UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA Análise sobre diferentes abordagens de configuração eletrônica de elementos apresentados em livros de química Jackson da Silva Santos _______________________________________ Dissertação de Mestrado Natal/RN, maio de 2011 Jackson da Silva Santos Análise sobre diferentes abordagens de configuração eletrônica de elementos apresentados em livros de química Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Química do Centro de Ciências Exatas e da Terra da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN como requisito parcial para o título de Mestre. Orientador: Profº. Dr. Ótom Anselmo de Oliveira. Natal/RN 2011 Divisão de Serviços Técnicos Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial de Química Santos, Jackson da Silva. Análise sobre diferentes abordagens de configuração eletrônica de elementos apresentados em livros de química / Jackson da Silva Santos. 98 f. Orientador: Ótom Anselmo de Oliveira. Dissertação (Mestrado em Química) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Exatas e da Terra. Programa de Pós-Graduação em Química. 1. Química – livro didático – Dissertação. 2. Configuração eletrônica – Dissertação. 3. Subnível – Dissertação. 4. Escritos antigos – Dissertação. 5. Átomos polieletrônicos- Dissertação. 6. Carga nuclear- Dissertação. I. Oliveira, Ótom Anselmo de. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. RN/UFRN/BSE- Instituto Química CDU 54(075) A Deus, pelo Dom da minha existência terrena, ao Espírito Santo que me concede serenidade e sabedoria, aos meus pais Luis José e Francisca, todos Meus irmãos e minha esposa, Keedi Jane, meus filhos Júlia e Isac pelo apoio. AGRADECIMENTOS Primeiro aos meus pais, Luís José da Silva e Francisca dos Santos Silva, pela confiança em mim depositada e por tantos que não poderia transmitir em uma só página. Aos meus irmãos, todo meu respeito e carinho. A minha esposa e companheira Keedi Jane (meu eterno amor), pela paciência durante todo o tempo de mestrado. Aos meus filhos Júlia e Isac, pela espera nos momentos em que gostariam de minha presença para brincar e dar gargalhadas. Aos amigos João Paulo, Rosemeire, Elivaldo, Francisco, Késia, Júlio e Stephany pelo incentivo, compreensão, apoio, companheirismo e orientação sempre presentes nesta caminhada. Ao meu orientador Ótom Anselmo de Oliveira, pela atenção, carinho e paciência durante a conclusão desta pesquisa. Ao professor Dr. Ademir de Oliveira Silva por conceder materiais de estudo e apoio nos momentos de dúvida e à CAPES pela ajuda de custo fornecida durante meus estudos e pesquisas, meu muito obrigado. Eu sei, ó SENHOR, que não cabe ao homem determinar o seu caminho. Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes. (Jeremias 10:23). RESUMO Este trabalho teve como objetivo a identificação e comentário das diferenças conceituais apresentadas por autores de livros, enfocando o tema configuração eletrônica. Essa análise mostra as mudanças de conceitos sobre configuração eletrônica, suas implicações no desenvolvimento cognitivo de alunos e as suas relações com o mundo contemporâneo. Identificou-se em livros possíveis entraves gerados na busca de simplificações, situações de diferentes conceitos de energia na configuração eletrônica por subníveis. Para tanto foi realizada uma análise em vários livros, sendo alguns de química geral e outros de química inorgânica sem distinção entre nível de ensino, se médio ou superior. Verificou-se que alguns livros de ensino médio corroboravam com livros de ensino superior, outros não. Para verificar a consistência do que se estava analisado, fez-se uma pesquisa com 30 professores, em que foi encontrado pontos divergentes de respostas, com relação principalmente á energia de subníveis e autoria do diagrama que facilitava a configuração eletrônica. Constatou-se que do total, 22 professores, ou seja, 73,33% responderam corretamente sobre o subnível mais energético do cálcio (Ca) e 80%, ou seja, 24 professores responderam incorretamente sobre o ferro. Já quanto a autoria do diagrama usado para facilitar a configuração eletrônica, obteve-se93,33% de professores que indicaram que seguiam um diagrama, e este era denominado de “diagrama de Linus Pauling”, 01 professor, 3,33%, indicou que o diagrama era de autoria de Madelung e 01, 3,33%, não respondeu a pergunta.Foi observado que é necessário uma avaliação mais minuciosa de escritos antigos, pois a busca de simplificações e generalizações, não tão plausíveis, levam a erros e consequências negativas para a compreensão das propriedades de muitas substâncias. Verificou-se que a mecânica quântica aliada a dados espectroscópicos deve fazer parte de uma análise mais minuciosa, principalmente quando se estende situações de átomos monoeletrônicos para descrever átomos polieletrônicos, pois fatores como carga nuclear efetiva e fator de blindagem devem ser levados em consideração, devido a interações que há internamente num átomo, descrito por um conjunto de números quânticos, às vezes não levados em consideração. Palavras chave: Configuração antigos.Átomospolieletrônicos. Carga nuclear. eletrônica. Subnível.Escritos ABSTRACT This study aimed to identify and review of the conceptual differences presented by authors of books, focusing on the theme of electronic configuration. It shows the changing concepts of electronic configuration, its implications for the cognitive development of students and their relations with the contemporary world. We identified possible obstacles in books generated in the search for simplifications, situations of different concepts of energy in the electron configuration for sublevels. For this analysis was carried out in several books, and some other general chemistry and inorganic chemistry without distinguishing between level of education, whether secondary or higher. It was found that some books for school books corroborated with higher education, others do not. To check the consistency of what was discussed, it was a survey of 30 teachers, it was found divergent points of responses, particularly with respect to the energy sublevels and authorship of the diagram which facilitated the electron configuration. It was found that the total 22professores, ie, 73,33% answered correctly on the energy sublevel more calcium (Ca) and 80%, ie, 24 teachers responded incorrectly on the iron. As for the authorship of the diagram used to facilitate the electronic configuration, we obtained 93, 33% of teachers indicated that they followed a diagram, and this was called "Diagram of Linus Pauling," teacher 01, 3,33%, indicated that the diagram was authored by Madelung and 01, 3,33%, did not respond to question. Was observed that it is necessary a more detailed assessment of ancient writings, as the search for simplifications and generalizations, not so plausible, lead to errors and consequences negative for understanding the properties of many substances. It was found that quantum mechanics combined with spectroscopic data should be part of a more thorough analysis, especially when it extends situations atoms monoelectronicpolieletrônicos to describe atoms, because factors such as effective nuclear charge and shielding factor must be taken into consideration, because interactions there is inside an atom, described by a set ofquantum numbers, sometimes not taken into account. Keywords - Keywords: Electronic configuration.Sublevel.Ancient writings.Polieletrônicos atoms.Nuclear charge. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1- Experimento da fenda dupla, no qual o padrão de interferência sugere uma representação em termos de onda.................................... 20 Figura 2- Formação ponto a ponto do padrão de interferência............................. 20 Figura 3- Orientações de spin eletrônico............................................................. 27 Figura 4- Representação das resultantes L, S J................................................... 28 Figura 5- Representação do átomo de Bohr – modelo de cebola......................... 32 Figura 6- A penetração de um elétron 2s na camada interna é maior do que a de um elétron 2p porque o último cai à zero no núcleo. Deste modo, elétrons 2s são menos blindados do que elétrons 2p......................... Figura 7- Distribuição da densidade eletrônica nos orbitais 3s, 3p e 3d para sistemas monoeletrônicos.................................................................... Figura 8- Figura 9- 33 35 Densidade eletrônica em função da distância ao núcleo para orbitais 4f, 5s e 5p............................................................................................. 35 Íons e átomos reduzidos ao modelo de Bohr........................................ 37 Figura 10- Energia do orbital 1s como função do número atômico estimado pelo modelo de Bohr e por dados de espectroscopia de raios-X. A diferença relativa entre os dois é mostrada no gráfico.......................... 40 Figura 11- Densidade de Probabilidade Radial dos orbitais atômicos 1s, 2s e 3s. 41 Figura 12- Esquema de níveis e espectro do átomo de hidrogênio........................ 44 Figura 13- Níveis de energia dos orbitais para o átomo de hidrogênio................... 46 Figura 14- Ordem de preenchimento dos orbitais num átomo polieletrônico........ 48 Figura 15- Diagrama de energia de um átomo polieletrônico................................ 49 Figura 16- Uma representação mais detalhada dos níveis de energia de átomos polieletrônicos na tabela periódica........................................................ 50 Figura 17- Página original do livro de Erwin Madelung........................................... 55 Figura 18- Tabela de Madelung para a formação do diagrama............................. 57 Figura 19- Diagrama mostrando a soma n + ℓ....................................................... 58 Figura 20- Sequência de energia em subníveis.................................................... 64 Figura 21- Densidade de probabilidade radial para alguns orbitais do hidrogênio. 65 Figura 22- Organograma do percurso metodológico............................................. 69 Figura 23- Diagrama dos resultados das respostas da 1ª questão........................ 71 Figura 24- Distribuição eletrônica do Ca e do Fe – não correspondente ao modelo cientificamente aceito............................................................... 71 Figura 25- Diagrama representacional dos resultados das respostas da 2ª questão............................................................................................ 73 Figura 26- Um dos questionários que apresenta resposta incorreta para o subnível de energia do ferro................................................................ 73 Figura 27- Diagrama representacional dos resultados das respostas da 3ª Questão................................................................................................. 76 Figura 28- Discrepância entre o que é abordado no livro de Atkins e o que menciona o entrevistado..................................................................... 76 Figura 29- Erro referente à determinação de energia do átomo de ferro............... 77 Figura 30- Diagrama representacional dos resultados das respostas 4ª questão. 79 Figura 31- Resposta de um dos professores para a 4ª questão........................... 79 Figura 32- Diagrama representacional dos resultados das resposta da 5ª questão sobre a ordem dos subníveis 4s e 3d................................... Figura 33- Questionários com resposta mais encontrada em livro didáticos........ 81 82 Figura 34- Diagrama representacional dos resultados das respostas da 5ª questão (extensão) – sobre livros que embasa o subnível 4s preceder o 3d...................................................................................... Figura 35- Verificação de resposta incoerente. Relação entre o que está expresso na 2ª e na 5ª questão.......................................................... 83 84 LISTA DE TABELAS Tabela 1- Micro estados energéticos..................................................................... Tabela 2- Última e penúltima energia de ionização, em eV, da 2 a linha da 29 Tabela Periódica.................................................................................... 37 Tabela 3- Cargas nucleares efetivas..................................................................... 38 Tabela 4- Livros analisados................................................................................... 52 Tabela 5- Livros citados......................................................................................... 75 LISTA DE QUADROS Quadro 1- Números de respostas dadas pelos professores na 1ª questão..................... 70 Quadro 2- Números de respostas dadas pelos professores na 2ª questão................... 72 Quadro 3- Resultados das respostas dos professores na 3ª questão............................ 74 Quadro 4- Números de respostas dadas pelos professores na 4ª questão.................... 78 Quadro 5- Análise dos resultados da última questão sobre a ordem de disposição do subnível 4s e 3d.............................................................................................. Quadro 6- 80 Análise dos resultados da última questão sobre o livro que embasava o subnível 4s preceder 3d................................................................................. 83 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS EI: Energia de Ionização LCAO: Combinação linear de orbitais atômicos OCEM: Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino Médio PCNEM:Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio PCN+: Parâmetros Curriculares Mais PNLEM: Programa Nacional do Livro de Ensino Médio SCF: Método de campo auto-consistente XPS: Espectroscopia de fotoelétrons excitados por raios X 13 SUMÁRIO 1 APRESENTAÇÃO................................................................... 14 1.1 PROBLEMÁTICA.................................................................. 15 1.2 OBJETIVO E QUESTÃO DA PESQUISA................................ 17 2 UMA BREVE REFLEXÃO...................................................... 18 2.1 AS NOVAS CONCEPÇÕES.................................................... 18 2.2 UMA BASE CONCEITUAL...................................................... 19 2.3 NÚMEROS QUÂNTICOS....................................................... 23 2.4 CARGA NUCLEAR E FATOR DE BLINDAGEM..................... 31 2.5 DIVERGÊNCIAS ÀS REGRAS DE SLATER........................... 39 2.6 AS ORIGENS DA TEORIA QUÂNTICA................................... 40 2.7 O ÁTOMO DE BOHR E SOMMERFELD................................. 42 2.8 O PRINCÍPIODA EDIFICAÇÃO OU AUFBAL.......................... 47 3 INVESTIGANDO AS DIFERENTES ABORDAGENS SOBRE O TEMA CONFIGURAÇÃO ELETRÔNICA.............. 51 3.1 OS LIVROS ADOTADOS NO ENSINO MÉDIO...................... 53 3.2 UMA ABORDAGEM SUPERIOR............................................. 59 4 METODOLOGIA...................................................................... 67 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO.............................................. 70 6 CONSIDERAÇÕES FINAL..................................................... 85 7 PERSPECTIVA DO TRABALHO............................................ 88 REFERÊNCIAS....................................................................... 89 APÊNDICE A QUESTIONÁRIO APÊNDICE B PARÂMETROS QUESTIONÁRIO 94 DE RESPOSTAS DO 96 14 1APRESENTAÇÃO Algumas inquietações levaram-me a realizar esta pesquisa. Quando comecei a lecionar no ensino médio, algo que despertava meu interesse e curiosidade, foram os textos, mesmo os pequenos trechos nos manuais dos livros didáticos que tratavam das configurações eletrônicas. Tudo se agravava quando alunos questionavam sobre as configurações eletrônicas que eram descritas em diferentes ordens quanto à disposição dos subníveis energéticos e ordem de energia, uma vez que existia um diagrama que, para eles, teria que ser seguido, pois ao contrário qual a razão da existência do mesmo? Chegando à universidade muitas coisas ainda incomodavam, quando alguns professores diziam “esqueçam tudo que vocês viram no ensino médio”. Curioso, eu consultava os livros de ensino médio e observava que eles referenciavam os livros de ensino superior. Depois comecei a comparar os próprios livros dentro da própria biblioteca na universidade e verifiquei que algo deveria ser esclarecido, pois havia muitas contradições na abordagem do tema configuração eletrônica. As inquietações encaminharam o olharinicialmente sobre os livros tanto de ensino médio quanto de superior a fim de conhecer as referências nacionaispara o Ensino de Química, dirigidas a contribuir na formação dos alunos desse nível, procurando facilitar seu aprendizado numa perspectiva mais ampla, decrescimento pessoal aliado a uma visão de mundo cidadã . Essa proposição constituiu-se em pilar do objeto dessa pesquisa. Este estudo visa contribuir no esclarecimento dos problemas e inquietações, sobre o tema configuração eletrônica, em estudantes e professores de química, tanto do nível médio de ensino brasileiro quanto do nível superior. Pretende-se fornecerrespostas aos questionamentos aqui levantados e indicação daqueles que carecem ser melhor estudados. 15 1.1 PROBLEMÁTICA Os livros didáticos têm sido instrumento de fundamental importância na apresentação de conteúdos e nos métodos selecionados para uso com objetivos educacionais. No ensino de Ciências, esses livros se constituem no recurso de mais ampla utilização e, em muitos casos, no único material de apoio didático disponível para alunos e professores (SPIASSI, 2008), sendo, frequentemente, determinantes de estruturas curriculares. Quando isso acontece, o livro didático passa a ser limitante à inserção de novas abordagens e da possibilidade da contextualização do conhecimento. Esses aspectos têm feito o livro didático ser tema frequente de trabalhos em educação, realizados por muitos pesquisadores, abordando a qualidade das coleções didáticas, alertando sobre suas deficiências e seus pontos fortes, e apontando soluções para melhoria na apresentação sobre assuntos de naturezas diversas. O trabalho como título “obstáculos epistemológicos em livros didáticos: UM ESTUDO DAS IMAGENS DE ÁTOMOS,mostra que as distorções conceituais em torno das figuras dificultam a aprendizagem científica e colaboram na formação de concepções errôneas da química(LEITE, 2006), “O livro didático de ciências: problemas e soluções”, em que analisa a temática do livro didático para o ensino de Ciências no Brasil e apresenta alternativas a este recurso, tendo em conta as atuais características dos manuais didáticos(MEGID, 2003); “A seleção dos livros didáticos: um saber necessário ao professor. O caso do ensino de ciências”, em que menciona que o livro didáticonão pode continuar como fonte de conhecimentos (por vezes equivocados) a serem transmitidos pelo professor a fim de serem memorizados e repetidos pelos alunos(NUÑEZ,2006) Os livros didáticos também foram apontados como os materiais educativos mais investigados, tanto em artigos publicados em anais quanto em dissertações e teses a citar: “A dinâmica de analisar livros didáticos com os professores de química”(LOGUERCIO, 2001),“Livros didáticos de Química: uma análise das percepções do estudante”(BOTAR, 1995), “A revista superinteressante, os livros didáticos de química e os parâmetros curriculares nacionais instituindo "novos" conteúdos escolares em ciências/química” (FERREIRA, 2008).Em todos os casos, o foco da análise recai predominantemente sobre os conteúdos de ensino. 16 O livro de Ciências deve propiciar ao aluno uma compreensão científica, filosófica e estética de sua realidade. Por ser um dos mais importantes componentes do cotidiano escolar em todos os níveis de ensino, certamente a sua melhoria deve contribuir para a compreensão dos conteúdos abordados no sistema escolar. Para isso, no entanto, deve ser muito bem elaborado – e nem sempre é isso o que se percebe em alguns livros didáticos de Química. Deve-se ter cuidado na elaboração de livros, pois é necessário que se vise uma boa aprendizagem do aluno, a qual está atrelada a uma boa prática pedagógica. Segundo Delors (1996), a prática pedagógica deve preocupar-se em desenvolver aprendizagens fundamentais, que são para cada indivíduo, os pilares do conhecimento: aprender a conhecer indica o interesse, a abertura para o conhecimento, que verdadeiramente liberta da ignorância, e aprender a fazer que exponha a coragem de executar, de correr riscos, de errar, mesmo na busca de acertar. Muitas vezes alguns conteúdos são apresentados de formas divergentes por diferentes autoresde livros didáticos, e frequentemente, não existe uma preocupação maior em se basear nos documentos legais brasileiros, tais como,Parâmetros Curriculares do Ensino Médio,PCNEM(2000), Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, OCEM(2006) eParâmetros Curriculares Mais, PCN+(2002), onde é proposto um ensino efetivo, focado principalmente na formação do cidadão. Dentre os objetivos desses documentos podemos citar o desenvolvimento de competências que possibilitem uma visão de mundo atualizada, capacidade de compreensão dos problemas abordados pelos meios de comunicação e a ação e relação do ser humano com seu meio social e suas tecnologias. Nesse sentido, os meios de comunicação e os autores de textos didáticos devem ser ativamente cobrados quanto à qualidade das informações sobre os diversos conteúdos relacionados ao ensino de química, objetivando maior contextualização e levando em consideração o cotidiano daqueles que deles farão uso. 17 1.2 OBJETIVO E QUESTÃO DA PESQUISA: O foco principal desta pesquisa é: Identificar e analisar das diferenças conceituais, e estas se basearão na análise de material bibliográfico mais antigo, na análise de fórmulas e na forma verbal com que o conteúdo é tratado, enfocando o tema configuração eletrônica. Mostrar as mudanças de conceitos sobre configuração eletrônica de forma cronológica, suas implicações no desenvolvimento cognitivo de alunos e as suas relações com o mundo contemporâneo, analisando os obstáculos verbais, que permeiam as relações entre professores e alunos e que são regidos pela busca da interpretação do que não é visto no mundo macroscópico (LOPES, 2007). Identificar em livros possíveis entraves fornecidos por equações complexas que geram na busca de simplificações, situações de diferentes conceitos de energia na configuração eletrônica por subníveis. . 18 2UMA BREVE REFLEXÃO Ao recorrer à literatura, foi possível encontrar pesquisas que serviram como subsídios para este estudo. Procurou-se registrar algumas concepções que tratam sobre a configuração eletrônica e reflexões sobre oconhecimento e sua construção. Na intenção de justificar as diferentes formas de abordagem, encontra-se na literatura diversos autores que tratam do assunto sob diferentes concepções. Muitos se completam em seus questionamentos, outros diferem em suas concepções. Portanto, é interessante saber a importância das suas ideias. 2.1 AS NOVAS CONCEPÇÕES Para Bachelard (1991) determinadas concepções epistemológicas, como o realismo ingênuo, o substancialismo e o racionalismo clássico, foram historicamente superados e, no entanto, ainda estão presentes no ensino de Química. Bachelard mostrou a inadequação da aplicação de princípios gerais a problemas e conceitos científicos específicos e isto é consequência da ausência de reflexões filosóficas sobre suas atividades e abordagens científicas, exatamente numa época em que as novas descobertas científicas demandam outro olhar. O conhecimento se obstaculiza no real aparente, na tendência do pensamento preencher a ruptura entre o conhecimento comum e o científico (LECOURT,1980). É a razão acomodada ao continuísmo do já estabelecido, opondo-se ao novo, a retificação dos erros, a constituição de uma razão toda nova, à medida que conhecemos, contra um conhecimento anterior. 19 2.2 UMA BASE CONCEITUAL No curso introdutório sobre estrutura eletrônica dos átomos e propriedades periódicas, geralmente utilizamos os conceitos fator de blindagem e carga nuclear efetiva. Estes conceitos surgem ao se utilizar a solução exata da equação de Schrödinger,descrita em 1927, para o átomo de hidrogênio para descrever os átomos polieletrônicos. O conceito de blindagem eletrostática é muito bem apresentado em livros de Química Inorgânica. Torna-se, no entanto, necessário lembrar que a solução exata das equações de Schrödinger é mais eficiente para sistemas simples, tais como uma partícula em uma caixa, ou seja, partícula pontual encerrada em uma caixa, onde não experimenta nenhum tipo de força sendo sua energia potencialconstante (GRIFFITHS, 2004); rotor rígido, que é um modelo mecânico usado para explicar sistemas rotativos;e para os átomos hidrogenóides, tais como He + e Li2+ (espécies monoatômicas que possuem apenas um elétron) (MCQUARRIE, 1983). Em átomos polieletrônicos, a interação entre os elétrons impossibilita a separação de variáveis e, consequentemente, a solução exata das equações deSchrödinger. As interpretações ondulatórias, imaginadas por Schrödinger alavancaram depois da realização de experimentos. Uma boa maneira de apresentar a Física Quântica é por meio do experimento da dupla fenda para um elétron único (CARSON, 1926). Nesse experimento de interferência (quer seja de luz ou de elétrons), observam-se franjas na tela detectora(Figura 1), com máximos e mínimos de intensidade, explicados pela suposição de que existem ondas que se superpõem de maneira construtiva ou destrutiva. Se o processo de formação das franjas puder ser acompanhado em detalhe, o que se observa é a formação gradual do padrão pelo acúmulo paulatino de pontos (Figura 2). 20 Figura 1 - Experimento da fenda dupla, no qual o padrão de interferência sugere uma representação em termos de ondas Figura 2 -Formação ponto a ponto do padrão de interferência. Fonte - CARSON, C. The peculiar notion of exchange forces – I: Origins in quantum mechanics, 1926-1928. II: From nuclear forcesto QED, 1929-1950. Para um átomo único com mais de um elétron, um método de aproximações sucessivas para a construção de funções de onda foi iniciado por Douglas Hartree e aperfeiçoado por Vladimir Fock e John Slater, em torno de 1930 (BERRY, 1966). Esse métodoutiliza funções de onda de um elétron e a aproximação do campo auto consistente para descrever o movimento dos elétrons no campo coulombiano definido pelos núcleos dos átomos. De acordo com Slater (1951), em seu artigo intitulado “Uma simplificação do método de Hartree-Fock”, esse modelo pode ser visto como um modelo no qual o elétron se movimenta em um campo médio repulsivo devido aos outros elétrons, ou seja,na teoria de Hartree-Fock, o elétron não sente a repulsão dos outros elétrons de forma explícita, mas sim como uma nuvem de elétrons blindando parte da carga nuclear. Dessa forma, o elétron sente uma carga nuclear efetiva resultante da blindagem parcial da carga nuclear pelo campo médio repulsivo devido aos outros elétrons. 21 O problema eletrônico ainda não apresenta solução analítica, pois se trata de um problema de muitas partículas. No método de Hartree-Fock escrevemos a função de onda eletrônica de N partículas, com o vínculo que o princípio de exclusão de Pauli seja satisfeito. Isto pode ser feito através de um determinante, chamado de determinante de Slater. Slater (1931) criou esse determinante que é uma técnica matemática da mecânica quântica que se usa para gerar funções de onda antissimétricas que descrevam os estados coletivos de vários elétrons e que cumpram o princípio de exclusão de Pauli. Considerando o caso de duas partículas indicados por x1 e x2e sendo estes coordenadas da partícula 1 e da partícula 2 respectivamente, pode-se gerar a função de onda coletiva Ψ como produto das funções de onda individuais de cada partícula: (1) Esta expressão é conhecida como o produto de Hartree. De fato, este tipo de função de onda não é válido para a representação de estados coletivos de elétrons já que esta função de onda não é antissimétrica ante uma interação de partículas. A função deve satisfazer a seguinte condição: (2) O produto de Hartree não satisfaz o princípio de Pauli que menciona que para elétrons de um mesmo átomo, ele implica que dois elétrons não podem ter os mesmos quatro números quânticos (MASSIMI, 2005). Este problema poderá ser resolvido se tivermos em conta a combinação linear de ambos os produtos de Hartree: [ ( ) ( - ( ( ) (3) 22 em que é incluído um fator para que a função de ondas esteja normalizada convenientemente. Esta última equação pode ser reescrita como um determinante, da seguinte forma: = (4) conhecido como determinante de Slater das funções χ1 e χ2. As funções assim geradas têm a propriedade de anular-se se duas das funções de onda de uma partícula forem iguais ou, o que é equivalente, dois dos elétrons estejam no mesmo estado quântico (princípio da exclusão de Pauli). Generalizada para qualquer número de elétrons, teríamos: (5) O uso do determinante como gerador da função de onda garante a antissimetria, com respeito à combinação de partículas, e a impossibilidade de que duas partículas estejam no mesmo estado quântico. As equações de Hartree-Fock-Roothaansão capazes de fornecer vários orbitais, em ordem crescente de energia, e seus respectivos autovalores que serão ocupados por esses elétrons(SILMAR, 2011). Segue com a ocupação de orbitais de mais baixa energia. Os orbitais fornecerão um valor para a energia e um valor para a matriz densidade eletrônica. Os elementos da matriz são dados por: (6) Sendo expansão dos orbitais espaciais, conjunto de funções de um elétron, moleculares, conjunto de normalização,em que soma a combinações lineares de um procedimento interativo de funções de onda funções de base se estende (termos) sobre e todos , os fator de orbitais 23 ocupados,assumindo, assim um conjunto de valores para os coeficientes da expansão LCAO - Linear CombinationofAtomic Orbital (ROOTHAAN, 1951). No tratamento, então, faz-se uma mistura entre os coeficientes assumidos e aqueles obtidos da solução da equação. Teremos então um novo conjunto de orbitais para calcularmos os diferentes termos do Operador de Fock. Com este operador resolve-se novamente a equação secular. Este processo continua até que os coeficientes da n-ésima solução e os da (n-1)-ésima solução concordem dentro de um critério de convergência pré-estabelecido na matriz densidade. Este processo é chamado como o método do campo autoconsistente(SCFSelfConsistent Field) (SZABO,1996). A principal limitação do método de Fock é que faz uso da aproximação do campo médio ao descrevermos as funções de onda de um elétron, ou seja, considera-se que cada elétron move-se em um campo médio produzido pelos outros N-1 elétrons e por ele próprio (BAIERLE, 2010). Uma vez escolhida a base e resolvida as equações de Hartree-FockRoothaan teremos que a nossa função de onda será representada pelo determinante de Slater. Ao utilizar uma combinação linear de determinantes de Slater para representarem a função de onda do problema multieletrônico,seremos guiados a um procedimento de interação de configurações, CI(SHERRILL, 1999). O método CI auxilia muito na descrição não apenas do estado fundamental, mas também na previsão das transições eletrônicas. Como duas partículas não estão no mesmo estado quântico, então dois num átomo podem ter energias diferentes, bastando apenas fazer a verificação dessas energias por subnível. 2.3 NÚMEROS QUÂNTICOS Na maioria dos livros textos a configuração eletrônica é apresentada começando pela introdução de quatro números quânticos: principal, azimutal, magnético orbital e spin. Eles resultam da aplicação dos princípios da mecânica ondulatória a posição do elétron no átomo. A correta aplicação e entendimento da estrutura atômica de átomos requerem uma forte fundamentação nos princípios e métodos de mecânica quântica e da espectroscopia. Esse fato explicitamente pode dificultar o entendimento do iniciante ao curso de graduação em química e principalmente para o aluno de ensino médio, pois são situações que muitas vezes a 24 falta de maturidade, não seja capaz de realizar abstração, visto que se trata do uso de equações complexas e métodos sofisticados de análise, pois a aprendizagem depende do nível de desenvolvimento e das estruturas cognitivas (NUÑEZ, 2004). Com base nisso, as simplificações frequentemente inevitáveis, resultam na introdução de informações errôneas e considerações equivocadas sobre o conteúdo em estudo. Termos tais como orbital, energia de orbital, níveis de energia e funções de onda, ou tem sido empregados erroneamente ou de maneira um tanto vaga nos primeiros cursos (SUBRAMANIAN, 1997). Hochstrasser (1965), menciona que o exame detalhado de níveis espectroscópicos mostra que os orbitais 3d situam-se num nível de energia mais elevado do que o 4s, sendo que esta inversão não é peculiar para os metais de transição. Já para Pilar (1978), cálculos precisos de Hartree-Fock mostram claramente que, para todos os átomos do terceiro período, a energia é maior em 4s do que em 3d. O terceiro período se estende do sódio (Z=11) até o argônio (Z=18), logo se observa que Hochstrasser e Pilar se contradizem, pois o terceiro período não está incluso nos metais de transição. Um fato importante a mencionar é sobre o número quântico de spin (girar) que não foi obtido através da equação de Shrödinger. Stern e Gerlack, em 1921, “provaram” a existência do spin do elétron. O experimento consistiu em fazer um feixe de átomos (originalmente átomos de prata) passarem por um campo magnético não-homogêneo produzido por um ímã, e analisar a deposição desses átomos em uma placa coletora na saída do ímã (GOMES, 2008). Observou-se que aproximadamente metade dos átomos depositou-se na extremidade da placa e a outra metade na posiçãosimetricamente oposta, não se registrando praticamente nenhum átomo em qualquer posição intermediária. A sua representação e seu significado, nos dias atuais, podem levar a contradições como, por exemplo, no número quântico de spin do elétron se ms (que são relacionados com o momento intrínseco do elétron).Diversos autores como Brady e Humiston(1994), Mortmer(1971) e Hochstrassser (1965) têm cometido erros com relação a esse conteúdo. É necessário afirmar que s é análogo a ℓ(número quântico momento angular orbital) para o movimento orbital e pode ter somente um valor s=1/2, pois para n=1, ℓ=0, enquanto mS é análogo a mℓ(número quântico magnético) e pode assumir dois valores +1/2 (giro no sentido anti-horário, visto de 25 cima) e -1/2 (giro horário). É notório que em períodos bastante distintos manteve-se a mesma ideia sem procurar verificar esses problemas conceituais. Para um átomo hidrogenóide, assim como para qualquer um outro átomo, um elétron é caracterizado por quatro números quânticos n, l, ml e ms. Sabe-se que é impossível obter as funções de onda e os exatos valores de energia para átomos multieletrônicos. O método empregado para determinar as funções de onda e energias faz uso de conceito de orbital. Neste modelo cada elétron num átomo é designado por um spin orbital com uma função de onda caracterizada por um conjunto de valores para os quatro números quânticos. A função de onda total aproximada para todos os elétrons num certo estado eletrônico é escrita na forma da Equação 05 em que o princípio da exclusão de Paulié dele originado (HANNA, 1969). O conjunto dos quatro números quânticos para um elétron individual não tem significado físico, logo spin-orbitais e energias de elétrons individuais ocupando tais orbitais não tem significado real, pois estes estados não existem no átomo polieletrônico (SUBRAMANIAN, 1997). Podemos então falar que um átomo existe num certo estado real, cada estado com uma autofunção de energia definida. Eles são resultado das interações eletrostáticas e magnéticas envolvendo todos os elétrons e núcleo do átomo e podem ser descritos também pelo uso de números quânticos (KARPLUS, 1970). Esses números quânticos são conhecidos como “números quânticos de momento angular total” – (L, S, ML, MS) e (L, S, J, MJ), que caracterizam os elétrons nos diferentes níveis de aproximação. A energia de elétrons depende do momento angular orbital, o qual corresponde ao ângulo de giro sobre o eixo de precessão, mas também depende do momento magnético, o qual resulta do movimento de spin. As interações que dois elétrons podem ter se originam pelas interações entre momentos angulares orbitais e pelas interações entre momentos magnéticos. Estas interações determinam os estados de energia de uma configuração eletrônica. Como os estados de energia, de uma distribuição, depende das interações, fica claro que precisamos buscar estas resultantes e como decidir as diferentes energias associadas a estas resultantes. Estas resultantes são representadas pelos chamados números quânticos internos, os quais são indicados por letras maiúsculas. 26 O momento angular orbital total é a resultante das interações entre os momentos angulares orbitais individuais de cada elétron; é representada pela letra L. Cada valor de L mostra um estado de energia diferente. ML = Σmℓou ML = mℓ1 + mℓ2 + mℓ3 +... Por exemplo, qual o valor de L para uma distribuição ML = (-1) + (0) + ( +1) = O O valor do momento angular total igual a zero é representado por uma letra maiúscula S, por analogia ao número quântico minúsculo ℓ =0 que é representado por s minúsculo. A letra S (maiúscula) representa a resultante da interação entre os momentos magnéticos individuais dos três elétrons que estão no subnívelp. Os valores de L são indicados por analogia pelas letras de ℓ minúsculos. Momento angular individual (ℓ) ---------- Momento angular total (L) ℓ = 0 → s .......................... ∑mℓ = 0 L=0→S ℓ = 0 → p .......................... ∑mℓ = 1 L=1→P ℓ = 0 → d .......................... ∑mℓ = 2 L=2→D ℓ = 0 → f .......................... ∑mℓ = 3 L=3→F ℓ = 0 → g .......................... ∑mℓ = 1 L=1→G O momento magnético total é a resultante das interações entre os momentos magnéticos individuais de cada elétron, isto é, do movimento de spin; érepresentada pela letra S. Cada valor de S representa a parcela de contribuição para o estado de energia proveniente do spin eletrônico. A resultante do spin eletrônico pode ter orientações distintas em relação ao eixo de precessão 27 Figura 3 - Orientações de spin eletrônico Fonte -<mundodoquimico.hpg.ig.com.br O número de orientações desta resultante é chamado de Multiplicidade de spin. A multiplicidade de spin é dada pela equação (2S+1) onde S é o momento magnético total e é obtido pela soma dos spins: Ms = Σms ou ms1 + ms2 + ms3... Como exemplo para determinarmos a multiplicidade de spin do micro estado apresentado por Teremos Ms = ( +½) + ( +½) + ( +½) = 3/2 → S = 3/2 (2S + 1) = (2. 3/2 + 1) = 4 O Símbolo de termo é a maneira de informar o valor de L e sua multiplicidade. De um modo geral o símbolo de termo é representado L(2S+1). O símbolo de termo para o conjunto visto no primeiro exemplo é S3. A energia final de um micro estado com todos os seus elétrons distribuídos por orbitais vai ser a resultante (J) que é obtida pela interação das duas resultantes L e S. MJ = Σ(L + S). 28 Figura 4 - Representação das resultantes L, S e J. Fonte -http://veratrindade.com.br/wp-content/uploads/2009/03/aula-05-modelo-vetorialdo-atomo-numeros-quanticos-interno1.pdf Na Figura 4 as energias são representadas por cones em linhas pontilhadas. A seta azul é a resultante entre os vetores mℓem preto. Cada mℓ forma um cone de energia. O cone da resultante azul é a soma dos dois cones dos vetores pretos. O vetor do cone está sempre na lateral do cone. O cone dos spins, em verde, compõe o cone do vetor azul do momento magnético total de spin. Este está dirigido para baixo. A resultante J forma o cone de energia que está sobre o eixo z. Este cone representa a energia resultante dos demais do vetor L e do vetor S. Para determinação dos microestados para a distribuição p 2, terão que compor todos os micros estados possíveis. Para isto deve construir todas as combinações possíveis entre os orbitais e elétrons. Uma vez especificado o micro estado determinamos L e S, com estes valores compomos os respectivos símbolos de termo. Com os símbolos de termo e as regras de HUND decidimos o micro estado de mais baixa energia, este representa o que chamamos de estado fundamental descrito na Tabela 1. 29 Tabela 1-Micro estados energéticos adaptado da Fonte - Nascimento, 1993. Micro estados para a distribuição p2 Númerosquânticosassociados ↑ L = (-1) + (0) = I1I → estado P S=½+½=1 (2S+1) = 2.1 + 1 = 3 → 3P ↑ ----- ----- -----1 0 +1 ↑↑ ----- ----- -----1 0 +1 ↑↓ ↑ L = (-1) + (+1) = I0I → estado S S=½+½=1 (2S+1) = 2.1 + 1 = 3 → 3S ----- ----- -----1 0 +1 L = (-1) + (-1) = I2I → estado D S = (+½) +(- ½) = 0 (2S+1) = 2.0 + 1 = 1 → 1D ----- ----- -----1 0 +1 L = (-1) + (0) = I1I → estado P S = (+½) +(- ½) = 0 (2S+1) = 2.0 + 1 = 1 → 1P ↓ ↑ ↓ ----- ----- -----1 0 +1 L = (-1) + (+1) = I0I → estado S S = (+½) +(- ½) = 0 (2S+1) = 2.0 + 1 = 1 → 1S Qualquer outra combinação produzirá um símbolo de termo já determinado. A constituição do mesmo símbolo de termo indica que tais microestados têm a mesma energia, isto é, são posições equivalentes. Segundo Hongo(2004), as regras de HUND mencionam: 1 - Para uma determinada configuração eletrônica, o termo que possui maior multiplicidade é o mais estável. 30 2-“Se os termos de mesma multiplicidade tiverem valores de L diferentes, o microestado de menor energia é aquele que tem maior valor de L”. Na segunda regra fica estabelecido que o micro estado com símbolo de termo P3é o de menor energia e assim fica qualificado como o estado fundamental de distribuição p2, isto é, dois elétrons no subnível p. Então, quando você faz um preenchimento eletrônico seguindo aquela regra: ”primeiro se preenche para depois completar”, você está, na realidade, trabalhando com as regras de HUND acima explicada. Então notamos que as combinações resultantes de todas as interações que ocorrem num átomo podem ser encontradas através de dois diferentes esquemas: acoplamento L-S e acoplamento j-j, esses dois são números quânticos do momento angular spin de elétrons individuais. O primeiro é indicado para a maioria dos elementos da tabela periódica, já o segundo é indicado para elementos de Z elevado, onde a interação spin-órbita do elétron individual é mais acentuada do que as interações intereletrônicas. Na mecânica quântica os números quânticos são mostrados de forma muito simplificada para os hidrogenóides, em que n= número quântico principal,ℓ = número quântico azimutal e mℓ= número quântico magnético. Sendo que n indica a posição do nível energético com referência ao núcleo, tendo valores 1,2,3,4,5..., ℓ = controla a distribuição espacial da densidade eletrônica e indica a forma angular do orbital, cujo número pode ser obtido por n – 1. Então, por exemplo, para n = 1, ℓ = 0 e para n = 4, ℓ= 0,1,2,3. O mℓindica a orientação particular da distribuição descrita por ℓ, a sua variação é de -ℓa +ℓ. Existem 2ℓ + 1valores de mℓ associados a cada valor de ℓ. Já o número quântico de Spin, descreve o movimento do elétron em torno do próprio eixo. Pode assumir os valores +1/2 ou -1/2 e este não tem origem na equação de Schrodinger, mas sim advém do experimento de Stern e Gerlack. Para átomos multieletrônicos devem-se definir os números quânticos da seguinte forma: S = Σsi em que si é o spin do elétron individual, ML = Σmℓ, já L = Σℓi que é o momento angular total. Dessa forma pode-se concluir que é incorreto pedir certo conjunto de números quânticos de um átomo multieletrônico sugerindo que sejam eles s, m e ℓ. A interação entre os elétrons num átomo influencia na 31 energia, então o estudo dos números quânticos, com ênfase na verificação dos momentos angulares orbitais, é relevante. 2.4CARGA NUCLEAR E FATOR DE BINDAGEM: As interações eletrostáticas geram energias que devem ser analisadas a partir de cálculos de carga nuclear. Segundo Duarte (2003), para átomos hidrogenóides os níveis de energia, ,são determinados por: (7) em que Z é o número atômico, n é o número quântico principal, h a constante de Planck. A partir daequação 07, pode-se calcular a energia do orbital 1s, que é exatamente a energia de ionização do átomo de hidrogênio. Observa-se que a energia de ionização está relacionada com o fator Z 2/n2. Como a carga nuclear (ou seja, o número atômico Z) aumenta mais rapidamente que o número quântico principal n, esperava-se um aumento contínuo do potencial de ionização, ou seja, a energia necessária para retirar um elétron do átomo. Entretanto, ao observar a energia de ionização dos átomos de hidrogênio e lítio (1312 kJ/mol e 520 kJ/mol, respectivamente), verificasse ocorrer à diminuição da energia (DUARTE, 2003) As razões para essa diminuição da energia de ionização é atribuída ao fato da distância média do elétron 2s ao núcleo ser maior que a do 1s e da repulsão do elétron 2s pelos elétrons 1s da camada mais interna do lítio. Dessa forma, a energia de ionização está relacionada à razão Z ef2/n2, onde Zef é a carga nuclear efetiva sentida pelo elétron 2s. A carga nuclear efetiva é estimada a partir da equação: Zef = Z – S, onde Z é o número atômico e S é o fator de blindagem. Sendo um sistema de n elétrons, se fixarmos a atenção a um elétron periférico, o mesmo iria sentir toda a carga nuclear positiva, chamada carga nuclear verdadeira, que é o que acontece em um sistema hidrogenóide. À medida que imaginássemos a entrada dos outros elétrons, o elétron periférico não seria atraído com a mesma intensidade de antes, isso porque os outros elétrons também vão ser atraídos pelo núcleo. Os elétrons que vão entrando 32 no átomo blindam o elétron periférico. A dificuldade de compreender esse fato aparece no modelo de átomo que normalmente os alunos tendem a fixar - o modelo de cebola (várias camadas), Figura 5: Figura 5 -Representação do átomo de Bohr – modelo de cebola MODELO ATÔMICO Elétron Camada no átomo Núcleo Fonte –portalsaofrancisco.com.br Fonte:portalsaofrancisco.com.br Nesse modelo, os elétrons que estão em orbitais de número quântico maior estariam na região do espaço mais externo. Consequentemente, esperava-se que os elétrons mais internos contribuíssem com um fator de 100% para a blindagem. No caso do átomo de lítio, Z=3, cuja configuração é 1s23s1, esperava-se que os elétrons do orbital 1s estivessem blindando completamente a carga nuclear, ou seja, Zef= 3 - 2 = 1, isto é os elétrons 2s blindariam completamente a carga nuclear. Semelhante situação pode-se estender para o ferro, cuja configuração é1s22s22p63s23p64s23d6, em que para um elétron 3d a carga nuclear efetiva seria Zef= 26 - 20 = 6,0 em que Z= 26 e S = 20. No átomo quântico, isto não se verifica: os elétrons dos orbitais de maior número quântico principal apresentam maior probabilidade de serem encontrados na região mais externa. Mas há uma probabilidade, ainda que pequena, desses 33 elétrons serem encontrados em regiões mais internas (interpenetração), Figura6, do que elétrons de número quântico menor, o que evidencia que o elétron 2s do lítio tem Zef=1,30, sendo Z = 3 e S = 1,7 e o ferro tem para um elétron 3d, carga nuclear efetiva Zef= 26 – 19,4 = 6,6 em que Z= 26 e S = 4 x 0,35 + 18 x 1,0 = 19,4. Figura 6 -penetração de um elétron 2s na camada interna é maior do que a de um elétron 2p Fonte -Shriver, D. F., 2008, p. 42 Podemos observar através da Figura 6 que existe uma probabilidade maior que zero de o elétron 2s penetrar a camada 2p, e experimente a carga nuclear total. Um elétron 2p não penetra na camada interna tão efetivamente porque ele possui um plano nodal no núcleo; deste modo, está mais blindadoa partir do núcleo pelos elétrons mais internos. Como resultado do efeito de penetração e blindagem, a ordem de energia para átomos polieletrônicos é normalmente: ns<np<nd<nf. Esse conceito de probabilidade advém da natureza ondulatória dos elétrons. A análise da função radial da equação de Schrödinger para os átomos é normalmente a forma encontrada pelos professores para explicar o porquê dos elétrons das camadas internas não serem efetivos na blindagem dos elétrons da camada de valência. Iniciantes têm dificuldade para compreender a partir da análise das funções de onda radiais como elas podem se interpenetrar, o que aparentemente significa que esses elétrons estariam ocupando o mesmo espaço. 34 Pela mecânica quântica o valor do raio médio dos orbitais é dado por r=a0/2z[3n2-ℓ(ℓ+1)], (NASCIMENTO, 1993). Então para o número quântico principal, n=3 temos, portanto, 3s, ℓ=0 r3s = 13,5 a0/Z 3p, ℓ=1 r3p= 12,5 a0/Z 3d, ℓ=2 r3d= 10,5 a0/Z para n=3 r3d < r3p<r3s. A Figura 7mostra que muito embora a localização mais provável do elétron 3d seja mais próxima do núcleo que um elétron 3p e 3s, a densidade eletrônica mais próxima do núcleo, é maior para o orbital 3s do que 3p e 3d. Isso quer dizer que um elétron 3s penetra mais próximo ao núcleo que um orbital 3p e 3d. O orbital 3s tem 3 densidades eletrônicas, 3p tem 2 e 3d tem 1. Assim o poder de penetração dos orbitais segue na ordem s>p>d>f>g>h... 35 Figura 7 - Distribuição da densidade eletrônica nos orbitais 3s, 3p e 3d para sistemas monoeletrônicos. P 0.08 3p 3d 0.04 3s 4 8 12 16 Zr/a 0 Fonte -Nascimento, 1981, p. 92. Estruturas muito significativas de interpenetração de orbitais são observadas também para orbitais com número quântico secundário diferentes. Figura 8 - Densidade eletrônica em função da distância ao núcleo para orbitais 4f, 5s e 5p. 4f 5s 5p 4f2 Densidade de carga Distância do núcleo Fonte -Mota, M. V. L.; 2010, p.07. 36 Observa-se que os orbitais 5s e 5p penetram mais próximo do núcleo do que o 4f. Nota-se uma variação muito significativa na forma de interpenetração de orbitais. Para facilitar o entendimento sobre ordem de energia, Slater (1930) propôs um conjunto de regras para permitir a utilização de funções de onda simplificadas em cálculos teóricos. Para isso decompôs a blindagem em contribuições das camadas eletrônicas dos átomos (DUARTE, 2003). O fez com o intuito de estimar as constantes de blindagem e, consequentemente, a carga nuclear efetiva dos átomos. Ele as aplicou com sucesso para estimar o tamanho dos átomos e íons, os níveis de energia e a suscetibilidade magnética. É notório que os níveis eletrônicos no átomo de hidrogênio e hidrogenóides são descritos pela equação de Rydberg (8) em que Rh é a constante de Rydberg que equivale a 13,6 eV, n número quântico principal e Z, número atômico. Esta equação descreve corretamente a última energia de ionização para hidrogenóides. Obviamente é necessário comentar a energia de ionização, visto que se trata de um elétron periférico, e este está envolvido na carga nuclear. Nota-se que a equação acima descreve corretamente a última E.I. (energia de ionização) de todos os átomos. Chamando a última energia de ionização de EIz esta corresponde a retirada do elétron 1s depois que todos os outros foram retirados. Ao analisarmos a última e a penúltima E.I.daTabela 2verificaremos serem elas diferentes, situação prevista na terceira regra de Slater, mencionada abaixo, que diz “um elétron blinda o outro mesmo estando no mesmo orbital”, por isso a penúltima energia de ionização é menor que a última. Supondo que a penúltima energia de ionização possa ser reproduzida pela Zefdohidrogenóide e estimando a carga nuclear efetiva, teremos a partir da equação de Rydberg: (9) em que EIz-1e a (Z-1)ésima energia de ionização e Rh constante de Rydeberg sendo que n=1 não é preciso aparecer na equação. 37 A referente tabela mostra a diferença entre a última e a penúltima EI dos elementos. Tabela 2-Última e penúltima energia de ionização, em eV, da 2a linha da Tabela Periódica ELEMENTO Z Modelo Energia de Carga Fator de Bohr ionização2 nuclear Efetiva Z 2R h Z 1 Z Z ef de blindagem 3 El z 1 Rh S H 1 13,6 - 13,6 - He 2 54,4 24,6 54,4 1,34 0,67 Li 3 122,4 75,6 122,4 2,36 0,64 Be 4 217,6 153,8 217,6 3,36 0,64 B 5 340,0 259,3 340,1 4,37 0,63 C 6 489,5 391,9 489,8 5,37 0,63 N 7 666,4 551,9 666,8 6,37 0,63 O 8 870,4 739,1 871,1 7,37 0,63 F 9 1101,6 953,5 1102,7 8,37 0,63 Ne 10 1360,0 1195,9 1362,3 9,38 0,62 Fonte - Duarte, 2003. Figura 9 - Íons e átomos reduzidos ao modelo de Bohr n=3 n=2 n=1 n=1 Z Z ef Z ef = Z - S Fonte - Duarte, 2003 Muitos autores têm sugerido o uso didático dessas regras em cursos introdutórios de Química no nível universitário (BRINK, 1991). Essas regras foram resumidas por Huheey (1983) e estão descritas abaixo: 38 1. Escreva a configuração eletrônica dos elementos na seguinte ordem e grupos: (1s) (2s, 2p) (3s, 3p) (3d) (4s, 4p) (4d) (4f) (5s, 5p) etc. 2. Elétrons em qualquer grupo à direita do grupo (ns, np) não contribuem para a constante de blindagem. 3. Todos os outros elétrons no grupo (ns, np) blindam o elétron de valência de 0,35 cada. 4. Todos os elétrons na camada (n -1) contribuem com 0,85 cada. 5. Todos os elétrons (n - 2) ou em camadas mais baixas blindam completamente, ou seja, contribuem com 1 para o fator de blindagem. Quando o elétron que está sendo blindado pertence a um grupo (nd) ou (nf), as regras 2 e 3 são as mesmas, mas as regras 4 e 5 tornam-se: 6. Todos os elétrons nos grupos à esquerda do grupo (nd) ou (nf) contribuem com 1,0 para o fator de blindagem. Alguns valores de blindagem estão descritos na Tabela 3: Tabela 3-Cargas nuclearesefetivas de diversos elementos da tabela. 1s H He I 1,6875 Li Be B C N O F Ne 1s 2,6906 3,6848 4,6795 5,6727 6,6651 7,6579 8,6501 9,6421 2s 1,2792 1,9120 2,5762 3,2166 3,8474 4,4916 5,1276 5,7584 2,4214 3,1358 3,8340 4,4512 5,1000 5,7584 2p Na Mg Al Si P S Cl Ar 1s 10,6259 11,6089 12,5910 13,5745 14,5578 15,5409 16,5239 17,5075 2s 6,5714 7,3920 8,3736 9,0200 9,8250 10,6288 11,4304 12,2304 2p 6,8018 7,8258 8,9634 9,9450 10,9612 11,9770 12,9932 14,0082 3s 2,5074 3,3075 4,1172 4,9032 5,6418 6,3669 7,0683 7,7568 4,0656 4,2852 4,8864 5,4819 6,1161 6,7641 3p Fonte -Shriver, p. 41, 2008. Dos valores apresentados naTabela3alguns comentários merecem ser feitos: Nota-se que através de cada período a carga nuclear efetiva dos elétrons de Valência aumenta com o aumento do número atômico. A carga nuclear efetiva para um elétron em um orbital de Valência s é maior que para o correspondente orbital p do mesmo átomo. A carga nuclear efetiva para os elétrons de Valência dos elementos do período três são apenas um pouco maior que aquelas para os elementos do período dois, embora a própria carga nuclear seja consideravelmente maior. 39 2.5 DIVERGÊNCIAS ÀS REGRAS DE SLATER Problemas com a configuração surgem já a partir das regras de Slater. A Figura 10 mostra que o comportamento da energia do orbital 1s, como função do número atômico, está de acordo com o modelo de Bohr. A diferença entre os valores demonstra que os elétrons contribuem para o fator de blindagem do elétron no orbital 1s em relação a carga nuclear, o que contraria a segunda regra de Slater, (p.39). Isso quer dizer que o elétron no orbital 1s sente uma carga nuclear menor que o equivalente ao seu número atômico pelo fato dos elétrons em níveis mais externos terem uma probabilidade de serem encontrados mais próximos ao núcleo. Figura 10 - Energia do orbital 1s como função do número atômico estimado pelo modelo de Bohr e por dados de espectroscopia de raios-X. A diferença relativa entre os dois é mostrada no gráfico. 160 XPS 2 Modelo de Bohr E - Z R h (Ebohr -E XPS) / E XPSx 100% 100 140 120 80 100 80 40 60 20 Diferença Percentual Energia do orbital 1s / keV 100 40 20 0 0 20 40 60 Número atômico (Z) 80 Fonte - Duarte, 2003. Nota-se que a diferença em termos percentuais entre o modelo de Bohr e dados de espectroscopia de raios-X (XPS) decresce, demonstrando que elétrons em níveis mais externos blindam menos por terem uma probabilidade menor de serem encontrados próximos ao núcleo, evidenciando que as regras de Slater oferecem uma forma limitada para estimar o fator de blindagem. Segundo Duarte (2003) dados experimentais demonstra a capacidade que os orbitais têm de se interpenetrarem. A distância média dos elétrons em diferentes orbitais aumenta com o aumento do número quântico principal e secundário, mas 40 para uma análise mais correta é preciso considerar a natureza probabilística da química quântica. A Figura 11mostra a função radial dos orbitais atômicos s do hidrogênio. Figura 11 - Densidade de Probabilidade Radial dos orbitais atômicos 1s, 2s e 3s. 0.5 1s 2 R(r) . r 0.4 0.3 0.2 2s 3s 0.1 0.0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 r/bohr Fonte- Duarte, 2003. Observa-se, portanto, que elétrons no nível de valência contribuem para blindar a carga nuclear em relação aos elétrons 1s, o que corrobora com os resultados da equação de Shrödinger, pois há probabilidade desses elétrons serem encontrados mais próximos do núcleo do que os elétrons 1s. 2.6AS ORIGENS DA TEORIA QUÂNTICA Niels Bohr tentou resolver o aparente paradoxo, concebido por Rutherford em que um átomo contendo um núcleo, pequeno, positivamente carregado, deveria ser instável e que estando em movimento translacional nada impediria que fosse atraído pelo núcleo (MAHAN, 1995), dessa forma caracterizado o colapso do átomo. De acordo com a teoria eletromagnética clássica, a energia transportada pela onda eletromagnética deveria ser proporcional ao quadrado das amplitudes máximas das ondas devido aos campos elétrico e magnético. Segundo esta teoria, a energia de uma onda depende somente de sua amplitude, e independe de sua frequência ou comprimento de onda. 41 A teoria eletromagnética explicava com perfeição fenômenos ópticos, mas não era adequada para explicar a natureza da radiação emitida por um corpo sólido aquecido. Observou-se que à medida que a temperatura do sólido aumentava a frequência média da luz emitida também aumentava (MAHAN, 1995). Isto corresponde ao corpo passar pelos estágios nos quais emite luz vermelha, amarela e branca, à medida que sua temperatura aumenta. Planck resolveu a discrepância utilizando conceitos que contrariavam totalmente as leis clássicas da física. Supôs que um sistema mecânico não poderia ter uma energia arbitrária, e que somente certos valores definidos de energia seriam permitidos (BROWN, 2005). Para ele, uma onda eletromagnética de frequência n deve ser emitida por um grupo de átomos que se encontra na superfície de um sólido oscilando com a mesma frequência. Foi proposto que o mesmo grupo de átomos, não poderia ter uma energia qualquer. Ela deveria ser expressa pela relação: (10) Sendo n um número inteiro positivo, v a frequência do oscilador e h constante de Planck que equivale a 6,63 .10-34J.s. Essa expressão é conhecida como Hipótese Quântica de Planck, pois propõe que um sistema possui quantidades discretas, ou quanta de energia. Planck supôs que os osciladores estão em equilíbrio entre si e, consequentemente, as suas energias devem estar distribuídas de acordo com a lei de Boltzmann, em que a probabilidade de se encontrar um oscilador com energia é dada por e-nhv/KT(MAHAN, 1995). A capacidade calorífica dos sólidos com relação à temperatura teria então uma relação. A hipótese quântica foi aplicada na tentativa de explicar a natureza da luz. Mais tarde Einstein utilizou a ideia que se um oscilador pode irradiar energia somente por meio de eventos discretos nos quais sua energia varia de 1) para ( - , então seria razoável supor que a própria luz fosse constituída por entidades discretas de energia iguais a (MAHAN, 1995). 42 2.7 O ÁTOMO DE BOHR E SOMMERFELD A teoria de Bohr trouxe contribuições importantes para a compreensão de estrutura atômica, principalmente no que diz respeito à explicação dos espectros de emissão dos átomos. Os átomos podem adquirir um excesso de energia e emitir luz na região do visível, ultravioleta e infravermelho (MAHAN, 1995). No caso da luz proveniente de um tubo de descarga passar através de uma fenda e depois por um prisma, que dispersa a radiação nas suas várias frequências. Para o modelo do átomo de hidrogênio, Bohr desenvolveu postulados, os quais fazem parte da teoria quântica moderna, abaixo alguns desses (ATKINS, 2006): 1. No átomo, somente é permitido ao elétron estar em certos estados estacionários, sendo que cada um possui energia fixa e definida. 2. Quando um átomo estiver em um desses estados não emite luz. No entanto, quando o átomo passar de um estado de alta energia para um estado de menor energia há emissão de um quantum de radiação, cuja energia é igual a diferença de energia entre os dois estados. Para que o elétron se mantenha estável (estado de menor energia) em sua órbita é necessário que a força eletrostática entre o elétron e o núcleo do átomo seja equilibrada pela força centrífuga, devido ao movimento circular, (MAHAN, 1995): r =mv2 (11) em que, m é a massa ev a velocidade do elétron, respectivamente, Z é o número de unidades elementares de carga e r distância entre o núcleo e o elétron, e magnitude da carga do elétron, r raio do núcleo e ε0,permissividade no vácuo. Bohr postulou que o momento angular, ,é (12) podendo n ser igual a 1, 2,3..., em quehé a constante de Plancken é o número quântico de Bohr. Podemos escrever, então: (13) 43 Esta equação 13 permite verificar que somente certas órbitas podem ser ocupadas pelo elétron, e consequentemente a energia seria daí caracterizada. A energia total do elétron é a soma da energia cinética e de sua energia potencial. Elétron e núcleo se atraem mutuamente verificando-se uma energia potencial negativa, . (14) em que a energia total é expressa por: (15) sendo T energia cinética e V energia potencial. Utilizando a equação anterior para caracterizar os níveis de energia teremos: (16) Sendon = 1, 2,3..., isso indica são permitidas certas energias para o átomo, e que à medida que n aumenta, a energia de níveis de energia tende para zero segundo a Figura 12: 44 Figura 12 - Esquema de níveis e espectro do átomo de hidrogênio. Fonte - www.if.ufrgs.br//modBohr/aModBohrFrame.htm Para átomos multieletrônicos, esta situação não é tão simples em detrimento da influência de elétrons internos deve-se, portanto ser obtidas através de métodos espectroscópicos(MAHAN, 1995). Pode-se concluir que o modelo de Bohr introduziu um único número quântico (n) para descrever certa órbita, pois ele se refere principalmente ao átomo de hidrogênio ou hidrogenóides, pois esses não sentiriam o efeito de outros elétrons no átomo, ao passo que o modelo da mecânica quântica (que utiliza a equação de Schrödinger) usa três números quânticos n, l e m para descrever um orbital. É fato indiscutível que os níveis de energia são uma explicação consistente relativa aos átomos monoeletrônicos e que podem ser corrigidos para serem utilizados em átomos polieletrônicos (SUBRAMANIAN, 1997). Estes níveis de energia não explicam por si só a tabela periódica. No caso do átomo de Li o elétron de valência tem n=2 no seu estado de menor energia. De acordo com a teoria de Bohr, este elétron deveria ter um momento angular orbital igual a2h/2π (BROWN, 2005). Contudo os dados experimentais contrariam esta teoria na medida em que, 45 baseando-se em medidas magnéticas, os níveis S apresentam momento angular orbital igual a zero. Para melhorar a concordância das energias calculadas com as obtidas por meio de espectros, foi introduzido no modelo de Bohr o conceito de órbitas elípticas, mas, mesmo assim, a tabela periódica ainda não tinha explicação. Se no átomo de hidrogênio o único elétron normalmente ocupa o nível de energia mais baixo E 1, para um dado tipo de átomo há várias soluções aceitáveis para a equação de onda, a partir da qual são obtidos valores aproximados e cada orbital (região de máxima probabilidade de encontrar um elétron) pode ser descrito por um conjunto de três números quânticos, designados por n, ℓ e m. Antes de Shrödinger, em 1916, Sommerfeld aperfeiçoou o modelo de Bohr introduzindo duas modificações básicas: órbitas elípticas para os elétrons e velocidades relativistas (SHRIVER, 2008). No modelo de Bohr os elétrons só giravam em órbitas circulares. A excentricidade da órbita deu lugar a um novo número quântico: o número quântico secundário ou azimutal, que determina a forma dos orbitais e que é representado pela letra ℓ e assume os valores que vão desde 0 até n-1. Para tanto utilizou-se de dados espectroscópicos para explicar o desdobramento das linhas espectrais (TIPLER, 2001). ℓ = 0 orbital s ousharp ℓ = 1 orbital p ou principal. ℓ = 2 orbiatl d ou diffuse. ℓ = 3 orbitalf ou fundamental. Sommerfeld postulou que o núcleo do átomo não permanece imóvel, que tanto o núcleo como o elétrón se movem ao redor do centro de massa do sistema, que estará situado muito próximo do núcleo e que este tinha uma massa milhares de vezes superior a massa do elétron (MAHAN, 1995). Associado a essa questão do movimento do elétron, a resolução da equação de Schrödinger leva a uma série de funções matemáticas chamadas funções de onda que descrevem a questão ondulatória do elétron. Essas funções são representadas por Ψ (psi), sendo o seu quadrado fornecedor de sobre a localização do elétron quando ele está em estado de energia permitido. 46 As funções de onda e suas energias correspondentes são obtidas a partir da solução da equação de Schrödinger, as quais são chamadas de orbitais (BROWN, 2005). Cada orbital, que é o local de maior probabilidade de se encontrar um elétron e que guarda uma determinada distância em relação ao núcleo, tem energia e forma características. Os três números quânticos descritos acima estão relacionados da seguinte forma: 1.O número quântico principal, n, pode ter valores 1,2,3... . À medida que n aumenta o orbital fica maior, e o elétron fica mais distante do núcleo, o que significa o elétron ter energia mais alta. 2. O número quântico azimutal l, pode ter valores de 0 a n-1 para cada valor de n. esse número quântico define o formato do orbital a partir de subníveis identificados por s, p, d e f. 3. O número quântico magnético descreve a orientação do orbital no espaço e pode ter valores entre 1 e -1, inclusive zero. A Figura 13mostra os níveis de energias relativas do átomo de hidrogênio. Figura 13 - Níveis de energia dos orbitais para o átomo de hidrogênio. 0 n=¥ n=3 3s 3p 2s 2p 3d n=2 Energia n=1 1s Fonte - Brown p.197 – 2005 47 Cada quadrícula representa um orbital. Todos os orbitais com o mesmo valor para o número quântico principal, n, têm a mesma energia. Isso se aplica apenas a sistemas de um elétron. No átomo de hidrogênio a energia é determinada apenas pelo número quântico principal, isto é, a energia dos orbitais aumenta do seguinte modo: 1s < 2s = 2p < 3s = 3p = 3d< 4s = 4p = 4d = 4f < ….. A Figura 13também mostra que a probabilidade de encontrar um elétron diminui à medida que se afasta do núcleo e que 1s é o orbital de mais baixa energia. No caso de átomos polieletrônicos devemos considerar não apenas a natureza dos orbitais e suas energias, mas também como os elétrons ocupam os orbitais. Agora entra o fato de que com mais elétrons algumas repulsões entre os mesmos são evidentes. Logo em átomos polieletrônicos, a energia depende não só do número quântico principal, mas também do número quântico secundário. Isto significa que, por exemplo, os orbitais 2px, 2py e 2pz já têm energia diferentedoorbital 2s. 2.8O PRINCÍPIO DA EDIFICAÇÃO OU AUFBAU O modelo, formulado pelo erudito químico Niels Bohr, recebeu o nome de Aufbau (do alemão Aufbauprinzip: princípio de construção) em vez do nome do cientista.É um procedimento que pode conduzir a uma plausível configuração do estado fundamental. Estabelece que no processo mental de “construção” de um átomo a partir do átomo de hidrogênio, adicionam-se próton ao núcleo e elétrons aos orbitais, de acordo com as energias crescentes desses e respeitados o princípio de Pauli, em que não há num átomo dois elétrons com o mesmo conjunto de números quânticos, e a regra de Hund, em que no procedimento de preenchimento dos orbitais, por exemplo, para o subnívelp deve-se colocar o primeiro elétron em cada orbital, depois coloca-se o segundo elétron representado em posição contrário ao primeiro. A sequência para o preenchimento dos subníveis é: 1s, 2s, 2p, 3s, 3p, 4s, 3d, 4p, 5s, 4d, 5p, 4f, etc... 48 Esta ordem de energia é determinada em parte pelo número quântico principal (n) e em parte pela penetração e blindagem. Figura 14 - Ordem de preenchimento dos orbitais Energia num átomopolieletrônico. 1s 2s 3s 4s 5s 6s 7s 2p 3p 4p 5p 6p 7p 3d 4d 4f 5d 5f 6d Fonte -Madelung, 1936, p.359. No ensino médio tem-se que o diagrama citado acima éconhecido como Diagrama de Linus Pauling.Ao chegar ao ensino superior o alunoo aceita com tal referência. Na verdade a sequência do preenchimento dos elétrons foi descoberta por Madelung, 1936, que criou uma fórmula empírica para a sequência de preenchimento dos elétrons nos átomos neutros. No entanto, mesmo não se tendo conhecimento adequado de tal situação no ensino médio, tal diagrama sóéseguido adequadamente para átomos com até 20 elétrons, pois não há elétrons d ainda distribuídos. Colocando na forma de quadrículas teremos: 49 Figura 15 - Diagrama de energia de um átomo polieletrônico. 0 4s 3p 3d depois Z = 20 3s 2p Energia 2s 1s Fonte - Jones, Loretta/ Atkins, Peter, 2006, p. 140. Nota-se que no mesmo nível temos energia diferentes, por exemplo no nível 3, o 3s tem menor energia do que 3p que por sua vez é menor do que o 3d. Nota-se que após Z=20 o subnível3d é menos energético do que o 4s. Tal situação contraria o diagrama de Madelung que mesmo depois de Z=20 o subnível3d seria mais energético. O gráfico da Figura 16 mostra regiões que caracterizam a variação de energia em diferentes subníveis. 50 Figura 16 - Uma representação mais detalhada dos níveis de energia de átomos polieletrônicos na tabela periódica. Fonte -Shiver, 2008, p.42. Os efeitos de penetração são muito pronunciados para os elétrons 41s no potássio (K) e nocálcio(Ca) nestes átomos os orbitais 4s tem uma energia menor que os orbitais 3d, ou seja quando o orbital 3d estiver vazio, o 4s será mais energético. Contudo, do escândio (Sc) até o zinco(Zn)os orbitais 3d no átomo neutro tem energia muito próxima, porém menor que a energia dos orbitais 4s; por isso, os 10 elétrons seguintes entram nos orbitais 3d, na sequência de átomos. Do átomo degálio(Ga) (Z=31) para frente, a energia dos orbitais 3dse torna muito menor que a energia dos orbitais 4s, e os elétrons mais externos são, sem dúvida, aqueles das subcamadas 4s e 4p. Nestes átomos os orbitais 3d não são considerados orbitais de Valência. 51 3INVESTIGANDO AS DIFERENTES ABORDAGENS SOBRE O TEMA CONFIGURAÇÃO ELETRÔNICA Muitos autores manifestam através de seus livros simplificações e limitações em suas abordagens. Grande parte dos alunos não se incomoda ou questiona sobre modificações na sequência de distribuição, em que há uma permuta, ora temos uma sequência crescente na distribuição dos níveis energéticos, ora um retorno a um nível mais interno. Para tanto, salientaremos essas percepções baseados nos escritos, além de mostrar as consequências que trazem os problemas de configuração no que concerne as propriedades periódicas e formação posterior das substâncias. A escolha de alguns livros analisados (Tabela 4) foi baseada na indicação doPrograma Nacional do Livro Didático (BRASIL, 2010); utilização por uma parte significativa de alunos e disponibilidade de exemplares em biblioteca de universidades, facilitando para que fossem analisados. A investigação seguiu a metodologia da análise de Conteúdo (BARDIN, 1977) e consistiu na leitura dos capítulos referentes à Estrutura Atômica, buscando sempre a forma com que eram distribuídos os elétrons num determinado átomo e também aspectos históricos como a atribuição da autoria do diagrama que facilita a distribuição dos elétrons no átomo. 52 Tabela 4 – Livros analisados LIVROS ANALISADOS A B C D E F G H I J L M N MASTERTON, WILLIAM L., Princípios de Química. Rio de Janeiro: LTC, 2009. MAHAN, BRUCE M., Química: Um curso universitário. São Paulo: Blucher, 1995. ROZEMBERG, IZRAEL MORDKA., Química Geral. São Paulo: Blucher, 2002. BROWN, THEODORE L., Química a ciência Central. São Paulo: Pearson, 2005. LEE, J. L., Química Inorgânica não tão concisa. São Paulo: Blucher, 1999. ATKINS, PETER. Jones, Loretta., Princípios de química. Porto Alegre: Bookman, 2006. SHRIVER, DUWARD. Atkins, Peter., Química Inorgânica. Porto Alegre: Bookman, 2008. KOTZ, JOHN C., Química geral e reações químicas. São Paulo: Cengage Learning, 2009. RUSSEL, JOHN BLAIR.,Química Geral. São Paulo: MakronBooks,1994. MORTIMER, EDUARDO FLEURY; MACHADO, HORTA ANDRÉA Química. São Paulo: Scipione, 2010. FONSECA, MARTHA REIS DA. Completamente química. São Paulo: FTD, 2001. WILDSON, LUIZ; MÓL, GÉRSON DE SOUZA: Química e Sociedade. São Paulo: Nova Geração, 2005. FELTRE, RICARDO. Química. 2004. São Paulo: Moderna, 2004. Citando esses livros, alguns trazem diferentes abordagens sobre o mesmo conteúdo. No nosso estudo focaremos o que esses livros afirmam sobre a distribuição eletrônica quanto à energia crescente. Alguns, afirmam de forma evasiva que o subnível mais energético é o 3d em vez do 4s. Outros afirmam que de forma mais aprofundada isso acontece, mas com algumas restrições para determinados átomos, situação que proporciona problemas de aprendizagem. 53 3.1 OS LIVROS ADOTADOS NO NÍVEL MÉDIO De maneira intrigante não se verifica nenhuma divergência entre autores na abordagem citada anteriormente com relação a energia, sempre se caracterizando que a mesma aumenta à medida que se avança na distribuição eletrônica de certo átomo. Porém, fazendo uma verificação minuciosa na configuração encontrada em vários livros do nível médio, a abordagem se mostra pouco variável e em poucos se encontra a utilização de termos que se admita exceções. O livro J(PNLEM – Programa Nacional do Livro de Ensino Médio), procura fazer uma maior adequação a conhecimentos prévios dos alunos, estabelecendo de forma semelhante da Figura 16, quando menciona que: “no caso do estrôncio 4s e 3d não são elétrons de valência e, portanto, segue a ordem de energia normalmente, ou seja, o 3d tem menos energia que o 4s”(MORTIMER, 2010). Acredito que, mesmo não fazendo comentários mais aprofundados faz uma melhor conotação da configuração eletrônica. Apresenta um pouco de carência investigativa, pois poderia logo estabelecer sobre a autoria do então “Diagrama de Pauling”, mas preferiu colocar: “é conhecido como diagrama de Pauling...” Isso não afetaria a busca de adequação do conteúdo abordado ao nível de ensino. O livro L, que traz em suas referências diversos livros adotados em cursos do nível superior por ter uma linguagem mais rebuscada, relata que possui maior energia o elétron que apresentar maior soma n + ℓ e que entre dois elétrons que apresentarem igual soma n + ℓ terá maior energia aquele que apresentar maior valor de n. Assim sendo podemos verificar que na configuração do átomo deferro(Fe) (Z=26) teremos que o subnível mais energético seria o 3d, pois a soma do n + ℓ =5, sendo n = 3 e ℓ = 2, enquanto que 4s teríamos o valor igual a 4, pois n = 4 e ℓ = 0. Nada mais razoável do que aceitar todas essas proposições, porém é evidente que quanto mais elétrons há no átomo, maior a carga nuclear efetiva e tal fato não é levado em consideração. Ainda menciona: Escrevendo a distribuição eletrônica do ferro, por extenso em ordem de energia, teremos: 1s22s22p63s23p64s23d6. O último 6 nível/subnívelpreenchido, o 3d , contém os elétrons mais energéticos do átomo no estado fundamental (FONSECA, 2001). 54 Em comparação ao livro M, que usa muitas analogias e figuras, também fazendo parte do PNLEM, este não menciona uma ordem de energia baseada em n+ℓ, nem distinção sobre específicos elementos quanto a configuração, enfatizando que sempre a ordem das setas (Figura 14),tem-se os subníveis em ordem crescente de energia, e curiosamente menciona: Como vimos, a determinação de energia de cada elétron é dada pela função de onda. Como não temos recursos matemáticos para determinar essa energia podemos usar um esquema muito prático, que foi proposto pelo químico americano Linus Carl Pauling..., esse esquema ficou conhecido como diagrama de Pauling (WILDSON; MÓL, 2005). Nesse caso, tanto é conhecido, quanto por Pauling foi proposto. Enfatiza sobre funções de onda, mas não dar tratamento, muito menos dar detalhes quanto à configuração de átomos diferentes. De modo similar ao livro M, o livro N(PNLEM)não faz menção à ordem de energia baseada em n+ℓ, mas explicita claramente na página 102, quando faz a configuração do ferro, que o subnível mais energético é o 3d. Sobre a autoria do diagrama explicita ainda: “... o cientista Linus Pauling imaginou um diagrama que simplifica essa tarefa e que passou a ser conhecido como diagrama de Pauling”(FELTRE, 2004). Observando historicamente alguns dados podemos fazer algumas comparações quanto a autoria do diagrama. Segundo Wong, 1979, a tabela periódica, em que cada linha corresponde a um valor de n + ℓ, foi sugerida por Charles Janet em 1927. Em 1936, o físico alemão Erwin Madelung propôs regras empíricas para a ordem de preenchimento de subcamadas atômicas, com base no conhecimento dos estados atômicos determinado pela análise dos espectrosatômicos, (Figura 17) a seguir: 55 Figura 17 - Página 359 do livro original de Erwin Madelung de 1936. Fonte - Erwin Madelung, 1936. Tradução: 11. Estrutura atómica(catálogo de elétrons) (para S.449) Asautofunçõesde umátomo, constituídode elétronsZeZ-vezes núcleo decarga positiva, sic-lo a fazer oprocessodedegeneraçãorevogadaemprimeira aproximaçãocomoprodutos deacumulaçãodefunções própriasde hidrogênioZ(cf. p. 297), cada umporquatronnúmerosquânticos, l, m,ssão definidoscomn>0, n-1 ≥l≥ 0, s=±½, |m| ≤l.De acordo comoprincípiode Paulipodede nenhumadestasduasfunçõesem todos osquatronúmerosquânticossão coincidentes. Após aconstruçãoprincípioBOHR geralmente surgedeum átomocomZelétronscomtal(Z-1) elétronsporadição de umadicional(e aumentando acarganuclearde1) semalteraros númerosquânticosdoselétronsexistentes. Portantoa linhaéconstruídade novo (ver tabelap.512). O princípioorganizadordoCatálogoé umaordemlexicográficapelosnúmeros(n + l), n,-s, 56 sm. Teoricamenteapenasuma justificaçãodesteacordoainda não estádisponível.Elelê-lo: 1. Atabelaperiodicade elementos. Homologoscantardoisátomos, cadaweenela, o elétron naúltimal, m, sencontrados. 2. Spectroscopiaocaráterdos termosbásicos, entrounacoluna10.Hánomeadamente|mΣ |=0, 1, 2, 3, ... o caráterdeS, P, D, F, G, H, I, ..., e (2 |sΣ |+ 1) amultiplicidade. 3. Tailandpara oestadoanimado(condições possíveis), emnem todos oselétronsZnas primeiras posiçõesdocatálogo. Ocatálogoé arepresentaçãodeumaregraempírica. Eleidealizaaexperiência, comosão observadosem algunscasos sem exceções. Em destaque a menção de que o princípio organizador está baseado na forma n+ℓ e que odiagramaé arepresentaçãodeumaregraempírica. A Figura 18 apresenta o princípio norteador da formação inicial do diagrama. 57 Figura 18 - Tabela de Madelung para a formação do diagrama. Fonte - Erwin Madelung, 1936. Nesta tabela observa-se na terceira coluna que, por exemplo, no caso do cálcio o valor 4 é proveniente do subnível 4s, ou seja, 4+0=4. Já no caso do Ferro o valor 5, provem de 3d, ou seja 3+2=5. 58 Em 1962 o químico russo MavrikievichKlechkowskiVsevolodpropôs a primeira explicação teórica (WONG,1979). Segundo ele (17) pela energia potencial de Coulomb (18) em que Z e o numero atômico e r o raio de Bohr, assim (19) concluindo que a energia deveria crescer com n+ℓ, em que V é a energia potencial. Madelung cita que duas regras eram importantes para a constituição eletrônica dos átomos (WONG, 1979): 1. A ordem em que estes orbitais são preenchidos é dado pela regra ( 2. Para os elétrons em estados de igual ( ). ), a ordem de preenchimento vai como aumento do n. Figura 19 - diagrama mostrando a soma . Fonte – Própria. Observa-se que em cada coluna os valores de são constantes. 59 Este diagrama hoje representa o ordenamento de distribuição dos elétrons num certo átomo, não necessariamente uma distribuição de energia em toda a sua extensão. 3.2UMA ABORDAGEM SUPERIOR A abordagem feita pela autora do livro L é corroborada pelo autor do livro C, construída sob uma linguagem simples em que qualquer principiante em química entenderia com bastante facilidade, mesmo não sendo correta. O mesmo não realiza nenhuma distinção quanto ao número de elétrons, levando a entender que é independente disso. No trecho menciona que: A observação dos espectros ópticos e de raios X, bem como a avaliação dos raios atômicos e das energias de excitação e de ionização sugerem que a energia de um elétron cresce com a soma n + ℓ de seus números quânticos principal e secundário, isto é, o subnível mais estável é aquele para o qual a soma n + ℓ é mais baixa. Em nota, menciona: Essa afirmativa tem sua validade restrita aos átomos de pequena carga nuclear, isto é, pequeno número atômico. (ROZEMBERG,p. 248, 2002). Nota-se, portanto que não se limita a um determinado número atômico, ou seja, para Z=26 essa situação seria contemplada? Na página 249, deste mesmo livro, menciona que 4s é de mais baixa energia do que 3d, pois a soma n+ ℓ do primeiro é igual a 4 e no segundo é igual a 5, esta é exatamente a situação do ferro. Então se um estudante verifica essa abordagem limitada não saberia o que fazer frente a uma determinada situação. Esta é uma situação em que se evidencia inadequação da aplicação de princípios gerais a problemas e conceitos científicos específicos. Em outra ocasião são colocadas, as configurações do potássio e do cálcio, respectivamente, 1s22s22p63s23p64s1 e 1s22s22p63s23p64s2 e depois comenta: Uma vez completo o subnível4s, inicia-se a ocupação do subnível3d, de energia imediatamente superior. Isso acontece para o escândio e prossegue nos átomos seguintes, ficando 1s22s22p63s23p63d14s2 para o escândio e 1s22s22p63s2 3p6 3d24s2 para otitânio(ROZEMBERG, 2002, p.248). Nas últimas configurações vê-se uma disposição crescente de n=1 a n=4. 60 Basta saber se o autor considera Z=21 e Z=22 como número atômico pequeno ou grande. Se considera pequeno e o mesmo afirma que quanto mais baixa a soma n+ ℓ mais estável, então 4s será (4 + 0 = 4), logo, 4s seria menos energético sendo 3d o subnível mais energético. Não é o que apresenta a Figura 16, em que o titânio e o escândio tem 3d como subnível menos energético. Nota-se que não há conectividade entre uma informação e outra. Com base nisso perguntaríamos, quantos elétrons de valência teriam o ferro (Z=26)? A formação dos haletos como, FeF 2, FeCℓ2, FeI2 ou em outros estados de oxidação seriam claramente determinada? Observa-se que tal fato implicaria na formação de compostos, pois teria números de energia de ionização e eletroafinidade não determinado com maior precisão. O autor dar ênfase no número quântico de spin o qual caracteriza como momento magnético, nesse ponto não faz nenhuma relação clara com a energia dos elétrons, deixando solto a relação deste com a energia dos subníveis. Há uma dependência entre a energia de elétrons do momento angular orbital, e também do momento magnético, o qual resulta do movimento de spin. O livro de F, cujo diagrama é a Figura 15, mostra claramente que o subnível3dé mais energético que o 4s até Z = 20. Como há interpenetração do orbital 4s, este aparece na configuração antes do 3d.No caso do Ferro, Z=26, o 4s é mais energético, tais fatos evidenciam a influência da carga nuclear efetiva. Nota-se uma maior riqueza de detalhes nessa abordagem também expressa na Figura 16 correspondente ao livro G.Observa-se, portanto, que já se manifesta ao estudante a curiosidade em busca de dados mais concretos com relação a átomos com maior número de elétrons. O mesmo já explicita os fatores penetração e blindagem, caracterizando maiores detalhes sobre a distribuição. Estudos mais detalhados da carga nuclear efetiva e, consequentemente, configuração eletrônica são imprescindíveis para uma descrição mais confiável das propriedades periódicas. A energia para remover um elétron está vinculada diretamente à distância do elétron ao núcleo num processo de formação de um cátion. Não há grande precisão de raio quando a longas distâncias, pois assim a função de onda dos elétrons dimimui. Sabe-se que dentro de um grupo da tabela periódica o raio aumenta também pelo aumento do número de níveis. Ao longo de um período o elétron de valência entra em orbitais do mesmo nível. O aumento da carga nuclear atrai os 61 elétrons diminuindo progressivamente o raio. Esse fato muito importante é imprescindível para a compreensão da estrutura da matéria e a verificação da quantidade de energia que há na formação dos compostos, muito verificada no chamado ciclo de Born-Haber em que o quantitativo de energia liberada confere maior estabilidade aos compostos formados, que analisa o quantitativo energético na estabilidade de compostos, e semelhantemente na determinação da energia de ligação. Portanto, seria importante que alguns autores dessem conotação mais ampla a esse conteúdo. O livro Idetalha as configurações anômalas, como a do cobre (Cu) e do cromo (Cr), evidenciando a estabilidade atômica. O cromo (Cr) tem configuração para os últimos subníveis 4s13d5 e o cobre 4s13d10, tais fatos são justificados pelo simples fato de que subníveis totalmente ou semipreenchidas conferem maior grau de estabilidade aos átomos. O autor não pormenoriza as configurações comuns como fez no caso do cromo (Cr) e do cobre. Deixa claro na página 255 que a energia do 4s é menor do que 3d, apesar de que o último elétron do potássio (K)(Z=19) deve ser colocado no subnível 4s. Nessa abordagem é factível que os problemas com a configuração se manifestam muito claramente. Neste livro, carga nuclear efetiva, interpenetração de orbitais estão longe de serem pré-requisitos para a determinação minuciosa de ordem de energia. Em corredores de universidades é muito comum se ouvir falar sobre diversos livros, inclusive bastante solicitados por professores em diversas universidades brasileiras. Não que a falta de informações precisas sobre configuração eletrônica tire o mérito de algum autor que, por sinal, aborda a mecânica quântica com bastante profundidade, isso se refere ao livro E, que sobre o preenchimento de elétrons menciona que após 1s, 2s, 2p, 3s, 3p, os elétrons seguintes vão para o 4s,o próximo nível em ordem crescente de energia é o 3d e não 4p, depois disso é originado a primeira série de transição. Curioso o autor mostra claramente o diagrama de Madelung(Figura 14). Essa informação limita ainda mais a percepção de distribuição de elétrons, uma vez que nem a fórmula precária e questionável, n + ℓ, é dita. Nesse caso, as funções de distribuição radial para vários orbitais do hidrogênio e hidrogenóides, e que por tabela são estendidos a átomos polietetrônicos, são mencionados. Fica então o questionamento do porque não haver uma maior profundidade na abordagem. Um 62 outro problema, que já inicialmente se destaca, é de que o livro é chamado “ Química Inorgânica não tão Concisa”. A inconcisão que seria uma falta de brevidade ou laconismo,foi na verdade uma falta de abordagem completa e sem precisão, não sendo enfatizado nenhum detalhe e particularidades da configuração eletrônica de átomos. O livro A (2009, p.141) faz uma menção sobre a equação de Bohr, em que foi atribuído energia zero ao ponto no qual próton e elétron estão completamente separados. Então deve ser absorvida energia para que seja atingido este ponto, isto quer dizer que o elétron em todos os seus níveis energéticos permitidos no interior do átomo deve ter energia abaixo de zero, ou seja, negativa. Disso se origina que o elétron do hidrogênio estando, por exemplo, no subnível3s, 3p e 3d, terá a mesma quantidade de energia. Esse elétron não experimenta a energia de outros elétrons que é exatamente o caso dessa pesquisa. Enfatiza também que o número quântico principal n é de primordial importância na determinação da energia de um elétron. Para o átomo de hidrogênio, a energia depende apenas de n. Em outros átomos a energia de cada elétron depende principalmente, mas não completamente do valor de n. De maneira grosseira quando n aumenta a energia aumenta. O motivo que leva a afirmar que isso ocorre não é abordado, mais uma vez não se fala da carga nuclear efetiva e possível interpenetração de orbitais. Segundo o livro, A figura 17, abaixo, mostra que é possível escrevermos as configurações eletrônicas dos elementos com números atômicos de 1 a 36. A partir do argônio, observamos uma “superposição” de níveis energéticos principais. O elétron seguinte entra no subnível de menor energia do quarto nível principal (4s) ao invés do subnível de maior energia do terceiro nível principal (3d) (MASTERTON, 2009, p.149). Observando o diagrama, se é possível utilizá-lo para fazer configurações de 1 a 36, então isto inclui a primeira série de transição, nota-se que é indicada uma ordem crescente de energia. É previsto, pelo então diagrama de Madelung, que é possível escrever tal configuração para essa faixa de número atômico, e os autores anteriores corroboram que o subnível4s deve ser escrito antes do 3d, o problema está na determinação da energia. O texto ainda menciona que: 63 Em geral a energia aumenta, com o número quântico principal, n. Entretanto é possível para o subnível de menor energia de n=4 estar abaixo do subnível de maior energia de n=3. Isto aparentemente é o que ocorre com o potássio (K) (Z=19) e o cálcio (Ca)(Z=20) (MASTERTON, 2009. p. 149,). Quando faz referência sobre o nível menor de energia n=4, ele não faz nenhuma menção sobre o motivo que faz com que átomos com mais de 20 elétrons, o n=4 seria o mais energético. Ainda menciona que: “uma regra geral para escrever as configurações eletrônicas de átomos é a soma n + ℓ”. Observa-se então que o autor coloca que é possível que um subnível de maior energia seja colocado antes de um de menor energia. Isso implica num entendimento confuso sobre a configuração eletrônica, pois não foi destacado o motivo para tal (Figura 20). É notório que tal posicionamento não é destacado nos outros livros citados. De forma igualitária a alguns autores anteriores, o livro H afirma: A ordem em que os elétrons são atribuídos às subcamadas em um átomo pode ser racionalizada por meio do conceito da carga nuclear efetiva. Os elétrons são atribuídos às subcamadas em ordem crescente de valor de n + ℓ e que os elétrons são atribuídos à subcamada 2s(n + ℓ = 2 + 0 = 2) antes da subcamada 2p(n + ℓ = 2+1 =3). (KOTZeTREICHEL, 2009. p.264). Então está aplicando a fórmula à ordem de distribuição e não a energia. O diagrama, como o mostrado na Figura 19, é apenas para dar uma conotação da ordem de preenchimento. 64 Figura 20 - Sequência de energia em subníveis Energia 4f 4d 4p 3d 4s 3p 3s 2p N M L 1s 1s K Níveis Subníveis Fonte -MASTERTON, WILLIAM L., 2009, p.149. O livro D(2005, p.200) de maneira ainda superficial mostra na mesma figura 6.22, que o 4s é menos energético. Este não menciona nenhuma particularidade, em especial entre o subnível3d e 4s, exceto para o cromo (Cr) e o cobre (Cu),como o livro I, que é exatamente o ponto onde o fator penetração começa a ter maior influência. Trata da carga nuclear efetiva e do efeito da penetração num capítulo posterior ao da estrutura eletrônica, mas não faz exame comparativo e distintivo de átomos, apenas o utiliza para trabalhar aspectos quantitativos. O livro B(1995, p.292), mostra o subnível2s com energia menor do que 2p. Esta diferença se deve à presença de dois elétrons internos 1s, pois todos os orbitais com n = 2 possuem a mesma energia, isto para o átomo de hidrogênio. No caso de átomos como o lítio, por exemplo, os elétrons sentem uma carga nuclear efetiva menor do que a carga total Z = 3 do núcleo. Contudo se o elétron com n = 2 estiver dentro de uma nuvem formada pelos elétrons 1s ele deve sentir uma carga aproximadamente de 3, portanto há um pequeno aumento na probabilidade de se encontrar o elétron 2s próximo do núcleo, verificado na Figura 21: 65 Figura 21-Densidade de probabilidade radial para alguns orbitais do hidrogênio. 1s 3s 0 2 4 6 8 0 2 4 6 8 ° r(A) 10 2 4 6 3p 8 0 2 4 6 ° r(A) 8 10 2 4 12 14 ° r(A) 2p 0 14 ° r(A) 2s 0 12 6 3d 8 0 2 4 ° r(A) 6 8 10 12 14 ° r(A) Fonte -MAHAN, M. B., -1995, p.290. Por causa desta pequena diferença, os elétrons 2s tem uma capacidade maior de penetrar a camada formada pelos elétrons 1s, são menos blindados e, portanto, menor energia do que 2p. Podemos deduzir uma sequência em que 3s é menos blindado que 3p que é menos do que 3d. É necessário, portanto ter bastante cuidado com essa variação na blindagem à medida que o número de elétrons aumenta. Podemos fazer uma extensão para átomos com mais de 20 elétrons mostrados no gráfico que expõe as probabilidades radiais de algumas funções de onda. Observa-se que houve um pequeno aumento na probabilidade de encontrar um elétron 2s próximo ao núcleo. Por causa dessa diferença os elétrons 2s tem uma 66 capacidade maior de penetrar a camada formada pelos elétrons 1s, são menos blindados e, portanto possuem uma energia menor do que os elétrons 2p. Elétrons 4spenetrariam a camada formada pelos elétrons 3d, seriam menos blindados e consequentemente teriam maior energia do que os próprios elétrons 3d. Observa-se que dessa forma a abordagem é mais completa. Primeiro explora as probabilidades radiais de funções de onda e depois relaciona coma carga nuclear efetiva. É impossível se falar subníveis de energia sem falar da carga nuclear. Temse que o átomo é dotado de cargas de diferentes sinais, por isso há forças eletrostáticas atuando. Destaca-se os orbitais 3d acima dos orbitais 4s. Esta mudança é provocada pelo efeito de blindagem pelos elétrons 1s, 2s, 2p, 3s e 3p internos. Como foi visto anteriormente, com o aumento do número de elétrons podemos ter variações quanto à energia. Há de se esperar que pode acontecer que com 20 ou mais elétrons presentes, os níveis 3d e 4s se aproximem e o nível 3d pode estar abaixo energeticamente que 4s. Os orbitais 4s e 3d tem energias similares. Entretanto, a tendência de diminuição da energia dos elétrons 3d com relação ao 4s para cada elétron adicionado é bastante válida, ou seja à medida que a carga nuclear aumenta, as energias dos elétrons 3d se tornam menores que dos elétrons 4s. Mais uma vez fica evidente que há uma variação na configuração de diferentes elementos. De forma sistemática observa-se que para números atômicos elevados (acima de Z=65) há uma ordem crescente de energia dos subníveis 1s < 2s < 2p < 3s < 3p <3d< 4s < 4p < 4d < 5s < 5p < 5d(Figura16), porém destaca-se que em regiões de números atômicos menores há inversão da ordem de energia desses subníveis. É necessário destacar que acima de Z=20 o subnível4s é mais energético do que 3d. Abaixo de Z=20, orbitais vazios são mais energéticos, isto para cálculo de átomos hidrogenóides, como é o caso do 3dque é mais energético que o 4s. Mediante tal exposição, foi feito uma investigação sobre o conhecimento de tais fatos, que professores de química, da cidade de Natal-RN, têm acerca da energia de elétrons e alguns aspectos históricos que envolvem o tema configuração eletrônica. 67 4METODOLOGIA A pesquisa foi realizada através de um questionário investigativo, empregado a professores de química de instituições públicas Federal, Municipal, Estadual e Privadas de Natal-RN.A opção por questionário escrito foi feita para possibilitar a coleta de dados de um número significativo de professores de forma rápida. Por outro lado, a opção por professores dessas instituições deu-se com o propósito de efeitos não comparativos entre si, mas de maior amplitude da pesquisa em virtude de certa dificuldade de se encontrar profissionais dessa área. A metodologia da pesquisa foi dividida em duas etapas, a primeira foi à elaboração de um instrumento de investigação para analisar como os professores intermediavam conhecimentos, presentes em livros didáticos, com os seus alunos, sobre o conteúdo configuração eletrônica. Todo o questionário requeria obtenção de respostas objetivas e priorizava amplamente a questão principal objeto da pesquisa sobre a questão energética de subníveis. O questionário utilizado nesta pesquisa – apresentado no Apêndice A – consta de cinco questões de forma que o professor mencionasse, tanto seus conhecimentos adquiridos no ensino médio e no ensino superior, enquanto alunos, e também durante sua prática docente no ensino médio, possibilitando expor, se houver problemas de aprendizagem sobre o conteúdo estrutura atômica - base fundamental e importante para as outras áreas do conhecimento Químico. A segunda etapa foi à aplicação do questionário em diversas instituições de ensino da cidade de Natal-RN, respondido por 30 professores de química com faixa etária entre 20 a 50 anos, que têm de 01 mês a 26 anos que lecionam a disciplina de química em turmas de 10, 20 e30 ano do nível médio. A aplicação do questionário aos professores foi no período entre 14 de março a 16 de abril de 2011 em unidades de ensino da capital, em intervalos de aulas e ao final destas, e também num grupo de 12 professores abordados antes de ministrarem uma aula concorrendo a uma vaga de professor substituto num concurso público para professor de ensino básico. O conteúdo em questão é mostrado nos livros de ensino médio (primeira ano) e em muitas instituições é repetido no terceiro ano do ensino médio, buscando que os alunos revisem os conteúdos daquela série. 68 O tempo de aplicação foi de aproximadamente dez minutos por entrevistado. Antes da aplicação do questionário, foi explicado para cada professor a importância do trabalho de pesquisa que estava sendo desenvolvido, que fosse respondido com clareza, mas sem a preocupação com acertos e erros, que tratassem com naturalidade, pois os questionários não seriam identificados. Terminada a execução dos questionários, a análise dos dados surgiu a partir da leitura cuidadosa de todas as respostas dos professores, encontrando padrões comuns de respostas, de modo que pudéssemos agrupar as respostas em categorias, onde está mostrado nos quadros e figuras no capítulo cinco dos resultados e discussão. Foi elaborado uma planilha na plataforma Microsoft excel, com todas as perguntas do questionário, para facilitar a decomposição dos questionários. A categorização das respostas do questionário foi pesquisada de forma a ter um parâmetro de resposta coerente com o que se pedia - descrita no Apêndice B – foi determinado que respostas associadas fossem contadas igualmente, por exemplo, um professor X respondeu na terceira questão que o livro em que se baseava para responder sobre que subnível era mais energético era do autor J. D. Lee, outro professor Y respondeu a mesma questão indicando o título do livro, Química Inorgânica, não tão concisa. 69 Para mostrar o percurso metodológico, foi elaborado o organograma naFigura22, que mostra cada passo realizado. . Figura 22- Organograma do percurso metodológico. Fonte: Própria. 70 5RESULTADOS E DISCUSSÃO Apresentamos a análise das respostas dadas pelos professores às questões do instrumento investigativo. A primeira questão envolve o conhecimento básico da configuração eletrônica dos elementos em que é solicitado que seja dada a configuração do átomo de cálcio (Z=20) e de ferro (Z=26). A propósito, a configuração eletrônica do ferro foi solicitada devido o surgimento do orbital d. O objetivo desta questão é saber sobreconhecimentos que os professores têm sobre o assunto, em ordenar corretamente os subníveis de energia dos átomos no estado fundamental. Esperávamos que os professores citassem que no caso específico do ferro (Z=26) o subnível 4s é colocado antes do 3d, este é o modelo considerado como resposta correta. Os livros N, sexta edição, B, quarta edição e F,são unânimes na representação da configuração eletrônica dos átomos em que distribuem da seguinte forma: Ca(z=20) - 1s22s22p63s23p64s2 e para o Fe(z=20) - 1s22s22p63s23p64s23d6. “1ª Questão: Dê a configuração eletrônica do Cálcio (z=20) e do Ferro (z=26)”. Quadro 01 -Números de respostas dadas pelos professores na 1ª questão. Respostas Ca Fe Corretas 27 26 Incorretas 03 04 Fonte: própria. Observe que do total de 30, 03professores, correspondendo a 10%, apresentaram uma distribuição incorreta para o Cálcio e 04, correspondendo a 13,33%, para o Ferro, sendo que 66,67% que errou para o Cálcio também errou para o Ferro, tendo dificuldade quanto a percepção básica da estrutura de um átomo e, consequentemente, para a formação de compostos. 71 Logo abaixo, apresenta-se a Figura 23constituído das respostas analisadas na 1ª questão. Figura 23 -Diagrama dos resultados das respostas da 1ª questão. PORCENTAGENS QUESTÃO 01 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 90% 86,700% Ca 10% Corretas Fe 13,33% Incorretas TOTAL DE 30 QUESTIONÁRIOS Fonte – Própria. A Figura 24 mostra uma das respostas incorretas. Vê-se que há uma divergência bastante significativa no que diz respeito a aquilo aceito cientificamente e que consta nos livros supracitados. O subnível 4s não aparece em ambas as configurações, evidenciando o não embasamento da estrutura atômica presente em qualquer nível de ensino. Figura 24 - Distribuição eletrônica do Ca e do Fe – não correspondente ao modelo cientificamente aceito. . A segunda questão busca um maior aprofundamento do professor quanto à distinção qualitativa entre um elemento alcalino terroso e um metal de transição, 72 ambos do quarto período da tabela periódica, com relação à ordem crescente de energia. “2ª Questão: Com base na questão anterior, qual o subnívelpreenchido é o de maior energia em cada um dos átomos?” Quadro 02 - Números das respostas dadas pelos professores 2ª questão. Respostas Ca Fe Corretas 22 06 Incorretas 08 24 Fonte – Própria. Nota-se que comparando as respostas dadas os números revelam uma semelhança quanto a corretas e incorretas para os dois átomos. Do total, 22 professores, ou seja, 73,33%, responderam corretamente que para o Cálcio o subnível 4s é o mais energético, já para o Ferro, 24 professores, ou seja, 80%, responderam incorretamente expressando o 3d como o mais energético.Segundo Pilar(1978) cálculos precisos mostram claramente que, para todos os elementos do terceiro período, a ε4s está acima da ε3d, sendo εa energia. O dado representativo de respostas incorretas reflete que quando o número atômico é maior que 20, no caso do Ferro, é seguido um raciocínio algoritmo baseado em um diagrama apresentado em livros didáticos de química geralde que o último subnível a ser colocado é sempre o mais energético. Esta conclusão é evidenciada baseada nas respostas corretas da questão 01. Abaixo temos a Figura 25, o diagrama estatístico dos resultados das respostas dadas pelos professores, que expõe melhor os dados coletados da 2ª questão. 73 Figura 25 - Diagrama representacional dos resultados das respostas da 2ª questão . PORCENTAGENS QUESTÃO 02 90,000% 80,000% 70,000% 60,000% 50,000% 40,000% 30,000% 20,000% 10,000% ,000% 80% 73,330% 20,000% Corretas 26,700% Ca Fe Incorretas TOTAL DE 30 QUESTIONÁRIOS Fonte – Própria. A seguir, a Figura 26 mostra uma das respostas incorretas em que 4s seria menos energético do que 3d, para o átomo de ferro. Figura 26 - Um dos questionários que apresenta resposta incorreta para o subnível de energia do Ferro As respostas incorretas é uma menção comumente usada por grande parte dos livros, alguns de ensino médio como o livro N, que inclusive menciona o livro B (quarta edição), como referência. O problema é que na página 292 deste livro há um diagrama de energia de monoeletônicos aproximados para átomos multieletrônicos. Na página 295 é mostrado um diagrama esquemático das variações de energia dos orbitais em função do número atômico. Este mostra uma capacidade de penetração, provocando desdobramento das energias dos subníveis com o mesmo número quântico principal. O mais interessante é que o livro Nparece enfatizar um diagrama 74 de aproximação, aí poderia ser perguntado por que não ser colocado uma situação mais completa evitando distorções posteriores para a distribuição, por exemplo, de um metal de transição? Tal situação leva muitos professores, até por adaptação do que é mais simples, a assimilarem tal conhecimento e também assim intermediarem aos seus alunos. A terceira questão encaminha para que se possa fazer uma relação entre o que foi respondido nas questões anteriores e a abordagem feita por autores de livros de ensino médio e até de ensino superior. Espera-se que haja coerência de fato entre as respostas dadas e o que consta nos livros citados. “3ª Questão: Para responder as questões 1 e 2 você certamente já estudou esse conteúdo em algum nível de ensino. Que livro didático você toma como referência para responder as questões anteriores? Explique sua resposta”. Quadro 03 - Resultados das respostas dos professores na 3ª questão Categoria Livro A Livro B Livro C Livro D Livro E Livro F Mais 3 1 1 1 Livro G Outros NI 10 5 Completo Fácil compreensão Não 2 4 7 Justificado Fonte – Própria. 1 5 3 75 A Tabela 5 explicita indicações do quadro 03. Tabela 5 - Livros citados Livro A B C D E F G Outros NI Autor J. D. Lee Tito e Canto Ricardo Feltre Martha Reis Peter Atkins Mahan Química e sociedade (diversos autores) Diferentes dos mais comuns Não Indicado Fonte – Própria. Mesmo sendo um total de 30 entrevistados, o quadro 03 apresenta um total de 38 indicações de livros, pois cerca de 21% deles indicaram mais de um livro. Dessas indicações alguns dados merecem destaque. Notamos que o livro F teve 05 indicações, ou seja, 13,16% e o livro N, intitulado Fundamentos de Química e que faz parte do Programa Nacional do Livro Didático(PNLEM – 2009, 2010, 2011),07(18,42%), ambos não foram justificados. Um outro destaque que recebeu 01 indicação, 2,63%, foi o livro M que também faz parte do Programa Nacional do Livro Didático(PNLEM – 2009, 2010, 2011). Este foi indicado alegando ser de fácil compreensão, de fato o é, mas também é destaque a forma contextualizada fazendo uso de diversas analogias e ilustrações facilitando a relação com o cotidiano. O raciocínio analógico é um importante componente da cognição humana (Dagher, 1995). A maior parte dos indicados, 29, ou seja, 76,32%, não foi justificado, o que é um dado preocupante, visto que não se faz uma análise do material didático que se usa. Esperava-se de cada entrevistado que explicasse de forma mais profunda o uso de certo livro. Um outro dado importante é que 05 professores citaram o livro F. Desse total, 02, ou seja, 40%, mesmo fazendo a configuração correta, apontaram de forma contrária ao abordado no livro (Figura 16), afirmando que o subnível 3d para o Ferro é mais energético. 76 Abaixo temos a Figura 27, o diagrama estatístico dos resultados das respostas dadas pelos professores, que expõe melhor os dados coletados da 3ª questão. 26,32% 13,16% 2,63%% 13,16,% 2,63% 2,63% 7,89% QUESTÃO 03 18,42% 7,89% 2,63% 10,53% 0,35 0,3 0,25 0,2 0,15 0,1 0,05 0 5,26% Figura 27 - Diagrama representacional dos resultados das respostas da 3ª questão. MAIS COMPLETO FÁCIL COMPREENSÃO NÃO JUSTIFICARAM TOTAL DE 30 QUESTIONÁRIOS Fonte – Própria. A seguir, a Figura 28 mostra a resposta incorreta dada por um entrevistado que mencionou a utilização do livro F nesta questão, mas cita na questão 02 que o subnível mais energético do Ferro é o 3d. Figura 28 - Discrepância entre o que é abordado no livro de Atkins e o que menciona o entrevistado 77 Mesmo sendo um livro do PNLEM, em que se trata de um ensino por analogia e com utilização de ricos recursos visuais, é necessário maior reflexão acerca do aspecto teórico-conceitual do conhecimento químico nos livros didáticosprincipalmente, quando se trata da manipulação de entidades microscópicas. Amaral(2006) menciona: O ensino de ciências, com suas particularidades, tem apenas tenuamente, de forma tangencial e obscura, a despeito da existência de estudos e pesquisas, inclusive relacionados a livros didáticos, que apontam para a necessidade de perseguir o alvo crucial constituído por suas bases e seus fundamentos. É necessária uma maior reflexão sobre o livro como componente escrito usado em sala de aula, mas também a forma com que são utilizados. O professor como mediador do conhecimento deve a todo momento está refletindo sobre cada conteúdo, principalmente aqueles que tratam sobre unidades (sub)microscópicas, como o átomo. A seguir, a Figura 29 mostra a resposta incorreta dada por um entrevistado que mencionou o livro M. Nota-se que se afirma na questão 02 que o subnível3d do e ferro é mais energético. Figura 29 - Erro referente à determinação de energia do átomo de Ferro. A questão 04 leva o professor a fazer uma reflexão sobre diagrama de energia. Observa-se que poderia se pensar sobre dois diagramas diferentes mediante uma mudança de postura em sua resposta em ambos os questionamentos. O objetivo 78 principal é a verificação se houve mudança na determinação de subníveis energéticos do Cálcio e do Ferro, verificados quando o entrevistado estava no nível médio e no ensino superior. Espera-se, portanto que se tenha a percepção dos obstáculos verbais que permeiam o uso de forma cronológica do diagrama. “4ª Questão: No ensino médio costuma-se seguir um diagrama para fazer a distribuição eletrônica. Qual o nome do diagrama? É o mesmo que você utilizou no ensino superior?” Quadro 04 - Números de respostas dos professores na 4ª questão. Respostas Linus Pauling Madelung Sim 28 01 Não respondeu 01 Não 10 0 Fonte – Própria. O quadro indica que a resposta sim para o primeiro e segundo questionamentos é registradoumaúnica vez. No campo indicado como Linus Pauling, 28 professores, ou seja, 93,33%, responderam que utilizou e 10 professores dos que responderam Linus Pauling, equivalente a 35,31%, mencionaram que não é o mesmo que utilizou no ensino superior. Apenas 01 entrevistadonãorespondeua pergunta. O diagrama citado na verdade é o mesmo dito para Madelung e Linus Pauling, apenas que não é de Linus Pauling como alguns livros da tabela 4 mencionam. A seguir está a Figura 30 do diagrama representacional dos resultados obtidos nos questionários respondidos na 4ª questão 79 Figura 30 - Diagrama representacional dos resultados das respostas da 4ª questão. PORCENTAGENS QUESTÃO 04 100,000% 90,000% 80,000% 70,000% 60,000% 50,000% 40,000% 30,000% 20,000% 10,000% ,000% 93,33% LINUS PAULING 33,33% MADELUNG 3,33% Sim 3,33% ,000% Não NÃO RESPONDEU NÃO RESPONDEU TOTAL DE 30 QUESTIONÁRIOS Fonte – Própria. A Figura 31, abaixo, mostra um dos questionários respondidos na 4ª questão, onde o professor respondeu de forma simples. Figura 31 - Resposta de um dos professores para a 4ª questão. Nesse caso observa-se que é mostrado claramente como se o diagrama tivesse mudado de nome mediante mudança de nível de ensino. O quadro 05 apresenta a questão 05, que serviu para avaliar como os professores explicam o fato de o subnível 4s preceder o subnível3d, razão esta que gerou erros na questão 02. Para respondê-la é necessário um entendimento mais profundo sobre as forças atrativas e repulsivas presentes num átomo. Portanto, era esperado que todos os professores já tivessem atentados para tal fato e explicassem 80 tal situação, levando-se em consideração carga nucelar efetiva e fator de blindagem presentes em alguns livros de nível superior. “5ª Questão: Como você explica o subnível3d ser precedido pelo 4s, neste diagrama? Você recorda de ter encontrado uma resposta para isso em algum livro didático já utilizado por você? Se sim, qual?” Quadro 05 - Análise dos resultados da ultima questão sobre a ordem de disposição do subnível 4s e 3d. Respostas Número de professores 03 Ordem de energia 02 E = n+ ℓ 08 Outros 17 Não responderam Fonte – Própria. Notamos que 17 professores, ou seja, 56,67% não responderam ao questionamento sobre a ordem dos subníveis3d e 4s tão importante, parecendo nãobuscarem dados mais originais e preferindo não pensar de forma profunda sobre tal assunto, apresentando um conhecimento mecanicista. Um total de 02 professores, 6,67%, respondeu que o motivo era a soma n+ℓ, sendo n o número quântico principal e ℓ número quântico secundário ou azimutal. Quanto maior fosse a soma desses dois números maior seria a energia. Pode-se então perceber que para o átomo de cálcio isso é correto, pois a soma daria (4s) 4+0=4 e (3p) 3+1=4, mas como no primeiro caso o número quântico principal é maior, prevalecerá. Esse fato corrobora com o mencionado por Wong (1979). Assim na distribuição do cálcio 1s22s22p63s23p64s2 o subnível mais energético é o 4s. No caso do Ferro (z=26) esta regra já não é adequada. A sua distribuição é 1s 22s22p63s23p64s23d6. Pela regra ora 81 citada o subnível3d seria mais energético, pois 3+2=5 sendo superior a 4+0=4. Isso, porém, é a linha de pensamento extensiva a todo o diagrama, entretanto como mostrado anteriormente o subnível 4s é mais energético, pois embora os elétrons 4s sejam mais penetrantes do que os elétrons 3d, na maior parte do tempo eles ocupam aproximadamente a mesma região do espaço. Consequentemente, os elétrons 4s não conseguem blindar de forma eficaz os elétrons 3d (MAHAN, 1995). Logo abaixo está a Figura 32, que mostra o diagrama dos resultados analisados nos questionários respondidos pelos professores na 5ª questão referente ao subnível 4s preceder o 3d. Figura 32 - Diagrama representacional dos resultados das respostas da 5ª questão sobre a ordem dos subníveis 4s e 3d. QUESTÃO 05 56,67% 60% PORCENTAGENS 50% 40% 26,67% 30% 20% 10% 10% 6,67% 0% ORDEM DE ENERGIA E= n+ℓ OUTROS NÃO RESPONDERAM TOTAL DE 30 QUESTIONÁRIOS Fonte – Própria. Segue abaixo a Figura 33, mostrando um dos questionários com uma das respostas mais encontradas em livros didáticos, que tomam como ferrenha que a sequência do diagrama corresponde também à ordem crescente de energia para qualquer átomo. 82 Figura 33 - Um dos questionários com resposta mais encontrada em livros didáticos. Sobre se o professor encontrou resposta em algum livro para o 3d ser precedido pelo 4s apenas 02, ou seja 6,67%, responderam SIM, um mencionou o livro de Haroldo Barros e outro o livro de química inorgânica da editora Blucher, em que constatamos que queria frisar o livro E, visto que é o único desta editora, e ambos são de química inorgânica. O curioso é que o mesmo que mencionou o livro E indicou que na questão 02, o subnível mais energético do ferro é o 3d(Figura 34), contrapondo o que está claramente expresso na própria questão, é como se não fizesse uma associação sobre o que estava respondendo em todas as questões, ou está fixado, independente de qualquer outra abordagem, na ideia do diagrama em que o último subnível a ser citado seria sempre o mais energético. 83 Quadro 06 - Análise dos resultados da última questãosobre o livro que embasavasubnível 4s preceder 3d. Livro Número de Professores 01 J. D. Lee 01 Haroldo Barros Não responderam 28 Fonte – Própria. Pode-se verificar, de acordo com o quadro 06, que como 28, ou seja, 93,34%, não responderam, isto evidencia a falta expressa de continuidade de estudo sobre teorias básicas, além de uma investigação científica capaz de modificar ou conceber novas formas de interpretação daquilo já existente. A figura 34 dimensiona os resultados obtidos. Figura 34 - Diagrama representacional dos resultados das respostas da 5ª questão (Extensão) sobre livros que embasa osubnível 4s preceder o 3d. PORCENTAGENS QUESTÃO 05 (Extensão) 100,000% 80,000% 60,000% 40,000% 20,000% ,000% 93,330% 3,330% J. D. LEE 3,330% HAROLDO BARROS NÃO RESPONDERAM TOTAL DE 30 QUESTIONÁRIOS Fonte – Própria. Abaixo a Figura 35, mostrando um dos questionários com a falta de concatenação daquilo que está escrito no formulário. 84 Figura 35 - Verificação de resposta incoerente. Relação entre o que está expresso na questão 02 e questão 05 85 6CONSIDERAÇÕES FINAIS Os problemas ocorridos com a configuração dos átomos, advém de processos simplificados em que se procurou generalizar situações para todos os átomos independente do número atômico.Os livros F eGmostram claramente que o átomo de cálcio e o de ferro tem como subnível mais energético o 4s, e que no ferro não é o 3d como haveria de ser esperado, por ser o último a ser representado. Tudo se originou com o átomo de Bohr caracterizado para o hidrogênio,que marcou a mecânica clássica e que jamais poderia explicar as propriedades dos elétrons em átomos polieletrônicos, e tampouco proporcionar uma explicação satisfatória para as ligações químicas. Ao tomar o diagrama de Madelung, foi verificado que se trata de uma ordem de preenchimento e não necessariamente uma ordem de energia crescente para qualquer átomo. As próprias regras de Slater não se afirmam num cálculo de carga nuclear que seja suficiente para um melhor esclarecimento sobre estrutura eletrônica. Isso quer dizer que o livro didático deveria apresentar conteúdos resultantes de uma investigação mais minuciosa explorando escritos mais antigos e analisando possibilidade e generalizações inadequadas. É evidente que para o estudo detalhado da estrutura dos átomos teríamos que buscar, a partir das equações de Shrödinger, em que se destaca as funções de onda, carga nuclear efetiva e espectroscopia eletrônica, dados mais rebuscados em equações complexas, fato este que seria muito complicado para um estudante de ensino médio. Quando me refiro a tal grupo de estudantes, quero mostrar que se não houver profissionais reflexivos sobre a estrutura dos átomos, os mesmos poderão ser professores de ensino superior com as mesmas ideias de outrora. Embora a abordagem mais rebuscada não possa ser muitas vezes colocada numa sala de aula, em especial no ensino médio, alguns avisos podem ser relevantes, como por exemplo: O diagrama de Madelung, caracterizando ordem crescente de energia, só tem seu uso bastante viável para átomos com até 20 elétrons. O que deixaria uma ponte para que o aluno fizesse uma melhor investigação ao chegar ao ensino superior. É praticamente impossível termos um livro que se diga “este é completo”, na própria construção do conhecimento científico encontraremos ambiguidades, pois a ciência é construída por homens susceptíveis a equívocos e interpretações diversas. 86 Óbvio que cuidados em leituras, principalmente primeiros escritos, devem ser sempre tidos, pois assim poderá haver uma diminuição de erros. Verificamos, contudo, que não adianta o profissional professor criticar o livro didático usado no ensino médio ou até mesmo no ensino superior, os quais usam como referência os livros de ensino superior, ou ao menos dizendo: “esqueçam tudo que aprenderam no ensino médio”. Evidências mostraram o longo caminho que ainda tem que se percorrer, buscando um aprimoramento de professores em sala de aula, pois da forma que aprendem, também o intermedia para os alunos. Os resultados obtidos no questionário investigativo mostram esse longo caminho, pois alguns obstáculos ainda surgem em muitos professores de ensino médio, problemas de aprendizagem e muitas vezes dificuldades de pesquisa de antigos escritos. Mesmo com um nível mais elevado de conhecimento e com muitos anos de sala de aula, alguns ainda têm dificuldade de investigação, se rendendo ao já elaborado e não atentando para detalhes característicos de uma ciência sempre em transformação. A essência cientifica, muito embora muito implementada tecnologicamente, muitas vezes parece regredir quando o novo se opõe ao velho, quero dizer, deve ser observado antigos escritos,confrontá-los com novos e apenas acrescentar àqueles uma dose tecnológica contemporânea, ou até mesmo mudança quando comprovadamente aceita cientificamente. As 05 questões aqui expostas mostram, não apenas erros, mas também que muitos se esquivavam de responder a perguntas como se a ele nunca fora perguntado pelos alunos, ou quando perguntado, respondido “tem que se seguir o diagrama e pronto”. Para explicar ligações químicas, inclusive em compostos de coordenação, deve-se ter claro quem é o subnível mais energético em determinado átomo. As propriedades químicas e físicas das moléculas dependem da forma com que os átomos se unem, por isso observa-se depois da forma que vimos que é como se os professores pulassem etapas, ora o ferro tendo como subnível mais energético o 3d e depois noutro assunto, como nos compostos de coordenação, digo que é o 4s, ou seja, se está fazendo uma adequação da teoria básica ao conteúdo. Carga nuclear efetiva, fator de blindagem e spectroscopia de raios x, que enfatizam as interações que existem num átomo, devem ser levadasem consideração quando estiver tratando sobre assunto configuração eletrônica. No caso das regras de Slater, apresentam erro quando calculam as constantes de 87 blindagem, mas quando aliada a spectroscopia de raios x podecorrigir distorções. É notório que a interpenetração de orbitais ainda é fatídico para determinarmos, a partir da função de onda, qual subnível é mais energético. Sabemos também que as soluções das equações de onda são complexas para serem mostradas numa turma de ensino médio, mas acredito que poderia haver uma maior aproximação na abordagem do professor, para pelo menos colocar os alunos numa amplitude crítica, e no mínimo evitar concepções alternativas sobre a estrutura atômica. 88 7PERSPECTIVAS DO TRABALHO Pretendo divulgar os resultados provenientes desse trabalho, visando contribuir para que haja uma investigação científica mais minuciosa, por parte de professores de química das escolas de ensino médio de Natal e também de alguns de ensino superior, propiciando melhores condições de interpretação de conteúdos escolares que tenham como pré-requisito o estudo da estrutura eletrônica dos átomos. 89 REFERÊNCIAS AMARAL, I.A. Os fundamentos do ensino de ciências e o livro didático. In: FRACALANZA, H. e MEGID NETO, J. O livro didático de ciências no Brasil. Campinas: Komedi, 2006. ATKINS, P. 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Acesso em: 12 dez 2010. 94 APÊNDICE A: Questionário aplicado aos Professores de Química das Escolas de Ensino Médio de Natal DEPARTAMENTO DE QUÍMICA Programa de Pós-Graduação em Química Pesquisa em Ensino de Química QUESTIONÁRIO Este questionário não é uma avaliação da disciplina de Química, mas uma pesquisa sobre as formas de abordagem do conteúdo configuração eletrônica. Pedimos que responda a cada questão de modo sincero e exponha de forma clara suas ideias. O questionário é anônimo, mas necessitamos que nos forneça alguns dados a fim de poder trabalhar melhor. Por favor, não omita nenhuma pergunta. Sexo:____Idade:_________Turma que ministra aula: ____________________ Nível de Escolaridade: _____________ Tipo de escola onde Estudou: ( ) Pública federal ( ) Privada ( ) Pública Estadual ou municipal Livro texto usado em sala de aula: (Título) _____________________________ (Autor) _____________________________ Tempo que leciona a disciplina: _____________________________________ 95 1ª Questão: Dê a configuração eletrônica do Cálcio (z=20) e do Ferro (z=26). 2ª Questão: Com base na questão anterior, qual o subnível de maior energia em cada um dos átomos? 3ª Questão: Para responder as questões 1 e 2 você certamente já estudou esse conteúdo em algum nível de ensino. Que livro didático você toma como referência para responder as questões anteriores? Explique sua resposta. 4ª Questão: No ensino médio costuma-se seguir um diagrama para fazer adistribuição eletrônica. Qual o nome do diagrama? É o mesmo que você utilizou no ensino superior? 5ª Questão: Como você explica o subnível3d ser precedido pelo 4s, neste diagrama? Você recorda de ter encontrado uma resposta para isso em algum livro didático já utilizado por você? Se sim, qual? 96 APÊNDICE B: Parâmetros das respostas do questionário com base nos livros didáticos de nível superior. 1ª Questão: Dê a configuração eletrônica do Cálcio (z=20) e do Ferro (z=26). Essa questão é bastante direcionada a um foco, saber se o professor conhece a ordem de distribuição de elétrons num átomo. Para tanto é necessário, principalmente no caso do ferro, que se faça a inversão entre subníveis3d e 4s, este sendo escrito antes daquele. Esta será a resposta coerente. 2ª Questão: Com base na questão anterior, qual o subnível de maior energia em cada um dos átomos? Ela investiga de forma mais aprofundada se o professor entende os fatores que estão ligados a determinação da energia dos elétrons num átomo. É evidente que respondendo a questão 01 erradamente, haveria uma probabilidade da questão 02 ser também respondida incorretamente, isto baseado na idéia do que o último subnível a ser colocado é sempre o mais energético. De qualquer forma ela induz ao professor pensar se realmente, no caso do ferro, o 3d é mais energético do que o 4s, visto que este tem n, número quântico principal, maior. No caso do cálcio o subnível mais energético é o 4s, visto que estando o subnível3d vazio, os elétrons 4s e consequentemente os elétrons 4s não conseguem blindar de forma eficaz os elétrons 3d, ou seja ocorre um aumento considerável na carga nuclear sentida pelos elétrons 3d, pois elétrons 4s adicionados não pertencem a camadas mais internas e não conseguem enfraquecer significativamente a interação destes elétrons e o núcleo. Da mesma forma, quando é adicionado elétrons 3d após 4s, aqueles passam a sentir uma carga nuclear maior e suas energias se tornam menores, este é o caso do ferro. 97 3ª Questão: Para responder as questões 1 e 2 você certamente já estudou esse conteúdo em algum nível de ensino. Que livro didático você toma como referência para responder as questões anteriores? Explique sua resposta. A questão busca fazer uma relação entre o que foi respondido na questão 01 e 02 e a qualidade do livro que o professor utilizou ou no ensino médio ou superior. Ela também investiga se os professores têm competência de escolher um livro que busquem pressupostos científicos e históricos com que o conteúdo em questão é exposto nos livros. Poderia ser citado livros cujos autores tenham um histórico de publicação de artigos científicos bastante rico, como por exemplo, Mortimer (Ensino Médio), que é mais investigativo em suas publicações. Poderia ainda citar o livro de Mahan, que de forma mais detalhada aborda este conteúdo, fazendo menção a estruturas matemáticas significativas buscando alicerçar o conteúdo. 4ª Questão: No ensino médio costuma-se seguir um diagrama para fazer adistribuição eletrônica. Qual o nome do diagrama? É o mesmo que você utilizou no ensino superior? Ela busca um conhecimento por parte do professor sobre aspectos históricos, que nesse caso era parte fundamental para se determinar a questão energética dos elétrons num átomo. Em responder que era de Linus, o professor estaria evidenciando que o diagrama em questão era de distribuição de subníveis, cuja ordem era de energia crescente, conforme mostra alguns livros. A segunda pergunta busca novamente o caráter investigativo. Será que existem dois diagramas?na verdade só há um. O diagrama citado na verdade é o mesmo dito para Madelung e Linus Pauling, apenas que não é de Linus Pauling. Em 1936, o físico alemão Erwin Madelung propôs regras empíricas para a ordem de preenchimento de subcamadas atômicas, com base no conhecimento dos estados atômicos determinado pela análise dos espectrosatômicos. Em 1962 o químico russo MavrikievichKlechkowskiVsevolodpropôs a primeira explicação teórica. 98 5ª Questão: Como você explica o subnível3d ser precedido pelo 4s, neste diagrama? Você recorda de ter encontrado uma resposta para isso em algum livro didático já utilizado por você? Se sim, qual? Era de se esperar que o 4s viesse depois do 3d, visto que o n(número quântico principal é maior no 4s Esperava-se que o professor já tivesse notado tal “inversão” e explorasse de forma mais significativa os aspectos como penetrabilidade e carga nuclear efetiva e, além disso, tivesse a curiosidade de buscar em algum livro a razão da inversão. O subnível 4s, apesar de ser mais penetrante e ser de uma camada mais externa, blinda menos o 3d, como conseqüência, este é mais atraído pelo núcleo, aumentando a carga nuclear sobre esses elétrons e diminuindo a energia.