O DESEMBAR UE B O L E T I M I N F O R M AT I V O RUA MIGUEL PAES, Nº 25-1º E 2830-356 BARREIRO TEL: 212 060 079 FAX: 210 884 156 E-mail: [email protected] SITE - www.associacaofuzileiros.pt O Homem vive e morre UM FUZILEIRO NUNCA! Nº 6 OUTUBRO 2008 2 Boinas SUMÁRIO EDITORIAL * Equilíbrio e Bom Senso ................................................................... 1 NOTA DO PRESIDENTE ......................................................................... * Satisfação e Orgulho 2 ENTREVISTA ........................................................................................... * Comandante Heitor Prudêncio dos Santos Patrício 3a7 DESTAQUE .............................................................................................. * Dia da Marinha * 7º Encontro Nacional de Fuzileiros * Rendição do cargo de Comandante do Corpo de Fuzileiros * As relações de cooperação exemplar entre a Polícia Judiciária e a Marinha Portuguesa na luta contra o narcotráfico 8 a 17 FICHA TÉCNICA O DESEMBAR UE B O L E T I M I N F O R M AT I V O Director e Responsável Editorial: Dr. Ilídio Neves EVENTOS ................................................................................................ 18 a 26 * Assembleia Geral * Comemorações do Dia 10 de Junho * Almoço na Associação * Convívio dos Antigos Alunos do Curso D. João I, da Escola Naval * Convívio do DFE, N.º 13 * Juramento de Bandeira * Cmdt. Pascoal Rodrigues * Juromenha * Associação de Sargentos do Feijó * Encontro do Destacamento de Fuzileiros Especiais Nº 6 “Os Tubarões” * Fuzos de Tomar * Alcache * Convívio da Comp. Nº 7 de Fuzileiros * Comp. Nº 10 Guiné * Comp. Nº 6 Moçambique * Dest. Nº 6/Comp. Nº 10 * Dest. Nº 5 Moçambique NÚCLEO DO PORTO .............................................................................. * Sardinhada e S. João 2008 * 7º Encontro Nacional * Tomada de Posse * Aniversário * Informação * Convívios 27 A VOZ DOS ASSOCIADOS ..................................................................... * Um Episódio em África * Prosa Abstracta 29 a 31 FUZO – POESIA ...................................................................................... * Apologia da Infância 32 SALPICOS DE VIDA ................................................................................ * Decorria o Ano de 1966... 33 DESPORTO ............................................................................................. * Tiro Desportivo, Natação e Rappel 34 CULTURA ................................................................................................. * Alm. Vieira Matias * Homem Ferro 35 PERSONAGEM ........................................................................................ * J.P. Caneira 36 a 39 BREVES ................................................................................................... * Ofertas/Donativos * In Perpetua Memoriam 40 Direcção gráfica: Gráfica 2OOO Colaboradores: Mário Manso José M. Parreira Vitor Ribeiro Fotografia: A.J. Fernandes Manuel Ribeiro Criação, Impressão e Acabamento: Gráfica 2OOO Rua Sacadura Cabral, 91A 1495-703 CRUZ QUEBRADA Telf.: 214 159 852 Fax: 214 150 450 E-mail: [email protected] Propriedade e Edição: Associação de Fuzileiros Rua Miguel Paes, n.º 25 - 1.º Esq. 2830-356 Barreiro TEL: 212 060 079 FAX: 210 884 156 E-mail: [email protected] SITE - www.associacaofuzileiros.pt Núcleo do Porto: Rua Coronel Helder Ribeiro (Anexo ao Farol da Boa Nova) 4450-686 Leça da Palmeira SITE - www.nucleofuzileirosporto.org EDITORIAL 1 EQUILÍBRIO E BOM SENSO Sempre tive por hábito, ao longo da minha extensa e complexa vida profissional, dirimir ou procurar solucionar os conflitos entre pessoas e grupos, de forma serena, sensata e, tanto quanto possível, equilibrada. Não fazia, justamente, mais do que o meu dever, ou não fosse a essência das minhas funções a resolução de conflitos sociais. Estas relações controvertidas eram, quase sempre, bem difíceis de controlar, na medida em que, grande parte delas, emergiam e se desenvolviam entre vítimas e agressores. Tratava-se, no fundo, de contribuir para a realização da Justiça, através de uma incessante procura da verdade. Da verdade material, ou seja, importava tanto provar a responsabilidade penal de um criminoso como demonstrar a sua inocência. Para que tal fosse possível, fui naturalmente forçado a impor a mim mesmo padrões de grande rigor, isenção e exigência, sob pena de pôr em causa os sagrados valores deontológicos e cometer as mais repugnantes injustiças. Sempre adoptei esta conduta, quer fosse em relação às pessoas do público envolvidas, quase sempre transtornadas por um drama que as afligia, quer em relação às centenas de funcionários que dirigi, muitos deles detentores de autoridade e elevados índices culturais, sobre os quais detinha competências disciplinares. São estes princípios orientadores que ainda hoje me dominam e dos quais jamais espero abdicar. Reconheço, todavia, que a ideia que os homens fazem da Verdade se modifica e dilata com o decorrer dos tempos, tal como tenho consciência que nem todos se acham em vias de atingir os píncaros intelectuais, razões pelas quais a tolerância e a benevolência são coisas que se impõem. Com efeito, na impossibilidade de se elevarem até ao absoluto, certos homens acreditam (e sempre acreditaram) ser necessário adaptar à sua forma e medida tudo o que querem ou queriam conceber. Também parece certo que a ficção e a fantasia engendraram o erro e, este, preso a determinados dogmatismos, ergue-se, quase sempre, como um obstáculo no meio do caminho. Vem tudo isto a propósito de alguns rumores que me soaram sobre o significado e conteúdo de dois artigos publicados na revista anterior, da autoria dos colaboradores e associados, Mário Manso e José Manuel Parreira, intitulados, respectivamente, por “Os Anticorpos e “Memórias com Tristes Histórias”, nos capítulos “Voz dos Associados” e “Fuzo-Poesia”. É inquestionável que, sendo eu o Director e Responsável Editorial da publicação, sou necessariamente co-responsável para todos os efeitos, legais e outros, pelos escritos publicados. Acontece que, tanto num como noutro, exerci, com dificuldade e a contragosto dos autores, o poder-dever de corrigir algumas frases, não por entender que encerravam conteúdo difamatório, desrespeitoso ou achincalhante, mas tão somente para tentar evitar ferir quaisquer susceptibilidades, num meio onde reconheço existir, por força das circunstâncias, uma especial sensibilidade na percepção e avaliação das palavras e dos comportamentos. Por outro lado, também não posso nem devo esquecer o quanto têm de valioso os contributos dos dois autores dos artigos, tanto para a dinâmica funcional e engrandecimento da Associação de Fuzileiros como na intensa e dedicada colaboração na feitura do Desembarque. Sem o seu empenho e esforço, em especial do Mário Manso, de certeza que ele não existiria. Esta indiscutível entrega do Mário Manso à causa dos Fuzileiros, estejam eles no activo, na reserva ou na reforma, no país ou no estrangeiro, civis ou militares, é claramente visível e constatável no dia-a-dia, quer seja no apoio material, físico ou psicológico, através do constante e sistemático franqueamento da sua residência, de centenas de chamadas telefónicas que recebe e que difunde, umas incentivando e apoiando e outras criticando ou maldizendo as acções e atitudes dos responsáveis da Direcção, especialmente de alguns que há pouco terminaram o seu mandato. Este artigo, que intitula de “Anticorpos” é simplesmente um reflexo, em tom suave, disso mesmo. O José Manuel Parreira, é um homem extraordinário, simultaneamente cativante e martirizado. Dotado de grande fluência e de um refinado sentido de humor mas, ao mesmo tempo, altamente traumatizado, qualidades antagónicas que o acompanham e se consolidaram durante a guerra, que quase o matou e incapacitou para a vida, que hoje se reflectem numa tremenda injustiça relativa, nas malfadadas formas de compensação. O seu poema traduz um “estado de alma”, uma revolta e uma libertação, que se reporta a uma época negra da nossa história, a um passado remoto, hoje condenável e detestado pela quase generalidade dos portugueses. Quantos poetas e prosadores têm feito alarde de tais circunstâncias? Quem não criticou os indignos privilégios e distinções de uns quantos à custa do sacrifício e do sangue de muitos desafortunados? Será que algum Marinheiro ou Fuzileiro de agora ou do passado, bem intencionado, de alta patente ou não, se revê ou se sente atingido pelo conteúdo e alcance daqueles versos? Muito sinceramente, julgo que não ! … A dádiva, a coragem, a disciplina e a glória dos Fuzileiros e da Marinha na sua plenitude, não cabem nas entranhas da imaginação de um qualquer invejoso e maldizente ! … . Chocante é, isso sim, e constitui para mim uma mágoa profunda, constatar que pessoas que sempre tive (e continuo a ter, certamente) na mais elevada estima, consideração e amizade, fazerem referências tão absurdas e sibilinas ao interpretarem os emotivos e inofensivos textos, retirando deles, de forma falaciosa, intimidativa e inoportuna, um sentido maldoso, ressarciante e pretensioso, que ele seguramente não tem, porventura servindo valores e inconfessáveis intenções que visam, tão só, o apoucamento bacoco. De resto, alguma dessa argumentação, só poderá entender-se como violadora de princípios fundamentais de Direito, que a lei, ordinária e constitucional, expressa e rigorosamente proíbe, quando se referem a matéria jurídico-penal, onde deverá incluir-se o RDM, como sejam a analogia e a interpretação extensiva. Para terminar, devo esclarecer ainda que, logo à nascença, na primeira edição do Desembarque, tivemos o cuidado de escrever no Editorial que se tratava de um “humilde mas audacioso projecto”, sendo que “a humildade a que se alude significa, acima de tudo, uma atitude despretensiosa, traduzida numa abertura plena à colaboração e livre participação de todos, independentemente do nível cultural ou académico”. De resto, o próprio nome “Desembarque”, que tanto significado tem na actividade dos Fuzos, foi na oportunidade justificado como sendo o local de onde e para onde desembarcariam as historias, as ideias e as sugestões de cada um. Por isso, foi criado o capítulo “A Voz dos Associados”, aos quais se permite que façam do órgão informativo “um repositório de memórias, de iniciativas e de ideias que pretendam dar a conhecer ou compartilhar”, cujos limites apenas serão impostos pela obediência às regras ou valores da correcção e do respeito, bem como das leis e regulamentos que impõem a disciplina funcional e os sãos princípios da convivência social”. É este, pois, o propósito que nos anima, embora se reconheça a necessidade de alguma censura mitigada, pelos motivos já descritos, mas feita com sensatez e não redutora dos princípios constitucionais, mormente dos Direitos, Liberdades e Garantias. Ilídio Neves 2 NOTA DO PRESIDENTE SATISFAÇÃO E ORGULHO Dr. Ilídio Neves Presidente “O desabrochar da ideal beleza do pensamento”, é uma frase bonita que retirei da página de um livro que li durante as férias, que há pouco terminaram. Tem encanto e tem conteúdo, por isso se ajusta a uma multiplicidade de situações que, com alguma frequência, nos invadem as ideias. É neste sentido e nesta medida que, na qualidade de Presidente da Direcção da Associação de Fuzileiros, aqui pretendo transmitir uma agradável sensação que colhi durante este período. Não visitei grandes cidades nem monumentos exuberantes, que me conduzissem à reflexão, abriguei-me no Templo da Natureza, onde se situa a minha humilde casa de província, em pleno centro do país, sob zimbórios de verdura, onde os raios de sol penetravam como flechas de ouro, para irem derramar-se sobre a relva em mil tons de sombra e luz. Os murmúrios do vento e o frémito das folhas, produziam em tudo acentos misteriosos, que me impressionavam o espírito e me levavam à meditação. Obviamente que, embrenhado neste imaginário, tinha espaço privilegiado a nossa querida Associação e tudo o que com ela se poderia eventualmente relacionar. Mas, meia dúzia de acontecimentos se impuseram como motivo essencial do meu orgulho e da minha satisfação. Em primeiro lugar, foi a constatação, com factos e indícios, da sua implementação e afirmação, a níveis francamente reconfortantes. Em segundo, pela dimensão e grandeza do prestígio e admiração de que gozam os Fuzileiros, em grande medida por via desta nossa novel Instituição. Em terceiro, por ter visto, com surpresa e emoção, alguns jovens e adolescentes exibirem no seu próprio corpo, com indisfarçável vaidade, despertando a atenção e a admiração de muitos outros, em festas e arraiais populares, os pólos, brancos e azuis, com o distintivo da Associação de Fuzileiros, que há ainda pouco tempo mandamos confeccionar e temos vindo a comercializar em diversos eventos em que temos estado representados. Em quarto, pelo frequente e crescente assédio dos “media” sobre a sua existência e funcionamento, solicitando entrevistas e publicando artigos que nos distinguem e nos encorajam, fazendo com que uma grande quantidade de jovens nos procurem e nos tenham manifestado o desejo de ingressar nos Fuzileiros, especialmente a partir do momento em que se tornou pública a abertura do concurso que, pela primeira vez, permitia o ingresso de jovens do sexo feminino. “Stand” da Associação, em Setúbal Devo também realçar o impacto e o interesse que despertam as pequenas exposições que a Associação tem levado a cabo em alguns eventos de significativa relevância social e local, como foi, por exemplo, o magnífico “Stand”, preparado por um grupo de jovens Fuzileiros, nossos associados, residentes em Setúbal, com o beneplácito da Direcção da Associação, numa feira grandiosa, em pleno centro da cidade, cujo sucesso, em termos de afirmação e divulgação, foi enorme e altamente prestigiante. E, por fim, pelo crescente empenhamento e aumento substancial do número de sócios, nestes últimos meses, bem como pela grande quantidade de associados que se dignaram efectuar o pagamento das quotas em atraso, respondendo ao apelo que lançamos, na sequência da apresentação de cumprimentos. São estas constatações e estes procedimentos que nos dão alento e motivação para fazermos cada vez mais e melhor, em prol desta nossa grande família de afectos e emoções. Na esteira de um grande filósofo da antiguidade “nenhum ser é joguete da fatalidade, nem favorito de uma graça caprichosa, porque a existência é um campo de batalha onde o braço conquista seus postos”. De resto, o alvo não é a pesquisa de satisfações efémeras, mas sim a elevação pelo sacrifício e pela sensação de prazer de sentir o dever cumprido. Bem Hajam … e um abraço amigo! Ilídio Neves Luís ENTREVISTA COMANDANTE HEITOR PRUDÊNCIO DOS SANTOS PATRÍCIO Existem momentos na nossa vida que, por uma razão ou por outra, nos sacodem a sensibilidade de uma maneira muito especial. Este é precisamente um deles. Com efeito, a possibilidade de entrevistar para “o Desembarque”, a personalidade que, nos recuados anos de 1965, quando chegamos a Vale de Zêbro, com maior frequência burilava na nossa mente, como sendo o oficial mais cintilante, pela competência, pela salutar irreverência e pela respeitabilidade que impunha, na Escola de Fuzileiros, constitui para nós uma elevada honra e um privilégio, que justificam na plenitude este incontrolável estado de espírito. O comandante HEITOR PRUDÊNCIO DOS SANTOS PATRÍCIO,veio ao mundo, na cidade de Faro, no ano de 1931, sendo filho de um militar. Aos 10 anos ingressou no colégio dos “Meninos da Luz”, onde permaneceu até aos 19, passando, depois, para a Escola do Exército. Concorreu, de seguida, à Força Aérea, mas acabou por entrar na Escola Naval, em 1951, como Cadete, tendo sido promovido a Guarda-Marinha, no ano de 1955. Nos anos de 1956/57, prestou serviço no Estado da Índia, fazendo parte do NRP Afonso de Albuquerque. Foi aqui, que começou por se revelar a peculiaridade do seu comportamento, quando, estando de oficial de serviço, pelas seis horas da manhã, constata a entrada a bordo do navio de duas praças, de aspecto enxovalhado, muito para além da hora de recolher obrigatório. Resolveu então fazer o julgamento à sua maneira, impondo-lhes que, pelas 10,00 horas, o teriam que acompanhar numa sessão de ginástica. Levou-os ao limite das suas forças, fazendo com que chegassem ao duche quase de rastos, mas limpos de qualquer outro castigo. Após o regresso da Índia, a Marinha indigitou-o para fazer o curso do INEF (Instituto Nacional de Educação Física).Terminado este, foi destacado para o N. E. Sagres, como instrutor de Educação Física. Em Julho de 1961, é destacado para a Escola de Fuzileiros, que, naquela altura, era ainda, tão-somente, um conjunto de depósitos e paióis de armamento, levando consigo algum pessoal da classe de Manobra, que integrou o 1º Curso de conversão para a classe de Fuzileiros, sendo que, hoje, são quase todos oficiais. Foi ele, juntamente com o comandante Maxfredo, a dar os primeiros passos no sentido de dotar a Escola com as condições mínimas para o início da instrução. Entretanto, em 1963, faz um estágio de contra insurreição, no C.I.O.E., em Lamego e, em 1964, conclui o curso de Fuzileiro Especial. Durante os anos de 1967/1968, frequentou e concluiu, com aptidão, o Curso Geral Naval de Guerra. Esteve embarcado em diversos navios da nossa Armada, chegando a comandar alguns deles, entre os quais os NRPs Porto Santo e Diogo Gomes. Seguidamente, foi nomeado pelo Almirante Ferrer Caeiro, que exercia as funções de Comandante Naval, Oficial de Segurança dos Postos da NATO, existentes no nosso país. Como reconhecimento dos inúmeros e excelentes serviços prestados, consta nos seus registos uma apreciável quantidade de louvores, bem como outras mais distinções e condecorações, algumas delas de grande significado e relevância. Por paradoxal que pareça, em virtude da sua salutar irreverência e atitudes descontraídas no relacionamento com os seus comandados, a última das suas muitas condecorações foi a medalha militar de ouro, de comportamento exemplar. Atingiu a patente de Capitão de Fragata, em Setembro de 1974 e, por força da Lei nº 43/99, foi, muito justamente, promovido a Capitão de Mar e Guerra. Passou à situação de adido ao quadro, em Janeiro de 1981, por ter atingido o limite de idade. Hoje, do alto dos seus 77 anos de idade, conserva exemplarmente a mesma energia e jovialidade, que o caracterizaram durante toda a sua vida. 3 4 DESEMBARQUE: O Sr. Comandante é considerado nos Fuzileiros como um referencial de excelência, pela sua competência, salutar irreverência e inquestionável prestígio. Tem consciência disso, Sr. Comandante? Como explica esta situação e como julga que adquiriu este estatuto? COMT.PATRICIO: O estatuto foi-me dado pelo privilégio da convivência com o ENTREVISTA sua janela pretendia impor a autoridade, eu, na maior parte das vezes, fazia que não ouvia, até que ele acabava por desistir. Não sinto arrependimento pela forma como me comportava, quando me envolvia com os Fuzileiros e encarava os seus problemas, porque ainda hoje me dispensam uma enorme gratidão, o que considero salutar e muito reconfortante. nos bons, e alguns (poucos) maus momentos no Ultramar. O que aconteceu de mal já passou à História, para recordar interessamme sobretudo as boas memórias, que felizmente abundam. De facto, lembro muitas vezes aqueles episódios delirantes que me preenchiam o “ego”. Não me coibia de alinhar com qualquer elemento da minha Unidade, fosse qual fosse a patente, quando frequentava os locais onde se bebiam uns copos, como, p.e., no Cisne Negro, em Moçambique. Aqui, num certo dia, os empregados recusaram-se a servir três militares do Exército que pretendiam tomar umas cervejas, atitude de que não gostei e me levou a intervir para conseguir o atendimento correcto dos militares. De tal modo fiquei indignado com tal comportamento, que decidi desenvolver algumas “demarches” que conduziram ao encerramento do bar, durante dois meses. Numa outra ocasião, um grumete Fuzileiro, que ainda hoje parte uma garrafa com a “mona”, envolveu-se numas escaramuças num outro bar, reagindo a provocações de uns civis, arrogantes e convencidos. Fui intimado superiormente para formar a companhia na parada, para que o rufião, maltratado com uma forte cabeçada, pudesse identificar o agressor. Sabendo do sucedido, mandei formar o pessoal, para que a revista fosse feita, mas deixei de fora todos os intervenientes na contenda do dia anterior. Ainda hoje vivo e sinto os Fuzileiros, como nos tempos dourados do passado. De resto, estou sempre com a nossa máxima: Fuzileiro uma vez, Fuzileiro para sempre! DESEMBARQUE: O Sr. Comandante esteve na origem da Associação de Fuzileiros, sendo um dos sócios fundadores, o que muito nos orgulha e nos alenta. Que impulsos ou motivos o levaram a tomar esta iniciativa? COMT.PATRICIO: Sim, é verdade, mas a iniciativa foi do Comt. Rebordão de Brito, que Falando com outros Oficiais numa pausa da guerra formou um grupo de trabalho, a exemplo de oupessoal. Por aquilo que fiz, por aquilo que tras associações congéneres. Tivemos inslhes pude ensinar, que foi sempre para o seu piração no trabalho desenvolvido por outras próprio Bem. Mais ainda, tudo o que lhes forças, mas quisemos fazer ainda melhor, exigi foi sempre depois de eu dar o exem- sempre com o intuito de manter e preservar plo, nunca mandei fazer nada que não fosse os valores e a mística que são apanágio dos Fuzileiros. Estou certo que a actual Direceu mesmo capaz de executar. Na verdade, sendo eu o responsável ção, com o seu dinamismo e empenhamenmáximo pela educação física, que incluía to, é capaz de levar o navio a bom porto! aquelas modalidades para muitos desconheDESEMBARQUE: Como qualquer um cidas, como o boxe, o judo e todos os demais exercícios que os instruendos apresen- de nós, sente naturalmente a nostalgia do tavam, com orgulho, quando juravam ban- passado, mormente dos tempos difíceis e deira, justifica-se e compreende-se que as- gloriosos que sim fosse. Colaborei também na concepção passamos nas e implementação das pistas de combate e campanhas ulde outros mais obstáculos que faziam parte tramarinas. Porém, com a dido plano dos cursos. Mas lembro ainda algumas outras atitu- mensão pessoal des que certamente terão contribuído para e profissional isso, como, por exemplo, o combate que que tem, fazendo estabeleci contra as meias de cor nas revis- uma retrospectitas de licença. O meu posto de observação va no tempo, era junto da entrada no autocarro e, quem como vive e senexibisse o folclore acima dos calcanhares, te agora esta fazia-lhes descalçar as peúgas e mandava- nossa nobre Insas colocar na sarjeta. Na altura de baldear a tituição, os Fuzipequena parada eu era o primeiro a descal- leiros? C O M T . çar as botas e a arregaçar as calças, os rapazes seguiam-me entusiasmados nessa PATRICIO: PenParticipando no rancho da porca tarefa. Quando o Melo Cristino, lá do alto da so muitas vezes ENTREVISTA DESEMBARQUE: Que momentos ou episódios mais o marcaram enquanto Fuzileiro no activo, no continente ou no ultramar? COMT. PATRICIO: Faltaram-me, como ainda hoje faltam, palavras. Recordo sem vergonha algumas lágrimas que verti. Tenho tantos episódios no Ultramar, na Escola de Fuzileiros, como em outras campanhas, que praticamente me é impossível resumir. Se tivesse talento para as letras, daria certamente um bom livro. Não quero, no entanto, deixar de referir alguns episódios, que me marcaram profun- 5 Desloquei-me, a pedido do PAIGC, a Chegamos a Cacine em perfeita normaQuitafine, para me encontrar com alguns dos lidade. Pelas três da manhã, acabamos a seus comandantes. O percurso foi de bote e reunião e eu entrei nos meus aposentos. a acompanhar-me levava apenas um Fuzi- Logo após, entra o Laisec com a sua arma, leiro do Destº nº 22, armado de espingarda que de forma determinada me entregou, para G-3. Quando alcançamos o ponto de desem- eu guardar, revelando, mais uma vez, que barque e já fora do bote, fui imediatamente depositava em mim total confiança. De resempurrado com violência, o que me deixou to, deste curto relacionamento emergiu um confuso e perplexo, mas logo fui informado tratamento familiar e afectuoso, começando de que estava prestes a pisar uma mina. ele a tratar-me por tio e eu correspondia com Passado o susto, pusemo-nos a andar a pé, o de sobrinho. durante cerca de três quilómetros, até alcanEram indícios fortes da humanização da çarmos um acampamento totalmente guerra! acobertado pela vastidão e densidade da Na localidade de Aldeia Formosa, foi feimata, de onde era ta a troca de prisioneiros entre as duas parimpossível ver o sol. tes, cuja formação era superior a um peloAli, na companhia dos tão e eu era a única autoridade portuguesa guerrilheiros, come- presente. mos uma fugaz refeiPara as cerimónias de implantação do ção de arroz cham- novo Estado, ainda fora de Bissau, apenas béu, acompanhado eu fui convidado, mas, por minha sugestão, de leite de cabra e o convite foi estendido a uma representaágua da bolanha. ção do M.F.A. . O comandante Em Gadamael e Cacine, depois de arriaoperacional da guer- da a bandeira portuguesa, que me foi entrerilha, um tal Laisec, gue, as minhas palavras, cheias de comotardava em chegar, o ção, foram de incitamento ao progresso soque me levou a infor- cial, assente nos princípios democráticos. mar os presentes A caminho de uma operação que se estava a fazer DESEMBARQUE: Chegou ao nosso tarde para o regres- conhecimento que, por norma, os comandamente. Foram, porém, muitas as peripé- so e se aproximava a baixa maré, que im- dantes das Companhias e Destacamentos cias em que fui protagonista, mas sempre possibilitava a deslocação do bote. Daí a indigitados, faziam, sempre que possível, defendendo os valores de que nunca abdi- pouco soaquei, dos quais nunca me arrependo. ram uns tiros Recordo, com emoção, os momentos em que, segundo que fui conversar, e apenas isso, com os me disseram, homens desterrados em locais onde a mor- assinalavam te espreitava constantemente e que ninguém a chegada do desejava. Tinha a noção de que a moral se grande chefe. recarregava tão-somente com simples ges- Com ele, detos, como, por exemplo, ir dar os parabéns pois dos corao camarada que fazia anos. diais cumpriDurante os anos de 1973 e 1974, estive mentos, inicina Guiné, como Comandante do designado amos o perCOP-5, sob as ordens do Governador Ge- curso até junral, que depois do 25 de Abril de 1974, foi o to do Zêbro, Ten. Coronel Carlos Fabião, que rendeu o onde nos General Bettencourt. aguardava o Recepção no acampamento dos guerilheiros Depois desta data, terão porventura ocor- Fuzileiro. Ao rido os episódios mais marcantes e decisi- facultar-lhe o vos, como foi o caso das negociações que embarque, ele tenta de imediato entregar- uma selecção prévia dos elementos que os desenvolvi com os mais altos responsáveis me a sua arma, gesto que eu recusei pe- iriam integrar, recusando, quase sempre, os do PAIGC, para acertar a transferência de remptoriamente, ao mesmo tempo que lhe que consideravam indisciplinados. Todavia, soberania nos locais mais emblemáticos, vi sobressair do rosto um semblante de sa- consta que o Sr. Comandante, quando constituiu a 6ª Companhia, não fez uso de tal fora de Bissau. tisfação pela confiança demonstrada. 6 ENTREVISTA procedimento, chegando mesmo a convidar alguns que se encontravam a cumprir penas. Quer dizer-nos se isto tem algum fundamento? A ser verdade, acha que valeu a pena ter assumido o risco? COMT. PATRICIO: Quando formei a 6ª Companhia, com respeito ao pessoal, sargentos e praças, tive sempre como apanágio pedir voluntários. Trabalhar e exigir a pessoal que entra de sua livre vontade, proporciona sempre um “comando” mais fácil. Com respeito aos meus amigos “malandrecos”, talvez sejam até mais sinceros em alturas cruciais que os “intelectuais”, não querendo dizer com isso que os mais bem comportados não fossem igualmente bem-vindos, pois guardo, ainda hoje, grandes amizades tanto em relação a uns como a outros. É verdade que fiz estender o convite a alguns Fuzileiros que se encontravam detidos no Corpo de Marinheiros, levando daí todos os que se disponibilizaram. Na conversa que tive com eles, apercebi-me da capacidade de alguns para se movimentarem no meio de organizações marginais, chegando um deles a oferecer-me os seus préstimos para recuperar o automóvel de um camarada, que havia sido furtado algum tempo antes. Acedi à proposta, concedendo-lhe dois dias para esse efeito, findos os quais se deveria apresentar, tivesse ou não logrado alcançar o objectivo. Assim aconteceu, a missão foi cumprida com êxito. Preparando a entrevista no bar da Associação Foram muito satisfatórias e reconfortantes as recuperações conseguidas para alguns deles, que me consideravam como pai. A indispensável disciplina nunca foi descurada, ao ponto de se reflectir no bom desempenho das missões. Fizeram-se trabalhos importantes, entre eles a construção da pista de aviação de Metangula e muitos mais de grande utilidade e significado. Como compensação, todos os elementos da minha companhia tinham autorização para trajar à civil, fora das instalações da Unidade. Dando ordens no convivio da sua Companhia DESEMBARQUE: No seu entender, que contributos ou atitudes se devem esperar dos Fuzileiros em geral, relativamente à nossa Associação? COMT. PATRICIO: É minha convicção que todos os Fuzileiros deveriam fazer parte da nossa Associação. Os que têm possibilidade de pagar a sua quota devida, não terão certamente problemas, e os que não puderem, que lhes seja proporcionada pela Direcção, a possibilidade de uma quotização reduzida, analisada caso a caso. DESEMBARQUE: Que sugestões quer dar para que ela se projecte, com a grande força anímica que sempre acompanhou os Fuzileiros? COMT. PATRICIO: As sugestões podem e devem ser previamente conversadas, não me é fácil neste curto espaço incluí-las. Para já estou, como sempre estive, à vossa disposição para melhorarmos a nossa Associação. No entanto, a sugestão que vos deixo é que continuem com o dinamismo e entusiasmo que vêm demonstrando, para bem desta grande família, a que nos orgulhamos de pertencer. DESEMBARQUE: Sabemos que a muitos oficiais da Marinha era imposta a sua integração nos Fuzileiros, o que constituía, para muitos deles, um desalento e um verdadeiro calvário. O ingresso do Sr. Comandante aconteceu por vocação genuína, ou foram outras 7 ENTREVISTA contingências que o impulsionaram a fazer esta opção? COMT. PATRICIO: Estive nomeado para ir buscar a então nova “Sagres” ao Brasil, mas as contingências do país nessa altura alteraram a realidade. Com a criação da Escola de Fuzileiros pelo então V.A. Reboredo, a quem os Fuzos muito devem, fui chamado, assim como o Comt. Maxfredo, e um pouco mais tarde, o Ten. Pascoal Rodrigues, para formarmos a classe de Fuzileiros. A minha ida para a Escola de Fuzileiros, foi assumida com satisfação e entusiasmo e foi de tal forma galvanizadora, que arrastou uma quantidade apreciável de marujos, sendo que, muitos deles, entraram logo no primeiro curso, que se iniciou ainda no Corpo de Marinheiros. No entanto, naquela altura só podiam concorrer as especialidades de manobra, artilheiros e monitores. DESEMBARQUE: Sendo certo e inequívoco que, perante a sociedade portuguesa, os Fuzileiros são tidos como uma das principais Forças de Elite, que muito têm dignificado a Marinha e prestigiado a imagem de Portugal, interna e externamente, não acha que se assiste a um subaproveitamento ou até alheamento por parte dos principais responsáveis políticos e militares, quanto à sua utilização ou empenhamento em missões internacionais, como vem acontecendo com outras Forças nacionais? COMT. PATRICIO: Acho que em aspectos militares os nossos Fuzileiros estão Falando para o Desembarque a ser um pouco marginalizados. Porquê? Não sei. Inveja, egoísmo ou motivos políticos? Tudo isso é possível, mas, francamente, a sua dádiva é de tal modo elevada que o País deveria encara-los com mais consideração e respeito. DESEMBARQUE: Para terminar, o que se lhe oferece dizer sobre a situação actual da Associação de Fuzileiros e sobre o conteúdo e apresentação do nosso Desembarque? COMT. PATRICIO: O Desembarque tem desempenhado o seu papel principal e primordial, que é o de levar uma mensagem positiva e criar um elo de ligação entre os Fuzileiros, mas como em tudo na vida, há sempre espaço para melhorar. Gostava ainda de aproveitar esta oportunidade que me dão, para sem nomear ninguém, porque é obvio que, dizendo um nome, teria de citar centenas, homenagear TODOS os que serviram comigo e que foram meus discípulos. O meu Bem – Hajam e parabéns pelo trabalho realizado! Entrevista conduzida por: Ilídio Neves/Mário Manso Quinta de S. Tiago, Apartado 32 1760-999 Vila Viçosa Tel. 268887240 | Fax 268887249 E-mail : marvisaarvisa.com – de – João Filipe Vinhas Barroso – “João dos Potes” 8 DESTAQUE DIA DA MARINHA Alocução de Sua Ex.ª o CEMA Associando-se de forma tão significativa à comemoração dos 500 anos da cidade do Funchal, a Marinha decidiu, aproveitando a histórica oportunidade, celebrar, com grande dignidade e brilho, o dia do seu aniversário, naquela bonita Urbe atlântica, cujo porto e baía se encontravam esplendorosamente engalanadas com o colorido brilhante, devidamente embelezado, de uma grande parte da sua frota. À noite, o deslumbrante arraial dos milhares de luzes, que emolduravam os navios, vistos à distância, a partir da inclinada cidade em festa, representava um fascinante espectáculo de cor e luz, para onde convergiam os olhos admirados de quantos se dispusessem a sair à rua. Naquela contemplação comovente, não havia ninguém, certamente, que não libertasse um sentimento de prazer, de orgulho e até de saudade, ao desprender o imaginário para episódios fantásticos do passado, cuja grandeza de prestígio e de glória se reflectia no presente, numa aliciante perspectiva do futuro. Afinal não tem a Marinha um significado especial para a quase generalidade dos portugueses? Quantos não deram a ela, com orgulho, uma gran- de parte das suas vidas? Quantas famílias se não constituíram, cresceram e se sustentaram através desta nobre Instituição? Dando autorização para o desfile 9 DESTAQUE Vista Geral e forças em parada É claro que sem aquela emotiva impressão que causava nas pessoas, o fervilhar constante dos marujos nas ruas, que enfeitavam de branco e azul os locais onde, com contagiante graciosidade, se deslocavam. Mas, mesmo assim, sem esses artefactos vistosos e cativantes do passado, ainda hoje os Marinheiros, mais ou menos dissimulados, são credores de um grande capital de admiração, especialmente quando são observados nas fainas que regularmente executam. O exemplo cabal disto tudo, revelou-se nas longas filas de populares que, esperando muitas horas ao sol escaldante, não hesitaram em visitar alguns navios que a Armada colocou à sua disposição para esse efeito. Entre eles o NRP Sagres, o Creoula e o submarino Barracuda, sendo este o alvo principal dos mais curiosos e o que maior admiração causava em todos os transeuntes que gravitavam pelo cais. As cerimónias oficiais, dirigidas na quase totalidade por Sua Exª. o Chefe do Estado Maior da Armada, Almirante Melo Gomes, decorreram com grande brilhantismo e dignidade, cujo auge foi atingido, no seguimento do seu sugestivo e bem elaborado discurso, durante o magnífico desfile de diversas Unidades da Marinha, ao longo da Avenida do Mar e das Comunidades Madeirenses, sobre a presidência de Sua Exª. o Ministro da Defesa, Prof. Doutor Severiano Teixeira, e com a presença de todas as autoridades da Região, ao mais alto nível, nomeadamente o Presidente do Governo Regional, Dr. Alberto João Jardim, Representante do Governo da República na Região, outros membros do Governo Regional, Presidente da Câmara Municipal e autoridades civis militares e religiosas, para além de muitos oficiais generais e superiores, da Marinha e das outras Forças Militares. A população da Madeira acorreu em força ao evento e assistiu com grande entusi- asmo e curiosidade a todo aquele empolgante cenário de beleza grandiosa, orgulhosa do seu País e da sua Marinha. No dia anterior às cerimónias propriamente ditas, decorreu, com grande brilho, um excelente momento artístico, para encanto dos presentes, um concerto magnífico, interpretado magistralmente pela Banda da Armada, ao qual se juntou, em alguns números, um alegre e vistoso conjunto de cordas de uma escola de música local, que teve lugar no Palácio dos Congressos do Funchal. A cerimónia terminou, com um agradável almoço a bordo da Sagres, que, sendo o culminar dos eventos, nem as delícias gastronómicas conseguiam deixar já esconder uma certa nostalgia e uma mágoa, por acontecimento tão belo e tão significativo, que estava prestes a acabar. A imprensa regional deu grande destaque a todos os aspectos deste grande acto solene, dedicando páginas inteiras à Marinha, através de longas entrevistas aos seus mais altos dignitários. O Desembarque esteve presente, na pessoa do seu Director e colaborador principal Mário Manso. Exercício demonstrativo dos Fuzileiros num assalto a meios navais. Ilídio Neves 10 DESTAQUE 7º ENCONTRO NACIONAL DE FUZILEIROS O primeiro sábado do mês de Julho, dia 5, era esperado com uma certa ansiedade por grande número de Fuzileiros, muito especialmente pelos membros da Direcção Nacional da Associação, que se empenharam com grande entusiasmo, muito zelo e cuidados bastantes, para que este nosso evento especial, que faz parte do programa anual de actividades, decorresse com o necessário brilho e em condições de plena satisfação para todos os participantes neste aliciante convívio fraterno. reflectir e difundir essa nostalgia e saudade com os Fuzileiros mais recentes, que já não passaram pela odisseia africana, fazendo a guerra colonial, mas que vivenciaram , certamente, muitas outras e interessantes façanhas, no país e em outros pontos críticos pelos mais diversos recantos do mundo. Pretendia também este acontecimento transmitir e sensibilizar as futuras gerações de jovens para esta causa civilizacional e patriótica, que é servir a Nação ao serviço da Marinha, integrando um Corpo Especial amigos e convidados, que “grosso modo” rondaria o milhar de pessoas. Tudo decorreu na perfeição, com uma bem confeccionada e pantagruélica ementa, um excelente programa, ao gosto de quase todos, a avaliar pelas inúmeras referências elogiosas que ao longo do dia nos iam manifestando. Não foi, todavia, possível o esperado aliciante da acrobacia aérea, por total impossibilidade do piloto, nosso prezado associado, o Fuzileiro ilustre Comandante da TAP, Conceição e Silva, que não che- Concentração dos Associados junto ao Monumento do Fuzileiro Pretendia-se, no essencial, proporcionar a todos os Fuzileiros, de diferentes gerações, quer fossem ou não associados da Associação de Fuzileiros, uns momentos de alegria e prazer, confraternizando, galvanizados por uma mística comum, quer fosse a rever amigos e camaradas do passado, que compartilharam vivências, recheadas de sentimentos, de sofrimento e de dor, mas também de grandes episódios hilariantes de felicidade, de amizade e solidariedade, ou, ainda, a de Elite, onde os valores mais sublimes da coragem, da camaradagem, da disciplina e da amizade, são a chancela máxima da destreza e da já bem constatável euforia e envaidecido desejo de muitos jovens em querer ingressar nesta grande família de afectos e orgulhos. Julgamos, muito sinceramente, que os objectivos foram alcançados na plenitude, se não mesmo superados, tal foi o número de Fuzileiros presentes, seus familiares, gou a tempo de uma viagem de longo curso, que regularmente efectua, no comando de um dos maiores aviões comerciais (o AIRBUS – A340) da frota aérea portuguesa. O êxito e o sucesso do evento ficou ainda a dever-se ao excelente trabalho de coordenação, de esforço e empenhamento total de grande parte dos membros dos Órgãos Sociais da Associação, com especial destaque para o muito competente, dedicado e voluntarioso Secretário da Direcção, DESTAQUE Profundo sentimento e respeito no momento da homenagem aos Fuzileiros mortos Cmte. Piteira, do Vice-Presidente, CMG António Beltrão e dos incansáveis e sempre disponíveis Mário Manso, J. M. Parreira, Varandas e outros mais, que deram um contributo excelente e decisivo. A colaboração, auxílio precioso e permanente simpatia dos Exmos. Comandante e 2º Comandante da Escola de Fuzileiros, CMG António Ruivo e CFR Pereira Leite, respectivamente, bem como de outros prestimosos oficiais da Unidade, não só foram absolutamente inexcedíveis, imprescindíveis e incentivadores, como foram também catalizadores valiosos para a elevação deste sentimento fraterno e generoso que nos une, com orgulho e emoção, nesta grande família de Fuzos. Também um apreço muito especial para o Exmo. Comandante do Corpo de Fuzileiros, C/AL Carvalho Abreu, pela total disponibilidade de meios, o incitamento cativante dos seus conselhos e da sua presença, irradiante simpatia e afecto que sempre demonstrou no acompanhamento do evento. Nos momentos de maior significado Institucional e recreativo a Marinha fez-se representar com a honrosa presença, ao mais alto nível, de Sua Ex.ª o Vice-Almirante Vargas de Matos, Digmo. Comandante Na- Alocução do Presidente da Direcção val, que também representava Sua Ex.ª o CEMA. Estiveram igualmente presentes o Exmo. Senhor Vice- Almirante Reis Rodrigues e muitos outros distintos oficiais superiores da Marinha, bem como o Exmo. Presidente da Câmara Municipal do Barreiro, Comandantes das diversas Forças de Se- 11 gurança da Região e Digníssimos Presidentes e Representantes de diversas organizações de combatentes e ex-combatentes. Durante o acto solene, mais comovente e emocional, de homenagem aos nossos saudosos camaradas mortos, o Presidente da Direcção da Associação de Fuzileiros, proferiu uma breve e improvisada alocução, alusiva ao momento, com profunda consternação e respeito, que, pelas reacções espontaneamente manifestadas, tocou no âmago da sensibilidade de muitos dos presentes, ao ponto de diversos camaradas mais comovidos e representantes de algumas Associações de combatentes e ex-combatentes lhe terem solicitado cópias do pequeno discurso. Como tal não era possível, em virtude de se tratar tão-somente de um ligeiro e desalinhado conjunto de apontamentos manuscritos, meros tópicos para encaminhamento do raciocínio, transcreve-se, de seguida, conforme o prometido, em texto devidamente arrumado, o conteúdo dessa singela mas sentida exposição, omitindo apenas as referências às diversas individualidades presentes: “ Na qualidade de Presidente da Direcção Nacional da Associação de Fuzileiros, tenho a probidade e o privilégio de vos saudar a todos e agradecer, reconhecidamente, a vossa honrosa presença. Hoje é um dia muito especial para nós, pelo facto de estarmos a realizar aqui, na nossa “Casa-Mãe”, a Escola de Fuzileiros, o nosso dinamizador, congregador, reviverador e fraternal convívio, que reputamos de grande importância, no nosso plano anual de actividades. Para a Direcção da Associação de Fuzileiros, especialmente para os membros que mais se empenharam na organização deste evento, ‘é uma alegria e uma satisfação imen- 12 DESTAQUE Escutando o toque do silêncio, pelo trompete de bolso do Associado “Neo” sas, constatar tão forte aderência, com a presença de camaradas de quase todo o país e, muitos, vindos expressamente do estrangeiro, para compartilhar alguns momentos de felicidade e atenuar, durante apenas algumas horas, uma saudade fervilhante que se mantém solidificada nas entranhas do coração. Na verdade, aqueles episódios decisivamente marcantes, muitas vezes de amor e ódio, de jactância ou submissão, nunca, nas circunstâncias difíceis, conseguiam demover ou pôr em causa os valores e princípios sagrados da coesão, da entreajuda, da solidariedade e da amizade. Um por todos e todos por um, era o nosso lema, muito particularmente na repartição da dor e do sofrimento. Estas coisas não se esquecem, até porque se passaram na fase mais impetuosa e revigorante da vida de cada um. A Associação tudo fará, e não se poupará em esforços, para manter sempre bem acesa e brilhante esta chama sentimental, incitando com devoção todos os Fuzileiros do passado e do presente e procurando aliciar os jovens do futuro, através de acções de sensibilização e divulgação, até onde for possível fazer chegar os seus ecos de influência e meios informativos e até onde se estender e sustentar a sua capacidade dinamizadora. Por tudo isto, quero deixar aqui um agradecimento muito sincero e profundo, aos Exmos. Comandante e 2º Comandante, CMG António Ruivo e CFR Pereira Leite, pela Passeios de bote e de Larc, no rio Coina inexcedível ajuda, simpatia e permanente disponibilidade, não só na cedência desta nossa querida Unidade, mas também pelo ex- traordinário apoio logístico e material que amavelmente nos concederam. É aqui, neste local, onde a nobreza dos sentimentos assume um significado invulgar. Foi aqui, que aprendemos a sonhar e foi a partir daqui que aprendemos a perspectivar o mundo. Tenho a certeza, que qualquer um de nós, neste momento e desde há alguns dias para cá, é inundado por uma emoção muito forte e anormal. Porque é aqui, que nos sentimos enérgicos, galvanizados e nos revemos, com impulsos perseverantes, na pujança da juventude. Foi aqui, neste mítico lugar, outrora mais lamacento, cheirando a pólvora e ofuscado pelos fumos negros da Siderurgia Nacional, que aprendemos a fazer amigos. Foi aqui o palco de muitas das nossas ilusões e desilusões. Foi aqui, também, o local onde muito sofremos, mas com esse sofrimento aprendemos a ser homens afectuosos, aprendemos a ser disciplinados, corajosos e solidários. O convívio do almoço no refeitório da “Casa-Mãe” 13 DESTAQUE Foi daqui, que muitos de nós partimos para o desconhecido, para a guerra colonial, voluntariosos e impregnados de orgulho e entusiasmo, por irmos defender a Pátria. Todavia, alguns que daqui partiram já não sentiram a felicidade do regresso, nem aqui nem ás suas casas. MORRERAM!... Morreram no cumprimento do dever, combatendo com valentia e coragem, ao serviço dos Fuzileiros. Ainda hoje, ao recordarmos a sua agonia e ao revivermos aqueles momentos dramáticos, pronunciamos silenciosa e reflexamente, aquelas desesperadas súplicas a Deus e aos Santos da nossa devoção, numa ânsia de terror, que nos desperta a dor e inunda os olhos de lágrimas. É, pois, perante esses nossos mártires que, aqui e agora, frente a este simbólico e arrepiante monumento, nos curvamos e sentidamente homenageamos. Foram os mortos que derramaram o seu sangue e ofereceram o seu Bem mais precioso, a vida, para exaltar a honra e glória de todos nós. Esta dádiva suprema e dolorosa, constitui também para muitos camaradas, que assistiram impotentes ao seu sacrifício fatal, uma dor permanente e indelével, que igualmente nos dói, nos une e nos alimenta esta mística sublime e incontrolável, que dá conteúdo e sentido à nossa máxima: Fuzileiro uma vez, Fuzileiro para sempre! Muito obrigado a todos”. Outro momento comovente, aconteceu quando o nosso associado, Manuel Gonçalves “O Neo”, vindo expressamente do Minho, interpretou, de forma magistral, com a sua Trompete de Bolso, o toque de silêncio e a marcha da Associação de Fuzileiros, deixan- No mar, em terra ou no ar, os Fuzileiros estão sempre presentes. Aqui, alguns chegaram de pára-quedas do todos os presentes estarrecidos de sentimento e profundamente emocionados. Este estimado camarada, Fuzileiro de alma e coração, é natural de Estorãos, concelho de Ponte de Lima, e foi durante muito tempo a Maestro da Banda Filarmónica da Casa do Povo de Moreira de Lima – Ponte de Lima. O Presidente da Direcção, pretende ainda deixar aqui uma referência especial e um reconhecido agradecimento às Senhoras, esposas de camaradas Fuzileiros e associadas simpatizantes, pela sua colaboração e ajuda preciosa na venda e promoção das diversas mercadorias, no fornecimento e venda de senhas para o almoço, bem como nos registos e recebimento de quotas de muitos sócios que ali desejaram fazê-lo. P PÓVOATEJO COMÉRCIO DE EQUIPAMENTOS DIVERSOS, LDA. Igualmente manifestar a sua satisfação e enorme gratidão ao Exmo. Capelão Licínio, pela comovente envolvência espiritual na celebração da Santa Missa, pelas almas dos Fuzileiros mortos e pelas intenções e felicidade dos vivos, acto litúrgico de grande beleza e profundo sentimento, numa linguagem simples na expressão, mas grandiosa no seu alcance e significado. Para o próximo ano, no primeiro sábado de Julho de 2009, caminhamos empolgados, com o desejo acicatado e fortemente motivados para fazer tão bem, ou ainda melhor, se possível, para manter bem acesa e incandescente esta chama sentimental, que nos enaltece, nos orgulha e nos rejuvenesce. Ilídio Neves AÇO INOXIDÁVEL PARA AS INDÚSTRIAS ALIMENTAR, BEBIDAS, QUÍMICA E FARMACÊUTICA ZONA INDUSTRIAL DA MURTEIRA, LOTE 4 • PORTO ALTO • APARTADO 126 • 2135-311 SAMORA CORREIA TEL. 263 650 650 / 1 / 2 / 3 / 4 / 5 / 6 / 7 • FAX 263 650 659 • E-MAIL: [email protected] 14 DESTAQUE RENDIÇÃO DO CARGO DE COMANDANTE DO CORPO DE FUZILEIROS Como se costuma dizer, a vida é um constante revigorar! No universo tudo se renova incessantemente em suas partes, mas o conjunto é eterno. Tudo se transforma, tudo evolui, neste jogo contínuo da existência, entre a vida e a morte, mas nada perece. Também nas Instituições, de par com a decrepitude e com a morte, humanidades novas desabrocham em eterno renovar. Todavia, há sempre em tudo um conjunto de princípios distintos da matéria, que se traduzem numa força indivisível que persiste e se mantém entre as perpétuas substituições. Chegou a hora da mudança no comando do Corpo de Fuzileiros, no topo da hierarquia activa desta nossa prestigiada Instituição. De facto, no passado dia 08 do mês de Outubro, decorreu na Escola de Fuzileiros, em Vale de Zebro, a imponente cerimónia de rendição do cargo de comandante. O Vice-Almirante João da Cruz de Carvalho Abreu, que o vinha exercendo, com muito brilho e competência, desde 15 de Novembro de 2005, foi rendido pelo Contra-Almirante Luís Miguel de Matos Cortes Picciochi. Este distinto Oficial-General da nossa Marinha nasceu em Lisboa, em 1957, cidade onde viveu e estudou durante a maior parte da sua juventude. Ingressou na Escola Naval em 1974, sendo promovido a Guarda-marinha em 01 de Outubro de 1978. Em 1991 frequentou o Curso Geral Naval de Guerra e, em 2005, o Curso Comple- A caminho da Tribuna de Honra mentar Naval de Guerra, ambos no Instituto Superior Naval de Guerra. Em 2007/2008 frequentou, no Instituto Superior Militar, o Curso de Promoção a Oficial General. É especializado em Educação Física. Prestou serviço a bordo de diversos navios da Armada, nomeadamente nas fragatas “Almirante Gago Coutinho”, “Comandante Sacadura Cabral” e “Comandante João Belo”. A bordo da corveta “João Coutinho” desempenhou as funções de oficial imediato. Comandou duas unidades navais: o patrulha “Mandovi” e a corveta “António Enes”. De entre as várias funções desempenhadas em terra, salientam-se as de oficial do Estado Maior da Armada, na Divisão de Pessoal e Organização; 2º Comandante do Batalhão de Formação Geral Comum e Comandante do Corpo de Alunos da Escola Naval, cargo que exerceu durante 5 anos. De 2004 a 2007 foi o chefe do Gabinete do Superintendente dos Serviços do Pessoal. Foi promovido a Contraalmirante, em 10 de Setembro de 2008. Da sua folha de serviços constam diversos louvores, tendo sido agraciado com as seguintes condecorações: Medalha de Serviços Distintos – Prata (duas); Medalha de Mérito Militar de 2ª classe; Medalha da Cruz Naval de 2ª classe e Medalha de Comportamento Exemplar – Ouro. Possui ainda os cursos civis de páraquedismo e de treinador de voleibol. 15 DESTAQUE O Almirante Carvalho Abreu, em consequência da sua recente promoção, foi destacado para o cumprimento de outras nobres funções, adequadas ao seu posto, mas ficará na nossa memória como um comandante exemplar, amigo, respeitado e respeitador, sempre disponível e disposto a ajudar, com contagiante simpatia e elevado bom senso, brindando constantemente a Associação de Fuzileiros com indisfarçável carinho e afecto, quer fosse nos apoios nunca negados ou nos oportunos e sempre esclarecidos conselhos que com alguma regularidade transmitia. É grande a gratidão desta humilde e ainda jovem Instituição, que registará para sempre o carácter generoso e benevolente do estimado Comandante desta Força Especial de Elite, oferecendo-lhe, em contrapartida, a eterna consideração e amizade, bem como a total disponibilidade para o que for entendido útil, necessário e desejável, no âmbito das suas possibilidades. Como inicialmente referimos, tudo o que é material é efémero. Os indivíduos e as gerações passam, tal qual as vagas do mar, os próprios mundos perecem, os sóis extinguem-se e tudo foge, tudo se dissipa. Há, porém, duas coisas que, provindas do Divino, resplandecem acima das miragens dos Passagem do testemunho pelas mãos de Sua Ex.ª o Comandante Naval valores mundanos e permanecem imutáveis: são a Sabedoria e a Virtude. Estas supremas qualidades serão certamente a essência do novo Comandante, o Exmo. Almirante Luís Miguel Picciochi, a quem a Associação de Fuzileiros deseja as maiores felicidades, pessoais e profissionais, contando com ele manter os mesmos sãos propósitos de lealdade, correcção, colaboração e compreensão, no desenvolvimento dos objectivos fraternos e solidários que se propõe alcançar e consolidar. De salientar, a importância e significado das palavras de Sua Exª. o Comandante Naval, Almirante Vargas de Matos, que presidiu à cerimónia, quando realçou a empenhada e frutificante acção da Associação de Fuzileiros, bem como a sua especial relevância na divulgação e afirmação da prestigiada imagem dos “Fuzos”e da Marinha, no país e no mundo, junto da sociedade civil. Ilídio Neves Telefs.: 21 927 99 08 - 21 967 12 29 - Fax: 21 927 01 62 Estrada de Cortegaça - Lote 158 - Fação - 2715-020 Pero Pinheiro - PORTUGAL Email: [email protected] - [email protected] - Internet: www.janotas.com 16 DESTAQUE As relações de cooperação exemplar entre a Policia Judiciária e a Marinha Portuguesa na luta contra o narcotráfico Dr. José Braz É com enorme satisfação, duplamente alicerçada, que damos início a uma rubrica especial, alimentada pela sublime destreza da pena de um ilustre colaborador, o Dr. José Alberto Campos Braz, distinto Assessor de Investigação Criminal da Polícia Judiciária e que até há bem pouco tempo foi o mais alto responsável operacional do combate ao narcotráfico do nosso país. Este duplo regozijo do Director desta humilde publicação, deve-se ao facto de, sendo Fuzileiro ser também, enquanto responsável da P.J., um dos primeiros impulsionadores da excelente e profícua colaboração entre as duas instituições, a Polícia Judiciária e a Marinha Portuguesa. Na verdade, esta eficiente e exemplar cooperação interinstitucional, levada à prática sob a égide deste prestigiado colega, sempre recebeu dos responsáveis da Marinha a maior compreensão e inteira disponibilidade, quer fosse na utilização da frota de navios em ousadas e arriscadas operações no mar, quer fosse na invulgar perícia e coragem reveladas pelos Fuzileiros, através da sua Unidade de elite, o DAE, cujos resultados, pela sua dimensão e importância, têm sido alvo do reconhecimento internacional e dos maiores elogios, contribuindo de forma brilhante para o enriquecimento da imagem externa de Portugal no quadro da segurança global. Operação conjunta, em alto mar, com os Fuzileiros e a PJ, que resultou na apreensão de quase 3 toneladas de cocaína Vivemos tempos de mudança! A globalização e a interdependência que formatam os modelos societários pós industriais , são hoje a chave para a compreensão dos novos paradigmas criminais. O crime organizado utiliza as potencialidades dos novos recursos tecnológicos tor- nando-se, também ele, um fenómeno global. Constitui mesmo, dum ponto de vista estritamente objectivo, uma actividade económica, visando obstinadamente um fim: a maximização do lucro através de meios ilícitos! Uma actividade económica que não conhece fronteiras nem limites espácio-temporais, que não conhece regras ou constrangimentos de qualquer natureza, que dispõe de sofisticados meios e recursos. O tráfico de estupefacientes é talvez o mais perfeito exemplo desta preocupante realidade. 17 DESTAQUE Reconhecendo tal facto, a nova Estratégia da União Europeia de luta contra a Droga (2005-2012) considera que (…) tanto a nível nacional como da EU, o tráfico de droga continua a ser dos comércios mais produtivos (…) dos grupos criminosos organizados. Grupos criminosos com características especificas, frequentemente associados ou confundidos com unidades económicas formalmente legais, através das quais dissimulam a actividade ilícita e branqueiam os proventos do crime. Estruturas fechadas e dotadas de elevada sofisticação organizacional, com grande capacidade de adaptação e de resistência às ofensivas das instâncias de controlo formal, que actuam com sentido estratégico, desenvolvendo contra-medidas que dificultam o seu controlo e desmembramento. É esta a natureza e a dimensão da ameaça com a qual nos confrontamos. Portugal como fronteira externa da EU, face ao seu posicionamento geoestratégico periférico e à vastidão e difícil controlo do seu território marítimo e arquipelágico, tem e continuará a ter, especiais responsabilidades na luta contra o narcotráfico internacional que utiliza estas particulares condições para introduzir estupefacientes no espaço europeu. Nos termos do modelo legislativo em vigor, a luta contra o tráfico de estupefacientes assenta em 3 pilares: fiscalização, pre- venção e investigação, e tem como pressuposto estruturante a cooperação, quer no plano interno, quer no plano internacional. não é pois, uma atribuição exclusiva desta ou daquela instituição! É um desígnio nacional que envolve e compromete a sociedade e o Estado e muito particularmente uma pluralidade de instituições de distinta natureza e vocação: OPC’s, forças de segurança e outras entidades, num quadro de actuação convergente e interactivo. O novo Conceito Estratégico de Defesa Nacional ao considerar que é de interesse estratégico prioritário, para Portugal, que a Defesa Nacional dê prioridade, no quadro constitucional e legal “às acções de fiscalização, detecção e rastreio do trafico de droga nos espaços marítimo e aéreo sobre jurisdição nacional, auxiliando as autoridades competentes no combate a este crime” veio acrescentar uma indispensável mais valia em termos de eficácia e de capacidade de resposta operacional. Veio essencialmente exponenciar a afirmação dos princípios da especialização e da complementaridade como incontornáveis requisitos de eficácia no cumprimento de tão difícil missão. As relações entre a Policia Judiciária e a Marinha Portuguesa na luta contra o tráfico internacional de estupefacientes por via marítima são exemplo feliz de cooperação interinstitucional que muito tem contribuído para a valorização da imagem externa de Portugal, no quadro da segurança europeia, como país com capacidade para reagir de forma enérgica e eficaz à ameaça do narcotráfico internacional, onde é possível desenvolver com êxito, complexas, delicadas e audaciosas investigações e operações em tudo iguais ao que de melhor se faz na EU e no mundo. Os resultados alcançados nos últimos anos, em inúmeras operações conjuntas, nas quais é justo destacar a incontornável importância da acção desenvolvida pelo Corpo de Fuzileiros da Armada Portuguesa, emergem de uma dinâmica de cooperação que, tendo por base a observância dos princípios da complementaridade e da especialização multidisciplinar, permitiram alcançar, com eficiência, notáveis objectivos. Uma relação de cooperação interinstitucional em que cada um conhece o seu papel e percepciona a mais valia que o seu trabalho acrescenta ao trabalho do outro. Em que cada um reconhece e respeita a especificidade, as dificuldades e os limites do outro. Uma relação operacional consolidada no trabalho conjunto, nos elevados níveis de confiança recíproca, na resiliência e na tenacidade. Um modelo de cooperação exemplar e que importa dar vida e continuidade na luta contra o crime organizado, quer no plano interno, quer no plano internacional. José Braz VIVENDAS LUXUOSAS VENDA DE MÁRMORES E GRANITOS PARA CONSTRUÇÃO E INDÚSTRIA DO MOBILIÁRIO CJM – J. MESQUITA-SOC. CONST., LDA. Zona Industrial da Várzea do Monte * 4780-584 Santo Tirso Telef.: 252 419 673 / 252 413 356 * Fax: 252 413 353 Tlms.: 917 511 510 / 917 261 256 E-mail: [email protected] * www.jmesquita.com 18 EVENTOS ASSEMBLEIA GERAL Decorreu, no passado dia 29 de Março, no salão da sede da Associação de Fuzileiros, a Assembleia-geral de sócios, com vista a eleger os respectivos Órgãos sociais, para o biénio 2008/20010, entre outros assuntos. Ao acto compareceram cerca de duas centenas de associados, numa atitude de grande civismo e camaradagem, conferindo-lhe a dignidade e legitimidade adequadas ao seu significado. Os membros eleitos e respectivas atribuições, são conformes ao quadro que se segue: MESA DA ASSEMBLEIA GERAL 1º SECRETÁRIO PRESIDENTE MANDATÁRIO JOSÉ M. PARREIRA 2º SECRETÁRIO J. ROCHA E ABREU JOSÉ LEIRIA PINTO ANTÓNIO VARANDAS 1º SUPLENTE 2º SUPLENTE JOSÉ COISINHAS HOMERO VIDEIRA SUPLENTE JOAQUIM ALGARVIO DIRECÇÃO Ã PRESIDENTE ILÍDIO NEVES LUÍS V. PRESIDENTE ANTÓNIO BELTRÃO SECRETÁRIO TESOUREIRO FREDERICO PITEIRA 1º VOGAL LOPES HENRIQUES ANTÓNIO AUGUSTO 2º VOGAL 3º VOGAL 4º VOGAL EGAS SOARES MIGUEL REIS 5º VOGAL ESPADA PEREIRA ANTÓNIO VARANDAS SUPLENTES 1º SUPLENTE ANTÓNIO RODRIGUES 2º SUPLENTE OLIVEIRA PINTO 3º SUPLENTE 4º SUPLENTE CALDEIRA DO COUTO JOÃO PATRÍCIO 5º SUPLENTE PAULO FRAGOSO 6º SUPLENTE 7º SUPLENTE SILVA SANTOS MÁRIO MANSO CONSELHO FISCAL PRESIDENTE J. CARDOSO MONIZ 1º SECRETÁRIO J. COSTA DA SILVA 2º SECRETÁRIO JAIME AZEVEDO 1º 1º SUPLENTE GONÇALO CAMBALHOTA 2º SUPLENTE MANUEL TRINDADE 6º VOGAL FRANCISCO GREGÓRIO 19 EVENTOS COMEMORAÇÕES DO DIA 10 DE JUNHO À semelhança de anos anteriores, a Associação de Fuzileiros esteve presente, no passado dia 10 de Junho, na cerimónia de homenagem aos nossos combatentes, mortos em defesa da Pátria, em Belém – Lisboa, junto ao monumento em sua honra e memória, ali existente. A nossa representação foi bastante significativa e carregada de simbolismo, pois lá se encontravam muitas das figuras mais marcantes que, na longa e difícil guerra que travamos no ultramar, se distinguiram, pelo seu sacrifício, coragem e valentia, enchendo de prestígio e glória a honrosa classe a que pertencemos. Junto da tenda e banca montadas no local, reviveram-se momentos exaltantes, entre abraços e manifestações de amizade, envolvendo todos num sentimento comum, de grande respeito e consternação, muito especialmente quando a coroa de flores, com o símbolo dos Fuzileiros, foi depositada por alguns camaradas no sítio mais enternecedor, junto à base do monumento. Muitos camaradas e amigos aproveitaram ainda a oportunidade para adquirir alguns produtos de “merchandise”, alusivos aos Fuzileiros e à sua Associação, alguns dos quais colocados pela primeira vez à disposição dos interessados. A Associação de Fuzileiros, alheandose de alguns desentendimentos e conflitos entre Instituições representativas de e x- c o m b a t e n t e s , adoptou a atitude que entendeu mais racional, mais justa e Monumento de homenagem aos combatentes mortos em defesa da Pátria, em Belém, Lisboa mais solidária, sem pretender vincular-se a qualquer das posições assumidas ou ten- que faz contínuos esforços por tomar forma tar ferir quaisquer susceptibilidades. e aparecer à vida. Todavia, o homem virtuoCom efeito, a ideia que muitos fazem da so é semelhante a uma árvore gigantesca, sua razão ou da sua verdade, altera-se, em cuja sombra benéfica permite frescura e vida substância e dimensão, com o decurso do às plantas que a cercam. tempo, sendo certo que nem todas as pessoSão estes os valores e os princípios que as, que compõem as Instituições, se encon- nos regem. Só deles abdicaremos quando tram em vias de alcançar os pináculos tivermos a certeza de que as nossas atituintelectivos, pelo que a tolerância, o bom senso des são potencialmente virtuosas e não e a benevolência são factores a ter em conta. cedentes a apelos estéreis. De resto, na profundeza do espírito de cada um agita-se um mundo de aspirações, Ilídio Neves ALMOÇO NA ASSOCIAÇÃO No passado dia 10 de Abril, decorreu no salão/restaurante da Associação de Fuzileiros um almoço de confraternização, promovido pela Direcção, em honra dos sócios beneméritos que, em função das suas possibilidades e disponibilidades contribuíram generosamente para a realização das obras da sede. Tratou-se, afinal, de um reconhecimento e de um singelo agradecimento aos estimados camaradas que, com sensatez e oportunidade, souberam compreender as dificuldades e os esforços realizados para que a magnífica obra que hoje temos de pé, para o conforto e bem estar de todos, se tornasse uma realidade. A Direcção da Associação, que tanto empenhamento demonstrou e tantos obstáculos removeu, entendeu que era seu dever distinguir e agradecer estes gestos de boa vontade e Almoço de reconhecimento e agradecimento 20 EVENTOS nobreza de carácter, de um “punhado” de Fuzileiros exemplares que, uma vez mais, fizeram uso daquele atributo específico, que se chama solidariedade, revelando aquela inigualável prontidão na hora de responder à chamada. Também, alguns dias mais tarde, a Direcção teve igual procedimento, para com algumas Entidades beneméritas da Marinha, a maioria das quais distintos e prestigiados Almirantes, que, desde o primeiro momento, nos dispensaram o seu apoio, incentivo e especial solidariedade. Foi uma excelente oportunidade para o Presidente da Direcção, agradecer e demonstrar o enorme reconhecimento da Associação de Fuzileiros, bem como a sua satisfação pela presença de tão honrosas Personalidades. Por fim, todos saíram satisfeitos com o convívio e franca hospitalidade, com a promessa de voltar sempre a uma “Casa” cujos membros sentem orgulho e manifestam profundo respeito pelos mais altos dignitários da nossa Armada. Ilídio Neves CONVÍVIO DOS ANTIGOS ALUNOS DO CURSO D. JOÃO I, DA ESCOLA NAVAL “Um grupo de oficiais do Curso D. João I da Escola Naval que se reúne normalmente uma vez por mês para convívio, escolheu no mês de Junho, as instalações da Associação de Fuzileiros para um almoço no restaurante. Entre esses oficiais, que para o ano comemoram os 50 anos sobre a data de entrada na Escola Naval, há vários que prestaram serviço nos Fuzileiros e nessa qualidade cumpriram comissões em África. Foi patente a satisfação que mostraram pelas magníficas instalações da Associação e excelentes condições para este tipo de reuniões.“ Entre os presentes encontravam-se o Exm.º Almirante Reis Rodrigues, nosso estimado associado e ex-Presidente da Mesa da Assembleia Geral da nossa Associação, que muito a honrou e dignificou. A Direcção da Associação agradece e manifesta o seu regozijo pela presença de tão ilustres visitantes. Ilídio Neves Uma foto para recordar CONVÍVIO DO DESTACAMENTO N.º 13, DE FUZILEIROS ESPECIAIS Os elementos que constituíram o DFE, N.º 13, da Guiné, com o seu ilustre Comandante, na visita à Escola de Fuzileiros Do ilustre associado, CMG FZE VASCO BRAZÃO, dirigida à Direcção da Associação de Fuzileiros, solicitando a publicação no Desembarque, chegou-nos a seguinte comunicação: “Em nome do Comandante, Oficiais, Sargentos e Praças que constituíram o DFE nº13, manifesto o nosso reconhecimento e agradecimento pelo amigo acolhimento, disponibilidade e elevada qualidade no apoio que a Associação de Fuzileiros prestou, tendo proporcionado excelentes condições para a nossa confraternização, no passado dia 19 de Abril”. Com efeito, na data antes referida, reuniram-se, uma vez mais, os elementos que constituíram aquela Unidade – que esteve na Guiné entre 1968 e 1970 – acompanhados pelas respectivas famílias, para come- 21 EVENTOS moração dos 40 anos da chegada àquela ex-província ultramarina. O encontro iniciou-se na Escola de Fuzileiros, sendo os presentes afectuosamente recebidos pelo respectivo Comandante, CMG António Ruivo, que os acompanhou nas diversas e habituais cerimónias solenes, bem como às visitas ao Museu do Fuzileiro. Dirigiram-se, seguidamente, para a sede da Associação de Fuzileiros, no Barreiro, em cujo restaurante teve lugar o almoço de confraternização, sobre o qual desejam manifestar e realçar, uma vez mais, a agradável surpresa pelo “excelente acolhimento e apoio por parte da respectiva Direcção”. Na ocasião, o Exmo. Comandante do DFE -13, Almirante Vieira Matias, dirigindose aos presentes, vincou a vontade de todos de bem cumprir a missão, referindo: “passamos juntos sacrifícios imensos, vivemos as mesmas ansiedades e saboreámos as vitórias que a nossa abnegação, coragem e sentido do dever nos levaram a alcançar. Nos momentos difíceis caldeámos o respeito mútuo e solidificámos uma amizade que não conhece postos nem limites temporais”. O DFE-13 desempenhou intensa actividade operacional, com excelentes resultados, dos quais se realça a maior captura de armamento, feita de uma só vez, na guerra do ultramar, dando azo a que, no final da comissão, no louvor atribuído pelo Comandante Chefe das Forças Armadas da Guiné, entre outras referências elogiosas e destacando a intensa actividade da Unidade, fosse referido: “o dever de justiça de louvar o DFE-13, verdadeira Unidade de elite, que de forma tão brilhante soube prestigiar na Guiné as notáveis tradições da Marinha e das Forças Armadas Portuguesas”. A Direcção da Associação agradece, comovidamente, a gentileza e referências elogiosas, fazendo delas um incentivo e um refinado desejo para fazer cada vez mais e melhor. Ilídio Neves JURAMENTO DE BANDEIRA Decorreu, com a solenidade e brilho habituais, no passado dia 02 de Maio de 2008, na Escola de Fuzileiros, em Vale de Zebro, mais uma cerimónia de Juramento de Bandeira, do CFBP FZ RC – 2ª Ed. 2008. Presidiu a este emotivo acontecimento Sua Ex.ª O Superintendente dos Serviços de Material, Vice-Almirante Conde Baguinho, acompanhado na Tribuna de Honra por diversos Oficiais Generais, entre os quais o Exmo. Comandante do Corpo de Fuzileiros, Contra-Almirante Carvalho Abreu, e Oficiais superiores da Armada, bem como de diversas individualidades, civis e militares. Mais uma vez, o rigor, a disciplina e o aprumo, daqueles jovens formandos, apesar do reduzido tempo de preparação, faziam transbordar de orgulho todos os presentes, especialmente muitos familiares dos novos Fuzileiros, que com eles quiseram compartilhar as emoções e a alegria de um dia inesquecível. Parabéns à Escola e ao Corpo Docente, que uma vez mais deu sentido e beleza à sua máxima: “Gloria Docentium Victoria Discentium”! Ilídio Neves CMDT. PASCOAL RODRIGUES Por iniciativa do Mário Manso e do “A l m a d a ” , dando azo a uma relação de grande afecto e muita admiração, o Comandante Pascoal Rodrigues, visitou, no passado dia 08 de Abril, as instalações da sede da Associação de Fuzileiros. A receber tão ilustre Fuzileiro, encontravamse o Presidente cessante da Direcção, CMG Manuel Mateus, e o Presidente eleito, DR. Ilídio Neves, que, na oportunidade, agradeceram a honrosa visita e lhe demonstraram quão regozijados se sentiam por ela ter acontecido. Para além das palavras de boas vindas e da exibição de todos os locais, especialmente aqueles que haviam sido alvo das recentes alterações, foi-lhe atribuído um distintivo de lapela em ouro da Associação de Fuzileiros, para a qual fizeram questão de contribuir os diligentes camaradas supra referidos, Mário Manso e “Almada”. O nosso estimado Comandante, pioneiro dos actuais Fuzileiros, que se encontra radicado no Brasil há muitos anos, demonstrou, com emoção, a sua alegria e grande satisfação, por se encontrar numa magnífica “Casa”, que também é sua, e pela forma respeitosa, amiga e afável com que foi (e será sempre) recebido. Todos os Fuzos que ali se encontravam se sentiram orgulhosos e honrados com a sua presença, despedindo-se com amizade e um sentido “Volte sempre”. Ilídio Neves 22 EVENTOS JUROMENHA No passado dia 07 de Junho, a simpática e histórica vila de Juromenha viveu mais um grande acontecimento festivo, em cujo programa se incluiu o convívio anual de Fuzileiros, promovido pelo Núcleo local, que integra um dinâmico grupo de jovens Fuzos, liderados com brilhantismo e exemplar empenhamento pelo Licínio Morgado, com o apoio e permanente disponibilidade de outro estimado “Filho da Escola”, o Paulo Infante, que exerce as funções de Presidente da Junta de Freguesia. Este evento, pela simpatia e acolhimento afectuoso dos seus membros, aliado à beleA observação da deslumbrante paisagem Demonstração de rappel za e encanto de uma paisagem invulgar, transbordante de história e mistério, constitui já uma meta auspiciosa, no roteiro dinamizador e revitalizador da Associação de Fuzileiros. Uma ilustre e numerosa representação da Instituição, esteve presente, numa autêntica crepitação do fulgor do espírito, contribuindo, de certa maneira, para o brilho das festas, através da exibição de algumas ousadas modalidades desportivas, com grande significado para os Fuzileiros, como sejam o Rappel. O Presidente da Direcção, por inultrapassáveis razões de saúde, não pôde estar presente, mas juntou-se espiritualmente a todos os camaradas e seus familiares, enviando-lhes uma emocionada mensagem, que foi transmitida no momento em que decorria o pantagruélico almoço, num restaurante da localidade. Estão, pois, de parabéns estes briosos Fuzos de Juromenha, pelo seu belo exemplo e inexcedível dedicação. Ilídio Neves ASSOCIAÇÃO DE SARGENTOS DO FEIJÓ A Delegação do Feijó do Clube de Sargentos da Armada, comemorou no passado dia 05 de Maio, o seu 24º aniversário. A cerimónia decorreu nas suas magníficas instalações, onde, fazendo parte do evento, se encontrava exposta uma distinta colecção de pintura, com belíssimos quadros do consagrado pintor Arlindo Mateus, também ele associado do Clube. Os responsáveis desta Delegação, superiormente coordenada pelo sócio Carlos Simões, têm-se esmerado no brilho e dignificação do evento, não faltando a componente musical, na qual se integram as vozes bonitas e maravilhosamente enquadradas do excelente Grupo Polifónico do Clube de Sargentos da Armada. À sessão solene compareceram representantes de diversas instituições e colectividades, sendo a Associação de Fuzileiros representada pelo seu Presidente, Dr. Ilídio Neves, que, na oportunidade, felicitou os dirigentes da ANS e cumprimentou todos os presentes. 23 EVENTOS ENCONTRO DO DESTACAMENTO DE FUZILEIROS ESPECIAIS Nº 6 “Os Tubarões” - ANGOLA 1973/75 Passado um pouco mais de 34 anos após a partida do DFE6 para Angola, e à semelhança de vários outros Destacamentos, um grupo de entusiastas organizou e levou a cabo um encontro dos elementos que constituíram essa Unidade, associandose ainda vários familiares. O encontro, realizado, quiçá, no lugar mais emblemático para os camaradas que serviram no DFE6, teve lugar na Escola de Fuzileiros e contou com 30 elementos que pertenceram ao DFE6 e mais 38 familiares que se juntaram para abrilhantar o convívio. A concentração, iniciada pelas 10 horas do dia 10 de Maio transacto, ia acontecendo com apertados e fraternos abraços entre os camaradas que chegavam e os que já se en- contravam na EF. Embora a aparência física seja mais pesada e madura não foram esquecidos os maus, e particularmente os bons, momentos que no Leste de Angola fizeram criar laços de amizade, consideração e respeito, para a vida entre todos os que lá estiveram. Pelas 10.45 horas foi celebrada uma missa pelo capelão Licínio Silva por intenção dos camaradas já falecidos. Às 11.30 foram homenageados os fuzileiros do DFE6 já falecidos com deposição de uma coroa de flores junto do Monumento do Fuzileiro. Pelas 12.00 horas foi efectuada uma visita ao museu do Fuzileiro. Por fim foi o animado almoço que para lá de repor os índices de energias perdidas foi aproveitado para ver alguns slides dos lugares e gente que nos anos 73/74 circulavam por terras do Leste de Angola. Este texto, resulta do empenho do Senhor CMG António Ruivo e Sarg Mor Moura FUZOS DE TOMAR Promovido pelo Núcleo de Fuzileiros, “Os Templários”, de Tomar, realizou-se o 12º Encontro destes briosos camaradas, que decorreu num belo empreendimento de restauração, na Quinta das Azinheiras, nas proximidades da cidade nabantina, onde estiveram presentes cerca de 130 pessoas. Este evento anual, tornou-se já uma salutar tradição, com o empenhamento e a eficácia do Corte Real, do Narciso e outros abnegados “Filhos da Escola”. À semelhança de anos anteriores, esteve presente o nosso ilustre Presidente da Mesa da Assembleia Geral, Almirante Leiria Pinto, que, na oportunidade, proferiu algumas palavras de agradecimento e incentivo, que, como sempre, foram escutadas pelos convivas com grande satisfação, estimulando-lhes os sublimes sentimentos do afecto e do orgulho. Também esteve presente, proferindo igualmente algumas palavras alusivas ao momento, o Exmo. Comandante da Escola de Fuzileiros, CMG António Ruivo, das quais emanaram, causando forte emoção, os sentimentos maternos da “Casa-Mãe”. Em representação da Associação de Fuzileiros, esteve presente o mui respeitável membro da Direcção, Sarg-Mor Egas Soares, que, em nome desta nossa Instituição, enalteceu e agradeceu o exemplar empenhamento e estimulante devoção destes afeiçoados “Fuzos” dos Templários. Ilídio Neves 24 EVENTOS ALCACHE Num magnífico restaurante, na Volta da Pedra, junto a Palmela, desfrutando de uma paisagem maravilhosa sobre a exuberante planície circundante, comemorou-se, no passado dia 17 de Julho, mais um aniversário da Associação de Ex-Marinheiros do Distrito de Setúbal – O ALCACHE -, que reuniu, em ambiente de grande alegria e amizade, um grande número de associados, seus familiares e amigos, com especial destaque para a sempre agradável componente feminina, que com o seu sorriso e boa disposição, traz sempre um brilho e um encanto especiais aos eventos desta natureza, dando significado e conteúdo à velha máxima, de que “os marinheiros tinham sempre uma namorada à espera em cada porto”. A ementa foi rica e abundante, onde, como a condizer, não faltava o marisco, em quantidade e abundância. Foi mais uma excelente oportunidade para se reverem e confraternizarem amigos e camaradas de longa data, revivendo momentos marcantes e recordando episódios fantásticos, passados, em circunstâncias especiais, em diversos recantos do mundo ou sobre as agitadas ondas do mar. Mas também, entre esta grande família de marinheiros, se encontrava um grande número de Fuzos, que igualmente fazem parte da Associação de Fuzileiros, entre eles o seu Presidente e outros memO momento das distinções bros da Direcção. No decorrer do convívio, foi apresenta- da Assembleia-geral, Sr. Guilherme Cabral, do, pela primeira vez, numa magnífica inter- fizeram, gentilmente, a oferta do primeiro CD pretação, em duas versões, cantada e ins- ao Presidente da Direcção da Associação de trumental, registadas em CD, o hino do Fuzileiros, Dr. Ilídio Neves, que, muito recoAlcache, uma melodia comovente e empol- nhecidamente, lhes agradeceu e retribuiu gante, carregada de sentimento, que enche com a oferta de um livro, “Fuzileiros – Força de orgulho e prazer o ouvinte mais desen- de Elite”. tendido e distraído em matéria musical. Parabéns, pois, a toda a família do O Presidente da Direcção do Alcache, Alcache, e um agradecimento sentido a toda Eng.º José Colaço, e o Presidente da Mesa a sua Direcção, pela hospitalidade e excelente organização. Ilídio Neves/Mário Manso CONVÍVIO DA COMP. Nº. 7 DE FUZILEIROS Na data há muito marcada – 03MAI2008 e antes mesmo da hora prevista – 11H00M, já praticamente todos os convivas tinham chegado ao local da concentração: Estátua do Anjo, junto à ponte de Entre-os-Rios, em Castelo de Paiva. Ia decorrer o 11º. Encontro Anual dos elementos que constituíram a Companhia nº. 7 de Fuzileiros, destacada para Angola nos longínquos anos de 1970/ 1972. Entre abraços e perguntas, as memórias do passado Os convivas numa pose para a posteridade reavivam-se e dão lugar a conversas e relatos de episódios já tantas vezes repetidos. Apresentam-se os familiares e acompanhantes que não quiseram ficar em casa. Também eles se identificam com o espírito de sã camaradagem que se vive nestes Encontros e vão aparecendo cada vez em maior número. É chegada a hora do almoço, servido no Restaurante do Hotel S. Pedro mas a alegria do reencontro é tanta que nem a ementa trava os sucessivos diálogos. Fazem-se perguntas so- 25 EVENTOS bre os ausentes procurando saber se estão de boa saúde, se foram contactados e das razões que os terão impedido de estarem presentes. Relatam-se episódios passados, fala-se de Luanda, da Pedra do Feitiço, da Quissanga, de Santo António do Zaire; falase de botes e de lanchas, de tudo um pouco como se o passado fosse presente. Fala-se dos que partiram e de quem nunca nos esqueceremos. Lamentavelmente o tempo não pára e é chegada a hora do regresso. Voltam os abraços acompanhados de promessas de que para o ano ninguém faltará ao Encontro; fazem-se votos de muita saúde e deseja-se uma viagem de regresso tranquila. Assim termina mais um encontro, mais um convívio que se repetirá, ano após ano enquanto estes Homens viverem, porque neles vive o espírito de Fuzileiro e a estas chamadas outra resposta não sabem dar que não seja gritar: “PRESENTE” Silva Mendes 2º. Ten.FZE RN COMP. N.º 10 GUINÉ Reuniu, em agradável convívio, no passado dia 10 de Maio, uma grande parte dos Fuzos, cerca de 70, que constituíram a Companhia nº 10 de Fuzileiros, que esteve na Guiné de 1969 a 1971. Esteve presente o seu ilustre imediato, Comte. Monteiro dos Santos, como vem sendo habitual, bem como muitos dos seus elementos mais emblemáticos, como seja, o Caldeira (Algarvio), o “Bonanza” e os designados “Putos” da Companhia, o Boinha, o Miguel e o Adriano, este que é, actualmente, o carismático Presidente do Núcleo do Porto, da Associação de Fuzileiros. Com a felicidade estampada nos rostos, estes estimados camaradas, que se auto-consideram membros de uma das Unidades mais unidas e, por isso, também das mais castigadas durante a guerra, deixaram já aprazado o próximo reencontro, que assinalará o 40º aniversário da partida para aquela ex-província ultramarina. Ilídio Neves Destaque para o “Bonanza” e “Cia” COMP. N.º 6 MOÇAMBIQUE No passado dia 02 de Agosto, os Fuzileiros que fizeram parte da companhia nº 6, que esteve em Moçambique e foi comandada pelo nosso estimado comandante Patrício, reuniram, com os respectivos familiares, atingindo um número superior a 115 pessoas, num agradável convívio comemorativo, para matar saudades, rever e abraçar amigos e camaradas, saboreando um requintado almoço, no magnífico restaurante “A Furna”, em Barcelos, em pleno coração do Alto-Minho. Para além da alegria do reencontro de muitos, num autêntico despertar de velhas amizades, carregadas de afectos e sentimen- A alegria e a felicidade eram evidentes tos, acrescia o facto de as excelentes especialidades gastronómicas serem da responsabilidade do proprietário deste belo empre- endimento de restauração, também ele um Fuzileiro, o Pinto, nosso prezado associado, que recebeu os convivas com grande carinho e satisfação. Como curiosidade, salienta-se que, pela primeira vez, estiveram presentes dois camaradas que, desde há muito tempo, residem no estrangeiro, o “Coimbra”e o “Nobre”, cujas felicidade e emoção, evidenciadas nos seus rostos, constituía um precioso estímulo e um incentivo para quantos se esforçam e se disponibilizam para a organização destes encontros. Esteve igualmente presente, para satisfação de todos, o ex-grumete Fuzileiro, hoje 26 EVENTOS um prestigiado médico, o Dr. David Carvalho, que havia sido alertado para o evento pelo Mário Manso. Qual não foi a sua surpresa e impacto emocional, quando ali foi reencontrar dois camaradas que com ele haviam es- tado numa comissão de serviço, na Guiné, sendo um deles, para afecção maior, o seu chefe de equipa, naquela inesquecível missão. A salutar irreverência e permanente jovialidade do Comandante Patrício, deu, como sempre, uma tonalidade regozijante a este fraternal convívio, cuja repetição se ficará a aguardar, com ansiedade. Ilídio Neves/Mário Manso DEST. N.º 6/COMP. N.º 10 Mantendo a tradição, de alguns anos a esta parte, reuniramse, uma vez mais, em convívio fraterno, no dia 17 de Maio, os elementos que integraram o Destacamento nº 6 e a Companhia nº10 de Fuzileiros, em Angola. O evento decorreu, em ambiente de grande alegria e amizade, no salão/restaurante da Associação de Fuzileiros, estando presente, como sempre, o Comandante das duas Unidades, o Exmo. CMG Rui Corte Real Negrão, bem como um dos seus ilustres oficiais, o TEN. Dr. Paulo Lowes Marques, distinto advogado e ex- Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, os quais, na oportunidade, proferiram breves alocuções, relativas ao acontecimento, manifestando a sua satisfação e À mesa, em animada convivência orgulho por se encontrarem de novo reunidos, agora na companhia das respectivas famílias, muitos dos que, num período muito especial das suas vidas, compartilharam momentos marcantes e indeléveis, na defe- sa da Pátria, nas longínquas e remotas terras do ultramar. Também o Presidente da Direcção da Associação de Fuzileiros, Dr. Ilídio Neves, que fez parte de uma destas Unidades, manifestou a sua gratidão e profunda satisfação em receber na nossa Sede todos os presentes, os camaradas e amigos muito especiais, com os quais vivenciou a parte mais emocionante e inesquecível da juventude. Também o Mário Manso, que fez parte das duas Unidades, manifestou a sua alegria e incontido orgulho, dando azo à inspiração, através dos seus reconhecidos dotes poéticos. Findo o convívio, todos se retiraram felizes, na esperança de, no próximo ano, ali se reunirem de novo. DEST. N.º 5 MOÇAMBIQUE Reunião do grupo junto ao Monumento do Fuzileiro No Sábado, 29 de Março de 2008, realizou-se mais um encontro anual do DFE5. Às dez horas, concentraram-se na Escola de Fuzileiros, 27 elementos do Destacamento, dois dos quais pela primeira vez, juntamente com outros tantos familiares e amigos. Depois da cerimónia militar, junto ao Monumento aos Fuzileiros mortos, o Comandante da Unidade CMG Luís Filipe Vidigal Aragão, depositou uma coroa de flores. Na capela da Escola, foi celebrada uma Missa por alma dos onze camaradas já falecidos. Seguiuse uma visita ao Museu, no final da qual se constitui uma caravana automóvel em direcção a Benavente, onde, no Restaurante Fandango, se realizou um animado almoço de confraternização, que se prolongou pela tarde fora. Joaquim Villas-Boas NÚCLEO DO PORTO 27 SARDINHADA E S. JOÃO 2008 Como já é tradição, o Núcleo de Fuzileiros do Porto, realizou a sardinhada de S. João, no passado dia 14 de Junho de 2008, na sua sede anexa ao Farol da Boa Nova, em Leça da Palmeira. Ao evento compareceram dezenas de Fuzileiros, muitos deles acompanhados pelas respectivas famílias. No repasto, não faltaram as sardinhas, pescadas e oferecidas pelo “Filho da Escola” Torrão e pelos nossos amigos pescadores da Afurada, os pimentos, as feveras e o entrecosto, tudo regado por um belo vinho e cerveja. Como também já é habitual, a boa disposição, o convívio e a camaradagem evidenciada pelas várias gerações de Fuzileiros, não faltou a este evento. Fica já feita a promessa de, para o ano, se repetir esta festa. 7º ENCONTRO NACIONAL Realizou-se no dia 5 de Julho, na Escola de Fuzileiros, o 7º Encontro Nacional de Fuzileiros. Como já é habitual, o Núcleo de Fuzileiros do Porto, fretou um autocarro para os Filhos da Escola que lá se quiseram deslocar. Como também parece ser tradição, aconteceu mais uma peripécia com o autocarro que nos transportou, tendo o mesmo avariado no nó dos Carvalhos. Após a paragem forçada, que se prolongou por mais de uma hora, o problema foi resolvido e, logo de seguida, as tropas embarcaram em direcção ao seu objectivo, a Escola de Fuzileiros. Depois da chegada, começou o convívio com os camaradas que já não víamos há algum tempo, com os elementos deste Núcleo a assistir às exibições de pára-quedistas e de equipas cinotécnicas dos Fuzileiros, e participado na cerimónia de homenagem aos Fuzileiros mortos ao serviço da Pátria. Após o almoço convívio, seguiram-se as actividades náuticas, com passeios no rio, a bordo dos Larc e dos Zebros da UMD. Depois de mais algumas horas de convívio com antigos camaradas, seguiu-se a viagem de regresso à Invicta, com uma pequena paragem na Mealhada para que os amantes da iguaria regional degustassem o afamado pitéu. Para o ano, faremos questão de estar, uma vez mais, no 8º Encontro Nacional de Fuzileiros! 28 NÚCLEO DO PORTO TOMADA DE POSSE No dia 19 de Abril de 2008, tomou posse a Direcção eleita no acto eleitoral do dia 5 de Abril de 2008. O acto de posse decorreu antes do almoço comemorativo do 6º aniversário do Núcleo de Fuzileiros do Porto. A cerimónia foi Presidida pelo Presidente da Associação de Fuzileiros, Dr. Ilidio Neves Luis. Tomaram posse os seguintes elementos: Presidente - Adriano Brandão Soares da Costa, sócio nº 972 Tesoureiro - Miguel Henrique Martinho Magalhães dos Reis, sócio nº 934 Secretário - Vitor Miguel da Graça Rocha Ribeiro, sócio nº 912 Vogal - Carlos Fernando Teixeira Coelho, sócio nº 879 Vogal - Pedro Miguel Rodrigues Alves Pereira, Sócio nº 1229 No acto de posse ANIVERSÁRIO Apesar do dia chuvoso, dificilmente poderia ter decorrido melhor o 6º aniversário do Núcleo de Fuzileiros do Porto. Douro; o Ex.mo Sr. Dr. Ilídio Neves, Presidente da Associação de Fuzileiros e o Ex.mo Sr. Comandante Moniz, Presidente do Conselho Fiscal da Associação de Fuzileiros. Tivemos também o grato prazer de receber vários amigos dos Corpos Sociais da Associação de Fuzileiros que, nesta data, fizeram questão de estar entre nós. Agradecemos a comparência de todos. O Presidente da Direcção da Ass. de Fuzileiros proferindo algumas Antes de iniciado o palavras repasto, foi dada posse Às largas dezenas de filhos da Escola à nova Direcção do Núcleo do Porto, pelo que compareceram ao evento, tivemos tam- Sr. Presidente da Direcção da Associação bém o prazer de ter entre nós o Exmo, Se- de Fuzileiros. nhor Comandante Vargas de Matos, ComanO almoço foi muito bem servido, tendo dante da Zona Marítima do Norte e a repre- deixado satisfeitos todos os presentes. A sentar o Exmo. Comandante Naval; o Exmo. comida estava boa, o vinho era bom e o Comandante Moreira, Chefe do Estado mai- pessoal foi espectacular. or do Corpo de Fuzileiros; o Exmo. ComanPara substituir a “cereja” (que nunca falta dante Miranda de Castro, da Capitania do no cimo de um belo bolo), foi oferecido um brinde que a todos encantou: uma medalha com o símbolo do Núcleo do Porto e respectiva volta, em prata. Agradecemos ao amigo Neves, a ideia e a execução desta obra magnifica. Ao final da tarde, uma dezena de sócios fizeram questão de passar pela sede do Núcleo, o que veio a acontecer. Lá se beberam umas cervejas, acabando por se seguir o jantar. A pedido de vários presentes, o Pereira cantou o fado. Após ter interpretado alguns temas, fomos agradavelmente surpreendidos: o Sr. Comandante Miranda de Castro demonstrou também os seus dotes de fadista, o que nos surpreendeu agradavelmente. Então não é que o Sr. Comandante tem uma voz excepcional para o fado! Obrigado Sr. Comandante, por nos ter presenteado com a sua presença e com os números que interpretou. Está na “forja”: vamos ter que organizar uma noite de fado, na sede do Núcleo e a presença do Sr. Com. Miranda de Castro é fundamental. Foi um dia para lembrar. INFORMAÇÃO CONVÍVIOS Realizam-se todos os sábados, na sede do Núcleo de Fuzileiros do Porto, almoços/jantares convívio. Os repastos são sempre confeccionados pelo cozinheiro de serviço do Núcleo, o Pereira. Os interessados em participar deverão contactar o Núcleo, com alguma antecedência, dado que o número de participantes é limitado. Tem-se realizado alguns convívios de Companhias e Destacamentos de Fuzileiros no Distrito do Porto, sendo o ponto de encontro a sede do Núcleo de Fuzileiros do Porto. Os interessados em fazer o encontro na sede deste Núcleo, deverão contactar a sua Direcção através do endereço: [email protected] 29 VOZ DOS ASSOCIADOS UM EPISÓDIO EM ÁFRICA O exemplo e o espírito dos Fuzileiros acompanhou-me sempre. Como português e como marinheiro, apesar de não ter a honra de ter usado a boina azul ferrete, sempre encontrei em mim próprio empatia que bastasse, para interiorizar o conteúdo profundo da frase “Fuzileiro uma vez, Fuzileiro para sempre”. E nas horas em que as dificuldades da vida e as provações mais se acumularam, socorri-me muitas vezes da lembrança dessa grande referência que são os Fuzileiros, tanto pelos seus inexcedíveis sacrifícios, sobretudo aqueles que foram vividos em plena guerra, como pelas suas notáveis capacidades. Foi com este espírito, que fui protagonista em Escravos na Nigéria, localizado em pleno Golfo de Benin, na parte ocidental do delta do Niger, de um episódio recente e particularmente marcante, a cujo relato vale a pena começar por acrescentar alguns detalhes da nossa história. A presença dos nossos antepassados quinhentistas na Nigéria, é ainda hoje evidente pela proliferação de muitos nomes portugueses ao longo da costa. Entre estes, encontramos Escravos que é na actualidade o nome de um importante porto petrolífero onde os grandes petroleiros carregam ramas amarrados a bóias ao largo, a cerca de doze milhas da linha de costa, para destinos diversos, com grande predominância dos Estados Unidos e da Europa. Toda a complexa instalação que ali existe, tanto em terra como ao largo, está a cargo da poderosa petrolífera norte americana “Chevron” que ali mantém um autêntico “enclave” que dispõe inclusivamente de uma pista de aviação, e onde se agrupam meios humanos, técnicos e materiais sob rigorosas condições de segurança. Mas ali bem perto, existem outras localidades e rios, que conservam os nomes que os portugueses lhes deram. É Duarte Pacheco Pereira, na sua notabilíssima obra “Esmeraldo de Situ Orbis”, quem explica a fundamentação de todos estes nomes, ao mesmo tempo que caracteriza toda a morfologia dos lugares que lhes correspondem, em descrições impressionantes, exaustivas e arrebatadoras: “Hum rio que tem a boca hasaz grande, a que nós chamamos o rio dos Escravos, o qual nome lhe foy posto quando o descobriram, por causa de dous escravos que se entam aly resguartáram. (...) e este luguar he muito perigoso, e qualquer homem sesudo se deue d’aquy guardar”. Duarte Pacheco Pereira nasceu em Lisboa por volta de 1460. Foi um admirável navegador, cosmógrafo, homem de armas, presumindo-se que tenha inclusivamente pertencido à guarda pessoal de El-Rei D. João II, e um excepcional roteirista. De tal sorte que ainda hoje as suas descrições sobre a África e suas características gerais, deixam transparecer uma admirável quantidade de informação que poderia ser utilizada como base de trabalho, se porventura imaginássemos que não dispúnhamos de outras fontes de conhecimento. A Marinha Portuguesa teve ao seu serviço uma fragata, a “Pacheco Pereira” (F337), cujo nome lhe foi atribuído em homenagem a este grande Português. Aquele elegante e leal navio de guerra, desempenhou numerosas missões durante a guerra do Ultramar designadamente em Angola, tendo desembarcado Fuzileiros em muitas destas. Ora, sendo eu na altura comandante de um navio-tanque petroleiro, o “M/T Genmar George T”, recebi instruções para seguir para Escravos na Nigéria, onde deveria car- regar cerca de um milhão de barris de “Escravos Crude Oil”, cerca de 130.000 toneladas, com destino aos Estados Unidos. O prazo de carga era porém alargado ou seja, as operações de carga deveriam iniciar-se cinco dias depois da chegada do navio a Escravos, o que obrigaria à permanência por demasiados dias e noites naquela área que, tal como todo o delta do Niger se encontra nos dias de hoje infestado por ameaças múltiplas, entre as quais a pirataria. Segundo o jornal espanhol “El Mundo”, edição de 28 de Abril de 2008, na Somália, por exemplo, cada pirata pode “ganhar” anualmente entre os 10.000 e os 30.000 dólares. Corriase ali pois o risco de um encontro indesejável. Por outro lado, a hipótese de se navegar para o largo após a chegada, de modo a que se garantisse uma razoável distância de segurança, geralmente não inferior a 200 milhas, não era porém viável uma vez que não estava excluída a possibilidade de eu ainda poder receber instruções, em qualquer momento e com muito pouca margem de tempo, para aceitar a antecipação do prazo de carga, e iniciar de imediato as operações. Restava-me pois pairar mais perto, embora fora dos limites do porto como fora acordado com as autoridades locais, e assumir os riscos acrescidos, como parte integrante daquela missão, antecipando planos adicionais de protecção do navio e da tripulação, em caso de vir a concretizar-se alguma ameaça, porque havia a noção clara de que se corria um risco real e praticamente inevitável. Na última noite que foi passada naquelas condições, foi detectado nos radares, cerca das 2100 horas do dia 06 de Abril passado, um pequeno eco em aproximação, que se movimentada a rumos e a velocida- 30 VOZ DOS ASSOCIADOS des variáveis. A presumível embarcação navegava em ocultação de luzes, ao mesmo tempo que a iluminação do nosso próprio navio entrava em conflito com a eficácia dos meios de visão nocturna. Estava uma noite lua nova e as estrelas empoalhadas do Golfo da Guiné não deixavam escapar mais do que uma tímida luz cidérea, não havia vento e o mar estava estanhado. Mas o pior, era o peso inquietante daquele silêncio ameaçador, que não obstante me permitia antever claramente que íamos ser atacados. Mal se estabeleceu contacto visual pelos sectores da popa, ordenei que arrancasse a máquina principal, de onde resultou que a embarcação em aproximação pela popa se viu confrontada com o perigoso efeito do hélice, levando os seus ocupantes a abrir fogo de AK-47 e de “shot-gun”, enquanto no navio soava ruidosamente o alarme geral, se impedia a abordagem, se punham em acção alguns planos previamente treinados, se evitavam os ângulos de tiro inimigos e se temia o even- tual disparo de algum RPG, que não aconteceu. Foi com alegria e com algum alívio que vimos aquele inimigo finalmente desistir, ao cabo de alguns longos minutos de insucessos, e afastar-se a uma velocidade de cerca de 32 nós. Não deixou danos visíveis nem feridos. Durante a manhã seguinte encontrei apenas alguns projécteis e componentes das munições das armas utilizadas, caídos no convés, o que me levou a concluir que a maioria dos disparos tinha sido para o ar, numa derradeira e inútil tentativa de conseguirem a minha rendição. Mas restava ainda impedir que ao longo daquela noite um segundo e eventualmente melhor elaborado ataque pudesse ainda ocorrer, e garantir a segurança durante as operações de carga no dia seguinte, o que consegui com alguma boa ajuda exterior armada, com a colaboração do Terminal que me assegurou um perímetro de segurança, mas onde não obstante, não se incluía nenhum meio disponibilizado pelas autoridades nigerianas, apesar de estas terem sido notificadas desde os primeiros momentos. Mais desafortunadamente e em condições certamente menos defensáveis, no dia 15 de Maio, tomei conhecimento da captura, também no delta do Niger, de um outro português feito refém, o comandante Pimenta Soares, que ali comandava um navio de apoio às instalações petrolíferas. Segundo a edição do Jornal de Notícias naquela data, o resgate exigido pelos sequestradores, ascendia a 164 mil euros... Evitou-se porém o pior apesar de tudo. Certamente que a ajuda Divina também esteve connosco. E eu, português, senti ali um pouco da presença dos nossos Maiores. Mas se a esse sentimento tivesse que ser atribuída uma cor, essa seria certamente o azul ferrete. António Carlos Ribeiro Santos Sócio simpatizante nº 1053 31 VOZ DOS ASSOCIADOS PROSA ABSTRACTA Quanto eu gostava de saber escrever ou dizer, sem daí se entender, que alguém quero atingir ou comprometer! Sei que não é fácil transmitir o que nos vai na alma, sem que alguém perca por vezes, a serenidade e a calma. Mas sendo algum escrito menos erudito, de quem não tem academia, não deixa de aparecer o rabo de um qualquer gato que, sem ser pisado, seu dono mia, coisa que não se pretendia. Como diz o ditado, “só não se sente quem não é filho de boa gente”, mas, para tanto, não basta querer ser vidente, para que na sua mente, algo se reflicta, como um espelho que se tem em frente. Ninguém é perfeito, e também eu, tenho esse direito, mas há tanta gente com esse defeito! Só por si, o saber, o querer e o exercer, ter o mando ou o comando, nem sempre consegue subverter, o que o outro disse ou quis dizer. Ou seja, que em tudo se veja apenas o mal que se deseja. Não sei a que propósito estou com esta teoria, mas só que alguém se ria, já valeu a pena, tentar construir esta cena. “triste, trágica, cómica ou séria, ficará ao critério de cada um” A Pátria necessitou, e muito jovem como eu se alistou. Não tivemos posses nem tempo para estudar, e foi muito cedo que nos ensinaram a matar. Dei e levei! … . Enquanto no activo, penso só ter arranjado amigos. Agora, numa contenda sem armas, não me satisfaz ter inimigos, mais ou menos inconsequentes, porque, como se usa dizer, todos iguais todos diferentes. Nunca deixei, nem deixarei mal a Armada enquanto Fuzileiro, porque também do seu património sou obreiro. Nem quero sequer pensar, depois de certa maledicência, que me tornei num demónio, mas vão aparecendo alguns resquícios que tornam o facto notório. Será que me terei de abster de escrever, só porque alguém não quer entender, o que se quer dizer, julgando apenas que os estão a ofender? Não se pode impedir que haja quem, em certa medida, se veja retratado, mesmo que tudo lhe passe ao lado, mas às vezes, até fico pasmado por demasiado. A Associação de Fuzileiros não é agremiação política, religiosa ou clubista, mas, apenas e só, uma Instituição onde se agrupam pessoas de bem, que mais não querem do que projectar e valorizar o bomnome da Marinha e dos seus Fuzileiros. Sinto-me contente por ela ser diferente, ter estatuto, património e pernas para andar em frente, sem menosprezar ou ofender alguém, qualquer que seja a patente. Como se costuma dizer: não somos melhores, nem piores, apenas somos diferentes, mas nunca indiferentes! Mas tentar mover influências, através de mensagens destorcidas e codificadas, é um presente envenenado com manifesta maldade, é falácia que desrespeita a verdade! Não querer que o Desembarque seja um órgão de liberdade e de igualdade, desprovido de falsidade, é sustentar uma visão distorcida do presente, do futuro e, sobretudo, do passado, o que, de cabeças bemintencionadas, é assunto definitivamente encerrado, o que me apraz muito, registar. Saudações anfíbias para todos: os velhos, os novos e os que hão-de vir. Mário Manso 32 FUZO-POESIA APOLOGIA DA INFÂNCIA Ex-Fuzileiro Jordão Luxemburgo Naquela infância que não esqueço, Embora muito singela, Sendo a miséria o meu berço, Deixo-me embalar por ela. Infância eu vivo pensando, Que foges p’ra me não ver, Afinal, tu vais ficando, E eu é que fujo sem qu’rer. Infância não te esqueci, Embora fosses madrasta, E quanto mais pensar em ti, Mais a saudade me gasta. Talvez seja porque agora, Vendo a idade avançar, Tu, infância vais ficar, E eu tenho que me ir embora. Infância que tens feitiço, P’rá ‘queles que em ti viveram, Mas mesmo os que em ti sofreram, Nunca te esqueçem por isso. Saudade da infância é vida? Não perguntes a ninguém. D’uma infância bem vivída, Saudades, quem as não tem? Infância como és ‘squesita,1 Para aquele que em ti viveu, Para aquele que em ti medita, Ou foste inferno, ou foste céu. E d’uma infância mal vivida, Ás vezes quanta saudade, Quando se avança na idade, E se chega ao fim da vida. Infância, infância, onde estás? Não ouves ? – Estou-te a chamar! Não fujas volta para trás, Não te posso acompanhar. Vive a vida com fragrância, Se o não fizeres, é toliçe. Se não viveste na infância, Tenta viver na velhiçe. NÚCLEO DO PORTO DA ASSOCIAÇÃO DE FUZILEIROS RUA CORONEL HELDER RIBEIRO (ANEXO AO FAROL DA BOA NOVA) 4450-686 LEÇA DA PALMEIRA SITE: www.nucleofuzileirosporto.org SALPICOS DE VIDA 33 DECORRIA O ANO DE 1966... Esta rubrica, como certamente todos comfinal, mais um inimigo se estatela perante nós – a preenderão, tem, na sua essência, um propósito Coreia do Norte – que humilhamos com 5 – 3, desentimental e pretende, acima de tudo, trazer à pois de estarmos a perder por 0 – 3. actualidade factos ou acontecimentos que, em Por isso, por que diabo tínhamos que nos subdeterminado momento, penetraram e se acomometer às resoluções das Nações Unidas? O mundo daram no íntimo mais profundo e solitário de começava agora a olhar-nos com mais respeito! qualquer Fuzileiro, estimulando-lhe a sensibilidaTodavia, quando chegamos às meias-finais, coude, mas, ao mesmo tempo, ambiciona ser tambe-nos defrontar a equipa da casa, os ingleses. Fibém um despertar das consciências para esses nalmente iríamos defrontar os “amigos” e até o seu episódios marcantes que, ainda hoje, burilam com treinador usou de deferências para connosco, já que esta mística sublime que nos alimenta o “ego”, incumbiu um “guerreiro” muito simpático, que dava quer eles tenham na sua génese natureza drapelo nome de Styles, para marcar o Eusébio. mática, emocional ou hilariante, mas que, por cerQue raio de importância tinha perdermos com to, contribuirão para a manutenção e solidificação os “amigos”? Provavelmente o Eusébio é que desdos laços de fraternidade, de amizade e de união O registo dos mortos no Museu do Fuzileiro conhecia a longa amizade que nos unia e, por isso, que nos animam e que, neste aspecto, nos toré que chorou no final do jogo. Na verdade, já somos nam porventura diferentes dos demais. amigos desde que os nossos antepassados descoDesta vez, trazemos à colação um conjunto de situações conexas, briram o caminho marítimo para a Índia e eles, depois, ficaram com ela, uma sátira feliz e oportuna, que traduz o “estado de alma”, o sentimento e amizade que se elevou quando cá vieram “confraternizar” com o general um perspicaz uso da razão de um prestigiado Fuzileiro – o Sargento-Mor Junot, aquele amigo de Napoleão que veio invadir Portugal, por este nosAntónio Varandas – durante o período difícil do conflito colonial, vivido e so país se recusar a aderir ao bloqueio continental. O certo é que, mais sentido, introspectivamente, no epicentro da guerra. uma vez, depois de tudo isto, os ingleses fizeram um pacto connosco, na Na localidade de Fortes, freguesia do concelho de Ferreira do Alentejo, convenção de Sintra, levando em troca algumas “bagatelas” que tínhamos existe uma rua denominada Manuel Magrinho Caixeirinho. Trata-se de uma de saldo, para além de lhe termos franqueado os portos do Brasil e de lhes homenagem a um saudoso camarada nosso, Cabo Fuzileiro Especial, que termos concedido diversas outras benesses. dali era natural e que faleceu em combate, em Moçambique, no ano de Era, pois, uma longa e sincera amizade, de que nós, gente bondosa, 1966, quando incorporava o Destacamento nº 5 de Fuzileiros Especiais. éramos bem merecedores! Naquela altura, a morte espreitava, andava à solta e, naquele dia fatídiEntretanto, e porque, normalmente, na guerra não há intervalos, os co, esperava quem quer que fosse. Estava escondida, alapada, esperando paquetes Império, Pátria, Niassa e Príncipe Perfeito, bem como alguns pacientemente a sua vítima. O Caixeirinho morreu e aos seus companhei- ferrugentos navios cargueiros, continuavam, sem interrupção, na sua odisros, conhecidos por “Pastor” e “Punheta”, só não lhes aconteceu o mes- seia de transportar militares para África. Claro e indiscutível, era preciso combater os inimigos da Pátria! mo porque a milagrosa Providência Divina assim não quis. Na mesma Ainda não sei porque razão se dizia num grande cartaz, empunhado ocasião, pior sorte tiveram alguns militares do exército que, na estrada de por brancos e negros, exibido durante uma manifestação em Lourenço Meponda e do Caracol, tombaram para a eternidade. Na verdade, em tantos locais sensíveis, nomeadamente em Marrupa, Marques, esta inqualificável blasfémia: “Fora com os piratas americanos dos Açores! Viva Portugal! Somos Mueda, Mataca, Chiteje, Chitope e Zuza Gombe, as “equipas” de militares Portugueses!” portugueses iam ficando cada vez mais fragilizadas. Seria porque os “Américas” votavam sempre contra o nosso País na Tinham embarcado para os campos de batalha das matas de Moçambique conjuntamente, no dia 6 de Novembro de 1965, nos porões ONU? Porém, para apuramento do 3º e 4º lugar no mundial de futebol, Pordo paquete Niassa. A bordo, foi incutido pelo comandante do batalhão o tugal venceu brilhantemente a URSS, por 2 -1. Mais um inimigo vencido! respectivo grito de guerra, a sugestiva designação de “Lá vai aço!”. Mas quantas avenidas, ruas ou pracetas não haveriam nas nossas … . E os outros? Mas talvez aqueles soldados do batalhão “Lá vai aço” tivessem muito cidades, vilas ou aldeias, evocando os nomes dos militares mortos na mais para contar, sobre os acontecimentos desse ano de 1966. Porventura, guerra de África? Seriam muitas, certamente!... . Assim existisse o empenho e a sensibi- eles, mais do que nós, tenham ligado mais ao futebol, para esquecer os lidade que, neste caso, tiveram o Dgmo. Comandante do Destacamento seus mortos. E foram muitos! … . Algures, num qualquer lugar, existirá também certamente uma rua ou nº 5, José Luís Pinto Gomes Teixeira, e o distinto Presidente da Câmara Municipal de Ferreira do Alentejo, cujo nome se desconhece, mas, por avenida com o nome de Eusébio da Silva Ferreira, em honra desse exímio futebolista, que tanto orgulho nos deu, nascido num bairro pobre de certo, uma pessoa de bem. Mas que importância tinham estas coisas, em comparação com o bri- Moçambique. Também em 1966, foi inaugurada, com pompa e circunstância, a ponlhante desempenho da Selecção Nacional de Futebol, que, nesse mesmo te sobre o rio Tejo, a que foi dado o nome de Salazar. Foi-lhe dado, mas já ano, tão boa conta de si havia dado em Inglaterra? De facto, já no apuramento para esse mundial haviam dado com a não é. Tudo muda e tudo passa. Por causa disto, também os navios da C.N.N. “ripa” nos Checos, eles que até fabricavam as armas que contra nós disparavam na guerra. Seguiram-se os Húngaros, os Búlgaros e até os Brasi- e da C.C.N. deixaram de trazer militares mortos, cujos nomes eram susleiros que foram despachados com doses avantajadas. Já nos quartos de ceptíveis de enobrecer e identificar quaisquer ruas ou vielas deste país. 34 DESPORTO TIRO DESPORTIVO Decorreu, nos dias 3 e 4 de Maio, em Tavira, o Campeonato regional do Sul, de Tiro Prático (IPSC), onde a Associação de Fuzileiros esteve representada, com três dos seus atiradores, na divisão de Modified. Apesar de ser uma Divisão da zona sul, ainda com poucos participantes, a nossa representação, em parceria com o Clube de Praças da Armada, conseguiu reunir o número mínimo de atiradores para ter o quórum necessário, com vista à obtenção da pontuação conveniente nas respectivas provas. O CPA ficou classificado em 1º lugar e a Ass. De Fuzileiros em 2º, do Campeonato regional Sul. Os treinos de tiro desportivo continuam a realizar-se no 2º e 4º domingo de cada mês, sendo necessário, para neles participar, uma pré-inscrição, como se encontra regulamentado. È intenção da Secção de Tiro Desportivo, levar a exame da Federação Portuguesa de Tiro, já no princípio do ano, novos atiradores, militares e civis sócios da A.Fz, que estejam interessados a praticar esta modalidade, com o propósito de aumentar a nossa participação em provas nacionais. Os interessados deverão entrar em contacto com a A.Fz, através do e-mail [email protected] . NATAÇÃO São cada vez mais os sócios que manifestam interesse em praticar natação na Escola de Fuzileiros, através da Ass. de Fuzileiros. Deste modo informa-se que, desde Setembro, é necessário que os interessados solicitem uma declaração na secretaria da Associação, a indicar que têm as quotas em dia e reúnem as condições necessárias para a renovação RAPPEL No passado dia 07de Junho, a Secção Desportiva da Associação deslocou-se a Juromenha, no Alentejo, por ocasião do aniversário do Núcleo de Fuzileiros da localidade, onde efectuou uma demonstração de rappel e auxiliou os presentes mais ousados a experimentar as sensações e o equilíbrio nas alturas. Foi um momento de grande emoção, vivido com entusiasmo e expectativa por quantos se disponibilizaram para participar naquela exaltante aventura. 35 CULTURA ALM. VIEIRA MATIAS Decorreu, no passado dia 09 de Outubro de 2008, no Salão Nobre da Academia de Ciências de Lisboa, uma importante sessão conjunta das Classes de Ciências e de Letras, na qual foram intervenientes duas ilustres figuras da nossa Marinha, os Académicos e mui prestigiados Almirantes António Emílio Ferraz Sachetti e Nuno Gonçalo Vieira Matias, que apresentaram duas interessantes comunicações: “O Mar Português e a Fronteira Marítima Europeia” e “A Nova Descoberta do Mar”, respectivamente. O Almirante Sachetti, abordou a temática através de uma exaustiva e interessante perspectiva histórica, com grande pormenor e profundidade, caracterizando a relevante acção dos portugueses como decorrência das suas invulgares qualidades, globalmente reconhecidas, pelos extraordinários conhecimentos científicos, grande capacidade técnica e enorme competência profissional. Por sua vez, o Almirante Vieira Matias, surpreendeu, logo de início, pela clarividência e sensibilidade, dirigindo-se à enorme e esclarecida plateia, composta por muitas das mais altas patentes militares dos vários ramos das Forças Armadas, entre as quais o Almirante Chefe do Estado Maior da Armada, o General Chefe da Casa Militar da Presidência da República e Almirante representante do Chefe de Estado Maior General das Forças Armadas, bem como outros ilustres intelectuais e académicos, agradecendo a presença de todos, com cordial efusividade, muito particularmente aos caros camaradas da Armada, desde os cadetes aos almirantes, quer ostentassem na cabeça o cintilante boné branco ou a boina azul ferrete, numa clara alusão à presença de grande número de Fuzileiros e ao seu orgulho de também fazer parte desta gloriosa família. A sua intervenção, pela transparência e riqueza de conteúdo, sobre a 4ª Descoberta do Mar, a descoberta do fundo do mar, foi deveras emocionante, ao conduzir os arrebatados ouvintes ao fascínio do desconhecido, começando por referir que “o homem sempre se preocupou em descobrir o que se passava à superfície menosprezando a indescortinável e labiríntica essência das profundezas. Desenvolvendo, com facundidade, uma bem elaborada teoria das placas tectónicas, fez uma descrição exaustiva e surpreendente sobre a grandiosa biodiversidade marinha, a incomensurável quantidade de produtos e de vidas que gravitam nessa imensidão oculta e misteriosa, mas que, a pouco e pouco, com os sucessivos avanços tecnológicos e científicos, se vêm paulatinamente revelando, contribuindo, de maneira decisiva e florescente, para o progresso da humanidade. Por fim, salientou, de forma eloquente, o papel e a participação que Portugal deve assumir, numa profícua simbiose com os países de língua portuguesa, todos eles com uma profunda relação com o mar, nesta magnificente aventura científica. O Desembarque, que esteve representado pelo seu Director, sente-se grato e reconhecido pela oportunidade concedida e, a Associação de Fuzileiros, pela honra do convite de tão ilustre palestrante e insigne Académico, Sua Exª. o Almirante Nuno Gonçalo Vieira Matias. Ilídio Neves HOMEM FERRO Constituiu um momento cultural relevante e de grande significado para os Fuzileiros, o lançamento do livro “O HOMEM FERRO”, da autoria do nosso estimado associado, Sarg- Mor Manuel Pires da Silva, que decorreu, no passado dia 31 de Maio, no salão da sede da Associação, perante o entusiasmo de uma enorme assistência, composta por muitos camaradas de armas, muitos amigos e diversas entidades que acederam aos convites formulados. A apresentação do livro esteve a cargo do Presidente da Direcção da Associação de Fuzileiros, Dr. Ilídio Neves, que também foi o autor do respectivo prefácio. A sessão decorreu em ambiente de grande emoção, envolvida por uma sensação de profundo respeito, camaradagem e solidariedade, em grande medida pelo envolvente e comovente conteúdo da obra. Na verdade, este excelente trabalho literário é um fascinante repositório de memórias e factos que traduzem uma amarga realidade, repleta de episódios fantásticos, eivados de sentimento, de orgulho, de dor e sofrimento, mas também de muitas alegrias, mergulhados numa experiência riquíssima de quatro comissões de serviço, quase sempre reflectida nos palcos escarposos do epicentro da guerra. A obra encerra ainda, de forma inédita e com grande riqueza de pormenores, uma perspectiva racional do autor, sobre aspectos interessantes de natureza político-social, que conduzem o leitor a uma fácil e melhor compreensão das razões, dos personagens e dos motivos que estiveram na génese e disseminação do conflito, em que tão corajosa e empenhadamente os Fuzileiros estiveram envolvidos. 36 PERSONAGEM J.P. CANEIRA Devemos, antes de mais, confessar que, quando decidimos avançar para este iniciativa, desconhecíamos, quase por completo, a pessoa que iríamos abordar, apenas algumas vagas referências sobre a relevância dos serviços que havia prestado na Guiné, bem como a sua grande coragem e competência. Combinamos o encontro, para as proximidades da vila de Ansião, onde, debaixo da sombra de uma nogueira que existe junto à casa de campo do signatário, decorreu a nossa conversa. Após as apresentações, sentamonos à mesa de cimento para um improvisado mas bem apaladado almoço, na companhia de mais alguns Fuzileiros e, no decurso do mesmo, falou-se, obviamente, da guerra e dos diversos episódios relacionados com os Fuzos. O nosso imaginário estatelou-se, de imediato, no aquartelamento de Guidaje e nas matas e bolanhas circundantes, tendo como pano de fundo o tenebroso cenário dos ataques sanguinários, dos mortos e feridos, da dor e do sofrimento. Ficamos absolutamente horrorizados e fascinados com as descrições feitas pelo nosso “personagem” , que com a sua destreza, sangue frio e extraordinários conhecimentos na área da saúde, constituía a única réstia de esperança e força anímica, para quantos por ali lutavam desesperadamente pela sobrevivência e por um pouco de dignidade, quer fossem Fuzileiros, militares de outros ramos ou população indígena. Este ilustre Enfermeiro, JOAQUIM PEREIRA CANEIRA, nasceu em 1945, em Glória do Ribatejo – Salvaterra de Magos. Alistou-se na Armada, como 2º Grumete voluntário, em 01 de Abril de 1963. Dois anos depois, foi promovido a Marinheiro, na classe de Manobra. No período de 1968 a 1971 frequentou e concluiu o curso de Enfermagem Geral, obtendo a promoção a 2º Sargento, desta especialidade, em Junho de 1971. De Abril a Setembro, do ano de 1972, frequentou o 28º curso de Fuzileiros Especi- ais, que concluiu com aproveitamento e louvor, tendo sido agraciado, no final, com o prémio “Manuel Correia Gomes”, que se Antes Depois destinava a premiar o sargento ou praça que obtivesse a melhor classificação. Em Novembro de 1972, é nomeado para uma comissão de serviço na Província da Guiné, integrando o Destacamento de Fuzileiros Especiais nº 4, onde chega em Abril de 1973. Regressou à Metrópole em Outubro de 1974, a bordo do NRP S. Gabriel. Em Julho de 1976, é-lhe concedida baixa do serviço da Marinha, passando à situação de reserva Ab. A partir desta altura, começou a desenvolver a sua actividade profissional de Enfermeiro, nos Hospitais da Universidade de Coimbra. Foi professor de enfermagem durante 14 anos, na Escola Superior de Enfermagem Dr. Ângelo da Fonseca, em Coimbra e, em 2001, passou à situação de aposentado da função pública. Actualmente, exerce ainda actividade, como professor de enfermagem, na Escola Superior de Saúde Jean Piaget, em Viseu. Para “O Desembarque” constitui uma honra e um privilégio, levar ao conhecimento dos leitores as acções altamente meritórias, que nos enchem de prestígio e de orgulho, de um virtuoso camarada de armas que, não obstante os sucessos alcançados ao longo da vida, se sente muito honrado e orgulhoso por pertencer à grande família dos Fuzileiros, que considera homens extraordi- nários, corajosos e destemidos, para os quais o país tem grande dívida de gratidão. DESEMBARQUE: Caro “Filho da Escola”, depois desse brilhante e excitante percurso de vida, ainda te recordas daquelas estranhas sensações que de ti se apoderaram quando chegastes à Guiné? J. P. CANEIRA: Claro que recordo! … Ao chegar à Guiné, fui invadido por um turbilhão de sentimentos de angústia, insegurança e até mesmo medo, face aos relatos que ouvia relativamente ao que se passava nos teatros de guerra daquela Província. Contudo, a realidade do que vi e vivi foi muito mais dramática que aquela que a minha imaginação concebeu. Na verdade, por mais que nos esforcemos por relatar objectivamente o que sofremos, ao longo dos inesgotáveis meses de guerra, será difícil, para quem nos ouve, avaliar em absoluto o quanto padecemos. O sofrimento físico foi muito intenso, mas o psicológico foi atroz. Assistir ao desaparecimento de vidas humanas a todo o momento, lutar para salvar a vida dos que ficavam gravemente feridos, tendo consciência de que todo o esforço desenvolvido resultava, em muitas circunstâncias, apenas no adiamento da sua morte por algumas horas, destrói qualquer ser humano. DESEMBARQUE: Já nos apercebemos da tua visão profundamente humana, tranquilizadora e encorajadora, sendo que a tua acção empenhada e corajosa era, para muitos, a única e ultima esperança que lhes restava. Tinhas bem a consciência desse teu papel e agias sempre em função desses valores, desses elevados princípios éticos e morais? J. P. CANEIRA: Hoje, passados 35 anos, quando reflicto sobre a minha missão como enfermeiro, invade-me um sentimento de grande tristeza e, simultaneamente, de grande alívio, porque tenho a consciência de que PERSONAGEM fiz tudo o que me era possível fazer, sendo certo que nunca, em momento algum, deixei de socorrer alguém por medo ou com receio de perder a minha vida. Na verdade, era eu que prestava assistência a todos os elementos das Forças Armadas, em Guidaje e Chugé. Fazia de médico, de enfermeiro e até de assistente social, porque tinha a noção, bem patente, de que, acima de tudo, era a minha pessoa a grande esperança de sobrevivência para toda aquela gente, incluindo os próprios nativos. DESEMBARQUE: Consta até que foi o “Fuza” Caneira que, com refinada subtileza, conseguiu impor a regra sublime de que, fosse em que circunstância fosse, o corpo de um camarada, ferido ou morto, mesmo que se encontrasse desfeito, nunca era deixado ou abandonado no terreno, mas sim transportado para lugar onde a sua dignidade humana fosse minimamente preservada. É tudo isto verdade e confirmas esta situação? J. P. CANEIRA: Sim, essa era a máxima de que os Fuzileiros não abdicavam! E, em grande parte, isso tem algum fundamento. Esforcei-me muito e inventei algumas estratégias para que assim acontecesse. Com efeito, passei por uma situação trágica que me chocou e comoveu profundamente. No dia 12 de Maio de 1973, em consequência de um cerco, feito pelo inimigo, ao aquartelamento de Guidaje, recebemos ordens para enquadrar uma coluna militar de reabastecimento que partiria de Binta para Guidaje, porquanto havia a informação de que um grupo operacional do PAIGC, bastante numeroso e bem armado, actuava naquela zona e já teria impedido a passagem de uma primeira coluna, resultando do confronto uma apreciável quantidade de mortos e feridos entre a tropa portuguesa. Tive então oportunidade de verificar, ao longo do itinerário, sinais evidentes e arrepiantes dos confrontos bélicos com as colunas anteriores, nomeadamente viaturas destruídas e corpos de soldados mortos, em combate, espalhados pelo chão. Estes corpos não foram resgatados por nós, como eu e todos os camaradas gostaríamos, porque havia a forte probabilidade de estarem armadilhados e da existência de minas nas proximidades dos cadáveres. Na verdade, tive oportunidade de constatar, com tristeza, o sentimento generalizado dos militares, com o pavor estampado nos rostos mirrados, ao preferirem uma morte imediata em vez de ficarem gravemente feridos ou incapacitados. Era a preocupação mórbida de evitar o sofrimento, nem que fosse através da morte. Tudo isto eu tentava ultrapassar, dando alento e aconselhando força anímica, através de uma argumentação consoladora, mas muitas vezes com a consciência do vazio e da desesperança, procurando tão-somente um frágil conforto e um “animus” especial, que os levasse a encarar o sofrimento com mais leveza e suavidade. 37 A propósito disto, fiquei recentemente comovido com a admiração dos familiares dos pára-quedistas mortos, que foram trasladados para Portugal, cujos corpos foram desenterrados na Guiné e se verificou a existência de cal a envolvê-los. Pois fui eu mesmo, com a intenção atrás referida, que procedi a tais operações. Ainda a propósito das medidas tomadas, passou-se um caso curioso e, não fora o bom senso do meu comandante, acabaria por me acarretar alguns dissabores. É que o Director dos Serviços de Saúde da Guiné chegou DESEMBARQUE: Mas consta que chegastes mesmo a tomar medidas concreFalando ao Desembarque tas para tornar possível um encaminhamento minimamente digno a questioná-lo sobre a utilização e destino aos desgraçados que perdiam a vida? dos medicamentos, suspeitando que o enJ. P. CANEIRA: Sim, isso também é fermeiro andasse a lucrar ou fazer contraverdade. Recorri, muitas vezes à cera derre- bando dos mesmos, tal eram as quantidatida, que obtinha das velas das Igrejas, para des extras requisitadas, quando, na verdatapar todos os orifícios dos cadáveres, não de, eu apenas procurava, com eficiência só os do próprio corpo, como a boca, as comprovada, fazer face às enormes necesnarinas, ouvidos e ânus, como os provoca- sidades com que diariamente me deparava. De resto, nunca o meu Destacamento, dos por balas ou estilhaços, na tentativa de retardar os maus cheiros e a putrefacção, em tempo algum, teve qualquer elemento de prolongando a conservação dos corpos o baixa, por doença, em Bissau. Disto tomou mais tempo possível, tendo em vista um en- conhecimento o Director de Saúde, que fiterro mais digno e o eventual aparecimento cou deveras surpreendido e bastante satisde umas espécies de caixão ou simples- feito, ao verificar as estatísticas em relação mente um lençol para os embrulhar de- às demais Unidades. DESEMBARQUE: Chegou ainda ao nosbaixo da terra. Também fui eu que introduzi o método de lançar a cal em pó em so conhecimento que também impusestes redor dos cadáveres, com o mesmo pro- regras, suficientemente rigorosas, para a pósito antes referido. Isto é, uma forma prevenção do paludismo? J. P. CANEIRA: Sim, é verdade. Invende preservação, com o sentido de, em algum momento, serem recuperados e não tei e impus regras de procedimento, que toficassem para sempre abandonados ou dos deveriam observar, quanto à forma de servissem de alimento aos abutres e outros tomar os comprimidos. Não só impunha regras como exercia permanente vigilância animais carnívoros. 38 sobre esses comportamentos. O único indivíduo que não controlava, por razões de confiança, era o meu ajudante, o “Boticas” Andrade, e que, por isso, se desleixava e não os tomava. Como consequência, apanhou uma carga de tal ordem, que por pouco o não matou. PERSONAGEM flagelava a nossa sensibilidade e nos fazia sentir impotentes. A partir daqueles momentos, o meu posto de trabalho reconduzia-se à enfermaria a prestar cuidados aos feridos internados e os primeiros socorros aos que vinham sucessivamente chegando. Repousava por breves momentos, sentado num caixote, nunca me DESEMBARQUE: As circunstâncias deitava para descansar ou dormir, mas tamem que exercestes a tua nobre e importante bém não tinha sono. missão eram, como se constata, altamente Aparentemente, a enfermaria era a insdifíceis, mas mesmo assim, o teu desempe- talação mais segura do aquartelamento, nho foi absolutamente extraordinário e dado que tinha uma cobertura, que se sudeterminante, sendo muitos os êxitos alcan- punha de betão armado. Não sei se era reçados e uma reputação inigualável, reconhe- sistente aos bombardeamentos porque, felizmente, nunca foi atingida, o que não deixa de ser curioso mas facilmente se compreende, é que para ali convergiam também os elementos da população feridos ou doentes e, sabe-se lá, muito provavelmente até alguns membros do inimigo. Todos tínhamos a consciência de que a qualquer momento poderíamos morrer ou fiA caminho de uma operação, no dia de Natal de 1973 car feridos. Não havia qualquer abrigo absolucida por todos quantos viviam ou sobrevivi- tamente seguro. A enfermaria era, de facto, am naquela região. pelo menos na aparência, o reduto mais Achas que te eram garantidas as mí- confiante. nimas condições para trabalhar e que te No entanto, assim não o entenderam cinera proporcionada alguma réstia de se- co furriéis do exército, que decidiram consgurança? truir, para eles, um abrigo subterrâneo, coJ. P. CANEIRA: Ao chegarmos a berto com várias camadas de troncos de Guidaje, deparamo-nos com um cenário té- árvores e terra. Após a construção, transfetrico. As instalações militares apresentavam- riram os seus beliches para lá, com a conse todas esburacadas, algumas partes vicção de que a segurança ali era absoluta, destruídas ou semi-arruinadas, revelando tendo-me dito, com tranquilidade e confianuma sensação de abandono, pois que, de ça, na altura: “ “Fuza”, vamos finalmente início, não se vislumbrava vivalma. Os mili- dormir uma noite tranquila”! tares encontravam-se posicionados nos seus Cerca das onze horas da noite, despepostos de vigia, próximos dos abrigos de dem-se de mim, desejando-me felicidades. protecção. Encontramo-los moralmente des- Passados alguns minutos, surge um ataque troçados, fisicamente exaustos, desnutridos intenso e demolidor, cai uma granada de e com o sentimento de abandono pelas che- morteiro no abrigo, perfurando a cobertura, fias militares. e explode no seu interior. Quatro deles tiveOs ataques eram constantes e de uma ram morte imediata e o outro ficou graveviolência extrema, ouviam-se gritos de so- mente ferido. corro por todos os lados e os mortos e feriOs cadáveres foram retirados dos esdos eram abundantes. Era uma desorienta- combros, por mim e pelo Tenente Pires de ção total, um universo de trevas, que Moura. Era a crueldade do destino! … . DESEMBARQUE: Tens mais algum episódio interessante que nos queiras descrever? J. P. CANEIRA: Episódios impressionantes ocorriam quase todos os dias, pelo que, no meio de tantos, não é fácil distinguir o grau ou critério de avaliação, mas já que me pedem, vou resumidamente referir alguns: O comandante do aquartelamento de Guidaje, Tenente-coronel Correia de Campos, era um homem surpreendente. Creio que todos os militares nutriam grande admiração e respeito por ele. Nunca se abrigava quando surgiam os ataques, permanecendo calmo e sereno no local onde se encontrava. Observei-o várias vezes, de pé na parada, no decorrer de intensos bombardeamentos, segurando o seu “bengali”, perscrutando o tenebroso cenário ao seu redor. Em certo momento, o nosso imediato, Tenente Pedro Menezes, e eu próprio, fomos chamados por ele, para nos informar que, uma vez que não tínhamos caixões para guardar os cadáveres, tinha decidido improvisar um cemitério, onde iriam ser enterrados os mortos, e que as sepulturas ficariam devidamente identificadas, tendo em vista um futuro resgate dos corpos, o que na verdade veio a acontecer. Esta reunião teve lugar no seu gabinete, estando ele sentado na secretária e eu e o Ten. Menezes estávamos de pé, em frente dele. Surge, entretanto, um violento ataque, mas o comandante demonstrou ignorá-lo completamente, continuando a conversa connosco, como se nada estivesse a acontecer. Nós, mantivemo-nos firmes no nosso lugar, incapazes de obedecer aos instintos naturais de preservação. Recordo, todavia, que o meu batimento cardíaco era de tal modo intenso que se conseguia ouvir à distância. A criação do cemitério em Guidaje, seguindo as sugestões por mim formuladas, foi uma solução de recurso racional, tendo em conta que os corpos dos soldados mortos entravam em decomposição em menos de 24 horas. Tudo fizemos para adiar os enterros, com o propósito de os tornar mais dignos e humanizados, como antes já referi, mas, naquelas circunstâncias, era impossível fazer mais e melhor. Todos os corpos enterrados em Guidaje, foram previamente preparados por mim, entre eles os dos três pára- PERSONAGEM quedistas que morreram na zona do Cufeu, rando-me por um braço, me disse para não que recolhi num armazém, onde estiveram me precipitar, porque não valia a pena corcerca de 24 horas. rer ao acaso, enfrentando riscos desnecesUma outra situação interessante, foi a sários. Mantivemo-nos dentro dos balneárique ocorreu quando, no dia 12 de Maio de os até obtermos a informação do melhor lo1973, recebemos ordens para enquadrar a cal de protecção. Corremos então para uma coluna militar de reabastecimento, que pas- vala e deitamo-nos dentro dela, enquanto as saria por locais fagranadas de mortídicos, onde sisteteiro caiam incesmaticamente ocorsantemente em riam mortes e desnosso redor, com truições de vária explosões ensurdeordem, como na cedoras, que mal anterior havia deixavam ouvir os acontecido. gritos desesperaPerante este dos de militares fequadro, os Fuzileiridos a nosso lado. ros apetrecharamAcabado o tirose com rigor, fateio, eu e o Ten. Pizendo parte do arres de Moura mamento a módilevantamo-nos ileca quantidade de sos, mais parecen18 metralhadoras do dois croquetes, MG-42. Não se veem virtude de nos rificou qualquer intermos atirados cidente. Saímos de ensaboados para o Binta pelas 09,00 buraco de barro horas da manhã e vermelho. Apesar Fazendo o ponto da situação, por ocasião chegamos a de tudo, tivemos da visita do CEMA ao Chugué Guidaje por volta sorte. A que faltou a das 17,00 horas, dois soldados que perante a estupefacção e admiração dos lá se encontravam deitados, que já dormimilitares do exército que se encontravam am o sono eterno. amedrontados no quartel. Na enfermaria, esperava-me uma A este propósito, o Ten. Coronel Correia imensidão de feridos, clamando desesperade Campos fez o seguinte comentário: damente por socorro. “Vocês não foram atacados. Eles são pretos mas não são parvos!”. DESEMBARQUE: Certamente que, pelo Logo após a chegada, não valorizamos teu extraordinário desempenho, reconhecitanto como devíamos o facto de o aquarte- da competência e eficácia demonstrada, lamento ser constantemente bombardeado fostes alvo de louvores ou menções e decidimos, antes de mais nada, tomar um elogiosas. reconfortante duche no chuveiro. Eu, como Queres fazer alguma referência sobre a maioria dos camaradas, dirigimo-nos à este assunto? zona balneária, que também indiciava os J. P. CANEIRA: Sim, na verdade o traefeitos das morteiradas. Despi-me e balho que desenvolvi ao serviço dos Fuzileiensaboei-me, mas, nesse instante, surge um ros, foi objecto de diversas manifestações ataque intensíssimo de morteiros. O pânico de reconhecimento. Desde logo, o prémio foi geral e lançamo-nos em correria, todos atribuído por ter sido o melhor classificado nus, desorientados à procura de um abrigo. no curso de Fuzileiros Especiais. Mas tamO problema é que ainda desconhecíamos bém fui contemplado com algumas menções onde eles se situavam, pelo que o Ten. Pires honrosas, de entre as quais destaco o loude Moura, com calma e serenidade, segu- vor que me foi concedido, em Setembro de 39 1973, pelo meu comandante, Albano Manuel Alves de Jesus, que fundamenta nas qualidades e aptidões demonstradas durante a guerra, dizendo que “o sargento Enfermeiro Caneira sempre se impôs como um excelente profissional, dotado de alto sentido do dever, inexcedível zelo e noção exacta da responsabilidade,” não só na actividade desenvolvida no âmbito do Destacamento mas também na prestação de serviços de saúde, quando da assistência pronta e eficiente aos diversos militares feridos, dos Comandos, Pára-quedistas e do Exército, bem como aos elementos da população. Conclui o louvor referindo que “a acção do Sarg. Caneira, na Guiné, foi excepcional e constituiu motivo de referências elogiosas por parte de superiores de outros ramos das Forças Armadas”. DESEMBARQUE: Queres deixar mais alguma observação sobre esse período marcante e inesquecível da tua vida, ao serviço dos Fuzileiros? J. P. CANEIRA: Muito mais teria certamente para dizer, mas já lá vão muitos anos e, como é natural, muitos pormenores, sobretudo no que respeita a datas, não estão muito presentes na minha memória. Sinto, todavia, um enorme orgulho por pertencer à família dos Fuzos e recordo, com saudade, todos aqueles camaradas que fizeram parte do D.F.E. 4. Foram, e são concerteza, homens extraordinários, corajosos e destemidos. O País tem uma grande dívida de gratidão para com os Fuzileiros. DESEMBARQUE: A conversa já vai longa, mas, para terminar, o que te oferece dizer, muito resumidamente, da nossa Associação e deste nosso “Desembarque”? J. P. CANEIRA: Acho que a criação da Associação de Fuzileiros foi uma iniciativa maravilhosa, congregadora de sentimentos e de orgulhos, que consubstanciam uma mística extraordinária, que acalenta, fortalece e rejuvenesce os Fuzos de diferentes gerações, que, com o indestrutível espírito audaz, embarca e se difunde pelo mundo, a bordo deste precioso veículo, que se chama “Desembarque”. Ilídio Neves/Mário Manso 40 BREVES OFERTAS/DONATIVOS Continuamos a registar, com agrado e sentida gratidão, os gestos de solidariedade de alguns nossos associados, que, reconhecendo as enormes dificuldades por que passa a Associação, no sentido de pôr em prática todos os objectivos que se propõe atingir, vão contribuindo generosamente com preciosos donativos, alguns deles bem significativos, o que, para além da materialização da nobreza dos sentimentos, representa um estímulo e um renovado incentivo, para quantos se esforçam para fazer cada vez mais e melhor. De entre todos, merece-nos destacado regozijo a dádiva repetida do sócio simpatizante Nº 1308, João Pedro M. da Luz, que, uma vez mais, nos brindou com a oferta de 500 Euros. Um agradecimento especial também para os estimados associados que se seguem, pelos seus exemplos fraternos e solidários, que, de igual modo, os tornam credores da nossa admiração e consideração: Bem Hajam, caros amigos! … NOME Nº SÓCIO QUANTIA JOÃO PEDRO MARQUES DA LUZ 1308 500.00 € ANTÓNIO LOUREIRO 1470 60.00 € LUDGERO SILVA 167 50.00 € JOAQUIM DOS RAMOS MARTINS 421 40.00 € ALM. VIEIRA MATIAS 1590 35.00 € ANTÓNIO ROSÁRIO 619 20.00 € CARLOS BERNARDO 680 20.00 € MARIA MANUELA RIBEIRO 1174 20.00 € ALEXANDRE PERNINHA 232 COMPUTADOR PERPETUA MEMORIAM IN IN PERPETUA MEMORIAM No passado dia 09 de Maio, deixou-nos, para sempre, o nosso estimado associado, Sargento Fuzileiro, CEFÍDIO JOSÉ FERREIRA AGUIAM “O ÉVORA”. Foi com sentida consternação que muitos camaradas e amigos se despediram deste membro da nossa família afectiva, parte dos quais com ele comungaram momentos de dor e sacrifício, mas também de alguma felicidade, durante as várias comissões de serviço em que participou, na Guiné, Angola e Moçambique. Ficou sepultado no cemitério da Moita (Vale do Forno), em cujo acto fúnebre esteve presente uma representação da Associação de Fuzileiros. O Desembarque, apresenta comovidas condolências a sua esposa, filhos e netos. Paz à sua alma! St. John’s School Externato CRECHE - INFANTIL - PRÉ-PRIMÁRIA KINDERGARTEN - RECEPTION - YEAR 1 ST. GEORGE’S SCHOOL CURRICULUM PORTUGUÊS E INGLÊS BOTH ENGLISH AND PORTUGUESE CURRICULA COLÉGIO OFICIALIZADO PRIMARY CLASSES ENSINO PRIMÁRIO Both English and Portuguese Curricula Curriculum em Inglês e Português E-mail: [email protected] - www.stjohns-school.com Av. 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