04/05/2009 CORREIO BRAZILIENSE Economia 1/3 Brasil S/A Vale quanto pesa Colocar à prova a qualidade do serviço público não está entre as tradições nacionais, mas começa a tomar forma no Brasil Por Luciano Pires [email protected] Com atraso, a administração pública brasileira tenta se adaptar aos novos tempos. Inspirada em boas práticas que deram certo na iniciativa privada, a máquina (leia-se a federal) começa a introduzir em seu dia a dia ferramentas de gestão que valorizam os resultados individuais e institucionais, premiam a meritocracia e o profissionalismo. Depois de muitas tentativas de reforma do Estado, avançar agora rumo à governança plena prova que prestar serviços de qualidade tem de ser encarado como algo elementar e não como um mero artigo de luxo entregue pelo funcionalismo ao contribuinte. Mais do que em outras épocas, está em jogo a capacidade do servidor de ir além, de inovar, de aprender a competir e (por que não?) de ser recompensado no fim do mês por tudo o que alcançou. Ao mesmo tempo, quem ocupa cargos de chefia têm a chance histórica e o dever moral de ajudar a enterrar o paternalismo arraigado às repartições desde o Brasil Colônia. Fazer vistas grossas à incompetência custa caro à nação. E não só. Serve de elixir ao falso senso comum de que, por maiores que sejam os gestos, o sistema viciado e personalista sempre vence. A bola está com os chefes, subordinados, mas também com o próprio Estado. “É preciso maximizar a eficiência e otimizar os custos. Não só no setor público. Em qualquer atividade. O caminho para o desenvolvimento está no redesenho dos processos”, diz o empresário Jorge Gerdau, fundador do Movimento Brasil Competitivo (MBC) e um entusiasta nato que acredita que nem tudo está perdido. Trocando em miúdos, o que Gerdau propõe é fazer mais (ou o mesmo) com menos e bem melhor. Calma, sindicatos! Antes de atirarem as pedras de sempre — tão desgastadas pelo tempo e comprometidas com os vícios do palanquismo — vale a pena conhecer exemplos que estão dando certo. Vide o Jornais & Revistas – matéria retirada da Internet www.videoclipping.com.br Segue 04/05/2009 CORREIO BRAZILIENSE Economia 2/3 Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro). Lá, o funcionário vale quanto pesa. E ninguém tem vergonha ou medo de se olhar no espelho. Ao contrário. Algo inédito no país, a autarquia tem um contrato de gestão assinado com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. O termo vem sendo renovado ano após ano e garante ao órgão autonomia administrativa e gerencial. A contrapartida são as metas de desempenho. “Ninguém gosta de ver o colega do lado fazendo nada, recebendo seu salário e manchando o nome do funcionalismo como um todo”, resume com muita propriedade o presidente do Inmetro, professor João Jornada. Embrião A fórmula é simples, mas está sustentada no poderoso tripé da efetividade-eficácia-eficiência. A avaliação de desempenho dos servidores do Inmetro começa com a apresentação de planos de trabalho individuais, montados pelo funcionário e discutidos/apresentados às chefias. Nesse documento, o profissional traça, de forma enxuta, seus objetivos e mostra como pretende cumpri-los. “É o planejamento, estúpido!”, diria o lendário marqueteiro do ex-presidente americano Bill Clinton, James Carville. Se o plano de trabalho é audacioso demais, o funcionário é cobrado pelo chefe. Se, em vez disso, a proposta é “meiaboca”, toma um puxão de orelhas. Um Comitê de Avaliação de Desempenho monitora tudo de perto, inclusive o andamento dos projetos. E aqui cabe um parênteses. Esse comitê é formado, em sua maioria, por especialistas de fora da organização, ou seja: a tão temida avaliação externa do servidor público já ocorre. E o mundo não acabou por causa disso, diga-se de passagem! Instância julgadora, o comitê — formado por mais ou menos 20 representantes — soluciona os impasses, dá veredictos. O plano recebe uma nota que, ao final das contas, indicará o máximo ou o mínimo a ser acrescido na parcela variável da remuneração do servidor. A proposta é acompanhada periodicamente e se o servidor se sentir injustiçado por ter recebido nota baixa tem total direito de recorrer ao comitê. “Temos casos de ganhos de 100% no salário”, diz o presidente do Inmetro, que emprega cerca de 1,5 mil servidores. Jornais & Revistas – matéria retirada da Internet www.videoclipping.com.br Segue 04/05/2009 CORREIO BRAZILIENSE Economia 3/3 A ideia tem funcionado tão bem que será expandida para outros órgãos da administração pública direta. Ao longo de 2009, áreas estratégicas da União vão copiar o que foi feito pelo Inmetro. O secretário de gestão do Ministério do Planejamento, Marcelo Viana, antecipa que há instituições maduras prontas para dar este salto. “Queremos incentivar a introdução de mecanismos sofisticados como esse em áreas de Ciência e Tecnologia, em órgãos vinculados ao setor produtivo e ao comércio exterior”, justifica. Viana acredita que o momento não poderia ser melhor, já que 2009 é considerado o ano nacional da gestão. “O Inmetro é o nosso projeto piloto, está na vanguarda. Tenho certeza de que com isso vamos conseguir tocar processos importantes”, completa. Atrelar parte do contracheque à performance de um profissional não é crime. As ferramentas de avaliação de desempenho no setor público muito menos são filhotes do neoliberalismo. O velho Departamento Administrativo do Serviço Público (Dasp), criado em 1938, deu os primeiros passos para impedir que a imagem do paletó na cadeira denegrisse o servidor. A história mostra que a tentativa fracassou. Em nome da burocracia emergente — superqualificada e comprometida com o país —, está na hora de recuperar o tempo perdido. Jornais & Revistas – matéria retirada da Internet www.videoclipping.com.br