O USO DE OBJETOS APRENDIZAGEM EM CURSO DE EXTENSÃO A DISTÂNCIA Dra. Patrícia Lupion Torres 1 Dra. Lilia Maria Marques Siqueira 2 M.Sc. Fabiana de Nadai Andreoli 3 Resumo: Este artigo apresenta os resultados de uma investigação sobre o desenvolvimento de recursos instrucionais informatizados, com o objetivo de apresentar temas complementares aos desenvolvidos presencialmente com os alunos dos Cursos de Engenharia Elétrica e de Engenharia Ambiental. Os recursos elaborados, denominados Objetos Educacionais ou Objetos de Aprendizagem, proporcionaram o contato dos alunos universitários com temas necessários à melhor compreensão dos conceitos relacionados com a sua formação profissional básica. Estes recursos, depositados em um ambiente educacional virtual próprio da PUCPR, o EUREKA, foram freqüentados à distância em um curso de extensão, com duração de um semestre letivo, por alunos da graduação dos dois cursos. Como avaliação dos objetos, os alunos realizaram atividades presenciais junto aos alunos do Ensino Fundamental de uma Escola Pública selecionada, no sentido de conscientizarem-nos para o Uso Racional da Água e da Eletricidade. Palavras-chave: objetos de aprendizagem, ensino superior, tecnologia educacional INTRODUÇÃO O aluno universitário utiliza as tecnologias de informação e comunicação para suas atividades sociais, de lazer e educacionais. Em tempos de facilidade ao acesso da Internet, velocidades de conexão e aplicativos sofisticados, um desafio permanece nas relações educacionais: atrair e manter o aluno interessado pelos conteúdos e temas pertinentes a sua formação profissional. O objeto de aprendizagem apresenta-se como sendo um dos recursos disponíveis para auxiliar o aluno no processo de busca autônoma do conhecimento. Sendo a reusabilidade uma característica intrínseca dos objetos de aprendizagem, os alunos destes e de outros cursos 1 Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR – Professora do Programa de Pós- Graduação em Educação – Mestrado e Doutorado 2 Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR – Professora do Departamento de Engenharia Elétrica e Eletrônica 3 Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR – Professora e Coordenadora do Departamento de Engenharia Ambiental podem dele fazer uso em diferentes intervenções metodológicas, sempre com uma proposta educacional subjacente bem definida. O professor possui um papel fundamental neste planejamento, pois deverá delinear a ação docente considerando: o grupo de alunos, a duração da atividade, o tipo de interatividade, o grau de profundidade, o contexto de aprendizagem. (MARTINS JUNIOR, 2006) Este projeto de pesquisa se configurou em uma experiência junto aos alunos de graduação para validar a proposta de ensino online, visando uma futura oferta de disciplinas semi presenciais em seus currículos regulares. Nesta visão, embasado no conhecimento técnico, atividades devem ser construídas para que a transferência do conhecimento seja a mais clara possível. Para isto faz-se intensamente necessário a abordagem de questões referentes à ergonomia cognitiva. Conforme Abrahão (1993 apud LIMA, 2003, p. 36): ...ergonomia é uma área do conhecimento que visa transformar o trabalho, adaptando-a as pessoas, às suas características bem como às características de sua tarefa, almejando uma otimização do conforto, da segurança e da eficácia. Deste modo a ergonomia cognitiva define-se como um campo da aplicação da ergonomia, objetivando relacionar processos cognitivos junto à resolução dos mais diversos problemas da nossa realidade, além de compatibilizar recursos tecnológicos com o perfil de cada usuário do sistema. Fazendo com que o objetivo do fácil entendimento possa ser conciliado com questões ergonômicas através do aprendizado, o perfil de cada aluno, o contexto de vida do usuário, enfim que em todas as realidades o ensino chegue sem obstáculos promovendo o conhecimento. Apresentam-se neste trabalho os resultados da investigação deste desenvolvimento de objetos de aprendizagem com o objetivo de apresentar temas complementares aos desenvolvidos presencialmente com os alunos dos Cursos de Engenharia Elétrica e de Engenharia Ambiental. Estes recursos educacionais foram utilizados por alunos dos dois cursos, capacitando-os a desenvolverem atividades educativas destinadas à aplicação junto aos alunos do Ensino Fundamental em Escola Pública previamente designada. OBJETOS DE APRENDIZAGEM: PRODUÇÃO E IMPLANTAÇÃO Entre as diversas definições para objetos de aprendizagem, apresentam-se inicialmente a de WILEY (2001, p.2): “Objeto de aprendizagem é todo recurso digital ou não que pode ser usado para promover a aprendizagem, tendo como principal característica a reusabilidade”. Para Tarouco, Fabre e Tamusiunas (2003) , os objetos de aprendizagem podem ser traduzidos como objetos educacionais: o termo objeto educacional (learning object) geralmente aplica-se a materiais educacionais projetos e construídos em pequenos conjuntos com vistas a maximizar as situações de aprendizagem onde o recurso possa ser utilizado. A idéia básica é de que os objetos sejam como blocos com os quais será construído o contexto de aprendizagem. O projeto e a criação destes objetos demanda elevada quantidade de tempo e recursos, especialmente quando envolvem multimídia. ( p.2) Para FILATRO (2008, p. 123) os OA são descritos como “qualquer recurso digital que possa ser usado, reutilizado ou referenciado durante a aprendizagem apoiada por tecnologia”. Do ponto de vista tecnológico, eles são objetos autocontidos, marcados por descritores de identificação (metadados), podendo ser pesquisados e compartilhados em ações educacionais. Uma imagem, um filme, ou outro recurso visual, por exemplo, nem sempre tem um propósito educacional, o que é inerente a um objeto de aprendizagem, por isso ele deve ser capaz de manter um significado. Para Sosteric e Hesemeler (2002, on-line), um OA “é um arquivo (imagem, filme etc.) que pretende ser utilizado para fins pedagógicos e que possui, internamente ou através de associações, sugestões sobre o contexto apropriado para sua utilização”. Ao se referir à criação de soluções baseadas em Objetos de Aprendizagem (OA), Rosenberg (2002) afirma ser um dos avanços tecnológicos mais promissores na área do elearning, onde cada OA corresponde ao menor bloco de instrução ou informação, elaborado de forma independente capaz de transmitir um significado, definição também utilizada por (HODGINS, 2002, p.12). A ideia de pequenos blocos é compartilhada com Beck (2001), que os define como: Qualquer recurso digital que possa ser reutilizado para o suporte ao ensino. A principal ideia dos objetos de aprendizagem é quebrar o conteúdo educacional em pequenos pedaços que possam ser reutilizados em diferentes ambientes de aprendizagem, em um espírito de programação orientada a objetos. (p. 23) A concepção e implementação de objetos de aprendizagem demandam não apenas um conhecimento acerca do assunto tratado, como também uma compreensão das potencialidades da mídia utilizada para que sejam bem aproveitadas. Para elaboração de um objeto de aprendizagem é fundamental considerarmos as seguintes etapas: planejamento, elaboração, implementação e avaliação. Na etapa de planejamento, a literatura especializada nos recomenda a escolha da interface, o tempo de duração dos módulos, a quantidade de figuras e de texto, as atividades de fixação. TORI (2003) ressalta que : Planejar e implementar uma atividade de aprendizagem, com composição ótima de objetos de aprendizagem e de mídias, e com adequado balanceamento presencial e virtual, considerando-se ainda diversos aspectos, tais como objetivos pedagógicos, perfil do aluno e outras condições de contorno, é uma tarefa que se aproxima de uma atividade de engenharia. (p.2) Neste projeto foram utilizados modelos de design instrucional fixo, para elaborar os chamados objetos de aprendizagem. Este difere dos outros modelos de design instrucional: design instrucional fixo (ou fechado), design instrucional aberto e design instrucional contextualizado. (FILATRO, 2008, p.26). As fases de planejamento, elaboração, implementação e avaliação foram compartilhadas pelas equipes técnica e pedagógica. As professoras das disciplinas responsabilizaram-se pela análise das necessidades de aprendizagem, por conhecerem as limitações da carga horária e conseqüentemente, quais os conteúdos e temas que não estavam sendo abordados no ensino presencial, assim como as limitações de tempo, a caracterização dos alunos e as restrições técnicas e riscos a serem enfrentados como custos e prazos. “Questões culturais, experiências institucionais anteriores e premissas cristalizadas sobre o que significa aprender e ensinar devem ser consideradas no levantamento de restrições, assim como as estimativas de tempo.” (FILATRO, 2008, p.41) O design das atividades de aprendizagem (ou unidades-aula) foi desenvolvido em conjunto com a equipe de design instrucional, iniciando com o planejamento das mesmas. Este planejamento conteve duas fases: a primeira, com a definição de quais as ferramentas do ambiente de aprendizagem que seriam utilizadas, e a segunda fase, chamada de especificação do design instrucional “que constitui-se na elaboração do roteiro e storyboards para descrever detalhadamente a estrutura e o fluxo da informação, os conteúdos e a interface do produto final.” (FILATRO, 2008, p.56) O Quadro 1 apresenta uma visão geral que relaciona os objetos de aprendizagem em suas respectivas composições, para atender ao padronizado pelo ambiente EUREKA, e como foram dimensionados no projeto descrito neste trabalho. Quadro 1: Módulos e telas pertencentes à sala virtual: Uso racional da Água e da Eletricidade Material Didático Módulos Quantidade Duração estimada de Telas (em min) 11 50 10 40 8 40 24 120 12 60 Usos Múltiplos das Águas 22 40 Uso racional da água nas 23 45 13 30 online Formas de Geração de A Eletricidade – Energia Elétrica Desde a usina até as Geração de Energia nossas casas Elétrica a partir da Água Transmissão e Distribuição da energia elétrica Uso racional da água nas A água e a atividades humanas – bacia eletricidade nas sanitária atividades humanas Uso racional da água nas atividades humanas – lavatórios, pias e tanques atividades humanas – Usos múltiplos da chuveiros água Uso racional da água nas atividades humanas – áreas externas A construção dos mapas conceituais (NOVAK, 1996) trazendo a sistematização de informações, foi fundamental para o levantamento das referências úteis para o desenvolvimento dos temas, além de auxiliar a delimitar as áreas do conhecimento a serem abordadas na elaboração dos objetos de aprendizagem. Os roteiros, com a organização prévia do conteúdo evidenciado pelos mapas conceituais, foram preparados em editor de texto (Word), e encaminhados para a equipe de desenvolvimento. Tomou-se o cuidado de que os roteiros para o tema “Uso Racional da água e da Eletricidade” fossem construídos como uma unidade completa possuindo tela de introdução, resumo, auto-avaliação e conclusão, para cada módulo citado no Quadro 1. A partir deste material, a equipe do NTE , desenvolveu o personagem representativo do conteúdo buscando características e padrões da temática “água” e “eletricidade”, que aparecia nas telas iniciais de cada módulo. Figura1: Tela do módulo: Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica A figura 1 apresenta um exemplo de objeto de aprendizagem utilizado neste projeto, contendo os recursos visuais para auxiliar a contextualização. Ao clicar sobre a caixa saiba mais, o aluno pode ter acesso a informações complementares que não estão disponíveis na tela para evitar excesso de informação. A equipe do NTE (Núcleo de Tecnologias Educacionais) da PUCPR foi responsável pelo desenvolvimento do material didático online, em conjunto com as professoras especialistas de cada área. Esta etapa foi a mais demorada, pois envolveu a contínua avaliação e a correspondente retomada dos roteiros para as adaptações referentes a aspectos técnicos e/ou pedagógicos. A figura 2 permite visualizar outro exemplo de objeto de aprendizagem utilizado neste projeto, contendo os recursos visuais para auxiliar a contextualização. Ao clicar com o mouse sobre a figura, o aluno pode detalhar o uso da água ilustrado naquele ponto da imagem interativa, auxiliando na fixação do conteúdo e complementando o entendimento das partes no todo. Figura 2: Tela do módulo: Usos múltiplos da água Na etapa de implementação, os objetos educacionais foram ancorados no ambiente EUREKA, existente na PUCPR. (SILVA et al, 2006) define o ambiente EUREKA como: Um ambiente virtual que tem como uma de suas características o uso de ferramentas que permitem a Aprendizagem Colaborativa e a formação de comunidades virtuais de estudo, tais como: Fórum de discussões, Chat, Conteúdo, Correio eletrônico, Edital, Estatísticas, Links, Informações dos Participantes entre outros. Foi desenvolvido em 1998, pelo Laboratório de Mídias Interativas (LAMI) da PUCPR por meio de um acordo tecnológico com a Siemens Telecomunicações e da Lei 8.248 de Incentivo à Informática do Ministério da Ciência e Tecnologia. Com o término do convênio com a Siemens no ano de 2001, ocorreu um processo de institucionalização da ferramenta pela PUC-PR. Atualmente, o Eureka está vinculado à Coordenação de Ensino à Distância na Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação. (p.3) Dentre as ferramentas disponíveis no EUREKA, está o SAAW (sistema de apoio a aprendizagem via WEB), hoje denominada Material Didático Online, onde o professor tutor da sala pode habilitar os alunos a usar objetos educacionais como apoio ao ensino presencial. Após a conclusão e a aprovação dos objetos de aprendizagem pela equipe multidisciplinar, houve a implementação dos objetos no ambiente EUREKA, de responsabilidade do NTE, e disponível para acesso aos alunos matriculados por meio da ferramenta denominada Material Didático Online. Após o desenvolvimento e implementação dos OA no ambiente virtual da PUCPR, houve a respectiva avaliação dos mesmos. A estratégia de validação escolhida foi oferecer um curso de extensão a distância para os alunos da graduação em Eng. Ambiental e Eng. Elétrica. A sala virtual correspondente intitulada “Uso racional da Água e da Eletricidade” foi responsável por armazenar os OA. As etapas descritas por Filatro (2009) são compartilhadas por Longmire (2000), no que diz respeito à adoção e o desenvolvimento de material instrucional: Flexibilidade - Se o material é desenvolvido para ser utilizado em múltiplos contextos, ele pode ser reusado com muito mais facilidade do que aquele que deve ser reescrito para cada novo contexto. É muito difícil dissociar um objeto do contexto de seu curso principal e em seguida, recontextualizá-lo como parte de design e desenvolvimento; Facilidade de atualização, localização e gerenciamento do conteúdo - A utilização de metadados facilita a atualização rápida, busca e gerenciamento de conteúdo, filtrando e selecionando somente o conteúdo relevante para um determinado propósito; Customização - Quando as necessidades individuais e organizacionais exigem personalização de conteúdo, o modelo de objeto de aprendizagem facilita uma abordagem just-in-time para customização; Interoperabilidade - Permite a adoção de padrões para a para definir as especificações relativas à concepção, desenvolvimento e apresentação de objetos de aprendizagem com base nas necessidades da organização, que garantem a interoperabilidade com outros sistemas de aprendizagem; Facilita a aprendizagem baseada em competências - Abordagens baseadas em competências para a aprendizagem são centradas na intersecção de habilidades, conhecimentos e atitudes dentro da rubrica de modelos de competências fundamentais ao invés do modelo de curso. Embora esta abordagem tenha conquistado um grande interesse entre os empregadores e os educadores, um desafio constante na execução da aprendizagem baseada em competências é a falta de conteúdo apropriado que seja suficientemente modular para ser verdadeiramente adaptativo; Aumento do valor de um conteúdo - Do ponto de vista de negócio, o valor do conteúdo instrucional é incrementado a cada vez que é reusado, refletindo não somente na economia de tempo e dinheiro no projeto de novos conteúdos, mas também na possibilidade de retorno financeiro proporcionado pela venda destes objetos de aprendizagem. Conforme ressalta Araújo e Marquesi (2009): os objetos de aprendizagem permitem ao professor planejar uma aula/conteúdo por meio de diversas formas de visualização e de uso de mídias diferentes, abrangendo, assim, todos os estilos de aprendizagem individuais de seus estudantes, o que possibilita melhora no processo de ensino-aprendizagem (ARAÚJO e MARQUESI, 2009, p. 359). EXCERTOS DO PROJETO DESENVOLVIDO O projeto desenvolvido pela PUCPR, contou com o apoio do CNPq e buscou validar o ensino mediado pelo computador, mais especificamente utilizando objetos de aprendizagem, na formação continuada por meio de curso de extensão de educação ambiental para alunos das engenharias. Os alunos da Engenharia Elétrica e da Engenharia Ambiental, inscreveram-se no curso intitulado Uso Racional da Água e da Eletricidade, desenvolvido no ambiente virtual Eureka. Na ferramenta plano de trabalho, disponibilizou-se a agenda de atividades para o semestre letivo, conforme visto na figura 3. Figura 3- Tela de acesso as atividades agendadas na sala virtual “Uso Racional da Água e da Eletricidade” Os alunos que inscreveram-se neste curso acessaram este objeto de aprendizagem em casa, em qualquer horário mais conveniente, conforme a sua disponibilidade. Semanalmente, os alunos freqüentavam a sala online e estudavam os conteúdos ali depositados no formato de objetos de aprendizagem. Também recebiam as orientações acerca da preparação das atividades que desenvolveriam com os alunos do Ensino Fundamental da Escola Pública. O plano de curso previu que os alunos freqüentassem os módulos de estudo especialmente desenvolvidos para esta intervenção, sem a presença da professora, em casa ou no laboratório de informática, por meio do computador, e na semana seguinte, desenvolvessem a preparação de atividade a ser implementada na Escola Pública utilizando os conhecimentos daquele módulo. As atividades criadas pelos alunos da graduação deveriam se adequar a faixa etária dos alunos do Ensino Fundamental. Esta rotina repetiu-se durante seis semanas. Figura 4- Tela de acesso aos módulos na sala virtual “Uso Racional da Água e da Eletricidade” Em todos os passos do projeto, os alunos tiraram dúvidas utilizando a ferramenta correio ou fórum do ambiente EUREKA. A agenda de intervenção na escola pública também foi negociada pelo ambiente, mostrando uma eficácia na interação dos alunos. Ao término destas semanas, com os materiais prontos, os alunos dirigiram-se a Escola Estadual Manoel Ribas, situada em uma comunidade carente, e aplicaram as atividades junto às crianças das 2as, 3as e 4as séries. A possibilidade de se inserir módulos de ensino apoiado mediados por computador configurou-se em mais uma alternativa de apresentar ao aluno orientações de como abordar o conteúdo, como estudar, como testar seus conhecimentos, desenvolvendo a autonomia para estudar e a auto-avaliação. Por meio de telas específicas, os ambientes virtuais possibilitaram a realização de exercícios de aprendizagem auxiliados por informações teóricas; justificaram os possíveis erros e acertos dos estudantes; e indicaram a necessidade de se refazer módulos anteriores ou sinalizaram a promoção para o módulo seguinte. Estes procedimentos foram oferecidos como alternativa para a aprendizagem, quando esta se apresentou insuficiente em sala de aula. Ou ainda, antes de se introduzir determinado tema, foi solicitado ao aluno que freqüentasse determinados módulos como pré-requisito para um melhor aproveitamento do conteúdo novo. As diferentes formas de aprender e os diversos estilos de aprendizagem fundamentam a pertinência em se disponibilizar informações em ambientes virtuais, de forma diferenciada e que se constitua em um incentivo para os alunos na busca e na gestão de seu próprio conhecimento. A inserção de temas de estudo no ambiente EUREKA disponível na PUCPR e acessível aos alunos, garantiu mais uma forma de acesso ao conhecimento elaborado, fortalecendo a base teórica do aluno e oportunizando a busca contínua pela sua autonomia. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A PESQUISA REALIZADA A oferta de conteúdos mediados por computador amplia as oportunidades de aprendizagem. Observou-se, nesta investigação a importância de se mesclar as atividades assíncronas (por meio do ambiente EUREKA), e os encontros presenciais com os alunos da graduação para o planejamento da ação que seria desenvolvida junto aos alunos da escola pública, no intuito de privilegiar as atividades presenciais para debates, discussões e planejamento participativo dentro das equipes sobre a ação a ser executada com os alunos do Ensino Fundamental. A fim de determinar o perfil dos alunos envolvidos no projeto foi aplicado um questionário com 57 perguntas objetivas, divididas em 6 categorias. O questionário foi aplicado pelas professoras para os alunos do curso. A contabilização das perguntas realizadas nos questionários submetidos aos alunos ao término do projeto, permite afirmar que o grupo que freqüentou o curso possuiu perfil adequado, pois 100% dos alunos declarou ter acesso a computador em casa ou no trabalho e 80% declarou ter acesso à Internet sem restrições, somente 20% somente acessavam com restrições. A qualidade do material foi percebida pelos comentários: “ gosto de aprender assuntos além dos ensinados em sala de aula” ; “ usei a tecnologia para a resolução de problemas de aprendizagem”. Houve, contudo, a queixa dos alunos quanto à indisponibilidade de tempo, que foi confirmada ao se confrontar com os seguintes dados levantados: 54% dos alunos trabalham meio–período, 34% dos alunos trabalham período integral, apenas 12% dos alunos não trabalham. Embora 60 % dos alunos tenham declarado possuir autonomia para estudar, 50% dos alunos afirmaram que faltou tempo para acessar com qualidade a totalidade do material. Quanto à liberdade de escolha da seqüência, 50% dos alunos afirmaram ser importante a escolha de ordem de estudo do material, enquanto os outros 50% afirmaram ser indiferente para sua aprendizagem. Já a maioria (70%) dos alunos afirmou aprender melhor quando visualiza vários exercícios resolvidos, e 73 % afirmaram “aprender melhor quanto tem bastante exercícios para resolver”. De forma complementar, os alunos universitários responderam a um questionário sobre diversos aspectos da metodologia de estudo online. Destacamos algumas considerações dos alunos quanto às vantagens do uso do material didático online com relação ao livro texto da disciplina: • As vantagens de ter acesso ao material disponível online é justamente acesso a informação independente do local onde encontra-se o aluno, bastando para isto que o mesmo tenha ao seu alcance apenas o acesso a internet; (Aluno 26) • Pode ser acessado de qualquer local; (Aluno10) • Não ha dependência quanto à disponibilidade na biblioteca ou compra do livro; (Aluno 56) • O material didático online oferece uma mobilidade maior em relação ao material escrito; (Aluno 61) • Facilita o aproveitamento do conteúdo em horário flexível. (Aluno 81) Percebe-se nestas considerações que a possibilidade de acesso e utilização do material disponível no Ambiente Virtual de Aprendizagem EUREKA em tempos e locais distintos dos momentos em sala de aula foi considerada um facilitador do processo de ensinoaprendizagem. Ainda apontaram que a utilização dos variados recursos ofertados pela linguagem multimídia, dentre eles figuras, animações, som, imagem e simulações, ampliam as possibilidades de aprendizagem pelo fato de proporcionar estímulos diferenciados, como se vê nos comentários abaixo: • Gosto de aprender assuntos além dos ensinados em sala de aula; (Aluno 5) • Usei a tecnologia para a resolução de problemas de aprendizagem; (Aluno 4) • O material é bem explicativo e de fácil entendimento, e o conteúdo está disposto em uma seqüência lógica; (Aluno 17) • O material online pode conter animações e representações que não podem estar contidas em um livro comum; (Aluno 28) • Velocidade; (Aluno 56) • Animações que facilitam esclarecimento; (Aluno 68) • Aliar a informática ao habito de estudo, o qual torna atrativo para os jovens; (Aluno 53) • Outro aspecto vantajoso do material didático estar online é a possibilidade de se utilizar os recursos multimídias proporcionados pelos computadores como figuras com animações; (Aluno 26) • Ajuda na hora de realizar atividades, enquanto lê (sic) o conteúdo. (Aluno 49) Como desvantagens do material didático online em relação ao livro texto da disciplina dentre os matérias coletados elencaram-se os seguintes comentários: • Uma desvantagem com relação ao material ser online, foi o tempo para poder acessá-lo, pois durante o período da execução do projeto ocorreu o acúmulo de avaliações e trabalhos da faculdade, o que dificultou; (Aluno 32) • Outra desvantagem foi que, alguns termos não eram tão conhecidos e tínhamos que pesquisar sobre, outros termos já continham definição no próprio material; (Aluno 12) • Leitura pode ser mais cansativa; (Aluno 19) • Necessidade de acesso a internet para visualizar o material; (Aluno 43) • O material escrito é de mais fácil citação em trabalhos científicos; (Aluno 9) • Apesar de conter espaço para conter anotações, é sempre mais fácil fazer anotações em material escrito; (Aluno 75) • Dificuldade de demonstrar esta ferramenta a outras pessoas; (Aluno 66) • Quem não tem internet em casa, tem mais dificuldades para realizar as atividades; (Aluno 15) • Faltava opção de download de todo o conteúdo para leitura off-line. (Aluno 39) Também foram destacadas algumas vantagens do livro didático sobre o material online: • Uma das vantagens que os livros proporcionam é a quantidade maior de informação disposta sobre o assunto, mas as mesmas não estão em apenas um livro texto devemos fazer uso de pelo menos 6 livros para ter acesso a todas informações sobre o assunto que foi apresentado em apenas um material online; (Aluno 19) • Outra vantagem do livro texto é sobre os equacionamentos das fórmulas que em livros é mais fácil de acompanhar. (Aluno 27) Desta forma, considerando o conteúdo técnico interativo e o espaço amostral foi possível constatar que o material desenvolvido tornou-se uma ferramenta positiva na forma de ensino/aprendizagem destinado ao aluno, possibilitando a difusão do conhecimento a partir de um conteúdo acessível, confortável e que não se isole, ao contrário, que abra novas vias de comunicação, personalizadas e adaptadas a qualquer realidade e usuário. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados e as respostas dos alunos permitiram validar a metodologia de estudo online com o uso de objetos nas disciplinas específicas dos Cursos de Engenharia Elétrica e Engenharia Ambiental. À exemplo de outras experiências educacionais bem sucedidas, (KEMCZINSKI, 2000; SCHEER, 2007), este projeto visou a melhoria das interfaces alunoconteúdo, constituindo-se em um incentivo ao aprendizado e estimulando a fixação do aluno no curso. Ao término da experiência, observou–se que o professor autor pode contribuir em prover aos designers instrucionais, materiais que usem uma linguagem concreta e dialógica alinhada aos eventos instrucionais, e à metodologia aplicada. O designer instrucional preocupa-se com as normas e padronizações para garantir a reusabilidade, sendo esta a grande vantagem dos objetos de aprendizagem. Esta característica também permite acelerar e diminuir o custo de produção, imprimindo maior flexibilidade na montagem de cursos. Os módulos foram numerados em uma seqüência para atender ao curso do projeto de pesquisa, contudo, o ordenamento destes módulos pode ser redirecionado a qualquer momento por qualquer professor da instituição, permitindo a utilização dos mesmos por outras disciplinas e por outros professores como apoio a alguns conteúdos no ensino presencial universitário. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO JR., Carlos Fernando de; MARQUESI, Sueli Cristina. Atividades em ambientes virtuais de aprendizagem: parâmetros de qualidade. In: LITTO, Frederic Michael; FORMIGA, Marcos. Educação a Distância: o estado da arte. São Paulo: Pearson Education do brasil, 2009. BECK, R.J. Learning Objects: What? Center for International Education. University of Wisconsin. Milwaukee. 2001. FABRE, M. M.; TAROUCO, L.R., TAMUSIUNAS, F.R. Reusabilidade de Objetos educacionais. RENOTE- Revista Novas Tecnologias na Educação. Porto Alegre, fev 2003. 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