Cirurgia Plástica VI
Bom, vamos voltar à nossa série sobre cirurgia plástica: a semana passada vimos que ela se divide em
reparadora e estética. A reparadora é considerada necessária e a estética é vista como “faz se quiser”.
Só que concluímos que essa divisão é complicada, uma vez que se formos nos restringir a uma cirurgia
que só se atém à reconstrução para devolver a função, ficaremos com realmente muito poucas cirurgias
“justificáveis”. A imensa maioria, de um modo ou de outro, acaba sendo estética mesmo. Se uma
pessoa quer ficar um pouco mais bonita ou reparar uma cicatriz de um acidente, não tem importância.
O importante é perceber o tanto de espaço que a beleza ocupa na vida da gente. De todos os seres
humanos. Aí, vimos que o não há nada humano que não tenha um lado estético. Logo, a preocupação
das pessoas com a beleza não pode ser uma “bobagem”, coisa de quem não tem nada importante pra
fazer.
Se as pessoas sempre se importam de alguma maneira com a beleza, devemos pensar um pouco sobre
isso, afinal, embora seja um assunto complicado. Complicado porque é extremamente difícil definir o
que é “belo”. Por isso, não vamos nem tentar. Vamos ficar com a “beleza” como a qualidade de ser
bonito, o que é agradável à vista. Já tá bom pra gente. E é complicado também porque todo mundo sabe
que beleza varia. Varia com a moda, com o lugar, com a época. Há muitos anos atrás, o ideal de beleza
da mulher era ser pálida e meio cheinha. Depois veio a moda da magérrima, do bronzeado total. Quem
se lembra das chacretes, as dançarinas do programa do Chacrinha (representadas hoje pela Rita
Cadilac)? O mesmo já aconteceu com padrão de beleza para homem. Muitas foram as variações que a
gente assistiu. Não precisa nem ir buscar alguma tribo distante do interior da Austrália.
E como tudo o que varia, depois da globalização ainda, ficou mais igual. Assim como o jeans, o
celular, a camiseta, o padrão de beleza é internacional, global. No geral. Pelo menos no mundo que a
gente habita. Mas, isso também não importa. Não quer dizer que, por ser variável, a beleza é menos
importante. É como a taxa da bolsa de valores: varia, mas nem por isso deixa de ter uma enorme
influência na vida da gente. Direta ou indiretamente.
Estou falando tudo isso prá deixar claro que a beleza é muito importante sim. Que está em tudo e em
todo lugar: até o lápis que estou usando, é sextavado, marrom, com um metalzinho prateado na ponta.
Nada disso teria que ser assim. Se é, é porque alguém achou bonito. E o que dizer da nossa aparência,
então?
Como o bonito é gosto de ver, quem é bonito, é agradável ao olhar. Socialmente é uma vantagem.
Porque será que as pessoas querem tanto ser bonitas? À toa, não é! Se a gente é muito diferente, é
considerado “feio” e posto de lado. Pense bem: o que faz uma aranha feia? Ela é linda! Um desenho
extraordinário, uma perfeição funcional! A gente acha feio porque é muito diferente. O que é diferente
da gente, não é da gente, não é um dos nossos. É alien! É de fora... É só dar uma espiada nas
representações de seres espaciais ou de criaturas monstruosas. A principal característica delas é serem
diferentes da gente. Quanto mais diferentes, mais horripilantes.
Aí está o primeiro motivo que leva as pessoas à cirurgia plástica: a maioria quer se sentir igual a todo
mundo e não diferente, ou melhor. Não confundam isso com o (a) modelo que cuida de sua imagem da
melhor maneira que pode, porque ganha dinheiro com sua imagem. É a mesma coisa que o mecânico
que procura ter as melhores ferramentas. Ou o fotógrafo que busca as últimas novidades tecnológicas.
É uma simples questão profissional. Por exemplo: há alguns procedimentos odontológicos que deixam
os dentes mais brancos, mas dura pouco e acaba não valendo a pena. Mas, prá quem vive do sorriso,
vale. Uma boa foto vai render muito mais. Mas, isso é outro assunto. O nosso assunto é a pessoa
comum. Comum, mas que também quer cuidar de sua imagem.
A imagem, a primeira coisa da gente que chega nos outros é muito importante. Tem uma importância
social enorme. Essa é uma boa pista e nos mostra que as pessoas comuns não querem ser mais bonitas
que os outros, querem ser aceitáveis, querem sentir que são iguais, que pertencem àquele grupo. Querer
sem mais do que os outros é vaidade, necessidade profissional ou coisa assim. Mas, não é o caso da
maioria das pessoas que pensa em fazer cirurgia plástica. Essas pessoas querem melhorar sua imagem,
aprimorá-la. Por que é tão importante a imagem da gente já é assunto prá próxima...
João Paulo Correia Lima
Psicólogo clínico – Diretor Científico da Associação Brasileira de Medicina Psicossomática
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