UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL POTENCIAL DE UTILIZAÇÃO DE AGREGADOS LEVES NA PRODUÇÃO DE CONCRETOS ESTRUTURAIS Murilo Giatti Furquim Pereira Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de São Carlos como parte dos requisitos para a conclusão da graduação em Engenharia Civil Orientador: Prof. Dr. Almir Sales São Carlos 2012 DEDICATÓRIA Aos meus pais, José e Magali, pelo amor, carinho e apoio incondicionais ao longo de todos esses anos. AGRADECIMENTOS A toda minha família pelo suporte e atenção dados ao longo de todo o período de graduação. Ao Professor Doutor Almir Sales pela orientação, incentivo e confiança para a realização deste, e de outros trabalhos acadêmicos. Expresso meus profundos agradecimentos a todos os integrantes do Laboratório de Materiais e Componentes (LMC) da UFSCar pelo empenho, colaboração e disponibilidade dados ao desenvolvimento desse trabalho. Ao Laboratório de Sistemas Estruturais (LSE) da UFSCar pela imensa contribuição e disponibilização dos equipamentos necessários ao sucesso dos ensaios realizados. Ao Ricardo Luiz Canato, técnico do LSE, pelo auxílio no capeamento dos corpos de prova de concreto. Aos meus amigos. RESUMO O contínuo avanço e aprimoramento das técnicas de construção utilizadas na engenharia civil têm proporcionado um acréscimo na gama de materiais e componentes empregados com sucesso nas diversas tipologias construtivas. Nesse contexto, a utilização de concretos que levam em sua composição agregados leves tem se mostrado uma alternativa eficiente e versátil na construção moderna. Esse trabalho apresenta as principais características e propriedades dos agregados leves bem como dos concretos produzidos a partir desses materiais. A pesquisa ainda inclui um estudo das formas de processamento das matérias primas utilizadas no fabrico dos agregados leves e uma sistematização da forma de obtenção e produção da argila expandida nacional. Uma amostra de argila expandida adquirida na cidade de São Carlos passou por caracterização granulométrica e ensaio de massa unitária, os quais demostraram uma dimensão máxima característica de 19 mm e massa unitária de 481 kg/m³ e permitiram classificá-la como sendo do tipo 2215. Amostras de areia natural e de brita basáltica também foram caracterizadas granulometricamente, e os resultados obtidos foram compatíveis com os exigíveis na normalização brasileira. Após a caracterização dos materiais foram moldados corpos-de-prova de concreto com cimento CP II E 32 utilizando dois tipos de traço, um contendo agregados tradicionais e outro utilizando argila expandida como agregado graúdo, ambos com o mesmo teor de argamassa. Tais amostras foram submetidas a ensaios de resistência à compressão axial e tração por compressão diametral aos 28 dias de idade além de ensaios de massa específica. Foram verificadas resistências à compressão de 34,2 MPa para o concreto usual e de 17,8 MPa para o concreto leve (redução de 48%). No ensaio de massa específica foram obtidos valores de 2235 kg/m³ e 1642 kg/m³ para o concreto tradicional e para o concreto leve, respectivamente, o que demostra a eficiência da utilização de agregados leves na redução do peso das matrizes de concreto. Os valores experimentais da correlação entre a massa específica e o consumo de cimento do concreto leve associados à sua resistência à compressão foram rigorosamente compatíveis com os valores disponíveis na literatura e permitiram a classificação do concreto leve moldado como sendo do tipo estrutural, embora a resistência alcançada pelas amostras tenham apenas atingido o valor mínimo exigido pelo ACI213R-87 (1999) para que o concreto fosse classificado como estrutural. Quanto aos processos de fabricação dos agregados leves, verificou-se que os tipos mais utilizados são a sinterização e o forno rotativo, porém, apenas o segundo é capaz de prover as características físicas essenciais ao controle e aplicação eficientes dos concretos que os utilizam. Palavras-chave: agregados leves, concretos estruturais, argila expandida. ABSTRACT ABSTRACT The continued advancement and improvement of the construction techniques used in civil engineering have provided an increase in the range of materials and components used successfully in various building typologies. In this context, the use of concretes with lightweight aggregate in its composition has provided an effective and versatile alternative in modern construction. This paper presents the main features and properties of lightweight aggregates and concretes produced from these materials. The research also includes a study of the ways of processing the raw materials used in the manufacture of lightweight aggregates and a systematic way of obtainment and production of national expanded clay. A sample of expanded clay acquired in São Carlos went through granulometric characterization and testing of unit mass, which demonstrated a maximum size of 19 mm and characteristic bulk density of 481 kg/m³ and allowed to classify it as type 2215. Samples of natural sand and gravel were also characterized granulometrically, and the results obtained were compatible with the required Brazilian normalization. After the material characterization were molded concretes with Portland cement CP II E 32 from two types of stroke, containing traditional aggregates and other using expanded clay as coarse aggregate, both with the same amount of mortar. These samples were subjected to testing of compressive strength and diametric tensile compression at 28 days of age beyond assays density. Were observed compressive strengths of 34.2 MPa for usual concrete and 17.8 MPa for lightweight concrete (reduced 48%). In the assay of specific gravity were obtained values of 2235 kg/m³ and 1642 kg/m³ for traditional concrete and lightweight concrete, respectively, which demonstrates the efficiency of the use of lightweight aggregates in weight reduction of concretes. The experimental values of correlation between specific gravity and the consumption of cement in the lightweight concrete associated with their compression strength were rigorously compatible with the values available in the literature and allowed the classification of lightweight concrete being cast as the structural type, although the resistance achieved by sample has not exceeded the minimum value required by ACI213R-87 (1999) for it to be classified as a structural concrete. Regarding the manufacturing processes of lightweight aggregates, it was found that the most used types are the rotary kiln and the sintering, but only the rotary kiln is able to provide the essential physical characteristics for the efficient control and application of the concretes that use them. Key-words: lightweight aggregates, structural concrete, expanded clay. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 2.1 – Panteão de Roma ............................................................................................ 12 Figura 2.2 – Edifícios de múltiplos pavimentos construídos com concreto leve.................... 13 Figura 2.3 - Espectro dos agregados leves e dos respectivos concretos ............................. 16 Figura 2.4 – Os três tipos básicos de concreto leve ............................................................. 18 Figura 2.5 – Intervalo de massas específicas secas de diversos concretos leves estruturais ..................................................................................................................................... 19 Figura 2.6 – Utilização de concreto leve em pré-fabricados ................................................. 23 Figura 2.7 – Plataforma Troll................................................................................................ 24 Figura 2.8 – Forno rotativo para a produção de argila expandida ........................................ 30 Figura 2.9 – Micrografia dos agregados produzidos pelo processos de (a) sinterização e (b) forno rotativo ................................................................................................................ 31 Figura 2.10 - Zonas em que se encontram as composições químicas das argilas com característica expansiva ............................................................................................... 32 Figura 2.11 – Fluxograma de fabricação de agregado de argila piroexpandida ................... 34 Figura 2.12 – Argilas expandidas comerciais ....................................................................... 34 Figura 3.1 – Amostra de argila expandida............................................................................ 37 Figura 4.1 – Evolução média de resistência à compressão dos distintos tipos de cimento Portland ....................................................................................................................... 40 Figura 4.2 – Mistura dos materiais na betoneira .................................................................. 41 Figura 4.3 – Argila expandida submersa .............................................................................. 42 Figura 4.4 – Verificação do abatimento de tronco de cone (slump test) ............................... 42 Figura 4.5 – Adensamento dos corpos de prova .................................................................. 43 Figura 4.6 – Cura úmida dos corpos de prova ..................................................................... 44 Figura 4.7 – Determinação da massa hidrostática dos corpos de provas............................. 44 Figura 5.1 – Flutuação do agregado de argila expandida .................................................... 46 Figura 5.2 – Retificação dos corpos de prova ...................................................................... 47 Figura 5.3 – Ensaio de resistência à compressão simples ................................................... 47 Figura 5.4 – Ensaio de tração por compressão diametral .................................................... 48 Figura 6.1 - Curva granulométrica da argila expandida ........................................................ 50 Figura 6.2 - Ensaio de massa unitária no estado compactado ............................................. 51 Figura 6.3 – Curva granulométrica da areia natural ............................................................. 53 Figura 6.4 – Curva granulométrica da brita basáltica ........................................................... 54 Figura 6.5 – Valores de resistência à compressão............................................................... 55 Figura 6.6 – Detalhe de ruptura tipo cônica ......................................................................... 56 Figura 6.7 – Valores de resistência à tração ........................................................................ 57 LISTA DE TABELAS Tabela 2.1 - Classificação dos agregados quanto à sua massa unitária .............................. 15 Tabela 2.2 – Dados de referência da massa específica dos concretos leves ....................... 19 Tabela 2.3 – Relação aproximada entre a resistência à compressão e o teor de cimento ... 20 Tabela 2.4 – Características de alguns agregados leves comerciais ................................... 35 Tabela 3.1 – Valores de massa do recipiente e da água...................................................... 38 Tabela 3.2 – Relação temperatura/densidade da água ........................................................ 38 Tabela 4.1 - Dosagens finais dos concretos ........................................................................ 41 Tabela 5.1 – Valores de abatimento e teor de argamassa das amostras ............................. 46 Tabela 6.1 - Análise granulométrica da argila expandida ..................................................... 49 Tabela 6.2 – Limites granulométricos .................................................................................. 50 Tabela 6.3 - Massa unitária no estado solto em compactado.............................................. 51 Tabela 6.4 – Análise granulométrica da areia natural (NM 248)........................................... 52 Tabela 6.5 – Análise granulométrica do agregado graúdo ................................................... 54 Tabela 6.6 – Resistência à compressão dos concretos ....................................................... 55 Tabela 6.7 – Resistência à tração dos concretos ................................................................. 56 Tabela 6.8 – Resultados de porosidade e massa específica dos concretos......................... 57 Tabela 6.9 – Exigências para concreto estrutural leve ......................................................... 58 Tabela 6.10 - Correlação massa específica / resistência dos concretos leves ..................... 59 Tabela 6.11 – Correlação consumo de cimento / resistência dos concretos leves ............... 59 Tabela 6.12 – Custo total por m³ do concreto tradicional virado em obra ............................. 60 Tabela 6.13 – Custo total por m³ do concreto leve ............................................................... 61 Tabela 6.14 – Comparativo de custo/MPa dos concretos analisados .................................. 61 . SUMÁRIO 1. 2. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 8 1.1 Justificativa .......................................................................................................... 9 1.2 Objetivos ............................................................................................................... 9 1.3 Metodologia .......................................................................................................... 9 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................ 12 2.1 Agregados Leves ............................................................................................... 12 2.2 Concretos Leves Estruturais ............................................................................. 17 2.3 Principais Agregados Utilizados na Produção de Concretos Leves .............. 24 2.3.1 Pedra pomes .................................................................................................... 25 2.3.2 Perlita expandida .............................................................................................. 25 2.3.3 Argila, xisto e ardósia expandidos .................................................................... 26 2.3.4 Cinzas volantes ................................................................................................ 27 2.3.5 Vermiculita........................................................................................................ 27 2.3.6 Escória de alto-forno expandida ....................................................................... 28 2.4 2.4.1 Sinterização ...................................................................................................... 29 2.4.2 Forno rotativo ................................................................................................... 30 2.5 3. Amostra de Argila Expandida ............................................................................ 37 3.1.1 Granulometria ................................................................................................... 37 3.1.2 Massa Unitária.................................................................................................. 38 3.2 5. A argila expandida nacional e a usina da Cinasita .......................................... 33 CARACTERIZAÇÃO DOS AGREGADOS................................................................... 37 3.1 4. Os processos de produção ............................................................................... 28 Agregados Tradicionais ..................................................................................... 39 3.2.1 Areia Natural .................................................................................................... 39 3.2.2 Brita Basáltica .................................................................................................. 39 MOLDAGEM E ANÁLISE DOS CORPOS DE PROVA................................................ 40 4.1 Procedimentos e etapas para a moldagem ...................................................... 40 4.2 Determinação da porosidade e massa específica............................................ 44 ENSAIOS MECÂNICOS .............................................................................................. 46 6. RESULTADOS E DISCUSSÕES ................................................................................. 49 6.1 7. Análise dos agregados ...................................................................................... 49 6.1.1 Argila expandida ............................................................................................... 49 6.1.2 Areia natural ..................................................................................................... 52 6.1.3 Brita basáltica ................................................................................................... 53 6.2 Análise dos ensaios mecânicos ........................................................................ 55 6.3 Massa específica dos concretos ....................................................................... 57 6.4 Custo comparativo entre o concreto tradicional e o concreto leve ................ 60 CONCLUSÕES ............................................................................................................ 63 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 65 8 1. INTRODUÇÃO O concreto usual produzido com cimento Portland e agregados convencionais, apesar de ser um material amplamente empregado na indústria da construção civil, possui uma série de deficiências. Quando comparado ao aço, a baixa relação resistência/peso do concreto pode constituir um problema econômico na construção de edifícios de múltiplos pavimentos, pontes com grandes vãos e estruturas flutuantes (MEHTA & MONTEIRO, 1994). Visando melhorar essa relação, surgiram, naturalmente, duas alternativas: diminuir a massa específica do material ou aumentar sua resistência. A primeira das alternativas tem sido aplicada com sucesso nos últimos anos através da introdução de agregados leves às matrizes cimentícias, pois possibilitam a obtenção de concretos leves com peso específico de cerca de 1600 kg/m³ e resistência à compressão entre 25 e 40 MPa (MEHTA & MONTEIRO, 1994). Os agregados leves são caracterizados principalmente por possuírem baixa massa específica em comparação aos agregados tradicionais, variando, entre 80 e 900 kg/m³, conforme o processo de fabricação. Entre os principais agregados destinados à obtenção de concretos leves estruturais (CLE) é possível destacar o uso da argila expandida, a qual apresenta massa específica variável entre 300 e 900 kg/m³, além de resistência ao fogo e a ambientes agressivos. Por esse motivo, já foi objeto de vários estudos e pesquisas nacionais e internacionais como alternativa de substituição dos agregados convencionais sem o comprometimento da resistência mecânica. Segundo o ACI213R-87 (1999), a utilização do CLE implica em um custo total mais baixo da estrutura. De fato, embora o metro cúbico concreto leve custe mais do que o convencional, é possível que haja uma redução do custo total da estrutura como resultado da redução do peso próprio e do menor custo das fundações. Nos últimos anos, o desenvolvimento de novas pesquisas destinadas à criação de materiais e técnicas inovadoras para a indústria da construção civil resultou em um incremento da utilização de concretos especiais, como é o caso do concreto leve de alto desempenho (CLAD), passando a ser mais uma alternativa para uma indústria que necessita de soluções diversificadas e eficientes. 9 1.1 Justificativa O setor da construção civil possui grande potencial em oferecer soluções tecnológicas no que diz respeito à incorporação de novos materiais em suas matrizes cimentícias. Nesse contexto, a utilização de agregados leves para a confecção de concretos estruturais (CLE) têm permitido ganhos na redução do peso e manutenção da capacidade portante das estruturas. Sua aplicação na construção e recuperação de pontes pode possibilitar a redução das dimensões dos elementos estruturais e viabilizar o aumento dos vãos entre os pilares. Finalmente, o tema irá abranger alguns dos conceitos importantes abordados no decorrer do curso, além de aprofundar os conhecimentos a respeito da tecnologia em agregados leves e concretos estruturais, pouco tratadas na graduação em engenharia civil. 1.2 Objetivos Este trabalho apresenta como objetivo geral estudar as principais características e propriedades dos principais agregados utilizados em concretos leves estruturais. O trabalho possui como objetivos específicos: 1. Estudar a produção de agregados leves. 2. Verificar as principais aplicações e tipologias construtivas que utilizam agregados leves em estruturas. 3. Verificar experimentalmente a resistência de concretos com argila expandida. 1.3 Metodologia Com a finalidade de atingir os objetivos propostos, a pesquisa foi desenvolvida inicialmente por meio de uma busca na literatura nacional e internacional das principais características e propriedades dos agregados mais utilizados na produção de concretos leves. Em seguida foi realizada uma comparação das formas de processamento das matérias primas para produção de agregados leves, com posterior sistematização da forma de obtenção e produção da argila expandida no Brasil. O trabalho também é composto por verificações experimentais desenvolvidas no Laboratório de Materiais e Componentes (LMC) da UFSCar. Os ensaios foram iniciados com 10 a caracterização de uma amostra de argila expandida por meio de classificação granulométrica, seguindo o especificado na NBR 7211 (2009), e massa unitária, de acordo com a NM 45 (2006). Em seguida foi realizada a dosagem de um concreto leve contendo argila expandida e a moldagem de corpos de prova cilíndricos de 10 cm de diâmetro e 20 cm de altura. Concluída essa etapa, foi realizada a caracterização de agregados naturais para a produção de amostras brancas (referência) de concreto convencional com dosagem similar à do concreto com argila expandida. As amostras de concreto contendo argila expandida e as de concreto convencional foram avaliadas e comparadas através da verificação da massa específica e da realização de ensaios de compressão axial e tração por compressão diametral. Os valores obtidos experimentalmente foram, posteriormente, comparados com os valores disponíveis na literatura e na normalização brasileira para averiguar a compatibilidade com as aplicações sugeridas. As atividades desenvolvidas nesse trabalho estão relacionadas abaixo juntamente com o cronograma previsto: A. Revisão bibliográfica; B. Comparação das formas de processamento das matérias primas para produção de agregados leves; C. Sistematização da forma de obtenção e produção da argila expandida no Brasil; D. Caracterização de uma amostra de argila expandida, dosagem de um concreto leve e moldagem de corpos de prova; E. Caracterização de agregados naturais e moldagem de amostras referência; F. Ensaios de resistência à compressão axial, tração por compressão diametral e verificação do peso específico; G. Comparação dos valores obtidos experimentalmente com os disponíveis na literatura; H. Conclusões e elaboração do trabalho final. 11 2012 Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. A B C D E F G H As atividades ainda seguiram o seguinte cronograma com as datas pré-definidas: 1. Reenvio do PTCC (24/09/2012); 2. Relatório de progresso 1 (24/09/2012); 3. Relatório de progresso 2 (26/10/2012); 4. Marcação da defesa (até 19/11/2012); 5. TCC finalizado (28/11/2012); 6. Defesa do TCC (03/12/2012 a 20/12/2012); 7. TCC corrigido (14/01/2013 a 18/01/2013). Dez. 12 2. 2.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Agregados Leves Os agregados leves destinados à obtenção de concretos estruturais possuem um vasto histórico de utilização na indústria da construção civil. Segundo Vieira (2000) existem indícios de que o emprego de tais materiais teve início há cerca de 3000 anos (1100 a.C.), quando os povos pré-colombianos que habitavam a cidade mexicana de El Tajin, utilizaram uma mistura contendo pedra pomes e um ligante à base de cal e cinzas vulcânicas para a construção de elementos com função estrutural. A mesma tecnologia foi também empregada pelos romanos com o intuito de reduzir as cargas nas estruturas através da combinação de um ligante à base de cal e rochas vulcânicas. Tanto a construção parcial do Coliseu como a reconstituição do Panteão de Roma (Figura 2.1), foi realizada com a utilização de concretos estruturais constituídos de agregados leves provindos de lava vulcânica, fragmentos de tijolos e pedra pomes (MITIDIERI, 1976). Figura 2.1 – Panteão de Roma Fonte: Rossignolo, (2003) 13 Durante a primeira metade do século XX, em meio a Primeira Guerra Mundial, a utilização de concretos estruturais contendo agregados leves caracterizou-se, pela primeira vez, pela introdução do cimento Portland em sua composição. Nessa época foram construídas pela American Emergency Fleet Building Corporation embarcações de concreto leve utilizando xisto expandido, com resistência à compressão de 35 MPa (HOLM & BREMNER, 1994). Um exemplo dessas embarcações é o navio norte-americano USS Selma construído utilizando-se concreto leve com resistência à compressão de 35 MPa e massa específica de aproximadamente 1600 kg/m³ no ano de 1919. Dessa forma, o fator de eficiência atingido foi de 22 MPa.dm³/kg, considerado extraordinário para os materiais e tecnologia disponíveis na época. Algumas análises realizadas nessa embarcação na década de 80 mostraram que o concreto leve utilizado apresentou desempenho satisfatório de durabilidade e manutenção da resistência mecânica (HOLM & BREMNER, 1994). Somente a partir dos anos 50 a utilização de concretos leves estruturais foi direcionada à construção de edifícios de múltiplos pavimentos, tais como o Austrália Square Tower e o Park Regis, na Austrália, o Standart Bank, na África do Sul e o BMW Building, na Alemanha (Figura 2.2). Foi também, a partir dessa década, que teve início a aplicação de concretos leves em elementos pré-fabricados (ROSSIGNOLO, 2003). Figura 2.2 – Edifícios de múltiplos pavimentos construídos com concreto leve Fonte: Rossignolo, (2003) Após anos de evolução tecnológica no ramo da construção civil, o concreto estrutural desenvolvido a partir de agregados leves tornou-se um material de construção firmemente consolidado em todo o mundo, com emprego no reforço e construção de estruturas de 14 pontes, plataformas de petróleo, elementos pré-moldados, edifícios de múltiplos pavimentos, entre outros. Segundo Moravia (2007), agregados são materiais granulares, geralmente inertes (por não reagirem quimicamente com a água), de dimensões e propriedades adequadas para o uso em concretos e argamassas. Contudo, o termo inerte, não representa uma forma correta de se referenciar o agregado, pelo fato, de em alguns casos, ocorrerem reações químicas na zona de transição entre o agregado e a argamassa de cimento, areia e água. Existe uma terminologia que classifica o agregado em miúdo e graúdo de acordo com a dimensão das partículas. A NBR 7211 (2009) – Agregados para concreto – define o agregado miúdo como sendo o agregado, ressalvados alguns limites, cujos grãos passam pela peneira com abertura de malha de 4,75 mm. Já o agregado graúdo é definido como o agregado cujos grãos passam pela peneira com abertura de malha de 75 mm e ficam retidos na peneira com abertura de malha de 4,75 mm. Segundo Popovics (1992), o termo agregado leve serve para designar um agregado de massa específica baixa. Para concretos leves estruturais essa massa é limitada a cerca de um a dois terços da massa específica dos agregados normais, embora essa característica seja diretamente influenciada pela classificação e forma das partículas. Ainda de acordo com o autor, as características de peso e resistência das partículas são as duas propriedades técnicas mais importantes de um agregado leve. Por possuírem valores comerciais inferiores aos do cimento, os agregados, influenciam diretamente no custo final do concerto. Além disso, proporcionam uma menor retração das pastas formadas por cimento e água e aumentam a resistência ao desgaste superficial dos concretos (MORAVIA, 2007). A classificação dos agregados quanto à sua massa unitária pode ser vista na Tabela 2.1. 15 Tabela 2.1 - Classificação dos agregados quanto à sua massa unitária Massa unitária Classificação Leves Normais Pesados Exemplos g (kg/ dm³) g<1 1≤g≤2 g>2 Principais aplicações escória de alto lajes de pontes, peças forno, pré-moldadas, concretos argila expandida, para isolamento térmico e vermiculita acústico areia, brita e pedregulho barita, linolita, magnesita obras em geral concretos estruturais para blindagem contra radiações Fonte: Metha & Monteiro, (1994) De acordo com Coutinho (1988), e em concordância com a Tabela 2.1, a massa unitária dos agregados comuns mais utilizados em concretos tradicionais ocupa valores intermediários a 1400 kg/m³ e 1700 kg/m³. Já os agregados com valores de massa unitária inferior a 1120 kg/m³ são geralmente classificados como leves, e têm aplicação na produção de uma gama variada de concretos de mesma designação, sendo que sua menor massa é devida à microestrutura celular ou altamente porosa dos agregados (MEHTA & MONTEIRO, 1994). Os autores ainda ressaltam que materiais orgânicos de estrutura celular não devem ser usados como agregados devido a sua falta de durabilidade no meio alcalino e úmido do concreto de cimento Portland. Em seus estudos, Rossignolo (2003) classifica os agregados leves em dois grupos: a) Naturais: são extraídos diretamente das jazidas, geralmente de origem vulcânica, e passam por um posterior processo de classificação granulométrica. Em decorrência da grande variabilidade de suas propriedades e do difícil acesso às jazidas têm aplicação reduzida em concretos estruturais. Como exemplo, têm-se a pedra pomes, a cortiça e as escórias vulcânicas. b) Artificiais: são obtidos a partir de processos industriais e classificados com base no processo de fabricação e na matéria prima utilizada. Como exemplo, têm-se argilas, folhetos e escórias expandidas. Entre os agregados artificiais, temos os resultantes de um processo industrial de resfriamento, pelo qual se obtém uma expansão, como a escória de alto forno (subproduto 16 do ferro gusa) e os provenientes da aplicação de calor para a expansão, tais como argila, poliestireno, folhetos, perlitas e vermiculitas (MORAVIA, 2007). A Figura 2.3 mostra um espectro dos agregados leves e dos correspondentes concretos. Figura 2.3 - Espectro dos agregados leves e dos respectivos concretos Fonte: Metha & Monteiro, (1994) Segundo Souza Santos (1992), a ASTM (1964) ainda classifica os agregados leves, de acordo com o tipo de concreto em que são utilizados, em três grupos: a) Agregados leves para concreto estrutural (C 330-64 T) – obtidos principalmente por processos industriais de expansão, calcinação ou sinterização de materiais como as argilas, a escória de alto-forno, diatomitos, folhetos argilosos e de ardósia. b) Agregados leves para fabricação de peças de alvenaria de concreto (C 331-64 T) – da mesma forma que os agregados leves para concreto estrutural, são obtidos através da expansão, calcinação ou sinterização dos mesmos materiais. c) Agregados leves para fabricação de concreto isolante (C 332-61) – podem ser preparados pela expansão de materiais, como perlita e vermiculita, para produção de concreto leve de massa específica aparente entre 230 kg/m³ e 800 kg/m³, ou pela expansão, calcinação ou sinterização de escória de alto-forno, argilas, diatomitos, folhetos argilosos e de ardósia para a obtenção de concreto leve de massa específica aparente entre 720 kg/m³ a 1440 kg/m³. Dessa forma, a escolha correta do agregado leve é fundamental para que o concreto moldado a partir desses materiais atenda às exigências para as quais foi designado. Segundo Popovics (1992), a porosidade interna também é um fator preponderante nessa 17 escolha. De acordo com o autor, quanto maior é esse valor, mais leve é o agregado e menor é sua condutividade térmica, todavia, menor é sua resistência. Popovics (1992) ainda relata algumas possíveis disfunções relacionadas ao emprego de agregados leves em matrizes cimentícias, como problemas de trabalhabilidade causados principalmente pela dimensão angular das partículas finas dos agregados leves britados, segregação dos agregados graúdos durante a mistura, lançamento e vibração do concreto, alto valor de absorção da maioria dos agregados. Esses problemas, contudo, podem ser evitados adotando-se algumas medidas preventivas como, por exemplo, a substituição de parte dos agregados leves por agregados tradicionais e a checagem frequente e contrabalanceada proporção de água. 2.2 Concretos Leves Estruturais Os concretos (em geral) são materiais heterogêneos, e suas propriedades são influenciadas pelas propriedades individuais de cada componente que os constitui. Desta forma, a substituição dos agregados tradicionais pelos agregados leves influencia principalmente em propriedades como a massa específica, a trabalhabilidade, a resistência mecânica, o módulo de elasticidade, as propriedades térmicas, a retração, a fluência e a espessura da zona de transição entre o agregado e a matriz do cimento (ROSSIGNOLO, 2003). O concreto leve estrutural é, em todos os sentidos, semelhante a um concreto estrutural, exceto, por razões de economia do custo total, uma vez que ele é feito com agregados leves celulares, e por isso, seu peso específico é cerca de dois terços do peso específico do concreto moldado com os agregados convencionais. O termo concreto leve é empregado para concretos cuja massa específica não ultrapassa os 1800 kg/m³ (MEHTA & MONTEIRO, 1994). Porém, o método do volume absoluto baseado no ACI, utilizado na dosagem de concretos convencionais não é indicado para a dosagem do concreto leve. Primeiramente a relação entre a resistência e o fator água/cimento não pode ser efetivamente usada devido à dificuldade em se quantificar a absorção de água de amassamento pelo agregado leve. Além do mais, a absorção de água pelo agregado poroso (10% a 20%) pode ser prolongada por semanas. Ainda, ao contrário dos agregados tradicionais, a massa específica dos agregados leves pode variar amplamente com a granulometria (MEHTA & MONTEIRO, 1994). 18 Segundo Short (1962), basicamente, o único meio de obtenção de concretos leves é através da inserção de ar em sua composição. Contudo, isso pode ser feito de três formas distintas: a) criando bolhas de ar na própria matriz cimentícia, constituindo o chamado concreto celular ou aerado; b) eliminando as partículas finas da composição granulométrica do agregado, criando assim o chamado concreto com ausência de finos; c) substituindo a pedra britada por agregados porosos, o que inclui ar à mistura. (Figura 2.4). Figura 2.4 – Os três tipos básicos de concreto leve a) Concreto aerado Fonte: Short, (1962) b) Concreto sem finos c) Concreto com agregado leve Embora existam três formas distintas de produção, os concretos leves são produzidos através de referidas combinações. Por exemplo, concretos com ausência de finos empregam agregados leves, assim como concretos aerados utilizam agregados celulares em sua composição (SHORT, 1962). Como complemento a essa classificação, Maycá et. al (2008), sugere o acréscimo de um quarto tipo de concreto leve, denominado concreto misto, o qual seria o resultado de uma combinação de agregados leves, aditivos incorporadores de ar e da redução dos finos no traço. De acordo com Rossignolo (2003), os concretos leves estruturais são obtidos através da substituição total ou parcial dos agregados tradicionais por agregados leves e, normalmente, apresentam valores de massa específica seca abaixo de 2000 kg/m³. A massa específica também é utilizada pelo ACI213R-87 para classificar o concreto leve de acordo com a aplicação (Figura 2.5), descritas abaixo em três categorias: 19 a) concretos leves estruturais: possuem resistência à compressão mínima aos 28 dias de 17,24 MPa, massa específica entre 1350 kg/m³ e 1900 kg/m³ e são empregados para fins estruturais; b) concretos isolantes: possuem valores de massa específica entre 300 kg/m³ e 800 kg/m³ e são utilizados somente para isolamento térmico; c) concretos com resistência moderada: possuem resistência à compressão entre 7 MPa e 17 MPa e suas características de isolamento térmico são intermediárias aos concretos isolantes e aos estruturais (NEVILLE, 1976). Figura 2.5 – Intervalo de massas específicas secas de diversos concretos leves estruturais Fonte: Neville, (1976) De forma equivalente, Rossignolo (2003), apresenta os valores limites de massa específica para concretos leves baseado em documentos normativos ou de referência para os concretos leves (Tabela 2.2). Tabela 2.2 – Dados de referência da massa específica dos concretos leves Referência Massa específica (kg/m³) RILEM (1975) g < 2000 CEB-FIP (1977) g < 2000 NS 3473 E (1992) 1200 < g < 2000 ACI 213R-87 (1997) 1400 < g < 1850 CEN prEN 206-25 (1999) 800 ≤ g < 2000 20 Fonte: Rossignolo, (2003) Entre as vantagens de utilização dos concretos leves estruturais (CLE) com relação ao concreto tradicional é possível citar a redução das seções transversais de elementos estruturais compostos por outros tipos de materiais que venham a trabalhar de forma conjunta com o concreto leve, redução das dimensões das fundações, redução do peso próprio dos materiais com consequente aumento da produtividade no canteiro de obras, maior isolamento térmico e acústico do produto acabado, redução do tempo de execução, a possibilidade de se construir sobre solos com menor capacidade de suporte, menor custo com armaduras e maior durabilidade (SILVA, 2007). Por outro lado, os concretos leves possuem teores de cimento maiores que os concretos tradicionais, o que representa um custo adicional, tornando o concreto leve mais caro. Outras desvantagens são a limitação da resistência determinada pela resistência dos agregados de maiores dimensões e a maior dificuldade de ser dispor de caracterizações e procedimentos de dimensionamento (SILVA, 2007). Em termos de traço, a resistência à compressão dos concretos leves está normalmente associada com o teor de cimento para um dado abatimento e não com o fator água/cimento. Na maioria dos casos, essa resistência pode ser aumentada reduzindo-se a dimensão máxima do agregado e/ou substituindo-se o agregado leve miúdo por areia natural de boa qualidade (MEHTA & MONTEIRO, 1994). A Tabela 2.3 contém a relação entre a resistência à compressão média e o teor de cimento tanto para o concreto com agregado leve como para o concreto com areia e agregado leve. Tabela 2.3 – Relação aproximada entre a resistência à compressão e o teor de cimento Resistência à compressão Cimento (kg/m³) Agregado leve Agregado leve e somente areia natural 17,24 240-305 240-305 20,68 260-335 250-335 27,58 320-395 290-395 34,47 375-450 360-450 41,37 440-500 420-500 MPa Fonte: Metha & Monteiro, (1994) 21 Assim como a resistência dos concretos leves não está associada à relação água/cimento, tampouco está com a resistência do agregado leve. Segundo Popovics (1992), não há uma correlação confiável entre a resistência dos agregados leves e a dos concretos obtidos a partir deles, embora os problemas de inadequação de resistência ocorram com maior frequência quando da utilização de agregados leves ao invés dos tradicionais. Agregados leves de menor massa unitária são geralmente menos resistentes, mas esta não é uma regra, pois esta relação é diretamente influenciada por outros fatores. Concretos leves, particularmente os utilizados em blocos, possuem absorção de água muito maior do que os concretos densos devido à maior quantidade de poros presentes nas partículas. Contudo, esse fato não é considerado de grande importância na prática, pois o concreto leve exposto às condições climáticas não é usualmente utilizado sem tratamento de prevenção adequado. Porém, em situações nas quais pode haver rápida secagem, a alta absorção de água pelo agregado é uma desvantagem (SHORT, 1962). Com relação à trabalhabilidade, a baixa densidade e a textura áspera característica dos agregados porosos, principalmente os britados, fazem com que seja necessária uma atenção especial a esta propriedade. O abatimento alto e a vibração excessiva são dois fatores responsáveis pela sedimentação da argamassa mais pesada, ficando em falta na superfície, onde é mais necessária para o acabamento. Este fenômeno é denominado flutuação do agregado graúdo, e é o inverso do que acontece com o concreto usual, onde a segregação resulta em um excesso de argamassa na superfície (MEHTA & MONTEIRO, 1994). Devido à sua permeabilidade baixa, consequentemente, o concreto leve possui desempenho bastante satisfatório quando exposto a ambientes quimicamente agressivos. A principal razão para a baixa permeabilidade e consequente durabilidade do concreto leve é a ausência generalizada de fissuração na zona de transição agregado-pasta. Sua condutividade térmica, cerca de metade do valor encontrado nos concretos tradicionais, ainda garante excelente resistência ao fogo (MEHTA & MONTEIRO, 1994). Em relação à condutividade, os concretos leves estruturais, embora mais resistentes, possuem menor desempenho quando comparados aos concretos leves para propósitos de isolamento térmico. Mesmo assim, sua condutividade ainda é considerada baixa em ralação aos concretos tradicionais (POPOVICS, 1992). Em decorrência ao seu baixo peso específico, quando comparado ao concreto tradicional, o CLE tem se mostrado extremamente importante na construção e recuperação de pontes. Isso pelo fato de que geralmente, nas pontes de grandes vãos o peso próprio da 22 estrutura de concreto chega a representar 70% das solicitações (Rossignolo & Agnesini, 2005). Essa redução do peso próprio estrutural, possibilitou que a construção em concreto leve do tabuleiro da ponte de São Francisco-Oakland Bay, em 1936, proporcionasse uma economia de 3 milhões de dólares em aço (MEHTA & MONTEIRO, 1994). Liu et. al (2010), utilizaram o concreto leve estrutural na recuperação do tabuleiro de pontes antigas focando os aspectos de construção e técnicas de controle de qualidade. Os estudos mostraram que a adoção de conectores de cisalhamento e mantas de aço aliados à utilização do concreto leve estrutural poderiam resolver os problemas de diminuição da força de rolamento de pontes antigas. De acordo com Vieira (2000), outra vantagem da utilização do concreto leve estrutural em pontes encontra-se na fase construtiva, quando esta é executada em balanços progressivos. Isso porque os esforços no carro são menores, permitindo um menor desgaste do equipamento e maiores avanços. A redução do peso próprio ainda permite a construção de pontes com elementos pré-fabricados que possam vencer vãos superiores aos alcançados com a utilização do concreto usual. Outra aplicação eficiente desse material ocorre em lajes de piso de grandes edifícios, uma vez que a resistência não é o fator mais importante nesse tipo de elemento. Como exemplo dessa aplicação é possível citar a Lake Point Tower, em Chicago (MEHTA & MONTEIRO, 1994). A tecnologia de aplicação de agregados leves também se estende à produção de concretos auto-adensáveis. Contudo, segundo Topçu & Uygunoglu (2010), os estudos dessa área são usualmente focados em propriedades reológicas e de trabalhabilidade. Desta forma a pesquisa realizada pelos autores buscou apresentar de forma extensiva a influência dos diferentes tipos de agregados leves (tufo vulcânico, pedra-pomes e diatomita) nas propriedades físicas e mecânicas dos concretos auto-adensáveis com posterior comparação ao mesmo tipo de concreto moldado com agregados convencionais. Os estudos mostraram que a utilização de tais agregados conferem menor resistência e maior capacidade de deformação ao concreto auto-adensável com agregados leves em comparação ao concreto auto-adensável comum. Além disso, a inserção de agregados leves em substituição à brita provoca um decréscimo do módulo de elasticidade devido à menor resistência dos mesmos. Quanto a condutividade térmica, tanto o concreto auto-adensável comum quanto o produzido a partir de agregados leves possuem valores maiores do que o concreto leve estrutural, isso por conta do maior teor de argamassa 23 utilizado para atingir a trabalhabilidade adequada. Além do mais, a substituição de pedra britada por agregados leves aumentou o isolamento térmico, resultando num decréscimo do consumo de energia entre 35 e 60% quando utilizado nas construções (TOPÇU & UYGUNOGLU, 2010). Haque & Al-Khaiat (1999), estudaram a durabilidade do concreto leve exposto a condições marinhas de elevadas temperaturas. A cura úmida de sete dias e posterior exposição ao meio agressivo embora mais benéfica ao concreto leve do que ao concreto usual, não impediu que a penetração de água e a profundidade de carbonatação fossem maior naquele. Os resultados sugerem, desta maneira, que quanto maior a penetração de água, maiores são os danos causados pela penetração de dióxido de carbono, sulfatos e íons cloreto. É importante salientar que a grande maioria das aplicações de concreto leve em termos mundiais continua sendo na produção de elementos e painéis pré-fabricados de concreto (Figura 2.6). O menor peso dos elementos reduz os custos com equipamentos de manuseio, transporte e construção, sendo mais convenientes para esse tipo de construção do que o concreto com agregados tradicionais (MEHTA & MONTEIRO, 1994). Figura 2.6 – Utilização de concreto leve em pré-fabricados Fonte: Rossignolo, (2003) Concretos leves com resistência à compressão compreendidas entre 35 e 55 MPa têm sido usados em larga escala na pré-fabricação, essencialmente em blocos de alvenaria, vigas com seção I, retangulares ou em caixão, painéis e lajes alveolares, bancadas e degraus de estádios (SILVA, 2007). 24 Concretos leves de alto desempenho (CLAD) têm sido usados na construção de plataformas offshore (Figura 2.7) por duas razões fundamentais, sendo elas, a maior flutuabilidade e a maior resistência específica (CRUZ et. al, 2000). A maioria delas é construída em estaleiros para posteriormente serem transportadas para o local de uso definitivo, sendo, portanto, necessário reduzir o peso da estrutura. No caso dessas estruturas é essencial que se alie simultaneamente agregados leves e de alto desempenho, por estas estarem expostas a ambientes de alto grau de agressividade (HOLM & BREMNER, 1994). Figura 2.7 – Plataforma Troll Fonte: Silva, (2007) De fato, o concreto leve estrutural possui inúmeras vantagens quando comparado ao concreto tradicional, e, salvo alguns critérios e medidas preventivas a serem seguidos e adotados para sua aplicação, possuem enorme potencial de utilização. Os estudos desenvolvidos na área além de promover o desenvolvimento tecnológico agregam valor e qualidade aos produtos e serviços prestados no setor construtivo (MAYCÁ et. al, 2008). 2.3 Principais Agregados Utilizados na Produção de Concretos Leves A seguir serão apesentados os principais tipos de agregados leves utilizados na indústria da construção civil, bem como suas características e propriedades mais relevantes. 25 2.3.1 Pedra pomes Segundo Neville (1976), entre os agregados leves naturais disponíveis, a pedra pomes, é o mais amplamente empregado na produção de concretos leves. O agregado, de origem vulcânica, é caracterizado pela coloração clara e massa específica na faixa de 500 a 900 kg/m³. As variedades compreendidas nesse intervalo de valores, as quais segundo o autor são suficientemente resistentes, são capazes de produzir concretos de desempenho aceitável com densidade entre 700 e 1400 kg/m³. Sua característica esponjosa é decorrente dos poros formados por gases que tentam escapar da lava fundida quando esta atinge a superfície da terra. Isso confere ao agregado uma estrutura interna com poros pequenos equilibradamente distribuídos e parcialmente interligados. A maioria das variedades encontradas é suficientemente resistente para produzir concretos leves de boa qualidade para propósitos estruturais, como lajes de piso e cobertura, paredes e painéis, principalmente na indústria de pré-moldados (POPOVICS, 1992). 2.3.2 Perlita expandida Oriundo de um processo industrial de fabricação, a perlita expandida está entre os agregados inorgânicos mais leves que existem, sendo que sua massa específica gira na faixa de 30 a 240 kg/m³. O material básico desse agregado pertence a um grupo de rochas efusivas densas, vítreas, com alto teor de água (2 a 6%) e estrutura interna composta de anéis concêntricos. O mecanismo fundamental de expansão da rocha sólida está no ponto de fusão, de tal forma que os poros se mantêm conectados pelo material fundido ao mesmo tempo em que o material permanece viscoso suficientemente para manter os fluxos desenvolvidos e/ou os gases internos sob pressão. Esse mecanismo expande as partículas, possibilitando o surgimento de uma estrutura interna porosa que é mantida após o resfriamento (POPOVICS, 1992; NEVILLE, 1976). De acordo com Popovics (1992), se a rocha atinge o ponto de fusão a baixas temperaturas (700 a 800 °C), então, aquecendo-a ainda mais, a partícula de rocha torna-se plástica de forma integral, e a expansão ocorre igualmente nas três dimensões. A extensão com que as partículas se expandem também é influenciada pela dimensão das partículas no estado bruto. O tamanho ótimo dessas partículas, por sua vez, é influenciado pelas propriedades do material antes do aquecimento, embora a dimensão de 0,5 mm tenha se mostrado razoável para vários tipos de perlitas. 26 O material possui cerca de 10% do peso de agregados tradicionais como a areia e a brita, e é ideal para utilização em preenchimento de telhados isolantes e plataformas estruturais de telhados. Além do mais, a superfície selada das partículas, permite que sejam feitas misturas com aproximadamente 30% menos água do que as realizadas com outros tipos de agregados leves. Outras vantagens que o agregado proporciona são o baixo peso, o retardo ao fogo em estruturas, o isolamento térmico e a facilidade de manipulação (PERLITE INSTITUTE, 2012). 2.3.3 Argila, xisto e ardósia expandidos Os agregados leves de argila, xisto e ardósia expandidos são obtidos pelo aquecimento adequado das matérias-primas em fornos rotativos até o ponto de fusão incipiente, entre 1000 e 1200 °C, quando a expansão dos materiais se dá pela geração e aprisionamento de gases no interior da massa viscosa. Esta estrutura porosa, que permanece após o resfriamento do material, faz com que a massa específica aparente desses agregados seja menor do que antes do tratamento térmico. Na maioria das vezes, esses materiais são reduzidos ao tamanho desejável antes da calcinação, embora o esmagamento do material após a expansão também possa ser aplicado (NEVILLE, 1976). A expansão também pode ser alcançada através do processo de sinterização. Nesse caso, o material umedecido é carregado por uma espécie de esteira sob incineradores, de forma que o calor penetra gradualmente no interior da estrutura do material. Assim como no processo de forno rotativo o material é pelotizado antes da calcinação ou esmagado após o processo (NEVILLE, 1976). Vale destacar, que do material previamente pelotizado possibilita a produção de partículas lisas semi-impermeáveis ou “revestidas” com formatos esféricos e baixa absorção de água quando comparadas a agregados desprovidos de tal revestimento (NEVILLE, 1976; POPOVICS,1992). Os agregados de xisto e argila expandidos fabricados pelo processo de sinterização possuem densidade entre 650 a 900 kg/m³, enquanto os produzidos em fornos rotativos possuem valores de densidade entre 300 e 650 kg/m³. As variedades mais densas desses agregados podem ser utilizadas em concretos leves estruturais, paredes de concreto e até mesmo em estruturas de concreto protendido. Existem registros de resistências à compressão de até 57,7 MPa, alcançados em concretos moldados com argila expandida, e de até 48,3 MPa em concretos produzidos com xisto expandido. Geralmente, tais 27 variedades de concreto possuem resistência à compressão maior do que qualquer outro que utilize outras variedades de agregados leves (NEVILLE, 1976; POPOVICS, 1992). 2.3.4 Cinzas volantes As cinzas volantes, obtidas do processo de combustão do carvão em pó, quando sinterizadas podem prover agregados leves (cerca de 900 kg/m³) de boa qualidade para aplicação em concretos. O material é economicamente viável, pois além de ser um subproduto contém uma quantidade suficiente de carbono (3 a10%) para reduzir os custos com combustíveis. Os tipos de cinzas volantes utilizadas no fabrico de agregados leves são geralmente os provenientes do carvão betuminoso (POPOVICS, 1992). O processo usual de fabrico passa primeiramente pelo preparo dos grânulos extrudados das cinzas volante através da adição de água. Posteriormente o material é queimado em esteiras ou sinterizadores a cerca de 1260 °C, temperatura que amolece e aglomera os grânulos transformando-os em partículas maiores. A estrutura interna do material sinterizado é multicelular, onde os vazios do interior das partículas são produzidos pela evaporação da água e eliminação de carbono durante o processo (POPOVICS, 1992). Atualmente o mercado de agregados leves representa uma das mais atrativas oportunidades para a utilização comercial de cinzas volantes sem problemas sazonais, pois o agregado pode ser armazenado por tempo ilimitado a céu aberto sem perdas, problemas ambientais ou estragos provocados pelo ciclo do congelamento/descongelamento (KLOTTEN, 2012). O alto potencial de aplicação dos agregados leves constituídos por cinzas volantes está na produção de concretos e seus produtos, e blocos de alvenaria. Concretos com resistência de 41,5 MPa também têm sido produzidos com as variedades mais pesadas do agregado, garantindo o potencial da aplicação do material em concretos estruturais (KLOTTEN, 2012; POPOVICS, 1992). 2.3.5 Vermiculita A vermiculita é um mineral natural no qual o processo de expansão para criação do agregado ocorre de forma similar ao da perlita, exceto pelo fato de que a vermiculita expande mais em uma única direção como resultado de sua estrutura laminar. As propriedades técnicas desse tipo de agregado são similares às encontradas na perlita expandida, e, independente do processo de fabricação, por expansão ou esfoliação, o 28 agregado é utilizado na grande maioria das vezes em concretos isolantes (POPOVICS, 1992). Segundo Neville (1976) a vermiculita possui estrutura um tanto quanto similar à da mica, sendo geralmente encontrada na América e na África. Quando aquecida em temperaturas entre 650 a 1000 °C o material é capaz de expandir cerca de 30 vezes o seu volume inicial pela esfoliação de suas placas. Como resultado, a massa específica da vermiculita expandida é muito baixa, em torno de 60 a 130 kg/m³. Já o concreto confeccionado com esse tipo de agregado leve possui pouca resistência e alta retração, mas é um excelente isolante térmico. 2.3.6 Escória de alto-forno expandida Os agregados de escória de alto forno podem ser produzidos de duas formas distintas. Na primeira, uma quantidade limitada de água na forma de spray entra em contato com a escória fundida quando ela está sendo descarregada pelo forno. Em seguida, ocorre a formação de vapor e inicia-se o processo de expansão e resfriamento da massa fundida, que, após o endurecimento, transforma-se em um agregado de estrutura porosa. No processo com utilização de máquinas, o material fundido é agitado rapidamente com quantidade controlada de água. Assim como no processo anterior, o vapor é aprisionado no interior da massa, havendo também a ocorrência de gases formados pela reação química entre constituintes da escória fundida com o vapor de água. A escória de alto-forno expandida possui massa específica variando entre 300 e 1100 kg/m³, dependendo dos detalhes do processo de resfriamento. As variedades mais leves têm aplicação em agregados para blocos de concreto e concretos isolantes, enquanto os mais densos são destinados à painéis e lajes de concreto reforçado, além de paredes de concreto moldadas in loco. 2.4 Os processos de produção A utilização da argila expandida como agregado graúdo na confecção de matrizes cimentícias de concreto é economicamente viável em decorrência da significativa redução da massa específica que esses agregados proporcionam, minimizando as cargas atuantes nas estruturas (MORAVIA et. al, 2006). Esse material é resultante do aquecimento de alguns tipos de argila a cerca de 1200°C, e, próximo dessa temperatura, uma parte dos constituintes do material se funde produzindo uma massa viscosa, enquanto a outra parte sofre uma decomposição química 29 que libera gases, os quais são incorporados pela massa calcinada, expandindo-a em até sete vezes o seu volume inicial. Os gases aprisionados no interior da argila, não podem escapar para o seu exterior devido à fase líquida que envolve as partículas e mantém a estrutura porosa do material mesmo após o resfriamento, fazendo com que sua massa unitária torne-se menor do que antes do aquecimento (SOUZA SANTOS, 1992). 2.4.1 Sinterização Dos processos industriais utilizados para a fabricação de agregados leves, os mais abrangentes são a sinterização e o forno rotativo. Segundo Mehta & Monteiro (1994), os agregados de argila expandida produzidos pelo processo de sinterização possuem massa específica aparente na faixa compreendida entre 650 kg/m³ e 900 kg/m³, enquanto os produzidos pelo processo de forno rotativo têm valores entre 300 kg/m³ e 650 kg/m³. No processo de sinterização ou sinterização contínua a matéria-prima é umedecida e misturada com uma proporção adequada de combustível, podendo ser coque ou carvão finamente moído, para em seguida ser transportada por uma grelha móvel sob a ação de queimadores, de forma que o calor atinge gradualmente toda a espessura da camada com posterior formação de gases e consequente expansão (GOMES NETO, 1998; MEHTA & MONTEIRO, 1994; NEVILLE, 1976). Segundo Cabral (2005), esse processo é idêntico, em princípio, à sinterização de minérios de zinco ou níquel. Primeiramente, a matéria-prima é misturada com uma quantidade adequada de combustível para em seguida ser depositada em forma não compactada em uma grelha móvel de um forno tipo “Dwight-Lloyd” e incinerada. A queima do material combustível é garantida pela sucção ou injeção de ar através da grelha. Embora industrial, o processo de sinterização, de acordo com Santos et. al (1986), apresenta os poros abertos, sem recobrimento e com altos valores de absorção de água. Além dessa desvantagem, o produto final é muito irregular e de “arestas vivas”, o que exige britagem para alcançar a granulometria final adequada. Normalmente esse tipo de agregado apresenta massa específica variando entre 650 kg/m³ e 900 kg/m³. A utilização de agregados produzidos por tal processo traz outra desvantagem, caracterizada pela penetração da pasta de cimento nos poros externos do agregado, que pode variar de 30 kg a 100 kg de cimento por m³ de concreto, aumentando assim o consumo de cimento e a massa específica do concreto (ROSSIGNOLO, 2003). 30 2.4.2 Forno rotativo O processo da matéria prima em forno rotativo, também designado nodulação, aproveita as características expansivas de determinados materiais, como é o caso de algumas argilas, quando submetidos a temperaturas elevadas (entre 1000 °C e 1350 °C), próximos do ponto de fusão incipiente, em decorrência da formação de gases que ficam contidos pela “capa” externa vítrea da partícula. Esse tratamento térmico realizado nos fornos rotativos a gás ou óleo diesel (Figura 2.8) é semelhante ao processo de obtenção do cimento Portland (SANTOS et. al, 1986; METHA & MONTEIRO, 1994). Figura 2.8 – Forno rotativo para a produção de argila expandida Fonte: Souza Santos (1992) Os agregados obtidos por esse processo apresentam granulometria variada, formato arredondado regular e interior formado por uma massa esponjosa microcelular, revestida por uma camada cerâmica vitrificada, resistente e com baixa permeabilidade. Sua camada externa vítrea confere ao agregado, também denominado “encapado”, uma porosidade interna fechada e diminui significativamente a absorção de água (ROSSIGNOLO, 2003). De acordo com Bauer (2000), a graduação desse tipo de agregado leve é da ordem de 4,8/25 mm, com praticamente 80% do material com granulometria entre 19 e 25 mm. A Figura 2.9 ilustra parte da estrutura dos agregados produzidos por ambos os processos de produção. 31 Figura 2.9 – Micrografia dos agregados produzidos pelo processos de (a) sinterização e (b) forno rotativo (a) (b) Fonte: Zhang & Gjorv, 1991 Todavia, nem todos os tipos de argila adequam-se a esses processos produtivos. Segundo Sobral (1987) é necessário a presença de em teor de fundentes adequado para formar uma fase vítrea, caso contrário, os gases escapam e não há o inchamento da partícula de argila. Ainda de acordo com o autor, devem existir alguns limites mínimos nos teores de sílica (SiO2), alumina (Al2O3) e de constituintes que agem como fundentes (CaO, MgO, Fe2O3, Na2O, K2O), abaixo dos quais a matéria-prima não fundirá à baixa temperatura ou não conseguirá uma fusão viscosa suficiente para aprisionar os gases em seu interior. No entanto, Cabral (2005) apresenta possíveis soluções para contornar o problema relacionado ao teor inadequado de fundentes. Segundo o autor, esses defeitos podem ser solucionados através da adição de fundentes apropriados, pela alteração do período de liberação de gás para uma temperatura mais alta, pela aceleração do aquecimento com diminuição da introdução de ar ou pela adição de componentes que elevem a viscosidade da fase vítrea. A Figura 2.10 ilustra as zonas que devem ser atendidas pela composição química da matéria-prima para que a mesma possua características expansivas. 32 Figura 2.10 - Zonas em que se encontram as composições químicas das argilas com característica expansiva Fonte: Moravia, (2006) Cabral (2005) ainda discorre sobre as condições essenciais para a expansão piroplástica e formação de uma estrutura celular com consequente obtenção de um agregado leve de alta qualidade. Tais condições encontram-se descritas a seguir: 1) o material na condição plástica deve conter uma quantidade suficiente de vidro para o fechamento dos poros e retenção da fase gasosa; 2) o material deve conter um teor adequado de substâncias formadoras de gases para que o inchamento proporcione a obtenção da massa específica desejada; 3) os gases dever ser liberados por seus componentes produtores em quantidade e velocidade adequadas, a uma temperatura e momento específico condizentes às condições piroplásticas ótimas do material; 4) nessas condições ótimas, o vidro deve possuir uma viscosidade adequada, de tal forma que além de garantir a formação de vesículas, deve ser capaz de formar uma parede de espessura adequada que as envolva e proporcionem a máxima resistência ao esmagamento do agregado leve; 5) preferencialmente, por razões econômicas, o material deve inchar na temperatura mais baixa possível. Contudo, tais temperaturas, não devem ser decorrentes da presença de fundentes ou sais alcalinos, pois esses compostos liberam sais alcalinos que posteriormente irão enfraquecer o concreto leve; 6) o intervalo de temperaturas entre o início do inchamento e a fusão total do material deve ser superior a 20 °C, para que dessa maneira, as partículas do agregado não se grudem e provoquem o entupimento do forno. Substâncias formadoras de gases em quantidades demasiadas produzem uma liberação exorbitante que é prejudicial á formação da fase vítrea principalmente quando o 33 processo ocorre em temperaturas mais baixas. O resultado desse processo é um agregado leve e de baixa resistência, de estrutura porosa grosseira e muito irregular (CABRAL, 2005). 2.5 A argila expandida nacional e a usina da Cinasita No Brasil, a produção de argila expandida fica restrita a um único fabricante, a CINEXPAN, fábrica localizada na cidade de Várzea Paulista, a 50 km de São Paulo, sendo sua produção voltada principalmente para atender a indústria têxtil, em específico a estonagem de “jeans”, a jardinagem e o paisagismo. No entanto, com o avanço das pesquisas em diversas universidades voltadas para o desenvolvimento de tecnologias de concreto, a demanda do material no mercado da construção civil têm aumentado consideravelmente nos últimos anos (MAYCÁ et. al,2008). A empresa CINEXPAN, antiga CINASA e depois denominada CINASITA, foi construída em 1964 objetivando fornecer o agregado de argila expandida, produto até então inexistente no Brasil, para a construção de conjuntos habitacionais populares em escala industrial, atendendo aos apelos do governo da época. Para tanto, a equipe de engenheiros da CINASA em parceria com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT) e da empresa norte-americana Fuller, iniciaram a pesquisa de materiais, a determinação das diretrizes do projeto e a operação da usina de agregado leve. Os primeiros testes foram realizados em 1967 e a produção efetiva em janeiro de 1968, com 7500 m³ mensais do produto (CABRAL, 2005). Em decorrência das necessidades da indústria da construção civil de São Paulo, foram realizadas pelo IPT, várias pesquisas visando encontrar argilas viáveis à produção de agregados leves pelo processo de forno rotativo. Dessa maneira, foram estudadas trezentos tipos de argila do estado de São Paulo, as quais eram indicadas com possível potencial de expansão devido á composição química e mineralógica (CABRAL, 2005). Através de ensaios de queima rápida e lenta, foram escolhidas dezesseis variedades de argila; ensaios em escala piloto permitiram a seleção de outras quatro, tendo sido escolhida apenas uma por condições econômicas para a industrialização (SOUZA SANTOS, 1992). De acordo Cabral (2005), a produção em escala piloto foi realizada utilizando um forno piloto rotativo adaptado e construído inteiramente em São Paulo. A operação do forno seguia o seguinte fluxograma: matéria-prima; extração desagregação e umidificação; conformação por extrusão em maromba; corte de argila extrudada em cilindros de 1 cm de 34 diâmetro e 1 cm de altura; rolamento e secagem superficial; queima no forno rotativo; resfriamento; separação; estocagem. A (Figura 2.11) ilustra o fluxograma de processo: Figura 2.11 – Fluxograma de fabricação de agregado de argila piroexpandida Fonte: Souza Santos, 1992 (adaptado) Na época, esse forno foi projetado de forma que permitia o controle de inclinação sobre o plano horizontal e o maçarico de chama direta permitia a formação e uma atmosfera oxidante e temperaturas máximas de 1350 °C. Atualmente a matéria prima é retirada do Recôncavo Baiano e processada em fornos rotativos no município paulista, resultando em dois tipos de argila expandida que podem ser utilizados como agregados em concretos estruturais, sendo eles a argila expandida 2215, equivalente à brita comercialmente denominada 1 e com dimensões entre 15 e 22 mm, e a argila expandida 1506, com dimensões entre 6 e 15 mm, equivalente à brita 0 (Figura 2.12). Existe ainda um terceiro tipo de argila, denominado 0500, com dimensões entre 0 e 5 mm e potencial de substituição da areia grossa como agregado miúdo (MAYCÁ et. al, 2008). Figura 2.12 – Argilas expandidas comerciais Argila expandida 2215 Fonte: Maycá et. al, (2008) Argila expandida 1506 35 Em seus estudos, Rossignolo (2003) apresenta os valores de absorção de água e de outras características de alguns agregados leves europeus e norte-americanos, bem como da argila expandida brasileira (Tabela 2.4). Tabela 2.4 – Características de alguns agregados leves comerciais Nome Comercial Matéria- País prima Inglaterra Cinzas e Holanda volantes Solite EUA Folheto Norlite EUA Folheto Lytag Alemanha Liapor e R. Argila Tcheca Leca Arlita Cinexpan 0500 Cinexpan 1506 Áustria e Noruega Argila Espanha Argila Brasil Argila Brasil Argila Massa Fabricação específica Sinterização Forno rotativo Forno rotativo Forno rotativo Forno rotativo Forno rotativo Forno rotativo Forno rotativo Massa Absorção unitária Dimensão (kg/dm³) (kg/dm³) (mm) 1,3 - 2,1 0,6 - 1,1 0,5 - 19 15 -20 1,4 0,8 4 - 16 15 0,8 - 1,9 0,4 - 1,2 5 - 19 10 - 25 0,6 - 1,9 0,3 - 0,9 2 - 19 11 -17 0,6 - 1,8 0,3 - 0,9 0,5 - 16 11 - 30 1,4 0,8 1 - 10 13 1,5 0,9 0,5 - 5 7 1,1 0,6 6 - 15 7,5 de água 24h (%) * * Absorção de água em massa dos agregados após 24 horas de imersão. Fonte: Rossignolo, (2003) Como é possível inferir, a grande maioria dos agregados leves comercializados no mundo possui o forno rotativo como processo de fabricação, o que se justifica pelas inúmeras vantagens desse processo, relacionados às características positivas que ele confere aos agregados leves quando comparadas ao processo de sinterização, como por exemplo, o revestimento vítreo e a baixa permeabilidade. Ainda relacionado a essa última característica, os agregados nacionais de argila expandida possuem menores índices de absorção de água comparados ao de mesmo tipo de agregado produzido pelo mesmo 36 processo de fabricação em outros países, o que caracteriza a qualidade do produto nacional. 37 3. CARACTERIZAÇÃO DOS AGREGADOS 3.1 Amostra de Argila Expandida 3.1.1 Granulometria As amostras de argila expandida foram adquiridas na cidade de São Carlos e levadas ao Laboratório de Materiais e Componentes (LMC) da UFSCar onde foram submetidas a ensaios granulométricos segundo a NBR 7211 (2009), e a ensaios de massa unitária, de acordo com a NBR NM 45 (2006). Figura 3.1 – Amostra de argila expandida. Fonte: Própria do autor (2012) Previamente à realização dos ensaios, as amostras de argila foram secas em estufa por um período aproximado de 24 horas à temperatura de 105 °C ± 5 °C. Para a realização dos ensaios granulométricos, estimou-se primeiramente a dimensão máxima nominal do agregado de argila expandida através de uma simples medição das partículas. A partir do valor encontrado, 25 mm nesse caso, foi possível determinar a série de peneiras, pré-estipulada por norma, a ser utilizada no ensaio. Posteriormente, os agregados de argila foram peneirados por 10 minutos no peneirador automático com a seguinte série de peneiras de malha quadrada: 25 mm, 38 19 mm, 12 mm, 9,5 mm, 6,3 mm, 4,75 mm. Após o peneiramento foram pesadas as porções retidas e calculadas as porcentagens retidas acumuladas, módulo de finura e dimensão máxima característica dos agregados. 3.1.2 Massa Unitária Os procedimentos realizados para a determinação da massa unitária no estado solto e compactado do agregado de argila expandida foram os especificados na NBR NM 45. Primeiramente o recipiente utilizado na realização do ensaio foi pesado vazio para que fosse obtido o valor da tara. Em seguida, o mesmo foi preenchido com água à temperatura ambiente e foram determinadas a massa e a temperatura da água através de um termômetro comum. Os valores obtidos encontram-se dispostos na Tabela 3.1. Tabela 3.1 – Valores de massa do recipiente e da água. Tara (kg) 2,4211 Tara + água (kg) 5,3700 Massa de água (kg) 2,9489 Fonte: Própria do autor (2012) Posteriormente determinou-se a massa específica da água em função de sua temperatura, de acordo com a Tabela 3.2. Tabela 3.2 – Relação temperatura/densidade da água Temperatura Massa específica (°C) (kg/m³) 21,10 997,97 23,00 997,54 Fonte: ABNT NBR NM 45 (2006) Para o valor de temperatura medida, de 22 °C, e, interpolando os valores dispostos na Tabela 3.2, o valor de massa específica encontrado para água utilizada foi de 997,77 kg/m³. Dessa forma, o volume do recipiente pode ser determinado pela seguinte equação: = á í á (3.1) 39 = 2,9489 = 2,9955!10#$ ³ = 2,9955& 997,977 Esse método permite a determinação do volume do recipiente de uma forma mais precisa, o que reflete de forma positiva nos resultados dos ensaios de massa unitária dos agregados em geral. 3.2 Agregados Tradicionais Os ensaios granulométricos dos agregados foram realizados segundo a NBR 248 (2003). 3.2.1 Areia Natural A amostra de areia foi seca em estufa por 24 horas à temperatura de 100 °C. Posteriormente as amostras foram peneiradas por 10 minutos no peneirador automático com a seguinte série de peneiras de malha quadrada: 6,3 mm, 4,8 mm, 2,4 mm, 1,2 mm, 0,6 mm, 0,3 mm e 0,15 mm. Após o peneiramento foram pesadas as porções retidas e calculadas as porcentagens retidas acumuladas, módulo de finura e a dimensão máxima característica do agregado. 3.2.2 Brita Basáltica As amostras de brita basáltica foram peneiradas por 10 minutos no peneirador automático específico para agregados graúdos com a seguinte série de peneiras de malha quadrada: 37,5 mm, 25 mm, 19 mm, 12,5 mm, 9,5 mm, 6,3 mm e 4,8 mm. Após o peneiramento, foram pesadas as porções retidas e calculadas as porcentagens retidas acumuladas, o módulo de finura e a dimensão máxima característica. 40 4. MOLDAGEM E ANÁLISE DOS CORPOS DE PROVA 4.1 Procedimentos e etapas para a moldagem Na confecção dos corpos de prova foi utilizado o cimento CP II E 32 (cimento Portland composto com escória). Esse tipo de cimento é composto por escórias granulares de alto forno que possuem menor velocidade de hidratação em relação ao clínquer. Tal característica resulta em um menor desenvolvimento inicial de resistência, mesmo quando aplicado nas mesmas condições dos outros tipos de cimento. A evolução média da resistência dos principais tipos de cimento está ilustrada na Figura 4.1. Figura 4.1 – Evolução média de resistência à compressão dos distintos tipos de cimento Portland Fonte: ABCP (2003) Apesar das escórias granuladas de alto-forno apresentarem, em mesmas condições, um menor desenvolvimento inicial de resistência, em todas as idades os limites mínimos de resistência estabelecidos pelas normas técnicas da ABNT são superados. Foram moldados dois tipos de traço, um contendo agregado de argila expandida, que será denominado CA, e um traço referência, contendo agregados tradicionais, denominado CR, ambos com o mesmo teor de argamassa. A determinação do traço contendo argila 41 expandida não foi feita por meio de um estudo de dosagem e sim, extraído da própria literatura estudada, mais precisamente de Maycá et. al (2008). Para o traço referência foi mantida a mesma proporção em massa de materiais, e substituiu-se o agregado de argila expandida pela pedra britada. Obteve-se um consumo de cimento de aproximado de 420 kg/m³ para o concreto tradicional e de 326 kg/m³ para o concreto leve. A Tabela 4.1 apresenta as dosagens finais dos concretos. Tabela 4.1 - Dosagens finais dos concretos COMPOSIÇÃO DO TRAÇO DE CONCRETO (EM MASSA) Tipo de cimento Nome da série Cimento Areia Brita Argila expandida Fator a/c Consumo de cimento (kg/m³) CP II E 32 CP II E 32 CR CA 1 1 3 3 0,8 - 0,8 0,52 0,59 420 326 Fonte: Própria do autor (2012) A relação água/cimento do traço contendo o agregado leve é maior em ralação ao traço referência devido ao fato deste tipo de agregado absorver, de acordo com METHA & MONTEIRO (1994), de 10 a 20% da água de amassamento. A mistura dos materiais foi realizada por uma betoneira com capacidade de 320 dm³. Para a homogeneização do concreto adicionou-se primeiramente na betoneira todo o agregado graúdo (brita ou argila expandida), todo o agregado miúdo (areia) e cerca de 80% da água. Os materiais foram misturados por aproximadamente 2,5 minutos. Posteriormente foi adicionado à mistura todo o cimento e o restante da água para que os materiais fossem misturados por 2,5 minutos adicionais (Figura 4.2). Figura 4.2 – Mistura dos materiais na betoneira Fonte: Própria do autor (2012) 42 Vale ressaltar que o agregado de argila expandida foi submerso por 24 horas antes de ser utilizado na moldagem do concreto, como ilustra a Figura 4.3. Uma vez que a perda de abatimento pode se tornar um problema sério, quando o agregado continua a absorver uma quantidade considerável de água após a mistura, misturar o agregado em condição úmida é uma forma de controle (MEHTA & MONTEIRO, 1994). Figura 4.3 – Argila expandida submersa Fonte: Própria do autor (2012) Com a mistura devidamente preparada, foi realizado o slump test para avaliar a consistência do concreto no estado fresco. O tronco de cone foi preenchido de concreto em três camadas, aplicando-se 25 golpes com um bastão metálico em cada camada para adensamento (Figura 4.4). Figura 4.4 – Verificação do abatimento de tronco de cone (slump test) Fonte: Própria do autor (2012) 43 De uma forma geral, o lançamento, compactação e acabamento de concretos leves requerem esforço relativamente menor. Dessa forma, abatimentos de 50 a 70 mm podem ser suficientes para obter uma trabalhabilidade similar à de um concreto usual com abatimentos de 100 a 125 mm (Metha & Monteiro, 1994). A moldagem dos concretos foi balizada na NBR 5738 (1994). Foram utilizados corpos de prova plásticos com dimensões 10 cm x 20 cm, referentes ao diâmetro e altura, respectivamente. Antes de serem preenchidos com concreto, os moldes foram untados com óleo para facilitar a desmoldagem. Para adensamento do concreto utilizou-se um vibrador mecânico tipo agulha (Figura 4.5). Figura 4.5 – Adensamento dos corpos de prova Fonte: Própria do autor (2012) Após a colocação do concreto, os corpos de prova foram tampados para impedir a perda de água para o ambiente e permaneceram guardados por 24 horas. Depois desse período, os corpos de prova foram desmoldados e levados para a câmara úmida (cura úmida), onde permaneceram por 28 dias à temperatura de 23 ± 2 °C e umidade de 95% ± 5% (Figura 4.6). 44 Figura 4.6 – Cura úmida dos corpos de prova Fonte: Própria do autor (2012) 4.2 Determinação da porosidade e massa específica A porosidade dos concretos foi determinada a partir do índice de vazios, segundo as recomendações da NBR 9778 (2005). Foi moldado um corpo de prova para cada tipo de traço. Primeiramente os corpos de prova foram secos em estufa à temperatura de 105 ± 5 °C por aproximadamente 72 horas até a constância da massa. Após esse procedimento, os corpos de prova foram imersos em água até a saturação. Em seguida determinou-se a massa saturada e a massa imersa ou hidrostática dos concretos (Figura 4.7). Figura 4.7 – Determinação da massa hidrostática dos corpos de provas Fonte: Própria do autor (2012) 45 O teor de ar incorporado foi obtido a partir da relação entre os volumes de poros permeáveis e o volume total, sendo calculado pela expressão: í ' ( = − − ∗ 100(4.1) Os dados coletados nesse ensaio também permitiu a determinação da massa específica dos concretos, em kg/m³, determinada a partir da expressão: í = − ∗ 1000(4.2) 46 5. ENSAIOS MECÂNICOS Para manter a homogeneidade das amostras foi utilizado o mesmo teor de argamassa tanto nas amostras moldadas com a argila expandida como nas amostras referência (Tabela 5.1). Tabela 5.1 – Valores de abatimento e teor de argamassa das amostras Tipo de Cimento CP II E 32 Abatimento Teor de (mm) Argamassa CR 48 83,33% CA 209 83,33% Traços Fonte: Própria do autor (2012) Cabe ressaltar que houve flutuação do agregado graúdo de argila expandida no momento da vibração. Tal fenômeno é o inverso do que ocorre com o concreto tradicional, onde a segregação resulta em um excesso de argamassa na superfície. Essa falta de argamassa na superfície, normalmente ocasiona problemas de acabamento em concretos leves e é comumente devida à ocorrência de abatimentos muito altos. A Figura 5.1 ilustra esse fenômeno. Figura 5.1 – Flutuação do agregado de argila expandida Fonte: Própria do autor (2012) 47 Desta forma, as amostras moldadas com agregado leve tiveram de ser adensadas manualmente em duas camadas com 15 golpes por camada de acordo com o determinado na NBR 5738 (2004). A regularização da superfície de todos os exemplares foi realizada por meio de uma retífica (Figura 5.2). Este procedimento é essencial para a obtenção de valores de resistência de maior confiabilidade, pois evita a ocorrência de concentração de tensões. Figura 5.2 – Retificação dos corpos de prova Fonte: Própria do autor (2012) Para os ensaios de resistência à compressão axial foram moldados dois corpos de prova para cada tipo de traço, e, para os ensaios de tração por compressão diametral foi moldado apenas um exemplar para cada traço. Os corpos de prova foram submetidos à ruptura por compressão axial na idade de 28 dias, de acordo com a NBR 5739 (2007), em prensa servo-mecânica (Figura 5.3). Figura 5.3 – Ensaio de resistência à compressão simples Fonte: Própria do autor (2012) 48 Juntamente aos ensaios de resistência á compressão simples, foram realizados ensaios de tração por compressão diametral, como ilustra a Figura 5.4. Figura 5.4 – Ensaio de tração por compressão diametral Fonte: Própria do autor (2012) 49 6. RESULTADOS E DISCUSSÕES 6.1 Análise dos agregados 6.1.1 Argila expandida As amostras de argila expandida foram analisadas de acordo com a sua granulometria e massa unitária. A Tabela 6.1 mostra a composição granulométrica da argila expandida. Tabela 6.1 - Análise granulométrica da argila expandida Peneiras Massa Massa Retida % Retida (mm) Retida (kg) Acumulada (kg) Acumulada 25 0,000 0,000 0,00 19 0,473 0,473 15,75 12,5 2,359 2,831 94,37 9,5 0,089 2,920 97,33 6,3 0,008 2,928 97,58 4,75 0,002 2,929 97,63 Fundo 0,048 2,977 99,22 DMC MF (1) (2) 19 mm 2,10 mm (1) DMC – Dimensão máxima característica (Dmáx). (2) MF – Módulo de finura. Fonte: Própria do autor (2012) Os valores das porcentagens retidas acumuladas em cada uma das peneiras foram dispostos junto aos seus respectivos intervalos de valores admitidos na NBR 7211(2009) para cada uma das peneiras Tabela 6.2. A Figura 6.1 ilustra a curva granulométrica da argila expandida em comparação aos limites estabelecidos pela norma anteriormente citada. 50 Tabela 6.2 – Limites granulométricos Porcentagem, em massa, retida acumulada Zona Granulométrica d/D Peneiras (mm) 9,5/25 % Retida a Acumulada 19/31,5 Argila Inferior Superior Inferior Superior 31,5 - - 0 5 0,00 25 0 5 5 25 0,00 19 2 15 65 95 15,75 12,5 40 65 92 100 94,37 9,5 80 100 95 100 97,33 6,3 92 100 - - 97,58 4,75 95 100 - - 97,63 Fundo 99,22 Fonte: Própria do autor. Figura 6.1 - Curva granulométrica da argila expandida % Retida Acumulada 100 80 Zona Granulométrica 9,5/25 60 Zona Granulométrica 19/31,5 40 Argila expandida 20 0 31,5 25 19 12,5 9,5 6,3 Abertura das peneiras (mm) 4,75 Fundo Fonte: Própria do autor (2012) Os resultados obtidos na análise granulométrica da argila expandida permitem concluir que o mesmo não se encontra em uma zona granulométrica bem definida, ou seja, grande parte do agregado leve encontra-se entre a zona granulométrica 9,5/25 e a zona granulométrica 19/31,5 estabelecidas pela NBR 7211 (2009), onde cada par de valores 51 representa em milímetros a menor e a maior dimensão do agregado, respectivamente, o que define a zona granulométrica. Os resultados do ensaio ainda demonstraram uma dimensão máxima característica de 19 mm, enquanto o módulo de finura médio foi de 2,10 mm. O ensaio de determinação da massa unitária no estado solto consistiu em preencher totalmente o recipiente com a argila expandida e depois promover o nivelamento de sua borda. Já o ensaio de massa unitária no estado compactado foi realizado de acordo com o método A, descrito na NBR NM 48. Nesse caso o recipiente já com seu volume determinado previamente foi preenchido mediante a compactação sequencial, por meio de uma haste, de três camadas do agregado, cada uma com cerca de um terço do volume do recipiente Figura 6.2. Figura 6.2 - Ensaio de massa unitária no estado compactado Fonte: Própria do autor (2012) Tomou-se a precaução de não tocar o fundo do recipiente na compactação da primeira camada nem das camadas anteriores na compactação da segunda e da terceira camada. Os valores obtidos nos ensaios encontram-se na Tabela 6.3. Tabela 6.3 - Massa unitária no estado solto em compactado Estado Agregado + tara Tara (kg) Massa de Volume do agregado (kg) recipiente (m³) *+,#- Massa unitária (kg/m³) Solto 3,8615 2,4211 1,4404 2,9955 481 Compactado 3,9345 2,4211 1,5134 2,9955 505 Fonte: Própria do autor (2012) 52 Os valores de massa unitária da argila expandida obtidos em laboratório, quando comparados aos limites de densidade especificados nas diversas literaturas estudadas permitem afirmar que o agregado pode ser classificado, como de fato, um agregado leve. 6.1.2 Areia natural A Tabela 6.4 mostra a composição granulométrica e a Figura 6.3 a curva granulométrica da areia natural em comparação aos limites estabelecidos pela NBR 7211 (2009). Tabela 6.4 – Análise granulométrica da areia natural (NM 248) % Retida Acumulada Peneiras Ensaio Ensaio Ensaio (mm) 1 2 3 6,30 4,15 4,12 3,92 4,80 5,48 6,36 5,67 2,40 9,53 10,48 10,10 1,20 23,94 18,23 19,64 0,60 40,09 36,51 40,22 0,30 65,17 63,25 66,32 0,15 88,58 96,21 96,39 Fundo 99,95 99,99 99,98 DMC MF (1) (2) 4,8 mm 4,8 mm 2,37 2,35 Média 4,06 5,84 10,04 20,60 38,94 64,92 93,73 99,97 4,8 mm 4,8 mm 2,42 2,38 (1) DMC – Dimensão máxima característica (2) MF – Módulo de finura Fonte: Própria do autor (2012) 53 Figura 6.3 – Curva granulométrica da areia natural % Retida Acumulada 100 80 60 Limites Zona Utilizável Limites Zona Ótima 40 Areia Natural 20 0 6,3 4,8 2,4 1,2 0,6 0,3 Abertura das peneiras 0,15 Fundo Fonte: Própria do autor (2012) Através da análise granulométrica da areia natural é possível concluir que a mesma atende às especificações pré-estabelecidas pela NBR 7211 (2009), pois sua curva está localizada, praticamente em sua totalidade, dentro dos limites da zona ótima. O módulo de finura, que é resultado da soma das porcentagens retidas acumuladas em massa do agregado nas peneiras de série normal dividida por 100, foi de 2,38, ou seja, o agregado miúdo encontra-se na zona ótima, a qual possui módulo de finura que varia de 2,20 a 2,90, de acordo com a NOTA 1 da NBR 7211 (2009). 6.1.3 Brita basáltica A composição granulométrica do agregado graúdo e a sua classificação de acordo com os limites estabelecidos pela NBR 7211 (2009) encontram-se na Tabela 6.5 e na curva granulométrica na Figura 6.4, respectivamente. 54 Tabela 6.5 – Análise granulométrica do agregado graúdo % Retida Acumulada Peneiras (mm) Ensaio 1 Ensaio 2 Ensaio 3 Média 37,5 0,0 0,0 0,0 0,0 25 0,0 0,0 0,0 0,0 19 0,0 0,0 0,0 0,0 12,5 10,6 8,8 10,4 9,9 9,5 57,0 51,7 56,5 55,1 6,3 90,2 87,3 89,0 88,8 4,8 96,1 92,7 94,4 94,4 Fundo 99,9 99,9 99,4 99,8 19 mm 19 mm 19 mm 19 mm 1,53 1,44 1,51 1,49 DMC MF 1 2 (1) DMC – Dimensão máxima característica (2) MF – Módulo de finura Fonte: Própria do autor (2012) Figura 6.4 – Curva granulométrica da brita basáltica % Retida Acumulada 100 80 Zona Granulométrica 4,75/12,5 60 Zona Granulométrica 9,5/25 40 Brita Utilizada 20 0 37,5 25 19 12,5 9,5 6,3 Abertura das peneiras (mm) 4,8 Fundo Fonte: Própria do autor (2012) Através dos resultados obtidos na análise granulométrica da brita basáltica é possível concluir que tal agregado encontra-se entre as zonas granulométricas 4,75/12,5 e 9,5/25 estabelecidas pela NBR 7211 (2009), onde cada par de valores (4,75/12,5 e 9,5/25) 55 representa em milímetros a menor e a maior dimensão do agregado, respectivamente, o que define a zona granulométrica. O agregado ainda apresentou módulo de finura médio de 1,49 mm e dimensão máxima característica, assim como a argila expandida, de 19 mm. 6.2 Análise dos ensaios mecânicos A análise dos ensaios mecânicos para ambos os traços de concreto, tradicional e leve, foi realizada somente para a idade de 28 dias. Os valores referentes ao ensaio de compressão axial dos corpos de prova de concreto estão apresentados na Tabela 6.6. Tabela 6.6 – Resistência à compressão dos concretos Idade (dias) 28 CP II E 32 CR (MPa) CA (MPa) 34,2 17,8 Fonte: Própria do autor (2012) É possível observar que o concreto moldado com os agregados tradicionais apresenta valores de resistência cerca de 92% superiores ao traço moldado com o agregado leve de argila expandida aos 28 dias, ou seja, aproximadamente o dobro da resistência mecânica. A Figura 6.5 ilustra os valores de resistência à compressão dos concretos. Figura 6.5 – Valores de resistência à compressão Resistência à compressão (MPa) 35,0 30,0 25,0 20,0 15,0 10,0 5,0 0,0 CR CA Traços dos concretos Fonte: Própria do autor (2012) 56 Após o ensaio verificou-se que os corpos de prova moldados com os agregados tradicionais apresentaram ruptura do tipo cônica cisalhada, enquanto os moldados com a argila expandida apresentaram ruptura cônica e bipartida (NBR 5738, 2007) mostrando homogeneidade das misturas e eficiente adensamento e cura dos corpos de prova (Figura 6.6). Figura 6.6 – Detalhe de ruptura tipo cônica Fonte: Própria do autor (2012) Os resultados obtidos no ensaio de tração por compressão diametral, embora de menor relevância quando comparados aos valores médios obtidos nos ensaios de compressão, encontram-se dispostos na Tabela 6.7 para efeito comparativo. Tabela 6.7 – Resistência à tração dos concretos CP II E 32 Idade (dias) 28 Fonte: Própria do autor (2012) CR (MPa) CA (MPa) 3,16 1,92 57 A Figura 6.7 ilustra os valores de resistência à tração dos concretos. Figura 6.7 – Valores de resistência à tração Resistência à tração (MPa) 5,0 4,0 3,0 2,0 1,0 0,0 CR CA Traços dos concretos Fonte: Própria do autor (2012) 6.3 Massa específica dos concretos Além dos ensaios de resistência, também foi verificado o índice de vazios dos concretos. Esses resultados, bem como o índice de absorção e a massa específica de cada amostra de concreto estão apresentados na Tabela 6.8. Tabela 6.8 – Resultados de porosidade e massa específica dos concretos Traço Absorção (%) Índice de vazios (%) Massa específica (kg/m³) CR 6,30 14,10 2235 CA 9,40 15,50 1642 Fonte: Própria do autor (2012) A partir dos resultados obtidos no ensaio de absorção foi possível notar que o concreto moldado com o agregado tradicional apresentou uma alteração considerável nessa medida, sendo possível verificar um aumento de aproximadamente 36% na massa específica desse concreto com relação ao concreto leve. 58 Nos ensaios de índices de vazios os resultados permaneceram praticamente constantes. Mesmo assim, notou-se que o traço moldado com o agregado leve apresenta um maior índice de ar incorporado, cerca 10% de superior ao traço referência. Quanto aos valores de massa específica, assim como esperado, os concretos analisados apresentaram expressivas variações. Enquanto o concreto usual apresentou massa específica de 2235 kg/m³ o concreto de agregados leves não ultrapassou 1650 kg/m³. Essa diferença, expressa em outros números, indica que o concreto tradicional apresentou valores de massa específica cerca de 36% superiores ao concreto leve. Considerando a ampla variação que a massa específica dos concretos leves pode apresentar, Metha & Monteiro (1994) estabelecem uma correlação entre essa medida e os valores mínimos exigidos de resistência aos 28 dias de idade (Tabela 6.9). Tabela 6.9 – Exigências para concreto estrutural leve Massa específica seca ao ar máx. aos 28 dias (kg/m³) Resistência à tração por compressão diametral mín. aos 28 dias (MPa) Resistência à compressão mín. aos 28 dias (MPa) Todos os agregados leves 1760 2,2 28 1680 2,1 21 1600 2,0 17 Combinação de areia natural com agregado leve 1840 2,3 28 1760 2,1 21 1680 2,1 17 Fonte: Metha & Monteiro (1994) A análise dos dados permite afirmar que a massa específica dos concretos leves exerce grande influência nos valores de resistência à compressão aos 28 dias de idade. Todavia, os valores de resistência à tração na mesma idade de ensaio não sofrem alterações significativas. A Tabela 6.10 mostra o comparativo entre os valores obtidos através dos ensaios laboratoriais e os valores mínimos exigíveis disponíveis na literatura pesquisada. 59 Tabela 6.10 - Correlação massa específica / resistência dos concretos leves Fonte dos dados Massa específica seca ao ar máx. aos 28 dias (kg/m³) Metha & Monteiro Experimental Resistência à tração por compressão diametral mín. aos 28 dias (MPa) Resistência à compressão mín. aos 28 dias (MPa) Combinação de areia natural com agregado leve 1680 2,10 17,00 1642 1,92 17,80 Fonte: Própria do autor (2012) Embora a massa específica das amostras ensaiadas seja inferior ao máximo estipulado, os valores de resistência à compressão obtidos em laboratório são ligeiramente superiores aos disponíveis na literatura, 5% aproximadamente. O valor de resistência à tração apresentou também, pouca discrepância em comparação ao disponível na bibliografia, com um valor cerca de 9% inferior. Uma vez que o AMERICAN CONCRETE INSTITUTE (ACI) classifica os concretos leves estruturais como sendo aqueles com massa específica entre 1350 kg/m³ e 1900 kg/m³ e resistência à compressão mínima aos 28 dias de 17 MPa, o concreto estudado encontrase em total conformidade com tal classificação. Além da correlação com a massa específica, a literatura estudada dispõe de uma correlação entre os valores de resistência à compressão axial e o consumo de cimento dos concretos leves. O comparativo entre esses valores e os obtidos experimentalmente encontram-se na Tabela 6.11. Tabela 6.11 – Correlação consumo de cimento / resistência dos concretos leves Fonte dos dados Resistência à compressão (MPa) Consumo máximo de cimento (kg/m³) Agregado leve e areia natural Metha & Monteiro Experimental 17,24 17,80 305 326 Fonte: Própria do autor (2012) De forma semelhante ao ocorrido na correlação com a massa específica, o valor de resistência à compressão associado ao consumo de cimento também apresentou valores muito semelhantes aos disponíveis na literatura. Embora o consumo de cimento do concreto moldado tenha sido 21 kg/m³ superior (6,9%), o valor de resistência à compressão se demostrou superior ao da literatura em aproximadamente 3,25%. 60 6.4 Custo comparativo entre o concreto tradicional e o concreto leve O comparativo de custos entre o concreto usual e o concreto moldado com agregados leves foi obtido por meio dos consumos dos materiais e de mão de obra, disponíveis na TCPO 13, e dos preços médios pesquisados (até o período 30/12/2012) de cada componente, disponíveis no endereço eletrônico da PINI. A Tabela 6.12 e a Tabela 6.13 trazem os custos parciais de cada componente, bem como o custo total por metro cúbico de ambos os concretos para as resistências à compressão aos 28 dias de idade (fck) de 20 e 25 MPa. Tabela 6.12 – Custo total por m³ do concreto tradicional virado em obra CONSUMOS COMPONENETES UNID. Resistência à compressão (fck) PREÇO/m³ PREÇO/UNID. PREÇO/m³ (R$/UNID.) (fck=20MPa) (fck=25MPa) 20 25 h 6,00 6,00 4,45 26,70 26,70 Areia lavada tipo média m³ 0,864 0,828 101,68 87,85 84,19 Pedra britada tipo 1 m³ 0,836 0,836 88,10 73,65 73,65 Cimento Portland CP II E 32 (resistência; 32 MPa) kg 322,00 367,00 0,43 138,46 157,81 kW.h 0,459 0,459 0,479 0,22 0,22 326,88 342,57 Servente Betoneira elétrica, potência 2 HP (1,5KW) CUSTO TOTAL (R$) Os valores obtidos para o custo total do concreto usual apresentaram, como previsto, uma ligeira divergência. Enquanto o concreto com resistência de 20 Mpa apresentou custo total de R$ 326,88/m³, no concreto com resistência de 25 MPa o custo total foi de R$ 342,57/m³, o que caracteriza um aumento aproximado de 4,80%. Porém, ao analisar-se a relação custo/MPa, o concreto de 25 MPa mostrou mais vantajoso, pois o custo/m³.MPa desse concreto foi de R$ 13,7028/ m³.MPa, enquanto no concreto de 20 MPa esse mesmo custo foi de R$ 16,3440/m³.MPa (aumento aproximado de 19,30%). 61 Tabela 6.13 – Custo total por m³ do concreto leve CONSUMOS COMPONENETES UNID. Resistência à PREÇO/UNID. PREÇO/m³ PREÇO/m³ compressão (fck) (R$/UNID.) (fck=20MPa) (fck=25MPa) 20 25 h 6,00 6,00 4,45 26,70 26,70 Argila expandida granulometria 1506 m³ 0,253 0,253 199,50 50,47 50,47 Argila expandida granulometria 2215 m³ 0,759 0,759 239,01 181,41 181,41 Areia lavada tipo média m³ 0,728 0,685 101,68 74,02 69,65 Cimento Portland CP II E 32 (resistência; 32 MPa) kg 320,00 373,00 0,43 137,60 160,39 kW.h 0,459 0,459 0,479 0,22 0,22 470,42 488,84 Servente Betoneira elétrica, potência 2 HP (1,5KW) CUSTO TOTAL (R$) A mesma análise de custos foi realizada para o concreto composto de agregados leves. Obteve-se um custo total de R$ 470,42/m³ para o concreto com resistência de 20 MPa, enquanto para o concreto de 25 MPa o custo total obtido foi de R$ 488,84/m³. De forma semelhante ao ocorrido no concreto tradicional, ao analisar-se o custo por MPa, o concreto com fck de 25 MPa traz mais vantagens, pois o valor obtido foi de R$ 19,5536/m³.MPa, enquanto o concreto com resistência de 20 MPa apresentou o custo de R$ 23,5210/m³.MPa (aumento aproximado de 20,30%). A traz o comparativo de custo/MPa do concreto leve e do concreto tradicional. Tabela 6.14 – Comparativo de custo/MPa dos concretos analisados CUSTO/m³ CUSTO/m³.MPa TIPO DE CONCRETO 20 MPa 25 MPa 20 MPa 25 MPa CONCRETO LEVE 470,42 488,84 23,52 19,55 CONCRETO TRADICIONAL 326,88 342,57 16,34 13,70 Além do preço mais elevado dos agregados leves em relação à brita, o maior consumo de cimento/m³ faz com que o preço do concreto leve seja mais elevado em comparação ao concreto tradicional. Para o concreto tradicional de 20 MPa o custo total aproximado foi de R$ 16,34/m³.MPa, enquanto para o concreto leve de mesma resistência 62 esse custo foi de R$ 23,52/m³.MPa (aumento de 43,94%). Já para o concreto tradicional com resistência de 25 MPa o custo encontrado foi de R$ 13,70/m³.MPa, enquanto no concreto leve de mesma resistência o custo total levantado foi de R$ 19,55/m³.MPa (aumento de 42,70%). Cabe ressaltar que os custos totais levantados podem sofrer alterações devido às variações regionais de preços dos materiais, devido a alterações nos preços dos materiais ao longo do tempo ou ainda devido a modificações na proporção de materiais para cada tipo de concreto (traço). 63 7. CONCLUSÕES Por meio da análise das curvas granulométricas da argila expandida e da brita basáltica, foi possível afirmar, de uma forma geral, que tais agregados não se enquadram em uma zona granulométrica específica, o que de forma alguma descarta a possibilidade dos mesmos serem utilizados. Tais resultados demonstram apenas que a faixa granulométrica em que esses materiais se encontram está situada entre duas das faixas granulométricas específicas da NBR 7211 (2009), sendo elas as zonas granulométricas 4,75/12,5 e a 9,5/25. Os ensaios granulométricos associados ao ensaio de massa unitária do agregado de argila expandida indicaram valores de 19 mm e 481 kg/m³ como sendo a dimensão máxima caraterística e a massa unitária, respectivamente. Ao comparar-se esses valores com os disponíveis na literatura e na própria página eletrônica da CINEXPAN para os diversos tipos de argila, foi possível classificar o agregado leve utilizado como sendo do tipo 2215, que possui dimensões entre 15 e 22 mm (equivalente à brita 1) e massa unitária de (500 ± 10%) kg/m³. Com relação aos processos de produção de agregados leves, em especial da argila expandida, foi possível concluir que a utilização do forno rotativo apresenta inúmeras vantagens em comparação ao processo de sinterização, pois agrega ao material características físicas essenciais à eficiência e controle da aplicação desses agregados em matrizes cimentícias. Como exemplos, podemos citar o formato arredondado regular do agregado, que, diferentemente das partículas finas angulares presentes no material sinterizado, não acarreta problemas de trabalhabilidade, bem como o revestimento externo composto por uma camada vítrea que proporciona baixa permeabilidade, o que facilita a elaboração da dosagem e minimiza problemas relacionados à retração causada pela absorção de água pelo agregado. A análise da interdependência entre os valores de massa específica e de resistência do concreto leve ensaiado com os respectivos valores disponíveis na bibliografia estudada permitem afirmar que as amostras atingiram os valores mínimos estipulados de resistência à compressão axial, de 17,24 MPa. Todavia, o mesmo não foi verificado no valor de resistência à tração, que, embora de pouca representatividade nas considerações de cálculo estrutural, não deixa de ser um parâmetro comparativo importante desse estudo. Da mesma forma, a correlação entre o consumo de cimento e a resistência à compressão dos concretos leves aos 28 dias de idade, proposta por Metha & Monteiro 64 (1994), também se mostrou válida, uma vez que os valores obtidos experimentalmente foram muito próximos dos dispostos na literatura. Embora os valores de resistência à compressão do concreto leve estejam comparativamente muito aquém dos alcançados pelo concreto tradicional (cerca de 50%), a literatura demonstra, de uma forma geral, que o concreto leve analisado pode, e deve ser considerado de característica estrutural (ACI 213R-87). Cabe ainda ressaltar que essa classificação foi balizada na norma norte americana para concretos compostos por agregados leves, pois não há uma norma brasileira que discorra sobre essa tecnologia. Em termos comparativos, a NBR 6118 (2007), estabelece 20 MPa como o valor mínimo de resistência à compressão aos 28 dias (fck) para estruturas de concreto convencional, o que limitaria a aplicação do concreto leve estudado em elementos estruturais. Todavia, o material possui potencial de aplicação em elementos destinados ao isolamento térmico e acústico de ambientes, mas sem função estrutural. Por ser individualmente mais caro que o concreto tradicional, o emprego do concreto leve nas construções deve ser realizada por meio de um estudo preliminar de custos que permita uma avaliação mais precisa com relação a real contribuição do material na redução do custo total da edificação. 65 REFERÊNCIAS AMERICAN CONCRETE INSTITUTE. Guide for structural lightweight aggregate concrete. ACI 213R-87. USA, 1999. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, NBR NM 45 – Agregados – determinação da massa unitária e do volume de vazios. ABNT, Rio de Janeiro, 2006, 18 p. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, NBR 5738 – Moldagem de corpos de prova cilíndricos ou prismáticos de concreto. ABNT, Rio de Janeiro, 2004, 6 p. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, NBR 5739 – Concreto – Ensaios de compressão de corpos de prova cilíndricos. ABNT, Rio de Janeiro, 2007, 9 p. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, NBR 7211 – Agregados para concreto. ABNT, Rio de Janeiro, 2009, 12 p. 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