ARTIGO ORIGINAL / RESEARCH REPORT / ARTÍCULO
Esteróides anabolizantes: mecanismos de ação e efeitos sobre o
sistema cardiovascular
Anabolic steroids: action mechanisms and effects on the cardiovascular system
Esteroides anabólicos: mecanismos de acción y efecto sobre el sistema cardiovascular
Fernando Lima Rocha*
Fernanda Roberta Roque**
Edilamar Menezes de Oliveira***
RESUMO: Esteróides androgênicos anabólicos são recursos ergogênicos comumente utilizados por atletas em busca de melhores desempenhos. Entretanto, o uso destas substâncias por indivíduos não atletas, para fins estéticos, vêm se tornando um problema crescente em
academias e centros esportivos. Esta conduta tem favorecido o uso indiscriminado e abusivo destes esteróides, expondo seus usuários a
riscos de saúde. Os esteróides anabolizantes são um subgrupo dos andrógenos, ou seja, compostos sintéticos derivados da testosterona,
desenvolvidos para fins terapêuticos, porém, estas substâncias também passaram a ser utilizadas no esporte, com o objetivo de melhora no
desempenho físico, devido a sua grande propriedade anabólica e reduzido efeito androgênico. Portanto, são as propriedades anabólicas que
promovem os efeitos desejados pelos atletas, melhorando desta forma o desempenho físico. Apesar do fato de os esteróides anabolizantes
exibirem possíveis melhoras no desempenho físico, doses excessivas podem trazer diversas alterações deletérias, principalmente àquelas
relacionadas ao sistema cardiovascular e não tem sido incomum a associação entre o abuso no consumo de esteróides anabolizantes e o
aparecimento de distúrbios cardíacos. Nesse sentido, o objetivo do presente estudo foi realizar uma revisão bibliográfica para investigar
os possíveis efeitos deletérios do uso indiscriminado de esteróides anabolizantes ao sistema cardiovascular.
PALAVRAS-CHAVE: Esteróides anabolizantes/efeitos adversos. Esteróides/administração e dosagem. Sistema cardiovascular.
ABSTRACT: Anabolic androgenic steroids are ergogenic aids commonly used by athletes in search of better performances. However, the
use of these substances by individuals who are not athletes with aesthetic aims is becoming an increasing problem in fitness and sport
centers. This behavior has favored the indiscriminate and abusive use of these steroids, exposing their users to health risks. Anabolic
steroids are a sub-group of androgenes, that is, synthetic compounds derived from testosterone, developed for therapeutic ends, but
these substances had also began to be used in sports, with the aim of improvement of physical performance, due to their anabolic
properties and reduced androgenic effect. Therefore, the anabolic properties are the substances that promote the effect desired by
athletes, improving this way their physical performance. Despite the fact of anabolic steroids to cause possible improvements in physical
performance, extreme doses can cause several deleterious alterations, mainly those related to the cardiovascular system and it has not
been uncommon the association of abuses in of anabolic steroids consumption and the emergence of cardiac troubles. In this sense,
the objective of the present study was to carry through a bibliographical review to investigate the possible deleterious effects of the
indiscriminate use of anabolic steroids to the cardiovascular system.
KEYWORDS: Anabolic steroids- adverse effects. Steroids-administration and dosing. Cardiovascular system.
RESUMEN: Los esteroides anabólicos androgénicos son recursos ergogénicos usados comúnmente por los atletas en la búsqueda de
mejores desempeños. Sin embargo, el uso de estas sustancias por individuos que no son atletas con objetivos estéticos se está convirtiendo en un problema creciente en centros de gimnástica y de deportes. Ese comportamiento ha favorecido el uso indistinto y abusivo
de estos esteroides, exponiendo a sus usuarios a los riesgos de salud. Los esteroides anabólicos son un subgrupo de los andrógenos, es
decir, compuestos sintéticos derivados de la testosterona, desarrollados con finalidades terapéuticas, pero estas sustancias también comenzaron a ser utilizados en deportes, con la meta de mejoría del desempeño físico, debido a sus características anabólicas y sus efectos
androgénicos reducidos. Por lo tanto, las características anabólicas de esas sustancias son las que promueven el efecto deseado por los
atletas, mejorando de esta manera su funcionamiento físico. A pesar del hecho de que los esteroides anabólicos producen mejorías en
el funcionamiento físico, las dosis extremas pueden causar varias alteraciones deletéreas, principalmente las relacionadas con el sistema
cardiovascular, e no han sido infrecuente la asociación de abusos del consumo de los esteroides anabólicos con la aparición de apuros
cardiacos. En este sentido, el objetivo del estudio es realizar una revisión bibliográfica para investigar los efectos deletéreos posibles del
uso indistinto de esteroides anabólicos en el sistema cardiovascular.
PALABRAS LLAVE: Esteroides anabólicos-efectos adversos. Esteróides-suministración e dosaje. Sistema cardiovascular.
* Mestre em Edução Física. Professor responsável pela disciplina de Fisiologia da Universidade Meridional de São Paulo.
Laboratório de Bioquímica da Atividade Motora – Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo.
** Mestre em Educação Física. Doutoranda pelo Laboratório de Bioquímica da Atividade Motora – Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo.
*** Doutora em Bioquímica. Professora responsável pela disciplina de Bioquímica da Atividade Motora da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de
São Paulo. Laboratório de Bioquímica da Atividade Motora - Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo. E-mail: [email protected]
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ESTERÓIDES ANABOLIZANTES: MECANISMOS DE AÇÃO E EFEITOS SOBRE O SISTEMA CARDIOVASCULAR
Hormônios Esteróides e
Esteróides Anabolizantes
Os hormônios esteróides apresentam um núcleo básico derivado
da estrutura química do colesterol,
portanto são hormônios de natureza lipídica. A biossíntese dos
hormônios esteróides é restrita a
alguns poucos tecidos, como o córtex das glândulas adrenais e gônadas, os quais expressam diferentes
formas do complexo enzimático
P-450, responsável pelo processamento da molécula de colesterol.
Os andrógenos são hormônios sexuais masculinos e representam
uma das classes de hormônios
esteróides, são produzidos, principalmente, pelos testículos e, em
menores proporções, pelas adrenais. O principal hormônio produzido pelo testículo é a testosterona
(Bianco, Rabelo, 1999).
A testosterona exerce efeitos
designados como androgênicos e
anabólicos em uma extensa variedade de tecidos-alvo, incluindo o
sistema reprodutor, o sistema nervoso central, a glândula pituitária
anterior, o rim, o fígado, os músculos e o coração (Hebert et al, 1984;
Shahidi, 2001; Sinha-Hikim et al,
2002). Os efeitos androgênicos são
responsáveis pelo crescimento do
trato reprodutor masculino e desenvolvimento das características
sexuais secundárias, enquanto que
os efeitos anabólicos estimulam a
fixação do nitrogênio e aumentam
a síntese protéica (Shahidi, 2001).
A atividade anabólica da testosterona e de seus derivados é manifestada primariamente em sua ação
miotrófica, que resulta em aumento da massa muscular por aumentar a síntese protéica no músculo
(Kam, Yarrow, 2005) e por controlar os níveis de gordura corporal.
O potencial valor terapêutico
da atividade anabólica da testosterona em várias condições catabólicas têm levado à síntese de muitos
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derivados que tem como objetivo
prolongar a sua atividade biológica,
desenvolvendo produtos cada vez
menos androgênicos e mais anabólicos, chamados esteróides androgênicos anabólicos. Portanto,
os esteróides anabolizantes são um
subgrupo dos andrógenos, ou seja,
sintéticos derivados da testosterona (Kam, Yarrow, 2005; Weineck,
2005).
Os esteróides anabolizantes
foram inicialmente desenvolvidos
com fins terapêuticos, como exemplo, para o tratamento de pacientes
com deficiência natural de andrógenos, na recuperação de cirurgias
e atrofias musculares, por melhorarem o balanço nitrogenado em
estados catabólicos, prevenindo a
perda de massa magra e reduzindo o aumento de tecido adiposo,
e, também, no tratamento da osteoporose, do câncer de mama e
anemias, uma vez que estimulam
a eritropoiese (Celotti, Cesi, 1992;
Creutzberg et al, 2003; Hebert et
al, 1984). Entretanto, o uso dessas
drogas destacou–se principalmente no meio esportivo, devido às
propriedades anabólicas que promovem o aumento de massa muscular, do desenvolvimento de força,
da velocidade de recuperação da
musculatura e o controle dos níveis
de gordura corporal melhorando o
desempenho físico (Evans, 2004),
sendo que a ação trófica do hormônio exógeno é mais pronunciada do
que aquela observada pelos níveis
normais de testosterona na circulação (Celotti, Cesi, 1992). Embora
comumente utilizada por atletas
em busca de melhores desempenhos, são consideradas substâncias
proibidas pela Agência Mundial
Antidoping-WADA (2006) e classificadas como doping.
A associação de drogas no esporte é uma prática muito antiga
e o desejo de superação sem respeitar limites pode ser evidenciado
em diversas etapas da história da
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humanidade. Relatos do uso de
plantas, ervas e cogumelos, com o
intuito de favorecer o desempenho
dos atletas também são encontrados desde as olimpíadas da Grécia
Antiga, que foram iniciadas em
800 a.C. (COB et al, 2006; Grivetti, Applegate, 1997). Porém, com
a descoberta da testosterona em
1905 e seu isolamento em 1935,
muitos produtos sintéticos começaram a ser produzidos e a busca
por estes recursos ergogênicos passou a ser evidenciada entre atletas.
Em 1960, os esteróides anabólicos
tornaram-se conhecidos mundialmente, quando o atleta Fred Ortiz
apresentou-se com uma massa
muscular muito superior a seus
concorrentes no campeonato de fisiculturismo (Dirix, 1988). Um dos
casos mais conhecidos foi o do atleta Benjamin S. Johnson, velocista
jamaicano, naturalizado canadense, que em 1988 foi suspenso dos
jogos Olímpicos de Seul, perdendo
a sua medalha ao detectarem em
sua urina a presença de estanazolol, uma substância de utilização
proibida (Calfee, Fadale, 2006).
Os esteróides anabolizantes representam mais de 50% dos casos
positivos de doping entre atletas
(Fineschi et al, 2001). Recentemente, Alaranta e colaboradores
(2006) (Alaranta et al, 2006), demonstraram que 90,3% dos atletas de elite que participaram de seu
estudo acreditam na possibilidade
de melhorar o desempenho esportivo por meio do uso de substâncias
proibidas, sendo que a categoria
dos esteróides anabólicos representa a substância mais efetiva para
ocasionar esta melhora. Interessantemente, este estudo também
demonstrou que embora o risco
de doping seja maior entre atletas
de categorias esportivas de velocidade e força, esta prática não se
restringe a estes atletas, e também
pode ser observada entre atletas de
endurance e de esportes coletivos,
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ESTERÓIDES ANABOLIZANTES: MECANISMOS DE AÇÃO E EFEITOS SOBRE O SISTEMA CARDIOVASCULAR
sendo a categoria de esportes que
demandam habilidades motoras a
que demonstra o menor risco de
doping.
Entretanto, o que vem chamando mais atenção é o uso indiscriminado de esteróides anabolizantes,
também fazendo parte da rotina
de jovens escolares e praticantes
de atividade física, principalmente em academias ou centros de
práticas esportivas (Evans, 2004;
Parkinson, Evans, 2006), expondo
os usuários a riscos de saúde e de
morte, sendo que em longo prazo o
risco de mortalidade entre usuários
abusivos de esteróides anabolizantes é de aproximadamente quatro
vezes maior do que em não-usuários (Parssinen, Seppala, 2002). Segundo Wood (2006), nos Estados
Unidos, a incidência de uso destas
substâncias entre jovens escolares
com idade média de 18 anos é de
4% e é comparada à incidência de
uso de cocaína (3,6%) e heroína
(1,8%). No Brasil, em 2001, medicamentos lideraram a lista de agentes causadores de intoxicações em
seres humanos, comportamento
que vem sendo observado desde
1996, de acordo com os registros do
Sistema Nacional de Informações
Tóxico-farmacológicas, sendo que
os anabolizantes e derivados anfetamínicos se destacam entre os medicamentos utilizados como drogas
de abuso (Noto et al, 2003).
Estudos epidemiológicos demonstrando o comportamento abusivo do uso de esteróides
anabolizantes entre estudantes e
praticantes de atividade física em
academias no Brasil ainda são muito escassos. Embora estes estudos
não sejam numerosos, eles indicam um problema de saúde pública e são bastante preocupantes,
pois ainda não são demonstradas
repostas conclusivas com relação
aos mecanismos de ação destas
drogas. Dal Pizzol e colaboradores
(2006) demonstraram por meio de
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presente estudo foi realizar uma revisão bibliográfica para investigar
os principais mecanismos de ação
através dos quais os esteróides anabolizantes poderiam atuar para promover os seus efeitos anabólicos,
porém demonstrando também os
possíveis efeitos deletérios do uso
indiscriminado destas substâncias
sobre o sistema cardiovascular.
um estudo do uso não-médico de
medicamentos psicoativos entre
escolares no Sul do Brasil. Entre
aproximadamente 5.000 alunos
entrevistados, 110 alunos declararam usar anabolizantes, sendo que
a maior prevalência ocorreu entre
jovens do sexo masculino. Estes
declararam que o aconselhamento
para o uso da droga, em sua maioria, vinha por parte de amigos da
academia de ginástica, e a fonte de
obtenção foi em 40% dos casos a
farmácia. Portanto, dentre outros
resultados, este estudo demonstra a
grande facilidade de compra destas
substâncias, mesmo sem a presença
de receita médica, o que aumenta
a incidência de uso. Um levantamento realizado por Carreira Filho (2004) observou que de 2.219
alunos entrevistados, matriculados
na rede escolar do ensino fundamental e médio do município de
São Caetano do Sul, em São Paulo, 12,8% dos adolescentes declararam ter feito uso de substâncias
químicas visando a alterar o peso
corporal, principalmente esteróides anabólicos. Em academias, a
porcentagem de uso é ainda mais
alarmante, e um estudo de Silva e
Moreau (2003) demonstrou uma
incidência de uso em torno de 19%
entre indivíduos freqüentadores
de grandes academias na cidade de
São Paulo.
Apesar do fato dos esteróides
anabolizantes demonstrarem possíveis melhoras tanto no desempenho físico como na aparência física,
doses excessivas podem trazer diversas alterações deletérias, principalmente àquelas relacionadas ao
sistema cardiovascular. Os efeitos
dos esteróides anabolizantes em
diversos sistemas do organismo
vêm sendo estudados ao longo de
anos e não tem sido incomum a
associação entre o abuso no consumo de esteróides anabolizantes
e o aparecimento de distúrbios cardíacos. Nesse sentido, o objetivo do
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Mecanismo de ação e
principais efeitos dos
Esteróides Anabolizantes
Os mecanismos de ação dos esteróides anabólicos, até o momento, ainda parecem controversos.
Basicamente, os esteróides anabolizantes são substâncias sintéticas,
similares à testosterona, que podem
ser utilizados por administração
oral ou injetável. Estas substâncias podem atuar diretamente em
receptores específicos, sendo que,
uma vez na circulação, elas são
transportadas pela corrente sanguínea como mensageiros, na forma
livre ou combinada às moléculas
transportadoras, mas somente na
sua forma livre difundem-se diretamente através da membrana plasmática de células-alvo ligando-se a
receptores protéicos intracelulares.
Este processo de entrada na célula,
por si só, gera maior produção de
AMPc (Adenosina monofosfato cíclico), aumentando o metabolismo
celular (Celotti, Cesi, 1992; Hebert
et al, 1984). Dentro da célula (citoplasma), a molécula de esteróide
ligada ao receptor androgênico específico migra para o núcleo celular,
onde inicia o processo de transcrição gênica e, conseqüentemente,
de transdução protéica, a qual modula as ações celulares dependentes
de andrógeno (Celotti, Cesi, 1992;
Hebert et al, 1984; Shahidi, 2001).
Os efeitos da testosterona, designados como androgênicos e
anabólicos, exercem suas influências, tanto em tecidos reprodutivos
DA
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quanto em não-reprodutivos. Estudos mostraram a existência de
receptores androgênicos na musculatura esquelética e cardíaca, os
quais possuem a mesma afinidade e
características bioquímicas daqueles presentes nos órgãos reprodutores (Celotti, Cesi, 1992). Porém,
o número de receptores presentes
nos músculos é muito menor do
que os encontrados nos órgãos
reprodutivos, podendo variar de
acordo com o músculo (Jansen et
al, 1994). Esta característica metabólica que distingue os músculos
de outras estruturas andrógenodependentes poderia explicar a
dissociação da ação anabólica e
androgênica dos esteróides anabolizantes (Shahidi, 2001).
Como já citado anteriormente,
os esteróides anabolizantes podem
promover efeitos tróficos diretamente através da sua ligação aos
receptores de andrógeno, promovendo um balanço nitrogenado
positivo, ou seja, um aumento na
razão de síntese protéica e diminuição na degradação destas proteínas (Celotti, Cesi, 1992; Griggs
et al, 1989), porém os efeitos destas
substâncias sobre os receptores de
andrógenos no músculo esquelético não é uniforme e depende da
concentração destes receptores no
músculo em questão (Janssen et
al, 1994). A hipertrofia muscular
esquelética pode ocorrer, também,
pela ativação de células satélites,
levando a um aumento no número de mionúcleos e aumentos no
diâmetro da fibra (Joubert, Tobin,
1989). A estimulação das células
satélites levando ao aumento no
número de núcleos da fibra muscular poderia, também, aumentar
o número de receptores de andrógenos, pois os mesmos estão localizados nos mionúcleos, tornando,
assim, o músculo mais suscetível
aos compostos anabólicos. Um
estudo de Kadi e colaboradores
(1999) demonstrou aumento no
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número de receptores de andrógeno no músculo trapézio de levantadores de peso que faziam uso de
esteróides anabolizantes, acompanhado por um aumento no número de mionúcleos por fibra.
Um potente e alternativo mecanismo de ação indireta dos esteróides anabolizantes ocorre por
meio da inibição da função dos glicocorticóides, devido à competição
dos esteróides pelos seus receptores
(Mayer, Rosen, 1975), preservando, desta maneira, a massa muscular e aumentando a retenção de
glicogênio, porém ainda não existe
um consenso sobre este mecanismo. Um estudo de Zhao e colaboradores (2004) demonstrou que o
esteróide anabólico oxandrolona
é capaz de inibir os efeitos catabólicos dos glicocorticóides, não
por competir por seus receptores,
mas através de uma interação entre os receptores de andrógenos e
os receptores dos glicocorticóides,
demonstrando, assim, que o mecanismo de ação parece depender do
tipo de esteróide anabólico administrado (Hickson et al, 1990).
Finalmente, os esteróides
anabolizantes podem atuar pela
promoção de efeitos psicológicos,
levando à diminuição da sensação
de fadiga durante os treinos, de
maneira que o atleta consegue treinar com maior freqüência e intensidade, além de diminuir o tempo
de recuperação entre as sessões de
treinamento (Hebert et al, 1984).
A contribuição dos esteróides
anabolizantes no aumento da massa muscular e diminuição da gordura corporal é bastante discutida,
sendo que os resultados encontrados a este respeito ainda são controversos. Enquanto em animais
de experimentação a administração exógena de testosterona não
alterou os parâmetros bioquímicos relacionados ao metabolismo
energético no músculo gastrocnêmio de ratos (Martini, 1982) e não
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produziu efeito sobre a hipertrofia
muscular (peso muscular e capacidade oxidativa), em ratos normais
(Hebert et al, 1984) outro estudo
demonstrou que os esteróides anabolizantes podem modificar a atividade de enzimas mitocôndriais
e sarcotubulares na musculatura
esquelética de ratos (Tamaki et al,
2001). Em humanos, doses suprafisiológicas de testosterona, especialmente quando administradas
em associação com treinamento,
aumentam a massa livre de gordura e a força muscular (Bhasin et al,
1996), porém, mesmo após muitos anos de estudo, não estão claros
quais são os efeitos dos esteróides
anabólicos sobre o desempenho
atlético e quais são os reais efeitos
colaterais do seu uso. Além disso,
possíveis diferenças nas condições
experimentais dificultam o encontro de resultados conclusivos.
Embora estudos demonstrem
que os esteróides anabolizantes podem induzir melhor desempenho
esportivo, diversas complicações
cardiovasculares estão associadas
ao seu uso. Os esteróides anabolizantes parecem atuar de maneira
direta sobre o coração, pela ação
sobre receptores nucleares, aumentando o RNA mensageiro e
estimulando a síntese de proteínas cardíacas (Kochakian, Yesalis,
2000; Melchert, Welder, 1995). Estes efeitos podem estar diretamente
ligados à ação de androgênios sobre
receptores nos miócitos cardíacos
(Marsh et al, 1998).
Esteróides Anabolizantes e
efeitos deletérios sobre o
Sistema Cardiovascular
Devido ao grande crescimento
na busca por esteróides anabolizantes, diversos estudos buscam salientar os principais efeitos colaterais
desenvolvidos pelo uso abusivo
destas substâncias e demonstrar
que em adição aos efeitos tóxicos
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e hormonais, já bem descritos na
literatura, prejuízos em diversos
órgãos e tecidos têm sido freqüentemente observados, tendo o sistema cardiovascular um papel de
destaque nestes estudos (Urhausen
et al, 2004). Diversas complicações
cardíacas, tais como insuficiência
cardíaca, fibrilação ventricular,
tromboses, doença isquêmica e
infarto agudo do miocárdio vêm
sendo observadas em atletas usuários de esteróides anabolizantes
(Nieminen et al, 1996; Sullivan et
al, 1998; Thiblin et al, 2000). Além
disso, a ocorrência de morte súbita
também vem sendo demonstrada
em decorrência do uso crônico de
doses suprafisiológicas (Fineschi et
al, 2001; Fineschi et al, 2007).
Complicações, tais como a aterosclerose e o infarto agudo do
miocárdio (IAM) em usuários de
esteróides anabolizantes podem
ocorrer devido a alterações no
metabolismo de lipoproteínas e
presença de disfunçaõ endotelial
(Hartgens et al, 2004; Kuipers et
al, 1991). Alguns estudos que avaliaram o efeito do uso de esteróides
anabolizantes na função vascular
observaram que a participação do
endotélio na produção de substâncias vasodilatadoras pode estar
comprometida (Ammar et al, 2004;
Ebenbichler et al, 2001).
Um estudo com fisiculturistas
demonstrou, com auxílio de ultrasom, que o consumo de esteróides
anabolizantes, por estes atletas,
levou a uma disfunção endotelial
e alteração do perfil lipídico, por
diminuir os níveis de HDL (lipoproteína de alta densidade) colesterol, podendo aumentar os riscos
de aterosclerose (Ebenbichler et al,
2001). Aumentos nas concentrações plasmáticas de LDL (lipoproteína de baixa densidade) foram
observados em ratos submetidos a
treinamento físico anaeróbio e tratados com nandrolona, podendo
diminuir o relaxamento dependen-
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reversível após a descontinuidade
no uso destas substâncias (Lane et
al, 2006). Sendo o endotélio um importante modulador da função vasomotora, capaz de produzir fatores
vasoativos que podem promover o
relaxamento ou a contração do vaso, a presença de disfunção endotelial pode ocasionar em um prejuízo
na função vascular, contribuindo
para o desenvolvimento de diversas
patologias cardiovasculares.
O uso de esteróides anabólicos
androgênicos também está normalmente relacionado com as influências sobre a resposta hipertrófica do
ventrículo esquerdo. Dickerman e
colaboradores (1998), avaliando
atletas de elite levantadores de peso,
verificaram que os usuários de esteróides anabolizantes apresentavam
maior aumento na espessura da parede ventricular esquerda do que
os atletas não-usuário. Além disso,
um estudo bem delineado, realizado em atletas de força, demonstrou com exame de ecocardiografia
que o remodelamento cardíaco que
ocorre como efeito do uso de esteróides anabolizantes não é reversível (Urhausen et al, 2004).
Um importante resultado foi
observado por Tagarakis e colaboradores (2000), em que a associação
de esteróides e treinamento físico
em esteira induziam à hipertrofia
moderada dos miócitos cardíacos,
a qual não era acompanhada por
aumento na microvasculatura cardíaca induzida pelo treinamento físico. Dessa forma, uma diminuição
na microvasculatura poderia trazer
um desequilíbrio entre a oferta e
a demanda de oxigênio ao miocárdio, principalmente durante o
exercício físico.
O desempenho da função cardíaca, também, está prejudicado em
usuários de esteróides anabolizantes. Uma redução na complacência
ventricular esquerda foi observada
em ratos com a administração crônica de decanoato de nandrolona
(Trifunovic et al, 1995). Nottin e
te do endotélio e a ativação da guanilato ciclase (Cunha et al, 2005),
diminuindo, assim, a produção de
GMPc e ocasionando um menor
relaxamento do músculo liso vascular. O uso prolongado de esteróides anabolizantes pode estimular a
agregação plaquetária (Ferenchick,
1991) e aumentar a atividade da lipase triglicerídica hepática (HTGL).
O aumento na atividade desta enzima pode estar correlacionado com
a diminuição nos níveis plasmáticos
de HDL (Glazer, 1991), ou, ainda,
com o aumento nas concentrações
plasmáticas de LDL como resultado
do aumentado catabolismo das VLDL (lipoproteínas de muito baixa
densidade), podendo potencializar
a aterosclerose (Baldo-Enzi et al,
1990). A facilitação da formação
de trombo pelo uso de esteróides
anabolizantes pode estar, portanto,
associada a aumentos na agregação
plaquetária, ou, ainda, a aumentos
de fatores pré-coagulantes (Sader
et al, 2001).
A presença de inflamações no
miocárdio e pericárdio de ratos tratados com esteróides anabolizantes
pode ser a causa de arritmias fatais
que ocorrem em atletas usuários
destas substâncias (Takahashi et al,
2004). Maior rigidez aórtica também foi demonstrada em atletas
que fazem o uso de esteróides anabolizantes (Kasikcioglu et al, 2007).
Um estudo realizado por Ferrer e
colaboradores (Ferrer et al, 1994)
demonstrou que os prejuízos observados na função vascular de
coelhos que foram tratados com
o esteróide anabólico nandrolona
poderiam ocorrer devido ao menor
relaxamento na aorta torácica destes animais, causado pela inibição
da guanilato ciclase e conseqüente
diminuição da produção de óxido
nítrico endotelial. Prejuízos na reatividade vascular não dependente
do endotélio também foram observados em fisiculturistas usuários de
anabolizantes, sendo este um efeito
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ESTERÓIDES ANABOLIZANTES: MECANISMOS DE AÇÃO E EFEITOS SOBRE O SISTEMA CARDIOVASCULAR
colaboradores (2006) concluíram
que o uso de anabolizantes associado ao treinamento de força em
atletas levou à redução na função
diastólica do ventrículo esquerdo.
Alterações no controle reflexo e
tônico no sistema cardiovascular
foram demonstradas em animais
tratados cronicamente com o esteróide anabólico estanozolol, detectando-se a presença de hipertensão
arterial, hipertrofia cardíaca e alterações no controle barorreflexo da
freqüência cardíaca destes animais
(Beutel et al, 2005).
Outros efeitos adversos são
associados ao uso de esteróides
anabolizantes, tais como prejuí-
zos do controle parassimpático e,
ainda, uma tendência de superestimulação do sistema nervoso
simpático em ratos que receberam
administração crônica de nandrolona (Pereira-Junior et al, 2006). A
maior tolerância cardíaca a eventos
isquêmicos que ocorre em função
do treinamento físico aeróbio foi
prejudicada em ratos que fizeram
uso de esteróides anabolizantes
(Du Toit et al, 2005), além de menor proteção cardíaca oferecida a
estes animais, devido à redução na
atividade de enzimas antioxidantes
(De Rose et al, 2006).
As alterações estruturais e funcionais da musculatura cardíaca
decorrente do uso de esteróides
anabolizantes, por efeitos diretos
e/ou indiretos, podem provocar e
perpetuar doenças cardiovasculares. Portanto, o uso indiscriminado
destas substâncias pode aumentar
o risco de morte entre seus usuários. É de extrema importância que
estes riscos cheguem ao conhecimento dos indivíduos que usam
ou pensam em fazer uso destas
substâncias, tendo como objetivos
melhores desempenhos esportivos
ou fins estéticos, para que os mesmos possam avaliar se realmente os
benefícios alcançados pelo uso abusivo destas drogas são maiores ou
mais importantes que os riscos que
elas oferecem aos seus usuários.
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Recebido em 13 de junho 2007
Versão atualizada em 18 de julho de 2007
Aprovado em 10 de agosto de 2007
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