22º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 14 a 19 de Setembro 2003 - Joinville - Santa Catarina VII-015 - ANÁLISES MICROBIOLÓGICAS DE POÇOS DA ILHA DO BORORÉ – SP Bel. André Luiz Fernandes Simas (1) Bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade de Santo Amaro Dr. Mário Donizeti Domingos (2) Licenciado em Ciências Biológicas pela Universidade de Santo Amaro. Mestre e Doutor em Ciências da Engenharia Ambiental pela Escola de Engenharia de São Carlos – Universidade de São Paulo. Professor do curso de Ciências Biológicas da Universidade de Santo Amaro. Msc. Anna Paola Michelano Bubel (3) Bacharel em Ecologia pela Universidade Estadual Paulista. Mestre e Doutoranda em Ciências da Engenharia Ambiental pela Escola de Engenharia de São Carlos – Universidade de São Paulo. Endereço(3): Escola de Engenharia de São Carlos – Departamento de Hidráulica e Saneamento - Avenida Trabalhador São-carlense, 400 Centro – São Carlos/SP. CEP – 13566-590. Telefone: 16-2739427. E- mail: [email protected] RESUMO A utilização de poços artesanais, para a obtenção de água para o consumo humano, é muito comum nas comunidades rurais brasileiras e em áreas urbanas desprovidas de abastecimento público. O presente trabalho buscou avaliar presença de coliformes totais e fecais em poços artesanais utilizados no abastecimento doméstico, e sua relação com a incidência dos sintomas de doenças de veiculação hídrica, em uma população residente na Ilha do Bororé- SP. Foram realizadas coletas em 83 poços, que abastecem 86 casas, para determinação do pH, temperatura e concentração de coliformes totais e fecais, além de anamnese para verificação da incidência de doenças de veiculação hídrica. Os resultados mostram que 43,4% dos poços estão contaminados por coliformes totais e 31,3% por coliformes fecais e que uma maior incidência de sintomas de doenças de veiculação hídrica ocorrem nas residências com poços contaminados. Isso demonstra a necessidade da educação sanitária e do sistema de saneamento básico para região. PALAVRAS-CHAVE: Coliformes fecais, coliformes totais, contaminação, poços, água de abastecimento, ilha do Bororé. INTRODUÇÃO A contaminação química e/ou biológica de mananciais tem se tornado freqüente, especialmente nos grandes centros urbanos. A água contaminada é inadequada para o consumo humano e uma fonte potencial de transmissão de doenças. A Organização Mundial de Saúde estima que morrem 25 milhões de pessoas todos os anos devido a doenças transmitidas pela água, e coloca que nos países em desenvolvimento 25% da população urbana não é servida de água potável. Segundo SOARES et. al (2002), 4,34% da população brasileira que vive em áreas urbanas e 35,03% das que vivem em áreas rurais não tem acesso a serviços de abastecimento de água, utilizando poços e nascentes para seu suprimento, o que corresponde a 10,99% da população total. A Ilha do Bororé - SP insere-se na Represa Billings no município de São Paulo, em uma área destinada, integralmente, a proteção de mananciais. A região não é servida por redes de abastecimento de água e coleta de esgotos. A população, artesanalmente, perfura poços para captação de água e constrói fossas negras ou sépticas para destino dos efluentes sanitários. Esse cenário favorece a contaminação das águas subterrâneas. Partindo-se do pressuposto de que as águas subterrâneas da Ilha do Bororé devem apresentar padrões exigidos de potabilidade, o presente trabalho teve como objetivos: - avaliar as concentrações de coliformes fecais e totais nas águas de poços utilizados para abastecimento de residências na Ilha do Bororé – SP; - tecer considerações a respeito do posicionamento entre os poços e as fossas nas residências estudadas; - investigar a ocorrência de sintomas de doenças intestinais de veiculação hídrica entre a população servida pela água dos poços estudados. MATERIAIS E MÉTODOS O trabalho desenvolveu-se nas seguintes etapas: Escolha aleatória de residências para estudo, em seis micro áreas do bairro. Medição da distância entre os poços e as fossas das residências. Coleta de amostras de água em pontos de acesso direto a água dos poços, para a medição de temperatura (termômetro de mercúrio) e potencial hidrogeniônico (pH) (eletrodo HORIBA D5) e determinação de coliformes totais e fecais (Técnica de Tubos Múltiplos). As amostragens seguiram as determinações da APHA (1985). Aplicação de questionários para registro da incidência de sintomas de doenças intestinais de veiculação hídrica. As amostragens foram realizadas entre abril e junho de 2002. RESULTADOS A tabela 1 apresenta o número de residências registradas nas seis diferentes regiões da Ilha do Bororé-SP, a quantidade de amostragens realizadas e os seus percentuais. Nota-se que as residências compartilham poços e fossas, e que no mínimo 10% das residências de cada micro área tiveram os poços analisados e os residentes submetidos às entrevistas. Tabela 1 – Residências da Ilha do Bororé-SP e quantidade de residências e poços amostrados por micro área. As tabelas 2 e 3 apresentam os resultados das análises de coliformes totais e fecais, respectivamente, adotando como limítrofes, próprias para consumo humano, as águas com ausência de coliformes fecais e concentrações de coliformes totais inferiores a 10 NMP/100 mL. Nas tabela observa-se que as micro regiões 3 e 5 apresentaram as maiores porcentagens de poços contaminados por coliformes totais (58,0 e 78,8%) e fecais (42,0 e 57,1%). No total, em 43,4% das amostras foi constatada a contaminação por coliformes totais, sendo que essa porcentagem diminui para os coliformes fecais (31,3%). NOGUEIRA et. al (2003) analisaram 350 poços na cidade de Maringá (Paraná) e observaram que 46% estavam contaminados por coliformes totais e 15% por fecais. Valores mais críticos foram encontrados por D’AGUILA et. al (2000) em Nova Iguaçu (Rio de Janeiro), onde 97,7% dos poços estavam contaminados. Nos municípios de Duque de Caxias e São Gonçalo, ambos no Rio de Janeiro, 55,5% dos poços estavam com concentrações de coliformes fecais acima dos padrões de potabilidade (FREITAS et. al, 2001). Tabela 2 – Quantidade e porcentagem do total de poços amostrados com concentrações de coliformes totais conforme concentração limite adotada, por micro área na Ilha do BororéSP. Tabela 3 – Presença/ausência de coliforme s fecais nos poços amostrados, por micro área na Ilha do Bororé – SP. Com relação aos valores de pH e temperatura apresentaram-se dentro de padrões para consumo humano e não se evidenciaram diferenciações conforme a contaminação ou não dos poços. NOGUEIRA et al. (2003) observou que a concentração de coliformes fecais diminuiu com a diminuição da temperatura nos poços de Maringá (Paraná). Na tabela 4 apresentam-se os resultados das distâncias entre os poços e as fossas das residências, nesse item considerou-se como a distância mínima requerida 30m e considerou como poços contaminados aqueles que apresentaram concentrações de coliformes totais superiores à 10 NMP/100mL. Os resultados mostram que a maior parte dos poços construídos não atende a exigência da distância (71,1%), e ainda que essa porcentagem é maior (77,8%) nos poços enquadrados como contaminados. A distância da fossa não é o único fator que determina a segurança de um poço (quanto a contaminação), deve -se considerar o posicionamento quanto a fossa (o poço deve estar em um nível mais elevado), procedimentos de construção (tampa, caixa de alvenaria, impermeabilização das paredes), os métodos de tomada de água, entre outros. No trabalho em questão foi avaliada somente a distância, mas os resultados mostram que essa variável pode estar influenciando na contaminação dos poços. Tabela 4 – Posicionamento dos poços com relação as fossas nas residências. FARACHE FILHO e CARVALHO (1983) verificaram que poços cuja distância da fossa era maior que 15 metros não estavam contaminados no distrito de Gavião Peixoto, em Araraquara (São Paulo), já FARACHE FILHO (1985) não observou relação entre contaminação de poços e a distância de fossas, nos bairros Jardim Araraquara e Jardim Itália também localizados em Araraquara, mesmo tendo considerado como mínimo 15 metros de distância entre os dois. Isso mostra que a contaminação de poços deve ser analisada como um processo multifatorial. Os sintomas mais comuns de doenças de veiculação hídrica são diarréias, vômitos e a presença de manchas na pele, assim os moradores das residências foram questionados quanto à ocorrência desses sintomas, esses resultados, divididos conforme a contaminação do poço, estão apresentados na tabela 5. Onde se observa uma maior incidência de sintomas em moradores das residências que são abastecidas por poços contaminados. Tabela 5 – Reclamações de sintomas associados a doenças de veiculação hídrica nas residências da região, de acordo a condição do poço da residência. CONCLUSÕES Diante dos resultados obtidos é possível constatar que: parte dos poços utilizados para abastecimento humano na região da Ilha do Bororé-SP apresentam-se contaminados por microrganismos do grupo coliformes; a maneira como são construídos pode estar auxiliando na contaminação; e existem indícios da ocorrência de doenças associadas ao consumo de água contaminada. Assim, evidencia-se a necessidade de intervenção das autoridades competentes inicialmente promovendo campanhas educacionais e finalmente implantando um sistema de saneamento ambiental que garanta a qualidade de vida nos moradores da Ilha do Bororé. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1.APHA -AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION. Standart methods for the examination of water and wastwater. New York. 16º Ed. 1985. 2.D'AGUILA, P.S., ROQUE, O.C.C., MIRANDA C.A.S.; FERREIRA, A. P. Avaliação da qualidade de água para abastecimento público do Município de Nova Iguaçu. Cad. Saúde Pública, v.16, n.3, Jul/Set, p.791-798, 2000. 3.FARACHE FILHO, A. Proteção sanitária de poços rasos empregados para abastecimento de água nos bairros Jardim Araraquara e Jardim Itália – Araraquara – SP. Rev. Ciênc. Farm, v.7: p. 39 – 50, 1985. 4.FARACHE FILHO, A. & CARVALHO, J. P.P. Bactérias indicadoras de poluição fecal em águas de poços rasos que abastecem a zona rural do distrito de Gavião Peixoto, Município de Araraquara, SP. Rev. Ciênc. Farm, v.5, p.55 – 63, 1983. 5.FREITAS, M.B., BRILHANTE, O.M. & ALMEIDA, L. M. Importância da análise de água para a saúde pública em duas regiões do Estado do Rio de Janeiro: enfoque para coliformes fecais, nitrato e alumínio. Cad. Saúde Pública, v.17, n.3, maio/jun, p. 651-660, 2001. 6.NOGUEIRA, G., NAKAMURA, C. V., TOGNIM, M.C.B., ABREU FILHO, B. A. and DIAS FILHO,B. P. Microbiological quality of drinking water of urban and rural communities, Brazil. Rev. Saúde Pública, v. 37, n. 2, p. 232 – 236, 2003. 7.SOARES, L.C.R., GRIESINGER, M.O., DACHS, J.N.W., BITTNER, M. A. & TAVARES, S. Inequities in access to and use of drinking water services in Latin America and the Caribbean. Rev. Panam. Salud Publica/Pan Am. J. Public Health, v.11, n. 5/6, p. 386 – 396, 2002.