ADRIANA FERREIRA DE MELO ARAÚJO A DANÇA COMO FATOR DE DESENVOLVIMENTO MOTOR NA FAIXA ETÁRIA DE 4 A 6 ANOS Artigo apresentado ao curso de graduação em Educação Física da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do título de Licenciatura em Educação Física. Orientador: Professor Dr. Roberto Nóbrega do Curso de Educação Física da Universidade Católica de Brasília (UCB). Brasília 2010 AGRADECIMENTOS Eu, Adriana, na impossibilidade de individualizar a vasta teia de relações sociais e profissionais estabelecidas com os professores, os quais esclareceram minhas dúvidas e adquiri conhecimentos, apoios, orientações e incentivos, expresso o meu agradecimento a todos, em primeiro lugar a Deus, e em particular: Ao meu Orientador Professor Dr. Roberto Nóbrega pela orientação cuidada, disponibilidade, colaboração e ajuda na realização do presente estudo. Ao meu marido que muito me ajudou tendo bastante paciência e atenção comigo, sempre tirando minhas dúvidas e estando sempre ao meu lado em todos os momentos desse trabalho. Agradeço também o apoio prestado pelas amigas, meus colegas de curso, pela amizade e incentivos demonstrados, em especial à Amanda, pelo seu apoio e carinho. E por fim, agradeço a meu Pai, à minha Mãe e também às minhas irmãs que estavam comigo nas horas que mais precisei me prestando todo apoio e colaboração durante toda a realização desse trabalho. “Particularmente belo é o ser humano em movimento. A exatidão coordenativa dos movimentos, a proporcionalidade dos esforços, a dinâmica dos ritmos, o jogo das velocidades e outros tipos de ações motoras racionais, geram sensações estéticas, prazer e satisfação”. Matweyew/Novikow (1982) ADRIANA FERREIRA DE MELO ARAÚJO A DANÇA COMO FATOR DE DESENVOLVIMENTO MOTOR NA FAIXA ETÁRIA DE 4 A 6 ANOS Resumo O presente estudo tem como objetivo analisar a percepção de crianças sobre os efeitos da dança para o desenvolvimento psicomotor e avaliar as múltiplas habilidades físicas que a dança esta relacionada, através do movimento corporal, com o seu crescimento e desenvolvimento. Realizando também uma análise do teste de coordenação corporal para que possamos identificar suas vantagens e desvantagens, suas características técnicas e a possibilidade de sua utilização em nosso contexto e diagnosticar crianças com problemas, verificar o desenvolvimento e a aquisição de habilidades motoras globais. E baseia- se na analise da aplicação de um trabalho, realizado com crianças de 4 a 6 anos de idade praticantes de aulas de dança. Pode verificar que a dança pode ser um importante aliado da Educação, no sentido que através dela a criança desenvolve simultaneamente aspectos motores, emocionais, e cognitivos, aspectos esses que interagem e se completam. Palavras Chave: Dança. Desenvolvimento psicomotor. Educação. 1. INTRODUÇÃO A dança como uma atividade que prioriza uma educação motora consciente e global, não se limita a uma ação puramente pedagógica, mais também psicológica, pois entre outros fins busca normalizar ou melhorar o comportamento da criança, segundo (Dionísia Nanny, 2003) a dança é a representação do povo, a manifestação quanto ao estado de espírito, as emoções a comunicação e a própria característica cultural se manifesta na dança. Assim o desenvolvimento da psicomotricidade e da livre expressão corporal, inserida dentro do contexto educacional da dança, para Schinca (1992) não favorecidas através da tomada de consciência e controle corporal e da percepção da têmporo-espacial. Cada vez mais a dança vem sendo incluída nos currículos escolares ou extraescolares da segunda infância, juntamente com outras artes criativas como a música e as artes plásticas, a dança quando voltada para criança deve abordar de forma expressiva estratégias pedagógicas voltadas para o desenvolvimento como um todo, respeitando o estágio de maturação sensório- motora da criança, que se da entre dois a quatro anos de idade (Dionísia Nanni, 2003). Devido aos métodos e processos livres utilizados pela dança, as crianças tem a possibilidade de aprender pela experiência do próprio corpo, a agirem livremente no espaço em que vivem e interagirem com as pessoas que as cercam, além de expressarem sentimentos e pensamentos através de formas diferentes de comunicação corporal. A fase pré-escolar dos três aos seis anos, também denominada de segunda infância é caracterizada por um dos momentos de grande transformação. Segundo (Papalia & Olds, 2000) suas habilidades motoras e intelectuais florescem e suas personalidades se tornam mais complexas quando as crianças se apresentam no estágio de desenvolvimento dos movimentos fundamentais, os quais devem ser naturais, começando do simples para o mais complexo, dos movimentos espontâneos para os movimentos construídos (técnicos), devendo se manter atento para que as atividades de uma forma geral, estimulem as crianças em seu próprio estágio de crescimento e desenvolvimento, permitindo que a criança seja responsável por sua percepção e reações pessoais, enfim, permitindo o desenvolvimento natural, com aquisição de habilidades de uma forma natural e dentro de um ambiente seguro, centrado no interesse e necessidade da criança. Mais precisamente, as atividades de dança quando da seleção dos conteúdos, devem ser ministradas de forma criativa, destacando as atividades voltadas para a conscientização e consciência corporal e atividades rítmicas. Segundo Bertazzo (2004), assim como o ser humano não nasce pronto, seu aparelho locomotor também precisa de uma vasta experimentação, para que se venha constituir-se numa autentica “fábrica de gesto” que por sua vez influenciará o desenvolvimento do aparelho neurológico. Para ele a prática de coordenação motora nunca deveria cessar, assim como não deveria cessar a evolução intelectual, pois quando se estimula e se aprofunda a experiência motora, uma importante ligação surge entre as motivações pessoais e o mundo. Vayer e Pico (1998) entendem a educação psicomotora como uma ação essencialmente educativa à medida que parte do desenvolvimento psicobiológico da criança para trabalhar seu todo. Outra função proposta dessa educação é refazer as etapas mal sucedidas do desenvolvimento psicomotor. A dança conforme destacado, está inserida no curso de educação física e se encontra destacada nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs, pág 117) no bloco de atividades rítmicas e expressivas, pois ressalta que a dança contribui para a área de educação física na medida, em que através, de manifestações artísticas estimula a imaginação e a criação de formas expressivas, despertando a consciência corporal e fazendo com que o indivíduo tome mais atitudes equilibradas diante da vida. No PCN encontramos uma metodologia dedicada ao ensino da dança frisando os aspectos cognitivos, afetivos e fisiológicos da criança. Bertoni (1992) prioriza a dança como fator educacional esclarecendo sua aplicação à medida que contribui no desenvolvimento psicológico, social, anatômico, intelectual, criativo e social. A dança educativa estimula o desenvolvimento dos fatores que influenciam a aprendizagem e de uma forma determinante: o emocional, o cognitivo, o físico e o psicológico. Possibilitam formas de partilhar experiências de sensações e sentimentos, indutoras de conhecimento de si própria e dos outros. Assim a dança em seu caráter educativo e formativo, pode oferecer o departamento e a construção da disciplina e da responsabilidade, através de reforços de autocontrole e de comportamentos socialmente aceitáveis, aliados a isso, de forma orientada e correspondente a maturidade de cada fase. A atividade em dança proporciona desenvolver atividades lúdicas, simbólicas, e criativas que segundo Papalia & Olds (2000) são de extrema relevância para o desenvolvimento total da criança. Portanto cabe às escolas, a conscientização e a valorização de profissionais, que a partir de um conhecimento específico, trabalhe em seus programas todas essas potencialidades que a dança enquanto fator educacional e artístico proporciona na fase pré-escolar. Ao conduzir aulas de educação física voltadas para a dança nas fases iniciais, devemos nos manter atentos a tudo, a metodologia aplicada deve respeitar vários aspectos fisiológicos para se obter êxito e evitar problemas com técnicas mal explicadas, pois estamos tratando de um indivíduo em fase de formação. Contudo, o presente estudo tem como objetivo analisar a percepção de crianças sobre os efeitos da dança para o desenvolvimento psicomotor e avaliar as múltiplas habilidades físicas que a dança está relacionada, através do movimento corporal, com o seu crescimento e desenvolvimento. 2. MATERIAIS E MÉTODOS A amostra foi composta por 12 crianças do sexo feminino e com idade de 4 a 6 anos, matriculadas na Escola Progresso, localizada na cidade de Valparaíso – GO. Os instrumentos utilizados foram os testes do Manual de Avaliação Motora de Francisco Rosa Neto, e para os mesmo foram aplicados as notas 1 para Ruim, 5 para Bom e 10 para Ótimo. Os testes foram os seguintes: Motricidade Global (coordenação) é um movimento sinestésico, tátil, labiríntico, visual, espacial e temporal. Exercício: Caminhar em linha reta – com os olhos abertos percorrer 2 metros em linha reta, posicionando alternadamente o calcanhar de um pé contra a ponta de outro (Figura 14). Exercício: Saltar sobre o mesmo lugar – dar sete ou oito saltos sucessivamente sobre o mesmo lugar com as pernas um pouco flexionadas (Figura 12). Equilíbrio (postura estática) é o estado de um corpo quando forças distintas que atuam sobre ele se compensam e anulam-se mutuamente. Exercício: Equilíbrio nas pontas dos pés – manter-se sobre a ponta dos pés, com os olhos abertos e com os braços ao longo do corpo, estando pés e pernas juntos (Figura 23). Duração: 10 segundos. Exercício: Pé manco estático – com os olhos abertos, manter-se sobre a perna direita, enquanto a outra permanecerá flexionada em ângulo reto, com a coxa paralela à direita e ligeiramente em abdução e com os braços ao longo do corpo. (Figura 24). Descansar por 30 segundo e fazer o mesmo exercício com a outra perna. Lateralidade (mãos, olhos e pés) é a preferência da utilização de uma das partes simétricas do corpo: mão, olho, ouvido, perna. Exercício: Lateralidade da mão – lançar uma bola com a mão direita. Lateralidade dos olhos – Cartão Furado: fixar bem os olhos no cartão com um furo no meio e olhe por ele; o cartão sustentado pelo braço estendido e vai aproximando lentamente do rosto. Lateralidade dos pés – chutar uma bola: segurar a bola com uma das mãos, depois irá soltá-la e lhe dar um chute sem deixá-la tocar no chão. Do livro: Manual de Avaliação Motora, de Francisco Rosa Neto, para aferir o nível de coordenação motora. 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES Os testes foram aplicados depois das aulas de dança da professora ministrante, e nessas aulas era possível perceber qual delas tinha mais facilidade de aprendizagem e coordenação. Gráfico 1. Resultados da avaliação da Motricidade Global (Coordenação motora). De acordo com o gráfico 1 observa-se que as alunas de (1 a 6) que realizaram o teste de saltar sobre o mesmo lugar, 2 tentativas. Obtiveram resultados variando entre ruim e bom, com apenas uma aluna obtendo um resultado ótimo. Enquanto nas alunas (7 a 12) que realizaram teste de caminhar em linha reta, 3 tentativas foi notado que todas obtiveram ao menos em algumas das tentativas, um resultado ótimo. Nesse teste elas tiveram pouca dificuldade e obtiveram mais resultados positivos. Segundo Rosa Neto(2002) os erros para as alunas 1 a 6 foram: movimentos não serem simultâneos de ambas as pernas, a criança cai sobre os calcanhares. Sendo que cada criança tinham duas tentativas, confirmando o que o Autor disse, pois o erro mais ocorrido foi à queda sobre os calcanhares. Para o teste das alunas de 7 a 12 os erros foram: afastar-se da linha; balançar, afastar um pé do outro, executar o procedimento de modo incorreto. A diferença é que essas alunas fizeram três tentativas, notando-se que os mais cometidos foram balançar e afastar os pés um do outro. Gráfico 2. Resultados da avaliação do Equilíbrio (postura estática). Observando o gráfico 2, verifica-se que as alunas de 1 a 12, exceto a aluna 5, tiveram resultados variados predominando um Bom desempenho, tanto no teste de Equilíbrio nas pontas dos pés, como no de Pé manco estático, que foram feitos em três tentativas cada. Rosa Neto (2002) cita que os erros para o teste de pé manco estático são: baixar mais de três vezes a perna levantada, tocar com o outro pé no chão, saltar, elevar-se sobre a ponta do pé e balançar. O Autor não cita nenhum erro para o teste de Equilíbrio nas pontas dos pés, porém nas alunas de 1 a 6 foi observado que em algumas vezes as crianças não conseguiram se equilibrar e abaixaram os pés mais de 3 vezes, sendo que a aluna 5 em todas as tentativas teve um desempenho ruim. Quanto as alunas de 7 a 12 os erros observados foram: balançar, abaixar a perna levantada mais de uma vez e tocar com o outro pé no chão. Gráfico 3. Resultado da avaliação da Lateralidade (Mãos) – Lançar a bola com a mão direita. Nota-se no gráfico 3 que houve uma variância nos resultados, com predominância no resultado Bom, exceto as alunas 11 e 12, que tiveram em todas as tentativas um resultado Ruim. O erro mais cometido nesse teste foi que algumas crianças lançavam a bola no sentido errado, não conseguindo acertar o alvo estabelecido. Gráfico 4. Resultado da avaliação da Lateralidade (Olhos) – Cartão Furado. No gráfico 4, as alunas tiveram resultados ótimos e/ou ruins em suas tentativas, verificando a tendencia da visao da criança. Negrine (1986) afirma que o aspecto fundamental é que a a criança a partir da experiencia vivenciada com o próprio corpo, defina o seu lado dominante sem pressões de qualquer ordem do meio exterior. Gráfico 5. Resultado da avaliação da Lateralidade (Pés) – Chutar a bola Verificou no gráfico 5, que a definição da lateralidade é maior nas alunas de 7 a 12 se comparada às alunas de 1 a 6. Nesse teste, cada aluna fez duas tentativas. Segundo Negrine (1986), são poucas as crianças que possuem uma lateralidade definida antes dos 6 anos e que este percentual aumenta de maneira considerável a partir desta idade, visto que a lateralidade evolui até alcançar sua culminância, por volta dos 10 ou 11 anos. 4. CONCLUSÃO Com o presente estudo foi revelado e concluído que a aplicação da dança não tem apenas beleza, plasticidade, arte e cultura. Ela também é uma atividade que dá prazer a todo o ser humano que a pratica. É uma forma de libertação de tensões, energias e emoções; o indivíduo adquire o seu equilíbrio psicofísico e, conseqüentemente, adapta-se e integra-se no meio que o envolve. Em comparação com os testes realizados antes e depois das aulas de dança ministradas por um professor da escola, foi verificado que nos testes aplicados após as aulas de dança houve uma melhoria do nível motor dos alunos, confirmando a influência que a dança tem sobre o desenvolvimento da coordenação geral em crianças entre 4 e 6 anos do sexo feminino e que a mesma pode ser utilizada como uma ferramenta para o desenvolvimento motor dos alunos apesar das condições do presente estudo serem limitadas. Na sua ação pedagógica, a dança pode oferecer grandes contribuições no desenvolvimento motor das crianças na faixa etária de 4 a 6 anos e o aumento do número de aulas poderá corresponder ao incremento da melhoria do desenvolvimento da coordenação geral. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS -BERTAZZO, Ivaldo, Espaço e corpo: guia de reeducação do movimento. São Paulo: SESC, 2004. -BERTONI, Iris Gomes. A dança e a evolução; o balé e seu contexto teórico; Programação didática São Paulo: tanz do Brasil 1992 -NANNY, Dionísia, Dança educação, pré-escola á universidade. 4-Ed Rio de Janeiro: editora Sprint, 2003. -PAPALIA; Diane E, Olds Sally W. Desenvolvimento humano, trad. Daniel Bueno 7- Ed. Porto Alegre: Artes Medicas Sul, 2000. -SCHINCA, Marta. Psicomotricidade, ritmo e expressão corporal: exercícios práticos. Trad. Elaine Cristina Alcaide. São Paulo Manole LTDA. (1991). -VAYER, P; Pico,L. Educação psicomotora e retardo mental. Aplicação dos diferentes tipos de inadequação. 4- Ed. São Paulo: Monole Ltda. 1998. - ROSA NETO, Francisco. Manual de avaliação motora. Porto Alegre: Artmed, 2002. - NEGRINE, Airton. Educação psicomotora: a lateralidade e a orientação espacial. Porto Alegre: Pallotti, 1986. ANEXOS Testes que verificaram a Motricidade Global (Coordenação) Caminhar em linha reta Saltar sobre o mesmo lugar Testes que verificaram o Equilíbrio (Postura Estática) Equilíbrio nas pontas dos pés Pé manco estático Testes que verificaram a Lateralidade (Mãos, Olhos e Pés) Lateralidade da mão Lateralidade dos olhos Lateralidade dos pés