Prédica sobre Filipenses 3.17-4.1 Irmãos, e eu acrescento irmãs, sede imitadores meus, e observai os que andam segundo o modelo que tendes em nós. Pois muitos andam entre nós, dos quais repetidas vezes eu vos dizia e agora vos digo até chorando, mas que são inimigos da cruz de Cristo. O destino deles é a perdição, o deus deles o ventre e a glória deles está na sua infâmia; visto que só se preocupam com as coisas terrenas. Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo; O qual transformará nosso corpo de humilhação para ser igual ao corpo de sua glória, segundo a eficiência do poder que ele tem de até subordinar a si todas as coisas. Portanto, irmãos, amados e mui saudosos, minha alegria e coroa, sim, amados, permanecei, deste modo, firmes no Senhor. Oração: Querido Deus, dá-nos agora a capacidade de receber tua palavra como guia para nossas vidas, como um farol para nossa desorientação, como bálsamo para nossa dúvida, como ânimo para nossa fé. Amém Querida comunidade da EST, que inicia o ano acadêmico de 2013! Se me pedissem para dizer, em uma palavra, sobre o quê versa este texto lido, eu diria: modelo. Este texto que se encontra numa carta do apóstolo Paulo para a comunidade de Filipos, fala em ser modelo para os outros. Todavia, quando digo a palavra “modelo” imagino que diferente imagens passem pela cabeça de cada um: Gisele Bünchen? Neimar? Barack Obama? Ângela Merkle? A nossa presidente Dilma? Papa Bento 16? Teresa de Ávila? Brad Pit? Julia Roberts? Ministro Joaquim Barbosa? Janequini? Cláudia Raia? Neguinho da Beija-Flor? Ou ainda Albert Einstein? Hildegart von Bingen? Talvez sim, talvez não. Talvez a imagem de bem outras pessoas passasse pela cabeça de vocês. Com certeza, estas pessoas que mencionei são modelo para algumas pessoas, modelos de algumas atitudes, modelo de dignidade e mudança, modelo para moda ou ainda modelo de estrelas. Porém, o texto que nos fala agora, fala de outra coisa: fala de modelo de vida. Modelo de uma vida como Jesus viveu. E esta parte da carta de Paulo é um convite feito a nós, reles mortais, a servir de modelo de vida a outras pessoas. Havia entre os Filipenses pessoas que se diziam seguidoras do modelo de vida de Jesus, mas que estavam só disfarçando. No fundo, elas estavam minando as relações, disputando poder, sugerindo atitudes que para Paulo, não eram segundo o modelo que ele ali deixara. Esta foi a primeira comunidade fundada pelo apóstolo na Europa, com a ajuda de Silas e Timóteo, mas acima de tudo, com a ajuda de mulheres que se reuniam aos sábados na beira do rio e que depois abriram suas casas para o Evangelho e mais tarde ainda ajudaram Paulo materialmente também quando ele estava preso. Sabem, estas pessoas, que segundo Paulo só disfarçam o modelo, mas não o vivem de verdade, tinham como deus o seu próprio ventre. Em outras palavras, o que as movia eram seus próprios desejos. Isso é conhecido como processo de umbiguismo, quando se olha só para seu próprio umbigo. Se pensa e se planeja a vida pessoal, única e exclusivamente. E era tão séria a influência destas pessoas na vida da comunidade dos Filipenses, que Paulo já os havia advertido uma vez, mas agora os adverte chorando! Ele diz que ama a comunidade, vejam: meus amados, sim, mui saudosos, e diz isso chorando, para advertilos com todo coração. O que seria viver segundo o modelo de vida de Cristo? Em primeiro lugar, eu diria que é ter uma vida de oração. Temos que orar: sozinhos, com outros, por intercessão, por gratidão, por pessoas que não podem orar, pelo mundo. Em todo caso, não importa a maneira da oração, mas que tenhamos uma vida de fé pessoal, que saibamos estar em solitude, ficar sozinhos, silenciar, que é quando Deus nos fala. Precisamos meditar, se dar a conhecer a Palavra de Deus. Isso o próprio Jesus fazia, antes de qualquer decisão. Em segundo lugar, eu diria que é não viver para si mesmo, neste processo de umbiguismo, onde o centro do nosso ventre, o umbigo, é o nosso Deus, mas viver COM e PARA uma comunidade. Para aqueles que passam no nosso caminho e para aqueles que nós mesmos nos colocamos no caminho deles. Como o bom samaritano, pois ele se colocou no caminho do homem assaltado, poderia ter evitado aquele socorro, como os outros o fizeram. Portanto, vida além de si mesmo. Em terceiro lugar, baseado no que Paulo disse, que eles eram humilhados, mas que seriam glorificados como Jesus: nossa vida deve ser de humildade, porém, não podemos ser ingênuos, temos que ser como a raposa, espertos, perspicazes, perceber quem nos ronda e com qual intenção. Não é desconfiança, mas perspicácia. Jesus foi muito perspicaz, podemos notar isso, especialmente nos seus diálogos com as autoridades, ele falava com inteligentes e santas intenções. Portanto, vida em humildade. Não é nenhuma novidade que lhes trago nesta pregação. Ele, Paulo não nos diz nada novo, que Jesus não tenha dito antes: orar, amar a Deus, a si mesmo e ao outro. Ou seja, viver em comunidade. Porém, ele diz que isso é possível para nós e esperado de nós. Ser modelo de vida. Cada um/a, pode ser, sem precisar ser estrela de futebol, modelo, presidente, chanceler, santíssimo papa, artista de cinema, etc. Está ao alcance de cada um/a de nós ser esta pessoa digna da confiança de Cristo. Essa é a novidade de Paulo. Tem que se esforçar? Tem que. É difícil? É. Muito. Por isso Paulo afirma na despedida desta parte da carta: irmãos/irmãs, permanecei, firmes no Senhor. Mas não precisamos de grandes gestos ou chegar a um cargo de poder ou ter fama, ou se formar, ou terminar o doutorado para viver segundo o modelo de Jesus e virar modelo para outros. Antes de alcançar tudo isso, podemos fazer pequenas grandes coisas, no nosso dia-a-dia, onde estamos, na nossa comunidade. Quero compartilhar algumas atitudes de vida-modelo que tenho visto recentemente: - alguém devolvendo dinheiro que achou, mesmo precisando deste dinheiro; - alguém abraçando, orando e ficando, por horas nos hospitais, ao lado de quem teve seus filhos e filhas vítimas de um incêndio pavoroso; - alguém denunciando o abuso de uma criança, mesmo correndo o risco de retaliação; - alguém se preocupando em capturar e encaminhar de volta para um lar, um cão que sobreviveu a um dramático acidente de carro em que seus donos morreram; - alguém vivendo sem desperdiçar água e comida, reciclando materiais; - alguém dormindo sem peso na consciência, por ter vivido seu dia com honestidade, decência e equilíbrio, mesmo faltando muita coisa, e resistindo a tentação de conseguir estas faltas de forma ilegal; - alguém respeitando a opinião radicalmente oposta do outro, sem julgá-lo nem sentir-se o certo em sua opinião; - alguém orando incansavelmente, contra toda a desesperança, por uma situação que não parece se modificar um milímetro, mas que vai modificando aquela pessoa que ora; - alguém envolvendo--se com pessoas adictas a drogas, acolhendo-as, alimentando-as, com paciência infinita, mas também com perspicácia; - alguém acolhendo com um olhar ou uma breve conversa, sem simplesmente mandar embora, ou fazer que não vê, aqueles que pedem por moedas, para o trago ou a droga; - alguém não desistindo de uma pesquisa ou idéia considerada maluca por muitos e por muito tempo, que mais tarde se transforma num grande passo para a melhor qualidade de vida da humanidade; - alguém demonstrando compaixão por tudo que respira, que faz fotossíntese, por toda água, por tudo que habita o planeta e que tem pertença na criação de Deus; - alguém que não evita o doente, o contaminado, o perturbado, mas o visita; - alguém, que não importando a tarefa, seja ela cozinhar, governar ou presidir, limpar, despachar documentos importantes, servir, limpar ferimentos, ensinar, atender a porta ou gerenciar, faz tudo com a mesma honra e respeito como se fosse para Deus. Isso tudo é ser modelo de vida. Quaresma, sempre é tempo de autocrítica, reflexão e jejum. Que possamos jejuar de modelos nossos que ferem os outros, jejuar de preconceitos e julgamentos precoces quanto ao que é diferente de nós. Que possamos nos autocriticar e nos submeter ao olhar que Deus mira em nós e assim, refletir que modelo queremos ser para a vida dos outros. Jesus foi modelo de Deus, Paulo tentou ser modelo de Jesus e nós? Que nós possamos, aqui no nosso campus pequeno que é a EST, ser modelo uns para os outros, não julgando a diferença, mas querendo conhecê-la. Não permanecendo fechados à opinião diversa, mas se abrindo com perspicácia para conhecê-la. Não se enclausurando, sem se comunicar, mas indo em direção a uma crise que se instalou. Não dizendo infâmia, mas se colocando ao lado, para entender melhor. Não criticando o trabalho do outro, mas conhecendo os detalhes da tarefa confiada a ele. Não sejamos inimigos da Cruz de Cristo, como diz Paulo, modelos falsos, mas ajudemos a carregá-la com humildade, com amor, aceitação da diferença, muita oração e assim, mostrá-la ao mundo, através de atitudes de paz e misericórdia. Jesus se submeteu ao Pai e pode submeter tudo a si, por nós, como diz o texto. Que possamos nos submeter a este modelo, que só quer vida digna, para todos. Encerro esta pregação com as palavras do próprio apóstolo Paulo: Portanto, irmãos/irmãs, amados e mui saudosos, sim, amados, permanecei, firmes no Senhor. Amém