Volume de madeira queimada na festa de São João em 100 cidades do Estado da Bahia
Prof. Dr. José Claudio de O. Flores - [email protected] UESB/DCSA
Doutor em Ciências, Engenheiro Agrônomo, Professor junto ao Curso de Engenharia Agronômica da Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia.
O professor Dr. José Claudio Flores, da Universidade Estadual do Estado da Bahia UESB, e
equipe, ao coordenar uma pesquisa para investigar o volume de madeira incinerada em fogueiras,
durante a celebração da festa de São João, verificaram que no município de Vitória da Conquista foi
queimado o equivalente a 2.313 arvores, extraídas para atender a demanda de lenha para fogueiras
na noite desta festa, tradicionalmente no dia 23 de junho.
Segundo LIRA (1951), a queima de fogueiras é uma reminiscência do culto do fogo;
enquanto LIMA (1979) afirma que a queima de fogueiras por ocasião dos festejos juninos,
introduzida pelos portugueses, tradicionalmente evidencia outra maneira de consumir madeira,
sendo a queima de fogueiras uma tradição anterior a era cristã, usada por alguns povos para saudar a
chegada do verão.
Prosseguindo nas suas pesquisas a respeito de demanda de lenha, em Vitória da Conquista
em 2010, que em 12 tipos de atividades comercial e industrial, foram consumidas 5.627 m3/mês de
lenha, o que requer a extração de 202.551 árvores, com fenótipo, aparência, do eucalipto, que tem
sido muito utilizado no estado da Bahia, em plantios comerciais, chamado também de
reflorestamento para produção de madeira.
Dando continuidade a esta pesquisa temática o professor Flores, e colegas, quantificaram o
número de fogueiras que são queimadas na noite de São João, em 7 cidades no Planalto da
Conquista: Poções, Planalto, Barra do Choça, Belo Campo, Cuaraçu e Encruzilhada, quantificando
3410 de fogueiras, responsável material pela queima de 2046 m3 de lenha, para o qual são
necessários um volume de madeira extraída de 3410 árvores com fenótipo do tipo eucalipto,
obtidas a partir de uma área cultivada de 9 hectares. Neste caso, está sendo considerado para cada
fogueira 1 (uma) árvore do porte de um eucalipto com sete anos de idade.
Cidades
Nº
Habitantes
Nº de
fogueiras
M3 de
lenha*
Nº de árvores
necessárias**
Nº de Ha
Barra Choça
32489
425
255
425
0,38
Belo Campo
15262
226
135
226
0,20
Candido Sales
26727
450
270
450
0,41
11300
227
136
227
0,20
Cuaraçu
Encruzilhada
22525
360
216
360
0,32
Planalto
21486
343
206
343
0,31
Poções
44759
400
240
400
0,36
** Quantidade aproximada considerando fenótipo eucalipto aos 7 anos.
Em 2011, conforme o Diário Oficial de 17 de maio de 2011, 100 cidades do Estado da Bahia
receberam verbas do Governo baiano para incentivar as prefeituras na celebração local das festas
juninas, e, extrapolando esses números numa regra de três simples, em relação ao quantificado para
as 7 cidades do Planalto da Conquista, o volume de lenha para atender a demanda de fogueiras
queimadas na noite de São João nestas 100 cidades, seria necessário 32.629 m3 de madeira. Este
volume requer a extração de aproximadamente 54.382 árvores tipo eucalipto em uma área de 49 ha.
Lembrando que estas 100 cidades apresentam um total de 2.783.653 habitantes.
Nº cidades
População
Nº
fogueiras
M3 lenha*
Nº de árvores
necessárias
plantar
Nº de Ha
7 do Planalto
174548
3410
2046
9.827
9,00
100 da Bahia
2783653
54382
32629
54382
49,00
*Esteres = unidade para medir volume de madeira não beneficiada e empilhada.
Resultados
A discussão estabelecida a partir dos dados considerados, permite sugerir:

São desconhecidas cientificamente, as dimensões dos impactos ambientais em consequência
deste tipo de queima de madeira;

Considerando os dados quantificados em pesquisa no Planalto Conquista o volume de
madeira incineradas em 100 cidades do Estado da Bahia, durante a noite da festa de São João,
exigiria o cultivo de aproximadamente 54.38249 árvores em 49 ha /ano;

Possivelmente, a maioria da madeira queimada nas cidades do interior baiano é originada da
flora nativa local, e a retirada de árvores, às vezes, envolve a eliminação de outras espécies vegetal
ao torno, afetando a biodiversidade local;

Mudança de atitudes por parte daqueles que celebram a festa poderá contribuir para
preservar e também no reflorestamento de áreas;

Campanhas via instituições, ONGs e com o apoio da igreja católica podem contribuir para
envolver os habitantes local em um nova maneira de queimar as fogueiras juninas, de modo a
amenizar e prevenir demandas futuras;

Convém a elaboração de estudos mais amplos a respeito para melhor dimensionar as
implicações ambientais advindas da prática de queimar fogueiras, lembrando que a Bahia tem mais
de 400 municípios, onde os festejos juninos ocorrem praticamente em todos, especialmente na zona
rural, onde se torna impraticável dimensionar o volume de madeira queimada.
Referências Bibliográficas
DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DA BAHIA. Comunicado 03 sobre o São João da Bahia
2011, nos municípios do interior, de 17 de maio de 2011.
FLORES, J. C. de O.; FLORES, C. S. M. Fogueiras de São João e o impacto ambiental nas
matas do Planalto da Conquista - Ba. Anais. VII Congresso Brasileiro em Defesa do Meio
Ambiente.. Rio de Janeiro. 2004.
LIMA, R. T. de & ANDRADE, J. de. Escola de Folclore, Brasil. São Paulo: Editora
Livramento, 1979.
LIRA, M. Migalhas folcklóricas. Rio: Laemmert, 1951.
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