Actas del II Congreso Internacional SEEPLU - Difundir l/a Lusofonia Cáceres: SEEPLU / CILEM / LEPOLL, 2012. Educação e formação de adultos – cultura, língua e comunição A prática do recurso ao texto literário para uma consolidação da cultura Margarida Silva Gomes – [email protected] Anabela Lima Maria – [email protected] Escola EB2,3/S Pedro Ferreiro Estela Ribeiro Lamas – [email protected] ESE Jean Piaget, VNG, Portugal Resumo Reflectimos sobre experiências, que temos vindo a realizar no âmbito da nossa praxis docente, partindo de uma contextualização em termos das orientações pedagógicas e processuais que sustentam os cursos de Educação e Formação de Adultos, Nível Secundário [EFA-NS]. Uma vez a contextualização realizada, partimos para uma problematização da metodologia ‘Histórias de Vida’, questionando as suas potencialidades para uma aprendizagem por competências: (i) Será que a implicação dos alunos a nível pessoal e profissional pode de facto promover e potenciar as suas aprendizagens? (ii) De que forma o texto literário pode servir para essa implicação? A título de exemplificação, apresentamos três experiências realizadas. Abstract The following reflections are formed from experiences that have taken place during the scope of teaching practice for adult learners, based upon the context of the teaching guidance and processes that support courses for the Education and Training of Adults at Secondary Level (EFA-NS). Having established the context, the starting point was “Life History” methodology, questioning its potential for a competency-based learning process, with particular focus on: (i) What would the personal and professional implications be for students using this form of learning? Can involvement in the learning process improve this process for students? (ii) In what way literary text serves this purpose? In order to illustrate these issues, 3 pieces of evidence are presented. Margarida Gomes / Anabela Maria / Estela Lamas. “Educação e formação de adultos…”. Actas del II Congreso Internacional SEEPLU, 2012, pp. 261-275 261 Introdução Para uma melhor compreensão das práticas que nos propomos partilhar, convocamos as orientações pedagógicas e processuais que sustentam os cursos de Educação e Formação de Adultos, Nível Secundário [EFA-NS]. Cientes de que dessas orientações faz parte uma perspectiva de aprendizagem por competências, centrada na metodologia ‘Histórias de Vida’ do aluno adulto, problematizaremos o recurso a esta metodologia como forma de promover e potenciar as aprendizagens, e a eleição, na nossa praxis docente, de temas que convoquem experiências quer da vida profissional dos nossos alunos, quer da sua vida pessoal. Uma vez que, desse modo, é possível flexibilizar os processos de formação e adequar o trabalho aos interesses e necessidades dos alunos, há a oportunidade de implementar experiências no âmbito da Área de Cultura, Língua e Comunicação [CLC], utilizando o texto literário para implicar os alunos nas temáticas programadas, oferecendo-lhes, assim, a oportunidade de consolidar conhecimentos sobre a cultura e literatura portuguesas. A título de exemplo, recuperámos três das experiências realizadas: (i) A poesia de Cesário Verde, pela temática de preocupação com a realidade social; (ii) As narrativas A Cidade e as Serras de Eça de Queirós e O homem de Sophia de Melo Breyner Andresen, considerando a oposição cidade/campo; (iii) A poesia de Fernando Pessoa, de alguns poetas de intervenção e a produção de uma peça de teatro, inserida na temática de identidade nacional. Orientações pedagógicas e processuais Margarida Gomes / Anabela Maria / Estela Lamas. “Educação e formação de adultos…”. Actas del II Congreso Internacional SEEPLU, 2012, pp. 261-275 262 O Referencial de Competências Chave [RCC] é visto como “(…) um quadro de referência a ajustar a cada adulto e a cada grupo, nos seus contextos de vida, valorizando as aprendizagens significativas, (…)” (Gomes 2006: 20), tendo como meta a “mudança pessoal e social”. A meta apontada leva a reflectir sobre a importância de propiciar oportunidades favoráveis à construção de conhecimento pela disponibilidade de conteúdos cujo valor se evidencie na vida real; importa, pois, ter em mente os princípios orientadores para esta modalidade de Educação de Adultos. Quanto ao primeiro, destacamos a importância da adaptabilidade aos diferentes contextos em que se integra a aprendizagem, assim como o perfil do próprio do aluno. No segundo princípio, aponta-se para a flexibilidade perante o grupo alvo, considerando os seus contextos pessoais e profissionais, aconselhando a construção local do currículo. Por fim, são mencionadas ideias que remetem para a articulação curricular, tal como, para a mobilização de diferentes competências, “análise, pesquisa, e resolução de problemas” (Gomes op.cit.: 21), promovendo-se a realização de “Actividades Integradoras”, que permitam ao aluno preparar-se para dar resposta a situações de vida diversas, resolver problemas e adaptar-se a novas situações do quotidiano. Urge, portanto, pensar em termos de Educação holística, a qual contempla o ser no seu todo e assim, não perder de vista a importância de uma formação integral e continuada do indivíduo, tendo como horizonte a preparação de cidadãos atentos, críticos e reflexivos, tanto nas suas comunidades, como em relação ao espaço europeu e mundial. Na instituição em que trabalhamos, CLC é lecionada por um professor de Português e um professor de História. É, pois, neste Margarida Gomes / Anabela Maria / Estela Lamas. “Educação e formação de adultos…”. Actas del II Congreso Internacional SEEPLU, 2012, pp. 261-275 263 âmbito de trabalho colaborativo que, que planificamos e implementamos o trabalho que apresentamos e sobre o qual refletimos. Aprendizagem por competências e a Metodologia ‘Histórias de vida’ A metodologia ‘Histórias de Vida’ proporciona-nos oportunidades de pesquisa e de formação; esta metodologia, ao permitir ao sujeito da história recuperada confrontar-se com as vivências experimentadas, leva-o à construção da sua identidade, já que cria oportunidades de aprofundar as reflexões sobre a sua vida pessoal e/ou a profissional. O autoconhecimento vai, assim, emergindo e facilitando as interacções entre a identidade pessoal e a profissional do aluno, contribuindo mesmo para anular qualquer possível dissonância entre ambas. Percebendo o ensino como actividade de autocrítica e como prática social, assim como a metodologia em causa permite ao professor assumir-se como um profissional autónomo, reflexivo, investigando a partir da sua própria prática e sobre ela, também pode dar azo a que o professor crie condições para que o aluno se assuma, também ele, como sujeito autónomo e questione as suas experiências. As interacções que ele estabelece consigo mesmo, com os outros e com os acontecimentos do seu quotidiano, permitir-lhe-ão aprender através de tentativas, ora bem sucedidas ora mal, sempre aberto à reflexão e, a partir delas, elaborar conhecimentos acerca da sua vida, seja a nível pessoal, seja a nível comunitário, seja a nível profissional. A reforçar esta posição temos Moita, ao afirmar: “Só uma história de vida permite captar o modo como cada pessoa, permanecendo ela própria, se transforma. Só uma história de vida põe em evidência o Margarida Gomes / Anabela Maria / Estela Lamas. “Educação e formação de adultos…”. Actas del II Congreso Internacional SEEPLU, 2012, pp. 261-275 264 modo como cada pessoa mobiliza os seus conhecimentos, os seus valores, as suas energias, para ir dando forma à sua identidade, num diálogo com seus contextos” (1995: 116). No trabalho que desenvolvemos com os nossos alunos, procurámos sempre orientá-los na procura das experiências mais significativas que os ajudassem a valorizar a aprendizagem em que se empenhavam. Convocando essas experiências e partilhando-as, eles puderam confrontar não só tempos diferentes – passado e presente como também realidades diferentes – as deles e as dos colegas. Sentimos, pois, que: Abordar a construção discursiva da identidade é aceitar a importância (i) da verbalização da(s) experiência(s) de vida; (ii) da narração de histórias de vida; (iii) dos relatos na primeira pessoa. A identificação/identidade do sujeito tem, pois, a ver com situações de intercâmbio, com estratégias estabelecidas, com códigos sociais e culturais. Daí que possamos concluir que a identidade é um lugar-em-tensão que vai ganhando contornos diferentes ao longo dos tempos (Lamas 2009: 38). No Memorando de 2000, houve consenso relativamente às quatro finalidades da Educação:´ - a realização pessoal; - a cidadania activa; - a inclusão social; - a empregabilidade / adaptabilidade Destacamos que a ALV não está apenas relacionada com o desenvolvimento profissional, mas representa um processo continuado de aprendizagem, desde a primeira infância, e perdura ao longo das nossas vidas (Longworth 2005), numa (re)construção permanente de nós próprios, inseridos nas nossas comunidades, com Margarida Gomes / Anabela Maria / Estela Lamas. “Educação e formação de adultos…”. Actas del II Congreso Internacional SEEPLU, 2012, pp. 261-275 265 os nossos valores; considerando a integração no mundo da diferença e da multiculturalidade. Para conseguir esta visão global da aprendizagem, encaramos como fundamental fornecer, aos estudantes, instrumentos que lhes permitam ser aprendentes em qualquer momento e em qualquer lugar. Falamos de competências que se relacionam com os conhecimentos, com a curiosidade científica, com a autonomia, com a capacidade de comunicação, com a apropriação das novas tecnologias, ou seja, com todas as competências que possam ser relevantes para o futuro, tanto a nível prático-profissional, como cultural e cívico. Salientamos ainda que “A necessidade de aquisição, por parte dos cidadãos, de competências e conhecimentos para poder tirar partido das benesses da sociedade do conhecimento, mas também fazer face aos seus desafios, é mais premente do que nunca” (…) COM 678 (2001: 7). Esta ideia de formação integral não passa apenas pela Educação formal. Consideramos que as aprendizagens não formais e informais são de importância fundamental para implementar o trabalho a que nos propomos. Na senda de Carneiro (2011: 24) destacamos que o grande objetivo para a Educação – e ao mesmo tempo o seu grande desafio – é, facultar aos estudantes “Learning to organize multiple sources of information, learning to learn from experience (experiential knowledge), dealing with the social dimensions of knowledge formation, learning to self-regulate the effort to learn, (…) these are but a few of the pressing challenges that form part of a learning culture”. De acordo com COM 548 (2005), registam-se ainda dificuldades de leitura e de escrita numa parte considerável da população adulta. Lembramos igualmente o facto de que, quanto menos formação tem o Margarida Gomes / Anabela Maria / Estela Lamas. “Educação e formação de adultos…”. Actas del II Congreso Internacional SEEPLU, 2012, pp. 261-275 266 indivíduo, menos consciência tem da necessidade de melhorar as suas competências, ficando mais debilitado social e profissionalmente. Neste sentido, o mesmo documento (op.cit.: 4) refere que: “(...) as pessoas pouco qualificadas são menos susceptíveis de participar em acções de formação, pelo que se torna mais difícil ajudar aqueles que mais necessitam”. Convém, então, sublinhar a importância da relação entre a Escola e o meio envolvente, para o que será essencial uma maior cooperação institucional com as forças influentes a nível da comunidade. Face às dificuldades conhecidas, mas ainda não ultrapassadas, relativamente à formação dos cidadãos europeus, a Comissão estabelece um novo Quadro de Referência definindo as oito competências-chave para a ALV, enunciadas no seu anexo 2005/0221. No referido documento (2005: 15), são consideradas ‘competências-chave’ aquelas que “(…) todas as pessoas carecem para a realização e o desenvolvimento pessoais, para exercerem uma cidadania activa, para a inclusão social e para o emprego. (…) devendo essas competências poder ser posteriormente desenvolvidas, mantidas e actualizadas no contexto da aprendizagem ao longo da vida”. Destacamos também a componente emocional, tal como lembra (Tejadas Zabaleta (2007), que o conceito de competência está para além do cognitivo e do laboral. Competência envolve o saber, o sentir e o fazer, ou seja, o conhecimento, as emoções/os afetos e a ação que, conjuntamente com o contexto, contribuem para a formação e desenvolvimento do ser. O texto literário e a Área de Formação CLC – partilha de boas práticas Margarida Gomes / Anabela Maria / Estela Lamas. “Educação e formação de adultos…”. Actas del II Congreso Internacional SEEPLU, 2012, pp. 261-275 267 Encarando a literatura como uma forma artística de representação do real, ela é fundamental, pois encerra um conjunto de documentos histórico-culturais e artísticos, que nos permitem relacionar a dimensão estética da língua com as experiências, ideias, sentimentos e valores próprios, sendo, por isso, um contributo assaz rico para ajudar os alunos a melhor interpretarem o mundo e a natureza humana, mas ao mesmo tempo a desenvolverem competências de argumentação e fundamentação. Na nossa atividade docente, tentamos não perder de vista a importância de inter-relacionar competências linguísticas, pois, na base da aprendizagem, está a necessidade de aprender a dialogar, aprender a entrar em interação com o outro, isto é a integrar a comunidade. A língua, como veículo de afirmação do eu no mundo, não poderá nunca ser dissociada da aprendizagem e do desenvolvimento do ser humano, que é simultaneamente um ser cultural e artístico. Do mesmo modo, haverá que recorrer à literatura, enquanto, potenciadora das virtualidades da Língua Materna; na óptica de Lamas (1993:106,107): (...) tendo em conta os pressupostos (...) – a língua como fundamento do ser (permitindo-lhe a conquista da individualidade), a língua como matéria-prima (a que recorre a poesia, conferindo-lhe a possibilidade da extensão filosófica da existência humana) e ainda o fenómeno literário (no qual inserimos o poético) como participante do fenómeno da comunicação – a literatura ergue-se como a interpretação da vida e do mundo (...) oferece aos que falam a mesma língua a ocasião de viverem mais plenamente as experiências que eles não souberam verbalizar e reter, para sempre, pela palavra escrita e através de uma forma estética (...) como cada ser humano ganha a sua individualidade e fundamenta o seu ser no uso particular que faz da língua (...). Margarida Gomes / Anabela Maria / Estela Lamas. “Educação e formação de adultos…”. Actas del II Congreso Internacional SEEPLU, 2012, pp. 261-275 268 Face ao exposto, introduzimos no Núcleo Gerador [NG] ‘Saberes Fundamentais’, conteúdos da Literatura portuguesa associados à análise de artefactos de pintura, permitindo assim o contacto entre duas manifestações artísticas. Desta maneira, explorámos imagens e linguagens simbólicas, para despertar a consciência de que a comunicação se pode manifestar a diversos níveis, para além da linguagem escrita. Com esta proposta, não só despertámos a sensibilidade dos alunos para questões relacionadas com a arte, mas também possibilitámos o desenvolvimento do poder de investigação, análise e síntese e da expressão de opiniões, de forma verbal, contextualizada e fundamentada. Tal atividade permitiu ainda a clarificação das diferentes intencionalidades comunicativas. Em termos de literatura, recorremos à poesia de Cesário Verde. Apesar da relutância inicial para com esta tipologia textual, insistimos na sua utilização, para, de alguma forma desmistificar a compreensão da poesia. A opção por Cesário Verde deve-se a que, por um lado, se adequa às temáticas a abordar e, por outro, é um tipo de poesia realista, cuja interpretação se torna relativamente acessível, contando com o facto de que os alunos compreenderam as noções de linguagens simbólicas trabalhadas na pintura. Contextualizámos Cesário Verde na segunda metade do século XIX, perspetivando a sua vida e obra na História europeia e nacional. Com isto reforçamos a ideia de que a arte é uma forma de reflectir o real e, por isso, não pode ser vista como algo à parte do mundo. Uma outra experiência que partilhamos é o trabalho desenvolvido no âmbito do NG “Urbanismo e Mobilidade”. Em equipa pedagógica, esboçou-se um desenho didático, que foi complementado com os contributos dos alunos. Deste desenho, Margarida Gomes / Anabela Maria / Estela Lamas. “Educação e formação de adultos…”. Actas del II Congreso Internacional SEEPLU, 2012, pp. 261-275 269 destacámos a dicotomia cidade/campo e selecionámos os conteúdos que melhor refletiam e que contribuiam para o desenvolvimento das competências específicas e transversais. Em CLC pretende-se dotar os alunos de competências genéricas que se ligam particularmente, com aspetos de: i. literacia – ler, escrever, interpretar e argumentar; ii. desenvolvimento humano – refletir, avaliar, compreender; iii. vivência social – apreciar, usufruir, relativizar, respeitar, adaptar e reconhecer a importância da Cultura, como forma de manifestação Tendo em mente a formação integral, é importante perspetivar a língua na sua dimensão ontológica e a literatura, como um reflexo da natureza humana, nas suas múltiplas dimensões – alegrias, tristezas, paixões, desconcertos, face ao eu e aos outros. Invocamos Delors (1996:87) que afirma que “Na escola, a arte e a poesia deveriam ocupar um lugar mais importante do que aquele que lhes é concedido, em muitos países, por um Ensino tornado mais utilitarista do que cultural.”. Neste sentido, escolhemos como conteúdos literários passagens da obra A Cidade e as Serras de Eça de Queirós, onde o confronto cidade/ campo é óbvio. A opção por esta obra permitiu não apenas o contacto com o escritor, com a crítica social inerente, com o estilo queirosiano, mas ainda com aspetos de mediação de posições – assumidas por Eça – ao querer, de certa forma, fundir o melhor dos dois mundos. A atualidade desta temática torna ainda mais pertinente esta opção, pois, hoje em dia, verifica-se um quase ‘êxodo urbano’, na busca de uma melhor qualidade de vida que se reconhece cada vez mais na vida rural. Trabalhámos também o conto “O Margarida Gomes / Anabela Maria / Estela Lamas. “Educação e formação de adultos…”. Actas del II Congreso Internacional SEEPLU, 2012, pp. 261-275 270 Homem”, de Mello Breyner Andresen, onde a cidade é vista pela focalização de alguém que realça a perda de valores e de identidade como os aspetos urbanos. A crítica social continuou presente, numa outra dimensão, mas permitiu e deu azo a que os alunos refletissem, de forma a uma maior consciencialização das suas escolhas. Não podemos ignorar a proveniência rural dos nossos alunos e a importância de refletir sobre as suas opções de vida e da repercussão que elas possam ter. Como complemento deste processo de aprendizagem, organizou-se a Visita à Fundação Eça de Queirós, em Tormes e iniciou-se o projeto de uma Visita de Estudo a Paris, que se realizou posteriormente. Usar a literatura como forma de refletir sobre temáticas atuais, nomeadamente a opção de vida no campo, em pleno séc. XXI; sobre a valorização de um ou de outro espaço; sobre o encontrar de equilíbrio entre eles, permite-nos clarificar a ideia de que a literatura não é só para alguns, desgarrada do real e difícil de compreender. Esta particularização das temáticas contribui também para os projetos de trabalho sobre a região – a evolução da escola na Vila, em termos urbanísticos, a reflexão sobre o seu próprio percurso escolar, e as diferentes transformações que a Instituição já sofreu. Este trabalho esteve ao serviço do que consideramos ser uma perspetiva comunitária da Educação, pois o conhecimento da realidade desencadeou a vontade de agir e intervir. Salientamos que este NG nos permitiu observar que os alunos, ao tomarem contacto com diferentes realidades, tomaram maior consciência do seu próprio ambiente, com as suas vantagens e desvantagens. Por outro lado, da noção do local, tomaram também consciência do global e da mais-valia de os encararem em conjunto e não como pólos opostos. Margarida Gomes / Anabela Maria / Estela Lamas. “Educação e formação de adultos…”. Actas del II Congreso Internacional SEEPLU, 2012, pp. 261-275 271 O último exemplo que apresentamos prende-se com o recurso à poesia de Fernando Pessoa e de poetas de intervenção. Esta escolha deveu-se à vontade manifestada pelos alunos de realizar uma peça de teatro, cujo assunto – ‘marcos de identidade nacional’ – foi a temática em desenvolvimento na Área de Formação Cidadania e Profissionalidade. Deste modo, elaborámos o desenho didático, cujos conteúdos, a nível da História foram: i. marcos de Identidade e Alteridade no século XX – pretendendo-se que os alunos se consciencializassem de fatores relacionados com a multiplicidade da História, i.e. refletir sobre aspetos da História Portuguesa e a História Europeia e Mundial, nos períodos propostos; a nível da Língua e Literatura Portuguesas: ii. funcionalidades da linguagem; intencionalidade comunicativa; texto poético e as suas características; poesia de Fernando Pessoa; heteronímia como forma de criação, ‘fingimento poético’; poetas de intervenção; intencionalidade e características elementares do texto dramático. Salientamos que, no que respeita à língua, os conteúdos foram trabalhados no sentido de integrar a peça de teatro. Esta pretendia evidenciar temáticas marcantes do séc. XX em Portugal e no Mundo, daí, em termos da Literatura portuguesa, a escolha da poesia de Fernando Pessoa e alguns poetas de intervenção, nomeadamente José Carlos Ary dos Santos e José Afonso, considerando a sua importância para a cultura portuguesa. Quanto à escrita da peça de teatro, os conteúdos relacionaramse com as funcionalidades e intencionalidades comunicativas e com o texto dramático e suas características. Margarida Gomes / Anabela Maria / Estela Lamas. “Educação e formação de adultos…”. Actas del II Congreso Internacional SEEPLU, 2012, pp. 261-275 272 Sem esquecer que o NG em trabalho é Tecnologias de Informação e Comunicação [TIC] importa mencionar que o grupo detinha já conhecimentos relacionados com TIC, pelo que explorámos competências essencialmente relacionadas com a: i. pesquisa consciente através dos meios informáticos; ii. utilização das TIC como meio de comunicação a distância; iii. adequação da linguagem a diferentes contextos de comunicação; iv. importância dos meios informáticos como forma de difundir a cultura. A nível da perspetiva histórica, os alunos manifestaram grande interesse sobre o Estado Novo e a Revolução do 25 de Abril de 1974, pelo que, em algumas aulas, foi possível criar uma interação entre os mais jovens, os alunos seniores e a docente, tendo-se estas aulas tornado muito ricas em termos de argumentação, discussão de ideias e contextualização histórica. Conclusão O recurso ao texto literário permite-nos realçar a ideia de que esta manifestação artística é uma forma de expressar e de modelizar o mundo. Ao mesmo tempo, leva à consciencialização de que a Língua Materna é um veículo de afirmação do eu e que, quanto melhor a dominarmos, melhor nos afirmamos enquanto seres humanos. Através do texto literário, conseguimos despertar nos alunos a vontade de melhorarem, o que se traduz pela forma como se expressam, quer oralmente quer por escrito, uma vez que a reescrita, passa a ser quase um processo exigido por eles, pois querem ‘ter um Margarida Gomes / Anabela Maria / Estela Lamas. “Educação e formação de adultos…”. Actas del II Congreso Internacional SEEPLU, 2012, pp. 261-275 273 trabalho melhor’. Em termos orais, verificamos também a auto e hetero-correcção, numa perspetiva construtivista, o que evidenciou um processo de metacognição e meta-avaliação a despontar. No que diz respeito à Educação e Formação de Adultos, tal como a concebemos, destacamos a importância do trabalho colegial, no seio da equipa pedagógica, e particularmente da co-docência. O trabalho, aqui apresentado, reflete essa colaboração através de uma praxis centrada nos aprendentes e desenvolvida de forma sequencial, flexível e adaptada, criando momentos de aprendizagem a nível da Língua e Literatura Portuguesas e da História de Portugal, pela interligação de conteúdos e estratégias. A sua escolha permite a sequencialização de temáticas e atividades, de forma a que a Área de Formação seja entendida e sentida pelos alunos, como uma só e não como a soma de duas partes, levando à prática a ideia de que cada professor dá continuidade e progressão ao trabalho iniciado. Bibliografia Carneiro, R. (2011). “Discovering the Treasure of Learning” in Jin Yang and Raúl Valdés-Cotera (ed.) Conceptual Evolution and Policy Developments in Lifelong Learning. Hamburgo: UNESCO, Institute for Lifelong Learning. Comissão Europeia. (2000). Memorando sobre Aprendizagem ao Longo da Vida, SEC 1832. Bruxelas: Comissão Europeia. Comissão Europeia. (2001). Tornar o Espaço Europeu de Aprendizagem ao Longo da Vida uma Realidade COM 678. Bruxelas: Comissão Europeia. Margarida Gomes / Anabela Maria / Estela Lamas. “Educação e formação de adultos…”. Actas del II Congreso Internacional SEEPLU, 2012, pp. 261-275 274 Comissão Europeia, (2005). Proposta de Recomendação do Parlamento Europeu e do Conselho sobre as Competências-chave para a Aprendizagem ao Longo da Vida – COM 548. Bruxelas: Comissão Europeia. Delors, J. (1996). Educação, Um Tesouro a Descobrir. Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre a Educação para o Séc. XXI. Porto: Edições Asa. Gomes, M. C. (coord.). (2006). Referencial de Competências-Chave para a Educação e Formação de Adultos – Nível Secundário: Guia de Operacionalização. Lisboa: DGFV. Lamas, E. M. R. (2009). 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