MAEI ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA ECONÔMICA, ESTRATÉGIA E PREVENÇÃO DE PERDAS NA INDUSTRIA - CEPI ANDERSON DOURADO SALUM EFICI€NCIA ENERG•TICA EM SISTEMA DE COMBUST‚O DE CALDEIRA SALVADOR 2011 Universidade Federal da Bahia Escola Politécnica Programa de Pós-Graduação em Engenharia Industrial Laboratório de Processos e Tecnologia Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira Autor: Anderson Dourado Salum Salvador, Bahia, Brasil, 20 de julho de 2011. Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum CEPI – PEI – UFBA ii ANDERSON DOURADO SALUM EFICIÊNCIA ENERGÉTICA EM SISTEMA DE COMBUSTÃO DE CALDEIRA Monografia apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Industrial, Escola Politécnica, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para a obtenção do grau de Especialista em Engenharia Econômica, Estratégia e Prevenção de Perdas na Indústria – CEPI. Orientador: Prof. Dr. Paulo Bastos SALVADOR 2011 Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum CEPI – PEI – UFBA iii RESUMO Este trabalho consiste de um estudo de caso em uma caldeira, na qual se avalia a viabilidade econômica de soluções propostas para minimização das perdas energéticas de natureza térmica e elétrica identificadas na caldeira. As soluções propostas são formuladas a partir do conhecimento das deficiências encontradas no processo – controle ineficiente da relação ar-combustível e estrangulamento da vazão de ar do ventilador da caldeira – e da aplicabilidade de tecnologias ecoeficientes disponíveis no mercado (variadores de velocidade, tais como conversores de frequência). Com este trabalho espera-se comprovar a atratividade econômica e ambiental que projetos baseados em ecoeficiência podem resultar para a indústria. Palavras-chave: Conversor de frequência; Caldeira; Ecoeficiência; Ventiladores industriais; Relação ar-combustível; Consumo de energia. Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum CEPI – PEI – UFBA iv ABSTRACT The present work consists of a case study in a boiler in which to evaluate the technical feasibility of proposed solutions for minimizing the energy losses of thermal and electrical nature identified in the boiler. The proposed solutions are developed from knowledge of the deficiencies identified in the process - inefficient control of the air-fuel and choke the flow of air from the boiler fan - and the applicability of ecoefficient technologies available in the market (variable speed drives, such as frequency converters). The expectation of this work is to prove economic attractiveness and environmental projects based on eco-efficiency can result for the industry. Keywords: Frequecy converter; Boiler; Eco-efficiency; Industrial fans; Air-fuel ratio; Power consumption. Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum CEPI – PEI – UFBA v LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS cAR Calor específico do ar, [Gcal/t.ºC] CM Conjugado motor EAR Energia desperdiçada pelo aquecimento do excesso de ar EGC Energia do gás combustível não liberada na queima incompleta, [Gcal] F Frequência da corrente elétrica no motor GC Gás combustível mAR Massa do excesso de ar na combustão mGC Massa do gás combustível não queimada na queima incompleta, [t] nC Percentual, em massa, de carbono no gás combustível nH Percentual, em massa, de hidrogênio no gás combustível nO Percentual, em massa, de oxigênio no gás combustível nS Percentual, em massa, de enxofre no gás combustível Pgc Número de pólos do motor PCIGC Poder calorífico inferior do gás combustível, [Gcal/m 3] PotM Potência elétrica do motor, [kW] RTEÓRICA Relação estequiométrica ar-combustível [kg ar / kg GC] S Escorregamento do motor TF Temperatura de saída do ar aquecido, [oC] THD Total Harmonic Distortion TI Temperatura de entrada do ar no queimador, [oC] velM Velocidade de rotação do motor VSD Variable speed drives Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum CEPI – PEI – UFBA vi Η Rendimento do motor ρGC Densidade do gás combustível, [t/m3] Ω Velocidade angular do eixo Δt Intervalo de tempo entre cada valor de vazão medido, [s] QAR_medida Vazão de ar medida, [t/h] QGC_medida Vazão de gás combustível medida, [t/h] EAR_atual Energia atualmente desperdiçada pelo aquecimento do excesso de ar, [Gcal] EAR_proposta Energia a ser desperdiçada pelo aquecimento do excesso de ar no sistema proposto, [Gcal] Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum CEPI – PEI – UFBA vii SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 1 1.1 OBJETO DE ESTUDO .................................................................................... 2 1.2 OBJETIVO ...................................................................................................... 2 1.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................... 2 2 ESCOPO E HIPÓTESES .............................................................................. 3 3 REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................... 4 3.1 3.1.1 Definição ................................................................................................................4 3.1.2 Eficiência de caldeiras ...........................................................................................5 3.1.3 Combustão de gases .............................................................................................5 3.1.4 Perdas energéticas na combustão incompleta .....................................................6 3.1.5 Perdas energéticas por excesso de ar na combustão completa ..........................7 3.2 VENTILADORES ............................................................................................ 8 3.2.1 Definição ................................................................................................................8 3.2.2 Classificação..........................................................................................................9 3.2.3 Curvas características dos ventiladores ................................................................9 3.2.4 Modo de operação .............................................................................................. 10 3.2.5 Regulação de vazão em sistemas de ventilação ............................................... 11 3.2.6 Regulação de vazão por damper ....................................................................... 11 3.2.7 Regulação de vazão por variador de velocidade ............................................... 12 3.3 4 CALDEIRAS ................................................................................................... 4 CONVERSORES DE FREQUÊNCIA ............................................................ 13 3.3.1 Definição ............................................................................................................. 13 3.3.2 Princípio de funcionamento ................................................................................ 14 3.3.3 Eficiência dos conversores ................................................................................. 15 3.3.4 Comparação entre conversores e dampers ....................................................... 16 3.3.5 Cuidados com a instalação industrial no uso de conversores de frequência .... 16 METODOLOGIA ......................................................................................... 19 4.1 INFORMAÇÕES DO SISTEMA..................................................................... 20 4.1.1 Caldeira .............................................................................................................. 20 4.1.2 Ventilador ............................................................................................................ 20 4.1.3 Motor elétrico ...................................................................................................... 21 Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum CEPI – PEI – UFBA 4.2 COLETA DE DADOS .................................................................................... 22 4.2.1 Relação estequiométrica da queima do gás combustível .................................. 22 4.2.1 Relação ar-combustível de operação ................................................................. 24 4.2.2 Temperatura de saída do ar pela chaminé ........................................................ 25 4.3 AVALIAÇÃO ENERGÉTICA DO SISTEMA TÉRMICO .................................. 25 4.3.1 Quantificação das perdas termicas por falta de ar na combustão ..................... 25 4.3.2 Cálculo das perdas por excesso de ar ............................................................... 26 4.3.1 Perdas térmicas do sistema com controle automático de vazão ....................... 27 4.4 5 viii AVALIAÇÃO DO SISTEMA ELÉTRICO ........................................................ 27 4.4.1 Quantificação do consumo elétrico do motor sem conversor de frequência ..... 28 4.4.2 Identificação do consumo elétrico do motor com conversor de frequência ....... 30 RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................. 32 5.1 TRATAMENTO DOS DADOS COLETADOS................................................. 32 5.1.1 Levantamento da relação ar-combustível da caldeira........................................ 32 5.1.1 Levantamento da temperatura de saída do ar ................................................... 33 5.2 AVALIAÇÃO ENERGÉTICA DO SISTEMA ................................................... 33 5.2.1 Avaliação energética das perdas térmicas do sistema atual ............................. 33 5.2.2 Avaliação energética das perdas térmicas do sistema proposto ....................... 35 5.2.3 Avaliação energética do consumo de energia elétrica do motor ....................... 36 5.2.4 Sumário dos ganhos energéticos a serem obtidos ............................................ 39 5.2.5 Análise da redução de emissão de CO2 equivalente ......................................... 39 5.2.6 Discussão dos resultados ................................................................................... 40 6 CONCLUSÕES ........................................................................................... 41 7 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ......................................... 42 Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum CEPI – PEI – UFBA 1 1 INTRODUÇÃO “A década de 1970 é [...] o marco inicial nos estudos sobre eficiência energética. Os choques do petróleo alertaram para uma possível escassez futura de energia. Concomitantemente, cresceu a preocupação com o meio ambiente, que é negativamente impactado pelo uso da energia, notadamente na emissão de gases de efeito estufa” (GARCIA, 2003). Desde então, entende-se que “o uso eficiente da energia demonstra-se atrativo nos aspectos ambientais, econômicos, sociais, estratégicos e comerciais” (GARCIA, 2003). De fato, “eficiência energética e meio ambiente são dois aspectos que estão totalmente associados” (PANESI, 2006). O conceito de eficiência energética em sistemas de combustão já foi abordado por (PINHEIRO & VALLE, 1995). Portanto, não é algo novo na indústria. Entretanto, a confiabilidade da instrumentação, principalmente dos dampers, indicados por BEGA (2003), são empecilhos para automatização plena e confiável do sistema de combustão da caldeira. Neste contexto surgem os conversores de frequência, intensamente discutidos por JUNIOR (2005) e SPITZER (2004). No início os conversores de frequência não eram confiáveis (principalmente os de média tensão), apresentando inúmeras limitações, conforme exposto por WULFINGHOFF (1999). Entretanto, a necessidade expoente de tecnologias capazes de fornecer confiabilidade ao processo visando a maior eficiência do sistema estimulou o desenvolvimento destes equipamentos, de tal modo que hoje os conversores de frequência estão consolidados no mercado. Embora o uso de conversores de frequência esteja amplamente associado a sistemas de bombeamento (DUTRA, 2005) e (MONACHESI & MONTEIRO, 2005), seu uso também é possível em outros equipamentos rotativos, como por exemplo ventiladores, tema discutido por SANTOS (2006) e TASKINEN (2008). Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum CEPI – PEI – UFBA 2 1.1 OBJETO DE ESTUDO O interesse crescente das indústrias em ampliar suas margens de lucro investindo em projetos ecoeficientes, porém tecnicamente confiáveis e consolidados, motiva o estudo da aplicabilidade das tecnologias disponíveis no mercado e o retorno financeiro que as mesmas podem proporcionar. Desta forma, é cada vez mais importante o desenvolvimento de metodologias de identificação de perdas e proposição de soluções ecoeficientes para redução de perdas energéticas. O objeto de estudo deste trabalho é uma caldeira industrial cuja vazão de ar para a câmara de combustão tem problemas de regulação, impactando na variação da relação ar-combustível na queima. 1.2 OBJETIVO O objetivo deste trabalho é obter soluções tecnicamente consolidadas, economicamente viáveis e ambientalmente atrativas para os problemas energéticos identificados no sistema de combustão da caldeira. 1.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Os objetivos específicos deste trabalho são: Identificar o potencial de ganho energético decorrente da operação de caldeiras com malhas de controle em modo “Manual”. Propor uma estratégia de controle confiável com variador de velocidade que substitua estratégias de controle clássicas baseadas em atuadores mecânicos. Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum CEPI – PEI – UFBA 3 2 ESCOPO E HIPÓTESES Este trabalho se propõe a calcular as perdas energéticas no sistema de combustão de uma caldeira industrial, decorrentes da operação não automática de dampers na regulação da vazão de ar para a câmara de combustão. É escopo dete trabalho: Estudar e quantificar as perdas térmicas decorrentes do desbalanceamento na relação ar-combustível na câmara de combustão; Estudar e quantificar as perdas elétricas no motor do ventilador da caldeira, decorrentes da operação do mesmo com restrição por damper na descarga. Buscar o controle da combustão de gás combustível em caldeiras a partir de variadores de velocidade em substituição a atuadores mecânicos. Não faz parte do escopo deste trabalho: Analisar o balanço energético da caldeira, devendo a análise se restringir ao sistema de combustão; Analisar o desempenho dos queimadores ou de qualquer outro componente do sistema de combustão; Analisar economicamente a solução proposta. Assim, este trabalho não se propõe a: o Quantificar monetariamente os ganhos energéticos calculados; o Levantar os custos de instalação, operação e manutenção da solução proposta; o Levantar os custos de operação e manutenção do sistema atual. Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum CEPI – PEI – UFBA 4 3 REFERENCIAL TEÓRICO Esta revisão bibliográfica tem como objetivo apresentar fundamentos teóricos relacionados a sistemas de combustão de caldeiras, considerando especificamente os aspectos que levam a perda de energia elétrica e sob a forma de calor. Não tem a pretensão de esgotar o assunto, mas de apresentar trabalhos e conceitos relevantes sobre o tema, de modo a fornecer suporte teórico ao desenvolvimento deste trabalho. 3.1 CALDEIRAS 3.1.1 Definição Caldeiras ou geradores de vapor são equipamentos destinados a produção de vapor sob pressão superior à atmosférica, utilizando qualquer fonte de energia, excetuando-se os refervedores (SANTOS et al, 2006). O vapor produzido pelas caldeiras é usado geralmente na indústria para movimentar máquinas térmicas ou como fonte de calor para processos. Deste modo, as caldeiras são equipamentos capazes de transferir a energia armazenada nas fontes combustíveis para a água e, então, para a aplicação final. A Figura 3.1 apresenta o princípio de funcionamento de uma caldeira. Figura 3.1 – Esquema de funcionamento de uma caldeira. [Fonte: Department of Mechanical Engineering, Middle East Technical University] Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum CEPI – PEI – UFBA 5 3.1.2 Eficiência de caldeiras Durante a operação de um caldeira, é indispensável monitorar constantemente a eficiência deste equipamento, devendo-se recorrer inevitavelmente aos balanços de massa e energia para obtenção dos índices que traduzem o rendimento da caldeira. O cálculo da eficiência global da caldeira pode ser realizado por duas maneiras: Método direto: consiste na contabilização dos fluxos energéticos de entrada e saída. Embora seja um método simples, ele não fornece informações sobre as principais perdas do sistema. Método indireto: consiste no cálculo da eficiência a partir da contabilização das principais perdas existentes em uma caldeira, conforme abaixo. o Perdas associadas ao combustível nas cinzas de fundo o Perdas por radiação e convecção o Perdas por purga o Perdas associadas à combustão ineficiente. 3.1.3 Combustão de gases O processo de combustão pode ser classificado como: Combustão completa; Combustão incompleta. Quando todo o combustível disponibilizado nos queimadores reage completamente com o oxigênio (comburente), diz-se que há uma combustão completa. Em uma combustão completa, ocorre a produção de um número limitado de produtos. Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum CEPI – PEI – UFBA 6 A combustão completa de combustíveis compostos exclusivamente por hidrocarbonetos gera apenas dióxido de carbono (CO2) e água (H2O). Entretanto, os hidrocarbonetos normalmente estão misturados a outros elementos como nitrogênio, enxofre e ferro. Estes elementos também são queimados, tendo como resultado a formação de outros óxidos dos quais se destacam os mais comuns: dióxido de nitrogênio (NO2), dióxido de enxofre (SO2) e óxido de ferro III (FeO3). Conhecendo-se a composição do combustivel e com base na estequiometria da reação, consegue-se calcular o ar necessário para a queima eficiente do combustível. A quantidade de ar que fornece o oxigênio teoricamente suficiente para a combustão completa do combustível é denominada de “ar teórico” ou “ar estequiométrico”. Na prática, é muito difícil obter uma boa combustão apenas com o ar estequiométrico, sendo necessário recorrer a um percentual seguro de excesso de ar para evitar a combustão incompleta. A combustão incompleta é altamente indesejável do ponto de vista energético, ambiental e de segurança, pois além de não queimar o combustível, o qual é liberado pela chaminé (combustível gasoso), a combustão incompleta produz inúmeros produtos nocivos ao meio-ambiente, tais como monóxido de carbono (CO), que é letal. Também há liberação de átomos de carbono sob a forma de fuligem. Além do suprimento ineficiente de oxigênio, outros fatores podem causar uma combustão incompleta: baixa turbulência, baixo tempo de residência, nebulização deficiente do combustível (no caso de liquidos). 3.1.4 Perdas energéticas na combustão incompleta Além da emissão de poluentes na atmosfera há também prejuízos energéticos associados à combustão incompleta, conforme pode ser observado na equação (31). EGC mGC PCI GC Sendo: EGC: Energia devido à queima incompleta; Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum (3-1) CEPI – PEI – UFBA 7 mGC: Massa de gás combustível não queimada na queima incompleta; PCIGC: Poder calorífico inferior do gás combustível; 3.1.5 Perdas energéticas por excesso de ar na combustão completa Conforme visto, a combustão incompleta representa um grande desperdício de combustível, além de emitir vários poluentes na atmosfera, devendo-se recorrer a percentual seguro de excesso de ar na combustão para garantir a reação completa do combustível. A introdução do excesso de ar na reação de combustão, contudo, implica em perdas energéticas no processo, pois parte da quantidade de calor liberada na queima é utilizado para aquecer o ar em excesso e é liberado pela chaminé. A quantidade de calor desperdiçada neste caso é dada pela equação (3-2). E AR mAR c AR TF TI (3-2) Sendo: EAR: Energia desperdiçada pelo aquecimento do excesso de ar; mAR: Massa do excesso de ar na combustão; cAR: Calor específico do ar; TF: Temperatura de saída do ar aquecido; TI: Temperatura de entrada do ar no queimador. O excesso de ar é fator determinante da eficiência da combustão, pois controla o volume, temperatura e entalpia dos produtos da combustão. Um grande excesso de ar é indesejável, pois diminui a temperatura da chama e aumenta as perdas de calor devido à entalpia dos gases efluentes, reduzindo a eficiência térmica, além de diminuir o comprimento da chama. Por outro lado, um baixo excesso de ar pode resultar numa combustão incompleta e na formação de CO, fuligem e fumaça, além de possibilitar a acumulação de combustível não queimado, causando risco de explosão. Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum CEPI – PEI – UFBA 8 O valor ótimo do excesso de ar é aquele que garante a combustão completa sem, contudo, gerar elevadas perdas de calor pela chaminé. Não existe consenso na literatura a respeito do excesso de ar a ser utilizado. Para a queima de gás natural, os valores típicos para o excesso de ar situam-se entre 7% e 15% (DUKELOW, 1991). A Figura 3.2 relaciona as perdas por excesso de ar com a concentração dos produtos tóxicos liberados na reação de combustão incompleta. Figura 3.2 – Perdas em relação ao excesso de ar. 3.2 VENTILADORES 3.2.1 Definição Ventiladores são máquinas de fluxo geradoras que trabalham com fluido no estado gasoso provocando uma diferença de pressão inferior a 0,20kgf/cm2 (VIANA, 2002). Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum CEPI – PEI – UFBA 9 3.2.2 Classificação Os ventiladores podem ser classificados de diversas formas: De acordo com a forma do rotor o Centrífugos os radiais: operam com pequenas vazões e grandes pressões; o Fluxo misto: operam com médias vazões e médias pressões; o Axiais: Operam com grandes vazões e pequenas pressões. De acordo com a posição das pás do rotor o Pás curvadas para trás: Maior estabilidade, bom rendimento e silencioso; o Pás retas: possui construção simples e baixo rendimento; o Pás curvadas para frente: Baixo rendimento e baixo ruído. 3.2.3 Curvas características dos ventiladores Os diferentes parâmetros construtivos citados no item anterior (e outros não citados neste trabalho) são importantes para determinação das curvas características (pressão, rendimento e potência) de operação de um ventilador. As curvas características dos ventiladores tem um comportamento diferente para cada tipo (VIANA, 2002), conforme Figura 3.3. Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum CEPI – PEI – UFBA 10 Figura 3.3 – Curvas características de ventiladores. 3.2.4 Modo de operação Os ventiladores não possuem mecanismos próprios para regulação de vazão. Deste modo, o ponto de operação de um ventilador é dado pela interseção entre a curva de operação do ventilador (pressão x vazão) e a curva da instalação (determinada a partir do somatório das perdas de carga da tubulação), conforme Figura 3.4. Figura 3.4 – Determinação do ponto de operação. Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum CEPI – PEI – UFBA 11 A alteração do ponto de operação dado só é possível mediante algum dispositivo com capacidade de regular da vazão. 3.2.5 Regulação de vazão em sistemas de ventilação Uma vez que os ventiladores sozinhos não são capazes de regular a vazão do sistema, é necessário utilizar equipamentos auxiliares para este fim, dos quais se destacam: Dampers; Variadores de velocidade. 3.2.6 Regulação de vazão por damper Os dampers são dispositivos mecânicos de restrição utilizados para controle da vazão de ar em sistemas de ventilação. Esses dispositivos são instalados na descarga dos ventiladores. A operação dos dampers restringe a quantidade de ar à medida que o damper vai restringido a passagem do fluido. Conseqüentemente, observa-se um aumento da pressão na descarga, reduzindo a vazão de saída do ventilador e, portanto, modificando o ponto de operação do sistema. Em relação à movimentação do ponto de operação, a variação do percentual de abertura dos dampers significa um acréscimo (ou decréscimo) da perda de carga no sistema. Portanto, tal modificação representa uma alteração na curva do sistema, conforme pode ser visto na Figura 3.5. Uma vez que as curvas do ventilador não se alteram, a modificação do ponto de operação incorre em variações no consumo de potência e no rendimento da máquina, conforme Figura 3.3. Em geral, os ventiladores são especificados para operar numa região próxima ao ponto de máxima eficiência, garantindo a operação econômica do conjunto. Assim, quando há variação do ponto de operação por influência do damper, há por consequência uma redução da eficiência do ventilador. Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum CEPI – PEI – UFBA 12 Figura 3.5 – Efeito do estrangulamento na modificação da curva do sistema. [Fonte: Catalogo GREENHECK] 3.2.7 Regulação de vazão por variador de velocidade Os variadores de velocidade são dispositivos capazes de modificar a velocidade de operação de máquinas rotativas (ventiladores, por exemplo). Assim, esses dispositivos atuam na modificação da rotação dos ventiladores sem modificar o sistema. A Figura 3.4 indica como o ponto de operação é modificado pela atuação dos conversores de freqüência. Segundo VIANA (2002), a variação de rotação em um ventilador leva o mesmo para outro ponto de operação que é homólogo ao anterior, isto é, de rendimento semelhante. Assim, dentro de certos limites, a variação na rotação do ventilador (por um variador de velocidade) não incorre em perda de rendimento deste equipamento. Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum CEPI – PEI – UFBA 13 Figura 3.6 – Efeito da variação da rotação na curva do ventilador. [Fonte: Catálogo GREENHECK] Os variadores de velocidade mais comuns utilizados na indústria são: Conversor de frequência (para conjunto motor+ventilador); Governador eletrônico (para conjunto turbina+ventilador). 3.3 CONVERSORES DE FREQUÊNCIA 3.3.1 Definição Conversores de freqûencia são “dispositivos eletrônicos, que atuam sobre a frequência da corrente dos motores, variando a sua rotação. Considerando que ventiladores, bombas e outras máquinas rotativas nem sempre operam em plena carga e que as vazões estão linearmente relacionadas com a rotação da máquina, a utilização de variadores de frequência possibilita o ajuste de vazão sem introduzir perdas, alterando a rotação da máquina” (PANESI, 2006). Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum CEPI – PEI – UFBA 14 3.3.2 Princípio de funcionamento O princípio de funcionamento dos conversores de frequência é baseado na modificação da freqüência da tensão elétrica de alimentação do motor do ventilador, permitindo a variação da sua velocidade de rotação. Conforme a equação (3-3), a velocidade de rotação de um motor é proporcional à freqüência da corrente elétrica que o alimenta. velM 120 f (1 s) p (3-3) Onde: velM: Velocidade de rotação do motor p: Número de pólos do motor f: Freqüência da corrente elétrica s: Escorregamento do motor Como a potência elétrica fornecida aos motores é proporcional à velocidade de rotação do eixo do motor, conforme equação (3-4), então, por conseqüência, a variação da freqüência da corrente elétrica implica na variação da potência fornecida ao ventilador pelo eixo do motor. Pot M CM Onde: P: Potência elétrica do motor C: Conjugado motor ω: Velocidade angular do eixo η: Rendimento do motor Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum (3-4) CEPI – PEI – UFBA 15 3.3.3 Eficiência dos conversores Uma grande vantagem do uso dos variadores de velocidade em relação ao uso de dampers é o aumento da eficiência energética do sistema de ventilação. Conforme pode ser visto na Figura 3.5, ventiladores controlados por variadores de velocidade apresentam uma considerável redução no consumo do sistema em relação ao controle com dampers (na sucção ou na descarga), principalmente para vazões inferiores a 80% da vazão nominal. Figura 3.7 – Consumo de energia do ventilador para as configurações apresentadas. [Fonte: US Department of Energy, 1989] A utilização de variadores de velocidade em ventiladores também permite uma melhor regulagem da vazão de ar em relação ao uso de dampers, permitindo um melhor e mais eficiente controle da combustão. Isso é possível porque os dampers estão mais sujeitos a travamentos, além de não serem muito precisos na regulação da vazão de ar. Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum CEPI – PEI – UFBA 16 3.3.4 Comparação entre conversores e dampers A Tabela 3.1 apresenta um comparativo entre os mecanismos de regulação de vazão apresentados. Tabela 3.1 – Comparação dos mecanismos de controle de vazão. TIPO DE CONTROLE Dampers na descarga VANTAGENS Baixo Custo de implantação Facilidade de Instalação DESVANTAGENS Limitação de ajuste Baixa eficiência energética Sujeito a emperramento Não sujeito a emperramento por Variador de velocidade sujeira Excelente eficiência para grande Alto custo de implantação faixa de vazão 3.3.5 Cuidados com a instalação industrial no uso de conversores de frequência Embora o uso de variadores de velocidade represente uma boa eficiência energética, o uso inadvertido dos mesmos numa instalação pode gerar alguns problemas: introdução de componentes harmônicas na corrente elétrica, danos na isolação dos motores devido a picos de tensão, entre outros. Assim, alguns cuidados devem ser tomados para evitar efeitos indesejáveis decorrentes da instalação destes equipamentos. Os principais são apresentados abaixo. a. Introdução de componentes harmônicas na corrente elétrica O processo de conversão de freqüência adiciona componentes harmônicas prejudiciais ao funcionamento de outros equipamentos da rede elétrica. A norma IEEE N-519 recomenda que a distorção harmônica total (THD) na rede, para aplicações normais, não deve exceder 5%. Deste modo, deve ser considerada na especificação de inversores uma solução que atenda às recomendações desta norma. No Brasil, o PRODIST (Procedimentos de distribuição de Energia Elétrica do sistema elétrico nacional) estabelece 8% como limite superior para um nível de tensão de 1kV a 13,8kV. Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum CEPI – PEI – UFBA 17 Conforme Figura 3.6, o conjugado disponível do motor decresce com o aumento de harmônicos na rede elétrica. Conforme pode ser observado, a partir de cerca de 3% de THD o motor não consegue mais disponibilizar todo o conjugado nominal. Assim, inversores de freqüência de maior quantidade de pulsos são mais recomendados para minimizar a perda de potência do motor. Figura 3.8 – Redução do Conjugado x Harmônicos de Tensão. [Fonte: Catálogo SIEMENS, 2007] Algumas soluções existentes têm obtido êxito no tratamento das harmônicas, como o uso de transformadores de isolação e filtros de tratamento de harmônicas. Os transformadores de isolação possuem duas finalidades principais: isolar a rede das harmônicas geradas pelo conversor de freqüência e evitar que um possível curto-circuito gerado no conversor se propague pelo barramento. Os filtros de tratamento de harmônicas atenuam estas componentes, diminuindo sensivelmente a THD total injetada na rede. A Figura 3.7 apresenta uma comparação entre as componentes harmônicas geradas por diferentes tipos de solução. Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum CEPI – PEI – UFBA 18 Figura 3.9 - Comparação entre soluções para o tratamento de harmônicas [Fonte: Catálogo SIEMENS, 2007] b. Danos na isolação dos motores devido a picos de tensão Devido à natureza pulsante da excitação elétrica fornecida pelo inversor, ocorre no motor um fenômeno indesejado, a reflexão das ondas de tensão. Essa reflexão provoca sobreposição de ondas, ocasionando picos de tensão / corrente nas bobinas do motor. O excesso de tensão provocado pode danificar a isolação das bobinas devido ao aquecimento, principalmente em motores antigos, os quais não foram construtivamente preparados para serem operados por variador de velocidade, estando mais sensíveis a este tipo de dano. Em motores com alimentação maior que 500 V deve ser previsto um filtro dV/dt na saída do inversor para minimizar a sobreposição dessas ondas nos terminais do motor. Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum CEPI – PEI – UFBA 19 4 METODOLOGIA Visando reduzir as perdas energéticas inerentes ao modo operacional atual, este trabalho busca uma solução ecoeficiente que minimize o desperdício de energia resultante da combustão incompleta e do excesso de ar além dos limites aceitáveis. Para isso, propõe-se a instalação de variador de velocidade (conversor de frequência) no motor do ventiador da caldeira para controle da rotação deste acionamento e, consequentemente, da vazão de ar. O desenvolvimento deste trabalho compreendeu as seguintes etapas: Coleta de dados: O objetivo desta etapa é obter informações temporais, no sistema de armazenamento de dados históricos da caldeira, das grandezas definidas como importantes para avaliação energética do sistema. Avaliação energética do sistema de combustão da caldeira: Quantificação das perdas decorrentes da operação da caldeira utilizando dampers na saída do ventilador. Análise da redução das perdas energéticas decorrentes da instalação de conversor de frequência: Quantificação do aumento da eficiência energetica no sistema. Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum CEPI – PEI – UFBA 20 4.1 INFORMAÇÕES DO SISTEMA 4.1.1 Caldeira A caldeira estudada apresenta problemas no balanceamento da relação arcombustível na câmara de combustão. Esta caldeira opera com a malha de controle de vazão de ar em modo manual, com a abertura do damper sendo controlada diretamente pelo operador de painel (controle manual). Isto se deve ao fato de que o damper não funciona adequadamente quando comandado de forma automática pela malha de controle, com frequentes problemas operacionais devido a emperramento. Este funcionamento em modo manual traz grandes problemas sob o ponto de vista de eficiência, pois a carga da caldeira e, conseqüentemente, a quantidade de gás combustível injetado na câmara de combustão, variam ao longo do tempo, não sendo viável para a Operação da unidade a correção manual na abertura do atuador a cada variação na demanda de ar. A caldeira possui as seguintes características: Caldeira de recuperação; Capacidade de produção de vapor: 350t/h; Pressão de saída do vapor: 42kgf/cm2.. Sendo uma caldeira de recuperação, a produção de vapor aproveita a energia de gases aquecidos oriundos do processo industrial e utiliza gás combustível na queima complementar.Os gases de recuperação, todavia, não participam da queima complementar, sendo todo o ar participante da combustão oriundo do meio externo. Assim, a temperatura do ar de entrada é de ambiente (27ºC). 4.1.2 Ventilador O ar utilizado na câmara de combustão da queima complementar é fornecido por um ventlador com as seguintes características: Centrífugo (ou radial); Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum CEPI – PEI – UFBA 21 Simples sucção; Pás voltadas para trás; Velocidade nominal: 1200rpm; Vazão nominal: 72Nm3/s; Pressão nominal: 68,4mbarg; Rendimento nominal: 80,4%. As curvas de pressão e potência do ventilador são apresentadas na Figura 4.1. Figura 4.1 – Curvas de operação do ventilador. 4.1.3 Motor elétrico O ventilador é acionado por um motor elétrico de indução, cujas características são apresentadas abaixo: Potência nominal: 650kW; Corrente nominal: 120A; Tensão nominal: 2.300V; Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum CEPI – PEI – UFBA 22 Rendimento a 50% da carga: 95,4%; Rendimento a 75% da carga: 96,3%; Rendimento a 100% da carga: 96,6%; Rotação: 1.194rpm; Grau IP-55. 4.2 COLETA DE DADOS Conforme proposta definida no capítulo 2, este trabalho se propõe a avaliar o consumo elétrico do motor e o consumo térmico do sistema de combustão da caldeira. para avaliação dos consumos citados, as seguintes infomações devem ser obtidas a partir dos dados históricos para análise do sistema: Relação estequiométrica da queima do gás combustível Relação ar-combustível real de operação Temperatura de saída do ar pela chaminé 4.2.1 Relação estequiométrica da queima do gás combustível o gás combustível uilizado na queima é oriundo de outros processos, embora tenha poder calorífico inferior (PCI) e densidade (ρ) semelhante ao do gás natural padrão, conforme Tabela 4.1. Tabela 4.1 – Propriedades utilizadas para o gás combustível. CARACTERÍSTICA PCI Densidade VALOR 0,0085 Gcal/m³ 0,78 Kg/m³ Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum CEPI – PEI – UFBA 23 Conforme PINHEIRO & VALLE (1995), determinar a composição molecular do gás combustível é importante para determinar a relação estequiométrica teórica que resulta em uma combustão completa. Os dados históricos foram levantados, sendo apresentada na Figura 4.1 os valores médios, em massa, dos componentes do gás. Os dados foram obtidos do Processo por meio de um analisador industrial. As amostras coletadas tiveram periodicidade e 1h e foram obtidas durante três meses de coleta. Figura 4.2 – Composição média em massa do gás combustível no período analisado. A Tabela 4.2 apresenta as reações básicas de oxigênio necessário para combustão completa dos componentes do gás combustível. O nitrogênio é um gás inerte e, por isso, nao reage com o oxigênio numa reação de combustão. Tabela 4.2 – Reações básicas de combustão. REAGENTES PRODUTOS C + O2 CO2 2H2 + O2 2H2O S + O2 SO2 Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum CEPI – PEI – UFBA 24 Considerando os pesos molares dos elementos participantes da reação: carbono (12), hidrogênio (1), oxigênio (16) e enxofre (32), e os dados apresentados na Figura 4.1, é possível determinar a relação (Ro) entre a quantidade de oxigênio e quantidade de gás combustível para alcance da combustão estequiométrica, conforme equação 4-1. 12 n 16 2 n 32 32 n RO nC 32 H S O (4-1) Sendo: nc: Percentual, em massa, de carbono no gás combustível; nH: Percentual, em massa, de hidrogênio no gás combustível; nS: Percentual, em massa, de enxofre no gás combustível. nO: Percentual, em massa, de oxigênio no gás combustível. Uma vez que o percentual por peso atômico do oxigênio na composição mássica do ar atmosférico é de aproximadamente 23%, a relação estequiométrica ar / gás combustível (Rteórica) em massa é dada pela equação 4-2. Rteórica RO 23% (4-2) Desta forma, a relação estequiométrica ar / gás combustível (Rteórica) calculada é de 15,84 kg ar / kg GC. 4.2.1 Relação ar-combustível de operação Conforme TASKINEN (2008), o levantamento das vazões de ar e de combustível no sistema de combustão da caldeira é fundamental para avaliar a condição de queima do gás na câmara. Para tanto, foram levantados dados históricos de vazão referentes a três meses de operação da caldeira (coletados a cada 1min) e calculada relação ar-combustível real de operação praticada ao longo do período analisado. Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum CEPI – PEI – UFBA 25 4.2.2 Temperatura de saída do ar pela chaminé A determinação da temperatura de saída do ar pela chaminé é fundamental para o calcular a quantidade de calor desperdiçada para aquecimento do ar em excesso na câmara de combustão. Esta temperatura foi obtida a partir dos dados de operação do equipamento, medidas através de um termoelemento localizado na chaminé. As amostras foram coletadas a cada 1h durante três meses. 4.3 AVALIAÇÃO ENERGÉTICA DO SISTEMA TÉRMICO As perdas energéticas do sistema térmico decorrem do desbalanceamento na relação ar-combustível na queima do gás. Podem ser decorrentes da falta ou do excesso de ar na câmara de combustão. 4.3.1 Quantificação das perdas termicas por falta de ar na combustão As perdas energéticas devido à combustão incompleta do gás combustível foram calculadas conforme as seguintes etapas: Cálculo da deficiência de ar nos queimadores para a vazão de combustível medida, conforme equação 4-3. QAR QAR _ teórica QAR _ medida (4-3) Sendo: ΔQAR: Deficiência de ar nos queimadores, em t/h; QAR_teórica: Vazão de ar estequiométrica, em t/h; QAR_medida: Vazão de ar medida no processo, em t/h. Cálculo da vazão mássica do gás combustível não queimado devido à combustão incompleta, conforme equação 4-4. QGC QAR Rteórica Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum (4-4) CEPI – PEI – UFBA 26 Sendo: ΔQGC: Excesso de gás combustível nos queimadores, em t/h; Rteórica: Relação ar / combustível estequiométrica; Cálculo da perda energética provocada pela queima incompleta da quantidade de gás combustível calculada, conforme equação 4-5. EGC PCI GC GC n QGC (i) t (i) (4-5) i 1 Sendo: EGC: Perda energética provocada pela queima incompleta, em Gcal; PCIGC: Poder calorífico Inferior do gás combustível, em Gcal/m³; ρGC: Densidade do gás combustível, em t/m³; Δt: Intervalo de tempo para cada valor calculado de excesso de gás combustível, em horas. Associando as equações 4-3, 4-4 e 4-5, obtem-se a equação 4-6. EGC n PCI GC (QGC _ medida (i) Rteórica QAR _ medida (i)) t (i) GC Rteórica i 1 (4-6) 4.3.2 Cálculo das perdas por excesso de ar Para o cálculo das perdas por excesso de ar, deve-se partir da equação 3-2 e usar raciocínio análogo ao desenvolvido no item 4.3.1. Assim, as perdas pelo aquecimento do excesso de ar no sistema atual podem ser calculadas pela equação 4-7. E AR _ atual c AR QAR _ medido (i) QGC _ medida (i) Rteórica TF (i) TI t (i) n i 1 Sendo: EAR_atual: Energia atualmente desperdiçada pelo excesso de, em Gcal; Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum (4-7) CEPI – PEI – UFBA 27 cAR: calor específico do ar, em Gcal/t.ºC; TF: Temperatura de saída do ar na chaminé, em ºC; TI: Temperatura de entrada do ar nos queimadores, em ºC (temperatura ambiente). 4.3.1 Perdas térmicas do sistema com controle automático de vazão O controle automático da vazão de ar para a câmara de combustão oferece a possibilidade de redução das perdas decorrentes do desbalanceamento da relação ar-combustível na queima. Conforme PINHEIRO & VALLE (1995), é necessário considerar um pequeno excesso de ar na queima para garantir a combustão completa do gás combustível. Neste estudofoi adotado um valor conservador de 20% de excesso de ar. Assim, o sistema com controle automático também não está imune de perdas térmicas decorrentes do excesso de ar na queima. A diferença é que a relação arcombustível estará sob constante monitoração e regulação pelo sistema de controle, impondo que a mesma não oscile devido a variações na carga da caldeira. Assim, a equação 4-7 continua válida para quantificação das perdas térmicas devido ao excesso de ar na queima. É necessário apenas particularizá-la, considerando a vazão de ar medida 20% maior que a vazão de ar teórica, obtendose a equação 4-8. n E AR _ proposta c AR 0,2 Rteórica QGC _ medida (i) TF (i) TI t (i) (4-8) i 1 4.4 AVALIAÇÃO DO SISTEMA ELÉTRICO A metodologia utilizada para avaliar a eficiência energética do sistema elétrico compreende a análise do consumo elétrico do motor no modo de operação atual (com damper) e com um conversor de frequência regulando a vazão. Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum CEPI – PEI – UFBA 28 4.4.1 Quantificação do consumo elétrico do motor sem conversor de frequência O consumo elétrico do motor sem conversor de frequência pode ser obtido conforme metodologia a seguir. Determinação da potência hidráulica fornecida pelo ventilador ao fluido, a partir da equação 4-9: Ph Pt Q (4-9) Sendo: Ph – Potência hidráulica fornecida pelo ventilador, em W; Pt – Pressão total, em Pa; Q – Vazão do fluido, em Nm³/s. Cálculo da potência elétrica no conjunto conversor-motor a partir da potência hidráulica Ph obtida pela equação 4-9, conforme equação 4-10. Pel Ph P m v m m (4-10) Sendo: Pel – Potência elétrica fornecida ao motor, em W; Pm – Potência mecânica no eixo do motor, em W; ηV – Rendimento do ventilador; ηm – Rendimento do motor. A partir dos valores calculados de potência elétrica, é calculada a energia consumida pelo motor utilizando a equação 4-11. n E Pel (i) t (i) i 1 Sendo: Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum (4-11) CEPI – PEI – UFBA 29 E – Energia fornecida ao motor, em kWh; Δt – Intervalo de tempo em que foi fornecida a potência P el, em horas. n – Total de faixas de operação de vazão. A partir das equações 4-9, 4-10 e 4-11, obtem-se a equação 4-12. n Eatual i 1 t (i) Q(i) Pt (i) v (i) m (i) (4-12) Sendo: Para determinar as grandezas componentes da equação 4-12 adota-se a metodologia a seguir. a. Pressão Total (Pt) A pressão total do sistema é calculada pela soma das parcelas correspondentes à pressão estática e à pressão dinâmica no sistema. Como o fluido em questão é o ar, que possui um baixo peso específico, foi considerado, para este caso, que a pressão estática é nula (Pe=0). Para o cálculo da pressão dinâmica em cada faixa Q de vazão foram utilizadas as leis de semelhança, tomando como referência o ponto nominal, conforme equação 4-13. Pd ( Pn Pe ) 2 .Q Qn2 (4-13) Sendo: Pn: Pressão total do sistema no ponto nominal de operação, em Pa; Qn: Vazão nominal do sistema, em Nm³/h. b. Rendimento do Ventilador (ηv) O rendimento do ventilador é obtido diretamente das curvas fornecidas pelo fabricante Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum CEPI – PEI – UFBA 30 c. Rendimento do motor (ηm) O rendimento do motor é função do carregamento do mesmo. Este carregamento é calculado conforme equação 4-14. Pm Pnom (4-14) Sendo: – Carregamento do motor, em %; Pm – Potência mecânica no eixo do motor, em W; Pnom – Potência nominal do motor, em W; Segundo GARCIA (2003), a dependência do rendimento com o carregamento do motor pode ser aproximada por uma curva do tipo exponencial, sendo esta uma excelente aproximação. Assim, o rendimento é calculado a partir da equação 4-15. m A (1 e a ) (4-15) Sendo: A 2 50 2 50 100 a ln 1 100 A Onde: η50 – Rendimento do motor a 50% da carga; η100 – Rendimento do motor a 100% da carga (nominal). 4.4.2 Identificação do consumo elétrico do motor com conversor de frequência O consumo de energia elétrica no motor operando com conversor de frquência pode ser calculado conforme equação 4-16. Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum CEPI – PEI – UFBA 31 t (i) Q(i) Pt (i) i 1 b (i ) m (i ) inv n Enovo (4-16) Sendo: ηinv – Rendimento do variador de velocidade. Conforme pode ser observado, a equação 4-16 é bastante semelhante à equação 4-12. A única diferença entre elas é que o sistema com conversor de frequência deve considerar o rendimento do variador de velocidade. Entretanto, a metodologia de cálculo de algumas grandezas presentes nas duas equações é diferente. a. Rendimento do Ventilador (ηv) Para o sistema com conversor de frequência, o rendimento do ventilador deve ser calculado a partir da aplicação das Leis de Semelhança para (pontos homólogos). Desta forma, como a curva do sistema utilizada possui pressão estática igual a zero, a mesma sobrepõe-se a uma curva de isorendimento, o que implica no fato de que o rendimento do ventilador nos diferentes pontos de operação seja constante. Assim, para todos os pontos foi adotado o rendimento do ventilador igual ao rendimento no ponto de operação nominal, que é igual a 81,9%. b. Rendimento do variador de velocidade (ηinv) O rendimento do variador de velocidade utilizado nos cálculos considerou a média de valores típicos dos principais fabricantes do mercado (SIEMENS, ROCKWELL, ABB): 97%. Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum CEPI – PEI – UFBA 32 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO A partir da aplicação da metodologia apresentada no capítulo 4, foram encontrados os resultados descritos a seguir. 5.1 TRATAMENTO DOS DADOS COLETADOS 5.1.1 Levantamento da relação ar-combustível da caldeira Utilizando a relação estequiométrica como referência, obteve-se o perfil apresentado na Figura 5.1 para a relação ar-combustível real de operação da caldeira no período analisado. Figura 5.1 – Variação da relação ar-combustível no período analisado. Este resultado indica que a caldeira opera sem controle rígido da relação arcombustível, levando a queima a ocorrer em alguns momentos com excesso de ar na câmara de combustão, e em outros com falta de ar. Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum CEPI – PEI – UFBA 33 5.1.1 Levantamento da temperatura de saída do ar A temperatura de saída do ar na chaminé foi obtida por levantamento do histórico de medições, utilizando valores médios horários de temperatura, em ºC. Para efeito de simplificação dos cálculos, foi tomado o valor médio de temperatura de saída, Ts = 250,3 ºC. A Figura 5.3 apresenta a representatividade do valor utilizado nos cálculos. Figura 5.2 – Perfil de temperatura na saída do ar. 5.2 AVALIAÇÃO ENERGÉTICA DO SISTEMA 5.2.1 Avaliação energética das perdas térmicas do sistema atual Para determinação das perdas térmicas atuais, é necessário analisar separadamente os períodos de operação em que a caldeira operou com excesso e ar dos períodos em que a mesma operou com excesso de gás na câmara. Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum CEPI – PEI – UFBA 34 a. Análise do período de operação com excesso de ar Os dados de vazão de ar coletados referentes ao período observado foram organizados em faixas de vazão, conforme Tabela 5.1. Para cada faixa de vazão, foi considerada a média do intervalo o para cálculo da perda energética do sistema em cada faixa de operação no período indicado. A perda energética anual foi calculada a partir de uma extrapolação linear das perdas trimestrais calculadas. Tabela 5.1 – Perda energética anual devido ao aquecimento do excesso de ar. EXCESSO DE AR % DO TEMPO PERDA ENERGÉTICA (T/H) (%) (GCAL/ANO) 0 ~ 10 8,6% 201 10 ~ 20 3,8% 177 20 ~ 30 4,6% 430 30 ~ 40 4,5% 631 40 ~ 50 8,6% 1.620 50 ~ 60 6,7% 1.578 60 ~ 70 5,7% 1.611 70 ~ 80 6,0% 1.974 80 ~ 90 2,9% 1.092 90 ~ 100 3,6% 1.531 Acima de 100 10,0% 4.700 TOTAL 65,0% 15.545 É importante ressaltar que não há uma correlação entre o percentual de excesso de ar na combustão com o valor absoluto do excesso de ar (em t/h), pois o excesso de ar pode ser de 30t/h, e isso representar apenas 2% de excesso de ar. De igual modo, é possível que a caldeira opere com 2t/h de excesso de ar, mas esse valor represente 30% de excesso de ar. Assim, da Tabela 5.1 não é posível concluir qual a perda energética incorrida pela operação do sistema em um certo percentual de excesso de ar. Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum CEPI – PEI – UFBA 35 b. Análise do período de operação com excesso de gás combustível Assim como no caso anterior, os dados coletados referentes a este período também foram organizados em faixas de vazão de ar, conforme Tabela 5.2. Para cada faixa de valores, foi considerado o extremo inferior do mesmo para cálculo da perda energética do sistema em cada faixa de operação no período indicado. A perda energética anual foi calculada a partir de uma extrapolação linear das perdas trimestrais calculadas. Tabela 5.2 – Perda energética anual devido a queima incompleta do gás combustível. FALTA DE AR % DO TEMPO PERDA ENERGÉTICA (T/H) (%) (GCAL/ANO) 0 ~ 10 2,9% 2.053 10 ~ 20 8,7% 4.853 20 ~ 30 8,5% 10.224 30 ~ 40 8,1% 15.766 Acima de 40 6,8% 7.007 TOTAL 35,0% 39.903 5.2.2 Avaliação energética das perdas térmicas do sistema proposto Com a utilização do variador de velocidade na regulação da vazão de ar, é possível estabelecer um controle automático confiável, regulando, assim, a relação ar-combustível na queima. Considerando o exposto no item 4.3, (excesso de ar percentual constante e igual a 20%), foi obtida a perda térmica apresentada na Tabela 5.3. Tabela 5.3 – Perdas térmicas com variador de velocidade. EXCESSO DE AR % DO TEMPO PERDA ENERGÉTICA (T/H) (%) (GCAL) 0 ~ 10 0,00% 0,00 10 ~ 15 21,0% 1.492 15 ~ 20 20,5% 1.949 20 ~ 25 31,5% 3.728 Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum CEPI – PEI – UFBA 36 25 ~ 30 27,0% 3.830 TOTAL 100% 10.999 5.2.3 Avaliação energética do consumo de energia elétrica do motor A análise energética a partir do consumo elétrico do motor foi efetuada a partir dos dados de vazão de ar fornecida pelo ventilador, conforme metodologia exposta no capítulo 4. A Figura 5.1 apresenta os dados de vazão coletados para o sistema atual, agrupados por faixas de valores. Figure 5.1 – Perfil de vazão do sistema atual. O consumo elétrico do motor no sistema atual calculado pela metodologia descrita no capítulo 4 está apresentado na Tabela 5.4. Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum CEPI – PEI – UFBA 37 Tabela 5.4 – Consumo elétrico do motor no sistema atual. Q (%) Q (Nm³/s) Tempo (%) Tempo (h/ano) Pt Pot. H (kW) Pot. V (kW) Pot. M (kW) Consumo (kWh) 0% 0 0,00% 0 10.400,0 0,0 88,00 131,2 0 5% 3,6 0,00% 0 10.595,9 38,1 143,04 173,3 0 10% 7,2 0,00% 0 10.752,3 77,4 195,18 217,7 0 15% 20% 10,8 14,4 0,00% 0,29% 0 25 10.869,4 10.947,1 117,4 157,6 244,40 290,71 262,7 307,0 0 7.688 25% 30% 18 21,6 3,43% 15,48% 300 1.356 10.985,4 10.984,2 197,7 237,3 334,11 374,60 349,7 390,2 105.081 529.301 35% 40% 25,2 28,8 18,15% 11,72% 1.590 1.027 10.943,7 10.863,8 275,8 312,9 412,17 446,84 428,3 463,6 680.995 475.986 45% 50% 32,4 36 16,67% 16,67% 1.461 1.461 10.744,5 10.585,8 348,1 381,1 478,60 507,44 496,2 525,8 724.729 768.015 55% 60% 39,6 43,2 9,86% 4,34% 864 380 10.387,6 10.150,1 411,4 438,5 533,38 556,40 552,5 576,2 477.289 218.836 65% 70% 46,8 50,4 1,14% 1,00% 100 88 9.873,2 9.556,9 462,1 481,7 576,52 593,72 597,0 614,7 59.793 53.876 75% 54 0,71% 63 9.201,2 496,9 608,01 629,5 39.407 80% 57,6 0,14% 13 8.806,1 507,2 619,39 641,2 8.029 85% 61,2 0,10% 8 8.371,6 512,3 627,86 650,0 5.425 90% 64,8 0,19% 17 7.897,7 511,8 633,42 655,7 10.947 95% 68,4 0,10% 8 7.384,4 505,1 636,07 658,5 5.496 0 6.831,7 491,9 635,80 100% TOTAL 72 - 0,00% 100% 8.760 - - - 658,2 - 0 4.170.892 O perfil de vazão para o sistema novo proposto é diferente do perfil do sistema atual, pois com a possibilidade de regulação da vazão de ar a partir do monitoramento da relação ar-combustível modifica o comportamento de tal vazão. O novo perfil é apresentado na Figura 5.4 e o resultado calculado indicado na Tabela 5.5. Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum CEPI – PEI – UFBA 38 Figura 5.3 – Perfil de vazão do sistema novo. Tabela 5.5 – Consumo elétrico do motor no sistema novo. Q (%) Q (Nm³/s) Tempo (%) Tempo (h/ano) Pot. H (kW) Pt Pot. V (kW) Pot. M (kW) Consumo (kWh) 0% 0 0,00% 0 0,0 0,0 0,00 0,0 0 5% 3,6 0,00% 0 17,1 0,1 0,08 76,9 0 10% 7,2 0,00% 0 68,4 0,5 0,61 77,2 0 15% 20% 10,8 14,4 0,00% 0,29% 0 25 153,9 273,6 1,7 3,9 2,07 4,90 77,9 79,4 0 2.051 25% 30% 18 21,6 3,43% 15,48% 300 1.356 427,5 615,6 7,7 13,3 9,57 16,54 81,9 85,8 25.382 119.907 35% 40% 25,2 28,8 18,15% 11,72% 1.590 1.027 837,9 1.094,4 21,1 31,5 26,26 39,20 91,3 98,9 149.607 104.719 45% 50% 32,4 36 16,67% 16,67% 1.461 1.461 1.385,1 1.710,0 44,9 61,6 55,82 76,57 109,3 123,2 164.661 185.509 55% 60% 39,6 43,2 9,86% 4,34% 864 380 2.069,1 2.462,4 81,9 106,4 101,91 132,31 141,3 164,7 125.857 64.475 65% 70% 46,8 50,4 1,14% 1,00% 100 88 2.889,9 3.351,6 135,2 168,9 168,22 210,10 194,3 231,1 20.062 20.882 75% 54 0,71% 63 3.847,5 207,8 258,41 276,0 17.811 80% 57,6 0,14% 13 4.377,6 252,1 313,62 329,4 4.252 85% 61,2 0,10% 8 4.941,9 302,4 376,17 391,8 3.372 90% 64,8 0,19% 17 5.540,4 359,0 446,54 463,3 7.974 95% 68,4 0,10% 8 6.173,1 422,2 525,17 544,0 4.681 100% 72 0,00% 0 6.840,0 492,5 612,54 634,2 0 TOTAL - 100% 8.760 - - - - Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum 1.021.199 CEPI – PEI – UFBA 39 5.2.4 Sumário dos ganhos energéticos a serem obtidos A Tabela 5.6 apresenta um sumário dos ganhos energéticos esperados com a utilização de conversor de frequência no sistema de combustão da caldeira estudada. Tabela 5.6 – Sumário dos ganhos energéticos. GANHO ENERGÉTICO GANHO ENERGÉTICO (MWH) (%) Térmico 51.695 80% Elétrico 3.150 75% TOTAL 54.845 79,8% SISTEMA 5.2.5 Análise da redução de emissão de CO2 equivalente O ganho energético a ser obtido pela implantação da solução proposta está diretamente atrelado à redução na emissão de CO2 equivalente para a atmosfera. Existem várias tabelas de conversão que associam as diversas fontes de energia a quantidade de CO2 equivalente. Este trabalho utiliza os valores abaixo: 1 kWh de eletricidade = 0,54522 kg CO2 equivalente 1 kWh de gás natural = 0,18523 kg CO2 equivalente Para os valores considerados, obtém-se a expectativa de redução de emissão de CO2 equivalente apresentada na Tabela 5.7. Tabela 5.7 – Redução de CO2 equivalente. GANHO ENERGÉTICO REDUÇÃO DE CO2 (MWH) (TON) Térmico 51.695 9.575 Elétrico 3.150 1.717 TOTAL 54.845 11.293 SISTEMA Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum CEPI – PEI – UFBA 40 5.2.6 Discussão dos resultados Os resultados apresentados no item anterior são muito significativos do ponto de vista energético. Porém, conforme apresentado no capítulo 3, alguns cuidados devem ser tomados para instalação de conversores, principalmente quando os mesmos tem grandes potências. Conforme resutados da Tabela 5.5, é necessário um conversor de 700 kVA para implantação da solução apresentada. Para conversores deste porte deve ser requerido, no mínimo, uma THD (Total harmonic distortion) de 5%, conforme recomendado na IEEE-519. Isto significa que seria necessário um conversor de frequência de pelo menos 18 pulsos. Além disso, é necessário avaliar o motor existente quanto à capacidade do mesmo suportar os estresses mecânicos e elétricos impostos pela operação com conversor de frequência, conforme item 3.4.1. De igual forma, devem ser avaliados os cabos que alimentam eletricamente o motor para se certificar de que os mesmos são adequados para suportar esforços elétricos adicionais durante a operação. Conforme Figura 5.4, a vazão do sistema apresenta grandes variações, podendo chegar a 20% do valor nominal de operação. Conforme leis de semelhança, a rotação varia linearmente com a vazão. Isto indica que para 20% de vazão, a rotação também chegaria a 20% da rotação nominal. Entretanto, o funcionamento de motores em rotações muito baixas pode ocasionar problemas de aquecimento dos mesmos, causando elevação de temperatura e podendo comprometer o isolamento dos seus enrolamentos internos. Deste modo, o funcionamento do sistema em rotações muito baixas deve ser avaliado e deve estar correlacionado com o tipo de motor a ser utilizado. Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum CEPI – PEI – UFBA 41 6 CONCLUSÕES Este trabalho evidenciou que sistemas de combustão de caldeiras operados com regulação manual são ineficientes, principalmente quando a carga da caldeira possui um perfil temporal altamente variável, como a caldeira estudada. Além de ineficiente, a falta de cotrole adequado sobre a relação ar-combustível na câmara de combustão deve ser observada do ponto de vista de segurança (das pessoas e das instalações industriais). Conforme observado no item 5.1.1, a caldeira operou durante uma parte do período avaliado com excesso de gás combustível na câmara de combustão, o que indica que houve liberação deste excesso de gás não queimado pela chaminé. Neste trabalho foi apresentado que o aumento da eficiência do sistema estudado pode ser obtido pelo método de atuação na regulação de vazão, substituindo dampers (que introduzem perda de carga no sistema) por conversores de frequência, conforme metodologia apresentada no capítulo 4. Conforme resultados explicitados no capítulo 5, a implantação de conversor de frequência no ventilador poderá representar uma redução de cerca de 55.000 MWh no consumo energético atual da caldeira, o que representaria uma redução de 80% do consumo atual. Este valor pode ser apresentado em termos de redução de emissões, sendo 11.300 toneladas de CO2 a quantidade equivalente de energia economizada. Embora a implantação de conversor de frequência seja altamente desejável do ponto de vista energético, uma vez que é uma solução ecoeficiente, é necessário avaliar economicamente a implantação, pois o custo do conversor de frequência é bastante variável a depender dos recursos desejados para o mesmo.Conforme apresentado no capítulo 3, alguns cuidados devem ser tomados na instalação do mesmo, devendo ser ralizada uma análise do impacto que o mesmo pode ter na rede elétrica industrial. Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum CEPI – PEI – UFBA 42 7 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS Visando o aprofundamento da análise iniciada neste trabalho, propõe-se a realização dos seguintes estudos futuros: Estudo de viabilidade econômica da solução apresentada a partir dos ganhos energéticos obtidos e dos investimentos necessários preliminarmente apontados no item 5.2.6; Analisar as restrições de operação relatadas no item 5.2.6, focando no problema da limitação da rotação do ventilador e do motor; Estudar os impactos, do ponto de vista de segurança, da operação da caldeira com excesso de gás combustível na câmara de combustão e consequente liberação deste para a atmosfera; Estudar os incentivos decorrentes da redução de emissão de CO 2 mediante observância da Lei do Bem. Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum CEPI – PEI – UFBA 43 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AQUINO, R. R. B. et al. Eficientização Energética em Métodos de Controle de Vazão. 2008. BEGA, Egídio Alberto. Instrumentação aplicada ao controle de caldeiras. Editora Interciência. 3ª edição. CARBON TRUST. Conversion Factors – Energy and carbon conversions. 2010. Disponível em http://www.carbontrust.co.uk/publications/pages/publicationdetail.aspx?id=CTL113. Acessado em 22 de maio de 2011. DUKELOW, Sam G. The Control of Boilers. 2a Ed. 1991. DUTRA, João B. de A. Eficiência energética no controle da vazão em sistemas de bombeamento de água: uso de válvula e controle de velocidade. Paraíba do Sul: 2005. GARCIA, Agenor Gomes Pinto. Impacto da Lei de Eficiência Energética para Motores elétricos no potencial de Conservação de Energia na Indústria. Rio de Janeiro, 2003. GUIMARÃES, Felipe de Azevedo et al. Controle PID Auto-Ajustável em ventiladores industriais visando a eficiência energética. Vitória: 2007. JUNIOR, Percy E. G. Estudo das tecnologias e aplicações dos inversores de frequência de média tensão. 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Acesso em 22 de maio de 2011. WULFINGHOFF, Donald. Energy Efficiency Manual. 1999. Eficiência energética em sistema de combustão de caldeira – Anderson Salum UFBA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA INDUSTRIAL - PEI Rua Aristides Novis, 02, 6º andar, Federação, Salvador BA CEP: 40.210-630 Telefone: (71) 3283-9800 E-mail: [email protected] Home page: http://www.pei.ufba.br