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nas férias
do Natal
Capítulo
1
O primeiro
dia de férias
— Uf! Estava farta de aulas!
— Quando é que saem as notas?
— Aí está uma coisa que eu não tenho pressa nenhuma de saber!
As gémeas Luísa e Teresa conversavam com
os amigos à porta da escola. Tinha sido um dia
divertido. Organizaram-se jogos e gincanas em
que participaram alunos de todas as turmas. No
pátio, no ginásio, foi uma gritaria toda a tarde,
cada uma a aplaudir e incentivar os da sua
equipa.
— Foi uma sorte não chover!
— Se isto fosse sempre assim é que era
bom! — suspirou o João.
— Deixava era de ser uma escola e passava
a ser um clube recreativo — troçou o Pedro.
Acabada a festa, alguns regressaram a casa,
outros continuavam por ali em grupos a comentar isto e aquilo. Os professores passavam e despediam-se alegremente dos alunos:
— Então boas férias!
— Bom Natal!
Pairava no ar muita alegria e boa disposição.
— Então parabéns, ó campeão! — saudou
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um professor, aproximando-se do grupo onde
estavam as gémeas.
— Isso é com quem? — perguntou a Teresa.
— Com o Chico, com quem é que havia de
ser? Ele ganhou quase todas as provas desportivas!
O Chico corou, satisfeito, e baixou os olhos,
sem saber muito bem o que havia de dizer.
Era um rapaz alto e bem constituído mas um
pouco abrutalhado. Adorava tudo o que fosse
desporto mas detestava estudar, e por isso estava
pouco habituado a ouvir elogios da parte dos
professores.
— No mínimo devem dar-lhe um cinco a
Educação Física! — afirmou o Pedro, sempre
pronto a admirar as proezas do amigo.
— Ah! Sim? Então e no máximo o que é que
lhe deviam dar? — inquiriu o professor, na brincadeira.
— Ora... — ripostou a Luísa —, não se
ponha com essas coisas.
— Eu estava a brincar. Tu és mesmo bom,
pá!
O Chico continuava embaraçado por estarem
todos a falar dele. Tentando desviar o assunto,
deu um murro amigável no ombro do Pedro,
dizendo:
— Bom é este aqui... é capaz de ter um
cinco a tudo!
— Ena, pá! Quem os viu e quem os vê! No
princípio do ano andavam sempre à pancada.
Agora é só amabilidades.
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— Ao tempo que já são amigos! Não soube
que até apanhámos uma quadrilha de ladrões?(1)
— Soube, pois! Quem é que não soube?
Aqui na escola não se falou noutra coisa. Isto
para acabar com as zangas e a pancadaria na
escola, devíamos era formar clubes de detectives. Passavam todos a dar-se como Deus e os
anjos!
— Até não era má ideia! Mas nem toda a
gente tem a nossa classe... — afirmou a Luísa,
brincalhona.
Durante um bocado continuaram a trocar
impressões. Falaram das aulas, das notas, fizeram planos para as férias. Como moravam todos
no mesmo bairro, tencionavam encontrar-se para
se divertirem juntos.
No entanto, quando regressaram a casa, as
gémeas tiveram uma surpresa desagradável.
A mãe esperava-as com uma notícia:
— Meninas, o pai tem de fazer uma viagem
e eu consegui tirar uns dias para ir com ele.
Como vocês não podem ficar sozinhas, decidimos mandá-las para a quinta da tia Judite.
— Para a quinta da tia Judite?
— Mas então não passam o Natal connosco?
— Passamos, claro. Partimos todos no dia
26. Eu e o pai para o estrangeiro, vocês para
Trás-os-Montes.
— Ó mãe! Mas isso é uma chatice!
— Não conhecemos lá ninguém! Vão ser
umas férias horríveis!
(1) Uma Aventura na Cidade, n.° 1 desta colecção.
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— Não vamos, pronto!
— Meninas... Vão sim! E vão divertir-se
imenso. Quando eu era pequena passei lá férias
óptimas.
— Mas isso era a mãe... para nós vai ser
muito chato! — insistiu a Luísa, amuada.
— E a tia Judite é muito velha, não é? Vai-nos maçar o tempo todo, «não façam isto, não
façam aquilo… olhem lá se se magoam.
A mãe riu-se.
— É velha mas não é chata. E gosta muito
de vocês.
— Ora, gosta! Ela nem nos conhece!
— Conhece, pois! Vocês estiveram lá em
pequenas.
— Não me lembro nada!
— Nem eu!
— É natural. Já lá não vão há muitos anos.
Não calha irmos para aqueles lados. É longe.
Mas o pai sempre que pode passa por lá e temos
mantido o contacto por carta. Todos os anos lhe
mando fotografias vossas... está ansiosa por vos
voltar a ver.
— Então ela gosta é das fotografias... meninas quietinhas, já se vê...
— Não há mesmo outra solução? Tínhamos
tantos planos para estas férias de Natal!
— Não há outra solução. Têm de ir e vão ver
que se divertem. É uma variante para quem vive
na cidade.
Perante o tom firme da mãe, as gémeas não
insistiram e olharam-se desconsoladamente.
— Que férias!
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— Nós as duas sozinhas com uma velhota!
Era só o que faltava!
A mãe tentava animá-las mas sem êxito.
Continuaram tristíssimas, a lamentar-se e a
esparramar-se no chão.
— E o Caracol?
— O Caracol também tem de ir. Para ele é
que vai ser um programa, ter uma quinta enorme
para correr à vontade. É um cão de cidade, vai-se divertir muito no campo.
— É? Naturalmente a tia tem lá algum cão
de guarda bem grande, que ainda mata o nosso!
— Que disparate! Parem de resmungar! Só
inventam asneiras!
— Se ao menos pudéssemos levar os nossos
amigos...
A mãe, que já ia a sair da sala, voltou atrás.
— Vocês querem levar amigos? Isso é que
talvez possam! Até era boa ideia!
— Hã? — as gémeas levantaram-se de um
pulo. — Podemos levar os nossos amigos?
— Acha?
— Calma, não sei, mas acho que sim. A tia
Judite é muito simpática e tem uma casa enorme. Passei lá muitas vezes as férias e levava
sempre amigos. Ela recebia todos muito bem.
— Ó mãe! Que bom!
— Telefone a saber! Telefone já hoje!
— Telefone já! Vá!
A mãe riu-se daquele entusiasmo e levantou
o auscultador começando a fazer a ligação. Teresa e Luísa saltitavam em volta, ansiosas... Assim
era outra coisa! Se pudessem partir para a quinta
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com o Pedro, o Chico e o João, que ricas férias
de Natal!
— Vocês acham que os pais dos vossos amigos os deixam ir? — perguntou a mãe, tapando o
bocal, enquanto esperava que atendessem.
— Deixam, pois. E se não deixarem a mãe
fala para lá a convencê-los. Mas até lhes deve
dar jeito!
— Lá isso deve! Hoje em dia ninguém sabe
o que há-de fazer aos filhos durante as férias.
Ficam por aí à solta todo o dia...
— Então, não atendem?
— Não, mas está a dar um sinal esquisito.
Estes telefones andam infernais, então chamadas
interurbanas é um horror.
— Ligue outra vez, vai ver que não apanhou
linha.
— Ligo mais daqui a um bocado. Vocês
agora vão ali abaixo fazer-me umas compras, e
depois ligamos.
— Mas...
— Não há mas nem meio mas... Eu estou a
colaborar convosco e vocês vão colaborar
comigo.
As gémeas não tiveram outro remédio senão
pegar no cesto e no dinheiro e sair com uma lista
de compras. Pelo caminho não falaram noutra
coisa. A ideia de partir com os amigos era verdadeiramente excitante! Despacharam-se enquanto
o diabo esfrega um olho e regressaram a correr.
— Então?
A mãe abriu os braços, com ar triunfante:
— Tudo tratado!
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— Já falou?
— Podemos?
— Podem! Podem levar quem quiserem!
Saltaram-lhe as duas ao pescoço aos gritos.
— Ai, que tontas! Soltem-me, que me estão
a magoar!
Largaram-se e puxaram a mãe por um braço
para a sala. Ela seguiu-as, compondo o cabelo
desgrenhado pelos abraços.
— Vá, explique-se! O que é que ela disse?
— Disse que tem muito gosto que levem
amigos, mas que a casa está em obras e por isso
têm que acampar no celeiro.
— Acampar? Mas isso ainda é melhor!
— É, eu calculei que ficassem contentes.
Agora vão tratar de tudo, falar com os vossos
amigos a saber se podem ir... e desapareçam, que
tenho muito que fazer.
Não foi preciso repetir duas vezes a mesma
ordem. Saíram num furacão pela porta fora.
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Capítulo
2
A partida
O dia da partida amanheceu lindo. Estava um
frio de rachar, mas o Sol brilhava num céu azul
magnífico.
As gémeas tinham acumulado na entrada a
sua imensa bagagem. Sacos-camas; mochilas,
vários pacotes, embrulhos com presentes para
levarem à tia e à velha Elisa, que trabalhava na
quinta há muitos anos. O pai, ao ver aquele
estendal, refilou.
— Vocês parece que vão partir por seis
meses!
— Que ideia, precisamos de tudo para as
férias!
— Para quê? Já agora porque é que não
levam também a mobília?
— Ora, os sacos estão cheios de roupa grossa, porque lá faz muito frio...
— Os sacos-camas são para dormirmos no
celeiro.
— E as mochilas foi a mãe quem disse para
levarmos. É para fazermos escaladas nos montes...
— Sim, sim, estou a ver. Se os rapazes trouxerem assim tanta coisa, não sei se cabem na
carrinha.
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— Mas é uma carrinha grande?
— É, sim! Fiquem descansadas. O Sr. Joaquim faz transportes para Lisboa. Foi por isso
que lhe pedi que vos levasse, no regresso a casa.
Vocês são muitos, e mais dois cães... como é que
se chama o vosso amigo que também leva um
cão?
— É o João, não se lembra? Ele veio cá a
casa com a avó, agradecer o convite.
— Sim, sim. Já sei. Um pequenito com
piada. Vive sozinho com a avó?
— É, os pais estão na Alemanha a trabalhar.
Ele vive com a avó naquelas casas pequenas ao
pé do mercado. Tem um jardim, um cão...
— O cão chama-se Faial. É enorme. O pai
vai ver.
— Ele adora animais! Tem ratos brancos,
pássaros, peixes!
— Mas não vai levar isso tudo, espero!
— Que ideia!
— E os outros?
— Um é o Chico...
— E o outro é o Pedro — atalhou a Luísa.
— O Chico é aquele alto e forte.
— Alto e forte? — perguntou o pai, franzindo o sobrolho.
— Lá está o pai com as suas manias! Estamos fartas de lhe falar no Chico, é um tipo porreirinho.
— Ele anda radiante — continuou a Teresa.
— A família dele é do Minho, mas vieram
viver para cá quando o Chico tinha dois anos.
Parece que vivem mal. O pai nem tem emprego
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