Meu nome é Maria Eduarda e sou aluna de mestrado em Ciência Política da UFPE (turma 2012). Raquel pediu-me que eu descrevesse um pouco minha preparação para a prova do concurso do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) para o cargo de Analista Técnico de Políticas Sociais (ATPS), em que fui aprovada no começo deste ano. Espero que meu relato possa ajudar àqueles que têm interesse nessa carreira, que oferece uma excelente oportunidade de trabalhar com políticas públicas. Antes de tudo, queria deixar claro que o quesito sorte esteve mais presente nesse concurso do que estaria normalmente. Por quê? Porque como o ATPS é um cargo novo, esse foi o primeiro concurso para a carreira. Além de muitos candidatos recearem estudar sem parâmetros anteriores, o concurso ainda tinha o agravante de lidar com matérias a que os “concurseiros” não são muito afeitos: caiu formação econômica do Brasil, gestão de projetos, gestão de pessoas e- para o terror de muitos, mas não dos alunos de CPRI- estatística. Isso fez com a concorrência para a área que escolhi (gestão social) fosse bem baixa se comparada a outros concursos. Por ter me beneficiado dessa sorte, pude estudar as matérias ao mesmo tempo em que me dedicava às disciplinas do mestrado. Eu ia às aulas, cumpria o calendário de leituras e, com o tempo que sobrava, tentava estudar os assuntos da prova. Em outras palavras, a prioridade foi o mestrado. Acho importante dizer isso porque meu caso mostra que nem sempre é preciso parar tudo e estudar para concursos. Em realidade, em concursos como o de ATPS, e, principalmente, o de Gestor em Políticas Públicas (EPPGG), creio que as discussões da pós-graduação- sobretudo as matérias de Flávio Rezende e Marcus André, no caso da UFPE- são de fundamental importância. Com organização e disciplina, é possível conciliar o estudo para esse tipo de prova com as reflexões acadêmicas. Na minha opinião, acho um caminho bem mais interessante do que memorizar pela enésima vez as apostilas rasteiras que circulam por aí. A prova de ATPS tem três fases: questões objetivas divididas entre conhecimentos básicos e conhecimentos específicos (I), questões discursivas (II) e análise de títulos (III). Na parte de conhecimentos básicos, caiu português, inglês, gestão de pessoas, direito público, políticas públicas, economia brasileira contemporânea e realidade brasileira. Na parte de conhecimentos específicos, caiu gestão de projetos, estatística básica e gestão social. Em cada parte da prova, era necessário ter uma pontuação mínima de 60. Somadas as pontuações de ambas as partes, o candidato precisava de, no mínimo, 144 pontos de um total de 240 para estar apto a realizar a segunda fase. Essas notas mínimas foram bastante elevadas, considerando a quantidade de matérias exigidas, por isso, minha estratégia para passar teve de ser livrar de toda e qualquer forma o corte. O que eu fiz foi enfatizar as matérias em que eu tinha mais dificuldades ou de que eu não sabia absolutamente nada. Elas foram gestão de projetos, gestão social e gestão de pessoas (matérias de administração) e estatística. Por haver um intervalo de três meses entre o lançamento do edital e a primeira fase, deu pra estudar uma grande parte dos pontos dessas matérias, mas não de forma aprofundada. Estudei as matérias de administração por umas aulas em pdf do Ponto dos Concursos, que eram uma feliz exceção à regra: boas, diretas e sem erros de português. Já Estatística, cujo programa ia de descritiva a inferencial, estudei por aulas em vídeo do site Eu vou Passar. Um achado: o professor é um egresso do ITA e suas explicações são bastante didáticas. Discutidas as matérias que eu estudei com mais afinco, sobram as matérias que estudei com menos cuidado. Em relação a português e inglês, creio que todos concordam que elas são construções a longo prazo. Se a pessoa tem interesse em revisálas antes da prova, recomendo fazer exercícios, mas não dá pra preencher muitas lacunas em tão pouco tempo. Já direito público foi uma disciplina negligenciada porque minha graduação é em Direito. Pensei que isso já me garantiria uma boa pontuação, e não poderia estar mais enganada. Foi a matéria em que menos pontuei, muito provavelmente porque já tinha esquecido que as questões de direito são verdadeiros testes mnemônico. É triste, mas necessário, memorizar os artigos da constituição, os prazos etc. Outra matéria negligenciada foi políticas públicas, visto que, pasmem, de políticas públicas não tinha nada. A banca juntou uma série de leis que iam de Violência contra Mulher a Acesso à Informação e as compilou sob o nome de “políticas públicas”. O que fiz foi ler a letra da lei algumas vezes, e é isso que recomendo quando o edital menciona expressamente uma lei. Para economia brasileira contemporânea, valeu-me muito uma leitura prévia: Formação Econômica do Brasil, de Celso Furtado. Por ser uma das poucas análises que unem história e economia para tentar compreender nosso passado, é um livro incontornável para concursos que envolvam economia brasileira. Também fiz um curso telepresencial de Formação Econômica do Brasil com o professor Daniel Sousa (Curso Clio), que é especialista na matéria. Em tese, ele dá aula para candidatos ao concurso para diplomata, mas as lições cobriram todo o programa do ATPS. No apagar das luzes, vale a pena ler a parte de formação econômica do Brasil do livro Economia Brasileira Contemporânea, do Grimaldi (em passant, li a cópia disponível no CCSA). Por fim, em Realidade Brasileira, tive o desprazer de ler uma apostila mal escrita e rasa. Não vou revelar o nome do autor, mas vou dar a saída para evitar as sessões de tortura por que tive de passar: o clipping do Ministério do Planejamento (https://conteudoclippingmp.planejamento.gov.br/) e os estudos do IPEA. O primeiro responde pela atualidade e o segundo pela profundidade. Com ambos, resolve-se a prova de realidade brasileira. Em relação à segunda fase, era necessário escrever uma dissertação de 60 linhasque poderia versar sobre Direito Público, Políticas Públicas, Economia Brasileira e Realidade Brasileira- e uma questão problema de trinta linhas- que poderia versar sobre Gestão de projetos, Estatística básica e Gestão Social. Na prova, caiu realidade brasileira e gestão social, mas, em minha opinião, o tema em si é de importância menor. Como quem corrige a redação é um especialista em português, e não em gestão social, seu interesse maior vai ser buscar erros de concordância, de crase, de vírgula, etc. Quanto ao conteúdo, existe a possibilidade de analisar o tema por meio de abordagens distintas, sem que uma esteja mais certa do que a outra. Assim, na segunda fase, a estratégia foi não descuidar do português e continuar a estudar os temas possíveismenos estatística, porque achei bem improvável que caísse uma questão problema nessa área. Em fevereiro desse ano, saiu o resultado parcial do concurso, e, felizmente, fui aprovada. No entanto, o resultado final ainda não saiu, pois a banca está na fase de análise dos títulos dos candidatos. Com não comecei a trabalhar, não posso esclarecer dúvidas muito específicas sobre o que farei, mas fico à disposição para respondê-las daqui a alguns meses. Espero que meu relato, se não ajudar na preparação para próximos concursos, sirva para mostrar que, sim, há vagas na área de Ciência Política. Muitas delas não são tão atrativas quanto as de garçom do Senado, mas é bom pensar positivo: em vez de servir cafezinho, você servirá ao interesse público. Assim, pode avisar a seus pais- naqueles almoços familiares em que você faz um esforço hercúleo para explicar o que estuda- que não será necessário flertar com a mendicância. Há funções muito interessantes, na academia e fora dela, que podem contribuir significativamente para a melhoria do sistema político nacional. Cabe a nós nos capacitarmos para exercê-las! Boa sorte a todos! Maria Eduarda Paiva [email protected]