CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO – HISTÓRIAS DE VIDA (DEPOIMENTOS ORAIS) – TRANSCRIÇÕES Meu nome é Gisela Yuka Shimizu, trabalho no departamento de Ecologia do
Instituto de Biociências da USP. Na minha família, migrou para o Brasil meu pai
juntamente com um irmão mais novo dele. Os pais deles os acompanharam, mas após
pouco tempo voltaram ao Japão. Da parte da minha mãe vieram ela, que é filha única, e
os meus avós maternos. A imigração foi, curiosamente, feita no mesmo ano em navios
diferentes. Eles não se conheciam no Japão. A família do meu pai é de Shikoku, da
província de Ehime. Da parte de minha mãe, minha avó materna veio de uma ilha
chamada Niijima, no sul do arquipélago, próximo a uma ilha maior chamada de Oshima,
mais conhecida. O meu avô materno é de Sapporo, Hokkaido.
A família do meu pai era influente na região, não financeiramente, mas
politicamente. A família da minha avó materna era restrita à citada ilha e tinha algum
status social. A família do meu avô materno era de base agrícola, não agricultura de
subsistência, mas sim de cultivo de flores. Meus avós maternos se casaram, tiveram
minha mãe em Tóquio. As duas famílias vieram para cá por motivações diferentes.
O meu pai era uma pessoa que não conseguia se conter na cultura local, ele tinha
um sonho muito maior do que permanecer naquela vida regrada. Então, não sendo o filho
mais velho, veio para cá com os pais e o irmão mais novo, para montar uma fazenda de
plantação de arroz e criação de cavalos. A grande paixão dele eram os cavalos. O meu
avô materno estudou em Tóquio para ser pastor protestante e migrou por motivos sociais,
pois queria prestar assistência social aos colonos que migraram para o norte do Paraná.
Eles, de fato, quando vieram para cá, foram para o Norte do Paraná, na cidade de
Cambará. A família do meu pai foi para o oeste de São Paulo, próximo de Bastos. Ele saiu
do oeste do estado por motivos de saúde, teve tuberculose em uma época em que não
existia antibiótico, assim veio se tratar em um sanatório da colônia japonesa em Campos
de Jordão. Os meus avós, ambos vítimas de malária, migraram para São Paulo para
poupar a minha mãe, que na época tinha sete anos.
Meu pai estava trabalhando em São Paulo depois que se recuperou em Campos
de Jordão. O casamento dos meus pais foi arranjado por um amigo do meu avô materno.
Deste casamento resultaram cinco filhos, dos quais sou a segunda de três mulheres e
dois homens. Meu pai, logo que se casou, foi morar com a família da minha mãe.
1 CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO – HISTÓRIAS DE VIDA (DEPOIMENTOS ORAIS) – TRANSCRIÇÕES Trabalhou na Cooperativa Agrícola de Cotia e também em um consultório médico onde
ele era radiologista, numa época em que bastava a experiência para exercer esta
profissão. Depois que se casou com minha mãe, fez um curso por correspondência de
reparos de rádio e televisão da RCA-Victor, dos Estados Unidos. Obteve assim o diploma
tanto para rádio como para televisão e abriu uma oficina de consertos. Iniciando com rádio
e televisão, terminou trabalhando mais com equipamentos de som do que de imagem. No
Japão concluiu apenas o ensino médio, mas era proficiente na língua inglesa. A minha
mãe cumpriu todo o estudo em São Paulo e formou-se em letras neolatinas pela então
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP.
Tanto da parte do meu pai como da minha mãe havia um incentivo muito grande
para estudar. Nós todos estudamos no colégio Liceu Pasteur, pois minha mãe era
apaixonada pela língua francesa e era um colégio considerado bom. Uma grande
vantagem é que havia bolsas de estudo do governo para estudar em colégios particulares,
de acordo com a nota média do semestre. Além disso, o Liceu Pasteur não tinha fins
lucrativos, pois pertencia ao governo francês. Recebemos, até o colegial, educação de
altíssimo nível. Quem quis aproveitar, aproveitou, e todos nós aproveitamos porque
tivemos uma criação para valorizar o que nos era oferecido.
Eu era muito apegada meu avô materno. Sendo uma criança um pouco doente,
não conseguia acompanhar a atividade dos meus irmãos, então passava mais tempo com
ele, pois era uma pessoa que gostava muito de crianças e extremamente aberta a
qualquer tipo de brincadeira ou de conversa com os netos. Sendo naturalista amador,
sabia nomes de animais e de plantas e, sendo formado em algo equivalente à engenharia
de pesca em Hokkaido, tinha uma instrução biológica interessante. Eu era fascinada por
essa parte dele. Apanhava os animais com a mão e mostrava para nós. Fazia
comentários como “Olhe, esta abelha pica, esta não pica”. Assim, aparentemente, acabei
sendo muito influenciada por ele. Também tenho bastante habilidade manual - desde
pequena, gostava de desenhar e pintar. No momento de optar pelo curso superior, queria
cursar a Escola de Belas Artes e tinha muito interesse em Biologia também. A família
considerou que ser artista não era profissão, mas Biologia sim. Mal sabiam que a Biologia
não era profissão reconhecida na época, mas isso não tem importância.
2 CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO – HISTÓRIAS DE VIDA (DEPOIMENTOS ORAIS) – TRANSCRIÇÕES Pelo menos até chegar ao colegial, não tive uma percepção muito clara das
diferenças entre descendentes japoneses e brasileiros porque fomos criados fechados,
não na colônia, mas na família. Tínhamos relações com outros nikkeis através da Igreja
Protestante. O meu avô pertencia à Igreja Metodista. Não tinha muita noção da diferença.
Percebia que os rostos eram diferentes, mas não tanto. Talvez o contato mais chocante
para mim foi o ingresso no jardim da infância sem saber falar o português. Ingressei na
escola sabendo falar poucas frases, como “bom dia”, “boa tarde” e “professora, posso ir
ao banheiro?”, que minha mãe ensinou para não termos problemas. Com cinco anos, era
tudo o que sabia falar em português. Fui aprendendo a língua com as outras crianças.
Tinha uma amiguinha no jardim da infância que tinha a língua presa e tive vários mal
entendidos por causa disso. Repetia para a minha mãe o que ela falava para entender o
que ela estava dizendo e ela não fazia a menor idéia. Em casa, meu avô era meio
professor também e nos ensinou o japonês.
Senti melhor a diferença entre descendentes de japoneses e brasileiros quando
cheguei ao colegial. A diferença é um pouco mais consciente e, além de tudo, na época,
as classes eram fisicamente separadas por sexo e só o colegial era misto. O colegial era
separado em turmas na modalidade para Medicina, Engenharia e Ciências Sociais. Cursei
o colegial voltado para Medicina que, na verdade era para a área de Biológicas. Ali, tive
uma professora, chamada Nelly Borelli Nabols que influenciou muito na minha formação.
Ela era da mesma turma da minha mãe na antiga Faculdade de Filosofia. Já tinha
intenção de fazer Biologia mesmo antes da tutela que essa professora deu para todos
nós. Ela nos trouxe para o campus da USP, no Instituto de Biociências (na época,
Departamento de História Natural da Faculdade de Filisofia) e nos mostrou a biblioteca,
as salas de aula, as coleções daqueles animais todos em potes com formol e fiquei
encantada. O jardim da unidade era muito bonito, e me convidava a vir para cá. Queria
saber mais sobre os animais e as plantas. Foi assim que acabei vindo para a Biologia. A
minha sorte é que o colégio era muito bom, fiz seis meses de cursinho e passei no
vestibular na primeira tentativa. A maioria da minha turma foi para a Medicina, eu vim para
a Biologia e alguns colegas foram para a Agronomia. A professora deu uma orientação
muito interessante para nós.
3 CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO – HISTÓRIAS DE VIDA (DEPOIMENTOS ORAIS) – TRANSCRIÇÕES Em 1969, ingressei no Curso de Ciências Biológicas da USP e essa data tem um
significado bastante importante. Foi quando percebi as grandes diferenças. As diferenças
culturais de fato. Diria que senti muito problema em entender o que estava acontecendo
dentro da Universidade por causa do que significava a autoridade. Isso foi bastante
chocante para mim. Confesso que era uma adolescente razoavelmente alienada no meu
mundo, não necessariamente no mundo da colônia que nunca tive contato direto com ela
como instituição, mas nas coisas que eu acreditava, via, achava que era certo e errado.
Diria que quando ingressei na faculdade, tentei zerar e começar tudo de novo. E confesso
que não consegui. Os valores ficaram, até hoje. Cheguei à conclusão de que vou tirar o
melhor proveito dos dois lados, mas, no fundo, essa é uma avaliação que faço a vida
inteira. Acabo topando com coisas que acho extremamente irritante e as pessoas não
ligam, e coisas que eu acho normal e as pessoas ficam extremamente irritadas comigo.
Essas coisas até hoje acontecem, mas tentei, da melhor forma possível, me adaptar sem
ser modificada, porque acho também que isso não seria possível.
Ingressar na USP, para a minha família, era uma necessidade, porque não teria
como cursar uma escola particular, pois eles não poderiam pagar. Era possível ajudar a
pagar o cursinho e, se não entrasse na primeira tentativa, teria de trabalharia para tentar
de novo. Esse era o esquema em casa. Todos nós ingressamos na USP na primeira
tentativa e acho que, no meu caso em particular, foi a formação que tive no colegial, pois
não era uma adolescente disciplinada nem muito empenhada. Com certeza o colégio era
bom. No meu caso, a concorrência não era tão alta na época, mas as minhas duas irmãs
e um dos meus irmãos, que são engenheiras, tiveram que disputar com muitos para poder
ingressar na Escola Politécnica. Lembro que a turma da minha irmã mais velha tinha
seiscentos ingressantes, com apenas três mulheres. Quando a minha irmã mais nova
ingressou, esse número era pouco maior, mas não acredito que tenha passado de vinte.
Na Biologia por muito tempo, a maior parte da turma era de mulheres.
Participei do movimento estudantil, mas não explicitamente, porque era muito
complicado. As reuniões eram todas em lugares desconhecidos, as pessoas eram
trazidas e íamos e recebíamos as informações do que precisava fazer. Fui algumas vezes
substituindo outras pessoas, mas, francamente, achava que estava perdida demais para
4 CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO – HISTÓRIAS DE VIDA (DEPOIMENTOS ORAIS) – TRANSCRIÇÕES poder tomar parte mais ativa. No fim acabei me envolvendo por causa de relações
pessoais, com alguns colegas que no fim fizeram parte daquela turma que foi para o Chile
e que foi extremamente tensa a situação, porque as famílias dessas pessoas eram contra
a atividade. Era difícil. Alunos de primeiro e segundo ano, não têm nem dinheiro, e
precisavam deslocar-se de um lugar para o outro e era muito complicado. Tem coisas que
até apaguei da memória.
Fazia parte do grupo do centro acadêmico. Tínhamos na época a UEE, e a UNE
nem estava mais presente. No entanto, foi uma época muito difícil porque conflitava com
absolutamente tudo. Não só com o sentido da Universidade, como o sentido da própria
cultura que faz uma coisa dessas. Tudo bem, a cultura japonesa tem uma face bastante
violenta, mas, por outro lado, é uma violência organizada. Violência é sempre violência,
mas era muito diferente. Para mim pareciam muito caóticos os dois lados, e
provavelmente eram mesmo.
Em 1975 foi quando considerei que a coisa parecia que estava melhorando. Estava
fazendo um curso na Escola Paulista de Medicina e tinha um aviso de que haveria uma
assembléia permanente e que isso significava greve, e a greve era proibida por lei. Então,
pensei: “O que será que vai acontecer agora?”. A assembléia permanente se instalou e
não aconteceu nada. Pensei que as coisas iam começar a se reverter. Foi o momento
quando achei que as coisas estavam mudando. Nessa época, ainda não era do corpo
docente. Estava fazendo o meu mestrado.
Formei-me em 1972 e em seguida ingressei no mestrado. No final da graduação já
tinha interesse em trabalhar com Ecologia. O departamento que atualmente trabalho não
existia. É chamado de novo, mas existe desde 1978, mas é o mais novo dos
departamentos do Instituto de Biociências. Tinha interesse, mas não existia um curso de
pós-graduação específico em Ecologia. No meu currículo consta que sou mestre em
Zoologia e doutora em Ciências, pois eram os títulos que existiam na época. Já no
mestrado, comecei a trabalhar em limnologia, que é o estudo de águas continentais.
Recebi uma incumbência do meu orientador de encontrar um indicador biológico
dentro da comunidade de animais de sedimento nos rios e lagos - na verdade, trabalhei
em represa – porque a CETESB tinha necessidade de incluir um indicador biológico em
5 CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO – HISTÓRIAS DE VIDA (DEPOIMENTOS ORAIS) – TRANSCRIÇÕES suas avaliações. Não que a CETESB como instituição tivesse interesse nisso, mas
algumas pessoas que trabalhavam lá, naturalistas ou já biólogos, consideravam de
extrema importância. Não sabia muito bem do que se tratava, mas fui estudar e fiquei
novamente fascinada. Passei de um fascínio para o outro ao longo da minha vida. Passei
o mestrado tentando encontrar um indicador biológico e descobri que não era uma tarefa
tão simples como me foi passada. Não é possível porque todos os trabalhos que li eram
ou americanos, ingleses ou franceses, da parte norte do globo e de países mais
desenvolvidos, onde o investimento em Ciência era muito maior. Construí um sistema de
avaliação de poluição na represa de Americana, perto de Campinas, o lugar mais poluído
na época, muito mais que a Billings e a Guarapiranga. Não fiquei satisfeita e no doutorado
fiz um outro aspecto do mesmo trabalho, mas não foi nada muito original porque não
estava tendo muito como avançar. Na verdade, o que foi mais importante de tudo isso é
que a partir dali até hoje, quer dizer, em 1978, eu fui contratada pelo Instituto de
Biociências, e de lá até hoje, trabalhei e ainda trabalho em conjunto com a CETESB.
Fizemos vários esforços para tentar melhorar o sistema de avaliação. Uma das coisas
que me fez mais orgulhosa e feliz na minha vida é que vários dos meus orientados, ou
fizeram pós-graduação comigo e foram trabalhar na CETESB, ou eram funcionários da
CETESB que orientei e continuam lá, desenvolvendo a parte que eu sonhava em poder,
não desenvolver, mas ver implantado pelo menos no estado de São Paulo, pois para o
Brasil inteiro seria um sonho impossível para uma vida. Para o estado de São Paulo que
tem um pouco mais de recursos, queria ver o monitoramento biológico implantado
legalmente.
O monitoramento da qualidade de água é feito por medidas químicas e físicas: pela
penetração de luz, quantidade de sedimento suspenso, oxigênio dissolvido, metais
pesados, etc.; mas é principalmente químico, focado em faixas permitidas. O oxigênio tem
que estar dentro de uma faixa determinada, a amônia também dentro de sua faixa, e
assim por diante. No entanto, nós, os aficionados por monitoramento biológico sempre
dizemos que a análise química da água que se coleta naquele momento é uma foto
instantânea daquele momento. A comunidade biológica, seja de animais ou plantas, é um
retrato do passado. Ela está refletindo o que aconteceu. Parece simples, mas não é tão
6 CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO – HISTÓRIAS DE VIDA (DEPOIMENTOS ORAIS) – TRANSCRIÇÕES simples assim. Estudamos, em diversas circunstâncias, como e por que uma comunidade,
seja de animais ou plantas, está presente naquele momento. Então, por exemplo, um dos
trabalhos que fiz em colaboração com a CESP, foi o do monitoramento do impacto da
construção da barragem de Rosana, no Pontal do Paranapanema. Esse foi o primeiro
trabalho de acompanhamento feito antes, durante e depois da construção da barragem. O
mais comum era o impacto avaliado após a implantação da obra. Acompanhamos, ao
longo do tempo, as mudanças que acontecem, conforme a obra ia se desenvolvendo.
Fui contratada quando o departamento de Ecologia foi fundado. Meu orientador era
um dos fundadores e eu trabalhava na sua equipe já fazia alguns anos. Naquela época
não havia processo seletivo ou concurso. Os concursos estavam fechados há muito
tempo. Éramos indicados e contratados. O núcleo do departamento de Ecologia e cada
membro propuseram uma pessoa para cobrir as áreas de especialidade e fui proposta
pelo meu orientador e fui aceita. Algo simples assim.
Dentro do IB, certamente abri uma linha estreita, tem mais uma colega, exorientada minha, que também trabalhar com animais de sedimento e monitoramento
biológico. Na verdade, antes de mim houve algumas outras pessoas, mas acabei me
tornando o dinossauro da área.
Daqui a duas semanas vai acontecer um evento na CETESB sobre um programa
que a Secretaria do Meio Ambiente há tempos tentando executar. É um projeto dirigido à
proteção de matas ciliares do estado. Fiz parte de um dos projetos componente deste
programa, juntamente com os meus ex-orientados e orientados, todos da CETESB, e que
foi uma delícia. Esse grupo de pessoas me chama de “a mais velha”. O histórico inclui
outras pessoas, inclusive um professor da Faculdade de Saúde Pública, já falecido,
Samuel Murgel Branco, o verdadeiro fundador, no estado, dessa linha de pesquisa. Ele
mais ajudou as outras pessoas a fazerem do que propriamente fez. Foi praticamente o
fundador da CETESB. Pessoalmente, tive uma carreira acadêmica talvez não típica para
o Instituto de Biociências da época, pois produzi muito mais relatórios técnicos do que
propriamente publicações. Estive muito mais fora do Instituto do que dentro. Não que
tenha recusado a minha cota de aulas, dei muita aula nesses trinta anos. Fui fazendo o
que tinha que ser feito. Achei que a melhor coisa nessa circunstância era investir em
7 CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO – HISTÓRIAS DE VIDA (DEPOIMENTOS ORAIS) – TRANSCRIÇÕES orientar pessoas. Fiquei um pouco insatisfeita com o sistema de pós-graduação, dei um
jeito de assumir pessoalmente a responsabilidade no Departamento. Reorganizei,
permaneci cinco anos na coordenação de pós-graduação e terminei credenciando o
programa de doutorado, pois antes só existia o mestrado. Saí da coordenação da pósgraduação e continuei orientando pessoas e como era uma só, achava que era mais
prático orientar pessoas que já estavam no mercado. Dos meus orientados, vários foram
funcionários da CETESB, mas orientei também funcionários da CESP, da Marinha e
agrônomo de empresa privada. Foi um trabalho para difundir o monitoramento biológico
sim, mas principalmente para mostrar a importância da preservação ambiental como um
todo, e como na prática podemos fazer. Essa foi a minha tônica durante toda a vida.
Quanto aos títulos acadêmicos, fiz uma coisa muito feia. Aceitei ser chefe de
departamento e deixei os outros empenhados em obter títulos e resolvi ficar pensando se
ia fazer ou não. No fim, cheguei à conclusão de que não queria fazer. Lógico que o salário
faria diferença, mas achei que este não era o caminho que queria seguir. Fiz outras
coisas.
Não casei oficialmente. Vivi vinte e um anos com uma pessoa que foi um professor
meu. Ele tinha dois filhos e faleceu em 2003, mas, pessoalmente, nunca quis ter filhos
meus. Não consigo assobiar e chupar cana ao mesmo tempo. São duas coisas
importantes demais. Não tinha segurança de fazer as duas coisas se fossem em conjunto
e optei por não ter filhos. Opção minha mesmo e não senti falta. Meus ex-orientados me
chamam de mãe.
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