CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC Elizabeth Maria Kuhnen Lourdes Alves de Souza Marcos Vinicius Moura e Silva A Organização em Rede na Perspectiva da Gestão do Conhecimento A aprendizagem mediada como estratégia para intervir no desenvolvimento de cultura colaborativa São Paulo 2005 ELIZABETH MARIA KUHNEN LOURDES ALVES DE SOUZA MARCOS VINICIUS MOURA E SILVA A Organização em Rede na Perspectiva da Gestão do Conhecimento A aprendizagem mediada como estratégia para intervir no desenvolvimento de cultura colaborativa Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Centro Universitário SENAC – Campus Consolação, como exigência parcial para conclusão do curso de Pós-Graduação Lato Sensu “Gerenciando a Informação para a Gestão do Conhecimento”. Orientador: Prof. Ms. Edson Costa São Paulo 2005 KUHNEN, Elizabeth Maria A organização em rede na perspectiva da gestão do conhecimento: a aprendizagem mediada como estratégia para intervir no desenvolvimento de cultura colaborativa / Elizabeth Maria Kuhnen, Lourdes Alves de Souza, Marcos Vinicius Moura e Silva – São Paulo, 2005. 73f. Dissertação (Pós-Graduação) – Centro Universitário SENAC. Orientador: Prof. Ms. Edson Costa Bibliografia 1. Gestão do conhecimento 2. Rede Social 3. Cultura 4.Gestão Estratégica 5. Organização que aprende I. Souza, Lourdes Alves de. II. Silva, Marcos Vinicius Moura e. IV. Título. V. A aprendizagem mediada como estratégia para intervir no desenvolvimento de cultura colaborativa. CDD 361.706 K9619o Alunos: Elizabeth Maria Kuhnen Lourdes Alves de Souza Marcos Vinicius Moura e Silva. Título: A Organização em Rede na Perspectiva da Gestão do Conhecimento: a aprendizagem mediada como estratégia para intervir no desenvolvimento de cultura colaborativa A banca examinadora dos Trabalhos de Conclusão em sessão pública realizada em 20/08/2005, considerou os candidatos: ( ) aprovados ( ) reprovados 1) Examinador(a)_____________________________________________________ 2) Examinador(a)_____________________________________________________ 3) Presidente________________________________________________________ AGRADECIMENTOS No círculo de nossas relações familiares agradecemos nossos pais, companheiros, filhos e irmãos que puderam aceitar e estimular o nosso esforço e compreender nossas ausências durante muitos sábados ensolarados. No circulo de nossas relações de amigos temos tanto para agradecer que não caberia nesta folha, e especialmente aos novos afetos que cultivamos durante o curso, fica o nosso mais significativo e sincero agradecimento. Nosso agradecimento especial à amiga Dani pela revisão e sugestões para aprimorar este projeto. No circulo das nossas relações educativas com nossos professores João, Edson, Rose, Ruy, Cirineu, Filipe, Claudia, Yara e Cristina D’Arce, agradecemos a contribuição significativa e a influência que exerceram na execução deste projeto. Ao nosso orientador Edson um agradecimento especial pela contribuição sincera, por ter nos ajudado a elucidar e priorizar nossas escolhas e principalmente pela mediação de nosso processo de construção do conhecimento. Todos se fizeram especiais e companheiros neste fazer, da construção do olhar em GC, que são todas as pessoas que fizeram parte desse momento nas nossas vidas. “Viver é afinar o instrumento, de dentro pra fora, de fora pra dentro“. Walter Franco RESUMO O presente trabalho aborda a Gestão do Conhecimento em uma estrutura organizacional em rede, na Rede Tecendo Futuro (RTF). Através da elaboração de um mapa estratégico, do levantamento e análise de dados da organização, verificou-se que o modelo de construção mental imediatista dificulta a plena realização da proposta inovadora das estruturas horizontais. A construção de um ambiente de aprendizagem a partir do desenvolvimento de planejamento estratégico e de habilidades e elementos de mediação significativos para os participantes da RTF será a base da proposta de intervenção. Sua finalidade é contribuir com o aprimoramento do aspecto colaborativo da cultura organizacional, romper com o modelo de construção mental imediatista e consolidar uma cultura coerente com os princípios de rede social. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Esquema 1: Mapa estratégico da RTF........................................................ 21 Quadro 1: Principais defasagens identificadas no diagnóstico da RTF...... 42 Quadro 2: As principais diferenças entre o diálogo e a discussão.............. 47 Esquema 2: O triângulo da arquitetura organizacional e o ciclo do 50 aprendizado profundo.................................................................................. Planilha 1: Planilha de custo de implantação ............................................. 59 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO...............................................................................................11 1. INTRODUÇÃO ........................................................................ .......................12 1.1. Contexto político e social da organização objeto de estudo .......................12 1.2. O conceito de Rede Social..........................................................................14 1.3. A organização objeto do estudo: Rede Tecendo Futuro...... .......................16 1.3.1. Missão e objetivos da RTF................................................ .......................17 2. DIAGNÓSTICO ....................................................................... .......................18 2.1. Mapa Estratégico.........................................................................................19 2.1.1. Mapa estratégico da RTF.................................................. .......................21 2.1.2. Leitura do mapa estratégico da RTF................................. .......................22 2.2. Levantamento de dados sobre a organização RTF ............ .......................24 2.2.1. Consulta de documentos ................................................. .......................24 2.2.2. Questionário ...................................................................... .......................28 2.2.3. Entrevista com lideranças ................................................. .......................29 2.2.4. Comunicação através do grupo eletrônico ........................ .......................30 2.2.5. Observações das reuniões................................................ .......................31 2.3. Possibilidades de caminho para esse projeto ...................... .......................32 2.4. Definição do problema desse projeto................................... .......................33 2.5. Justificativa para o problema levantado ............................... .......................33 2.6. Objetivos deste projeto......................................................... .......................35 2.6.1. Objetivo geral .................................................................... .......................35 2.6.2. Objetivo especifico ............................................................ .......................35 3. METODOLOGIA DO PROJETO DE PESQUISA ................... .......................36 4. ANÁLISE DE DADOS E PROPOSIÇÃO DE SOLUÇÃO ........ .......................38 4.1. Análise de ambiente de redes.............................................. .......................39 4.2. Análise de dados da RTF .................................................... .......................41 4.3. Proposição de soluções ....................................................... .......................48 5. METODOLOGIA DE IMPLANTAÇÃO DAS AÇÕES .............. .......................52 5.1. Etapas de implantação......................................................... .......................52 5.2. Indicadores........................................................................... .......................57 5.3. Análise de gasto................................................................... .......................58 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................... .......................60 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................... .......................62 APÊNDICE A – Pesquisa de opinião .......................................... .......................64 APÊNDICE B – Rede Tecendo o Futuro: roteiro para entrevista .......................65 APÊNDICE C – A nossa metodologia de aprendizagem ............ .......................66 ANEXO A – Carta Compromisso RTF ........................................ .......................69 ANEXO B – Regras de Convivência RTF ................................... .......................71 ANEXO C – Processo de Planejamento – 2004 ......................... .......................75 11 APRESENTAÇÃO Este projeto inicia-se com uma contextualização da organização objeto de estudo; abordando o panorama sócio-político que favoreceu o surgimento da estrutura de organização em rede; esclarecendo o conceito, os princípios e os tipos de redes sociais para salientar as diferenças significativas entre a estrutura de organização horizontal e a estrutura piramidal predominante no universo corporativo e; apresentando a organização escolhida - a Rede Tecendo Futuro (RTF) - através de seu histórico, categorização, composição, visão e objetivos. A seguir, a análise diagnóstica desta organização, partindo da estruturação do mapa estratégico, do levantamento de dados sobre a RTF e, posteriormente, da análise desses dados; identifica e justifica o foco desse projeto, propondo soluções e a metodologia de implantação das mesmas. 12 1. INTRODUÇÃO 1.1. Contexto político e social da organização objeto de estudo Após 21 anos sob um regime militar e autoritário, o ano de 1985 marcou o início da redemocratização do Brasil, simbolizada pelo processo de eleições diretas dos representantes dos poderes executivo e legislativo, ou seja, a democracia representativa. O direito de voto aos cidadãos significou um grande avanço no processo de participação popular, entretanto, ainda falta muito para garantir a todas as pessoas acesso igual aos benefícios assegurados pela Constituição, o que caracteriza um pleno regime democrático. Acreditamos que isso somente será possível pelo constante aperfeiçoamento da democracia representativa e, principalmente, da democracia participativa, entendida como a apropriação pelos cidadãos dos espaços de participação direta na vida política. Analisando esses 20 anos do processo de redemocratização, verificamos que o Estado do “bem estar social” - presente no regime autoritário e no início do período democrático - ao contrário do que pregava na década de 80, não conseguiu resolver os problemas sociais, desconsiderando questões básicas como falta de creches, alimentação básica, espaços de lazer e cultura, entre outras carências. Esse cenário mobilizou forças da sociedade civil que criaram os movimentos por moradia, associações de moradores, sociedades amigos de bairro, associações de creches; com o intuito de resolver problemas sociais e negociar com os governos as melhorias necessárias. A sociedade civil organizada começava a mostrar outras formas de solucionar seus próprios problemas, incentivando a abertura de negociações, marcadas muito mais por atitudes reivindicatórias do que propositivas. E, nesse contexto, foi se configurando o denominado Terceiro Setor, o conjunto das instituições sem fins lucrativos que, a partir do âmbito privado, contribui com propósitos de interesse público e desenvolve atividades com eventual impacto político, social, econômico e cultural. Contando basicamente com a boa vontade de um grupo de pessoas voluntárias, as iniciativas sofreram muitas dificuldades para sobreviver. O pouco profissionalismo dos gestores e a escassez de recursos 13 determinaram a necessidade de capacitação do terceiro setor para a sustentabilidade de seus projetos. Nesse período e até os dias atuais, algumas características do Terceiro Setor favoreceram o protagonismo social na tentativa de superar os problemas emergentes. Lutando por suas causas, as organizações sociais contribuíram para desenvolver e disseminar valores humanitários como solidariedade, colaboração e respeito ao próximo; base de uma cultura colaborativa emergente. Todos esses aspectos, de uma forma ou de outra, constituíram o pano de fundo para a evolução do processo democrático. A Constituição Nacional de 1988 firmou um dos grandes avanços da retomada democrática, pois promoveu, através do princípio da municipalização, um processo gradativo de descentralizar o poder de Estado. Esse aspecto foi fundamental para o surgimento de novos espaços de participação político-social da sociedade civil, como: conselhos (de orçamentos participativos, de parques, de segurança, de saúde, de representantes, tutelar, etc), conferências e fóruns. A década de 90 marcou o crescimento quantitativo desses espaços de participação político-social, bem como a consolidação do Terceiro Setor. Com esses avanços, a democracia participativa começou a ganhar força. A sociedade civil organizada passou a contribuir de forma marcante na definição e implantação de soluções para os problemas sociais. Atualmente, todo esse cenário aponta para a co-responsabilidade dos setores público, da iniciativa privada e da sociedade civil no desenvolvimento social. O conceito de responsabilidade social começa a definir a participação do setor privado nas atividades sociais. As empresas começam a investir recursos, definir e assumir causas estratégicas e até mesmo a criar associações e fundações próprias. O setor público, através de convênios, repassa recursos financeiros para as organizações do terceiro setor desenvolverem seus projetos, assumindo cada vez mais o papel de administrador e delegando o papel de executor para as entidades sociais. Algumas dessas instituições destacam-se por suas boas práticas e pela transparência de gestão, conquistando legitimidade e fortalecendo a autonomia em suas decisões. A complexidade dos problemas sociais, econômicos e ambientais, a escassez de recursos financeiros, a disseminação da cultura colaborativa e de parcerias entre os três setores e entre as próprias organizações do terceiro setor facilitaram o aparecimento da organização em rede como uma forma alternativa de relação entre 14 pessoas, entidades sociais e instituições públicas, cuja essência são os princípios democráticos. 1.2. O conceito de Rede Social No contexto político-social dos últimos anos, a sociedade brasileira vem se mobilizando no sentido de organizar grupos de discussão e atuação coletiva como as redes sociais, fóruns virtuais ou presenciais e listas de discussão pela internet. Entendemos a Rede Social como uma estrutura alternativa de organização, que estabelece relações de horizontalidade como forma de funcionamento e a busca do consenso como base para os processos decisórios. Reúne pessoas, organizações sociais e públicas em torno de um objetivo comum, sem que as partes percam autonomia e a identidade do trabalho das organizações que representam. Essa experiência geralmente é estimulada por uma necessidade ou problema comum e que demanda soluções conjuntas. A rede organiza-se por projetos e cada participante disponibiliza seus recursos ou competências de forma espontânea para que o propósito do coletivo seja alcançado. Os membros ativos participam do processo decisório e compartilham valores que sustentam a criação de uma nova cultura de colaboração. Desta forma, essa estrutura de organização caminha na direção de somar esforços e desenvolve comprometimento genuíno com formas de atuação capazes de responder à necessidade de desenvolvimento humano e social. As organizações da sociedade civil têm sido pioneiras na criação e manutenção de redes sociais, destacando-se como vanguarda na proposição do exercício da democracia participativa. Segundo a Rede de Informações para o Terceiro Setor (RITS)1, as redes têm sido saudadas, nas duas últimas décadas, como a mais significativa inovação humana no campo da organização da sociedade. Francisco Whitaker (2003), complementa: Nos anos oitenta, noventa, muitos movimentos sociais de diferentes tipos assumiram realmente esta proposta de não ter pirâmides de direção, comandos unificados, mas de ter direções colegiadas. Na minha opinião, é a partir dessa base que foi surgindo esta forma de organização em rede. 1 http://www.rits.org.br. 15 As redes sociais surgem como uma organização estratégica e política para estimular iniciativas de compartilhamento de idéias e experiências, articular políticas públicas e implementar ações conjuntas. A partir das considerações de Whitaker (1993) e Martinho (2002), os elementos fundamentais para a configuração de uma rede social são: a democracia, a horizontalidade, a livre circulação de informações, o objetivo comum, a participação espontânea e consciente, a construção ativa de um projeto coletivo, o respeito e o consenso. As redes assumem papel preponderante na formação de cultura colaborativa, em contrapartida à cultura competitiva predominante. Essa cultura emergente se forma através da prática de valores cooperativos. Whitaker (1993, p. 5) constata o ambiente favorável das redes sociais para o exercício desses valores: Tanto as redes como as pirâmides funcionam melhor se entre seus membros se aprofundar a colaboração, a solidariedade, a ajuda mútua, a transparência e a co-responsabilidade. Estas condições se desenvolvem, no entanto mais facilmente em estruturas horizontais do que em estruturas piramidais. O exercício da liberdade, responsabilidade e democratização da informação, que a lógica das redes desenvolve, ajuda a mudar, nos seus participantes, os padrões de dominação, competição, autoritarismo e manipulação que a cultura dominante introjeta em cada um de nós; uma prática nova que reeduca – embora essa reeducação possa ser um processo lento de superação dos hábitos, métodos e perspectivas que nos cercam de todos os lados, continuamente. Essa mudança cultural diz respeito ao aspecto educativo do processo de formação de uma rede, que deve levar em consideração os padrões de aprendizagem de seus participantes, na maioria das vezes formados em um ambiente não democrático e em uma cultura predominantemente individualista e competitiva. Essa consideração é fundamental para melhor compreender o paradigma a ser superado no aprimoramento da cultura colaborativa. Por outro lado, o aspecto organizativo da rede busca, através da horizontalidade, desconcentrar o poder. “O poder numa rede pertence a todos os seus integrantes. Ele é o poder conjunto de todos que a integram”, conforme Whitaker (1993, p. 6). Nessa forma alternativa de organização todos são iguais, todos têm a mesma possibilidade de iniciativa, todos são sujeitos de sua ação e coresponsáveis pela atitude organizacional, sempre numa perspectiva de liberdade. Mas, pode haver uma distribuição de funções, pois as redes não acontecem de forma totalmente espontânea e desorganizada. Esses papéis são definidos pelos 16 participantes e decididos conjuntamente. As redes normalmente possuem algumas características comuns: são abertas, não restringindo a participação das pessoas interessadas; não possuem constituição jurídica e; podem ser classificadas a partir de alguns aspectos, como virtual ou presencial; temática ou ampla; local, regional, nacional ou internacional. A RITS relaciona três categorias de redes no Terceiro Setor: redes temáticas ou de identificação, redes regionais e redes organizacionais. 1.3. A organização objeto do estudo: Rede Tecendo Futuro A Rede Tecendo o Futuro (RTF) é uma rede temática, ou seja, concentra suas discussões e ações em uma causa específica; no caso, a defesa de direitos de crianças e adolescentes. Ela se origina no contexto do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei Federal no 8.069/90, que co-responsabiliza a família, a comunidade, a sociedade em geral e o Poder Público na prioridade da efetivação dos direitos e da promoção do desenvolvimento humano e social das crianças e dos adolescentes, tornando imprescindível a formação de espaços de mobilização e articulação. Em julho de 2001, a RTF começou a se organizar, durante e logo após a Conferência Regional dos Direitos da Criança e do Adolescente, atendendo a expectativa de entidades e cidadãos da Região Oeste de São Paulo preocupados com a questão da infância e juventude. A RTF é formada por representantes de organizações da sociedade civil de atendimento direto a crianças e adolescentes nas áreas de educação, saúde e medidas sócio-educativas (escolas públicas e particulares, projetos de educação complementar à escola, projetos de extensão universitária, agentes comunitários de saúde, etc) e; segmentos do poder público, como a Coordenadoria de Assistência Social, a Coordenadoria de Educação, e o Conselho Tutelar da região, órgão previsto no ECA. Também é intenção de seus membros a participação crescente de adolescentes e jovens, vinculados ou não às organizações participantes. A RTF configura um espaço representativo de diversos segmentos da sociedade relacionados à causa da criança e do adolescente. Mas, além de ser 17 representativo, caracteriza-se por um espaço de participação direta aberto a todos os cidadãos interessados, onde princípios da democracia participativa estão presentes, como a busca de consenso; direito igual de fala a todos os participantes; construção coletiva; participação livre; soberania da plenária; circulação ampla de informações. Esses princípios e práticas favorecem o desenvolvimento de uma cultura colaborativa. 1.3.1. Missão e objetivos da RTF De acordo com a sua Carta Compromisso2 (Anexo A), elaborada coletivamente durante o 2o semestre de 2003, a RTF tem os seus princípios baseados na Declaração Universal dos Direitos Humanos, na Convenção Internacional dos Direitos da Criança e no Estatuto da Criança e do Adolescente. Sua missão e objetivos são assim explicitados: A RTF tem como fim último a valorização da vida, através de condições que favoreçam o pleno desenvolvimento pessoal e social de todas as Crianças e Adolescentes, entendendo que estas são prioridade absoluta em relação as (sic) políticas públicas e aos cuidados da sociedade. Nesse sentido, a RTF objetiva: • Divulgar o E.C.A. na Região Oeste; • Promover atividades ou ações que qualifiquem os profissionais, que trabalham direta ou indiretamente com Crianças e Adolescentes na região Oeste, sobre o E.C.A. • Promover a integração em rede de entidades e organizações (governamentais e não governamentais) que trabalhem com Crianças e Adolescentes na região; • Estar presente nos espaços de discussão e atuação na área da Infância e Adolescência, organizados pela sociedade civil, em nível local, municipal e estadual; • Estar presente em atividades e eventos que reflitam a condição dos Direitos da Criança e do Adolescente; • Promover ações na linha da defesa de Direitos da Criança e do Adolescente; • Refletir, propor e fiscalizar a aplicação de políticas públicas referentes à área da Infância e Adolescência, prioritariamente na Região Oeste. 2 O documento do Anexo A foi alterado em relação ao nome verdadeiro da organização para um nome fictício a fim de preservar a identidade da rede. 18 2. DIAGNÓSTICO Segundo Inojosa (1999, p. 115), as redes de compromisso social “têm surgido na sociedade como uma forma de abordar questões sociais complexas, cujo equacionamento não tem sido exitoso quer por organizações isoladas, quer pela ação do Estado”. Esse contexto de origem da estrutura em rede é apenas um aspecto de um quadro mais amplo de uma época de transição. Segundo Filipe Cassapo3, estamos vivendo a “esquizofrenia da transitoriedade” porque usamos “conceitos do passado para olhar o novo”4. Senge (2003, p. 11) afirma que estamos vivendo “em uma era de enormes mudanças institucionais, talvez sem precedentes desde o início da Era Industrial”, que se caracteriza como “uma era de ‘águas espumantes permanentes’” (idem, p.13). O termo “Sociedade do Conhecimento”, cunhado por Peter Drucker e citado por alguns autores (CHOO, 2003; NONAKA; TAKEUCHI, 1997) é uma referência para explicar a importância do conhecimento na nova economia ou sociedade. Nessa época de incertezas, o conhecimento ganha papel de destaque como “o único recurso econômico significativo da sociedade pós-capitalista, ou sociedade do conhecimento” (DRUCKER apud CHOO, 2003, p. 28); reconhecido “como um ativo corporativo” (DAVENPORT; PRUSAK, 1999, p. 14) e “uma vantagem sustentável” (idem, p. 20). Ao longo da década de 90 surgem termos e teorias relacionadas ao conhecimento, como a organização do conhecimento, a organização que aprende, a teoria da criação do conhecimento organizacional, cinco modos de se gerar o conhecimento; apenas para citar algumas das mais importantes. Nesse contexto complexo, o conhecimento e, consequentemente, sua gestão, tornaram-se aspectos estratégicos para qualquer instituição. Dessa forma, o olhar para a organização objeto desse estudo utilizará a “lente” da Gestão do Conhecimento, buscando oportunidades de aplicação das teorias citadas para alavancar a evolução da RTF. 3 Professor convidado do curso de pós-graduação “Gerenciando a informação para a gestão do conhecimento” do Centro Universitário Senac e gerente DCDO-Gestão do Conhecimento da Votorantin. 4 Termo proferido em aula ministrada no dia 08/06/05, no curso de pós-graduação “Gerenciando a informação para a gestão do conhecimento” do Centro Universitário SENAC. 19 Para realizar o diagnóstico com foco em Gestão do Conhecimento foram relacionados os principais objetivos e processos da RTF em um mapa estratégico. As características observadas descritas no levantamento de dados complementam as informações básicas desse item. O mapa estratégico e o levantamento de dados foram elaborados através de consultas a documentos oficiais, da participação e observação de três reuniões, da aplicação de questionário (ver modelo do questionário no Apêndice A) para 50% dos participantes da RTF, de entrevistas (ver roteiro de entrevista no Apêndice B) com três lideranças do grupo, do acompanhamento do grupo eletrônico e de uma entrevista de foco histórico com um representante da RTF. 2.1. Mapa estratégico Segundo Kaplan e Norton, seus idealizadores, o mapa estratégico é a “representação visual das relações de causa e efeito entre os componentes da estratégia de uma organização” e constituí-se no “elo perdido entre a formulação e a execução da estratégia” (KAPLAN; NORTON, 2004, p.10). Além disso, por ser uma representação gráfica, o mapa estratégico pode ser uma importante ferramenta de comunicação entre todos os colaboradores da organização, permitindo compartilhar os objetivos estratégicos e visualizar a importância de cada indivíduo para agregar valor e ajudar a atingir os resultados almejados pela organização. O modelo básico de mapa estratégico proposto por seus criadores compõese de quatro perspectivas: aprendizado, interna ou processos, clientes e financeira. A perspectiva financeira e a de clientes descrevem os resultados que a organização espera atingir. As perspectivas de aprendizado e interna representam os processos críticos que mostram como a organização impulsionará e implementará a estratégia, criando e sustentando valor agregado, aumentando a produtividade e preservando o funcionamento da organização (KAPLAN; NORTON, 2004). Para a formulação do mapa, considerando a natureza da organização objeto desse estudo, foi necessário verificar a coerência da nomenclatura das perspectivas propostas por Kaplan e Norton e a definição de proposições coerentes com a estrutura organizacional em rede e a sua finalidade social. 20 As perspectivas de aprendizado e processos foram mantidas, pois pessoas, conhecimentos e processos são fundamentais para realizar qualquer atividade e também estão presentes na estrutura organizacional da RTF. A perspectiva de cliente presta–se às relações de mercado, primordialmente por sua característica de compra e venda. Como essa relação não existe numa organização em rede do tipo analisado nesse estudo, fez-se necessário buscar outro nome para designar adequadamente as relações entre as organizações sociais e outras instâncias políticas. Nomear de perspectiva de relações ampliaria muito a abrangência, assim classificar essa perspectiva de organizações melhor definiu o componente agregador das relações. Da mesma forma, como não há retorno financeiro do investimento em projetos da RTF não faria sentido usar a perspectiva financeira. Nesse caso verificase que o resultado dos projetos visa à melhoria de condições de vida para a comunidade. A relação proposta é de que tais mudanças correspondem ao retorno dos investimentos. Portanto definir para essa perspectiva o nome de comunidade designando o âmbito onde os benéficos acontecem, aplica-se mais adequadamente para mostrar essa relação. Como representação visual da estratégia, de acordo com Kaplan e Norton (2004, p. 57) o mapa estratégico mostra “numa única página como os objetivos nas quatro perspectivas se integram e combinam para descrever a estratégia”. Devido a esse potencial, o mapa será utilizado nesse projeto para auxiliar no diagnóstico da organização e facilitar a visualização de possíveis focos de intervenção para a aplicação de princípios de Gestão do Conhecimento. 21 2.1.1. Mapa estratégico da RTF Comunidade Acompanhar e influenciar políticas públicas Melhorar as condições para o desenvolvimento pleno das crianças e adolescentes da região oeste Fortalecer Organizações que trabalham com criança e adolescente Promover parcerias Organizações Contribuir para a formação política de jovens (ECA). Lideranças comunitárias e instituições Manter e ampliar o número de participantes Processos Elaborar planejamento anual Aprendizado Desenvolver cultura colaborativa / mediada Implantar Carta Compromisso e regras de convivência - Funcionamento da rede Estimular a comunicação por grupo eletrônico Desenvolver o exercício da democracia participativa Esquema 1. Mapa estratégico da RTF Definir uma rotina de reunião presencial Mobilizar governo local, organizações e seus recursos para a execução de projetos Dividir o trabalho em comissões permanentes Estimular e facilitar o compartilhamento de experiências e conhecimentos Planejar ações e projetos Conhecer, interpretar e aplicar o Estatuto da Criança e Adolescente 22 2.1.2. Leitura do mapa estratégico da RTF A leitura do mapa estratégico da RTF, a partir da perspectiva comunidade, aponta que para melhorar as condições de desenvolvimento pleno das crianças e adolescentes da região é necessário acompanhar e influenciar políticas públicas, fortalecer as organizações que trabalham com criança e adolescente, promover parcerias entre as organizações e contribuir para a formação política de jovens, lideranças comunitárias e instituições; objetivos estratégicos que estão na perspectiva das organizações. O acompanhamento e a possibilidade de influenciar as políticas públicas depende e favorece o fortalecimento das organizações que trabalham com crianças e adolescentes, que, por sua vez, ao estarem participando da RTF, necessitam de um eficaz funcionamento, da manutenção e ampliação do número de participantes da RTF para se fortalecerem, além da própria capacidade e interesse das organizações em promover parcerias, o que, a princípio, a participação em um espaço como a RTF facilita. Para promover parcerias entre as organizações também é necessária a manutenção e ampliação do número de participantes da RTF, bem como, mobilizar o governo local, as organizações e seus recursos para a execução de projetos. Por sua vez, a mobilização e execução de projetos são a base para contribuir com a formação política de jovens, lideranças comunitárias e instituições. As parcerias entre as organizações podem auxiliar na formação política de jovens, lideranças comunitárias e instituições e a formação política pode alavancar a promoção de parcerias. Para manter e ampliar o número de participantes da RTF é necessário um estratégico funcionamento da RTF. Na perspectiva de processos, o funcionamento da RTF depende de elaborar um planejamento anual, estimular a comunicação por grupo eletrônico, definir uma rotina de reunião presencial e um processo de divisão do trabalho. A mobilização do governo local, das organizações e seus recursos para a execução de projetos depende do planejamento de ações e projetos, que está diretamente relacionado ao funcionamento da RTF e depende da perspectiva do aprendizado. Os quatro requisitos que determinam o funcionamento da RTF devem ser 23 coerentes com o objetivo de desenvolver o exercício da democracia participativa, que por sua vez ocorre a partir do desenvolvimento de uma cultura colaborativa e da relação direta com a capacidade de estimular e facilitar o compartilhamento de experiências e conhecimentos. A cultura colaborativa também estimula e facilita o compartilhamento de experiências e conhecimentos e, por se tratar de uma rede temática, as experiências e conhecimentos estarão diretamente relacionados ao potencial dos participantes da RTF em conhecer, interpretar e aplicar o Estatuto da Criança e do Adolescente, que também é a base para que a RTF possa planejar suas ações e projetos. Fazendo a leitura do mapa de baixo para cima, ou seja, a partir da perspectiva aprendizado, a capacidade da RTF de desenvolver uma cultura colaborativa irá desenvolver o exercício da democracia participativa e estimular e facilitar o compartilhamento de experiências e conhecimentos. Quanto mais as pessoas aprenderem a exercitar a democracia participativa, mais estarão propensas a compartilhar experiências e conhecimentos, bem como, nesse compartilhar também se exercita a democracia participativa. Conhecer, interpretar e aplicar o Estatuto da Criança e do Adolescente sustenta o tema da RTF, portanto, as experiências e conhecimentos serão compartilhados basicamente nesse contexto e possibilitarão um crescente aprendizado coletivo sobre a questão da infância e adolescência. Esse aprendizado possibilita planejar ações e projetos consistentes para mobilizar o governo local, as organizações e seus recursos na execução dos mesmos. Essa mobilização a partir de projetos consistentes facilita as parcerias entre as organizações e, conseqüentemente, o fortalecimento das mesmas. A possibilidade de parcerias entre as organizações também é maior com uma manutenção e ampliação dos participantes da RTF. O desenvolvimento dos projetos e de parcerias irá contribuir para a formação política de jovens, lideranças comunitárias e instituições. A ação em parcerias e a formação política estão co-relacionadas e contribuem com o resultado para a comunidade de melhorar as condições do desenvolvimento pleno das crianças e adolescentes da região. Da mesma forma, o aprendizado do exercício da democracia participativa irá influenciar os processos básicos de funcionamento da RTF, tornando-os significativos e legítimos para os participantes. A partir de seu funcionamento, a RTF 24 poderá planejar suas ações e projetos, bem como manter e ampliar o número de seus participantes e fortalecer as organizações. Sustentadas e fortalecidas pela manutenção e ampliação do número de participantes da RTF, as organizações se tornam mais aptas para realizar seus trabalhos e promover parcerias e, também, mais articuladas para acompanhar e influenciar políticas públicas. Conseqüentemente, o resultado da perspectiva comunidade proposto pela RTF aparece. 2.2. Levantamento de dados sobre a organização RTF Nessa parte do diagnóstico, apresentamos um relato do que foi verificado nos documentos oficiais, nos questionários respondidos, nas entrevistas com lideranças e na comunicação através do grupo eletrônico; enriquecidos com nossas observações de três reuniões presenciais e com informações da história da RTF coletadas através de entrevista com um de seus participantes. 2.2.1. Consulta de documentos Os documentos consultados foram a Carta Compromisso da RTF (Anexo A), as Regras de Convivência da RTF (Anexo B) e o Processo de Planejamento 2004 (Anexo C). Os dois primeiros documentos foram elaborados ao longo do segundo semestre de 2003, o último em janeiro de 2004. Esse período marca um esforço dos participantes em organizar e planejar o funcionamento e as ações coletivas da RTF. Segundo o participante da RTF que contou a história da mesma desde sua criação, as discussões que permearam a elaboração desse material foram cansativas e exploraram pouco o aspecto conceitual e de entendimento do próprio Estatuto da Criança e do Adolescente. Na época, muitos jovens estavam envolvidos e, a natureza e forma de condução desse processo podem tê-los afastados. Segundo a mesma fonte, o Processo de Planejamento 2004 foi finalizado por um 25 grupo restrito de participantes e não teve uma disseminação plena. Nas reuniões acompanhadas, entre maio e julho de 2004, não observamos a utilização do Plano de Ação 2004 (Anexo C) como referência para direcionar as discussões e decisões. A Carta Compromisso da RTF (Anexo A) explicita seu alinhamento com os princípios de uma rede social e da democracia participativa, conforme trecho a seguir: ... é uma organização informal sem fins lucrativos, não hierarquizada e, antes de tudo, um espaço aberto para o exercício da democracia participativa. Logo, é um espaço suprapartidário, sem distinção de sexo, cor, credo religioso ou político, etnia, faixa etária ou condição social. A Rede Tecendo o Futuro tem, principalmente, o compromisso com a construção de uma sociedade ética, fraterna, livre, plural e justa. Tendo, portanto, respeito ao trabalho cooperativo e solidário como instrumento de potencialização das capacidades e de superação das limitações de seus membros; assim como respeito à identidade, à autonomia e à dinâmica de cada membro. Além disso, baseia-se em outros documentos, reconhecidos internacionalmente: a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Convenção Internacional dos Direitos da Criança e o Estatuto da Criança e do Adolescente. No entanto, no cotidiano de funcionamento da RTF, não observamos a citação e a utilização dos mesmos tanto como referência para o rumo das ações como para o aspecto formativo de seus participantes. A exceção, embora não tenhamos observado diretamente, é o Grupo de Formação da RTF. Nas Regras de Convivência da RTF, o espaço de formação é previsto como Comissão Permanente de Planejamento e Formação, que, dentre algumas de suas funções, “proporá palestras, seminários e eventos culturais para cativar a comunidade, fazendo com que esta conheça e participe da RTF. Como também garantindo o processo de formação sobre a temática da criança e adolescente aos seus componentes”. Até o final do ano de 2003 muitos adolescentes e jovens participavam da RTF. No entanto, esses jovens foram deixando de comparecer às reuniões; alguns por ingressar no ensino superior e/ou por motivo de trabalho. Os demais mantiveram uma participação quase que exclusiva no Grupo de Formação, deixando de trazer informações para os encontros presenciais da RTF sobre esse processo. Embora os participantes da RTF tenham se empenhado bastante na construção das Regras de Convivência, criando uma estrutura organizada de 26 trabalho, a mesma não vem tendo uma adesão pelos mesmos. No início de 2004, uma das principais lideranças e referência para o grupo de jovens se afastou das reuniões da RTF por questões pessoais. Houve então uma ruptura no espaço comum compartilhado por adultos e adolescentes. O espaço de formação, previsto como Comissão Permanente e não exclusivo para os jovens, transformou-se em um Grupo de Formação constituído pela liderança citada e pelos adolescentes remanescentes; um espaço de encontros semanais, aberto, mas que até o momento não mobilizou os participantes adultos da RTF e segue paralelamente ao trabalho da RTF. Em meados de 2004, observamos que, em função das ações planejadas, os adolescentes foram retornando e vinculando-se novamente ao trabalho como um todo. Verificamos que uma das particularidades da RTF é compor-se de adolescentes e adultos compartilhando o mesmo ideal e comprometidos com a mesma causa. No entanto, essa convivência nem sempre atende aos anseios do Grupo de Formação e da RTF como um todo. O ambiente é complexo nesse sentido. Se por um lado a RTF tenta alcançar um objetivo estratégico, garantir a participação ativa desses jovens e cuidar do processo de formação dos mesmos a partir do ECA; por outro, as divergências e conflitos se manifestam no fazer cotidiano, na forma de pensar, de organizar e conduzir os processos, em função, muito provavelmente das diferentes visões, das experiências, da linguagem e expectativas; gerando desconforto e distanciamento de grande parte desses jovens. Outro importante aspecto da estrutura de trabalho diz respeito às reuniões ordinárias, que são a última instância consultiva e decisória da RTF. As reuniões acontecem uma vez por mês com duração de 3 horas. Em relação ao formato dessas reuniões, as Regras de Convivência5 (Anexo B) estabelecem que: Quanto ao formato das reuniões ordinárias, elas devem contemplar as seguintes preocupações em sua dinâmica: a) Integração: importante para descontrair, conhecer, assim como adquirir confiança entre os membros da RTF; b) Tema Central - Discussão/Análise: será o principal tema a ser aprofundado pelo grupo. A discussão poderá ser feita em grupos ou coletivamente, de acordo com a necessidade; 5 O documento do Anexo B foi alterado em relação ao nome verdadeiro da organização para um nome fictício a fim de preservar a identidade da rede. 27 c) Encaminhamentos: é o fechamento da discussão. Deverá ser feito sempre em plenária para que esta delibere sobre o assunto; d) Sugestões para a pauta: poderão ser encaminhadas à comissão de planejamento, que organizará, com antecedência, a próxima reunião; e) Informes: espaço garantido ao final de cada reunião para trocas de experiências, avaliações, dicas, etc. Essa ordem não foi rigidamente seguida nas reuniões observadas. Os três encontros iniciaram com a dinâmica de integração, mas segundo o entrevistado sobre a história da RTF, isso não ocorre sempre e, na maioria das vezes, inicia-se com uma breve apresentação dos participantes, partindo-se posteriormente para os informes ou para a definição da pauta da reunião. A pauta pode ser definida no encontro anterior, através de mensagens pelo grupo eletrônico e, geralmente, não são organizadas com antecedência por uma comissão ou mesmo pela pessoa que fará a coordenação da reunião. Considerando essa estrutura das reuniões e os momentos em que houve dinâmica de integração, observamos um clima de afetividade, cordialidade e cooperação entre os presentes; com os participantes antigos demonstrando abertura para receber novos membros, característica essencial para a continuidade de uma rede. Quanto às funções durante as reuniões, as Regras de Convivência definem que: As reuniões ordinárias deverão ter sempre um (a) coordenador(a); um(a) relator(a), responsável pela ata; um(a) secretário(a), responsável pelas inscrições, pela coleta e distribuição de materiais e registros. O coordenador deverá ser escolhido em assembléia, por um período fixo de três meses. As demais funções deverão ser preenchidas por reunião, também em decisão coletiva. Nas observações das reuniões de maio a julho de 2004 da RTF, verificamos três atuações distintas de coordenadores. A função de coordenar tem um caráter organizativo, de fazer cumprir a tarefa proposta pelos participantes. Fica a cargo do coordenador dar início à reunião, cuidar que tenha um relator e um secretário e conduzir a pauta pré-estabelecida. O cumprimento da norma que define o rodízio trimestral do coordenador foi observada somente na reunião de maio, que fechou um ciclo de quatro encontros com o mesmo coordenador. Para o mês de junho definiu-se uma coordenadora, que não pode estar presente na reunião e, a partir disso, o coordenador foi escolhido, 28 em junho e julho, na hora do encontro. As funções citadas foram definidas espontaneamente e sem necessidade de consulta formal à assembléia. 2.2.2. Questionário O questionário denominado Pesquisa de Opinião (Apêndice A) foi elaborado e aplicado para verificar o entendimento dos participantes e a coesão em relação à visão, missão e objetivos da RTF. Em segundo plano, verificou a relação de contribuição entre a RTF e a organização representada por cada participante. O questionário foi respondido por dez participantes da RTF presentes na reunião de junho de 2004 (50%), representando dez instituições diferentes. A visão da RTF não é claramente mencionada em seu principal documento, a Carta de Compromisso, a qual caracteriza mais a missão, os objetivos e princípios da RTF. Através do questionário (questão 1), verificamos que 70% responderam relacionando a visão ao cumprimento, consolidação e respeito aos direitos das crianças e dos adolescentes, mais especificamente, ao Estatuto da Criança e do Adolescente. Considerando que o ECA é uma Lei Federal que vigorava, à época da aplicação do questionário, há 14 anos, verificamos que os participantes percebem uma defasagem acentuada entre a lei e sua prática. Dos participantes pesquisados, 20% responderam que a visão está relacionada a uma sociedade democrática, igualitária e justa. Quanto à missão e aos objetivos, verificados através das respostas à questão 2, constatamos que 70% também relacionam ao ECA, mas de uma maneira mais prática do que em relação à questão 1; com um sentido de divulgação, formação, mobilização, conhecimento e aplicação prática do Estatuto nas ações que ocorrem na região. De maneira geral, observamos que a missão e objetivos demonstrados nas respostas estão em consonância com a Carta de Compromisso da RTF, embora não tenham abarcado todos os objetivos relacionados na mesma. 29 2.2.3. Entrevista com lideranças Buscando compreender melhor o entendimento da RTF sobre o papel e as competências de um coordenador e sobre a prioridade e funcionamento da RTF em relação a ser um espaço de aprendizado e formação ou um espaço produtivo e de ação, entrevistamos três lideranças da RTF durante o segundo semestre de 2004 (Apêndice B apresenta o roteiro de entrevista). Verificamos que não há um consenso sobre a prioridade que o espaço da RTF representa. Para um entrevistado significa um espaço de formação em relação ao ECA, complementando o que deveria ser o papel do Estado. Para outro, representa um momento de compartilhar experiências, informações e conhecimento; um espaço de pesquisa e mapeamento da realidade da região em relação à questão da infância e juventude e, também; um espaço de mobilização, sobretudo, de jovens. Para o outro entrevistado, significa um espaço de formação de cidadania e de valores coletivos, bem como, uma oportunidade de prática desses mesmos valores. Quanto ao papel do coordenador, há certo consenso de que é uma função organizativa da reunião. No entanto, alguns detalhes citados diferenciam consideravelmente esse papel. Para um dos entrevistados, o coordenador também é um articulador entre uma reunião e outra, devendo acompanhar os encaminhamentos deliberados em plenária e informar os participantes na reunião seguinte. Para outro, o papel se restringe mais ao momento do encontro, podendo o coordenador ser escolhido no início do mesmo, sendo que a RTF como um todo deve assumir e dividir as responsabilidades por todas as ações. O outro entrevistado coloca o coordenador como parte de uma questão mais ampla de organização e metodologia necessárias para a prática dos valores cidadãos e coletivos, que devem prevalecer em relação aos interesses individuais. Quanto às competências necessárias para coordenar a reunião presencial, também há certo consenso, mas fica claro que essas competências serão usadas com o fim de caracterizar o espaço da RTF e o papel do coordenador que cada um dos entrevistados percebe e foram citados anteriormente. As principais competências citadas foram: ser participativo na RTF; conhecer o grupo de participantes, os objetivos da RTF e, minimamente, a temática da criança 30 e adolescente; possuir habilidades de comunicação e argumentação, como se fazer entender em suas falas, sintetizar as falas dos demais, ouvir todos com a mesma atenção e estabelecer relações entre o que foi dito; possuir capacidades para operacionalizar o momento da reunião, organizando o tempo dos itens da pauta e das falas, mantendo o foco no assunto, mas tendo sensibilidade caso surja algum ponto importante e, fazendo os encaminhamentos coletivos e deliberativos necessários. Todos os entrevistados também concordaram que não é fácil possuir todas essas competências e, para dois deles, coordenar uma reunião também é uma experiência de formação e um desafio individual que necessita da compreensão e colaboração dos demais participantes da RTF. 2.2.4. Comunicação através do grupo eletrônico O grupo eletrônico parece ser a ferramenta de comunicação interna mais importante e ativa da RTF. O fluxo de informação que ocorre por meio eletrônico serve para socializar informações, aprofundar discussões sobre temas de interesse comum e permitir a participação intensa e contínua de todos os membros da RTF, inclusive daqueles que não podem comparecer periodicamente às reuniões. O registro das reuniões, feito pelo relator, é enviado eletronicamente para todos os membros da RTF, possibilitando que encaminhamentos e ações ocorram e sejam acompanhados continuamente. Isso demonstra e favorece um maior comprometimento dos participantes e das organizações as quais representam, não somente com a participação na reunião mensal, mas com um processo mais contínuo em defesa dos direitos e do pleno desenvolvimento das crianças e adolescentes, o objetivo maior da RTF. Durante o ano de 2004 foram compartilhados 498 e-mails, uma média de 41,5 mensagens por mês. Ao final do ano, 75 participantes estavam cadastrados no grupo eletrônico da RTF. 31 2.2.5. Observações das reuniões Algumas das observações feitas sobre as três reuniões acompanhadas - de maio, junho e julho de 2004 - serviram como complemento às fontes anteriores de diagnóstico. No entanto, alguns pontos adicionais são relevantes para melhor compreensão do funcionamento da RTF. A média de presença nas reuniões foi de dezessete pessoas, sendo quinze adultos e dois jovens. Em média, 85% dos participantes representaram instituições e 15% corresponderam a participações individuais. O ponto central da pauta desses encontros foi a organização da “III Semana do Estatuto da Criança e do Adolescente”, principal ação de divulgação do ECA realizada pela RTF. Observamos que o evento contribui com os objetivos declarados na Carta Compromisso da RTF (Anexo A), que são objetivos gerais. No entanto, verificamos que os próprios participantes da RTF manifestam alguns questionamentos: “o que queremos com a Semana do ECA?”; “como mobilizar a participação das escolas?”; “qual o público que queremos atingir?”; “porque algumas organizações não estão mais participando?”, “como garantir a participação dos adolescentes?”. Embora surjam essas questões, verificamos que a RTF acaba priorizando a operação e os encaminhamentos pontuais, por vezes, em prejuízo do aprofundamento de discussões e do desenvolvimento de análises estratégicas para o objetivo maior da RTF. Em geral, nesses momentos, o coordenador não se distingue do grupo e se limita a garantir o retorno ao ponto central da pauta. 2.3. Possibilidades de caminhos para esse projeto A partir do levantamento de dados e da estruturação do mapa estratégico, verificamos algumas necessidades e possibilidades de intervenções nos seguintes aspectos da RTF: a) A relação entre adolescentes e adultos, e como compartilhar as experiências, competências e potencialidades desses participantes, 32 praticando com mais coerência na própria RTF o que está previsto no ECA; b) O processo de formação dos jovens e adultos a partir do ECA; c) A potencialização das relações e articulações entre as organizações participantes, e um maior compromisso das organizações com a RTF; d) O desenvolvimento de parcerias entre sociedade civil e poder público local; e) O desenvolvimento de competências de mediação; f) A definição de visão estratégica alinhada ao planejamento, execução e avaliação das ações da rede em função da missão e objetivos descritos na Carta Compromisso (Anexo A); g) A mudança de cultura imediatista para a cultura mediada com a finalidade de potencializar a cultura colaborativa e os processos de aprendizagem dos participantes da RTF. Analisando esses pontos em relação ao que é estratégico para a sobrevivência da RTF, escolhemos intervir no aspecto de mudança cultural, compreendendo que esse ponto relaciona-se com os outros aspectos, porque ao mudar cultura é um processo que alavanca melhorias nos demais. Uma transformação cultural perdura e é de difícil reversão. No entanto, a intervenção na cultura também é mais difícil e complexa. Por isso, a utilização de pontos mais concretos e de forte relação com a cultura é estratégica para a intervenção desse projeto. Os aspectos de relação mais direta com o foco escolhido são: o desenvolvimento de competências de mediação (item “e”) e o processo de planejamento estratégico (item “f”). A relação entre adolescentes e adultos (item “a”), ampliada como compreensão da diversidade dos participantes da RTF, também possui uma forte relação com o aspecto principal da intervenção. Os demais itens são objetivos estratégicos da RTF que serão alavancados por uma cultura colaborativa e mediada. O aspecto escolhido encontra-se no processo de desenvolver a cultura colaborativa/mediada da perspectiva de aprendizado, conforme assinalado no mapa estratégico. O caminho estratégico delineado serve de base para a descrição dos próximos itens desse projeto, bem como a relação entre esses tópicos facilitará a compreensão do aspecto estratégico da escolha. 33 2.4. Definição do problema desse projeto O funcionamento da RTF está baseado em uma cultura colaborativa, mas imediatista, o que a torna uma organização operante e com poucos processos reflexivos e avaliativos. O modelo de construção mental imediatista limita o aspecto colaborativo e, conseqüentemente, o desenvolvimento e a utilização das competências de seus participantes e da organização como um todo, não favorecendo a gestão estratégica. 2.5. Justificativa do problema levantado As redes sociais são potenciais espaços formativos, educativos e de transformação sócio-cultural. Devido a sua temática, a RTF necessita reforçar ainda mais essas características. Por isso, a valorização do processo de aprendizagem individual e coletiva é estratégica para a RTF. Conseqüentemente, é necessário criar, estimular e manter um ambiente propício para aprender e gerar conhecimento, o que demanda, no contexto estudado, uma cultura mediada e colaborativa. Esse ambiente propiciará uma autonomia para o grupo gerar conhecimentos significativos para seus participantes e, provavelmente, estratégicos para a RTF e sua causa. Esses novos conhecimentos provocarão constante aperfeiçoamento da sua organização, gestão, princípios, práticas, etc e; fortalecimento da cultura colaborativa. Esse aspecto é essencial para a RTF sobreviver e influenciar um ambiente que a rodeia e no qual predomina uma cultura competitiva e imediatista. Os princípios de participação democrática, horizontalidade nas relações e a comunicação ampla que norteiam a RTF oportunizam a criação de um espaço de cooperação e de aprendizagem contínua sobre o tema específico e sobre o processo de participação democrática. No entanto, esse espaço somente pode ser criado e mantido com a plena intencionalidade e uma prática reflexiva de seus participantes. A cultura de relação imediata com o mundo prioriza o fazer como sinal de avanço, dificultando a aprendizagem, a colaboração e o desenvolvimento de visão e planejamento estratégico, bem como a falta desses aspectos estratégicos de uma rede contribui com a manutenção da cultura imediatista. Uma mudança cultural é complexa e é preciso intervir em um foco mais 34 concreto e de curto prazo para, de forma consistente e contínua, gerar a mudança cultural de longo prazo. Na cultura imediata isso é impossível. Portanto, há necessidade de uma mediação. A relação de mediação é fundamental no sentido de cuidar e garantir o processo de participação democrática, ou seja, facilitar o diálogo e articular a discussão entre os participantes para a tomada de decisões, favorecendo a conscientização da capacidade coletiva de colaboração e de intervenção e, da comunicação de todos para todos. De forma concreta, essa mediação pode ser representada pelo coordenador da reunião, por um planejamento estratégico, pelos documentos norteadores da RTF, pelo ECA, pela comunicação através do grupo eletrônico, pelo contexto ou situação enfrentados e, principalmente, por um espaço que favoreça o diálogo e a discussão, equilibrando argumentação e indagação. Esses pontos são tangíveis para uma intervenção e podem alavancar uma transformação cultural mais profunda. A referência para a quebra da cultura imediatista será o desenvolvimento de uma gestão que contempla a construção e disseminação de uma visão estratégica, de uma missão e de valores, bem como a elaboração, execução e acompanhamento de um planejamento estratégico. Salientamos que todo esse processo será mediado pelos conceitos, princípios e práticas de “rede social”, de “democracia participativa”, de uma “organização que aprende” e de “espaço dialógico”. A utilização de ferramentas de análise e planejamento estratégico facilitará manter o foco e organizar as ações que mobilizem os participantes em torno de objetivos comuns. Além disso, o planejamento estratégico se transformará em um elemento mediador e servirá como referência para a discussão e o diálogo entre os participantes, aperfeiçoando continuamente a gestão estratégica da RTF. Dessa forma, encontramo-nos diante de uma oportunidade de aprimorar o ambiente de prática democrática e de aprendizagem. E esse espaço potencializará, além do conhecimento operacional que vem sendo produzido, a geração de conhecimento estratégico para a RTF atingir seus objetivos e ser uma referência da importância de estruturas em redes para a sustentabilidade da vida em comunidade. 35 2.6. Objetivos deste projeto 2.6.1. Objetivo geral Contribuir com o aprimoramento da cultura organizacional no aspecto colaborativo e com a transformação do modelo de construção mental imediato para o mediado visando à criação de um ambiente de aprendizagem e à geração de conhecimento significativo e estratégico para a RTF. 2.6.2. Objetivo específico Implementar ferramentas de análise e planejamento estratégico em um ambiente mediado e fundamentado por princípios e práticas de “rede social”, “democracia participativa”, “organizações que aprendem” e “espaço dialógico” tendo em vista aprimorar a gestão estratégica e favorecer o ambiente de aprendizagem da RTF. 36 3. METODOLOGIA DO PROJETO DE PESQUISA O primeiro passo da metodologia do projeto de pesquisa consistiu na escolha da organização objeto de estudo. Saindo do escopo do mundo corporativo, nos propusemos a estudar a Gestão do Conhecimento aplicada ao terceiro setor. Mas não escolhemos as organizações constituídas juridicamente; optamos por estudar uma estrutura organizacional em rede - uma rede social. Definido o contexto da pesquisa, algumas alternativas surgiram, tanto qual rede escolher, como que aspecto da rede estudar. A rede social escolhida foi uma rede temática, mas o segundo ponto necessitou de uma análise sobre: estudar a própria rede; uma organização representada na rede; a relação entre uma organização e a rede; a relação de parceria entre duas organizações representadas na rede. Nossa opção foi ter por objeto de estudo a própria rede. O segundo passo constituiu-se em conhecer a organização objeto de estudo e seu contexto. Para isso, solicitamos a um participante os principais documentos norteadores e uma entrevista sobre a origem e principais fatos históricos da RTF. A nossa participação nas reuniões e a inclusão no grupo eletrônico foram as estratégias seguintes para uma aproximação com os participantes e para entendimento do funcionamento da organização. Para a adequada apropriação sobre o contexto da RTF fizemos um levantamento bibliográfico sobre redes sociais. O terceiro passo caracterizou-se como a elaboração de um pré-diagnóstico e iniciou-se com a análise do conceito de redes sociais e da prática dos mesmos pela RTF, permitindo verificar as primeiras oportunidades de intervenção. Esses pontos geraram a necessidade de um levantamento bibliográfico a respeito de cultura e capital social. A partir dessas informações, principalmente dos documentos norteadores da RTF, começamos a estruturação do mapa estratégico da organização. Posteriormente, agregamos ao processo de montagem do mapa elementos de outras fontes de informações. Durante a elaboração do mapa estratégico surgiram dúvidas sobre a apropriação dos participantes da RTF em relação à missão e objetivos expressos nos documentos, bem como verificamos a falta de uma visão explícita da organização. Para esclarecer esses pontos, elaboramos e aplicamos um questionário para verificar o entendimento dos participantes em relação à missão e 37 objetivos da RTF e, a visão da organização compreendida por cada pesquisado. Como uma ação de complementação do diagnóstico fizemos a análise da RTF a partir da teoria de aprendizagem organizacional das cinco disciplinas (Peter Senge). O quarto passo foi a conclusão do diagnóstico. Partindo-se do prédiagnóstico, sistematizamos todas as informações consultadas (documentos, entrevista histórica, questionários, reuniões e grupo eletrônico) e concluímos o mapa estratégico da organização. O mapa estratégico possibilitou definir o foco de intervenção e os problemas e oportunidades relacionados. Para uma escolha estratégica do problema/oportunidade de intervenção verificamos a necessidade de informações complementares, o que nos levou à elaboração e aplicação de uma entrevista com três lideranças da RTF. As entrevistas possibilitaram a conclusão do diagnóstico e a definição do foco de intervenção. Diante da definição de um problema, o quinto passo da metodologia do projeto de pesquisa focará a análise e proposição de soluções. A base para esse passo foi o aprofundamento do estudo das teorias da “organização que aprende” (SENGE, 2003), de “espaço de diálogo” (BOHM6 e MARIOTTI, s.d.) e de “estratégia organizacional” (PORTER, 1986 e KAPLAN; NORTON, 2004) e; o estabelecimento de relações entre o diagnóstico e essas teorias e, entre os próprios conceitos de Gestão do Conhecimento, rede social, organização que aprende e espaço de diálogo. O sexto passo da metodologia consolidará a proposição da solução para o problema/oportunidade diagnosticado, levando-nos à construção de uma metodologia de implantação específica ao contexto da organização e à solução proposta. Além da estruturação das etapas da metodologia de implantação, também definiremos os indicadores de acompanhamento e avaliação e, elaboraremos a análise de gastos da implantação da solução. 6 As informações foram retiradas de um texto traduzido de um registro de um encontro que aconteceu em 06 de Novembro de 1989, na cidade de Ojai, próxima a Ventura ao Norte de Los Angeles. Em 2005 foi publicada pela Editora Palas Athena com o titulo de Diálogo: comunicação e redes de convivência. Título do texto original: O Dialogo. 38 4. ANÁLISE DE DADOS E PROPOSIÇÃO DE SOLUÇÃO Analisar dados de uma rede requer considerações especiais em relação ao seu contexto específico e ao desafio que se propõe superar – o desafio de perceber e agir intencionalmente para mudar modos de pensar e fazer. Essa etapa do projeto realiza uma análise preliminar do ambiente de redes sociais, identificando princípios e relacionando-os às cinco disciplinas de uma organização que aprende concebidas por Peter Senge em sua obra “A Quinta Disciplina” (SENGE, 2003), a fim de servir de base para a análise dos dados da RTF. Apresenta a seguir um modo de entendimento para analisar o contexto especifico da experiência observada entre os participantes da RTF. 4.1. Análise de ambiente de redes A estrutura de organização em rede propicia ambiente favorável ao compartilhamento de valores que sustentam a criação de cultura colaborativa. Esses valores e princípios de rede possuem forte relação com as cinco disciplinas de uma organização que aprende, pois igualmente propiciam a criação de conhecimento de forma colaborativa. Segundo Senge (1995, p. 19): O conjunto de crenças e suposições profundas - a história - que se desenvolve ao longo do tempo numa organização que aprende difere tanto da tradicional visão do mundo organizacional, hierárquica e autoritária, que parece descrever um mundo totalmente diverso. O princípio da horizontalidade estimula a convivência das pessoas de maneira diferente da vivida no cotidiano competitivo. Exige que as relações interpessoais sejam igualitárias, não havendo papéis hierárquicos. Um ambiente organizado por essa proposta requer que a própria horizontalidade seja compartilhada e construída por uma visão comum. Essa experiência permite a definição de um processo de aprendizagem coletivo, onde todos podem colocar suas idéias para serem trabalhadas por uma equipe que aprende, construindo uma 39 visão compartilhada, uma força especial em direção à mudança almejada. A visão compartilhada não é uma idéia segundo Senge (2003, p. 233); ele esclarece que ”é uma força no coração das pessoas, uma força de impressionante poder”, podendo até surgir de uma idéia, mas, quando obtém o apoio das pessoas deixa de ser abstração. O poder a que Senge (2003, p.236) se refere: ...muda o relacionamento das pessoas com a empresa. Em lugar de ”sua empresa”, ela se transforma em “nossa empresa”. Uma visão compartilhada é o primeiro passo para conseguir que pessoas que não confiam umas nas outras comecem a trabalhar em conjunto. Cria uma identidade comum. Assim, para realizar ações coletivas a rede precisa desenvolver relações de confiança e estabelecer comprometimento entre os participantes, que surgem do próprio fazer coletivo compartilhado. A visão compartilhada do significado do compromisso com o exercício da democracia participativa e com a missão estratégica elegida pela rede, permite gerar uma força extraordinária de busca da mudança, que fortalece a união, que favorece a negociação política. Isso é pensar sistemicamente, porque a visão configura uma força propulsora que favorece uma espiral de fortalecimento político. Estar diante de constantes incertezas e na situação de mudança de modos de pensar hierárquicos para modelos mentais de horizontalidade é estar diante de uma exigência de desenvolvimento humano que solicita muita compreensão do processo de aprendizagem e mudança de cada pessoa e, muito respeito e consideração pelo limite do outro companheiro. O princípio ético presente na cultura de redes é o de não fazer ao próximo aquilo que não se quer para si. Se a busca de mudança da forma de pensar e agir não for consciente, não há foco e; não sabendo para onde dirigir a atenção, não é possível desenvolver um caminho para atingir objetivos comuns. Pensar de forma sistêmica é uma ação para ver o todo; para ver os interrelacionamentos e não o evento isolado; é conseguir ver os padrões de mudança e não apenas um momento (SENGE, 2003). A visão compartilhada está relacionada ao desenvolvimento do pensamento sistêmico na medida em que cria uma espiral de reforço, que segundo Senge (2003, p. 254), funciona da seguinte forma: A disseminação de uma visão crescimento da clareza, do comprometimento. À medida que clara. À medida que fica mais resulta de um processo de reforço de entusiasmo, da comunicação e do as pessoas falam nela, a visão fica mais clara, cresce o entusiasmo pelos seus 40 benefícios. Rapidamente, a visão começa a se disseminar em uma espiral de reforço de comunicação e entusiasmo. Ao cultivar essas disciplinas no ambiente de relações horizontais, estimula-se grande potencial para a criação de valores que disseminam uma cultura de aprendizagem colaborativa. Uma pessoa pode aprender com a visão de outra e vice-versa. Um desafio interessante coloca-se diante dessa questão: se por um lado observa-se o desenvolvimento da cultura colaborativa, por outro, a cultura oriunda das relações piramidais, hierarquizadas e de poder está coexistindo na forma de pensar e agir das pessoas. Essa dinâmica que facilmente poderia ser interpretada como contraditória ou incoerente, é a manifestação dialética do processo de mudança, tanto da estrutura de organização como do modelo mental dos participantes. Senge (2003, p. 201) esclarece que “o que temos em nossas mentes são imagens, premissas e histórias” e que são esses modelos mentais que “determinam não apenas a forma como entendemos o mundo, mas também como agimos”. Assim, para fazer funcionar uma estrutura em rede, será necessária a lapidação dos modelos mentais presentes, a fim de estabelecer a horizontalidade como princípio norteador da democracia participativa e da cultura colaborativa. Pessoas reunidas por um objetivo comum e compartilhando uma mesma visão fortalecem-se e se revelam protagonistas da mudança social desejada, se envolvem com as ações planejadas e se desenvolvem mais do que poderiam fazer individualmente. Esse fortalecimento individual permite o que alguns autores do terceiro setor chamam de “empoderamento”7 de um grupo. É possível afirmar que pessoas fortalecidas em um grupo “empoderado” criam cultura. Segundo Edgar Morin (1999 p. 56): A Cultura é constituída por um conjunto de saberes, fazeres, regras, normas, proibições, estratégias, crenças, idéias, valores, mitos, que se transmite de geração em geração, se reproduz em cada indivíduo, controla a existência da sociedade e mantém a complexidade psicológica e social. Se pensarmos que criar cultura representa o incentivo ao processo de aprendizagem contínua, ascendente e geradora de valores, onde o resultado será uma mudança perceptível nos modelos mentais e na estruturação da organização 7 Neologismo usado no Terceiro Setor 41 estratégica, estaremos fazendo uma relação bem próxima ao que Senge chama de “triângulo da arquitetura organizacional e ciclo de aprendizado profundo” (veja esquema 2). Nossa escolha por intervir em níveis mais profundos de aprendizagem está baseada na crença de que dessa forma as mudanças serão mais significativas. Também está baseada na observação de que o conflito não explorado necessita ser superado é a mudança cultural do individualismo para o contexto coletivo (PICHONRIVIÈRE, 1994). O principal desafio de grupos que atuam com o princípio da horizontalidade é a superação desta suposta contradição e a formulação de novos modelos mentais para uma convivência democrática. Se o conflito é superado, e novas visões fomentarem outras crenças e valores de colaboração, as mudanças mais tangíveis serão na “arquitetura organizacional”. A prática do diálogo, da discussão, a empatia com os outros e a liberdade de expressão são instrumentos auxiliares para enfrentar esse desafio. O que pode dar sentido para uma cultura colaborativa é um ambiente de confiança e segurança para aproximar as pessoas e despertar o desejo de aprender. No processo de transição cultural, mediar os conflitos e as oportunidades de aprendizagem é fundamental. O papel de um elemento mediador dos processos de aprendizagem e relacionamento interpessoal é necessário até o momento em que o grupo passe a funcionar de modo autônomo, auto-gerido, auto-regulado e de forma mediada, ou seja, com questionamentos e reflexões sobre as relações entre os objetivos, as ações e os resultados. 4.2. Análise de dados da RTF O diagnóstico do funcionamento da RTF demonstra uma defasagem entre as normas registradas em documentos e as ações que de fato ocorrem, apresentadas no quadro abaixo. Possibilita interpretar que é mais fácil assimilar e reproduzir o discurso do que efetivá-lo na prática cotidiana. 42 Elaboração de documento Ações efetivas Potencial de aprendizagem Papel da coordenação, que prevê rodízio de pessoas por trimestre Funcionamento das comissões, que prevê subgrupos de trabalho Uso de dinâmicas de integração e acolhimento De fato acontece conforme a circunstância Maioria dessas comissões é formada por uma pessoa As técnicas de dinâmicas deixaram de ser utilizadas Oportunidade de aprender com a vivência dessa experiência Limitação a aprendizagem em equipe usados? haver lições aprendidas? Subtração de valor desse momento como espaço de aproximação colaborativa (para aprendizagem de todos) Atingir objetivo estratégico As ações são Limita evolução no sentido de descrito em documento planejadas sem a atingir objetivos estratégicos intenção e sem reflexão relacionada Registros Onde estão? São Domínio Pessoal - pode Quadro 1. Principais defasagens identificadas no diagnóstico da RTF. Peter Senge (2003, p. 229) considera vital “identificar a defasagem entre as teorias esposadas (o que dizemos) e as ‘teorias-em-uso’ (as teorias subjacentes às nossas ações)”. A relevância dessa identificação é pelo fato de que não aprendemos enquanto nossa ação não muda, mesmo que utilizemos determinados conceitos. Para fazer sentido e promover aprendizagem colaborativa é fundamental que essas questões sejam explicitadas e reconhecidas pela RTF, caso contrário não ocorrerá aprendizagem (SENGE, 2003, p. 229). O papel assumido pelo coordenador se limita ao aspecto organizativo da reunião, como cumprir a pauta, controlar o tempo e propor ao grupo de participantes que façam encaminhamentos. A definição da dinâmica e função de coordenador descrita nas Regras de Convivência da RTF (Anexo B) oferece possibilidades de criação de conhecimento. No entanto, a prática privilegiou o aspecto organizativo e houve desconsideração por outros processos, como a aprendizagem e as relações humanas, que se inter-relacionam e caracterizam uma realidade complexa e dinâmica. Modelos mentais lineares dificultam a imagem compartilhada do sistema como um todo. Senge (1990, p. 294) aborda essa questão nas equipes colocando que os maiores passivos são elas confrontarem as “realidades complexas e 43 dinâmicas com uma linguagem elaborada para problemas simples, estáticos” e, cita como referência: O consultor de empresas Charles Kiefer coloca da seguinte forma: “A realidade é composta de relacionamentos múltiplos-simultâneos e interdependentes de causa-efeito-causa. A partir dessa realidade, a linguagem verbal normal extrai cadeias simples e lineares de causa e efeito. Essa é uma das razões pelas quais os gerentes são tão propensos a intervenções de baixa alavancagem”. Por exemplo, se o problema é o tempo prolongado de desenvolvimento do produto, contratamos mais engenheiros para reduzir o tempo; se o problema é a queda dos lucros, cortamos os custos; se o problema é a redução da fatia de mercado, diminuímos o preço para aumentar a fatia. O problema de precisarem se reunir para realizarem ações na RTF foi analisado com a visão simples e linear de que a solução é um coordenador para organizar as reuniões, ou seja, alguém para cuidar da organização das falas, do tempo e de direcionar a reunião para que o grupo de participantes defina o que vai ser feito. Com a limitação do papel de coordenador a essas atribuições e sem a utilização de outros elementos de mediação, as possibilidades de prática do diálogo, do compartilhamento de conhecimento e tudo o mais que dá sentido à cultura colaborativa, ficam inviabilizadas pela falta de identificação e clareza dessas ações como necessidade para os participantes da RTF. A cultura baseada na reatividade e no imediatismo é percebida também na relação do operacional com o estratégico. A missão e os objetivos definidos pela RTF acabam não servindo como referência cotidiana e, não há uma visão estratégica definida e compartilhada pelos participantes. Dessa forma, o aspecto estratégico fica comprometido, pois, segundo Porter (1986, p. 16): A estratégia competitiva é uma combinação dos fins (metas) que a empresa busca e dos meios (políticas) pelos quais ela está buscando chegar lá. Empresas diferentes empregam palavras diferentes para alguns conceitos ilustrados. Por exemplo, algumas empresas empregam termos como missão ou objetivos ao invés de metas, e outras empregam tática em lugar de políticas funcionais ou operacionais. Contudo, noção essencial de estratégia é captada na distinção entre fins e meios. Embora esse conceito seja oriundo de um contexto competitivo, demonstra a necessidade de uma clareza sobre o que é verdadeiramente essencial para uma organização e de uma relação coerente entre objetivos e ações. Essa noção facilita 44 o desenvolvimento de um raciocínio estratégico, que, segundo Senge (1995, p. 15), “começa com uma reflexão sobre a natureza mais profunda de um empreendimento e sobre os desafios centrais que ele apresenta”. No contexto das reuniões, tentativas de um participante de relacionar a principal ação da RTF, a Semana do ECA, com os objetivos estratégicos descritos na Carta Compromisso (Anexo A), não foram consideradas pelos outros membros. Senge (2003, p. 296) afirma que: Sem uma linguagem compartilhada para tratar a complexidade, a aprendizagem em equipe é limitada. Se um membro da equipe vê um problema de uma forma mais sistêmica do que os outros, é bem provável que a nova idéia dessa pessoa seja subestimada – um resultado simples das tendências intrínsecas em direção às visões lineares que a linguagem que utilizamos normalmente no dia-a-dia possui. A cultura organizacional da RTF prioriza a ação, o fazer, a busca de resultados tangíveis como forma de avanço. Mas, sem analisar a coerência das ações e resultados com uma visão estratégica, pouco se avança no processo de aprendizagem e geração de conhecimento estratégico. A Semana do ECA demanda grande esforço de mobilização e organização, ocupa um longo período da agenda anual e, ao ser avaliada, não é relacionada aos objetivos estratégicos, o que reforça e mantém a cultura existente. Dessa forma, se por um lado o movimento caminha na direção de uma nova proposição, que se orienta na democracia participativa, no modelo horizontal de organização, no protagonismo, no trabalho em equipe, na melhoria da qualidade de viver na sociedade; por outro, as ações e atitudes demonstram o contrário, com opiniões que não são levadas em conta, idéias que não são discutidas, desigualdade de poder entre os membros, fragilidade na relação entre os adolescentes e adultos participantes e a pouca atenção que é dada a essas questões. Os modelos mentais não são explorados e, dessa forma, a capacidade de aprender também está limitada. Senge (2003, p. 201) explica que “os novos insights não chegam a ser colocados em prática porque conflitam com imagens internas profundamente arraigadas sobre o funcionamento do mundo, imagens que nos limitam a formas bem conhecidas de pensar e agir”. Para analisar essa situação da RTF é interessante considerar a idéia de Chris Argyris (ARGYRIS apud SENGE, 45 2003, p. 202) de que as pessoas não se comportam (sempre) de forma coerente com suas teorias esposadas (aquilo que dizem), mas comportam-se de forma coerente com suas teorias-em-uso (seus modelos mentais). Essa contraposição perfeitamente previsível, certamente poderia ser elucidada com a intervenção de elementos mediadores, com função de facilitar os processos de aprendizagem, de exploração dos modelos mentais, de cuidar dos relacionamentos entre os participantes e da conversão do modelo imediato para um modelo mediado. Facilitar o processo de desenvolver outra cultura implica na intencionalidade da mediação que será necessária para promover valores e significados. Bohm8 menciona a necessidade de compartilhar significados: A sociedade é uma rede de relacionamentos entre pessoas e instituições, de forma a permitir que todos possam viver juntos. Mas, isto somente funciona, se tivermos uma cultura para fazê-lo. Cultura implica significados compartilhados, isto é: significância, propósitos e valores. Nesse marcante contexto de transição cultural, a definição de diálogo proposta por Mariotti (s.d.) apresenta aspectos coerentes e facilitadores para o desenvolvimento de uma cultura mediada e colaborativa: ...diálogo (reflexão conjunta e observação cooperativa da experiência) é uma metodologia de conversação que visa melhorar a comunicação entre as pessoas e a produção de idéias novas e significados compartilhados. O autor complementa que o método “se opõe à fragmentação, ao imediatismo e à super-simplificação”, fatores condicionantes de nossa cultura e também presentes na cultura organizacional da RTF. Também cita aspectos coerentes com a Gestão do Conhecimento ao mencionar como objetivo do método dialógico “perceber e pensar as questões de modo diferente, a fim de que daí possam emergir idéias novas”. Outros aspectos se relacionam com o ambiente de rede, pois “a dinâmica do diálogo está voltada para ligações, para a formação de redes”. Daí o nome de “redes de conversação”, proposto para as experiências de reflexão conjunta, geração de idéias, educação mútua e produção compartilhada de significados “(MARIOTTI, s.d.). 8 Idem nota 7. 46 David Bohm9 reforça esses aspectos ao defender a idéia de que o diálogo deve ser livre para possibilitar “um fluir de significados por todo o grupo”, o que possibilita a criação de sentidos compartilhados. Esses sentidos funcionam como o “cimento” que mantêm a sociedade unida. Bohm admite que, nos casos em que houver necessidade de um propósito ou objetivo definido, o diálogo será limitado em sua livre conversação. Apesar disso, o autor explicita que essa forma apresenta potencial “considerável“. Considerando as características da RTF, constatamos que ela possui uma temática específica, precisa tomar decisões e desenvolver uma gestão estratégica, não podendo permanecer somente no livre fluxo de idéias. Nesse sentido, Senge sugere alternância entre indagação e argumentação como forma de ampliar as habilidades de aprendizagem cooperativa. Se, por um lado “as habilidades de argumentação dos gerentes tornam-se contraproducentes” quando precisam aprender com outras pessoas, por outro lado, “a indagação pura pode ser uma forma de evitar aprendizagem – ocultando nosso próprio ponto de vista atrás de um muro de incessante questionamento” (SENGE, 2003, p. 225- 226). Retornando ao contexto da RTF, utilizar somente a indagação como característica do diálogo, considerando a necessidade de haver processos decisórios, poderá causar desânimo no grupo de participantes que se mostra ativo e imediatista nas suas ações. Não possibilitar um contraponto à argumentação, presente na RTF seria privilegiar objetivos de convencer e defender idéias para vencer a discussão, o que é importante em momentos de decidir questões, mas usar apenas essa habilidade é permanecer na limitação da aprendizagem. No processo de transição cultural, um equilíbrio entre momentos de indagação e argumentação se mostra propício ao contexto analisado, caracterizando um espaço dialógico, onde diálogo e discussão são maneiras diferentes, porém complementares, de conversar e que podem perfeitamente surgir e conviver durante uma reunião (MARIOTTI, s.d.). O quadro 2 facilita a visualização e o entendimento da complementaridade entre diálogo e discussão e o potencial dos mesmos para o contexto estudado de transição cultural. 9 Idem nota 7. 47 DIÁLOGO DISCUSSÃO Visa abrir questões Visa fechar questões Visa mostrar Visa convencer Visa estabelecer relações Visa demarcar posições Visa compartilhar idéias Visa defender idéias Visa questionar e aprender Visa persuadir e ensinar Visa compreender Visa explicar Vê a interação partes/todo Visa as partes em separado Faz emergir idéias Descarta as idéias “vencidas” Busca a pluralidade de idéias Busca acordos Quadro 2. As principais diferenças entre o diálogo e a discussão. Fonte: Mariotti, s.d. Respeitando a consideração acima, discussão e diálogo servem a propósitos diferentes e podem auxiliar no desenvolvimento de raciocínio estratégico. Usar de forma alternada essas técnicas desenvolve habilidades de reflexão e desperta consciência para as possibilidades de escolhas das formas de comunicação. Os objetivos da interação dialógica de acolher diferentes pontos de vista, de melhoria da qualidade da comunicação, dos relacionamentos interpessoais, podem criar na RTF condições geradoras para novos aprendizados de desenvolvimento do raciocínio estratégico, ampliando as visões dos participantes. Ampliar visões é criar condição geradora de consciência que favoreça o processo decisório. A tomada de decisão, a escolha do uso das técnicas é um caminho que possibilitará aprimorar a democracia participativa e desenvolver gestão estratégica para a RTF. Os participantes poderão definir coletivamente a forma de comunicação que melhor atingirá os objetivos inicialmente identificados por eles. O diálogo propõe o livre fluxo de idéias e nesse sentido é necessário um facilitador para favorecer o exercício do diálogo. Entretanto se houver um objetivo relacionado a um tema, o papel desse facilitador não pode ser restrito ao favorecimento das condições para o diálogo. Bohm10 apresenta da seguinte forma essa questão: 10 Idem nota 7 48 Um facilitador pode se fazer presente, de tempos em tempos, comentando o que está se passando e o que tudo significa. Num grupo de diálogo não limitado a um objetivo específico, o facilitador poderia ser como já dissemos apenas um participante. Mas, em um grupo que atende a um propósito específico, isso provavelmente não iria funcionar. No caso, ele não teria condições de ser apenas um participante. Assim, haverá necessidade, em alguns momentos do processo, da definição de facilitador(es) com a função de relacionar as visões apresentadas ao tema em diálogo. Desse modo, o facilitador funciona como um mediador para o processo de construção do pensamento de cada participante. Entendemos que uma pessoa exercendo esse papel é um dos principais elementos de mediação, no entanto, outros artefatos também podem servir de mediadores, conquanto as pessoas percebam o auxílio dos mesmos na construção de seus pensamentos. 4.3. Proposição de soluções A intervenção na RTF para aprimorar a cultura colaborativa e transformar o modelo de construção mental de imediato em mediado, respeitando o contexto da horizontalidade, não pode fugir de uma solução que propicie a exploração dos modelos mentais, a possibilidade de construção de visão compartilhada na elaboração de uma gestão estratégica e o compartilhamento de experiências de mediação. Nos deparamos com a necessidade dos participantes da RTF compreenderem, conhecerem e utilizarem diversos elementos mediadores para, de maneira autônoma e dentro dos princípios de “rede social” e “democracia participativa”, desenvolverem uma gestão estratégica. A solução aponta no sentido de favorecer a construção conceitual e prática de elementos mediadores significativos para os participantes da RTF. A percepção de que a mediação é necessária e pode ser realizada de diversas formas e através de vários elementos será essencial para que a RTF construa uma mediação e uma estrutura realmente estratégica, e não apenas para possibilitar uma excelência operacional. A vivência desse processo de construção da mediação e da gestão estratégica poderá gerar aprendizagem e conhecimentos estratégicos mobilizadores 49 de uma autonomia e de uma contínua inovação das práticas da RTF, de forma coerente e solidificadora da cultura colaborativa. Diante do exposto, a solução proposta é a criação de um sistema dinâmico de geração de conhecimento estratégico a partir de duas linhas de ação complementares: a) implementação de teorias, métodos e ferramentas de análise e planejamento estratégico; b) compreensão e prática do espaço da RTF como um espaço dialógico subsidiado pelas teorias, métodos e ferramentas das cinco disciplinas (organização que aprende); Nonaka e Takeuchi (2004) apontam que tanto a gestão estratégica quanto a teoria da aprendizagem organizacional são insuficientes para geração de conhecimento. Mas, no contexto desse projeto, a utilização de ferramentas oriunda dessas teorias funcionará como elemento mediador e, essa prática em um espaço dialógico possibilitará a aprendizagem e a geração de conhecimento sobre a importância da mediação, da reflexão e, de como fazer isso para fortalecer a cultura colaborativa, o que ficará mais claro a partir do esquema descrito abaixo. 50 Ordem implicada (generativa) Opiniões e crenças Domínio de mudança duradoura (ciclo de aprendizado profundo) Consciência e sensibilidades Habilidades e capacidades Idéias norteadoras Inovações em infra-estrutura Domínio de ação (arquitetura organizacional) Teorias, métodos e ferramentas. Resultados Esquema 2. O triângulo da arquitetura organizacional e o ciclo do aprendizado profundo. Fonte: Senge, 1995, p. 42. Considerando o modelo do esquema 2, a intervenção iniciará no domínio de ação, através da implementação de teorias, métodos e ferramentas de análise e planejamento estratégico. Essa implementação será desenvolvida de forma mediada pelo favorecimento de um espaço dialógico subsidiado pelas teorias, métodos e ferramentas das cinco disciplinas (organização que aprende). A intenção é propiciar que os participantes, na implementação das soluções, definam conjuntamente a visão, valores e propósito da RTF de forma estratégica. Como conseqüência, os membros poderão decidir quais os melhores processos para uma estrutura de funcionamento da RTF e, continuamente, de acordo com a dinâmica de uma rede, inovarem em sua organização. Assim, as ferramentas de análise e planejamento estratégico, bem como o próprio planejamento estratégico, muito mais do que garantir uma excelência operacional serão elementos mediadores e favorecerão o desenvolvimento de um raciocínio estratégico. 51 A partir do domínio de ação; habilidades e capacidades de gestão estratégica, de mediação e das cinco disciplinas serão desenvolvidas pelos participantes. Esse processo no domínio de mudança duradoura se iniciará concomitantemente com as ações iniciais, no entanto, tende a levar mais tempo para se solidificar, mas também perdurará por mais tempo, pois corresponde, segundo Senge (1995, p. 19), à “mudança no nível mais profundo de uma organização”. Nesse processo, a consciência e sensibilidades em relação à mediação, ao raciocínio estratégico, ao pensamento sistêmico, à visão compartilhada, ao modelo mental, ao domínio pessoal e ao aprendizado em equipe irão se fortalecer e gerar opiniões e crenças que consolidem a prática da democracia participativa, a estrutura em rede e a cultura mediada e colaborativa. Diante de tudo isso, a proposta de solução da criação de um sistema dinâmico de geração de conhecimento estratégico considerará e dependerá do envolvimento e participação de todos os participantes da RTF, contribuindo com o caminhar da proposta conforme demonstrado através da metodologia de implantação que será descrita a seguir. 52 5. METODOLOGIA DE IMPLANTAÇÃO DAS AÇÕES A metodologia de implantação das ações prevê a co-construção do processo de criação da solução. Dessa forma, as etapas descritas abaixo são norteadoras, mas não limitadoras, das soluções propostas. A participação efetiva da RTF, apropriando-se do processo de intervenção e dando-lhe um significado próprio, é pressuposto da metodologia. 5.1. Etapas de implantação A implantação da solução proposta baseia-se em cinco grandes etapas que terão suas ações detalhadas a seguir: Etapa A – Validar o diagnóstico com o grupo da RTF: 1 - Sensibilizar o grupo para abrir espaço em suas reuniões presenciais para apresentação do diagnóstico: 1.1 - Propor para entrar na pauta de uma reunião a apresentação do trabalho; 1.2 - Através do e-group da RTF relembrar o assunto já proposto para pauta e convidar o grupo a ouvir nossa visão salientando que também vamos querer ouvir a visão do grupo; 1.3 - Retomar o vínculo com o grupo a partir da participação em suas reuniões de forma mais ativa; 1.4 - Acompanhar próximas reuniões mantendo a postura flexível para avaliar o contexto e o melhor momento de propor a apresentação do diagnostico; 1.5 - Despertar o interesse do grupo para querer ouvir nossa visão, colocando nosso respeito ao momento agitado por conta dos preparativos da Semana do ECA e para não tomar o pouco tempo que os participantes têm nesse momento; 1.6 - Esclarecer que a necessidade de observação e coleta de informações para o cumprimento do trabalho acadêmico já foi atingida e que o interesse em apresentar 53 o trabalho é exclusivamente nosso; 1.7 - Propor em uma das reuniões da RTF que entre na pauta um tempo para apresentar nosso trabalho e a nossa visão do diagnóstico; 1.8 - Definir com o grupo da RTF a data de apresentação. 2 - Apresentar o projeto de Pós-Graduação e a nossa visão explicitada no diagnóstico: 2.1 - Organizar a apresentação, anotando em forma de tópicos de uma pauta numa folha de flip chart, tornando visível e apresentando os pontos a serem abordados; 2.2 - Dinâmica de preparar os participantes para ouvir; 2.3 - Tópicos e conteúdos da apresentação: a) Trabalho em estudo: ações/soluções e contexto metodologia do de curso (diagnóstico, implantação); proposição implementação não de é prerrogativa do curso (pode ser realizado pelo próprio grupo da RTF e não necessariamente pela equipe propositora); motivo do nosso interesse pelo tema; nossa atividade e crença na democracia participativa; b) Intenção da apresentação: contar o que vimos e ouvir o grupo a respeito; c) Levantamento de informações: elementos usados como informações e fundamentos para o diagnóstico (observações, questionários, entrevistas, documentos e acompanhamento do e-group); d) Apresentação do mapa estratégico: Leitura dos objetivos nas suas inter-relações nas perspectivas; e) Análise diagnóstica: apresentar visão sobre as lacunas observadas no funcionamento da RTF, relacionando o que foi elaborado nos documentos (Anexos A e B) e como de fato acontece. Apresentar exemplos e ilustrar o potencial de aprendizagem nesses exemplos. Os principais pontos observados no diagnóstico constam no quadro 2; f) Nossa hipótese: problema, justificativa e objetivos do projeto. 3 – Refletir com o grupo da RTF sobre sua a visão em relação ao diagnóstico para validação: 3.1 – Propor que cada participante escreva suas opiniões em tarjetas de cores diferentes para cada uma das seguintes questões: a) O diagnóstico apresentado faz sentido? Ou Qual a sua visão em relação ao 54 diagnóstico apresentado? b) Pontos de concordância. Comentários; c) Pontos de discordância. Por que? 3.2 - Pregar em um painel e processar as respostas, dialogando e procurando ouvir atentamente a opinião dos participantes e a visão que têm sobre o assunto; 3.3 - Validar ou não uma visão comum em relação ao diagnóstico. Riscos na etapa A: a) O grupo não ter empatia pela idéia e não despertar o interesse em ouvir; b) Identificarmo-nos com o grupo e ficar na mesma postura; c) Ocorrer muitas mudanças na composição do grupo da RTF com participação de novas organizações; d) Resistências das pessoas em relação ao diagnóstico. Etapa B – Legitimar a proposta de ação: 1 - Apresentar nossa proposta de intervenção: Estrutura – a principio na reunião mensal do grupo, depois encontros semanais a quinzenais; Conteúdo – mediação, gestão estratégica e cultura colaborativa; Local – onde for possível; Carga horária por encontro – 3hs; Duração total – 6 meses / 12 a 8 encontros; Objetivos: • Desenvolver raciocínio estratégico (habilidades de reflexão, indagação e argumentação) articular saberes para ampliar visões para posterior tomada de decisões estratégicas; • Exercitar processo decisório sobre formas coerentes de comunicação na elaboração da gestão estratégica. 2 - Ouvir opiniões, sugestões e definição da RTF sobre a proposta apresentada pela equipe de gestores: Dialogar e ouvir a opinião dos participantes sobre a proposta. 55 3 - Reformular a proposta considerando novas contribuições do grupo de participantes: Riscos na etapa B: a) Os participantes da RTF não quererem realizar a proposta, resistências em relação à solução; b) Os participantes recusarem-se a pensar uma reformulação da proposta. Etapa C – Desenvolver raciocínio estratégico e construção coletiva do conceito (habilidades) de mediação a partir da vivência de habilidades de mediação: Entendemos que raciocínio estratégico é composto por: habilidades de reflexão, indagação, argumentação, articulação de saberes para ampliar visões utilizando elementos de mediação para posterior tomada de decisões estratégicas. Diretriz - Abordagem intencional focada na explicitação do significado de mediação. 1 – Construir coletivamente o conceito de mediação da aprendizagem como fator importante para geração do raciocínio estratégico: 1.1 - Sensibilizar para ampliar visão estratégica; 1.2 - Compartilhar experiências de diálogo, princípios de rede e modelo mental; 1.3 - Analisar as experiências compartilhadas; 1.4 - Construir conceitos a partir do compartilhamento de experiências de mediação da aprendizagem. 2 – Estabelecer o método da alternância de dialogo e discussão: 2.1 - Compartilhar significados das percepções diferentes que cada participante tem em relação ao mesmo estímulo (por exemplo: a relação adolescente/adulto) por meio de técnicas de levantamento de perguntas e o método do diálogo. 3 – Criar contextos para análise da realidade usando a articulação de saberes: 3.1 - Levantar expectativas sobre o que se quer para o espaço compartilhado da RTF; 3.2 - Listar idéias coletivamente sobre formas de participação de adultos, crianças e 56 adolescentes num mesmo espaço organizacional. 4 – Exercitar processos decisórios baseados na habilidade de reflexão e indagação: 4.1 - Refletir sobre a responsabilidade de cada faixa etária para com o entendimento de todos sobre determinado assunto e que contribuições podem auxiliar na melhoria da comunicação; 4.2 - Decidir por consenso a forma de participação de todos os membros na forma de funcionamento; 4.3 - Decidir se querem elaborar a gestão estratégica de forma mediada. Etapa D - Exercitar a decisão por consenso do processo de gestão estratégica: Diretriz: Foco na dinâmica colaborativa. 1 - Apresentar instrumentos para a elaboração da Gestão Estratégica: 1.1 - Análise de Cenário – criar contextos (Técnica do diálogo); 1.2 - Mapa Estratégico – (Diálogo e discussão); 1.3 - Plano Estratégico – definir Visão, Missão e Valores Compartilhados; 1.4 - Mapa de indicadores – acompanhar a implantação do plano estratégico e avaliação. 2 - Desenvolver competências para a gestão estratégica: 2.1 - Escolha de forma consensual sobre que técnica será utilizada para cada etapa do processo; 2.2 - Solicitar aos participantes que identifiquem e elejam a melhor técnica para cada necessidade do processo de construir uma gestão estratégica; 2.3 - Elaborar coletivamente o plano estratégico; 2.4 - Analisar cenários; 2.5 - Analisar relação estratégica dos objetivos da RTF; 2.6 - Definir visão, missão e valores – perguntas norteadoras: • O que? - retrato do futuro que se quer criar (visão); • Por que existimos? – qual a razão da existência (missão); • Como queremos atuar, coerentes com a nossa missão, no caminho em direção à realização de nossa visão? (valores). 57 2.7 - Rever mapa estratégico; 2.8 - Definir indicadores. Etapa E – Avaliação do processo vivenciado: Aplicar questionário para levantamento de satisfação. 5.2. Indicadores A proposta de solução de criação de um sistema dinâmico de geração de conhecimento estratégico traz uma alavancagem de curto prazo à dinâmica de funcionamento da RTF e, de médio e longo prazo, ao aprimoramento da cultura organizacional em seu aspecto colaborativo e à transformação do modelo de construção mental imediato para o mediado. Considerando a contribuição pretendida pela RTF à comunidade, de melhorar as condições de desenvolvimento pleno das crianças e adolescentes da região de sua atuação, este projeto pouco contribuirá imediata e diretamente para esse fim. No entanto, acreditamos que trará inovações e fortalecerá a RTF para o alcance de seus objetivos estratégicos. Dessa forma, os indicadores aqui elencados estão na perspectiva de esforço e resultado da implantação desse projeto e, também, de esforço em relação aos objetivos da RTF. Pela proposta metodológica de implantação da solução, os próprios participantes da RTF terão condições de construir os indicadores de esforço e resultado da organização a partir da revisão do mapa estratégico e do desenvolvimento de uma gestão estratégica. Os seguintes indicadores foram escolhidos para acompanhamento e avaliação da implantação da solução: • Grau de coerência das escolhas entre a forma de comunicação (diálogo/discussão) e seu objetivo em relação ao contexto; • % de pessoas que se manifestam verbalmente sobre o conceito de mediação; • Número de propostas/constribuições dos participantes da RTF para a implantação da solução; • Grau de satisfação a cada etapa da implantação da solução; 58 • Presença ou ausência da elaboração do plano estratégico; • Grau de satisfação dos participantes da RTF em relação ao processo de elaboração da gestão estratégica; • Número de indicadores de esforço e de resultado construídos pela RTF para o planejamento estratégico; 5.3. Análise de gasto O gasto estimado para esse projeto (ver planilha 1) considerou somente a etapa de implantação da proposta de solução. O valor não é elevado, pois não há proposta de usar tecnologias de informação que encarecem muitas iniciativas em Gestão do Conhecimento. O enfoque do trabalho está nas pessoas e, consequentemente, os gastos mais elevados são com recursos humanos. O baixo custo é uma grande oportunidade de viabilizar a implantação do projeto para uma organização sem movimentação financeira, como é o caso da RTF. As alternativas para favorecer a realização da proposta quanto ao aspecto financeiro são: a) Rateio dos gastos entre as organizações participantes da RTF; b) Utilização de profissionais voluntários das organizações participantes da RTF; c) Captação de recursos com financiadores de projetos na área da infância e adolescência e/ou desenvolvimento de redes sociais; d) Implementação voluntária pelos propositores do projeto; e) Captação de voluntários especialistas em Gestão do Conhecimento. 59 Planilha de Custo de Implantação Horas Profissionais (3) Qtde Hs Reuniões/Execução - 1 por semana durante 6 meses 360 Planejamento/Criação - mensal (3) 90 Avaliação do Processo - mensal (3) 90 Total Custo de horas Vr Hora 50 50 50 Sub Total 18000 4500 4500 27000 Transporte Passagem ônibus (3) Kilom/Combustível (2) 120 Km Total Custo Transporte Qtde Vr. Percurso Sub Total 180 2 360 6.240 0,35 2184 2544 Refeições Refeição (3) Total Custo Refeições Qtde 78 Vr.Refeição Sub Total 10 780 780 Material para curso Apostilas Canetas Pincel atômico Cola Flip chart Sulfite Transparência Total Custo Materiais Qtde 50 20 20 5 3 2 20 Vr.Unit 10 1 3 3 15 15 3 Qtde 10 Vr.Unit 100 500 20 60 15 45 30 60 730 Outros Custos Palestrante/especialista Total Outros Custos Total Geral Custos Total da Proposta Planilha 1. Planilha de custo de implantação. Sub Total 1000 1000 32054 32054 60 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS A organização escolhida como objeto desse trabalho fugiu do escopo tradicional da Gestão do Conhecimento. Não só do mundo corporativo, como, do próprio terceiro setor, sobre o qual existem alguns estudos. A estrutura organizacional em rede traz conceitos, princípios e práticas que não se relacionam necessária e exclusivamente a um setor econômico-social, mas, que tem em sua proposta uma forte conotação político-social. Dessa forma, tivemos que promover muitas discussões e diálogos para entender a Gestão do Conhecimento no contexto definido. A princípio, a Gestão do Conhecimento nos leva ao mundo das empresas e à perspectiva de visar um resultado, na maioria dos casos, financeiro. Mas é necessário ir além, pensar no desenvolvimento humano e, não, apenas em um sentido individual, mas coletivo, na perspectiva do desenvolvimento social o mais sistêmico possível. A utilização do conhecimento acumulado, a criação do conhecimento e a inovação serão aspectos diferenciais, dentro ou fora das organizações econômicas, se conseguirmos entendê-los em nossas redes de relacionamentos que constituem nossas vidas. Apenas como meio econômico ou como solução para o desenvolvimento individual, a Gestão do Conhecimento se limita. Nossa sociedade está imersa em uma cultura imediatista, individualista e competitiva. Novas formas de estrutura organizacionais, não hierárquicas e participativas e; novos olhares de gestão, valorizando a pessoa e o seu conhecimento; são alternativas para criarmos espaços de aprendizagem e de convivência colaborativa tendo em vista nossa sustentabilidade e sobrevivência. A RTF é um espaço propício e está em um momento oportuno para pensar e desenvolver o contexto acima exposto. Se a RTF caminhar no sentido da valorização formativa e educativa; o processo de aprendizado individual e coletivo tornar-se-á algo primordialmente estratégico e o conhecimento gerado desse aprendizado será a mola propulsora do desenvolvimento de cada participante dentro e fora da RTF, com possibilidade de ampliação para todos os demais ambientes de convivência, pois será algo construído internamente e coletivamente, não apenas 61 uma tarefa a ser cumprida. A implantação desse projeto abrirá perspectivas dos próprios participantes da RTF vislumbrarem outras oportunidades de aplicar conceitos de Gestão do Conhecimento. Enquanto avançamos no desenvolvimento desse projeto, verificamos todo esse potencial e reconhecemos que o que aprendemos não foi o suficiente e, provavelmente, nunca será. No entanto, a perspectiva de implantação da proposta permite que continuemos a aprender em conjunto com os participantes da RTF. Esse reconhecimento possibilita a manutenção da curiosidade e a perspectiva de busca. Para contribuir conosco e com quem demonstrar interesse nesse projeto e em Gestão do Conhecimento, o Apêndice C é um relato da nossa vivencia sobre como construímos o conhecimento e o processo de elaboração desse trabalho. E, estando o conhecimento nas pessoas; nós e cada um dos leitores poderemos sempre transformar e aprimorar o conhecimento obtido com esse projeto. 62 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHOO, Chun Wei. A organização do conhecimento: como as organizações usam a informação para criar significado, construir conhecimento e tomar decisões. São Paulo: Ed. Senac, 2003. DAVENPORT, Thomas H. e PRUSAK, Laurence. Conhecimento empresarial: como as organizações gerenciam seu capital intelectual. Rio de Janeiro: Campus; São Paulo, Publifolha, 1999. INOJOSA, Rose M. Redes de compromisso social. Artigo publicado na Revista de Administração Pública. FGV, Rio de Janeiro, 33(5), setembro/outubro 1999: 115141. KAPLAN, Robert S. & NORTON, David P. Mapas estratégicos: convertendo ativos intangíveis em resultados tangíveis. Rio de Janeiro, Campus, 2004. MARIOTTI, Humberto. Diálogo: um método de reflexão conjunta e observação compartilhada da experiência. In: VALORES que não têm preço. S.l.: Associação Palas Athena, s.d.t.27-42. MARTINHO, Cássio. Algumas palavras sobre rede, publicado Rede DLIS; 2002; Artigo; responsável pela informação: Rede DLIS. http://www.rededlis.org.br/textos. MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, 1999. NONAKA, Ikujiro e TAKEUCHI, Hirotaka. Criação e conhecimento na empresa: como as empresas japonesas geram a dinâmica da inovação. Rio de Janeiro: Elvesier, 1997. 63 PICHON RIVIÈRE, Enrique. O Processo Grupal. São Paulo: Martins Fontes, 1994 PORTER, Michael E. Estratégia competitiva: técnicas para análise de indústrias e da concorrência. Rio de Janeiro: Campus, 1986. PORTER, Michael E. O que é estratégia? Transcrito da revista IMPUTS, Suplemento do Clube de Executivos de Marketing. SENGE, Peter et al. A quinta disciplina - caderno de campo: estratégias e ferramentas para construir uma organização que aprende. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1995. SENGE, Peter et al. A quinta disciplina: arte e prática da organização que aprende. São Paulo: Best Seller, 2003. SENGE, Peter et al. Escolas que aprendem: um guia da quinta disciplina para educadores, pais e todos que se interessam por educação. Porto Alegre: Artmed, 2005. WHITAKER, Francisco. Rede: uma estrutura alternativa de organização. Artigo publicado na Revista Mutações Sociais. CEDAC, Rio de Janeiro, Ano 2, nº 3, março/abril/maio 1993. WHITAKER, Francisco. Entrevista no Trabalhando em Rede. Portal Risolidária, São Paulo, 2003. Disponível em: <http://www.risolidaria.org.br/util/view_texto.jsp?txt_id=200406090010>. Acesso em: 10 de dezembro de 2004. 64 APÊNDICE A PESQUISA DE OPINIÃO Nome da Organização: 1 - Na sua opinião, qual é o sonho da RTF? 2 - Na sua opinião, qual é a razão de existir da RTF? 3 - Qual a contribuição da sua organização para a RTF? 4 - Qual a contribuição da RTF para a sua organização? 65 APÊNDICE B REDE TECENDO O FUTURO ROTEIRO PARA ENTREVISTA 1. Agradecimento pela participação e acolhimento; 2. Contextualização: quem somos, foco do trabalho e a importância de quem vai responder (valorização); 3. Pedir licença para gravar/anotar; 4. Verificar se entrevistado já exerceu papel de coordenação nas reuniões presenciais da Rede. Pontos da entrevista: a) Espaço do Fórum: • Para que serve? Utilidade, benefícios, resultados? • Espaço de formação ou articulação? • Quais as características das relações? Participativo, democrático, horizontal, prático, reflexivo? • O que facilita ou dificulta as pessoas aprenderem e se articularem? b) Importância do papel do coordenador: • Qual o grau de importância? Facilita ou dificulta a condução da reunião? Em que? • Depende das características individuais dos coordenadores? Em que deve/pode ser comum? c) Competências do coordenador: • O que demandou de atitudes, habilidades e conhecimentos, antes, durante e após a reunião? • O que aprendeu com a vivência? • Na coordenação, sua atitude ajudou os participantes a desenvolverem competências ? Deveria ajudar ou a função é mais operacional? 66 APÊNDICE C A NOSSA METODOLOGIA DE APRENDIZAGEM É justo em primeira instância considerar que a Metodologia utilizada no Curso “Gerenciando a Informação para a Gestão do Conhecimento” contribuiu significativamente para a criação de conhecimento complexo, gerado a partir do caos, do conflito entre certezas e incerteza, da vivência em grupo, do compartilhamento de experiências e, sobretudo, do inesperado, do elemento novo. O que talvez possa elucidar o que nomeamos de “inesperado”, explicita-se na transcendência, o contexto criado durante o curso, favoreceu um processo mobilizador de mudanças nos componentes e na qualidade da relação entre esses componentes. E isso tem nome, chama-se desenvolvimento humano. Dessa forma, o contexto amplia a visão da realidade objetiva, interfere qualitativamente na capacidade de escolha, de participação, de crítica, de intervenção e possibilidade de mudanças. Enquanto o modelo tradicional de educação fragmenta os saberes, faz o recorte das disciplinas, impossibilitando a contextualização necessária que orienta e dá sentido as coisas. Todo o processo vivenciado em sala de aula contribuiu, de algum modo, para o processo de elaboração do Projeto “Rede Tecendo o Futuro”, que expressou a nossa esperança no futuro, e em cada um, como sujeito capaz de tecer, de compor, de pensar fora da caixa, ou seja, deixar brotar o novo. A partir desse momento, relataremos a nossa experiência, por vezes caótica, de produzir conhecimento e da metodologia que criamos para realizar o trabalho proposto pelo curso. Desde a definição da organização objeto de nosso estudo, buscamos alternativas para entender os conceitos estudados para servirem de referência ao nosso projeto. Devido à natureza das relações horizontais de uma rede, algumas idéias não faziam sentido e outras não elucidavam diretamente nossas questões. Assim, o esforço de fazer uma transposição dos conceitos de administração, de negócios e do mundo empresarial foi constante em nossas reuniões de trabalho, em sala de aula e nas orientações. Conforme surgiam as dúvidas, discutíamos e buscávamos alternativas para tentar superar a distância que percebíamos entre os referencias teóricos e a análise 67 que estávamos produzindo. Dois movimentos se mantiveram permanentes no nosso fazer; a busca por referencias teóricas e a abertura para modificar a construção do trabalho, toda vez que nos pareceu estar distanciando-se do sentido da nossa escolha. Inicialmente, utilizávamos um roteiro para os nossos encontros de trabalho e que nos ajudou a organizar e objetivar a utilização do nosso tempo, definição do foco e o aprofundamento sobre o tema. • Cada um de nós expunha seu entendimento pessoal da tarefa; • Como pensava realizá-la; • Como estava vivenciando os momento na sala de aula; • Que relação estabelecia entre o conteúdo das aulas e o nosso projeto; • Revisávamos o caminho percorrido e as perspectivas futuras; • Estabelecíamos uma pauta e prioridades. Encontramos, além de toda literatura sugerida, referenciais da cultura colaborativa, da prática do diálogo e decisão por consenso - subsídios para o projeto - e incorporamos esses saberes na nossa prática. E isso se revelou uma forma sustentável para o funcionamento da equipe e condição favorável para a realização do trabalho. Esse processo levou certo tempo e fomos descobrindo que estávamos fazendo uma construção coletiva do conhecimento. Partimos de muitas questões, uma das principais era descobrir se era possível fazer Gestão do Conhecimento numa organização estruturada em rede. Às vezes achávamos que não, pois tínhamos a visão de que essa estrutura por si só propicia a criação de conhecimento. Entretanto, à medida que fomos percebendo que mesmo tendo o potencial para construir conhecimento, a rede poderia ter pontos de estrangulamento nos seus processos, firmamos nosso objetivo de estudar o funcionamento de uma rede e experimentar olhar para uma rede como um contexto a ser analisado, identificando oportunidades ou problemas que pudéssemos propor soluções de melhoria. Trouxemos para o centro do nosso estudo e análise a interdependência econômica, social, política, cultural entre as nações, a complexidade e efeitos da cultura capitalista, os modelos vertical e horizontal de organização da sociedade e do processo democrático. Foi a partir da criação desse contexto que o nosso projeto foi sendo elaborado. O zoom nos ajudou a criar diferentes perspectivas para o 68 Mapa Estratégico e a definir que o foco de atuação seria na perspectiva da aprendizagem com foco em GC. Direcionamos os nossos estudos para as Cinco Disciplinas de Peter Senge, técnica de diálogo e cultura colaborativa. Mesmo depois de definir o nosso foco, olhar para a Rede como uma organização que aprende, que tem cultura, e que carece de melhorias, nos mantivemos abertos para receber influências e livres para propor mudanças a todo momento. A idéia de ao final implementarmos o projeto, foi estímulo para criarmos instrumentos de investigação e iniciamos uma bateria de entrevistas, pesquisa de opinião com os membros da RTF, além de várias participações nas reuniões presenciais, com o propósito de obtermos mais informações e tentar responder se o que nós sabíamos sobre a organização era suficiente e, portanto, validar o caminho que estávamos traçando. Assumimos enquanto postura vivenciar a construção do projeto, segundo as teorias escolhidas para fundamentar o trabalho. Sem perder de vista os objetivos do projeto, exercitamos o diálogo, decidimos por consenso, identificamos nas nossas competências a forma de contribuir com o todo e aprendemos a dilatar a tolerância e ressaltar o óbvio. Transformamos as nossas diferenças de formação, visão e estilo de conduzir processos, de organizar o trabalho e até mesmo desenvolver um texto, em desafio de fazermos uma produção em rede. Mantivemos freqüentes contatos por e-mail, telefonemas e inúmeros encontros presenciais. Criamos uma dinâmica, uma estrutura de organização e que, no momento, identificamos como uma metodologia que se fez eficaz para os nossos objetivos. Concluímos com a seguinte afirmação; a vivência da cultura colaborativa durante todo o processo do curso foi fundamental para a realização desse trabalho, para o nosso desenvolvimento pessoal e profissional, para a participação ativa em sala de aula e, sobretudo, para a disseminação deliberada de conceitos e práticas da cultura colaborativa. 69 ANEXO A Carta Compromisso RTF HISTÓRICO: A sociedade brasileira tem cada vez mais se mobilizado no sentido de organizar grupos de discussão e atuação que se aproximam em torno de um tema de interesse comum. Estes grupos são denominados Fóruns. O Fórum Rede Tecendo Futuro, RTF, começou a se organizar desta forma em julho de 2001, atendendo a uma expectativa de entidades e cidadãos da região Oeste sensíveis a discussão sobre à Criança e o Adolescente. É uma organização informal sem fins lucrativos e não hierarquizada. A RTF é, antes de tudo, um espaço aberto para o exercício da democracia participativa, sendo portanto, suprapartidário, sem distinção de sexo, cor, credo religioso ou político, etnia, faixa etária ou condição social. PRINCÍPIOS: A RTF se baseia na Declaração Universal dos Direitos Humanos, na Convenção Internacional dos Direitos da Criança e no Estatuto da Criança e do Adolescente. A RTF tem, principalmente, o compromisso com a construção de uma sociedade ética, fraterna, livre, plural e justa. Tendo, portanto, respeito ao trabalho cooperativo e solidário, como instrumento de potencialização das capacidades e de superação das limitações de seus membros; assim como respeito à identidade, à autonomia e à dinâmica de cada membro. OBJETIVOS: A RTF tem como fim último a valorização da vida, através de condições que favoreçam o pleno desenvolvimento pessoal e social de todas as Crianças e Adolescentes, entendendo que estas são prioridade absoluta em relação as políticas públicas e aos cuidados da sociedade. Nesse sentido, o fórum objetiva: • Divulgar o E. C. A. na Região Oeste; • Promover atividades ou ações que qualifiquem os profissionais, que trabalham direta ou indiretamente com Crianças e Adolescentes na região do Oeste, sobre o E.C.A. • Promover a integração em rede de entidades e organizações (governamentais e não governamentais) que trabalhem com Crianças e Adolescentes na região; • Estar presente nos espaços de discussão e atuação na área da Infância e Adolescência, organizados pela sociedade civil, em nível local, municipal e estadual; • Estar presente em atividades e eventos que reflitam a condição dos Direitos da Criança e do Adolescente • Promover ações na linha da defesa de Direitos da Criança e do Adolescente; • Refletir, propor e fiscalizar a aplicação de políticas públicas referentes à 70 área da Infância e Adolescência, prioritariamente na região Oeste. Ou, simplesmente: Conhecer a realidade da região; Estimular e promover ações... Divulgar o ECA Organização: A estrutura e o funcionamento deste fórum serão definidos detalhadamente nas suas Regras de Convivência, devendo obedecer a uma única normativa: a Assembléia Geral ou Plenária é soberana, é sua última instância consultiva e decisória. As medidas discutidas, votadas e aprovadas por maioria deverão ser respeitadas pela unanimidade de seus membros. 71 ANEXO B Regras de Convivência RTF De acordo com a Carta de Compromisso, a estruturação da Rede Tecendo Futuro, RTF, será detalhada em suas regras de Convivência. O objetivo dessas Regras é ordenar, orientar e disciplinar a atuação desse fórum, e de seus membros, de forma cooperativa. Objetivos específicos: Para atender aos objetivos descritos na Carta Compromisso, o Fórum têm como objetivos específicos: · Conhecer e mapear a situação das Crianças e Adolescentes na região Oeste; · Divulgar o ECA; · Promover atividades e/ou ações que qualifiquem os profissionais, que trabalham direta ou indiretamente com Criança e Adolescente na região Oeste, sobre o ECA; · Promover a integração em rede de entidades e organizações (governamentais e não Governamentais) que trabalhem com Crianças e Adolescentes na região; · Estar presentes nos espaços de discussão e atuação na área da Infância e adolescência, em nível local, municipal e estadual; assim como em eventos e/ou atividades que reflitam a condição dos Direitos da Criança e do Adolescente; · Promover ações na linha da defesa de Direitos da Criança e do Adolescente; · Refletir, propor e fiscalizar a aplicação de políticas públicas referentes à área da Infância e Adolescência, prioritariamente da região Oeste. Organização: Para cumprir seus objetivos, o fórum divide – se em: • GRUPOS DE TRABALHO (GTs) – são esporádicos e destinados a organizar ações específicas do fórum, vinculam-se diretamente a uma comissão permanente. • COMISSÕES PERMANENTES (CPs) – divisão de trabalho e dinamização do fórum. Essas comissões dividem – se em: CP recepção: grupo de recepção, com material informativo e questionário de expectativas para quem participa do fórum pela primeira vez. Recepciona e integra novos participantes. Cuida das dinâmicas internas da RTF. Dinamiza as reuniões através de atividades de sensibilização e lúdicas, que são veículos de reflexão e afirmação de compromissos e vínculos. Integra novos participantes, através de momentos específicos como discussões e pequenas palestras sobre o histórico ou atividades do fórum, considerando o planejamento da RTF. Utilizando para isso material informativo e fichas de expectativas. Garantindo a inclusão dos novos participantes nas discussões em andamento (CMDCA, Conselho Tutelar, Conferências...). 72 Responsável pela articulação de palestras, seminários e eventos culturais, visando à aproximação com a comunidade, sendo que as temáticas dessas atividades sejam pautadas, preferencialmente, pelas discussões internas da RTF. Desenvolve ações que facilitam a integração dos participantes do fórum e não se restringem às reuniões (Ex: Noite da RTF no Bar Jajá com murais e ações do fórum/integração ou Sábado de lazer da RTF). Promover ações de mobilização para ampliar a participação da RTF na sociedade e atrair novos participantes (mudar/ alterar termo atrair) CP de comunicação interna/ externa: É responsável pela articulação entre todos os membros do fórum. Notifica a data e pauta das reuniões, agenda Política e quaisquer outros eventos organizados pelo grupo. Prepara e/ou organiza material de divulgação. É responsável por repercutir as atividades do fórum nos meios de comunicação. Estrutura as pautas das reuniões ordinárias, bem como sua organização/dinâmica (em conjunto ao CP de recepção). Estrutura também o calendário da RTF e sua Agenda política, através das atas e informações dos demais CPs, notificando a todos data/ pauta das reuniões e demais atividades da RTF. Responsável pela criação de materiais de divulgação da RTF. Democratiza e articula as informações entre os participantes, procurando criar instrumentos de comunicação efetivos (sites, boletins eletrônicos, boletins via fax, boletins para serem distribuídos nas reuniões, correio tradicional...), garantindo o acesso das informações por todos. Divulga as atividades das comissões, integrando-as. Mobiliza os membros da RTF para atividades e/ou ações que podem acontecer no município, fora ou dentro do estado. CP de planejamento e formação: Pesquisa e estuda ações referentes à Criança e ao Adolescente nas mais diversas áreas. É responsável pelo mapeamento da situação da Criança e do Adolescente na região Oeste. Responsável por apresentar e representar o fórum nos mais diversos espaços. Proporá palestras, seminários e eventos culturais para cativar a comunidade, fazendo com que esta conheça e participe do fórum. Como também garantindo o processo de formação sobre a temática da criança e adolescente aos seus componentes. Mobiliza os integrantes da RTF para atividades e/ou ações importantes, que podem acontecer no município ou no estado, convocados por órgãos governamentais e não governamentais. Tem ação conjunta com o CP de RECEPÇÃO por ser a referência do fórum em outros espaços. Responsável pela estruturação das pautas e das reuniões, bem como do calendário da RTF e de sua Agenda Política. Pesquisa ações referentes à Criança e ao Adolescente do município. Garante a representação da RTF nos mais diversos espaços, através do estímulo de seus componentes. Como também o acompanhamento, através da troca de informações, dos integrantes do fórum nesses outros espaços de representação. Cuida da formação interna e externa da RTF. Mobiliza este fórum para atividades importantes que aconteçam na cidade. 73 Propõe as pautas para as reuniões ordinárias (sua estruturação horários/dinâmicas/materiais, ficam com CPs de recepção e comunicação.) Articula reuniões gerais. Articula e sistematiza todas as ações propostas inclusive a agenda política. Propor palestras e seminários também é responsabilidades de todos. Essa comissão estimula e viabiliza estas atividades, sem que seja necessário a participação efetiva dos seus integrantes, na estruturação e realização da atividade. CP memória e arquivo: Responsável pela memória da RTF ( fotos, artigos, material didático, etc ) e pelo arquivamento das ATAS, ofícios e documentos do fórum. Responsável por toda a documentação da RTF (ATAS, ofícios,...). Responsável pela memória da participação da RTF em eventos culturais e atividades internas e externas (Conferências, seminários, oficinas,...) e pelo arquivamento e organização da documentação destas atividades (ATAS, ofícios, folders, programação,...). Colaborar com as ações de formação. Levantar/pesquisar materiais de apoio que tratem da criança e do adolescente. Juntamente com o CP de comunicação efetivar os instrumentos de comunicação criados, que contenham o histórico do Fórum, além de armazenar as atuais informações (ex: fotos em sites, relatos, informações das conferências e eventos realizados). Efetivar a constante consulta e pesquisa dos materiais que contenham o histórico da RTF, de modo que seja um ícone capaz de levar estas informações aos atuais membros do fórum e novos integrantes, incluindo o histórico em futuros eventos e provocando novas pessoas a participarem do grupo. Da composição e atividades das comissões: As comissões serão formadas espontaneamente, a partir do interesse dos participantes desse Fórum. Para sua organização e continuidade, suas atividades seguirão a rotina e periodicidade estipuladas neste documento: 1. Cada comissão terá um coordenador fixo por seis meses. Outras funções serão definidas a cada reunião, diante das necessidades, pelo grupo, para dinamizá-las. 2. As comissões deverão reunir-se, no mínimo, uma vez por mês, devendo a data, horário e local, serem definidos por seus componentes. 3. Os coordenadores de cada comissão deverão encontrar-se, também, no mínimo uma vez por mês, para organização de plano de trabalho geral, deste Fórum Das reuniões: As reuniões ordinárias da RTF serão realizadas toda 2a Quinta – feira de cada mês, com início às 14:00 h e término às 17:00 h. Não serão aqui, pré-determinados locais para os encontros, sendo estes definidos em assembléia, considerando as necessidades e possibilidades deste Fórum. As reuniões ordinárias deverão ter sempre um(a) coordenador(a)/ facilitador(a); um(a) relator(a), responsável pela ATA; um(a) secretário(a), responsável pelas inscrições e pela coleta/distribuição de materiais e registros. O coordenador deverá ser escolhido em assembléia, por um período fixo de três meses. As demais funções deverão ser preenchidas por reunião, também em decisão coletiva. 74 Quanto ao formato das reuniões, elas devem contemplar as seguintes preocupações em sua dinâmica: • INTEGRAÇÃO: Importante para descontrair, conhecer, assim como adquirir confiança entre os membros do fórum. • TEMA CENTRAL - DISCUSSÃO/ ANÁLISE: Será o principal tema a ser aprofundado pelo grupo. A discussão poderá ser feita em grupos (P1- grupos mistos/ P2- grupos separados, adolescentes e adultos) ou em plenária de acordo com a necessidade. • ENCAMINHAMENTOS: É o fechamento da discussão. Deverá ser feito sempre em plenária para que esta delibere sobre o assunto. • SUGESTÕES PARA A PAUTA: Poderão ser encaminhadas à comissão de planejamento que organizará, com antecedência, a próxima reunião. • INFORMES: Espaço garantido ao final de cada reunião, para trocas de experiências, avaliações, dicas, etc. 75 ANEXO C PROCESSO DE PLANEJAMENTO - 2004 REDE TECENDO FUTURO - RTF 31 de Janeiro de 2004 PONTOS DE CENÁRIO Alguns pontos e aspectos mencionados em reuniões anteriores, principalmente a reunião ordinária de dezembro/2003, foram levantados para uma melhor clareza do cenário de limites, potencialidades, conquistas, perspectivas da RTF e da questão da criança e adolescente: 1. Demanda e necessidade de ampliar Conselhos Tutelares na região (mais dois); 2. Implantar as 4 comissões permanentes da RTF (no geral, implantar a Carta e as Regras de Convivência); 3. Debate sobre redução da idade penal; 4. Eleição do Conselho Tutelar; 5. Organização da Semana do ECA; 6. Estratégias para mobilização de jovens: oficinas itinerantes, linguagem (siglas, conceitos, etc); 7. Eleição do CMDCA; 8. Acompanhamento do trabalho do Conselho Tutelar (audiência pública); 9. Sistematização de materiais (impressos e eletrônicos); 10. Municipalização das medidas sócio-educativas, inicialmente prestação de serviços comunitários (PSC); 11. Participação efetiva e formação dos jovens (conceito e práticas do protagonismo juvenil); 12. Eleição municipal; 13. Mobilização e envolvimento do poder público e instituições (NAE, DECO, CMDCA, FUNCAD, medidas sócio-educativas); 14. Comunicação interna/externa; 15. Utilizar CEU. EIXOS / OBJETIVOS ESTRATÉGICOS: A sistematização dos aspectos do cenário geraram três eixos ou objetivos estratégicos para a RTF em 2004: 1. Mobilizar e contribuir para a formação de jovens, lideranças comunitárias e instituições; 2. Acompanhar as políticas públicas e ampliar as possibilidades de participação e influência da sociedade civil da Região Oeste; 3. Implantar o funcionamento da RTF a partir da Carta Compromisso e Regras de Convivência. 76 PLANO DE AÇÃO 2004 Eixos / Objetivos Estratégicos Objetivos Específicos (Linha de Ação) 1. Mobilizar e contribuir - Organização da III para a formação jovens, comunitárias de Semana do ECA; lideranças e instituições; - Organização de Seminário sobre PSC (prestação de serviços comunitários); - Legalização e legitimação de instituições e projetos; - Mobilização de grêmios estudantis e institucionais; - Organização de oficinas itinerantes coordenadas por jovens; - Contextualização de todas as reuniões, eventos e temas no âmbito do ECA; Ações e Metas 77 2. Acompanhar políticas públicas as -Acompanhamento do e Conselho Tutelar da ampliar as região Oeste; possibilidades de participação e influência da sociedade civil da região Oeste; - Acompanhamento do Conselho Municipal dos Direitos das Crianças e Adolescentes; - Cobrança de envolvimento e participação das Coordenadorias de Educação municipais e estaduais na RTF; 3. Implantar o funcionamento da RTF a partir da Carta Compromisso e Regras de - implantar Comissões Permanentes; Convivência. - implantar processo de avaliação processual e de resultados;