Actas del II Congreso Internacional SEEPLU - Difundir l/a Lusofonia
Cáceres: SEEPLU / CILEM / LEPOLL, 2012.
Educação e formação de adultos – cultura, língua e
comunição
A prática do recurso ao texto literário para uma consolidação da cultura
Margarida Silva Gomes – [email protected]
Anabela Lima Maria – [email protected]
Escola EB2,3/S Pedro Ferreiro
Estela Ribeiro Lamas – [email protected]
ESE Jean Piaget, VNG, Portugal
Resumo
Reflectimos sobre experiências, que temos vindo a realizar no âmbito da
nossa praxis docente, partindo de uma contextualização em termos das
orientações pedagógicas e processuais que sustentam os cursos de Educação
e Formação de Adultos, Nível Secundário [EFA-NS]. Uma vez a
contextualização realizada, partimos para uma problematização da
metodologia ‘Histórias de Vida’, questionando as suas potencialidades para
uma aprendizagem por competências:
(i) Será que a implicação dos alunos a nível pessoal e profissional pode
de facto promover e potenciar as suas aprendizagens?
(ii) De que forma o texto literário pode servir para essa implicação?
A título de exemplificação, apresentamos três experiências realizadas.
Abstract
The following reflections are formed from experiences that have taken place
during the scope of teaching practice for adult learners, based upon the
context of the teaching guidance and processes that support courses for the
Education and Training of Adults at Secondary Level (EFA-NS).
Having established the context, the starting point was “Life History”
methodology, questioning its potential for a competency-based learning
process, with particular focus on:
(i) What would the personal and professional implications be for
students using this form of learning? Can involvement in the
learning process improve this process for students?
(ii) In what way literary text serves this purpose?
In order to illustrate these issues, 3 pieces of evidence are presented.
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Introdução
Para uma melhor compreensão das práticas que nos propomos
partilhar, convocamos as orientações pedagógicas e processuais que
sustentam os cursos de Educação e Formação de Adultos, Nível
Secundário [EFA-NS]. Cientes de que dessas orientações faz parte
uma perspectiva de aprendizagem por competências, centrada na
metodologia ‘Histórias de Vida’ do aluno adulto, problematizaremos
o recurso a esta metodologia como forma de promover e potenciar as
aprendizagens, e a eleição, na nossa praxis docente, de temas que
convoquem experiências quer da vida profissional dos nossos alunos,
quer da sua vida pessoal. Uma vez que, desse modo, é possível
flexibilizar os processos de formação e adequar o trabalho aos
interesses e necessidades dos alunos, há a oportunidade de
implementar experiências no âmbito da Área de Cultura, Língua e
Comunicação [CLC], utilizando o texto literário para implicar os
alunos nas temáticas programadas, oferecendo-lhes, assim, a
oportunidade de consolidar conhecimentos sobre a cultura e
literatura portuguesas.
A título de exemplo, recuperámos três das experiências
realizadas: (i) A poesia de Cesário Verde, pela temática de
preocupação com a realidade social; (ii) As narrativas A Cidade e as
Serras de Eça de Queirós e O homem de Sophia de Melo Breyner
Andresen, considerando a oposição cidade/campo; (iii) A poesia de
Fernando Pessoa, de alguns poetas de intervenção e a produção de
uma peça de teatro, inserida na temática de identidade nacional.
Orientações pedagógicas e processuais
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O Referencial de Competências Chave [RCC] é visto como “(…) um
quadro de referência a ajustar a cada adulto e a cada grupo, nos seus
contextos de vida, valorizando as aprendizagens significativas, (…)”
(Gomes 2006: 20), tendo como meta a “mudança pessoal e social”.
A meta apontada leva a reflectir sobre a importância de
propiciar oportunidades favoráveis à construção de conhecimento
pela disponibilidade de conteúdos cujo valor se evidencie na vida
real; importa, pois, ter em mente os princípios orientadores para esta
modalidade de Educação de Adultos.
Quanto ao primeiro, destacamos a importância da
adaptabilidade aos diferentes contextos em que se integra a
aprendizagem, assim como o perfil do próprio do aluno. No segundo
princípio, aponta-se para a flexibilidade perante o grupo alvo,
considerando os seus contextos pessoais e profissionais,
aconselhando a construção local do currículo.
Por fim, são mencionadas ideias que remetem para a
articulação curricular, tal como, para a mobilização de diferentes
competências, “análise, pesquisa, e resolução de problemas” (Gomes
op.cit.: 21), promovendo-se a realização de “Actividades
Integradoras”, que permitam ao aluno preparar-se para dar resposta
a situações de vida diversas, resolver problemas e adaptar-se a novas
situações do quotidiano. Urge, portanto, pensar em termos de
Educação holística, a qual contempla o ser no seu todo e assim, não
perder de vista a importância de uma formação integral e continuada
do indivíduo, tendo como horizonte a preparação de cidadãos
atentos, críticos e reflexivos, tanto nas suas comunidades, como em
relação ao espaço europeu e mundial.
Na instituição em que trabalhamos, CLC é lecionada por um
professor de Português e um professor de História. É, pois, neste
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âmbito de trabalho colaborativo que, que planificamos e
implementamos o trabalho que apresentamos e sobre o qual
refletimos.
Aprendizagem por competências e a Metodologia ‘Histórias de
vida’
A metodologia ‘Histórias de Vida’ proporciona-nos
oportunidades de pesquisa e de formação; esta metodologia, ao
permitir ao sujeito da história recuperada confrontar-se com as
vivências experimentadas, leva-o à construção da sua identidade, já
que cria oportunidades de aprofundar as reflexões sobre a sua vida
pessoal e/ou a profissional. O autoconhecimento vai, assim,
emergindo e facilitando as interacções entre a identidade pessoal e a
profissional do aluno, contribuindo mesmo para anular qualquer
possível dissonância entre ambas.
Percebendo o ensino como actividade de autocrítica e como
prática social, assim como a metodologia em causa permite ao
professor assumir-se como um profissional autónomo, reflexivo,
investigando a partir da sua própria prática e sobre ela, também pode
dar azo a que o professor crie condições para que o aluno se assuma,
também ele, como sujeito autónomo e questione as suas experiências.
As interacções que ele estabelece consigo mesmo, com os outros e
com os acontecimentos do seu quotidiano, permitir-lhe-ão aprender
através de tentativas, ora bem sucedidas ora mal, sempre aberto à
reflexão e, a partir delas, elaborar conhecimentos acerca da sua vida,
seja a nível pessoal, seja a nível comunitário, seja a nível profissional.
A reforçar esta posição temos Moita, ao afirmar: “Só uma história de
vida permite captar o modo como cada pessoa, permanecendo ela
própria, se transforma. Só uma história de vida põe em evidência o
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modo como cada pessoa mobiliza os seus conhecimentos, os seus
valores, as suas energias, para ir dando forma à sua identidade, num
diálogo com seus contextos” (1995: 116).
No trabalho que desenvolvemos com os nossos alunos,
procurámos sempre orientá-los na procura das experiências mais
significativas que os ajudassem a valorizar a aprendizagem em que se
empenhavam. Convocando essas experiências e partilhando-as, eles
puderam confrontar não só tempos diferentes – passado e presente
como também realidades diferentes – as deles e as dos colegas.
Sentimos, pois, que:
Abordar a construção discursiva da identidade é aceitar a
importância (i) da verbalização da(s) experiência(s) de vida; (ii)
da narração de histórias de vida; (iii) dos relatos na primeira
pessoa. A identificação/identidade do sujeito tem, pois, a ver
com situações de intercâmbio, com estratégias estabelecidas, com
códigos sociais e culturais. Daí que possamos concluir que a
identidade é um lugar-em-tensão que vai ganhando contornos
diferentes ao longo dos tempos (Lamas 2009: 38).
No Memorando de 2000, houve consenso relativamente às
quatro finalidades da Educação:´
- a realização pessoal;
- a cidadania activa;
- a inclusão social;
- a empregabilidade / adaptabilidade
Destacamos que a ALV não está apenas relacionada com o
desenvolvimento profissional, mas representa um processo
continuado de aprendizagem, desde a primeira infância, e perdura ao
longo das nossas vidas (Longworth 2005), numa (re)construção
permanente de nós próprios, inseridos nas nossas comunidades, com
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os nossos valores; considerando a integração no mundo da diferença
e da multiculturalidade.
Para conseguir esta visão global da aprendizagem, encaramos
como fundamental fornecer, aos estudantes, instrumentos que lhes
permitam ser aprendentes em qualquer momento e em qualquer
lugar. Falamos de competências que se relacionam com os
conhecimentos, com a curiosidade científica, com a autonomia, com a
capacidade de comunicação, com a apropriação das novas
tecnologias, ou seja, com todas as competências que possam ser
relevantes para o futuro, tanto a nível prático-profissional, como
cultural e cívico. Salientamos ainda que “A necessidade de aquisição,
por parte dos cidadãos, de competências e conhecimentos para poder
tirar partido das benesses da sociedade do conhecimento, mas
também fazer face aos seus desafios, é mais premente do que nunca”
(…) COM 678 (2001: 7).
Esta ideia de formação integral não passa apenas pela Educação
formal. Consideramos que as aprendizagens não formais e informais
são de importância fundamental para implementar o trabalho a que
nos propomos. Na senda de Carneiro (2011: 24) destacamos que o
grande objetivo para a Educação – e ao mesmo tempo o seu grande
desafio – é, facultar aos estudantes “Learning to organize multiple
sources of information, learning to learn from experience
(experiential knowledge), dealing with the social dimensions of
knowledge formation, learning to self-regulate the effort to learn, (…)
these are but a few of the pressing challenges that form part of a
learning culture”.
De acordo com COM 548 (2005), registam-se ainda dificuldades
de leitura e de escrita numa parte considerável da população adulta.
Lembramos igualmente o facto de que, quanto menos formação tem o
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indivíduo, menos consciência tem da necessidade de melhorar as
suas
competências,
ficando
mais
debilitado
social
e
profissionalmente. Neste sentido, o mesmo documento (op.cit.: 4)
refere que: “(...) as pessoas pouco qualificadas são menos susceptíveis
de participar em acções de formação, pelo que se torna mais difícil
ajudar aqueles que mais necessitam”. Convém, então, sublinhar a
importância da relação entre a Escola e o meio envolvente, para o que
será essencial uma maior cooperação institucional com as forças
influentes a nível da comunidade.
Face às dificuldades conhecidas, mas ainda não ultrapassadas,
relativamente à formação dos cidadãos europeus, a Comissão
estabelece um novo Quadro de Referência definindo as oito
competências-chave para a ALV, enunciadas no seu anexo 2005/0221.
No referido documento (2005: 15), são consideradas
‘competências-chave’ aquelas que “(…) todas as pessoas carecem
para a realização e o desenvolvimento pessoais, para exercerem uma
cidadania activa, para a inclusão social e para o emprego. (…)
devendo
essas
competências
poder
ser
posteriormente
desenvolvidas, mantidas e actualizadas no contexto da aprendizagem
ao longo da vida”.
Destacamos também a componente emocional, tal como lembra
(Tejadas Zabaleta (2007), que o conceito de competência está para
além do cognitivo e do laboral. Competência envolve o saber, o sentir
e o fazer, ou seja, o conhecimento, as emoções/os afetos e a ação que,
conjuntamente com o contexto, contribuem para a formação e
desenvolvimento do ser.
O texto literário e a Área de Formação CLC – partilha de boas
práticas
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Encarando a literatura como uma forma artística de
representação do real, ela é fundamental, pois encerra um conjunto
de documentos histórico-culturais e artísticos, que nos permitem
relacionar a dimensão estética da língua com as experiências, ideias,
sentimentos e valores próprios, sendo, por isso, um contributo assaz
rico para ajudar os alunos a melhor interpretarem o mundo e a
natureza humana, mas ao mesmo tempo a desenvolverem
competências de argumentação e fundamentação.
Na nossa atividade docente, tentamos não perder de vista a
importância de inter-relacionar competências linguísticas, pois, na
base da aprendizagem, está a necessidade de aprender a dialogar,
aprender a entrar em interação com o outro, isto é a integrar a
comunidade.
A língua, como veículo de afirmação do eu no mundo, não
poderá nunca ser dissociada da aprendizagem e do desenvolvimento
do ser humano, que é simultaneamente um ser cultural e artístico. Do
mesmo modo, haverá que recorrer à literatura, enquanto,
potenciadora das virtualidades da Língua Materna; na óptica de
Lamas (1993:106,107):
(...) tendo em conta os pressupostos (...) – a língua como
fundamento do ser (permitindo-lhe a conquista da
individualidade), a língua como matéria-prima (a que recorre a
poesia, conferindo-lhe a possibilidade da extensão filosófica da
existência humana) e ainda o fenómeno literário (no qual
inserimos o poético) como participante do fenómeno da
comunicação – a literatura ergue-se como a interpretação da vida
e do mundo (...) oferece aos que falam a mesma língua a ocasião
de viverem mais plenamente as experiências que eles não
souberam verbalizar e reter, para sempre, pela palavra escrita e
através de uma forma estética (...) como cada ser humano ganha a
sua individualidade e fundamenta o seu ser no uso particular
que faz da língua (...).
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Face ao exposto, introduzimos no Núcleo Gerador [NG]
‘Saberes Fundamentais’, conteúdos da Literatura portuguesa
associados à análise de artefactos de pintura, permitindo assim o
contacto entre duas manifestações artísticas. Desta maneira,
explorámos imagens e linguagens simbólicas, para despertar a
consciência de que a comunicação se pode manifestar a diversos
níveis, para além da linguagem escrita. Com esta proposta, não só
despertámos a sensibilidade dos alunos para questões relacionadas
com a arte, mas também possibilitámos o desenvolvimento do poder
de investigação, análise e síntese e da expressão de opiniões, de
forma verbal, contextualizada e fundamentada. Tal atividade
permitiu ainda a clarificação das diferentes intencionalidades
comunicativas. Em termos de literatura, recorremos à poesia de
Cesário Verde. Apesar da relutância inicial para com esta tipologia
textual, insistimos na sua utilização, para, de alguma forma
desmistificar a compreensão da poesia. A opção por Cesário Verde
deve-se a que, por um lado, se adequa às temáticas a abordar e, por
outro, é um tipo de poesia realista, cuja interpretação se torna
relativamente acessível, contando com o facto de que os alunos
compreenderam as noções de linguagens simbólicas trabalhadas na
pintura.
Contextualizámos Cesário Verde na segunda metade do século
XIX, perspetivando a sua vida e obra na História europeia e nacional.
Com isto reforçamos a ideia de que a arte é uma forma de reflectir o
real e, por isso, não pode ser vista como algo à parte do mundo.
Uma outra experiência que partilhamos é o trabalho
desenvolvido no âmbito do NG “Urbanismo e Mobilidade”. Em
equipa pedagógica, esboçou-se um desenho didático, que foi
complementado com os contributos dos alunos. Deste desenho,
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destacámos a dicotomia cidade/campo e selecionámos os conteúdos
que melhor refletiam e que contribuiam para o desenvolvimento das
competências específicas e transversais.
Em CLC pretende-se dotar os alunos de competências genéricas
que se ligam particularmente, com aspetos de:
i. literacia – ler, escrever, interpretar e argumentar;
ii. desenvolvimento humano – refletir, avaliar, compreender;
iii. vivência social – apreciar, usufruir, relativizar, respeitar,
adaptar e reconhecer a importância da Cultura, como forma de
manifestação
Tendo em mente a formação integral, é importante perspetivar
a língua na sua dimensão ontológica e a literatura, como um reflexo
da natureza humana, nas suas múltiplas dimensões – alegrias,
tristezas, paixões, desconcertos, face ao eu e aos outros. Invocamos
Delors (1996:87) que afirma que “Na escola, a arte e a poesia
deveriam ocupar um lugar mais importante do que aquele que lhes é
concedido, em muitos países, por um Ensino tornado mais utilitarista
do que cultural.”.
Neste sentido, escolhemos como conteúdos literários passagens
da obra A Cidade e as Serras de Eça de Queirós, onde o confronto
cidade/ campo é óbvio. A opção por esta obra permitiu não apenas o
contacto com o escritor, com a crítica social inerente, com o estilo
queirosiano, mas ainda com aspetos de mediação de posições –
assumidas por Eça – ao querer, de certa forma, fundir o melhor dos
dois mundos. A atualidade desta temática torna ainda mais
pertinente esta opção, pois, hoje em dia, verifica-se um quase ‘êxodo
urbano’, na busca de uma melhor qualidade de vida que se reconhece
cada vez mais na vida rural. Trabalhámos também o conto “O
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Homem”, de Mello Breyner Andresen, onde a cidade é vista pela
focalização de alguém que realça a perda de valores e de identidade
como os aspetos urbanos. A crítica social continuou presente, numa
outra dimensão, mas permitiu e deu azo a que os alunos refletissem,
de forma a uma maior consciencialização das suas escolhas. Não
podemos ignorar a proveniência rural dos nossos alunos e a
importância de refletir sobre as suas opções de vida e da repercussão
que elas possam ter. Como complemento deste processo de
aprendizagem, organizou-se a Visita à Fundação Eça de Queirós, em
Tormes e iniciou-se o projeto de uma Visita de Estudo a Paris, que se
realizou posteriormente.
Usar a literatura como forma de refletir sobre temáticas atuais,
nomeadamente a opção de vida no campo, em pleno séc. XXI; sobre a
valorização de um ou de outro espaço; sobre o encontrar de equilíbrio
entre eles, permite-nos clarificar a ideia de que a literatura não é só
para alguns, desgarrada do real e difícil de compreender. Esta
particularização das temáticas contribui também para os projetos de
trabalho sobre a região – a evolução da escola na Vila, em termos
urbanísticos, a reflexão sobre o seu próprio percurso escolar, e as
diferentes transformações que a Instituição já sofreu. Este trabalho
esteve ao serviço do que consideramos ser uma perspetiva
comunitária da Educação, pois o conhecimento da realidade
desencadeou a vontade de agir e intervir.
Salientamos que este NG nos permitiu observar que os alunos,
ao tomarem contacto com diferentes realidades, tomaram maior
consciência do seu próprio ambiente, com as suas vantagens e
desvantagens. Por outro lado, da noção do local, tomaram também
consciência do global e da mais-valia de os encararem em conjunto e
não como pólos opostos.
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O último exemplo que apresentamos prende-se com o recurso à
poesia de Fernando Pessoa e de poetas de intervenção. Esta escolha
deveu-se à vontade manifestada pelos alunos de realizar uma peça de
teatro, cujo assunto – ‘marcos de identidade nacional’ – foi a temática
em desenvolvimento na Área de Formação Cidadania e
Profissionalidade.
Deste modo, elaborámos o desenho didático, cujos conteúdos, a
nível da História foram:
i. marcos de Identidade e Alteridade no século XX –
pretendendo-se que os alunos se consciencializassem de fatores
relacionados com a multiplicidade da História, i.e. refletir sobre
aspetos da História Portuguesa e a História Europeia e Mundial, nos
períodos propostos;
a nível da Língua e Literatura Portuguesas:
ii.
funcionalidades
da
linguagem;
intencionalidade
comunicativa; texto poético e as suas características; poesia de
Fernando Pessoa; heteronímia como forma de criação, ‘fingimento
poético’; poetas de intervenção; intencionalidade e características
elementares do texto dramático.
Salientamos que, no que respeita à língua, os conteúdos foram
trabalhados no sentido de integrar a peça de teatro. Esta pretendia
evidenciar temáticas marcantes do séc. XX em Portugal e no Mundo,
daí, em termos da Literatura portuguesa, a escolha da poesia de
Fernando Pessoa e alguns poetas de intervenção, nomeadamente José
Carlos Ary dos Santos e José Afonso, considerando a sua importância
para a cultura portuguesa.
Quanto à escrita da peça de teatro, os conteúdos relacionaramse com as funcionalidades e intencionalidades comunicativas e com o
texto dramático e suas características.
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Sem esquecer que o NG em trabalho é Tecnologias de
Informação e Comunicação [TIC] importa mencionar que o grupo
detinha já conhecimentos relacionados com TIC, pelo que explorámos
competências essencialmente relacionadas com a:
i. pesquisa consciente através dos meios informáticos;
ii. utilização das TIC como meio de comunicação a distância;
iii. adequação da linguagem a diferentes contextos de
comunicação;
iv. importância dos meios informáticos como forma de difundir
a cultura.
A nível da perspetiva histórica, os alunos manifestaram grande
interesse sobre o Estado Novo e a Revolução do 25 de Abril de 1974,
pelo que, em algumas aulas, foi possível criar uma interação entre os
mais jovens, os alunos seniores e a docente, tendo-se estas aulas
tornado muito ricas em termos de argumentação, discussão de ideias
e contextualização histórica.
Conclusão
O recurso ao texto literário permite-nos realçar a ideia de que
esta manifestação artística é uma forma de expressar e de modelizar o
mundo. Ao mesmo tempo, leva à consciencialização de que a Língua
Materna é um veículo de afirmação do eu e que, quanto melhor a
dominarmos, melhor nos afirmamos enquanto seres humanos.
Através do texto literário, conseguimos despertar nos alunos a
vontade de melhorarem, o que se traduz pela forma como se
expressam, quer oralmente quer por escrito, uma vez que a reescrita,
passa a ser quase um processo exigido por eles, pois querem ‘ter um
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trabalho melhor’. Em termos orais, verificamos também a auto e
hetero-correcção, numa perspetiva construtivista, o que evidenciou
um processo de metacognição e meta-avaliação a despontar.
No que diz respeito à Educação e Formação de Adultos, tal
como a concebemos, destacamos a importância do trabalho colegial,
no seio da equipa pedagógica, e particularmente da co-docência. O
trabalho, aqui apresentado, reflete essa colaboração através de uma
praxis centrada nos aprendentes e desenvolvida de forma sequencial,
flexível e adaptada, criando momentos de aprendizagem a nível da
Língua e Literatura Portuguesas e da História de Portugal, pela
interligação de conteúdos e estratégias. A sua escolha permite a
sequencialização de temáticas e atividades, de forma a que a Área de
Formação seja entendida e sentida pelos alunos, como uma só e não
como a soma de duas partes, levando à prática a ideia de que cada
professor dá continuidade e progressão ao trabalho iniciado.
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