COMPORTAMENTO TEMPORAL DA PRECIPITAÇÃO PLUVIAL DE JUIZ DE FORA - MG UTILIZANDO MÉTODOS GEOESTATISTICOS VANIA CORRÊA MOTA 1 RENATO RIBEIRO DE LIMA 2 MARCELO DE CARVALHO ALVES 3 MARCELO SILVA DE OLIVEIRA 4 INTRODUÇÃO As condições climáticas podem interferir no planejamento de diversas atividades ecológicas e sócio-econômicas e tem recebido especial atenção dos pesquisadores devido às previsões de alterações no clima do planeta (Marengo et al. 2007). Dentre os estudos de variabilidade dos elementos climáticos os mais abordados são precipitação pluvial e a temperatura do ar, que são normalmente utilizados em estudos de projetos urbanos, agrícolas, ambientais, dentre outros setores, como o serviço público de saúde (Vianelo & Alves, 1991). As etapas de preparo do solo, definição de datas de plantio, estudo dos recursos hídricos, evapotranspiração, controle de vacinação e reforço no estoque de medicamentos para combater problemas respiratórios e possíveis epidemias, bem como uma infinidade de outras atividades, são projetadas mediante o uso de um bom estimador para a precipitação e para a temperatura (Mello et al. 2003; Queiroz et al. 2001). Assim objetivou–se com o presente trabalho, utilizar metodologia de análise geoestatística para caracterizar a magnitude de dependência temporal da precipitação pluvial de Juiz de Fora –MG, para os dados observados (ano de 1967 a 1999), com base no arranjo unidimensional. MATERIAL E MÉTODOS Os dados observados referem-se à precipitação pluvial, em mm, observada em uma estação pluviométrica da Agência Nacional das Águas, localizada no município de Juiz de Fora – MG. Essa estação, denominada de Estação Torreões, localiza-se na latitude -21º 52’ 9’’, longitude -43º 33’ 20’’ e altitude de 442 m (ANA, 2007). Nas análises foram utilizados os dados do período de 1967 a 1999, que fazem parte da base de dados de séries históricas 1 Matemática, Doutoranda em Estatística e Exp. Agropecuária, UFLA [email protected]. Zootecnista, Professor Adjunto do DEX, UFLA, [email protected]. 3 Agrônomo, Pesquisador Doutor, DEG, Bolsista CNPq, UFLA, [email protected]. 4 Engenheiro de Produção, , Professor Associado do DEX, UFLA, marcelo.oliveira @ ufla.br 2 (ANA, 2007). Inicialmente foi realizada uma análise descritiva dos dados, buscando visualizar o comportamento geral destes, para uma posterior análise geoestatística. Para representar o semivariograma experimental foi utilizado o modelo isotrópico ‘wave’, que conforme Isaaks & Srivastava, (1989) é definido como: γ ( h, β ) = C02 + sen ⎛⎜ ⎞⎟ , h ⎝a⎠ a h em que γ(h) é a semivariância para a distância h; Co é o efeito pepita; Co+C é o patamar e a é o alcance da dependência espacial. Nesse caso, os dados foram analisados ao longo dos meses considerando um arranjo unidimensional. Após o ajuste do semivariograma, foi realizada a interpolação por krigagem ordinária para mapear a variável, de acordo com Goovaerts (1997) dado pela seguinte equação: n( x) * Z KO ( x) = ∑ λ j ( x ) z ( x j ), j =1 em que n(x) é o número de observações de precipitação pluvial z ( x j ) , utilizadas para estimar * * Z KO ( x) , e λ j são os pesos associados às observações z ( x j ) . Nesse caso, para que Z KO ( x) seja não tendencioso, a soma dos pesos das observações deve ser igual a 1, a esperança entre o valor estimado e o observado dever ser zero e, a variância das estimativas deve ser mínima. Após as análises foi utilizado um artifício, como uma forma alternativa apenas de visualização dos dados, no qual considerou-se meses na vertical e anos na horizontal, de forma bidimensional. Todas as análises foram realizadas no pacote geoR (Ribeiro Júnior & Diggle, 2001), do ambiente computacional R (R Development Core Team, 2007). RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Tabela 1, apresentam-se as estatísticas obtidas para variável em estudo. A média mensal de precipitação nos 33 anos estudados foi de 124,68 mm/mês, com precipitação mínima de zero e total máximo mensal de 755,60 mm. Analisando-se a média, a mediana, os coeficientes de assimetria e de curtose, verifica-se que a variável precipitação se afasta da distribuição normal, apresentando–se com um comportamento assimétrico à esquerda e com distribuição leptocúrtica. TABELA 1 Estatísticas descritivas da precipitação pluvial do período de 1967 a 1999 de Juiz de Fora – MG, para a estação Torreões. Nº observações 396 Média Mediana Mínima Máxima Assimetria Curtose 124,68 77,85 0,00 755,60 1,42 2,27 O semivariograma experimental para a precipitação pluvial é apresentado na Figura 1, sendo utilizado para avaliar a dependência temporal da variável em estudo. O exame do semivariograma para a precipitação média anual revela que existe dependência temporal, em que o efeito pepita é C0 = 6094,66 e o alcance a = 5,93 meses. O alcance indica que os índices de precipitação pluvial apresentaram dependência temporal de até 5,93 meses, e valores separados por distâncias superiores a 5,93 são considerados temporalmente 15000 10000 • Experimental Wave 0 5000 semivariâncias 20000 25000 independentes entre si. O patamar é de 14532,93 meses. 0 2 4 6 8 10 Distância ||h|| FIGURA 1 Semivariograma experimental e teórico com ajuste do modelo `wave`, para os dados observados de precipitação pluvial de Juíz de Fora – MG. Na Figura 2 está apresentada a série de precipitação pluvial distribuída ao longo do tempo, obtida pela krigagem ordinária. Verificou-se que essa forma de apresentação visual dos dados é utilizada pela metodologia de Series Temporais, e utilizando o artifício de considerar meses na vertical e anos na horizontal, de forma bidimensional, é uma alternativa para representar esses dados, conforme pode ser visualizado na Figura 3. Nesse mapa, cada retângulo na horizontal representa um 1 mês em um determinado ano, sendo ano apresentado 0 200 400 600 na horizontal e mês na vertical. 0 100 200 300 400 Time Tempo FIGURA 2 Série da precipitação pluvial distribuída ao longo do tempo. Observou-se que utilizando o artifício de se considerar o tempo em uma escala bidimensional, ao invés de unidimensional, os dados podem ser apresentados de forma mais didática, em que é visível o padrão de sazonalidade da variável, caracterizado por áreas de maior e menor concentração das chuvas. Assim, este mapa revela uma faixa central, que corresponde aos meses de maio a setembro, em vermelho, com baixas precipitações ao longo de todos os anos avaliados, que representa o período da seca, que é bem definido em Juiz de Fora, MG. Nota-se ainda que os maiores índices de precipitação são observados nos meses de novembro, dezembro, janeiro, fevereiro e março (retângulos amarelos e alaranjados), o que era de se esperar pois, trata-se do período chuvoso. Além disso, observa-se neste período uma 9 10 12 maior variabilidade dos índices pluviais. Meses 6 7 8 600 4 5 400 1 2 3 200 0 1967 1975 1983 1991 1999 Anos FIGURA 3 Representação bidimensional da krigagem da precipitação mensal de Juiz de Fora, MG, considerando meses na vertical e anos na horizontal. CONCLUSÕES A série de precipitação pluvial de Juiz de Fora – MG apresenta dependência temporal, que pode ser descrita pelo semivariograma ‘wave’ isotrópico, com alcance da dependência de 5,93 meses. Verificou-se que a distribuição ao longo do tempo, obtida pela krigagem ordinária, não é uma forma muito interessante para estar visualizando esses dados, e que o artifício utilizado de forma bidimensional, melhorou essa visualização sendo uma forma mais didática para apresentar esses dados de precipitação pluvial. Outros arranjos temporais devem ser avaliados em estudos posteriores, considerando a forma bidimensional, a fim de se obter melhor ajuste do semivariograma teórico ao semivariograma experimental no estudo de séries temporais de variáveis climáticas, utilizando-se a metodologia de análise geoestatística. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANA. Agência Nacional das Águas. Disponível em: < htt:// www.ana.gov.br. > Acesso em: julho de 2007. GOOVAERTS, P. Geostatistics for natural resources evaluation. New York: Oxford University Press, 1997. 512 p. ISAAKS, E. H.; SRIVASTAVA, R. M. Applied geostatistics. New York: Oxford University Press, 1989. 561 p. 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