UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
VANESSA MARIA RODRIGUES VIACAVA
SAMBA QUENTE, ASFALTO FRIO:
UMA ETNOGRAFIA ENTRE AS ESCOLAS DE SAMBA DE CURITIBA
CURITIBA
2010
VANESSA MARIA RODRIGUES VIACAVA
SAMBA QUENTE, ASFALTO FRIO:
UMA ETNOGRAFIA ENTRE AS ESCOLAS DE SAMBA DE CURITIBA
Dissertação apresentada ao Curso de PósGraduação em Antropologia Social. Setor de
Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade
Federal do Paraná, como requisito parcial à
obtenção do titulo de mestre em Antropologia.
Orientador: Prof ª Dr ª Selma Baptista
CURITIBA
2010
AGRADECIMENTOS
Muitos contribuíram para a realização deste trabalho de pesquisa. Agradeço
a generosidade do corpo docente e discente do programa de Pós-Graduação em
Antropologia Social desta Instituição por oportunizarem um ambiente de ampla
discussão teórico-metodógica, assim como de grande amizade e solidariedade.
Agradeço ao prof º Dr º Nilton Silva dos Santos da UFF pelas importantes
sugestões expostas na qualificação, e por sua amizade e colaboração durante
toda realização da pesquisa. Sou igualmente grata pelas brilhantes observações
da prof ª Dr ª Sandra Jacqueline Stoll sugeridas na qualificação. Agradeço a prof ª
Dr ª Luciana Prass pela amizade e inspiração.
Sou imensamente grata a prof ª Dr ª Selma Baptista, por sua orientação
extremamente competente, segura e ao mesmo tempo, amiga e carinhosa. Serei
sempre grata pelas preciosas sugestões e pelo constante estímulo durante todo o
processo de pesquisa. Nessa jornada, você foi sempre uma grande companheira,
e minha admiração não cabe em palavras. Não posso deixar de mencionar meus
agradecimentos a Caroline Glodes Blum e Larissa Sant'Anna Fernandes. Durante
esses dois ciclos carnavalescos, “Mema” e “Lari” foram mais do que companheiras
de pesquisa, tornaram-se grandes amigas, e, com toda certeza, este resultado se
deve muito ao trabalho etnográfico coletivo. Obrigada.
Devo grande parte da realização desta pesquisa aos meus interlocutores,
sambistas, passistas, compositores, bambas da comunidade carnavalesca de
Curitiba que gentilmente ofereceram não apenas informações, mas acabaram por
ceder um pouco das suas vidas. Desta convivência entre quadras e barracões se
consolidou uma grande amizade e admiração. Agradeço as entrevistas e
conversas de Amil Júnior, “Big” Ernani, Clayton Auwerter, Fernando Lamarão,
Glauco Souza Lobo, Haroldo Ribeiro, Jorge Caldeira, Jurandir Efigênio “Falcão”,
Kauê Miron, Laé di Cabral, Luiz Antunes Rodrigues, Luiz Godoy, “Maé da Cuíca”,
Marlene Monte Carmelo, “Marcelinho” Nunes, Olinto Simões, Saul D'Ávila,
“Serginho” Condessa, Suzy D' Ávila, Paulo Scheunemann, Rodrigo “Digão” Rocha,
“Toninho” Guedes, e os “mestres” Amauri Ferreira, Anderson “Baby”, Daniel
Patrício, “Divino” e Rogério. Sou igualmente grata pela colaboração de todos os
componentes das escolas de samba Acadêmicos da Realeza, Boi de Pano,
Embaixadores da Alegria, Falcões Unidos, Leões da Mocidade, Mocidade Azul,
Os Internautas, Unidos do Bairro Alto. Agradeço pelas muitas conversas com os
amigos igualmente interessados no samba e no carnaval de Curitiba, João Carlos
Freitas, Téo Souto Maior, Alberto Melo Viana e Rafael Urban.
Agradeço meus amigos e colegas do Colégio Estadual Jayme Canet e do
Portal Dia-a-dia Educação pelo constante incentivo e carinho. Agradeço
especialmente meus amigos sempre compreensivos com minha prolongada
ausência e, embora manifestassem saudades, procuraram incentivar a pesquisa.
Entre eles, agradeço especialmente Lígia Melo Moreira e Renata Domit, - eternas
“Charlies's Angels”; sou igualmente grata à Luciana Pacheco e Sany Dallarosa,
companheiras
de
momentos
inesquecíveis
de
minha
existência
“pré-
carnavalesca”. Agradeço aos companheiros Camila e Eduardo da Silva, obrigada
pelo carinho que só uma verdadeira amizade é capaz de demonstrar. Agradeço a
Juliane Bazzo que passou a ser grande amiga e confidente das angústias que a
escrita de uma dissertação pode suscitar.
Aos meus irmãos agradeço por terem sempre incentivado a seguir meus
objetivos e pela infância repleta de sorrisos e brincadeiras. Agradeço meus pais
por toda compreensão na minha ausência frequente e por terem me ensinado a
importância do respeito, da dedicação, da alegria e da sinceridade.
Muchas
gracias ao grande carinho da família Viacava - brasileiros e uruguaios - sempre
disposta a colaborar e constantemente interessada no caminhar da pesquisa.
Agradeço ao Joaquin, meu cãozinho querido, pelo olhar terno que apenas os
animais são capazes de demonstrar. Ao Bebu, pelo companheirismo, apoio,
paciência e amor. Durante os anos da pesquisa, foi sempre muito compreensivo
com minhas ausências e jamais deixou de me incentivar, e nas ocasiões de
dificuldade nunca deixou de acreditar em mim. Pelas apresentações em
powerpoint, revisões e discussões, mesmo que sobre o samba. Pelos almoços e
jantares, pelos beijos e abraços. Sou grata por você fazer parte disso tudo, e que
seja por inúmeros carnavais.... obrigada.
RESUMO
Nesta dissertação procuro compreender a relação do carnaval com a cidade de
Curitiba, como as escolas de samba se organizam internamente, como procuram
definir seu lugar no espaço urbano e como as políticas culturais administram o
desfile das escolas de samba. Para tanto, esse trabalho apresenta duas partes
distintas e complementares, a primeira, caracterizada pela narrativa histórica,
onde defino uma cronologia do carnaval de Curitiba; e outra, etnográfica,
desenvolvida nos barracões e quadras de todas as escolas de samba em
atividades durante os ciclos carnavalescos de 2008/2009 e 2009/2010. Sobre a
narrativa histórica, o parâmetro usado para delimitar as “fases” do carnaval de
Curitiba diz respeito aos lugares onde o carnaval de rua se manifestou na capital
paranaense. Na narrativa etnográfica, aproximo os conceitos da antropologia da
performance e da experiência, a fim de perceber não apenas a dimensão ritual do
desfile na avenida, mas também, procuro capturar as qualidades de improvisação
e a capacidade reflexiva dos sujeitos. Destaco a relação das escolas com a
Fundação Cultural de Curitiba, a forma de produção do carnaval e a manifestação
de redes de sociais, assim como a circulação dos componentes e ritmistas das
escolas de samba dos grupos A e B. No desfile das escolas de samba, ressalto a
dimensão performática do evento, como os aspectos visuais são mediados pelo
samba-enredo. Dessa forma, busco compreender não apenas a organização da
estrutura carnavalesca, mas também sua relação com a cidade.
Palavras-chave: Curitiba, história, carnaval, políticas públicas, performance.
ABSTRACT
The aim of this dissertation is to investigate the relation between carnaval and the
city of Curitiba; the way samba schools are organized, how they build their place in
the urban space and how cultural policies deal with the samba schools parade. To
attain that, this work presents two distinct and complementary parts. The first of
them is characterized by a historical narrative, where I introduce a chronology of
carnaval in Curitiba. The second one, an ethnographic study, was developed on
the sheds and yards of every samba schools existing during the periods of
2008/2009 and 2009/2010. Regarding to my historical report, the parameter used
to define the historical “stages” of carnaval in Curitiba relates to the regions of the
city where street carnival took place. With the ethnographic narrative, I focus on
the anthropological concepts of performance and experience, to work not only with
the ritualistic dimension of the street parade, but also to identify the quality of
improvisation in the subjects and their ability to reflect on reality. I also feature the
relation between the schools and the Fundação Cultural de Curitiba (Curitiba
Cultural Foundation), the forms of production of the festival as well as the
manifestation of social networks, and the transit of participants and percussionists
among the different A e B groups samba schools. I also highlight the perfomatic
dimension of the samba schools parade and the way the samba plot mediate the
visual aspects. However, I don't focus only on the dimension of the show and its
structure; I also try to understand the relation of the festival with the city of Curitiba.
Key words: Curitiba, history, Carnival, public policies, performance.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO....................................................................................................................................1
PARTE I - CARNAVAL COMO FESTA POPULAR BRASILEIRA:
A CONSOLIDAÇÃO DO MODELO ‘ESCOLA DE SAMBA’
1. OS CARNAVAIS DO RIO DE JANEIRO.......................................................................................10
1. 1 Cordões e ranchos: precursores das escolas de
samba................................................................................................................................................10
1. 2 Anos 1930 a 1950: as escolas de samba e as regras do
jogo....................................................................................................................................................15
1. 3 Anos 1960 a 2005: a ‘revolução espetacular’ a construção da ‘cidade do
samba’...............................................................................................................................................18
2. O CORSO, OS BAILES E OS BLOCOS:
O CARNAVAL NA RUA XV DE NOVEMBRO...................................................................................24
2. 1 O “primeiro carnaval” de Curitiba: bailes e
corso..................................................................................................................................................24
3. AS ESCOLAS DE SAMBA DE CURITIBA: 1946-1998.................................................................36
3. 1 A “primeira geração”: 1946-1970...............................................................................................39
3. 1. 1 A Associação das Escolas de Samba......................................................................48
3. 2 O “carnaval na Marechal”:1971-1998........................................................................................50
3. 2. 1 Experiências carnavalescas: a Banda Polaca e o Bloco Afoxé................................52
3. 2. 2 Explosão de alegria: novas escolas na Marechal Deodoro......................................54
PARTE II - CICLOS CARNAVALESCOS DE 2008/2009 E 2009/2010:
NEGOCIAÇÃO E EXECUÇÃO
4. BARRACÃO/QUADRA/DESFILE:
OS SAMBAS ENREDO COMO PERFORMANCE.............………………………..............................66
4. 1 Abertura do ciclo carnavalesco: antes e depois dos editais da FCC.........................................68
4. 2 FCC e as escolas de samba: cenas de uma negociação..........................................................72
4.3 Os preparativos: a escolha do cortejo real..............................................................................…76
4. 4 Os preparativos: barracões e quadras.......................................................................................78
4. 5 Na avenida Cândido de Abreu: a narrativa carnavalesca..........................................................98
4. 5 1 Desfile de 2009...........................................................................................................99
4. 5. 2 Desfile de 2010........................................................................................................113
CONCLUSÃO.................................................................................................................................124
ACERVOS CONSULTADOS......................................................................................................... 133
DOCUMENTOS CONSULTADOS................................................................................................. 133
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................................. 135
ANEXOS
ANEXO I:
ESCOLAS CAMPEÃS DO GRUPO A (1957-2010).......................................................................142
ANEXO II:
EDITAL CARNAVAL (2009) SELEÇÃO DE PROJETOS CARNAVAL..........................................144
ANEXO III:
FORMULÁRIO DE INSCRIÇÃO EDITAL N.º 113/09 - CARNAVAL 2010......................................156
ANEXO IV:
ESCOLAS CONTEMPLADAS - APOIO FINANCEIRO (2009)........................................................166
ANEXO V:
REGULAMENTO DO DESFILE DAS ESCOLAS DE SAMBA (2009)............................................168
ANEXO VI:
EDITAL CARNAVAL (2010) SELEÇÃO DE PROJETOS CARNAVAL.......................................... 180
ANEXO VII:
ESCOLAS CONTEMPLADAS - APOIO FINANCEIRO (2010)........................................................193
1
INTRODUÇÃO
Carnaval em Curitiba? Não dá. O sujeito pula na rua, alegrinho, vem o
guarda e prende!” Vendo de um certo jeito, é uma espécie de maldição
esse carnaval - ou não-carnaval - na cidade. Temos até de nos explicar por
escrito, como agora. Parece que carregamos a culpa pela falta de espírito
carnavalesco, a vergonha do falso rebolado, essa triste ausência de
brasilidade, quem sabe até falta de patriotismo! Quando o Brasil inteiro
dança, nós aqui, naquele silêncio de missa, andando pelas ruas vazias,
metendo o olho crítico no primeiro engraçadinho que sai por aí fazendo
escândalo. Coisa de bêbados! (...) no período, uma horda imensa de
curitibanos foge daqui. (...) Aqui, alguma coisa decididamente não
1
combina. (…).
O desfile das escolas de samba de Curitiba costuma ser denominado pela
imprensa local como um evento “feio e pobre”. A cada ano os jornais e as
reportagens de televisão apresentam pesquisas sobre a relação dos curitibanos
com a festa carnavalesca e de acordo com esses resultados, a população
curitibana não se mostra totalmente contra os desfiles das escolas de samba da
sua cidade, no entanto, faz pouca (ou nenhuma) questão de prestigiar o evento
organizado pela prefeitura municipal através da Fundação Cultural de Curitiba. Os
meios de comunicação do estado do Paraná preferem enfatizar o imenso fluxo de
carros rumo ao litoral do Paraná e Santa Catarina. Nos balneários paranaenses
acontecem os carnavais ao “estilo baiano”, com a presença dos trios elétricos ao
longo da orla marítima. São as chamadas bandas, as duas mais famosas são a
Banda de Guaratuba e a Caiobanda. Nas cidades históricas do litoral – Paranaguá
e Antonina – a grande atração do feriado de carnaval são os desfiles das escolas
de samba e dos blocos carnavalescos.
Nos últimos doze anos, a cidade de Curitiba vivencia uma outra experiência
carnavalesca, o chamado o psycho carnival. Esse carnaval também conta com
recursos da Fundação Cultural de Curitiba e agrega a comunidade punk e
rockabilly do Brasil e do mundo2.
1
TEZZA, Cristovão. Carnaval em Curitiba. Caderno de ideias n 8 - Curitiba, fevereiro de 2004.
Disponível em: <http://www.cristovaotezza.com.br/textos/contos/p_carnavalcuritiba.htm> Acessado
em 19 de julho 2007.
2
Essa festa vem crescendo e além das apresentações noturnas, o psycho carnival realiza uma
série de eventos, almoços, jogos de futebol e conferências. Nesse carnaval psycho, as lantejoulas
2
No domingo de carnaval, o Psycho Carnival organiza uma caminhada “anti-carnavalesca” intitulada
Zombie Walk. Carnaval de 2009. Foto: Acervo Pessoal.
As escolas de samba de Curitiba são constantemente tratadas como piada
e alvo de comentários negativos por parte da imprensa local. A suposta falta de
rebolado do curitibano não parece ser o principal problema do carnaval na cidade.
Os discursos negativos, criados e reproduzidos sobre o carnaval curitibano tomam
como modelo estético a festa carioca e desvalorizam o empenho das escolas da
capital paranaense. Entre outros incentivadores para a eliminação dos desfiles de
escola de samba em Curitiba, localizamos o publicitário Ernani Buchmann. Em sua
coletânea de ensaios sobre a cidade Onde me doem os ossos3 o autor enfatiza o
frio como razão “natural” para a falta de espírito carnavalesco na cidade e a
ausência de faixa litorânea como o principal motivo para o gingado desengonçado
da população local. Sendo assim, a melhor solução seria mesmo, segundo o
publicitário, acabar com o carnaval em Curitiba por decreto.
Há anos escrevo sobre algo que não existe e mesmo assim, insisto e
sustento que carnaval não é manifestação cultural que nesta terra se
preze. Curitiba não tem ancas tremilicantes, talvez por não se dar ao direito
e plumas cedem lugar às imensas tatuagens, os topetes e ao estilo pin-up entre as garotas. Além
disso, diversos grupos de praticantes de cosplay participam da Zombie Walk.
3
BUCHMANN, Ernani. Não vale uma lantejoula. Revista ideias. Curitiba: travessa dos editores. 25
de fevereiro de 2008. p. 32.
3
de tamanha leviandade. O fato é que carnaval em Curitiba tem tom
funerário, começando pelo clima, terminando no desfile das escolas de
samba. (...) Não raro a rua está encharcada, a escola a desfilar é de uma
indigência franciscana, a animação das arquibancadas sugere o dia de
4
finados .
A capital paranaense não se apresenta como um polo do samba e não
possui um espaço definido como “sambódromo”, mas existem escolas de samba,
elas desfilam na avenida ao som de samba de enredo e participam de um
concurso organizado pela Fundação Cultural de Curitiba. Dessa forma, torna-se
difícil afirmar “Curitiba não tem carnaval” ou “não combina” com a festa
carnavalesca, conforme afirmam alguns jornalistas e reconhecidos escritores da
cidade. O senso comum sugere como “verdadeiro” o carnaval relacionado a um
modelo estético de “carnaval espetáculo” das escolas de samba cariocas ou
paulistanas do grupo especial. E como as escolas de samba de Curitiba não se
assemelham às dimensões “colossais” do Rio ou de São Paulo são
compreendidas como “falsas” ou meras cópias de um modelo externo. Essa
oposição entre o verdadeiro e o falso trata-se apenas de uma observação
preliminar, mas, que sugere possibilidades de reflexão, especialmente as noções
de tradição e de cultura popular no espaço urbano.
Em Curitiba, a participação no desfile das escolas de samba costuma ser
associado as pessoas que não tem condições financeiras para sair da cidade
durante o feriado, e o fato de pertencer ou torcer para uma agremiação não possui
conotação positiva. A antropóloga Selma Baptista conseguiu expressar como
essas visões negativas se conectam a um preconceito de classe e de cor.
O preconceito contra o Carnaval, expresso de inúmeras maneiras, sofre, a
cada ano, novas investidas. Os movimentos para acabar com esta festa
têm sido constantes, em rádios e jornais, amparados por um rico
anedotário acerca do “carnaval polaco” de Curitiba. Até mesmo os sambas
carnavalescos recorrem a esta já folclórica, desajeitada existência, para
realçar o “mau jeito” na avenida, a falta de jogo de cintura dos passistas
brancos, das baianas sem cor, das baterias sem ritmo. Esta é, como tenho
observado, uma explícita estratégia de ocultamento da população negra de
5
Curitiba, conjugada a outro muito recorrente: o de classe social.
4
BUCHMANN, Ernani. Onde me doém os ossos. Curitiba: Get edições, 2003. p. 25 e 26.
BAPTISTA, Selma. Carnaval curitibano: cidadania, cultura popular, etnicidade e políticas
públicas de cultura. Relatório de pós-doutorado, USP. São Paulo, 2005/2007. p. 7. ______. A
5
4
Nessa perspectiva, o carnaval compreendido nos termos propostos por
Néstor García Canclini como manifestação popular se constitui de processos
complexos e híbridos que utiliza como signos de identificação elementos de
diferentes classes e nações.
6
Dessa forma, o carnaval enquanto expressão do
elenco das culturas populares, não se refere a uma manifestação fechada em si
mesma, ela se relaciona com os mais diversos agentes e circula em múltiplos
contextos sociais. Ao compreender o carnaval como expressão, admitimos o
caráter dinâmico dessa manifestação e, sendo assim, não tomamos cultura
popular como estática ou cristalizada. O historiador Peter Burke demonstrou que o
conceito de cultura popular, enquanto lugar do tradicional e do autêntico, não se
sustenta na medida que diversas pesquisas o levaram a perceber uma grande
interação entre diversos grupos sociais desde fins da Idade Média, numa ampla
cadeia de transformações.7
O espaço da cidade de Curitiba pode ser compreendido nos termos de
Clifford Geertz como informação de fundo,8 na medida que a urbe possui uma
grande densidade simbólica, acumulada durante décadas por inúmeros discursos
identitários ao longo de sua formação.
A descrição dos carnavais antigos de
Curitiba, das transformações urbanísticas da cidade e dos encaminhamentos de
suas políticas culturais são condições para a interpretação das manifestações
carnavalescas das escolas de samba. Assim, para observar a festa curitibana do
carnaval e as suas esferas de organização procuramos recuperar a descrição dos
eventos em seu contexto, onde foram revelados os diversos significados das
ações dos sujeitos. Para tanto, não descartamos uma perspectiva histórica, assim,
regressamos aos antigos carnavais de Curitiba para observar a constituição de
uma arena de disputas pelo espaço das manifestações populares no espaço da
cidade e suas f(r) estas: o carnaval curitibano. Projeto de pesquisa, Thales 2008022479 –
Dean/PPGAS/UFPR. 2008/2010.
6
CANCLINI, Néstor G. Culturas Híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. São
Paulo: Edusp, 2008. p. 221.
7
BURKE, Peter. Cultura popular na Idade Moderna: Europa 1500-1800. São Paulo: Companhia
das Letras, 2010.
8
GEERTZ, Clifford. A Interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC s/d.[1973]
5
cidade, e localizar o surgimento de importantes mediadores culturais, elemento
fundamental para a interpretação do carnaval.
Para a investigação do carnaval curitibano nos guiamos pelas sugestões
metodológicas de Geertz como postulado no seu trabalho A Interpretação das
Culturas (GEERTZ, 1973). Para este antropólogo, não existe a possibilidade de
tomar uma perspectiva objetivista dos eventos, na medida em que acontecimentos
idênticos são experimentados por diversos sujeitos de múltiplas maneiras. Dessa
forma, a ideia de uma descrição densa,9 pode ser pensada como um olhar por
sobre os ombros dos nativos, e a descrição dos eventos não pode consistir em
categorias exteriores, nem unicamente baseada nas concepções nativas, mas
constituídas na intersubjetividade entre o observador e os observados.
Fazer a etnografia é como tentar ler (no sentido de
“construir uma leitura de”) um manuscrito estranho, desbotado,
cheio de emendas suspeitas e comentários tendenciosos
escrito não com os sinais convencionais do som, mas com
exemplos transitórios de comportamento modelado. (GEERTZ,
1973, p. 7)
Ao refletir sobre o carnaval pensamos em inversões da rotina, uma certa
ruptura com o cotidiano, a festa, a desordem. Roberto da Matta observou que
durante o carnaval existe uma “inversão organizatória”10 na medida que os grupos
se organizam com o objetivo de brincar: “o samba é uma alegria que organiza.”11
Ao mesmo que o carnaval define formas de organização social, rompe com a
9
Questão abordada por Clifford Geertz em Do ponto de vista dos nativos: In: Saber Local: novos
ensaios em antropologia interpretativa. Petrópolis: Vozes, 2008.
10
DA MATTA, Roberto. Carnavais, malandros e heróis: para uma sociologia do dilema brasileiro.
Rio de Janeiro: Rocco. 1997. _______. Universo do carnaval: imagens e reflexões. Rio de
Janeiro: Pinakotheke, 1981.
11
ZALUAR, Alba. A máquina da revolta: as organizações populares e o significado da pobreza.
São Paulo: Brasiliense, 2000. Alba Zaluar verificou na comunidade Cidade de Deus no Rio de
Janeiro, “O samba levanta o moral, limpa o estigma, dignifica e abre caminhos para a realização
pessoal dos trabalhadores pobres. O samba socializa seus filhos nessa cultura que é a deles e os
afasta da violência descontrolada que grassa hoje em dia toda a cidade do Rio de Janeiro. O
samba é uma recreação, uma alegria, um prazer para os que participam dele. O samba notabiliza
os seus organizadores e cria um foco de poder que altera as relações locais com a polícia, com o
Estado, com os outros locais próximos ou distantes, com os políticos, bem como com os bandidos.
O samba também é uma herança que os homens deixam para seus filhos, com suas histórias,
suas memórias, suas glórias.” p. 186.
6
estrutura hierárquica da vida cotidiana e promove outras formas de lealdade em
função da vontade de “brincar o carnaval.”12
Nos caminhos traçados por Victor Turner, o carnaval se apresenta como um
gênero performático criado pela própria sociedade, cujo efeito, a paralisia em
relação ao fluxo da vida cotidiana, permite a observação de elementos da própria
estrutura social. Inspirado em Milton Singer, Turner definiu performance cultural
como sendo um aspecto privilegiado para a análise de uma cultura.
As performances culturais são experiências concretas e unidades de
observação, ou seja, constituintes elementares da cultura, pois possuem
uma medida de tempo limitada, ou pelo menos um começo e um fim, um
programa organizado de atividades, um conjunto de atores, uma audiência
13
e um lugar de ocasião.
O carnaval, enquanto gênero performático não diz respeito apenas ao
momento da festa, do desfile na avenida. A partir das sugestões de Maria Laura
Viveiros de Castro Cavalcanti (CAVALCANTI, 1995) inferimos que toda a sua
preparação pode ser definida como um ritual e como todo ritual, os espaços para
improvisações estão presentes. Nos ciclos carnavalescos de 2008/2009 e
2009/2010 acompanhamos os bastidores das escolas de samba de Curitiba e
demonstrou-se bastante evidente a capacidade reflexiva dos sujeitos envolvidos
com as atividades carnavalescas. Nos termos de Clifford Geertz, os carnavalescos
fazem comentários sobre eles mesmos direcionados para eles mesmos, os
metacomentários.14 Ainda sobre o processo de construção de um desfile, os
carnavalescos procuram mensurar a percepção da “cidade” acerca de seu
trabalho na avenida, realizam um cálculo do lugar olhado (e ouvido) das coisas.15
A “cidade”, um coletivo anônimo, torna-se objeto de reflexão, os sujeitos das
12
DA MATTA, Roberto. On carnaval, informality, and magic: a point of view from Brazil. In:
BRUNER, Edward. (org.) Text, Play, and Story: The Construction and Reconstruction of Self and
Society. The American Ethonological Society, 1984. p. 231.
13
TURNER, Victor. O Processo Ritual: estrutura e anti-estrutura. Petrópolis: Vozes, 1974. p. 23.
14
GEERTZ, Clifford. Um jogo absorvente: notas sobre a briga de galos balinesa. In: GEERTZ,
Clifford. A Interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC s/d.[1973].
15
BARTHES. apud. DAWSEY, John C. Turner, Benjamim e Antropologia da Performance: O lugar
olhado (e ouvido) das coisas. Revista Campos 7, Curitiba, 2006.
7
escolas de samba apontam seus descontentamentos e dificuldades impostas pela
mesma.
No primeiro capítulo apresentaremos o processo de constituição do
carnaval do Brasil. Em território nacional, a festa popular passou por diferentes
formatos e, a partir dos anos 1930, passou a ser identificada com as escolas de
samba. Antes anos disso, nas cidades, entre os séculos XVI e XIX o feriado do
carnaval era festejado com as batalhas dos “limões de cheiro”, o entrudo. No Rio
de Janeiro apareceram no fim do século XIX os cordões carnavalescos. Ainda no
final do século XIX surgiu no Rio de Janeiro uma outra manifestação
carnavalesca, os ranchos. Eles foram criados por baianos que se fixaram no Rio
de Janeiro na região da Gamboa, da Saúde e na Cidade Nova. Os dias de
carnaval se modificaram gradualmente com a organização da primeira escola de
samba em 1928. Buscaremos demonstrar como foi se definindo um modelo de
carnaval carioca, recuperando suas diferentes fases: a interferência do governo do
Estado Novo de Getúlio Vargas, a chegada de artistas plásticos da Escola de
Belas Artes, a constituição da figura do carnavalesco, a construção do
Sambódromo, e finalmente, a edificação da Cidade do Samba.
No segundo capítulo direcionaremos nossas análises para o carnaval em
Curitiba. Durante os anos de Colônia e Império os modismos da corte carioca se
fizeram presentes em diversas cidades brasileiras e o sul do país seguia essa
tendência. As brincadeiras consideradas grosserias típicas do entrudo resistiram
até meados do século XIX, mas essas manifestações desapareceram por
completo e o espaço da folia passou a ser ocupado por atividades compreendidas
como sofisticadas, organizadas pelas grandes sociedades carnavalescas. Assim,
no início do século XX os carnavais das principais cidades do sul do Brasil
seguiam um padrão europeu franco itálico, com bailes de mascarados nos clubes
e o corso nas principais avenidas das cidades. Os bailes de carnaval dos clubes
de Curitiba possuíam um caráter nitidamente excludente, eram feitos por uma elite
e para essa elite, cabia aos grupos menos privilegiados da capital paranaense
admirar o luxo e a sofisticação do carnaval dos ricos no elegante corso da rua XV
8
de Novembro. Assim, durante esse “primeiro carnaval curitibano”, os espaços
ocupados delimitavam as fronteiras sociais entre ricos e pobres.
No terceiro capítulo abordaremos a escolas de samba de Curitiba a partir
de uma “cronologia” do nosso carnaval. O parâmetro usado para delimitar as
“fases” do carnaval de Curitiba diz respeito aos lugares onde o carnaval de rua se
manifestou na capital paranaense. Para acompanhar esse processo de mudanças
no carnaval com a presença das escolas de samba apresentaremos uma
cronologia do carnaval curitibano compreendida em três fases: “primeiro carnaval
geração” (1946-1970), “carnaval na Marechal” (1971-1998) e “carnaval na Cândido
de Abreu” (1999-...) Assim, apresentaremos a formação das escolas de samba da
“primeira geração” do carnaval curitibano se definiram a partir de duas matrizes
diferenciadas. As escolas de samba Embaixadores da Alegria, Não Agite e D.
Pedro II se transformaram em escola de samba a partir de blocos carnavalescos
formados e sediados em clubes sociais. Apenas uma escola da “primeira geração”
apresentou uma origem diferenciada, a escola de samba Colorado surgiu em uma
região de baixa renda.
Entre os anos 1970 e 1990 período denominado como “carnaval na
Marechal” nos interessamos em acompanhar uma verdadeira explosão de escolas
de samba e a organização da mais duradoura entidade representativa das
agremiações carnavalescas da cidade, a Associação das Escolas de Samba de
Curitiba. Nesse período procuramos compreender as políticas culturais desse
período, entre 1971 a 1983 quando Curitiba foi administrada por governos ligados
ao Lernismo, e, nos anos de 1983 a 1989, momento em que a administração
passou para as mãos de governos ligados ao PMDB. Esse período apresenta
qualidades interessantes para a compreensão do relacionamento entre a FCC e
escolas de samba.
Sobre o “carnaval na Cândido de Abreu” mostraremos a transferência do
desfile para o Centro Cívico e como essa mudança de endereço se cristalizou na
fala nativa como algo “terrível” para o carnaval. Assim, apresentaremos uma
reflexão sobre a transferência do desfile como uma alegoria de todas as
mudanças negativas que estavam se articulando desde a saída de alguns
9
membros da administração da FCC. Associado ao desagrado frente a nova casa
da folia, se fazia presente a dificuldade das próprias escolas em se entenderem
em torno da Associação das Escolas de Samba. Dessa forma, compreendemos a
mudança de endereço como um evento que revela crises mais internas, mais
profundas na estrutura carnavalesca de Curitiba.
No último capítulo buscaremos analisar o carnaval como uma “forma
cultural complexa”, e não apenas do ponto de vista do espetáculo da avenida. Nos
preocupamos em analisar como se apresentam os modos de fazer desse carnaval
de Curitiba, sua produção nos bastidores do desfile. Para tanto, nos aproximamos
de todas as agremiações carnavalescas atuantes no carnaval da cidade, dos
grupos A e B. Assim, buscaremos apresentar as diversas formas de fazer o
carnaval nos barracões e a compreensão das redes sociais formadas nas
agremiações carnavalescas de ambos os grupos. No desfile das escolas de
samba, procuraremos ressaltar as questões performáticas do evento, a relação do
samba e do visual mediados pelo samba enredo. Dessa forma, nossas atenções
não permanecerão apenas do ponto de vista do espetáculo da avenida,
apresentaremos o universo do carnaval da cidade de maneira mais ampla a fim de
permitir um diálogo da festa momesca com a cidade de Curitiba.
Para nos aproximarmos do carnaval curitibano enquanto “forma cultural
complexa” acompanhamos as atividades carnavalescas (ensaios, barracões,
desfile e apuração) nos ciclos carnavalescos de 2008/2009 e 2009/2010. Ao
contrário da solidão do antropólogo da clássica descrição de Malinowski ao chegar
nas ilhas Trobriand, a pesquisa realizada entre as escolas de samba aconteceu de
forma coletiva. Em campo, atuaram simultaneamente três pessoas, eu e mais
duas colegas, Caroline Glodes Blum e Larissa Sant'Anna Fernandes, alunas do
curso de graduação de Ciências Sociais e bolsistas PBIC - ambas também
orientadas pela professora Selma Baptista. Essa particularidade, a etnografia
coletiva, acabou por suscitar algumas questões interessantes acerca do processo
de inserção em campo, sobre o lugar do pesquisador e inquietações sobre a
chamada “autoridade etnográfica”. A equipe carnavalesca aos poucos deixou de
ser vista um grupo de estudantes curiosas e passou a ser identificada como o
10
descobridor da América Cristóvão Colombo, nossa missão era a de descobrir o
carnaval curitibano. Graças ao nome atribuídos pelo mestre Divino – “Santa Maria,
Pinta e Nina” – pudemos verificar como nossa presença estava sendo
percebida/construída
pelos
olhares
da
comunidade
carnavalesca,
compreendemos que o trabalho etnográfico havia sido compreendido por nossos
interlocutores.
11
PARTE I - CARNAVAL COMO FESTA POPULAR BRASILEIRA:
A CONSOLIDAÇÃO DO MODELO ‘ESCOLA DE SAMBA’
1. OS CARNAVAIS DO RIO DE JANEIRO
1. 1 Cordões e ranchos: precursores das escolas de samba
O carnaval pode ser associado a diversas características universais,16 tais
como alegria, despojamento das atribuições cotidianas, liberação da rotina. Para
Bakhtin, durante o carnaval a própria vida se transforma em festa, uma vida
festiva: “enquanto dura o carnaval, não se conhece outra vida senão a do
carnaval. Impossível escapar a ela, pois o carnaval não tem nenhuma fronteira
espacial. Durante a realização da festa, só se pode viver de acordo com as suas
leis, isto é, as leis da liberdade” (BAKHTIN, 2004, p.6). Sendo assim, o carnaval
durante a Idade Média promovia uma inversão carnavalesca:
Essa festa tinha por finalidade a consagração da desigualdade, do
contrário do carnaval, em que todos eram iguais e onde reinava uma forma
especial de contato livres e familiar entre indivíduos normalmente
separados na vida cotidiana pelas barreiras intransponíveis da sua
condição, sua fortuna, seu emprego, idade e situação familiar. (BAKHTIN,
2004, p. 9)
No Brasil, a festa popular passou por diferentes modelos e a partir dos anos
1930 passou a ser identificada com as escolas de samba. Entre os séculos XVI e
XIX o feriado do carnaval era festejado com as batalhas dos “limões de cheiro”, o
entrudo.
16
Bakhtin, ao analisar a obra de Rabelais, formula o conceito de carnavalização, como um
conjunto de comportamentos ligados às festas populares, como brincadeiras grosseiras e
inversões típicas do fim da Idade Média. Esse espírito de carnavalização pode se manifestar em
diferentes festas, em qualquer época do ano e em diferentes contextos. BAKHTIN, Mikhail. A
cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais. São
Paulo: Hucitec; Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1999.
12
Chamava-se entrudo o antigo carnaval português; o termo significava
‘entrada’, segundo dizem, sendo celebrada para festejar a entrada da
primavera; muito antes do cristianismo, cobria o mesmo período do ano e
era precedida por várias comemorações esparsas no calendário, que a
anunciavam. Com a implantação do cristianismo, passou a se realizar do
17
Sábado Gordo à Quarta-feira de Cinzas.
A proibição das guerras molhadas e a inspiração dos carnavais de Veneza,
na Itália, e de Nice, na França possibilitaram a organização das grandes
sociedades carnavalescas no Brasil.18 Essas agremiações congregavam uma
pequena parcela da população e passaram a organizar desfiles de carros
enfeitados com flores e fitas, o chamado corso. No entanto, o carnaval de meados
do século XIX não se limitava aos desfiles em carros abertos, as sociedades
carnavalescas também promoviam bailes de mascarados alegrados por
orquestras que executavam polca, valsa, modinha e, mais tarde, incorporaram o
choro.19 A maioria desses bailes eram frequentados por grupos sociais de maior
poder aquisitivo enquanto a folia com “limões de cheiro”, considerada anárquica,
predominava nas ruas das cidades brasileiras. Seria apenas na virada do século
XX que as populações menos favorecidas, formadas por imigrantes pobres e exescravos organizariam suas próprias brincadeiras carnavalescas20 diferentes
daquelas praticadas pelas sociedades carnavalescas.
No Rio de Janeiro apareceram no fim do século XIX os cordões
carnavalescos. Esses grupos foram originados nas áreas pobres da cidade e, de
acordo com observadores do período, apresentavam um aspecto “marginal e
assustador” (FERREIRA, 2004, p. 287). A denominação cordão não significava
uma única forma de brincar o carnaval, existiam múltiplas variações dessa
modalidade carnavalesca. Alguns cordões se aproximavam esteticamente das
grandes sociedades carnavalescas, enquanto outros demonstravam traços mais
17
QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Carnaval brasileiro: o vivido e o mito. São Paulo:
Brasiliense, 1999. p. 30.
18
Entre as principais grandes sociedades carnavalescas do Rio de Janeiro, destacavam-se os
Democráticos, os Tenentes do Diabo e os Fenianos. FERREIRA, Felipe. O livro de ouro do
carnaval brasileiro. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004. p. 173.
19
Em 1899, a maestrina Chiquinha Gonzaga compôs a primeira marchinha “ô abre alas” para o
cordão Rosas de Ouro do Rio de Janeiro. DINIZ. André. Almanaque do carnaval: a história do
carnaval, o que ouvir, o que ler, onde curtir. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2007. p 84
20
No Rio de Janeiro, formaram-se os blocos e os ranchos carnavalescos. Em São Paulo entre as
brincadeiras de carnaval de rua destacavam-se os cordões.
13
aproximados dos cucumbis21 e do próprio entrudo. Para Maria Clementina Pereira
da Cunha22 os cordões cariocas buscaram se assemelhar esteticamente às
grandes sociedades carnavalescas e a postura agressiva e violenta praticada
pelos primeiros cordões aos poucos cederam lugar a posturas sofisticadas, em
consonância aos refinados bailes carnavalescos de mascarados. Segundo a
historiadora, o processo de aproximação dos cordões ao modelo das sociedades
carnavalescas não se deu através da repressão das autoridades policiais, mas se
processou a partir da iniciativa de seus integrantes que desejavam ser admirados
pela população carioca e, principalmente, pela imprensa da cidade. Assim, os
jornais acompanharam com alegria e elogios o gradual “adestramento” dos
cordões carnavalescos.
Ainda no final do século XIX surgiu no Rio de Janeiro uma outra
manifestação carnavalesca chamada de rancho. Esta manifestação carnavalesca
foi criada por foliões baianos, maioria moradores da região da Gamboa, da Saúde
e na Cidade Nova. De acordo com a historiadora Rachel Soihet, o rancho
carnavalesco Ameno Resedá23 fundado pelo tenente Hilário Jovino Ferreira
revolucionou o carnaval carioca no início do século XX.
Até o início do século [XX], os ranchos davam espetáculos para o público
sem ambição competitiva. Aos poucos, criou-se a atmosfera de
competição, o que acelerou sua reformulação em diversos aspectos:
alegórico, orquestral e no canto, dando luxo e sofisticação ao rancho. Um
dos mais famosos ranchos foi o Ameno Resedá, que promoveu uma
reviravolta na música e no desfile carnavalesco. Surgiu em 1907, e em
1908, saiu as ruas com uma orquestra com mais de 20 músicos, coral
afinado, luxo nas fantasias e o enredo “Corte Egipciana”. Em 1911, com o
21
“O vestiário dos cucumbis se compunha de círculos de pena nos joelhos, à cintura, nos braços e
pulsos; de cocar e plumas com pala vermelha; de botinhas enfeitadas com fitas e galões; de
calças, camisas e meias cor de carne. No pescoço, tanto homens como mulheres, ostentavam
colares e miçangas, corais e dentes, as vezes com diversas voltas”. ALMEIDA, Renato. apud.
CABRAL, Sérgio. As escolas de samba: o quê, quem, como, quando e por quê. Rio de Janeiro:
Fontana, 1974. p. 16.
22
CUNHA, Maria Clementina Pereira da. Ecos da folia: uma história social do carnaval carioca
entre 1880 e 1920. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.p. 155
23
Cf. GONÇALVES, Renata de Sá. Os ranchos pedem passagem: o carnaval no Rio de Janeiro
do começo do século XX. Dissertação do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e
Antropologia. Instituto de Filosofia e Ciências Sociais. Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Orientadora: prof ª Dr ª Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti. Rio de Janeiro, 2003.
14
pomposo enredo “Corte de Belzebu”, o Ameno Resedá chegou ao auge de
24
seus desfiles e de sua história.
Nas primeiras décadas do século passado as manifestações carnavalescas
do Rio de Janeiro apresentavam fronteiras estético-musicais difusas. Apesar
disso, a pesquisadora Maria Clementina Pereira da Cunha definiu algumas
características exclusivas dos ranchos, dos cordões e das sociedades
carnavalescas.
Os ranchos usavam alegorias sobre as carroças, mesmo que em escala
menor que as sociedades, enquanto os integrantes dos cordões, com suas
variadas fantasias, seguiam invariavelmente no chão, a pé; os cordões
caracterizavam-se, sobretudo pela percussão acompanhada de cantoria,
na qual um ou dois dançarinos vestidos de índios entoavam a copla, e o
coro em uníssono repetia o estribilho (ou chula), por vezes acompanhado
apenas por cavaquinho e violão, mas os ranchos harmonizavam seu canto,
apresentavam-se com percussão leve (pandeiros, castanholas etc.) e com
volume instrumental considerável, que incluía cordas e sopro (de que
resultava a diferença musical entre as marchas-ranchos e o batuque
sincopado dos cordões); a presença de mestres de canto ou de harmonia
era, assim, marca característica dos ranchos tendo em vista a necessidade
de ensaio mais estruturado para suas apresentações (...) as saiolas ou
pastoras, que dominavam o diapasão do canto e do desfile enquanto os
cordões, embora nem sempre excluíssem as mulheres, eram
predominantemente masculinos em suas saídas à rua (CUNHA, 2001, p.
152).
Os ranchos do Rio de Janeiro introduziram elementos visuais que viriam a
compor o repertório das escolas de samba. De acordo com a bibliografia
especializada sobre o carnaval carioca, os ranchos valorizavam o aspecto visual
no desenvolvimento do enredo na avenida. Além disso, essas agremiações se
preocupavam com a composição das alas, e, para manter tal organização dos
componentes, ensaios periódicos eram promovidos.
A composição dos ranchos carnavalescos cariocas se assemelhavam aos
cordões paulistanos. Em 1914, na cidade de São Paulo se organizou o primeiro
cordão carnavalesco. Embora batizado com o nome de seu bairro de origem, o
cordão da Barra Funda ganhou notoriedade com o cognome Camisa Verde e
Branco. Em entrevista realizada nos anos 1970, Dionísio Barbosa, fundador do
24
SOIHET, Rachel. A subversão pelo riso: estudos sobre o carnaval carioca da Belle Époque aos
tempos de Vargas. Rio de Janeiro: EDUFU, 2008. p. 118.
15
grupo carnavalescos mais antigo da capital paulista, esteve no Rio de Janeiro por
motivos profissionais e em solo carioca conheceu um grupo de foliões ligados ao
rancho Flor do Abacate. De acordo com a historiadora Olga de Moraes Von
Simsom, “em sua temporada carioca, Dionísio frequentou as festas da Penha,
local de reunião dos sambistas (...). Assistiu também a desfiles de bandas
militares, então em voga, com fardas elaboradas, boa música e balizas
acrobáticos.”25 A moda dos cordões se espalhou pela cidade de São Paulo e em
1930, no bairro do Bixiga se organizou a agremiação rival chamada Vai-Vai. De
acordo com Olga Von Simsom, Os cordões carnavalescos tratavam-se de
organizações formadas pela população negra de São Paulo, pessoas que viviam
nas áreas mais afastadas do centro da cidade (VON SIMSOM, 2007, p. 99).
Os cordões paulistanos possuíam características bastante específicas em
sua forma musical e visual. Diferentemente do Rio de Janeiro, os cordões
paulistanos desfilavam ao som de uma marcha-rancho e a presença feminina se
tornou frequente a partir de 1921. No desfile, as canções eram executadas por
instrumentos de sopro e cordas com corais entoados por pastoras, apenas no final
do desfile passavam os instrumentos de percussão. O ritmo da marcha era
suavizado pelo coral melodioso das vozes femininas e, normalmente, cantavam
temas relacionados ao próprio grupo e ao bairro de pertencimento. No aspecto
visual, os cordões paulistanos não apresentavam um tema, um enredo, foi a partir
dos anos 1920 que alguns elementos se tornariam obrigatórios, como o Baliza e a
Rainha. O baliza possuía a função de proteger o grupo de foliões contra as
investidas de agremiações rivais. Com o passar dos anos surgiram outros
elementos derivados desses primeiros, o Contrabaliza era uma espécie de auxiliar
do Baliza. O elemento Rainha desdobrou-se em toda a Corte, assim, nos desfiles
poderiam ser encontrados Reis, Príncipes e Princesas.
No Rio de Janeiro, os ranchos normalmente recebiam nomes de flores –
Flor do Abacate, Lírio do Amor, Flor de Roma – e em pouco tempo passaram a
desfrutar de grande popularidade perante a imprensa, sendo considerados
25
VON SIMSOM, Olga R. de Moraes. Carnaval em branco e negro: carnaval paulistano 1914 1998. Editora da Unicamp, São Paulo; Editora da Universidade de São Paulo, Imprensa Oficial do
Estado de São Paulo, 2007. p. 105.
16
“cordões mais civilizados” (CUNHA, 2001, p. 152). Para Renata de Sá Gonçalves,
os ranchos podem ser compreendidos como organizações sociais e simbólicas
que expressam “a complexidade do processo de formação da cidade, das redes
de sociabilidade e de valores de ‘estilos de vida’ urbanos, nos quais os cronistas
desempenharam importante papel mediador.”26
Os ranchos aglutinaram os elementos de sofisticação visual das grandes
sociedades carnavalescas e amenizaram os fragmentos de uma cultura popular
rural associada ao jongo, aos cucumbis e a folia de reis. Elementos do “grande
carnaval e do pequeno carnaval” (QUEIROZ, 1999, p. 60) fundiram-se e foram
fundamentais para a futura organização das escolas de samba. De acordo com o
antropólogo Nilton Silva dos Santos, coube ao tenente Hilário Jovino o papel de
mediação:
(…) de intermediação entre atores, informação e valores no universo que
potencialmente se transformará em carnaval carioca, entre os salões
elegantes da Monarquia, a austeridade militar, os primeiros movimentos da
nascente República, o trabalho cotidiano dos negros recém-libertos, a folia
momesca das ruas e a religiosidade híbrida o candomblé e da festa da
27
Penha.
1. 2 Anos 1930 a 1950: as escolas de samba e as regras do jogo
Nos carnavais dos anos 1920 a cidade do Rio de Janeiro agregava diversas
formas de brincadeira. Durante o “tríduo momesco” aconteciam os bailes de
mascarados, o desfile do elegante corso na avenida Rio Branco, além da folia
comandada por cordões e ranchos carnavalescos nas ruas da capital fluminense.
Os dias de carnaval passaram por transformações mais perceptíveis a partir da
organização da primeira escola de samba em 1928. A Deixa Falar foi criada no
bairro Estácio de Sá por Ismael Silva, Bide, Armando Marçal, Heitor dos Prazeres,
26
GONÇALVES, Renata de Sá. Sociabilidades urbanas: cronistas e ranchos carnavalescos no Rio
de Janeiro. In: CAVALCANTI, Maria Laura V. de C.; GONÇALVES, José Reginaldo S. (orgs.). As
festas e os dias: ritos e sociabilidades festivas.Rio de Janeiro: Contracapa, 2009. p.76.
27
SANTOS, Nilton Silva dos. A arte do efêmero: carnavalescos e mediação cultural na cidade do
Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Apicuri, 2009. p. 52.
17
Mano Edgar, Mano Aurélio, Nilton Bastos, Baiaco e Brancura. Um ano depois, o
Bloco dos Arengueiros se tornou a Escola de Samba Estação Primeira de
Mangueira, com seus ilustres compositores, como Cartola, Nelson Cavaquinho,
Carlos Cachaça, Nelson Sargento, entre outros. Em 1935 Paulo Benjamin, o
“Paulo da Portela” organizou a Escola de Samba Portela, uma fusão dos blocos
Baianinha de Oswaldo Cruz e Quem Falam de Nós Come Mosca. Mas nos
registros portelenses a data de fundação da escola destaca o ano de 1923, uma
referência ao surgimento dos blocos precursores da escola.28
Para o jornalista Sérgio Cabral, não importa saber se os sambistas do
Estácio de Sá foram ou não pioneiros, mas o fato relevante diz respeito ao
ineditismo no uso da expressão escola de samba por parte da Deixa Falar.
Segundo o bamba Ismael Silva “não houve uma decisão de criar um novo tipo de
grupo carnavalesco chamado escola de samba. Fundaram mesmo foi um bloco
que recebeu o título de escola de samba” (CABRAL, 1974, p. 22). Assim, os
blocos carnavalescos se transformavam em escolas de samba extraindo dos
ranchos a organização em alas, a obediência temática, os elementos alegóricos, o
abre-alas, o casal de mestre-sala e porta-estandarte. No início dos anos 1970, em
entrevista à antropóloga Maria Julia Goldwasser, Cartola, um dos mais ilustres
fundadores da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, assim definiu a
relação dos ranchos com as escolas de samba.
As escolas de samba são a continuação dos ranchos. Os ranchos [eram]
do ritmo mais moderado, a Escola de Samba com o ritmo mais alterado,
pouca coisa mais alterado. Os ranchos traziam, vamos dizer, traziam uma
orquestra: traziam surdo, cavaquinho, violão. As escolas de samba então
surgiram com violão, cavaquinho pandeiro, tamborim, com ritmo um pouco
mais acelerado. E, nesse ritmo um pouco mais acelerado, então, vinham
as pastoras imitando como eram os ranchos. Porque os ranchos eram
sandálias e castanholas. É! Castanholas! Foram abolidas as castanholas,
29
tiravam os instrumentos de sopro que tinham os ranchos.
28
DINIZ. André. Almanaque do carnaval: a história do carnaval, o que ouvir, o que ler, onde
curtir. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2007. p. 68
29
GOLDWASSER, Maria Julia. O palácio do samba: estudo antropológico da Escola de Samba
Estação Primeira de Mangueira. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1975. p. 21.
18
Pelas considerações de Cartola, as escolas de samba do Rio de Janeiro
encontraram sua definição estética nos ranchos carnavalescos e viriam a formular
seu estilo musical a partir da construção do samba. Para Hermano Vianna, longe
de uma criação restrita ao mundo afrodescendente carioca ou dos frequentadores
das festas da tia Ciata,30 o samba se definiu num processo de mediação e
negociação entre vários grupos sócio-culturais do Rio de Janeiro. Vianna nos
explicou que “o popular se constitui em processos híbridos e complexos, usando
como signos de identificação elementos precedentes de diversas classes e
nações.”31
Nos anos 1930 a Escola de Samba Portela inaugurou a prática de desfilar
com um enredo, alas temáticas, fantasias e alegorias. Essa inovação foi proposta
por Antonio Caetano, considerado por alguns pesquisadores, um primeiro
carnavalesco e responsável pela criação do símbolo da escola, a águia (DINIZ,
2007, p. 68). Em 1932 o jornal Mundo Esportivo tomou a iniciativa de criar o
primeiro concurso entre as escolas de samba na Praça Onze de Junho. Walnice
Galvão assim definiu a importância desse espaço como ponto de encontro dos
múltiplos espaços que delimitavam a “geografia do samba” carioca:
A Praça Onze era o coração de um trecho do centro da
cidade formada pelo Morro da Favela, Morro de São Carlos,
Rio Comprido, Catumbi, Cidade Nova, Estácio de Sá,
Gamboa, Santo Cristo, todos os bairros ocupados por
comunidades negras. Graças a sua localização, a praça
também era de fácil acesso para os moradores dos morros e
dos subúrbios da Zona Norte, porque ficava ao lado da
estação da Estrada de Ferro Central do Brasil, até hoje
30
“(...) Nascida em Salvador em 1854 no dia de Santo Hilário, no mesmo dia que Hilário Jovino,
razão pela qual se tratavam nas rodas de “xará” quando nas boas, é feita no santo ainda
adolescente. Muito moça, do namoro com um conterrâneo, Norberto da Rocha Guimarães, nasce
Isabel, provavelmente ainda em Salvador em meio às primeiras experiências da vida adulta,
quando já conhecida por Ciata, apelido com que se celebrizaria mais tarde na colônia baiana do
Rio de Janeiro”. (...) “Além da venda dos doces, Ciata passa também a alugar roupas de baiana
feitas pelas negras com requinte para os teatros, e no Carnaval para as cocotes chiques saírem
nos Democráticos, Tenentes e Fenianos, as associações carnavalescas da pequena classe média
carioca. Mesmo homens, gente graúda, iam se vestir de baiana, liberdades que se permitiam os
másculos rapazes da época nos festejos momescos”. MOURA, Roberto. Tia Ciata e a pequena
África no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, 1995. p. 97 e 100.
31
VIANNA, Hermano. O mistério do samba. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor/Editora UFRJ,
2007. p. 35.
19
transporte vital para pobres daquela que foi a maior
concentração negra fora da África. Era na Praça Onze que o
ovo brincava o Carnaval, enquanto os brancos ocupavam as
avenidas centrais.32.
Nos anos 1930, o carnaval carioca passou a ser organizado pelo poder
público. Em 1937 o então presidente da República Getúlio Vargas decretou: todas
as escolas de samba deveriam apresentar um enredo de caráter “histórico,
didático e patriótico.”33 Para Claudia Matos, a presença da censura do Estado
Novo de Vargas acabou por modificar o gênero musical samba. A figura do
malandro deixou de figurar entre os temas preferenciais dos compositores, sendo
substituída pelo operário/trabalhador. Segundo Matos, a censura imposta pelo DIP
(Departamento de Imprensa e Propaganda) não modificou apenas os temas
abordados pelos sambistas, mas foi responsável pelo surgimento de outros
gêneros de samba: o samba-canção, o samba-choro e o samba-de-breque.
Assim, “(...) começam a tomar forma mais ou menos definida três grandes veios
temáticos e estilísticos na produção dos sambas: o lírico-amoroso, o apologéticonacionalista, e (...) o samba malandro” (MATOS, 1982, p. 45).
Com a destruição da Praça Onze de Junho, em 1943 o desfile das escolas
de samba do Rio de Janeiro foi transferido para a Avenida Rio Branco. Nesse
período, as agremiações não desfilavam com apenas um samba, elas executavam
diversas composições durante o trajeto momesco. Em 1952 passou a existir
quesitos mais definidos para o concurso carnavalesco, entre eles estavam o de
samba de enredo. Assim, as escolas de samba deixaram de apresentar pequenos
sambas e inaugurou-se a fase do samba-lençol.34 Para os pesquisadores Alberto
Mussa e Luiz Antônio Simas, o samba enredo composto por Silas de Oliveira para
a Império Serrano do ano de 1951 marcou o início do “período clássico” dos
samba enredo.
32
GALVÃO, Walnice Nogueira. Ao som do samba: uma leitura do carnaval carioca. São Paulo:
Editora Fundação Perseu Abramo, 2009. p. 40.
33
MATOS, Claudia. Acertei no milhar: malandragem e samba no tempo de Getúlio. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1982. p. 88.
34
Samba-lençol consiste num estilo de samba de enredo que procura narrar todas os elementos
estéticos do desfile. Este tipo de samba busca “cobrir” - como um lençol - todas as alas da escola
de samba.
20
Sessenta e um anos de República marca uma nova fase na história. A
partir dele passa ser impossível confundir samba enredo com qualquer
outro gênero de samba. (...) no período clássico o samba de enredo se
caracterizou por melodias solenes, por jogos rítmicos freqüentes (às vezes
fazendo a sílaba tônica não coincidir com o acento musical, o que aumenta
o efeito da sincopa) e por um vocabulário sofisticado, que se afastava
35
definitivamente da linguagem popular.
1. 3 Anos 1960 a 2005: a ‘revolução espetacular’ a construção da ‘cidade do
samba’
No fim dos anos 1950 a escola de samba Acadêmicos do Salgueiro
promoveu mudanças estéticas significativas ao incorporar um casal de
admiradores da cultura popular, Dirceu e Marie Louise Nery em 1959. O
pesquisador salguerense Haroldo Costa relatou que a entrada dos aderecistas
aconteceu “por acaso”, intermediado por um parente da esposa de um dos
dirigentes da escola. O parente em questão tratava-se de uma prima contratada
como empregada doméstica pelo casal Nery. Assim, aconteceu o encontro de
Dirceu e Marie Louise com o presidente da escola de samba que se juntaram ao
artista Hildebrando Moura, colaborador da escola desde 1954.36 O enredo
desenvolvido pelos artistas recém chegados recebeu o nome de “viagem pitoresca
ao Brasil”, título de um dos livros que Jean-Baptiste Debret escreveu sobre sua
passagem ao Brasil entre os anos 1834 e 1839.
O Salgueiro ficou em segundo lugar, perdeu o título para a Portela que
obteve um ponto a mais no quesito “escultura e riqueza” (COSTA, 1984, p. 89). O
jurado desse quesito nessa ocasião era Fernando Pamplona, artista plástico e
aluno da Escola de Belas Artes, responsável pela decoração do tradicional baile
de carnaval do Teatro Municipal em 1958. No carnaval de 1959, Arlindo Rodrigues
35
MUSSA, Alberto; SIMAS, Luiz Antonio. Samba de enredo: história e arte. Rio de Janeiro:
Civilização brasileira, 2010. p. 56. Para os pesquisadores, os sambas enredo do carnaval carioca
podem ser pensados em períodos: ‘Morro e Asfalto’ (1870-1932); ‘Formação’ (1933-1950)
subdivido em ‘Malandro regenerado’ (1933-1942), ‘Carnavais da guerra e de vitórias’ (1943-1946)
e ‘As primeiras obras-primas’ (1947-1950); ‘Período clássico’ (1951-1968); ‘Época de ouro’ (19691989); ‘Encruzilhada’ (1990-2000).
36
COSTA, Haroldo. Salgueiro: academia do samba. Rio de Janeiro: Record, 1984. p. 86.
21
foi selecionado para realizar a decoração do baile do Teatro Municipal, dessa
forma, Pamplona, sem trabalho em vista, aceitou fazer parte da comissão
julgadora do desfile das escolas de samba, convidado pelo amigo Miécio Tati
(COSTA, 1984, p. 91).
Depois de concluída a apuração do desfile de 1959, o presidente do
Salgueiro, procurou o jurado responsável pelo segundo lugar da escola vermelha
e branca e se dirigiu ao teatro Municipal para localizar o cenógrafo Fernando
Pamplona. De acordo com Haroldo Costa, aconteceu um primeiro encontro onde o
presidente da agremiação presenteou o aderecista com um retrato de Debret, uma
réplica que havia sido usado em um dos carros alegóricos da escola de samba.
Poucos dias depois, o presidente da escola retornou ao Teatro Municipal e
perguntou objetivamente se Fernando Pamplona gostaria de “fazer o carnaval” do
Salgueiro. O convite foi aceito e o artista deixou claro seu desejo de formar uma
equipe com outros dois colegas da Escola de Belas Artes, Arlindo Rodrigues e
Nilton Sá. O presidente da escola de samba, Nelson Andrade, por sua vez, insistiu
na permanência do casal Dirceu e Marie Louise Nery, estava formado o “quinteto
infernal” (COSTA, 1984, p. 93).
No início dos anos 1960, a Acadêmicos do Salgueiro passou a desenvolver
enredos afro-brasileiros.37 Assim, de acordo com Haroldo Costa, “o negro seria
protagonista da sua própria história, ao invés de ficar fazendo mera figuração ou
personalizando figuras que nada tinham a ver consigo” (COSTA, 1984, p. 93). No
entanto, Maria Laura Cavalcanti e Helenise Guimarães, concluíram que as
modificações propostas pelos artistas da Escola de Belas Artes não se
manifestaram apenas nos conteúdos dos enredos. Para estas pesquisadoras, os
artistas inseriram uma “visão cenográfica, coreográfica e cromática”38 nas escolas
de samba. Assim, o processo de incorporação dos alunos da Escola de Belas
37
1960: Quilombo dos Palmares; 1961: Aleijadinho; 1962: Chico-Rei de Ouro Preto; 1963: Chica
da Silva (campeã). AUGRAS, Monique. O Brasil do samba-enredo. Rio de Janeiro: Editora
FGV,1998.
38
GUIMARÃES. apud. SANTOS. op. cit. p. 55.
22
Artes no Salgueiro passou a ser definido pela crônica carnavalesca carioca como
uma revolução.39
A antropóloga Maria Laura Cavalcanti definiu esses personagens, os
carnavalescos, como elementos mediadores, conforme o historiador Michel
Volvelle: “personagens que, na dialética entre cultura erudita e popular transitam
entre meios culturais distintos, ocupando inevitavelmente posições ambíguas.”40
Ainda sobre as mediações, Gilberto Velho destacou o papel dos indivíduos e seu
trânsito em múltiplos mundos sócio-culturais nas metrópoles:
Os indivíduos, especialmente em meio metropolitano, estão
potencialmente expostos a experiências muito diferenciadas, na medida
em que se deslocam e têm contato com universos sociológicos, estilos de
vida e modos de percepção da realidade distintos e mesmo contrastantes.
Ora, certos indivíduos mais do que outros não só fazem esse trânsito, mas
desempenham o papel de mediadores entre diferentes mundos, estilos de
vida e experiências. Pelas próprias circunstâncias da vida na sociedade
contemporânea, alta proporção de indivíduos transita, inevitavelmente por
41
diferentes grupos e domínio sociais.
Nos anos 1970 e 1980 o carnaval carioca passou por significativas
transformações, os carnavalescos passaram a ocupar a posição dos diretores de
harmonia que, até então, eram os responsáveis pela produção do desfile das
agremiações carnavalescas. Nessa conjuntura, um personagem importante
merece destaque: o carnavalesco Joãozinho Trinta. Ele estabeleceu novos
critérios visuais para as escolas de samba a partir de seus trabalhos na Beija Flor
e acabou por ressaltar a polêmica “primazia do visual”. De acordo com Maria
Laura Cavalcanti, todas as escolas de samba acabaram por assumir o estilo
“carnaval espetáculo.”42 Apesar disso, o trabalho comunitário das escolas de
samba não deixou de existir e coexistir com formas profissionais de produção.
Nilton Santos ressaltou a figura do carnavalesco como mediador desse universo
39
CAVALCANTI, Maria Laura V. de C. Carnaval carioca: dos bastidores ao desfile. Rio de
Janeiro: Editora UFRJ, 1995.p. 55.
40
VOLVELLE, Michel. Ideologias e mentalidades. Rio de Janeiro: Brasiliense, 2009. p.214.
41
VELHO, Gilberto. Biografia, trajetória e mediação. In: KUSCHNIR, Karina; VELHO, Gilberto
(orgs.) Mediação, cultura e política. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2001.p. 20.
42
CAVALCANTI, Maria Laura V. de C. Festa e contravenção: os bicheiros no carnaval do Rio de
Janeiro. In: CAVALCANTI, Maria Laura V. de C.; GONÇALVES, Renata (orgs.). Carnaval em
múltiplos planos. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2009. p. 113.
23
envolvido por paixões e emoções, e ao mesmo tempo, busca de resultados
vitoriosos na avenida. Segundo este pesquisador, o carnavalesco não deve ser
compreendido como um profissional dotado de uma racionalidade meramente
utilitária, o carnavalesco precisa transitar por mecanismos “pessoais, patronais e
burocráticos, um mediador por excelência.” (SANTOS, 2009, p. 45).
Outra referência importante no contexto do carnaval carioca dos anos 1970
foi a criação da Riotur – Empresa de Turismo do Rio de Janeiro. Em 1975, quatro
anos após sua fundação, as escolas deixaram de receber a habitual subvenção e
passaram a assinar um contrato de prestação de serviços (CAVALCANTI, 1995, p.
27). O crescente interesse comercial pelo desfile carnavalesco também pode ser
observado no interesse da gravadora Som Livre e na transmissão do carnaval
carioca através da Rede Globo. Os direitos de exibição do desfile das escolas de
samba do Rio de Janeiro foi negociado em 1983 entre a Rede Globo e Associação
das Escolas de Samba, entidade organizada nesse mesmo ano. Em 1984, a
cidade do Rio de Janeiro passou a ter um espaço exclusivo para a realização do
desfile das escolas de samba: o sambódromo. O projeto, assinado pelo importante
arquiteto Oscar Niemeyer, foi concluído num tempo recorde de quatro meses. O
sambódromo não apenas ressaltou o potencial turístico do carnaval carioca, como
expressa qualidades simbólicas, conforme ressaltou Maria Laura Cavalcanti:
A Passarela é a consagração de uma rua para o desfile. Consagração no
sentido de atribuição permanente a uma rua de uma qualidade especial, o
reconhecimento público do valor social e turístico dos desfiles para a vida
da cidade. A passarela consagra o desfile destinado a ele uma rua
localizada no centro da cidade. Ressalto ainda o sentido simbólico dessa
localização central. As escolas enraizaram-se predominantemente nos
bairros periféricos do Rio. Desfilar no carnaval sempre foi apresentar-se
num local prestigiado, tornar-se dessa forma visível, e admirado, se
possível, por toda a cidade. (CAVALCANTI, 1995, p. 29 e 30).
Imediatamente um ano após a construção do espaço, um grupo composto
por dez tradicionais escolas de samba abandonou a Associação para criar a Liga
das Escolas de Samba (LIESA) que passou a organizar o carnaval em parceria
com a Riotur. De acordo com as pesquisas de Cavalcanti, “entre os idealizadores
e representantes de escolas filiadas, a Liga reunia a cúpula do jogo do bicho no
Rio de Janeiro” (CAVALCANTI, 1995, p. 28). Assim, os bicheiros saíram das
24
margens para assumir lugar central na organização do carnaval carioca, se
estabelecem como gestores do dinheiro público, pois a distribuição dos recursos
acontece através da Liga Independente das Escolas de Samba – administrada
pelos transgressores da lei. Esta pesquisadora compreende a presença dos
bicheiros do carnaval carioca na Liga como elementos poluidores não apenas
como uma inversão temporária, ritual. Para Maria Laura Cavalcanti, “a
contravenção assume oficialmente o comando da principal festa da cidade”
(CAVALCANTI, 2009, p. 114).
Em 2003 as obras do complexo da Cidade do Samba, no bairro da Gamboa
tiveram início, mas os barracões ficaram prontos apenas em 2005. A prefeitura do
Rio de Janeiro construiu quatorze galpões, com sete mil metros quadrados e
dezenove metros de altura a serem ocupados pelas principais agremiações do
carnaval carioca. O espaço da Cidade do Samba é inteiramente dedicado à
produção do carnaval das escolas de samba do grupo especial. Além disso, a
Cidade do Samba pode ser compreendida como “um marco na organização social
e simbólica do desfile das escolas de samba cariocas.”43
Conforme procuramos demonstrar, o modelo carioca de escolas de samba
não se apresenta como uma forma estática, pelo contrário, esteve sempre (e
continua) em transformação. Desde a revolução nos anos 1960 passando pela
construção do sambódromo em 1984, chegando a construção da Cidade do
Samba em 2005, o carnaval carioca continua a apresentar sua natureza mutante,
conforme observou Maria Laura Cavalcanti:
Nunca houve uma forma escola de samba pronta, que tivesse sua
natureza originariamente instituída e, a partir de então, modificada por
elementos exógenos. A adoção de elementos formais dos ranchos e das
grandes sociedades, que participa da configuração das escolas de samba,
corresponde a um processo de interação entre diferentes camadas sociais.
(...) As escolas de samba acompanharam o seu tempo. Sua vitalidade
como fenômeno cultural reside na vasta rede de reciprocidade que elas
souberam articular, em sua extraordinária capacidade de absorção de
elementos e inovação (CAVALCANTI, 1995, p. 25).
43
BARBIERI, Ricardo José de Oliveira. Cidade do samba: do barracão das escolas às fábricas de
carnaval. In: CAVALCANTI; GONÇALVES. (orgs.) op. cit. p. 125.
25
No sul do Brasil, as escolas de samba do Rio de Janeiro inspiraram os
foliões a transformarem seus blocos e cordões em agremiações similares às da
ex-capital do país. Durante os anos de Colônia e Império as cidades de Porto
Alegre,44 Florianópolis45 e Curitiba passaram a organizar os bailes de mascarados
e o corso no início do século XX. Os modismos da corte carioca se fizeram
presentes nessas cidades e agregavam as camadas sociais privilegiadas, as
brincadeiras consideradas grosserias típicas do entrudo resistiram até fins do
século XIX. Mas essas manifestações desapareceram por completo e o espaço
da folia passou a ser ocupado por atividades organizadas pelas grandes
sociedades
carnavalescas.
Assim, no início do século XX os carnavais das
principais cidades do sul do país seguiam um padrão europeu, com bailes de
mascarados
44
nos
clubes
e
o
desfile
do
corso.
Sobre o carnaval de Porto Alegre ver em: GERMANO, Iris; KRAWCZYK, Flavio; POSSAMAI,
Zita. Carnavais de Porto Alegre. Porto Alegre: Secretaria Municipal de Cultura, 1992.
GUTERRES, Liliane S. Memória do carnaval do bairro Santana. Porto Alegre: Unidade Editorial
– Secretaria Municipal de Cultural, 2004. LAZZARI, Alexandre. Coisas para o povo não fazer:
carnaval de Porto Alegre (1870-1915). Campinas, SP: Editora da Unicamp – Cecult, 2001. PRASS,
Luciana. Saberes musicais em uma bateria de escola de samba: uma etnografia entre os
Bambas da Orgia. Porto Alegre: Editora UFRGS, 2004.
45
Cf. TRAMONTE, Cristiana. O Samba conquista passagem: estratégias e a ação educativa das
escolas de samba. Florianópolis: Diálogo, 1996.
26
2 .O CORSO, OS BAILES E OS BLOCOS:
O CARNAVAL NA RUA XV DE NOVEMBRO
2. 1 O “primeiro carnaval” de Curitiba: bailes e corso
No fim do século XIX até meados do século XX os foliões em Curitiba
desfrutavam os dias de carnaval nos clubes sociais e no centro da cidade, na rua XV de
Novembro. Esse “primeiro carnaval” de Curitiba pode ser compreendido a partir de
espaços e manifestações coexistentes: nos salões dos clubes aconteciam os bailes de
mascarados e na rua desfilavam o corso e os foliões em blocos carnavalescos. Ainda
em meados do século XIX, a maneira preferencial de aproveitar o “tríduo momesco”
acontecia dentro de clubes e salões com os bailes de mascarados. Com o passar do
tempo, os foliões passaram a se vestir com roupas iguais e organizar os blocos –
também chamados de cordões carnavalescos – passaram a prolongar a festa dos
clubes até a rua XV de Novembro. Nesse “primeiro carnaval” os foliões saíam dos
clubes e levavam a folia carnavalesca para a região central de Curitiba ao som de
batuques de “Zé-Pereiras” tomando as ruas de confete e serpentina.
Antes desse “primeiro carnaval”, como acontecia em outras cidades do país,
acontecia em Curitiba uma forma de brincadeira baseada em verdadeiras guerras de
“limão de cheiro” ou “laranjinha” nas ruas do centro da cidade. A festa do entrudo foi
duramente reprimida pelas autoridades coloniais, no entanto levou muitos anos para
desaparecer por completo. O entrudo tinha inspiração portuguesa e nenhum
planejamento, as pessoas não se organizavam em blocos nem usavam fantasias,
apenas passavam o carnaval atirando todo o tipo de líquido uns nos outros durante os
dias de festa.
Para o pesquisador Felipe Ferreira o entrudo pode ser definido como a
manifestação do “primeiro carnaval brasileiro” (FERREIRA, 2004, p. 80). Aos poucos, o
entrudo deixou as ruas do Rio de Janeiro para ganhar as principais cidades do país a
partir do século XVII. A brincadeira anárquica era compreendida pelas autoridades
policias como uma forma de diversão violenta e extremamente agressiva aos foliões.
Das sacadas dos casarões do Rio de Janeiro, as pessoas se divertiam pra valer
27
quando acertavam em cheio os caminhantes nas ruas. Muitas vezes os passantes
recebiam em suas cabeças não apenas os “limões de cheiro”, eram comuns serem
molhados com urina e diversos tipos de resíduos domésticos.
Assim como ocorria na capital do Reino Unido de Portugal e Algarves, as
autoridades de todas as regiões do país reprimiam a anarquia promovida pelo entrudo
durante o carnaval. Em Curitiba, uma declaração assinada em 14 de fevereiro de 1868
pelo secretário de polícia João Ricardo Guimarães foi publicada no jornal 19 de
Dezembro e recomendava aos foliões:
A fiel observância do art. 86 da lei n º 79 de 11 de junho de 1861, que proíbe a
venda de “limão de cheiro” pelo Entrudo, assim como os mais jogos destes,
declarando que os contraventores serão punidos com as penas do mesmo artigo
46
e nas mais que porventura incorrerem.
Pelas informações obtidas, a superação da brincadeira selvagem em Curitiba
coincide com a emancipação política do estado do Paraná, decretada por D. Pedro II
em 29 de agosto de 1853. A partir da organização do novo estado brasileiro, a cidade
de Curitiba se tornou capital, e enquanto centro político-administrativo procurou
acompanhar os modismos da sede do Império. Em Curitiba, assim como no Rio de
Janeiro, as brincadeiras de carnaval passaram a ser identificados a uma tendência à
sofisticação inspirada nos bailes da França e nas brincadeiras italianas. A exclusão do
entrudo significou a formação de outras maneiras de brincar o carnaval, principalmente
o aparecimento dos bailes de mascarados nos diversos clubes sociais da cidade de
Curitiba.
Escrevendo sobre os carnavais antigos da nossa urbe nata, registramos que
neles imperava o entrudo desabrido, entrando em cena os limões, os baldes e
até as pipas de água. Assim foram as farras enaltecedoras de Momo aqui
realizadas de 1853 a 1862. (...) Depois de nossa emancipação política, foi que se
fundou em junho de 54, a primeira agremiação dançante de Curitiba – a
“Harmonia”, sociedade de grã-finos (NAROZNIAK, 1974, p.11).
Para definir o “primeiro carnaval” de Curitiba – posterior as manifestações
conhecidas como o entrudo – selecionamos como referência o primeiro baile
46
SAMMUT, Sabine. Este carnaval de tanta história. O Diário do Paraná. 08 de fevereiro de 1970. In:
NAROZNIAK, Jorge. (org.) Nem que me mordas: pequena história do carnaval de Curitiba. Curitiba:
Edições Paiol, 1974. p. 36.
28
carnavalesco registrado pela imprensa curitibana. De acordo com o jornal O Dia o
primeiro baile de mascarados aconteceu no sábado de Aleluia dia 27 de fevereiro de
1854. O evento aconteceu no Teatro de Curitiba na rua Direita, ou rua dos Alemães – a
atual rua 13 de Maio. De acordo com o jornal, o baile foi “alegrado por uma boa
orquestra, pondo termo as danças um vertiginoso Galope Infernal” (NAROZNIAK, 1974,
p. 11). A inspiração se originou dos bailes à fantasia animados por grandes orquestras,
principalmente em Paris, pois, na década de 1830 os bailes mais populares da capital
francesa aconteciam na Ópera de Paris. As “danças indecentes” causavam horror nas
autoridades locais, mas mesmo com a desaprovação, a fama desses espetáculos
apenas cresceu. Em pouco tempo, o formato proposto pela Ópera de Paris se tornou o
modelo para diversos teatros da cidade. De acordo com Felipe Ferreira, a verdadeira
revolução carnavalesca aconteceria em 1839, com o maestro Philippe Musard.
Dotado de um grande senso de espetáculo, o maestro alternava, em seus bailes,
trechos musicais sérios com outros dançantes, eliminando os bailados. A fórmula
agradaria profundamente ao público ávido de novidade, que, em delírio,
superlotava o salão. Os bailes promovidos pelo maestro terminavam sempre com
um acontecimento espetacular: Musard subia à cena para a orquestra e, como
sinal para o grand finale, quebrava uma cadeira no palco e começava a reger
uma música acelerada, que logo ficaria conhecida como “o galope infernal”. Os
pares lançavam-se furiosamente à dança agitada ao redor do salão, até a
exaustão. Em pouco tempo, esta fórmula de sucesso seria copiada em muitos
bailes carnavalescos não só em Paris, mas em várias das mais importantes
cidades do mundo (FERREIRA, 2001, p.109)
Os bailes animados nos clubes sociais presenciaram o aparecimento das
grandes sociedades carnavalescas, no entanto, são escassos os registros desses
grupos pioneiros em Curitiba. Em 1868 o jornal 19 de Dezembro registra o Bando
Carnavalesco do Mahomet como sendo um do bloco dos tempos do entrudo (SAMMUT,
1974, p. 34). Os Títeres do Diabo e os Bohêmios surgiram nessa mesma época e foram
apresentados em 1875 pelo mesmo periódico curitibano. A historiadora Roselys
Velllozo Roderjan ressaltou a importância das sociedades carnavalescas para a cena
musical paranaense e relembrou que antes das marchinhas e dos sambas de enredo,
os carnavais curitibanos eram animados por maestros paranaenses:
Os títeres do diabo, de camiseta vermelha e os bohêmios, de casaca, foram
talvez as nossas primeiras sociedades carnavalescas. Rivais, acabaram num
29
entrevero funesto. Havia pilhas de pedras tijolos. A pugna em lugar tão propício
foi renhida e contundente, enquanto as respectivas bandas musicais, regidas
pelos maestros Décio Mesquita e Generoso dos Santos, furiosamente
resfolegavam marchas guerreiras, concitando os lutadores à vitória. Os Puritanos
na primeira fase, também fizeram época: deram a Curitiba os mais luxuosos e
estrondosos carnavais, à sombra do estandarte vermelho e preto, ao som de seu
hino vibrante, a música do mestre Clarimundo José da Silva:
Nas ameias do riso flutua
Invencível nosso pendão;
Se sairmos com momo na rua
São só louros que temos na mão.
Nós somos os Puritanos
Guapo clube sem rival
E reinamos soberanos
47
Nas festas de carnaval
As primeiras grandes sociedades carnavalescas de Curitiba ainda contavam com
Puritanos e em 1932 verificamos a existência de registros de um outro grupo
carnavalesco, eram os Nihilistas do Averno, uma sociedade de jovens associados ao
Clube Curitibano. (SAMMUT, 1974, p. 36). Os membros das primeiras sociedades se
organizavam para desfilar nas ruas com seus blocos ou cordões carnavalescos, assim
como ocorria em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo (QUEIROZ, 1999, p. 60).
As grandes sociedades carnavalescas eram responsáveis pela organização dos
bailes de máscaras e pela promoção dos desfiles de carros alegóricos, o corso nas
avenidas principais da cidade, Maria Isaura Queiroz definiu essas manifestações
carnavalescas como o Grande Carnaval.48 A maioria dos organizadores pertenciam a
famílias abastadas e mantinham contato com os comerciantes locais que patrocinavam
a execução dos carros alegóricos através da assinatura no “livro de ouro”. No desfile,
47
RODERJAN, Roselys V. O paranaense e os carnavais. In: NAROZNIAK. op. cit. p. 41.
Para as historiadoras Rachel Soihet e Maria Clementina Pereira da Cunha a dicotomia Pequeno e
Grande Carnaval apresenta falhas na medida que os ambientes urbanos apresentam fronteiras porosas e
permitem o contato entre diferentes universos sócio-culturais. Mesmo passível de críticas, os pioneiros
trabalhos de Maria Isaura Queiroz continuam sendo fundamentais para as pesquisas sobre o carnaval
brasileiro. Para esta socióloga, o carnaval brasileiro passou por três fases: primeiro carnaval, com nas
brincadeiras molhadas do Entrudo; depois, ocorreu a consolidação de um tipo de carnaval elitizado,
branco e inspirado no modelo europeu, o chamado Grande Carnaval. Mais tarde, as camadas menos
favorecidas das grandes cidades brasileiras passaram a ocupar o espaço central das festas
carnavalescas com os cordões e ranchos – o Pequeno Carnaval – embrião das escolas de samba.
QUEIROZ. op. cit. p. 59. Sobre a formação do samba no Rio de Janeiro ver em: MOURA, Roberto. Tia
Ciata e a pequena África no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, 1995.
______ . No princípio, era a roda: um estudo sobre samba, partido-alto e outros pagodes. Rio de
Janeiro: Rocco, 2004. VIANNA, Hermano. O mistério do samba. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Editor/Editora UFRJ, 2007.
48
30
o povo vinha atrás dos carros abertos, todos ricamente enfeitados de flores naturais ou
artificiais, confetes e serpentinas. Muitas vezes os foliões precisavam ceder espaço aos
varredores de rua para a retirada dos excessos das munições de papel espalhado pelo
chão.
Além dessas “munições”, o lança-perfume era item obrigatório nos festejos
carnavalescos.
No início do século XX o carnaval da capital paranaense alterava a rotina dos
moradores da pacata cidade. Em 1900, os jornais de Curitiba anunciavam que nos dias
25, 26 e 27 de fevereiro “os bondes, em todas as linhas, alterariam seus horários de
funcionamento até à uma hora da madrugada para que grupos de jovens, cantando o
‘Zé Pereira’, saíssem às ruas, em carros abertos, muitas vezes acompanhados de
bandas de música.”49 Naquele mesmo ano de 1900 foram encontradas informações
sobre o grupo dos Puritanos. Eles trabalharam arduamente até as altas horas da noite
para ostentar carros alegóricos na rua XV de Novembro, conforme anunciava o Diário
da Tarde: “o préstito do grupo contará de 12 a 15 carros entre críticas e alegorias,
bandas de clarins, música montada, valente e interessante guarda de honra e inúmeros
carros descobertos com sócios fantasiados”. (SAMMUT, 1974, p.36).
Carnaval de 1912, na rua XV de novembro, a passagem do corso. Observadores nas sacadas e na
calçada, separados por um cordão vigiado por força policial. Acervo: Casa da Memória. Direitos de uso
da imagem cedido pela FCC.
A partir das informações obtidas, podemos afirmar que a organização do corso
em Curitiba era um evento de responsabilidade das grandes sociedades carnavalescas
e das famílias de associados dos clubes sociais da cidade. Em seus primeiros anos, o
49
Nos velhos carnavais, o corso era o ponto alto em Curitiba. Gazeta do Povo. 10 de fevereiro de 1980.
31
corso era composto por charretes, os cavalos que puxavam as alegorias “eram
alugados nas cocheiras de Rua Ébano Pereira, onde os senhores Meneguito e Forbeck
possuíam um belo estoque de cavalos para puxar os veículos ricamente ornamentados
com flores e papel crepom” (SAMMUT, 1974, p. 36). Em 1919 encontramos um registro
que aponta para um aumento significativo de automóveis participantes no corso, um
folião contou as alegorias, foram 623, ao todo. Sendo 573 automóveis, 39 autocaminhões e 11 carrocinhas. (SAMMUT, 1974, p. 36).
Os grupos responsáveis pela elaboração dos temas dos carros eram pessoas
envolvidas com as atividades comerciais ou industriais da cidade, e a montagem dos
carros alegóricos contava apenas com a ajuda de comerciantes locais, a prefeitura não
cedia verba para a execução das alegorias. Entre os organizadores do desfile
carnavalesco na rua XV de Novembro, destacava-se a família Reis conforme relembrou
em 1993 o jornalista Cid Destefani:
O velho João Reis e seus filhos, Cláudio, Moacir, Raul, Dionéia e Iná preparavam
a folia num velho barracão situado a rua Cândido de Abreu (...), este local era
chamado de ‘a caverna do diabo’ onde eram montados os carros, adrede
desenhados pelo velho João Reis em alguma mesa do Londres Bar, que ficava
nas esquinas da Rua Barão com a Quinze e era de propriedade de outro
carnavalesco, seu filho Hermógenes. Durante a montagem das alegorias, oito,
dez ou mais carros, o clima era de festa, onde corria muita cerveja e opíparos
jantares dos quais sempre participavam os componentes da Associação dos
Cronistas Policiais que vinham dar uma força à família Reis. Faziam parte de uma
sociedade montada por Otacílio, a famosa “Kananga do Japão”. Por este motivo
50
era ele conhecido como “Lorde Kananga”, uma espécie de Rei Momo.
Cid Destefani considera dois momentos importantes para a história do carnaval
curitibano de corso da rua XV de Novembro. Para este jornalista, o corso começou a
adquirir uma maior visibilidade quando passou a satirizar personagens da política local.
Essa proposta carnavalesca se tornou evidente em 1915 quando o corso – o “Corso
Maldito”, como ficou conhecido – destacou as obras faraônicas do prefeito Cândido de
Abreu e do presidente de estado Carlos Cavalcanti. Em 1946, aconteceu o último
grande corso, no chamado “Carnaval da Vitória.”51 Essa maneira de brincar o carnaval,
satirizando os políticos, não era uma exclusividade da capital paranaense, no Rio de
50
51
DESTEFANI, Cid. Oh! Os bons carnavais. Gazeta do Povo. 21 de fevereiro de 1993.
DESTEFANI, Cid. Curitiba, carnaval babau. Gazeta do Povo. 10 de fevereiro de 1991.
32
Janeiro o corso da avenida Barão do Rio Branco também assumia um caráter político,
os assuntos sérios eram colocados com ares de brincadeira (FERREIRA, 2004, p. 201).
A festa começava bem antes do tríduo momesco, quando eram feitas as
montagens das alegorias num barracão que os Reis chamavam de ‘Caverna’. Na
semana anterior ao desfile era promovido um banquete na base da feijoada e
barreado e oferecido às autoridades e à imprensa, regada com muita cerveja,
52
conseguida gratuitamente nas fábricas Atlântica, Cruzeiro e Providência.
O corso atingiu seu auge nos anos 1930, quando ocorriam verdadeiros
congestionamentos e as ruas se transformavam em mares de confetes e serpentinas.
Essa atividade festiva coexistia com os bailes e com os blocos carnavalescos e, pelas
informações sugeridas, concentravam as camadas sociais privilegiadas de Curitiba. A
exibição das alegorias ocorria juntamente com a passagem dos blocos organizados
pelas sociedades carnavalescas.
Os espaços mais cobiçados para apreciar a passagem das belas alegorias do
corso eram sacadas dos prédios da rua XV de Novembro. As sacadas passaram a ser
alugadas e chegaram a se constituir como uma fonte de renda para seus moradores.
Com o passar dos anos, a própria prefeitura procurou lucrar com esse negócio, passou
a cobrar uma taxa sobre essa locação.53
Ao contrário de algumas cidades brasileiras, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto
54
Alegre, onde a folia de carnaval se espalhava por bairros, Curitiba concentrou a festa
momesca na região central. Não foram encontrados registros que indiquem a existência
de grupos carnavalescos espalhados pela cidade, das fontes escritas recuperadas,
apenas um pequeno trecho mencionou a vinda de blocos de bairros mais distantes de
Curitiba para o centro da cidade. Conforme o jornalista Cid Destefani, “(...) eram os
52
DESTEFANI, Cid. Velhos carnavais. Gazeta do Povo. 25 de fevereiro de 1990.
Nos velhos carnavais, o corso era o ponto alto em Curitiba. Gazeta do Povo. 10 de fevereiro de 1980.
54
“[Em Porto Alegre], os moradores agrupavam-se em comissões que organizavam vários elementos,
possibilitando a realização da folia. Era fundamental armar coretos, decorar as ruas, as músicas, a
iluminação e a distribuição de prêmios. Na década de trinta, há, além de um considerável número de
carnavais de rua pela cidade, uma infinidade de grupos carnavalescos. Se por um lado há grupos que
realizam corsos refinados com carros alegóricos, indicando sua melhor condição econômica, por outro
emerge uma grande quantidade de grupos que passaram a ser a marca registrada de um novo carnaval,
carregado de gingado, feito por negros, mulatos e brancos oriundos dos bairros e vilas mais populares,
mas também, me menor parte, de setores da classe média”. GERMANO; KRAWCZYK; POSSAMAI. op.
cit. p. 21.
53
33
foliões que se reuniam, vinte, trinta ou até mais, que escolhiam uma fantasia, se
uniformizavam e partiam para alegrar o carnaval de rua.”55
Ainda do século XIX os bailes carnavalescos eram realizados em praticamente
todos os clubes de Curitiba, no Clube Curitibano, na Sociedade Verein Thalia, no 14 de
Janeiro, no Clube dos Democráticos, no Cassino Curitibano, no Vítor Emanuel III, no
Elite Clube, no Clube XV de Novembro e no Teatro Hauer.56 Esses primeiros bailes de
mascarados eram animados por orquestras e executavam principalmente modinha,
valsa e polca. A partir de meados dos aos 1920 e 1930 o choro e as marchinhas de
carnaval se tornariam as principais trilhas sonoras das festividades nos clubes. Nos
espaços dos salões carnavalescos as fantasias eram obrigatórias para mulheres,
jovens e crianças. Os trajes mais comuns nos bailes da cidade eram os de pierrô,
colombina, cigano, tirolês, arlequim, cartomante, espanhola e marinheiro. Os homens
mais velhos poderiam dispensar a fantasia caso preferissem vestir-se com traje a rigor
completo. Nos bailes, os foliões estavam sempre preparados para as guerras de
confete e serpentina e o lança-perfume, itens essenciais para os foliões. Um
observador dos bailes de carnaval do Clube Curitibano realizado nos salões do Rink
Iracema e do Cine República definiu o evento “como um verdadeiro sucesso”:
As mulheres não podiam usar decotes muito reveladores e os homens poderiam
optar pelo traje a rigor completo. Nos bailes de carnaval o uso de roupas simples
e disfarces improvisados não eram bem vistos. Foi um carnaval fino e
aristocrático, que perdeu muito do seu aspecto pagão e rude para ganhar um
requinte de elegância e beleza. Senhoras da melhor sociedade exibiam as mais
ricas fantasias, evocando épocas passadas, países exóticos e longínquos
57
costumes tipicamente tradicionais.
A partir dos anos 1920 e 1930 aconteceu uma verdadeira explosão de bailes de
carnaval em Curitiba, diversos clubes passaram a organizar bailes carnavalescos na
cidade, entre eles, o Graciosa Country Club, o Coritiba Foot Ball Club, o Clube Atlético,
o Círculo Militar, o Selecto e o Concórdia. Nesse período, as atividades momescas
passaram a ser mais planejadas, surgiam os blocos carnavalescos. Os blocos se
55
DESTEFANI, Cid. Oh! Os bons carnavais. Gazeta do Povo. 21 de fevereiro de 1993.
DESTEFANI, Cid. Evoé! Evoé momo! O corso maldito de 1915. Gazeta do Povo. 10 de fevereiro de
1990.
57
GLUCK, Lúcia. O carnaval já foi assim. O Estado do Paraná. 25 de março de 1968. grifo meu.
56
34
formavam nos clubes e, geralmente, eram originários de grêmios de jovens já
existentes. O Grêmio das Violetas era uma associação exclusivamente feminina que
surgiu em 1894 no Clube Curitibano. As moças não se reuniam apenas no carnaval, de
acordo com Roselys Roderjan, o grupo durou por mais de setenta anos promovendo
uma série de atividades artísticas, especialmente recitais.58
Os festejos pré-carnavalescos iniciavam já nos meados de janeiro. Os grêmios
que reuniam os jovens da época programavam reuniões em casas de família
para tratar das fantasias planejavam as fantasias e se organizavam em blocos,
alguns deles com cinquenta casais. Desses grupos, os mais famosos, que reunia
muitos que hoje ocupam ou ocuparam cargos importantes na política e na
educação, foram o Grêmio do Buquet, o Grêmio das Violetas, o dos SírioLibaneses, dos Alemães, dos Italianos e dos Polacos. Geralmente as reuniões
acabavam num animado baile. Também as sociedades programavam matines
aos domingos e saraus aos sábados dentro do espírito carnavalesco (GLUCK,
1968).
Bloco das Violetas, vencedoras do primeiro prêmio do carnaval de 1916. Fonte: Boletim da Casa
Memória. Acervo: Casa da Memória. Direitos de uso da imagem cedido pela FCC.
58
RODERJAN, Roselys V. Aspectos da música no Paraná. In: Et. Al. História do Paraná. Curitiba,
Grafipar, 1969. v. 3. p. 179.
35
Bloco carnavalesco dos anos 1940, formado em sua maioria por casais. Fonte: NAROZNIAK, Jorge.
Nem que me mordas: pequena história do carnaval de Curitiba. Curitiba: Edições Paiol, 1974.
No período de carnaval, os clubes organizavam sua decoração e contratavam
orquestras para animar os foliões. “Os temas variavam entre Carnaval no Rio, Carnaval
na Holanda, quase sempre usando como centro os costumes e paisagens de um
determinado país ou localidade” (GLUCK, 1968). Nos anos 1940, os ainda pouco
conhecidos artistas Teodoro De Bona, Guido Viaro e João Turim foram contratados
para pintar painéis nos clubes. Além da preocupação com a decoração, os clubes
incentivavam as guerras com confetes, serpentinas e lança-perfume.
O corso entrou em decadência em meados dos anos 1940 e a rua XV de
Novembro passou a ser ocupada por outras formas de brincar o carnaval, em especial
pelos blocos carnavalescos. Os motivos para o fim do corso não foram especificamente
delimitados pelos cronistas, mas as fontes escritas enfatizam a progressiva substituição
das carroças por automóveis motorizados. Com a ampliação do uso dos carros nos
desfiles, as carroças foram deixadas de lado, no entanto, os automóveis ideais para os
dias de carnaval eram os conversíveis e estes tinham um preço de aluguel bastante
alto. Desse impasse, o corso foi perdendo espaço para as brincadeiras dos blocos
carnavalescos.
36
Os bailes dos clubes continuaram fazendo muito sucesso e apenas nos anos
1990 sofreram uma sensível redução e, de acordo com alguns interlocutores, essa
diminuição aconteceu graças aos pesados custos do pagamento dos direitos de
exibição das canções carnavalescas.
A animação nos clubes em Curitiba. Baile de carnaval no Palace Theatro, em 18 de fevereiro de 1917.
Fonte: Boletim da Casa Memória. Acervo: Casa da Memória.
Direitos de uso da imagem cedido pela FCC.
Nas primeiras décadas do século XX, os bailes de carnaval dos clubes de
Curitiba possuíam um caráter nitidamente excludente, o acesso a essa forma de
sociabilidade e divertimento se fechava em “nichos étnicos” na medida que grande
parte dos clubes sociais apresentava uma relação direta com a origem europeia de
seus associados. Assim, o espaço da rua significava uma continuidade dos festejos dos
clubes, o carnaval de clubes era feito por uma elite e para essa elite, restava apenas
aos grupos menos privilegiados da capital paranaense admirar o luxo e a sofisticação
do carnaval dos ricos no elegante corso da rua XV de Novembro. Dessa forma, durante
o “primeiro carnaval” de Curitiba observados e observadores delimitavam as fronteiras
sociais entre ricos e pobres.
37
A partir dos anos 1940, o carnaval de Curitiba passou por mudanças, em
especial o ano de 1946 quando a cidade presenciou a chegada uma formação
carnavalesca denominada escola de samba. Para acompanhar esse processo de
mudanças no carnaval com a presença das escolas de samba sugerimos uma
cronologia do carnaval curitibano a partir dos deslocamentos dos festejos na cidade.
A primeira passarela das escolas de samba foi a própria rua XV de Novembro,
onde os pioneiros, dirigentes das agremiações,
brincavam nos dias de folia. Esta
“primeira geração” (1946 -1970) foi responsável por definir um conceito de desfile
carnavalesco e de escola de samba. Em 1971 os grupos carnavalescos (blocos e
escolas) foram transferidos para a avenida Marechal Deodoro da Fonseca. Esse
momento corresponde a uma expansão do número de foliões e de agremiações
carnavalescas. O “carnaval na Marechal” (1971-1998) representou para alguns
observadores os “anos gloriosos”, o surgimento de um verdadeiro “carnaval moderno”
em Curitiba. A partir de meados da década de 1990, as escolas de samba passaram
por drásticas mudanças e nessa conjuntura aconteceu uma redução de escolas e
volume de componentes. O “carnaval na Cândido de Abreu” (1999 -...) - momento atual
do carnaval curitibano – reduziu o carnaval na capital paranaense em apenas um dia. A
fim de compreender o momento atual das escolas de samba, recuperamos a memória
foliã, observamos os eventos relacionados aos preparativos para o desfile e o momento
de exibição dos esforços de todas as agremiações de Curitiba.
38
3. AS ESCOLAS DE SAMBA DE CURITIBA: 1946-1998
Para definir as fases do carnaval curitibano nos baseamos nos espaços usados
como passarela do samba para se definir uma cronologia do nosso carnaval de rua.59
Brincar o carnaval em bailes, costume iniciado em meados do século XIX, permaneceu
como prática recorrente na capital paranaense até os anos 1990. Essas festas
aconteciam em todos os tipos de clubes sociais, dos mais populares ao mais elitizados.
Os “nichos étnicos” do passado deixaram de ser o critério de segregação social, foram
se definindo novos fatores de exclusão e inclusão. Para ter acesso a alguns bailes
passou a ser obrigatório o pagamento de mensalidade do clube e para os não-sócios a
entrada, normalmente, estava condicionada ao convite de um associado. Em clubes
mais populares de Curitiba, os critérios de interdição eram menos complexos, o simples
pagamento de um convite permitia a entrada do folião.60
Conforme esclarecemos anteriormente, a “primeira fase do carnaval” de Curitiba
aconteceu em dois lugares preferenciais, nos clubes sociais da cidade e na Rua XV de
Novembro como expressão da expansão das fronteiras dos bailes. Nesse contexto, a
rua era tomada por brincantes que presenciavam o desfile do corso. Em meados dos
anos 1940, o corso passou a dividir espaço com outra forma de brincar o carnaval, os
blocos carnavalescos. Este tipo de organização carnavalesca se multiplicou na cidade
59
Ressalto a especificidade do carnaval de rua na medida que os bailes de carnaval de clubes
continuaram a acontecer em paralelo aos desfiles carnavalescos durante os anos 1960, 1970 e 1980 em
Curitiba. De acordo com a pesquisa em documentos, apenas nos anos 1990 os carnavais de clubes
deixaram de ocupar um lugar de destaque na cidade. Nossa primeira sugestão relaciona a ascensão dos
carnavais de rua do litoral paranaense ao esvaziamento dos clubes da capital, os moradores de Curitiba
foram atraídos pela diversão do tipo “carnaval baiano” dos trios elétricos em Guaratuba e Caiobá. Mas,
extrapola os objetivos dessa dissertação abordar esse possível “circuito carnavalesco”. Sobre noção de
circuito: MAGNANI, José Guilherme C. Festa no pedaço: cultura popular e lazer na cidade. São Paulo:
Brasiliense, 1984. _______. De perto e de dentro: notas para uma etnografia urbana. Revista Brasileira
de Ciências Sociais. São Paulo, v. 17, n. 49, junho de 2002. Sobre os trios elétricos: GOÉS, Fred de. O
país do carnaval elétrico. Rio de Janeiro: Corrupio, 1987.
60
Entre os clubes mais populares havia um contato com as manifestações carnavalescas de rua, a
escola de samba Mocidade Azul costumava ser recebida como grandes atração nos bailes do clube
Pinheiros.
39
até 1946, quando foliões organizados como escola de samba Colorado invadiram a
cena - eram os moradores da Vila Tassi.61
A Colorado foi organizada por pessoas simples, moradoras de uma região
humilde da cidade, a extinta Vila Tassi. A vila era habitada, em sua maioria, por
trabalhadores da R.F.F.S.A.62 e se localizava exatamente ao lado dos trilhos do trem,
na região que hoje corresponde aos bairros Jardim Botânico e Prado Velho, próximo a
Rodoferroviária de Curitiba. Essa comunidade passou a se organizar como escola de
samba ainda em 1944 e dois anos depois rumou para a rua XV de Novembro para
mostrar seu samba, sua batucada. As demais escolas de samba de Curitiba dessa
“primeira geração” se formaram a partir de blocos carnavalescos ou se organizaram a
partir de grupos de jovens formados nos clubes sociais e esportivos.
A escola de samba Embaixadores da Alegria surgiu em 1948 a partir do bloco
Cevadinhas do Amor composto por foliões que brincavam o carnaval no Clube Thalia.
No bairro do Alto da Glória, região nobre da cidade, um grupo de amigos e torcedores
do Coritiba Foot Ball Club criou a escola de samba Não Agite em 1953. O bloco Asas
da Alegria63 que teve presença marcante no carnaval da rua XV de Novembro desde
1939, virou escola de samba em 1959 com o nome de D. Pedro II.
As escolas de samba da “primeira geração” do carnaval curitibano se definiram a
partir de duas matrizes diferenciadas. As escolas de samba Embaixadores da Alegria,
Não Agite e D. Pedro II passaram a se definir enquanto escolas como desdobramento
de blocos carnavalescos formados e sediados em clubes sociais. O processo de
mudança de status desses grupos de foliões pode ter sido motivado pelos modismos
cariocas e/ou pela inovação efetivada em Curitiba pelos batuqueiros da Colorado.
Apenas esta escola da “primeira geração” apresentou uma origem diferenciada e jamais
foi bloco antes de se tornar escola de samba.
61
A primeira escola de samba da cidade foi a Colorado, formada em 1946. Ao longo dos anos 1940 e
1950, os blocos carnavalescos se tornaram escolas, apareceram a Embaixadores da Alegria (1948), a
Não Agite (1953) e a D. Pedro II (1959).
62
Entre 1942 a 1957 atuava no Paraná a RVPSC (Rede de Viação Paraná Santa Catarina), apenas em
1969 aconteceu a padronização em todo Brasil das redes ferroviárias com a nomenclatura RFFSA (Rede
Ferroviária Federal Sociedade Anônima).
63
Nos documentos consultados o bloco carnavalesco Asas da Alegria costuma receber outra
denominação, Azes da Alegria. Ao longo do texto menciono o bloco de acordo com a grafia dos
documentos utilizados.
40
Em 1971 as escolas de samba de Curitiba deixaram de desfilar na rua XV de
Novembro, o concurso foi transferido para a avenida Marechal Deodoro da Fonseca. A
mudança do desfile aconteceu devido a um conjunto de fatores, entre eles, o aumento
do número de componentes das escolas de samba e a ampliação do número de
espectadores na avenida nos dias de folia. Outro fator a ser considerado, diz respeito
às reformas de urbanização propostas pelo então prefeito Jaime Lerner responsável
pela criação da primeira rua exclusiva para pedestres do Brasil. A obra não tinha a
aprovação dos comerciantes da rua, pois eles acreditavam que perderiam fregueses.
Mesmo assim, a obra foi realizada, uma verdadeira maratona, conforme relatou Ulisses
de Moraes - “na noite de sexta-feira, dia 19 de maio de 1972, uma 'tropa' de operários
iniciou a pavimentação da rua XV.”64 Com a conclusão das reformas, a rua passou a
ser conhecida como rua das Flores e não mais permitida a passagem de automóveis.
Essa imensa calçada, o popular “calçadão” logo passou a ser um dos cartões postais
de Curitiba.
O período de 1971 a 1998 foi denominado por Glauco Souza Lobo como o
período áureo do carnaval de Curitiba. Para este histórico cartola, o “carnaval na
Marechal” foi o momento de modernização do desfile das escolas de samba,
especialmente a partir de 1983. Neste ano, a prefeitura de Curitiba passou para as
mãos de Maurício Fruet, prefeito indicado pelo primeiro governador eleito após os anos
de Ditadura Militar, José Richa do PMDB. Nesse contexto de mudanças na esfera
político-administrativa, a cidade presenciou uma verdadeira explosão de escolas de
samba, diversas agremiações se formaram em diversos bairros da cidade. Além do
significativo aumento de escolas de samba, algumas delas passam a comportar um
volume muito maior de componentes, duas grandes escolas (Embaixadores da Alegria
e Mocidade Azul) registraram mais de mil componentes. Outro ponto marcante dos
carnavais dos anos 1980 e 1990 foi a presença de blocos carnavalescos. Nesse
período – considerado de modernização para alguns - os critérios de julgamento do
desfile e a negociação do repasse de verba da prefeitura passaram a ser definidos na
64
MORAES, Ulisses Q. de. A modernidade em construção: políticas públicas e produção de música
popular em Curitiba: 1971 à 1983.São Paulo: Annablume, 2009. p. 38.
41
articulação entre a Associação das Escolas de Samba e a Fundação Cultural de
Curitiba.
Em 1973, a prefeitura da capital paranaense organizou a Fundação Cultural de
Curitiba, órgão responsável pelas ações culturais e artísticas da cidade. Esta instituição
passou a representar um importante papel para a compreensão das significativas
mudanças
na
dinâmica
desse
considerado
“moderno
carnaval
curitibano”.
Diferentemente do período denominado como “primeira geração”, durante os anos de
“carnaval na Marechal” as escolas de samba deixaram de negociar a verba para o
desfile diretamente com a prefeitura. Assim, o relacionamento das escolas de samba
com a FCC passou a apresentar diversas questões relevantes nas mais diversas fases
que se seguem do carnaval de Curitiba.
O “carnaval na Cândido de Abreu” - fase do atual momento do nosso carnaval corresponde ao período de fixação do desfile nessa avenida a partir do ano de 1999.
No fim dos anos 1990, os carnavalescos passaram a identificar algumas dificuldades
em prosseguir na realização das atividades carnavalescas tal qual estavam habituados.
A crise vivida nas escolas de samba se manifestou nos problemas a serem superados
para “colocar a escola na avenida” tais como: falta de lugar para os ensaios, ausência
de verba (fato que obriga muitos dos dirigentes a afirmar “tiraremos do bolso”) e, por
fim, na (suposta) falta de boa vontade da FCC com as escolas de samba. Os
depoimentos fornecidos pelos carnavalescos são leituras de um universo envolvido em
uma dramaticidade intensa, num estado de crises sucessivas herdadas da fase
anterior, enquanto se constitui como “moderno”. Pelas informações obtidas em campo,
a situação de crise se assenta em três questões, sendo elas: a transferência da
passarela do samba para a avenida Cândido de Abreu, a inexistência de uma entidade
representativa das escolas de samba, e a intensificação das exigências da FCC, em
outras palavras, a dificuldade de cumprir com a burocracia do edital carnaval.
3. 1 A “primeira geração”: 1946-1970
Nos anos 1940 não havia nenhuma escola de samba em Curitiba, o carnaval era
formado por blocos. Em 1981, em entrevista, um dos antigos integrantes do bloco “Azes
42
da Alegria” reivindicou o pioneirismo desse tipo de festejo na cidade. De acordo esta
entrevista cedida à jornalista Malu Maranhão, o senhor Júlio Jacobowski afirmou: “o
carnaval de rua nasceu em Curitiba com o bloco Asas da Alegria em 1939, com um
grupo que pertencia ao 5 º Regimento da Aeronáutica.”65 Depois da iniciativa dos
militares, outros blocos surgiram, entre eles: Kalanga do Japão, Amigos da Onça, Bola
Preta, Sputinik na Folia, Vira Lata. Em 1984, o presidente do Ícaro Atlético Clube, Lauro
Carvalho Chaves relembrou:
O primeiro concurso de carnaval de rua em Curitiba foi promovido em 1942 numa
iniciativa da Gazeta do Povo e foi levantado pelo Bloco Carnavalesco Azas as
Alegria, que recebeu o troféu ‘Rodo’ concedido por uma fábrica de lançaperfumes, numa época que os festejos carnavalescos eram muito mais
66
autênticos que hoje.
Os blocos carnavalescos dos anos 1930 e 1940. Fonte: O Estado do Paraná. 31 de janeiro de 1981.
Nessa época, os festejos começavam entre as 16:00 e 17:00, quando os foliões
se encontravam no início da rua XV de Novembro e desciam até a praça Osório, onde
faziam uma parada no Bar do Stuart. Depois da pausa para o chope, os blocos partiam
para a Boca Maldita para a batalha de instrumentos, conforme narrou Julio Jacobowski:
65
66
Carnaval com o bloco na rua. O Estado do Paraná. 31 de janeiro de 1981.
Gazeta do Povo. 24 de fevereiro de 1984.
43
Quando os blocos se encontravam na Rua XV, principalmente o nosso e o Boca
Negra, acontecia uma batalha de instrumentos, cada um querendo tocar mais
alto e melhor que o outro. Às vezes acontecia uma briguinha ou outra, mas
67
sempre acabava em confraternização.
O carnaval de Curitiba passou por outras transformações em meados da década
de 1940 com o surgimento da primeira escola de samba de cidade. Não eram todos os
moradores da cidade de Curitiba que tinham acesso aos bailes de carnaval dos clubes
e em 1946 um grupo de moradores da Vila Tassi – composta em sua maioria de negros
e mulatos68 – atravessavam a linha do trem rumo ao centro de Curitiba para mostrar
seu samba. Assim, surgiu a primeira escola de samba da cidade, conforme explicou
seu fundador Ismael Cordeiro, mais conhecido como “Maé da Cuíca”, o mestre de
bateria dos “Boca Negra”.
Foi na Vila Tassi que nasceu a Escola de Samba Colorado. Ela ficava onde hoje
é o moinho Anaconda. Ali na frente tinha a balança da Rede, um poço e três
árvores. Ali nós fazíamos o samba. Às vezes começávamos no sábado, mas
principalmente no domingo que vinha aquele pessoal da cidade e ficavam do
outro lado da rua, que nem tinha asfalto, assistindo a batucada. Tinha até gente
em cima dos vagões. Tinha umas vinte casas na Vila Tassi, mas nesses dias com
o povo que aparecia ali juntava uma multidão. A gente passava o ano inteiro
fazendo samba lá debaixo dos eucaliptos até que em 1945 nós juntamos 16
pessoas, vestimos lá uma camisa de futebol do bairro e fomos para a cidade. A
gente temia um pouco, porque o povo crioulo, o povo pobre era discriminado em
Curitiba. Mas não teve reação contrária. Agradou tanto que no ano seguinte
registramos a escola, criamos estatuto e fizemos uma diretoria.
A Escola de Samba Colorado foi comandada por Maé da Cuíca durante
aproximadamente 45 anos. Ismael Cordeiro, filho de pais evangélicos nasceu em Ponta
Grossa e ainda criança sua família fixou residência em Curitiba. O sambista se tornou
jogador e, mais tarde, ingressou no Exército. Seu pai, funcionário da R.F.F.S.A não via
com bons olhos os vizinhos reunidos na batucada à sombra dos eucaliptos, mas seu
filho logo se encantaria pelo samba e aprendeu a tocar diversos instrumentos.
67
Carnaval com o bloco na rua. Estado do Paraná. 31 de janeiro de 1981.
FREITAS, João C. A Escola de Samba Colorado: a primeira escola de samba de Curitiba.
Monografia. Aperfeiçoamento-Especialização em História da Música Popular Brasileira. Faculdade de
Artes do Paraná. Orientador: Prof. Dr º Marcos Francisco Napolitano de Eugenio. Curitiba, 2004.
68
44
Conforme as palavras do sambista, em 1946 reuniu a “negrada” da Vila Tassi e
ultrapassou a linha férrea até chegar ao centro de Curitiba, a rua XV de novembro.
Essa batucada modificou o carnaval da cidade, nascia sua primeira escola de samba.
Para um dos antigos membros da diretoria da Colorado, o desfile dos blocos estava
mais ligado às tradições europeias e tinha uma forte ligação com os bailes
carnavalescos realizados dentro dos clubes.
Eles não tinham enredo, tinham um tema e desfilavam dentro do tema. A
característica é que os blocos saíam e visitavam todas as Sociedades. Eles
entravam para fazer visita, passeavam pelo salão e havia aquela permuta de
conhecimento entre os blocos. Eles não tinham a característica do samba como
se conhecia, porque eles estavam muito ligados a nossa formação, dos
estrangeiros que vieram para cá. E o corso estaria mais ligado ao carnaval que
se fazia na Europa. Posteriormente esses blocos foram crescendo e se formaram
grandes blocos. Mudaram nome para Escola de Samba, embora nós tivéssemos
blocos muito inchados, mas de Escolas de Samba, eles ainda não tinham a
69
característica.
Em 1949 Maé da Cuíca compôs o primeiro samba autoral apresentado na
avenida, chamado “Vila Tassi.”70 Mas o samba não pode ser enquadrado nos moldes
atuais de “samba de enredo”, a Colorado não desfilou com um enredo sobre o tema
proposto pela letra do samba. Assim, a inovação da escola ficou por conta do
pioneirismo em apresentar na avenida um samba autoral, inédito. Pelas informações
sugeridas, as agremiações carnavalescas de Curitiba não desfilavam com sambas
autorais, elas executavam diversos sambas de “meio de ano” do Rio de Janeiro. Era
através do rádio que os foliões da capital paranaense aprendiam esses sambas,
também chamado de “sambas-canção” em oposição aos “sambas de carnaval” ou
“samba enredo”.
De acordo com informações de Maé da Cuíca, a batucada da Colorado foi
observada como algo novo e diferente, a ser admirado pelas pessoas da “cidade”. Para
a “negrada” da Vila Tassi ultrapassar a linha do trem significou ocupar a cidade que, até
então, não conhecia um carnaval nos moldes cariocas, um carnaval de samba. Nesse
69
FREITAS, João Carlos de. Colorado: a primeira Escola de Samba de Curitiba. Curitiba: Edição do
autor, 2009. p. 58.
70
“Quem diria que a Vila Tassi ia se acabar / Que somente três casas iriam ficar / Elas ficaram pra
mostrar no carnaval / Que o samba lá na Vila sempre tem o seu lugar / A gente gostava / Quando a
tardinha chegava / Embaixo das três árvores / O batuque começava / E a cuíca começava a roncar / Pra
mostrar à vizinhança / O que era um samba ao luar / Quem diria?” FREITAS. op. cit. p. 96/97.
45
contexto, as brincadeiras de carnaval na rua XV de Novembro eram animadas pelos
blocos carnavalescos originários dos clubes sociais. Aos poucos, o contato com a
“negrada” da Vila Tassi inspirou os blocos que aos poucos se transformaram em
escolas de samba e passaram a investir na batucada do samba.
A Vila Tassi era composta por moradores com poucos recursos financeiros e
colocar a escola na rua não era tarefa fácil, conforme relembrou Maé da Cuíca em
entrevista realizada em 2008: “Era uma escola pobre, a gente tinha que se virar para
vestir aquela negrada”. Embora o mestre de bateria reconheça as dificuldades
enfrentadas pela sua escola, ele também enfatizou a primazia do samba sobre o visual.
Para ele, a Colorado sempre apresentou na avenida os melhores ritmistas da cidade.
Graças a qualidade de sua bateria, Maé da Cuíca criou seu primeiro conjunto musical
em 1964, depois fundou o Maé Samba Show.
Ismael Cordeiro contou sobre a relação da cidade com o samba, segundo ele,
em alguns circuitos sociais a entrada do samba não era permitida e o fundador da
Colorado procurou combater essa resistência: “eu fundei o grupo de samba Partido Alto
Colorado pra enfrentar aquela discriminação, preconceito, não era fácil naquela época,
Curitiba era terra de alemão, italiano, polaco ... era terrível”. Assim, com muita
dificuldade, Maé inseriu o samba em diversas casas de shows da cidade, inclusive em
lugares mais elitizados, como a sede campestre do Clube Curitibano.71
Em entrevista, Maé da Cuíca contou sobre a organização da escola da Vila
Tassi. Pelas informações obtidas percebe-se que o presidente da escola utilizou sua
experiência como militar para organizar a escola, principalmente para controlar os
excessos na ingestão de bebidas por parte dos ritmistas. Com esse rígido controle, Maé
afastou os baderneiros e aproximou pessoas de outras regiões da cidade.
71
Essa questão parece relevante e merece maior aprofundamento. Pelas informações de Maé da Cuíca,
a entrada de seu grupo de samba aconteceu com muita dificuldade e foi marcada por forte preconceito
racial. Assim, esperamos que outros pesquisadores possam se debruçar sobre este processo da entrado
do elemento negro em determinadas esferas da sociedade curitibana através do samba.
46
Ismael Cordeiro, fundador da escola de samba Colorado, mais conhecido como Maé da Cuíca.
Maio de 2008. Foto: acervo pessoal.
Com a formação da Colorado, outros blocos carnavalescos passaram a se definir
como escolas de samba. O bloco Cevadinhas do Amor, originário no Clube Thalia –
com cadeira cativa do Bar do Stuart – transformou-se em 1948 na escola de samba
Embaixadores da Alegria, organizado pelo advogado José Cadilhe de Oliveira com o
apoio do carioca Aldo Souza Lobo. Em 1989, o fundador da Embaixadores contou a
história para o jornalista Aramis Millarch.
Havia um grupo de foliões entusiásticos que se reunia no bar Stuart, na Praça
Osório. Surgiu a ideia de fazer um bloco organizado e alguém lembrou de
procurar patrocínio da Brahma. Felizmente havia um gerente de visão na fábrica
de bebidas e foi possível fazer 48 fantasias, adereços etc., e até o símbolo da
agremiação - bolado por um japonês, cujo nome não lembro. E o sucesso quando
saímos pela Rua XV de Novembro foi enorme... (...) A partir de 1950 é que
organizamos mesmo a Embaixadores, com estatuto, livro-ata etc., explica
Cadilhe, ao lembrar que até então o Carnaval curitibano era espontâneo, com
72
blocos formados por amigos de diferentes bairros.
72
MILLARCH, Aramis. Cadilhe, um carnavalesco das memórias curitibanas. Almanaque. Estado do
Paraná. 15 de outubro de 1989. Disponível em: < http://www.millarch.org/artigo/cadilhe-um-carnavalescodas-memorias-curitibanas > Acessado em 20 de janeiro de 2009.
47
Essa “primeira geração” das escolas de samba de Curitiba contou ainda com a
presença da Não Agite. A escola surgiu a partir do bloco Vira Lata e tinha, num primeiro
momento, apenas como componentes torcedores do Coritiba Football Club. Em
entrevista à jornalista Diana Vieira Santos, “Mazzinha” contou que saiu pela primeira
vez no bloco Não Agite em 1953, com apenas seis anos de idade. Ele ressaltou à
jornalista qualidades rítmico-artísticas do bloco: “precisava ver o polaco sambando.”73
De acordo com seu testemunho, apesar de formado por torcedores do Coritiba, a
maioria dos seus integrantes participava não por simpatia ao clube de futebol, e sim
porque gostava da folia. Além disso, a guarida que o clube dava ao bloco era bastante
confortável.74 A escola de samba agregava intelectuais de Curitiba e simpatizantes de
grupos de esquerda e, muitas vezes, os membros do Não Agite enfrentavam problemas
com a polícia em tempos de repressão política. Em 1980, o jornal Diário do Paraná
publicou a suposta origem do curioso nome da escola.
Aqui, umas das primeiras escolas foi a “Não Agite”. Surgiu numa festa de
aniversário em 1948, na residência de Neil Hamilton Schetini, com um grupo de
amigos que formavam um cordão de salão de associados do Coritiba FC e
pensaram na formação de um grupo carnavalesco para sair nas ruas durante o
carnaval. A primeira dificuldade foi encontrar um nome. Várias reuniões foram
marcadas, mas não se encontrava nenhum. Foi durante uma festa (a turma era
de festa), a certa altura, um dos convidados já se encontrava “alto” quando lhe
servido uma bebida por um dos colegas. Porém, sua mão tremia muito... agitavase. Temendo que o líquido fosse entornado sobre sua roupa, o colega gritou para
75
o que servia. “Não Agite”...E assim apareceu o nome.
Em 1959, outro bloco carnavalesco de Curitiba se tornou escola de samba. O
grupo de foliões formado em 1939 na base aérea militar os Asas da Alegria passaram a
condição de Escola de Samba D. Pedro II. Esse grupo se consolidou como escola de
samba quando os desfiles passaram a determinar critérios mais definidos de
julgamento. Durante alguns anos, escolas e blocos participavam em grau de igualdades
73
MAZZA. apud. SANTOS, Diana V. dos. Brasil em Curitiba: o Carnaval enrustido. Monografia.
Comunicação Social. PUC-PR. Orientador: prof º Marcelo Lima. Curitiba, 2005. p. 16.
74
A escola de samba Colorado também recebeu apoio de um clube de futebol. Poucos anos após sua
fundação, a agremiação da Vila Tassi passou a ensaiar no estádio da Vila Capanema, sede do Clube
Atlético Ferroviário. Em 1971, o clube se associou ao Britânia e Palestra Itália, passando a ser o
Colorado Esporte Clube. Em 1989, acontece a fusão do Colorado com as cores do Esporte Clube
Pinheiros. Estava formado “o tricolor da Vila Capanema”, o Paraná Clube.
75
Especial: O carnaval e sua origem. Diário do Paraná. 10 de fevereiro de 1980.
48
das festividades momescas e pelas informações sugeridas, a trilha sonora do carnaval
de Curitiba era uma mistura de marchinhas, sambas cariocas de “meio do ano” e
composições inéditas dos “Boca Negra” da Colorado. Assim as escolas da “primeira
geração” do carnaval curitibano ocuparam a rua XV de Novembro e brincavam os dias
de folia. Na década de 1950, os jornais da cidade relatam o sucesso do carnaval de rua
de Curitiba: a “cidade sorriso” brincava o carnaval com alegria, ao som dos batuques
dos blocos e das jovens escolas de samba.
Um triunfo geral da ‘Cidade Sorriso’ que assim reinicia a sua alegre caminhada
para que em futuro próximo, possa abraçar efusivamente ao soberano da folia
Rei Momo, vivendo em todos os anos um verdadeiro Carnaval, este que é de fato
uma festa popular brasileira e cujas tradições estão tão unidas aos sentimentos
76
de alegria de nossa gente.
Nos primeiros anos do carnaval na rua XV de Novembro ainda não havia um
concurso carnavalesco no modelo que se conhece hoje, com a distribuição de quesitos
e regras pré-estabelecidas por uma comissão ou entidade carnavalesca. O encontro
dos blocos acontecia como uma brincadeira, fazia parte da folia. O “desafio das
baterias” acontecia na região da praça Osório, próximo à Boca Maldita e de acordo com
alguns observadores, algumas vezes, o encontro resultava em brigas, mas todas
passageiras. Apesar dos grupos não receberem nenhuma premiação em dinheiro, o
desafio das baterias pode ser compreendido como uma competição. De acordo com o
falecido carnavalesco Julio César de Souza77 as escolas de samba “tremiam” quando
Maé da Cuíca se aproximava com sua bateria.
Os blocos carnavalescos cruzavam-se em plena rua, sem parar suas baterias,
mas quando encaram a Colorado, as outras baterias viravam do samba para
78
marcha senão eram engolidas pelo samba da Colorado.
76
'Não Agite', Campeã do Carnaval de 58. Tribuna do Paraná. 19 de fevereiro de 1959.
Julio César de Souza, mais conhecido como “Julinho” ou “Diabo” nasceu em Curitiba e acompanhou os
carnavais da rua XV de Novembro acompanhado de seu pai, vendedor de confetes e serpentinas. Na
juventude, participou da Embaixadores da Alegria e fundou sua própria escola de samba, a Acadêmicos
da Sapolândia. Lembrado pelos amigos como grande folião, um apaixonado por carnaval, trabalhou na
Fundação Cultural de Curitiba nos anos 1980 e 1990 com Glauco Souza Lobo. Faleceu em 2005. Suas
memórias foram publicadas no ano seguinte. SOUZA, Julio. Fatos e relatos. Curitiba: Artes & Textos,
2006.
78
Idem. p. 54
77
49
Essa fase mais lúdica do carnaval ganhou contornos oficiais com a organização
do primeiro concurso carnavalesco, patrocinado pelo jornal Tribuna do Paraná,
organizado para premiar as escolas de samba da cidade em 1957.79 Poucos anos
depois, a prefeitura de Curitiba assumiu a organização do concurso e passou a
conceder um auxílio financeiro para as agremiações. Além disso, disponibilizava a
infraestrutura e escolhia os juízes para premiar os melhores do carnaval da cidade. De
acordo com informações recuperadas da memória dos foliões do carnaval curitibano80
esse formato de concurso manteve-se inalterado enquanto atendeu os anseios das
escolas de samba. Da mesma maneira, como contra-face dessa relação, as
negociações com a prefeitura muitas vezes eram delicadas, alguns prefeitos não se
entusiasmavam com o carnaval e pouco ofereciam às escolas. Entre os carnavalescos
mais presentes nas negociações estava José Cadilhe de Oliveira, fundador da
Embaixadores da Alegria. De acordo com as memórias de “Julinho”, o advogado e
jornalista liderou por muitos anos as negociações com a prefeitura e batalhou pela
ampliação da verba concedida para todas a agremiações.
Os sujeitos brincantes não apenas se divertiam, mas se posicionavam para revelar
aos seus observadores aspectos previamente selecionados por eles. Os momentos de
exposição na rua XV de Novembro eram verdadeiros rituais. Desde Marcel Mauss os
rituais
podem
ser
percebidos
como
processos
performáticos
envolvidos
de
dramaticidade - “Faz-se um gesto não somente para agir, mas também para que os
outros homens e os espíritos o vejam e o compreendam.”81 Dessa forma, os rituais são
compreendidos como uma experiência performática, uma atividade reflexiva, uma
maneira de falar e representar o mundo.
Em O Processo ritual Victor Turner definiu rituais como momentos de “reversão
de status”, quando figuras “inferiores”, são colocadas como “superiores”, uma inversão
ritual do cotidiano. Esses mecanismos de inversão evidenciam a própria estrutura social
e apresentam seu inverso, no entanto, a experiência performática do ritual não reflete o
79
Ver lista completa das escolas campeãs e vice-campeãs do grupo A em Anexos.
Ao longo de 2008 e 2009 nos aproximamos das experiências vividas pelos pioneiros do samba em
Curitiba através de diversas entrevistas. Nossa equipe conversou com Maé da Cuíca, Glauco Souza
Lobo, Marlene Monte Carmelo, Amauri Ferreira, Fernando Lamarão entre outros bambas do carnaval da
capital paranaense.
81
MAUSS. apud. FRANCE, Claudine de. Cinema e antropologia. Campinas. Editora UNICAMP, 1998.
p. 93.
80
50
real como uma imagem especular, o expressa através do efeito de um espelho mágico
dos rituais. Para Turner, o espelho mágico pode ser compreendido como um espaço de
reconfiguração dos elementos do cotidiano e onde são recriados universos sociais e
simbólicos. Dessa forma, um ritual também cria novas experiências, novos significados,
em The anthropology of performance, Victor Turner ressaltou a natureza reflexiva da
performance.
Reflexividade performática é uma condição na qual um grupo sócio-cultural ou
dos seus membros mais perspicazes agindo com mais representatividade, viram,
dobram ou refletem sobre si mesmos, sobre as relações, ações, símbolos,
significados, códigos, papéis, status, estruturas sociais, éticas e regras legais, e
82
outros componentes sócio-culturais que compõem os seus “eus” públicos.
3. 1. 1 A Associação das Escolas de Samba
O concurso organizado pela prefeitura sofreu um forte abalo no carnaval de 1970
quando os resultados da apuração desagradaram profundamente o mestre de bateria
da Colorado, Maé da Cuíca. Nesse carnaval instalou-se uma crise entre prefeitura e as
escolas de samba, e entre as agremiações coirmãs. A crise foi deflagrada com a vitória
da Embaixadores da Alegria e se intensificou quando Maé procurou conhecer as
qualidades técnicas dos juízes escolhidos pela prefeitura. Para Maé da Cuíca, os juízes
não tinham competência para julgar as escolas de samba, de acordo com suas
informações, eram pessoas ligadas ao universo da cultura erudita ou sem nenhuma
experiência em manifestações culturais populares. Como ação reparadora, foi
organizada a Associação das Escolas de Samba e como desfecho da crise, Maé da
Cuíca foi aclamado pelos seus pares como presidente desta entidade recém criada.
Inicia-se, nesse período, as primeiras conversas entre as escolas de samba,
agora representadas por uma entidade, e a prefeitura da cidade de Curitiba. Maé da
Cuíca pode ser pensado como o primeiro mediador destas negociações. Nessa época,
ele se encontrou com o prefeito de Curitiba da época, Omar Sabbag (1967-1971)
82
Performative reflexivity is a condition in which a sociocultural group or its most perceptive members
acting representatively, turn, bend or reflect back upon themselves, upon the relations, actions, symbols,
meanings, codes, roles, statuses, social structures, ethical and legal rules, and other sociocultural
components which make up their public “selves”. TURNER, Victor. The anthropology of performance.
New York: PAJ Publications, 1988. p. 25.
51
solicitando uma representação daquele coletivo. O prefeito apoiou a constituição de
uma associação para ser a entidade responsável pela organização do desfile na cidade.
Maé da Cuíca passou a acumular os cargos de presidente da recém criada Associação
das Escolas de Samba e de sua escola de samba, a Colorado. De acordo com as
palavras de Maé, o prefeito Sabbag lhe ofereceu um salário e um escritório, mas sua
única exigência foi garantir a autonomia da escolha de uma comissão julgadora
especializada em samba, vinda do Rio de Janeiro. No carnaval seguinte, o concurso
carnavalesco foi julgado por especialistas cariocas e a Colorado venceu cinco entre os
seis quesitos, perdeu apenas no quesito “fantasia”.
Em Drama, campos e metáforas, Victor Turner definiu o conceito de drama social
como “unidade de processos anarmônicos ou desarmônicos que surgem em situações
de conflitos.”83 Os dramas sociais apresentam quatro fases: a ruptura, a crise, ação
corretiva e reintegração. Turner demonstrou como nos momentos mais críticos da
sociedade os dramas sociais tendem a aparecer com mais nitidez: ritual e conflito
encontram-se fortemente associados. No processo da vida social, os dramas emergem
demarcando a relação dialética entre estrutura (representação da realidade cotidiana) e
anti-estrutura (momentos extraordinários). Nesta dialética produz-se um efeito de
distanciamento reflexivo sobre a estrutura. A anti-estrutura configura-se como um
espaço liminar, ocupado pelo drama social por excelência, instituído pela própria
sociedade para lidar com suas contradições, conflitos e crises. Os dramas sociais foram
classificados por Turner como elementos liminares na medida que emergem nos
interstícios da estrutura social e esses dramas sociais promovem o distanciamento da
estrutura social de maneira reflexiva, um mecanismo de ruptura e/ou inversão com a
ordem estabelecida na vida cotidiana.
Conforme mencionado anteriormente, a Associação, teve como primeiro
presidente Maé da Cuíca que procurou estruturar melhor a distribuição da verba da
prefeitura e definir critérios mais adequados para a escolha dos jurados, além de
aprimorar os critérios de julgamento do desfile competitivo. Para Maé da Cuíca, sua
escola de samba perdia os concursos carnavalescos porque não tinha dinheiro para
83
TURNER, Victor. Drama, campos e metáforas: ação simbólica na sociedade humana. Rio de Janeiro:
Ed UFF, 2008. p. 33.
52
fantasias de luxo, enquanto sua principal rival, a Embaixadores da Alegria colocava
“aqueles ‘filhinhos de papai’ de principezinhos, cheios de brilhos”. Pelas informações do
fundador da Colorado, as demais escolas de samba de Curitiba eram formadas por
ricos e brancos, assim, reuniam condições de investir no visual, enquanto a Colorado se
importava mesmo com o samba.
A Não Agite, era ligada a um clube de futebol identificado com a imigração alemã
e durante muitos anos recrutou como jogadores apenas brancos e de origem
germânica.84 Maé da Cuíca revelou, com muito orgulho, como o samba abriu caminhos
para a “negrada” da Colorado. “Negro não passava nem na frente [do estádio Couto
Pereira] e nós da escola Colorado tínhamos regalias na sede do Coritiba ... a gente
tinha nosso cantinho pra ensaiar”.
A organização da entidade pode ser tomada como uma forma de controlar uma
crise no carnaval vivenciada nos primeiros anos da década de 1970, no entanto, as
crises envolvendo o carnaval curitibano são cíclicas e adquirem outros contornos ao
longo dos anos.
3. 2 O “carnaval na Marechal”: 1971-1998
Para
nos
aproximarmos
do
“carnaval
na
Marechal”,
destacamos
as
transformações na paisagem urbana de Curitiba promovidas pelas gestões identificadas
com o Lernismo.85 O processo de planejamento urbanístico da cidade de Curitiba
84
Cf. MOLETTA JÚNIOR, Celso L. Futebol e formação do espaço público no contexto da fundação
do Coritiba Foot Ball Club (1900-1915). Dissertação. Programa de Pós-Graduação em História.
Universidade Federal do Paraná. Orientador: prof º Dr º Luiz Carlos Ribeiro. Curitiba, 2009.
85
O Lernismo se definiu como série de realizações dos governos identificados de Jaime Lerner das
décadas de 1970 e 1990. Essas ações priorizaram modificações urbanísticas com referências ao
movimento paranista e a valorização do elemento europeu na formação da Curitiba. Segundo o
historiador Dennison de Oliveira, "o aspecto curioso em toda essa política era sua faceta étnica. Não é
preciso muito esforço para se perceber que o essencial da política de patrimônio histórico e de promoção
das atividades culturais se remetia recorrentemente a uma parte específica da memória e da cultura
imigrante. Essa parte era aquela de origem europeia (...). Claro que a celebração dos valores alemães,
poloneses e italianos – os mais privilegiados pela política vigente – também fazia parte, indiretamente, do
processo de ‘modernização’ urbana, pela associação recorrentemente feita na cultura nacional entre
progresso e imigração europeia”. OLIVEIRA, Dennison de. Curitiba e o mito da cidade modelo.
Curitiba: Editora UFPR, 2000.p. 56.
53
iniciou-se em 1962, quando Ivo Arzua se elegeu prefeito da cidade. O Plano Agache86
foi levado a um grupo de engenheiros e arquitetos para ser avaliado, entre eles estava
Jaime Lerner. Com essa finalidade, Arzua criou em 1963 a Companhia de Urbanização
de Curitiba (URBS) e em 1964, a Companhia de Desenvolvimento do Paraná
(CODEPAR) e decidiu financiar a revisão do Plano Agache. Realizou-se um concurso
público que foi vencido pela Sociedade Serete de Estudos e Projetos Ltda que decidiu
contratar a Jorge Wilheim Arquitetos Associados de São Paulo. O projeto de
urbanização pautava-se nas premissas da modernização humanista, a cidade deveria
ser organizada para o homem e não para os automóveis, foram criadas vias expressas
exclusivas para o transporte coletivo e a rede de ônibus passou a ser conhecida com
integrada de transporte (RIT). A cidade se organizou em áreas destinadas ao comércio
e indústria. Todas essas realizações se concretizaram graças a criação do IPPUC
(Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba).87 Ivo Arzua promoveu
seminários intitulados "Curitiba de Amanhã" em vários bairros da cidade para discutir o
Plano Diretor com todas as instâncias representativas da sociedade e, entre 1971 a
1983, nos dois governos de Jaime Lerner, intercalado por um mandato de Saul Raiz –
ambos pertencentes ao grupo político do ARENA – essas ações foram colocadas na
prática.
Entre as obras propostas pelos urbanistas, estava a reforma na rua XV de
Novembro, cujo objetivo consistia em transformá-la em rota exclusiva para pedestres.
No entanto, mesmo diante de diversas manifestações contrárias lideradas pelos
comerciantes, a obra foi consumada. O desfile das escolas de samba perdeu seu
espaço e se transferiu para a Avenida Marechal Deodoro da Fonseca. Não possuímos
informações sobre a participação das escolas de samba nessa escolha, mas jamais
86
O Plano Diretor de Urbanização de Curitiba, conhecido como Plano Agache, estabeleceu diretrizes e
normas técnicas para ordenar o crescimento físico, urbano e espacial da cidade, disciplinando o tráfego,
organizando as funções urbanas, além de coordenar e zonear as atividades, codificar as edificações,
estimulando e orientando desta maneira o desenvolvimento.
Disponível em: <http://www.casadamemoria.org.br/index_historiadecuritiba.html > Acessado em: 13 de
julho de 2009.
87
Concebido, inicialmente, como Assessoria, vinculada ao então Prefeito Ivo Arzua Pereira, o IPPUC foi
transformado em Instituto, através da Lei Municipal nº 2660/65. O IPPUC, que havia participado da
concepção e desenvolvimento do Plano Preliminar, passou a detalhar e acompanhar a evolução e
implantação do Plano Diretor de Urbanismo. Aprovado em 1966, o Plano delineava as diretrizes de
desenvolvimento para Curitiba. Disponível em: <www.ippuc.org.br> Acessado em: 03 de julho de 2008.
54
ouvimos críticas negativas relacionadas a essa transferência. Os dirigentes da FCC
entenderam a mudança como positiva, pois as escolas de samba haviam crescido e o
espaço era mais amplo proporcionando mais conforto para componentes e foliões.
Dessa forma, o carnaval de 1971 passou a se realizar nessa avenida que se tornaria
um território consagrado (e sagrado) na memória da folia curitibana, considerado pelos
carnavalescos como o melhor carnaval que a cidade presenciou.
3. 2. 1 Experiências carnavalescas: a Banda Polaca e o Bloco Afoxé
Em meados dos anos 1970, Dante Mendonça e Rafael Greca passaram a reunir
amigos no Bar do Pasquale, no Passeio Público e assim surgiu a Banda Polaca. Sem
pretensões de ser uma entidade organizada, os amigos queriam mesmo um espaço
para brincar nos dias de carnaval em Curitiba. A Banda Polaca queria ser anárquica,
para Dante Mendonça o grupo buscava o “legitimo sentido do carnaval”. Os
participantes do grupo eram aqueles envolvidos com a FCC, os sujeitos que
organizavam o carnaval das escolas de samba, para o povo, mas se recusavam a se
divertir com elas. A Banda Polaca durou poucos carnavais e se dissolveu quando
quiseram colocar ordem na baderna. Dante Mendonça se desinteressou pela iniciativa
quando alguns membros foram registrar a banda em cartório e passaram a noticiar a
existência dela, convidando os moradores dos bairros mais afastados da cidade para
brincar no Pasquale. Segundo Dante Mendonça, a divulgação da banda e a tentativa de
popularizá-la selou seu fim.
Mas isso aqui é uma anarquia! Você vai querer organizar? Aí é que
é a merda do carnaval de Curitiba: é muito organizado. A
organização não funciona. (...) Daí vinha aquela gurizada da região
metropolitana achando que aquilo era Sodoma e Gomorra.
Começavam a passar a mão e arrancar biquíni e chegou uma hora
que as meninas não iam mais. Mulher de biquíni em Curitiba causa
furor. É algo fora de contexto.
Em 1979 foi criada uma outra experiência carnavalesca, o Ogã Glauco Souza
Lobo foi um dos responsáveis pela organização do bloco Afoxé, junto com o
Babalaorixá José Francisco Pereira. O Afoxé não pode ser considerado como apenas
55
um bloco carnavalesco, ele apresenta uma dimensão étnico-religiosa bastante
interessante. A formação do bloco possui uma estreita ligação com o interesse de
Glauco nas religiões de matriz africana, com sua participação no movimento negro e se
traduz como uma resposta àqueles que recusam o elemento negro na composição
étnica do estado do Paraná. Nos últimos vinte anos, Glauco Souza Lobo deixou de ser
um cartola do carnaval curitibano e, desde 2001, direcionou suas preocupações ao
projeto Clóvis Moura88 ligado ao governo do Estado do Paraná.
O grupo Afoxé se tornou o “abre alas” do desfile carnavalesco e passa
executando um ritual de purificação na passarela do samba, na avenida. Participam
pessoas de Umbanda, do Candomblé e simpatizantes. Conforme informações do atual
diretor cultural e Babalorixá Acácio Lima de Oliveira, todos podem desfilar, homens,
mulheres e crianças, só se pede para quem não faz parte das religiões que vá vestido
de branco.
Na Avenida atabaques, xequerês e agogôs entoam cânticos e danças
sagradas de Exu a Oxalá. Em entrevista cedida a Caroline Glodes Blum, pai Acácio
afirmou: “o carnaval, o desfile, é um ato religioso, não é só o carnaval em si, é uma
oportunidade pra gente mostrar a cultura afro-brasileira, a religião.”89
88
De acordo com informações do site institucional do governo do estado do Paraná “A criação do Grupo
de Trabalho Clóvis Moura (GTCM) no Governo do Estado, instituído pela Resolução Conjunta 01/2005SEED–SEEC–SEAE–SEMA-SECS e posteriormente ampliado com a participação de outras Secretarias
e com prazos prorrogados pelas Resoluções Conjuntas 01/2006 e 01/2007-SEED–SEEC–SEAE–SEMASECS-SESU-SEAB-SEJU-SETI-SETP-PMPR, rompe com o pacto do silêncio das elites, e em especial
com o viés latifundiário, como mecanismo de invisibilização das questões étnico-raciais do Paraná”.
Disponível em: < http://www.gtclovismoura.pr.gov.br/> Acessado em: 05 de julho de 2010.
89
BLUM, Caroline G. A cidade e suas f(r) estas: o carnaval curitibano. Relatório final de pesquisa de
iniciação científica PIBIC/CNPq – digitado. Orientadora: Prof ª Dr ª Selma Baptista. UFPR- TN,
2008/2010.
56
Bloco Afoxé na XV de novembro. Acervo: Casa da Memória. Direitos de uso da imagem cedido pela FCC.
3. 2. 2 Explosão de alegria: novas escolas na Marechal Deodoro
Em 1970 um grupo de atletas do time Flama F. C. do bairro Prado Velho se
retirou para formar um novo grupo de “peladeiros”, o G. E. Sapolândia. O novo time,
liderado por Julio Souza, logo se transformaria em escola de samba. Julinho era um
folião, apaixonado por carnaval. Passou a infância a vender confetes e serpentinas na
rua XV de Novembro, lá presenciou as batalhas das baterias e conheceu a escola na
qual se integraria mais tarde, a Embaixadores da Alegria. Mas Julinho, naquele
momento, acabou organizando sua agremiação e estreou no carnaval de 1971.
Carnaval de 1971, a Escola de Samba Acadêmicos da Sapolândia iria debutar
oficialmente no carnaval curitibano e para isso escolheu como enredo, “uma feira
na Bahia”, também minha estreia como carnavalesco. Escola nova, pouca verba,
poucos instrumentos, resolvi montar um enredo simples, sem muito brilho, mas
forte, que causasse boa impressão ao povo e aos jurados. (...) De madrugada, a
grande notícia: Acadêmicos da Sapolândia, em seu primeiro ano na avenida,
ganhava o título de Campeã do Grupo B do carnaval curitibano, mas como deu
bagunça no resultado do concurso das escolas de samba do Grupo A, a
Prefeitura declarou a Sapolândia vencedora geral do carnaval de 71 (SOUZA,
2006, p.31/32).
57
Ainda na década de 1970 surgiu em Curitiba a escola de samba Ideais do Ritmo,
situada no bairro Capão da Imbuia e presidida por Mansuedem Prudente dos Santos,
mais conhecido como “Chocolate”. A partir de informações dos bambas curitibanos, ele
foi lembrado como um transgressor, um sujeito que gostava de samba mas não
conseguia administrar uma escola. Glauco Souza Lobo, por exemplo, contou que a
escola do “Chocô” vinha extremamente feia para a avenida, “ele vinha para ‘brincar o
carnaval’”, disse Glauco. Maé da Cuíca lembrou de histórias relacionados ao possível
desvio de verbas públicas por parte do malandro Chocolate. O mestre da saudosa
Colorado revelou que a escola de samba Ideais do Ritmo apresentava um acabamento
estético precário, mas depois do carnaval a esposa do Chocolate exibia uma geladeira
nova em casa. Outro amigo de “Chocô”, Julinho definiu o amigo como um verdadeiro
malandro “cheio de conversas, enrolava todo mundo (...) os prefeitos, os vereadores, os
deputados, enfim todos nós” (SOUZA, 2006, p. 81). O jornalista Aramis Millarch
sintetizou as peripécias do malandro do carnaval de Curitiba:
Dentro da realidade do Carnaval curitibano Chocolate (Mansuedem Prudente dos
Santos) é um dos personagens mais característicos. Saindo às ruas para brincar
no Carnaval "desde que me entendo por gente", Chocolate é uma espécie em
franca extinção: o carnavalesco 365 dias por ano. (...) Chocolate é uma figura
curitibana que tem que ser entendida, compreendida e mesmo perdoada em suas
atitudes, nem sempre das mais corretas. Jamais se ajustará aos esquemas
empresariais de uma escola-empresa (...) Chocolate prefere sair à frente de 40
ou 50 sambistas, quase uma espécie de bloco, mas com toda liberdade possível.
90
E deixa os outros falar .
Em 1975 surge a escola de samba Mocidade Azul, descendente da D. Pedro II,
que havia deixado de contar com o apoio do clube homônimo e passou doze anos sem
lugar fixo para ensaiar. Em 1973 os foliões da D. Pedro II ganharam abrigo no Clube
Pinheiros e mesmo realizando seus ensaios nesse clube, os foliões seguiam se
definindo como escola de samba D. Pedro II. O Clube Pinheiros que colaborava com a
escola de samba passou a questionar a utilização do nome de outro clube em sua
sede. Assim, a pressão dos dirigentes do Clube Pinheiros levou os componentes a
90
MILLARCH, Aramis. Anistia para não faltar Chocolate no Carnaval. Almanaque. Estado do Paraná. 25
de janeiro de 1980. Disponível: < http://www.millarch.org/artigo/anistia-para-nao-faltar-chocolate-nocarnaval > Acessado em: 20 de janeiro de 2009.
58
elaborar um outro nome para a escola. Marlene Monte Carmelo nos contou como a
mudança de endereço impulsionou a criação da nova escola. Marlene foi uma das
fundadoras da escola de samba Mocidade Azul juntamente com Amauri Ferreira e o
bicheiro “Afunfa” (Oswaldo Silva).
Não dava para ficar no Pinheiros com o nome de outro clube. Daí alguém falou
‘que tal Mocidade’, porque éramos um grupo de jovens. Azul em homenagem às
cores do Pinheiros (...) Em 1977 formamos uma diretoria forte e em 1978 veio o
Charrão, companheiro do Atlético junto com o Amauri.
Depois de passar as férias de 1973 no Rio de Janeiro, Amauri Ferreira voltou
para Curitiba com o samba na cabeça. A experiência no carnaval carioca apenas
reforçou um gosto musical que vinha de casa. Seu pai era funcionário da R.F.F.S.A.,
torcedor do Clube Ferroviário e admirador da escola de samba do mestre Maé da
Cuíca. A jovem escola contava com a colaboração do empresário “Afunfa” e do
decorador de vitrines Jubal. Amauri trouxe seus colegas da faculdade de Educação
Física e, junto com sua ex-esposa Marlene, impulsionaram a criação da nova escola.
Em 1978, a chegada do carioca “Charrão” (José dos Santos Barbosa) e de sua esposa
Célia foram decisivos para a consolidação da Mocidade Azul, a escola cresceu pela
amizade das duas famílias. Mais tarde, se tornaram vizinhos, nasceram os filhos e os
amigos ficavam dias inteiros pesquisando os carnavais do Rio de Janeiro, debatendo
ideias para o próximo desfile da Mocidade Azul. Esse conjunto de elementos foram
decisivos para o sucesso da escola, a grande campeã dos carnavais dos anos 1980 e
1990.
Em entrevista, mestre Amauri Ferreira ressaltou o caráter familiar da organização
da Mocidade Azul e comentou que o trabalho ficava por conta dos dois casais de
amigos, ele e Marlene, Charrão e Célia. Amauri comentou que os dirigentes alugavam
um barracão, limpavam, pintavam e decoravam para transformar o espaço numa
quadra agradável para todos os componentes e simpatizantes da escola de samba
Mocidade Azul. De acordo com essas informações, o trabalho para manter a
agremiação se concentrava no núcleo familiar dos fundadores e amigos da escola. Esta
situação remete ao que foi afirmado pelo antropólogo carioca Roberto Da Matta, para
quem as organizações festivas (blocos, ranchos e escolas de samba) possuem uma
59
estrutura patronal, um “núcleo de pessoas fortemente relacionadas entre si pelo
parentesco, pela residência, pela cor e pelas condições gerais de existência social. São
os ‘donos’ ou os ‘pais’ da agremiação: seus criadores e sustentadores morais”. (DA
MATTA, 1997, p. 133).
A Mocidade se destacou pela beleza em suas alegorias e riqueza nos detalhes
das fantasias. Durante os anos 1980, a escola recebia as contribuições do bicheiro
Afunfa e pouco dependia da benevolência da prefeitura de Curitiba. O dinheiro para
colocar a escola na avenida nunca foi problema para os componentes da Mocidade
Azul. Pelas informações obtidas, o empresário cometeu um crime passional – matou a
esposa que o traía – e fugiu para Miami, nos EUA. Marlene e Amauri nos disseram que
o amigo não teve culpa, que foi um acidente e se emocionaram ao contar sobre os
belos carnavais da Mocidade.
Entre as conversas realizadas com a carnavalesca Marlene Monte Carmelo ficou
bastante nítido uma das preocupações do bicheiro: “calçar a escola”. Essa preocupação
com o acabamento estético não deve ser compreendida como uma exclusividade da
Mocidade Azul. No entanto, a escola de Marlene encontrava condições financeiras para
deixar todos os componentes com o maior grau de perfeição possível, dos “pés à
cabeça”.91 Dessa forma, as palavras da carnavalesca nos permite perceber a
superioridade estética da escola azul e branca durante os anos de colaboração do
bicheiro Afunfa. Em outra ocasião, nossa interlocutora afirmou que não faltava nada
para a escola, o material usado na fantasia era entregue assim que solicitados ao
amigo bicheiro. Durante os anos de patrocínio, a Mocidade Azul venceu nove vezes o
concurso das escolas de samba do Grupo A.
91
Durante a pesquisa de campo ouvimos com frequência a expressão “calçar a escola”. Nos desfiles de
2009 e 2010 verificamos que algumas escolas de samba se preocupam em calçar a escola, colocando
uma capa na parte superior dos calçados ou usando tinta nos sapatos dos componentes. Entre as alas,
uma delas se mostrou calçada na maior parte das escolas, as comissões de frente.
60
O bicheiro “Afunfa”, Oswaldo Silva com os jornalistas Aramis Millarch e Maria Adélia Lopes.
Carnaval na Marechal Deodoro em 1981. Acervo pessoal de Alberto Melo Viana.
Direitos de uso da imagem gentilmente cedido pelo autor.
Depois da fuga do bicheiro Afunfa, os dirigentes não deixaram de “calçar a
escola”, ou seja, a diretoria procurou manter o padrão de beleza e riqueza das fantasias
e das alegorias da Mocidade Azul. No fim dos anos 1980 a escola agregava cerca de
mil componentes na Marechal Deodoro e para manter o nível de sofisticação, os
dirigentes procuraram outras formas de arrecadar verba para a escola. A Mocidade Azul
costumava organizar bailes para ampliar suas receitas e apesar de ter mudado de
endereço de ensaios diversas vezes nos anos 1990, conseguiu manter seus
componentes e carnavais inesquecíveis. Entre os vários eventos
organizados pela
escola, o mais importante era a promoção do baile Gala Gay que reunia grande parte
da alta sociedade da cidade, travestis e transexuais se apresentavam em concursos de
fantasia que resultava num baile muito animado. De acordo com o mestre Amauri, o
Gala Gay revertia para a agremiação um montante em dinheiro suficiente para o
financiamento de grandiosos desfiles.
O cenário carnavalesco de Curitiba foi assim definido pelo jornalista Aramis
Millarch em 1985:
61
Assim, hoje há 35 agremiações, entre blocos e escolas, e a estimulante surpresa
do Deu Zebre no Batuque, da Vila de Santa Efigênia (...), a melhor do grupo B,
abrindo o desfile no domingo, confirma que há muita gente de talento capaz de
revigorar o Carnaval. Sob a direção de uma senhora (Lea Dotzin), apoiada na
associação comunitária de Santa Efigênia, o Deu Zebra no Batuque, tomando
Paranaguá como tema, apresentou belíssimo espetáculo. Outra prova de
fortalecimento de uma escola de bairro é a Vila Unida de Frei Miguel, criada há
poucos anos, na Vila Nossa Senhora dos Pinhais e dirigida pelo carnavalesco
decorador João Carlos Chimiquelski, também demonstrou grande organização, a
tal ponto que foi a única a distribuir um folheto de 8 páginas, com histórico,
samba-enredo e informações sobre o personagem homenageado, o músico
Janguito do Rosário (Joinville, 1923 - Curitiba, 1984). A Garotos Unidos, de Vila
Oficinas, reestruturada há 2 anos, encerrou belamente o desfile de domingo, com
a homenagem a Chocolate (Mansuedem dos Santos Prudente, 1933-1984),
também reverenciado pela decadente Verga Mas Não Quebra, que de tão
desorganizada só prejudicou o desfile e foi desclassificada. Outra escola sem
estrutura, a Unidos da princesa, também pretendeu homenagear Janguito do
Rosário. A Imperadores Independentes reverenciou o compositor Lápis (Palminor
Rodrigues Ferreira, 5/10/1942 - 10/2/1978), com seus dois filhos, Alexandre
92
(Grafite) e Palminor Júnior, elegantemente em black-tie, como destaques.
O carnaval de Curitiba nos 1980 apresentou uma verdadeira explosão de escolas
de samba. Esse aumento do número de agremiações aconteceu num momento em que
todo o processo de repasse de verba era feito através Associação das Escolas de
Samba, não havia a preocupação com os editais públicos da FCC. A relativa facilidade
para formar uma escola de samba pode ser compreendida como uma forma de
incentivo aos foliões se organizarem em escolas. Nesse contexto, a Fundação Cultural
de Curitiba já se responsabilizava pela organização do desfile das escolas de samba na
cidade, mas o financiamento através os editais ainda não existia.
Para Glauco Souza Lobo, os anos 1970 e 1980 podem ser considerados como o
momento de consolidação do “moderno carnaval curitibano”.
Entre os anos de 1975 e 1983 a FCC se preocupou com a decoração da avenida
Marechal Deodoro. Durante os governos identificados com o Lernismo, as
manifestações culturais seguiam os projetos urbanistas da cidade, com uma nítida
inquietação a respeito das aparências estéticas de Curitiba. Nesse período, surgiram os
mais diversos temas: em 1975 a avenida do samba homenageou a família Queirolo
com o tema “Chic-Chic”, o primeiro Momo da cidade. O arquiteto Abraão Assad
idealizou os projetos dos anos seguintes, em 1976 relembrou as caricaturas de Alceu
92
MILLARCH, Aramis. Só nos bairros é que se salvam as escolas. Disponível em:
<http://www.millarch.org/artigo/so-nos-bairros-que-se-salvam-escolas> Acessado em: 12 de novembro de
2009.
62
Chichorro com o tema “Chico Fumaça” – projeto desenvolvido em parceria com o
jornalista Dante Mendonça. Em 1977 em parceria com Joice Passos e Roberto Dias
planejou “Pierrôs, Colombinas, Arlequins e uma homenagem a Chic-Chic”. Nos dois
anos seguintes Abraão Assad trabalhou sozinho nos temas “Chora Pierrô” e “Som, Luz,
Cor e Movimento”. No ano de 1980 a avenida Marechal ganhou os contornos do diretor
do Centro de Criatividade de Curitiba, o ilustrador Gian Calvi, com o tem “a Fauna e a
Flora”. O tema do carnaval de 1981 foi “Carnaval na raça”, uma homenagem às etnias
que formaram a cidade de Curitiba, o projeto foi de Fernando Luiz Popp, com os
desenhos do cartunista Solda. No ano seguinte, Popp e Carlos Henrique Pilatti
desenvolveram o tema “Ano de Iemanjá – Carnaval para todos”. E em 1983 Pillati,
Maria Cristina de Camargo e João Mendes foram os responsáveis pelo tema “Fantasias
Circenses.”93
O costume de enfeitar a cidade se perdeu com as mudanças promovidas nos
quadros administrativos da prefeitura de Curitiba e, consequentemente da FCC.
Durante as gestões de Maurício Fruet e de Roberto Requião, Glauco Souza Lobo
participou diretamente da organização do carnaval como membro da Fundação Cultural
de Curitiba, como presidente da comissão de carnaval e como Secretário de Turismo do
Estado do Paraná, Glauco, um grande incentivador do carnaval, concentrou forças para
expandir o carnaval da cidade, e deixou de investir apenas na decoração carnavalesca
da cidade e procurou diversificar as festas populares de Curitiba, organizou festas
juninas e festejos de Ano Novo.
93
Temas de carnavais passados. Acervo da Casa da Memória - FCC. s/d. A escolha desses temas
carnavalescos foram elaborados por profissionais não envolvidas com a cena carnavalesca, um carnaval
era feito para o povo por uma elite.
63
Carnaval na Raça,1981. Decoração da avenida Marechal Deodoro. Fotos de
Alberto Melo Viana.
Destaque para os desenhos do cartunista Solda.
Disponível em: <http://cartunistasolda.blogspot.com>
Marechal Deodoro em 1981. Acervo pessoal de Alberto Melo Viana. Direitos de uso da imagem
gentilmente cedido pelo autor.
64
Para Glauco Souza Lobo foi na avenida Marechal Deodoro onde o carnaval
presenciou sua fase gloriosa, com grande presença de público, sofisticado acabamento
estético de fantasias e de alegorias. Outros pioneiros do carnaval curitibanos, como
Maé da Cuíca, Marlene Monte Carmelo e Amauri Ferreira mostraram-se unânimes, “o
carnaval bom era na Marechal”.94 A festa na avenida Marechal durava todo o feriado.
Na sexta-feira aconteciam os desfiles de blocos, no sábado passavam pela avenida as
escolas do grupo B e no domingo as agremiações do grupo A. Logo após a passagem
das escolas, a avenida Marechal Deodoro se transformava num imenso baile popular.
Na segunda-feira acontecia a apuração e terça-feira, as escolas campeãs retornavam
para brilhar na avenida. Os jornais da época confirmam as palavras dos bambas:
Vale a pena ir à Avenida Deodoro ver a disputa das dez escolas de samba e
blocos carnavalescos, (...) é (...) muita tradição. Serão mil sambistas no asfalto, o
único espetáculo de rua para o povo no carnaval. Algumas escolas (...) se
prepararam o ano todo para estes quatro dias. E seu esforço deve ter os
95
aplausos populares.
Depois de amanhã a chave da cidade estará em outras mãos (...) É um reino sem
determinação geográfica nem credo, político, apenas tem uma determinação e
um nome que são: fazer folia e carnaval. E a grande força do reinado está nos
batalhões que não são formados por soldados, mas sim por ‘puxadores de
samba’, tocadores de ‘caixa de guerra’ e outras gentes boas que formam as
96
Escolas de Samba.
94
Isso parece confluir e apontar para o fato de que não havia realmente qualquer tipo de “consciência” a
respeito desta separação entre “carnaval do povo” e “carnaval feito para o povo”.
95
Grandes Iguais Pelo Título. Diário do Paraná. 20 de março de 1971.
96
Nossas Escolas: Uma Árdua e Sofrida Sobrevivência. Estado do Paraná. 06 de fevereiro de 1975.
65
Marechal Deodoro em 1981. Acervo pessoal de Alberto Melo Viana. Escola de Samba Mocidade Azul.
Direitos de uso da imagem gentilmente cedido pelo autor.
Marechal Deodoro em 1981. O fotógrafo nos ombros do passista “Mancha” da Mocidade Azul. Direitos de
uso da imagem gentilmente cedido pelo autor.
66
Detalhe da pirâmide da Mocidade Azul. Desfile na Marechal Deodoro em 1981.
Acervo pessoal de Alberto Melo Viana. Direitos de uso da imagem gentilmente cedido pelo autor.
De acordo com as informações de Glauco Souza Lobo, o desfile carnavalesco
deixou de acontecer na Marechal Deodoro graças a forte pressão dos prédios
residenciais da região, pois os moradores reclamavam da “baderna” e da sujeira
deixada pelos foliões. Na opinião de Glauco, foram estas reclamações as grandes
responsáveis pela mudança dos desfiles carnavalescos da Marechal Deodoro. Após o
carnaval de 1995, a prefeitura escolheu a avenida João Negrão como nova passarela
do samba, mas este local não agradou os carnavalescos da cidade, e apenas o desfile
de 1996 aconteceu neste espaço. Depois disso, o desfile das escolas de samba
retornou para a Marechal por mais dois anos. E, em 1999 a administração da cidade
selecionou como nova sede do desfile carnavalesco: a avenida Cândido de Abreu, no
Centro Cívico.
O desfile carnavalesco de 1996 que aconteceu na avenida João Negrão no
bairro Rebouças foi marcado pela chuva e pela insatisfação geral dos representantes
das escolas. Olinto Simões – carioca radicado em Curitiba, produtor cultural envolvido
67
com a cena teatral da cidade e observador do carnaval da cidade – participou como
jurado nesse carnaval e contou sobre esse deslocamento do desfile para a João
Negrão promovido pela FCC.
Na Marechal, eu tinha tristeza de ver a quantidade de pessoas da escola
embriagadas na avenida, não havia um “policiamento” dos próprios dirigentes da
escola escolas, uma desarmonia total. Ate que um belo dia eles tentaram acabar
com o carnaval de Curitiba e jogaram lá pra João Negrão. E foi muito triste ver
aquilo. Curitiba pra chover não é difícil, nós não tínhamos capa, nem nada, nos
pegamos um temporal, chovia direto de cima da gente. (...) Uma região perigosa.
Não foram poucos os problemas que nós tivemos nesse ano.
A escolha pela avenida Cândido de Abreu não era novidade, em 1983, a FCC já
havia organizado um desfile nessa avenida e o resultado não foi dos melhores,
conforme anunciou o jornal O Estado do Paraná na ocasião:
Mas com ou sem chuva, se confirmou o óbvio: a Avenida
Cândido de Abreu não é o local ideal para o desfile carnavalesco.
Apesar do possibilitar maior número de arquibancadas e não
atrapalhar o tráfego, a distância daquele ponto contribuiu para
tornar a cidade ainda mais triste neste Carnaval (...) Curitiba não é
o Rio de Janeiro e se lá o povo vai à Avenida Marquês de Sapucaí,
aqui, a retirada da principal atração do centro da cidade contribui
pra que fosse reforçada a tese de que a nossa Capital é a cidade
mais anticarnavalesca do país. O que não é bem verdade, haja
vista a animação nos clubes.97
97
Depois do Carnaval. O Estado do Paraná. 17 de fevereiro de 1983.
68
PARTE II - CICLOS CARNAVALESCOS DE 2008/2009 E 2009/2010:
NEGOCIAÇÃO E EXECUÇÃO
4. BARRACÃO/QUADRA/DESFILE:
OS SAMBAS ENREDO COMO PERFORMANCE
A partir da observação dos eventos dos ciclos carnavalescos de 2008/2009 e
2009/2010, o trabalho etnográfico se colocou a tarefa de recuperar o passado do
carnaval curitibano a partir da memória foliã a fim de apontar o processo de
formação/transformação de uma determinada estrutura carnavalesca. Durante a
pesquisa de campo percorremos todas as escolas de samba de Curitiba em atividade e
acompanhamos os preparativos relacionados a organização do desfile carnavalesco.
Assim, a narrativa se direciona para uma perspectiva mais próxima dos eventos
analisados, uma observação seguindo a ação dos sujeitos. Conforme sugestão de
Clifford Geertz, nosso olhar se direcionou ao contexto das ações e procurou resgatar a
dimensão reflexiva das atividades etnografadas no cotidiano dos sujeitos envolvidos no
carnaval da cidade, numa tentativa de recuperar “o processo de elaboração da
inscrição da ação, seus sentimentos e como estes funcionam, e as implicações que a
fixação do sentido que emana de um fluir de eventos.”98
Este encaminhamento teórico de Clifford Geertz encontra eco nos trabalhos
posteriores de Victor Turner elaborados sob inspiração das propostas de Richard
Schechner. Esse encontro acabou por delimitar um campo de estudos definido como
antropologia da performance e da experiência, dois campos integrados e inseparáveis
na medida que “uma performance completa uma experiência”. (TURNER, 1982, p. 13).
Entre os textos seminais para a formulação desses conceitos estão: From ritual does
theatre: the human seriousness of play (1982) e The anthropology of performance
(1988) e de Richard Schechner Between theater and anthropology (1985).
O ciclo anual do carnaval das escolas de samba se caracteriza por sua
temporalidade cíclica: nasce, morre e renasce de forma contínua, ininterrupta, porém de
98
GEERTZ, Clifford. Mistura de gêneros: a reconfiguração do pensamento social. In: Saber Local: novos
ensaios em antropologia interpretativa [1980]. Petrópolis: Vozes, 2008. p. 50.
69
maneira diferenciada. Dessa forma, o desfile na avenida demonstra a realização do
“ritual” carnavalesco, no seu caráter de repetição e transformação.99 Conforme Maria
Laura Viveiros de Castro Cavalcanti, o carnaval possui outras dimensões, além da festa
em si: “trata-se de uma forma cultural complexa e estrutural cujo conteúdo expressivo –
o enredo, samba-enredo, as fantasias e as alegorias – é o vetor da vasta rede de
reciprocidade que percorre anualmente diferentes bairros e camadas sociais da cidade”
(CAVALCANTI, 1995, p. 214). Segundo a pesquisadora, o carnaval compreende duas
categorias, o visual e o samba. A denominação carnaval não se resume ao momento
do desfile, agrega também toda a sua preparação, a construção do pertencimento das
pessoas, afetiva e ideologicamente com às escolas de samba.
A categoria samba aproxima-se da ideia de festa, refere-se ao canto, à dança,
enfatizando a união dos participantes em uma mesma experiência A categoria
visual remete à dimensão espetacular das escolas, distingue entre ator e
espectador, abrangendo basicamente os componentes plásticos de um desfile,
100
em especial fantasias, adereços e alegorias.
Ao pensar o carnaval como uma “forma cultural complexa”, e não apenas do
ponto de vista do espetáculo da avenida, nos preocupamos em analisar como se
apresentam os modos de fazer desse carnaval de Curitiba, sua produção nos
bastidores do desfile. Para tanto, nos aproximamos de todas as agremiações
carnavalescas atuantes no carnaval da cidade, dos grupos A e B, já no primeiro
semestre de 2008 com a realização de uma série de entrevistas com personalidades do
carnaval da cidade – os pioneiros da folia curitibana. Além das entrevistas uma
profunda pesquisa em arquivos públicos em busca de fotografias e documentos que
pudessem nos fornecer informações sobre as escolas de samba foi feita.
Permanecemos em campo durantes os ensaios, nos barracões, nos desfiles e nas
apurações ao longo dos dois ciclos carnavalescos já citados.
Para nos aproximarmos das relações formadas a partir do carnaval, seguimos as
sugestões de Cavalcanti e tomamos o carnaval como um ritual agonístico
99
CARVALHO, José Jorge. Metamorfoses das Tradições Performáticas Afro-brasileiras: do patrimônio
cultural à Indústria de Entretenimento. Série Antropologia. n. 354. SINGER, Milton. When a great
tradition modernizes. Chicago: the University of Chicago Press, 1980.
100
CAVALCANTI, Maria Laura V. de C. O rito e o tempo: ensaios sobre o carnaval. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1999. p. 74
70
(CAVALCANTI, 1999, p. 74) que é impulsionado pelo lançamento do edital pela FCC. O
lançamento do edital costuma ser publicado no site da FCC entre os meses de
setembro e outubro e em novembro ou dezembro as escolas iniciam seu trabalho nos
barracões, quando obtém a resposta positiva da entidade. Esse período de espera dos
resultados do edital envolve muita tensão e angústia, pois algumas escolas iniciam
seus trabalhos meses antes de saber se poderão contar com a verba ou não. A tensão
e a angústia se devem, principalmente, pela dificuldade enfrentada para preencher
adequadamente as condições impostas pelo edital, principalmente a definição de
“orçamentos” e “cronograma de atividades”. De acordo com alguns carnavalescos,
aguardar os resultados da FCC não é apenas uma opção, é fundamental, na medida
que esses recursos disponibilizados pela prefeitura são, na maioria das vezes, a única
fonte de financiamento das escolas.
A produção do carnaval acontece em dois lugares preferenciais, a saber, os
barracões e as quadras de ensaios. Em algumas escolas de samba de Curitiba, grande
parte da produção de fantasias é literalmente “feita em casa”. Essa fase denominada
como produção se coloca num estágio intermediário entre o inicio das atividades
carnavalescas (o lançamento do edital) e seu desfecho, o desfile e a apuração. O
desfile competitivo entre as escolas de samba acontece na avenida Cândido de Abreu e
toda a organização do espaço, luzes, arquibancadas, segurança, distribuição de
licenças para comerciantes e ambulantes são responsabilidades da Prefeitura. De
acordo com o diretor de Ação Cultural da Fundação Cultural de Curitiba, Beto Lanza,
todos os prestadores de serviço também se sujeitam a processos licitatórios, segundo o
dirigente, os selecionados são profissionais altamente qualificados.
4. 1 Abertura do ciclo carnavalesco: antes e depois dos editais da FCC
Conforme mencionado anteriormente, entre os anos 1950 e 1970 as escolas de
samba negociavam diretamente com a prefeitura uma ajuda financeira para a execução
do desfile. Com a formação da Associação das Escolas de Samba em 1971, as
agremiações passaram a contar com uma entidade mediadora, uma representação que
promovia o diálogo entre escolas e a FCC. Nos anos 1990, a Associação deixou de
existir graças a desacordos entre os associados e, de acordo com as informações
71
obtidas, as brigas se deram por denúncias de desvio de verba por parte dos dirigentes
da Associação. A fim de assegurar a mediação entre escolas e a FCC, surgiram duas
entidades representativas: a Liga e a Federação das Escolas de Samba. A Federação
pouco durou e a Liga não demonstrou coesão suficiente se dissolvendo em 2006.
Desde então, as escolas de samba de Curitiba negociam a liberação da verba através
de um mecanismo burocrático: o edital carnaval.
O
edital
carnaval consiste
num
instrumento
formal
e
burocrático
de
intermediação entre as escolas e a FCC. Para os carnavalescos, este mecanismo não
respeita as especificidades da produção do carnaval de Curitiba, as escolas de samba
acatam as imposições deste instrumento a fim de conseguir ganhar a verba destinada
para a realização do desfile. O edital carnaval coloca aos proponentes todos os prérequisitos necessários para concorrer a verba cedida pela prefeitura através da
Fundação Cultural de Curitiba para as escolas de samba. De acordo com este
documento, apenas as agremiações com no mínimo um ano de atuação podem
concorrer ao financiamento, desde que não apresente nenhuma pendência inscrita na
esfera federal, estadual ou municipal. Para comprovar essas informações, o edital exige
uma série de certidões de tributos, de contribuições de pessoa jurídica e de débitos da
previdência social. Além dos documentos devidamente emitidos dentro do prazo de
validade (algumas certidões são válidas por apenas 10 dias), os proponentes devem
informar para a FCC detalhes da execução técnico-artísticas da escola de samba,
conforme trecho do documento, as escolas devem especificar:
(…) descrição detalhada da proposta artística (...) e planejamento executivo,
incluindo justificativa, objetivos e metas a serem alcançadas, acompanhado de
fita VHS, CD ou DVD, fotografias, croquis e outros materiais que permitam a
avaliação dos figurinos e adereços a serem utilizados, além dos demais itens
pertinentes à habilitação técnica abaixo descriminados: Número de participantes;
Número de carros alegóricos com dimensões aproximadas e endereço de
localização (para Escolas de Samba); (…) Endereço, datas e horários das
atividades dos ensaios e das oficinas; Letra e Tema do Samba Enredo;
Detalhamento do conteúdo do projeto que evidencie a sua adequação às
características do evento, nos parâmetros usualmente adotados pela Fundação
(...) e resultados almejados especialmente junto à coletividade. Cronograma de
atividades, especificando integralmente o Plano de Aplicação dos Recursos
Financeiros, o qual deverá estar em estrita consonância com a realização do
desfile e cumprimento do objeto do presente edital (…).
Para “colocar a escola na avenida”, as agremiações carnavalescas vivenciam
momentos complementares e dramáticos: a arrecadação de verba e o trabalho dos
72
dirigentes e componentes da escola de samba para confeccionar carros alegóricos e
fantasias. Embora sejam atividades associadas, elas envolvem esforços diferenciados.
De acordo com os carnavalescos/dirigentes101 “fazer o carnaval” ou “montar a escola”
não diz respeito apenas ao trabalho de produção, envolve um processo longo e
tortuoso de negociação junto à Fundação Cultural de Curitiba. Esse processo começa
quando o edital é divulgado no site da FCC.102 As escolas que não cumpriram com o
regulamento do carnaval anterior ficam impedidas de se candidatar à verba do ano
seguinte.
Em entrevista realizada em novembro de 2008, a presidente da Embaixadores
da Alegria comentou sobre a tarefa do preenchimento do edital carnaval. Para ela, a
FCC parece estar cada vez mais exigente. A dirigente mostrou o edital e salientou os
inúmeros itens a serem preenchidos pelas escolas de samba. Para a presidente, a FCC
não compreende a dificuldade de receber a verba com pouca antecedência: “se eu for
deixar para comprar quando sai a verba não compro nada”. O presidente da escola do
grupo B Os Internautas também falou sobre as dificuldades da liberação da verba pela
FCC: o dinheiro destinado às escolas de samba costuma sair “em cima da hora” e
dificulta a produção do carnaval. Muitas vezes as escolas de samba antecipam a
compra do material para as fantasias e alegorias. A prática de “tirar do bolso” foi
admitida como recorrente por grande parte dos carnavalescos da cidade.
A partir do lançamento do edital carnaval as escolas precisam ter definido o
enredo, os croquis das fantasias e um cronograma de atividades, a fim de preencher
todas as exigências do edital. Além disso, as escolas precisam repassar à FCC
orçamento aproximado dos gastos com compra de materiais (madeira, isopor, tecidos,
plumas) e despesas com possíveis contratações de profissionais para a realização do
desfile, sendo que qualquer gasto destinado a pagamento de aluguel ou contas de água
e luz é vetada pelas regulamento. Depois de algumas semanas, o resultado é
disponibilizado publicamente no site e são definidas as escolas contempladas com a
verba e aquelas que não obtiveram sucesso. Caso a escola de samba não tenha sido
considerada habilitada a receber a verba, se desdobra uma nova etapa de negociação
101
Muitas vezes as atribuições não se diferenciam e a definição de carnavalesco em Curitiba possui um
caráter bastante flexível.
102
Ver editais em Anexos.
73
com a interposição de recursos. A partir disso, a FCC reavalia os projetos apresentados
para dar um parecer favorável ou não às escolas reclamantes. Percebe-se neste
processo de “luta”, pelo financiamento por um lado, e por outro, uma tentativa de
padronização e imposição de requisitos mínimos ou comuns de produção, o
enquadramento dentro de um edital licitatório nem sempre compreendido pelas escolas.
Para os dirigentes das escolas de samba “ganhar a verba” possui um sentido
próximo ao de uma guerra, são batalhas solitárias que cada escola disputa diretamente
com a FCC, pois as agremiações carnavalescas, conforme já citado, não possuem uma
entidade representativa desde 2006. Ao ser confirmada como habilitada e contemplada,
a escola venceu uma batalha – preencheu corretamente os formulários e cumpriu com
todos os requisitos do regulamento do desfile do ano anterior – e se prepara para um
segundo round: conseguir fazer um carnaval com os escassos recursos cedidos pela
prefeitura. Na visão dos dirigentes das escolas o valor cedido pela FCC às escolas de
samba não é suficiente. Em 2009, as agremiações do grupo A receberam 18 mil reais e
as escolas do grupo B 12 mil reais. No ano seguinte, as escolas foram agraciadas com
um ligeiro aumento, os benefícios passaram a ser de 25 e de 18 mil reais para as
escolas do grupo A e B respectivamente.
Esta especificidade sobre o carnaval curitibano - seu modo de financiamento e a
ausência de uma entidade representativa - mostrou oscilações em anos anteriores.
Conforme mencionado, nos anos 1970 o mestre de bateria da extinta Colorado, Maé da
Cuíca foi aclamado pelos seus pares como presidente da Associação das Escolas de
Samba e acabou sendo o principal organizador desta entidade representativa. Em
meados dos anos 1980, o cargo de presidente da Associação foi ocupado por outros
dirigentes de outras escolas de samba da cidade103 e de acordo com as informações
obtidas, a existência de uma entidade representativa não se traduziu numa convivência
tranquila entre as coirmãs, pelo contrário, as negociações costumavam ser tensas, pois
o caráter competitivo do desfile carnavalesco promove a existência de brigas e de muita
rivalidade.
103
Faltam dados precisos sobre esses processos de sucessão na medida que a documentação dessa
entidade não foi recuperada ao longo da pesquisa.
74
Em meados dos anos 1980, Glauco Souza Lobo assumiu a responsabilidade de
colocar em execução um projeto104 para o carnaval de Curitiba. Neste contexto, de
acordo com as informações dos carnavalescos, a Associação das Escolas de Samba
deixou de atuar como entidade mediadora deixando de negociar com a FCC, na medida
que pessoas de dentro da FCC passaram a executar essa atividade. Dessa maneira, a
Associação se tornou frágil, ficando nas mãos do poder público, e sua dissolução
representou a deflagração de sucessivas crises de mediação.
Com raras exceções,105 nos carnavais de 2009 e 2010, observamos uma
situação de dependência quase total do mecenato público. Essa situação acentua uma
relação de poder entre escolas e FCC, e a forma de conduzir a liberação da ajuda às
escolas, realizada através do edital, costuma ser interpretada pelos carnavalescos
como uma falta de cultura carnavalesca, por parte dos órgãos dirigentes. Essa
dificuldade de saber “o que fazer com o carnaval”, pode ser observada em situações
diversas, a destacar, as narrativas negativas criadas e reproduzidas sobre o carnaval
de Curitiba e suas escolas de samba.
4. 2 FCC e as escolas de samba: cenas de uma negociação
Nos dias 01 e 02 de novembro de 2008 aconteceram na sede da FCC reuniões
para determinar os critérios de julgamento para o desfile carnavalesco de 2009.
Estavam presentes na reunião representantes das agremiações dos grupos A e B –
Acadêmicos da Realeza, Embaixadores da Alegria, Leões da Mocidade, Os
Internautas, Unidos de Pinhais, Unidos do Bairro Alto e Falcões Independentes. Além
das escolas de samba, estava presente o presidente da ONG Dignidade, defensor dos
104
Projeto do sentido dado por Gilberto Velho, como ações racionais e conscientes desenvolvidas num
campo de possibilidades. VELHO, Gilberto. Projeto e metamorfose: antropologia das sociedades
complexas. Jorge Zahar Editor, 2003. p. 8 Glauco Souza Lobo tem plena consciência de seu papel
enquanto mediador e reconhece suas ações como projetos para o carnaval de Curitiba, ações propostas
para torná-lo moderno.
105
Poucas escolas de samba recorrem ao patrocínio alternativo. De acordo com alguns interlocutores, a
Acadêmicos da Realeza negociou com o Coritiba Foot Ball Club em 2009 uma boa ajuda financeira. Mas
os dirigentes da escola de samba jamais confirmaram essa informação. Em 2010 a Mocidade Azul
informou que buscaria patrocínio com uma empresa de perfumes curitibana de renome nacional, mas
também não confirmou o sucesso ou o fracasso dessa negociação. Para o carnaval de 2011 a tendência
se desenha para a ampliação de enredos direcionados a certos patrocinadores.
75
direitos da comunidade GLBT e presidente do Bloco Carnavalesco Dignidade. Como
presença ilustre e condutora dos trabalhos estava a carnavalesca e comentarista da
Rede Globo de Televisão, Maria Augusta Rodrigues. A carnavalesca carioca foi
contratada pela FCC através da indicação do antropólogo curitibano radicado no Rio de
Janeiro, Nilton Silva dos Santos.106 O início da reunião estava previsto para as 14:00 e
com um atraso de aproximadamente 40 minutos, os trabalhos se iniciaram. Aos poucos
os
participantes
tomaram
seus
assentos
na
pequena
sala
com
cadeiras
desconfortáveis. Estávamos em aproximadamente trinta pessoas.
Maria Augusta tomou seu lugar à frente das cadeiras numa mesa à parte, tendo
à sua esquerda o antropólogo e Jaciel Teixeira – presidente da Comissão Executiva do
Carnaval 2009. A carnavalesca iniciou a conversa a partir do regulamento para o desfile
competitivo e enfatizou a necessidade dos ensaios técnicos para melhorar a qualidade
dos desfiles. Assim, o debate logo divergiu para os problemas enfrentados pelos
carnavalescos de Curitiba: a ausência de um lugar para ensaios e a escassa verba
cedida pela FCC.
A consultora sugeriu algumas possibilidades para superar tais
problemas e usou como exemplo as escolas do Rio de Janeiro. Segundo Maria
Augusta, até mesmo as escolas de samba do grupo especial reciclam materiais e a
comunidade costuma devolver as fantasias. Sobre isso, a presidente da Embaixadores
da Alegria se posicionou relatando a impossibilidade de guardar carros e fantasias
afirmando não ter lugar para guardar nada. Ao que a consulta, respondeu, “eu faço
esse trabalho em muitos lugares do Brasil. Há uma tendência em deixar tudo na mão
do Estado. No Rio, foi pequeno e hoje é o maior espetáculo do mundo.” Enquanto Suzy
e Maria Augusta polarizaram os debates, todos escutavam em silêncio até que a
discussão se abriu a partir da intervenção de Paulo Roberto Scheunemann, presidente
da Acadêmicos da Realeza que ressaltou a importância da união de forças entre as
escolas e a necessidade em deixar de lado as divergências pessoais. Maria Augusta,
então, organizou a discussão e conclui: “eu tô desabafando, só depende de vocês”.
106
Conforme mencionado, Nilton da Silva Santos se aproximou de Maria Augusta durante seu trabalho
de campo para a realização da sua tese de doutorado sobre os carnavalescos no Rio de Janeiro.
76
Reunião da Fundação Cultural de Curitiba. Dia 02 de novembro de 2008. Da esquerda para a direita na
parte superior: na primeira foto, Maria Augusta e Nilton Santos; na segunda. Jaciel Teixeira ao lado
esquerdo do antropólogo. Na parte inferior: representantes das escolas de samba. Fotos: acervo pessoal.
As escolas do grupo B não se manifestaram, permaneceram como observadoras
da discussão entre Embaixadores da Alegria, Acadêmicos da Realeza e Maria Augusta.
Nessa cena, as tensões latentes entre as escolas de samba do grupo A se tornaram
evidentes. A presidente da Embaixadores da Alegria insistiu na insuficiência dos
recursos cedidos pela FCC para “colocar a escola na avenida” e o presidente da
Acadêmicos da Realeza reforçou os problemas de infra-estrutura da Avenida Cândido
de Abreu. Para ele, a ausência de um sambódromo dificulta a realização de um
carnaval agradável para “o povão sofrido em pé nas arquibancadas”. Da mesma
maneira, na sua opinião, as escolas deveriam se organizar e promover ensaios
mediante a cobrança de ingresso.
Os ânimos estavam nitidamente alterados e uma sugestão inesperada causou
surpresa a todos os presentes: a consultora sugeriu a redução do número de escolas
77
para o desfile de 2009. A carnavalesca mal concluiu a frase e o presidente da escola de
samba Falcões Independentes, saltou da cadeira e falou energicamente que as escolas
do grupo B não brigam, que elas se ajudam e não achava justo tirar uma escola para
beneficiar outras. Após o desabafo, Jurandir se retirou da sala fazendo gestos de
indignação e falando consigo mesmo. Pouco depois, seu filho Anderson o acompanhou.
Maria Augusta, passado o choque inicial diante da reação intempestiva de Jurandir,
pediu calma a todos e insistiu para que o presidente da Falcões retornasse para a
reunião. A carnavalesca falou sobre a boa vontade da prefeitura de Curitiba em ajudar
todas as agremiações, “eu estou aqui para isso”, revelou Maria Augusta. Uma
funcionária da FCC se mostrou envergonhada diante da cena e pediu para os
presentes valorizassem a ilustre presença de Maria Augusta Rodrigues. No entanto, a
própria carnavalesca reconheceu, “eu provoquei, eu gosto disso”.
Diante do exposto, a carnavalesca Maria Augusta Rodrigues pode ser vista como
um elemento de mediador para a resolução dos atritos entre escolas de samba e FCC.
No entanto, a reunião do dia 02 de novembro mostrou como a presidente de honra da
Comissão Executiva do Carnaval 2009 desconhecia a situação do carnaval na cidade
de Curitiba. A contratação da consultora pode ser compreendida como um mecanismo
para a FCC expor e conduzir a aceitação de certas ideias que não foram totalmente
explicitadas, mas que induziam a aceitar a boa vontade da prefeitura em melhorar a
imagem do carnaval. O estado de crise não foi superado e as indicações de Maria
Augusta ficaram em projetos. A consultora insistiu na construção de um ponto de
encontro para o samba e enfatizou a importância dos ensaios técnicos. Esses ensaios
aconteceram na quinta-feira anterior ao desfile e poucas escolas participaram.
A presença da carnavalesca carioca acabou por surtir pouco efeito, como por
exemplo, a antecedência na liberação da verba da FCC para as escolas de samba. Em
anos anteriores, as escolas chegaram a receber essas contribuições três dias antes do
desfile, mas para o carnaval 2009 a verba foi liberada um mês antes do carnaval, mas
os valores continuaram modestos: 18 mil reais para as escolas do grupo A e 12 mil
reais para as escolas do grupo B. A sugestão de Maria Augusta de reduzir o número de
escolas acabou por se concretizar por razões alheias a sua indicação, duas escolas de
samba do grupo B – Jesus Bom à Beça e a Falcões Independentes – e o Bloco
78
Carnavalesco Dignidade ficaram de fora do carnaval 2009 graças a problemas na
prestação de contas do carnaval anterior. Assim, as dificuldades entre escolas e FCC
continuaram, a ação reparadora, neste caso, não foi completa, pois o fator de mediação
não foi eficiente. De acordo com Victor Turner, caso a ação reparadora não se realize
em sua plenitude, haverá um retorno à fase de crise.107 Assim, reforçamos nossa
hipótese sobre o constante estado de crise do carnaval de Curitiba.
4.3 Os preparativos: a escolha do cortejo real
Os membros do cortejo real carnavalesco da capital paranaense foram
escolhidos em um concurso organizado pela Fundação Cultural de Curitiba no dia 04 de
dezembro de 2008. Ao todo, eram nove candidatas ao posto de rainha do carnaval da
cidade e para usar a coroa de rei momo o concurso apresentou dois candidatos,
Emilson Ribeiro Taborda, o “Gipão” de 52 anos, eleito rei momo de Curitiba nove vezes
não-consecutivas desde 1996 e Mauro Lúcio Silva. Depois da apresentação de todos
os candidatos foi anunciada a vitória do desafiante Mauro Lúcio Silva, muitos na plateia
desaprovaram enfaticamente a decisão dos juízes. “Gipão” foi convencido a participar
do evento e pareceu ser uma figura muito querida por todos no meio carnavalesco.
Mauro chamado de ''Parente Tibúrcio'', de 40 anos e 88 quilos distribuídos em 1,78 de
altura – um rei momo magro foi adotado pelo cantor e compositor carioca Zeca
Pagodinho, e trabalha como dançarino e animador de palco do programa Domingão do
Faustão, da Rede Globo de televisão.
A escolhida como rainha do carnaval de Curitiba foi a paulista Roseane
Oliveira, 33 anos, ela trabalha como secretária de uma transportadora e reside na
cidade desde 2001. Em São Paulo, a passista não participava de nenhuma escola, mas
conhecia a Rosas de Ouro e chegou a sambar em alguns ensaios. Antes de ser eleita
rainha do carnaval de Curitiba, Roseane foi a primeira rainha da escola Leões da
Mocidade, em 2008.
107
TURNER, Victor. Dewey, Dilthey and Drama: an essay in the anthropology of experience. In:
BRUNER, Edward M.; TURNER, Victor (orgs.) The Anthropology of experience. Urbana and Chicago:
University of Illinois press, 1986. p. 39
79
O concurso para a escolha da rainha do rei momo de Curitiba aconteceu dia 04 de dezembro de 2008.
Roseanne, a rainha do carnaval 2009, usou o número 5. Foto: Larissa Sant’Anna Fernandes.
As escolas de samba do grupo B não mandaram representantes para o concurso
do cortejo real, com exceção da Unidos do Bairro Alto. A festa foi conduzida pela banda
Lefigarro. Essa banda possui um repertório bastante eclético e elegeu como canção de
abertura a música “verdade” de Zeca Pagodinho, uma escolha pouco carnavalesca
segundo alguns presentes na festa. Os jurados foram escolhidos pela própria FCC,
entre eles estavam os vereadores Tico Kuzma, Serginho do Posto, Julieta Reis e
Roberto Hinça. A vereadora Julieta Reis participou de outros eventos carnavalescos,
esteve na quadra da Leões da Mocidade para a escolha da rainha dessa escola e
também foi jurada na escolha da rainha da Embaixadores da Alegria. Roberto Hinça
seria jurado da Garota Bem Bolada,108 no entanto, ao último momento, não
compareceu. Serginho do Posto e Tico Kuzma também compareceram no palanque
oficial na avenida Cândido de Abreu para prestigiar o desfile das escolas de samba.
108
O concurso elege a garota de programa mais bonita do carnaval de Curitiba e recebe grande destaque
no jornal Tribuna do Paraná, nas “triboladas”. A 39 ª edição do evento esse carnaval, aconteceu no
domingo, dia 22 de fevereiro na Crystal Night Club. As concorrentes trabalham casas noturnas ou são
“modelos independentes”.
80
Enfim, a presença de políticos tem sido constante, ao que tudo indica, desde 2005, de
maneira explícita, sem que ainda se constitua de uma mediação transparente.109
4. 4 Os preparativos: barracões e quadras
Escolas de samba de Curitiba - Ciclos carnavalescos 2008/2009 e 2009/2010
Grupo
Nome da entidade/ escola de Ano de
samba
fundação
Mestre
de bateria
Presidente
A
Grêmio Recreativa Cultural
Escola de Samba
Acadêmicos da Realeza
Mestre
Anderson
“Brinco”
Paulo Roberto César
Monteiro
Scheunemann
B
1998
Carnavalesco
Sociedade Cultural e
1948
Carnavalesca Embaixadores
da Alegria
Mestre Rogério Suzy Franco
D'Ávila
Não possui
Sociedade Recreativa
Cultural e Beneficente Leões
da Mocidade
2007
Mestre “Divino”
Vilmar Alves
Amil Pedroso
Júnior
Associação Cultural Escola
de Samba Unidos do Bairro
Alto*
2000 ?
Laé di Cabral
Antônio
Guedes
Laé di Cabral
Grêmio Recreativo
Beneficente Escola de
Samba Os Internautas
2000 ?
Não possui
Haroldo
Ribeiro
Não possui
Grêmio Recreativo Escola de 1976
Samba Mocidade Azul
Mestre Daniel
Patrício
Altemir
Ricardo
Garanhani
Grêmio Recreativo Escola de 1980?
Samba Os Unidos de
Pinhais**
Mestre
Anderson
“Baby”
Gilmar
Renaud
Não possui
Boi de Pano
Laé di Cabral
Laé di Cabral
Laé di Cabral
2009
Para analisar os ensaios das escolas de samba, tornou-se necessário a distinção
entre as características das escolas do grupo A e B. As escolas do grupo A costumaram
tem ensaios mais frequentes e para o carnaval 2008/2009 todas as escolas do grupo A
modificaram seu local de ensaio, se deslocaram de seus bairros para espaços mais
centrais. Com a proximidade do dia desfile, o número de ensaios aumentava e a bateria
109
Recentemente o vereador Jair Cézar organizou um seminário sobre o carnaval a fim de aproximar as
escolas para uma discussão sobre a construção de uma “rua das festas”. O seminário aconteceu no
teatro Paiol e contou com a presença de Glauco Souza Lobo, do jornalista Luiz Geraldo Mazza, da
antropóloga Selma Baptista, entre outros.
81
se tornava mais complexa, com maior número de “paradas” e coreografias. Nesses
ensaios era muito comum a presença das passistas, enquanto nos ensaios das escolas
do grupo B foram menos frequentes e aconteceram cerca de duas semanas antes do
desfile.
Em Curitiba o processo de produção do carnaval costuma ser bastante artesanal.
Os investimentos são modestos e o trabalho configura-se como essencialmente
voluntário, e mesmo as escolas de samba que contratam carnavalescos, no sentido
carioca do termo110, não deixam de contar com o apoio dos componentes. Em algumas
escolas a relação com a comunidade possui laços mais fortes e em outras não. A
dificuldade em estabelecer contato com um bairro diz respeito ao caráter quase sempre
itinerante das agremiações carnavalescas. Como as escolas não possuem seus
próprios barracões111, elas acabam por se fixar numa região da cidade apenas durante
o carnaval. Na maioria das escolas existe um modelo híbrido de produção carnavalesca
onde co-existem as formas “feito em casa” e “profissional”.
As escolas de samba do grupo A – Acadêmicos da Realeza, Leões da Mocidade
e Embaixadores da Alegria – iniciaram seus ensaios para o carnaval 2009 entre os
meses de novembro e dezembro de 2008. Durantes esse período as escolas elegeram
suas rainhas e madrinhas, apresentaram seus sambas de enredo e organizaram suas
baterias. Os ensaios aconteciam durante os dias de semana e tinham início às 19:00 e
terminavam antes da 24:00. Essas escolas não possuem uma quadra de ensaios e
precisam encontrar espaços para abrigar seus ritmistas, componentes e simpatizantes.
Assim, além de serem momentos de aprimoramento de técnicas musicais e das
práticas de danças, os ensaios se prestam a estreitar os laços de amizade entre os
componentes e reforçar o sentimento de pertencer a um grupo carnavalesco específico,
110
Sobre a definição do termo carnavalesco no Rio de Janeiro, consultar SANTOS, Nilton S. dos. A arte
do efêmero: carnavalescos e mediação cultural na cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Apicuri,
2009.
111
Em Curitiba, apenas a Embaixadores da Alegria possui um barracão próprio, no bairro Santa Quitéria.
A Mocidade Azul ganhou abrigo de uma associação de moradores do bairro Fazendinha, e utiliza os
espaços como quadra e barracão a mais de uma década. As escolas do grupo B Os Internautas, Unidos
do Bairro Alto e Boi de Pano possuem barracões na parte dos fundos das casas de seus
presidentes/carnavalescos. A Leões da Mocidade se estabeleceu no bairro Boqueirão em 2010 em
quadra alugada e barracões (um de alegorias e outro de fantasias) emprestados por amigos dos
dirigentes. A Acadêmicos da Realeza defende um conceito de comunidade da escola e não de bairro.
82
conforme verificado por Luciana Prass na escola de samba da capital gaúcha Bambas
da Orgia (PRASS, 2004, p. 140).
Nos ensaios da bateria de todas as escolas de samba a presença de famílias era
constante. Ao introduzir as crianças no ambiente da escola os pais buscavam inserir os
pequenos no universo do carnaval, denotando um caráter pedagógico, na medida que
os pequenos iam “pegando gosto” pelo samba e pela dança. Em suas pesquisas,
Luciana Prass verificou esse caráter familiar entre os Bambas da Orgia e ressaltou a
dimensão coletiva do aprendizado: “A escola de samba, enquanto cenário coletivo de
experiência musical, exige um forte envolvimento do aprendiz (...). Erros e acertos são
realizações coletivas. Disso decorre que a tarefa de ensinar também é coletiva”.
(PRASS, 2004, p. 171).
Em 2009, a notícia sobre retorno da Mocidade Azul, longe do carnaval há alguns
anos, impulsionou a definição de uma identidade própria da Leões da Mocidade e, ao
mesmo tempo, conferiu a Mocidade Azul um outro lugar no imaginário de seus
componentes e dirigentes. A escola do saudoso Charrão passou a se colocar como
tradicional valorizando seu passado vitorioso. O retorno da Mocidade Azul ao concurso
carnavalesco de 2010 provocou uma circulação de componentes e ritmistas.
Diante do anunciado retorno a Leões encontrou, em 2008, um novo local para
os ensaios deixando o reduto da Fazendinha, território histórico da Mocidade Azul, se
instalando na Sociedade 13 de Maio, no centro histórico de Curitiba. A diretoria da
Leões encontrou novos componentes e outros, originários da Mocidade, se mantiveram.
Do lado esquerdo, foto do primeiro ensaio da Leões da Mocidade para o carnaval 2009 na Sociedade
13 de Maio, dezembro de 2008. Do lado direito, detalhe da bateria. Janeiro de 2009.
83
A Leões da Mocidade teve como desafio no carnaval de 2009 participar pela
primeira vez do concurso carnavalesco entre as escolas do grupo A de Curitiba. Essa
tarefa contou com o apoio do diretor social da agremiação, Sergio Condessa, mais
conhecido como “Serginho”, que mantinha uma forte amizade com a Acadêmicos da
Realeza e estabeleceu contato com seu amigo “Ceará” do Forró Calamengau,
articulador dos eventos na Sociedade Vasco da Gama desde os anos 1990. Em
conversas menos explícitas pudemos perceber como o carnaval de 2009 marcava o
rompimento definitivo da Leões com a Mocidade Azul - que conformo já citado voltaria
como escola no ano seguinte. Face ao rompimento, coube a diretoria da Leões a tarefa
de angariar novos componentes para desfilar na avenida. Além da parceria com o Forró
Calamengau, Serginho articulou contatos com academias de ginástica e, com a ajuda
de outros amigos, organizou uma ala de crianças especiais. Não satisfeito com essas
parcerias, convidou o experiente Olinto Simões para ensaiar o casal de mestre-sala e
porta-bandeira. Apesar da presença frequente na cena carnavalesca da cidade, Olinto
nunca havia se filiado a uma escola de samba de Curitiba, e, ao aceitar o convite da
recebeu da agremiação o título de presidente de honra. Assim, a Leões “afiava suas
garras”, conforme a letra de seu samba-exaltação, cantada a plenos pulmões pelos
componentes da escola em todos os ensaios:
Quem faltava chegar, já chegou
E veio pra ficar.
A Leões da Mocidade
Suas garras vai mostrar!
84
A ala de crianças especiais marcou presença no Encontro das Bandeiras. Janeiro de 2009.
Ensaio: Sociedade 13 de Maio. Foto: acervo pessoal.
A preparação das fantasias da escola de samba Leões da Mocidade para o
desfile de 2009 teve como barracão a casa da tesoureira da escola, casada com o
diretor de harmonia da escola e mãe do segundo mestre-sala da Leões. Em 2010, toda
a família retornou a Mocidade Azul e a Leões se transferiu para o bairro Boqueirão. O
espaço usado como barracão de fantasias, a sede do sindicato dos maquinistas
ferroviários do Paraná no bairro Alto Boqueirão, foi cedido por parentes do presidente
Vilmar Alves.
No carnaval de 2009 os carros alegóricos foram feitos todos pelo carnavalesco
Amil Júnior e pelo vice-presidente Marcelinho Nunes num barracão emprestado por um
primo de um dos dirigentes da escola. Amil Júnior, além de diretor da Leões da
Mocidade, empresta seu talento artístico para a escola, como carnavalesco. Ele possui
um estúdio de tatuagens, formado em artes visuais pela Faculdades de Arte do Paraná,
Amil assume a posição de carnavalesco na escola, mas não exatamente nos termos
cariocas definidos por Nilton Santos (SANTOS, 2009). Embora Amil seja um artista,
inclusive com formação superior específica na área, seu envolvimento sentimental com
a escola o impede de marcar uma relação estritamente profissional com agremiação.
85
Durante a preparação para o carnaval de 2010 Amil Júnior comentou que “tirou do
bolso” para colocar na escola, praticamente uma regra entre os dirigentes, pois, nesse
ano, a verba da FCC saiu dia 24 de dezembro112, isso prejudicou o andamento dos
trabalhos na maioria das escolas de samba.
No surdo, mestre Divino, a princesa da escola Katy e “Big” Ernani (Embaixadores da Alegria).
Dezembro de 2008. Sociedade 13 de Maio. Foto: acervo pessoal.
No barracão da Leões da Mocidade, encontrava-se Marlene Monte Carmelo, a
carnavalesca que esteve nos últimos três ou quatro anos colaborando na Os
Internautas, escola do grupo B dirigida por Haroldo Ribeiro. Marlene nos contou que
para o carnaval de 2010 o presidente da escola de Pinhais se atrasou em entregar a
documentação exigida pela FCC. O dirigente perdeu sua mãe e passou por problemas
de saúde, mas não pediu prazo maior, simplesmente entregou atrasado. A verba da Os
Internautas não saiu e a escola estava tentando reverter essa situação. Ali no barracão,
colando os detalhes dos costeiros, Marlene deixou claro que o trabalho na Leões não
se trata de um trabalho simplesmente. Como ela disse, “meu coração está dividido”
entre a Mocidade Azul e a Leões da Mocidade. Ela fez questão de demonstrar seu
112
A demora pode ser justificada pela interposição de recursos por parte da Acadêmicos da Realeza que
atrasou a entrega dos formulários e ficaria sem financiamento da prefeitura. No entanto, a FCC sugeriu
que as próprias escolas decidissem o futuro da co-irmã. Dessa forma, realizou-se uma reunião com todas
as escolas de samba, onde foi decidido que o atraso da Realeza deveria ser perdoada. Todo esse
processo não foi divulgado no site da FCC, pudemos acompanhar a desqualificação da Acadêmicos da
Realeza, e de outras agremiações apenas por diários oficiais publicados pela Câmara de Vereadores.
86
interesse pela escola e pela juventude da Leões, que a fez lembrar dela mesma, na
época do início da Mocidade Azul. O exemplo de Marlene sugere outra característica
constante nas escolas de samba, a circulação dos foliões entre diversas agremiações.
Os ensaios da Realeza para o carnaval de 2009 tiveram início no espaço Callas
localizado no bairro Rebouças, uma região próxima do centro da cidade. Este lugar
servira como espaço de ensaios da escola desde sua fundação. O anúncio da mudança
de endereço aconteceu durante um ensaio. O presidente Paulo Roberto subiu ao palco
para anunciar aos presentes a difícil decisão da diretoria. Após o anúncio oficial, o
presidente da escola nos informou sobre a dificuldade em fazê-lo, pois a escola
apresentava uma certa “história” com o espaço Callas. Nos anos 1990, este local era a
filial curitibana da casa paulista Aeroanta. A mudança de endereço se concretizou
devido aos problemas na infra-estrutura do espaço, alguns ensaios foram cancelados
em cima da hora por falta de luz no local. A partir do mês de janeiro, a nova casa da
Realeza passou a ser uma casa noturna especializada em sertanejo, a Rodeo Contry
situada no bairro do Bacacheri. O novo lugar apresentava um espaço muito mais amplo
e com acomodações mais confortáveis para os componentes e simpatizantes da
Realeza.
Neste novo espaço, a bateria do mestre “Brinco” ensaiava na parte central da
pista localizada abaixo do palco, os ritmistas compartilhavam o espaço com as
passistas e com o casal de mestre-sala e porta-bandeira. No antigo local de ensaio, a
dinâmica era a mesma. Nos primeiros ensaios, em novembro, a bateria da escola se
apresentava com um número reduzido de componentes. Mas nos meses de janeiro e
fevereiro, a bateria apresentava-se mais completa, na nova “casa”. Durante esse dois
meses a bateria pouco se modificou e no palco os cavaquinhos e os puxadores foram
os mesmos. Esses músicos “de palco” se diferenciam dos ritmistas da bateria, são
músicos profissionais e possuem seus grupos de samba e pagode. De acordo com as
informações obtidas em conversas nos ensaios, a bateria da Acadêmicos da Realeza
possui em sua composição diversos de integrantes da torcida organizada do Coritiba
Foot Ball Club.
A mudança de local de ensaios para a casa de shows Rodeo Contry Bar
promoveu um significativo aumento de participantes, mas esse aumento ocorreu
87
durante os meses em que os ensaios “naturalmente” ganhavam mais adeptos. Entre os
momentos mais marcantes dos ensaios da Realeza, destacamos o evento realizado
para a escolha da rainha da escola e da madrinha de bateria. Nessa ocasião, o lugar
esteve com lotação máxima e algumas facções de torcidas organizadas do Coritiba
estiveram presente em grande número. Sem dúvida a polêmica escolha do enredo
rendeu bons frutos para escola de samba, os ensaios ganharam novos adeptos e na
avenida diversos torcedores do clube se identificaram imediatamente com a Realeza.
Além disso, a Acadêmicos da Realeza esteve no estádio Couto Pereira durante um
clássico Atletiba, e na terça-feira de carnaval ganhou ampla divulgação com uma
matéria exibida durante a programação esportiva da Rede Globo. A reportagem
abordou os clubes de futebol que completaram 100 anos em 2009 e que haviam sido
homenageados em enredo de escolas de samba: o Coritiba Foot Ball Club e o
Internacional de Porto Alegre.
Bateria da Acadêmicos da Realeza no estádio Couto Pereira em dia de Atletiba. Disponível em:<
http://www.academicosdarealeza.com > Acessado em 20 maio de 2010.
O mestre de bateria da Acadêmicos da Realeza, Marcio “Brinco” começou suas
atividades de ritmista na saudosa escola de samba Colorado e, depois de comandar a
bateria da extinta Unidos de Colombo, em 1997 passou um tempo na Mocidade Azul e,
finamente assumiu a posição de mestre da recém formada escola de samba
Acadêmicos da Realeza. Na bateria da Realeza, Brinco conta com a participação de
diversos familiares, irmãs, filho, sobrinhos etc. Ele contou sobre a composição da
bateria, em sua maioria são ritmistas amadores. Ele explicou que na capital
88
paranaense, não existe um diretor de ala que comande cada naipe em separado, surdo,
tamborins, chocalhos e assim por diante. Cabe ao mestre organizar todos os
instrumentos.
Detalhe das passistas. Na esquerda, no espaço Callas, dezembro de 2008. E, à direita, ensaio de bateria
no Rodeo Contry Bar, janeiro de 2009. Fotos: arquivo pessoal.
Entre as escolas de samba de Curitiba apenas a Acadêmicos da Realeza
anuncia indícios de uma profissionalização, mas apresenta um modelo híbrido de
produção, transita entre o profissional e o “feito em casa”. Diversos componentes
produzem suas próprias fantasias a partir de uma matriz elaborada pelos carnavalescos
César Monteiro e Áldice Lopes. A escola defende a auto-gestão, para a direção, as
escolas só poderão melhorar a qualidade estética quando deixarem de depender
exclusivamente da verba cedida pela FCC e buscarem patrocinadores. A Realeza não
se identifica com nenhum bairro da cidade, de acordo com um de seus dirigentes,
existe uma “comunidade da escola”. Seus componentes são frequentadores da cena do
samba e se encontram nos bares da cidade durante todo o ano. De maneira ainda
provisória, identificamos a Acadêmicos da Realeza como uma “escola-empresa”
composta por uma classe média curitibana, amante do samba.
Nos últimos três carnavais a Acadêmicos da Realeza sagrou-se campeã. Suas
estratégias
de
captação
de
recursos
converteram-se
em
resultados
visuais
surpreendentes na avenida, as coirmãs se mostraram impressionadas. Em 2009 o
enredo sobre os 100 anos do Coritiba Foot Ball Club rendeu bons frutos. Os valores
jamais foram confirmados pela diretoria, mas cogitam-se cifras em torno de vinte a
cinqüenta mil reais cedidos pelo clube do Alto da Glória.
89
No ciclo carnavalesco de 2008/2009 não tivemos acesso ao barracão de
fantasias da Acadêmicos da Realeza, mas frequentamos livremente o espaço destinado
a produção dos carros alegóricos. Localizado no bairro Cajuru, o barracão amplo e com
cobertura parcial pertence a um familiar de um dirigente da escola e o principal
responsável pela execução dos carros é um membro da diretoria, o vice-presidente Luiz
Godoy. O trabalho nesse barracão parecia bastante solitário e Godoy disse que poucas
vezes teve um ajudante “qualificado o bastante”. Sem ter experiência em carpintaria, o
dirigente revelou ter aprendido tudo na prática e, como é aposentado, tem tempo livre
para passar o dia todo no trabalho.
Durante a preparação para o carnaval de 2010 pudemos conhecer o ateliê da
Acadêmicos da Realeza. O carnavalesco desta escola possui experiência no carnaval
de São Paulo, trabalhou na Gaviões da Fiel e, de acordo com um dos dirigentes da
escola, foi ele quem sugeriu a águia como símbolo da escola curitibana. César Monteiro
foi um dos fundadores da Realeza e, antes de ir para o carnaval de São Paulo,
começou sua carreira na Mocidade Azul, foi para a Unidos de Colombo, e lá chegou a
ser presidente. Durante nossa única visita ao barracão, César se manifestou
pouquíssimo, discretamente disse que o barracão não pertencia a escola, era um
espaço seu, para “brincar de carnaval”. Além de Monteiro, havia no lugar outras duas
costureiras funcionárias do carnavalesco em sua outra atividade profissional. Como
assistente de César Monteiro, encontramos Áldice Lopes, carnavalesco responsável
pela confecção do bloco carnavalesco Rancho das Flores. Ambos possuem formação
em ballet clássico, mas somente Áldice seguiu nos estudos de dança, e, desde 1983,
desenvolve projetos nas artes cênicas com sua companhia “teatro em delírio”.113
A Acadêmicos da Realeza vem se constituindo como sinônimo de “escola bonita
do carnaval curitibano”, espaço ocupado no passado pela Mocidade Azul. Essa beleza
passa por uma reelaboração no estilo de se fazer carnaval. Para o carnaval de 2010 a
Realeza contratou artistas circenses de Porto Alegre para atuar como comissão de
frente. Ainda na avenida, a presidente da Embaixadores da Alegria questionou o uso de
artistas profissionais na escola e disse: “isso não é a comunidade”. No dia seguinte,
113
De acordo com informações obtidas, o enredo de 2010 da Acadêmicos da Realeza seria somente
sobre o teatro Guaíra. De acordo com Áldice Lopes, foi sua a sugestão de modificar o enredo, segundo
ele Teatro do delírio daria mais liberdade criativa na composição das alas e na concepção das fantasias.
90
momentos antes do início da apuração, outro dirigente da Embaixadores apresentou
um discurso menos inflamado e refletiu, “o carnaval vai ter que mudar”.
Para o carnaval 2009, os ensaios da sexagenária escola de samba
Embaixadores da Alegria aconteceram no Porão do Tatu, na parte inferior do Clube
Operário no centro histórico de Curitiba, cerca de duas quadras do Clube 13 de Maio,
local de ensaios da Leões da Mocidade. A participação dos ensaios era gratuita, ao
contrário das outras escolas de samba do grupo A. A bateria ficava no chão, e apenas
os puxadores e os cavaquinhos ficavam na área do palco, assim como acontecia nas
outras escolas. O mestre de bateria Rogério, genro do mestre Maé da Cuíca, se
formou, enquanto, músico na saudosa escola de samba Colorado. Além de mestre
Rogério, a Embaixadores tem um segundo mestre de bateria, Fábio, e ambos são
responsáveis pela condução da bateria acelerada da “locomotiva vermelha”. O Porão
do Tatu, como sugere o nome, possui um teto baixo e o som dos instrumentos parecia
abafado e pouco sonoro se comparado às demais baterias. O ritmo acelerado
dificultava o acompanhamento da letra com a música composta pelo jovem compositor
de samba e rapper “Big” Ernani.
“Big” Ernani no tamborim e a presença marcante de famílias inteiras nos ensaios. Embaixadores da
Alegria. Porão do Tatu. Fevereiro de 2009. Foto: arquivo pessoal.
Em 2010 a Embaixadores da Alegria passou a ensaiar em território histórico, no
bairro Santa Quitéria, próximo ao barracão da escola. O Porão do Tatu deixou de ser
uma opção, pois o Clube Operário foi colocado à venda. A procura por um novo espaço
91
não durou muito, um dos diretores da escola conseguiu um lugar praticamente sem
custos. Ele conseguiu emprestar o espaço de uma cancha de esportes do bairro e
comprou uma lona com o dinheiro de um show que a bateria fez numa formatura.
Assim, a escola conseguiu manter seus ensaios gratuitos e pode se aproximar de sua
comunidade. Para o carnaval de 2010, os ensaios da Embaixadores da Alegria
aconteceram nas quintas, sextas e sábados com movimento intenso dos moradores do
bairro e estacionamento lotado.
Saul D’Ávila ao lado do puxador e cunhado João da Cruz no trabalho de decoração. Porão do Tatu.
Concurso da rainha da Embaixadores da Alegria. Janeiro de 2009. Foto: acervo pessoal.
Na escola Embaixadores da Alegria, toda a família D’Ávila se envolve nas
atividades carnavalescas. A Embaixadores não contrata um carnavalesco, ela
compartilha todas as funções com parte da diretoria e componentes, formam uma
“equipe de carnavalescos”. A construção do desfile se faz pelas mãos dos
componentes da escola, e eles se sentem à vontade para opinar na composição e nas
modificações dos desenhos das fantasias. Ninguém recebe remuneração para fazer o
carnaval, são todos voluntários. A escola da família D’Ávila é a única da cidade a
possuir um barracão próprio no bairro Santa Quitéria.
92
Suzi D’Ávila lidera o trabalho de produção. Barracão da Embaixadores da Alegria. Janeiro de 2009.
Foto: Larissa Sant’Anna Fernandes.
Os ensaios das escolas de samba de Curitiba não servem apenas como
momentos de ensaios técnicos da bateria, são eventos onde se reforçam os laços de
amizade entre os componentes da escola. As visitas de componentes de outras
agremiações em ensaios das coirmãs revelavam a amizade entre as diferentes as
escolas. O melhor exemplo dessa relação foi presenciado no “encontro das bandeiras”
em 2009 promovido pela Leões da Mocidade, onde se aglutinaram as três escolas do
grupo A num clima festivo e desprovido de tensões e brigas. Assim, a suposta desunião
entre as escolas de samba observada nas reuniões junto a FCC não deve ser
considerada como algo definitivo, essa relação se modifica. Essa postura amistosa
partia normalmente dos novos carnavalescos, uma “nova geração” do samba.
93
Amil Júnior, Rodrigo “Digão”, Marcelinho Nunes e “Big” Ernani.
Encontro das bandeiras na Sociedade 13 de maio. 22 de janeiro de 2009.
Nos carnavais de 2009 e 2010, as escolas do grupo B realizaram ensaios de
forma menos frequente que as agremiações do grupo A. A escola de samba Unidos do
Bairro Alto conseguiu promover diversos ensaios graças a parceria de Toninho Guedes,
presidente da agremiação, com o carnavalesco da extinta escola de samba Garotos
Unidos, Laé di Cabral. Ele, assim como o vice-presidente da Unidos do Bairro Alto, Luiz
Antunes Rodrigues, também foi presidente da Associação das Escolas de Samba. Pela
confiança de Toninho e Antunes em Laé, o carnavalesco recebeu “carta branca” para
comandar a escola coirmã. Para colocar a escola na avenida, transferiu a produção
para o bairro da sua antiga escola, onde ele reside, na Vila Trindade, no bairro Vila
Oficinas. Laé recebeu a denominação de carnavalesco por parte de Toninho Guedes. O
contratado elaborou o enredo, o samba, comandou o trabalho de produção de fantasias
(a garagem de sua casa foi transformada em barracão), recrutou moradores da Vila
Trindade para apoiar a escola, comandou a bateria e puxou o samba na avenida. Laé
de Cabral não atuou apenas como carnavalesco, ele acabou por assumir funções de
diretor de harmonia, diretor de barracão, de mestre de bateria, compositor, de puxador
etc. A figura de Laé di Cabral, personifica um traço comum no carnaval de Curitiba: o
acúmulo de tarefas por parte dos dirigentes. Mas, no seu caso específico, não se trata
de um dirigente que assume funções criativas, mas sim, de um contratado que assume
94
tarefas dos responsáveis pela organização da escola. Sobre a forma de produzir
carnaval, o carnavalesco Laé explicou que “não desenha nada, está tudo na cabeça”.
Laé di Cabral explica a conexão de samba e visual. Barracão de fantasias da Unidos do Bairro Alto e Boi
de Pano. Fevereiro de 2010. Foto: Larissa Sant’Anna Fernandes.
Os ensaios da escola Unidos do Bairro Alto aconteceram num salão comunitário
na Vila Trindade. Depois da vitória no grupo B do carnaval de 2009, em 2010 a escola
ampliou a frequência de ensaios e articulou um concurso de rainha e madrinha da
escola. Nesse evento foi marcante a presença de uma das filhas de Glauco Souza Lobo
que acabou por receber o título de princesa ao perder o título de rainha para uma
dançarina profissional. Para o presidente da Unidos do Bairro Alto, a presença da filha
de Glauco foi interpretada como uma grande “honra”. Segundo Toninho Guedes, “ela
poderia ter ido para a Realeza, mas preferiu desfilar aqui”. Para Laé, a vinda da filha de
Glauco Souza Lobo aconteceu em nome da antiga amizade entre os dois.
Em 2010, Laé di Cabral montou duas escolas ao mesmo tempo e no mesmo
espaço. Ele finalmente conseguiu organizar a Boi de Pano, escola de samba idealizada
para homenagear os bois folclóricos de norte ao sul do país.
De acordo com o
95
regulamento da FCC, qualquer agremiação carnavalesca com CNPJ com menos de um
ano não pode se inscrever no edital carnaval. Assim, toda a produção da Boi de Pano
aconteceu sem financiamento público.
A escola de samba Os Internautas, presidida por Haroldo Ribeiro realizou poucos
ensaios em 2009 e em 2010. A escola de Pinhais não possui um grupo de ritmistas
para compor uma bateria, ela contrata músicos que possam oferecer esse serviço. Em
2009, Laé di Cabral escreveu o samba de enredo, mas não assumiu a regência na
avenida. Então, foi contratado Márcio, ritmista responsável pelo Bloco Derrepent. 114
O barracão da Os Internautas se localiza nos fundos da casa do presidente e
toda sua família se envolve com a escola. A definição do enredo pode ser debatida
entre alguns membros da diretoria e componentes da escola, mas a decisão final cabe
ao presidente. Uma das filhas de Haroldo Ribeiro, primeira porta-bandeira da escola e,
devido aos problemas de saúde do pai, vem assumindo seu lugar nas decisões
burocráticas junto a FCC e o representou na apuração. Uma contribuição constante na
escola de Pinhais tem sido a experiente Marlene Monte Carmelo, ela vem atuando
como carnavalesca da escola do grupo B desde 2006.
Marlene demonstra muito
respeito pela agremiação de Haroldo Ribeiro, mas não revelou um envolvimento
emocional com a escola.
114
Não dispomos de informações mais específicas sobre este bloco, sabemos que o grupo não tem
ensaios frequentes e foi idealizado e criado pelo filho do famoso “Chocolate”. Desde 2007 o fundador
deixou de participar do bloco.
96
Barracão de fantasias da escola Os Internautas. Janeiro de 2009. Foto: Larissa Sant’Anna Fernandes.
No carnaval de 2009 a Unidos de Pinhais passou por dificuldades para encontrar
um local de ensaios. Embora o barracão alugado apresentasse condições para abrigar
diversos ritmistas, a proximidade com um posto de saúde impediu a realização de
ensaios com a bateria. No barracão da escola, a presença constante foi a do dirigente
Maurício Dotti, responsável pela confecção das fantasias. No espaço de confecção não
havia croquis com desenhos, apenas fotos de fantasias impressas de sites da internet.
Para o presidente da escola, Gilmar Renaud, o “Mima”, fazer carnaval não diz respeito
a vitória, “se faz pela brincadeira”.
97
À esquerda Maurício Dotti. Barracão de alegorias e fantasias da Unidos de Pinhais. Janeiro de 2009.
Foto: Larissa Sant’Anna Fernandes.
O retorno da Mocidade Azul ofereceu outras possibilidades de análise sobre o
carnaval curitibano. Alguns antigos componentes e ritmistas que foram vistos em outras
agremiações de Curitiba retornaram à Mocidade Azul. O retorno causou um efeito
interessante na re-construção de uma tradição, os dirigentes souberam lidar com esse
momento e elaboração com enredo sugestivo “Cheirou saudade... voltei trazendo
perfumes da essência da Mocidade”. Em agosto de 2009, a Mocidade Azul anunciou
oficialmente seu retorno com um almoço para aproximar novos participantes, além de
sensibilizar os antigos componentes que haviam se fixado em outras escolas,
especialmente na Leões da Mocidade. Na entrada, ao pagar o almoço, todos os
convidados recebiam uma carta impressa em papel azul, com o seguinte texto:
AMIGOS DA MOCIDADE
Agradecemos a presença de vocês
É uma felicidade termos vocês conosco neste momento que é uma celebração do
retorno da nossa querida MOCIDADE AZUL
Foram dois anos dolorosos, de uma saudade imensa, devido a isso, nada mais
justo do que compartilharmos com vocês a alegria desse retorno, pois a
98
MOCIDADE AZUL é de todos nós que amamos o Carnaval Curitibano,
especialmente nossa escola de samba! Esse amor pode ter surgido de várias
maneiras, através de amigos, familiares, companheiros ou qualquer outro motivo
que nos levou a entrar ou torcer por esta Escola de Samba. Quantos já não
choraram por esta Escola, seja de alegria, tristeza ou emoção...
Quem não se lembra dos carnavais que já realizamos? Quem não se lembra das
nossas baianas, que arrancavam aplausos de todos, das fantasias luxuosas e
originais, das alegorias inovadoras, dos passistas com muito samba no pé e com
a famosa PIRÂMIDE levavam o público ao delírio, dos nossos casais de mestresal e porta-bandeira, deslizando pela avenida, dos enredos minuciosamente
desenvolvidos e que contribuíram para a composição de sambas de enredo
inesquecíveis, que eram interpretados por grandes cantores, locados pela nossa
fantástica e diferenciada bateria, com toda a escola e o público a vibrar.
Nosso objetivo nesse retorno é fazer a MOCIDADE AZUL “acontecer”
novamente, é fortalecer a nossa relação com os componentes, simpatizantes e
[sem os] AMIGOS DA MOCIDADE, nunca será possível.
Então, desde já convidados todos a participar dessa empreitada, comparecendo
aos eventos que organizaremos, dando sugestões, divulgando a escola, trazendo
de volta as pessoas que fizeram parte da história da escola e que por algum
motivo se afastaram, para JUNTOS fazermos a MOCIDADE AZUL, voltar a ser a
grande escola de samba, que todos queremos ver. Queremos resgatar o
ORGULHO AZUL e BRANCO e você está convocado a nos ajudar.
UM VERDADEIRO AMOR NUNCA SE APAGA!!!
115
MOCIDADE AZUL, AMOR ETERNO!!!
Ausente dos desfiles desde 2007, a tradicional escola azul e branca, procurou
inovar para o carnaval de 2010. Contratou para a execução das fantasias e das
alegorias um ex-bailarino e aderecista da cena teatral curitibana como carnavalesco.
Sua presença na escola promoveu a formação de uma comissão de frente composta de
bailarinos profissionais do Teatro Guaíra. Embora o carnavalesco tenha recebido
pagamento por parte da diretoria, ele arrecadou materiais para a confecção de
fantasias e muitas vezes participava alegremente na quadra da escola. O carnavalesco
não trouxe uma equipe de profissionais para a produção, e o trabalho de execução foi
feito pela comunidade, um exemplo de produção híbrida: ao mesmo tempo profissional
e comunitário.
A Mocidade Azul procurou ampliar o quadro de componentes. Para uma das
alas, o diretor social Jorge Caldeira trouxe um grupo de meninos e meninas dançarinos
da favela do Parolin. Os jovens do grupo “ginga total” estavam mais habituados ao hip
hop, mas logo conseguiram ganhar a admiração de todos. Nos ensaios dos domingos à
tarde a presença do grupo era motivo de grande expectativa e durante sua exibição a
115
Todas as palavras foram reproduzidas conforme o texto original.
99
maioria dos componentes parava para prestigiar as coreografias do grupo. Essa
parceria com um trabalho comunitário pode sugerir uma tendência interessante a ser
observada e, ao que tudo indica, outras escolas de samba seguem nesse caminho.
Grupo “ginga total” se alonga entes do ensaio de domingo da Mocidade Azul.
Foto: Larissa Sant’Anna Fernandes. Fevereiro de 2010.
O modelo carnaval-negócio do Rio de Janeiro116 ainda parece distante da capital
paranaense, mas algumas escolas da cidade apresentam tentativas de aproximação
com esse modelo de carnaval. Conforme mencionamos, os ensaios de bateria não
acontecem em lugares fixos porque as escolas não possuem suas quadras. Mas,
apesar dessa dificuldade, existe um esforço de manter um bairro como referencia. A
única escola que não apresenta preocupação com a constituição de uma comunidade
de bairro é a Acadêmicos da Realeza, que defendo a “comunidade da escola”. Pelas
informações obtidas em campo, a Leões da Mocidade, em 2009, indicava uma
aproximação com o “estilo Realeza de carnaval”, comentava-se em “escola de
116
O desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro movimenta milhões de reais em atividades
turísticas, e se associa historicamente ao jogo do bicho. A visibilidade das escolas aproxima a
comunidade artística das agremiações e facilita o investimento de patrocinadores. Ver mais em:
CAVALCANTI, Maria Laura V. de C. Carnaval carioca: dos bastidores ao desfile. Rio de Janeiro: Editora
UFRJ, 1995. CAVALCANTI, Maria Laura V. de C.; GONÇALVES, Renata (orgs.). Carnaval em múltiplos
planos. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2009.
100
universitários”. A saída do diretor social da Leões pode ser interpretado como um dos
motivos para as mudanças de rumo na gestão da escola. Interessante notar que, ao
contrário do Rio de Janeiro, onde de uma comunidade surge uma escola de samba,
Curitiba caminha em direção oposta.
4. 5 Na avenida Cândido de Abreu: a narrativa carnavalesca
Para a análise do desfile das escolas, nos inspiramos em Maria Laura Cavalcanti
(CAVALCANTI, 1995, p. 115) e tomamos os sambas de enredo117 para uma
compreensão da performance, primeiramente no sentido atribuído por Richard
Bauman.118 Assim, o samba de enredo pode ser compreendido como um quadro de
referência onde os aspectos sociológicos e estéticos do desfile se desenvolvem sob a
forma de “narrativa”. Em Verbal Arts as performance Bauman definiu “performance
como um evento comunicativo no qual a função poética é dominante, sendo que a
experiência invocada pela performance é conseqüência dos mecanismos poéticos e
estéticos produzidos através de vários meios comunicativos simultâneos”119 . Nesse
sentido, o autor ressalta os aspectos fundamentais da analise da performance a partir
de cinco elementos: a exibição pública (display), a responsabilidade de competência
assumida por alguns atores, a avaliação por parte dos observadores, a experiência em
relevo e os mecanismos de sinalização metalinguísticos, (keying). Esses cinco
elementos permitem compreender o desfile como uma performance derivada do tema
proposto pelo samba de enredo: toda a estrutura condensada na ideia que a escola
pretende se construir, vai sendo planejada e desenvolvida em seus elementos: na
comissão de frente, nas alas, música, na coreografia, elementos constituem uma
“experiência em relevo”, a qual, se desdobra na avenida e permite o aparecimento de
novos significados, tanto no nível interno desta “narrativa”, conectando outras ideias
117
“Samba de enredo, (...) é o samba cuja letra, entre outros requisitos estéticos, desenvolve, expressa ou
alude ao tema da escola – tema esse que também se manifesta, paralelamente, em fantasias, alegorias e
adereços”. MUSSA; SIMAS. op. cit. p. 24.
118
BAUMAN, Richard. Verbal art as performance. Waveland Press Inc.: Long Grove, 1984.
119
LANGDON, Esther Jean. Performance e sua diversidade como paradigma analítico: a contribuição da
abordagem de Bauman e Briggs. Antropologia em primeira mão. Programa de Pós Graduação em
Antropologia Social, Universidade Federal de Santa Catarina. 2007. p.8.
101
paralelas, criando interlocuções internas ao tema e, também, permitindo possibilidades
de “leituras” por parte do público.
Inspirado em Milton Singer, Victor Turner incorporou o conceito de performances
culturais definidas como unidades de observação (SINGER, 1972, p. 71) caracterizadas
como “uma sequência complexa de atos simbólicos que possuem uma determinada
sequência, um público, uma organização e acontece em um lugar e em um momento
específico”. (TURNER, 1992 p. 75). Esta definição aproxima Turner de Bauman e nos
oferece a possibilidade de analisar a relação entre competência e performance.
Segundo Turner, seria possível pensar que há uma “competência” em se “botar a
escola na avenida”, mas, por outro lado, esta competência permite a análise
antropológica de um “cálculo do lugar olhado (e ouvido) das coisas” na leitura
performática, ou de como a escola realmente se mostra e portanto como a escola
deseja ser vista pelo público e júri da competição. É esta fresta, ou intervalo que,
justamente, revela a distância entre o sonho e a realidade, revelando, também, o lugar
dos antagonismos, das disputas, das condições de produção, enfim neste caráter
agônico presente no universo carnavalesco.
4. 5 1 Desfile de 2009
O ano de 2009, a Fundação Cultural de Curitiba confirmou as presenças dos
Bloco Afoxé e do Bloco Derrepent. O terceiro bloco a entrar na avenida seria o Rancho
das Flores. Organizado pela própria prefeitura em parceria com a FAS (Fundação de
Ação Social) ele é composto por senhoras e senhores da terceira idade que participam
de atividades desenvolvidas pela Fundação nas unidades regionais espalhadas pela
cidade. No entanto, devido à incessante chuva, os foliões foram advertidos a
permanecerem no ônibus. A chuva parecia não dar trégua, mas os blocos Afoxé e
Derrepent não se intimidaram. Eram aproximadamente 18:00 e as arquibancadas ainda
apresentavam muitos lugares disponíveis. Depois da passagem dos dois blocos o
locutor oficial anunciou a ausência do Rancho das Flores por motivos de preservação
da saúde dos idosos. Enquanto o anúncio era feito, a chuva passou em definitivo e
algumas foliãs do rancho podiam ser vistas ao longo das arquibancadas com feições
102
tristes pelo cancelamento do desfile. Algumas delas não deixaram o sambódromo, pois
além de participarem do bloco da prefeitura são componentes da ala das baianas de
outras escolas de samba.
Dentro dos ônibus, as senhoras componentes do Rancho das Flores esperam o momento de entrar na
avenida. Foto: Zaclis Veiga. Disponível em: < http://carnavaldecuritiba.wordpress.com/ >
O Bloco Afoxé. Foto: Larissa Sant’Anna Fernandes.
103
O Bloco Derrepent mostrou na avenida suas alegorias feitas sobre seus carrinhos de coleta de rejeitos
recicláveis. Foto: Larissa Sant’Anna Fernandes.
Após a passagem dos Blocos Afoxé e Derrepent, a chuva parou e a noite estava
particularmente quente para os padrões curitibanos. As arquibancadas estavam aos
poucos sendo ocupadas e nas grades do lado oposto delas se podia ver famílias
inteiras se acotovelando para assistir o espetáculo da avenida. O locutor apresentou o
cortejo real: o rei momo, a rainha do carnaval e a princesa.
Logo após a passagem dos blocos, a avenida recebeu a escola de samba
Unidos de Pinhais. O presidente da agremiação “Mima” – Gilmar Renaud – possui
grande experiência no carnaval e se envolve nessas atividades desde 1969, quando
deixou a Colorado para fundar sua própria escola de samba. Desde a década de 1970,
a população de Pinhais deveria estar acostumada com a presença dos carnavalescos,
no entanto, a ausência de um barracão próprio provocou inúmeras mudanças de
endereço. Nesse ano, a preparação do carnaval aconteceu em um espaço alugado pelo
presidente. Apesar dos instrumentos novos, problemas com a localização do barracão
impediram os ensaios com a participação da bateria que foi contratada e a grande
maioria dos ritmistas veio junto com Anderson “Baby”, mestre da recém-criada Falcões
104
Independentes da Vila Oficinas.120 Na avenida, o Grêmio Recreativo Escola de Samba
Unidos de Pinhais mostrou como samba-enredo uma homenagem ao mestre Cartola.
Em visitas ao barracão da escola, “Mima” explicou o processo de execução das
fantasias. A referência para as “cabeças” e os “costeiros” vinham de imagens retiradas
da internet e as cores predominantes eram o verde e rosa da Mangueira. A bateria do
mestre Baby mostrou um samba antigo, criado por Vicente Mielle121 chamado
“Saudade, gratidão, mestre Cartola é rosa é tradição”:
Neste noite, de lua cheia
Eu sou Pinhais,
(bis)
Nessa avenida também sou mangueira, mas venho ...
Venho nos braços da magia
Embalando a poesia, verde e rosa
É tradição
Oh! Que saudades, dos antigos carnavais
Já desfilei em tom maior
Caymmi na inspiração
Lagoa do abaeté
Tem chim chim e acarajé
Sacode iô-iô segura ia-iá
Eu sou mangueira ninguém vai me segurar
Ó Cartola...
Cartola, cartola vai nesses versos
A nossa gratidão, mocinha e delegado
Sempre fizeram a alegria do povão
Dona Zica, Marcelino foi o professor
“Arrepia bateria”
Vamos nessa meu amor
Em Curitiba...
Em Curitiba não tem tristeza
Sou verde e rosa
Estação primeira
120
(bis)
Apesar de ser uma escola jovem, a agremiação do Jurandir Efigênio possui uma forte ligação com a
escola de samba Garotos Unidos da Vila Oficinas comandada pelo mestre Laé di Cabral. Seu Falcão, pai
de Anderson foram ritmista da Ideais do Ritmo do bairro Capão da Imbuia.
121
Vicente Mielle fora um dos fundadores da Grêmio Recreativo e Cultural Escola de Samba Acadêmicos
da Realeza. Hoje, Mielle organiza uma escola de samba na cidade de Araucária (região metropolitana de
Curitiba).
105
Unidos de Pinhais. Mestre Anderson “Baby”. Foto: Larissa Sant’Anna Fernandes.
A segunda escola a entrar na avenida foi a Associação Cultural Escola de
Samba Unidos do Bairro Alto com o enredo “Realidade embalando a fantasia...
Reciclagem a lição de todo dia”. O presidente da escola Antonio Guedes, mais
conhecido como “Toninho” trabalha como assessor de um político local e o ano todo
acompanha o trabalho da associação dos moradores do bairro122. A escola começou
como bloco carnavalesco no fim dos anos 1990 e se tornou escola em 2003.
Um mês antes do desfile, o barracão da escola estava com várias fantasias
prontas e a carnavalesca Elisandra estava afastada das atividades momescas, graças
ao nascimento de sua primeira filha, Beatriz. Dessa forma, “Toninho” deixou como
122
Antonio Guedes trabalha para o vereador Jair Cezar, o principal articulador do projeto de lei para a
“rua das festas”. O projeto foi apresentado logo após o seminário promovidos no Teatro Paiol em 25 de
junho de 2009. O representante da escola de Samba Unidos do Bairro Alto nessa questão trata-se de
Luiz Antunes Rodrigues. Ele foi um dos presidentes da extinta Associação das Escolas de Samba e
atualmente também participa do CONCETIBA – Conselho da cidade de Curitiba.
106
responsável pela elaboração das alegorias e fantasias o mestre de bateria Laé di
Cabral.
O samba de enredo composto pelo mestre Laé apresentou a reciclagem como
um meio de preservação do meio ambiente. Em nenhum momento a escola relembrou
o slogan “capital ecológica” dos governos identificados com o Lernismo da década de
1990. O desenvolvimento sustentável e o poder social da transformação dos elementos
foi o mote do enredo. O carro alegórico da escola tinha apenas dois pedestais com
poucos enfeites, apenas as latas dependuradas ao redor. A letra do samba define com
detalhes a narrativa demonstrada em forma de cores na avenida Cândido de Abreu:
O Bairro hoje se veste de jornal,
E se reflete na cor do alumínio,
Pra decantar um novo carnaval,
No destaque, na ginga e no fascínio.
... Eu falei ... (bis)
Vem meu amor, eu e você,
Vamos seguir a norma,
Conforme disse Lavoisier,
Hoje tudo se transforma,
Num papel velho escrevi,
Escrevi essa linda história,
Refletindo nesse espelho,
Tantos e tantos
Pedacinhos da memória,
O sereno se faz água,
E a água molha o chão,
Reciclar traz para muitos,
Trabalho e alimentação.
... Reciclar...
Pra reciclar, pra reciclar a alegria que sobrou,
O Bairro Alto, neste enredo faz a fé,
Na harmonia da mensagem que ficou,
Na bateria esse samba vem no pé,
... Eu também vou ...
... Latinha... (bis)
Numa latinha pequenina,
Eu vejo o mundo em frente e verso,
Estrelinhas em purpurina,
Enfeitando o universo,
107
Vamos proteger a natureza,
E o uso sustentável
Dessa herança milenar,
Nesse cenário de beleza,
A vida, rios, matas, terra, mar,
... O sol...
O sol da realidade clareou,
O meu coração, coração,
E a reciclagem da saudade, Inspirou nova canção!
... Eu falei ... (bis)
Detalhe da bateria da Bairro Alto, os tons de prata fazem referência às latinhas recicladas. Foto:
Larissa Sant’Anna Fernandes.
A última escola do grupo B a desfilar foi Os Internautas, com o enredo
“Lembranças do palhaço nos antigos carnavais”. Essa agremiação se organizou no
início dos anos 2000 e sua origem se filia à escola de samba Unidos de Pinhais. “Mima”
e seu Haroldo Ribeiro se desentenderam no passado e desse atrito surgiu a Os
Internautas. Nenhum dos dirigentes fala abertamente sobre o assunto. As escolas de
samba são geograficamente bastante próximas e apresentam problemas similares na
organização da bateria. A Os Internautas contratou a bateria do bloco Derrepent, do
mestre Márcio, na avenida, essa demora em organizar o “coração da escola” ficou
108
nítida e um dos jurados, o compósito Homero Réboli se recusou a dar nota para o
quesito “harmonia”. Os puxadores levavam a letra do samba em mãos e os
componentes, apesar do samba no pé, não estavam com o samba de autoria do mestre
Laé di Cabral na ponta da língua. Assim, tudo induzia à percepção de um certo
“improviso”.
Venha... com a “Internautas”
Mergulhar nessa história
Que hoje vive na memória...
Vamos reviver... reviver
Um passado tão bonito...
Tenho certeza e acredito
Também já foi pra você... (bis)
Eu encontrei ...
Encontrei... eu encontrei...
Minha fantasia ô ô ô... de palhaço no armário
E o vermelho desbotado... Pelo tempo são sinais
De outrora carnavais ... Fui ao passado e viajei
Linda corista ... Por quem me apaixonei
Foram momentos de ternura ...
Belas noites ... Mil loucuras ...
Eu pulei ... Dancei ... Cantei
A saudade é tão pura ... Fez recordar
Aventuras de palhaço que sonhei
Pierros e colombinas... Arlequins e bailarinas
Mascarados no salão...
E a chuva prata que cai
Entre confete e serpentina... Era tanta emoção (bis)
A linda música no ar...
Suave toca e faz lembrar
Tão bons e antigos carnavais
Tempos que não voltam mais...
“... Quanto riso oh! ... Quanta alegria
Mais de mil palhaços no salão...”
No tempo ficou ... Não mais mudou
E nem desfez ... para reviver que passou
Hoje eu faço tudo outra vez
“... Eu disse que venha”
109
Detalhe de uma componente da Os Internautas. Foto: Caroline Glodes Blum.
O grupo A iniciou seu desfile de 2009 com a presença da Leões da Mocidade.
Essa agremiação consiste em uma dissidência da Mocidade Azul, uma das pioneiras do
carnaval de Curitiba. Vemos, portanto, que o carnaval da cidade não vive apenas de
sua “velha guarda”, vem surgindo uma “nova geração”, por criação e por dissidência.
Amil Júnior e “Marcelinho” Nunes chegaram a escola de samba Mocidade Azul através
de Kauê Miron, jovem carnavalesco que começou sua trajetória na Acadêmicos da
Realeza123. Na avenida, a Leões da Mocidade apresentou um samba de enredo com
muita vibração, chamado “do seu povo, sua glória... o Nordeste passa por aqui!”
“Gota” de esperança fez nascer
Da terra ferida, um novo amanhã
Traços que a luta fez crescer
No rosto de um povo, o suor do afã
Seus caminhos são guiados pelos ventos
Nos sonhos a luz, saudade e conquista
123
Para o carnaval de 2009, Kauê Miron foi contratado como carnavalesco da Acadêmicos do Litoral da
cidade de Paranaguá. Em 2010, passou a articular a formação de uma nova escola no bairro do Sítio
Cercado.
110
Vai...destinando seu tempo, guarda no peito...a felicidade
No maracatu, xaxado, arrasta pé
Em “prece” vai levando sua fé
Oh! Meu “Padim Ciço”
Leva alegria ao meu sertão
É dia de Reis... É festa
É noite de São João
Arte...cultura popular
Na “tela” o retrato de um mestre singular
Onde a riqueza “esculpida”
Traduz a essência da vida.
Nordestino guerreiro, prepara o sururu, acarajé
Meu carnaval hoje tem samba, frevo, tem axé
O “sul” te abraça e canta, colhe sua história neste chão!
Os “laços” da aquarela deste meu Brasil
Nos traz a emoção!!!
Eu sou a paixão, que toca o seu coração
Eu sou Leões da Mocidade.
Na raça na fé, no canto, no amor
O Nordestino vem mostrar o seu valor.
Carro abre alas da Leões da Mocidade. Foto: Larissa Sant’Anna Fernandes.
111
A debutante no grupo A apresentou alguns problemas técnicos, em especial, o
atraso para a chegada de algumas alegorias. Dessa forma, vários componentes
desfilaram sem suas fantasias completas e a escola perdeu pontos. Conforme o
regulamento da Fundação Cultural de Curitiba, as escolas do grupo A precisam ocupar
a avenida com o número mínimo de 230 integrantes e esses componentes
necessariamente devem estar fantasiados de acordo com a sinopse apresentada aos
jurados124. Assim, o desfile da jovem escola fora marcado pela tristeza e um forte
sentimento de derrota. Ainda na avenida, o carnavalesco Amil Júnior chorou.
A segunda escola do grupo A entrar na avenida foi a tradicional Embaixadores
da Alegria, com o enredo “Um beijo no seu coração”. Em seis alas, a escola do bairro
Santa Quitéria manteve seu “estilo”, usar temas amplos com referências locais. Nesse
ano, a homenageada da cidade foi a travesti Gilda, já falecida. Famosa figura
curitibana, ela pedia dinheiro para os pedestres da Boca Maldita, no centro da cidade,
Gilda dizia aos passantes: “me dá dinheiro ou eu te dou um beijo”. Além desse beijo, a
escola mostrou o beijo francês, o beijo de Judas, a liga antibeijo dos Estados Unidos e
a sedução do beijo. Em seu carro abre-alas a escola da família D’Ávila apresentou um
templo indiano para representar as técnicas de prazer do lendário Kama Sutra. A
bateria homenageou o “ritual do beija mão”, da corte portuguesa no Brasil Colônia.
Assim seguia o samba de enredo composto por “Big” Ernani:
Um beijo no seu coração (povão)
É dado pela Embaixadores
O desejo vira sedução
Encantando os torcedores
Viaja
Viajou...
Nas paredes dos templos ela foi encontrar
Uma história para nos mostrar
Caminhou, se espantou
Com a cena que viu
Era o traidor
Beijando quem ele traiu (enfim)
Enfim
Informações diziam
Que sim
Os romanos também possuíam
E na Escócia divertimento
124
Regulamento completo dos desfiles das escolas de samba de 2009 e 2010 em Anexos.
112
Padre beijava a noiva ao final do casamento
Vem do século XV, a alegria de vocês
O “beijo de língua é francês”
Ritual do beija mão lá do Rio de Janeiro
Dom João era festeiro
Teve a liga antibeijo, “beijo queimado”
A baiana arrepia e faz pulsar o seu gingado
No olhar da aurora o despertar
A bela adormecida da Quitéria
Voa feita um beija-flor vai conquistar
Outra vez o seu lugar ao sol
Relembrando o beijo da Gilda
Faz acontecer uma transformação
É a arte imitando a vida
A Sociedade Cultural e Carnavalesca Embaixadores da Alegria consegue
preservar no seu barração grande parte da memória da escola. Na avenida, um dos
destaques foi o estandarte da Embaixadores produzido no fim dos anos 1950, quando a
sociedade carnavalesca tinha sede no Clube Thalia. Após a morte de seu fundador,
José Cadilhe de Oliveira, a escola de samba ficou parcialmente abandonada até a
colaboração de Glauco Souza Lobo nos anos 1970. Segundo a presidente da escola
Suzy D’Ávila, graças ao convite de Glauco seus pais assumiram as atividades da escola
de samba. Artistas circenses e de teatro, a família possuía experiência em produção de
fantasias e adereços. Dessa forma, a Embaixadores passou a ser identificada com a
família D’Ávila: “uma escola de família, de comunidade”, segundo a afirmação de Suzy
em entrevista realizada em 2008.
113
A “locomotiva vermelha” – apelido da bateria da Embaixadores da Alegria – vestida como Dom João VI.
Foto: Larissa Sant’Anna Fernandes.
O encerramento do desfile do carnaval 2009 ficou a cargo da campeã de 2008, o
Grêmio Recreativo Escola de Samba Acadêmicos da Realeza com o enredo “Do Alto da
Glória... Para 100 anos de história”. A homenagem ao time de futebol mais antigo da
capital paranaense foi cercado de tensões dentro e fora da avenida. Momentos antes
do desfile, grande parte da diretoria da escola temia reações por parte dos torcedores
do aqui-rival do clube, o Atlético Paranaense. De acordo com o diretor de Harmonia,
Fernando Lamarão, a escola de samba contratou um contingente de seguranças
particulares para garantir o bom andamento da festa da Realeza na avenida. Assim
como acontece nas outras escolas de samba da cidade, a escolha do enredo nem
sempre consiste numa decisão democrática. Segundo um dos diretores da Acadêmicos
da Realeza, foram muitas as discussões sobre a pertinência dessa homenagem.
Embora grande parte da diretoria da escola se denomine torcedora do clube, muitos
membros da escola de samba deixaram de comparecer aos ensaios como forma de
114
protesto. Na avenida, o clima de desacordo não tirou o brilho da escola125. Com um
samba contagiante, a Realeza sagrou-se bi-campeã do carnaval curitibano.
Hoje minha Realeza muda as cores
Para cantar 100 anos de paixão
Que nasce com a primeira bola
De um jovem descendente de alemão
Homenageando a cidade
“Coritiba” sua criação
Um grupo de amigos cresceu, se fortaleceu
E hoje é uma grande nação
Que grita bem alto, feliz, orgulhoso
Coxa branca de coração
Oh glorioso!
Na minha vida paixão verdadeira
Vestindo com raça seu manto sagrado
Estremece o Couto Pereira (bis)
Por fora um vovô
Por dentro um menino
Lembrando dos feitos de Evangelino
É fita azul, torneio do povo
No Paraná, leva a taça de novo
Celeiro de craques, heróis da memória
De muitas conquistas
Eu quero g no Alto da Glória
Brilha sua estrela, no mundo inteiro
É campeão Brasileiro
Eu quero gol
Faça chuva o faça sol
De verde e branco
Eu vou pintando o país do carnaval (bis)
125
Merece ser destacada a questão “política” mais geral desta iniciativa: a busca de recurso fora do
mecenato do Estado.
115
Bateria da Acadêmicos da Realeza. Detalhe: mestre Brinco e madrinha de bateria.
Foto: Larissa Sant’Anna Fernandes.
A escola de samba Acadêmicos da Realeza estreou na avenida Cândido de
Abreu em 1998. Essa agremiação foi criada em 1997, após disputas internas na
diretoria da extinta escola de samba Mocidade Azul. Com o falecimento de Charrão, o
jovem Paulo Roberto Schneumann apontava como um dos favoritos para assumir a
presidência da escola. Esse favoritismo acabou por não se concretizar e Paulo Roberto,
juntamente com Fernando Lamarão e o carnavalesco César Monteiro organizaram a
Acadêmicos da Realeza.
4. 5. 2 Desfile de 2010
No desfile carnavalesco de 2010 participaram os blocos carnavalescos Afoxé,
Derrepent e Rancho das Flores, as escolas de samba Os Internautas, a Mocidade Azul
e a recém formada Boi de Pano no grupo B, e as escolas de samba Bairro Alto, Leões
da Mocidade, Embaixadores da Alegria e Acadêmicos da Realeza disputaram o
concurso no grupo A. Ao contrário de 2009, o sábado de carnaval não foi nada
chuvoso, o dia estava quente com céu aberto, quase sem nuvens. O clima colaborou e
as escolas de samba não precisaram cobrir seus carros alegóricos, algumas
116
agremiações chegaram por volta das 15:00 para terminar a montagem dos carros.
Nesse mesmo horário, os integrantes de projetos sociais da FAS (Fundação de Ação
Social) se organizavam para o desfile. O clima era de grande expectativa, pois em 2009
foram impedidos de desfilar pelos próprios assistentes sociais. Enquanto os
componentes do Rancho das Flores terminavam de se aprontar e os simpatizantes do
Afoxé se dirigiam à passarela do samba, nenhum sinal do bloco Derrepent. Nesse
carnaval o desorganizado bloco não trouxe seus carrinhos de catadores de papel
enfeitados, apareceram com suas faixas com a mensagem “Oh nóis aqui traveis”.
O bloco Rancho das Flores não é uma escola de samba, ele procura
resgatar os antigos ranchos cariocas. Possui porta-bandeira, mestre-sala, ala de
passistas, destaques na avenida e samba de enredo:
Quem sai na chuva é pra se molhar
Carnaval é pra pular, viver, brincar
Água em pedra rebenta e não demora
Se for pra ser feliz que seja agora
É lindo este povão
Sorrindo na avenida
Chegamos pra mudar a sua vida
Sai pra lá, mau humor
Vem pra cá, alegria
Rancho das Flores
Água, vida e fantasia.
A alegria dos componentes do Rancho das Flores. Foto: Maringas Maciel.
Disponível em: <http://curitibaneando.wordpress.com>
117
Os interpretes e compositores da marchinha Rancho das Flores. Foto: Maringas Maciel. Disponível em:
<http://curitibaneando.wordpress.com>
Entre as escolas do grupo B a novidade foi a escola de samba Boi de Pano de
Laé di Cabral. A escola enfrentou problemas na avenida, pois não cumpriu uma norma
do regulamento referente ao número mínimo de componentes. Além disso, enfrentou
dificuldades com o quesito “harmonia”, formaram-se muitos “buracos” ao longo da
passarela do samba, e na ala das baianas, apenas cinco componentes. Ficou claro que
a escola teve dificuldades em se organizar, e a falta de financiamento da FCC ficou
evidente ao público diante de fantasias simples e feitas em sua maioria apenas de “tnt”.
Os maiores investimentos em plumas e paetês foram concentrados nos casais de
mestre-sala e porta-bandeira. O enredo “Meu boi de pano, festa, folclore e magia”
procurou mostrar a diversidade de “Bois” pelo país. A principal referência na letra do
samba diz respeito aos bois de Parintins, inclusive, a escola escolheu como suas cores
o vermelho e branco.
118
Meu Boi de pano,
Hoje é cultura popular,
Meu Boi de Pano,
Atravessou o oceano,
E veio de longe pra cá.
“Eu disse meu Boi”.
Bumba meu Boi, meu Boi Bumbá,
Meu Boi de Reis, Boi de Mamão,
Boi de Matraca, meu Boi do norte,
Boi de Orquestra, folião,
Meu Boi bumbá de São José,
Boi Garantido, campeão,
Caprichoso, de Lindolfo Monteverde,
Boi do amor e da paixão.
É o gingado do meu Boi,
Que tem amor e tem magia,
Remexe o corpo e balanceia,
Que a galera sai do chão,
Dizendo na palma da mão,
No seu bailar tudo incendeia,
Meu Boi é raça, é sangue,
Meu boi é lindo e mora no meu coração,
Meu boi é tradição, meu Boi é emoção,
Meu Boi de Pano sou feliz porque te amo.
“Vermelhou...”
De vermelho e branco eu sou raiz,
De vermelho e branco eu sou feliz,
De vermelho vive o meu coração,
De vermelho eu amo meu país.
“Eu disse meu Boi”.
Uma explosão de fogos de artifícios anunciou o aguardado desfile da Mocidade
Azul. O retorno da escola azul e branca movimentou todas as coirmãs, as
arquibancadas estavam repletas de componentes e ritmistas de outras escolas. A
expectativa e muita curiosidade fizeram com que as outras escolas deixassem por
alguns instantes a concentração para prestigiar o desfile da Mocidade Azul. A comissão
de frente, composta por bailarinos do teatro Guaíra causou um forte impacto e a ala dos
passistas com a coreografia da “pirâmide” relembrou os antigos carnavais da Mocidade
Azul.
119
A coreografia da pirâmide na ala dos passistas. Foto de Ricardo Pozzo.
Disponível em: <http://carnavaldecuritiba.wordpress.com/>
Detalhe dos tamborins na ala dos passistas. Foto de Ricardo Pozzo.
Disponível em: <http://carnavaldecuritiba.wordpress.com/>
Os filhos de Charrão e Célia, Marcelo e Márcia Barbosa conseguiram alguns
patrocinadores para montar o enredo “Cheirou saudade ... Voltei trazendo perfume na
essência da Mocidade!”. O enredo foi elaborado em vistas de sensibilizar possíveis
patrocinadores, principalmente fabricantes de cosméticos. Mas o apoio de uma grande
120
empresa não foi confirmado, no entanto, um deputado estadual chegou a participar de
alguns eventos na quadra da escola, sugerindo assim uma ajuda contribuição para
escola. O carnavalesco contratado revelou que ele mesmo buscou algumas fontes de
recursos, principalmente tecidos para as fantasias.
Viajei....no tempo
E na mitologia fui buscar
Segredos, conhecimentos
Mistério de uma paixão milenar
Um beijo e a essência se formou
Na gota que o cupido transformou
Na inspiração dos amantes, presentes nos corações
Despertando sentimento e emoções
E da chama odores, defumação
Do sagrado ao profano
Incenso aos deuses em sinal de adoração
Em alquimia o desejo e a sedução
De lá pra cá amor ... voltei
Trazendo fragrâncias te encantei
Cheirou saudade ....maravilha
Vem Mocidade exalando poesia
Da França, trago a perfumaria
Com um toque de magia
Enalteço a natureza
Sempre acreditando na beleza
Vi o desabrochar do meu Brasil
Um sonho...se tornar realidade
O fruto do talento brasileiro
Virou perfume e conquistou o mundo inteiro
Vem de novo brilhar na passarela
Deixa o povo delirar no azul dessa aquarela
Água de cheiro purifica o ritual
Vem Mocidade perfumar o carnaval!
Em 2010 o desfile da escola Os Internautas pode ser interpretado como a
exibição de um drama na avenida. A escola não conseguiu financiamento junto a FCC e
desfilou sob condições trágicas. Momentos antes da entrada o puxador da escola fez
questão de anunciar as dificuldades enfrentadas pela agremiação, principalmente pelo
não recebimento da verba da FCC. De acordo com essas declarações, os esforços
individuais do presidente da escola foram uma verdadeira demonstração de virilidade,
de cumprimento da palavra. Com um número reduzido de componentes e ritmistas sem
121
ritmo ou cadência, a escola seguiu até o final do percurso com pouco entusiasmo das
arquibancadas.
A primeira escola do grupo A entrar na avenida Cândido de Abreu foi a Unidos
do Bairro Alto, vencedora do grupo B do concurso de 2009. Com o enredo “lendas,
contos e histórias que contam ... e encantam a Amazônia”. A comissão de frente,
formada por um grupo de meninas e um menino, apresentou a lenda do boto. O menino
se aproximava de cada uma das meninas e depois entrava numa espécie de carro
alegórico onde o componente ficava escondido e cedia lugar a um boto. A proposta
criativa da coreografia despertou curiosidade nos espectadores, mas a sucessão de
trajes pouco elaborados e o gingado envergonhado acabaram por desinteressar o
público das arquibancadas.
No balanço das águas ... chuê ... chuá ...
Lendas... contos amazônicos vou te mostrar
Que beleza e alegria ... que emoção
Do meu corpo jorram águas...
Fonte de renovação (Bis)
“...Lua cheia”
Os seres da floresta ouviram um canto ... ecoou
Como um lamento se espalhou por toda a mata
Chamado os índios numa triste oração
A ... mãe natureza clamou ... por toda a terra
Pedindo proteção ... o homem ... seu instinto animal
Pescador que vai embora
Dentro desse grande batelão
Num sopro Iara ordenou ... a Jaçanã emergir
Para lutar contra o mal ... em ritual resistir
O boto as águas negras emergiu
Dançaram contemplando o luar
Das plumas o arco-íris que surgiu
O Uirapuru ... benzendo o lugar
Bate o tambor que o povo ... que salvar o animal
Bate o tambor que o índio ... vai brincar o carnaval
Bate no peito que a lenda ... viva mora em mim
Que a mata não tem fim (Bis)
“ ó ... lua”
Ó lua ... prateia esses versos
O boto oferece ... o clarão no seu olhar
Provoca o seu encanto ... trazendo o pôr-do-sol
Cachoeiras e cascatas ... o sublime arrebol
Pura magia ... o meu samba ... o meu enredo
É terra linda ... Amazônia ... e seus segredos
É festa no norte ... é festa no sul...
122
Amazônia terra doce ... de verão e céu azul
O meu cantar ... tem sabor de liberdade
A ‘Bairro Alto’ ... é que apaixona a cidade ... (Bis)
Depois da passagem da escola de Toninho Guedes e Laé di Cabral a avenida
recebeu a Leões da Mocidade com o enredo “Curitiba e seu tempo louco, de tudo tem
um pouco!!”. O enredo foi inspirado na constante variação climática vivida diariamente
pelos curitibanos, uma marca da cidade. As quatro estações do ano num dia só foram
representadas no carro abre-alas com uma máquina do tempo comandada por um
componente vestido de cientista e uma comissão de frente com as cores do arco-íris.
As demais alas mostraram o sol, a chuva e os raios. Diferentemente de 2009, o desfile
da Leões ocorreu sem maiores problemas aparentes e animou as arquibancadas com
um samba de enredo cantado a plenos pulmões por todos os componentes.
ilhou o alvorecer, seduzindo meu olhar
Trazendo a “máquina do tempo” movida ao vento a nos guiar
Neste louco “clima” da cidade, ninguém sabe o que irá acontecer
Em meio a tarde de sol ardente, vejo a beleza da criação
O Fim do dia vai chegar, prenúncio que a chuva virá
Surge reluzente no infinito um “colorido” na imensidão
A lua clareia caminhos, no frio da noite eu vou alcançar
Um sonho, uma estrela, sou Leões vou conquistar
Quem vai comprar? Quem vai querer?
Pode molhar que eu vou te proteger
Vou trazer o “vírus” da alegria ... pra contagiar você ...
Mestres imortais, desvendam “os sinais do tempo”
Porém sua ciência não revelou os mistérios do criador
Vou passar na “pressão” da bateria, essa frente que arrepia
“Som Divino” atmosfera do meu samba
A previsão é “tempo” de olhar, a natureza preservar
Ecoa um grito de alerta, que a luz nos desperte ao som do saber
Renascerá do chão a vida, para um novo amanhecer
Que amor é este?
Que bate em meu coração, por você Leões
Um sentimento, uma linda paixão
É força, é garra, é emoção.
Para esse desfile, a experiente Marlene Monte Carmelo contribuiu em diversas
alas da Leões da Mocidade. Amil Júnior revelou que depositou muita confiança em
Marlene, pois são muitos pontos em jogo. Marlene foi responsável pela confecção das
fantasias da ala das baianas, da comissão de frente e dos casais de mestre-sala e
123
porta-bandeiras. Essa união de forças entre gerações revela uma face interessante da
transmissão de conhecimento e dos modos de produção do carnaval de Curitiba. A
saída dramática de Marlene de sua escola de coração, a Mocidade Azul, acabou por
transferir seu domínio da arte de fazer carnaval para uma agremiação novíssima na
cena carnavalesca. Dessa forma, é importante ressaltar que a circulação dos sujeitos
pode ser efetivada por crises e processos de ruptura, mas que podem se redefinir
positivamente em outra agremiação. Portanto, as crises podem ser consideradas como
processos positivos para a composição do carnaval curitibano.
A terceira escola a desfilar pelo grupo A foi a Embaixadores da Alegria com o
enredo a “A paz é verde”. O tema selecionado para 2010 foi uma releitura de uma
composição encomendada por um grupo da prefeitura para o projeto do “Piá
ambiental”. A escola de samba havia sido convidada para fazer uma apresentação para
o greenpeace em 2004, mas a proposta acabou por não dar certo e o samba ficou na
gaveta. Saul D’Ávila contou que o compositor “Big” Ernani fez algumas poucas
adaptações na letra e as fantasias e carros alegóricos (como de costume) foram
construídos coletivamente sob a liderança de Suzy D’Ávila.
"Olhos de fogo” a velha índia
Da "tribo cree"
Em meio a “flora” a a “fauna” ... profetizou
Uma terra então doente, pássaros no chão
Mares escuros, os peixes mortos ... “Destruição”
Surgem os “guerreiros do arco-íris”
Ensinando o branco a “reverenciar”
Escutando ecos infelizes
Minha gente pára pra pensar (refrão)
Venha embarcar
Com a Embaixadores no “navio”
Que salva o mundo
E também nosso Brasil ...
Hoje... na Cândido de Abreu
"a paz é verde"
E o guerreiro sou eu (Bis)
É "ecológica” a “conscientização”
Em busca da preservação (refrão)
124
A última escola a desfilar no grupo A foi a bicampeã Acadêmicos da Realeza
com o enredo “O teatro em delírio”. A entrada de artistas circenses dependurados em
cordas realizando acrobacias na avenida causou admiração em todos. A imprensa e o
público nas arquibancadas se impressionaram com a entrada da comissão de frente.
Os artistas não foram contratados e vieram de Porto Alegre para participar do desfile.
Ao longo do desfile, a escola continuou surpreendendo com a beleza dos detalhes das
fantasias que retratavam o teatro grego, as bailarinas do “lago dos cisnes” e as grandes
óperas italianas. A animação do samba de enredo balançou o público.
Renasceu das cinzas,
Dionizio vem nos contar.
De São Teodoro a Guaíra
Palco principal do Paraná
Da Grécia Antiga, berço dramaturgo mundial
Domada a megera, e shakespiriano, o nosso carnaval
De comédia, a drama,
Nossa escola vem cumprindo seu papel,
Gralha azul premiando a cultura,
Nesse ato vou ganhar esse troféu
Bravo, brevíssimo,
Na mística do circo, a arte imita a vida,
Num lago de cisnes me banhei,
Que beleza de bale na avenida.
Que sinfonia,
Nossa orquestra é de surdo e tamborim,
O maestro que comanda a cadência,
Linda ópera de bamba,
Nessa festa gira, Carmem de baiana
Vamos s’imbora que “Aída” samba
Quando a cortina se abrir
Teatro vai delirar
Se transformar, em carnaval.
Pois o asfalto será o palco,
E a realeza é a estrela principal.
O enredo funciona na avenida como um princípio organizador da execução
plástica das alegorias e fantasias e, embora as escolas procurem definir a articulação
entre samba e visual, através do samba, esse “cálculo do lugar olhado (e ouvido) das
coisas”, acaba por permitir múltiplas leituras. Ao se desdobrar na avenida, o samba de
enredo apresenta suas limitações, inclusive pelo seu caráter repetitivo, enquanto os
aspectos visuais – compreendido como signos – apresentam inúmeras possibilidades
125
de interpretação por parte dos espectadores e dos jurados de um desfile carnavalesco.
Maria Laura Cavalcanti delimitou essa relação entre samba e enredo:
O termo nativo “enredo”, utilizado na expressão corrente de “enredos
carnavalescos”,é extraído de formas eruditas de criação artística e é muito
enganoso. Num desfile, um enredo – ou seja, a narrativa verbal, em geral escrita,
que origina o processo artístico – funciona apenas parcialmente como princípio
organizador da narrativa ritual propriamente dita. (...) O samba de enredo
restringe o enredo no sentido de que seleciona apenas alguns de seus tópicos
para a composição de sua letra, que será repetida cerca de 60 vezes na
passarela. As alegorias, por sua vez, expandem- no, ao pontuar a passagem da
escola com o desenvolvimento visual (geralmente) de todos os tópicos sugeridos
pelo enredo. Pela forma como o fazem, rompem totalmente a unidade linear
proposta pelo enredo em sua referência verbal e escrita originária. Pois elas não
apenas desenvolvem os diversos tópicos. Cada carro alegórico, ao desenvolver
um tópico, abre-o sempre em muitos outros motivos numa cadeia infindável. As
alegorias ampliam, opõem-se a, esgarçam, trituram e remendam os temas
126
propostos por uma completo .
Além das alegorias, a exibição pública (display) dos componentes da escola
acontece mediada pelo samba de enredo e alguns destes assumem papeis de
destaque no desfile, como os casais de mestre-sala e porta-bandeira, a rainha e o
mestre da bateria. Esses elementos são responsáveis por pontos valiosos na análise
dos juizes e esta posição assumida por eles acaba por conceder a esses sujeitos um
lugar de destaque na apreciação do público. As escolas de samba procuram então,
caprichar no visual destes componentes e, muitas vezes, acabam por comprometer a
harmonia do desfile. Embora o desfile seja uma atividade performática e,
consequentemente detenha uma capacidade reflexiva, não é possível antecipar a
reação dos presentes. Nesse espaço do indefinido, da fresta, surgem as impressões
que acabam por definir o comportamento dos espectadores. Assim, não existe forma de
prever o sucesso ou o fracasso de um enredo, na medida que sua concretização plena
se dará apenas na avenida com a emergência de significados não previstos, não
calculados.
126
CAVALCANTI, Maria Laura Viveiros de Castro. As alegorias no carnaval carioca: visualidade
espetacular e narrativa ritual. Textos escolhidos de cultura e arte populares, Rio de Janeiro, v. 3, n. 1, p.
17-27, 2006. p. 21.
126
CONCLUSÃO
O carnaval em Curitiba como os demais, se iniciou em dois lugares, nas ruas e
nos clubes. As ruas eram tomadas por “brincantes” organizados no corso (precursores
dos blocos), com charretes e automóveis enfeitados e acompanhados por músicas e
“marchinhas” tocadas por bandinhas de instrumentos de sopro. Com o tempo os corsos
deram espaço aos blocos, “foliões” vestidos similarmente, mas também com
acompanhamento de “baterias”. Estas eram festas abertas ao público. Os bailes nos
clubes, de ricas fantasias, danças de marcha e gala, se destinavam apenas aos
membros da alta sociedade e hoje são praticamente inexistentes.
As primeiras escolas, provenientes dos blocos, surgiram a partir da década de
1940. Os desfiles eram em sua maior parte, realizados na rua XV de Novembro, centro
da cidade de Curitiba. Nos primeiros anos não havia um concurso carnavalesco nos
moldes atuais, com a distribuição de quesitos e regras pré-estabelecidas por uma
comissão ou entidade carnavalesca. Essa primeira fase mais “lúdica” do carnaval
ganhou contornos oficiais com a organização do primeiro concurso, patrocinado por um
jornal local, a Tribuna do Paraná em 1957. Poucos anos depois a prefeitura de Curitiba
assumiu a organização do concurso e passou a conceder auxílio financeiro para as
agremiações. Além disso, disponibilizava a infraestrutura e escolhia os juízes para
premiar os melhores desfiles carnavalescos da cidade.
Após problemas no julgamento e divulgação do resultado do concurso de 1970,
em que foi questionada a legitimidade dos julgadores do concurso (não a qualidade
técnica dos juízes escolhidos pela prefeitura, mas sua legitimidade para julgar
carnavais, pois eram provenientes da cultura “erudita” e clássica, sem conhecimento da
cena carnavalesca), foi criada a Associação das Escolas de Samba para construir
novos critérios de julgamento. Essa entidade passaria a negociar com a FCC –
Fundação Cultural de Curitiba, fundada em 1973, como órgão responsável pelas ações
culturais e artísticas da cidade, representando a prefeitura no papel de financiador e
organizador. Portanto, a partir da organização da Associação, as escolas de samba
passaram a ter uma entidade mediadora oficial junto à FCC.
127
Entre 1971 e 1983, nos dois governos do prefeito nomeado Jaime Lerner, a
cidade de Curitiba passou por diversas obras urbanísticas para exteriorizar a identidade
escolhida para a cidade, como desenvolvida, moderna, e para alguns, “europeia”. Entre
as obras, estava a reforma da Rua XV de Novembro, palco dos desfiles da época, que
passou a ser uma rota exclusiva de pedestres. Com a reforma, os desfiles
carnavalescos foram transferidos para a Avenida Marechal Deodoro da Fonseca. A
Associação estava sendo formada nesse contexto, e pelas informações obtidas, a
escolha desse lugar não passou pela aprovação das agremiações carnavalescas. No
entanto, ao que tudo indica, foi um lugar que imediatamente agradou os carnavalescos
e, por se tratar de uma área central da cidade, permitia não apenas a ocupação da folia,
mas também a visibilidade dos foliões. Para algumas escolas de samba, o carnaval de
Curitiba nos anos 1980 e1990 representa seu “período áureo”, seus melhores anos,
com grande presença de público e com direito a três dias de diversão. Nesse período,
todo o processo de organização da festa era mediado pela Associação das Escolas de
Samba, que repassava os valores sem muita formalidade e os critérios de julgamento
do desfile eram definidos entre a Associação e a FCC.
Os desfiles continuaram na avenida Marechal até 1998, quando – de acordo com
alguns interlocutores – houve forte pressão de moradores dos prédios residenciais da
região, que reclamavam da suposta “baderna” e da sujeira deixada pelos foliões. Como
solução provisória, a FCC transferiu o desfile para a rua João Negrão, no bairro
Rebouças. Mas logo em seguida, em 1999, o concurso passou a ser realizado na rua
Cândido de Abreu, região do Centro Cívico, com a possibilidade de um maior número
de arquibancadas e de não atrapalhar o tráfego. No entanto, afastada do centro da
cidade, com o Palácio do Governo às costas, a rua escolhida apresenta uma curva, e o
restante da reta possui um saliente desnível, não sendo adequada para desfile. Assim,
a nova rota carnavalesca desgostou todas as escolas.
A transferência do desfile carnavalesco se insere num contexto mais amplo de
crises mal resolvidas entre escolas de samba e a FCC. Assim como procuramos
demonstrar, a saída do desfile da Marechal expressa a crise de mediação provocada
pela desarticulação da entidade representativa e do esvaziamento de funcionários
carnavalescos nos quadros administrativos da prefeitura, pois, com a ascensão dos
128
governos associados ao Lernismo, aconteceram mudanças no quadro de funcionários e
durante esse processo importantes mediadores perderam espaço. Como exemplo
máximo dessa desarticulação, enfatizamos os esforços de Glauco Souza Lobo na
constituição de um projeto de carnaval (definido por ele) como “moderno”. A saída de
Glauco, que ocupara, inclusive a Secretaria de Turismo do município, e de outros
funcionários ligados ao mundo carnavalesco parece ter suscitado a crise expressa na
mudança do desfile para a Cândido de Abreu.
Verificamos que com o passar dos anos, ao mesmo tempo em que o Estado
colaborou generosamente com as escolas de samba, acabou por promover uma
política paternalista de mecenato que até hoje as afeta. Da mesma forma, com o
carnaval “nas mãos” do poder público, e, diante das mudanças legislativas que o país
passou
no combate à corrupção e no controle das contas públicas, foi direta a
repercussão no controle da prestação de contas das escolas de samba e na exigência
de editais de financiamento. E, seguindo a mesma “lógica” do controle, atritos internos
levaram ao fim a Associação das Escolas de Samba nos anos 1990. Como
consequência do exposto, também, as agremiações dividiram-se e organizaram duas
entidades representativas: a Liga e a Federação das Escolas de Samba. A Federação
durou apenas um ano e a Liga não se mostrou eficiente, se dissolvendo em 2006.
Desde então, as escolas contam com apenas um mecanismo mediador (formal) com a
FCC, o edital carnaval.
Assim, a partir de 2006, tendo que negociar diretamente com a FCC, a dinâmica
do carnaval de Curitiba se redefiniu por várias razões direta ou indiretamente
relacionadas a esfera institucional, na medida que a festa momesca se colocou sob a
tutela do Estado. A relação patronal, que – segundo os próprios carnavalescos – apoiou
as escolas de samba, num segundo momento abandonou as agremiações devido às
mudanças nos rumos político-administrativos de Curitiba nos anos 1990. O abandono
causou uma grave crise no carnaval e o edital carnaval (nos mesmos moldes de outros
editais voltados as manifestações culturais de Curitiba) causou pânico entre as
agremiações, e foi imediatamente interpretado como descaso ou “má vontade” para
com as escolas de samba por parte da FCC.
mediadores compromete até hoje essa relação.
A precariedade desse diálogo e de
129
Ao colocar as escolas de samba no mesmo patamar de outras atividades
estabelecidas no campo artístico curitibano, os carnavalescos acreditam que a FCC não
tem levado em conta as dificuldades estruturais das agremiações carnavalescas da
cidade – ausência de barracões e quadras próprios – e, ao mesmo tempo, as escolas
de samba pouco fizeram para se articular coletivamente a fim de negociar seu espaço
na arena pública. Assim, os esforços para superar essas dificuldades vem sendo
realizados individualmente, cada escola procurando se adaptar às exigências do edital
e aceitando o novo formato de financiamento. Desde então, as queixas se tornaram
frequentes, principalmente sobre a verba destinada às escolas de samba. Bem como
sobre as condições estruturais da avenida Cândido de Abreu, atribuindo à ausência de
um sambódromo um importante fator para a formação e disseminação de discursos
negativos sobre o carnaval da cidade.
Para alguns dirigentes e componentes das escolas de samba de Curitiba o
circuito carnavalesco do litoral prejudica a visibilidade do carnaval da capital. De acordo
com a opinião dos carnavalescos, o esvaziamento da cidade ajuda a reforçar a imagem
de Curitiba como a “cidade sem samba”. Outros dirigentes compreendem que nem
todos viajam e o “povão sofrido” merece brincar o carnaval e assistir a um bonito
espetáculo na avenida. Assim, percebemos que as escolas analisam a sua posição na
cidade, executam um cálculo do lugar olhado (e ouvido) das coisas e refletem sobre si
mesmas. Esse caráter reflexivo nos aproxima da noção de performance como sugestiva
categoria para análise do carnaval e de sua relação com a cidade.
Por não possuírem quadras e barracões próprios um planejamento de atividades
ao longo do ano fica demasiadamente prejudicado, ocasionando um início tardio da
preparação do carnaval, pois, os preparativos para o desfile carnavalesco acabam por
iniciar, geralmente, apenas na metade do ano. Embora algumas escolas procurem
parcerias com associações de bairro para manter atividades recreativas e culturais, tais
como oficinas de bateria e confecção, o relacionamento de uma escola
com uma
comunidade depende, em certa medida, da sua permanência num determinado espaço,
mas o caráter itinerante da maioria das agremiações carnavalescas curitibanas acaba
por impedir essas parcerias. Por outro lado, esta dimensão comunitária, ou a ausências
dela, do carnaval acaba por transformá-lo em um veículo para outras atividades,
130
consolidando novas redes sociais que se refazem e se rearticulam a todo o momento.
127
Ao longo de dois ciclos carnavalescos percebemos que o drama das mudanças não
pode ser pensado numa dimensão meramente negativa, na medida que as novas
articulações
com
outras
comunidades
não
desfaz,
necessariamente,
redes
preestabelecidas. Esse processo sempre em movimento, faz as escolas de samba
ampliarem suas redes por toda a cidade e acrescenta constantemente novos agentes
como artistas, rappers, dançarinos de hip hop, entre outros.
A etnografia mostrou que algumas escolas conseguiram se fixar num bairro,
como a Mocidade Azul e a Embaixadores da Alegria, enquanto outras escolas
“emprestam” comunidades que gostam de samba e deixaram de ter suas agremiações,
como foi verificado no caso da Bairro Alto com a Vila Trindade, reduto da extinta
Garotos Unidos. A Leões da Mocidade, ao que tudo indica, escolheu o bairro do
Boqueirão como reduto e está promovendo oficinas de bateria totalmente gratuitas para
aproximar a garotada da região. A Acadêmicos da Realeza indica outra tendência, a
formação de uma “comunidade virtual” que se encontra em rodas de samba e agrupa
pessoas de toda a cidade. Outras escolas ainda não definiram uma estratégia mais
nítida de captação de componentes, como Os Internautas, por exemplo.
O carnaval, como ritual competitivo, muitas vezes ressalta vaidades pessoais e
provoca brigas e discussões internas. Esses rachas acabam por formar novas escolas.
Nesse sentido, a Mocidade Azul gerou duas novas agremiações: a Acadêmicos da
Realeza e, mais recentemente, a Leões da Mocidade. Também Os Internautas se
formou depois de desentendimentos com o presidente da Unidos de Pinhais. Esses
“rachas” servem para criar ou reforçar rivalidades entre escolas, e essas brigas, muitas
vezes, impossibilitam uma união entre agremiações. No entanto, estas mesmas crises
dinamizam a cultura carnavalesca. Nesse sentido, a crise do carnaval não se situa
apenas na relação da escola com a prefeitura, mas entre elas mesmas. A observação
dos últimos carnavais, por exemplo, apresentou a formação de uma “nova geração” de
carnavalescos, ritmistas e componentes que demonstraram a capacidade de superação
dessas rivalidades: nos ensaios foram constantes as visitas às quadras das coirmãs.
127
Talvez por esta razão inúmeros políticos, especialmente vereadores, estejam se voltando ao carnaval,
inserindo-o nas suas agendas políticas.
131
Além de renovar a cena carnavalesca, essa “nova geração” pode tornar possível a
formação de uma nova concepção de “genealogias do samba” entre nós, na qual esteja
ausente a questão “histórica” em si mesma e se apresente, ao contrário, uma
“naturalização” da movimentação de carnavalescos entre as escolas, promovendo, uma
cultura carnavalesca mais atualizada, nos moldes de uma produção cultural em que o
objetivo esteja muito mais próximo da profissionalização do que da tradição. Embora
algumas escolas possuam descendência direta com os fundadores, outras escolas
deixaram de existir por falta de sucessores. Portanto, a “nova geração” oferece diversas
possibilidades de análise no futuro do carnaval da cidade.
Outro aspecto relevante das escolas de samba de Curitiba diz respeito ao modo
de produção. A organização familiar parece ser comum entre as agremiações, e a
maneira de distribuir tarefas e montar a escola se faz nas mãos de familiares e amigos.
Muitas vezes o conceito de família é usado como mecanismo identitário, os
componentes não são apenas associados de uma escola de samba, são motivados a
participar de uma família. De fato a presença de famílias inteiras foi observada em
todas as escolas, mas nem sempre a produção passa somente por membros da “família
carnavalesca”.
O chamado modo de produção familiar, com o qual trabalhamos durante a fase
inicial da pesquisa parece estar deixando de ter o mesmo rendimento para fins de uma
análise, na medida em que a transmissão dos saberes carnavalescos nem sempre está
se apoiando nesta ideia de família/genealogia/pertencimento histórico. As relações
compreendidas como familiares ou comunitárias foram verificadas em algumas escolas,
mas esse processo se articula com tendência à contratação de profissionais,
principalmente das artes cênicas. Dessa forma, verifica-se a intensificação da presença
de pessoas “de fora” atuando na produção do carnaval das escolas de samba de
Curitiba em conjunto com os “de dentro”. Os “estrangeiros” da folia podem vir a
consolidar uma posição de mediação entre universos sociais diferenciados. Enfim,
essas relações enfatizam os contínuos processos de mudança no campo carnavalesco
e demonstram perspectivas para a continuidade desta pesquisa.
O carnaval traz na sua própria natureza este caráter processual, cíclico, ritual. No
seu bojo, tempo e espaço se cruzam, interminavelmente: assim, pessoas, relações,
132
espaços, mediações e negociações, são parte da sua própria maneira de existir. O que
nos parece importante ressaltar, no entanto, é o que esta pesquisa procurou enfatizar: o
(re)aparecimento do carnaval curitibano como tema sociológico, antropológico, histórico
e cultural importante para pensarmos a própria cidade, suas políticas culturais, enfim,
seu ethos. Acima de tudo, é imprescindível apontara importância que o carnaval parece
estar começando a ter enquanto atividade reflexiva para a própria comunidade
carnavalesca curitibana.
133
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142
ANEXOS
ANEXO I: ESCOLAS CAMPEÃS DO GRUPO A (1957-2010)
Ano
Campeã
Vice-campeã
1957
Não Agite
Embaixadores da Alegria
1958
Não Agite
Asas da Alegria
1959
Não Agite
Embaixadores da Alegria
1960
Não Agite
Embaixadores da Alegria
1961
Não Agite
Embaixadores da Alegria
1962
D. Pedro II
Não Agite
1963
Não Agite
Embaixadores da Alegria
1964
Colorado
D. Pedro II
1965
D. Pedro II
Embaixadores da Alegria
1966
D. Pedro II
Embaixadores da Alegria
1967
D. Pedro II
Não Agite
1968
Não Agite
Embaixadores da Alegria
1969
Não Agite
D. Pedro II
1970
D. Pedro II
Não Agite
1971
Concurso anulado
1972
Colorado
D. Pedro II
1973
D. Pedro II
Não Agite
1974
D. Pedro II
Colorado
1975
Sapolândia
Colorado
1976
Colorado
Não Agite
1977
Mocidade Azul
Colorado
1978
Mocidade Azul
Colorado
1979
Mocidade Azul
Colorado
1980
Mocidade Azul
Colorado
1981
Mocidade Azul
Colorado
1982
D. Pedro II
Colorado
143
1983
Mocidade Azul
Colorado
1984
Mocidade Azul
D. Pedro II
1985
Mocidade Azul
D. Pedro II
1986
D. Pedro II
Mocidade Azul
1987
Mocidade Azul
D. Pedro II
1988
D. Pedro II
Mocidade Azul
1989
D. Pedro II
Embaixadores da Alegria
1990
Mocidade Azul
Embaixadores da Alegria
1991
Embaixadores da Alegria
Mocidade Azul
1992
Embaixadores da Alegria
Mocidade Azul
1993
Mocidade Azul
Embaixadores da Alegria
1994
Mocidade Azul
1995
Mocidade Azul
1996
Embaixadores da Alegria
1997
* Colorado
1998
Embaixadores da Alegria
1999
Acadêmicos da Realeza
2000
Mocidade Azul
2001
Acadêmicos da Realeza
2002
Acadêmicos da Realeza
2003
Acadêmicos da Realeza
2004
Embaixadores da Alegria
2005
Embaixadores da Alegria
2006
Embaixadores da Alegria
Acadêmicos da Realeza
2007
Embaixadores da Alegria
Acadêmicos da Realeza
2008
Acadêmicos da Realeza
2009
Acadêmicos da Realeza
Embaixadores da Alegria
2010
Acadêmicos da Realeza
Embaixadores da Alegria
Colorado
Colorado
Acadêmicos da Realeza
FONTE: 1957-1993. Tribuna do Paraná. 01 de março de 1993.
Em 1997, aconteceram desacordos entre as escolas da Associação e o grupo se dividiu em Liga e a
Federação das Escolas de Samba. As duas entidades promoveram dois desfiles com as escolas filiadas
a cada entidade. Por conta da divisão, o carnaval teve duas escolas campeãs, uma delas foi a Colorado.
144
ANEXO II: EDITAL CARNAVAL (2009) SELEÇÃO DE PROJETOS CARNAVAL
D.O.M. Nº 069/08 DE 11/09/2009
EDITAL N.º 149/08
SELEÇÃO DE PROJETOS
CARNAVAL 2009
A Fundação Cultural de Curitiba, em consonância com o disposto na Lei nº 8.666/93 e
alterações posteriores, torna público, para conhecimento dos interessados, o Edital
Carnaval 2009, que regulamenta as inscrições para o procedimento de seleção de
projetos voltados ao fomento da manifestação popular tradicional denominada
“carnaval”, a serem disponibilizados à comunidade, através da realização de
apresentações artísticas (desfiles) na Avenida Cândido de Abreu, nesta cidade, no dia
21 de fevereiro de 2009.
Curitiba, 11 de setembro de 2009.
PAULINO VIAPIANA
Presidente da Fundação Cultural de Curitiba
145
EDITAL N.º 149/08
SELEÇÃO DE PROJETOS PARA O CARNAVAL 2009
I - OBJETO
A Fundação Cultural de Curitiba - FCC, em conformidade com o disposto na Lei nº
8.666/93 e alterações posteriores, torna público, para o conhecimento dos interessados,
o Edital Carnaval 2009, que regulamenta as inscrições para a seleção de projetos, com
a finalidade de conceder apoio financeiro para o desenvolvimento de apresentações
artísticas (desfiles) de exclusivamente agremiações carnavalescas (escolas de samba)
do Grupo “A” e do Grupo “B”, a serem realizadas na Avenida Cândido de Abreu,
visando a difusão desta espécie de manifestação popular à comunidade.
Para o presente Edital, será disponibilizado o montante de até R$ 172.000,00 (cento e
setenta e dois mil reais), dos quais:
- R$ 100.000,00 (cem mil reais) destinados para 04 (quatro) agremiações (escolas de
samba) do Grupo “A”, correspondentes a R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais) para
cada uma;
- R$ 72.000,00 (setenta e dois mil reais) destinados para 04 (quatro) agremiações
(escolas de samba) do Grupo “B”, correspondentes a R$ 18.000,00 (dezoito mil reais)
para cada uma.
Nos valores acima especificados estão incluídos todos os tributos, encargos, despesas
e demais necessários à consecução do objeto do presente edital.
II – DOS PROJETOS
2.1 A realização dos projetos deverá ocorrer no período de novembro de 2008 a
fevereiro 2009.
2.2 Os proponentes deverão ter disponibilidade para desenvolver as atividades no local
e horário fixados pela Fundação, conforme cronograma a ser estabelecido pela
Diretoria de Ação Cultural.
2.3 Os projetos contemplados deverão ser adaptáveis à infra-estrutura definida pela
Fundação no respectivo instrumento jurídico específico a ser celebrado com os
contemplados, conforme planejamento e indicação da Diretoria de Ação Cultural e
Comissão Executiva do Carnaval 2009.
146
2.4 As propostas contempladas deverão ser objeto de prestação de contas dos
recursos recebidos, conforme instrução normativa exarada pela Coordenadoria
Financeira da FCC, devendo ser observado, ainda, o manual de prestação de contas
disponibilizado em anexo e no site www.fccdigital.com.br - editais.
III - PARTICIPAÇÃO
3.1 Poderão apresentar propostas para o Edital Carnaval 2009, agremiações
carnavalescas (pessoas jurídicas) que comprovem experiência anterior na execução de
projeto semelhante ao proposto, no citado gênero/tendência, cujo objeto de atuação
esteja comprovadamente de acordo com o item I – objeto do presente Edital, com no
mínimo um (01) ano de atuação.
3.2 Somente será possível a apresentação de um projeto para cada proponente
(Pessoa Jurídica). Será vedada a formalização de parcerias, a qualquer título, que
possam de algum modo violar a regra ora estabelecida.
3.2.1 Respeitados os ditames constantes nos atos de constituição das entidades e
respectivos regulamentos e atas, os participantes dos projetos, que integrem o quadro
social da agremiação, firmarão declaração de que não integram outro projeto
apresentado na presente seleção.
3.2.2 Respeitados os ditames constantes nos atos de constituição das entidades e
respectivos regulamentos e atas, fica vedada a substituição do representante legal da
Pessoa Jurídica proponente durante o período de vigência do presente edital e do
respectivo instrumento jurídico.
3.3 Não serão admitidos como proponentes ou participantes em qualquer projeto, a
qualquer título, servidores da Prefeitura Municipal de Curitiba, da Câmara Municipal de
Curitiba ou da Fundação Cultural de Curitiba.
3.4 Estarão impedidos de participar os proponentes inadimplentes com a Administração
Pública Municipal (secretarias, autarquias, fundações e demais) ou que estejam com
processos de prestação de contas pendentes com a Fundação Cultural de Curitiba,
independentemente da instauração de processo administrativo ou judicial.
3.5 Serão automaticamente inabilitadas as instituições que se encontrem com qualquer
pendência inscrita na esfera federal, estadual, bem como processos concluídos ou em
andamento no que se refere à aplicação de penalidades na Prefeitura Municipal de
Curitiba, Fundação Cultural de Curitiba ou no Programa de Apoio e Incentivo à Cultura
– PAIC.
3.6 Os projetos apresentados não poderão prever a aplicação de recurso em
pagamento de despesas de atividades rotineiras, tais como: locações de espaço,
manutenção e conservação de espaços, aquisição de equipamentos permanentes,
água, luz, telefone, serviço e material de limpeza, taxas bancárias, contador, advogado,
pessoal administrativo, qualquer serviço a título de taxa de administração ou similar,
147
impostos e taxas. Os projetos que contiverem despesas dessa natureza serão
automaticamente desclassificados.
IV - INSCRIÇÃO
4.1 As inscrições poderão ser realizadas no período de 12 de setembro de 2008 até 27
de outubro de 2008, mediante o preenchimento do Formulário de Inscrição, disponível
no site da FCC www.fccdigital.com.br - editais ou com a Comissão Executiva do
Carnaval 2009, situada na Rua Engenheiros Rebouças, n.º 1732, Rebouças –
Curitiba/PR, das 09:00 às 12:00 horas e das 13:00 às 17:00 horas.
4.2 O Formulário de Inscrição, documentos (mencionados no item 4.4), projetos e
demais integrantes da proposta, deverão ser enviados exclusivamente através de
SEDEX, em envelope contendo: nome completo do proponente, título do projeto, área,
endereço e telefone, para o seguinte endereço:
EDITAL CARNAVAL 2009
Comissão Executiva do Carnaval 2009
Rua Engenheiros Rebouças, nº 1732 - CEP 80230-040 - Curitiba - PR.
4.2.1 O remetente mencionado no envelope deverá ser o proponente do projeto.
4.2.2 As inscrições cuja postagem do SEDEX tenha ocorrido após o dia 27 de outubro
de 2008 serão consideradas inválidas, ficando o respectivo material à disposição dos
proponentes junto à Comissão Executiva do Carnaval 2009, pelo período de 30 (trinta)
dias a contar da divulgação do resultado dos projetos contemplados.
4.3 O carimbo de postagem de SEDEX servirá como documento de comprovação da
data de inscrição. Caso o carimbo esteja ilegível, será pedido o respectivo
“comprovante de cliente”, que deverá ser entregue pelo proponente em até 02 (dois)
dias após a solicitação do mesmo.
4.4 Para a inscrição os interessados deverão postar os documentos abaixo
discriminados:
4.4.1 Formulário de Inscrição, assinado pelo representante legal da Pessoa Jurídica
(modelo disponibilizado no site da FCC – www.fccdigital.com.br ou junto à Comissão
Executiva do Carnaval 2009).
4.4.2 Cópia do ato constitutivo da Pessoa Jurídica e de todas as suas alterações
posteriores.
4.4.2.1 Cópia da Ata de assembleia Geral onde haja a indicação do representante legal
eleito, da Pessoa Jurídica.
148
4.4.3 Cópia do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica – CNPJ, válido e atualizado, com
emissão não superior a 30 (trinta) dias.
4.4.4 Certidão Negativa de Débitos de Tributos e Contribuições Federais da Pessoa
Jurídica – www.receita.fazenda.gov.br.
4.4.5 Certidão Negativa de Tributos Estaduais da Pessoa Jurídica – www.pr.gov.br.
4.4.6 Certidão Negativa de Tributos Municipais da pessoa jurídica e de seu
representante legal, a ser viabilizada na Prefeitura Municipal de Curitiba – Secretaria
Municipal de Finanças - Departamento de Controle Financeiro – fone 3350-8199 e
3350.8457
(Observar o prazo para solicitação junto à Prefeitura Municipal de Curitiba).
Nota: a Certidão Negativa de Tributos Municipais para pessoa jurídica está
disponibilizada via internet (www.curitiba.pr.gov.br), sendo necessário solicitar a
primeira Certidão com 10 (dez) dias de antecedência e as posteriores são emitidas no
ato.
4.4.7
Certidão
Negativa
www.previdenciasocial.gov.br.
de
Débito
da
Previdência
Social
-
4.4.8 Certidão de Regularidade do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço – FGTS Caixa Econômica Federal – www.caixa.gov.br.
4.4.9 Cópia da Carteira de Identidade (RG) e do Cadastro de Pessoa Física (CPF) do
representante legal da pessoa jurídica.
4.4.10 Cópia de documento contendo o número do PIS/PASEP ou inscrição no INSS do
representante legal da Pessoa Jurídica.
4.4.11 As certidões poderão ser obtidas nos endereços eletrônicos referidos nos itens
anteriores.
Nota: As certidões negativas deverão estar dentro do prazo de validade na data da
postagem do envelope.
4.4.12 Comprovante do domicílio da pessoa jurídica e do seu representante legal.
4.4.12.1 Consideram-se como documentos hábeis à comprovação atual de domicílio:
faturas de água, luz, telefone, documento de instituição bancária/financeira ou
expedidos por oficiais das esferas municipal, estadual ou federal, desde que o endereço
não esteja postado com etiqueta e, ainda, contrato de locação de imóvel devidamente
registrado. O comprovante deverá estar com prazo de emissão não superior a 90
(noventa) dias, à exceção do contrato de locação.
149
4.4.12.1.1 Não serão considerados como documentos comprobatórios de domicílio,
aqueles referentes à cobrança de impostos, emitidos apenas uma vez ao ano e sem
carimbo de postagem (Exemplo: carnê de IPTU, dentre outros).
4.4.12.2 Caso o proponente resida com terceiros e não possua os comprovantes de
domicílio acima mencionados, em nome próprio, deverá juntar declaração do coresidente, indicando a morada conjunta e documentos comprobatórios de residência, de
qualquer espécie, emitidos no mesmo prazo referido no item acima.
4.4.12.3 Nesta hipótese, além da documentação constante no item acima, deverá o
proponente juntar documentos emitidos em nome do declarante, que atendam ao
disposto no item 4.4.12.1.
IMPORTANTE: Com o intuito de agilizar o processo do repasse do apoio financeiro aos
proponentes contemplados, os mesmos poderão:
a) Efetuar o Cadastro de Fornecedores na SMAD, nos termos do item 7.6 e
apresentando o respectivo cadastramento no projeto;
b) Apresentar no projeto cópia de comprovante de conta corrente específica para a
realização das despesas inerentes.
4.4.13 Termo de Responsabilidade quanto ao cumprimento das obrigações decorrentes
do presente Edital, assinado pelo representante legal da Pessoa Jurídica e tesoureiro
da agremiação (escola de samba), comprometendo-se em realizar as atividades,
produções e contrapartidas propostas.
4.4.14 Declaração de não estar ou ter usufruído de benefícios fiscais municipais (Fundo
Municipal da Cultura ou Mecenato Subsidiado) para o desenvolvimento do projeto
proposto.
4.4.15 Currículo completo da Pessoa Jurídica proponente.
4.4.16 Projeto atendendo o mencionado no item I – Objeto, com descrição detalhada da
proposta artística (em consonância, inclusive com o regulamento do Carnaval 2008) e
planejamento executivo, incluindo justificativa, objetivos e metas a serem alcançadas,
acompanhado de fita VHS, CD ou DVD, fotografias, croquis e outros materiais que
permitam a avaliação dos figurinos e adereços a serem utilizados, além dos demais
itens pertinentes à habilitação técnica abaixo descriminados:
- Número de participantes;
- Número de carros alegóricos com dimensões aproximadas e endereço de localização
(para Escolas de Samba);
150
Obs.: As dimensões dos carros informadas poderão sofrer alterações, havendo
avaliação técnica neste sentido emitida pelo IPPUC, sendo que nesta hipótese as
escolas de samba serão previamente informadas;
- Endereço, datas e horários das atividades dos ensaios e das oficinas;
- Letra e Tema do Samba Enredo;
- Detalhamento do conteúdo do projeto que evidencie a sua adequação às
características do evento, nos parâmetros usualmente adotados pela Fundação (de
acordo com os desfiles dos últimos três anos) e
- Resultados almejados especialmente junto à coletividade.
4.4.17 Cronograma de atividades, especificando integralmente o Plano de Aplicação
dos Recursos Financeiros, o qual deverá estar em estrita consonância com a realização
do desfile e cumprimento do objeto do presente edital, sendo vedadas a aplicação dos
recursos nas despesas previstas no item 3.6.
Nota: O Plano de Aplicação dos Recursos Financeiros, será preliminarmente apreciado
e aprovado pela Comissão Executiva do Carnaval 2009, podendo ser indicado
remanejamento da respectiva aplicação, cabendo ao proponente a responsabilidade
pelas adequações necessárias, visando o atendimento do objeto do presente edital,
qual seja, a realização do desfile.
4.5 A falta ou irregularidade na apresentação de documentos, preenchimento de
formulários e demais disposições com todos os seus subitens, determinará a
desclassificação do projeto, sem análise do seu mérito.
4.6 A Fundação Cultural de Curitiba não se responsabilizará por perdas e danos de
material enviado anteriormente à sua efetiva recepção, ou mesmo após o seu
recebimento, quando encontrar-se de qualquer forma impróprio para apreciação.
4.6.1 Caso o material tenha sido recebido danificado ou com partes visivelmente
ausentes, será expedido relatório de recebimento onde constem as irregularidades, a
ser assinado pelo funcionário responsável pela recepção.
4.6.2 Na situação acima referida, caso os danos tornem o material impróprio para
apreciação, não será concedido prazo para que o proponente repare ou substitua
qualquer material, seguindo o projeto para julgamento nas condições em que se
encontrar.
4.7 Todos os formulários, documentos e anexos que compõem o projeto deverão conter
no canto inferior direito de cada folha, a rubrica do proponente e a numeração
seqüencial pelo sistema 99/99, sendo que os dígitos à esquerda da barra identificarão o
número da folha e os demais, a quantidade total de folhas existentes. Exemplo: para
um projeto de vinte folhas, a indicação será 01/20, 02/20, 03/20.... 20/20.
151
IMPORTANTE:
1) AS AGREMIAÇÕES PROPONENTES DEVERÃO ATENDER TODOS OS ITENS
PERTINENTES À APRESENTAÇÃO DAS PROPOSTAS, PROVIDENCIANDO O
ENVIO DE TODA A DOCUMENTAÇÃO ANTERIORMENTE CITADA, DEVIDAMENTE
NUMERADA E EM PASTA ENCADERNADA, NOS TERMOS DO ITEM 4.7, DEVENDO
SER ENVIADA UM ÚNICO VOLUME VIA SEDEX.
NÃO SERÃO ACEITOS COMPLEMENTOS PERTINENTES À DOCUMENTAÇÃO
ENVIADAS, APÓS O RECEBIMENTO DO ENVELOPE NO SETOR DE PROTOCOLO
DA FCC.
2) AS AGREMIAÇÕES PODERÃO OBTER INFORMAÇÕES SOBRE OS REQUISITOS
PARA APRESENTAÇÃO DOS PROJETOS DURANTE O PERÍODO DE INSCRIÇÃO.
3) SERÃO AUTOMATICAMENTE INABILITADAS AS PROPONENTES QUE NÃO
REGULARIZARAM A PRESTAÇÃO DE CONTAS PERTINENTE AOS RECURSOS
FINANCEIRO REPASSADOS PELA FCC PARA EXECUÇÃO DO CARNAVAL 2008,
BEM COMO AQUELAS QUE DESCUMPRIRAM O RESPECTIVO INSTRUMENTO
CONTRATUAL E REGULAMENTO.
V - SELEÇÃO E APOIO FINANCEIRO
5.1 O processo de seleção dos projetos será composto por 02 (duas) fases, sendo:
1ª) Análise documental.
2ª) Avaliação de mérito referente ao projeto apresentado.
A análise dos projetos será feita pela Comissão Executiva do Carnaval 2009, cujo
resultado final da seleção será publicado no Diário Oficial – Atos do Município. Serão
classificados projetos que obtiverem a pontuação mínima de 80 (oitenta) pontos,
obedecendo-se para a contemplação o limite numérico de projetos mencionado no item
I do presente Edital, de acordo com os critérios abaixo especificados.
5.1.1 Currículo do proponente evidenciando experiência na atividade a ser
desenvolvida, com as características propostas por este Edital.................................até
40 (quarenta) pontos.
5.1.2 Apresentação e justificativa do projeto, contendo materiais de apresentação do
figurino, fantasias, adereços, número de alas, número de integrantes na ala das
baianas, número de integrantes na bateria e demais atividades integrantes do
desfile............................................................................................até
60
(sessenta)
pontos
5.2 Serão selecionados e contemplados para receber apoio financeiro os projetos que
atingirem as maiores pontuações, em ordem decrescente, observado o valor máximo
previsto por projeto, obedecendo-se os limites orçamentário e numérico, previstos neste
Edital, destinando-se para cada projeto, segundo a área e modalidade os valores
mencionados no item I – Objeto.
152
5.3. Em caso de empate na nota final, serão selecionados os projetos com maior
pontuação no critério especificado no item 5.1.2.
5.4 Os projetos que alcançarem a pontuação mínima, mas não forem contemplados,
ficarão sob a guarda da Fundação Cultural de Curitiba, até o prazo final de vigência do
presente edital. Findo este prazo, os projetos ficarão à disposição dos seus respectivos
proponentes, aplicando-se, no que couber, o disposto no item a seguir.
5.5 O material enviado para a inscrição no presente Edital, referente a projeto que não
alcançar a pontuação mínima apontada no item 5.1, ficará à disposição dos
interessados junto à Comissão Executiva do Carnaval 2009, até 30 (trinta) dias após a
divulgação do resultado da seleção. Findo este prazo, o material será inutilizado.
5.6 O proponente que não tenha obtido a pontuação mínima necessária terá o prazo de
até 02 (dois) dias úteis, após a divulgação do resultado, para interpor pedido de revisão
à Comissão Executiva do Carnaval 2009, sendo-lhe facultada a consulta local dos
registros de julgamento e do material anexado ao projeto.
5.6.1 Não caberá pedido de revisão em face de desclassificação do projeto em
decorrência de irregularidade e não apresentação da documentação exigida no
presente Edital.
5.7 A divulgação dos projetos que receberão apoio financeiro será feita após a
deliberação pela Comissão Executiva do Carnaval 2009 e ratificado pela Presidência da
FCC, aplicados os critérios estabelecidos no item 5.1. A relação dos classificados e dos
contemplados será publicada no Diário Oficial – Atos do Município de Curitiba e
disponibilizada no site www.fccdigital.com.br.
5.8 A Fundação Cultural de Curitiba destinará o recurso financeiro correspondente ao
apoio financeiro de cada projeto contemplado, entre os meses de novembro de
2008 a dezembro de 2008, segundo discriminado em instrumento a ser
oportunamente celebrado entre a Fundação e o contemplado.
5.9 Os recursos financeiros destinados às atividades previstas neste Edital, correrão por
conta das dotações orçamentárias da Fundação Cultural de Curitiba:
- 28001.13122.0080.2003.339039.0000.01.001
- 28001.13122.0080.2003.339039.0000.02.082
- 28001.13391.0048.2059.339039.0000.01.001
- 28001.13391.0048.2059.339039.0000.02.082
- 28001.13392.0048.2059.339039.0000.01.001
- 28001.13392.0048.2059.339039.0000.02.082
5.10 Os projetos serão realizados nos prazos a serem especificados no instrumento
referido no item 5.8, dentro do período compreendido entre novembro de 2008 a 22 de
fevereiro de 2009.
153
VI - OBRIGAÇÕES DA FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA
6.1 Providenciar a formalização de instrumento com os proponentes contemplados,
estabelecendo responsabilidades recíprocas, bem como, a forma de repasse financeiro.
6.1.1 O instrumento será firmado individualmente com cada um dos proponentes
contemplados, não se admitindo a intermediação de entidades representativas ou de
qualquer outra espécie de terceiro que não haja se qualificado como representante legal
da Pessoa Jurídica, no formulário de apresentação do projeto.
6.2 Acompanhar e fiscalizar a execução do projeto, através da Diretoria de Ação
Cultural e da Comissão Executiva do Carnaval 2009, às quais se reservam o
direito de solicitar relatórios e reuniões, sempre que considerarem necessário.
6.3 Fornecer a seguinte infra-estrutura para a concretização das produções, tais como:
instalação de equipamentos de sonorização, iluminação, palco, arquibancada e demais
nos parâmetros adotados nos últimos três desfiles; liberação da Avenida Cândido de
Abreu, divulgação da programação, nos termos usualmente adotados pela FCC.
6.4 A Fundação Cultural de Curitiba não se responsabilizará por acidentes, danos e/ou
furtos de qualquer tipo de material de propriedade dos proponentes e/ou participantes
dos projetos no decorrer de sua execução.
VII - OBRIGAÇÕES DOS CONTEMPLADOS
7.1 Autorizar a utilização de imagem e som das etapas do projeto para fins de
divulgação em emissoras de televisão, rádio ou mídia eletrônica, quando solicitada
através da Fundação Cultural de Curitiba.
7.2 Participar de eventos organizados pela Fundação Cultural de Curitiba para expor os
resultados do projeto.
7.3 Caberá aos selecionados, quando necessário, providenciar as devidas liberações
necessárias dos órgãos competentes, tais como: SATED - Sindicato dos Artistas e
Técnicos em Espetáculos e Diversões, SIAPAR – Sindicato da Indústria do Audiovisual
do Paraná, AVEC – Associação de Vídeo e Cinema do Paraná, SBAT – Sociedade
Brasileira de Autores Teatrais, ECAD – Escritório Central de Arrecadação e
Distribuição, autorização(ões) do(s) autor(es), e outros, conforme especificidade do
projeto, apresentando a documentação comprobatória de sua regularidade por ocasião
da assinatura do instrumento referido no item 6.1.
7.4 Os projetos deverão conter em seus materiais de divulgação as logomarcas da
Prefeitura Municipal de Curitiba e da Fundação Cultural de Curitiba. Os contemplados
também deverão zelar pelo bom nome das instituições envolvidas.
154
7.4.1 Caso o proponente contemplado pretenda realizar divulgação adicional do projeto,
com recursos próprios, além daquela prevista no item 6.3, deverá submeter o modelo
dos materiais de divulgação à aprovação prévia da Comissão Executiva do Carnaval
2009, para aferição da adequação do uso das logomarcas.
7.4.2 Verificada a inadequação, deverá a Comissão definir os parâmetros a serem
adotados pelo contemplado, considerando as peculiaridades do material apresentado.
7.4.3 O material que se encontre em desacordo com os padrões acima referidos não
poderá ser distribuído, sujeitando o proponente contemplado às sanções
administrativas em caso de descumprimento.
7.5 Os proponentes deverão assumir todas as despesas de produção do projeto, assim
como a responsabilidade pela locação e/ou cessão de equipamentos e outros materiais
a serem utilizados durante a realização dos espetáculos.
7.6 O proponente contemplado, deverá em até 03 (três) dias úteis, após a divulgação
do resultado, proceder ao seu cadastramento junto à Prefeitura Municipal de Curitiba –
Secretaria Municipal da Administração – SMAD (Rua Quari, 160 – 1º andar).
7.7 No mesmo prazo referido no item anterior, os contemplados pelo presente Edital
deverão apresentar à Comissão Executiva do Carnaval 2009, comprovante de abertura
de conta corrente específica, onde conste o nome do proponente, o banco, a agência e
o número da conta corrente, para o repasse e a movimentação dos recursos financeiros
do projeto, referidos no item 5.8, sob pena de desclassificação do projeto.
7.8 Os contemplados deverão atentar para o prazo de validade das certidões,
atualizando-as durante o período de realização do projeto, uma vez que o repasse
financeiro depende da apresentação de certidões válidas, independentemente de
comunicação pela FCC.
7.9 As agremiações carnavalescas contempladas deverão apresentar relatório das
atividades desenvolvidas e das despesas assumidas - prestação de contas parcial dos
recursos recebidos, até a data limite de 15 de janeiro de 2009, sob pena da aplicação
das penalidades previstas no instrumento contratual firmado entre a FCC e o
contemplado.
7.10 Os contemplados estarão obrigados a apresentar as contas do projeto nos
termos exarados pela Coordenadoria Financeira da Fundação, no prazo de até 30
(trinta) dias após a sua conclusão. A prestação de contas deve ser entregue de
maneira coerente com o projeto, orçamentos e plano de aplicação de recursos
apresentados - Consultar Manual de Prestação de Contas disponibilizado, como
parte integrante do instrumento jurídico, a ser firmado com os proponentes
contemplados.
155
VIII - DISPOSIÇÕES GERAIS
8.1 Qualquer modificação no projeto, sem aprovação da Comissão Executiva do
Carnaval 2009, será considerada como descumprimento das obrigações essenciais do
contemplado, sujeitando-o às penalidades administrativas, civis e criminais cabíveis.
8.2 Os projetos aprovados, neste Edital, ficam impedidos de receber recursos
originários de outras instituições públicas, sob a forma de apoio ou incentivo, sejam elas
federais, estaduais ou municipais.
8.3 Em caso de desistência ou desclassificação dos projetos contemplados, antes da
assinatura do instrumento referido no item 6.1, a Comissão Executiva do Carnaval
2009, poderá convocar os demais classificados, seguindo, para tanto, a ordem regular
de classificação.
8.4 A Fundação Cultural de Curitiba e/ou a Comissão Executiva do Carnaval 2009, a
qualquer momento, poderá solicitar informações complementares aos participantes e
fixar prazo para a sua apresentação.
8.5 O trabalho que utilizar obra intelectual (músicas, letras e demais) ou imagens de
terceiros, protegidas pela Lei de Direitos Autorais, só poderá participar mediante a
apresentação das respectivas autorizações autenticadas.
8.6 Caso os contemplados não cumpram o cronograma de atividades e plano de
aplicação dos recursos proposto no projeto, ficarão sujeitos à aplicação das
penalidades previstas na Lei nº 8.666/93 e alterações posteriores e respectivo
instrumento jurídico firmado entre as partes, após a instrução do respectivo processo
administrativo, assegurando-se a ampla defesa do proponente.
8.7 Não poderá haver substituição do proponente, nem alterar-se a denominação do
projeto.
8.8 Os projetos, documentos e declarações encaminhados são de exclusiva
responsabilidade do participante, não acarretando qualquer responsabilidade civil ou
criminal para a Fundação Cultural de Curitiba, especialmente quanto aos direitos
autorais.
8.9 A Fundação Cultural de Curitiba, havendo razões superiores que justifiquem,
poderá revogar este Edital a qualquer momento, sem que tal fato permita alegação de
prejuízo aos interessados, ou a terceiros, sob qualquer fundamento de direito.
8.10 Esclarecimentos sobre este Edital serão prestados pela Comissão Executiva do
Carnaval 2009.
8.11 O ato de inscrição dos projetos implica na aceitação do estipulado neste Edital.
156
8.12 Os casos omissos serão resolvidos pela Diretoria de Ação Cultural e pela
Comissão Executiva do Carnaval 2009, segundo as respectivas competências.
Curitiba, 11 de setembro de 2008.
PAULINO VIAPIANA
Presidente da Fundação Cultural de Curitiba
157
ANEXO III: FORMULÁRIO DE INSCRIÇÃO EDITAL N.º 113/09 - CARNAVAL 2010
CARNAVAL 2009 - EDITAL N.º 113/09 - ANEXO I
FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA
FORMULÁRIO DE INSCRIÇÃO
EDITAL N.º 113/09 - CARNAVAL 2010
IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO
NOME DO PROJETO
IDENTIFICAÇÃO DO PROPONENTE DO PROJETO PESSOA JURÍDICA
NOME OU RAZÃO SOCIAL (NÃO UTILIZAR NOME DE FANTASIA)
CNPJ
ENDEREÇO (LOGRADOURO, NÚMERO, COMPLEMENTO)
CIDADE
UF
TELEFONE/FAX
CEP
CELULAR
IDENTIFICAÇÃO DO REPRESENTANTE DA PESSOA JURÍDICA
NOME COMPLETO DO REPRESENTANTE LEGAL
CPF
IDENTIDADE
PIS/PASEP OU INSS
ENDEREÇO (LOGRADOURO, NÚMERO, COMPLEMENTO)
CIDADE
UF
TELEFONE/FAX
ASSINATURA DO REPRESENTANTE LEGAL DO PROPONENTE
DATA
ASSINATURA DO PROPONENTE
fundação cultural de curitiba
FORMULÁRIO DE INSCRIÇÃO
EDITAL N.º 113/09 - CARNAVAL 2010
PROJETO
NOME DO PROJETO
E-MAIL
CEP
CELULAR
158
APRESENTAÇÃO E JUSTICATIVA
APRESENTAÇÃO E JUSTIFICATIVA DA PROPOSTA
159
CRONOGRAMA DE ATIVIDADES
CRONOGRAMA DE ATIVIDADES
(OBSERVAR A NECESSIDADE DE MATERIAL COMPLEMENTAR CONFORME SOLICITADO NO EDITAL)
ASSINATURA DO PROPONENTE
160
FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA
FORMULÁRIO DE INSCRIÇÃO
EDITAL N.º 113/09 - CARNAVAL 2010
IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO
NOME DO PROJETO
PLANO DE APLICAÇÃO DOS RECURSOS FINANCEIROS
TAREFA/DESCRIÇÃO
DETALHAMENTO DE TODAS AS ATIVIDADES REMUNERADAS ATÉ O VALOR
MÁXIMO DO EDITAL
SOMA DOS VALORES ORÇADOS EM REAIS
ASSINATURA DO PROPONENTE
QUANT.
VALOR EM REAIS
161
FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA
FORMULÁRIO DE INSCRIÇÃO
EDITAL N.º 113/09 - CARNAVAL 2010
IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO
NOME DO PROJETO
T E R M O
D E
R E S P O N S A B I L I D A D E
Nós, componentes da equipe que atuará no projeto cultural acima identificado, DECLARAMOS para os devidos fins que
nos comprometemos com o fiel cumprimento das obrigações decorrentes deste Edital, assegurando a realização das
atividades especificadas no projeto, nas datas a serem definidas pela Fundação Cultural de Curitiba. DECLARAMOS
ainda, que não participamos de outro projeto apresentado neste Edital, bem como não integramos o quadro funcional da
Prefeitura Municipal de Curitiba e da Fundação Cultural de Curitiba.
NOME DO DECLARANTE
DOCUMENTO DO
ASSINATURA DO DECLARANTE
DECLARANTE
E s t e t e r m o d e v e r á s e r a s s i n a d o p e l o p r o p o n e n t e , p e l o s u b s t i t u t o / r e p r e s e n t a n t e l e g a l e pelos integrantes
(pessoas físicas) da Diretoria da entidade
162
FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA
FORMULÁRIO DE INSCRIÇÃO
EDITAL N.º 113/09 - CARNAVAL 2010
IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO
NOME DO PROJETO
DECLARAÇÃO DE BENEFÍCIOS FISCAIS
Declaramos para os devidos fins, não estarmos usufruindo ou ter usufruído de
benefícios fiscais municipais (Fundo Municipal da Cultura e/ou Mecenato
Subsidiado) para o desenvolvimento do projeto proposto.
DECLARAÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS
Declaramos estar ciente que deveremos apresentar à Fundação Cultural de
Curitiba, ao término do projeto, a prestação de contas dos recursos recebidos e
despendidos, no valor total do projeto aprovado em conformidade com a Lei n.º
8666/93 e alterações posteriores e normas definidas pela Fundação Cultural de
Curitiba.
ASSINATURA DO PROPONENTE
fundação cultural de curitiba
FORMULÁRIO DE INSCRIÇÃO
EDITAL N.º 113/09 - CARNAVAL 2010
IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO
NOME DO PROJETO
163
a) Declaro estar ciente que o projeto deverá conter em suas peças de comunicação e
por ocasião do desfile o crédito sob forma de logomarca da Prefeitura Municipal de
Curitiba e da Fundação Cultural de Curitiba.
b) Declaro estar ciente dos dispositivos contidos na Lei n.º 9.610/98 de Direitos
Autorais assumindo, exclusivamente, a responsabilidade pela liberação de toda e
qualquer obra de titularidade de terceiros, mediante prévia e expressa autorização do
autor ou detentor dos Direitos Autorais e Copyrights, especialmente no que tange às
obras musicais utilizadas.
c) De acordo com o constante no edital de inscrição, autorizo a Fundação Cultural de
Curitiba a inutilizar o material por mim enviado, no caso do mesmo ser inabilitado e não
ser retirado no prazo máximo de 30 (trinta) dias após a divulgação do resultado.
d) Declaro para todos os fins de direito perante as leis vigentes que todas as
informações aqui prestadas, tanto no projeto como em seus anexos, são verdadeiras e
de minha inteira responsabilidade, podendo, a qualquer momento, serem comprovadas.
e) Manifesto minha concordância com os termos estabelecidos no Edital de inscrição e
comprometo-me ao cumprimento das exigências da Lei n.º 8666/93 e alterações
posteriores e demais aplicáveis, bem como o respectivo instrumento contratual.
Local/Data: .............................................................................................................
Nome por extenso do proponente: ........................................................................
Assinatura: .............................................................................................................
M O D E L O S C U R R Í C U L O S
#.........................................................................................................................................................................................................
CURRÍCULO PESSOA JURÍDICA
NOME
TEMPO DE FORMAÇÃO DO GRUPO/ENTIDADE
AREA DE ATUAÇÃO
INFORME O NÚMERO DE INTEGRANTES
DISCORRA SOBRE O GRUPO/ENTIDADE
MENCIONE OS DOIS ÚLTIMOS TRABALHOS REALIZADOS
164
MENCIONE DUAS PRINCIPAIS PARTICIPAÇÕES EM EVENTOS CULTURAIS
INFORME SOBRE PRODUÇÕES CULTURAIS (SHOWS, PUBLICAÇÕES, CD´s, FILMES, EXPOSIÇÕES, ETC)
DESTAQUE AS PRINCIPAIS REALIZAÇÕES
PRÊMIOS E TÍTULOS RECEBIDOS
OUTRAS INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES E RELEVANTES
LOCAL
DATA
PODERÃO SER SOLICITADOS COMPROVANTES DAS INFORMAÇÕES CONSTANTES DO CURRÍCULO NA ANÁLISE DO
PROJETO
CURRÍCULO PESSOA FÍSICA
NOME
AREA DE ATUAÇÃO
FORMAÇÃO/TITULAÇÃO
ATUAÇÃO PROFISSIONAL
165
MENCIONE OS DOIS ÚLTIMOS TRABALHOS REALIZADOS
MENCIONE DUAS PRINCIPAIS PARTICIPAÇÕES EM EVENTOS CULTURAIS
INFORME SOBRE AS PRODUÇÕES CULTURAIS (SHOWS, PUBLICAÇÕES, CD´s, FILMES, EXPOSIÇÕES, ETC)
DESTAQUE AS PRINCIPAIS REALIZAÇÕES
PRÊMIOS E TÍTULOS RECEBIDOS
OUTRAS INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES E RELEVANTES
LOCAL
DATA
PODERÃO SER SOLICITADOS COMPROVANTES DAS INFORMAÇÕES CONSTANTES DO CURRÍCULO NA ANÁLISE DO
PROJETO
166
ANEXO IV: ESCOLAS CONTEMPLADAS - APOIO FINANCEIRO (2009)
Publicado no D.O.M
Nº88 de 18/11/2008
EDITAL Nº 202/08
A FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA, em consonância com a Lei nº 8.666/93 e
alterações posteriores e em consonância com o Edital nº 149/08, torna público através do
presente Edital, o resultado do processo de habilitação para os projetos apresentados para
participação do evento “Carnaval de Rua 2009”, visando receber apoio financeiro, bem
como aqueles que terão a oportunidade de participar do desfile, a saber:
I) ESCOLAS CONTEMPLADAS PARA PARTICIPAÇÃO NO DESFILE COM APOIO
FINANCEIRO – GRUPO A
AGREMIAÇÃO
VALOR
SOCIEDADE CULTURAL E
CARNAVALESCA EMBAIXADORES
DA ALEGRIA
R$ 25.000,00
GRÊMIO RECREATIVO CULTURAL
ESCOLA DE SAMBA ACADÊMICOS
DA REALEZA
SOCIEDADE RECREATIVA
CULTURAL E BENEFICENTE
LEÕES DA MOCIDADE
CONTEMPLADA
R$ 25.000,00
CONTEMPLADA
R$ 25.000,00
CONTEMPLADA
II) ESCOLAS CONTEMPLADAS PARA PARTICIPAÇÃO NO DESFILE COM APOIO
FINANCEIRO – GRUPO B
AGREMIAÇÃO
VALOR
GRÊMIO RECREATIVO
BENEFICENTE ESCOLA DE SAMBA
INTERNAUTAS
R$ 18.000,00
CONTEMPLADA
167
ASSOCIAÇÃO CULTURAL ESCOLA
DE SAMBA UNIDOS DO BAIRRO
ALTO
R$ 18.000,00
CONTEMPLADA
GRÊMIO RECREATIVO ESCOLA DE
SAMBA OS UNIDOS DE PINHAS
R$ 18.000,00
CONTEMPLADA
P.S.: As agremiações selecionadas e contempladas e acima mencionadas deverão
providenciar o cadastro na Secretaria da Administração – SMAD, conta corrente
específica para o projeto, certidões atualizadas (se necessário) nos termos dos itens
7.6, 7.7 e 7.8 do Edital nº 149/08, no prazo máximo improrrogável de 02 (dois) dias
úteis, a contar da publicação do presente edital, bem como as liberações do ECAD
para a celebração do instrumento jurídico específico.
III. ESCOLAS DE SAMBA INABILITADAS:
FALCÕES INDEPENDENTES
PRESTAÇÃO DE CONTAS
EXERCÍCIO 2008 NÃO APROVADA
IGREJA EVANGÉLICA ÁGAPE –
ESCOLA DE SAMBA BOM À BEÇA
AUSÊNCIA DA ATA DESIGNANDO
REPRESENTANTE LEGAL E ATO
LEGAL QUE POSSIBILITE A
PARTICIPAÇÃO NO DESFILE DE RUA
PRESTAÇÃO DE CONTAS
EXERCÍCIO 2008 NÃO APROVADA
Curitiba, 13 de novembro de 2008
PAULINO VIAPIANA
Presidente da Fundação Cultural de Curitiba
168
ANEXO V: REGULAMENTO DO DESFILE DAS ESCOLAS DE SAMBA NO
CARNAVAL DE CURITIBA – ANO DE 2009
Aos dois dias do mês de dezembro de dois mil e Ito, em reunião realizada na
sede da Fundação Cultural de Curitiba na Rua Engenheiros Rebouças n º
1732, nesta Capital, a Comissão Executiva do Carnaval 2009 e as entidades
carnavalescas ao final especificadas, reuniram-se para deliberar sobre as
condições e regulamento do desfile do ano de 2009.
Nominados individualmente e consultados, foram ouvidos em liberdade plena de
ação, Deliberaram, Votaram e Aprovaram o presente Regulamento, redigidos com
base no Regulamento da Atividade Correlata ao ano de 2008. Os participantes,
através dos signatários qualificados na relação anexa, tomando e dando ciência a
quem interessar possa dos processos estipulados para que efetivamente surtam
as novas normas, efeitos legais de Regulamento Vigente para o Carnaval 2009,
sob as condições abaixo:
Capítulo 1 – Das Disposições iniciais
Artigo 1 º. O resultado do concurso do Carnaval 2008 prevalecerá para o Carnaval
2009, visando a constituição das escolas dos Grupos A e B.
Artigo 2o. Serão premiados os dois primeiros colocados do Grupo A e do Grupo B
com troféus de 1 º e 2 º lugares, respectivamente.
§ 1 º - Após apuração de notas, a classificação será discriminada em ordem
decrescente. Nomeará no Grupo A, como primeira colocada a escola que receber
maior nota. A segunda colocada será a escola que recebeu segunda maior nota e
assim sucessivamente. O mesmo critério de classificação será usado no ‘Grupo
B’.
Artigo 3 º. A Fundação Cultural de Curitiba poderá autorizar a participação de
escolas de samba que habilitadas para o repasse do recurso financeiro, porém
com a possibilidade de realizar seu desfile ao termino das apresentações das
escolas credenciadas, como atração, sem a efetiva participação no concurso.
Artigo 4 º. As agremiações poderão obter licença para o afastamento, por prazo
não superior a dois anos, desde que a solicitante esteja habilitada, e em dia, com
as obrigações junto à F. C. C. – Fundação Cultural de Curitiba órgão coordenador
do carnaval desta cidade e com o Programa de Apoio à Incentivo à Cultura –
PAIC. A habilitação compreende o cumprimento total do regulamento do último
desfile da solicitante, assim também como a prestação de contas e dessa, a
devida aprovação. Neste caso, serão convocadas demais escolas habilitadas, se
existentes.
169
Capítulo II – Número De Componentes E Ordem De Apresentação Para O
Desfile
Artigo 5 º. O número dos integrantes por agremiação para o desfile do
Carnaval 2009, não poderá ser inferior ao número de participantes no
carnaval de 2008, servindo como referência o montante especificado para as
escolas do ‘Grupo A’, em 230 (duzentos e trinta) integrantes e para as
escolas do ‘Grupo B’, em 160 (cento e sessenta), integrantes.
§ 1 º - Poderá ser somado, para complementar o número de integrantes no desfile,
até um montante de pessoas que não ultrapasse a 10% (dez por cento), do total
de componentes que auxiliam a escola em desfile.
Capítulo III – Do Decesso e Acesso
Artigo 6 º. A escola que não cumprir o presente regulamento e/ou as obrigações
assumidas com a FCC ficará automaticamente inabilitada para recebimento de
recursos financeiros repassados pela Administração Pública para o próximo ano,
sob pena da aplicação das penalidades previstas no instrumento jurídico.
Artigo 7 º. As normas abaixo regulamentam condições para o acesso ao
Grupo “A” e decesso para o Grupo “B”.
Normas para acesso. A Campeã do ‘Grupo B’. Obrigatoriamente desfilará em
2010 no ‘Grupo A’.
Normas para o decesso. A última colocada descerá para o ‘Grupo B’.
Capítulo IV – Do Regulamento De Desfile
Artigo 8 º. Os locais para concentração, armação e áreas afins, serão delimitadas
e indicados pela Comissão de Carnaval da F. C. C. ‘Fundação Cultural de
Curitiba’, bem como o horário previsto para a concentração, armação, horário de
largada e aquele em que deverá acontecer a dispersão de cada escola serão
definidos pela mesma comissão que os fará constar em mapa específico que será
previamente distribuído.
Artigo 9 º. À Comissão de Carnaval compete:
1 - Controlar e fazer constar em mapas específicos a cronometragem da duração
do desfile de cada escola; controle de número de integrantes e componentes;
número de alegorias e respectivas especificações técnicas.
2 – O mapa preenchido será assinado pelo Representante Legal da agremiação
devidamente identificado e no mínimo um fiscal de cada escola.
3 – Receber, analisar e deliberar sobre os questionamentos e recursos interpostos
pelas escolas durante a realização do desfile nos termos do art. 13.
Artigo 10. A escola que estiver concentrada só poderá avançar para a área de
armação, imediatamente após a largada daquela que antecedê-la.
Artigo 11. O Cronograma do fluxo do desfile estipulará as seguintes normas:
1 – Um ‘Aviso’ quando faltar 15 (Quinze) minutos para a largada;
2 – Um ‘Penúltimo Aviso’ quando faltar 5 (Cinco) minutos para a largada;
3 – O ‘Último Aviso’ quando faltar 1 (Um) minuto para a largada.
170
Artigo 12. A Escola entrará na área do desfile já em evolução.
§ 1o - Fica determinado para duração do desfile do ‘Grupo A’, o tempo máximo de
60’ (sessenta minutos) e 50’ (cinqüenta minutos), como tempo mínimo.
§ 2 º - Para o ‘Grupo B’, 45’ (quarenta e cinco minutos) no máximo de 40’
(quarenta minutos) no mínimo.
§ 3 º - Nos dois grupos citados, o Tempo Máximo não poderá ser ultrapassado,
como o Tempo Mínimo, não poderá ser minimizado.
Artigo 13. Toda e qualquer irregularidade pertinente ao cumprimento do
presente Regulamento por parte das escolas deverá ser comunicada por
escrito à Comissão Executiva do Carnaval, pela entidade (agremiação)
Reclamante, em até 45 (quarenta e cinco) minutos do término do desfile da
escola Reclamada, cujo conteúdo será analisado pela citada Comissão
podendo contar com o auxílio dos jurados. A Comissão Executiva do
Carnaval, providenciará a imediata notificação à escola reclamada, para que
a mesma providencie as medidas necessárias à sua defesa.
§ 1o – Não poderá ser recusado tal recebimento, bem como, devera ainda, um
membro da Comissão Executiva do Carnaval, apor na cópia da reclamação, o
nome e assinatura, com data e hora da entrega, como protocolo de recebimento,
que ficará em poder do reclamante para posteriores esclarecimentos.
§ 2o – A comprovação das regularidades tratadas no caput desta cláusula deverá
ser acompanhada de documento iconográfico (vídeo ou foto), e também do
depoimento do mínimo de 2 (dois) fiscais do desfile das escolas, as quais deverão
ser entregues na sede da FCC, situado na Rua Engenheiros Rebouças, n º 1732 –
Portaria das 09h00 às 12h00 do dia seguinte do desfile.
§ 3o – As provas mencionadas no parágrafo segundo serão submetidas à análise
da Comissão Executiva do Carnaval que poderá contar com o auxílio de
especialistas e jurados, cujo resultado de provimento do recurso será divulgado
em até 02 (duas) horas anteriores ao resultado do desfile.
§ 4o – Poderão compor meios de provas perante à Comissão Executiva do
Carnaval, a sustentação oral, por no máximo 5 (cinco) minutos a ser promovida
pela entidade inconformada com a decisão da referida Comissão.
§ 5 º - A decisão dos recursos apresentados serão prolatada definitivamente pela
Comissão Executiva do Carnaval, cabendo às agremiações a expressa aceitação.
Capítulo V – Dos Impedimentos e Penalidades
Artigo 14. É expressamente vedado às agremiações:
1 – Apresentar como enredo qualquer tema que atinja pejorativamente à
Constituição do país, grupos raciais, sociais ou religiosos.
§ 1o – Penalidade – Anulação do quesito Enredo.
2 – Incluir no desfile pessoas não fantasiadas, ou que não pertençam ao enredo.
§ 1o – Exceto Diretores, Funcionários, Auxiliares de Serviços Gerais,
Empurradores de Carros, sendo que todos indistintamente devem estar além de
Uniformizados, devidamente identificados.
§ 2o – Penalidade – Perda de 5 (Cinco) pontos no total de apuração das notas do
quesito Fantasia.
171
3 – Desfilar com fantasia que na íntegra ou em parte tenha sido apresentada no
desfile de outra Escola de Samba no mesmo concurso ou em ano anteriores.
§ 1o – Penalidade - Perda de 5 (Cinco) pontos no total de apuração das notas do
quesito Fantasia.
4 – O uso, sob qualquer pretexto de roupas individuais ou trajes em grupos
não Enquadradas No Quesito De Fantasia mesmo que atenda as
necessidades de demonstração no enredo.
§ 1o – A definição de Fantasia como vestimenta do Dicionário Houaiss da língua
portuguesa, (SIC), é a de sufixo feminino, do grego phantasia.
Regionalismo no Brasil. Vestimenta que produz o modelo de vestes das culturas
ou épocas diversas, ou que representa objetos, ideias, figuras históricas,
imaginárias etc., usados em certos rituais e festividades, especialmente no
carnaval.
§ 2o – Pelo exposto no parágrafo acima, fica estipulado para surtir efeitos legais de
interpretação, que Fantasia é a Estilização Ou Conversão de Roupas
Convencionais em Trajes Diferenciados seguindo na íntegra o que preceitua a
reconhecida obra literária.
§ 3o – O uso de Camisa de Clubes De Futebol, Uniforme de Torcidas
Organizadas, Traje Completo De Atleta da modalidade que for implica no
desrespeito ao item e sujeita a escola infratora a punição prevista.
§ 4o – Penalidade – Anulação do quesito Fantasia.
5 – Retroceder durante o desfile.
§ 1o – Penalidade - Perda de 5 (Cinco) pontos no total de apuração das notas do
quesito Conjunto.
6 – Constituir a Comissão de Frente com menos de 8 (Oito) integrantes.
§ 1o – Penalidade - Perda de 5 (Cinco) pontos no total de apuração das notas do
quesito Comissão de Frente.
6 – Constituir a Ala das Baianas com menos de 12 (Doze) integrantes no grupo
“A” e menos de 8 (Oito) no grupo “B”.
o
§ 1 – Penalidade - Perda de 1 (Um) ponto por integrante a menos do mínimo
solicitado.
7 – Constituir a Ala Da Bateria com menos de 40 (Quarenta) integrantes no
‘Grupo A’ e no ‘Grupo B’ com menos de 30 (Trinta) integrantes.
§ 1o – Penalidade - Perda de 5 (Cinco) pontos no total de apuração das notas do
quesito Bateria.
9 – Inserir, mostrar, divulgar todo tipo de propaganda, publicidade comercial,
industrial ou institucional no enredo, samba de enredo, alegoria, adereços,
fantasia, uniforme de qualquer funcionário, empurradores e carros alegóricos,
como também, tal vedação se aplica a Trajes Da Diretoria.
§ 1o – O constante no parágrafo acima, terá validade jurídica após ter sido
realizada a contagem do efetivo da Escola, e deixará de ter representatividade
quando Toda A Escola, adentrar a Área de Dispersão.
§ 2o – Excetua-se ao item 9 acima citado – parágrafo primeiro, Existência de
Logomarcas que patrocinem a agremiação, Originais de Fabricantes nos
instrumentos da bateria, ou a Logomarca Da Escola De Samba pela qual a
agremiação em desfile seja reconhecida.
§ 1o – Penalidade – Anulação do quesito onda há irregularidade.
172
10 – A Escola De Samba que usar o Mestre Sala ou a Porta Bandeira, em casal
ou em separado de outras agremiações para desfilar no mesmo quesito e com as
mesmas funções no mesmo Concurso.
§ 1o – Penalidade – Anulação do quesito Mestre Sala ou a Porta Bandeira para a
segunda agremiação.
11 – As Escolas que apresentarem carros alegóricos puxados por animais
ou motorizados e desfilarem usando estruturas, partes de alegorias,
alegorias completas, carros alegóricos de propriedade de outra agremiação
ou que tenham sido apresentados no mesmo concurso por outra escola.
§ 1o – Penalidade – Anulação do quesito Alegoria.
12 – As escolas do ‘Grupo A’, desfilarem sem um mínimo de 2 (dois) carros
alegóricos e para as escolas do ‘Grupo B’, sem no mínimo 1 (um) carro.
§ 1o – Penalidade – Perda de 10 (dez) pontos no total de apuração de notas do
quesito Alegorias.
13 – A escola apresentar Carros Alegóricos que não tenham base de
sustentação com no mínimo de 12,00 m² (Doze metros quadrados) e a altura
livre desde que respeitados os limites da estrutura física da avenida e
requisito de segurança.
§ 1o – Penalidade –Perda de 5 (Cinco) pontos do total de apuração das notas do
quesito Alegorias.
14 – Largar ou Terminar o Desfile fora do horário predeterminado pela Comissão
Executiva do Carnaval da F. C. C. Fundação Cultural de Curitiba dados esses que
constarão da planilha (Mapa) previamente distribuída.
§ 1o – Penalidade –Perda de 1 (Um) ponto por minuto que Anteceder ou
Ultrapassar o Horário Mínimo e Máximo.
§ 1o – (SIC) horário fixado na grade caberá à Comissão Executiva do Carnaval a
análise quanto à aplicação da penalidade prevista no parágrafo primeiro.
Capítulo VI – Dos Itens Avaliados Nos Quesitos de Julgamento
Artigo 15. Os itens abaixo apresentam os quesitos com esclarecimentos
pertinentes ao bom entendimento para melhor avaliação por parte dos jurados.
1) BATERIA
A bateria sustenta com sua marcação, a cadência indispensável ao
desenvolvimento do samba, do canto e da evolução.
Cabe lembrar que cada Bateria possui identidade própria e liberdade quanto ao
ritmo e a distribuição dos instrumentos possibilitando desenhos rítmicos também
próprios, que a caracterizam imprimindo-lhes sua marca, a característica da
Escola, de suas cores, da comunidade que representa.
Vale observar que o julgador não deve deixar levar pelo nome ou fama da Escola,
e sim, pela apresentação da Bateria em julgamento não devendo também, levar
em conta a quantidade de seus componentes e sim, a qualidade da apresentação.
1.1 ANDAMENTO
É a cadência dada pelo ritmo que deverá apresentar marcação firme e precisa,
podendo ser variada e diversificada através de breques e paradas.
NOTAS DE 05 A 10
2) FANTASIA:
173
As fantasias devem retratar a época, se o enredo gira em torno de acontecimentos
históricos, ou os elementos tradicionais, folclóricos, regionais, etc, de acordo com
o tema-enredo. O critério mais importante a ser observado neste QUESITO para
julgamento é o seu perfeito entrosamento ao tema-enredo proposto pela escola.
Não importa o material a ser usado, tecido e outros, e sim a criatividade, a
originalidade, a graça. As fantasias devem facilitar os movimentos exigidos pelo
samba, em soluções figurativas ou simbólicas, realistas ou estilizadas, de acordo
com os diversos estilos de criação dos artistas. O julgador de fantasias julgará
todas as fantasias apresentadas pela Escola de Samba no desfile, inclusive da
Comissão de Frente, Porta-Bandeira e Mestre-Sala.
O julgador deve observar:
2. 1 CONCEPÇÃO E PROPRIEDADE:
CONCEPÇÃO: Criação artística baseada no enredo
PROPRIEDADES: Adequação das fantasias e dos materiais usados à temática e
significado do enredo e aos passos do samba.
NOTAS DE 02 A 04
2. 2 ORIGINALIDADE, VARIEDADE E ACABAMENTO:
ORIGINALIDADE: Maneira própria de criar fantasias.
ACABAMENTO: Diversidade das fantasias na exploração das potencialidades do
enredo.
VARIEDADE: Cuidado na confecção e uniformidade das fantasias de cada
conjunto.
NOTAS DE 02 A 04
2. 3 EFEITO E TONALIDADE:
EFEITO: A impressão causada pela utilização e distribuição dos materiais de cada
ala, usados nas fantasias, sobretudo no conjunto.
TONALIDADE: Entrosamento, utilização e exploração de cores.
NOTAS DE 01 A 02
3) MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA:
O Mestre-Sala e a Porta-Bandeira tem a honra de conduzir o símbolo máximo da
agremiação: a BANDEIRA. A função do Mestre-Sala é cortejar a Porta-Bandeira
durante toda a apresentação, através de gestos e posturas elegantes que
demonstrem reverência à sua dama, demonstrando e protegendo o pavilhão. O
par apresenta uma dança com passos características próprias, que vem sendo
enriquecida em seus meneios e mesuras através do tempo. O julgador deverá
observar:
3. 1 CARACTERÍSTICA DA DANÇA:
O Mestre-Sala e a Porta-Bandeira não sambam, mas desenvolvem um bailado no
ritmo do samba, quando o par mantendo as tradições desenvolve a sua
criatividade. O malabarismo e a acrobacia nada tem a ver com essa dança e não
devem ser confundidos com a imensa variedade de passos, giros, meias-voltas,
torneados e mesuras executadas pelo par.
NOTAS DE 02 A 04
3. 2 HARMONIA DO PAR:
Com graça e leveza, o Mestre-Sala e a Porta-Bandeira devem apresentar uma
coordenação de movimentos que permitam a sua apresentação em conjunto.
NOTAS DE 02 A 04
174
3. 3 POSTURA E INDUMENTÁRIA:
Postura: Durante a exibição o par deverá mostrar uma dignidade compatível com
a dança e a majestade adaptada à função.
Indumentária: Dentro do modelo tradicional, as fantasias poderão, ou não estar
ligadas formalmente ao tem-enredo, adequadas de modo a não atrapalhar a
dança do par.
NOTAS DE 01 A 02
Constitui deslize durante a exibição, que um ou que outro (Mestre-Sala ou PortaBandeira) perda de sua indumentária, como chapéu do Mestre-Sala, um dos
sapatos da Porta-Bandeira ou fato semelhante.
4) COMISSÃO DE FRENTE
A Comissão de Frente é um dos elementos tradicionais da Escola de Samba.
Saúda os assistentes em nome da Diretoria, dos componentes, e pede passagem
para a agremiação.
A Comissão de Frente poderá vir tradicional ou fantasiada. Considera-se
tradicional: FRAQUE, CASACA, SUMMER, TERNO, SMOKING. Se fantasiada,
deverá ser adequada ao Enredo.
4. 1 ATITUDE
Forma gentil, elegante, coordenada e comunicativa com que seus integrantes
cumprimentam o público.
NOTA DE 03 A 05
4. 2 INDUMENTÁRIA:
A beleza, o efeito, o apuro da confecção, o acabamento dos trajes do conjunto e à
adequação ao enredo, quando for o caso.
NOTA DE 02 A 05
5) ALEGORIAS E ADEREÇOS:
As Alegorias e os Adereços são elementos plásticos, ilustrativos do Enredo. São
recursos que devem contribuir para um melhor esclarecimento e “leitura” do tema,
assim como as fantasias com as quais devem estar integradas. As formas das
alegorias e adereços devem necessariamente possuir um significado, traduzindo
para o público o conteúdo do enredo, valorizando e respeitando os estilos de
interpretação e expressão dos responsáveis pela criação. Imaginados por artistas
plásticos populares e/ou eruditos, são uma rica demonstração de inventividade,
capacidade de recriação, improvisação e um dos melhores momentos de
demonstração da qualidade da artesania do brasileiro. Devem ser observadas
ainda, a devida utilização e adequação dos materiais na interpretação dos tipos e
partes do enredo.
O julgador deverá observar:
O critério mais importante a ser observado neste QUESITO para julgamento é o
seu perfeito entrosamento ao tema-enredo proposto pela escola.
Não importa o material a ser usado, tecido e outros, e sim a criatividade, a
originalidade, a graça. As fantasias devem facilitar os movimentos exigidos pelo
samba, em soluções figurativas ou simbólicas, realistas ou estilizadas, de acordo
com os diversos estilos de criação dos artistas.
5. 1 A CONCEPÇÃO E A IDENTIDADE:
CONCEPÇÃO: É a criação plástica, transmitindo o conteúdo do Enredo.
175
IDENTIDADE: Identificação com o Enredo. A adequação das alegorias e adereços
à temática proposta.
NOTAS DE 02 A 04
5. 2 ORIGINALIDADE E EFEITO
ORIGINALIDADE: É a maneira própria de utilizar recriar e/ou estilizar formas nas
alegorias e adereços.
EFEITO: Adequação e impressão causadas pelas formas e materiais utilizados.
NOTAS DE 02 A 04
5. 3 ACABAMENTO
As alegorias e adereços devem apresentar um acabamento cuidado.
NOTAS DE 01 A 02
6) SAMBA DE ENREDO
O Samba de Enredo é a ilustração poético-melódica do Enredo e só poderá
convenientemente avaliado durante o desfile. Sua letra se refere ao Enredo
apresentado pela Escola, devendo, portanto, haver compatibilidade entre o tema e
a letra do samba. O Samba de Enredo possui estilo característico e versejar
próprio e, na mesma medida em que não deverá ser julgado como peça erudita,
mas como expressão de linguagem popular não lhe devem ser exigidos esquemas
fixos de métrica e rima. Assim, na letra do Samba de Enredo deverão ser
observadas a criatividade e a perfeita adaptação à melodia não devendo o
julgador levar em conta possíveis transgressões à gramática normativa, e sim
estar atento às soluções encontradas pelos compositores para o desenvolvimento
do tema do Enredo. O Samba de Enredo poderá, ainda ser descritivo e/ou
interpretativo. Samba de Enredo interpretativo é aquele que conta o Enredo sem
fixar detalhes, mas contendo implicitamente a ideia, o espírito dos principais itens
do Enredo. Seja descritivo ou interpretativo não poderá deixar de ater-se ao tema
a ser desenvolvido. A melodia deverá ser avaliada em sua criatividade, riqueza e
originalidade, sendo que o plágio não será tolerado.
OBSERVAÇÃO
O julgador não deverá levar em conta, em sua avaliação o comportamento do
público assistente em relação ao Samba de Enredo.
O julgador deverá observar:
6. 1 A LETRA:
NOTAS DE 02 A 05
6. 2 A MELODIA
NOTAS DE 03 A 05
7) HARMONIA
Harmonia em desfile de Escola de Samba é o entrosamento entre o ritmo
(BATERIA), a melodia (CANTO) e a dança observando-se a distribuição dos
componentes da Agremiação. Considera-se deslize grave no que concerne a
Harmonia o fenômeno chamado de atravessamento do samba que pode
manifestar-se em dois tipos de divergências ocorridas ou simultaneamente, a
saber:
a) Divergência no canto (melodia). Ocorre quando uma parcela dos componentes
cantam uma parte da letra, enquanto outra parcela concomitantemente canta outra
parte da mesma letra entoando outros versos.
176
b) Divergência entre ritmo e a melodia. Ocorre quando o ritmo imprimindo à Escola
pela Bateria, não é permitido e/ou acompanhado pelo andamento da dança e pelo
canto da melodia do samba. Caberá, portanto, ao julgador, avaliar a harmonia do
canto, do samba e do ritmo avaliando, cuidadosamente a manutenção da
tonalidade, da continuidade e a inalterabilidade do canto.
O julgador deve observar:
6. 1 HARMONIA DO CANTO: É a constatação da perfeita igualdade do canto, da
letra e a melodia do samba pela tonalidade dos componentes da Escola.
NOTAS DE 02 A 04
7. 2 HARMONIA DO SAMBA: É o entrosamento da melodia do samba com o ritmo
NOTAS DE 02 A 04
7. 3 HARMONIA RITMO: É a manutenção, a permanência do andamento da
dança dos componentes com o ritmo, sem haver alteração desse andamento.
NOTAS DE 01 A 02
7. ENREDO:
Enredo: É o motivo, o tem central de um desfile de acordo com a sinopse
apresentada. Uma Escola de Samba desenvolve e transmite o seu enredo através
de seus elementos dramáticos, musicais e plástico-visuais, samba, alas e
destaques, suas fantasias, alegorias e adereços e, excepcionalmente a evolução e
os gestos de alguns componentes. A execução de um enredo por uma Escola de
Samba passa pelas seguintes etapas:
8.1) CONCEPÇÃO DO ENREDO:
É a etapa de execução interna à escola a partir de um tem idealizado, sua
discussão, seu estudo e pesquisa, a elaboração do argumento e do roteiro.
Sugere-se apreciar a CONCEPÇÃO DO ENREDO, segundo os aspectos a seguir
discriminados:
8. 1. 1 TEMA E ORIGINALIDADE
A qualidade de ser criativo, inventivo e imaginoso, permitindo à escola uma
tradução própria através de seus elementos constituintes.
Obs: Não cabe ao Jurado qualquer apreciação sobre os aspectos de ineditismo do
tema nem sobre sua nacionalidade.
8. 1. 2 ARGUMENTO
O desenvolvimento do tema, destacando no texto, os fatos ou situações que
deverão constituir a base para o roteiro. Um argumento bem preparado pode
permitir uma antevisão do desfile e deve facilitar a análise do roteiro.
8. 1. 3 ROTEIRO
O desenvolvimento seqüencial do tem, a partir do argumento, fazendo uso dos
elementos constituintes da Escola – alas, destaques, suas fantasias, alegorias e
adereços. O roteiro traduz o enredo em linguagem própria da Escola de Samba e
constitui referência importante para a avaliação do desempenho da Escola durante
o desfile.
NOTAS DE 02 A 04
8.2) REALIZAÇÃO DO ENREDO:
É a etapa de execução externa. A partir do enredo concebido, seu argumento e
seu roteiro, a sua realização propriamente dita durante o desfile. Sugere-se
apreciar a realização do enredo, segundo os aspectos a seguir discriminados.
8. 2. 1 RESPEITO AO TEMA:
177
É a obediência ao argumento, respeitando-se a relação obrigatória que deve
existir entre o que se apresenta num desfile e o tema que a Escola se propôs
desenvolver.
8. 2. 2 RESPEITO AO ROTEIRO:
É a obediência ao roteiro apresentado, devendo-se respeitar a seqüência
proposta.
8. 2. 3 APROVEITAMENTO
É a capacidade de exploração do tem, sua valorização durante o desfile.
8. 2. 4 CLAREZA
É a qualidade de boa e fácil compreensão do enredo, a possibilidade de
assimilação do tem, inclusive do público. Constitui aspecto dos mais importantes a
ser avaliado.
8. 2. 5 APRESENTAÇÃO
É a realização do enredo no desfile, a qualidade global da apresentação do
enredo pela Escola, comparada à proposta básica, equivale, por extensão, ao
conjunto dos aspectos integrantes da realização do enredo.
Obs: A eventual existência de falhas isoladas na realização de um enredo pode
também eventualmente ser perfeitamente compensada pelo bom desempenho da
Escola em outros itens de análise.
NOTAS DE 03 A 06
9) CONJUNTO:
O conjunto é a visão geral de Desfile. O julgador deverá avaliar a UNIDADE do
desfile sem se preocupar com uma análise detida e minuciosa de outros quesitos,
que já estão recebendo notas pelos julgadores específicos. A escola deverá se
apresentar coesa, mantendo um espaçamento, o mais uniforme possível entre os
seus componentes, alas e alegorias, evitando, a ocorrência de qualquer tipo de
“quebra” do conjunto, bem como a abertura de “buracos”, respeitandoo estilo de
evolução da agremiação.
NOTAS DE 05 A 10
Capítulo VII – Do Julgamento Das Escolas De Samba
Artigo 16. Para que não pairem dúvidas sobre as condições de avaliação, as
normas abaixo discriminadas regem os preceitos mínimos para um julgamento
imparcial.
1. O número total de jurados será de 10 (Dez), sendo que cada um avaliará 2
(Dois) quesitos. O quesito CONJUNTO terá dois jurados que julgarão apenas esse
quesito.
2. As cabinas dos jurados estarão visivelmente dispostas na área de desfile e
julgamento. Cada cabina terá dois julgadores e identificação de quais quesitos,
serão julgados naquele local de onde o jurado não poderá se ausentar e deverá
manter-se isolado, à medida do possível, durante os desfiles.
3. Para cada quesito será atribuída a respectiva soma das notas
§ 1o - O jurado colocará a nota relativa ao quesito que julgar, seguindo a ordem de
desfile que contará de planilha específica.
178
§ 2o - Na planilha constará impresso o nome da Escola de Samba e campos
específicos para nota em algarismos para nota por extenso e para a devida
justificativa.
§ 3o - A pontuação de julgamento segue escala que não poderá ter grau inferior a
5 (Cinco), nem superior a 10 (Dez), para os quesitos BATERIA e CONJUNTO, nos
quesitos FANTASIA, MESTRE SALA E PORTA-BANDEIRA, COMISSÃO DE
FRENTE, ALEGORIAS, ADEREÇOS, SAMBA ENREDO, HARMONIA E
ENREDO, onde está previsto a divisão de notas, as mesmas não poderão ser
inferior nem superior ao estabelecido no quesito. Para valorizar a apresentação e
a critério do jurado, poderá ser concedida nota com valor igual a ½ (meio) ponto.
§ 4o - Para notas iguais e inferiores a 6,0 (seis) deverá ser elaborada justificativa
por parte do jurado pertinente ao aferimento da nota.
4. Na hipótese do jurado esquecer de colocar a nota de alguma escola na planilha
será anulado o quesito sob responsabilidade daquele julgador para todas as
escolas.
§ 1o - O jurado que deixar de transcrever qualquer nota será penalizado.
5. A planilha com as notas ao final do desfile deverá ser envelopada em cada
cabine, pelo próprio jurado, cujo envelope lacrado, será entregue para um dos
membros da Comissão Executiva do Carnaval. Sobre o lacre, para garantir a
inviolabilidade, assinarão por ordem, o julgador responsável pelo quesito e o
membro da Comissão Executiva do Carnaval que acompanhará a coleta.
6. Os envelopes com as planilhas ficarão sob a guarda da Comissão Executiva do
Carnaval, permanecendo até o momento da abertura e apuração que será
procedida em horário e local a ser determinado.
7. Havendo empate entre 2 (duas) ou mais agremiações nas notas apuradas,
independente da colocação a que estejam em disputa a ordem dos quesitos para
desempate será, através de sorteio dos quesitos a ser realizado na hora da
apuração.
Capítulo VII – Da Comissão Representativa das Entidades
Artigo 17. As seguintes normas padronizam a formação de comissão
representativa das escolas de samba para comercialização na Avenida, que
deverá:
1. Indicar e designar expressamente, dentre os representantes das Escolas de
Samba, os membros da Comissão Representativa com a finalidade única e
exclusiva de gerenciar a comercialização de produtos na Avenida.
2. Participar das estratégias de comercialização de produtos na Avenida, através
dos representantes designados remetendo à Fundação até quinze dias anteriores
a realização do evento, relatórios pertinentes à distribuição e comercialização das
barracas na Avenida.
3. Selecionar, habilitar e credenciar ambulantes (devidamente cadastrados na
PMC/SMU/Vigilância Sanitária, Secretaria Municipal de Abastecimento) e demais
despesas pertinentes à identificação dos ambulantes e barraqueiros, através de
crachás, camisetas etc.
4. Providenciar todas as liberações junto aos órgãos estaduais e municipais
necessárias à comercialização de produtos na Avenida.
179
5. Reverter toda a renda obtida através da locação das barracas às Escolas de
Samba, indicando o valor arrecadado na respectiva prestação de contas.
6. No caso em que o regulamento seja omisso, no que tange à comercialização na
Avenida, as questões serão resolvidas numa reunião composta por grupos de
pessoas ligadas a atividades carnavalescas, representantes das escolas de
samba.
Capítulo IX- Da Fiscalização
Artigo 18. Cada entidade Carnavalesca reconhece o direito da Comissão
Executiva do Carnaval em fiscalizar a confecção de fantasias, alegorias, ensaios
(SIC).
Artigo 19. A escola nomeará 2 (dois) fiscais e os Credenciará para atuar no
serviço de fiscalização do desfile e dos termos do presente regulamento.
§ 1o - Cada escola deverá obrigatoriamente disponibilizar um fiscal integrante da
sua agremiação, o qual deverá assinar todas as planilhas e acompanhar
integralmente a execução de todas as atividades pertinentes ao desfile, condição
esta obrigatória para a interposição de recurso.
§ 2o - Correrão por conta da Escola as despesas de elaboração do crachá de
identificação e demais despesas a qual o representante der causa.
§ 3o - A falta do fiscal acima aludido implicará na não representação da entidade,
durante o ato de fiscalização.
Artigo 20. Os casos omissos serão resolvidos pela Diretoria de Ação Cultural e
pela Comissão Executiva do Carnaval (SIC). Este regulamento é retrato do que
consideram como importante o bastante de cada decisão tomada durante a
reunião os representantes das entidades carnavalescas presentes à data e local
que foram convocados.
180
ANEXO VI: EDITAL CARNAVAL (2010) SELEÇÃO DE PROJETOS CARNAVAL
Publicado no D.O.M. Nº 71
De 17/09/2009
EDITAL N.º 113/09
SELEÇÃO DE PROJETOS
CARNAVAL 2010
A Fundação Cultural de Curitiba, em consonância com o disposto na Lei nº
8.666/93 e alterações posteriores, torna público, para conhecimento dos
interessados, o Edital Carnaval 2010, que regulamenta as inscrições para o
procedimento de seleção de projetos voltados ao fomento da manifestação
popular tradicional denominada “Carnaval”, a serem disponibilizados à
comunidade, através da realização de apresentações artísticas (desfiles) na
Avenida Cândido de Abreu, nesta cidade, no dia 13 de fevereiro de 2010.
Curitiba, 16 de setembro de 2009.
PAULINO VIAPIANA
Presidente da Fundação Cultural de Curitiba
181
EDITAL N.º 113/09
SELEÇÃO DE PROJETOS PARA O CARNAVAL 2010
I - OBJETO
A Fundação Cultural de Curitiba - FCC, em conformidade com o disposto na Lei nº
8.666/93 e alterações posteriores, torna público, para o conhecimento dos
interessados, o Edital Carnaval 2010, que regulamenta as inscrições para a
seleção de projetos, com a finalidade de conceder apoio financeiro para o
desenvolvimento de apresentações artísticas (desfiles) exclusivamente de
agremiações carnavalescas (escolas de samba) do Grupo “A” e do Grupo “B”, a
serem realizadas na Avenida Cândido de Abreu, visando a difusão desta espécie
de manifestação popular à comunidade.
Para o presente Edital, será disponibilizado o montante de até R$ 172.000,00
(cento e setenta e dois mil reais), dos quais:
- R$ 100.000,00 (cem mil reais) destinados para até 04 (quatro) agremiações
(escolas de samba) do Grupo “A”, correspondentes a R$ 25.000,00 (vinte e cinco
mil reais) para cada uma;
- R$ 72.000,00 (setenta e dois mil reais) destinados para até 04 (quatro)
agremiações (escolas de samba) do Grupo “B”, correspondentes a R$ 18.000,00
(dezoito mil reais) para cada uma.
Nos valores acima especificados estão incluídos todos os tributos, encargos,
despesas e demais valores necessários à consecução do objeto do presente
edital.
II – DOS PROJETOS
2.1 A realização dos projetos deverá ocorrer no período entre novembro de 2009 e
fevereiro de 2010.
2.2 Os proponentes deverão ter disponibilidade para desenvolver as atividades
pertinentes ao desfile no local e horário fixados pela Fundação, conforme
cronograma a ser estabelecido pela Diretoria de Ação Cultural.
2.3 Os projetos contemplados deverão ser adaptáveis à infra-estrutura definida
pela Fundação, no respectivo instrumento jurídico específico a ser celebrado com
os contemplados, conforme planejamento e indicação da Diretoria de Ação
Cultural e Comissão Executiva do Carnaval 2010.
182
2.4 As propostas contempladas deverão ser objeto de prestação de contas dos
recursos recebidos, conforme instrução normativa exarada pela Coordenadoria
Financeira da FCC, devendo ser observado, ainda, o Manual de Prestação de
Contas disponibilizado em anexo e no site www.fccdigital.com.br - editais.
III - PARTICIPAÇÃO
3.1 Poderão apresentar propostas para o Edital Carnaval 2010, agremiações
carnavalescas (pessoas jurídicas) que comprovem experiência anterior na
execução de projeto semelhante ao proposto, no citado gênero/tendência, cujo
objeto de atuação esteja comprovadamente de acordo com o item I – objeto do
presente Edital, com no mínimo um (01) ano de atuação, mediante
apresentação de material comprobatório (fotos, CDs, matérias da mídia
impressa, televisiva, etc.) da efetiva participação nos desfiles oficiais do
Carnaval de Rua da Cidade de Curitiba.
3.2 Somente será possível a apresentação de um projeto para cada proponente
(Pessoa Jurídica). Será vedada a formalização de parcerias, a qualquer título, que
possam de algum modo violar a regra ora estabelecida.
3.2.1 Respeitados os ditames constantes nos atos de constituição das entidades e
respectivos regulamentos e atas, os participantes dos projetos, que integrem o
quadro social da agremiação, firmarão declaração de que não integram outro
projeto apresentado na presente seleção.
3.2.2 Respeitados os ditames constantes nos atos de constituição das entidades e
respectivos regulamentos e atas, fica vedada a substituição do representante legal
da Pessoa Jurídica proponente durante o período de vigência do presente edital e
do respectivo instrumento jurídico.
3.3 Não serão admitidos como proponentes ou participantes em qualquer projeto,
a qualquer título, servidores da Prefeitura Municipal de Curitiba, da Câmara
Municipal de Curitiba ou da Fundação Cultural de Curitiba.
3.4 Estarão impedidos de participar os proponentes (entidade) suspensos;
inadimplentes com a Administração Pública Municipal (secretarias, autarquias,
fundações e demais); que estejam com processos de prestação de contas
pendentes com a Fundação Cultural de Curitiba, independentemente da
instauração de processo administrativo ou judicial.
3.5 Serão automaticamente inabilitadas as instituições que se encontrem com
qualquer pendência inscrita na esfera federal, estadual, bem como processos
concluídos ou em andamento no que se refere à aplicação de penalidades na
Prefeitura Municipal de Curitiba, Fundação Cultural de Curitiba ou no Programa de
Apoio e Incentivo à Cultura – PAIC.
183
3.6 Os projetos apresentados não poderão prever a aplicação de recurso em
pagamento de despesas de atividades rotineiras, tais como: manutenção e
conservação de espaços, aquisição de equipamentos permanentes, água, luz,
telefone, serviços e materiais de limpeza, taxas bancárias, contador, advogado,
pessoal administrativo, qualquer serviço a título de taxa de administração ou
similar, impostos e taxas. Os projetos que contiverem despesas dessa natureza
serão automaticamente desclassificados.
IV - INSCRIÇÃO
4.1 As inscrições poderão ser realizadas no período de 18 de setembro de 2009
até 17 de outubro de 2009, mediante o preenchimento do Formulário de Inscrição,
disponível no site da FCC www.fccdigital.com.br - editais ou com a Comissão
Executiva do Carnaval 2010, situada na Rua Engenheiros Rebouças, n.º 1732,
Rebouças – Curitiba/PR, das 09:00 às 12:00 horas e das 13:00 às 17:00 horas.
4.2 O Formulário de Inscrição, documentos (mencionados no item 4.4), projetos e
demais integrantes da proposta, deverão ser enviados exclusivamente através de
SEDEX, em envelope contendo: nome completo do proponente, título do projeto,
área, endereço e telefone, para o seguinte endereço:
EDITAL CARNAVAL 2010
Comissão Executiva do Carnaval 2010
Rua Engenheiros Rebouças, nº 1732 - CEP 80230-040 - Curitiba - PR.
4.2.1 O remetente mencionado no envelope deverá ser o proponente do projeto.
4.2.2 As inscrições cuja postagem do SEDEX tenha ocorrido após o dia 17 de
outubro de 2009 serão consideradas inválidas, ficando o respectivo material à
disposição dos proponentes junto à Comissão Executiva do Carnaval 2010, pelo
período de 30 (trinta) dias a contar da divulgação do resultado dos projetos
contemplados.
4.3 O carimbo de postagem do SEDEX servirá como documento de comprovação
da data de inscrição. Caso o carimbo esteja ilegível, será pedido o respectivo
“comprovante de cliente”, que deverá ser entregue pelo proponente em até 02
(dois) dias após a solicitação do mesmo.
4.4 Para a inscrição os interessados deverão postar os documentos abaixo
discriminados:
4.4.1 Formulário de Inscrição, assinado pelo representante legal da Pessoa
Jurídica (modelo disponibilizado no site da FCC – www.fccdigital.com.br ou junto à
Comissão Executiva do Carnaval 2010).
184
4.4.2 Cópia do ato constitutivo da Pessoa Jurídica e de todas as suas alterações
posteriores.
4.4.2.1 Cópia da Ata de assembleia Geral onde haja a indicação do representante
legal eleito, da Pessoa Jurídica.
4.4.3 Cópia do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica – CNPJ, válido e atualizado,
com emissão não superior a 30 (trinta) dias.
4.4.4 Certidão Negativa de Débitos de Tributos e Contribuições Federais da
Pessoa Jurídica – www.receita.fazenda.gov.br.
4.4.5 Certidão
www.pr.gov.br.
Negativa
de
Tributos
Estaduais
da
Pessoa
Jurídica
–
4.4.6 Certidão Negativa de Tributos Municipais da pessoa jurídica e de seu
representante legal, a ser viabilizada na Prefeitura Municipal de Curitiba –
Secretaria Municipal de Finanças - Departamento de Controle Financeiro – fone
3350-8199 e 3350-8457.
(Observar o prazo para solicitação junto à Prefeitura Municipal de Curitiba).
Nota: a Certidão Negativa de Tributos Municipais para pessoa jurídica está
disponibilizada via internet (www.curitiba.pr.gov.br), sendo necessário solicitar a
primeira Certidão com 10 (dez) dias de antecedência e as posteriores serão
emitidas no ato.
4.4.7
Certidão
Negativa
www.previdenciasocial.gov.br.
de
Débito
da
Previdência
Social
-
4.4.8 Certidão de Regularidade do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço –
FGTS - Caixa Econômica Federal – www.caixa.gov.br.
4.4.9 Cópia da Carteira de Identidade (RG) e do Cadastro de Pessoa Física (CPF)
do representante legal da pessoa jurídica.
4.4.10 Cópia de documento contendo o número do PIS/PASEP ou inscrição no
INSS do representante legal da Pessoa Jurídica.
4.4.11 As certidões poderão ser obtidas nos endereços eletrônicos referidos nos
itens anteriores.
Nota: As certidões negativas deverão estar dentro do prazo de validade na data da
postagem do envelope.
4.4.12 Comprovante do domicílio da pessoa jurídica e de seu representante legal.
185
4.4.12.1 Consideram-se como documentos hábeis à comprovação atual de
domicílio: faturas de água, luz, telefone, documento de instituição
bancária/financeira ou expedidos por oficiais das esferas municipal, estadual ou
federal, desde que o endereço não esteja postado com etiqueta e, ainda, contrato
de locação de imóvel devidamente registrado. O comprovante deverá estar com
prazo de emissão não superior a 90 (noventa) dias, à exceção do contrato de
locação.
4.4.12.1.1 Não serão considerados como documentos comprobatórios de
domicílio, aqueles referentes à cobrança de impostos, emitidos apenas uma vez
ao ano e sem carimbo de postagem (Exemplo: carnê de IPTU, dentre outros).
4.4.12.2 Caso o proponente resida com terceiros e não possua os comprovantes
de domicílio acima mencionados, em nome próprio, deverá juntar declaração do
co-residente, indicando a morada conjunta e documentos comprobatórios de
residência, de qualquer espécie, emitidos no mesmo prazo referido no item acima.
4.4.12.2.1 Nesta hipótese, além da documentação constante no item acima,
deverá o proponente juntar documentos emitidos em nome do declarante, que
atendam ao disposto no item 4.4.12.1.
IMPORTANTE: Com o intuito de agilizar o processo do repasse do apoio
financeiro aos proponentes contemplados, os mesmos poderão:
a) Efetuar e atualizar o Cadastro de Fornecedores na SMAD, nos termos do item
7.6 e apresentando o respectivo cadastramento no projeto;
b) Apresentar no projeto cópia de comprovante de conta corrente específica para
a realização das despesas inerentes.
4.4.13 Termo de Responsabilidade quanto ao cumprimento das obrigações
decorrentes do presente Edital, assinado pelo representante legal da Pessoa
Jurídica e Tesoureiro da Agremiação (escola de samba), comprometendo-se em
realizar as atividades, produções e contrapartidas propostas.
4.4.14 Declaração de não estar ou ter usufruído de benefícios fiscais municipais
(Fundo Municipal da Cultura ou Mecenato Subsidiado) para o desenvolvimento do
projeto proposto.
4.4.15 Currículo completo da Pessoa Jurídica proponente.
4.4.16 Projeto atendendo o mencionado no item I – Objeto, com descrição
detalhada da proposta artística (em consonância, inclusive com o regulamento do
Carnaval 2009) e planejamento executivo, incluindo justificativa, objetivos e metas
a serem alcançadas, acompanhado de fita VHS, CD ou DVD, fotografias, croquis e
outros materiais que permitam a avaliação dos figurinos e adereços a serem
186
utilizados, além dos demais itens pertinentes à habilitação técnica abaixo
descriminados:
- Número de participantes;
- Número de carros alegóricos com dimensões aproximadas e endereço de
localização (para Escolas de Samba);
Obs.: As dimensões dos carros informadas poderão sofrer alterações, havendo
avaliação técnica neste sentido emitida pelo IPPUC, sendo que nesta hipótese as
escolas de samba serão previamente informadas;
- Endereço, datas e horários das atividades dos ensaios e das oficinas;
- Letra e Tema do Samba Enredo;
- Detalhamento do conteúdo do projeto que evidencie a sua adequação às
características do evento, nos parâmetros usualmente adotados pela Fundação
(de acordo com os desfiles dos últimos três anos) e resultados almejados
especialmente junto à coletividade.
4.4.17 Cronograma de atividades, especificando integralmente o Plano de
Aplicação dos Recursos Financeiros, o qual deverá estar em estrita consonância
com a realização do desfile e cumprimento do objeto do presente edital, sendo
vedada a aplicação dos recursos nas despesas previstas no item 3.6.
Nota: O Plano de Aplicação dos Recursos Financeiros, será preliminarmente
apreciado e aprovado pela Comissão Executiva do Carnaval 2010, podendo ser
indicado remanejamento da respectiva aplicação, cabendo ao proponente a
responsabilidade pelas adequações necessárias, visando o atendimento do objeto
do presente edital, qual seja, a realização do desfile.
4.5 A falta ou irregularidade na apresentação de documentos, preenchimento de
formulários e demais disposições com todos os seus subitens, determinará a
desclassificação do projeto, sem análise do seu mérito.
4.6 A Fundação Cultural de Curitiba não se responsabilizará por perdas e danos
de material enviado anteriormente à sua efetiva recepção, ou mesmo após o seu
recebimento, quando encontrar-se de qualquer forma impróprio para apreciação.
4.6.1 Caso o material tenha sido recebido danificado ou com partes visivelmente
ausentes, será expedido relatório de recebimento onde constem as
irregularidades, a ser assinado pelo funcionário responsável pela recepção.
4.6.2 Na situação acima referida, caso os danos tornem o material impróprio
para apreciação, não será concedido prazo para que o proponente repare ou
substitua qualquer material, seguindo o projeto para julgamento nas
condições em que se encontrar.
187
4.7 Todos os formulários, documentos e anexos que compõem o projeto deverão
conter no canto inferior direito de cada folha, a rubrica do proponente e a
numeração seqüencial pelo sistema 99/99, sendo que os dígitos à esquerda da
barra identificarão o número da folha e os demais, a quantidade total de folhas
existentes. Exemplo: para um projeto de vinte folhas, a indicação será 01/20,
02/20, 03/20.... 20/20.
IMPORTANTE:
1) AS AGREMIAÇÕES PROPONENTES DEVERÃO ATENDER TODOS OS
ITENS PERTINENTES À APRESENTAÇÃO DAS PROPOSTAS,
PROVIDENCIANDO O ENVIO DE TODA A DOCUMENTAÇÃO
ANTERIORMENTE CITADA, DEVIDAMENTE NUMERADA E EM PASTA
ENCADERNADA, NOS TERMOS DO ITEM 4.7, DEVENDO SER ENVIADA
UM ÚNICO VOLUME, VIA SEDEX.
a) É EXPRESSAMENTE VEDADA A ENTREGA DE PROJETOS, PROPOSTAS
E DOCUMENTOS PESSOALMENTE, SENDO SOMENTE RECEBIDOS OS
DOCUMENTOS - VIA SEDEX.
b)
NÃO
SERÃO
ACEITOS
COMPLEMENTOS
PERTINENTES
À
DOCUMENTAÇÃO ENVIADAS, APÓS O RECEBIMENTO DO ENVELOPE NO
SETOR DE PROTOCOLO DA FCC.
2) AS AGREMIAÇÕES PODERÃO OBTER INFORMAÇÕES COM A COMISSÃO
EXECUTIVA DO CARNAVAL 2010,
SOBRE
OS
REQUISITOS
PARA
APRESENTAÇÃO DOS PROJETOS DURANTE O PERÍODO DE INSCRIÇÃO.
3) SERÃO AUTOMATICAMENTE INABILITADAS AS PROPONENTES QUE NÃO
REGULARIZARAM A PRESTAÇÃO DE CONTAS PERTINENTE AOS
RECURSOS FINANCEIROS REPASSADOS PELA FCC PARA EXECUÇÃO DO
CARNAVAL 2009, BEM COMO AQUELAS QUE DESCUMPRIRAM O
RESPECTIVO INSTRUMENTO CONTRATUAL E REGULAMENTO.
V - SELEÇÃO E APOIO FINANCEIRO
5.1 O processo de seleção dos projetos será composto por 02 (duas) fases,
sendo:
1ª) Análise documental.
2ª) Avaliação de mérito referente ao projeto apresentado.
188
A análise dos projetos será feita pela Comissão Executiva do Carnaval 2010, cujo
resultado final da seleção será publicado no Diário Oficial – Atos do Município.
Serão classificados projetos que obtiverem a pontuação mínima de 80 (oitenta)
pontos, obedecendo-se para a contemplação o limite numérico de projetos
mencionado no item I do presente Edital, de acordo com os critérios abaixo
especificados.
5.1.1 Currículo do proponente evidenciando experiência na atividade a ser
desenvolvida, com as características propostas por este Edital até 40 (quarenta)
pontos.
5.1.2 Apresentação e justificativa do projeto, contendo fotografias, textos e
materiais de apresentação do figurino, fantasias, adereços, número de alas,
número de integrantes na ala das baianas, número de integrantes na bateria e
demais atividades integrantes do desfile até 60 (sessenta) pontos.
5.2 Serão selecionados e contemplados para receber apoio financeiro os projetos
que atingirem as maiores pontuações, em ordem decrescente, observado o valor
máximo previsto por projeto, obedecendo-se os limites orçamentário e numérico,
previstos neste Edital, destinando-se para cada projeto, segundo a área e
modalidade os valores mencionados no item I – Objeto.
5.3. Em caso de empate na nota final, serão selecionados os projetos com maior
pontuação no critério especificado no item 5.1.2.
5.4 Os projetos que alcançarem a pontuação mínima, mas não forem
contemplados, ficarão sob a guarda da Fundação Cultural de Curitiba, até o prazo
final de vigência do presente edital. Findo este prazo, os projetos ficarão à
disposição dos seus respectivos proponentes, aplicando-se, no que couber, o
disposto no item a seguir.
5.5 O material enviado para a inscrição no presente Edital, referente a projeto que
não alcançar a pontuação mínima apontada no item 5.1, ficará à disposição dos
interessados junto à Comissão Executiva do Carnaval 2010, até 30 (trinta) dias
após a divulgação do resultado da seleção. Findo este prazo, o material será
inutilizado.
5.6 O proponente que não tenha obtido a pontuação mínima necessária terá o
prazo de até 02 (dois) dias úteis, após a divulgação do resultado, para interpor
pedido de revisão à Comissão Executiva do Carnaval 2010, sendo-lhe facultada a
consulta local dos registros de julgamento e do material anexado ao projeto.
5.6.1 Não caberá pedido de revisão em face de desclassificação do projeto em
decorrência de irregularidade e não apresentação da documentação exigida no
presente Edital.
189
5.7 A divulgação dos projetos que receberão apoio financeiro será feita após a
deliberação pela Comissão Executiva do Carnaval 2010 e ratificado pela
Presidência da FCC, aplicados os critérios estabelecidos no item 5.1. A relação
dos classificados e dos contemplados será publicada no Diário Oficial – Atos do
Município de Curitiba e disponibilizada no site www.fccdigital.com.br.
7.8 A Fundação Cultural de Curitiba destinará o recurso financeiro correspondente
ao apoio financeiro de cada projeto contemplado, entre os meses de
novembro de 2009 a dezembro de 2009, segundo discriminado em
instrumento a ser oportunamente celebrado entre a Fundação e o
contemplado.
5.9 Os recursos financeiros destinados às atividades previstas neste Edital,
correrão por conta das dotações orçamentárias da Fundação Cultural de Curitiba:
28001.13122.0080.2003-339039.0000.01.001
28001.13122.0080.2003-339039.0000.02.082
28001.13391.0048.2058-339039.0000.01.001
28001.13391.0048.2058-339039.0000.02.082
28001.13392.0048.2058-339039.0000.01.001
28001.13392.0048.2058.339039.0000.02.082
5.10 Os projetos serão realizados nos prazos a serem especificados no
instrumento referido no item 5.8, dentro do período compreendido entre novembro
de 2009 a 14 de fevereiro de 2010.
VI - OBRIGAÇÕES DA FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA
6.1 Providenciar a formalização de instrumento com os proponentes
contemplados, estabelecendo responsabilidades recíprocas, bem como a forma
de repasse financeiro.
6.1.1 O instrumento será firmado individualmente com cada um dos proponentes
contemplados, não se admitindo a intermediação de entidades representativas ou
de qualquer outra espécie de terceiro que não haja se qualificado como
representante legal da Pessoa Jurídica, no formulário de apresentação do projeto.
6.2 Acompanhar e fiscalizar a execução do projeto, através da Diretoria de
Ação Cultural e da Comissão Executiva do Carnaval 2010, às quais se
reservam o direito de solicitar relatórios e reuniões, sempre que
considerarem necessário.
6.3 Fornecer a seguinte infra-estrutura para a concretização das produções, tais
como: instalação de equipamentos de sonorização, iluminação, palco,
arquibancada e demais nos parâmetros adotados nos últimos três desfiles;
190
liberação da Avenida Cândido de Abreu, divulgação da programação, nos termos
usualmente adotados pela FCC.
6.4 A Fundação Cultural de Curitiba não se responsabilizará por acidentes, danos
e/ou furtos de qualquer tipo de material de propriedade dos proponentes e/ou
participantes dos projetos no decorrer de sua execução.
VII - OBRIGAÇÕES DOS CONTEMPLADOS
7.1 Autorizar a utilização de imagem e som das etapas do projeto para fins de
divulgação em emissoras de televisão, rádio ou mídia eletrônica, quando solicitada
através da Fundação Cultural de Curitiba.
7.2 Participar de eventos organizados pela Fundação Cultural de Curitiba
para expor os resultados do projeto.
7.3 Caberá aos selecionados, quando necessário, providenciar as devidas
liberações necessárias dos órgãos competentes, tais como: SATED - Sindicato
dos Artistas e Técnicos em Espetáculos e Diversões, SIAPAR – Sindicato da
Indústria do Audiovisual do Paraná, AVEC – Associação de Vídeo e Cinema do
Paraná, SBAT – Sociedade Brasileira de Autores Teatrais, ECAD – Escritório
Central de Arrecadação e Distribuição, autorização(ões) do(s) autor(es), e
outros, conforme especificidade do projeto, apresentando a documentação
comprobatória de sua regularidade por ocasião da assinatura do instrumento
referido no item 6.1.
7.4 Os projetos deverão conter em seus materiais de divulgação as logomarcas da
Prefeitura Municipal de Curitiba e da Fundação Cultural de Curitiba. Os
contemplados também deverão zelar pelo bom nome das instituições envolvidas.
7.4.1 Caso o proponente contemplado pretenda realizar divulgação adicional do
projeto, com recursos próprios, além daquela prevista no item 6.3, deverá
submeter o modelo dos materiais de divulgação à aprovação prévia da Comissão
Executiva do Carnaval 2010, para aferição da adequação do uso das logomarcas.
7.4.2 Verificada a inadequação, deverá a Comissão definir os parâmetros a serem
adotados pelo contemplado, considerando as peculiaridades do material
apresentado.
7.4.3 O material que se encontre em desacordo com os padrões acima referidos
não poderá ser distribuído, sujeitando o proponente contemplado às sanções
administrativas em caso de descumprimento.
7.5 Os proponentes deverão assumir todas as despesas de produção do projeto,
assim como a responsabilidade pela locação e/ou cessão de equipamentos e
outros materiais a serem utilizados durante a realização dos espetáculos.
191
7.6 O proponente contemplado deverá, em até 03 (três) dias úteis, após a
divulgação do resultado, proceder ao seu cadastramento junto à Prefeitura
Municipal de Curitiba – Secretaria Municipal da Administração – SMAD (Rua
Quari, 160 – 1º andar).
7.7 No mesmo prazo referido no item anterior, os contemplados pelo presente
Edital deverão apresentar à Comissão Executiva do Carnaval 2010, comprovante
de abertura de conta corrente específica, onde conste o nome do proponente, o
banco, a agência e o número da conta corrente, para o repasse e a movimentação
dos recursos financeiros do projeto, referidos no item 5.8, sob pena de
desclassificação do projeto.
7.8 Os contemplados deverão atentar para o prazo de validade das certidões,
atualizando-as durante o período de realização do projeto, uma vez que o repasse
financeiro depende da apresentação de certidões válidas, independentemente de
comunicação pela FCC.
7.9 As agremiações carnavalescas contempladas deverão apresentar relatório das
atividades desenvolvidas e das despesas assumidas - prestação de contas parcial
dos recursos recebidos, até a data limite de 15 de janeiro de 2010, sob pena da
aplicação das penalidades previstas no instrumento contratual firmado entre a
FCC e o contemplado.
Os contemplados estarão obrigados a apresentar as contas do projeto nos termos
exarados pela Coordenadoria Financeira da Fundação, no prazo de até 30 (trinta)
dias após a sua conclusão. A prestação de contas deve ser entregue de maneira
coerente com o projeto, orçamentos e plano de aplicação de recursos
apresentados - Consultar Manual de Prestação de Contas disponibilizado, como
parte integrante do instrumento jurídico, a ser firmado com os proponentes
contemplados.
VIII - DISPOSIÇÕES GERAIS
8.1 Qualquer modificação no projeto, sem aprovação da Comissão Executiva do
Carnaval 2010, será considerada como descumprimento das obrigações
essenciais do contemplado, sujeitando-o às penalidades administrativas, civis e
criminais cabíveis.
8.2 Os projetos aprovados, neste Edital, ficam impedidos de receber recursos
originários de outras instituições públicas, sob a forma de apoio ou incentivo,
sejam elas federais, estaduais ou municipais.
8.3 Em caso de desistência ou desclassificação dos projetos contemplados, antes
da assinatura do instrumento referido no item 6.1, a Comissão Executiva do
Carnaval 2010 poderá convocar os demais classificados, seguindo, para tanto, a
ordem regular de classificação.
192
8.4 A Fundação Cultural de Curitiba e/ou a Comissão Executiva do Carnaval 2010,
a qualquer momento, poderá solicitar informações complementares aos
participantes e fixar prazo para a sua apresentação.
8.5 O trabalho que utilizar obra intelectual (músicas, letras e demais) ou imagens
de terceiros, protegidas pela Lei de Direitos Autorais, só poderá participar
mediante a apresentação das respectivas autorizações autenticadas.
8.6 Caso os contemplados não cumpram o cronograma de atividades e plano de
aplicação dos recursos proposto no projeto, ficarão sujeitos à aplicação das
penalidades previstas na Lei nº 8.666/93 e alterações posteriores e respectivo
instrumento jurídico firmado entre as partes, após a instrução do respectivo
processo administrativo, assegurando-se a ampla defesa do proponente.
8.7 Não poderá haver substituição do proponente, nem alterar-se a denominação
do projeto.
8.8 Os projetos, documentos e declarações encaminhados são de exclusiva
responsabilidade do participante, não acarretando qualquer responsabilidade civil
ou criminal para a Fundação Cultural de Curitiba, especialmente quanto aos
direitos autorais.
8.9 A Fundação Cultural de Curitiba, havendo razões superiores que justifiquem,
poderá revogar este Edital a qualquer momento, sem que tal fato permita alegação
de prejuízo aos interessados, ou a terceiros, sob qualquer fundamento de direito.
8.10 Esclarecimentos sobre este Edital serão prestados pela Comissão Executiva
do Carnaval 2010.
8.11 O ato de inscrição dos projetos implica na aceitação do estipulado neste
Edital.
8.12 Os casos omissos serão resolvidos pela Diretoria de Ação Cultural e pela
Comissão Executiva do Carnaval 2010, segundo as respectivas competências.
Curitiba, 16 de setembro de 2009.
PAULINO VIAPIANA
Presidente da Fundação Cultural de Curitiba
193
ANEXO VII: ESCOLAS CONTEMPLADAS - APOIO FINANCEIRO (2010)
DIÁRIO OFICIAL128
Nº 84 - ANO XLIV CURITIBA, TERÇA-FEIRA, 03 DE NOVEMBRO DE 2009.
A FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA, em consonância com a Lei nº 8.666/93
e alterações posteriores e em consonância com o Edital nº 113/ 09, torna público
através do presente Edital, o resultado do processo de habilitação para os projetos
apresentados para participação do evento "Carnaval de Rua 2010", visando
receber apoio financeiro, bem como aqueles que terão a oportunidade de
participar do desfile, a saber:
I) ESCOLAS CONTEMPLADAS PARA PARTICIPAÇÃO NO DESFILE COM
APOIO FINANCEIRO - GRUPO A
SOCIEDADE CULTURAL E CARNAVALESCA EMBAIXADORES DA ALEGRIA
R$ 25.000,00 – CONTEMPLADA
SOCIEDADE RECREATIVA BENEFICENTE E CULTURAL LEÕES DA
MOCIDADE. R$ 25.000,00 - CONTEMPLADA
ASSOCIAÇÃO CULTURAL ESCOLA DE SAMBA UNIDOS DO BAIRRO ALTO
R$ 25.000,00 - CONTEMPLADA
II) ESCOLAS CONTEMPLADAS PARA PARTICIPAÇÃO NO DESFILE COM
APOIO FINANCEIRO – GRUPO B
AGREMIAÇÃO VALOR GRÊMIO RECREATIVO ESCOLA DE SAMBA
MOCIDADE AZUL. R$ 18.000,00 - CONTEMPLADA
P. S.: Em atendimento aos itens 4.4.12.2.1 e 4.4.3 do Edital nº 113/09, as
agremiações contempladas deverão providenciar o cadastro na Secretaria
da Administração – SMAD, conta corrente específica para o projeto,
certidões atualizadas (se necessário) no prazo máximo improrrogável de 05
(cinco) dias úteis, a contar da publicação do presente edital, bem como as
liberações do ECAD para a celebração do instrumento jurídico específico.
III. ESCOLAS DE SAMBA INABILITADAS:
128
O resultado do “Edital-Carnaval 2010” não foi encontrado no sítio da FCC. Mas em Diário Oficial
da Câmara Municipal de Curitiba pudemos encontrar o resultado da distribuição da verba para o
carnaval da cidade. Disponível em
<http://www.curitiba.pr.gov.br/multimidia/diariooficial/00065884.pdf > Acessado em: 10 de janeiro
de 2010.
194
SOCIEDADE CULTURAL E CARNAVALESCA FALCÕES INDEPENDENTES
PRESTAÇÃO DE CONTAS EXERCÍCIO 2008 NÃO APROVADA
ASSOCIAÇÃO BENEFICENTE E CULTURAL
ESCOLA DE SAMBA UNIDOS DA VILA IGUAÇU - ABCESUVI
DESCUMPRIMENTO ITENS DO EDITAL REFERENTE À DOCUMENTAÇÃO
GRÊMIO RECREATIVO ESCOLA DE SAMBA OS UNIDOS DE PINHAS
DESCUMPRIMENTO DO REGULAMENTO CARNAVAL 2009/2010 – NÚMERO
MÍNIMO DE INTEGRANTES
GRÊMIO RECREATIVO CULTURAL ESCOLA DE SAMBA ACADÊMICOS DA
REALEZA.
DATA DE POSTAGEM POSTERIOR AO PREVISTO NO EDITAL –
INTEMPESTIVIDADE NA ENTREGA DOS DOCUMENTOS
III.a) Com vistas a assegurar a ampla defesa e contraditório, as entidades poderão
solicitar revisão à Comissão Executiva do Carnaval de 2010, com fulcro no item
5.6 do Edital nº 113/09.
III.b) As entidades acima mencionadas (inabilitadas) poderão participar do desfile
do Carnaval 2010, desde que, sem repasse de qualquer tipo de recurso financeiro
por parte da Prefeitura Municipal de Curitiba e/ou Fundação Cultural de Curitiba e
de acordo com a grade de desfile a ser definida pela Fundação.
Curitiba, 03 de novembro de 2009.
PAULINO VIAPIANA
Presidente da Fundação Cultural de Curitiba
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