2172 X Salão de Iniciação Científica PUCRS Reaproveitamento de água para fins não potáveis em habitações de interesse social Paulo Rogério Lemos1, Renata Magalhães Fagundes 1, Minéia Johann Scherer1 (orientador) 1 Curso de Arquitetura e Urbanismo – Centro Universitário Franciscano – UNIFRA - RS Introdução O cenário atual do planeta revela uma crise ambiental preocupante que resulta dos efeitos globais, tais como as mudanças climáticas, a diminuição dos recursos naturais, a poluição das águas, dos solos e do ar. Sabe-se que a participação da indústria da construção civil agrava este panorama, uma vez que em todo seu processo consome recursos naturais e energéticos e gera poluição e resíduos que são lançados na natureza. Atualmente, cada vez mais são observadas iniciativas no sentido da adoção de práticas e processos construtivos que promovam a maior sustentabilidade no setor da construção civil, preocupados com o impacto ambiental e com a repercussão do ambiente edificado no futuro do planeta. Nesse contexto seguramente o mais importante recurso a ser preservado, levando em conta a dependência para a continuidade da vida no planeta, é a água. Conceitos, técnicas e práticas que resultem no ato de conservar água devem ser empregados a toda edificação, preservando os suprimentos existentes e minimizando os volumes de efluentes gerados. Este artigo tem o objetivo principal de estudar técnicas e sistemas de reutilização da água para fins não potáveis, por meio de revisão bibliográfica voltada àqueles mais adequados para implantação em habitações de interesse social. Estes sistemas serão, posteriormente, aplicados em um projeto de edificação modelo, que levará em conta princípios bioclimáticos e de sustentabilidade, para a cidade de Santa Maria, RS. O estudo é parte integrante de um projeto de pesquisa que está vinculado ao Grupo Percepção Ambiental, do Centro Universitário Franciscano – UNIFRA. X Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2009 2173 O reaproveitamento das águas pluviais e das águas residuárias Atualmente, na maioria das edificações a água potável é utilizada para a realização de quase todas as atividades sem uma análise prévia da qualidade da água necessária. O conceito do uso racional para a conservação da água consiste na associação da gestão, não somente da demanda, mas também da oferta de água, de forma que usos menos nobres possam ser supridos, sempre que possível, por água de qualidade inferior (OLIVEIRA et al, 2007). Como observa Oliveira et al, 2007, “os sistemas de aproveitamento de água de chuva em edificações consistem na captação, armazenamento e posterior utilização da água precipitada sobre superfícies impermeáveis de uma edificação, tais como: telhados, lajes e pisos. Assim, como os sistemas prediais de reuso de água, a sua aplicação é restrita a atividades que não necessitem da utilização de água potável.” ( p. 20) Um sistema de aproveitamento da água da chuva tecnicamente simples, viável para ser aplicado em habitações de interesse social, consiste em conduzir o volume captado pela cobertura até um reservatório superior por meio de calhas dotadas de “filtro” (tela metálica) para reter partículas sólidas. É necessária a presença de um sistema para descartar automaticamente o volume de água coletado nos primeiros minutos de chuva, que geralmente possui grande concentração de carga poluidora. A partir do reservatório, a água é diretamente distribuída para o uso na descarga do banheiro e na rega do jardim, lavagem de pisos e veículos, num ponto externo da edificação. Pela combinação da posição estratégica da cobertura, calha coletora, reservatório e pontos de uso, não há a necessidade de bombeamento da água, o que tornaria o sistema dispendioso na implantação e no consumo de energia elétrica. Vale ressaltar a importância de sinalizar adequadamente os pontos de distribuição da água coletada para evitar a utilização inadequada do sistema e a contaminação do sistema público de distribuição de água. Para viabilizar o reaproveitamento da águas residuárias para fins não potáveis é necessário que haja um tratamento prévio, que possibilite ainda a utilização do material sólido como adubo. As águas residuárias residenciais podem ser classificadas como águas claras, cinzas e negras. As águas claras são aquelas de origem pluvial. . Já as águas cinzas são as provenientes de tanques, pias, lavatórios e chuveiros, contendo contaminantes químicos, sólidos em suspensão, óleos e graxas. Por último, as águas negras são aquelas que apresentam elevada contaminação de origem orgânica (fezes e urina). (ERCOLE, 2003). X Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2009 2174 Faz-se necessário buscar opções para o tratamento dos efluentes que priorizem a facilidade de construção e manutenção, a qualidade ambiental, a qualidade de vida do ser humano e o uso racional dos recursos naturais, fundamentados nos princípios e conceitos da sustentabilidade (MARTINETTI et al, 2007). Um exemplo destas técnicas é o tratamento feito por “zona de raízes” também chamados leitos cultivados ou wetlands, um dos mais indicados para a implantação em habitações de interesse social em função da facilidade de execução e da viabilidade econômica. Neste sistema, os efluentes, após passarem por um pré-tratamento, são conduzidos a um tanque, onde camadas alternadas de pedras, solo e areia funcionam como filtro, e as espécies cultivadas ajudam no tratamento do esgoto. A vantagem mais significativa desse sistema é que ele processa quase que completamente a carga poluidora presente nas águas residuárias, transformando-a em materiais inofensivos e até mesmo úteis para o desenvolvimento das plantas. (OLIVEIRA et al, 2007). Conclusão Frente à realidade dos problemas ambientais de degradação e consumo dos bens naturais, onde a contribuição do setor da construção civil é significativa, a preservação dos recursos hídricos demanda realmente conscientização e mobilização, já que existem sistemas alternativos e recursos tecnológicos de fácil execução e baixo custo que possibilitam o reaproveitamento das águas pluviais e dos efluentes. Portanto, pesquisas e experimentos que contemplem esta temática devem ser explorados a fim de subsidiar a adequada aplicação em situações reais de projeto. Referências ERCOLE, L. A. S. Sistema Modular de Gestão de Águas Residuárias Domiciliares: uma opção mais sustentável para gestão de resíduos líquidos. Porto Alegre: UFRGS, 2003. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil), Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2003. MARTINETTI, Thaís. et al. Análise de Alternativas mais Sustentáveis para Tratamento Local de Efluentes Sanitários Residenciais. In: IV Encontro Nacional E II Encontro Latino - Americano Sobre Edificações e Comunidades Sustentáveis, 2007. Disponível em:<http://www.infohab.org> Acesso em 29 mai. 2008. OLIVEIRA, L. H. de, et al. Projeto Tecnologias para Construção Habitacional mais Sustentável Levantamento do estado da arte: Água. São Paulo: USP, 2007. Disponível em: <http://www.habitacaosustentavel.pcc.usp.br> Acesso em 8 set. 2008. X Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2009