Departamento de Engenharia Mecânica Área Científica de Mecânica dos Meios Sólidos Materiais / Materiais I Guia para Trabalho Laboratorial IDENTIFICAÇÃO DE MATERIAIS SÓLIDOS ATRAVÉS DA DENSIDADE 1. Introdução Os materiais para engenharia são convencionalmente classificados em cinco classes: metais, polímeros, vidros, cerâmicos e compósitos. Cada uma destas classes de materiais é caracterizada por um perfil de propriedades (como sejam a densidade, módulo de elasticidade, resistência mecânica, tenacidade, condutividade térmica) com uma gama característica de valores1. A densidade dos materiais é uma propriedade determinante nas utilizações em que o peso final do componente condiciona a sua aplicabilidade. Um exemplo relevante é a selecção de materiais compósitos e ligas leves para o fabrico de componentes para a indústria aeronáutica. A densidade absoluta (ρ) de um material, também designada por massa volúmica, é o quociente entre a massa de uma amostra desse material (m) e o respectivo volume (V): ρ= m V [kg/m3]a (1) A densidade é uma característica de cada material e é constante para um dado valor de pressão e temperatura. A densidade depende da eficiência do empacotamento dos átomos ou iões que constituem o material, do seu diâmetro e especialmente do seu peso atómico (que varia desde 1 para o hidrogénio para 238 para o urânio)1,2. Ou seja, de modo geral os metais têm densidades elevadas porque os átomos metálicos são pesados e densamente empacotados. Os cerâmicos, vidros e os materiais poliméricos têm densidades menores porque os átomos que os constituem são mais leves e adoptam estruturas fracamente empacotadas. Como tal, a densidade dos materiais para engenharia (estima-se que existam actualmente cerca de 80.000 materiais disponíveis1) depende da sua composição (ou seja, se é formado por um ou mais do que um tipo de átomos) e do seu grau de compactação (materiais com elevada densidade de poros são constituídos por grande fracção de espaço não preenchido). A gama de valores de densidade dos cinco grupos de materiais para engenharia encontram-se representadas na Figura 1. a 3 As unidades habitualmente utilizadas são g/cm . Eng. Produção Mecânica; Eng. Mecânica Térmica; Eng. Electromecânica; Eng. Mecânica Automóvel MG, CP, AS, MJC Ano lectivo 2005-2006 1 Departamento de Engenharia Mecânica Área Científica de Mecânica dos Meios Sólidos 3x104 Cerâmicos e Vidros Metais WC Platina Tungsténio Ouro TiC Zrc Chumbo Prata Cobre Níquel Ferro, Aços Zinco Polímeros Compósitos Cermets 104 5x103 3x103 Al2O3, MgO, Si3N2, SiC Haletos alcalinos ρ /kgm-3 Rochas Vidro Cimento 103 Titânio Alumínio Berílio PTFE PVC Epóxidas PMMA Nylon PS PE Borrachas Gelo GFRP’s CFRP’s Madeiras 5x102 3x102 Espumas 102 50 30 Fig. 1. Representação gráfica dos valores da densidade (ρ) de metais, vidros, cerâmicos, polímeros e compósitos2. A densidade de um sólido não penetrável pode ser determinada experimentalmente de modo expedito com recurso ao Princípio de Arquimedes: um corpo imerso num fluído está sujeito a uma força vertical (impulsão), igual ao peso de fluído deslocado e com sentido oposto ao da força gravítica: I = g.ρ L .Vi (2) onde I é a impulsão, g é a aceleração da gravidade, ρL é a densidade do líquido e Vi o volume da parte imersa do corpo. Como tal, a densidade de corpos sólidos pode ser determinada por medição da impulsão sofrida quando o corpo é imerso num líquido de densidade conhecida. Por aplicação deste princípio, a densidade de objectos sólidos constituídos por materiais mais densos que a água (ρL = 1 g/cm3) pode ser determinada através da seguinte expressão: ρ= Par Par − Págua (3) Eng. Produção Mecânica; Eng. Mecânica Térmica; Eng. Electromecânica; Eng. Mecânica Automóvel MG, CP, AS, MJC Ano lectivo 2005-2006 2 Departamento de Engenharia Mecânica Área Científica de Mecânica dos Meios Sólidos onde Par é o peso do objecto emerso (ao ar) e Págua é o peso do objecto quando imerso em água. Quando o corpo tem densidade igual ou inferior à da água (corpo que flutua sobre a água) a sua imersão é conseguida através da utilização de um contrapeso e a densidade é calculada a partir da seguinte expressão: ρ= Par PC − Ptotal + Par (4) onde Par é o peso do corpo emerso, Pc é o peso do contrapeso quando imerso e Ptotal é o peso do conjunto (corpo + contrapeso) quando imerso. 2. Objectivo Determinação da densidade de vários materiais de engenharia através da aplicação experimental do Princípio de Arquimedes. Avaliação do efeito da geometria dos corpos no valor da densidade. Avaliação do efeito da porosidade dos corpos no valor da densidade dos materiais. 3. Procedimento Experimental 3.1 Material e Equipamento − Balança (A&D, 1200G) − Suporte para colocação das peças. − Tina com água. − Materiais com densidades diferentes: aço (geometria cilíndrica e ‘osso-de-cão’), latão, ligas de alumínio (geometria cilíndrica e ‘osso-de-cão’), de chumbo, e de titânio; mulite (amostra porosa e amostra densificada), poliestireno e madeira. 3.2 Método Experimental Ao efectuar a pesagem de amostras imersas, o suporte deve ser colocado em cima da balança. A tina com água deve ser colocada sobre a bancada. 3.2.1 Materiais mais densos que a água - Pesar as amostras dos vários materiais ao ar (Par, Figura 2.a)). Eng. Produção Mecânica; Eng. Mecânica Térmica; Eng. Electromecânica; Eng. Mecânica Automóvel MG, CP, AS, MJC Ano lectivo 2005-2006 3 Departamento de Engenharia Mecânica Área Científica de Mecânica dos Meios Sólidos - Pesar as várias amostras imersas em água. As peças devem ser colocadas de forma a ficarem completamente imersas e a não tocarem nas paredes da tina (Figura 2.b)). (a) (b) Fig. 2. Determinação da densidade de um material que afunda na água3: (a) pesar a amostra ao ar, (b) pesar a amostra quando imersa em água. 3.2.2 Materiais menos densos que a água Se o material for menos denso que a água (flutua sobre a água) deve ser-lhe associado um contrapeso, para possibilitar a imersão. Neste caso serão efectuadas 3 medidas: − Pesagem da amostra emersa (Par, Figura 3.a)). − Pesagem do contrapeso imerso (Pc, Figura 3.b)). − Pesagem do conjunto (amostra + contrapeso) imerso (Ptotal, Figura 3.c)). (a) (b) (c) Eng. Produção Mecânica; Eng. Mecânica Térmica; Eng. Electromecânica; Eng. Mecânica Automóvel MG, CP, AS, MJC Ano lectivo 2005-2006 4 Departamento de Engenharia Mecânica Área Científica de Mecânica dos Meios Sólidos Fig. 3. Determinação da densidade de um material que flutua sobre a água3: (a) pesar a amostra ao ar, (b) adicionar um contrapeso e pesar apenas com o contrapeso imerso em água, (c) pesar o conjunto (amostra + contrapeso) imerso em água. 4. Questionário No final deste Trabalho deverá responder aos seguintes pontos: 1. Calcule a densidade experimental das amostras estudadas utilizando as Equações 3 e 4. 2. Determine a densidade teórica do Alumínio sabendo que a sua estrutura cristalina é CFC e o seu peso atómico é 26,9815 u.m.a.. 3. Compare os valores obtidos com os valores apresentados na Tabela I e justifique as discordâncias encontradas. Tab. I. Valores teóricos típicos da densidade para materiais metálicos e não metálicos2. Material Densidade (g/cm3) Ferro Aço Chumbo Ligas de Chumbo Cobre Zinco Latões Titânio Ligas de Titânio Alumínio Ligas de Alumínio Mulite (Al6Si2O13) Poliestireno (PS) Madeira (pinho) 7,9 7,5 – 8,1 11,3 10,7 – 11,3 8,9 7,1 7,2 – 8,9 4,5 4,3 – 5,1 2,6 – 2,9 2.8 ∼1 0,4 4. Tendo em conta as determinações de densidade que efectuou para corpos do mesmo material com geometrias diferentes, parece-lhe que a geometria influencia o valor da densidade? 5. Tendo em conta os valores calculados para a densidade da mulite porosa e da mulite não porosa, explique o efeito da porosidade dos corpos na densidade do material. 6. Identifique as possíveis fontes de erro na experiência realizada. Eng. Produção Mecânica; Eng. Mecânica Térmica; Eng. Electromecânica; Eng. Mecânica Automóvel MG, CP, AS, MJC Ano lectivo 2005-2006 5 Departamento de Engenharia Mecânica Área Científica de Mecânica dos Meios Sólidos 5. Bibliografia 1. ASHBY, M. F. – Materials Selection in Mechanical Design. Oxford: Pergamon Press, 1992. 2. ASHBY, M. F., JONES, D. – Engineering Materials: An Introduction to their Properties and Applications. International Series on materials Science and Technology, vol. 34. Oxford: Pergamon Press, 1980. 3. Encyclopedia Americana, vol. 25, p. 464. Danbury: Grolier Incorporated, 1991. Eng. Produção Mecânica; Eng. Mecânica Térmica; Eng. Electromecânica; Eng. Mecânica Automóvel MG, CP, AS, MJC Ano lectivo 2005-2006 6