produção de combustíveis para automóveis, entre outros, gerando lucros e oportunidades de trabalho para a sociedade. Diante disso, os alunos consideram este tema relevante no processo do ensino e da aprendizagem. Faz-se indispensável, portanto, apresentar aos educandos, as vantagens da utilização do biocombustível, tais como fechamento do ciclo do carbono, estabilizando as consequências do efeito estufa; a redução de lixo no planeta; geração de renda no campo, minimizando o êxodo rural; menos investimento em pesquisas quando comparado aos combustíveis provenientes do petróleo; substituição do óleo diesel sem ajustes no motor; entre outros. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Considera-se que a prática docente deve estar focada no desenvolvimento cognitivo dos educandos. Desse modo, a busca por alternativas e recursos que tornem o processo de aprendizagem mais motivador, dinâmico e interessante são questões que o educador, seja ele de qualquer área, deve estar atento e disposto. Compreender o que se está estudando a partir de situações aplicáveis ao cotidiano é uma das expectativas dos estudantes em relação aos conteúdos que são 9 abordados pelos professores. Esse enfoque torna o aprendizado mais atraente para aqueles que estudam. A temática dos bicombustíveis, nessa perspectiva configura-se como uma alternativa viável quando inserida no processo educativo dos estudantes do Ensino Médio, uma vez que engloba o conhecimento científico e um tema atual cada vez mais discutido. Os resultados obtidos evidenciam que as aplicações de metodologias voltadas ao cotidiano e a temas atuais influenciam positivamente no aprendizado dos estudantes, otimizando tanto o aprender por parte dos discentes, quanto a atividade docente. A proposta é explicitar o conteúdo, conectando-o ao cotidiano dos alunos, evidenciando a importância da temática na construção do conhecimento. Além disso, faz-se necessário promover uma conscientização consistente de acordo com a realidade de cada comunidade, levando em consideração os aspectos sociais, políticos e econômicos relacionados às pessoas que realizam esta prática. 5 REFERÊNCIAS BERMANN, C. Energia no Brasil; para que? Para quem?: Crise e Alternativas para um país sustentável. São Paulo: Editora Livraria da Física: Fase, 2002. DOTI, M. M & Guerra, S. M. G. Biocombustíveis, uma polêmica do desenvolvimento socioeconômico. Ciência e cultura, vol. 60, nº 3. São Paulo, 2008. MOREIRA, M.A. Aprendizagem significativa. Brasília: Ed. UnB, 1999. MUENCHEN, C.; GONÇALVES, F.P.; LINDEMANN, R.H. e GEHLEN, S.T. Biocombustíveis e o ensino de Ciências: compreensões docentes. Em: VII Encontro sobre Investigação na Escola. Atas do VII Encontro sobre Investigação na Escola. Porto Alegre: PUCRS, 2007. 10 OLIVEIRA, D. A. Gestão Democrática da Educação: Desafios Contemporâneos. 8. ed. Petrópolis: Vozes, 2008. Trivelato, S. L. F. O ensino de ciências e as preocupações com as relações CTS. Educação em Foco, 2000. WERNECK, A. Globoconcientização por um desenvolvimento sustentável. São Paulo: Seven System, 2009.