SANTIAGO, CHILE AB-2121 CII/AB-768 19 março 2001 Original: espanhol DISCURSO DO GOVERNADOR SUPLENTE INTERINO PELA ARGENTINA NA SEGUNDA SESSÃO PLENÁRIA Julio Dreizzen 1. Tenho a grata honra de dirigir-me a esta Assembléia do Banco Interamericano de Desenvolvimento e da Corporação e desejo saudar todos os Senhores Governadores, autoridades e participantes deste importante evento para a vida da instituição da qual fazemos parte. Incluo também nesta saudação inicial o especial agradecimento ao Governo do Chile, a seu Presidente, a suas autoridades e a seu querido povo. Visitar como o fazemos hoje esta nobre cidade de Santiago oferece-nos a agradável oportunidade de desfrutar a visita com a proximidade que oferecem os amigos de sempre. 2. Vamos ao nosso assunto. Transcorrido quase o primeiro trimestre do ano, os últimos prognósticos do Fundo Monetário Internacional indicam um crescimento da economia mundial para 2001 próximo a 3,5%. Este número indica um panorama favorável, mas que implica um declínio com relação ao registro de 4,75% com o qual encerrou o ano de 2000. A oportuna redução das taxas de juros nos Estados Unidos permite-nos esperar um moderado declínio da produção nesse país, mas ainda persistem dificuldades no balanço externo das maiores economias industriais devido à permanência de preços elevados do petróleo, ao mesmo tempo em que parece ter-se debilitado o processo de recuperação da economia japonesa. 3. Neste contexto internacional, observamos que a América Latina e o Caribe apresentam condições para crescer cerca de 4%. Essa projeção está sujeita a várias premissas: a aterrissagem suave da economia americana, um leve declínio dos preços dos produtos exportados pela região, a confiança dos investidores, o acesso aos mercados de crédito e, como é obvio, a aplicação, por parte dos países da região, de políticas macroeconômicas adequadas com resultados fiscais que facilitem o crescimento do investimento privado e a continuação de reformas estruturais, avançando num caminho onde a região já percorreu uma apreciável distância. AB-2121 CII/AB-768 Página 2 de 5 4. A situação econômica mundial e regional comentada configura um panorama alentador no qual se insere a Argentina. Nossas políticas destinam-se a criar as condições necessárias para que a produção e o emprego cresçam de maneira sustentada. Procuramos também elevar a poupança nacional e o investimento e trabalharemos com o melhor de nossas forças para modernizar o Estado e aumentar a competitividade da economia argentina. 5. Nos meses já transcorridos de 2000, nosso país não pôde livrar-se da prolongada recessão que já dura mais de 30 meses. Diversos fatores exerceram um impacto negativo. Na ordem externa, cumpre destacar o aumento da taxa de juros nos Estados Unidos no primeiro trimestre de 2000 e as dificuldades de financiamento que, de maneira muito semelhante, enfrentaram os mercados emergentes. No plano interno, a administração do Presidente De la Rúa, tão logo se instalou há pouco mais de um ano, teve de implementar um pacote inicial de políticas, especialmente no tocante ao orçamento, às finanças provinciais e à agenda de reformas que eram necessárias para a situação econômica de então. As medidas aplicadas foram efetivas para corrigir o curso com relação à tendência anterior, mas não provocaram a reação esperada por parte dos investidores e do consumo em geral. 6. Apesar das dificuldades, a economia argentina mostrou-se flexível, com redução dos custos internos, queda dos preços ao consumidor e um aumento moderado dos índices atacadistas devido ao impacto da recuperação dos bens sujeitos ao comércio internacional. Como conseqüência desta maior competitividade, as exportações de manufaturas foram 12% superiores às registradas em 1999. E o saldo comercial foi positivo em mais de US$ 1,1 bilhão de dólares, revertendo assim não só o vermelho do ano anterior, mas permitindo compensar o aumento da conta de juros da dívida externa. A situação fiscal manteve-se sob controle. Embora não se tenha podido reduzir o déficit fiscal ao nível esperado pelo fato de os recursos terem sido inferiores aos previstos e terem aumentado os juros da dívida pública, o desequilíbrio de 2,4% do PBI foi semelhante ao de 1999. Cumpre ressaltar que em 2000 os gastos primários do governo nacional foram reduzidos em 1,5% e aumentou o superávit básico no equivalente a meio ponto percentual do PBI. Igualmente, as jurisdições provinciais, com diferenças acentuadas entre si, reduziram seu déficit em 0,4% do PBI e seus gastos primários foram 3,6% inferiores aos de 1999. Atribui-se esta situação às políticas promovidas pelo governo nacional com relação às províncias e à responsabilidade manifestada por um bom número de governadores que atuaram conforme o requerido pelas circunstâncias difíceis decorrentes da recessão. 7. Necessitamos recuperar de forma rápida e sustentada a confiança interna e externa para pôr em andamento o crescimento da economia argentina. Precisamos continuar a aumentar nossa competitividade e a produtividade agregada da economia e, por este caminho, conseguir a tão ansiada criação de empregos. Desejo deixar clara a nossa convicção de que este curso geral de ação deve reunir três elementos centrais: preservação do regime de conversibilidade, aplicação sustentada de políticas destinadas a consolidar a solvência fiscal a curto e médio prazo e ampliação e aceleração de reformas AB-2121 CII/AB-768 Página 3 de 5 estruturais destinadas a modernizar o Estado, a desregulamentação apropriada de vastos setores da atividade produtiva e a abertura da economia. 8. As medidas anunciadas na sexta-feira passada pelo Ministro da Economia apontam aos objetivos assinalados e representam um aprofundamento das políticas desta Administração. Não alteramos nosso diagnóstico nem tampouco nossas convicções sobre as soluções estratégicas que estamos aplicando. Este programa insere-se no âmbito dos acordos que a Argentina assinou com o Fundo Monetário Internacional em janeiro deste ano. A propósito, desejo também tornar público nosso agradecimento ao Banco e a seu Presidente pela participação da instituição nesse esquema. Desejo também estender o nosso agradecimento aos países que têm prestado seu apoio por meio dos organismos multilaterais. De maneira explícita, desejamos fazer menção ao apoio oferecido pela Espanha neste programa. A presença do Banco na assim denominada blindagem contribui para a realização de reformas que são essenciais para o cumprimento das metas previstas. 9. É oportuno dirigir agora nossa reflexão para os aspectos institucionais que são basicamente a razão primordial desta Assembléia de Governadores. Em primeiro lugar, uma vez mais comprovamos outro ano de trabalho fecundo do Banco na América Latina e no Caribe. A presença atenta e a intervenção perante os desafios de nossas realidades têm sido uma nota característica do organismo. Não há dúvidas de que este é o resultado da liderança de seu Presidente, Enrique Iglesias, e de um trabalho harmônico da Diretoria e da Administração. Estamos certos de que esta dinâmica institucional continuará a bom ritmo. 10. Desejamos destacar, a seguir, alguns aspectos particulares que, somados à opinião dos outros Governadores aqui presentes, ajudarão a orientar o curso cotidiano de trabalho de nossa instituição. Em primeiro lugar, consideramos de suma importância a dimensão regional do Banco, onde fique assegurada a pertinência de todos e de cada um dos países. Imaginamos um Banco ativo no processo de integração da América Latina e do Caribe e não concebemos como poderia levar-se a cabo esta tarefa se abandonarmos o caráter inclusivo da instituição desde sua criação. Sem usar ambigüidades, opinamos que o conceito de graduação nos afasta de nosso objetivo. 11. Em segundo lugar, o que acabamos de dizer não significa esquecer que o Banco enfrenta o desafio de trabalhar com situações nacionais que diferem acentuadamente. Neste sentido, opinamos que a Estratégia Institucional é um instrumento apto para ordenar a gestão em torno de eixos com projeções futuras. Mas esta estratégia deve integrar-se de maneira prática e proveitosa na tarefa diária e concretizar-se no diálogo fluido que deve primar na relação do Banco com seus países membros. A estratégia empresarial deve gerar resultados a curto e médio prazo e, sem dúvida, deve permitir que os países obtenham o maior proveito no uso dos produtos financeiros e não-financeiros da instituição. 12. Em terceiro lugar, a nosso ver, é chegada a hora de pensar com criatividade na aplicação de nossos instrumentos de empréstimo. Devemos reconhecer com franqueza AB-2121 CII/AB-768 Página 4 de 5 que os projetos de investimento tradicionais, principal veículo de financiamento desde sua criação, cumpriram sua missão. Sua vigência está hoje limitada a situações que não têm a generalidade do passado. Surgiram novas necessidades que requerem novos enfoques. Se desejarmos um Banco relevante, apoiado no compromisso ativo de seus sócios, devemos fazer uma revisão serena da situação. As políticas de reforma econômica e social que, com matizes, hoje são nota comum na região requerem novos produtos financeiros. O Banco, talvez agora com mais vigor do que no passado, necessita acompanhar programas e políticas de reforma destinados a criar melhores condições de crescimento econômico e desenvolvimento social. Nesta linha, a meu ver, são várias as iniciativas que deveriam ser motivo de nosso trabalho. 13. Desde sua criação nos anos noventa, os empréstimos de reforma de política têm concentrado sua mecânica nos requisitos prévios para essas reformas. Cremos que chegou o momento de pensar em associar os recursos financeiros a resultados específicos de certas políticas e programas. Pode também ser útil formular mecanismos de intervenção que permitam canalizar o apoio do Banco de maneira preventiva frente a situações de crise, preservando nossa identidade com o compromisso da realidade social da região. De maneira semelhante, parece-nos que podemos ser mais criativos na forma pela qual o financiamento multilateral pode apoiar a formação e a operação de redes de proteção social. Comprovamos com satisfação que no ano passado o Banco aplicou novas modalidades operacionais, como os empréstimos por etapas e mecanismos de modernização dos setores. No entanto, assinalamos também que o programa piloto de garantias ainda não conseguiu concretizar operações, o que impõe um necessário toque de atenção sobre a estrutura do mesmo e sugere a conveniência de sua revisão. 14. Uma extensão lógica destas reflexões leva-nos a sugerir que o guichê do setor privado do Banco, ante uma demanda crescente de novos projetos de infra-estrutura, deve ampliar suas operações adotando as providências óbvias em matéria de riscos e de organização dessa área de operações. 15. Em suma, o Banco não pode nem deve substituir o trabalho dos mercados financeiros. Tampouco desconhecemos as complexidades do que passou a chamar-se a nova arquitetura do sistema financeiro internacional no contexto de uma economia globalizada. Observamos simplesmente que o Banco tem uma função singular, com valor agregado próprio e decorrente dos limites estabelecidos em seu Convênio Constitutivo. Estas idéias ou outras que possam ser identificadas e que desejamos analisar não implicam abandonar os princípios que inspiraram o Oitavo Aumento de Capital. É necessária uma boa atualização de nossas políticas de empréstimo decididas há muitos anos para adaptá-las às necessidades atuais. 16. Como todos sabem, uma tarefa não menor que vem enfrentando o Banco desde a última Assembléia é a procura de recursos financeiros e de sua distribuição entre os membros, com destino à Iniciativa de Redução da Dívida dos Países Pobres Muito Endividados. As resoluções que adotou esta Assembléia no ano passado estão próximas a gerar a solução almejada. Como país membro do Grupo Latino-Americano e do Caribe – AB-2121 CII/AB-768 Página 5 de 5 GRULAC – estamos satisfeitos por ter decidido as contribuições do mesmo. No entanto, desejamos destacar que a participação do Banco nas etapas ainda restantes é imprescindível para uma solução integral que incorpore a situação dos organismos subregionais. Por outro lado, devemos tirar lições para o futuro. Dada a natureza regional de nossa instituição, estas iniciativas têm impactos significativos sobre a sua carteira e impõem ao Banco uma função para a qual não está adequadamente equipado. A nosso ver, um objetivo como o da Iniciativa deve apelar a diferentes instrumentos que o Banco não está em condições de oferecer. 17. Quanto à Corporação Interamericana de Investimentos, temos a satisfação de saber que já estamos em companhia de novos sócios. O aumento de capital com o qual estamos comprometidos será uma ocasião propícia para relançar a Corporação a uma nova escala de operações, a qual deverá concentrar-se vigorosamente em sua função de explorar o potencial produtivo das pequenas e médias empresas da região. Esta expansão de atividades impõe, não obstante, a necessidade de uma revisão da atuação e a preparação de programas e recursos organizacionais internos para os novos tempos. Adiantamos a nossa disposição de prestar apoio a iniciativas que estejam orientadas por este propósito. Da mesma maneira, consideramos oportuna a ampliação das atividades do outro instrumento de apoio a iniciativas inovadoras no âmbito privado: o Fumin. Observamos, porém, que aqui também se impõe um necessário equilíbrio de experiências para que este Fundo consiga captar e transformar seu apoio a projetos específicos como ferramenta para a geração de políticas e instituições de alcance horizontal. 18. Encerrando estas palavras, a mensagem que desejamos transmitir a esta Assembléia de Governadores é o compromisso decidido da Argentina com os objetivos e a ação do Banco Interamericano de Desenvolvimento. Temos a aspiração de contribuir para multiplicar uma presença já relevante na vida de nossos países, mas cuja vigência depende de ações proporcionais às realidades que enfrentamos. Neste sentido, devemos trabalhar para que o Banco incorpore instrumentos e serviços capazes de atender às demandas próprias desta tarefa complexa mas atraente: a modernização e a transformação da América Latina e do Caribe.