Dia do Idoso: Viver em Lisboa é ter acesso a serviços, mas também à solidão Lisboa, 28 set (Lusa) – Ser idoso na cidade de Lisboa é poder aceder a muitos serviços e oportunidades, mas pode também ser viver sozinho no meio de muita gente, realidades díspares que ganham rosto através das histórias de Isaura e do casal Freitas. A 01 de outubro assinala-se o Dia Internacional do Idoso e a propósito da data a administradora da ação social da Santa Casa da Misericórdia disse à Lusa que ser idoso na cidade de Lisboa é “extremamente complexo” porque é “ser muitas pessoas diferentes”. “Em Lisboa conseguimos encontrar idosos que provavelmente conseguimos encontrar em qualquer ponto do país, desde o espectro tipicamente citadino e isolado até uma realidade quase rural, de grande proximidade”, apontou Rita Valadas. A responsável salientou que Lisboa “é a cidade mais idosa da Europa”, onde reside uma percentagem muito elevada de pessoas com mais de 65 anos. “Ser idoso em Lisboa é poder ter acesso a muitas respostas e a muitas oportunidades, até do ponto de vista recreativo e cultural, que são próprias de uma metrópole. Por outro lado, também é poder ser isolado no meio de muita gente, que é muito menos vulgar no resto do país”, descreveu. O casal Albertina e Ramiro Freitas têm, respetivamente, 73 e 74 anos, e estão há pouco mais de um mês no Lar de Santa Joana Princesa, na zona de Alvalade, em Lisboa, pertencente à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Não têm filhos, só sobrinhos, que “nunca vieram ver o tio” nas várias vezes que ele esteve internado, e foram os próprios que pensaram em ir para um lar depois de em janeiro terem recebido uma carta do senhorio a dizer que tinham de sair até março da casa onde viveram nos últimos 41 anos. “Graças a Deus arranjaram-nos para aqui e não podia estar mais satisfeita. Estamos muito contentes por estar aqui. Tratam-nos muito bem, somos muito bem tratados, somos muito estimadinhos”, desabafou Albertina. História diferente é a de Isaura Oliveira, com 100 anos feitos no dia 08 de setembro e que reside no mesmo lar. Durante muitos anos viveu numa casa de uma sobrinha na Rua António Andrade, casa que chegou a partilhar com outros sobrinhos depois de o marido ter falecido. Os sobrinhos foram depois viver para Sacavém e Isaura ficou, porque quis, na casa que sempre foi a sua. Nos quatro anos que se seguiram a vizinha passou a ser a sua família mais próxima, a pessoa que ainda hoje lhe “trata das coisas” e que lhe diz para “ir lá passar uns dias”. “Uma chuvada muito grande entrou lá em casa” e foi a vizinha que a acolheu antes de Isaura ir para um lar, para onde já pensava ir porque nessa altura, aos 96 anos, começaram a faltar-lhe as forças. “Prefiro estar aqui do que sozinha porque se acontecer alguma coisa, tenho logo uma enfermeira para ajudar. Lá em casa não tinha isso e se acontecesse alguma coisa estava sozinha”, explicou. A administradora da ação social da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa não tem dúvidas em afirmar que o isolamento é o principal problema da cidade de Lisboa e sublinha que o isolamento não é só viver numa casa longe de outras pessoas. Defende, por isso, uma aposta na intergeracionalidade, para que os idosos não vivam “como se vivessem num asilo alargado” e convivam com pessoas mais jovens porque isso é que é natural na vivência ao longo da vida. SV //GC. Lusa/Fim