UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE BIOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA REINTRODUÇÃO DA CUTIA-VERMELHA (Dasyprocta leporina) NO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA (RIO DE JANEIRO, RJ): AVALIAÇÃO DOS PROCEDIMENTOS, DETERMINAÇÃO DO SUCESSO EM CURTO PRAZO E CARACTERIZAÇÃO DOS PADRÕES ESPACIAIS BRUNO CID Dissertação apresentada ao programa de pós-graduação em ecologia da universidade federal do rio de janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de mestre em ciências biológicas (ecologia). RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL 2011 BANCA EXAMINADORA _________________________________________ Prof. Dr. Adriano Chiarello (Universidade de São Paulo) _________________________________________ Prof. Dr. Marcus Vinícius Vieira (Universidade Federal do Rio de Janeiro) _________________________________________ Prof. Dr. Fernando A. S. Fernandez (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Suplentes _________________________________________ Prof. Dr. Helena Godoy Bergallo (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) _________________________________________ Prof. Dr. Carlos Ramon Ruiz-Miranda (Universidade Federal do Norte Fluminense) I FICHA CATALOGRÁFICA Cid, B. Reintrodução da cutia-vermelha (Dasyprocta leporina) no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, RJ): avaliação dos procedimentos, determinação do sucesso em curto prazo e caracterização dos padrões espaciais. Rio de Janeiro, 2011 XVII + 133 p. Dissertação (Mestrado em Ecologia), Universidade Federal do Rio de Janeiro, Departamento de Ecologia, 2011 1. Reintrodução 2. Roedores 3. Organização espacial I. Fernandez, F. A. S. (Orientador) II. Universidade Federal do Rio de Janeiro – Departamento de Ecologia III. Título II AGRADECIMENTOS À minha família por todo o amor que recebi desde criança, por me proporcionarem uma infância rica e tranqüila. Especialmente ao meu pai por ser sempre um exemplo de retidão e por transmitir a mim a paixão que sempre teve pelos animais. À minha mãe por seu amor incondicional, sempre me defendendo, mesmo quando eu não tinha razão. À minha irmã por estar ao meu lado todos esses anos, ser uma amiga e ter sempre uma palavra de razão a oferecer. Por último à minha avó, Maria José, por chamar minha atenção às maravilhas da natureza e por ser, provavelmente, a maior razão por eu ter escolhido essa profissão especial. A ela dedico essa dissertação. À Clarissa por dividir comigo todos os momentos desses últimos anos. Por ser minha melhor amiga e luz quando tudo parecia escuro. Não tenho palavras para descrever o que sinto por você e o quanto você é especial pra mim. Ao meu orientador, Fernando Fernandez, por confiar a mim um projeto que tinha muito para dar errado. Por ser um exemplo de amor à natureza e por mostrar que a genialidade e as bobagens do dia a dia podem andar juntas. À Alexandra Pires por sonhar esse sonho comigo, ser mais do que uma companheira, mas quase uma orientadora e por dividir comigo as responsabilidades sobre o projeto. Também gostaria de agradecer, porque não tive outro espaço para fazer isso devidamente, ao meu ex-orientador, Emiliano Calderon, por me mostrar que a vida de cientista de faz com garra e muita vontade, por aturar a minha falta de maturidade em certos momentos e por me perdoar por quase ter dado fim ao seu doutorado (estagiário só faz m**da!). III Aos meus companheiros de laboratório que tanto me ensinaram esses anos, pelos venenos que passamos juntos, por agüentarem as minhas paranóias e, muitas vezes, fazerem piada disso. Adriana, Andreas, Bella, Bernardo, Camila, Carin, Carlos, Cissa, Clarissa, Dani, Everton, Flora, Gabi, Hugo, Jorge, Leandro Macedo, Leandro Travassos, Manuel, Maron, Melina, Pâmela, Patrícia, Patagônia, Paula, Pelotas, Renatinho, Thiago, Verônica. À vocês meu muito obrigado! Um agradecimento em particular a Flora e Bella, que agüentaram as pontas do projeto durante o mês que me ausentei para ir ao curso de campo da Amazônia, uma das experiências mais espetaculares que tive na minha vida. Fica aqui um agradecimento especial a uma dupla que jamais esquecerei, ao Gustavo, por me ensinar uma das lições mais importantes que um cientista pode aprender: enxergar beleza na ciência e à Zucco que transforma essa beleza em números e linhas de comando, que tantas vezes foram importantes para minhas análises. As discussões ecológicas com vocês são como aulas. À Fundação Parques e Jardins por ter cedido os animais e, especialmente ao Isaias, por ser uma mão amiga, preparando o terreno para a captura das cutias, e estar sempre disposto a ajudar, mesmo que em cima da hora. À Henrique Zaluar, por ser grande entusiasta do projeto e fazer de tudo que estava a seu alcance para me ajudar, muitas vezes saindo de baixo de chuva para colocar a ceva dos animais. À Loreto, por ajudar a dar o pontapé inicial que talvez tenha sido decisivo para a realização do projeto. À Henrique Guerreiro por sempre perguntar como estavam os bichos e ter fornecido ajudas pontuais e essenciais em momentos de dificuldade. À Katyucha por apoiar o projeto e ao Thiago por ajudar com as imagens. Ao Celso pelo auxílio com a autorização para a captura das cutias. Ao Bernardo e IV Loscar por serem entusiastas da divulgação do projeto, importantíssima para mostrar às pessoas no que acreditamos. Ainda com a galera do Parque agradeço de coração a todos das equipes de trilhas que abraçaram o projeto como se fossem deles mesmo. Sempre sorrindo ao executar uma tarefa e as vezes me assustando quando estava sozinho mergulhado nos “bips” do receptor em meio a floresta. Suas observações sobre a localização dos bichos e o que estavam fazendo foi fundamental em várias etapas do projeto. À Anderson Augusto, por ter apoiado o projeto desde o início e feito tudo que estava a seu alcance para que ele se realizasse. Daniel Balthazar, por cuidar das cutias e estar sempre de bom humor, mesmo quando eu ligava várias vezes por semana. Aqui agradeço também a Alex e Fernando, por estarem sempre dispostos a “ver” os bichos quando eu precisava. À Luis Paulo Fedullo, por me impulsionar nos momentos difíceis. E, finalmente, à Rodrigo da Costa, por literalmente salvar esta dissertação quando eu já me encontrava descrente de que ela poderia acontecer. Aos funcionários do RioZoo por sempre me receberem com um largo sorriso no rosto e por tratar dos animais com amor. A todos os meus amigos de verdade que dão o colorido da minha vida. Pelas viagens, conversas, bebedeiras, conselhos e desvios de caminho que ajudaram a lapidar a pessoa que sou hoje e os valores que carrego comigo. Aos financiadores do projeto: Fundação O Boticário de Proteção à Natureza, Parque Nacional da Tijuca, Fundação Parque Zoológica da Cidade do Rio de Janeiro e Programa de Pós-Graduação em Ecologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro por entenderem a importância do projeto em momentos decisivos. V RESUMO - A reintrodução de espécies é uma ferramenta de conservação cada vez mais utilizada e necessária no cenário de devastação mundial. Para aumentar a eficácia dos programas de reintrodução é necessária a aproximação da prática com a ciência, desenvolvendo a biologia da reintrodução. O presente estudo, com cutias (Dasyprocta leporina) reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca, Rio de Janeiro, teve os objetivos de: (1) avaliar a importância dos procedimentos adotados durantes as fases da reintrodução; (2) definir o estado da reintrodução a curto prazo e (3) entender os padrões espaciais (áreas de vida e territorialidade) dos animais. Entre setembro de 2009 e dezembro de 2010 as cutias foram submetidas a um processo de soltura gradual e oito delas foram monitoradas. Todos os indivíduos perderam peso durante a quarentena, quando foi constatada deficiência imunológica nos animais. A aclimatação das cutias em um cercado construído no local de soltura mostrou-se importante para acostumar os animais ao novo ambiente e fazê-las ganhar peso antes da soltura. Apesar da maioria das mortes ter acontecido durante a aclimatação, o cercado promoveu a coesão inicial dos indivíduos e facilitou seu acesso à suplementação alimentar. Após a soltura, as cutias adaptaram-se bem ao novo ambiente, consumindo constantemente os itens alimentares encontrados na natureza. Um indivíduo morreu e três filhotes nasceram durante o período de monitoramento. As áreas de vida foram semelhantes entre machos e fêmeas (média = 7,9 ± 2,8 ha), corroborando a hipótese de um sistema de acasalamento complexo com uma mistura de monogamia e poligamia. Foi evidenciado um comportamento territorial dinâmico, com os machos defendendo temporariamente manchas de recursos, que são provavelmente árvores de sementes grandes. A reintrodução foi considerada bem sucedida a curto prazo e os procedimentos foram reconhecidos como adequados para as demandas da espécie no local. PALAVRAS-CHAVE: reintrodução, cutia, áreas de vida, Dasyprocta, Mata Atlântica. VI ABSTRACT – Species reintroduction has become ever more common and useful in the World’s devastation scenario. To make reintroduction programs work, practice must join science, developing reintroduction biology. The present study, with (Dasyprocta leporina) reintroduced in Tijuca National Park, Rio de Janeiro, had the goals of: (1) to evaluate the importance of the procedures adopted for the reintroduction; (2) to define the short-term status of the reintroduction and (3) to understand the spatial patterns (home ranges and territoriality) of the animals. From September 2009 to December 2010 the agoutis were released gradually and eight of them were monitored. All individuals lost weight during the quarentine, when imunological defficiencies were detected in the animals. The aclimatation of the agoutis in a fenced pen built in the place of release was important to get the animals used to the new environment and to allow them to increase their weights before the release. Although most deaths happened during the aclimatation, the pen allowed the initial coesion among the individuals and made easier their access to the food supplementation. After release, the agoutis adapted well to the new environment, using often the food itens found in nature. An individual died and three young were born during the monitoring period. Home range sizes were similar for both sexes (mean = 7.9 ± 2.8 ha), corroborating the hypothesis of a complex mating system with a mix of monogamy and polygamy. There was evidence of a dynamic territorial behavior, with males defending temporarily resource patches, which are probably large-seeded trees. The reintroduction was regarded as successful in the short term and the procedures were recognized as suitable for the local demands of the species. KEY-WORDS: reintroduction, agouti, home range, Dasyprocta, Atlantic Forest. VII ÍNDICE GERAL AGRADECIMENTOS III ______________________________________________________________________ RESUMO VI ______________________________________________________________________ ABSTRACT VII ______________________________________________________________________ ÍNDICE DE TABELAS X ______________________________________________________________________ ÍNDICE DE FIGURAS XII ______________________________________________________________________ INTRODUÇÃO GERAL 1 ______________________________________________________________________ ESPÉCIE ESTUDADA 5 ______________________________________________________________________ ÁREA DE ESTUDO 7 ______________________________________________________________________ HISTÓRICO DA CUTIA NO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA 11 ______________________________________________________________________ CAPÍTULO I - REINTRODUÇÃO DE CUTIAS VERMELHAS (DASYPROCTA LEPORINA) NO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA: PROCEDIMENTOS PRÉ E PÓS-SOLTURA E AVALIAÇÃO DO SUCESSO EM CURTO PRAZO 1.1 – INTRODUÇÃO 14 ______________________________________________________________________ 1.2 – MATERIAIS E MÉTODOS 19 ______________________________________________________________________ 1.3 – RESULTADOS 28 ______________________________________________________________________ 1.4 – DISCUSSÃO 37 ______________________________________________________________________ VIII CAPÍTULO II - PADRÕES ESPACIAIS DE CUTIAS REINTRODUZIDAS: FIDELIDADE AO CERCADO DE ACLIMATAÇÃO, DEPENDÊNCIA DA SUPLEMENTAÇÃO ALIMENTAR, ÁREAS DE VIDA E TERRITORIALIDADE 2.1 – INTRODUÇÃO 51 ______________________________________________________________________ 2.2 – MATERIAIS E MÉTODOS 56 ______________________________________________________________________ 2.3 – RESULTADOS 65 ______________________________________________________________________ 2.4 – DISCUSSÃO 80 ______________________________________________________________________ CONSIDERAÇÕES FINAIS 91 ______________________________________________________________________ ANEXO A 94 _____________________________________________________________________ ANEXO B 99 ______________________________________________________________________ REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 102 ______________________________________________________________________ IX ÍNDICE DE TABELAS HISTÓRICO DA CUTIA NO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA TABELA 1 ______________________________________________________________________ Histórico de soltura de indivíduos de Dasyprocta leporina no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil), descrevendo o número de indivíduos introduzidos e o local de soltura dos animais. CAPÍTULO I TABELA I.1 ______________________________________________________________________ Indivíduos de cutia Dasyprocta leporina capturados no Campo de Santana (Rio de Janeiro, Brasil) para futura reintrodução no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil). F = fêmea e M = macho, colar = cor do colar, captura = data da captura no Campo de Santana, triagem = primeira triagem realizada no RioZoo, transporte = data do transporte dos animais do RioZoo para o cercado de aclimatação no Parque Nacional da Tijuca, soltura = data da soltura e situação atual = condição do indivíduo ao fim do estudo. TABELA I.2 ______________________________________________________________________ Itens alimentares consumidos na natureza por cutias Dasyprocta leporina reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca, RJ. O número de localizações se refere à quantidade de localizações nas quais foi possível identificar o item alimentar consumido. CAPÍTULO II TABELA II.1 ______________________________________________________________________ X Indivíduos de cutia (Dasyprocta leporina) monitorados após reintrodução no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil). F = fêmea e M = macho; colar = cor do colar; localizações = total de localizações durante o estudo; erro = erro médio do GPS; dias de monitoramento = dias não consecutivos de monitoramento. TABELA II.2 ______________________________________________________________________ Estimativas (em hectares), por dois estimadores diferentes, das áreas de vida de cutias (Dasyprocta leporina) reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil). F = fêmea e M = macho; colar = cor do colar; localizações = total de localizações selecionadas para as estimativas das áreas de vida (apenas a estimativa por MPC 100% levou todas em consideração); MPC 100% = área de vida estimada por mínimo polígono convexo levando em consideração todas as localizações; kernel 80% href = área de vida estimada por kernel fixo usando 80% de href como parâmetro de suavização, excluindo 5% das localizações mais externas. ANEXO A TABELA A.1 ______________________________________________________________________ Primeiro grupo de indivíduos da cutia vermelha Dasyprocya leporina levados à Floresta da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil) para o cercado de aclimatação. A data da chegada ao cercado se refere ao dia em que os animais receberam os colares e foram transportados do RioZoo para o Parque Nacional da Tijuca. M = macho e F = fêmea. XI ÍNDICE DE FIGURAS ÁREA DE ESTUDO FIGURA 1 ______________________________________________________________________ Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil) e posição no município do Rio de Janeiro (detalhe no canto direito superior). Fonte: Parque Nacional da Tijuca. FIGURA 2 ______________________________________________________________________ Diagrama ombrotérmico do Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil) no ano de 2010. A linha contínua indica a precipitação mensal e a linha tracejada representa a temperatura média mensal. CAPÍTULO I FIGURA I.1 ______________________________________________________________________ Captura das cutias Dasyprocta leporina no Campo de Santana (Rio de Janeiro, Brasil) a serem reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil). (A) cutia capturada na armadilha Tomahawk grande e (B) caixa usada para o transporte dos animais. FIGURA I.2 ______________________________________________________________________ Procedimentos pré-soltura de cutias Dasyprocta leporina reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil). (A) sexagem (detalhe da genitália feminina); (B) pesagem; (C) coleta de sangue e (D) cutias em cativeiro durante a quarentena. FIGURA I.3 ______________________________________________________________________ XII Figura esquemática do cercado de aclimatação construído no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil) para a soltura gradual das cutias Dasyprocta leporina. (A) detalhe do anexo e (B) detalhe da parte principal. FIGURA I.4 ______________________________________________________________________ Comparação entre os pesos de machos e fêmeas de cutias (Dasyprocta leporina) capturados no Campo de Santana (Rio de Janeiro, Brasil). Os pesos usados nesta comparação foram os obtidos na primeira triagem, tão logo os animais chegaram na Fundação RioZoo. FIGURA I.5 ______________________________________________________________________ Comparação entre os pesos dos indivíduos na triagem 1 (logo após a captura no Campo de Santana) e na triagem 2 (no último dia da quarentena) (151,9 ± 35,6 dias). As linhas conectam as medidas retiradas para o mesmo indivíduo nas duas ocasiões. FIGURA I.6 ______________________________________________________________________ Comparação entre os pesos dos indivíduos na triagem 2 (logo após a captura no Campo de Santana) e no retorno à Fundação RioZoo (no caso dos animais que precisaram de tratamento após 15 dias no cercado de adaptação, ver anexo A) (15 dias). As linhas conectam as medidas retiradas para o mesmo indivíduo nas duas ocasiões. FIGURA I.7 ______________________________________________________________________ Comparação entre o tempo em que cada grupo de cutias liberadas no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil) levou para atingir a independência alimentar. CAPÍTULO II FIGURA II.1 ______________________________________________________________________ XIII Localizações de cutias (Dasyprocta leporina) reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil). Cada cor refere-se a um indivíduo monitorado cujas identificações estão na legenda da figura. F=fêmea e M=macho. A cor entre parênteses identifica o colar de cada animal. Cercado = posição do cercado de aclimatação (ver capítulo I). As linhas azuis representam cursos d’água. FIGURA II.2 ______________________________________________________________________ Áreas utilizadas durante a fase de dependência da suplementação por cutias (Dasyprocta leporina) reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil). As áreas foram estimadas ajustando-se um MPC 100% a todas as localizações de cada indivíduo durante o tempo em que se alimentaram da suplementação. FIGURA II.3 ______________________________________________________________________ Análise das curvas de acumulação de área de vida (estimadas por mínimo polígono convexo excluindo 5% das localizações mais externas) para cutias (Dasyprocta leporina) reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil). Cada curva refere-se a um indivíduo monitorado cuja identificação está na legenda da figura. F = fêmea e M = macho. A cor entre parênteses identifica o colar de cada animal. O macho M6 é representado por duas curvas, pois apresentou duas áreas de vida durante o período de estudo (ver métodos – área de vida). FIGURA II.4 ______________________________________________________________________ Relação entre o tamanho das áreas de vida de cutias (Dasyprocta leporina) reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil) e o número de localizações usadas para estimá-las. As áreas de vida foram estimadas por kernel fixo 95% usando 80% de href como parâmetro de suavização. O número de localizações se refere aos conjuntos de 95% das localizações usados para a estimativa das áreas de vida. XIV FIGURA II.5 ______________________________________________________________________ Comparação entre as áreas de vida de cutias (Dasyprocta leporina) reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil) com as descritas em outros trabalhos. F=fêmeas (pontos pretos) e M=machos (pontos brancos). As áreas de vida estimadas em Silvius & Fragoso (2003) e Jorge & Peres (2005) são para e mesma espécie estudada no presente trabalho. As áreas de vida estimadas em Aliaga-Rossel et al. (2008) são para Dasyprocta punctata na ilha de Barro Colorado. FIGURA II.6 ______________________________________________________________________ Áreas de vida de cutias (Dasyprocta leporina) dos dois sexos reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil). As áreas de vida mostradas nesta figura foram calculadas por kernel fixo usando 80% de href como parâmetro de suavização. FIGURA II.7 ______________________________________________________________________ Relação entre os tamanhos das áreas de vida de cutias (Dasyprocta leporina) reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil) e as distâncias máximas percorridas por elas. FIGURA II.8 ______________________________________________________________________ Distâncias máximas percorridas por cutias (Dasyprocta leporina) dos dois sexos, reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil). A distância máxima percorrida foi calculada como a distância euclidiana entre o ponto de soltura (cercado de aclimatação, ver capítulo I) e a localização mais distante deste ponto para cada animal. FIGURA II.9 ______________________________________________________________________ Distribuição das localizações de cutias (Dasyprocta leporina) reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil) durante o monitoramento intensivo. (A) XV fêmeas - a fêmea F3 não pode ser localizada no primeiro dia de monitoramento, mas sabe-se que a mesma ficou a uma distância mínima de 300 m do cercado neste dia (ver texto) e (B) machos. Cada cor refere-se a um indivíduo monitorado cujas identificações estão na legenda da figura. F=fêmea e M=macho. Cercado = posição do cercado de aclimatação (ver capítulo I). A cor entre parênteses identifica o colar de cada animal. FIGURA II.10 ______________________________________________________________________ Índices de agregação (método do vizinho mais próximo, nearest neighbor, Krebs 1989) das localizações de cutias (Dasyprocta leporina) dos dois sexos durante o monitoramento intensivo, reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil). FIGURA II.11 ______________________________________________________________________ Áreas de vida de cutias (Dasyprocta leporina) reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil) durante o período do estudo (fevereiro – dezembro 2010). Cada cor refere-se a um indivíduo monitorado cujas identificações estão na legenda da figura. Cercado=posição do cercado de aclimatação. F=fêmea e M=macho. A cor entre parênteses identifica o colar de cada animal. ANEXO A FIGURA A.1 ______________________________________________________________________ Testes realizados com os protótipos dos colares no RioZoo para avaliar a adaptação dos animais ao equipamento modificado de 23 de Dezembro de 2009 a 18 de Janeiro de 2010. (A) protótipos dos colares e (B) cutia equipada com protótipo de colar. FIGURA A.2 ______________________________________________________________________ XVI Colares usados em cutias (Dasyprocta leporina) reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca, RJ. (A) Colar TXE 311C original (Telenax®; Playa del Carmen, México) e (B) colar modificado para prevenir ferimentos: transmissor e antena da Telenax fixados a um cabo de aço utilizando cola Araldite e massa de poliéster, sendo o cabo envolto por uma mangueira de borracha. ANEXO B FIGURA B.1 ______________________________________________________________________ Coelho nativo, tapiti (Sylvilagus brasiliensis, Lagomorpha) consumido pela cutia fêmea F6 reintroduzida no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil). XVII INTRODUÇÃO GERAL As diversas intervenções humanas (e.g. agricultura, pecuária e expansão urbana), impulsionadas pelo avanço tecnológico, populacional e econômico fazem com que as alterações causadas na natureza sejam cada vez mais catastróficas para a fauna (Hughes et al. 1997; Terborgh 1999). Essas alterações muitas vezes levam à perda local de populações (Hughes et al. 1997; Ceballos & Ehrlich 2002) e à extinção de espécies em escala global (Ehrlich & Ehrlich 1981; Pimm et al. 1995). Para mitigar os efeitos da ocupação humana sobre as espécies animais, diversas estratégias de conservação são propostas. Neste contexto, uma ferramenta que vem ganhando espaço no cenário da conservação mundial e sendo cada vez mais recomendada e usada é a reintrodução de espécies (Sarrazin & Barbault 1996; Fischer & Lindenmayer 2000; Armstrong & Seddon 2007; Seddon et al. 2007). O objetivo final de qualquer projeto de reintrodução é o estabelecimento de uma população selvagem, auto-sustentável (IUCN 1998). Alcançar este objetivo final é complicado não só porque é difícil definir a partir de que momento uma população se torna auto-sustentável, mas porque este estado pode ser momentâneo e um diagnóstico de sucesso prematuro pode comprometer todo o projeto (Seddon 1999). Wolf et al. (1996) mostraram que quatro dos 74 projetos de reintrodução considerados bem sucedidos em 1987 apresentavam populações declinando em 1993. Estes fatos evidenciam a importância do monitoramento dos indivíduos liberados na natureza, procedimento muitas vezes negligenciado no passado e considerado essencial para qualquer projeto de reintrodução atualmente (Sarrazin & Barbault 1996; Seddon 1999; Fischer & Lindenmayer 2000; Armstrong & Seddon 2007; Ewen & Armstrong 2007; Seddon et al. 2007). 1 A incerteza quanto ao estado final dos programas e as altas taxas de insucesso das reintroduções realizadas no passado, juntamente com o aumento da quantidade de programas de reintrodução com propósito de conservação de espécies, fizeram com que surgisse a necessidade de aumentar o conhecimento sobre as causas das falhas recorrentes (Long 1981; Griffith et al. 1989; Fischer & Lindenmayer 2000; Armstrong & Seddon 2007; Seddon et al. 2007; Jule et al. 2008). Em resposta a essas demandas surgiu a biologia da reintrodução, que tenta aliar os esforços práticos de conservação à teoria, visando aumentar o sucesso dos programas de reintrodução (Armstrong & Seddon 2007; Seddon et al. 2007). Peça fundamental da biologia da reintrodução, o monitoramento começou a ser cada vez mais recomendado, sendo, hoje em dia, obrigatório em qualquer programa de reintrodução (Sarrazin & Barbault 1996; Hein 1997; Seddon 1999; IUCN 1998; Fischer & Lindenmayer 2000; Armstrong & Seddon 2007; Ewen & Armstrong 2007; Seddon et al. 2007; IBAMA 2008). O monitoramento traz informações importantes acerca da ecologia da espécie em questão, como padrões de movimentação e estabelecimento das áreas de vida, permitindo a avaliação dos procedimentos adotados na reintrodução (Sarrazin & Barbault 1996). Valendo-se deste monitoramento é possível acompanhar os animais em suas atividades diárias e, consequentemente, avaliar o sucesso da reintrodução (Fischer & Lindenmayer 2000), o que é essencial para futuras decisões sobre o manejo da população reintroduzida. Johnsingh et al. (2007) consideraram a falta de monitoramento como uma das principais causas do insucesso na tentativa de reintrodução de uma população de leões (Panthera leo persica) no santuário de Chandrprabha, Índia. Fischer & Lindenmayer (2000), por sua vez, mostraram que 51% dos casos analisados por eles nos anos 90 não chegaram a uma conclusão sobre o estado final do programa de reintrodução, muitas vezes por falta de monitoramento. 2 Sendo a reintrodução uma prática cara (Kleiman 1989; IUCN 1998; Fischer & Lindenmayer 2000), fica cada vez mais evidente a necessidade da aproximação entre os projetos de reintrodução e a ciência para a obtenção de melhores resultados (Sarrazin & Barbault 1996; IUCN 1998; Sanz & Grajal 1998; Ewen & Armstrong 2007). Consequentemente é necessário planejar os programas de reintrodução como experimentos e desenhar o monitoramento para responder perguntas estabelecidas a priori (Armstrong & Seddon 2007; Ewen & Armstrong 2007). A reintrodução de espécies é essencialmente uma ferramenta que visa aumentar a persistência de uma espécie em escala global (IUCN 1998). No entanto, dentre as metas principais encontram-se também o restabelecimento de espécies-chave e restauração da biodiversidade natural (IUCN 1998), objetivos mais próximos à restauração de ecossistemas. Esse enfoque, apesar de negligenciado no passado, tem sido cada vez mais comum nos projetos de reintrodução (Armstrong & Seddon 2007; Seddon et al. 2007) e o alcance desta meta tem aparecido como o objetivo de alguns trabalhos de reintrodução recentemente (e.g. Belusova et al. 2005; Donlan et al. 2006; Rubenstein et al. 2006; James & Eldridge 2007; Licht et al. 2010). A restauração de ecossistemas pode ser realizada através da recuperação de interações animal-planta, como a dispersão de sementes. Sendo assim, o objetivo geral deste trabalho é utilizar o potencial da cutia Dasyprocta leporina como dispersora de sementes no Parque Nacional da Tijuca. Apesar de a espécie aparecer como vulnerável na lista de espécies ameaçadas do Município do Rio de Janeiro (Vera y Conde et al. 2000), é no contexto geral de restauração de ecossistemas que o presente trabalho se foca. A presente dissertação estrutura-se em dois capítulos. No primeiro serão discutidos aspectos gerais do programa de reintrodução de cutias no Parque Nacional da Tijuca com ênfase na avaliação dos procedimentos adotados e na determinação da 3 situação da reintrodução em curto prazo. O segundo capítulo aborda os padrões espaciais dos indivíduos reintroduzidos. Por fim, encontram-se as conclusões gerais sobre os aspectos abordados nos dois capítulos. 4 ESPÉCIE ESTUDADA As espécies do gênero Dasyprocta apresentam patas longas e finas, dorso posterior longo e fortemente curvado e cauda obsoleta nua. As patas anteriores têm quatro dígitos e as posteriores, três, sendo estas últimas munidas de garras que se assemelham a cascos. A pelagem do dorso é formada por pêlos hipertrofiados que se eriçam em situações de alarme ou estresse, quando o animal pode emitir alguns sons (Emmons & Feer 1997, Reis et al. 2006). Em Dasyprocta leporina esses pêlos apresentam coloração amarelo-alaranjada, razão pela qual a espécie é chamada vulgarmente de cutia-vermelha, cutia-laranja ou cutia-dourada. A espécie em questão, a forma de D. leporina do sul da bacia Amazônica e leste do Brasil, foi reconhecida como uma forma distinta do tipo de D. leporina, que ainda não foi formalmente descrita sendo designada por Ximenes (1999) e Reis et al. (2006) como Dasyprocta aff. leporina. Na ausência de uma descrição formal deste táxon, e por simplicidade, a espécie estudada será denominada daqui para a frente apenas como Dasyprocta leporina. A cutia vermelha está distribuída no sul da bacia amazônica, e no leste do Brasil (Paraíba, Pernambuco, Bahia, Espírito Santo) até os estados de São Paulo e Rio de Janeiro, onde é a única espécie do gênero (Reis et al. 2006). As cutias habitam florestas pluviais (Amazônica e Floresta Atlântica), florestas semidecíduas, cerrados e caatingas até 2000m de altitude, geralmente com distribuição associada a cursos d´água. São diurnas e crepusculares, sendo mais ativas no início da manhã e no final da tarde (Nowak 1991; Jorge & Peres 2005) A espécie é monogâmica e territorialista, vivendo em pares ou em pequenos grupos familiares formados pelos pais e seus filhotes. Apresenta reprodução ao longo de todo o ano, com um período de gestação de 105 a 120 dias, produzindo geralmente duas 5 ninhadas por ano com um a três filhotes. O peso dos animais varia de 3 a 6 kg e o comprimento corporal total de 49 a 64 cm, sendo as fêmeas maiores do que os machos e apresentando quatro pares de mamas (Dubost 1988; Emmons & Feer 1997; Reis et al. 2006). As áreas de vida estimadas para a espécie variam de 3 a 8,5 ha (Jorge & Peres 2005; Rodríguez & Vaughan 1985; Silvius & Fragoso 2003). As densidades populacionais encontradas diferiram bastante entre os locais estudados, variando de cinco a 40 indivíduos/km2 (Janson & Emmons 1990; Peres 1999; Silvius & Fragoso 2003; Jorge & Peres 2005). As cutias se alimentam da polpa de frutos, sementes, raízes, cotilédones, folhas, fungos e até mesmo invertebrados, mas tem preferência por frutos e sementes (Henry 1999a e 1999b; Silvius & Fragoso 2003). Esses animais apresentam comportamento de estocagem, acumulando sementes enterradas em diversos locais dentro de sua área de vida durante a estação de abundância de recursos para posterior consumo em períodos de escassez (Henry 1999a e 1999b). Em cutias, esse comportamento é mais importante para algumas espécies arbóreas de sementes grandes (Forget 1990; Peres & Baider 1997; Smythe 1989), sendo essencial na determinação do padrão espacial dos adultos (Silvius & Fragoso 2003). Tal hábito é fundamental para a dispersão e recrutamento destas espécies vegetais, sendo considerado uma das principais forças ecológicas que atuam na estruturação e manutenção da biodiversidade em florestas tropicais (Janzen 1971; Howe & Smallwood 1982). Sendo assim, acredita-se que as cutias poderão ajudar na dispersão de várias plantas nativas encontradas na Floresta da Tijuca que hoje se encontram carentes de dispersores. 6 ÁREA DE ESTUDO O Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, RJ, Brasil) é considerado a maior floresta urbana do mundo, com uma área de 3.953 ha (ICMBIO 2008). O Parque situase no centro da cidade do Rio de Janeiro, nas montanhas do Maciço da Tijuca (22°55‟ – 23°00‟S e 43°11‟ – 43°19‟W, ICMBIO 2008) (Figura 1). Apresenta relevo acidentado com altitude variando entre 80 e 1.021m. Parque Nacional da Tijuca Limites do Parque Nacional da Tijuca Zona de amortecimento Figura 1. Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil) e posição no município do Rio de Janeiro (detalhe no canto direito superior). Fonte: Parque Nacional da Tijuca. 7 A vegetação do PNT é classificada como floresta ombrófila densa secundária em estágio avançado de regeneração (Alto Montana, Montana e Submontana), típica de Mata Atlântica. Há algumas espécies exóticas dentre as quais se destacam a jaqueira (Artocarpus heterophilus), os eucaliptos (Eucalyptus sp.) e a dracena (Dracaena fragrans), introduzidas durante um programa de reflorestamento conduzido no fim do século XIX (ICMBIO 2008). O clima da região é tropical com verões chuvosos e invernos secos. A precipitação anual normalmente excede os 2.000mm e as temperaturas médias anuais variam entre 18° e 22°C (ICMBIO 2008). Durante o período no estudo (Fevereiro a Dezembro de 2010) a precipitação total foi de 2601,8 mm e a temperatura média mensal 26,1 ± 1,9°C (Instituto Nacional de Meteorologia, dados obtidos da estação automática do Alto da Boa Vista, RJ; Figura 2). 700 350 600 500 210 400 300 140 Temperatura (oC) Precipitação (mm) 280 200 70 100 0 0 F M A M J J A S O N D Figura 2. Diagrama ombrotérmico do Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil) no ano de 2010 (Instituto Naicional de Meteorologia). A linha contínua indica a precipitação mensal e a linha tracejada representa a temperatura média mensal. 8 O histórico do PNT foi retirado do plano de manejo do Parque (ICMBIO 2008) e é como se segue. As primeiras intervenções humanas consideráveis na área do futuro Parque Nacional da Tijuca aconteceram a partir do século XVII, quando tiveram início as atividades da indústria canavieira, com a extração de madeira para ser transformada em lenha e carvão. As primeiras plantações de cana-de-açúcar ocuparam, a princípio, grandes extensões de baixada, ganhando depois as encostas. Porém, a maior devastação da área de floresta aconteceu por volta de 1760, quando o café começou a ser plantado no Rio de Janeiro. Por quase todo o século XIX, a área da alta tijuca foi ocupada por numerosas plantações de café, aproveitando o solo florestal rico em nutrientes, e começou o histórico de introdução de espécies exóticas. Contudo, a ocupação parece não ter atingido toda a área e alguns locais como a região mais elevada da Serra da Carioca, situada entre as Paineiras e o Sumaré, permaneceram relativamente bem preservadas. A vinda de D. João VI para o Brasil, o estabelecimento da corte na Quinta de São Cristóvão e o rápido crescimento da cidade naquela área tornaram insuficiente o abastecimento de água proveniente do Rio da Carioca. No decreto de 9 de Agosto de 1817, D. João mandou cercar todos os terrenos do alto da serra, onde se localizavam as nascentes do Rio da Carioca. A necessidade de assegurar a manutenção dos sistemas de abastecimento de água fez com que a atenção do governo se voltasse cada vez mais para as áreas montanhosas. Destas, a mais importante – por sua proximidade com a área urbana – era a do maciço da Tijuca, cuja exuberante vegetação original encontrava-se devastada pelo plantio do café e pela extração de madeira. A solução encontrada e urgentemente executada foi o reflorestamento. Em 1861, a Decisão n° 577 da nova secretaria baixava "Instruções Provisórias para o Plantio e Conservação das Florestas da Tijuca e Paineiras". Em 4 de Janeiro de 1862 sob a liderança do major Manuel Gomes Archer, começou o reflorestamento que durou 13 anos. Durante este período foram 9 plantadas mais de 60 mil mudas de várias espécies, em uma área de cerca de 1600 ha. Devido a este histórico de devastação, muitas interações e processos ecológicos ainda não foram restabelecidos na área do atual Parque Nacional da Tijuca. A ausência de muitas espécies animais, por exemplo, faz com que as teias tróficas sejam mais empobrecidas (Oda 2000) e o recrutamento de algumas espécies de plantas características de estágios avançados de sucessão seja reduzido (Montezuma et al. 2005). Para tentar mitigar os problemas causados pelo histórico de devastação do Parque Nacional da Tijuca, foram iniciados, em 1969, os primeiros repovoamentos faunísticos (Coimbra-Filho & Aldrighi 1971). A restauração faunística, como foi chamada, tinha como objetivo reintroduzir espécies já desaparecidas e também realizar um reforço populacional (sensu IUCN 1998) das espécies existentes. Inicialmente foram reintroduzidos 423 indivíduos de 15 espécies de aves e 15 indivíduos de cinco espécies de mamíferos. Em 1971 foram soltas mais 436 aves (pertencentes a 16 espécies) e 17 mamíferos (Coimbra-Filho & Aldrighi 1971). 10 HISTÓRICO DA CUTIA NO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA Durante os repovoamentos faunísticos mencionados acima, as cutias foram descritas por Coimbra-Filho & Aldrighi (1971) como extremamente escassas. Os mesmos autores, por sua vez, já consideravam o repovoamento com indivíduos dessa espécie como sendo de grande importância, existindo preocupação específica com a dispersão de sementes no Parque (Coimbra-Filho et al. 1973). Em 1971 foi feita a primeira soltura de cutias no Parque, sendo liberados sete indivíduos. Outras solturas de D. leporina ocorreram entre 1972 e 1973, quando foram liberados mais 25 indivíduos, incluindo uma fêmea prenhe (Tabela 1). Nessa época a espécie foi considerada restabelecida no Parque de onde havia desaparecido havia aproximadamente duas décadas (Coimbra-Filho et al. 1973). Apesar das cutias serem animais de fácil visualização (Jorge & Peres 2005), nos últimos anos não há nenhum registro da espécie no Parque tanto por pesquisadores como por funcionários. Esse fato leva a crer que a repovoamento faunístico da cutia vermelha falhou e que a mesma estava extinta no local, antes do início do presente trabalho. 11 Tabela 1. Histórico de soltura de indivíduos de Dasyprocta leporina no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil), descrevendo o número de indivíduos introduzidos e o local de soltura dos animais. Data 08/12/1971 13/07/1972 20/07/1972 26/10/1972 22/12/1972 31/01/1973 03/03/1973 18/05/1973 Total de indivíduos Número de indivíduos 7 2 adultos 3 adultos 2 jovens 4 adultos 3 adultos 1 fêmea grávida 3 adultos 25 Local Estrada Dona Castorina Vista Chinesa Vista Chinesa Vista Chinesa Vista Chinesa Vale do Rio dos Macacos Vista Chinesa Vale do Rio dos Macacos Fonte: Coimbra-Filho & Aldrighi (1972) e Coimbra-Filho et al. (1973) 12 CAPÍTULO I REINTRODUÇÃO DE CUTIAS VERMELHAS (Dasyprocta leporina) NO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA: PROCEDIMENTOS PRÉ E PÓSSOLTURA E AVALIAÇÃO DO SUCESSO EM CURTO PRAZO 13 INTRODUÇÃO A reintrodução de espécies é definida como uma tentativa de estabelecer uma espécie em uma área que foi parte de sua distribuição histórica, mas da qual ela foi extinta localmente (IUCN 1998). Essa prática tem como objetivos principais: aumentar a persistência de uma espécie em longo prazo, restabelecer uma espécie-chave importante para o ecossistema, manter ou restaurar a biodiversidade natural, prover benefícios econômicos em longo prazo e promover sensibilização para a conservação (Kleiman 1989; IUCN 1998). Muitos trabalhos que se propuseram a realizar algum desses objetivos através da reintrodução de animais na natureza falharam (Long 1981; Griffith et al. 1989; Wolf et al. 1996; Fischer & Lindenmayer 2000; Seddon et al. 2007; Jule et al. 2008). Entretanto, com o aumento da quantidade de trabalhos de reintrodução de espécies nos últimos anos, muito foi aprendido e alguns fatores importantes que podem contribuir para o sucesso dos programas foram identificados (Sarrazin & Barbault 1996; Wolf et al. 1996; Fischer & Lindenmayer 2000; Armstrong & Seddon 2007; Seddon et al. 2007; Jule et al. 2008). Dentre estes fatores, que podem agir sinergeticamente, podemos destacar: extirpação da causa da extinção da espécie, qualidade do habitat, origem dos animais, escolha da técnica de soltura, estação climática da soltura, suplementação pós-soltura e monitoramento dos animais reintroduzidos (Kleiman 1989; Griffith et al. 1989; Wolf et al. 1996; IUCN 1998; Wolf et al. 1998; Seddon 1999; Griffin et al. 2000; Ewen & Armstrong 2007; IBAMA 2008; Jule et al. 2008; Morhouse et al. 2009). Uma condição primária para que se realize a reintrodução de uma espécie é que a causa que tinha levado a população ao declínio/extinção local não mais represente uma ameaça à população reintroduzida (Sarrazin & Barbault 1996; IUCN 1998; Fischer 14 & Lindenmayer 2000; Ewen & Armstrong 2007; IBAMA 2008; Morhouse et al. 2009). Entre as causas mais comuns descritas em trabalhos de reintrodução/translocação ou enumeradas em revisões sobre o tema estão: perda de habitat, fragmentação, predação ou competição com espécies exóticas, caça e conflito com humanos (e.g. Short et al. 1992; Jones et al. 1995; Wolf et al. 1996; Short & Turner 2000; Ostermann et al. 2001; Chiarello et al. 2004; Faulhaber et al. 2006; Ausband & Foresman 2007; Garret et al. 2007; James & Eldridge 2007; Seddon et al. 2007; Hedrick & Frederickson 2008; Jule et al. 2008; Rouco et al. 2010). Para extirpar ou reduzir essas causas antes da soltura, muitos trabalhos tem recorrido a soluções como: soltar os animais em mata contínua ou fragmentos maiores (no caso da perda de habitat e/ou fragmentação), realizar controle de espécies exóticas (no caso de predação ou competição) e/ou reduzir a caça e reintroduzir os animais em áreas cercadas (e.g. Beck et al. 1991; Jones et al. 1995; Lovegrove 1996; Combreau & Smith 1998; Armstrong & Ewen 2002; Chiarello et al. 2004; Hardman & Moro 2006; Kidjo et al. 2007; James & Eldridge 2007; Gusset et al. 2008). A garantia de que a causa de declínio/extinção da espécie esteja erradicada implica na escolha de um local adequado para a soltura. Sendo assim, a qualidade do habitat é de suma importância, sendo muitas vezes reconhecido como o fator mais decisivo para o sucesso dos programas de reintrodução (Griffith et al. 1989; Wolf et al. 1996; Wolf et al. 1998; Armstrong et al. 2002; Ewen & Armstrong 2007; Jule et al. 2008). Alguns trabalhos testaram a influência desta variável na sobrevivência/movimentação dos indivíduos ou persistência/crescimento da população reintroduzida (e.g. Schadt et al. 2002; Bouzat et al. 2009; Mihoub et al. 2009; Moorhouse et al. 2009; van Langeveld & Wynhoff 2009), mas poucos realizaram modificações no habitat de soltura (Catalán et al. 2008). Muitos destes trabalhos 15 demonstraram ou inferiram a importância da qualidade do habitat para o sucesso da reintrodução. A maioria dos animais usados em programas de reintrodução provém de estoques de cativeiro e o uso destes tem, freqüentemente, sido decisivo na recuperação de espécies ameaçadas (Snyder et al. 1996; Fischer & Lidenmayer 2000; Jule et al. 2008). Porém, os animais de cativeiro quando comparados a indivíduos nascidos na natureza, tem sobrevivência muito reduzida (Griffith et al. 1989; Wolf et al. 1996; Fischer & Lindemmayer 2000; Jule et al. 2008). Essa dificuldade é, em grande parte, decorrente de problemas associados com a longa estadia (muitas vezes por gerações) dos animais a serem reintroduzidos em recintos de zoológicos ou centros de triagem (Snyder et al. 1996; Griffin et al. 2000; McPhee 2003; Stoinsky et al. 2003; Mathews et al. 2005; Jule et al. 2008). Antes da soltura, animais de cativeiro precisam passar por um período de quarentena onde devem ser realizados exames de saúde que servem não só para evitar que eles levem doenças para o local de soltura, como para evitar reintroduzir animais debilitados (IUCN 1998; Munson et al. 2004; Mathews et al. 2006). Para esses animais, é recomendado o uso da soltura gradual (soft release), uma técnica que consiste em mantê-los em um cercado construído no local de soltura para liberá-los após um período de aclimatação (sensu Beck et al. 1991; Brigth & Morris 1994; Letty et al. 2000). Dentre as funções do cercado de aclimatação estão: acostumar os animais ao novo ambiente, observar possíveis problemas, fazê-los ganhar peso e realizar treinamentos pré-soltura (e.g. Beck et al. 1991; Bright & Morris 1994; Snyder et al. 1996; Vargas & Anderson 1999; Letty et al. 2000; Wanless et al. 2002; Azevedo & Young 2006; Shier & Owings 2006). Essa técnica tem aumentado a sobrevivência pós-soltura dos animais de cativeiro e, consequentemente, aumentado as chances de 16 sucesso das reintroduções que os utilizam (e.g. Bright & Morris 1994; Biggins et al. 1998; Wanless et al. 2002; Hunter et al. 2007; Maran et al. 2009; Rouco et al. 2010). Tendo em vista que a abundância de recursos pode flutuar durante o ano (Janzen 1973; Pearson & Derr 1986; Terborgh 1986; Wolda 1978), o sucesso da reintrodução também inclui a escolha da estação mais favorável para a soltura. Alguns autores já mostraram que animais soltos na estação de maior abundância têm melhor desempenho (Hellstedt & Kallio 1999; Ostermann et al. 2001; Oakleaf et al. 2004; Gusset et al. 2008). Porém, o uso da suplementação alimentar pós-soltura pode ajudar a atenuar os problemas trazidos pela liberação de indivíduos na estação de escassez de recursos alimentares (Brigth & Morris 1994; Lovegrove 1996). A suplementação alimentar é recomendada para qualquer programa de soltura que use animais provindos de cativeiro (Seddon 1999; IUCN 1998). Muitas reintroduções reconheceram sua importância não só para reduzir as chances de mortalidade pós-soltura dos animais como para mantê-los nas proximidades do cercado neste período crítico (e.g. Bright & Morris 1994; Passamani et al. 1997; Armstrong et al. 1999; Biggins et al. 1999; Pople et al. 2001; Armstrong et al. 2002; Banks et al. 2002; Wanless et al. 2002; Armstrong et al. 2007; Ewen & Armstrong 2007; Garret et al. 2007; Hayward et al. 2007; Catalán et al. 2008; Peignot et al. 2008; Marnewick et al. 2009). Esses dois efeitos aumentam as chances de sucesso da reintrodução por aumentar as chances de sobrevivência dos indivíduos soltos e por facilitar o monitoramento. O monitoramento deve ajudar os pesquisadores a responder, entre outras perguntas, aspectos referentes ao estabelecimento pós-soltura, sobrevivência, causas de morte e reprodução dos animais soltos, além de possíveis benefícios trazidos por estes ao ecossistema (Sarrazin & Barbault 1996; Hein 1997; IUCN 1998; Seddon 1999; Armstrong & Seddon 2007; Seddon et al. 2007; Ewen & Armstrong 2007; Jule et al. 17 2008). As respostas a todas essas questões ajudam a determinar o status da reintrodução, fornecendo as bases para definir se está sendo bem ou mal sucedida (Sarrazin & Barbault 1996; Seddon 1999; Mathews et al. 2005; Armstrong & Seddon 2007; Ewen & Armstrong 2007; Seddon et al. 2007; Fischer & Lindenmayer 2000). Dentre os critérios de avaliação do êxito da reintrodução em curto prazo estão: consumo de alimentos na natureza (com conseqüente independência da suplementação alimentar), sobrevivência dos animais soltos, estabelecimento pós-soltura destes animais e nascimento da primeira prole selvagem (Sarrazin & Barbault 1996; Sanz & Grajal 1998; Seddon 1999; Richard-Hansen et al. 2000; Ostermann et al. 2001; Richards & Short 2003; Hayward et al. 2007; Teixeira et al. 2007; Germano & Bishop 2008; Jule et al. 2008). O objetivo deste capítulo foi descrever os procedimentos adotados durante o processo de reintrodução da cutia vermelha Dasyprocta leporina no Parque Nacional da Tijuca, avaliando a contribuição de cada um para a situação final da reintrodução em curto prazo. Estas informações deverão servir de base para o manejo futuro desta população e poderão ser úteis para novas reintroduções desta espécie em outros locais, bem como para programas de reintrodução que tem como alvo outras espécies. 18 MATERIAIS E MÉTODOS Origem e captura dos animais a serem reintroduzidos Nos dias 24 de Setembro e 14 de Outubro de 2009 foram realizadas as capturas dos animais na Praça da República, mais conhecida como Campo de Santana, localizado no centro da cidade do Rio de Janeiro. O Campo de Santana, que possui cerca de 13 ha, é um Parque Municipal onde vivem aproximadamente 600 cutias (estimativa feita pelos funcionários da Fundação Parques e Jardins) que foram transferidos da Fundação Parque Zoológico da Cidade do Rio de Janeiro (Fundação RioZoo) na década de 60 (L.P. Fedullo, comunicação pessoal). O Campo de Santana pode ser considerado como um ambiente de semi-cativeiro para estes animais, que são alimentados diariamente e recebem cuidados veterinários esporádicos. Para a captura, foi escolhido um pequeno grupo de animais entre os que pareciam ser menos receptíveis à presença humana. Estes animais não deixavam que nos aproximássemos tanto e apresentavam resquícios de independência alimentar, comendo frutos do chão e os enterrando (Bruno Cid, observação visual). A captura foi realizada com o uso de armadilhas para captura viva. Para isso foram utilizadas 10 armadilhas grandes (100 x 80 x 80 cm) e seis médias (81 x 23 x 23cm), da marca Tomahawk (Tomahawk Live Trap Co., Tomahawk, Wisconsin, EUA), iscadas com banana e doce de leite, além da ceva diária dos animais (Figura I.1, A). Os indivíduos capturados foram transportados no mesmo dia para a Fundação RioZoo em caixas de madeira com compartimentos individuais (Figura I.1, B). 19 A B Figura I.1. Captura das cutias Dasyprocta leporina no Campo de Santana (Rio de Janeiro, Brasil) a serem reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil). (A) cutia capturada na armadilha Tomahawk grande e (B) caixa usada para o transporte dos animais. Triagem e quarentena Na Fundação RioZoo, a primeira triagem das cutias foi realizada em três ocasiões (dias 01, 05 e 22 de Outubro de 2009). A triagem consistiu na contenção física dos animais com a utilização de puçás de rede e posterior contenção química com utilização da associação entre quetamina (20mg/Kg) e xilazina (2mg/Kg) sob a supervisão dos veterinários da Fundação. Após a sedação dos animais foram realizados exames físicos, sexagem, pesagem, coleta de sangue através da veia safena lateral e coleta de fezes diretamente da ampola retal quando possível, para análises clínicas. Além disso, cada indivíduo recebeu um brinco de identificação numerado (Figura I.2, A, B e C). Para saber se houve diferença no peso entre os sexos foi feito um teste de Mann-Whitney. Durante a quarentena as cutias foram mantidas em um cativeiro coberto e com chão de concreto (Figura I.2, D). A alimentação consistiu de duas porções diárias 20 compostas principalmente de batata doce, aipim, beterraba, milho, banana, maçã, cenoura, repolho, abóbora e ração. A B C D Figura I.2. Procedimentos pré-soltura de cutias Dasyprocta leporina reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil). (A) sexagem (detalhe da genitália feminina); (B) pesagem; (C) coleta de sangue e (D) cutias em cativeiro durante a quarentena. A segunda triagem aconteceu sempre no mesmo dia em que os indivíduos triados eram transportados da Fundação RioZoo para o cercado de adaptação no PNT. Esta triagem consistia de uma nova pesagem, nova retirada de sangue, retirada de um fragmento de orelha para futura análise genética e colocação dos colares de radiotelemetria TXE-311C modificados (os colares usados inicialmente causaram 21 ferimentos aos animais que tiveram que voltar à Fundação RioZoo para troca dos mesmos, ver anexo A), com sensor de mortalidade (Telenax®; Playa del Carmen, México). O peso médio (± dp) dos colares foi de 22,7 ± 0,5 g, aproximadamente 1% do peso dos animais (menos do que 5%, como recomendado por Jacob & Rudran 2003). Para saber se houve alteração no peso dos indivíduos durante a quarentena, foi feito um teste t pareado entre o peso dos animais na primeira triagem (logo após a captura) e o peso do mesmo indivíduo na segunda triagem (no fim do período de quarentena). Construção do cercado e aclimatação dos animais Entre agosto e setembro de 2009, foram feitas três incursões ao Parque para a escolha do local mais adequado para a construção do cercado de aclimatação. O local para a construção (22º57‟08” S; 43º51‟9” W) foi definido por um balanço entre o aspecto estrutural da mata local e presença de riacho (quanto mais preservada a mata e mais próximo do riacho melhor) e proximidade da sede administrativa do Parque (quanto mais próximo melhor, para facilitar o transporte de materiais para a sua construção e posterior manutenção e acompanhamento dos animais durante a aclimatação). O cercado consistiu de uma base de alvenaria (tijolos e cimento), onde foi fixada uma tela de arame (2m de altura) com o auxílio de quatro postes de eucalipto tratado. O cercado, totalizando 10x10m, foi dividido em duas partes desiguais (parte principal com 8x10m e anexo com 2x10m) com uma conexão entre elas, cada uma com uma porta (Figura I.3). 22 8m 2m A 10m B Figura I.3. Figura esquemática do cercado de aclimatação construído no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil) para a soltura gradual das cutias Dasyprocta leporina. (A) detalhe do anexo e (B) detalhe da parte principal. Os animais retirados da Fundação RioZoo após a segunda triagem foram transportados em compartimentos individuais em caixas de madeira para o cercado de aclimatação no Parque da Tijuca como parte do procedimento de soltura gradual. No momento do transporte, aproveitou-se que os animais encontravam-se sedados pela contenção química; este procedimento facilitou o transporte das cutias, diminuindo o estresse desta etapa da reintrodução. Durante o tempo de aclimatação dos animais, foram disponibilizadas três caixas de madeira que serviram como abrigo para a chuva, dois recipientes contendo água à vontade e alimento (mistura de batata doce, aipim, beterraba, milho, banana, maçã, cenoura, repolho e abóbora) uma vez por dia, contendo 500g de alimento para cada indivíduo. Além disso, foram disponibilizados para os animais alimentos encontrados 23 na natureza (e.g. Beck 1991; Clark 2009), neste caso, frutos e sementes de espécies que estavam frutificando no Parque no momento. Neste período os animais foram vistoriados diariamente. Para saber se houve alteração no peso de cada indivíduo durante a aclimatação, foi feito um teste t pareado comparando o peso dos animais na segunda triagem (no fim do período de quarentena) com o peso do mesmo indivíduo 15 dias depois (período mínimo de aclimatação). Ainda, para saber se existe diferença no peso dos animais entre os sexos foi realizado um teste de Mann-Whitney levando em consideração apenas o peso na segunda triagem. Soltura A soltura dos animais aconteceu de forma sistemática, sempre no primeiro dia da semana no início da manhã, respeitando o horário de atividade das cutias (Aliaga-Rossel 2004; Jorge & Peres 2005; Kays et al. 2009). Nesse dia, de um a três animais foram liberados para permitir que o monitoramento intensivo acontecesse no decorrer da semana (ver capítulo II). Nessas solturas, um indivíduo por vez era encaminhado para o anexo. Uma vez lá e com a divisória entre as duas partes do cercado fechada, a porta do anexo era aberta e o animal podia sair quando e se quisesse. Após a saída, os indivíduos não eram perturbados (o observador se ausentava) para que não fosse induzido um movimento forçado, no qual eles poderiam se perder e não conseguir retornar ao cercado. O monitoramento começava na tarde do mesmo dia. Durante um mês após cada soltura, suplementação alimentar (500g de alimento para cada indivíduo), água à vontade e um abrigo eram disponibilizados diariamente no anexo que era deixado com a porta aberta, de forma que os indivíduos recém-soltos 24 podiam se alimentar e se abrigar quando quisessem. A ceva era retirada se os indivíduos não dependessem mais dela ou era reduzida gradualmente se estes demorassem muito a abandoná-la, forçando-os a buscar alimento na natureza gradualmente (e.g. Kleiman 1989; Beck et al. 1991; Peignot et al. 2008). Monitoramento Uma vez soltos, todos os animais eram monitorados com o uso de um receptor VHF TR-4 e uma antena RA-14k (Telonics®, Arizona, EUA). As localizações eram obtidas utilizando a técnica de homing-in on the animal. Esta técnica consiste em seguir o sinal do transmissor até que o animal monitorado seja avistado (White & Garrot 1990), ou quando é possível ouvir o sinal do rádiocolar com a antena desconectada do receptor (Lira et al. 2007). Testes realizados a priori no local do estudo mostraram que, desta última forma, o animal monitorado estaria a uma distância máxima de cinco metros do receptor. Para diminuir problemas de autocorrelação dos dados, localizações consecutivas do mesmo indivíduo foram obtidas com, no mínimo, uma hora de intervalo (Linders et al. 2004; Endries & Adler 2005), tempo suficiente para que um indivíduo atravesse toda a extensão de sua área de vida (Doncaster & MacDonald 1997). As localizações foram registradas com o uso de um aparelho de sistema de posicionamento global portátil (GPS Garmim e Trex H), com base em referências geográficas (coordenadas na projeção Universal Transverse Mercartor – UTM, South American Datum 69). A cada localização, era registrado o horário, erro do GPS (posteriormente incorporado às estimativas das áreas de vida, ver capitulo II), se o animal estava ativo ou inativo e, quando possível, se ele estava comendo e o que estava comendo, sempre com o auxílio de um binóculo. 25 Esse protocolo foi útil para avaliar os padrões espaciais dos animais (ver capítulo II), sua independência (em que momento abandonaram a suplementação alimentar), identificar os itens alimentares consumidos na natureza, estimar a sobrevivência anual, identificar as causas de morte e registrar nascimentos. A dependência em relação a suplementação foi avaliada calculando-se os dias entre a data da soltura e a data da última localização onde o indivíduo foi visto alimentando-se da ceva. As diferenças neste número de dias entre os animais do primeiro e do segundo grupo foram avaliadas pelo teste de Mann-Whitney. A sobrevivência anual foi estimada baseada no calendário de captura das cutias, com correção para intervalos de tempo diferentes de um ano seguindo Fernandez (1995). Todas essas informações foram usadas para determinar o status da reintrodução em curto prazo, utlizando os seguintes critérios: (1) independência da suplementação alimentar e, conseqüente, consumo de alimentos encontrados na natureza, (2) sobrevivência dos animais soltos, (3) estabelecimento de uma área de vida e (4) nascimento da primeira prole selvagem. Análise de dados Todos os testes seguiram Zar (1999) e foram executados utilizando os programas Systat 11.0 e R 2.8.1. A normalidade foi averiguada pela análise gráfica da distribuição dos resíduos segundo Gotelli & Ellison (2004) e pelo teste de ShapiroWilk. A homogeneidade das variâncias foi verificada pelo teste de Levene. No caso onde essas premissas foram atendidas, foram realizados testes paramétricos. Se as premissas não foram atendidas, testes não paramétricos foram realizados. Os resultado dos testes são sempre apresentados como média ± desvio-padrão. Os valores de p 26 apresentados são bicaudais, exceto quando houve predição direcional a priori para a comparação dos grupos. 27 RESULTADOS Captura O esforço de total de captura realizado no campo de Santana resultou na obtenção de 12 indivíduos (seis machos e seis fêmeas; tabela I.1). Após a abertura das caixas de transporte dentro do cativeiro na Fundação RioZoo, a maioria dos animais foi imediatamente em direção à ceva. Tabela I.1. Indivíduos de cutia Dasyprocta leporina capturados no Campo de Santana (Rio de Janeiro, Brasil) para futura reintrodução no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil). F = fêmea e M = macho; colar = cor do colar, captura = data da captura no Campo de Santana; triagem = primeira triagem realizada no RioZoo, transporte = data do transporte dos animais do RioZoo para o cercado de aclimatação no Parque Nacional da Tijuca; soltura = data da soltura e situação atual = condição do indivíduo ao fim do estudo. Indivíduo F1 F2 F3 Colar negra azul branca Captura 24/09/2009 24/09/2009 24/09/2009 Triagem 01/10/2009 01/10/2009 01/10/2009 Transporte 23/03/2010 18/01/2010 18/01/2010 Soltura 07/06/2010 08/02/2010 08/02/2010 Situação atual vivo vivo vivo F4 - 24/09/2009 01/10/2009 30/11/2009 - morto1 F5 - 24/09/2009 05/10/2009 23/03/2010 - morto2 F6 M1 cinza prata 24/09/2009 24/09/2009 05/10/2009 01/10/2009 18/01/2010 23/03/2010 01/02/2010 26/04/2010 morto3 vivo M2 M3 amarelo 24/09/2009 24/09/2009 01/10/2009 05/10/2009 23/03/2010 23/03/2010 26/04/2010 morto4 vivo M4 M5 M6 verde laranja 24/09/2009 14/10/2009 14/10/2009 05/10/2009 22/10/2009 22/10/2009 18/01/2010 18/01/2010 01/02/2010 08/02/2010 morto5 vivo vivo 1 morte por miíase em decorrência de problemas com o primeiro modelo de colar utilizado no cercado (ver Anexo 1) 2 morto por interações agressivas com cachorros domésticos que invadiram o cercado 3 morto na natureza com grande ferimento na região anal 4 morto por hipotermia no cercado 5 animal debilitado devido a idade, morto por interações agressivas com outras cutias no RioZoo 28 Triagem e quarentena A inspeção visual indicou que 11 dos animais estavam em bom estado de saúde, apresentando pequenas escoriações na pele oriundas de brigas ou traumas durante a contenção, sem relevância clínica. Um dos animais avaliados (M4) tinha lesões profundas na pele, causadas por interações agressivas com outras cutias e úlcera de córnea no olho esquerdo. Este indivíduo foi encaminhado ao hospital veterinário da Fundação RioZoo, onde veio a óbito poucos dias depois do início do tratamento. Algumas características observadas (como a condição dos dentes) indicaram que o animal possuía idade avançada. A primeira triagem revelou que as fêmeas (2898,6 ± 193,2 g; n=7) foram mais pesadas do que os machos (2261,7 ± 276,2 g; n=6) (gl=1; U=42; p=0,003; Figura I.4). 4000 Peso (g) 3000 2000 1000 Fêmea Macho Sexo Figura I.4. Comparação entre os pesos de machos e fêmeas de cutias (Dasyprocta leporina) capturados no Campo de Santana (Rio de Janeiro, Brasil). Os pesos usados nesta comparação foram os obtidos na primeira triagem, tão logo os animais chegaram na Fundação RioZoo. 29 Os veterinários da Fundação RioZoo consideraram 15 dias um período adequado para a quarentena. Mesmo assim, os animais permaneceram no RioZoo por um período mínimo de 96 dias (151,9 ± 35,6 dias; mais do que os 35 dias recomendados para a manutenção de roedores em quarentena; IBAMA 2008). O peso médio dos animais na primeira triagem foi de 2569 ± 445,7 g e o peso médio na segunda triagem foi de 2284,5 ± 413,3 g. Todos os indivíduos perderam peso durante a quarentena (gl = 9; t = 4,75; p = 0,001; Figura I.5). 3500 Peso (g) 3000 2500 2000 1500 Triagem 1 Triagem 2 Figura I.5. Comparação entre os pesos dos indivíduos de Dasyprocta leporina na triagem 1 (logo após a captura no Campo de Santana, RJ) e na triagem 2 (no último dia da quarentena) (151,9 ± 35,6 dias). As linhas conectam as medidas retiradas para o mesmo indivíduo nas duas ocasiões. Os exames de fezes revelaram a ocorrência de ovos dos helmintos Strongyloides sp. e Trichuris sp., assim como oocistos de protozoários. De acordo com os veterinários, os oocistos e os ovos de helmintos encontrados após os exames de fezes estavam em 30 baixas concentrações e são comuns no trato digestório das cutias, onde atuam como comensais. De qualquer forma, os animais não apresentaram alterações clínicas ou hematológicas que evidenciassem uma parasitose, de modo que eles foram considerados aptos para a soltura. Os exames de sangue mostraram que, de forma geral, as cutias apresentaram leucopenia leve a acentuada (3273 ± 1400 leucócitos/mm³, n = 12; valores de referência para roedores em cativeiro = 9545 ± 3906 leucócitos/mm³; Lange & Schmidt 2006). Aclimatação Após a modificação dos colares (ver anexo A), foram transportados dois grupos de animais da Fundação RioZoo para o cercado de aclimatação na Floresta da Tijuca. O primeiro grupo foi no dia 18 de janeiro de 2010 (dois machos e três fêmeas) e o segundo no dia 23 de março de 2010 (três machos e duas fêmeas), totalizando 10 indivíduos (Tabela I.1). Dos animais do primeiro grupo, a fêmea F5 foi encontrada morta por hipotermia no dia 07 de abril de 2010, logo após a ocorrência de uma forte chuva no Rio de Janeiro (295,2mm em 06 de Abril de 2010). No mesmo dia, o macho M2, que apresentava quadro de hipotermia, foi levado de volta ao RioZoo para que tivesse o tratamento adequado para sua recuperação. Depois de 12 dias em tratamento, o animal voltou ao cercado de adaptação e veio a óbito pelo ataque de dois cachorros domésticos (Canis familiaris) que conseguiram entrar no cercado no dia 21 de abril de 2010. Para os animais que ficaram no cercado de adaptação até a soltura (n = 8), o tempo mínimo de permanência foi de 15 dias e o tempo de permanência máximo foi de 77 dias (30,37 ± 20,35 dias, Tabela I.1). O mais longo tempo de permanência foi de 31 uma fêmea que estava prenhe e que perdeu os filhotes, provavelmente, durante o ataque dos cachorros ao cercado. O retorno ao RioZoo dos animais feridos pelo problema com os colares (ver anexo A) permitiu que uma nova pesagem fosse realizada. A comparação dos pesos da segunda triagem e no dia em que retornaram à Fundação RioZoo mostrou que os animais ganharam peso durante a aclimatação (peso antes do cercado = 2070 ± 387,2 g e peso depois de 15 dias no cercado = 2242 ± 355,9 g) (gl = 4; t = 7,461; p = 0,002; Figura I.6). 3000 Peso (g) 2500 2000 1500 Triagem 2 Pesagem no RioZoo Figura I.6. Comparação entre os pesos dos indivíduos de Dasyprocta leporina na triagem 2 (logo após a captura no Campo de Santana, RJ) e no retorno à Fundação RioZoo (no caso dos animais que precisaram de tratamento após 15 dias no cercado de adaptação, ver anexo A) (15 dias). As linhas conectam as medidas retiradas para o mesmo indivíduo nas duas ocasiões. Durante a permanência no cercado de aclimatação, 15 espécies vegetais que estavam em frutificação no Parque foram oferecidas e consumidas pelas cutias. As 32 espécies consumidas foram Astrocaryum aculeatissimum (Arecaceae), Caesalpinia ferrea (Fabaceae), Cassia grandis (Fabaceae), Cecropia sp (Urticaceae), Centrolobium sp. (Fabaceae), Clusia lanceolata (Clusiaceae), Cupania oblongifolia (Sapindaceae), Euterpe edulis (Arecaceae), Erythroxylum pulchrum (Erythroxylaceae), Ficus sp. (Moraceae), Guarea guidonia (Meliaceae), Joannesia princeps (Euphorbiaceae), Plinia edulis (Myrtaceae), Raphia taedigera (Arecaceae) e Swartzia simplex (Fabaceae). Soltura Seguindo os procedimentos descritos acima, oito indivíduos foram soltos no primeiro semestre de 2010 (Tabela I.1). A maioria dos animais saiu rapidamente do cercado de aclimatação depois da abertura (17 ± 17,14 minutos). O macho M6 foi uma exceção a essa regra. Depois de encaminhado para o anexo, que teve sua porta para o exterior aberta, este indivíduo ficou tentando retornar à parte principal do cercado, roendo a tela de arame e cavando por baixo dela. Por essa razão, o animal não foi solto, sendo encaminhado novamente para a parte maior do cercado e liberado uma semana depois. Monitoramento A partir da soltura, os animais foram rastreados de duas a três vezes por semana, por um período de 247,2 ± 60,9 dias, totalizando 115 dias não consecutivos de monitoramento (fevereiro a dezembro de 2010) (Tabela II.1, capítulo II). Neste período, foram obtidas 724 localizações dos oito indivíduos reintroduzidos (90,5 ± 19,2 localizações por indivíduo; Tabela II.1, capítulo II). 33 Os animais permaneceram em torno do cercado nos primeiros dias após a soltura e, neste período, voltavam regularmente para se alimentar da suplementação fornecida (ver capítulo II). As cutias demoraram 33,7 ± 28,2 dias para abandonar a ceva. No entanto pode-se perceber uma clara diferença neste tempo entre os indivíduos do primeiro grupo (15 ± 2,9 dias), que abandonaram a ceva rápida e voluntariamente, e os do segundo grupo (65,7 ± 20,7 dias), para os quais a quantidade de ceva teve que ser reduzida gradativamente até que os animais ficassem independentes (U=0,00; p=0,024; Figura I.7). Dias para a independência alimentar 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Grupo 1 Grupo 2 Figura I.7. Comparação entre o tempo em que cada grupo de cutias (Dasyprocta leporina) liberadas no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil) levou para atingir a independência alimentar. Dentre as 724 localizações foi possível visualizar os animais em 563 oportunidades (77,8%). Foram obtidos 114 registros (20,2% das localizações visuais) destes comendo alimentos encontrados na natureza, que puderam ser identificados em 31 ocasiões (27,2% das localizações onde foram avistados comendo) (Tabela I.2). 34 Durante o monitoramento, no dia 26 de Março de 2010, foi observado o consumo da carniça de um tapiti (Sylvilagus brasiliensis, Lagomorpha) pela fêmea F6 (Anexo B). Tabela I.2. Itens alimentares consumidos na natureza por cutias Dasyprocta leporina reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca, RJ. O número de localizações se refere à quantidade de localizações nas quais foi possível identificar o item alimentar consumido. N° de localizações 13 6 5 3 1 1 1 1 Item identificado Cutieira Jaca Jaboticaba Semente de Palmito Cambucá Chichá Côco de Attalea Jerivá Espécie Joannesia princeps Artocarpus heterophyllus Myrciaria cauliflora Euterpe edulis Plinia edulis Sterculia chicha Attalea humilis Syagrus romanzoffiana Família taxonômica Euphorbiaceae Moraceae Myrtaceae Arecaceae Myrtaceae Malvaceae Arecaceae Arecaceae Origem Nativa Exótica Nativa Nativa Nativa Nativa Nativa Nativa Sete das oito cutias liberadas no Parque estão vivas até o momento (dezembro de 2010) e a estimativa da taxa de sobrevivência anual foi de 0,86. A fêmea F6 foi encontrada morta no dia 11 de julho de 2010, 161 dias após a soltura. O animal foi encontrado sobre a serrapilheira e aparentava não ter mais do que dois dias de óbito. Apresentava um grande ferimento na região anal que estava infestado por larvas de mosca das bicheiras (Cochliomyia hominivorax). Não foi possível identificar a causa do ferimento. Todos os animais, inclusive o que veio a óbito, estabeleceram uma área de vida, onde realizavam suas atividades diárias, depois do abandono da suplementação alimentar fornecida (ver capítulo II). 35 Durante o período de estudo, foi registrado o nascimento de três filhotes. Devido à proximidade com as fêmeas adultas, acredita-se que dois destes sejam prole da fêmea F3 e um da fêmea F1, todos nascidos na natureza. Como não foi possível capturá-los e, conseqüentemente, equipá-los com colares radiotransmissores, não existem informações quanto à sobrevivência ou os padrões espaciais dos filhotes. 36 DISCUSSÃO Devido ao ambiente onde foram criados, os animais de cativeiro podem apresentar uma série de problemas que, muitas vezes, dificultam o seu retorno à natureza. Dentre as principais dificuldades apontadas neste contexto estão: inabilidade para conseguir alimentos, incapacidade em reconhecer predadores, perda de condições físicas por falta de exercício, perda de interações sociais e seleção artificial por indivíduos acostumados à reprodução em cativeiro (Snyder et al. 1996; Griffin et al. 2000; McPhee 2003; Stoinsky et al. 2003; Mathews et al. 2005; Jule et al. 2008). Por esses motivos, muitos programas de reintrodução que usam animais de cativeiro não conseguem ser bem sucedidos e tais animais, quando comparados a indivíduos nascidos na natureza, tem sobrevivência muito reduzida (Griffith et al. 1989; Wolf et al. 1996; Fischer & Lindemmayer 2000; Jule et al. 2008). O Campo de Santana pode ser considerado um ambiente semi-cativo, pois apesar de serem alimentadas diariamente, as cutias comem frutos e sementes caídos. Esse hábito pode ser importante na medida em que as cutias não perdem o costume de procurar alimento na natureza, evitando problemas de subnutrição após a soltura (e.g. Passamani et al. 1997; Banks et al. 2002; Peignot et al. 2008). As cutias também foram vistas enterrando alimentos no Campo de Santana (Bruno Cid, observação pessoal) mesmo sem necessidade, já que não é preciso estocá-los para a estação seca, como é de costume para esses animais (Henry 1999a e 1999b; Silvius 2002; Silvius & Fragoso 2003). Este hábito, porém, é importante para os objetivos desta reintrodução, já que o comportamento de estocagem é essencial para a dispersão e o recrutamento de muitas espécies vegetais (Forget 1996; Peres et al. 1997; Asquith et al. 1999). 37 Outra característica importante do ambiente semi-cativo do Campo de Santana, é o convívio das cutias com outras espécies. No Campo de Santana residem muitos gatos (Felis catus) e cachorros domésticos (Canis familiaris) que atuam como predadores de filhotes e também de cutias adultas no local. Uma vez que a predação sobre os animais é um dos grandes problemas enfrentados pelos programas de reintrodução (Beck et al. 1991; Short et al. 1992; Combreau & Smith 1998; Griffin et al. 2000; Rouco et al. 2010), soltar animais acostumados a evitar predadores é de suma importância (McLean et al. 1996; Griffin et al. 2000). Além disso, não falta espaço para exercícios físicos no Campo de Santana, onde as cutias correm e se reproduzem livremente, afastando também problemas relacionados à falta de interações sociais com seus co-específicos. Por outro lado, o convívio com pessoas pode fazer com que as cutias sejam dóceis demais, não tendo o instinto necessário para evitar caçadores. Isso já foi o motivo de dificuldades em programas de reintrodução (e.g. Beck et al. 1991; Paquet et al. 2001; Vandel et al. 2006) e foi apontado como um dos problemas para a fauna no Parque Nacional da Tijuca (Coimbra-Filho et al. 1973). A proximidade também com gatos e cachorros domésticos pode aumentar as chances de as cutias adquirirem doenças, o que enfatiza a necessidade de exames de saúde pré-soltura (Cunningham 1996; Mathews et al. 2006), que apesar de muito recomendados nem sempre são realizados (Griffith et al. 1993; Beck et al. 1994; IUCN 1998). Animais contaminados com patógenos que podem ser nocivos à fauna e à população humana no local da reintrodução não devem ser soltos (e.g. Munson et al. 2004; Mathews et al. 2006). De forma análoga, é possível identificar através destes exames indivíduos que tem pouca chance de contribuir para o estabelecimento de uma nova população e, consequentemente, para o sucesso da reintrodução (Mathews et al. 2006). Esses exames devem ser feitos durante um período de quarentena. 38 A diferença encontrada entre o peso de machos e fêmeas está de acordo com a literatura que diz existir dimorfismo sexual em cutias onde as fêmeas são maiores do que os machos (Dubost 1988; Emmons & Feer 1997; Henry 1999a). Mesmo sendo alimentadas duas vezes por dia, a perda de peso dos animais durante a quarentena mostrou que esta representou um período de estresse (e.g. Rich & Romero 2005; Dickens et al. 2008). Além disso, um animal morreu por interações agressivas com os outros neste período. Por esses e outros motivos, a duração da quarentena é controversa. Enquanto alguns autores consideram que ela deve ser a mais curta possível, para evitar o risco de contaminação, estresse e problemas relacionados a interações agressivas (Cunningham 1996; Teixeira et al. 2007), outros recomendam um período mínimo de 30 a 60 dias, para garantir que possíveis doenças não se manifestem depois da soltura (Snyder et al. 1996, IBAMA 2008). Os exames de sangue revelaram que os animais apresentavam baixa concentração de glóbulos brancos quando comparados a roedores de cativeiro. Essa leucopenia pode ser devida à depressão de endocruzamento (Caughley & Gunn 1996), comum em animais de cativeiro (Ebenhard 1995), o que é, provavelmente, o estado das cutias no Campo de Santana, onde estão confinadas em uma área de 13 ha. A causa da imunodeficiência pode ser também atribuída à série de procedimentos estressantes aos quais estes indivíduos são submetidos durante as várias etapas da reintrodução (Teixeira et al. 2007; Dickens et al. 2008), o que tem sido apontado como influência negativa na sobrevivência de animais reintroduzidos (Haque & Smith 1996; Letty et al. 2003; Adams et al. 2004). Sua origem e os procedimentos estressantes aos quais são submetidos desde a captura até o monitoramento, fazem dos animais reintroduzidos particularmente suscetíveis a doenças e infestações (Mathews et al. 2006), o que pode dificultar o sucesso da reintrodução. 39 Para que uma reintrodução seja bem sucedida é necessário que o fator que levou a espécies ao declínio ou extinção local inicialmente não mais represente uma ameaça aos indivíduos soltos (IUCN 1998). Acredita-se que a fragmentação causada pela devastação da Floresta ocorrida, principalmente, no século XIX (ICMBIO 2008) e a caça foram responsáveis pela extinção local das cutias no Parque Nacional da Tijuca. Parte desse problema foi mitigado com o reflorestamento realizado a partir de 1862. Além disso, atualmente, se espera que a caça esteja bastante reduzida no Parque como um todo e principalmente na área que foi planejada para a soltura das cutias, onde existe intenso controle pelos guardas florestais. Sendo assim, confia-se que as causas que levaram as cutias à extinção no passado estejam extirpadas ou bastante reduzidas atualmente. Outro fator que pode contribuir para o sucesso da reintrodução é a escolha da técnica de soltura. A escolha da soltura gradual (soft release) implica em submeter os animais a um tempo de aclimatação antes da soltura (sensu Beck et al. 1994; Brigth & Morris 1994; Letty et al. 2000). A duração deste período é de suma importância para a reintrodução de algumas espécies, uma vez que mortes podem acontecer dentro do cercado. Na maioria das vezes, essas mortes são atribuídas ao estresse nas etapas anteriores e a interações agressivas entre os animais (e.g. Teixeira et al. 2007; Rouco et al. 2010). Neste caso, três cutias morreram dentro do cercado de aclimatação por razões diversas: problemas com os colares (ver anexo A), hipotermia e agressão. Os dois primeiros problemas poderiam ter acontecido com os animais já soltos, já que dentro do cercado eram disponibilizados abrigos para que estes se protegessem da chuva e do frio. Problemas com colares que retinham umidade foram causa da morte de dois bugios (Allouata seniculus) reintroduzidos na Guina Francesa (Richard-Hansen et al. 2000, ver anexo A) e hipotermia foi apontada como causa de morte de alguns micos-leões- 40 dourados (Leontopithecus rosalia; Beck et al. 1991). A agressão por cachorros domésticos (Canis familiaris) mostra que o cercado pode atuar como uma armadilha. O odor acumulado pela aglomeração dos animais pode atrair predadores (Banks et al. 2000; Banks et al. 2002) e, se estes conseguirem entrar no cercado, os animais que lá estão se tornam presas fáceis. Por estes motivos, o tempo de manutenção dos animais no cercado de aclimatação é muito importante e pequenas alterações neste tempo podem ser determinantes para a sobrevivência pós-soltura dos animais (e.g. Rouco et al. 2010). Provavelmente pela procedência dos animais, que vieram de um ambiente ao ar livre (Campo de Santana), as cutias não demonstraram qualquer estranhamento quando transportadas para o cercado de aclimatação. Durante o tempo em que ficaram lá, eram diariamente observadas e pareceram agir sempre com naturalidade. O período de aclimatação mostrou-se muito importante para avaliar a adaptação dos animais ao equipamento (sensu Bright & Morris 1994; Banks et al. 2002) já que houve problemas com o primeiro modelo de colar utilizado (anexo A). Se o período de aclimatação não tivesse sido usado para observar a adaptação das cutias ao equipamento, é provável que todas tivessem morrido por conseqüência da infestação depois de soltas na natureza. Isso faria com que tempo, dinheiro e, o mais importante, animais fossem desperdiçados trazendo prejuízo para o programa de reintrodução, como aconteceu, pelo mesmo motivo, com bugios (Allouata seniculus) na Guiana Francesa durante a estação chuvosa (Richard-Hansen et al. 2000). Mesmo feridos pelo problema ocorrido com os colares, os animais ganharam peso durante o período de aclimatação como já observado em outros trabalhos que usaram a soltura gradual (Bright & Morris 1994; Pople et al. 2001; Wanless et al. 2002). Esse ganho de peso é importante porque os animais provindos de cativeiro 41 podem ter dificuldade para encontrar alimento logo após a soltura, muitos emagrecem, podendo morrer de subnutrição (Banks et al. 2002; Peignot et al. 2008). Sendo assim, esse período é de suma importância para pequenos mamíferos com autonomia energética limitada (Kleiman 1989; Stanley-Price 1989) como as cutias. Alguns trabalhos, especialmente os que tratam da reintrodução de pequenos mamíferos, mostram que o peso no momento da soltura pode ser um importante preditivo da sobrevivência pós-soltura (Mathews et al. 2006; Hamilton et al. 2010). Outra forma de aumentar a sobrevivência pós-soltura e prevenir a subnutrição é realizar treinamento para reconhecimento e obtenção de alimentos que estarão disponíveis na natureza com os animais ainda dentro do cercado de aclimatação (Dietz 1987; Kleiman 1989; Beck et al. 1991; Macdonald 2009). As cutias mostraram-se bem receptivas a quase todos os alimentos encontrados na natureza e postos no cercado para consumo. Neste caso, não houve necessidade de esconder os alimentos como para os micos-leões-dourados (Leontopithecus rosalia; Beck et al. 1991) pois existem muitos frutos caídos no chão da Floresta e os animais não teriam problemas em encontrá-los. O treinamento aconteceu em função da preocupação de que os animais pudessem encontrar os alimentos, mas não os reconhecer como tal. Este procedimento ajudou a prepará-los para a soltura, uma vez que no Campo de Santana existem poucas espécies frutíferas que serviam de alimento para os indivíduos quando lá residiam. A reintrodução de animais de cativeiro por soltura gradual muitas vezes acontece pela abertura da porta do cercado de adaptação para que os indivíduos saiam se quiserem (e.g. Haque & Smith 1996; Van Heezik et al. 1999; Wanless et al. 2002; Hardman & Moro 2006; Rouco et al. 2010). A saída rápida das cutias no dia da soltura mostra que o cercado de adaptação foi eficaz em acostumar os animais ao ambiente, que 42 não estranharam ou apresentaram receio algum ao sair. Esse procedimento também foi importante pelo comportamento apresentado pelo macho M6, que não queria deixar o cercado. Este foi identificado como “dominante” durante o período de aclimatação, pois constantemente perseguia o macho M5, não permitindo que este chegasse à ceva. As cutias são animais que apresentam comportamento territorialista (Smythe 1978; Dubost 1988; Reis et al. 2006). Sendo assim, a relutância mostrada pelo macho M6 em deixar o cercado pode ser atribuída a este reconhecer o cercado como território. Acredita-se que o comportamento territorial é regido por um balanço entre a disponibilidade de recursos no território e o custo energético se sua defesa. O comportamento territorial é portanto desenvolvido em áreas onde os recursos são limitantes e o custo de defesa é relativamente baixo (Brown 1969; Brown & Orians 1970; Carpenter & MacMillen 1976; Ostfeld 1985, 1990). Como dentro do cercado comida, água e abrigo foram disponibilizados à vontade, o recurso que pode ter feito com que o indivíduo ficasse atrelado ao território foram as fêmeas. Este padrão é similar ao descrito no modelo de Ostfeld (1990), muito popular para pequenos mamíferos no qual o comportamento territorial em machos é dependente da distribuição espacial das fêmeas. A escolha da soltura no início da manhã pode ter colaborado para a redução do estresse dos animais, uma vez que este horário é considerado um dos picos de atividade das cutias (Aliaga-Rossel 2004; Jorge & Peres 2005; Kays et al. 2009). Essa técnica já foi utilizada para outro roedor (o esquilo europeu Spermophilus citellus), e mostrou que a soltura no pico de atividade da espécie contribui para o sucesso da translocação por aumentar a probabilidade de estabelecimento dos animais no local de soltura (Gedeon et al. 2011). As cutias iniciam suas atividades no início da manhã, descansam na sombra por volta do meio dia e voltam a ficar ativas até o fim da tarde (Aliaga-Rossel 2004; Jorge & Peres 2005; Kays et al. 2009). Sendo assim, a soltura no início da manhã é 43 recomendada para as cutias porque elas têm o dia todo para explorar a área em volta e podem voltar para dormir em segurança dentro do anexo do cercado, que fica aberto. A suplementação parece ter cumprido seus objetivos neste estudo, uma vez que os animais apareceram regularmente para se alimentar dela nos primeiros dias após a soltura. O fato dos indivíduos do primeiro grupo terem abandonado a ceva voluntariamente, e os do segundo não, corrobora essa hipótese. O primeiro grupo foi liberado auge da estação chuvosa, onde a abundância de frutos e insetos é maior (Janzen 1973; Pearson & Derr 1986; Terborgh 1986; Wolda 1978). Ambos são itens alimentares comumente consumidos pelas cutias (Henry 1999a e 1999b; Silvius 2002; Silvius & Fragoso 2003; Dubost & Henry 2006). Sendo assim, os animais não devem ter tido problemas para encontrar alimentos na natureza, tendo a ceva sido necessária apenas em um período curto. Por outro lado, o segundo grupo foi solto no início da estação seca. É provável que, por este motivo, estes indivíduos tenham tido mais dificuldades de encontrar alimentos na natureza, ficando dependentes da suplementação por mais tempo. Outros estudos também já apontaram a relevância da suplementação em solturas conduzidas na estação de escassez de recursos (Brigth & Morris 1994; Lovegrove 1996). Neste caso, foi necessário que a suplementação fosse reduzida gradualmente para que as cutias fossem, aos poucos, se acostumando a conseguir alimentos sozinhas (sensu Kleiman 1989; Beck et al. 1991; Peignot et al. 2008; Marnewick et al. 2009). A decisão de cessar com a suplementação é importante porque os animais podem não estar prontos para alimentarem-se por si próprios(Kleiman 1989). Porém, a decisão parece ter sido acertada uma vez que os indivíduos deste grupo foram vistos muitas vezes se alimentando de itens encontrados na natureza e encontram-se todos vivos até o momento (ver monitoramento). 44 Não foi feito um estudo prévio da disponibilidade de recursos alimentares no local, porém, foi realizado, com base na literatura, um levantamento das espécies arbóreas existentes no Parque que poderiam ser consumidas pelas cutias (e.g. Smythe 1970; Forget & Milleron 1991; Asquith et al. 1999; Brewer & Rejmanek 1999; Pires 2006). Além disso, a presença de pacas (Cuniculus paca) na Floresta da Tijuca pode ser um bom indicativo de que esta possui um habitat, no mínimo, razoavelmente adequado para a existência de roedores frugívoros de médio porte como as cutias. Estes fatos, atrelados ao conhecimento de que as cutias possuem uma dieta abrangente (Dubost 1988; Henry 1999b, Silvius 2002, Dubost & Henry 2006), fazem com que a Floresta da Tijuca possa ser considerada um habitat de qualidade para a reintrodução da espécie. A independência dos animais em relação da suplementação alimentar e conseqüente uso de itens alimentares encontrados na natureza corroboram a hipótese da adequabilidade do habitat e são fortes indicativos do estabelecimento pós-soltura bem sucedido (Sanz & Grajal 1998). As cutias parecem não ter tido qualquer dificuldade em encontrar alimentos na natureza. Isso é, provavelmente, devido à sua origem em semicativeiro (onde não dependiam exclusivamente da ceva) e ao treinamento realizado no cercado de aclimatação (que apresentou a elas os itens alimentares disponíveis), além da sua dieta abrangente (Dubost 1988; Henry 1999b, Silvius 2002, Dubost & Henry 2006). Durante o monitoramento, os animais foram muitas vezes vistos enterrando itens alimentares, apesar de não ter sido possível identificá-los. As cutias cumprem importante papel na dispersão de diversas espécies arbóreas, especialmente as de sementes grandes, por seu comportamento de estocagem (Smythe 1989; Forget 1990; Peres & Baider 1997; Henry 1999a e 1999b; Silvius & Fragoso 2003). Este é o caso de algumas das espécies nativas as quais foram identificadas como 45 consumidas pelas cutias durante o estudo (e.g. Joannesia princeps, Plinia edulis e Sterculia chicha). Um fato previsto foi o consumo de jacas (Artocarpus heterophyllus) pelas cutias. A jaqueira é uma espécie exótica invasora, que coloniza densamente o Parque Nacional da Tijuca e representa uma das maiores preocupações em termos de manejo florestal no Parque (ICMBIO 2008; Abreu & Rodrigues 2010). Por apresentar distribuição agregada e dispersão barocórica, esta espécie tem alto sucesso de colonização e dominância (Cunha et al. 2006; Abreu & Rodrigues 2010). Sendo assim, não necessita de dispersores animais para o seu recrutamento, já tendo sido encontradas mais de 100 de suas plântulas/m² no Parque Nacional da Tijuca (Abreu & Rodrigues 2010), uma floresta essencialmente defaunada. Por este motivo, acredita-se o papel de dispersão de sementes que as cutias exercem não será importante para a jaqueira, mas poderá ser essencial para várias espécies nativas de sementes grandes. Além disso, as cutias exercem o papel de predadoras das sementes (Forget 1996, Peres et al. 1997, Asquith et al. 1999). Isso pode contribuir para o manejo de A. heterophyllus no Parque, pela redução de seu recrutamento como observado na Ilha Anchieta, São Paulo (Mauro Galetti, comunicação pessoal). Muitos programas de reintrodução/translocação enfrentam problemas com alta mortalidade dos indivíduos soltos (e.g. Jones & Witham 1990; McCullough et al. 1997; Armstrong et al. 1999; Short & Turner 2000; Letty et al. 2003; Adams et al. 2004; Maran et al. 2009). Consequentemente, poucos obtêm sobrevivências anuais de adultos superiores ou semelhantes às aqui encontradas (0,86). Além disso, é necessário salientar que existe um viés na literatura, onde a maioria dos trabalhos publicados refere-se a reintroduções consideradas bem sucedidas, por relutância dos autores ou dos periódicos em publicar as falhas (Sarrazin & Barbault 1996; Mathews et al. 2005). Mesmo assim, esses trabalhos trataram da reintrodução/translocação de animais com longevidades 46 muito maiores do que a das cutias, sendo já esperado que apresentassem taxas anuais de sobrevivência superiores (e.g. urubus (Gyps fulvus) (0,858 ± 0,039) – Sarrazin et al. (1994); cavalos (Equus emionus) (0,85) – Saltz et al. (2000); ovelhas (Ovis canadensis) (0,8 ± 0,11) – Ostermann et al. (2001); wallabies (Onychogalea fraenata) (0,85) – Pople et al. (2001); veados (Dama mesopotamica) (0,86) – Bar-David et al. (2005); gazelas (Oryx leucorix) (0,915) – Harding et al. (2007). Essas comparações mostram que as cutias reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca apresentaram alta sobrevivência anual, sendo este um dos principais objetivos das reintroduções e um dos mais importantes indicadores de sucesso em curto prazo (Sarrazin & Barbault 1996; Sanz & Grajal 1998; Seddon 1999; Richard-Hansen et al. 2000; Ostermann et al. 2001; Richards & Short 2003; Teixeira et al. 2007). Mesmo se tratando de animais reintroduzidos, a sobrevivência anual aqui encontrada é superior à de populações naturais de cutias. Smythe (1978) e AliagaRossel (2004) encontraram taxas de sobrevivência de 0,34 a 0,37 e 0,3, respectivamente, para Dasyprocta punctata na ilha de Barro Colorado (Panamá). A principal causa de morte das cutias é a predação, principalmente por jaguatiricas (Leopardus pardalis) e pumas (Puma concolor), mas também por gatos mouriscos (Puma yagouaroundi), onças pintadas (Panthera onca), iraras (Eira barbara) e quatis (Nasua narica) (Galef et al. 1976; Smythe 1978; Aliaga-Rossel 2004; Aliaga-Rossel et al. 2006; Moreno et al. 2006). Sendo assim, a alta sobrevivência das cutias no Parque Nacional da Tijuca pode ser explicada pela ausência da maioria destes predadores (ICMBIO 2008). No caso, o único presente no Parque é o quati (Nasua nasua) que ocorre em grande abundância, inclusive na área de soltura das cutias (Bruno Cid, observação pessoal). Porém, acredita-se que a predação pelos quatis aconteça mais 47 freqüentemente sobre cutias jovens (Smythe 1978), o que pode ser um problema para os animais nascidos na natureza. Apesar de não ter sido possível identificar a razão do ferimento que levou ao óbito a fêmea F6, é possível que tenha sido causado por interações agressivas com quatis (Nasua nasua) ou cachorros domésticos (Canis familiaris), duas espécies que ocorrem dentro do Parque. Interações agressivas com cachorros domésticos já foram relatadas como causa de morte de micos-leões-dourados (Leontopithecus rosalia) reintroduzidos (Beck et al. 1991). Os cachorros foram vistos perseguindo as cutias (Bruno Cid, observação pessoal), além de terem sido responsáveis pela morte de outro indivíduo, ainda no período de aclimatação (ver seção sobre aclimatação). Além da predação por quatis e de interações agressivas com cachorros domésticos, outra ameaça às cutias no Parque é o risco de atropelamento por carros de visitantes, já que os animais realizam suas atividades diárias próximos a uma estrada (ver capítulo II). A predação e as causas antrópicas (atropelamento, caça e conflitos com humanos) são relatadas como os motivos de morte mais comuns em muitos programas de reintrodução (e.g. Beck et al. 1991; Mosillo et al. 1999; Ostermann et al. 2001; Harding et al. 2007; Hunter et al. 2007; Jule et al. 2008; Aaltonen et al. 2009; Maran et al. 2009; Zidon et al. 2009; Hamilton et al. 2010; Rantanen et al. 2010). A falha na reprodução já foi apontada como um dos principais motivos para o insucesso dos programas de reintrodução (Richard-Hansen et al. 2000), sendo o nascimento da primeira prole selvagem tido como um indicador de sucesso muito importante em curto prazo (Sarrazin & Barbault 1996; Seddon 1999; Richard-Hansen et al. 2000; Ostermann et al. 2001; Richards & Short 2003; Hayward et al. 2007; Teixeira et al. 2007; Germano & Bishop 2008; Jule et al. 2008). Foram registrados os 48 nascimentos de três filhotes de cutias durante o estudo, pertencentes a duas fêmeas. Este número está de acordo com o tamanho da prole de um a três filhotes como descrito na literatura para cutias (Emmons & Feer 1997; Dubost et al. 2005; Reis et al. 2006). De acordo com Dubost et al. (2005), os filhotes de cutias nascem precocemente com apenas 3,2% do peso da mãe. Levando isso em consideração, acredita-se que os nascimentos tenham ocorrido entre outubro e novembro, coincidindo com o início da estação de abundância de recursos, como reportado por Dubost et al. (2005). Porém, os mesmo autores dizem que, pelo comportamento de estocagem de sementes, a reprodução das cutias pode acontecer durante todo o ano como descrito em Emmons & Feer (1997) e Reis et al. (2006). Apesar do nascimento de prole na natureza ser considerado um bom indicativo de sucesso em curto prazo para reintroduções, a juventude é um período crítico para cutias, quando já foi observada mortalidade de 70% (Smythe 1978) e 77,6% de desaparecimentos (Dubost et al. 2005). Sendo assim, a independência em relação a suplementação alimentar, a alta sobrevivência anual encontrada e o estabelecimento de uma área de vida junto com o registro dos nascimentos na natureza, não apenas indicam que a reintrodução foi bem sucedida em curto prazo, como abriu caminho para que o crescimento populacional aconteça, o que é considerado um ótimo indicador de sucesso em médio prazo (Ostermann et al 2001; Ausband & Foresman 2007; Hayward et al. 2007; Armstrong & Seddon 2007; Jule et al. 2008). Essa conclusão final mostra que os procedimentos adotados no programa de reintrodução foram adequados para as exigências da espécie no local de soltura. 49 Capítulo II PADRÕES ESPACIAIS DE CUTIAS (Dasyprocta leporina) REINTRODUZIDAS: FIDELIDADE AO CERCADO DE ACLIMATAÇÃO, DEPENDÊNCIA DA SUPLEMENTAÇÃO ALIMENTAR, ÁREAS DE VIDA E TERRITORIALIDADE 50 INTRODUÇÃO A reintrodução de espécies é uma ferramenta de conservação que vem ganhando espaço como alternativa de manejo (Sarrazin & Barbault 1996; Fischer & Lindenmayer 2000; Armstrong & Seddon 2007; Seddon et al. 2007) e junto com esse crescimento vem o progresso da biologia da reintrodução como ciência (Armstrong & Seddon 2007; Seddon 2007). Esse desenvolvimento da reintrodução mostrou que sem monitoramento dos animais, as chances de falha do programa são muito grandes (Sarrazin & Barbault 1996; Hein 1997; Seddon 1999; IUCN 1998; Fischer & Lindenmayer 2000; Armstrong & Seddon 2007; Ewen & Armstrong 2007; Seddon et al. 2007; IBAMA 2008). O monitoramento de todos os indivíduos ou de uma grande proporção da população reintroduzida é recomendado (IUCN 1998) e a não realização deste procedimento pode trazer prejuízos ao programa (e.g. Diefenbach et al. 2006). Para que isso seja possível, é recomendável o uso de radiotelemetria (Kleiman 1989; Teixeira et al. 2006). Através dessa técnica é possível encontrar qualquer indivíduo marcado a qualquer momento (Harris et al. 1990; Powell 2000; Jacob & Rudran 2003; Laver 2005) e realizar intervenções que podem ser importantes para o sucesso da reintrodução (e.g. Passamani et al. 1997; IUCN 1998; Banks et al. 2002; Peignot et al. 2008; Teixeira et al. 2006). O uso da radiotelemetria permite acompanhar os animais no período crítico pós-soltura, trazendo informações importantes sobre o estabelecimento e características das áreas de vida dos indivíduos e sua distribuição no espaço (Brown & Orians 1970; Harris et al. 1990; Powell 2000; Jacob & Rudran 2003; Laver 2005). A fase pós-soltura é de grande importância para o programa de reintrodução como um todo, já tendo sido reconhecida como chave para avaliar o sucesso da reintrodução (Seddon 1999). Os primeiros dias após a soltura são considerados críticos 51 por serem acompanhados de altas taxas de mortalidade e eventos de dispersão exagerada (e.g. Bright & Morris 1994; Haque & Smith 1996; Biggins et al. 1999; Banks 2002; Wanless et al. 2002; Castro et al. 2004; Tuberville et al. 2005; Hardman & Moro 2006; Teixeira et al. 2006; Armstrong & Seddon 2007; Catalán et al. 2008; Morrel 2008; Maran et al. 2009; Hamilton et al. 2010; Rantanen et al. 2010). A soltura gradual (com uso de cercado de aclimatação) e a suplementação alimentar fornecida nos primeiros dias após a soltura podem ajudar a contornar esses problemas, aumentando a sobrevivência e coibindo dispersões a grandes distâncias logo após a soltura (e.g.; Bright & Morris 1994; Passamani et al. 1997; Armstrong et al. 1999; Biggins et al. 1999; Pople et al. 2001; Armstrong et al. 2002; Banks et al. 2002; Wanless et al. 2002; Armstrong et al. 2007; Hunter et al. 2007; Ewen & Armstrong 2007; Garret et al. 2007; Hayward et al. 2007; Catalán et al. 2008; Peignot et al. 2008; Maran et al. 2009; Marnewick et al. 2009; Rouco et al. 2010). Por ser um momento relacionado à exploração do ambiente, a movimentação dos animais pode sofrer alterações em poucos dias neste período inicial (Bright & Morris 1994; Maran et al. 2009). Sendo assim, fazse necessária a realização de um monitoramento pós-soltura específico, mais intenso e, muitas vezes, diferente do monitoramento subsequente (Armstrong et al. 2002; Gedeon et al. 2011). Esse monitoramento específico tem funções importantes de acompanhar de perto os indivíduos soltos e avaliar a fidelidade deles ao local de soltura, evidenciando a importância da suplementação alimentar em seus movimentos iniciais e o estabelecimento pós-soltura. Em qualquer programa de reintrodução, espera-se que os movimentos exploratórios iniciais dêem lugar ao estabelecimento em uma área, com a formação de uma área de vida. A formação da área de vida é importante porque os animais tornam-se familiares aos elementos do ambiente nela contidos, o que facilita o encontro de 52 alimento e abrigos e o escape de predadores (Bergallo 1990; Powell 2000). Essas facilidades ajudam os animais a sobreviver por mais tempo, o que pode ser crucial para o programa de reintrodução. Conhecer a área de vida de um animal também traz informações importantes sobre o sistema de acasalamento, organização social, interações entre os indivíduos, forrageamento, escolhas alimentares e componentes importantes do habitat (Powell 2000). Todas essas são informações valiosas para guiar ações de manejo na população, auxiliando o bom andamento da reintrodução. A definição mais usada de área de vida vem de Burt (1943) (e.g. Hayne 1949; Sanderson 1966; Brown & Orians 1970; Harestad & Bunnel 1979; Worton 1995). O autor define área de vida como sendo a “área percorrida por um indivíduo em suas atividades normais de obtenção de alimento, reprodução e cuidado com os jovens. Saídas ocasionais fora dessa área, possivelmente de natureza exploratória, não devem ser consideradas como parte da área de vida”. O tamanho da área de vida está relacionado com vários fatores como: taxas metabólicas do animal, tamanho corporal, disponibilidade e distribuição de recursos, dieta, estrutura social e densidade populacional (McNab 1963; Harestad & Bunnell 1979; Damuth 1981; Mares & Lacher 1987; Swihart et al. 1988; Bergallo 1990; Kelt & Van Vuren 1999, 2001). Em pequenos mamíferos, acredita-se que a disposição dos animais no espaço seja um reflexo de seu sistema de acasalamento que, por sua vez, é muito influenciado pela organização social dos animais (Ostfeld 1985; Hixon 1987; Ims 1987; Ostfeld 1990). Neste contexto, em um sistema monogâmico é esperado que as áreas de vida de machos e fêmeas possuam tamanhos semelhantes e sejam muito sobrepostas em cada casal (Ostfeld 1990). Ostfeld (1990) também diz que quando as fêmeas não apresentam comportamento territorial, os machos podem fazê-lo, defendendo territórios contra outros machos. Portanto, a 53 existência ou não de territorialidade intrassexual pode permitir entender os sistemas de organização social e, consequentemente, o sistema de acasalamento. O comportamento territorial exerce grande influência na distribuição espacial de indivíduos da mesma espécie (Howard 1920). Sua definição mais simples vem de Noble (1939), onde território é “qualquer área defendida” (Burt 1943). As características essenciais de um território são: (1) área fixa que pode mudar no tempo, (2) atos de defesa de território e (3) exclusividade sobre uma área em respeito aos rivais (Brown & Orians 1970). A existência do comportamento territorial é regida por um balanço entre a disponibilidade de recursos e o custo de defesa deste território (Brown 1969; Brown & Orians 1970; Carpenter & MacMillen 1976; Ostfeld 1985; Mares & Lacher 1987; Ostfeld 1990; Powell 2000; Kelt & Van Vuren 2001). A forma mais comum de inferência do comportamento territorial em mamíferos é a constatação da existência de uma área de uso exclusiva dentro da área de vida de um indivíduo, baseada na análise da sobreposição das áreas de vida entre todos (Brown & Orians 1970; Ostfeld 1990; Powell 2000). Essa forma de inferência traz problemas porque a sobreposição das áreas de vida entre os indivíduos pode variar em um contínuo (Ostfeld 1990) e já foram encontradas evidências de defesa dinâmica de território, onde o ocupante defende a área onde está no momento (Smith 1968; Mares & Lacher 1987). O objetivo deste capítulo foi descrever os padrões espaciais dos animais reintroduzidos desde os primeiros dias de exploração pós-soltura até o estabelecimento das áreas de vida e a organização social dos indivíduos no espaço, através da utilização de técnicas de radiotelemetria. Neste período avaliou-se a fidelidade das cutias ao local de soltura e a influência da suplementação alimentar nas áreas usadas pelos animais durante a fase em que dependiam da ceva. Depois, com o estabelecimento pós-soltura e a formação das áreas de vida, foram feitas comparações entre as áreas encontradas neste 54 trabalho e as descritas para cutias em outros estudos. Inferências quanto ao sistema de acasalamento foram realizadas através de comparações internas nos tamanhos das áreas de vida entre machos e fêmeas. Por fim, foi testada a presença do comportamento territorial de duas formas: estática, com a existência de territórios fixos, e dinâmica, com a existência de territórios temporários. 55 MATERIAIS E MÉTODOS Os animais foram equipados com colares de radiotelemetria TXE-311C modificados (os colares usados inicialmente causaram ferimentos aos animais que tiveram que voltar à Fundação RioZoo para troca dos mesmos, ver anexo A), com sensor de mortalidade (Telenax®; Playa del Carmen, México). O peso médio (± dp) dos colares foi de 22,7 ± 0,5 g, aproximadamente 1% do peso dos animais (menos do que 5%, como recomendado por Jacob & Rudran 2003) (ver capítulo 1). Uma vez soltos, todos os animais foram monitorados com o uso de um receptor VHF TR-4 e uma antena RA-14k (Telonics®, Arizona, EUA). As localizações foram obtidas utilizando a técnica homing-in on the animal. Esta técnica consiste em seguir o sinal do transmissor até que o animal monitorado seja avistado (White & Garrot 1990), ou quando é possível ouvir o sinal do radiocolar com a antena desconectada do receptor (Lira et al. 2007). Testes realizados a priori no local do estudo mostraram que, desta última forma, o animal monitorado estaria a uma distância máxima de cinco metros do receptor. Para diminuir problemas de autocorrelação dos dados, localizações consecutivas do mesmo indivíduo foram obtidas com, no mínimo, uma hora de intervalo (Linders et al. 2004; Endries & Adler 2005), tempo suficiente para que um indivíduo atravesse toda a extensão de sua área de vida (Doncaster & MacDonald 1997). As localizações foram registradas com o uso de um aparelho de sistema de posicionamento global portátil (GPS Garmim eTrex H), com base em referências geográficas (coordenadas na projeção Universal Transverse Mercartor – UTM, South American Datum 69). A cada localização, era registrado o horário, erro do GPS (posteriormente incorporado ao erro das estimativas das áreas de vida) e se o animal estava ativo ou inativo. 56 Em termos metodológicos, o presente trabalho incluiu dois tipos distintos de monitoramento dos animais: o monitoramento intensivo e o monitoramento regular. O monitoramento intensivo teve o intuito de registrar a movimentação das cutias no período crítico que são os primeiro dias na natureza. Ele consistiu na obtenção de cinco localizações por dia de cada animal, sempre durante os picos de atividade da espécie (início da manhã e fim da tarde, Aliaga-Rossel 2004; Jorge & Peres 2005; Kays et al. 2009). As localizações foram adquiridas nos três dias subsequentes ao dia da soltura, totalizando 15 localizações por indivíduo. Após o monitoramento intensivo todos os animais soltos foram monitorados regularmente até o fim do período de estudo (dezembro de 2010) ou até a morte do indivíduo. Animais que perderam os colares (caso da fêmea F2) continuaram a ser monitorados quando eram ocasionalmente avistados e sua identidade verificada sem equívocos. Fidelidade ao cercado de aclimatação e dependência da suplementação alimentar Os primeiros dias após a soltura são críticos para os animais, que podem se perder e não conseguir voltar ao cercado de aclimatação para valerem-se da suplementação alimentar, e para os pesquisadores que podem perder os indivíduos por eventos de dispersão exagerada (e.g. Bright & Morris 1994; Biggins et al. 1999; Banks et al. 2002; Tuberville et al. 2005; Hardman & Moro 2006; Morrel 2008). Sendo assim, o monitoramento intensivo foi desenhado para evitar que esses problemas acontecessem. Para saber quão longe do cercado os indivíduos foram nos primeiros dias após a soltura foi feita uma média das distâncias euclidianas de cada localização obtida durante o monitoramento intensivo para o ponto de soltura (cercado de aclimatação). 57 Alguns indivíduos abandonaram a suplementação voluntariamente, ficando dependentes dela durante menos tempo (grupo 1, ver capítulo I). Para outros a ceva teve que ser reduzida gradualmente, já que os mesmos ficaram dependentes dela por mais tempo (grupo 2, ver capítulo I). Para elucidar a importância da redução gradual da suplementação no uso do espaço pelas cutias foi ajustado um mínimo polígono convexo (MPC) 100% (ver área de vida) às localizações compreendidas entre o momento da soltura e a última localização em que cada uma foi vista se alimentando dos recursos fornecidos (chamada fase de dependência da suplementação). As áreas resultantes foram comparadas entre os dois grupos pelo teste de Mann-Whitney. Áreas de vida Segundo a definição mais aceita de área de vida (Burt 1943), “as saídas ocasionais fora da área de vida, possivelmente de natureza exploratória, não devem ser consideradas como parte da área de vida”. Consequentemente, estimar as áreas de vida de cada indivíduo usando como base todas as localizações obtidas desde o momento da soltura constituiria um equívoco. Isso acontece porque, logo após a soltura, animais reintroduzidos encontram-se dependentes da suplementação alimentar fornecida (ver capítulo I) e ainda estão em uma fase de exploração do habitat, não tendo definido ainda onde vão se estabelecer e realizar suas atividades diárias normais. Para a definição das áreas de vida das cutias neste estudo foram realizadas análises gráficas visuais da distribuição das localizações de cada indivíduo. Análises visuais subjetivas são, muitas vezes, mais apropriadas na determinação da fidelidade de alguns animais a um local do que análises estatísticas (Powell 2000). As localizações utilizadas para a estimativa das áreas de vida foram todas aquelas obtidas após a 58 primeira situada dentro da área onde cada indivíduo se estabeleceu definitivamente depois de solto, já que fidelidade a um local pode ser um indicativo da formação de uma área de vida (Powell 2000). Porém, este critério foi utilizado apenas a partir do momento em que cada indivíduo abandonou a suplementação (ver capítulo I), tornandose independente em termos alimentares. Os tamanhos das áreas de vida são fortemente dependentes da quantidade de localizações consideradas (Seaman & Powell 1996; Seaman et al. 1999; Gitzen & Millspaugh 2003; Kie et al. 2010) e, de forma geral, as áreas crescem com o aumento do número de localizações, até o alcance de uma assíntota (Harris et al. 1990; Gautestad & Mysterud 1995). Sendo assim, a confiabilidade das áreas de vida estimadas foi analisada através da construção de curvas entre o número de localizações e o tamanho estimado das áreas de vida (por MPC 95%) para cada indivíduo. As localizações foram incluídas em sua ordem cronológica. Os resultados plotados em um gráfico foram analisados visualmente para verificar se houve suficiência amostral para cada indivíduo. Também com o intuito de verificar a influência do número de localizações no tamanho das áreas de vida foi realizada uma correlação de Pearson (com aleatorização com 1000 repetições) entre essas duas variáveis. Dois métodos foram usados para estimar as áreas de vida das cutias. O primeiro deles foi o mínimo polígono convexo (MPC, Mohr 1947), um estimador simples, que consiste em conectar as localizações mais externas formando o menor polígono possível, sem concavidades. Neste caso, foi usado o MPC valendo-se de 100% (MPC 100%) das localizações para possibilitar a comparação do tamanho das áreas de vida aqui encontradas com as estimadas para cutias da mesma espécie (e.g. Silvius & Fragoso 2003; Jorge 2000; Jorge & Peres 2005) e também de outra espécie do mesmo gênero (Dasyprocta punctata) em outros estudos (Aliaga-Rossel 2004; Aliaga-Rossel et 59 al. 2008). O outro estimador usado foi o kernel fixo (Kernel, Worton 1989), sendo este um estimador mais complexo, no qual a área de vida de um animal é descrita como um modelo probabilístico com base na distribuição das localizações (Silverman 1986; Seaman & Powell 1996). Aqui, foram usadas 95% das localizações para a estimativa das áreas de vida por kernel. Essa é uma forma de excluir as localizações mais externas, evitando contar na área de vida com as saídas ocasionais a que Burt (1943) se refere. Pela mesma razão, foram excluídos os contornos produzidos pelo kernel que contavam com apenas uma localização. Este método foi escolhido por ser mais confiável do que o MPC (Powell 2000; Kernohan et al. 2001). Para este estimador é necessário escolher um parâmetro de suavização (h) que define a área a ser considerada em torno de cada localização, influenciando diretamente o tamanho das áreas de vida (Silverman 1986; Worton 1989, 1995; Seaman & Powell 1996; Gitzen & Millspaugh 2003; Hemson et al. 2005). Conhecendo os animais e a área onde eles vivem, a escolha visual do parâmetro de suavização é uma forma poderosa de analisar os dados (Wand & Jones 1995; Jones et al. 1996). No presente estudo foram realizadas inspeções visuais da adequação de dois dos parâmetros de suavização mais utilizados, o h calculado por validação-cruzada dos quadrados mínimos (LSCV, do inglês least squares cross-validation) e o h de referência (href) (Hemson et al. 2005). O primeiro mostrou-se muito variável e pouco adequado aos dados, formando um contorno fragmentado sub-suavizado, como apontado em outros estudos que o aplicaram a dados reais (Hall & Marron 1991; Jones et al. 1992; Sheather 1992; Jones et al. 1996; Hemson et al. 2005). O segundo, de forma inversa, pareceu superestimar as áreas de vida dos animais, como evidenciado em outros trabalhos (Wand & Jones 1995; Worton 1995; Seaman & Powell 1996; Kernohan et al. 2001; Gitzen & Millspaugh 2003). Segundo Hemson et al. (2005), uma forma de lidar 60 com esses problemas seria usar um múltiplo menor de href como parâmetro de suavização, evitando enviesar as estimativas das áreas de vida. Sendo assim, foi utilizado 80% do valor de href como parâmetro de suavização. Esta adaptação da largura de banda já mostrou produzir estimativas de áreas de vida pouco enviesadas (Worton 1995) e tem sido usada em outros estudos (e.g. Kie & Boroski 1996; Kie et al. 2002). As comparações das áreas de vida estimadas no presente trabalho com aquelas encontradas em outros estudos foram feitas pelo teste de Mann-Whitney, quando houve tamanho amostral suficiente para tal. Quando não foram possíveis comparações por testes, os valores brutos foram comparados. Se o estudo em questão evidenciou diferença nos tamanhos das áreas de vida entre sexos, as comparações foram realizadas separadamente. A comparação do tamanho das áreas de vida (estimadas por kernel fixo 95% com 80% de href) entre os sexos dos indivíduos foi realizada pelo teste de MannWhitney. O tamanho da área de vida é relacionado com as necessidades energéticas diárias dos animais e, muitas vezes, um reflexo de seu sistema de acasalamento (McNab 1963; Ostfeld 1990). Já as distâncias máximas percorridas podem ser mais relacionadas à capacidade exploratória dos indivíduos (e.g. Spencer et al. 1990). As distâncias máximas percorridas foram calculadas medindo a distância euclidiana entre o ponto de soltura (cercado de aclimatação) e a localização mais distante dele para cada indivíduo. Para descrever a relação entre as duas variáveis foi realizada uma correlação de Pearson (com aleatorização com 1000 repetições) entre o tamanho da área de vida e a distância máxima percorrida. Quando não foi encontrada relação entre o tamanho das áreas de vida dos animais e a distância máxima percorrida por eles, estas distâncias foram comparadas entre os sexos dos indivíduos pelo teste de Mann-Whitney. 61 Comportamento territorial Monitoramento intensivo Durante o período de aclimatação (ver capítulo I), foram constatadas interações agressivas entre machos, mas não entre fêmeas ou entre machos e fêmeas dentro do cercado (dados não publicados). Sendo assim, foi testada ocorrência de comportamento territorial por machos durante o monitoramente intensivo. Para isso foi testada a fidelidade dos indivíduos a um território nos primeiros três dias após a soltura. Para avaliação desta fidelidade, foi calculado o índice de agregação das localizações baseado na técnica do vizinho mais próximo (nearest neighbor, como descrito em Krebs 1989). A comparação dos valores de agregação entre os sexos dos indivíduos foi realizada pelo teste de Mann-Whitney. As sobreposições entre as áreas utilizadas durante o monitoramento intensivo também foram usadas para inferir o comportamento territorial por machos. Para isso foi ajustado um MPC 100% às localizações realizadas neste período e suas sobreposições calculadas. Para esta análise foram comparadas apenas as sobreposições entre indivíduos que estavam no entorno do cercado simultaneamente. A relação das sobreposições das áreas utilizadas (em porcentagens) com o sexo dos indivíduos foi avaliada pelo teste de Mann-Whitney. Monitoramento regular Interações agressivas entre machos também foram presenciadas durante o monitoramento regular, com os animais já soltos na natureza. Sendo assim, foram levantadas duas hipóteses quanto à presença do comportamento territorial. A primeira 62 foi de que este comportamento seria estático e as cutias defenderiam o mesmo trecho de sua área de vida durante todo o tempo do estudo. Para testar essa hipótese foram calculadas as sobreposições das áreas de vida (estimadas por kernel fixo 95% com 80% de href) entre machos e machos e entre fêmeas e fêmeas, em porcentagens. Sob a hipótese de que essas sobreposições seriam menores entre machos do que entre fêmeas, a influência do sexo nelas foi testada por um teste t. A segunda hipótese foi de que o comportamento territorial dos machos seria dinâmico, com os machos defendendo a área onde estavam no momento. Para testar essa hipótese foram selecionadas todas as localizações de diferentes animais que tivessem menos de 30 minutos entre si (portanto em espaço curto de tempo). Este intervalo de tempo foi escolhido por ser curto o suficiente para permitir que o indivíduo localizado permanecesse nas proximidades da localização marcada e assegurar que se pudesse acessar qualquer outro que vivesse na mesma área. De posse dos pares de localizações, seguindo esse critério, foram calculadas as distâncias (euclidiana) entre elas. A diferença entre a média dessas distâncias para localizações entre machos e a média dessas distâncias para o conjunto todo foi usada como estatística. Para saber se a média das distâncias entre as localizações entre machos era maior do que a esperada ao acaso foi realizada uma aleatorização com 1000 repetições. A hipótese nula foi de que a distâncias entre as localizações de pares de machos não difeririam das distâncias do conjunto como um todo. A hipótese alternativa foi de que esta distância seria maior nas localizações de pares de machos quando comparadas ao conjunto todo. A confirmação da hipótese alternativa seria um indício de que a evitação entre machos e machos em curto espaço de tempo é maior do que entre machos e fêmeas e fêmeas e fêmeas, sendo um indício de proteção de território de machos contra outros machos. Para a realização desta análise foram incluídas apenas as localizações dos indivíduos que viviam na 63 mesma região ao mesmo tempo e foram retiradas as cutias que se sabia que formavam um casal; este foi um procedimento conservador, uma vez que a questão se referia às distâncias entre indivíduos não obviamente pareados. O mesmo procedimento foi realizado para testar a territorialidade por fêmeas. Análise de dados Todos os testes seguiram Zar (1999) e foram executados utilizando os programas Systat 11.0 e R 2.8.1. A normalidade foi averiguada pela análise gráfica da distribuição dos resíduos segundo Gotelli & Ellison (2004) e pelo teste de ShapiroWilk. A homogeneidade das variâncias foi verificada pelo teste de Levene. No caso onde essas premissas foram atendidas, foram realizados testes paramétricos. Se as premissas não foram atendidas, testes não paramétricos foram realizados. Os resultados dos testes são sempre apresentados como média ± desvio-padrão. Os valores de p apresentados são bicaudais, exceto quando houve predição direcional a priori para a comparação dos grupos. RESULTADOS 64 A partir da soltura, os animais foram rastreados duas a três vezes por semana, por um período de 247,2 ± 60,9 dias não consecutivos, totalizando 115 dias de monitoramento (fevereiro a dezembro de 2010). Neste período, foram obtidas 724 localizações dos oito indivíduos soltos (90,5 ± 19,2 localizações; Figura II.1; Tabela II.1). Tabela II.1. Indivíduos de cutia (Dasyprocta leporina) monitorados após reintrodução no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil). F = fêmea e M = macho; colar = cor do colar; localizações = total de localizações durante o estudo; erro = erro médio do GPS; dias de monitoramento = dias não consecutivos de monitoramento. Indivíduo Colar F1 negra F2 azul F3 branca F6 cinza M1 prata M3 amarelo M5 verde M6 laranja Localizações Erro (m) 83 8 70 8,1 120 8,3 74 8,3 92 8,1 87 8 119 8 79 8,7 Dias de monitoramento 170 264 305 162 209 250 313 305 Período Jul - Dez 2010 Fev - Out 2010 Fev - Dez 2010 Fev - Jul 2010 Abr - Out 2010 Abr - Dez 2010 Fev - Dez 2010 Fev - Dez 2010 Com algumas exceções temporais, os animais estabeleceram-se todos na mesma área, onde se encontravam regularmente uns com os outros. A distribuição das localizações mostra que eles permaneceram durante a maior parte do tempo ao longo do curso dos rios presentes na área de estudo (Figura II.1). 65 Cercado F1 (negra) F2 (azul) F3 (branca) F6 (cinza) M1 (prata) M3 (amarelo) M5 (verde) M6 (laranja) 100m Figura II.1. Localizações de cutias (Dasyprocta leporina) reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil). Cada cor refere-se a um indivíduo monitorado cujas identificações estão na legenda da figura. F=fêmea e M=macho. A cor entre parênteses identifica o colar de cada animal. Cercado = posição do cercado de aclimatação (ver capítulo I). As linhas azuis representam cursos d‟água. 66 Durante o monitoramento intensivo foram obtidas 115 localizações de oito indivíduos (14,4 ± 1,7 localizações por indivíduo). O valor previsto de 15 localizações por indivíduo (total de 120 localizações) não pode ser alcançado porque a fêmea F3 não pode ser localizada no primeiro dia de monitoramento. Ela foi procurada o dia todo e, por testes previamente realizados com o equipamento no local de estudo, sabe-se que ela ficou a uma distância mínima de 300 m do cercado neste dia (alcance do receptor na área). Nas análises subseqüentes que tratam da distribuição de suas localizações foi usado o conjunto de dez localizações (obtidas no segundo e terceiro dias após a soltura) e acrescentada uma localização distante 300 m destas. Para as análises que dependiam da estimativa de uma área com base nas localizações o animal foi excluído. Dependência da suplementação/cercado Os animais mantiveram-se a menos de 100 m, em média, em relação ao cercado de aclimatação nos primeiros três dias após a soltura (93,9 ± 142,2 m). Em metade das localizações mais próximas eles não passaram de 40 m (21,3 ± 8 m). Além disso, todos voltaram regularmente para se alimentar da suplementação durante esse período. As áreas totais utilizadas durante a fase de dependência da suplementação foram menores para os indivíduos do primeiro grupo (1,25 ± 0,75 ha) do que para os do segundo grupo (10,7 ± 5,2) (U=0; p=0,034; Figura II.2). 67 Área utilizada (ha) 15 10 5 0 Grupo 1 Grupo 2 Figura II.2. Áreas utilizadas durante a fase de dependência da suplementação por cutias (Dasyprocta leporina) reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil). As áreas foram estimadas ajustando-se um MPC 100% a todas as localizações de cada indivíduo durante o tempo em que se alimentaram da suplementação. Áreas de vida Seguindo o critério estabelecido para formação das áreas de vida (ver material e métodos) foi selecionado um subconjunto das localizações totais de cada indivíduo para a realização das estimativas. Para isso, foram obtidas 473 localizações dos oito animais soltos (59,1 ± 19,5 localizações; tabela II.2). No caso do macho M6, o indivíduo permaneceu inicialmente na área ocupada por todos os outros animais. Posteriormente estabeleceu-se em uma área mais distante (sem contato aparente com os outros) durante um período mínimo de 121 dias, retornando a área inicial no fim do estudo. Sendo assim, essas foram tratadas como áreas de vida distintas e suas áreas somadas para as estimativas para este animal. 68 É mais difícil atingir uma assíntota com áreas estimadas por MPC do que usando outros estimadores como o kernel (Gautestad & Mysterud 1995). Mesmo assim, a análise gráfica visual da relação entre o número de localizações e o tamanho cumulativo das áreas de vida revelou que, de forma geral, as curvas tenderam a uma estabilização. Isso mostra que os animais mantiveram uma fidelidade às áreas onde escolheram viver ao longo do período de estudo (Figura II.3). Outro indício de que os animais atingiram a suficiência amostral é que não houve correlação entre o número de localizações e o tamanho das áreas de vida (r=-0,212; p=0,636; Figura II.4). Mínimo polígono convexo (95%) 10 9 F1 (negra) 8 F2 (azul) 7 F3 (branca) 6 F6 (cinza) 5 M1 (prata) 4 M3 (amarelo) 3 M5 (verde) 2 M6 (laranja AV1) 1 M6 (laranja AV2) 0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 Número de localizações Figura II.3. Análise das curvas de acumulação de área de vida (estimadas por mínimo polígono convexo excluindo 5% das localizações mais externas) para cutias (Dasyprocya leporina) reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil). Cada curva refere-se a um indivíduo monitorado cuja identificação está na legenda da figura. F = fêmea e M = macho. A cor entre parênteses identifica o colar de 69 cada animal. O macho M6 é representado por duas curvas, pois apresentou duas áreas de vida durante o período de estudo (ver métodos – área de vida). Área de vida (ha) 15 10 5 0 30 40 50 60 70 80 90 Número de localizações Figura II.4. Relação entre o tamanho das áreas de vida de cutias (Dasyprocta leporina) reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil) e o número de localizações usadas para estimá-las. As áreas de vida foram estimadas por kernel fixo 95% usando 80% de href como parâmetro de suavização. O número de localizações se refere aos conjuntos de 95% das localizações usados para a estimativa das áreas de vida. As estimativas das áreas de vida por MPC 100% variaram de 4 a 16,4 ha para os oito animais liberados (8,3 ± 4 ha; Tabela II.2). Essas estimativas foram comparadas com as encontradas por Silvius & Fragoso (2003), Jorge & Peres (2005) e AliagaRossel et al. (2008) (Figura II.5). Nas comparações com Silvius & Fragoso (2003), em relação aos machos, acredita-se que não houve diferença entre os tamanhos médios da área de vida por eles 70 encontrada (8,5 ha; n=1) e as aqui descritas (10,9 ± 4,1 ha; mínima=7,1 ha e máxima=16,4 ha; n=4). Para as fêmeas, também não houve diferença nos tamanhos das áreas de vida no presente estudo (5,6 ± 1,5 ha; n=4) e em Silvius & Fragoso (2003) (4,95 ± 1,38 ha; n=4) (gl=1; U=10; p=0,564). A comparação com Jorge & Peres (2005) mostrou que as áreas de vida aqui encontradas para machos (10,9 ± 4,1 ha; mínima=7,1 ha e máxima=16,4 ha; n=4) são provavelmente maiores do que a estimada por eles (4 ha; n=1). Em relação às fêmeas não houve diferença nos tamanhos médios das áreas de vida entre as estimadas no presente estudo (5,6 ± 1,5 ha; n=4) e em Jorge & Peres (2005) (4,7 ± 1,5 ha; n=3) (gl=1; U=9; p=0,289). Para as comparações com Aliaga-Rossel et al. (2008) foram usadas apenas as estimativas realizadas a partir de localizações obtidas por radiotelemetria, com mais de 30 localizações. Estas mostram que as áreas de vida aqui estimadas para machos (10,9 ± 4,1 ha) são maiores do que as áreas de vida descritas por eles para o mesmo sexo (3,1 ± 0,85; n=5) (gl=1; U=20; p=0,014). Padrão semelhante foi encontrado para as comparações entre fêmeas neste estudo (5,6 ± 1,5 ha; n=4) e em Aliaga-Rossel et al. (2008) (1,82 ± 0,52 ha; n=3) (gl=1; U=12; p=0,034). 71 Área de vida MPC 100% (ha) 20 15 10 5 0 F M Presente trabalho F M Silvius & Fragoso (2003) F M Jorge & Peres (2005) F M Aliaga-Rossel et al. (2008) Figura II.5. Comparação entre as áreas de vida de cutias (Dasyprocta leporina) reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil) com as descritas em outros trabalhos. F=fêmeas (pontos pretos) e M=machos (pontos brancos). As áreas de vida estimadas em Silvius & Fragoso (2003) e Jorge & Peres (2005) são para e mesma espécie estudada no presente trabalho. As áreas de vida estimadas em AliagaRossel et al. (2008) são para Dasyprocta punctata na ilha de Barro Colorado. As estimativas das áreas de vida realizadas por kernel fixo usando 80% do href como parâmetro de suavização foram usadas para inferir de forma mais acurada os tamanhos das áreas de vida das cutias neste estudo, pois foram as que mostraram melhor adequação aos dados. Essas estimativas variaram de 4,5 a 13,4 ha para os oito animais soltos (7,9 ± 2,8 ha; Tabela II.2). Não houve diferença entre os sexos quanto ao tamanho das áreas de vida (U=2; p=0,083; Figura II.6). 72 Tabela II.2. Estimativas (em hectares), por dois estimadores diferentes, das áreas de vida de cutias (Dasyprocta leporina) reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil). F = fêmea e M = macho; colar = cor do colar; localizações = total de localizações selecionadas para as estimativas das áreas de vida (apenas a estimativa por MPC 100% levou todas em consideração); MPC 100% = área de vida estimada por mínimo polígono convexo levando em consideração todas as localizações; kernel 80% href = área de vida estimada por kernel fixo usando 80% de href como parâmetro de suavização, excluindo 5% das localizações mais externas. Indivíduo Colar F1 negra F2 azul F3 branca F6 cinza M1 prata M3 amarelo M5 verde M6 laranja Localizações 49 52 85 47 40 46 93 61 MPC 100% (ha) 6,7 7,1 4,7 4 7,1 11,6 16,4 8,5 Kernel 80%href (ha) 7,9 7,5 4,6 4,5 8,7 13,4 9,3 7 73 Área de vida (ha) 15 10 5 0 Fêmeas Machos Sexo Figura II.6. Áreas de vida de cutias (Dasyprocta leporina) dos dois sexos reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil). As áreas de vida mostradas nesta figura foram calculadas por kernel fixo usando 80% de href como parâmetro de suavização. Não houve correlação entre o tamanho das áreas de vida e as distâncias máximas percorridas por cada animal (r=0,357; p=0,546; Figura II.7). As distâncias máximas percorridas por machos (686,7 ± 109 m) foram maiores do que a das fêmeas (483,6 ± 105,4 m) (U=1; p=0,043; Figura II.8). 74 Área de vida (ha) 15 10 5 0 300 400 500 600 700 800 900 Distância máxima percorrida (m) Figura II.7. Relação entre os tamanhos das áreas de vida de cutias (Dasyprocta leporina) reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil) e as distâncias máximas percorridas por elas. Distância máxima percorrida (m) 900 800 700 600 500 400 300 Fêmea Macho Sexo Figura II.8. Distâncias máximas percorridas por cutias (Dasyprocta leporina) dos dois sexos, reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil). A distância máxima percorrida foi calculada como a distância euclidiana entre o ponto de soltura 75 (cercado de aclimatação, ver capítulo I) e a localização mais distante deste ponto para cada animal. Comportamento territorial Monitoramento intensivo A análise visual da distribuição das localizações durante o monitoramento intensivo revelou que os machos guardam fidelidade a uma área, sendo esta próxima ou distante ao cercado, sempre retornando à suplementação para se alimentar (Figura II.9, A). As fêmeas mostraram-se menos fiéis a qualquer área e também retornaram regularmente ao cercado para se alimentar da ceva (Figura II.9, B). Esse padrão foi corroborado pelos índices de agregação, que mostraram que as localizações dos machos durante o monitoramento intensivo foram mais agregadas (36,8 ± 17,5) do que as das fêmeas (86,2 ± 35,4) (U=15; p=0,043; Figura II.10). Não houve diferença entre sexos nas sobreposições das áreas utilizadas pelas cutias durante o monitoramento intensivo: machos (16 ± 26%) e fêmeas (25 ± 23%) (U=10; p=0,561). 76 A Cercado F1 (negra) F2 (azul) F3 (branca) F6 (cinza) 100m B Cercado M1 (prata) M3 (amarelo) M5 (verde) M6 (laranja) 100m Figura II.9. Distribuição das localizações de cutias (Dasyprocta leporina) reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil) durante o monitoramento intensivo. (A) fêmeas - a fêmea F3 não pode ser localizada no primeiro dia de monitoramento, mas sabe-se que a mesma ficou a uma distância mínima de 300 m do cercado neste dia (ver texto) e (B) machos. Cada cor refere-se a um indivíduo monitorado cujas identificações estão na legenda da figura. F=fêmea e M=macho. Cercado = posição do cercado de aclimatação (ver capítulo I). A cor entre parênteses identifica o colar de cada animal. 77 Índice de agregação 150 100 50 0 Fêmeas Machos Sexo Figura II.10. Índices de agregação (método do vizinho mais próximo, nearest neighbor, Krebs 1989) das localizações de cutias (Dasyprocta leporina) dos dois sexos durante o monitoramento intensivo, reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil). Monitoramento regular As cutias estabeleceram áreas de vida próximas ou até sobrepostas ao cercado de aclimatação. Nenhum indivíduo (macho ou fêmea) apresentou uma área de uso intensamente utilizada que fosse exclusiva, o que significaria a presença de um território. As áreas de vida de todos os indivíduos apresentaram alguma sobreposição com as de outros (Figura II.11). Não houve diferença na sobreposição das áreas de vida entre machos (49 ± 2%) e fêmeas (41 ± 2%) (gl=22; t=0,838; p=0,411). 78 Cercado F1 (negra) F2 (azul) F3 (branca) F6 (cinza) M1 (prata) M3 (amarelo) M5 (verde) M6 (laranja) 100m Figura II.11. Áreas de vida de cutias (Dasyprocta leporina) reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil) durante o período do estudo (fevereiro – dezembro 2010). Cada cor refere-se a um indivíduo monitorado cujas identificações estão na legenda da figura. Cercado=posição do cercado de aclimatação. F=fêmea e M=macho. A cor entre parênteses identifica o colar de cada animal. Foram encontrados 216 pares de localizações entre cutias com menos de 30 minutos de diferença entre elas (37 entre machos, 42 entre fêmeas e 137 entre machos e fêmeas). Todas as localizações da segunda área de vida (AV2) do macho M6 (Figura II.11, canto inferior esquerdo) foram excluídas. A fêmea F1 e o macho M1 não foram considerados para esta análise por formarem um casal. As distâncias entre as localizações de machos foram maiores do que o esperado ao acaso levando-se em consideração localizações em curto espaço de tempo (diferença da média entre as 79 localizações entre machos e o conjunto todo=44,5 m; p=0,028). As distâncias entre as localizações entre fêmeas não foram maiores do que o esperado ao acaso (diferença da média entre as localizações entre fêmeas e o conjunto todo=21,5 m; p=0,279) 80 DISCUSSÃO O cercado de aclimatação é fundamental durante o processo de soltura gradual, exercendo uma série de funções (sensu Beck et al. 1994; Brigth & Morris 1994; Letty et al. 2000). Uma dessas funções é a de manter os animais na região de seu entorno nos primeiros dias após a soltura, evitando dispersões a longas distãncias (e.g. Bright & Morris 1994; Biggins et al. 1999; Banks et al. 2002; Tuberville et al. 2005; Hardman & Moro 2006; Morrel 2008). Essa função evita que os animais se percam quando ainda não estão acostumados com a área onde foram soltos, auxilia a formação de uma população coesa, permite o acesso dos animais à suplementação e facilita o monitoramento por parte dos pesquisadores (Diefenbach et al. 1993; Bright & Morris 1994; Biggins et al. 1999; Carrie et al. 1999; Tweed et al. 2003; Hardman & Moro 2006). Eventos de dispersão longa pós-soltura já foram motivos de perda de animais e dissolução de grupos sociais em programas de reintrodução (e.g. Diefenbach et al. 1993; Passamani et al. 1997; Biggins et al. 1999; Moehrenschlager et al. 2003; Tuberville et al. 2005; Peignot et al. 2008), o que pode trazer dificuldades para o bom andamento do projeto (e.g. Tweed et al. 2003; Peignot et al. 2008). O uso do cercado no presente estudo parece ter cumprido sua função de manter as cutias em seu entorno nos primeiros dias após a soltura. Duas exceções confirmam esta regra. A fêmea F3 não pode ser encontrada no primeiro dia de monitoramento, sabendo-se que foi a uma distância de pelo menos 300 m do cercado. Já o macho M3 percorreu uma distância de 665 m no próprio dia em que foi solto. Apesar disso, ambos, assim como os outros animais que ficaram mais próximos ao cercado nos primeiros dias, estabeleceram-se em seu entorno posteriormente. Este é um padrão recorrente em indivíduos reintroduzidos por soltura gradual (e.g. Armstrong et al. 1999; Banks et al. 81 2002; Tweed et al. 2003; Hardman & Moro 2006; Vandel et al. 2006), demonstrado aqui pelo fato de as cutias terem estabelecido áreas de vida próximas ou até sobrepostas ao cercado (ver áreas de vida). Esse benefício trazido pelo uso do cercado de aclimatação pode ter sido determinante para o sucesso em curto prazo da reintrodução (ver capítulo I). A manutenção dos animais próximos uns aos outros fez com que a população reintroduzida ficasse coesa, permitindo a reprodução e facilitando o monitoramento de todos os animais durante o período do estudo (ver capítulo I). Outra função do cercado de aclimatação que trouxe benefício para os indivíduos recém reintroduzidos foi a facilitação do acesso deles à suplementação alimentar. Todos os animais, mesmo os que se moveram a grandes distâncias do cercado nos primeiros dias, voltaram regularmente para alimentarem-se da ceva, fato comum em programas de reintrodução que usam a soltura gradual (e.g. Bright & Morris 1994; Passamani et al. 1997; Biggins et al. 1999; Pople et al. 2001; Armstrong et al. 2002; Banks et al. 2002; Wanless et al. 2002; Armstrong et al. 2007; Garret et al. 2007; Hayward et al. 2007; Catalán et al. 2008; Peignot et al. 2008; Marnewick et al. 2009). Como discutido no primeiro capítulo, a suplementação parece ter sido muito importante para todos, mas especialmente para aqueles soltos na estação seca. Para estes, a suplementação teve que ser reduzida gradualmente, pois não abandonaram a ceva voluntariamente (ver capítulo I). A importância da suplementação é mais uma vez evidenciada por sua influência nos padrões espaciais. Enquanto alimentavam-se da ceva, os animais que a abandonaram voluntariamente apresentaram áreas utilizadas pequenas. Isso mostra que, durante este período, não precisavam ficar percorrendo grandes distâncias à procura de alimento. Os animais para os quais a suplementação teve que ser reduzida gradualmente apresentaram áreas utilizadas maiores no período em que ficaram dependentes da ceva. Isso provavelmente reflete o fato de que eles tiveram que andar mais à procura de 82 alimentos à medida em que a suplementação ia sendo reduzida, até atingirem sua independência alimentar. Esse padrão também foi evidenciado por Peignot et al. (2008), em cujo estudo os comprimentos das jornadas diárias de mandris reintroduzidos (Mandrillus sphinx) eram maiores na ausência de suplementação do que quando ela era disponibilizada. Após atingirem a independência alimentar, todas as cutias estabeleceram-se em uma área definida, formando uma área de vida. O critério escolhido para a seleção das localizações que seriam usadas para a realização das estimativas das áreas de vida parece ter sido correto. Isso pode ser afirmado porque as estimativas aqui realizadas foram semelhantes a quase todas as estimativas de área de vida descritas para cutias selvagens da mesma espécie em condições semelhantes (Silvius & Fragoso 2003; Jorge 2000; Jorge & Peres 2005). A discrepância encontrada entre as áreas de vida de machos estimadas no presente trabalho e a descrita para um macho em Jorge & Peres (2005) foi baseada na comparação direta dos valores, já que não foi possível a realização de teste estatístico. Apesar da ausência de teste e do número amostral insuficiente para esta comparação, era esperado que as áreas de vida estimadas por Jorge & Peres (2005) fossem menores do que as aqui encontradas. Isso acontece porque, no local de estudo de Jorge & Peres (2005) (Pinkaiti, Amazônia, Brasil), a densidade de cutias (37 indivíduos/Km²) é substancialmente maior do que a densidade encontrada em outras florestas neotropicais sem caça (Jorge & Peres 2005). A alta densidade de cutias é um reflexo da característica da área de estudo. Esta área contém alta densidade de árvores de castanha-do-pará (Bertholletia excelsa) (densidade dos adultos=2 árvores/ha; Baider 2000), que possuem distribuição agregada e fornecem uma grande quantidade de sementes (39 – 101 Kg de 83 sementes/ha/ano) na área onde o macho se encontrava (Jorge et al. 2000; Jorge & Peres 2005). Se compararmos apenas as áreas de vida de fêmeas que viviam no castanhal (4,1 e 3,5 ha) com as aqui encontradas (4; 4,7; 6,7 e 7,1 ha), o padrão é semelhante. Podemos ver que as duas área de vida são menores do que a maioria das aqui descritas. Isso acontece pelos mesmos motivos acima discutidos para o macho. As áreas de vida dos animais são profundamente afetadas pela disponibilidade de recursos alimentares. Onde a abundância de alimentos é maior, suas áreas de vida são menores, pois eles não precisam se deslocar tanto para obter a mesma energia (McNab 1963; Brown & Orians 1970; Mares & Lacher 1987; Rolstad & Rolstad 1995). Apesar de ter sido comparada a outra espécie, as diferenças entre as áreas de vida encontradas no presente trabalho e as reportadas para D. punctata na ilha de Barro Colorado, eram esperadas. Em ilhas, de forma geral, as densidades de pequenos herbívoros (como os roedores) são maiores do que nos continentes (Adler & Levins 1994). Isso acontece porque os grandes predadores estão ausentes por falta de espaço onde encaixar suas grandes áreas de vida (McNab 1963; Harestad & Bunnel 1979; Kelt & Van Vuren 1999, 2001). Assim, as populações de herbívoros não tem regulação de cima para baixo (top-down), atingindo grandes densidades (Terborgh et al. 2001). Em Barro Colorado, como o esperado, as densidades de cutias (100 ind/Km², Aliaga-Rossel 2004; 84 ind/Km², Wright et al. 1994) são muito maiores do que todas as reportadas para florestas neotropicais sem caça (5 ind/Km² no Brasil (Urucu, Amazônia), Peres 1999; 5 ind/Km² no Peru (Parque Nacional de Cocha Cachu), Janson & Emmons 1990; 8 ind/Km² no Brasil (Lago Uauaçú, Amazônia); Haugaasen & Peres 2005; 8 ind/Km² na Guatemala (Tikal), Cant 1977; 31 ind/Km² no Brasil (Pinkaiti, Amazônia), Jorge & Peres 2005; 40 ind/Km² no Brasil (Ilha de Maracá, Roraima), Silvius & Fragoso 2003). No entanto, predadores de cutias – jaguatiricas (Leopardus pardalis), pumas (Puma 84 concolor), gatos mouriscos (Puma yagouaroundi), onças pintadas (Panthera onca), iraras (Eira barbara) e quatis (Nasua narica) – estão presentes em Barro Colorado e eventos de predação sobre elas são frequentes (Galef et al. 1976; Smythe 1978; AliagaRossel 2004; Aliaga-Rossel et al. 2006; Moreno et al. 2006). Sendo assim, a ausência de predadores não parece ser uma justificativa plausível para as altas densidades de cutias na ilha. A disponibilidade de alimento, ausência de pressão de caça, baixa abundância de grandes predadores (como a onça pintada e o puma) e ausência de competidores (como o queixada, Tayassu pecari) já foram levantadas como hipóteses para explicar a alta densidade de cutias em Barro Colorado (Smythe 1978; Glanz 1990; Glanz 1996 apud Aliaga-Rossel 2004). As diferenças de tamanho e grau de sobreposição entre as áreas de vida de machos e fêmeas de roedores da mesma espécie estão intimamente relacionadas com seu sistema de acasalamento (Ostfeld 1985; Hixon 1987; Ims 1987; Ostfeld 1990). A semelhança no tamanho das áreas de vida entre os sexos encontradas no presente trabalho está de acordo com o sistema de acasalamento monogâmico proposto para cutias (Smythe 1978; Nowak 1991). Nowak (1991) chega a afirmar que cutias são animais monogâmicos onde o casal pode se juntar até o fim da vida. Dos animais reintroduzidos (quatro machos e quatro fêmeas), um casal se formou tão logo os animais foram liberados na natureza. Desde a soltura, o macho M1 e a fêmea F1 foram sempre vistos juntos, mostrando alto grau de sobreposição de suas áreas de vida (86% da área de vida do macho sobreposta pela da fêmea e 95% da área de vida da fêmea sobreposta pela do macho). No fim do período de estudo, a fêmea F1 pariu um filhote (ver capítulo I), o que confirma o sistema de acasalamento monogâmico proposto para o gênero (Smythe 1978; Nowak 1991). Contudo, essa estreita relação entre machos e fêmeas não foi observada para nenhum outro casal. Apesar da fêmea F3 também ter tido 85 dois filhotes durante o período do estudo (ver capítulo I), não foi possível estabelecer relação dela com qualquer outro macho em particular. Essas descobertas confirmam as encontradas por Aliaga-Rossel (2004) para D. punctata, pois o autor sugere um sistema de acasalamento complexo, com a existência de alguns pares monogâmicos e, em outros casos, um sistema poligâmico de acasalamento. Diversos fatores são responsáveis pela determinação dos tamanhos das áreas de vida em mamíferos (Harestad & Bunnell 1979; Damuth 1981; Bergallo 1990; Kelt & Van Vuren 1999, 2001). Porém, todos eles apresentam relação com as necessidades energéticas, sendo o tamanho da área de vida uma função do metabolismo basal dos animais (McNab 1963). A ausência de correlação entre os tamanhos das áreas de vida e as distâncias máximas percorridas mostra que essas duas métricas não têm relação direta. Enquanto a primeira tem mais a ver com as necessidades energéticas dos animais (McNab 1963), a segunda pode ser mais relacionada à capacidade/motivação exploratória de cada individuo (e.g. Spencer et al. 1990). A capacidade exploratória está relacionada com a capacidade perceptiva dos animais ao ambiente em sua volta. Por sua vez, em pequenos mamíferos, essa percepção é maior quanto maior é a massa corporal (Mech & Zollner 2002; Forero-Medina et al. 2009). As maiores distâncias máximas movidas pelos machos quando comparados às fêmeas mostram que aqueles podem ter maior capacidade/motivação exploratória. Como as fêmeas são mais pesadas do que os machos (ver capitulo I), acredita-se que o que rege a maior exploração do ambiente pelos machos, neste caso, não é a capacidade exploratória, mas sim a motivação. Uma motivação possível para a maior exploração da ambiente pelos machos seria encontrar bons territórios, que lhes pudessem garantir recursos e, consequentemente, acesso às fêmeas (Brown & Orians 1970; Ostfeld 1990). 86 A procura de um território parece ter sido realizada pelos machos desde o momento da soltura. Dos quatro animais soltos, dois (M1 e M5, soltos em momentos distintos) estabeleceram-se bem próximos ao cercado logo após a liberação. Os outros dois (M6, solto uma semana depois de M5, e M3, solto concomitantemente a M1), por causa da presença dos outros nas proximidades do cercado, procuraram estabelecer-se em áreas mais distantes (M3 andou 660 m no próprio dia da soltura e M6 andou 101 m também no dia em que foi solto). Seja próxima ou mais distante do cercado de aclimatação, a distribuição das localizações mostra que os machos guardaram fidelidade a alguma área nos primeiros dias após a soltura, de forma diferente das fêmeas. A ausência de diferença nas sobreposições das áreas utilizadas durante o monitoramento intensivo entre machos e entre fêmeas pode ter acontecido pelo uso da suplementação. Apesar dos machos que viveram no entorno do cercado concomitantemente terem mostrado fidelidade a áreas distintas, todos voltaram para se alimentarem da suplementação, assim como as fêmeas. Isso fez com que todas as áreas utilizadas apresentassem algum grau de sobreposição no local onde a ceva era disponibilizada, podendo confundir o padrão de disjunção das áreas. Outro fator que pode ter contribuído para a ausência de diferença nas sobreposições seria um comportamento dinâmico de defesa da área. Neste, cada indivíduo defenderia uma área distinta a cada momento; num período tão curto quanto três dias é difícil elucidar tal padrão. Existem algumas evidências de que cutias apresentam comportamento territorial (e.g. Dubost 1988; Aliaga-Rossel 2004) e são comumente descritas como animais que defendem territórios (Smythe 1978; Dubost 1988; Emmons & Feer 1997; Silvius & Fragoso 2003; Reis et al. 2006). Apesar disso, existem dúvidas quanto a existência 87 deste comportamento em cutias (Clark & Galef 1977). De forma geral, o comportamento territorial é inferido quando existem evidências de que uma área está sendo defendida (como ataque e perseguição) e/ou de que o defensor torna sua presença conspícua para qualquer invasor (como vocalização e marcas) (Noble 1939; Burt 1943; Brown & Orians 1970; Powell 2000). Porém, uma condição quase indispensável para que seja atribuído o comportamento territorial para qualquer espécie é que os indivíduos apresentem uma área de uso exclusivo dentro de sua área de vida (Brown & Orians 1970; Ostfeld 1990; Powell 2000). Essa condição deve ser evidenciada pela análise da sobreposição de áreas de vida de animais que vivam na mesma área ao mesmo tempo. Mesmo assim, um problema na definição de território baseada na exclusividade é que a sobreposição das áreas de vida pode variar em um contínuo, fazendo que a dicotomia territorial-não territorial seja artificial (Ostfeld 1990). No presente estudo, todos os animais foram monitorados concomitantemente e nenhum indivíduo (macho ou fêmea) apresentou uma área de uso intensamente utilizada que fosse exclusiva, o que significaria a presença de um território fixo. Além disso, as sobreposições das áreas de vida entre machos e entre fêmeas foram semelhantes. Essas duas informações em conjunto mostram que as cutias não mantêm uma área exclusiva, independentemente do sexo. A existência do comportamento territorial é regida por um balanço entre a disponibilidade de recursos (quanto mais escassos, mais seria vantajoso defender uma área que contenha esses recursos) e o custo de defesa deste território (Brown 1969; Brown & Orians 1970; Carpenter & MacMillen 1976; Ostfeld 1985; Mares & Lacher 1987; Ostfeld 1990; Powell 2000; Kelt & Van Vuren 2001). Uma das formas que os animais têm de defender recursos importantes com menor gasto de energia é defender áreas menores e, portanto, mais fáceis patrulhar ou marcar. Estas áreas seriam manchas onde os referidos recursos são localmente abudantes. Pelo alto 88 gasto de energia com a defesa, essa é uma estratégia prevista para mamíferos (Brown & Orians 1970) e existem algumas evidências de que isso acontece em roedores (Smith 1968; Mares & Lacher 1987). Por sua lenta renovação e distribuição esparsa em pequenas manchas, os frutos e sementes são do tipo de recurso que pode desencadear o comportamento territorial (Ostfeld 1990). A dieta das cutias é composta principalmente por frutos e sementes (Henry 1999a e 1999b, Silvius 2002, Dubost & Henry 2006) e já foi mostrado que seus movimentos estão intimamente relacionados com a produtividade de frutos, tanto na escala de um dia (Lambert et al. 2009) como entre estações (Slivius & Fragoso 2003; Aliaga-Rossel 2004; Jorge & Peres 2005; Aliaga-Rossel et al. 2008). O mapa cognitivo de um animal deve mudar na medida em que o indivíduo aprende coisas novas sobre o ambiente. Com o aparecimento de novos recursos e o esgotamento dos antigos, mudanças apropriadas devem ser feitas neste mapa (Powell 2000). Silvius & Fragoso (2003) e Aliaga-Rossel (2004) mostraram que o que mais influenciava o movimento das cutias era a localização de árvores que estavam frutificando no momento. Jorge & Peres (2005) relataram que uma palmeira (Attalea sp.) perto dos limites da área de vida de uma fêmea tornou-se foco de sua atividade de forrageamento durante o pico da estação seca. Fato semelhante foi evidenciado no presente estudo. O macho M6 saiu da área onde tinha se estabelecido inicialmente, sendo encontrado depois em um local onde era constantemente visto forrageando em volta de uma jaqueira (Artocarpus heterophilus), onde permaneceu por, no mínimo 121 dias. Sendo assim, acredita-se que as cutias centram suas áreas de vida em árvores que estão frutificando no momento, criando um mosaico de uso do espaço no tempo (Jorge 2000; Silvius & Fragoso 2003; AliagaRossel 2004; Jorge & Peres 2005; Aliaga-Rossel et al. 2008). 89 O comportamento territorial é um fenômeno que tem como causa principal a distribuição espacial e temporal de recursos (Brown & Orians 1970). Foi mostrado neste estudo que os machos mantêm uma distância maior entre si do que a esperada ao acaso em intervalos curtos de tempo (menos de 30 minutos). Esse fato, juntamente com a existência de comportamento agressivo entre eles, indica que os machos podem estar defendendo territórios de forma dinâmica, padrão já relatado para esquilos terrestres (Mares & Lacher 1987). Neste caso, as cutias defenderiam locais onde existem árvores frutificando no momento, que seriam manchas com abundância de recursos alimentares e de fácil defesa. As vantagens não se limitam às trazidas pelo acesso exclusivo a estas manchas de alimento. Os machos podem estar aumentando as chances de ter acesso às fêmeas já que fidelidade a uma área associada à hostilidade pode aumentar a probabilidade de um macho atrair fêmeas para a cópula, aumentando sua aptidão (Brown & Orians 1970; Ostfeld 1990). Essas manchas de recursos defendidas são, provavelmente, aquelas formadas por árvores como a cutieira (Joannesia princeps), principal item alimentar consumido pelos animais neste estudo, que possuem sementes grandes com alto conteúdo energético (Carvalho 2003). Essa preferência das cutias por sementes grandes foi mostrada em outros estudos (Smythe 1978; Forget et al. 2001; Silvius & Fragoso 2003; Jorge & Peres 2005) e a grande importância desses animais na dispersão de árvores com este tipo de semente já foi discutida (Hallwachs 1986; Smythe 1989; Forget 1990; Forget & Milleron 1991; Peres & Baider 1997; Peres et al. 1997; Asquith et al. 1999). Consequentemente, apesar das cutias serem consideradas predadoras generalistas de sementes, os machos devem estar procurando ativamente por árvores de sementes grandes e defendendo esses locais. Sendo assim, essa relação se configura como benefício mútuo entre as árvores de sementes grandes, que tem seus frutos dispersados, e as cutias, que por sua vez se valem das manchas de recursos 90 alimentares. A defesa dessas áreas evidencia a importância dos recursos nelas encontrados para as cutias e sua densidade pode estar sendo regulada de baixo para cima (bottom-up) pela abundância local de árvores de sementes grandes, como já havia sido reconhecido por Jorge & Peres (2005). 91 CONSIDERAÇÕES FINAIS As demandas da população humana por recursos naturais trazem devastação para o meio ambiente (Terborgh 1999). Essa devastação faz com que as extinções causadas pelo homem aconteçam a taxas de 100 a 1000 vezes maiores do que as taxas naturais de extinção, reveladas pelo registro fóssil (Myers 1989; Caughley & Gunn 1996; Pimm et al. 2006). O processo de extinção global vem acontecendo pela perda cada vez mais acelerada de populações em escala local (Hughes et al. 1997; Ceballos & Ehrlich 2002). Existem muitas estratégias de conservação que ajudam a desacelerar esse processo, porém a única capaz de revertê-lo é a reintrodução de espécies. O desenvolvimento da biologia da reintrodução acontece pela experiência acumulada em estudos de caso como a atual dissertação (Armstrong & Seddon 2007; Seddon 2007). Sendo assim, esta colabora para aumentar a eficácia dos programas de reintrodução através da avaliação dos procedimentos adotados. A colaboração do presente trabalho é mais evidente para futuras reintroduções em florestas tropicais e, mais especificamente na Floresta da Tijuca que é um remanescente da riquíssima e muito devastada Mata Atlântica, um dos mais importantes hotspots do mundo (Myers 2000; Pimm 2009; Jenkins et al. 2010; Pimm et al. 2010). A presente dissertação também tem o potencial de colaborar com o manejo futuro dessa população de cutias reintroduzidas no Parque, orientando futuras ações. O reconhecimento de que a quarentena foi uma fase estressante para os animais leva a repensar a duração deste período, que pode ser encurtado. O estresse trazido por essa etapa, juntamente com a origem dos animais, provavelmente levou essas cutias a apresentarem deficiências imunológicas (Caughley & Gunn 1996; Teixeira et al. 2007; Dickens et al. 2008). Esse fato evidencia a importância de reforçar a população 92 reintroduzida com indivíduos de outras populações, aumentando a variabilidade genética local, o que aumentaria as chances de sobrevivência dos indivíduos (IUCN 1996; Stockwell et al. 1996; Armstrong & Seddon 2007; Bouzat et al. 2009). A aclimatação foi considerada benéfica para os animais, o que foi evidenciado pelo seu ganho de peso no período. Apesar disso, a maior parte das mortes aconteceu dentro do cercado de aclimatação, que foi reconhecido como uma possível armadilha e parece aumentar as chances de interações agressivas entre os animais. O tempo em que as cutias permaneceram no cercado foi adequado, porém, a quantidade de indivíduos do mesmo sexo - principalmente machos - alocados no cercado simultaneamente deve ser repensada. Essa agressão entre os machos deve-se à defesa de território, comportamento muitas vezes notado durante o acompanhamento dos animais nas fases da reintrodução. O comportamento territorial dinâmico aqui evidenciado dificulta o conhecimento das reais porções da área de vida defendidas. Sendo assim, é difícil fazer inferências quanto ao número de cutias que podem conviver em uma determinada área. Conclusões mais refinadas quanto ao padrão devem ser alcançadas para que o manejo da população seja efetivo. O comportamento agressivo entre machos pode levar a exclusão reprodutiva de alguns deles quando a espécie é monogâmica e a razão sexual está desviada para machos (Brown & Orians 1970). Esse fato deve ser levado em consideração na hora de planejar novas solturas que possam desviar a razão sexual neste sentido. Além disso, avaliação da abundância de recursos-chave como as árvores de sementes grandes deve ser considerada na hora de inferir a capacidade suporte do ambiente para as cutias. Todos os indicadores escolhidos para a avaliação do sucesso da reintrodução mostram que essa pode ser considerada bem sucedida em curto prazo e sugerem que está caminhando para o sucesso em médio prazo. Existem evidências de que populações 93 reintroduzidas com as características aqui encontradas (como baixas taxas de mortalidade e dispersão) podem persistir com pequeno número de fundadores (Taylor et al. 2005). Apesar disso, deve-se tomar cuidado, pois populações pequenas são muito frágeis por serem extremamente suscetíveis a eventos de aleatoriedade demográfica, genética e ambiental (Brown & Kodric-Brown 1977; Nunney & Campbell 1993; Fernandez 2004), podendo não persistir (Armstrong & Seddon 2007). Sendo assim, novas solturas são recomendadas para reforçar a população vigente, visando o sucesso em longo prazo da reintrodução. O sucesso em longo prazo significaria não apenas mais uma população de cutias no mundo como a possibilidade da restauração de interações de dispersão de sementes na Floresta da Tijuca. Espera-se assim, que o sucesso do trabalho chame a atenção para o uso da reintrodução como ferramenta de restauração de ecossistemas. Esse reconhecimento seria importante na medida em que a síndrome da floresta vazia é cada vez mais comum, inclusive dentro de unidades de conservação, onde a caça é de difícil controle (Redford 1992; Joppa et al. 2008; Adeney et al. 2009). A caça representa uma das maiores ameaças à manutenção das interações animal-planta (Galetti et al. 2006; Roldán & Simonetti 2001; Stoner et al. 2007; Wright & Duber 2001; Wright 2003) e a extinção dessas interações ecológicas uma grande ameaça à manutenção da biodiversidade em escala global (Janzen 1974; Bond 1994; Jordano et al. 2006). 94 ANEXO A O primeiro grupo de animais foi levado no dia 30 de novembro de 2009 para o cercado de aclimatação na Floresta da tijuca. Esse grupo foi constituído por seis animais (três fêmeas e três machos; Tabela A.1). Os animais passaram pelos procedimentos normais de triagem pré-aclimatação (ver triagem), quando foram equipados com os colares de radiotelemetria TXE-311C, modelo recomendado para monitoramento de coelhos e lebres (Telenax®; Playa del Carmen, México). Os colares tinham o peso médio = 33g, aproximadamente 1,5% do peso dos animais, abaixo de 5%, como recomendado por Jacob & Rudran (2003). Os três casais permaneceram no cercado até o dia 15 de dezembro de 2009, quando, após 11 dias de chuvas intensas na região (275,6 mm de 4 a 15 de dezembro de 2009), percebemos que os animais haviam desenvolvido lesões no pescoço, na região em contato com o colar radiotransmissor. A fêmea F4 apresentava lesões mais profundas, e foi imediatamente retirada do cercado e levada à Fundação RioZoo para tratamento. Durante o transporte o animal veio a óbito, sendo a causa mortis identificada como miíase (infestação por larvas da mosca das bicheiras Cochliomyia hominivorax) seguida de infecção generalizada. No dia seguinte (16 de dezembro de 2009) os outros cinco indivíduos foram retirados do cercado e transportados para o RioZoo, onde foram retirados os colares radiotransmissores e onde os animais permaneceram até o dia 18 de janeiro de 2010 para o tratamento das lesões (Tabela A.1). Tabela A.1. Primeiro grupo de indivíduos da cutia vermelha Dasyprocya leporina levados à Floresta da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil) para o cercado de aclimatação. A 95 data da chegada ao cercado se refere ao dia em que os animais receberam os colares e foram transportados do RioZoo para o Parque Nacional da Tijuca. M = macho e F = fêmea. Indivíduo M1 M3 M6 F2 F3 F4 Captura 24/09/2009 24/09/2009 14/10/2009 24/09/2009 24/09/2009 24/09/2009 Chegada ao cercado Retorno ao RioZoo Situação 30/11/2009 16/12/2009 ferimentos leves 30/11/2009 16/12/2009 início de miíase 30/11/2009 16/12/2009 irritação no pescoço 30/11/2009 16/12/2009 ferimentos leves 30/11/2009 16/12/2009 ferimentos leves 30/11/2009 15/12/2009 morto Durante o tratamento das feridas, no dia 23 de dezembro de 2009, duas cutias (fêmea F1 e macho M6) receberam no RioZoo um protótipo do novo colar, composto por uma mangueira de borracha e um peso, para avaliar a adaptação dos animais ao novo equipamento e averiguar se este material causaria algum tipo de irritação (Figura A.1). Até o dia 18 de janeiro de 2010 os dois indivíduos não apresentaram nenhuma lesão, apenas a perda de pelos na região do pescoço. A B Figura A.1. Testes realizados com os protótipos dos colares no RioZoo para avaliar a adaptação dos animais ao equipamento modificado de 23 de Dezembro de 2009 a 18 de Janeiro de 2010. (A) protótipos dos colares e (B) cutia equipada com protótipo de colar. 96 Depois destes testes e seu resultado promissor o modelo antigo (TXE-311C; (Telenax®; Playa del Carmen, México) foi modificado para obter outro modelo que não causasse irritações na pele das cutias. Para tal, foram utilizados os transmissores e antenas dos colares comprados da Telenax, fixados a um cabo de aço utilizando cola Araldite e massa de poliéster, sendo o cabo envolto por uma mangueira de borracha. Para o fechamento do cabo de aço em torno do pescoço das cutias foi utilizada uma braçadeira de aço (Figura A.2). A B Figura A.2. Colares usados em cutias (Dasyprocta leporina) reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca, RJ. (A) Colar TXE 311C original (Telenax®; Playa del Carmen, México) e (B) colar modificado para prevenir ferimentos: transmissor e antena da Telenax fixados a um cabo de aço utilizando cola Araldite e massa de poliéster, sendo o cabo envolto por uma mangueira de borracha. 97 Durante o período em que foram observadas no cercado de aclimatação, todas as cutias que foram equipadas com os colares modificados apresentaram perda de pelos mas nenhum ferimentos por baixo dos colares. O monitoramento destes animais depois da soltura revelou que todas continuaram vivas até o final do estudo ou morreram de causas não relacionadas. Neste período aconteceram muitas ocasiões de chuvas intensas (e.g. 99,8 mm em 15 de janeiro de 2010; 87,4 mm em 25 de fevereiro de 2010; 295,2 mm em 6 de abril de 2010). A modificação dos colares evitou o desenvolvimento de novos ferimentos, aumentando a sobrevivência dos animais e as chances de sucesso da reintrodução. Uma vez que a reintrodução é uma estratégia de conservação cara (Kleiman 1989; Fischer & Lindenmayer 2000), qualquer melhoramento que aumente as chances de sucesso é importante. Como o monitoramento tem sido cada vez mais recomendado para os programas de reintrodução (Sarrazin & Barbault 1996; Seddon 1999; Armstrong & Seddon 2007; Ewen & Armstrong 2007; Jule et al. 2008) o uso de colares transmissores será cada vez mais comum. Pesquisadores que usam esta ferramenta têm que estar atentos para minimizar ferimentos causados por este equipamento (White & Garrot 1990) que já mostrou poder causar lesões sérias em várias espécies (Krasman et al. 2004). Infestações causadas pela mosca das bicheiras foram responsáveis pela morte de dois bugios (Allouata seniculus) reintroduzidos na Guina Francesa. Como no presente estudo, a infestação apareceu na estação chuvosa (Richard-Hansen et al. 2000). A chuva e umidade parecem ter relação com o aparecimento da infestação. Provavelmente, a umidade retida de baixo dos colares favorece o aparecimento de irritações na pele e cria um ambiente favorável ao desenvolvimento de fungos e bactérias. A irritação faz com 98 que o animal coce o pescoço e a mosca usa as entradas das feridas para depositar seus ovos. As modificações nos colares aqui realizadas ajudaram a prevenir as lesões de duas formas: reduzindo a largura do colar e reduzindo a retenção da umidade, fazendo o equipamento impermeável. O colar original tinha 1,8 cm de largura. As alterações reduziram esta largura em três vezes (0,6 cm), sem acréscimo de peso (~35 g). Esse procedimento permitiu que os colares tivessem mais mobilidade, reduzindo as chances de ferir um ponto específico do pescoço dos animais. A redução da retenção de umidade fez com que as chances do desenvolvimento de fungos também fossem reduzidas. As empresas que trabalham com fabricação de equipamento de radiotelemetria (como a Telenax®) possuem muitos modelos de colares – alguns similares ao aqui modificado – e cada pesquisador deve escolher o mais apropriado para seu estudo. Portanto, é recomendado aos pesquisadores que fiquem atentos à largura e, principalmente, capacidade de retenção de umidade dos colares que pretendem colocar nos animais. Essa recomendação é mais forte quando aplicada a animais de cativeiro reintroduzidos que podem apresentar baixa imunidade por motivos de estresse nos procedimentos a que são submetidos e de endocruzamento (Caughley & Gunn 1996; Ebenhard 1995; Mathews et al. 2006; Teixeira et al. 2007; Dickens et al. 2008). 99 ANEXO B Durante o monitoramento, no dia 26 de março de 2010, foi observado o consumo da carniça de um tapiti (Sylvilagus brasiliensis, Lagomorpha) pela fêmea F6. A observação foi iniciada por volta das 13:30h e durou cerca de 1 hora. Quando nos aproximávamos a cutia se afastava, voltando em seguida a consumir a carniça, permitindo um acompanhamento detalhado de seu comportamento alimentar. No início da observação o tapiti encontrava-se praticamente intacto, exceto por uma abertura no abdômen e a cabeça ensanguentada. Quando nos aproximamos pela segunda vez a cutia já havia consumido os órgãos internos e parte das patas traseiras (Figura B.1). A cutia carregou o tapiti morto por cerca de 20m, parando algumas vezes ao longo de seu trajeto para comê-lo, sentando-se sobre as patas traseiras e segurando o animal com as patas dianteiras. Assim que nos afastávamos, quase que imediatamente a cutia voltava e carregava a carniça para outro ponto. Na terceira vez em que nos afastamos, a cutia pegou o que restava do animal e saiu para um ponto em que não conseguimos mais observá-la. Não foi possível afirmar se a cutia matou o tapiti, mas a presença de larvas de mosca na carniça indicou que o mesmo já estava morto havia algum tempo quando as observações foram iniciadas. 100 Figura B.1. Coelho nativo, tapiti (Sylvilagus brasiliensis, Lagomorpha) consumido pela cutia fêmea F6 reintroduzida no Parque Nacional da Tijuca (Rio de Janeiro, Brasil). Esse fato confirma a dieta versátil das cutias que se alimentam de frutos, sementes, fungos, insetos e material animal (Dubost 1988; Henry 1999b, Silvius 2002, Dubost & Henry 2006), o que pode favorecer o sucesso da reintrodução. Landry (1970), em uma revisão sobre os hábitos alimentares de roedores, sugere que as espécies desse grupo sejam consideradas onívoras devido aos diversos registros de zoofagia. O consumo de carne, no entanto, ainda é pouco documentado para cutias. Nos três estudos que reportaram o consumo de carne por Dasyprocta spp. as presas foram mortas pelas cutias. Em cativeiro Smythe (1978) descreveu o consumo do roedor Liomys pictus (Heteromyidae) por D. punctata, enquanto Monteiro-filho e colaboradores (1999) registraram indivíduos de D. azarae matando e consumindo filhotes de galinha (Gallus gallus) e codorna (Cothurnix japonica). Na natureza Chávez & Duran (2003) descreveram o consumo de um pequeno vertebrado, provavelmente um roedor, por D. punctata na Costa Rica. 101 Landry (1970) já havia sugerido que a zoofagia em roedores não é apenas um comportamento anômalo. Apesar da dieta das cutias ser composta basicamente por frutos e sementes, durante períodos de escassez esses animais fazem uso de outros itens alimentares, incluindo invertebrados (Henry 1999). O consumo de carniça pela cutia reintroduzida no PNT pode ser reflexo dos seus hábitos alimentares no Campo de Santana, onde os animais têm acesso a restos de comida e lixo. No entanto, a existência de outros registros de consumo de carne por cutias nos leva a concluir que o consumo de material animal não seja apenas um evento pontual e sim um reflexo do hábito onívoro desses animais. 102 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Aaltonen, K; Bryant, AA; Hostetler, JA & Oli, MK. 2009. Reintroducing endangered Vancouver Island marmots: survival and cause-specific mortality rates of captiveborn versus wild-born individuals. Biological Conservation 142: 2181-2190. Abreu, RC & Rodrigues, PJ. 2010. Exotic tree Artocarpus heterophyllus (Moraceae) invades the Brazilian Atlantic Rainforest. Rodriguesia 61: 677-688. Adams, LW; Hadidian, J & Flyger, V. 2004. Movement and mortality of translocated urban e suburban grey squirrels. Animal Welfare 13: 45-50. Adeney, JM; Christensen, NL & Pimm SL. 2009. Reserves protect against deforestation fires in the Amazon. PlosOne 4: 1-12. Adler, GH & Levins, R. 1994. The island syndrome in rodent populations. 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