III semana de pesquisa em artes 10 a 13 de novembro de 2009 art uerj ensino de arte e cultura Luiz Carlos Mendes Ripper e a formação de cenógrafos e figurinistas Heloisa Lyra Bulcão Doutoranda em Artes Cênicas – UNIRIO Orientadora Profª. Drª. Lidia Kosovski, co-orientador Prof. Dr. Aldo Victorio Filho – ART/ UERJ A presente comunicação traz a visão geral da contribuição do cenógrafo, figurinista e diretor teatral Luiz Carlos Mendes Ripper para o ensino da cenografia e indumentária no panorama teatral do Brasil atual. São abordadas suas iniciativas na formação de cursos, escolas e centros culturais, com especial referência ao emprego dos registros de seu processo de criação como instrumento de ensino. Luiz Carlos Ripper; ensino da cenografia; processo de criação em cenografia. This communication brings an overview of the stage and costume designer and theatre director Luiz Carlos Mendes Ripper contribution to the stage and costume design teaching, in the present theatrical scene in Brazil. We approach his enterprising in the creation of schools and cultural centers, in special reference on the application of the registers of his own creation process as an instrument to the teaching. Luiz Carlos Ripper; stage design teaching; stage design creation process. Luiz Carlos Mendes Ripper foi um dos mais importantes cenógrafos brasileiros, tendo recebido diversos prêmios, tanto por sua atuação no cinema, com seis Corujas de Ouro, da Academia Brasileira de Cinema, quanto no teatro, onde recebeu um total de 10 prêmios, como cenógrafo, figurinista e diretor. Ripper foi diretor de arte dos filmes Xica da Silva e Quilombo, de Cacá Diegues, de Azyllo muito louco e Fome de amor, de Nelson Pereira dos Santos, São Bernardo de Leon Hirszman, dentre outros. No teatro, seu trabalho mais emblemático foi a cenografia de Hoje é dia de rock, em 1971, onde realizou uma reestruturação 163 espacial no Teatro Ipanema, transformando o palco frontal em passarela, pela qual recebeu o prêmio Governador do Estado. Outras atuações marcantes de Ripper no teatro foram a direção, cenografia e figurinos de Avatar, Torre de Babel, El dia que me quieras e Extra-vagância. Podemos ver refletida a sua importância no cinema nacional com a criação pela Secretaria de Audivisual do Ministério da Cultura, em 2001, do Prêmio Luiz Carlos Ripper para a categoria direção de arte para o Grande Prêmio Cinema Brasil. Desde a produção, direção, cenografia e figurinos de Avatar, espetáculo ambientado na sala Corpo e Som do Museu de Arte Moderna, em 1974, Ripper se interessou pelo ensino das artes cênicas. Ele conta, em entrevista ao Jornal da Cidade, em Campo Grande, que a falta de apoio do governo para a continuidade da existência do grupo, com o qual desenvolvia intensa pesquisa de linguagem, o motivou a buscar outros caminhos para a formação de novos profissionais (dossiê sobre Luiz Carlos Ripper – CEDOC – FUNARTE). Ripper foi, desde então, responsável por cursos de cenografia em várias cidades do Brasil, como Vitória, Campo Grande, Belém, Fortaleza, Brasília, convidado ora pelo então Serviço Nacional de Teatro – SNT, ora por instituições de ensino locais. No Rio de Janeiro, ministrou diversos cursos de cenografia no Instituto de Arquitetos do Brasil – IAB e palestras e seminários sobre teatro, cenografia e construção de espaços cênicos. Por ocasião de um curso em Brasília, Ripper lembra, em entrevista, que a cenografia depende dos meios de produção e da economia do teatro. Afirmando que a economia do teatro vai mal, Ripper coloca que esta se vê constrangida pelos aspectos financeiros de uma produção. “A nossa improvisação caracteriza nossa cenografia e a falta de metodologia no teatro como um todo: não temos metodologia, a gente improvisa (...)” (Dossiê Luiz Carlos Ripper – CEDOC - FUNARTE). Ripper coloca que o fato, resultado do pouco cuidado com a educação artística, acaba por ser um defeito, quando deveria ser uma qualidade. Em função disso, vê como de suma importância os cursos de informação (não de formação, declara Ripper), que vinha desenvolvendo pelo país. Os considera também importantes para o seu trabalho, como forma de entrar em contato com as diferentes realidades 164 art uerj III semana de pesquisa em artes regionais e promover entre os alunos de cada local o interesse em olhar para sua própria realidade, valorizando-a. Na época recusou convites para dirigir outros espetáculos, se dedicando apenas à atividade didática (dossiê Luiz Carlos Ripper CEDOC - FUNARTE). Vemos, por meio de suas declarações, seu interesse pelo estudo das metodologias nas artes cênicas para a formação de novos profissionais, como forma de desenvolver a prática cênica brasileira. Durante curso em Vitória, Ripper fomentou entre os alunos, reiterando nas diversas entrevistas que deu na ocasião, a união entre os grupos amadores e o olhar voltado para o conhecimento da realidade local. Ripper confessa que muitas vezes se via falando coisas que não eram compreendidas, talvez por um problema de vocabulário. Vê como mais importante, no entanto, o estímulo à consciência de classe, à união, à compreensão de que o teatro é uma atividade conjunta, fruto de um trabalho integrado, onde todos pensam juntos. “Porque o teatro é uma festa, uma comemoração. O ato de mostrar deve ser um ato de dar, de participar, por isso é uma festa”. Comenta que as melhores montagens são aquelas em que não se sabe quem fez o que (dossiê Luiz Carlos Ripper - CEDOC - FUNARTE). André Carrera, em sua pesquisa sobre os grupos teatrais do Brasil atual, aponta para o gradual crescimento da importância do teatro de grupo no Brasil, segundo o autor, mais intensificado desde os anos 80 e 90. Hoje este pode ser considerado um campo específico dentro do fazer teatral nacional, com movimentos similares na América Latina. (CARREIRA, 2009). O autor, a partir do que levantou dentre os grupos teatrais no Brasil atual, coloca que estes não se caracterizam como um todo como por projetos alternativos ao modelo empresarial, mas sim, por sua proposta estética. Desde o declínio da militância política, presente nos grupos teatrais da época da ditadura militar, com a ausência de modelos a seguir, os grupos se caracterizaram mais por seu conceito de “grupalidade”. “O grupo, enquanto estrutura organizativa e forma geradora do trabalho criativo, passou a constituir um ponto chave nesse processo”, afirma Carreira. “Algumas características que aparecem de forma insistente quando 165 art uerj III semana de pesquisa em artes pensamos os projetos grupais da atualidade remetem à associação entre projetos de criação cênica, articulação de práticas pedagógicas, referência no grupal como mecanismo de autonomia, identidade e resistência, e, sobretudo, consciência de que este projeto se distingue de outros procedimentos coletivos pois busca um lugar específico” (CARREIRA, 2009:2). Não podemos afirmar que este panorama é fruto do discurso e da prática de Ripper em seus cursos por diversas capitais brasileiras, mas vemos que há uma nítida relação entre a bandeira que Ripper levantava e o que nos traz a pesquisa de André Carreira. Em 1979 e 1980, além de coordenar a oficina de cenografia, foi assessor de Rubem Breitman, diretor da Escola de Artes Visuais – EAV, participando do projeto de reformulação didática da escola. Esta foi a época que produziu na escola a chamada “geração 80”, que retoma não só a pintura, mas também o prazer da criação artística (Jornal Sidarta, 2009). Ripper conta, em entrevista durante temporada em Campo Grande para um curso, que seu objetivo na EAV, como diretor da Oficina de cenografia, era dinamizar a escola e transformá-la num centro que uniria a formação à produção teatral, num novo processo didático. Ripper comenta que na escola tradicional, o aluno adquire o “saber” totalmente desvinculado da realidade, das transformações da sociedade e das necessidades do momento. Ripper tinha um projeto de unir a atividade da Oficina de cenografia a produções teatrais profissionais, unindo o aprendizado à produção, dentro do mercado de trabalho (dossiê CEDOC – FUNARTE). O então diretor da EAV, Breitman, conta que a direção anterior, de Rubens Guerchman, havia rompido com o academicismo do século XVIII e que a gestão atual propunha “uma metodologia contemporânea do ensino de arte dentro de uma escola livre (dossiê CEDOC – FUNARTE)”. O projeto de Ripper e Breitman para a EAV pretendia modificar a relação do estudante com a arte, e da própria concepção do que era a arte. Para Ripper, a liberdade de criação, dispondo de toda a infra-estrutura necessária em ateliês bem 166 art uerj III semana de pesquisa em artes equipados, é o que permitiria aos alunos entrarem em contato com seus processos criativos, sem a obrigatória interrupção das férias coletivas, que seriam escolhidas pelo aluno, mas com responsabilidade de estudo e criação. Eles pretendiam que o espaço fosse utilizado, não como fuga ou como lazer, mas na busca do belo e do prazer na sua produção artística. A liberdade deveria estar na criação e não na ausência de compromisso do aluno com a escola. A escola passava a oferecer três turnos, à escolha do aluno, e era dividida em três níveis de aprendizagem: oficinas permanentes para iniciantes, com aulas práticas de cor, representação bi e tridimensional e teóricas (teoria da comunicação, da percepção, semiologia e antropologia); no segundo nível, os alunos já com experiência artística, freqüentavam as oficinas práticas e o terceiro nível tinha, naquele período, apenas as oficinas de cenografia e de áudio-visual. Outras estavam planejadas para funcionar futuramente. Em 1983, junto com a bailarina, coreógrafa e atriz Nadia Nardini, Ripper fundou e dirigiu até 1985, o Centro de Artes do Tempo – CAT, com a intenção de formar atores-bailarinos-cantores, numa formação integrada. Nadia Nardini conta sobre a criação da escola, em parceria com Ripper: “Nosso objetivo era reunir todas as formas de manifestações artísticas em um só lugar”. A escola contava também com curso de promotores de atividades culturais, com enfoque na formação de profissionais capazes de promover a arte voltada para a realidade das comunidades, de forma a “resgatar na vida social valores de identidade cultural”. A proposta do curso era realizar uma articulação “entre o sistema de produção/circulação de bens da indústria cultural – aí incluídas as ‘artes’ da mídia – e os sistemas correspondentes das artes tradicionais do Ocidente (teatro, dança, música, etc) e das formas culturais populares. E mais particularmente, realizá-la valorizando as identidades sócio-culturais específicas de seus produtores (RIPPER, 1985 - documento de seu arquivo pessoal)”. Em documento de apresentação da escola, encontramos mais uma vez uma 167 art uerj III semana de pesquisa em artes estrutura que buscava o contato do aluno com o mercado de trabalho. Os alunos freqüentariam três estágios na escola, havendo no quarto estágio uma Oficina, que funcionaria em contato com profissionais, em trabalho dirigido para a produção artística. A escola funciona ainda hoje, em outro endereço de Botafogo, como escola de musicais, com o nome Catsapá. No ano de 1988, Ripper foi um dos principais responsáveis pela reestruturação da Escolinha de Artes do Brasil, fundada por Augusto Rodrigues, exercendo a função de Secretário Geral da escola, até 1990. Em texto de Ripper sobre a proposta para reestruturação da escola, encontramos o que pode ser considerado uma síntese de sua visão da educação para as artes: “- Considerar as técnicas como o ingresso em tecnologias, visando o encontro de alternativas de sobrevivência, desocultando a artesania, as oficinas e o resgate de ofícios. - Considerar a lúdica da Arte como um meio, sobretudo, natural e saudável do indivíduo se harmonizar na sua própria humanidade. - E, por fim, considerar que estes caminhos pré-existem, respectivamente sistematizados na cultura popular. - Isto tudo é conscientizar uma argumentação brasileira como infraestrutura da Educação” (RIPPER, 1988 – documento de seu arquivo pessoal). Em outros documentos manuscritos de Ripper sobre a reestruturação da Escolinha de Arte do Brasil, vemos planos para a ocupação do prédio. Havia previsão de creche e play ground, um teatro para bonecos, num “bloco infantil”. Além disso, no “bloco adulto”, um teatro e uma sala de exposições. No “bloco escola”, havia previsão para o programa de oficinas técnicas com ateliês de madeira e metal, de moldes e formas, de cor, de artes gráficas, de pano/costura/tramas/tecelagem, e de música. Havia um setor destinado a salas de aula multi-uso, um escritório coletivo, uma sala 168 art uerj III semana de pesquisa em artes de reunião, uma sala de estudos e consulta e um mini auditório. Vemos em Luiz Carlos Ripper a constante preocupação em integrar a arte à vida nas diferentes camadas sócio-culturais, refletida até na criação de creche numa escola de arte, facilitando o acesso à educação artística. Vemos também a constante ligação do ensino com a atividade artística, com a existência de espaços de apresentação associados ao espaço de ensino. Como vemos, Ripper buscava sempre referências na cultura local e na experiência pessoal do aluno, procurando integrar o ensino à prática da realização teatral. Em entrevista, Ripper comenta que seu trabalho didático e de criação fazem parte de um projeto maior de busca de uma brasilidade, que considerava perdida. ”Existe uma cultura nossa que está desaparecida, sem que nada seja feito para conservá-la. As pessoas estão muito mais preocupadas em copiar modelos externos do que conhecer o que elas têm mais próximo de si, que cada dia morre um pouco”, disse Ripper. Uma cenografia baseada na utilização dos elementos naturais ou produzidos pelos artesãos do local onde o grupo teatral atua representa, para Ripper, um engajamento da cena numa identidade esquecida do brasileiro, e passa a ser uma opção dentro de um contexto precário. Para Ripper, a cultura popular, (...), seria um objetivo dos grupos jovens, e onde eles conceituariam e fundamentariam seu trabalho. O nosso intuito, ao pesquisar a cultura popular, é se apropriar de um tipo específico de tradição e comportamento, aproveitando sua experiência cultural para efetuar a criação de um teatro brasileiro, feito com o povo e para ele’. (Dossiê Luiz Carlos Ripper – CEDOC – FUNARTE) Desde 1986, Ripper foi convidado a dirigir a Oficina de cenotécnica Pernambuco de Oliveira, da então Fundação Nacional de Artes Cênicas – FUNDACEN, sendo criador do projeto de implantação do Centro Técnico da FUNDACEN (hoje Centro Técnico de Artes Cênicas do Instituto Brasileiro de Arte e Cultura – IBAC). 169 art uerj III semana de pesquisa em artes Durante sua gestão como diretor do Centro Técnico, Ripper procurou formar grupos de estudo voltados para a reflexão sobre a cenografia, a cenotécnica e a arquitetura teatral, bem como todas as técnicas ligadas à produção das artes cênicas. O cenógrafo J.C. Serroni, comenta, em entrevista, sobre a importância do projeto desenvolvido por Ripper no Centro Técnico: “Ele tentou criar uma espécie de um centro de execução de cenografia, mas com outro pensamento, com outro caráter, voltado muito mais para um profissional com o entendimento daquilo que fazia. Ele gostava de ensinar, de discutir processos, de resgatar tecnologias muito simples do próprio teatro... (entrevista a Heloisa Lyra Bulcão)” Ripper promoveu, no Centro Técnico, o 1º. Encontro Nacional de Profissionais de Arquitetura Cênica, Cenógrafos e Cenotécnicos, onde estes se reuniram por aproximadamente quarenta dias, para discutir os processos, mostrar suas experiências, trocar as experiências particulares de cada região. Após o encontro, passaram a se reunir com freqüência com Ripper para discutir a continuidade das ações, além de Serroni, os cenógrafos Maria Carmen de Souza e Raúl Belém, dentre outros. “Foi um período em que a gente discutiu muito teatro, a gente discutiu muita cenografia, muito espaço, muitas tecnologias e isso foi muito importante pra mim”, conta Serroni. Serroni comenta como Ripper “(...) preocupado com a formação, com os caminhos da cenografia, do figurino, da técnica, do técnico do teatro brasileiro, já imprimia isso nos seus trabalhos”. Ripper, em suas experiências no cinema se preocupava em resgatar as técnicas artesanais locais, em aproveitar a mão de obra local, unindo a produção à realidade regional. Fazia esta proposição também nos cursos e oficinas que ministrava por diversas cidades brasileiras. Em seus projetos de reforma e criação de espaços teatrais, como por exemplo a reforma do Teatro Waldemar Henrique, em Belém do Pará, também buscava as técnicas e materiais locais para que houvesse uma inter-relação entre o espaço e a natureza, a realidade do lugar. 170 art uerj III semana de pesquisa em artes Segundo a cenógrafa Maria Carmen de Souza, criadora do Núcleo de Arte e Cultura – NAC, em Brasília, o processo educativo que Ripper procurava aplicar era bastante inspirado na Bauhaus, escola de arquitetura, arte e design em Weimar, na Alemanha dos anos 20 (entrevista a Heloisa Lyra Bulcão). Com o processo similar ao adotado na Bauhaus, Ripper planejava a formação do cenógrafo a partir das práticas em diversos ateliês, em revisão da relação que havia entre mestres de ofícios e aprendizes na Idade Média. Serroni conta sobre a visão de Ripper da formação profissional: “Ele era muito preocupado com os sistemas artesanais, com as possibilidades humanas do teatro, do técnico manusear, construir, botar a mão, essa coisa humana. E já estavam chegando, principalmente na luz, as novas possibilidades. Isso era uma preocupação dele, de que a gente não perdesse aqueles sistemas, que são os sistemas vindos do circo, os sistemas vindos da engenharia naval. Aquela coisa do mestre e do aprendiz, em que o aprendiz tinha que estar à disposição do mestre, pra realmente aprender, ele tinha que vivenciar aquele conhecimento”. Durante a gestão do Centro Técnico, Ripper se dedicava à organização do conhecimento. Procurava levantar e classificar as informações, como os diferentes ateliês utilizados pela cenografia e pela indumentária, organizando planilhas, buscando denominações comuns, sempre em grupo, unindo os profissionais atuantes, que traziam as suas práticas. Levantava e classificava o conhecimento, de forma a produzir material de consulta para reciclagem e aprendizado para novos profissionais. Em texto de apresentação do Projeto Centro Técnico, encontramos a seguinte referência: “(...) compreende-se a Oficina Pernambuco de Oliveira como um centro de pesquisas, que redundará num pólo dinamizador de conhecimentos, interagindo com a totalidade das manifestações cênicas (teatro, dança, 171 art uerj III semana de pesquisa em artes ópera e circo) nas singularidades regionais da cultura brasileira” (documento do arquivo pessoal de Luiz Carlos Ripper). O Centro Técnico exercia suas funções nas seguintes linhas de ação: pesquisa, organização da informação, planejamento, ensino-aprendizagem e apoio à infra-estrutura de produção, atendendo à demanda de reformas e adequação de espaços cênicos por todo o país. Atuava nos campos da cenotécnica, indumentária, luminotécnica, administração, produção, cenografia e arquitetura. Ripper, enquanto diretor do Centro Técnico, ao ser convidado para fazer a cenografia e os figurinos de um espetáculo musical infanto-juvenil, O Cometa Vassourinha, chamou o grupo de estudos para o qual estava ministrando um curso de semiologia da cena para desenvolver o trabalho em conjunto, descrevendo todo o processo de criação e produção. O grupo, formado por cenógrafos, designers e arquitetos, desenvolvia estudos, desde a pesquisa para concepção dos projetos, levantamento de materiais, união de diferentes matérias, registrando as experiências em planilhas e croquis descritivos. A idéia do registro de seu processo criativo, durante a criação e a produção de um espetáculo ia de encontro ao objetivo de organização do conhecimento, criando a possibilidade de construção de material didático para a formação dos envolvidos com a criação e a produção de cenários e figurinos. No início do curso de semiologia da cena com este grupo, Ripper, contando que já havia ministrado o mesmo diversas vezes, solicitou a todos que fizessem seus apontamentos sobre as aulas e entregassem a ele, de forma a colaborar com a produção de um livro. A idéia de produção de material para a difusão do conhecimento foi uma constante na atuação de Ripper no Centro Técnico. Ao final da produção do Cometa Vassourinha, foi feita cópia das planilhas, croquis e de parte das plantas, agrupada em encadenação. Como fiz parte deste grupo, pois era pesquisadora contratada, tendo participado de grande parte dos grupos de estudo do Centro Técnico, e me interessei pelo material, fiz cópia do dossiê manuscrito. O esforço de Ripper foi interrompido no ano de 1990, com sua destituição do 172 art uerj III semana de pesquisa em artes cargo de diretor do Centro Técnico, no início do Governo Collor. Hoje, no arquivo de Luiz Carlos Ripper, encontramos um dossiê apenas com parte dos croquis originais e de apontamentos sobre o processo criativo. O dossiê completo original, com o registro do processo da criação à produção, não se encontra nem no Centro Técnico, nem no arquivo pessoal de Ripper. Contamos apenas com a cópia feita na ocasião. O uso de seus processos criativos, tanto na atividade pedagógica diretamente ligada à sua produção prática, quanto na tentativa de produção de material didático para o ensino da cenografia a partir de uma produção completa, são atitudes que caminham na direção de aproximação da arte à vida, em seu cotidiano. Vemos, nos exemplos de atuação de Ripper no ensino das artes em geral, com maior atuação nas artes cênicas, em especial na cenografia, uma posição de forte ligação com o resgate das culturas regionais, dos processos construtivos artesanais, de estímulo à união entre os grupos amadores, sempre num movimento de reforço de uma identidade brasileira, diversificada e plural e de uma humanização da sociedade por meio de sua expressão artística genuína. Referências Dossiê de Luiz Carlos Ripper, do Centro de Documentação – CEDOC, da FUNARTE. Arquivo pessoal de Luiz Carlos Ripper, sob a custódia temporária do Laboratório de Investigações Cenográficas – LINCE – UNIRIO. CARRERA, André. Teatro de grupo: reconstruindo o teatro? Consultado em 01 de outubro de 2009, no sítio http://www.ceart.udesc.br/revista_dapesquisa/volume3/numero1/cenicas/prof_andre.pdf Jornal Sidarta, 25 de maio de 2009. http://jornalsidarta.blogspot.com/2009/05/trinta-anos-da-geracao-80. html, consultado em 01 de outubro de 2009. Entrevista de Maria Carmen de Souza a Heloisa Lyra Bulcão, em 22 de julho de 2009. Entrevista de J. C. Serroni a Heloisa Lyra Bulcão, em 18 de agosto de 2009. 173 art uerj III semana de pesquisa em artes