A infografia nos meios de comunicação impressos The infographics in the printed media Milena Quattrer Anna Paula Silva Gouveia infografia, comunicação visual, informação impressa Este artigo é parte de uma pesquisa sobre o uso das cores em infográficos de divulgação científica. O artigo pretende apresentar e contextualizar de forma concisa uma área que vem ganhando cada vez mais destaque entre os meios de comunicação nacionais e internacionais: a infografia. Suas características e história serão abordadas de forma que o leitor tenha um panorama dessa área tão importante e que ainda circula, por assim dizer, um tanto anônima entre os meios de comunicação. infographics, visual communication, printed information This article is part of the research on the use of colors in scientific divulgation infographics. The article pretends to put in context and present concisely an area that has gained increasing prominence among the national and international media: the infographics. Their characteristics and history will be addressed in order to give an overview of an area that is important but still rather invisible to the public. 1 Introdução ‘Documentar e explicar um processo, fazer os verbos visíveis, é o coração do Design de Informação’ (Tufte, 2002 p: 55), assunto que vem conquistando gradativamente mais importância ao longo dos anos. Em uma sociedade na qual há uma circulação enorme de informação, discutir as formas de transmiti-la é essencial, principalmente em momentos como o atual, em que um novo meio de comunicação como a internet está ganhando cada vez mais força, trazendo outras formas de se relacionar com a informação, e desafiando a hegemonia de meios clássicos de comunicação como o jornal, a revista, o rádio e a televisão. Para atender a essa sociedade visual, ávida por conhecimento e informação de forma rápida e prática, é necessário que os meios clássicos de comunicação se adaptem às novas tecnologias e desenvolvam outros mecanismos a fim de conquistar essa nova geração de leitores. É nesse contexto que a infografia está obtendo grande destaque tanto em jornais, revistas e televisão, como também na própria internet. 2 O que são infográficos? Segundo Rodrigo Caixeta, em artigo para o site da ABI – Associação Brasileira de Imprensa: O termo infográfico vem do inglês informational graphics e o seu uso revolucionou o layout das páginas de jornais, revistas e sites. É uma forma de representar informações técnicas como números, mecanismos e/ou estatísticas, que devem ser sobretudo atrativos e transmitidos ao leitor em pouco tempo e espaço. (...) Segundo pesquisas, a primeira coisa que se lê num jornal são os títulos, seguidos pelos infográficos, que, muitas vezes, são a única coisa consultada na matéria. (Caixeta, 2005, p:1). Sendo assim, é importante que o infográfico não seja visto como simples decoração da página ou preenchimento de espaço vazio. Para que realize plenamente suas funções é imprescindível que seja cuidadosamente planejado, compartilhando das mesmas responsabilidades de um texto jornalístico. Para tanto, o infográfico deve apresentar um título, o nome de seu autor e as fontes consultadas para a sua elaboração. Deve ser auto-explicativo e independente do texto principal, podendo muitas vezes enunciar a matéria, completá-la, ou mesmo apresentá-la por completa. Diferentemente dos textos, onde é preciso apreender as partes para entender o todo, nos infográficos o processo de compreensão se inicia do todo para as partes. Para obter a atenção do leitor, é importante que o infográfico seja pensado e construído tendo como respaldo as informações culturais do seu público alvo. Por exemplo, como a grande maioria das pessoas passa boa parte de seu tempo em frente à televisão, é interessante que o infográfico siga as proporções e os cortes da imagem televisiva. A sua tipografia pode seguir a mesma do resto do jornal, da revista ou pelo menos da matéria (Ferreres, 1995, p:7). A utilização da cor também exige certo cuidado, a sua utilização pode ‘transferir significados e valores a cada grupo de informações que àquela cor foi subordinado’ (Guimarães, 2003, p:29). Para que o leitor compreenda e confie na informação ali apresentada, ele deve se sentir confortável com o infográfico. Por isso simplicidade é a palavra chave, mínimos contrastes entre os elementos do infográfico tendem a criar certas hierarquias visuais que valorizarão o seu conteúdo, conseqüentemente facilitando a sua compreensão. ‘Quando tudo (fundo, estrutura, conteúdo) é enfatizado, nada é enfatizado’ (Tufte, 2002, p: 74). 3 Categorias Levando-se em conta as suas características, os infográficos podem ser divididos em quatro categorias: Gráficos São os mais comuns, apresentam informações numéricas e estatísticas. Dividem-se em gráficos circulares, de coluna e de linha (figura 1). Tabelas As tabelas são representações matriciais (linhas e colunas) que apresentam dados descritivos. A figura 1 mostra tabelas e gráficos. Figura 1: Infográfico que reúne gráficos circulares, de coluna, linha e tabelas (usada com a permissão de Kanno). Mapas Os mapas podem apresentar diversos elementos como localização, trajetos e clima, por exemplo. A figura 2 é um exemplo de mapa simulando os efeitos das mudanças climáticas no mundo. Figura 2: Exemplo de infográfico com mapa (usada com a permissão de Kanno). Diagramas Os diagramas (figura 3) mostram diferentes situações como: o funcionamento de uma máquina, um órgão do corpo, um acidente, o desfecho de uma situação. Ao contrário dos outros infográficos, o diagrama pode necessitar de maiores habilidades artísticas dependendo de sua complexidade. Figura 3: Exemplo de infográfico com diagrama (usada com a permissão de Kanno). De acordo com as necessidades e interesses da matéria ou do texto, é possível e até comum que os infográficos sejam combinados. Por exemplo, um diagrama poderá ser combinado a um gráfico circular e a uma tabela para apresentar uma única informação. A figura 4 exemplifica a combinação de infográficos. Figura 4: Infográfico combinando mapas, diagramas, gráficos e tabelas (usada com a permissão de Kanno). 4 Campos de aplicação Segundo Raymond Colle, os principais campos de aplicação da infografia são (Colle, 2004, p:13) : Manuais de usuários As infografias nos manuais tem como objetivo auxiliar e esclarecer as operações que o usuário deverá realizar no produto, bem como descrever e detalhar suas partes e os cuidados que ele requer. A maior parte das infografias presentes nos manuais é feita com pouco cuidado e atenção, no lugar de esclarecer, acaba por confundir o usuário. Atualmente, as companhias áreas estão entre as poucas empresas que se preocupam com a qualidade do desenho i instrucional de seus manuais. Informes empresariais Geralmente anuais, tratam das operações da empresa ou instituição. A presença dos infográficos nessa área, apesar de pequena, vem ganhando cada vez mais espaço. Infografia pedagógica Está presente em manuais, livros e enciclopédias ligados à área da educação. Alguns infográficos jornalísticos podem muitas vezes cumprir a mesma função da infografia pedagógica. Infografia científica ii Encontrada em textos científicos e manuais técnicos desde a icunabula , sempre integrou a imagem ao texto. A partir do século XX, graças aos avanços tecnológicos, as revistas de divulgação científica de alto nível, e também as mais populares, passaram a dar espaço aos infográficos em suas edições, de modo a facilitar a compreensão do grande público. Infografia publicitária Cada vez mais presente no meio publicitário, a infografia está se mostrando uma ótima ferramenta, principalmente em peças publicitárias de empresas e instituições ligadas à informática e tecnologia. Infografia jornalística Encontrada há pelo menos três séculos na imprensa, sua história está intimamente ligada aos avanços tecnológicos que se sucederam durante os séculos. Segundo Ferreres, com a difusão da gravura na imprensa, a informação visual não-linguística foi aos poucos incluída nos jornais. (Ferreres, 2004, p:5). 5 Infografia na imprensa Segundo Gonzalo Peltzer, a primeira ‘mensagem visual’ a aparecer na imprensa foi o diagrama de Benjamin Franklin, Join or Die (imagem de uma serpente cortada em oito partes, cada uma representando um dos oito primeiros estados americanos) publicado em 1754 pelo Pennsylvania Gazette. (Peltzer, 1991, p:109). Desde então houve poucos avanços tecnológicos significativos na imprensa até meados do século XX. Foi a partir daí que boa parte dos jornais e revistas de destaque, passou a contar com profissionais especializados em gráficos e mapas. No entanto, a revolução dos infográficos só foi acontecer mesmo na década de 1980 com o lançamento do jornal USA Today. O proprietário do USA Today, Allen H. Neuharth baseou-se num grande estudo de mercado realizado entre maio e setembro de 1982 nos Estados Unidos. O estudo constatou que o leitor preferia cores, gráficos, imagens e leitura mínima. Mesmo depois de inúmeras críticas, o USA Today se mostrou um grande sucesso entre os leitores. Diante desse feito, grande parte dos jornais e revistas de todo o mundo começou a imitar o diário. Em 1984, com a chegada do computador Macintosh, a infografia ganhou dimensões até então jamais vistas. Durante a Guerra do Golfo (1990-1991), a infografia ocupou definitivamente o seu lugar na imprensa. Devido a intensa cobertura jornalística, havia uma enorme quantidade de infográficos sobre os confrontos. Com o final da guerra, foi criado pela seção espanhola da Society for News Design (SND-E) o Prémio Malofiej em homenagem ao infografista Alejandro Malofiej, falecido em 1987. É o mais importante prêmio na área e em 2009 terá a sua 17ª edição. O Brasil já se destacou com medalhas ganhas pelas revistas da Editora Abril e por jornais como O Globo e Folha de São Paulo. Segundo a SND-E, na última edição participaram do evento 24 países, somando aproximadamente 1.300 trabalhos de 124 veículos. Apesar de hoje concorrer entre as melhores do mundo, a presença da infografia nos meios de comunicação brasileiros é de certa maneira recente. A imprensa brasileira no século XIX privilegiava publicações com apenas textos escritos, devido às limitações tecnológicas da época. Foi em meados do mesmo século, quando começaram os avanços nas técnicas de impressão, que as primeiras publicações com imagens começaram a surgir no Brasil principalmente em revistas de variedades. No século XX, a imprensa nacional passou por grandes inovações e um estouro visual aconteceu nas publicações nacionais da época. Jornais e revistas brasileiros, como o jornal Folha de São Paulo e a revista Veja, passaram a se destacar no uso da infografia impressa. A infografia vem conquistando cada vez mais espaço entre os meios de comunicação e é um importante instrumento capaz de tornar a informação interessante e atrativa. Na pesquisa, da qual este artigo deriva, procura-se identificar como a cor auxilia os infográficos sobre células-tronco na incumbência de atrair o leitor, informar de maneira rápida e eficaz a respeito de um debate polêmico e que envolve diversos interesses. 6 Agradecimento Agradeço ao professor Mario Kanno por permitir a utilização das imagens apresentadas na Mostra nacional de infografia – 2008, organizada por ele. 7 Notas i ‘Desenho instrucional’ é o termo utilizado por Souza (2008) para designar as ilustrações de manuais que auxiliam o usuário nos procedimentos de uso e montagem do produto. Maiores detalhes podem ser encontrados em sua Tese de Doutorado (Souza, 2009). ii Refere-se às obras impressas entre 1455, data aproximada da publicação da Bíblia de Gutenberg, até 1500. 8 Referências Caixeta, R. 2005. A arte de informar. In: Jornalismo na prática: A arte de informar <http://www.abi.org.br/paginaindividual.asp?id=556> Colle, R. 2004. Infografia: tipologias. In: Revista latina de comunicación social, 58. <http://www.ull.es/publicaciones/latina/latina_art660.pdf> Ferreres, G. 1995. La infografía periodística. In: Intachina: Docs <www.tintachina.com/docs/infografia_periodistica_1995.pdf> Guimarães, L. 2003. As cores na mídia. São Paulo: Annablume Kanno, M. 2008. Mostra nacional de infografia – 2008. In: Scribd: Mostra_infografia_2bx. <http://www.scribd.com/doc/8398594/Mostrainfografia2bx> Leturia, E. 1998. ¿Qué es infografía?. In: Revista latina de comunicación social, 4. <http://www.ull.es/publicaciones/latina/z8/r4el.htm> Peltzer, G. 1991. Periodismo iconográfico. Madrid: Ediciones Rialp. Scalzo, M. 2005. Jornalismo de revista. São Paulo: Editora Contexto. Souza, A. C. A. S., <OMITIDO PARA REVISÃO CEGA>. 2008. Desenho Instrucional, a ilustração para design da informação - Um método para ensino na graduação. Anais do oitavo congresso brasileiro de pesquisa & desenvolvimento em design / p&d design 8. São Paulo: AEND Brasil. Souza, A. C. A. S. 2009. Desenho Instrucional: a ilustração para Design da Informação. Uma proposta didática para o ensino superior. Tese de Doutorado. São Paulo: Instituto de Artes, Universidade Estadual de Campinas. Tufte, E. R. 2002. Visual explanations: images and quantities, evidence and narrative. Connecticut: Graphic Press.