Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Lato Sensu em Libras Trabalho de Conclusão de Curso Acessibilidade à comunicação dos Surdos através dos Tradutores/Intérpretes da Língua de Sinais (TILS) em espaços públicos Autor: Valéria Maria Gomes Barros Orientadora: Valícia Ferreira Gomes Brasília - DF 2013 VALÉRIA MARIA GOMES BARROS ACESSIBILIDADE À COMUNICAÇÃO DOS SURDOS ATRAVÉS DOS TRADUTORES/INTÉRPRETES DA LÍNGUA DE SINAIS (TILS) EM ESPAÇOS PÚBLICOS Monografia apresentada ao Programa de Pós Graduação Lato Sensu em Libras da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do certificado de Especialista em Libras. Orientadora: Prof.ª Esp. Valícia Ferreira Gomes Brasília 2013 Monografia de autoria de Valéria Maria Gomes Barros, intitulada “Acessibilidade à comunicação dos Surdos através dos Tradutores/Intérpretes da Língua de Sinais (TILS) em espaços públicos” apresentada como requisito parcial para obtenção do certificado de especialista em Libras da Universidade Católica de Brasília, em 15/08/2013, defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo assinada: _________________________________________________________ Prof.ª Esp. Valícia Ferreira Gomes Orientadora ____________________________________________________________ Prof. Falk Soares Ramos Moreira Prof. Especialista Brasília 2013 Dedico este trabalho a todos os Tradutores e Intérpretes da Língua de Sinais (TILS) e aos Surdos. AGRADECIMENTOS À minha família, pela força, ajuda e por não me deixar desistir. Um agradecimento especial à minha orientadora Valícia Ferreira Gomes pelo carinho, dedicação e paciência ao longo do curso e na orientação deste trabalho. Aos meus professores, Júlio Egreja, Arislan Dantas, Layane Rodrigues de Lima por me mostrarem o mundo dos Surdos. Aos Tradutores/Intérpretes da Língua de Sinais e aos Surdos pela disponibilidade em responder os questionários. Aos meus colegas dos Laboratórios do Curso de Biologia pela paciência, conselhos, conversas e grande a ajuda nos ajustes finais do trabalho. Em especial à Kamilla, Hugo e Fabiana. Às minhas colegas do Curso de Especialização pela amizade e carinho durante a nossa caminhada. Enfim, a todos que me apoiaram durante o meu curso, meu Muito Obrigada! “Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”. Cora coralina SUMÁRIO INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 11 CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .............................................................. 13 1.1 O SURDO E SURDEZ ................................................................................................... 13 1.2 A IDENTIDADE E CULTURA SURDA.......................................................................... 16 1.3 A LÍNGUA DE SINAIS NA COMUNIDADE SURDA................................................... 19 1.3.1 Importância da Libras na comunicação dos surdos ....................................... 21 1.4 ACESSIBILIDADE Á COMUNICAÇÃO ....................................................................... 22 1.4.1 O Tradutor/Intérprete da Língua de Sinais (TILS) .......................................... 24 CAPÍTULO 2 - METODOLOGIA ......................................................................................... 28 2.1 PERFIL DOS PARTICIPANTES .................................................................................. 29 CAPÍTULO 3 - RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................... 30 Parte I – Tradutores/Intérpretes: ......................................................................................... 30 Parte II – Surdos: ................................................................................................................... 33 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 36 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 38 APÊNDICE ............................................................................................................................. 41 RESUMO A acessibilidade á comunicação dos Surdos é de fundamental importância para que o Surdo possa interagir e participar ativamente da sociedade em que vive, com isso, respeitados seus direitos e deveres. Essa acessibilidade está legalmente amparada pelo Decreto Lei Nº 5.626/2005 que estabelece a Língua Brasileira de Sinais – Libras, como a primeira língua oficial dos Surdos e também pela Lei Nº 12.319/2010 que regulamenta a profissão do Tradutor/Intérprete da Língua de Sinais – TILS. O presente estudo procurou fazer uma abordagem qualitativa e teve o objetivo verificar a atual realidade em Brasília, em relação a acessibilidade à comunicação para os Surdos através dos Tradutores/Intérpretes da Língua Brasileira de Sinais – TILS, em diferentes locais públicos. Como instrumento de pesquisa foram utilizados dois questionários, com perguntas objetivas e dissertativas para os Surdos e Tradutores/Intérpretes. No total foram respondidos 24 questionários, sendo 13 pelos Tradutores/Intérpretes de LIBRAS e 11 pelos Surdos. Dos resultados obtidos, foi possível verificar que os profissionais intérpretes trabalham em Órgãos do Governo Federal, Distrital e alguns são voluntários em uma Instituição de Apoio ao Surdo. A partir dos dados obtidos, foi verificada a falta de TILS nos variados serviços prestados à comunidade, como agências bancárias, hospitais, postos de saúde, entre outros. Também foi observado que apenas seis profissionais possuem a certificação de proficiência em LIBRAS - PROLIBRAS. PALAVRAS-CHAVE: Tradutores/Intérpretes da Língua de Sinais (TILS), LIBRAS, Surdo, Acessibilidade e Comunicação. ABSTRACT The communication accessibility for the Deaf communication has great importance so they can interact and actively participate in the society they live and be respected in their rights and duties. This accessibility is supported by Decree Law 5.626/2005 establishing the Brazilian Sign Language (Libras - Língua Brasileira de Sinais) as the first official language of the Deaf and also by Law nº 12.319/2010 which regulates the profession of Translator/Interpreter of Sign Language – TILS (Tradutor / Intérprete de Língua de Sinais). This article aims to make a qualitative approach to check the current reality in Brasilia, regarding to communication accessibility for the Deaf by interviewing Translator/Interpreters of Brazilian Sign Language – TILS in different public places. The used research instrument was two questionnaires with objective and subjective questions. In total 24 questionnaires were returned, 13 from Translators/Interpreters and 11 from the Deaf. From the answered questionnaires was possible to verify that the professional interpreters work in Federal Government Agencies, District Government and some are volunteers on an institution that Support Deaf. From the obtained data, was observed a lack of TILS in various community services, such as banks, hospitals, health centers, among others. It was also observed that only six of the interviewed professionals have the proficiency course in LIBRAS. KEYWORDS: Translators/Interpreters of Sign Language (TILS), LIBRAS, Deaf, Accessibility and Communication. 11 INTRODUÇÃO Durante muitos anos, desde a Antiguidade até o final do século XIX, o acesso dos surdos aos vários serviços oferecidos pela sociedade era bastante deficitário, questões sobre Acessibilidade e Inclusão para Surdos, começam a ser refletidas e colocadas em prática, em diversos países, e no Brasil, após a década de 60. Os Surdos, como quaisquer outros cidadãos, têm seus direitos previstos em lei, à educação, saúde, esporte e lazer nos mais diversos órgãos, porém a falta de conhecimento da língua de sinais utilizada pelos surdos representa exclusão aos direitos do cidadão tanto por parte do governo como pela sociedade. O presente trabalho discute sobre a acessibilidade à comunicação dos Surdos. Esse tema se mostra atual e relevante porque é preciso que a sociedade e o governo tenham conhecimento da importância do acesso à comunicação para os Surdos. Compreender o processo de inclusão social que é proposto hoje à sociedade exige conhecimento da história sobre como foram tratadas as pessoas com deficiências, explicitada em quatro momentos distintos, a saber: exclusão, segregação, integração e inclusão. (CHAVEIRO & BARBOSA, 2005, p. 418) De acordo com Barbosa (2003), a acessibilidade oferecida pelo meio urbano reflete a qualidade de vida da sociedade. A experiência e os estudos demonstram que é o meio físico, mais precisamente o meio urbano, que determina o efeito, seja da idade, da deficiência, sobre as atividades da vida diária de uma pessoa, impondo restrições e limitações. A acessibilidade na comunicação dos surdos devia fazer-se presente nos órgãos federais, estaduais e municipais e prestadores de serviços através da presença de profissionais Tradutores/Intérpretes da Língua Brasileira de Sinais TILS, de acordo com o que rege o Decreto nº 5.626/2005. Para a atual sociedade a acessibilidade pode ser compreendida como uma melhoria para todos os cidadãos como critério de qualidade de vida. O trabalho organizado em subtítulos apresenta fatos importantes sobre a história do Surdo desde a Antiguidade até os dias atuais e os tipos de surdez. Também discorre sobre uma abordagem da Identidade e Cultura Surda e a Língua de Sinais na comunidade Surda, bem como da sua importância na sociedade. Outro 12 aspecto relevante apresentado é sobre a acessibilidade à comunicação dos surdos, enfatizando o perfil dos intérpretes em Língua de Sinais. O presente trabalho teve como objetivo identificar as diferentes percepções de surdos e tradutores/intérpretes, voltadas para a acessibilidade à comunicação dos surdos empenhados pela atuação dos TILS em diferentes espaços públicos. 13 CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 1.1 O SURDO E SURDEZ Desde a Idade Antiga, a surdez era vista como uma doença, onde os Surdos eram considerados “bobos” ou “doentes mentais”, incapazes de pensar, agir sozinhos, ou seja, de decidir sua própria vida. Como não interagiam com outras pessoas, não eram reconhecidos como capazes, não trabalhavam e muitos eram mantidos presos em suas casas, privados até do convívio familiar. De acordo com Nóbrega et al (2012), a pessoa com surdez era concebida como um ser inferior, não raro, considerada anormal, dependente de outras pessoas e incapaz de se prover. Nos estudos feitos por Strobel (2009), já na Roma da Idade Antiga, os surdos não eram perdoados, achavam que eram pessoas castigadas ou enfeitiçadas. Alguns eram jogados no rio ou feitos escravos. O filósofo grego Heródoto (470 a. C.) classificava os Surdos como “Seres castigados pelos deuses”. Na Grécia, nesse mesmo período, eles eram considerados inválidos e muito incômodos para a sociedade e por isso eram condenados à morte. Já no Egito e Pérsia, eram vistos como pessoas privilegiadas, enviados dos deuses. Havia um forte sentimento humanitário, mas os surdos tinham uma vida inativa e não recebiam educação. Para Aristóteles (384-322 a. C.), as pessoas que nasciam surdas eram também mudas e, consequentemente, não podiam falar nenhuma palavra. Para atingir a consciência humana, tudo deveria penetrar por um dos órgãos do sentido, e ele considerava a audição o canal mais importante de aprendizado. (Guarinello, 2007) A sociedade da Idade Média, não considerava o surdo como cidadão, ele não tinha nem direitos nem deveres como os ouvintes, viviam em um mundo particular, escondido, sem nenhum tipo de comunicação e interação com o mundo ao seu redor, sofrendo preconceito e discriminação, onde Monteiro (2006), afirma que: Em décadas passadas, existiam famílias ouvintes que “escondiam” os filhos surdos pela “vergonha” de ter concebido uma criança fora dos padrões considerados normais; e por isso os surdos quase não saíam de casa ou sempre ficavam acompanhados dos pais. A comunicação dos pais com os filhos surdos era muito complexa, pois esses não sabiam a Língua de Sinais e também não a aceitavam; achavam que era “feio” fazer “gestos” ou “mímica” (Não Língua de Sinais) como forma de comunicação com sua criança e, consequentemente, 14 não aceitavam a língua de sinais como a primeira língua dos surdos. (MONTEIRO, 2006, p. 294) A Idade Moderna foi marcada por avanços para os Surdos. Muitos estudiosos, como o médico e filósofo Girolamo Cardano (1501 – 1576) reconhecia a habilidade do surdo para a razão, afirmava que “... a surdez e mudez não é o impedimento para desenvolver a aprendizagem e o meio melhor dos surdos de aprender é através da escrita... e que era um crime não instruir um surdo-mudo”. Ele utilizava a língua de sinais e escrita com os surdos (STROBEL, 2009). A pessoa surda é considerada uma pessoa deficiente quando precisa de outras pessoas para se comunicar e interagir na sociedade em que vive. Durante anos, nos séculos XVII, XVIII, muitos Surdos se comunicavam por gestos, mas no Congresso de Milão, em 1880, foi declarada que o oralismo era superior a língua gestual, sendo proibido assim, o uso da língua de sinais, principal meio de comunicação dos surdos. No Brasil, por muito tempo o oralismo foi ensinado aos surdos, que eram proibidos de se comunicarem por gestos e muitos alunos tinham as mãos amarradas para que não utilizassem a língua de sinais. Mesmo assim, entre eles a comunicação por sinais sempre existiu. [...], a língua de sinais, ainda que “proibida”, jamais deixou de existir na vida do surdo, porém estava lá de forma tolhida, marginal, fora das salas de aula e de qualquer outro espaço “oficial” que o ouvinte tivesse (também) participação. (PEIXOTO, 2006, p. 206-207) Segundo Chaveiro e Barbosa (2005), a fase de inclusão dos surdos surgiu na década de 1980, com a concepção de que a família e a sociedade deviam adaptarse às necessidades de todas as pessoas, deficientes ou não. Um grande avanço para os surdos foi a Declaração de Salamanca de 1994, que estabeleceu que todos são iguais e tem direito a uma educação de qualidade. A partir dessa Declaração, os surdos tiveram a língua de sinais reconhecida como sua língua materna. Conviver no universo das pessoas com deficiência envolve uma mudança de paradigmas. [...] as mudanças acontecem quando são aceitos e respeitados em suas diferenças e contar com a presença intérpretes da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) [...]. (CHAVEIRO et al, 2005, p. 418) 15 Uma das contribuições relevantes para o desenvolvimento dos surdos e a disseminação da Língua de Sinais, foram os estudos feitos por muitos linguistas durante o século XX, para o reconhecimento da mesma, em diversos países, pautados na modalidade de comunicação visual-espacial, e não mais oralista, por leitura labial, ou pelo uso de várias formas de comunicação, denominada de comunicação total. De acordo com o Decreto nº 5.626/2005, considera-se deficiência auditiva a perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas frequências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz. Pessoa surda é aquela que, por ter perda auditiva, interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS. Segundo o último Censo Demográfico de 2010 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, considerando dados da atual população brasileira, o percentual obtido, de pessoas com deficiência auditiva foi de 5,1%, ou seja, 9.717.318 pessoas. A deficiência severa foi declarada por 2.143.173 pessoas, sendo 344.206 pessoas surdas (0,2%) e 1.798.697 pessoa com grande dificuldade de ouvir, equivalente a um percentual de 0,9%. De acordo com o Ministério da Educação MEC (2006) a surdez é classificada em cinco categorias, dependendo do grau de comprometimento da audição, ou seja, a intensidade da perda auditiva. São elas: leve, moderada, acentuadas, severa e profunda. A audição normal varia de 0 a 15 dB (decibel); a surdez leve tem uma variação de 16dB a 40 dB. A pessoa com surdez leve tem dificuldade de ouvir uma conversa silenciosa. A surdez moderada apresenta uma variação de 41 dB a 55 dB, dessa forma ocasiona dificuldade de ouvir uma voz fraca ou um canto de ave. Na surdez acentuada, que tem uma variação de 56 dB a 70 dB, acomete à dificuldade para ouvir uma conversa normal. A surdez severa, de 71 dB a 90 dB, a dificuldade é de ouvir o som de um telefone tocando. Já na surdez profunda, que é acima de 91 dB, a pessoa tem dificuldade de ouvir os sons mais fortes, como o ruído de uma caminhão ou um avião decolando. 16 Quanto ao período de aquisição, a surdez pode ser congênita ou adquirida. Na congênita, a criança nasce surda, chamada de surdez pré-lingual, ou seja, ocorreu antes da aquisição da linguagem. Já na adquirida, o indivíduo perde a audição no decorrer da vida, nesse caso a surdez pode ser pré ou pós-lingual, pois pode ter sido antes ou depois da aquisição da linguagem. A surdez também pode ser classificada como unilateral, quando se apresenta em apenas um ouvido ou bilateral quando se apresenta nos dois ouvidos. De acordo com Salerno et al (1985), podem existir três causas para a surdez: pré-natal, neonatal e pós-natal. Uma das principais causas, a pré-natal é a consanguinidade e aquisição de rubéola pela mãe. Dentre as causas neonatais está a prematuridade. Já as viroses, como o sarampo, são as causas mais significativas pós-natais. 1.2 A IDENTIDADE E CULTURA SURDA Para que o indivíduo se identifique como pessoa surda, ele deve ser inserido na cultura surda, a fim de conhecer os costumes, as histórias, a língua, o lazer, para que só assim ele possa se reconhecer fazendo parte da comunidade surda. A cultura surda precisa ser reconhecida não só pelos surdos, mas também pelas pessoas ouvintes, principalmente as que convivem direto com os mesmos, para que possa ser aceita e respeitada como qualquer outra cultura. A cultura surda traz em si elementos importantes que a identificam, a constituem e a colocam no rol das diferentes culturas que perfazem o panorama das posições da modernidade tardia. (PERLIN, 2006, p.138) De acordo com Strobel (2009, p. 19), cultura é a herança que o grupo social transmite a seus membros através da aprendizagem e da convivência, percebe-se que cada geração e sujeito também contribuem para ampliá-la e modificá-la. Um ponto importante que ressalta a identidade e valorização do surdo é o pertencimento a comunidade surda e o uso da língua de sinais. Uso esse bastante difundido e utilizado por toda a comunidade. De acordo com Strobel (2009, p. 40), outros aspectos importantes na cultura surda são os artefatos culturais, dentre eles: a experiência visual, o linguístico, a família, a literatura surda, a vida social e esportiva, as artes visuais, a política entre outros. 17 Artefatos não se referem apenas a materialismos culturais, mas àquilo que na cultura constitui produções do sujeito que tem seu próprio modo de ser, ver, entender e transformar o mundo. (STROBEL, 2009, p. 39) A experiência visual abrange as percepções, através das expressões faciais e corporais, já que o surdo pela sua ausência de audição percebe mundo através de seus olhos. Outro artefato cultural importante para os surdos diz respeito ao linguístico, onde a língua de sinais é um aspecto fundamental da cultura surda, dando acesso ao surdo para a construção da sua identidade. Incluem-se também nesse artefato os gestos denominados “sinais emergentes” ou “sinais caseiros” dos sujeitos surdos de zonas rurais ou isolados de comunidades surdas que procuram entender o mundo através dos experimentos visuais e procuram comunicar-se apontando e criando sinais, pois não tem o conhecimento de sons e palavras. (STROBEL, 2009) A família deve ser o ambiente mais importante para o surdo, o lugar onde ele precisa ter o apoio necessário para lidar com sua diferença. Mas infelizmente isso não ocorre com frequência nas famílias ouvintes, como relata Strobel (2009), na maioria dos casos, com famílias ouvintes, o problema encontrado para esses sujeitos é a carência de diálogo, de entendimento e a falta de noção do que é a cultura surda. A literatura também é outro artefato importante na cultura surda. Nela estão inseridas as experiências e vivências dos surdos. Possui diferentes gêneros literários como na literatura dos ouvintes: literatura infantil, clássicos, romances, lendas, todos adaptados à cultura surda. A literatura surda refere-se às várias experiências pessoais do povo surdo que, muitas vezes, expõem as dificuldades e/ou vitórias das opressões ouvintes, de como se saem em diversas situações inesperadas, testemunhando as ações de grandes líderes e militantes surdos, e sobre a valorização de suas identidades surdas. (STROBEL, 2009, p.62138) Também existem as piadas que são adaptadas aos surdos onde os surdos exploram as expressões facial e corporal. Quase sempre essas piadas envolvem situações engraçadas envolvendo a incompreensão tanto da sociedade ouvinte como da surda. 18 Outro artefato da cultura surda é a vida cultural e esportiva, entre eles estão os casamentos entre surdos, festas, lazeres e atividades esportivas, tudo isso ocorrendo nas associações de surdos. Nos bailes e festas promovidos pelas associações de surdos, geralmente, no salão, há poucos sujeitos surdos dançando e a grande maioria está conversando em seus cantos, pois os sujeitos surdos, quando reencontram seus amigos de muitos lugares do país, sentem mais necessidade de colocar em dia as conversas para saber as novidades do que dançar. (STROBEL, 2009, p. 70). Na comunidade surda, as criações artísticas mostram a forma do surdo de perceber o mundo ao seu redor. Segundo Strobel (2009), tem muitos surdos artistas que fazem desenhos, pinturas, esculturas e outras manifestações artísticas com a extensão, beleza, equilíbrio, harmonia e também revoltas com muitas discriminações sofridas pelo povo surdo. Em relação à música, surgem artistas surdos que substituem a música ouvintizada pela música-sem-som, que são coreografias de danças em língua de sinais sem música. Por último, tem a política, que é um importante recurso que os surdos têm para lutarem pelos seus direitos. Um dos espaços de maior relevância política são as associações dos surdos. Nessas associações os surdos se reúnem para discutir melhorias para os surdos, compartilhar interesses comuns da comunidade e lutar pelos seus direitos como cidadãos. Dentro da cultura surda, é fundamental que a família insira a criança desde cedo na comunidade surda para que ela conheça e participe da sua comunidade. Strobel (2009, p. 43) enfatiza que o contato da criança surda com o adulto surdo proporciona acesso à língua de sinais assegurando assim, a formação da identidade e a cultura surda, que são transmitidas naturalmente à criança surda em contato com a comunidade surda. Um fato curioso na comunidade surda são os “batismos”, nomes que os surdos recebem a partir de alguma característica física ou pela primeira letra do nome. [...] os surdos eram batizados por outros surdos da comunidade, através de um sinal próprio e que esse sinal 19 seria a identidade de cada um na comunidade surda [...] a comunidade surda não se refere às pessoas pelo nome próprio, mas pelo sinal recebido no “batismo” quando o surdo ingressa na comunidade [...] (DALCIN 2006, apud STROBEL, 2009, p. 71). Todos esses artefatos fazem da cultura surda uma cultura que possui identidade própria com costumes, tradições, histórias, lendas, política e artes, inserindo assim o surdo na comunidade e se tornado cidadão na sociedade em que vive. Mas de acordo com Perlin (2011, p. 54), “(...) as identidades surdas assumem formas multifacetadas em vista das fragmentações a que estão sujeitas face à presença do poder ouvinistista que lhe impõe regras, inclusive, encontrando no estereótipo surdo uma resposta para a negação da representação da identidade surda ao sujeito surdo”. 1.3 A LÍNGUA DE SINAIS NA COMUNIDADE SURDA Segundo Quadros et al (2009), as línguas expressam a capacidade específica dos seres humanos para a linguagem que é tão essencial para o ser humano que, apesar de todos os empecilhos que possam surgir para o estabelecimento de relações através dela, os seres humanos buscam formas de satisfazê-las. A Língua de Sinais é o meio de comunicação utilizado pelos Surdos, que apresenta estrutura e características específicas ás línguas naturais, sendo assim reconhecida pela Linguística como Língua. As línguas de sinais existem nos cinco continentes, sendo específicas de cada país com suas normas, regras e estruturas gramaticais próprias. As línguas de sinais são consideradas línguas naturais e, consequentemente, compartilham uma série de características que lhes atribui caráter específico e as distingue dos demais sistemas de comunicação. (QUADROS & KARNOPP, 2004, p. 30) No Brasil, a língua oficial de sinais utilizada pelos Surdos, é a LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais), que teve sua origem na Língua de Sinais Francesa. Ao contrário das línguas dos ouvintes caracterizadas por serem orais-auditivas, a LIBRAS se constitui essencialmente na modalidade visual-espacial, porque utiliza como canal ou meio de comunicação, movimentos gestuais e expressões faciais que são percebidos pela visão. 20 De acordo com Santana e Bergamo (2005), “a língua de sinais era considerada apenas uma mímica gestual, e sempre houve preconceitos com relação ao uso de gestos para a comunicação”. A língua de sinais desenvolveu-se no meio da comunidade surda de um modo espontâneo, através da necessidade de comunicação entre as pessoas surdas, para expressar sentimentos, ideias, ações, inquietações, ou seja, todas as formas de expressão. Segundo Quadros (1997), “assim como as línguas faladas, as línguas de sinais não são universais: cada país apresenta a sua própria língua”. A língua de sinais […] tem uma gramática própria e se apresenta estruturada em todos os níveis, como as línguas orais: fonológico, morfológico, sintático e semântico. Além disso, podemos encontrar nela outras características: a produtividade/criatividade, a flexibilidade, a descontinuidade e a arbitrariedade. (GESSER, 2009, p. 29) Nesse sentido, as línguas de sinais proporcionam aos seus usuários as mesmas condições de desenvolvimento neuropsicológicos das línguas orais, possibilitando assim, que o surdo expresse suas emoções, sentimentos, ideias e questionamentos através de suas expressões faciais. […] as línguas de sinais apresentam-se numa modalidade diferente das línguas orais; são línguas espaço-visuais, ou seja, a realização dessas não é estabelecida através dos canais oral-auditivos, mas através da visão e da utilização do espaço. A diferença na modalidade determina o uso de mecanismos sintáticos especialmente diferentes dos utilizados nas línguas orais. (QUADROS, 1997, p. 46) A LIBRAS é uma língua viva e autônoma, que possui todos os elementos classificatórios identificáveis de uma língua e demanda de prática para seu aprendizado, como qualquer outra língua. Dessa forma, qualquer pessoa interessada em Língua Brasileira de Sinais pode fazer uso dessa comunicação. Importantes conquistas foram alcançadas pela comunidade surda em nosso país, dentre elas: o reconhecimento da LIBRAS como língua oficial brasileira, através da Lei nº 10.436/2002 e o Decreto nº 5.626/05 onde a disciplina de LIBRAS passa a ser inserida como disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação de professores (licenciaturas) e cursos de Fonoaudiologia. Enfim, estes são alguns exemplos da conscientização de que o Surdo é um sujeito cultural capaz, que assim 21 como qualquer outro cidadão deve ter seus direitos respeitados, sendo a forma de comunicação a única diferença entre os ouvintes. 1.3.1 Importância da Libras na comunicação dos surdos A LIBRAS é a língua natural dos surdos, é através dela que eles se comunicam, expressam suas ideias, sua cultura e suas opiniões. A língua de sinais é ensinada nas escolas, igrejas e na comunidade surda, onde é bastante divulgada não só para os surdos como para os ouvintes familiares e amigos dos surdos e pessoas interessadas nessa língua. Através da Lei nº 10.436 de 24 de abril de 2002, o Governo Federal institui a Língua Brasileira de Sinais como a primeira língua dos surdos, reconhecendo assim a importância da Libras para a comunidade surda, esse reconhecimento como primeira língua propicia para os surdos a valorização como cidadão brasileiro, fazendo parte da comunidade em que vive, podendo participar e representar a comunidade surda na sociedade brasileira. O acesso à comunicação, a educação e a acessibilidade é um direito de todos e para que isso se tornasse possível, o Governo Federal criou em 2009, por meio do Decreto nº 7.612/2011 o Plano Viver sem Limites. Plano esse que tem como objetivo principal a inclusão das pessoas com deficiência na sociedade, possibilitando a todos as mesmas oportunidades e direitos. Outro aspecto relevante para a comunidade surda foi a aprovação do Decreto nº 5.626/2005 que além de reconhecer a Língua Brasileira de Sinais como língua oficial da cultura surda, dispõe de importantes artigos, fazendo da Libras disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação de professores para o exercício do magistério, em nível médio e superior (Licenciatura) e nos cursos de Fonoaudiologia. Outra conquista também importante foi a aprovação da Lei nº 12.319/2010, que regulamenta o exercício da profissão de Tradutor/Intérprete da Língua de Sinais. Nessa lei o profissional terá competência para realizar interpretação das duas línguas de maneira simultânea ou consecutiva. No Artigo 6º da lei, uma das atribuições do tradutor e intérprete é de atuar no apoio à acessibilidade aos serviços e às atividades-fim das instituições e repartições públicas. Em 2009, o Governo do Distrito Federal sancionou a Lei nº 4.317 que dispõe sobre a Integração da Pessoa com Deficiência, onde objetiva assegurar o pleno 22 exercício dos direitos individuais e sociais das pessoas com deficiência. O Artigo 4º dessa lei dispõe de alguns princípios, entre eles a inclusão e participação plena e efetiva na sociedade. Os surdos estão presentes em todos os lugares como hospitais, bancos, escolas, órgãos prestadores de serviços e em vários eventos de lazer e culturais. Em muitas dessas ocasiões, a falta de intérpretes prejudica na comunicação e acessibilidade aos serviços oferecidos pela sociedade, com isso alguns surdos para ter acesso aos serviços disponíveis e se fazer entender faz gestos e mímicas ou utiliza de lápis e papel. 1.4 ACESSIBILIDADE NA COMUNICAÇÃO Entende-se por acessibilidade, o direito de todo cidadão brasileiro a fazer parte da sociedade, independentemente de sua posição social, cultural, racial, física, intelectual, etc. A acessibilidade surge como um marco principal, onde todos lutam por um mundo melhor, onde todos possam desfrutar igualmente de seus direitos e deveres como cidadãos. A comunicação é um dos principais fatores do processo de inclusão do ser humano e significa participação, convivência e socialização. A limitação ocasionada pela deficiência auditiva acarreta não apenas alterações no desenvolvimento da linguagem, mas também nos aspectos cognitivo, social, emocional e educacional. Ter acesso a todo tipo de comunicação faz com que os surdos possam não apenas ser incluídos na sociedade, mas garante um dos direitos previstos na Constituição Federal, que é o direito à comunicação. (BRASIL, 2009) O valor fundamental da linguagem está na comunicação social, em que as pessoas fazem-se entender umas pelas outras, compartilham experiências emocionais e intelectuais, e planejam a condução de suas vidas e a de sua comunidade. (CAPOVILLA & CAPOVILLA, 202, p. 128) Um dos meios de comunicação mais difundidos no mundo atual é a televisão, que consegue propagar a comunicação para um grande número de pessoas. Existem dois recursos disponíveis na televisão que auxiliam os surdos a terem acesso aos conteúdos. Um deles é o “closed caption”, que é um recurso de legenda oculta que reproduz na tela as falas dos apresentadores de jornais e de personagens de filmes, seriados e novelas. O recurso também descreve barulhos, 23 sons da natureza e músicas. Esse recurso passou a ser oferecido aos telespectadores após a lei da acessibilidade. O outro recurso disponibilizado aos surdos é a janela de LIBRAS. Essa ferramenta é indicada para os surdos que não possuem uma fluência na Língua Portuguesa. A janela de LIBRAS corresponde a um espaço delimitado no vídeo onde as informações são interpretadas na Língua Brasileira de Sinais. Entretanto, nem todos os programas televisivos contam com esse recurso e, quando o disponibilizam, não o fazem em um formato adequado. Para compreender a LIBRAS é necessária a visualização dos gestos das mãos e da expressão facial, mas, normalmente a veiculação da imagem é feita em pequenas janelas no canto da tela, fugindo do modelo ideal. (BRASIL, 2009) Em 1981, a ONU (Organização das Nações Unidas) criou o Ano Internacional das Pessoas Deficientes que tem como propósito, proteger e assegurar o exercício pleno e equitativo de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais por todas as pessoas com deficiência e promover o respeito pela sua dignidade inerente. A Lei nº 8.160/1991 dispõe sobre a caracterização de símbolo que permita a identificação de pessoas portadoras de deficiência auditiva. Em seu Artigo 1º orienta a obrigatoriedade sobre a colocação, de forma visível, do “Símbolo Internacional da Surdez” em todos os locais que possibilitem acesso, circulação e utilização por pessoas portadoras de deficiência auditiva, e em todos os serviços que forem postos à sua disposição ou que possibilitem seu uso. A partir da Lei da Acessibilidade (Lei nº 10.0989/2000) que estabelece normas e critérios para a acessibilidade de pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, os surdos começaram a ter oportunidades de acesso aos meios de comunicação com as legendas em Libras e o recurso “closed caption” em alguns programas de televisão. Para a lei, acessibilidade é a possibilidade e condição de alcance para utilização com segurança e autonomia, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos transportes e dos sistemas e meios de comunicação, por pessoa portadora de deficiência ou mobilidade reduzida. Art. 17. O Poder Público promoverá a eliminação de barreiras na comunicação e estabelecerá mecanismos e alternativas técnicas que tornem acessíveis os sistemas de comunicação e sinalização às pessoas portadoras de deficiência sensorial e com dificuldade de comunicação, para garantir-lhes o direito de acesso à informação, à 24 comunicação, ao trabalho, à educação, ao transporte, à cultura, ao esporte e ao lazer. (Lei nº 10.098/2000) A Inclusão Social permite a oportunidade a todas as pessoas com algum tipo de deficiência motora, intelectual, auditiva ou visual e também as pessoas com poucas condições financeiras a terem as mesmas oportunidades das pessoas ditas normais na sociedade em que vivem. A cartilha Viver sem Limites, 2009 do Governo Federal, diz que a acessibilidade é um atributo do ambiente que garante a melhoria de vida e deve estar presente nos espaços e na comunicação. É a possibilidade de todas as pessoas conviverem de forma independente, com segurança e autonomia, nos espaços, mobiliários e equipamentos abertos ao público ou de uso público. 1.4.1 O Tradutor/Intérprete da Língua de Sinais (TILS) Segundo Rosa (2006), no Brasil, os trabalhos dos intérpretes tiveram início em instituições religiosas nos anos de 1980, inicialmente de forma casual, por terem em seu seio familiar pessoas surdas. Posteriormente esses intérpretes foram convidados para atuarem em outros ambientes, com uma frequência na área educacional. Muitos dos primeiros tradutores/intérpretes eram filhos ouvintes de pais surdos ou amigos de surdos ou ainda pessoas interessadas na língua de sinais. Eles tiveram que aprender a língua de sinais para que pudessem se comunicar com os surdos e também ajudá-los a se comunicarem na sociedade. De acordo com Masutti e Santos (2008), pela aquisição e fluência com que os filhos, em convivência com seus pais, tinham da língua, desenvolviam a atividade de interpretar, intermediando surdos e ouvintes. A figura do TILS não é nova nas experiências das comunidades surdas, contudo aparece pela primeira vez em documentos oficiais no Brasil apenas no final da década de 1990, como profissional responsável pela acessibilidade de sujeitos surdos aos conteúdos tratados em espaços públicos e educacionais. (LACERDA, 2010, p. 135) De acordo com o Decreto nº 5.626/2005, o tradutor/intérprete da língua de sinais é a pessoa ouvinte bilíngue que traduz e interpreta a língua de sinais para a língua portuguesa em quaisquer modalidades que se apresentar, seja oral ou escrita. 25 A partir do decreto, foram surgindo demandas de TILS em diferentes espaços públicos e privados. É o profissional que domina a língua de sinais e a língua falada do país e que é qualificado para desempenhar a função de intérprete. No Brasil, o intérprete deve dominar a língua brasileira de sinais e língua portuguesa. Ele também pode dominar outras línguas, como o inglês, o espanhol, a língua de sinais americana e fazer a interpretação para a língua de sinais ou vice-versa (por exemplo, conferências internacionais). (QUADROS, 2004, p. 27-28) Com o reconhecimento da Libras a partir da Lei nº 10.436 de 24 de abril de 2002, o tradutor/intérprete ganhou notoriedade no Brasil a partir do momento em que os surdos buscaram seus direitos e deveres como cidadãos. A tradução cultural implica também uma construção de referências não apenas de línguas, mas de formas singulares de produzir conhecimento de determinadas comunidades que sofreram processos discriminatórios e que foram esquecidas ou subestimadas por outras culturas. (MASUTTI, 2001, p.4) O tradutor/intérprete representa um papel importante nas relações sociais e na comunicação entre surdos e ouvintes, facilitando as barreiras linguísticas entre os dois mundos. Para uma boa tradução/interpretação é necessário que os profissionais da área conheçam e sigam os preceitos do código de ética, que são: confiabilidade, imparcialidade, discrição, distância profissional e fidelidade na interpretação. Para Quadros et al, (2009), o tradutor/intérprete de língua de sinais atua em três diferentes campos de trabalho exercendo a função: intermediar a comunicação entre as pessoas surdas usuárias de Libras e as pessoas ouvintes usuárias da Língua Portuguesa em diferentes contextos; traduzir os textos da Libras para a Língua Portuguesa e os textos da Língua Portuguesa para a Libras e auxiliar no esclarecimento da forma escrita produzida pelos surdos em quaisquer contextos que se façam necessários (concursos, avaliações em salas de aula, documentos, etc.). A tradução envolve a língua de sinais para a língua portuguesa escrita e da língua portuguesa escrita para a língua de sinais. Enquanto a interpretação envolve a língua de sinais para a língua portuguesa falada e da língua portuguesa falada para a língua de sinais. 26 Existem dois tipos de tradução/interpretação: a simultânea e a consecutiva. De acordo com Quadros (2004), a tradução/interpretação simultânea é o processo de traduzir/interpretar de uma língua para outra simultaneamente, ou seja, ao mesmo tempo. O tradutor/intérprete precisa ouvir/ver a enunciação em uma língua, processá-la e passar para a outra língua no tempo da enunciação. Já a tradução/interpretação consecutiva é o processo de tradução/interpretação que acontece de forma consecutiva, o tradutor/intérprete ouve/vê o enunciado em uma língua, processa a informação e, posteriormente, faz a passagem para a outra língua. Para um bom desenvolvimento linguístico há a necessidade de contato com pessoas influentes em línguas de sinais, principalmente com surdos. Pois mesmo que haja um outro ouvinte que saiba muito bem Libras, a maioria das suas conversas será em português, pois é a língua materna deles e essa é a que eles selecionarão como principal língua de interação. Então se o intérprete será melhor. (MASUTTI, 2001, p.12) Atualmente no Brasil, para o exercício da profissão, o profissional tradutor/intérprete e/ou professor de LIBRAS, é necessário que a pessoa interessada tenha o certificado do exame Prolibras, que é um exame de proficiência que certifica professores e tradutores/intérpretes de língua de sinais. É interessante também que o intérprete/tradutor tenha um bom conhecimento do assunto que será discutido, para que não fique dúvidas ou que a interpretação/tradução não saia a contento. Muitas vezes, mesmo um intérprete/tradutor fluente em LIBRAS não está preparado para interpretar para um público, tendo desconforto e assim não conseguindo passar para o surdo fielmente o que foi falado. Perlin (2006), diz que: Quanto mais se reflete sobre a presença de ILS, mais se compreende a complexidade de seu papel, as dimensões e a profundidade de sua atuação. Mais se percebe que os ILS são também intérpretes da cultura, da língua, da história, dos movimentos, das políticas de identidade e da subjetividade surda, e apresentam suas peculiaridades, sua identidade, sua orbitalidade. (PERLIN, 2006, p.138) Segundo Massuti e Santos (2008), o projeto tradutório se articula em campos do saber que se inscrevem para além de questões linguísticas. Há um conjunto de 27 elementos que precisam ser pensados em relação ao que envolve a tarefa de tradutores. O código de ética do TILS é parte integrante do Regimento Interno do Departamento Nacional dos Intérpretes (FENEIS) e trata de alguns pontos importantes, a saber: o intérprete deve ser uma pessoa de alto caráter moral, honesto, consciente, confidente e de equilíbrio emocional. Deve manter uma atitude imparcial durante o transcurso da interpretação, evitando interferências e opiniões próprias; deve interpretar fielmente e com o melhor da sua habilidade e, sempre transmitindo o pensamento, a intenção e o espírito do palestrante. O intérprete deve reconhecer seu próprio nível de competência e ser prudente em aceitar tarefas, procurando assistência de outros intérpretes quando necessário e deve adotar uma conduta adequada de se vestir, sem adereços, mantendo a dignidade da profissão e não chamando atenção indevida sobre si mesmo, durante o exercício da profissão. A demanda por profissionais de TILS cresce a cada dia, já que os surdos estão tendo seus direitos respeitados e consequentemente incluídos no mercado de trabalho. 28 CAPÍTULO 2 - METODOLOGIA Segundo Neves (1996), a pesquisa qualitativa “faz parte a obtenção de dados descritivos mediante contato direto e interativo do pesquisador com a situação objeto de estudo”. O pesquisador procura entender os fenômenos a partir das perspectivas dos entrevistados, para posteriormente interpretar dos dados obtidos. Devido a pouca divulgação sobre a acessibilidade na comunicação dos Surdos, foi realizada uma pesquisa de campo por meio de questionário, onde foram entrevistados Surdos e Tradutores/Intérpretes da Língua de Sinais (TILS). Para a realização deste trabalho, o questionário foi aplicado em uma Instituição Religiosa de Apoio ao Surdo, e em dois Órgãos Públicos sendo, um Federal e outro Distrital. O questionário aplicado apresenta sete questões (Apêndice I), com perguntas objetivas e dissertativas, sendo respondidas por Tradutores/Intérpretes de Libras e pelos Surdos. As entrevistas com os surdos ocorreram acompanhadas de um intérprete, para se caso, houvesse algum dúvida de contexto ou compreensão de palavras, o mesmo pudesse interpretar, ressaltando que na elaboração do questionário para os surdos, procuramos usar um vocábulo mais acessível. A pesquisa foi realizada nos meses de maio e junho de 2013. No questionário dos TILS foram feitas três perguntas dissertativas, três objetivas e outra semi-dissertativa, onde o entrevistado tinha que escrever a resposta conforme a marcação da alternativa pedida na questão. (Apêndice I). Já para os Surdos, o questionário teve duas perguntas objetivas e cinco semidissertativa, onde também o Surdo precisou escrever a resposta de acordo com o que tinha marcado na alternativa escolhida. (Apêndice II). No total foram aplicados 24 (vinte e quatro) questionários, sendo 13 (treze) Profissionais Tradutores/Intérpretes de Língua de Sinais (TILS) e 11 (onze) Surdos. As questões contidas nos questionários tiveram o objetivo de conhecer a realidade do Profissional Tradutor/Intérprete e saber como o Surdo vê o Tradutor/Intérprete do ponto de vista profissional, enquanto mediador no processo de acessibilidade à comunicação. Os dados obtidos com a aplicação dos questionários foram descritos e analisados, sendo apresentados nesse trabalho por duas categorias, sendo: Parte I – Tradutores/Intérpretes e Parte II – Surdos. Cada questão foi comentada separadamente, apenas em duas questões, quatro e cinco, do questionário para os 29 Tradutores/Intérpretes, as respostas foram analisadas de forma conjuntas por se tratarem de perguntas semelhantes. No questionário para os Surdos, as questões três e quatro, as respostas também foram tratadas juntas. 2.1 PERFIL DOS PARTICIPANTES As instituições visitadas para o trabalho foram: uma Instituição de Apoio ao Surdo, um Órgão Público Federal e um Órgão Público Distrital. A Instituição Religiosa recebe os surdos e ouvintes onde participam de atividades educacionais (ensino religioso, aulas de Libras) e atividades culturais. Tanto na semana como nos finais de semana os intérpretes participam das atividades, oferecendo acessibilidade de comunicação, interpretando tanto para surdos como ouvintes. No Órgão Público Distrital, o “Na Hora” situado na Rodoviária do Plano Piloto, recebe diariamente muitas pessoas, dentre ouvintes e surdos que precisam de um ou alguns serviços oferecidos, como PROCON, Justiça e Polícia Federal, DETRAN entre outros. A acessibilidade que esse órgão oferece são os profissionais intérpretes que auxiliam na comunicação dos Surdos. No Órgão Público Federal visitado, a Câmara dos Deputados, tem todos os dias um programa de visitas guiadas que recebe entre seus visitantes ouvintes e surdos. Tem intérpretes disponíveis para tal ocasião. Também existe a TV Câmara onde são transmitidas todas as sessões de plenária que é disponibilizado intérpretes para a acessibilidade dos surdos. Os surdos participantes da Instituição religiosa são de diferentes faixas etárias e escolaridade e lá recebem todo o apoio e ajuda que precisam e também lá esclarecem suas dúvidas. No Órgão Federal a frequência de surdos é pequena, pela falta de divulgação por se tratar de um lugar para visitação. No órgão do Governo Distrital a demanda dos surdos é maior, devido ao fato de ser um órgão prestador de serviços. 30 CAPÍTULO 3 - RESULTADOS E DISCUSSÃO Para uma melhor interpretação e discussão dos dados, as questões dos questionários dos Tradutores/Intérpretes da Língua de Sinais (TILS) e dos Surdos serão apresentadas em duas partes: Parte I – Tradutor/Intérprete de Libras e Parte II - Surdos. Parte I – Tradutores/Intérpretes: Na questão um foi perguntado a formação acadêmica e se possuía o curso de proficiência em Libras (Prolibras). Dos treze entrevistados, oito possuem nível superior completo (três em Pedagogia, três em Letras, um em Filosofia e um em Direito). Três estão concluindo o curso de Pedagogia e um o curso de Letras/Português. Um não mencionou a formação acadêmica e sim o curso de aperfeiçoamento em Libras (curso básico, intermediário e avançado). Apenas seis intérpretes possuem Prolibras. Dos treze profissionais entrevistados, seis possuem o curso de proficiência em Libras (Prolibras) e sete não possuem o curso de proficiência em Libras. De acordo com o Decreto 5.626/2005, todos os TILS devem ter o Prolibras ou formação na área de licenciatura. Em março desse ano aconteceu o 6º Exame Prolibras realizado em conjunto pelo INES e COPERVE/UFSC, segundo dados do relatório final do processo Prolibras 2012, 406 candidatos foram aprovados, sendo 164 para o Ensino de Libras e 242 para Tradução e Interpretação. Em Brasília, se inscreveram 267 candidatos, desses, somente dez foram aprovados. (Dados: Relatório Técnico, 6º Prolibras – Exame Nacional de Certificação na Libras). Quando perguntado sobre o local de atuação e qual o vínculo empregatício no referido órgão, dez intérpretes responderam que possuem vínculo empregatício em associações, órgão do Governo Federal ou em órgão do Governo Distrital. Além do trabalho terceirizado, dois ainda trabalham como voluntários em uma Instituição Religiosa de apoio ao Surdo. Outros três intérpretes trabalham apenas na instituição religiosa como voluntários. Alguns voluntários têm familiares ou amigos surdos e contribuem trabalhando como intérpretes nos finais de semana. Essa informação corrobora com a informação de Rosa (2006) onde o início do trabalho de intérprete se deu basicamente nas Instituições Religiosas. 31 Em relação à colaboração dos voluntários, podemos confirmar com a coleta de dados, que essa situação, ocorre desde a antiguidade, onde Guarinello (2007), em seus estudos, apresenta o interesse de muitas pessoas pela comunicação com os surdos, algumas por terem na família algum surdo, e na sociedade atual, muitos outros por manterem com eles uma relação de amizade. Os surdos, na grande maioria das vezes, precisam de pessoas que traduzam suas emissões para os profissionais e vice-versa, emergindo, assim, a necessidade de intermediação. A figura do intermediador configura-se a família, amigos e intérprete profissional. (CARDOSO et al, 2006, p. 557) Quanto ao aprendizado da língua de sinais, muitos surdos aprendem a se comunicarem por sinais, em encontros com os intérpretes voluntários em instituições religiosas ou associações onde eles também aprendem sobre a cultura surda. Quando na terceira questão, contextualizado sobre a Lei nº 12.319/2010, que regulamenta a profissão do intérprete, foi perguntado qual a importância dessa lei para os TILS, a maioria dos entrevistados afirmaram que “é importante para a regulamentação da profissão e para o registro na carteira de trabalho, e que assim o surdo se sente participante na sociedade, possibilitando o acesso aos diversos órgãos e promovendo maior cidadania aos surdos”. Quatro intérpretes informaram que “ainda falta muito a ser feito pela profissão, e salientaram que a lei apenas regulamentou a profissão”. Gesser (2011), afirma que este profissional se constitui enquanto tal na medida em que os surdos são reconhecidos socialmente como grupo linguístico que faz uso da língua de sinais. Nas questões quatro e cinco, foi possível obter informações sobre o tempo de atuação na área e a frequência que interpreta para os surdos. Em relação ao tempo de atuação na área, nove entrevistados possuem mais de dez anos, um tem entre cinco a dez anos, dois tem entre um a quatro anos e um está na profissão há apenas seis meses. O fato de não se ter muitos TILS com pouco tempo na profissão se dá pelo fato de não existirem muitos cursos disponíveis nem uma divulgação eficaz por parte dos órgãos responsáveis pela formação desses profissionais, outro fator também pode ser inferido, em relação a exigência de ser ter um contato mais frequente com os surdos para assim se adquirir mais fluência e habilidade com a língua de sinais. 32 Nove entrevistados atuam diariamente como intérpretes, somente um respondeu que, atua nos finais de semana, na instituição religiosa como voluntário e três atuam eventualmente, na maioria das vezes em congressos ou palestras. Em contextos familiares em que há indivíduos surdos, é muito comum que um dos ouvintes funcione como intérpretes. Fora deste contexto, todavia, sabe-se que a atuação dos intérpretes esteve (está?) extremamente arraigada aos trabalhos voluntários, especialmente ligados aos contextos religiosos. (GESSER, A. 2011, p.21) Na questão seis foi abordado sobre as atividades mais desenvolvidas pelos TILS. Para doze intérpretes a atividade mais desenvolvida é interpretação da Língua Portuguesa para a Língua de Sinais, seguida de Interpretação Simultânea. Tanto a Tradução da Língua Portuguesa escrita para a Língua de Sinais e da Língua de Sinais para a Língua Portuguesa escrita não é uma atividade muito desenvolvida pelos TILS. Segundo Gesser (2011), “em quaisquer processos de interpretação estão relacionadas fatores tais como: memória, tomada de decisões, categorização e estratégias de interpretação”. Na última questão, foi perguntado sobre a Lei nº 4.317/2009 o que trata da Política Distrital para a Integração da Pessoa com Deficiência, onde é citado que todos os órgãos do DF precisam ter um profissional Tradutor/Intérprete de Língua de Sinais. Nove intérpretes disseram que a lei ao acesso à comunicação aos serviços disponíveis à comunidade surda está sendo pouco cumprida, que os únicos recursos dos Surdos é na Secretaria de Justiça onde faz parte a Central de Libras, situado na Estação do Metrô na quadra 114 Sul – Brasília/DF, e o Atendimento “Na Hora”, na Rodoviária do Plano Piloto. Também foram mencionados o ICEP (Instituto Cultural, Educacional e Profissionalizante de Pessoas com Deficiência do Brasil), a Câmara dos Deputados, o Senado Federal, e alguns fóruns como lugares onde a lei é cumprida. Contemplando a mesma questão três intérpretes responderam que a lei não está sendo cumprida, que não existe essa acessibilidade. Apenas um intérprete respondeu que o acesso de comunicação aos Surdos está sendo cumprida no DF, principalmente nas faculdades e no Congresso Nacional, onde há intérpretes a serviço dos Surdos, na parte de visitação e na rede de televisão sediada na Câmara dos Deputados. 33 Existe uma carência de intérpretes muito grande em quase todos os órgãos que prestam serviço à comunidade. Segundo a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República – SDH/PR, durante esse ano de 2013, foram inauguradas trinta e quatro Centrais de Interpretação, sendo que existem em vinte e seis Estados e no Distrito Federal, as Centrais de Interpretação de Língua Brasileira de Sinais – Libras (CIL) têm como objetivo garantir atendimento de qualidade a pessoas surdas por meio de serviços de tradução e interpretação da língua de sinais, além de facilitar o acesso dessas pessoas aos serviços públicos. Para que um surdo tenha acesso a esses serviços ele precisa agendar dia e hora na Central de Libras, isso dificulta muito para o surdo, uma vez que muitas vezes não há compatibilidade de horários entre o intérprete e o órgão escolhido pelo surdo. O surdo fica dependente do intérprete, situação que não deveria ocorrer se os órgãos prestadores de serviços, como hospitais, postos de saúde tivessem profissionais intérpretes entre seus funcionários. Parte II – Surdos: Na primeira questão foi perguntado sobre o nível de escolaridade dos participantes. Dentre os surdos entrevistados, seis possuem curso superior completo. Apenas dois especificaram o curso que concluíram: Sistema de Informação e Pedagogia. Dos demais cinco, um cursa a faculdade de Pedagogia, dois terminaram o ensino médio, um terminou o ensino fundamental e o outro concluiu o quarto ano do Ensino Fundamental. Na questão dois foi perguntada sobre a função do TILS, sendo: Qual a função do intérprete para o surdo. Três surdos disseram que a principal função do intérprete é “apenas interpretar”. Um dos surdos disse que a função do intérprete é dar acessibilidade à comunidade entre surdos e ouvintes. Outro surdo respondeu que a função do intérprete é “ajudar os surdos a entender melhor o português”. Apenas um Surdo não respondeu a pergunta. Para as questões três e quatro, foi perguntado se os Surdos utilizam os serviços dos TILS e em quais lugares deveriam ter mais intérpretes. Seis responderam que utilizam esse serviço, na escola, no trabalho, em consultas médicas, nos serviços da Justiça, PROCON, igrejas, hospitais, agências bancárias e na Central de Libras, lugar esse que foi mencionado pelos TILS como um dos 34 poucos lugares onde há intérpretes, desses seis respondentes, três surdos ainda responderam que utilizam a Central de Libras quando precisam de acompanhamento dos intérpretes. A falta de TILS nos órgãos prestadores de serviços é uma questão bastante comentada pelos Surdos, uma vez que se tornam difícil a comunicação desses com os serviços oferecidos. Quatro Surdos responderam que às vezes utiliza os serviços dos intérpretes em igrejas, hospitais, agências bancárias, em palestras e cursos. Apenas um disse “não utilizar os serviços porque não há intérpretes nos lugares que costuma frequentar”. Para os Surdos, os lugares que mais precisam de intérpretes são as delegacias, hospitais, postos de saúde, escolas e faculdades, ou seja, em todos os lugares que prestam serviços de atendimento à comunidade. Foi perguntado sobre o uso do recurso “closed caption” da televisão e em caso afirmativo quais os programas utilizados. Nove surdos responderam que utilizam sim esse recurso para assistir filmes, jornais e programas. Dois responderam que não utilizam o recurso. Um dos Surdos respondeu que não a utiliza, pois a forma como é disponibilizada é muito rápida e o outro mencionou que o aparelho de televisão que tem é velho e não dispõe desse recurso, mas caso tivesse esse recurso utilizaria o “closed caption”. No entanto, apesar de ser oferecida há mais de 10 anos, a legenda oculta ainda não apresenta qualidade satisfatória. Muitas vezes a captura do áudio não é correta e ocorre uma distorção da mensagem falada, resultando em erro na grafia da palavra na tela da TV. Outro problema é a velocidade acelerada das legendas e a falta de compatibilidade e sincronia com a locução original e com as imagens apresentadas. (BRASIL, 2009, p.16) A questão seis abordou a mesma pergunta feita aos TILS, mas com ênfase na percepção do surdo, em relação ao cumprimento das legislações sobre acessibilidade aos surdos no Distrito Federal, quatro surdos responderam que “não tem acesso aos serviços disponíveis, porque faltam intérpretes”. Outros quatro responderam que “os serviços disponíveis em língua de sinais são poucos, que deveriam ser obrigatório”. Dois responderam que “só tem acesso aos serviços na Central de Intérpretes”, e um mencionou “que é preciso cobrar mais esse acesso, principalmente em hospitais e que também precisa ter intérpretes em todas as 35 cidades do DF e em vários locais de prestação de serviços, onde os surdos pudessem recorrer quando necessário”. Sobre o questionamento da legenda do intérprete (Legenda de LIBRAS) disponibilizada na televisão, seis surdos afirmaram que conseguem entender mais ou menos a legenda-intérprete, disseram que “a tela é muito pequena e que poderia ser utilizada toda a tela da televisão”. Dois responderam que não conseguem entender a legenda-intérprete porque não conseguem ter atenção na legenda. Apenas três afirmaram entender a legenda-intérprete. Para compreender a LIBRAS é necessária a visualização dos gestos das mãos e da expressão facial, mas normalmente, a veiculação da imagem é feita em pequenas janelas no canto da tela, fugindo do modo ideal. (BRASIL, 2009, p.16) Percebe-se que seria um recurso bastante utilizado caso os Surdos pudessem participar na elaboração da legenda, dando importantes contribuições de como usá-las, já que eles são os únicos e principais usuários. Sobre a Lei nº 8.160/1991 que trata da colocação do “Símbolo Internacional da Surdez” não foi avistado em nenhum dos órgãos públicos visitados. Muitas vezes, essa falta de comunicação prejudica o acesso do Surdo nos ambientes por eles visitados. De acordo com a pesquisa, foi verificado que existem poucos tradutores e intérpretes de língua de sinais para prestação de serviços na área da comunicação junto aos Surdos e que isso dificulta muito a inclusão desses na sociedade. 36 CONSIDERAÇÕES FINAIS A Constituição Federal defende um país para todos, isso quer dizer que todos independente da cor, raça social, impossibilidades das mais diversas, tem o direito de usufruir de todos os recursos disponíveis para uma vida de qualidade. Sendo assim, todos os recursos além de disponíveis precisam estar acessíveis. Um dos recursos indispensáveis é a comunicação, onde todos deveriam ter o direito acesso à comunicação, seja via oral, visual-espacial ou por braile. Hoje no mundo, o processo de globalização está cada vez mais presente o que torna imprescindível estar bem informado. É de fundamental importância que essa informação seja passada ao Surdo de forma clara e precisa, para que esse se sinta incluso de uma forma participativa. Para que isso ocorra, é necessário que tenhamos profissionais capacitados para atuar nessa interface informação/surdo. Para que a acessibilidade na comunicação dos Surdos torne-se efetiva é preciso que os governantes e os cidadãos tenham consciência da importância da acessibilidade em todos os lugares e serviços e não apenas em alguns órgãos. Sem a comunicação, o Surdo não participa ativamente da sociedade em que vive e essa comunicação se dá basicamente com os tradutores/intérpretes da língua de sinais, seja na comunicação simultânea ou consecutiva, na comunicação nos programas de televisão através dos tradutores/intérpretes, como as legendas de LIBRAS e o recurso “closed caption”. Mesmo com os mais variados meios de comunicação, os Surdos ainda não participam ativamente da vida social, devido em grande parte, pela falta de acesso à informação. O poder público deveria inserir nas salas de aulas, junto com as matérias de português e inglês, a LIBRAS como disciplina obrigatória para todas as séries do ensino fundamental e médio, fazendo que a criança e/ou adolescente aprenda a conviver com as diferenças e assim incluindo desde o conceito de acessibilidade. Ultimamente o Governo Federal vem incentivando os prestadores de serviços a aprenderem outras línguas para que possam receber bem os turistas, mas antes, precisamos aprender a receber bem os cidadãos, conhecendo e respeitando todas as pessoas, independentemente da sua diferença racial, social, cultural ou deficiência. Em relação aos Surdos devemos conhecer e aprender sua língua para 37 que assim possamos nos comunicar e inseri-los na sociedade como todo cidadão. Se lutamos tanto por um país justo e igual pra todos, devemos antes de mais nada, aprender e respeitar as diferenças de cada um. A presença dos Surdos não se dá apenas em locais específicos, como associações de surdos e escolas preparadas para recebê-los. Encontramos surdos em diversos lugares e nas mais variadas situações e a falta de profissionais capacitados, no caso de intérpretes, mediadores no processo de acessibilidade à comunicação pode vir a dificultar sua convivência com os demais ouvintes. Muito já foi feito na parte de acessibilidade de comunicação dos surdos a partir da lei que regulamentou a Libras como língua oficial dos surdos e a que regulamentou a profissão de Tradutor/Intérprete de Libras. No entanto, existe uma carência muito grande de tradutores/intérpretes nos diversos órgãos, tanto federais, distritais como também particulares. Esses órgãos deveriam proporcionar cursos de capacitação (básico, médio e avançado) aos seus agentes públicos e colaboradores para que a comunicação com os Surdos se tornasse eficaz. A presença do TILS atuando nas diversas áreas onde os surdos estejam representa um apoio a da cidadania, uma maior garantia de acessibilidade aos serviços e informações públicas. Por isso a necessidade de destaque do profissional de TILS, do reconhecimento de suas potencialidades, do importante papel que cumpre na sociedade, difundindo o uso da LIBRAS que por séculos foi desconsiderada. 38 REFERÊNCIAS BARBOSA, Maria B. Elaboração de normas técnica voltadas à acessibilidade na comunicação. II Seminário ATIID – Acessibilidade, TI e Inclusão Digital, São Paulo – SP, 23-24/09/2003 BRASIL. Cartilha do Plano Viver sem Limites. Disponível em: http://www.brasil.gov.br/viversemlimite/plano-nacional-dos-direitos-da-pessoa-comdeficiencia. Acesso em: 30/04/2013 ________. DECRETO nº 10.098/2000, que Estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências. 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Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12319.htm. Acesso em: 11/05/2013 ________. Saberes e práticas da inclusão: desenvolvendo competências para o atendimento às necessidades educacionais especiais de alunos surdos. [2. Ed.] / coordenação geral SEESP/MEC. – Brasília: MEC, Secretaria de Educação Especial, 2006. 116 p. (Série: Saberes e práticas de inclusão). ________. Secretaria Nacional de Justiça. A Classificação Indicativa na Língua Brasileira de Sinais / Organização: Secretaria Nacional de Justiça. – Brasília: SNJ, 2009. 36 p. CAPOVILLA, Fernando C.; CAPOVILLA, Alessandra G. S. Educação da criança surda: o bilinguismo e o desafio da descontinuidade entre a língua de sinais e a escrita alfabética. Rev. Bras. Ed. Esp. , Marília, Jul-Dez. 2002, v.8, n.2, p. 127-156 39 CARDOSO, Adriane H. A., RODRIGUES, Karla G., BACHION, Maria M. Percepção da pessoa com surdez severa e/ou profunda acerca do processo de comunicação durante seu atendimento de saúde. 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Universidade Federal de Santa Catarina, 2009. 41 APÊNDICE Apêndice I – Questionário aplicado aos Tradutores e Intérpretes Prezado (a) Intérprete, Este questionário com 7 (sete) perguntas, faz parte do trabalho final sobre os Tradutores / Intérpretes da Língua de Sinais (TILS) em ambientes não educacionais no DF, do curso de Especialização em Libras, da Universidade Católica de Brasília. 1) Formação ________________________________________________ 2) Em qual (quais) órgão (s) ou Instituição (s) atua como TILS? É terceirizado, contrato ou carteira assinada (CLT) ou voluntário? 3) Em 2010, o Governo Federal regulamentou a profissão de Tradutor e Intérprete da Língua de Sinais (Lei nº 12.319/2010). Qual a importância dessa lei para os TILS? 4) Há quanto tempo atua na área? ( ) 1 a 4 anos ( ) 5 a 10 anos ( ) mais de 10 anos 5) Qual a frequência que interpreta para os Surdos? ( ) Diariamente ( ) Aos fins de semana ( ) Eventualmente 6) Quais as ações abaixo descritas, você mais atua. Enumere em ordem crescente. 1 - mais frequente ( ( ( ( ( ( 5 – menos frequente ) Interpretação da Língua Portuguesa para Língua de Sinais ) Interpretação da Língua de Sinais para Língua Portuguesa ) Tradução da Língua Sinais para Língua Portuguesa escrita ) Tradução da Língua Portuguesa escrita para Língua de Sinais ) Interpretação simultânea ) Interpretação consecutiva 7) A Lei nº 4.317 de 09 de abril de 2009 (Lei Distrital) trata da Política Distrital para a integração da Pessoa com Deficiência. Para você, intérprete, essa lei está sendo cumprida no DF em detrimento ao acesso de comunicação a todos os serviços disponíveis à comunidade surda? ( ( ) Sim ) Pouco. Onde? 42 ( ( ) Razoavelmente. Onde? ) Muito. Onde? 43 Apêndice I – Questionário aplicado aos Surdos Prezado(a) Surdo(a), Este questionário com 7 (sete) perguntas, faz parte do trabalho final sobre os Tradutores / Intérpretes da Língua de Sinais (TILS) em ambientes não educacionais no DF, do curso de especialização em Libras, da Universidade Católica de Brasília. 1) Estuda? ( ( ) Sim . Qual série? ) Não. Parou em qual série? 2) Em 2010, o Governo Federal regulamentou a profissão de Tradutor e Intérprete da Língua de Sinais (Lei nº 12.319/2010). Qual a função do profissional intérprete para a comunidade surda? 3) Você utiliza os serviços do intérprete? ( ( ( ) Sim. Onde? Qual lugar? ) Não. Por quê? ) Às vezes. Onde? Qual lugar? 4) Para você, quais os lugares que precisam ter mais intérpretes? 5) Você usa a legenda (closed caption) para assistir televisão? ( ( ) Sim. Quais programas de televisão? ) Não. Por quê? 6) A Lei nº 4.317 de 09 de abril de 2009 (Lei Distrital) trata da Política Distrital para a integração da Pessoa com Deficiência. Para você, surdo (a), essa lei está sendo cumprida no DF? Os surdos estão tendo acesso a todos os serviços disponíveis em língua de sinais? 7) Você entende a legenda-intérprete (quadrado) na televisão? ( ( ( ) Sim. ) Mais ou menos. Por quê? ) Não. Por quê?