PROPRIEDADES FÍSICAS DOS GRÃOS DE ARROZ VERMELHO (Oriza sativa L.) Glediston Nepomuceno Costa Júnior1; Ivano Alessandro Devilla2 1 Bolsista PIBIC/CNPq, graduando do Curso de Engenharia Agrícola, UnUCET – UEG. 2 Orientador, docente do Curso de Engenharia Agrícola, UnUCET – UEG. RESUMO O conhecimento das propriedades físicas dos grãos é necessário para o dimensionamento de máquinas e equipamentos. Neste trabalho determinaram-se as propriedades físicas: tamanho, forma, massas específicas aparente e unitária, porosidade e massa de mil grãos de arroz vermelho (Oriza sativa L.) nos teores de água de 11,20; 12,22; 13,64; 16,93; 21,23% b.u. Os resultados obtidos permitiram concluir que: (a) ocorreu a diminuição dos eixos axiais (a, b e c) com a redução do teor de água; (b) a esfericidade, a circularidade, a massa específica real, a porosidade e a massa de mil grãos apresentam valores diretamente proporcionais ao teor de água; e (c) a massa específica aparente foi inversamente proporcional ao teor de água. Palavras chaves: massa específica, porosidade e teor de água. Introdução O arroz-vermelho é um dos principais componentes da dieta alimentar do nordestino e é cultivado principalmente nos Estados da Paraíba, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Ceará, Bahia e Alagoas. Segundo ALMEIDA (2005), a produção do arroz-vermelho está relacionada com o hábito alimentar das populações locais. Apesar de ser alvo de grande interesse para a agricultura familiar, esse arroz se encontra em franco processo de extinção, em razão da forte concorrência da indústria do arroz branco e do despovoamento do meio rural. Para viabilizar a conservação do produto por longo tempo, algumas práticas se tornam necessárias, entre elas têm importante destaque as operações de limpeza, secagem e aeração, em razão de sua eficiência e rapidez em atender ao fluxo da produção agrícola. O atraso na época de colheita, a alta temperatura de secagem e os danos mecânicos são, dentre 1 outros fatores, os principais responsáveis pela baixa qualidade da semente, insumo básico para produção dos produtos agrícolas (VIEIRA et al., 1993). De acordo com MOHSENIN (1986), informações concernentes ao tamanho e forma, ângulo de repouso e massa específica, dentre outras características físicas, são consideradas de grande importância para os estudos envolvendo transferência de calor e massa e movimentação de ar em massas granulares. O conhecimento das propriedades físicas de produtos agrícolas é de fundamental importância para uma correta conservação e para o dimensionamento e operação de equipamentos para as principais operações pós-colheita. Diante o exposto, o presente trabalho visou determinar as propriedades físicas (tamanho e forma, massa específica aparente, massa específica unitária, porosidade e massa de mil grãos) de grãos de arroz vermelho em função do teor de água. Materiais e Métodos O presente trabalho foi realizado no Laboratório de Propriedades Físicas do curso de Engenharia Agrícola da Unidade Universitária de Ciências Exatas e Tecnológicas da Universidade Estadual de Goiás em Anápolis – GO. Foram utilizados grãos de arroz vermelho (Oriza sativa L.) fornecido pela Embrapa Arroz e Feijão. O teor de água do produto era de 11,20% b.u. e os grãos foram reumedecidos até atingirem 12,22; 13,64; 16,93; 21,23% b.u. No processo de reumedecimento, utilizou-se o papel germiteste saturado com água. A metodologia para determinação do teor de água sugerida por BRASIL (1992) foi utilizada neste trabalho. Na determinação da forma e tamanho dos grãos de arroz, utilizou-se 3 repetições de 50 grãos nos diferentes teores de água. O tamanho dos grãos foi determinado com o auxilio de um paquímetro digital de precisão de 0,01mm. Foram medidas as dimensões (comprimento, largura, espessura) dos grãos. A esfericidade (S) foi determinada utilizando-se a equação 1, para os 150 grãos medidos. Para a determinação da circularidade 150 grãos foram digitalizados, em posição de repouso natural, com o auxilio de um Scanner. As imagens foram transferidas para o software Image Tool 3.0, no qual foram determinados o diâmetro do maior círculo inscrito (di) e o diâmetro do menor círculo circunscrito (dc). da imagem de cada grão. A circularidade (C) foi estimada utilizando-se a equação 2. 2 A determinação da massa especifica aparente foi realizada, em seis repetições, utilizando um cilindro plástico de volume conhecido. O recipiente com os grãos foi pesado em balança de precisão de 0,01g e utilizou-se a equação 3 para estimar a massa específica aparente. A porosidade foi determinada pelo método direto (MOHSENIN, 1986), onde a mesma é obtida acrescentando-se um volume de líquido conhecido e necessário para complementação dos espaços vazios da massa granular. Foi utilizado um becker de 10 mL, uma bureta de 25 mL e o liquido utilizado foi o óleo de soja. A massa específica unitária foi estimada, utilizando a equação 4. A massa de mil grãos foi determinada pesando-os em balança digital com precisão de 0,01 gramas, em três repetições, para cada teor de água. No experimento utilizou-se o delineamento inteiramente casualizado, onde os tratamentos foram os cinco teores de água avaliados em três repetições. Os dados foram submetidos à análise de variância e, posteriormente, ajuste de regressões. Na Tabela 1 encontram-se as fórmulas utilizadas para o cálculo das propriedades físicas dos grãos de arroz vermelho. Tabela 1. Fórmulas utilizadas para o cálculo das propriedades físicas dos grãos de arroz vermelho. Fórmulas 1 3 S= (a.b.c ) a .100 Nomenclatura (1) C= di .100 dc (2) ρ = m V (3) ap ρ = u ρ ap 1− ε (4) S = esfericidade, (%); a = medida do maior eixo do grão, (mm); b = medida do eixo normal ao eixo a, (mm); c = medida do eixo normal aos eixos a e b, (mm); C = circularidade, (%); di = diâmetro do maior círculo inscrito, (mm); dc = diâmetro do menor círculo circunscrito, (mm); ρap = massa específica aparente, (kg m-3); m = massa do produto, (kg); V = volume do recipiente, (m3); ρu = massa específica unitária, (kg m-3); ρap = massa específica aparente, (kg m-3); ε = porosidade, (decimal). Resultados e Discussão Na Tabela 2 encontram-se os valores médios dos eixos axiais (comprimento, largura e espessura) para os grãos de arroz vermelho nos teores de água estudados. Nota-se que existe 3 uma redução do tamanho dos grãos com a redução do teor de água. A redução do tamanho deve-se ao processo de secagem, no qual ocorre a contração volumétrica dos grãos. Tabela 2. Valores médios dos eixos axiais em função do teor de água dos grãos de arroz vermelho. Teor de água % (b.u.) 11,20 12,22 13,64 16,93 21,23 Tamanho dos grãos Comprimento (mm)* Largura (mm)* 8,97 ± 0,45 3,37 ± 0,14 9,08 ± 0,46 3,40 ± 0,11 9,11 ± 0,43 3,41 ± 0,12 9,12 ± 0,39 3,45 ± 0,14 9,26 ± 0,47 3,52 ± 0,17 Espessura (mm)* 2,17 ± 0,14 2,17 ± 0,18 2,21 ± 0,16 2,24 ± 0,17 2,27 ± 0,19 * Valores médios de 150 grãos. Na Tabela 3 encontram-se os valores médios da esfericidade, da circularidade, das massas específicas aparente e real, da porosidade e da massa de mil grãos para os grãos de arroz vermelho nos diferentes teores de água. Nota-se a que a esfericidade e a circularidade aumentam com o acréscimo do teor de água. Verifica-se que a esfericidade é diretamente proporcional ao teor de água, conforme relatado por CAVALCANTI MATA (1997). Nota-se, ainda, que a esfericidade está distante do valor 1,0, o que indica que a forma dos grãos de arroz vermelho não se aproxima de uma esfera. Observa-se, também, que a circularidade tem o mesmo comportamento da esfericidade. Verifica-se que a massa específica aparente aumenta com o decréscimo do teor de água. Essa tendência também foi observada para o trigo estudado por CORRÊA et al. (2006) e para grãos de feijão estudado por RESENDE et al. (2008). Já a massa específica real aumentou com o acréscimo do teor de água dos grãos de arroz vermelho, tendência descrita por COUTO et al. (1999) e SOUZA (2001). Nota-se que a porosidade é diretamente proporcional ao teor de água. Observa-se que ocorre a tendência da porosidade aumentar com o acréscimo do teor de água no produto. Resultado semelhante foi obtido por HENRIQUES et al. (2005) e RIBEIRO et al. (2005). Verifica-se que a massa de mil grãos é diretamente proporcional ao teor de água. Pode-se notar que a massa de mil grãos aumenta com a elevação do teor de água, concordando com os resultados obtidos por LIMA (2005) e PENHA (2006). 4 Tabela 3. Valores médios da esfericidade, circularidade, massa específica aparente, massa específica real, porosidade e massa de mil grãos em função do teor de água dos grãos de arroz vermelho. Teor de água Esfericidade* Circularidade* % (b.u.) 11,20 12,22 13,64 16,93 21,23 (decimal) 0,4496 0,4473 0,4495 0,4529 0,4534 (decimal) 0,3757 0,3744 0,3743 0,3783 0,3801 Massa específica aparente (kg m-3) 558,55 552,41 548,19 539,50 530,17 Massa específica real (kg m-3) 915,66 920,68 939,81 969,10 981,80 Porosidade Massa de mil grãos (%) 39,00 40,00 41,67 44,33 46,00 (g) 29,42 29,85 30,16 31,44 32,85 * Valores médios de 150 grãos. Conclusões Considerando as condições em que foi desenvolvido este trabalho, conclui-se que: (a) ocorreu a diminuição dos eixos axiais (a, b e c) com a redução do teor de água; (b) a esfericidade, a circularidade, a massa específica real, a porosidade e a massa de mil grãos apresentam valores diretamente proporcionais ao teor de água; e (c) a massa específica aparente foi inversamente proporcional ao teor de água. Referências Bibliográficas ALMEIDA, J.P. O Arroz-Vermelho Cultivado no Brasil. Disponível em: <http://www.embrapa.br/noticias/banco_de_noticias/2005/folder.2005-0815.1209214647/foldernoticia.2005-11-03.1633002266/noticia.2005-1207.5615381392/mostra_noticia>. Acesso em 17/03/2007. BRASIL. Ministério da Agricultura e Reforma Agrária. Regras para análise de sementes, Brasília, DF, 1992. 365p. CAVALCANTI MATA, M.E.R.M. Efeitos da secagem em altas temperaturas por curtos períodos de tempo, em camada estacionária, sobre a armazenabilidade de sementes de feijão (Phaseolus vulgaris L.), variedade “Carioca”: avaliação experimental, modelagem e simulação. Campinas: UNICAMP, 1997. 229p. (Tese de Doutorado). CORRÊA, P.C.; RIBEIRO, D.M.; RESENDE, O.; BOTELHO, F.M. Determinação e modelagem das propriedades físicas e da contração volumétrica do trigo, durante a secagem. 5 Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, Campina Grande, v.10, n.3, p. 665-670, 2006. COUTO, S.M.; MAGALHÃES, A.C.; QUEIROZ, D.M.; BASTOS, I.T. Massa específica aparente e real e porosidade de grãos de café em função do teor de água. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, Campina Grande, v.3, n.1, p. 61-68, 1999. HENRIQUES, D.R.; CORRÊA, P.C.; GONELI, A.L.D.; RIBEIRO, D.M. Efeito de secagem na contração volumétrica dos grãos e na porosidade da massa de grãos de soja. IV Seminário Nacional de Armazenagem, Uberlândia – MG, 2005. LIMA, A. P. Propriedades Físicas dos Grãos de Girassol (Helianthus Annuus L.). Trabalho de conclusão de curso. Universidade Estadual de Goiás, Anápolis – GO, 2005, 42p. MOHSENIN, N.N. Physical properties of plant and animal materials. New York: Gordon and Breach science publishers Inc., 1986. 734p. PENHA, W. F. Propriedades Físicas dos Grãos de QUINOA (Chenopodium quinoa Willd). Trabalho de conclusão de curso. Universidade Estadual de Goiás, Anápolis – GO, 2006, 32p. RESENDE, O.; CORRÊA, P.C.; GONELI, A.L.D.; RIBEIRO, D.M. Propriedades físicas do feijão durante a secagem: determinação e modelagem. Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v. 32, n. 1, p. 225-230, 2008. RIBEIRO, D.M.; CORRÊA, P.C.; RODRIGUES, D.H.; GONELI, A.L.D. Análise da variação das propriedades físicas dos graos de soja durante o processo de secagem. Ciência e Tecnologia de Alimentos, Campinas, v.25, n.3, p. 611-617, 2005. SOUZA, L.V.S. Propriedades físicas de grãos de girassol relacionadas a armazenagem. Campinas: FEAGRI/UNICAMP. 2001. 142p. (Dissertação de Mestrado). VIEIRA, R. F.; VIEIRA, C.; RAMOS, J. A. O. Produção de sementes de feijão. Viçosa, MG: EPAMIG, 1993. 131p. 6