III Encontro Científico do GEPro Grupo de Estudo de Produção DESENVOLVIMENTO DE UM APARELHO PARA HIGIENIZAÇÃO DE PACIENTES ACAMADOS Shigueru Hildemar Honna1; Ana Cristina Mauricio Ferreira2; Rodrigo Gomes Curimbaba3 12 Faculdade de Tecnologia de Bauru – FATEC Bauru; UNESP Bauru 3 Universidade Estadual Paulista – [email protected] Resumo O banho, além de ser um procedimento permeado de estresse por parte do paciente, os profissionais, normalmente auxiliares e técnicos de enfermagem, queixam-se do excesso de trabalho, estresse cotidiano, pressão de superiores, responsabilidades em função da própria natureza de seu trabalho. Adoções de práticas que minimizem os problemas causados pelos fatores estressantes e frequentes nesse tipo de ambiente de trabalho devem ser bem recebidas. Em observações feitas dentro de uma unidade hospitalar e literaturas sobre o assunto, o projeto proposto deverá ser uma forma de amenizar o stress criado no meio hospitalar, tendo como ponto positivo oferecer ao paciente maior conforto térmico, hidratação da pele e a sensação de banho de chuveiro, pois o contato com a água corrente deixa o fator da autoestima num estado biopsicossocial importante na recuperação de sua saúde. Ao profissional da saúde responsável por este tipo de procedimento, o equipamento proposto deverá reduzir em torno de 50% do tempo empreendido. Tem por requisitos para o desenvolvimento do projeto, ser portátil, de fácil manuseio, funcionalidade e manutenção. Como diferencial, terá um massageador rotativo, movimentado pela pressão do ar comprimido, oferecido na maioria dos quartos de hospital e todos na UTI. Palavras Chave: BANHO NO LEITO; HIGIENE CORPORAL; EQUIPAMENTO MÉDICOHOSPITALAR. Abstract The bath, as well as being a procedure fraught with stress for the patient, the professionals usually nursing assistants and technicians, complain of overwork, daily stress, pressure from higher responsibilities because of the very nature of their work . Adoptions practices that minimize the problems caused by stressors and frequent in this type of work environment should be well received. In observations made within a hospital and literature on the subject, the proposed project should be a way to ease the stress created in the hospital, having a positive point offering patients greater thermal comfort, skin hydration and feel of the shower as contact with the flowing water leaves the factor of self-esteem in a state biopsychosocial important in the recovery of his health. The health professional responsible for this type of procedure, the proposed equipment is expected to reduce around 50% of the time undertaken. Its requirements for the development of the project, being portable, easy to use, functionality and maintenance. As differential will have a rotating massager, moved by air pressure, offered in most hospital rooms and all the Intensive Care Unit. Keywords: BATH IN BED; BODY HYGIENE; MEDICAL EQUIPMENT HOSPITAL. Introdução Através de observações realizadas na área hospitalar, com profissionais do setor de enfermagem que recebem carga horária sobrecarregada, com variados tipos de procedimentos a cumprir, foi possível perceber que o procedimento do banho no leito requer tempo aproximado de 20 minutos por paciente. Tal procedimento expõe o paciente ao III Encontro Científico do GEPro Grupo de Estudo de Produção desconforto, pois muitos consideram a ação constrangedora e acabam por não se sentirem limpos. Os banhos no leito são geradores de stress, devido ao rompimento da barreira do respeito à intimidade, assunto citado em diversos estudos científicos. Devido ao confinamento ao leito o paciente está privado do exercício físico importante no seu dia a dia e, segundo Souza (1978 apud LIMA, 2003), a higienização da pele deve ser intensificada durante a estadia na unidade de saúde, estimulando a circulação sanguínea, provendo conforto, alívio, leveza e melhora na autoestima. O banho é uma necessidade essencial do ser humano como já foi provado pelos nossos antepassados, aumenta a resistência às presenças de bactérias patogênicas que convivem em simbiose no nosso corpo. As pessoas cuja mobilidade e locomoção estão comprometidas são atores principais do procedimento. O desenvolvimento dos profissionais dentro da unidade de saúde nos indivíduos assistidos ressalta que quando há produção com qualidade o grau de satisfação aumenta junto com a produtividade. A ocorrência de falhas, devido à sobrecarga de trabalho e a deficiência da assistência prestada trás efeitos psicológicos aos pacientes (MELLO, 2002). Por isso a empatia e o compromisso profissional são importantes para não levar a um relacionamento frio e mecânico; demonstrar segurança, conhecimento técnico científico, paciência, respeito, saber ouvir e explicar quando questionado reflete num olhar humano e não patológico do cuidado intensivo aplicado. A enfermagem no seu ato de cuidar tem um papel importantíssimo na relação terapêutica com seus pacientes, o estabelecimento de um contato emocional e físico mais apurado diminui e conforta o estado psicológico de rejeição ao procedimento da higienização, ultrapassando barreira criada individualmente, social e espiritual ao longo dos séculos. Hoje em dia as unidades de saúde e principalmente os hospitais são considerados grandes hotéis que devem oferecer padrões de conforto e atendimento que variam conforme cada órgão institucional e o seu foco no padrão de qualidade a oferecer ao paciente. Uma completa assistência multiprofissional e individualizada se traduz em investir em alta tecnologia em equipamentos médicos hospitalares gerenciados por uma engenharia clínica atuante e sincronizada com dinamismo organizacional. Avanços tecnológicos tem se mostrado atuante fortalecido pela revolução industrial e vem evoluindo a passos largos, principalmente após guerras e patologias globais; a segunda grande guerra mundial foi um marco histórico, apesar das grandes perdas humanas, desenvolveu-se nas áreas da medicina descobertas revolucionárias e que salvaram vidas que semeiam até hoje as novas gerações. Ao se analisar a longevidade de nossa população atual, segundo o Instituto Nacional de Estatísticas (INE) fica evidenciado um novo perfil na pirâmide etária, nota-se o aumento de pessoas atingindo com maior frequência os oitenta anos e o crescimento demográfico devido ao aumento da expectativa de vida e o declínio da taxa de natalidade. O progresso paralelo da medicina com a melhoria sócia econômica prevê um aumento global de idosos de 41% até 2050, conforme a ultima assembleia das Organizações das Nações Unidas (ONU) sobre o envelhecimento, há estudos que citam que já nasceu o ser humano que viverá até os cento e cinquenta anos de idade. Com a modernização das leis dos direitos humanos apoiados em uma constituição reformulada em 1988, e a globalização dos meios de comunicação, o ser humano tornou-se mais exigente e atuante no meio em que vive. O grau de instrução, se comparados há anos atrás, tem dado um salto excepcional, sendo muito importante para o país e para o mundo. A ciência medica se destaca no cenário mundial, assim, o Brasil deixou de ser mero expectador e passou a ser mestre de cerimônia. No decorrer da história houve muitas passagens sobre a cultura do banho, tanto como terapia, como por vaidade ou no combate a cultura de microrganismos que fazem parte da flora corporal e vive em simbiose constante até o fim da vida. Segundo Berger e Mailloux (1995 apud MARTINS, 2009), os processos de envelhecimento são irreversíveis, III Encontro Científico do GEPro Grupo de Estudo de Produção cronológicos e atacam a saúde através das doenças que se manifestam sem horário marcado. Vem daí mais um mecanismo necessário para o dia a dia, pois o paciente acamado tem seu equilíbrio quebrado, estando fragilizado e aberto ao domínio dos microrganismos, pois o organismo está mais sensível e com poucas armas para vencer ou manter o equilíbrio simbiótico. Tem início com a má circulação do sangue, as disfunções dos órgãos, o aparecimento de edemas, que podem evoluir para úlceras de decúbito, que são de difícil recuperação e tratamento prolongado, sacrificando ainda mais o paciente. Devido à falta de investimentos considerada ideal por parte dos dirigentes, que atendem somente o prioritário, e que por motivos políticos se desviam do objetivo constado em lei federal, deixando os hospitais públicos, onde é atendida a grande maioria de nossa população, carente de atendimento médico, em situação de abandono e descaso. Cabe aos cidadãos providos de conhecimento, colaborar para o alivio no setor de atendimento quase que sobre humano aos profissionais da enfermagem. Objetivos Este projeto tem por objetivo apresentar um projeto preliminar de um aparelho para higienização de pacientes acamados, em especial pacientes de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), visando proporcionar conforto, relaxamento, estimulo à circulação sanguínea e hidratação à pele. Sua relevância deve-se, principalmente, à melhora da autoestima do paciente e preservação da saúde. Metodologia Para o desenvolvimento deste projeto preliminar foram adotadas as seguintes etapas de caracterização do procedimento de banho, elaboração de requisitos do projeto, análise funcional, princípios de soluções para as subfunções e especificações técnicas. Caracterização do procedimento de banho - Para este estudo foi priorizado o paciente que se encontra internado em UTI, consequentemente necessitando de banho no leito, assim como de cuidados globalizados da equipe de enfermagem. Estes pacientes por vezes apresentam diversos tipos de lesões cutâneas e ósseas, permanecem ligados a equipamentos que lhes garantem a sobrevida naquele instante, desde drenos, marca-passo provisório, sonda nasogástrica, cateter, ventilador pulmonar, entubação endotraqueal, dentre outros. É essencial a consulta prévia do prontuário de cada paciente para em seguida providenciarem o material e equipamento necessários para viabilizar o procedimento de banho. Há situações que exige do profissional da enfermagem a explicação correta da técnica sob o aspecto fisiológico, em respeito à individualidade e sensibilidade do paciente, levando ao encontro o relacionamento interpessoal, o vínculo, o acolhimento. Esta interação entre profissional e paciente é imprescindível para o equilíbrio emocional do mesmo. O banho em acamados tem por finalidades a remoção do suor, da oleosidade e dos microorganismos, eliminação de odores, redução de potencial de infecções, estímulo à circulação sanguínea e oferecimento de conforto. Ao se iniciar o banho no leito, as roupas de cama e do paciente são removidas, sendo colocado um plástico coberto por uma toalha seca por baixo do enfermo e da parte a ser lavada. As partes corporais que ainda não estão sendo higienizadas ou já foram são mantidas cobertas. Uma bacia de água morna é mantida junto à cama e a higienização é feita com água morna e sabonete (ou xampu para o cabelo) e, aproveitando o momento do banho deve-se massagear a pele com creme hidratante. Conforme descrito em estudos científicos, o tempo médio destas fases do banho no leito é de 20 minutos, exigindo uma grande quantidade de acessórios, com pouco espaço físico, além dos equipamentos ligados ao paciente. A equipe de enfermagem deve manter seus pacientes limpos e incentivando-os para que participe o mais ativamente possível de sua higiene III Encontro Científico do GEPro Grupo de Estudo de Produção Requisitos do projeto - Para desenvolvimento preliminar deste projeto, requisitos foram elaborados servindo de base para a busca de princípios de solução (Quadro 1): Quadro 1 – Requisitos do projeto REQUISITO Movimento Energia Material Segurança Sinais Fabricação Manutenção Reciclagem DESCRIÇÃO Movimento rotatório na ponteira de saída do chuveiro, com velocidade de 60 a 180 RPM Energia elétrica com entrada de bifásica, e na falta é mantido por baterias com amperagem apropriada para uma hora de duração, aquecendo a água através dos resistores semelhantes à de um chuveiro doméstico, com voltagem bifásica de 110 a 220 volts, e potencia de 3000 a 5000 watts Polietileno, borracha, aço inox, componentes de união e componentes eletroeletrônicos Sistema de aterramento via tomada da unidade de saúde e um filtro de linha da rede instalado no aparelho Alarmes de avisos de temperaturas limites, pressostato para falta ou excesso de pressão Componentes de polietileno produzidos por moldagem e ponteira moldada com aço 304 Periódica semestral ou conforme tempo de utilização. A limpeza é por desinfecção logo após cada uso através de água e sabão. Na parte de aço inox que terá contato direto com a pele do paciente, será feita esterilização em autoclave Quase todos os materiais escolhidos deverão ser recicláveis, reutilizados ou reaproveitados. Fonte: Elaborado pelos autores Análise funcional - de acordo com Baxter (1998) a análise das funções de um determinado produto permite a quem está elaborando o projeto, aumentar os conhecimentos sobre o produto, do ponto de vista funcional e do usuário, de forma lógica e sistemática. Desta forma, a função principal do equipamento a ser projetado é higienizar o paciente acamado, proporcionando no momento do procedimento o massageamento. Com a definição da função principal do equipamento, foi possível desdobrá-la em subfunções, ou seja, cada componente tem uma função específica, como podem ser vistas no Quadro 2. Quadro 2 – Componentes e funções específicas COMPONENTE FUNÇÃO ESPECÍFICA Reservatório de água Conter a água necessária para o banho e promover o aquecimento da mesma. Aquecimento Reservatório de sabonete Reservatório de hidratante Bateria Condutores dos produtos Condutor de água Ponteira Aquecer a água em temperatura ideal para o banho. Conter o sabonete, sendo de fácil manuseio e reposição. Conter o hidratante ou produtos medicinais, controlado por dispositivos eletrônicos de saída do produto. Gerar energia para funcionamento do equipamento, que também poderá funcionar com a energia da UTI. Conduzir o sabonete e o hidratante na entrada da mangueira de borracha. Conduzir a água, juntamente com os produtos, até a saída do chuveiro. Realizar os procedimentos de lavagem, mistura de produtos e massageamento. Fonte: Elaborado pelos autores III Encontro Científico do GEPro Grupo de Estudo de Produção Princípios de solução para as subfunções - Para cada subfunção foram elaborados diversos princípios de solução, sendo no Quadro 3 mostrados os princípios selecionados. SUBFUNÇÃO Conter a água Aquecer a água Conter o sabonete Conter o hidratante Gerar energia Conduzir sabonete e hidratante Realizar os procedimentos Quadro 3 – Princípios de solução para as subfunções PRINCÍPIO DE SOLUÇÃO SELECIONADO O reservatório de água, com capacidade de 7 litros com um reserva no fundo de meio litro que impede que fique totalmente sem água e danifique a resistência de aço colocado na saída da água do recipiente, que avisa através de um alarme sonoro e visual a hora do reabastecimento. Dentro do reservatório há uma separação física de água que entra da que está aquecida ou em aquecimento na proporção de 1 para 5, facilitando o uso de mistura de água fria regulado na saída do chuveiro. O aquecimento da será feito através da imersão na saída do reservatório de água composta de uma resistência de aço inox, análogo e completamente vedado, pode ser desconectado por meio de 4 parafusos e uma borracha de vedação, para fácil manutenção do recipiente de aço inox, com capacidade de 7 litros, controlada por um dispositivo eletrônico automático de temperatura que varia entre: máxima de 42 ºC e mínima de 36ºC, suficiente para aproximadamente dois banhos, abastecidos com água corrente de torneira tratada. Na falta de energia e bateria é possível utilizar a água de caldeira de uma saída disponível. Fica localizada entre a mangueira de borracha e o reservatório de água. O reservatório de sabonete neutro ou com propriedades medicinais será contido em um recipiente de polietileno permanente e reciclável, conforme exigências da ANVISA, de fácil manuseio e reposição. Sua capacidade volumétrica é de 100 ml. Acionado por um dispositivo a ar comprimido de controle eletrônico de dosagem quando solicitado. Composto da mesma matéria prima do reservatório de sabão, podendo ser substituído por produtos medicinais prescritos pelo médico para cada caso de tratamento. Controlado por dispositivos eletrônicos de saída do produto. Abastecido assim que esgotar os 100 ml do recipiente. Em caso de ausência tomadas ou difícil acesso a elas, o aparelho terá energia para seu funcionamento devido a uma bateria com autonomia de 20 minutos recarregável de níquel. Tem pequeno volume e saída de 12 volts. O sabão e o hidratante serão conduzidos por canos de polietileno transparente até a entrada da mangueira de borracha que conduzirá juntamente com a água aquecida os produtos solicitados na saída do chuveiro, através de um comando eletrônico acionado conforme necessidade do usuário. A resistência aquecerá a água em temperatura controlada de 36 a 42 ºC, será fornecido sabonete líquido e hidratante acionados pelo profissional responsável pelo procedimento. Na ponteira e por movimento de pressão da água e do ar comprimido, haverá movimento cinético rotatório permitindo uma massagem ao contato com a pele além da fricção dos produtos. Fonte: Elaborado pelos autores Revisão da Literatura O banho - Desde os tempos de Hipócrates até a atualidade, o banho tem sido usado como uma ferramenta eficaz para renovar e reavivar os nossos corpos, pois o ato do banho trás importantes benefícios para a saúde e bem-estar físico, emocional, e espiritual. (ASID & RENEGAR, 2003 apud MARTINS, 2009). Estimula a independência dos movimentos aumentando a autoconfiança, contentamento, equilíbrio positivo e satisfação com a higiene diária. No século XVIII, com os iluministas, o banho foi visto como um meio de se proteger das doenças, trazendo ao corpo saúde, nos hospitais mesmo com pessoas doentes que mantinham a resistência ao banho foram forçados a tomar banho. III Encontro Científico do GEPro Grupo de Estudo de Produção A popularização do banho se deu somente na metade do século XX e, após a segunda grande guerra, os chuveiros foram adotados por toda a Europa, iniciando pela França, seguida pela Inglaterra e pela Alemanha. No Brasil o ato diário do banho foi copiado dos indígenas que aqui habitavam quando os portugueses chegaram em 1500, conforme Pero Vaz de Caminha descreveu que se assustou com a limpeza dos nativos. (ASHCAR & FARIA, 2006). O banho na área da enfermagem - A respeito do procedimento de banho na área da enfermagem, os primeiros rituais datam do início da década de 60, em uma instituição hospitalar inglesa. Com base na perspectiva psico analítica e etnográfica, os procedimentos de enfermagem são importantes e sagrados, pois mantém a coesão social e seu relacionamento com os mecanismos de defesa com o estresse do trabalho. A necessidade do aprimoramento profissional é essencial para acompanhar e atuar frente aos avanços tecnológicos e terapêuticos, que vem para motivar, promover, facilitar e reduzir o tempo do procedimento destinado ao paciente acamado. A falta de recursos humanos e materiais influem muito na qualidade final desprendido ao paciente. Apesar da existência secular da enfermagem, sua história atual tem início a partir a segunda metade do século XIX com Florence Nightingale, na Inglaterra, a qual se baseava em criteriosa seleção das candidatas ao curso, na sistematização do ensino teórico e da prática correspondente. No entanto mantinha o caráter religioso e caritativo, servindo ao próximo como meio de aperfeiçoamento espiritual a pobres e necessitados. Para Nightingale, o banho no leito trazia alívio e conforto após a pele ter sido cuidadosamente lavada e enxaguada, sendo que o banho não significava apenas limpeza, mas uma forma de favorecer o seu restabelecimento físico ou a manutenção da sua saúde. “Ambientes sujos” (chãos, carpetes, paredes e roupa de cama) eram fontes de infecção. Referia que se devia dar banho aos doentes com frequência, até mesmo diariamente, onde na época não era comum. As enfermeiras eram também orientadas a se banharem diariamente, colocando roupas limpas e a lavarem as mãos com frequência (MARTINS, 2009). Neste período, a enfermagem tinha autorização social para tocar o corpo do outro, inclusive o corpo nu e no espaço público. Esse fato coloca o ativo, eu me lavo em confronto com o passivo, eu sou lavado, construir laços de confiança e alicerces dos cuidados é bases fundamentais para um bom relacionamento. Segundo Martins (2009), “... formas de tocar o outro que confiram um cuidar securizante e confiante”. No Brasil, a partir de 1890, foi edificada a escola de enfermagem ao lado do hospital nacional de alienados, no Rio de Janeiro, começando assim a assistência hospitalar por parte da enfermagem. O século seguinte foi marcado por mudanças sociopolíticas importantes para o avanço no campo do saber e cuidar dos profissionais de saúde. Em defesa dos rituais de enfermagem, que embora não se baseiam em princípios científicos, mas se expressam nos conhecimentos da arte e dos cuidados, enaltecem o modelo funcional de assistência e potencializa uma cultura opressiva. O banho oferece à enfermagem uma oportunidade para conhecer seu paciente, identificar seu estado emocional e suas necessidades, possibilita verificar as condições da pele, as áreas que estão sofrendo pressão, além de ouvir queixas de dores e desconforto. A higienização da pele é de grande valia para o organismo na sua totalidade. A manutenção da higiene corporal do paciente acamado é importante por diversas razões como evitar infecções cruzadas ou do próprio paciente, contribuir para a manutenção do conforto e autoestima do paciente e valorizar o convívio social do acamado. A higiene corporal inclui, segundo Bolander (1998, apud MARTINS, 2009) conforto, relaxamento, estímulo da circulação, limpeza, melhora da autoimagem e tratamento da pele”. Pelo fato de estar doente, o indivíduo pode estar com a sua resistência diminuída e aberto a infecções ou bactérias patogênicas presentes no ambiente hospitalar. Portanto, o banho com a fricção cutânea estimula a circulação, constituindo em um pequeno exercício. III Encontro Científico do GEPro Grupo de Estudo de Produção No cotidiano dos cuidados de enfermagem destacam-se os horários pré-estabelecidos para administração de medicamentos, mudanças de decúbito e horário para iniciar e finalizar o banho no leito. Este último procedimento conduz ao contato direto com a intimidade do corpo, afetando tabus do passado, podendo causar ao paciente embaraço ou mesmo depressão severa, que levam a decisão negativa de não tomar banho com frequência, trazendo riscos de infecção. Os profissionais utilizam de conhecimento de suas experiências pessoais e profissionais na organização e concepção do banho no leito. Segundo Hall (2003, apud KRUSE, 2003), “... a distância íntima inferior a 45 centímetros até o contato físico remete a três registros: o da violência e agressividade, o erotismo da sensualidade e sexualidade e o da ternura dos comportamentos de proteção e conforto”. O artigo 86º do Código Deontológico do Enfermeiro, reza sobre o respeito pela intimidade. O uso de luvas na higiene corporal, principalmente nas áreas íntimas, funciona como barreira ao contato físico direto, “... as luvas protegem dos resíduos, secreções e cheiros dos indivíduos em tratamento”. (MERCADIER, 2004 apud MARTINS, 2009). Segundo Bolander (1998, apud MARTINS, 2009): ...classificam o banho no leito em três partes: banho total, onde o profissional lava totalmente a pessoa; o banho parcial que seria a limpeza de áreas onde se acumulam maiores secreções (faces, mãos, axilas e zonas peroneais); e o banho em autoajuda onde o próprio paciente lava-se quase sozinha exceto nas costas, e membros inferiores (pernas e pés). O paciente pode estar preso a um leito, mas, sua capacidade e compreensão podem passar a influenciar na prática do ritual, amparado naquilo que ele acredita ser o melhor para si, que é voltar a sentir as sensações de um banho sob um chuveiro. Concorda-se com o paciente que ainda se faz necessário preservar as condições que o ajudem a enfrentar a difícil experiência de se tornar dependente da enfermagem para o banho no leito como respeitar a sua privacidade e as suas limitações de movimento, manter o ambiente aquecido, prover número de funcionários necessários para que o banho seja realizado por pessoas de sexo análogo ao seu, bem como a disponibilização de equipamentos e materiais que possam garantir a sua qualidade assistencial. Os profissionais da saúde, principalmente os enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem se deparam ao longo de sua prática profissional, além das funções inerentes à profissão, com atividades burocráticas, que despendem de até 45% do seu tempo. Assim, as tecnologias iniciadas com a revolução industrial, como as utilizadas nos cuidados com a saúde, trás uma maior produtividade para as atividades assistenciais realizadas pelos profissionais da área em foco. Foram inseridos nos ambientes hospitalares diversos artefatos tecnológicos que facilitaram os serviços dos profissionais da saúde como, por exemplo: a bomba de infusão, que garante a introdução contínua da infusão venosa, e “avisa” qualquer intercorrência no processo. Pode-se afirmar que o fator humanização só foi beneficiado pelos avanços tecnológicos na área da saúde, pois com a otimização e redução de tempo nos procedimentos, o resgate de vínculos entre pessoas sem elos familiares (profissional/paciente) torna-se um ato possível. Desta maneira, a utilização de um equipamento que auxilia o procedimento do banho, reduzindo o tempo, minimizando o cansaço, reserva-se alguns minutos para uma terapia com o paciente acamado, alcançando um ponto ideal no relacionamento biopsicossocial. Durante o banho no leito em pacientes de UTI, deve haver a preocupação de manter a intimidade preservada, para que o ato não venha a agredir o estado psicológico dos pacientes, nem afetar a integridade moral dos mais reservados, sendo estes dois fatores a base da conservação biopsicossocial. O declínio da qualidade do banho no leito no decorrer dos tempos é evidente, conforme literatura nacional e internacional, devido ao distanciamento do enfermeiro acerca do procedimento. A otimização do tempo empregado III Encontro Científico do GEPro Grupo de Estudo de Produção no procedimento, auxiliado por novos equipamentos e tecnologias, vem de encontro com o conceito de um atendimento mais humanizado. Resultados As figuras 1 e 2 apresentam os componentes básicos do equipamento. A figura 3 mostra o desenho esquemático da ducha e a figura 4 traz o diagrama funcional. Figura 1 – Componentes básicos Fonte: Elaborado pelos autores Figura 2 – Componentes básicos Fonte: Elaborado pelos autores III Encontro Científico do GEPro Grupo de Estudo de Produção Figura 3 – Desenho esquemático da ducha ACIONAMENTO DO HIDRATANTE ACIONAMENTO DO SABÃO ACIONAMENTO DA ÁGUA REGULADOR DE TEMPERATURA MASSAGEADOR AREJADORES E REGULADORES DE VÁLVULA SAÍDA DE ÁGUA Fonte: Elaborado pelos autores Figura 4 – Diagrama de funcionamento AR COMPRIMIDO REGULADOR DE PRESSÃO FILTRO DE ENERGIA ENERGIA ELÉTRICA ÁGUA FRIA RESERVATÓRIO DE ÁGUA ALARME DE VOLUME TERMISTOR RESISTÊNCIA ALARME ÁGUA QUENTE CONTROLE ELETRÔNICO RESERVATÓRIO SABONETE HIDRATANTE CONECTOR M ASSAGEADOR HIGIENIZAÇÃO DO PACIENTE Fonte: Elaborado pelos autores III Encontro Científico do GEPro Grupo de Estudo de Produção Os materiais escolhidos são especificados na Figura 5 e descritos no Quadro 4. Figura 5 - Materiais utilizados Fonte: Elaborado pelos autores Quadro 4 – Materiais CÓD. COMPONENTES DESCRIÇÃO DO MATERIAL A Rodas Polietileno de alta densidade (PEAD-HDPE). Peso molecular: 200.000 g/mol; temperatura máxima de 135 ºC; cristalinidade 95%; resistência a tração de 20 a 45 MPa. B Resistência tubular Em aço inox 304 Em aço inoxidável austenítico 304 não magnéticos com estrutura cúbica de faces centradas, ligas Fe+(C-Cr-Ni),(0,08;18;9) respectivamente. C Reservatório de água Em aço inox 304 D Divisor de água Em aço inox 304 E Torneiras de saída de água Em polietileno de alta densidade (PEAD-HDPE). F Tampa do reservatório de entrada de água Polietileno de alta densidade (PEAD-HDPE). G Válvula de regulagem de pressão Em padrões comerciais. Fonte: Elaborado pelos autores III Encontro Científico do GEPro Grupo de Estudo de Produção Discussões Esse trabalho foi baseado em estudos bibliográficos e projetos similares que estão no mercado atualmente, mas que não são vistos com muita constância, a unidade de terapia intensiva foi o foco do trabalho, devido à gravidade dos pacientes internados e à tecnologia de apoio à vida, onde os espaços são reduzidos, isolados e tem o apoio de uma equipe multidisciplinar atuante intensivamente 24 horas por dia. O aparelho irá facilitar o trabalho da equipe de enfermagem, reduzindo o tempo gasto, aliviando o estresse, diminuindo os afastamentos por esforços repetitivos, aumentando a autoestima do paciente com o procedimento que propicia a massagem sempre uniforme, a água com temperatura constante, o aspecto de maior segurança e a reprodução de um banho de chuveiro convencional. Conclusão No presente trabalho foi estudada com maior profundidade a real dimensão do trabalho da equipe de enfermagem a nível nacional e os parâmetros de dificuldades apresentadas, concluindo e reafirmando a hipótese sobre a necessidade e utilidade de um aparelho de higienização no leito. A agenda congestionada dos profissionais da equipe de enfermagem que realizam os procedimentos, ressalta a teoria de um meio mais impessoal no tratamento do acamado e seus hábitos. O desenvolvimento desse aparelho funcionará como um veículo de separação física do contato entre o cuidador e o paciente, porém sem abandonar o papel de cuidar da equipe de enfermagem. Num mundo de constantes mudanças, a tecnologia vem para somar junto à equipe multidisciplinar na unidade de saúde, características da vida moderna em que as horas são cada vez mais valiosas. Cabe aos profissionais da área projetual adaptar e utilizar o recurso intelectual adquirido, usando-o sempre a favor da sociedade e da vida. Assim como demonstrado no desenvolvimento deste projeto, outros intelectuais irão mais além com soluções mais eficientes e tecnologicamente mais acessíveis. Lembrando que nada substitui as técnicas e carinho do ser humano em suas relações interpessoais com o paciente e o meio social. Referências ALMEIDA, M.L.F. Cuidar do idoso: revelações da prática de enfermagem. In: O IDOSO:Problemas e realidades: manual sinais vitais. Coimbra: Formasau, 1999. Disponível em: <http://www. teses.usp.br/teses/ateneu/09.pdf>.Acesso em: 19 ago. 2011. ASID, J.M.; RENEGAR, C. Bathing as a wellness experience: bathing area design features enhance independence and feelings of well-being, Nusing Homes Long Term Care Management, ano X, v.52, p. 108-111, 2003. Disponível em: <http://www.it.imagazine.com/me2.pdf>.Acesso em: 09 ago. 2011. ASHCAR, R.; FARIA, R., Banho: Histórias e Rituais. Ed. Saraiva, São Paulo, 2006. BAXTER, M.R. Projeto de Produto: Guia Prático para o Design de Novos Produtos, São Paulo, Ed. 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