O EX-COMBATENTE BRASILEIRA NO PÓS SEGUNDA GUERRA MUNDIAL Renata Viana e-mail: [email protected] (Proic/Fundação Araucária bolsista), Francisco César Alves Ferraz (Orientador), e-mail: [email protected] Universidade Estadual de Londrina/Departamento de História/Londrina, PR. Ciências Humanas, História, História Moderna e Contemporânea Palavras-chave: Força Expedicionária Brasileira; Veteranos de Guerra; Reintegração Social. Resumo: O objetivo deste trabalho é analisar a desmobilização e o retorno dos combatentes civis da Força Expedicionária Brasileira, bem como a sua retomada a vida civil, ao trabalho e ao meio familiar. Para tanto, foram pesquisadas fontes documentais e bibliográficas sobre a preparação para a desmobilização e retorno, sobre as festividades na recepção dos excombatentes, e sobre os problemas encontrados pelos ex-combatentes na tentativa de retomar a vida social e profissional nos anos seguintes ao final da Segunda Guerra Mundial. Introdução Esta pesquisa faz parte de um projeto maior, que tem como objetivo compreender o processo de reintegração social dos veteranos brasileiros e estadunidenses da Segunda Guerra Mundial em uma análise comparada. Neste, a problemática principal será estudada a partir de variáveis como as experiências anteriores de reintegração social de veteranos de guerra, as formas de recrutamento e natureza dos combatentes, a preparação do Estado e das Forças Armadas para a ressocialização pós-guerra de cidadãos civis convertidos em soldados, à recepção da sociedade não-combatente e as formas de organização política e social dos veteranos de guerra. O subprojeto, cujo relato é aqui desenvolvido, concentra seu foco na reintegração dos veteranos de guerra brasileiros, especialmente as providências tomadas pelas autoridades militares e civis do país para a desmobilização e reintegração à sociedade dos vinte e cinco mil combatentes, bem como nos problemas encontrados pelos veteranos na volta à sociedade civil. No Brasil, depois das boas festas de recepção em geral muito calorosas e festivas tidas por muitos ex-combatentes como apoteóticas, teve fim muito rápido e o retorno à vida civil foi, em geral, bem difícil, pois, não tiveram a ajuda do Estado e nem das Forças Armadas para se reintegrarem na sociedade (BARBOSA, 1985; BARCELOS, 1965; LEAL, 1957), esses homens foram desmobilizados sem nenhuma política de reintegração, e nenhum tipo de acompanhamento médico. A legislação ex-combatente é vasta principalmente aos expedicionários militares, para os civis ela foi omissa e tardia em várias situações, como, por exemplo, a assistência aos mutilados e incapacitados (MELLO, 1978), muitas leis eram burladas, e algumas até mesmo desconhecidas por parte dos pracinhas. Mesmo as leis que previam a retomada dos empregos deixados temporariamente pelos combatentes, durante seu serviço na FEB, não foram cumpridas, havendo o registro de muitas demissões (FERRAZ, 2003), o empregador muitas vezes alegava problemas psicológicos, neuroses de guerra. Além das dificuldades profissionais, os veteranos tiveram certos problemas para conviver com a sociedade não-combatente, até mesmo por que, depois da guerra, nem eles eram os mesmos rapazes que saíram do país, nem a sociedade não-combatente era a mesma (CALDAS, 1950; FERRAZ, 2003). Os problemas psicológicos decorrentes de muitos meses em combate, as doenças originadas no front, as conseqüências dos ferimentos de guerra, as deformações, tornavam mais difíceis ainda a reintegração de alguns excombatentes. O pracinha teve seu estereótipo relacionado a neurose de guerra, e vários tiveram problemas com alcoolismo, alguns se tornaram mendigos, há varias reportagens nos jornais desses veteranos sofrendo com a miséria e o desemprego sendo este um dos maiores problemas enfrentados na retomada destes a vida civil. Os ex-combatentes, desde os primeiros tempos de readaptação à vida civil, criaram e apoiaram as associações de veteranos, para encaminharem a resolução de seus problemas e desenvolverem contatos sociais, as associações (SMALLMAN, 1998). Nessas associações eles entravam em contato com a legislação os seus direitos. Elas não conseguiram fazer pressão na sociedade por representarem uma parcela muito pequena da sociedade brasileira. Materiais e Métodos A pesquisa bibliográfica foi inicializada com leituras sobre a temática da desmobilização e reintegração social dos ex-combatentes de conflitos de massa, especificamente aqueles relacionados às guerras mundiais (FERRAZ, 2008). Os arquivos das associações de ex-combatentes de São Paulo e Rio de Janeiro, digitalizados pelo orientador, além da legislação sobre os excombatentes, têm sido analisados. O processo de análise compreende também um trabalho de campo, com a organização, leitura e análises dos documentos digitalizados, em viagem de estudos ao Rio de Janeiro, no Arquivo do Exército e do Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial. Essa documentação, dados o seu volume e abrangência, está em fase inicial de pesquisa. Resultados e Discussão Pelo que já foi possível abordar, os ex-combatentes brasileiros tiveram uma grande dificuldade de readaptação a vida civil, principalmente por que não contarem com uma politica governamental satisfatória para suas ecessidades. Além da rápida desmobilização, que trouxe diversos prejuizos aos excombatentes. Eles foram jogados a sua própria sorte, depois de deixarem, por ordem do Estado nacional, seus empregos, famílias e laços sociais, para lutarem pelo páis na Segunda Guerra Mundial. Por outro lado, houve um grande despreparo por conta da sociedade civil para entender as necessidades dos ex-combatentes, pois a maioria entendia que eram os veteranos que deveriam adaptar-se à sociedade, e não tinham nenhuma obrigação com a situação recíproca, ou seja, procurar entender os homens que voltavam mudados da guerra. Para as próximas fases da pesquisa, serão aprofundados os estudos já realizados, e iniciadas as análises sobre a documentação das associações e do Ministério da Guerra. Conclusões O trabalho ainda se encontra em andamento e, portanto, as conclusões ainda são provisórias, mas o que se pode notar é que realmente os brasileiros tiveram uma grande dificuldade de readaptação à vida civil. Nota-se também que a sociedade não-combatente (incluindo-se aí o Governo Federal), também não estava preparada para compreender os problemas dos veteranos. Eles não tiveram nenhum tipo de orientação medica e psicológica quando retornaram do front , e ainda tiveram que contar com uma legislação omissa e tardia que muitos nem sequer tiveram acesso. Agradecimentos A todos que contribuem, direta ou indiretamente, para minha produção. Meu orientador, família e amigos. Referências Barbosa, João Felipe Sampaio. Regresso e desmobilização da FEB: problemas e conseqüências. A Defesa Nacional. Rio de Janeiro, Nº 719, mai-jun 1985. Barcellos, Luciano Alfredo. A flagelação dos ex-combatentes. In: LOUZEIRO, José (org.). Assim marcha a família. Onze dramáticos flagrantes da sociedade cristã e democrática, no ano do IV Centenário da cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965. Caldas, Maj. Mirandolino. O Posto Avançado de Neuro-Psiquiatria da FEB (PréFEB/FEB/Pós-FEB). Rio de Janeiro: s/ed., 1950. Ferraz, Francisco César Alves. A guerra que não acabou: a reintegração social dos veteranos da Força Expedicionária Brasileira. Tese de Doutorado – História. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 2003. __________. As guerras mundiais e seus veteranos: uma abordagem comparativa. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 28, n. 56, p. 463-486, 2008. Leal, José. O outro lado da glória. O Globo. Rio de Janeiro. (série semanal de reportagens) set-out, 1957. Mello, José Luiz Ribeiro (org.). A legislação do ex-combatente. Rio de Janeiro: Ed. Expedicionário, 1978. Smallman, Shawn. The Official Story: The violent censorship of Brazilian veterans, 1945-1954. Hispanic American Historical Review, Vol. 78, Nº 2, may 1998, p.229-59.