I CLÍNICA OLÍMPICA DE NATAÇÃO – MARISTA – PARTE 1
O TREINADOR
Ser um treinador significa ir além de conhecer a técnica do esporte e
de como competir implica envolver-se com várias situações que demandam,
dentre outros requisitos, conhecimentos sobre ensino, psicologia do esporte,
planejamento da organização, do treinamento, competição e habilidade para
lidar com os atletas. São estes requisitos somados que representam a filosofia
do treinador, a qual será o alicerce de seu trabalho como líder do grupo.
O treinador tem muita influência sobre os jovens atletas.
O treinador deve procurar ser um profundo conhecedor de seus
atletas e dedicar-lhes genuína afeição. Procurar saber sua vida escolar, os
seus melhores resultados dá natação, suas aspirações e objetivos, suas
namoradas e problemas. Ser uma mistura de pai, padre e médico.
O treinador tem grande influência na personalidade dos atletas, o
que torna sua responsabilidade muito grande. Precisa reconhecer que seus
atletas o têm como modelo.
O treinador deve ser consistente,
características essenciais de liderança.
previsível
e
presente,
A área de formação do treinador contempla também diferentes
tópicos de relevância em variados níveis de performance e de idade, como
crescimento e desenvolvimento do praticante, participação física e técnica, e
desenvolvimento sócio-psicológico do atleta.
Desenvolvimento da Filosofia do Treinador
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O crescimento completo da organização e comercialização do
esporte nos tempos modernos vem mudando significativamente a
filosofia das competições do atleta e, consequentemente do
treinador.
O treinador tem atribuições que vão além da vitória. O treinador é
um educador que deve procurar o desenvolvimento humano de
seus comandados, apesar da ordem do dia ser vencer a todo
custo, pois diferentes interesses estão envolvidos, como o
dinheiro investido. Contudo existe um corpo de conhecimentos
que define a ação do treinador, em primeiro lugar, como
educador, principalmente na formação dos atletas, com destaque
para aqueles situados em faixas etárias menores que participam
de diferentes atividades e modalidades esportivas. Para que isto
ocorra é necessário que o treinador tenha ou desenvolva uma
filosofia que possa ajudá-lo a cumprir a sua missão com sucesso
durante a sua carreira.
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O treinador canadense Dave King, medalha de prata nos Jogos
Olímpicos de 1992, no hóquei sobre o gelo, explica a sua filosofia
como treinador: "Eu tenho sucesso porque eu amo o jogo. Eu
trabalho duro e sou muito dedicado para que os meus atletas
recebam o melhor para o treinamento, mas minha família é mais
importante. Portanto, eu consigo manter o balanço dando e
recebendo para que eu realize o meu trabalho em diferentes
situações".
Características fundamentais para o desenvolvimento e formação do
treinador:
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A paixão pelo esporte;
A dedicação pelo atleta;
A importância da família.
O sucesso do treinador moderno
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Filosofia do Esporte
Filosofia do Treinamento
Filosofia de Vida
Filosofia de Vida
O sucesso de muitos treinadores de ato nível está no compromisso
que eles mantêm consigo mesmos, na focalização de seu trabalho, na
motivação e no sacrifício pela profissão e na maneira especial de ser e pensar.
Porém todos trouxeram para a profissão a sua marca pessoal. Isto foi que fez
deles personalidades inesquecíveis pelos seus feitos no esporte, mas
principalmente pela maneira como criaram os seus atletas. Esses treinadores
em primeiro lugar acreditam em si.
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Trabalho - Os melhores sempre trabalharam mais duro que os
demais. Não tem outro substituto para o trabalho.
Amizade - O respeito, a devoção e a sinceridade deve ser para
todos.
Lealdade - Consigo e com todos que dependem de você.
Mantenha o seu auto-respeito.
Cooperação - Com todos os níveis que você trabalha. Ajude os
outros e veja o outro lado.
Entusiasmo - O seu coração deve estar voltado para o seu
trabalho. Estimule os demais.
Autocontrole - Mantenha as emoções sob controle. Ajuste entre
o corpo e a mente. Julgue e use o senso comum.
Atenção - Seja constantemente observador. Seja rápido para
descobrir o erro e corrigi-lo.
Iniciativa - Cultive a habilidade de tomar decisões e pensar por
si. Procure a excelência.
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Focalização - Habilidade de resistir à tentação de manter-se no
caminho estipulado.
Concentre-se no seu objetivo e seja
determinado para atingir a sua meta.
Condição - Manter-se em boas condições físicas; seja moderado
com sua saúde.
Habilidade - Tenha conhecimento dos fundamentos de seu
esporte. Execute-os adequadamente. Esteja preparado para a
aula e cubra cada detalhe.
Espírito - Seja um batalhador de suas idéias para o bem estar
dos demais.
Dignidade - Seja você mesmo. Procure ser tranqüilo em qualquer
situação e nunca lute contra si mesmo.
Autoconfiança - Respeite, mas sem medo. Confiante, mas não
arrogante. Sabendo que está preparado você tem fé em si
mesmo. Competitividade - Seja o melhor quando for necessário
ser o melhor. Ame quando a batalha for dura.
Fisiologia do Treinamento
O sucesso do treinador depende da forma como ele ajusta seus
conhecimentos de acordo com o grupo em que está trabalhando. Por exemplo,
o trabalho de ensino das habilidades/ técnicas na fase de aprendizagem de
uma atividade para um grupo de crianças é diferente daquele ministrado para
um grupo de adolescentes ou de adultos. Cada fase de desenvolvimento exige
conhecimento específico e formação adequada para que o professor ou
treinador possa exercer a sua profissão com sucesso.
Estágio de Desenvolvimento dos Talentos
Vários estudos realizados sobre o assunto em várias áreas do
conhecimento, como matemática, música, artes e esportes, verificando que
existem três fases ou estágios fundamentais que são os anos iniciais,
intermediários e finais do desenvolvimento - que definem o sucesso do futuro
expert em sua área de conhecimento. Foi a primeira fase de desenvolvimento
que Bloom (1985), enfatizou ser o período crítico para que a criança
permaneça praticando esporte no futuro. Achou que a qualidade do apoio é o
fator principal no progresso das crianças em direção aos níveis altíssimos de
seu desenvolvimento de talento no futuro. É importante que o treinador tenha
uma filosofia de treinamento de acordo com as diferentes fases de
desenvolvimento dos praticantes. Esses estágios são considerados críticos
durante o processo de aprendizagem, até que esse grupo de futuros experts
alcance níveis altíssimos na área específica de conhecimento.
Os anos Iniciais de Aprendizagem
Estudos de Csikszenthihaly Rathunde & Whalen (1993), é nesse
período que o prazer pela prática e pela realização pessoal (Flow) faz com que
a criança permaneça praticando esporte. Durante este período, essas crianças
são introduzidas em várias atividades divertidas e prazerosas. Bloon (1985)
também enfatizou que nesse período as crianças aprenderam a gostar das
atividades e eram incentivadas pelos pais e treinadores a permanecerem
praticando. Esse interesse pelo esporte é fundamental para que a criança
permaneça neste estágio inicial e alcance o próximo estágio de
desenvolvimento, dependendo fortemente da ajuda e orientação do seu
treinador. É nessa primeira fase de desenvolvimento que os pais e treinadores
rotulam as crianças dé aparentemente especiais ou talentosas. Parece que
para muitas crianças o contexto dos anos iniciais de aprendizagem tem uma
influência motivacional importante para o desenvolvimento de cada um no
esporte. É importante que o treinador enfatize nesse período a importância da
integração (realização) e diferenciação (novo desafio). Como parte do processo
de aprendizagem e do Flow. Foi denominado de fluxo a energia que indicava o
fluxo da motivação que foi traduzida pelo prazer do praticante quando realizava
uma tarefa com sucesso.
Anos Intermediários de Aprendizagem
Entre os 11 e 15 anos de idade, um período caracterizado pela
transição para fase final da aprendizagem, muito desses praticantes podem
alcançar níveis até mais altos de desempenho pela prática mais intensa,
especialmente na metade deste período. Eles mostram maior concentração e
comprometimento com as metas, graças ao apoio dos pais, professores e
treinadores.
É neste período que os atletas são fisgados e iniciam uma prática,
que mais tarde fica denominada como prática deliberada, altamente
estruturada, tanto que passa a ser o foco central desse período de
desenvolvimento, respeitando-se as restrições de esforço inerentes à idade dos
praticantes. O papel dos pais nesse processo muda do incentivo para o apoio
financeiro e também moral de deus filhos. Portanto, a motivação a realização, o
comprometimento, o sacrifício e o tempo de prática deliberada são
fundamentais neste estágio de desenvolvimento dos atletas, aliados à atuação
dos mentores experts na área.
Anos Finais de Aprendizagem
O período final de aprendizagem é representado por uma prática
mais diligente, específica, e pela busca do sucesso e perfeição. Durante essa
fase, os atletas necessitam de combinação concentrada com esforço,
predominando na maior parte de suas vidas. As suas realizações e esforços
em cada domínio específico distinguiram os seus desempenhos excepcionais
-
Os pais terão mais tempo para si durante o período ocupado pelo
filho no esporte;
A criança encontrará outras crianças durante a prática esportiva
(socialização).
2 - Influência do herói ou modelo
A mídia tem influenciado pais e filhos sobre os valores da
participação no Esporte, através da televisão, rádio ou jornais. Para tanto, cria
imagens incluindo aqueles heróis ou superestrelas do esporte que podem ter
influenciado ou afetado a decisão dos pais ou envolveram os filhos em certos
esportes. Um bom exemplo a participação de Edvaldo Valério, nas olimpíadas
de Sidney. O número de crianças interessadas em praticar natação na Bahia
aumentou muito.
3- Influência dos amigos
A atitude dos amigos pode influenciar a decisão das crianças na
escolha de um determinado esporte. Essa decisão pode acontecer porque a
criança tende a escolher o esporte que os seus amigos praticam.
Em alguns casos as crianças decidem por si próprias. Elas decidem
participar de um esporte porque elas querem ou porque elas pensam que vão
se divertir, e não porque os pais ou os amigos as influenciaram.
Quando a escolha da criança para participar de um determinado
esporte decorre das influências dos pais ou amigos, provavelmente não existe
um desejo real da criança em estar participando. O treinador tem pelo menos
duas opções neste caso:
■
Conhecer o passado da criança
As informações biográficas de cada criança são muito importantes,
porque ajudam o treinador a conhece-la melhor. Uma conversa com a criança e
com seus pais permitirão ao treinador conhecer o perfil dela: A razão dela estar
participando, o tempo que tem praticando o esporte, como também os fatores
pessoais, tais como os psicológicos ou físicos. Às vezes, as justificativas dos
pais sobre a participação ou a preferência de seus filhos diferem da opinião
deles. Algumas respostas de pais e filhos:
-
Eu não estou bem certo porque estou aqui (criança)
Eu quero ganhar um troféu (criança)
Eu já pratiquei este esporte, portanto achei que meu filho gostaria
também
■ Conhecer os fatores que influenciam na pratica positiva
Existe uma estimativa que indica a existência de 70 milhões de
crianças e jovens praticando esporte em todo o mundo. Ironicamente, o estado
de Michigan (EUA) foi estimado que 80% das crianças e dos jovens que
praticaram esportes organizados quando atingiram a idade de 17 anos
desistiram de continuar, alegando várias razões (estado de Michigan, EUA
1978).
O treinador deve conhecer quais são os benefícios positivos da
participação da criança no esporte e usá-las como uma ferramenta de trabalho
valiosa para manter as crianças empolgadas e aprendendo. Com essa
informação o treinador pode estruturar a sua prática e atuar de maneira que
possa encorajar esses benefícios positivos, quitando as possíveis desistências
ocasionadas por práticas desmotivadas para as crianças tais como praticar
sozinho, senso de derrota ou exercícios exageradamente desafiantes. As
categorias de base no esporte deveriam desenvolver uma prática que
estimulasse as crianças a permanecerem no esporte no futuro. Essa prática
não pode moldar-se nos treinamentos aplicados com adultos.
As crianças têm vários motivos para praticar atividades físicas. Em
pesquisa longitudinal com crianças, GOLD & PETLICHKOFF (1988) verificaram
que os fatores que mais influenciaram a permanência no esporte foram: "fazer
amigos", "participação e gosto pelo esporte" e "prazer e alegria no esporte"; e
os fatores que mais colaboraram para a desistência no esporte foram: "praticar
sozinho", "desgosto pelo esporte"e "senso de derrota". A atmosfera da prática
com crianças e adolescentes é muito importante para que eles possam
permanecer motivados para a aprendizagem. Os fatores pessoais, tais como
os físicos e os psicológicos, são determinantes para que os praticantes optem
por certa atividade física ou esportiva. Os fatores ambientais também são
relevantes, uma vez que os materiais e as condições adequadas de
treinamento vão auxiliar o treinador no seu trabalho, atraindo mais praticantes
para o esporte. Finalmente os fatores situacionais, representados
principalmente pelo treinador, são reconhecidos como críticos para o
desenvolvimento de seus comandados. Alguns exemplos:
-
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Aprenda e use o nome de cada praticante - ninguém gosta der
chamado, "oi, você aí" ou "você ai de cabelo preto", a criança
deseja ser chamada pelo nome, o que significa respeitá-la.
Acostume a criança a aprender também o nome dos
companheiros para que estes também sejam respeitados
(socialização).
Conheça os seus comandados - Descubra o que eles gostam
ou desgostam. Saber as preferências dos seus atletas pode
facilitar a sua comunicação. Se você os conhece bem, eles
poderão estar mais inclinados a confiar em você em momentos
de conflitos referentes ao esporte ou em suas vidas pessoais.
Fale com as crianças durante a prática - As crianças gostam de
ser notadas. Incentive. Quando se sentem prestigiadas, elas
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correm para os pais e dizem: "O treinador observou o meu braço
e disse que eu estou melhorando".
Elogie em público e critique longe dos colegas - As crianças
adoram ser elogiadas na frente dos colegas. A crítica pode
embaraçar a criança e deve ser feita individualmente e, se
possível, fora do treino. A baixa da auto-estima é um dos fatores
principais para a perda da motivação.
Seja entusiasmado - Os atletas percebem quando o treinador
não está motivado. Isso pode contagiar os demais, porque eles
são o reflexo do treinador, uma vez que as crianças o têm como
modelo.
Encoraje - Em geral todos gostam de ser encorajados mesmo
quando mostram o contrário. Há muitos exemplos de crianças
que raramente foram encorajadas na infância (pouca
estimulação). Você pode ser fonte de encorajamento e motivação.
Trabalhe a Dinâmica de Grupo e Construa a Coesão entre os
Atletas
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Trabalho em grupo - Incentive o trabalho em grupo. Varie a
participação de cada um em diferentes grupos, de maneira que
todos possam participar entre si.
Coesão do grupo - Promover competições amistosas com outros
grupos e reuniões fora do ambiente esportivo com o seu grupo
em pizzaria, piqueniques ou jantar. Estas atividades reforçam a
união entre os atletas.
Envolvimento dos Pais - Os pais devem ser encorajados a
participar como supervisores nas práticas com grande número de
crianças, na organização de viagens, piqueniques e torneios. A
participação dos pais no desenvolvimento da criança no esporte é
muito importante.
Esteja atento e pronto para ajudar aqueles que necessitam de
atenção. Procure evitar que os introvertidos se isolem do grupo.
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Envolva-os com os outros atletas. Dê um pouco mais de
atenção às crianças introvertidas e destaque suas qualidades
para a promoção da auto-estima.
A Fase do Treinamento da Prática Deliberada
É nesta fase de desenvolvimento de talentos que a presença do
treinador torna-se fundamental para que se inicie o treinamento limitado da
prática deliberada.
Entende-se por prática deliberada as atividades altamente
estruturadas, intensas e com objetivos direcionados, cujos níveis de exigência
são específicos e demandam alto esforço do praticante, não sendo praticadas
como lazer, à medida que exigem alto nível de dedicação. A função do
treinador é procurar usar todos os esforços para monitorar o ambiente da
prática para manter o treinamento nesse nível. Para isso, é necessário que
minimize todos os problemas (restrições) que possam impedir a sua ação
pedagógica de treinador e, consequentemente, o desenvolvimento ideal do
atleta. A aquisição de materiais necessários, tais como equipamentos
suficientes, equipe de trabalho qualificada e área de treinamento para um
trabalho eficiente e seguro (restrições de recursos), garantirá ao atleta meios
suficientes para desenvolver suas potencialidades atuais e futuras carreiras
esportivas. O treinador precisa estar alerto aos momentos de perda de
motivação decorrentes da dedicação e da demanda do treinamento (restrições
de motivação).
Outro aspecto importante diz respeito a como o treinador conduz as
etapas de treinamento, procurando superar os níveis baixos de motivação do
atleta provocados pela repetição intensa e enfadonha, através da execução
das técnicas, esquemas táticos e correção dos movimentos que necessitam ser
treinados para melhorar a sua execução. O tempo gasto durante uma prática
deliberada (restrições de esforço) requer dimensionamento adequado para que
o atleta possa recuperar-se devidamente e continuar treinando efetivamente no
prazo estipulado para cada fase do treinamento. Os melhores atletas têm uma
capacidade superior de permanecerem treinando por um período maior de
tempo do que os outros atletas, todavia a preocupação com o
supertreinamento evitará que o atleta se esgote ou ocorra o perigo de
contusões que possam atrasar todo o seu processo de treinamento. Contudo, o
comprometimento do treinador e do atleta é crítico, pois ambos devem ter total
devoção e paixão pelo esporte que procurar e pela missão a que se
propuserem.
Índice
O TREINADOR .................................................................................................. 1
Desenvolvimento da Filosofia do Treinador.................................................... 1
Filosofia de Vida ............................................................................................. 2
Fisiologia do Treinamento............................................................................... 3
Estágio de Desenvolvimento dos Talentos ..................................................... 3
Os anos Iniciais de Aprendizagem ................................................................. 4
Anos Intermediários de Aprendizagem ........................................................... 4
Anos Finais de Aprendizagem ........................................................................ 4
Ensinando a Criança e Adolescentes ............................................................. 5
Ensinando a Crianças..................................................................................... 5
1- Influência dos Pais .................................................................................. 5
2 - Influência do herói ou modelo ................................................................ 6
3- Influência dos amigos ............................................................................. 6
Trabalhe a Dinâmica de Grupo e Construa a Coesão entre os Atletas .......... 8
A Fase do Treinamento da Prática Deliberada ............................................... 8
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