Anales del I Encuentro internacional del conocimiento : diálogos en nuestra América / I Encuentro de
las Ciencias Humanas y Tecnológicas para la Integración en el Conosur, 5, 6, e 7 de mayo 2011,
Pelotas, Brasil – Pelotas (RS) : Instituto Federal Sul-rio-grandense/IFSul, 2011 - ISSN 2238-0078
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Apéndice 4 los Anales del:
I Encuentro de las Ciencias Humanas y Tecnológicas para la Integración
en el Conosur
Simpósio 22 – Arquivos, FontesPrimárias e Periódicos
Apéndice 4
ISSN >> I Encuentro de las Ciencias Humanas y
Tecnológicas para la Integración en el Conosur
Catalogação na fonte: Ceila Soares - CRB10/926
E56 Encuentro de las Ciencias Humanas y Tecnológicas para la Integración en el Conosur (1.
: 2011 : Pelotas-Brasil)
Anales del I Encuentro internacional del conocimiento : diálogos en nuestra América / I
Encuentro de las Ciencias Humanas y Tecnológicas para la Integración en el Conosur, 5, 6, e
7 de mayo 2011, Pelotas, Brasil – Pelotas (RS) : Instituto Federal Sul-rio-grandense/IFSul,
2011. – v.1, 2011. - 1 CD-ROM.
ISSN 2238-0078
1. Conesul, integração do 2. Ciências humanas – Conesul 3. Ciências tecnológicas – Conesul
I. Título.
CDD: 300 600
Endereço da publicação: I Encuentro de las Ciencias Humanas y Tecnológicas
para la Integración en el Conosur
ISSN: 2238-0078
www.dialogosenmercosur.org - Publicações.
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Simpósio 22 – Arquivos, FontesPrimárias e Periódicos
Apéndice 4
FORTUNA CRÍTICA DE ÁLVARO MUTIS: DIÁLOGO FECUNDO ENTRE
TEXTOS A PARTIR DA PESQUISA EM FONTES PRIMÁRIAS
Luciane Senna Ferreira1
A proposta deste trabalho é apresentar as fontes e o balanço bibliográfico
que resultou do levantamento da fortuna crítica do escritor Álvaro Mutis, com
o objetivo de apontar a carência de trabalhos no âmbito nacional, indicando a
sua pouca visibilidade no Brasil, e a verificação que o estudo do cronotopo
narrativo de viagem é uma temática inédita na fortuna crítica da obra La nieve
del Almirante, assim como nas demais produções do autor.
Palavras-chave: Literatura latino-americana - Álvaro Mutis - Fortuna crítica –
Cronotopo de Viagem
Investigar o horizonte complexo e fecundo da literatura da América
Latina torna-se uma aventura. É navegar por mares agitados em um vai-evem vertiginoso, buscando respostas que, na maioria das vezes, não é
possível de encontrar e, quando encontradas, elas remetem para outras
perguntas e, assim, a viagem permanece.
Não há uma resposta fechada e única ao falar de literatura, o que
existe são possibilidades e caminhos para entender as letras, no curso da
história da América. As indagações surgem da vontade de compreensão e
autoesclarecimento do desenvolvimento do discurso ficcional e, muitas
vezes, da sua relação com o todo social.
Conforme as palavras de Aimée Bolaños (2002, p.27), “La literatura
como creación y praxis, en sus activos vínculos con la sociedad en su
conjunto, como parte sustantiva de la vida espiritual y de la historia, no simple
“reflexo” o expresión de una ideologia exterior a ella”.
1
Instituto Federal Sul-rio-grandense-Campus Pelotas. Praça Vinte de Setembro, 455-Bairro Centro-
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Dessa forma que a literatura modela-se enquanto arte, uma ficção
construída através de uma estética e de um discurso retórico próprio, ao
mesmo tempo em que se vincula com os demais sistemas sociais e, no que
diz respeito à América particularmente, em estreita relação com a sua
peculiar formação cultural.
Pensar a literatura deste espaço, em seu conjunto de produção, é
deparar-se com um desenvolvimento bastante complexo no qual, ao buscar
definições, o que emerge são questionamentos e hipóteses, tentativa de
organização de uma literatura que apresenta, aonde quer que se olhe,
sempre o múltiplo.
El debate sobre la identidad de esta escritura en las
relativamente nuevas circunstanciais culturales, lo
peculiar y distintivo de nuestra alta modernidad literaria,
ha sido la referencia más general y persistente. Sin
embargo, no aludo a una identidad unívoca, sino a
postulados de identidad condicionados por diversos
factores sociocultares, es decir, heterógeos e
historizados (BOLAÑOS, 2002, p.28).
Nesse trabalho, não me deterei tanto na especificidade da América
Latina em suas multiplicidades, interesso-me em fazer um trabalho muito
particular, o levantamento da fortuna crítica do poeta e narrador colombiano
Álvaro Mutis.
Tal interesse parte do projeto de pesquisa A viagem na literatura
latino-americana: poéticas e representações que, vinculado ao Programa de
Pós-graduação em Letras da FURG e sob orientação da Profª Drª Elena
Palmero González, teve como principal interesse o estudo de uma tipologia
narrativa particularmente presente na literatura latino-americana do século
XX: o cronotopo de viagem.
Dentro desta pesquisa, estudo a obra La nieve del Almirante do grande
poeta e romancista colombiano Álvaro Mutis e, para dar início a ela, foi
necessário buscar material para o levantamento da fortuna crítica do escritor,
buscando contemplar o conjunto de sua produção. Porém, em determinado
momento, retomarei algumas questões colocadas sobre a complexidade do
continente americano como um todo, em especial, a sua heterogeneidade, a
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sua “unidad na diversid”2, para analisar a relação existente ou não entre a
produção poética de Mutis e a América Latina em sua constituição, e como
tal relação é abordada pela crítica.
Nesse sentido, após pesquisa em revistas literárias, bancos de teses
(monografias, dissertações e teses), periódicos, suplementos literários,
resenhas, ensaios e artigos, foi possível reunir um vasto material produzido
na Espanha e nos países hispano-americanos, especialmente, Colômbia,
acerca do autor e sua obra; já no Brasil, há certa carência, pois o resultado
obtido com a pesquisa não forma um número significativo de produções.
Assim, empreenderei meu trabalho focalizando a fonte material mais
abundante, não significa que recusarei a encontrada no Brasil, porém, dada a
sua escassez, é difícil poder fazer um balanço satisfatório sobre os estudos
referente ao autor.
A partir do material coletado para pesquisa e, devidamente
confrontada suas informações, faço uma apresentação biográfica do autor
para situá-lo no tempo e no espaço, assim como para mostrar alguns
aspectos da sua trajetória de vida que a crítica tem assinalado, com tanta
intensidade, presente de alguma forma em seu discurso poético3.
Álvaro Mutis nasce em Bogotá, Colômbia, em 1923. Devido à carreira
diplomática de seu pai, passa parte da infância na Bélgica, retornando, ainda
criança, ao seu país para fixar residência na fazenda, de propriedade familiar,
chamada “Coello” em Tolina, cordilheira central, situada entre a confluência
dos rios Coello e Cocora, região dos trópicos de clima quente.
A fazenda foi fundada pelo avô materno, que semeou café, cana e
chegou a explorar ouro, cavando minas em suas terras, local em que Mutis,
quando criança, brincava com seu irmão. Antes de fixar residência na
fazenda, ela apenas representava para o Mutis o local de férias aonde a
família, todos os anos, vinda da Europa, gozava o lazer; com o tempo,
2
O conceito está presente, de forma intensa, na obra La literatura latinoamericana como proceso
(1985), organizada por Ana Pizarro, na qual a autora observa que José Luis Martinez assinalou com
muita justeza essa “unidadad en la diversidad”, inclusive, tornando o conceito como título de uma de
suas obras.
3
Durante a leitura dos materiais recolhidos, observei que muitas informações são desencontradas,
principalmente as relacionadas às datas, neste caso procurei utilizar como fonte os artigos, teses e
ensaios.
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tornou-se um espaço privilegiado pelo autor e presença permanente em sua
poética, o poema em prosa “Cocora” (1981), ambientado em uma mina, é
apontado pelo crítico Harold Alvaredo Tenorio (2000), como uma possível
recriação que o poeta faz deste espaço.
O deslocamento frequente na idade infantil entre Europa e Colômbia,
Diego Correa aponta como experiência propícia para fazer brotar em Mutis a
paixão pela travessia,
Su fascinación por el mar, los barcos y el viaje tiene
origen en esos desplazamientes de Europa a Colômbia,
realizados en pequeños barcos, mitad de carga y midat
de pasajeros (parecidos a los que se encuentran en sus
libros), que se demoraban alrededor de tres semanas
en atravesar al Atlântico, haciendo escalas en varios
puertos del Caribe, y que tenían como destino final en
Colômbia al puerto de Buenaventura (CORREA, 2004,
s/p).
Na década de 40, devido à grande violência em que o país está
imerso, a família parte de Coello e estabelece, definitivamente, residência em
Bogotá4 . A fazenda passa a ser para Mutis uma recordação da infância,
“¿porque qué escribis, Álvaro?” pergunta José Castro em uma entrevista, e
ele responde, “Para salvar los recuerdos de mi niñez, que es una manera de
perpetuar en la memoria los momentos más felices que he vivido”(CASTRO,
1998, s/p).
A crítica não deixa de assinalar que o ambiente paradisíaco dos
trópicos marcou a escrita de Mutis, como aponta o poeta Harold Alvaredo
Tenorio, “Allí, en ese lugar de trópico, parece haber surgido buena parte de la
matéria que nutre sus escritos”(TENORIO, 2000, s/p), o próprio escritor não
deixa escapar isso de suas declarações, afirmando que:
Siempre lo he dicho, tenemos que mantener vivo el niño
que fuimos y saber mantenerlo intacto dentro de
nosotros. Ese niño es el testigo más fiel del mundo que
tenemos... En cuanto al trópico, el paisaje que me
interesa y que siempre está presente no es el trópico en
4
A violência da década de 40 está relacionada aos enfretamentos entre os membros dos partidos
políticos principais, liberais e conservadores, conhecida como violência bipartidarista. Nesse embate,
muitos crimes ocorreram e, em 1948, o conflito chega ao seu ponto máximo com o assassinato do
candidato à presidência, Jorge Eliécer Gaitan. O campo, diante da crise, tornou-se inseguro, fazendo
com que grande parte da população migrasse para as cidades.
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sí, sino lo que en Colombia llamamos la tierra caliente,
la tierra donde se cultiva el café, la caña de azúcar,
frutas maravillosas y que está a 13 mil metros de altura,
aproximadamente, en la cordillera de los Andes ... El
conocimiento de esa hacienda fue el paraíso. Inclusive
tengo un poema dedicado estrictamente al momento en
que la presencia de esa tierra vuelve a mi 5 . Vuelve
siempre, vuelven los cafetales, la lluvia... Entonces, mi
paraíso es un rincón de Colombia cerca de la cordillera
central donde yo siento que nací, aunque no haya sido
así, yo nací en Bogotá. Pero uno no nace donde lo dio a
luz su madre, sino, en un momento dado, en un rincón
del mundo donde éste dice: “tú eres yo y yo soy tú”. Y
todos tenemos ese rincón. Lo olvidamos, pero yo no, yo
lo mantengo vivo (MUTIS, 2004, s/p).
José Miguel Oviedo (1981), em um artigo sobre a obra Caravansary
(1981) de Álvaro, cita J.G. Cobo Borda6 a propósito do prólogo da Summa de
Maqroll el Gavieiro (1973), em que esse faz uma observação acerca da obra
de Mutis,
J.G. Cobo Borda observa sagazmente que ‘todos sus
poemas revelan la misma actitud’ y que, animados por
una fija, ‘todas las palabras empleadas en el fondo (son)
iguales ya que es uno mismo el sentido que se les
otorga: el de una profundización sucesiva; el de un
asedio, por todos los flancos, al mismo objetivo’,
e Oviedo agrega, “Cierto: Mutis es uno de esos poetas que, a cualquier edad,
escriban lo que escriban, dicen siempre lo mismo, sólo que cada vez mejor y
más nítidamente” (OVIEDO,1981, p. 61).
Em Mutis por Mutis, temos a confissão do escritor a respeito da
permanência do “mesmo” em seu labor poético:
Todo lo que he escrito está destinado a celebrar, a
perpetuar ese rincón de la tierra caliente del que emana
la substancia misma de mis sueños, mis nostalgias, mis
terrores y mis dichas. No hay una sola línea de mi obra
que no esté referida, en forma secreta o explícita, al
mundo sin límites que es para mí ese rincón de la región
del Tolima, en Colômbia (MUTIS, s/d, p: 01).
5
O poema que Mutis refere-se é Nocturno, publicado no livro Los trabajos perdidos (1964).
Juan Gustavo Cobo Borba é poeta e ensaísta, possui vários artigos dedicados à análise das obras de
Álvaro Mutis.
6
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Álvaro Mutis começa seu labor poético em torno dos 18 anos, porém
não passou a viver da e nem para literatura de forma exclusiva. Alterna sua
prática com trabalhos dos mais diversos ofícios e, somente a partir de 1988,
dedica-se totalmente a leituras e escritas. Trabalhou como locutor de
notícias, diretor de programas de rádio, diretor de relações públicas e
executivo da indústria cinematográfica.
Quando diretor de propaganda da Companhia Colombiana de
Seguros y de Bavaria e depois chefe de relações públicas da Lansa, pequena
empresa aérea, Mutis converte-se em um viageiro constante dentro da
Colômbia e, ao passar para chefe de relações públicas da Esso, em 1954,
empresa petroleira, as viagens que antes estavam mais restritas ao espaço
de seu país, estendem-se ao mundo: capitais europeias, América do Norte e
outras.
Seja em intermináveis travessias por mar quando criança ou de
forma aérea na vida adulta, a viagem sempre se fez presente na vida de
Mutis. O autor ao ser indagado sobre os deslocamentos, não deixa de
observar que seus versos são escritos nas salas de espera dos aeroportos,
dentro de aviões e em hotéis7,
Lo que sí podría decir es que esta condición de viajero
me concede mucho tiempo vacío en los aeropuertos, en
los mismos aviones, en los hoteles, para escribir,
entonces realmente me he acostumbrado a escribir en
los países más diversos, y siempre en condición de
viajero. Si se viera los papeles que guardo mientras
estoy haciendo el poema se verá que son papeles de
carta de hoteles de Tegucigalpa o de Santiago de Chile,
de São Paulo o de Bogotá, de Bruselas o de Los
Angeles, de Nueva York o de Puerto Rico, París, Nueva
Orleans. Me he acostumbrado a trabajar mi poesía en
los más diversos climas y siempre en ese ambiente de
desplazamiento (MUTIS, 1986, p: 7-8 ).
Coincidência ou não, suas obras parecem circularem também em
torno de um grande tema e um grande modelo compositivo: a viagem; da
mesma maneira que também circulam, permanentemente, em torno de uma
figura: o viajante. Barcos, mares, rios, portos fazem parte do mundo ficcional
7
A citação que segue é uma entrevista concedida a Miguel Zapata no ano de 1986, período em que
Mutis estava trabalhando para uma empresa cinematográfica, por isso a referência sobre compor os
seus poemas enquanto viaja, aparece no tempo verbal do presente.
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mutiniano, seus personagens quase sempre aparecem deslocando-se de um
espaço para outro; o próprio Mutis não ignora a possibilidade de relação
entre a matéria de suas obras e sua vida,
Ya dejo a un crítico el papel de determinar y de buscar
hasta dónde esa condición de movimiento da un
determinado carácter a mi poesía, yo no lo puedo ver ni
es mi papel ni tengo las posibilidades de desentrañarlo,
pero sí sería interesante que un crítico algún día pudiera
tener algún interés en mi poesía y buscara allí las
huellas de mi condición de viajero (MUTIS: 1986: p: 78).
É importante ressaltar que o escritor faz essa declaração pensando
somente em suas poesias, pois a narrativa, gênero em que a viagem vai
aparecer com muito mais intensidade e como uma das grandes e fortes
temáticas, surge, exatamente, na mesma data da declaração do autor, 1986,
com a obra La nieve del Almirante, e posteriormente em mais 6 títulos, todos
de alguma maneira circulando em torno deste eixo. Portanto, se havia a
possibilidade, pensada pelo próprio Mutis, de relacionar sua condição de
viajante e sua escrita poética, tal possibilidade torna-se mais aguda ao
pensar o conjunto de sua obra narrativa a partir de 1986, nas quais o autor
transforma a travessia em espaço, tempo, tema e composição.
O início da carreira literária de Álvaro Mutis remonta a publicações
dos primeiros textos no suplemento literário do diário “La Razón” e “El
Espectador” e na revista “Vida” em Bogotá 8 , mas o primeiro caderno de
poesia é publicado em 1948 sob o título La balanza, no qual alternam
poemas de Mutis e Carlos Patiño, o poema El miedo de Mutis, publicado
anteriormente em “La Razón”, aparece neste poemário9.
8
O primeiro poema publicado de Mutis é La creciente, em 1947, na revista “Vida”, da Compañía
Colombiana de Seguros, as publicações em “La Razón” e no “El Espectador”, dá-se na sequência.
Segundo Martha Canfield, em Poesia onírica y sueños contados en la obra de Álvaro Mutis (s/d, p:
414), o La creciente nunca foi recolhido a um livro até ser incluído na publicação de Poesía y prosa, de
1981, depois passou a estar sempre presente nas edições ontológicas ou completas da poesia de Mutis.
9
Segundo o próprio Mutis, La balanza foi distribuído aos livreiros por eles mesmos no dia 08 de abril
de 1948. Infelizmente, devido o famoso “Bogotazo”, ocorrido em 9 de abril de 1948 (um dia após a
distribuição de La balanza), em que os partidários do candidato à presidência, Jorge Eliécer Gaitán,
assassinado nesse dia na capital, incendeiam o centro de Bogotá, não existe exemplares desse
poemário. Porém, creio que isso deva ser visto com certa ressalva, pois na página oficial do autor
encontra-se digitalizada uma capa com o título La balanza e uma informação que segue, na qual consta
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Em 1953 publica Los ementos del desastre e, em 1955, na separata
revista “Mito” sai Resenãs de los hospitales de ultramar que rendeu elogios e
um artigo de Octavio Paz. Diario de Lacumberri, 1960, é o primeiro
experimento de Mutis com a narrativa. Em 1965 publica Los trabajos
perdidos, coleção de poemas. La mansión de Aracaíma, de 1973, mais uma
vez Mutis alça-se ao romance, dando mostras da qualidade de sua narrativa.
No mesmo ano sai Summa de Maqrol el Gavieiro, obra que reúne as poesias
de 1948 a 197010 . Recopilados em Cuatro Relatos aparece “Saraya”, “El
ultimo rostro”, “Antes de cante el gallo” e “La muerte del estratega”, ano de
1978. Caravansary surge em 1981, livro com narrações e poemas no qual
aparece “En los esteros” uma das versões da morte de Maqroll. Em 1984
publica Los emisarios, obra em que o autor divide sua voz com Maqroll e, no
ano seguinte, lança Crônica regia y alabanza del reino, poemas sobre Felipe
II.
Em 1986, La nieve del Almirante marca o início, dentro do gênero
narrativo, da saga do viajante Maqroll, que irá constituir-se por sete
romances, posteriormente reunidos em um único volume sob o título
Empresas y tribulaciones de Maqroll el Gaviero. Esses romances foram
escritos e publicados quase na razão de praticamente um por ano. La nieve
del Almirante em 1986, Ilona llega con la lluvia em 1987, Un bel morir e La
ultima escala de Tramp Steamer em 1989, Amirbar data de 1990, Abdul
Bashur, soñador de navíos no ano de 1991 e Tríptico de mar y tierra
publicado em 1993, todos circulando, de alguma maneira, em torno da
viagem e do viageiro11.
Mutis compõe quase todo o conjunto de sua obra no exílio, no
entando, como a crítica e ele mesmo aponta, muito antes de exilar-se no
México, já vivia em condição de exilado: da Europa, da infância, da fazenda e
que se trata de uma edição “difícil de conseguir, pois parece que “quase” todos os exemplares foram
queimados.
10
Há várias publicações de Summa de Maqroll el Gaviero, 1973, 1990, 1992, 1997, nas quais alguns
poemas são retirados e outros recuperados.
11
Para uma bibliografia completa de Mutis, consultar o site oficial do autor
<http://www.clubclutura.com>,
ver
também
Centro
Virtual
Cervantes:
<http://cvc.cervantes.es/actcult/mutis/>. Nos dois endereços, encontra-se disponível, também,
referência bibliográfica de artigos, teses, monografias, ensaios e resenhas acerca da obra “mutiniana”.
O Centro Virtual Cervantes disponibiliza, ainda, referências das entrevistas concedidas por autor.
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da Colômbia; “En dondequiera que se viva” – disse uma vez em entrevista
concedida a Lionel Giraldo- “como se quiera que se viva, siempre se es un
exiliado.
Somos
exiliados
de
nuestra
infancia,
de
nuestra
vida
misma”(MUTIS, 1997, p. 02).
Desde 1956, Mutis vive no México. Nessa mesma data, trabalhava
para empresa Esso como chefe de relações públicas até ter que sair da
Colômbia por ser acusado de distribuir com excessiva liberdade, em projetos
culturais, fundos que a multinacional destinava à obra de caridades 12 . A
crítica aponta como um ato, de certa maneira, romântico e ingênuo, outros
indicam como certa forma de subversão, como mostra de rebeldia e de
insatisfação, o certo é que, em 1956, Mutis sai do país e, após três anos,
cumpre prisão no México, no cárcere de Lecumberri, por conta do “delito”.
Gabriel García Márques, no prólogo da obra La Mansion de Aracaima y otros
relatos (1996) de Mutis, a propósito do exílio diz, “En la cárcel de México,
adonde estuvo por un delito del que disfrutamos muchos escritores y artistas,
y que sólo él pagó, permaneció los 16 meses que él considera los más felices
de su vida”13.
No tempo em que esteve privado de liberdade, Mutis reconhece o
momento
como
uma
experiência
enriquecedora,
dizendo
a
Elena
Poniatowska em entrevista na prisão, que os meses em reclusão lhe estavam
proporcionando uma experiência terrível, mas fecunda, pois estava refletindo
sobre sua vida, seus assuntos e sobre a relação humana. Admite que,
mesmo sendo um momento de dor, isso abriu as portas a sensibilidades, e
12
Mercedes Ortega González da Universidad Complutense, Espanha, no artigo Alvaro Mutis:derrota y
leyenda en Los elementos del desastre (2004), coloca o exílio de Mutis devido ao manejo do dinheiro
da multinacional ou como exílio ocasionado pela ditadura do General Gustavo Rojas Pinilla. A autora
cita Pablo Gámez como referência para essa última colocação, a do exílio causado pela ditadura.
Infelizmente, até o presente, não foi possível apurar melhor tal dado, pois o endereço que consta no
artigo de Mercedes, referente ao texto de Gámez, que tem por título “12 Preguntas para um Cervantes
llamado Alvaro Mutis”. In. Librusa. Agencia Internacional de noticias literárias. Miami, 2004.
<http://www.librusa.com/entrevistamutis.html>, consultado por ela em 30 de agosto de 2004, não está
disponível.
13
O
prólogo
completo
está
disponível
em:
<http://www.lablaa.org/blaavirtual/literatura/mansion/lmda7.htm>, página da Biblioteca Ángel Arango,
Colômbia.
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crê ter sido a primeira vez que soube o que era um contato humano
verdadeiro14.
Na prisão de Lecumberri, Álvaro compõe muitos poemas e relatos
como, El último rostro e La muerte del estratega, alguns poemas de Los
trabajos perdidos e a narrativa Diário de Lecumberri, esse último como já
assinalado, uma virada para a prosa. Liberto, Mutis decide fixar residência no
México, passando a ter as portas de suplementos e revistas literárias abertas
por conta de um ensaio que Octavio Paz publica, na revista “Mito” da
Colômbia, acerca do livro de Mutis, Resenãs de los hospitales de ultramar15.
É importante destacar que, embora o escritor tenha publicado na
revista “Mito” e tenha recebido o reconhecimento de Paz na mesma, ele
próprio e alguns críticos o apontam como não pertencente a tal grupo, outros,
todavia, procuram aproximá-lo. Isso ocorre, porque na Colômbia, pela época
em que começa seus primeiros poemas, Mutis frequentava as seções do café
El Molina, de Astúrias e o de El Automático, lugar que se reunia com duas
gerações de poetas, os “Nuevos” e os de “Piedra y Cielo”. Mas Correa (2004)
observa que, mesmo tendo mais afinidade com os “Nuevos” do que com os
“Piedra Y Cielo”, Mutis não pertencia a nenhum deles e tão pouco ao grupo
“Mito”16.
Alfredo Laverde Ospina 17 esclarece bem a questão que envolve
Mutis e as gerações de poetas colombianos, mostrando porque alguns
críticos o identificam com determinada geração, e qual a posição de Mutis
diante disso. Ospina fala que “Los Nuevos” pensavam o papel do intelectual
como conformador de uma sociedade mais justa, os “Piedra y Cielo”
procuravam uma poesia em si mesma, desvinculada das práticas políticas,
14
Elena Poniatowska é escritora e foi periodista no México. Recentemente, lançou o livro Cartas de
Álvaro Mutis a Elena Poniatowska, tornando públicas as cartas que, desde o cárcere, Mutis
lhe escrevia. A entrevista de Mutis a Elena é citada por Marta Riveira em “El placer de
escribir está en encontar a alguien que recuerda un personaje que he creado” (1997).
15
Segundo a crítica e o próprio Mutis, esse foi o primeiro reconhecimento de sua arte fora da Colômbia,
dado que se tratava de um autor Méxicano, Octavio Paz.
16
Grupos nucleados em torno das revistas Los Nuevos (1925), Piedra y Cielo (1939) e Mito (1955),
portanto Los Nuevos, na verdade, trata-se do primeiro grupo.
17
Ospina é autor da tese de doutorado Afinidades y oposiciones en la narrativa colombiana - Una
lectura de Jorge Isaacs, José Asunción Silva, Gabriel Garcia Marquez y Álvaro Mutis, pela Faculdade
de Filosofia, Letras e Ciências Humanas – USP. Única tese que encontrei no Brasil, até esse momento,
em que o escritor colombiano Álvaro Mutis é tema de investigação.
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esses movimentos foram até metade do século XX, época em que Mutis
começava sua carreira de escritor. O autor ainda assinala que Mutis era mais
simpatizante dos poetas do que dos movimentos, e que se tivesse alguma
aproximação, deveria ser com a geração dos “Piedras y Cielos”, por ser Mutis
afinado à postura estética e existencial, afastada do compromisso político.
Postura esta que, de fato, Alvaro Mutis não cede nunca de afirmar.
La tan llevada y traída función social del escritor es una
patraña en la cual se escudan los segundones de la
literatura. Hablar de función social en la obra de arte es
igual a que se hablara de función fisiológica cuando la
prosa de determinados escritores nos conduce
diligentemente a los caminos del más profundo sueño,
la única función que debe tener una obra de arte es
crear valores estéticos permanentes. Si de casualidad o
de carambola estos valores estéticos coinciden con una
visión determinada de la situación del mundo o del país,
eso no significa que las masas deban exigírsela al
intelectual[...] El poder político es una maldición. Y todo
compromiso que el escritor tenga con el poder político
es una prostitución lamentable, un error brutal que va a
pagar caro. Porque el político no perdona. Para el
político el escritor es un escalón para subir, que rechaza
una vez que llegó arriba (1986, p. 06)
Talvez a relação que a crítica tem encontrado entre Mutis e os
“Nuevos” seja meramente, aponta Ospina, por sua poesia e a de León de
Greiff, poeta da geração do Los Nuevos, compartilharem de algumas
semelhanças narrativas, pois os dois escrevem poemas em prosa e tratam os
trópicos da mesma forma, como febril, alucinante, denso. Mesmo que Mutis
não se sinta parte de nenhum grupo, Ospina ressalta que a crítica o tem
colocado dentro de gerações.
A propósito de identificá-lo, por exemplo, com a geração Mito, Mutis
responde,
Yo no sabría dónde colocarme, entre otras cosas
porque siempre he escrito poesia al margem de
generaciones y escuelas. No me puedo ubicar muy
bien. Se me suele poner em la generación de la revista
Mito y he aceptado esta propuesta por pura comodidad.
Pero em verdad, es poco o que me une a poetas como
Jorge Gaitán Dúran o como Cote Lamus (MUTIS, Apud,
OSPINA, 2006, p.09).
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Essa aproximação, como já foi colocada anteriormente, tem raiz na
publicação de Reseñas de los hospitales de ultramar e no ensaio de Octavio
Paz.
De fato, ao ler alguns textos, principalmente aqueles que buscam
fazer uma biografia de Mutis, o autor aparece relacionado com tais
movimentos. No entando, são textos que não se preocupam em
demonstrarem a aproximidade através dos aspectos próprios da literatura,
somente expõem certas semelhanças entre obras ou coincidências de época
temporal, sem apontarem aqueles elementos singulares literários da
produção artística do autor, que lhe coloque em proximidade de uma geração
ou movimento.
Algumas fontes materiais pesquisadas, tais como: a análise de
Gabriele Bizzarri (2002); Juan Villoro (1999), José Luis Díaz-Granados
(1999), entre outras, buscam explorar e apontar a estirpe literária de Álvaro
Mutis, do que sua obra fala, a estética, de que matéria se nutre o seu labor
poético, assim como, porque sua literatura, muitas vezes, escapa da própria
crítica a classificações fechadas, e o que ela representa dentro do conjunto
literário latino-americano da alta modernidade, sem buscarem, com isso,
identificarem o escritor com gerações ou grupos e, quando o apontam como
vanguardista, indicam os elementos a partir da própria construção literária e
estética das obras.
Assinalarei alguns aspectos, recorrendo a essa crítica, que creio ser
de grande importância para compreensão e entendimento da poética do
escritor, assim, apontarei alguns traços, a partir do levantamento deste
material, que vão definindo e caracterizando a sua escrita.
Os primeiros poemas de Mutis datam em torno de 1948, mas, como
já assinalado, a primeira publicação em livro é La balanza (1948) e, pelo que
indica a crítica, não resta exemplares dessa publicação, porém muitos dos
poemas que estavam presentes nessa edição apareceram, posteriormente,
em outras obras como, por exemplo, “El viaje”, que será incluído em Summa
de Maqroll el Gavieiro(1973). Los elementos del desastre, de 1953, portanto
primeira publicação após La balanza, é indicado pela maioria dos estudos,
como a obra em que, pela primeira vez, aparece o personagem dos mares,
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Maqroll, na poesia chave para compreendê-lo, “Oración de Maqroll el
Gavieiro” 18 . Todavia, há alguns apontes que demonstram que Gavieiro
estava presente no poema “El viaje”, somente sem uma identificação, um
“batismo” e aparece também em “Hastío de los peces”. A propósito disso,
observa Trinidad Barrera (1999), “Nueva profesión, nuevo ropaje, nueva
máscara, nuestro conductor de tren es ahora celador de barcos, aquí como
allí desempeña el papel de guía de viajes oníricos” (BARRERA, 1999, p.
480)19.
Faço essa observação, pois a considero de importante relevância,
dada a expressão que Maqroll vai adquirindo nos escritos do autor
colombiano, pois salvo poucas obras, essa voz fundamental estará presente
em toda trajetória literária de Mutis, um personagem que permanentemente
cria e recria espaços, cruza tempos, constrói metáforas e proporciona um rico
jogo de significações20.
Outro aspecto que ressalto é o hibridismo na escrita de Mutis. Ela
não
aceita
categorias
fechadas
em
relação
a
gênero,
como
convencionalmente alguns teóricos procuram determinar poesia e romance;
no máximo, os estudiosos, como Jorge Ruiz Dueñas, atrevem-se a dizer que
se encontra uma preponderância do gênero poesia ou romance, para que
seja estabelecido alguns critérios investigativos. Bem mais sucedida é crítica
que não impõe limites entre os gêneros na escrita de Mutis e busca ainda
18
O poema “Oración de Maqroll” não tem origem no livro Los elementos del desatre e sim na
publicação de La balanza, assim como “El viaje”, equívoco provocado pela constante recuperação de
poemas em outras edições.
19
Barrera aponta que no poema “El Viaje”, Maqroll, mesmo que não nomeado, é o condutor do trem
que transporta os mortos até seu destino; na poesia “Hastío de los peces” (1953) aparece como celador
(destinado à vigília, a zelar) de transatlânticos, não nomeado também, essa identificação aparecerá em
“Oracíón de Maqroll”. O vai-e-vêm de poemas nas publicações mutianas causa confusão nos críticos.
Quanto à possibilidade de leitura da voz de Maqroll no poema “El viaje” e “Hastío de los peces” é
questão de estudos interpretativos, portanto não creio que seja um erro grave ver na “Oración de
Maqroll” o nascimento do personagem e não em “El Viaje”, creio que o maior equívoco fica por conta
da origem de publicação do poema “Oración de Maqroll”.
20
A busca pela genealogia de Maqroll é constante nos estudos, mesmo aqueles, que não têm por tema
central esse horizonte procuram de alguma forma, na escrita de Mutis, o momento em que a voz da
personagem ecoa pela primeira vez. Ver: MIER, Ariel Castillo. Un texto clave en la trayectoria poética
de Álvaro Mutis. In: Revista Trimestral de Atlántico Barranquilla, vol. 01, nº 02, jul-sep. Colômbia:
Departamento de Idiomas Facultad de Ciencias Humanas – Facultad de Educación Universidad del
Atlántico, 2000
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apontar isso como uma estética peculiar. Recorro novamente à colocação de
Barrera.
La pluma de Álvaro Mutis se desliza conscientemente
por la prosa y el verso, ayuntándolos sin problemas,
difuminando las fronteras entre los géneros, practicando
intencionadamente desde sus inicios la creación de un
mundo unitario donde la poesía y la novela puedan
convivir sin fricciones, surgiendo la segunda de la
primera como hija natural de un contenido que se
desborda paulatinamente... (BARRERA, 1999, p, 473).
Mutis tem verdadeiros poemas narrativos que chegam a beirar
pequenos contos, e narrativas repletas de múltiplas sugestões e imagens da
mais pura poesia. Isso tem causado verdadeira vertigem aos críticos quando
tentam, por exemplo, somente para citar um caso, falar de “Cocora”, presente
no livro Caravansary (1981). O chamam de prosa poética, relato poético,
poema, narrativa poética e até mesmo de conto sem renúncia à poesia. Em
contrapartida, nesse mesmo livro tem um texto intitulado “La nieve del
Almirante”, que também recebe os mesmos indicativos e, em 1986, Mutis o
torna título de uma narrativa mais estendida, a primeira das Empresas de
Maqroll, que por curioso, ou nem tanto, o autor recupera no final do romance,
“Cocora” e “La nieve del Almirante” do livro Caravansary de 1981 e “El cañon
de Aracuriare” e “La visita de Gavieiro” de Los emisarios de 84, sob o título
Otras noticias de Maqroll, el Gavieiro.
Quando questionado sobre essa separação entre poesia e narração
Mutis diz.
Desde luego en algunos casos he ido más lejos gracias
a la prosa y en otros gracias a la poesía, y justamente
ahora que releía los originales de mi última novela veía
cuán cerca están muchos de los temas y la manera de
tratarlos de algunos de mis poemas. Entonces no puedo
decirle con precisión en dónde se separan estos dos
ríos que tienen una misma corriente (MUTIS, 1986,
p.07),
nem o escritor consegue precisar isso e tão pouco quem o lê.
Destaco mais uma singularidade na obra do escritor, o “ir y venir”
entre seus textos. María del Carmen Porras, logo no começo de sua tese de
doutorado, Mirada anacrónica e resintencia. La obra del Álvaro Mutis (2006),
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destaca que o incidente ocorrido com o primeiro livro de Mutis, La balanza,
dará origem a maior característica de suas publicações, ou seja,
recopilações, ontologias e reuniões de texto que vão imprimir um caráter de
permanente reconstrução.
Procurei apontar esta marca nas publicações de Mutis quando
comentei a cerca dos poemas “El miedo”, “El viaje”, “Oración de Maqrol el
Gavieiro”, La nieve del Almirante e sobre os equívocos que a crítica comete.
Esse movimento pendular de vai-e-vem que ocorre na obra do autor, essas
enumeras edições que compartilham textos ou que se agrupam em
compilações
e
recopilações
de
livros
anteriores
vai,
aos
poucos,
desbordando os limites entre gêneros narrativos e os livros vão tornando-se
cada vez mais heterogêneos. Isso se dá em um movimento constante que,
segundo Porras, “deja al critico un tanto desalentado ante la idea de llegar a
comprender un proyecto que parece estar, no tanto en continua construcción,
sino inmerso en un proceso de indetenible, incesante reconstruicción”
(PORRAS, 2006, p. 32).
Dois aspectos que considero importante saltam diante desse “ir y
venir”, um deles, como autora também aponta, é perceptível quando temos
conhecimento do conjunto do escritor colombiano; é que o trabalho de Mutis
avança não na medida em que vai adiante, para aquilo que vai ser escrito,
mas justamente quando aponta para trás, para o que já foi dito, pois em seus
textos há constantementes reiteraçãos de outros textos seus, aparece um
diálogo permanente, não só de tema, personagens e situações, como a
própria ampliação de um poema para tornar-se uma narrativa estendida. Isso
implica no outro aspecto, pois mostra que o discurso literário de Mutis
apresenta um desejo de continuação, ao mesmo tempo em que derruba os
limites de gêneros21.
Esses aspectos presentes na obra do escritor colombiano, assim
como outros traços de sua escrita, têm proporcionado inúmeros ensaios,
artigos, resenhas e teses dedicados a explorar esse universo ficcional. Os
olhares multiplicam-se, os focos são diversos e as leituras abrem-se em
21
Porras também relaciona esses aspectos com o mercado editorial, pois, assim, Mutis retomando
textos e, muitas vezes, modificando-os, evita os cortes que são impostos às novas publicações.
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leques interpretativos, mas todas elas, em determinado momento, convergem
ao apontarem os elementos contínuos no discurso poético do autor22.
Sonho, desesperança, paraíso perdido, errância, fracasso, mito,
destino, viagem não são termos simples para os que se lançam sobre a obra
do escritor, são antes carregados de ricas significações que iluminam seus
olhares quando procuram investigar a unidade do pensamento do escritor
latino-americano. Todo o material crítico referente a Mutis circula em torno
desses traços, seja como tentativa de definição de sua estética literária ou
uma simples leitura. A exemplo, exponho como a impressa escrita refere-se à
obra do escritor.
Álvaro Mutis foi ganhador de vários prêmios literários importantes,
entre eles, o Prêmio Médicis para melhor novela estrangeira na França, em
1989, pela obra La nieve del Almirante e, em 2002, recebeu, na Espanha,
pelo conjunto de sua obra, o prêmio Miguel Cervantes, um dos maiores das
letras hispânicas. Nessas duas ocasiões, o escritor ganha um grande
destaque
na
impressa
periódica.
Por
se
tratar
de
dois
grandes
reconhecimentos, os jornais passam a dar ênfase ao autor, mas a maioria
das matérias apresentam somente a trajetória biográfica e a relação da
produção artística do escritor, com comentários sobre a qualidade da sua
literatura, mas apontam, mesmo que muito timidamente, para as temáticas
mais presentes em sua escrita, que acabam por serem as mesmas que
aparecem nos ensaios, artigos, resenhas e teses acadêmicas.
O jornal El País em 28 de nov. 89, por exemplo, a respeito do prêmio
Médicis, traz uma biografia de Mutis seguida de uma entrevista, a qual
circulou em torno das obsessões do escritor em relação à paisagem dos
trópicos (Coello) como seu “paraíso perdido”, assim como, da personagem
Maqroll, ambos sempre presentes na obra do autor.
Em 2001, Mutis volta a ocupar as páginas dos jornais com muito mais
intensidade. El País, BBC americana, jornais colombianos, mexicanos e, no
22
Não cito as matérias de jornais nessa ocasião, pois as que reuni não procuram fazer análise das obras
e, sim, descrever alguns aspectos mais marcantes na produção do autor, assim como apresentar
referências biográficas e bibliográficas. Todos os textos da imprensa periódica falam da qualidade das
obras e destacam as mesmas temáticas dos demais estudos, porém de forma bem simplista e objetiva.
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Brasil, aparecerá várias matérias na Folha de São Paulo, algumas no
Estadão e uma pequena referência no Jornal do Comércio de Recife, todas
por conta do prêmio Cervantes. A grande maioria dessas reportagens
somente faz uma descrição e apresentação da trajetória de Mutis e sua
literatura, sempre exaltando a beleza da sua escrita e a qualidade dos seus
textos, e circulam em torno das mesmas temáticas: Maqroll, espaço dos
trópicos, literatura sólida, vasta produção. Não apresentam análises
profundas dos aspectos literários e nem resenhas críticas, no máximo o
resumo de alguma obra. Também não são matérias produzidas por
professores universitários ou especialistas no assunto de crítica literária, são
textos assinado por colunistas de cadernos destinados à cultura.
Outras aparições de Mutis, na imprensa brasileira, dão-se em 2006.
Na Folha de São Paulo, do dia 04 de mar. 2006, aparece trechos
reproduzidos do livro A neve do Almirante23. Na revista Veja, de 08 de mar.
2006,
na
seção
“Recomenda”,
o
mesmo
livro
é
indicado, sendo
acompanhado de um pequeno resumo e, no endereço eletrônico, da Revista
1, edição 19, também surge o mesmo título, seguido de um pequeno
comentário de cunho comercial, todos indicando a obra que recentemente
havia sido publicada no Brasil pela editora Record24.
Creio que a melhor matéria, dedicada a Mutis, nos jornais brasileiros,
data de 1990, quando o mesmo livro, A neve do almirante, é publicado, pela
primeira vez no Brasil, pela Companhia das Letras. Trata-se de textos
apresentados por Floriano Martins no Suplemento Literário de Minas Gerais,
integrando três matérias, uma introdutória, na qual Martins apresenta o
escritor, seus principais aspectos e destaca que a trabalho de Mutis é
totalmente desconhecido no Brasil; a segunda e a terceira que são textos
críticos sobre o escritor, assinados respectivamente por Octavio Paz e pelo
poeta Catalão Pere Gimferrer, traduzidas por Martins.
A fortuna crítica de Mutis presente na imprensa escrita, tanto no
Brasil, como em outros países, em sua totalidade não se detem a extensas
23
Coloco o nome da obra em português, nessa ocasião, pois se trata de matérias sobre o livro já
traduzido.
24
Antes da edição da Record, a editora Companhia das Letras, em 1990, publica a obra com tradução
da poeta paranaense Josely Vianna Baptista e comentários do professor acadêmico Eric Nepomuceno.
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análises literárias das obras, porém demonstram reconhecerem a qualidade
artística do escritor ao apontarem, mesmo de forma genérica, alguns
elementos estéticos e temáticos que caracterizam a sua produção.
Nesse aspecto, há uma sensível mudança quando se trata de fonte
material acadêmica, ou então de publicações de críticos literários não
acadêmicos. Dada a própria natureza desses textos, eles abordam de
maneira mais sistematizada e metodológica as obras do escritor, apontando
de forma mais específica os traços literários. Partem para uma leitura mais
profunda com intuito de possíveis interpretações que desvelem e revelem o
mundo ficcional mutiano.
Os
estudos
variam
quanto
ao
corpus
selecionado,
alguns
contemplam a poesia, outros a narrativa e há aqueles que buscam uma
leitura do conjunto total de produção do escritor, incluindo poesia e narrativa.
Ainda é possível encontrar os que não atribuem tal divisão, pois
considerarem que a escrita do autor não permite tal baliza, portanto analisam
as obras sem distinção de gênero.
Esses textos também variam quanto à fonte, pois estão distribuídos
em anais de diversas universidades latino-americanas, espanholas e
mexicanas, assim como em revistas literárias de âmbito acadêmico e não
acadêmico. Os ensaios, artigos, resenhas, teses sobre a literatura de Mutis
são inúmeras e realizadas num ritmo contínuo, demonstrando que a obra
desse autor ainda não esgotou todos os seus significados e que continua
proporcionando aspectos a serem explorados.
No Brasil, como apontado antes, o material produzido, até o presente
momento, é pequeno, tanto na impressa escrita como na academia,
possibilitando, inclusive, serem listados os textos acadêmicos encontrados:
um artigo que trabalha o simbolismo dos personagens femininos na obra do
escritor, que se refere a uma publicação de Marcelo Marinho nos cadernos
culturais, O guardador de inutensílios(1997), da Universidade Católica Dom
Bosco sob o título Álvaro Mutis e o simbolismo dos personagens femininos na
tetralogia romanesca de Maqroll, el Gaviero (a tetralogia trata-se das obras
La nieve del Almirante, Ilona llega con la lluvia, Un bel morir, Amirbar); a tese
de doutorado de Alfredo Laverde Ospina (2006), que dedica o estudo a
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estabelecer relações de afinidade e oposição na literatura colombiana entre
os autores do século XIX e XX, trabalhando como expoente literário do
século XIX os autores Jorge Isaacs e José Asunción Silva, do século XX,
Gabriel García Márquez e Álvaro Mutis, tendo assim um capítulo voltado à
obra foco aqui investigada;o artigo de Pilar Roca Escalante (2002), que
explora por meio de diversos aspectos literário, a presença cervantina em La
nieve del Almirante, sob o título La presencia de Cervantes en la obra de
Álvaro Mutis. La sombra cervantina que proyecta Maqroll el Gaviero,
publicado no Anuario brasileño de estudios hispánicos; resenha do romance
Ilona chega com a chuva, intitulado A angústia de um sobrevivente de suas
histórias (1991), de Regina Dalcastagnè, professora da Universidade de
Brasilia; o artigo A poesia desencantada de Álvaro Mutis, de Laura Janina
Hosiasson, professora pela Univserisidade de São Paulo (2001).
O panorama troca substancialmente quanto aos estudos no exterior
como, por exemplo, somente no número 23 da RevistAtlântica de Poesía,
publicada na Espanha, há nove textos dedicados a Álvaro Mutis. Nessas
produções, as leituras se distinguem das do Brasil, pois procuram explorar a
obra do autor dentro de um âmbito voltado à cultura singular hispanoamericana.
Em uma publicação de 2002, dos Cuadernos Hispanoamericanos,
todos os artigos presentes no primeiro capítulo, sob o título de Dossier Álvaro
Mutis, são referentes ao escritor e sua obra, são seis textos reunidos de
diferentes estudiosos, sendo um deles assinado por Martha Canfield, autora
da tese Poesía onírica y sueños contados en la obra de Álvaro Mutis. Todos
os artigos ressaltam a riqueza estética verbal criada por Mutis, apontam
como um mundo ficcional, no qual a palavra em si é o elemento privilegiado,
conforme Willian Ospina (2002, p.10),
La intensa realidad del mundo de Mutis es soló
verbal...una narración poética puede reelaborar el
recuerdo preciso de algo que una vez fue un hecho,
pero aquí no hay más verdad que las palabras[...]es la
mostra perfecta del estilo verbal, del lenguaje poética de
Mutis[...]consciente de que el poema solo está habitado
por los poderes del lenguaje.
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Outros dois elementos explorados por esses textos é a matéria de
que se nutre o discurso literário do escritor e a figura emblemática criada por
ele, Maqroll el Gaviero. Todos os estudos a cerca da obra do escritor sempre
circulam em torno desses aspectos, raros são os que não apontam a
presença dos trópicos e da personagem Maqroll como elementos
privilegiados pelo autor. Isso pode ser observado até mesmo pelos títulos
atribuídos pelos estudiosos; somente para citar alguns como exemplos: La
errancia de Maqroll el Gaviero de Patrícia Fonseca (2001); La secreta herida
de Maqroll el Gaviero de Ordóñez Montserrat (2001), Fabulaciones de
Maqroll el Gavieiro e El último viaje de Maqroll el Gaviero de María Arana
(2007, 2005), Los paraísos secretos de Álvaro Mutis de Claudia Posadas
(2004).
O levantamento da fortuna crítica de Mutis e a leitura do material
deixam claro que a crítica o considera como um dos grandes escritores
contemporâneos, dada à lucidez e à qualidade da sua produção artística, da
sua originalidade e da sua capacidade de ser ao mesmo tempo americano e
universal. Juan Gustavo Borda, autor de vários textos a cerca das obras de
Mutis, diz.
Sin lugar a dudas el único que tiene la vasta cultura
universal para traspasar lenguas y fronteras. Su obra se
haya traducida a veinte lenguas (inglés, francés,
alemán, italiano, portugués, japonés, griego, hebreo,
turco, polaco, holandés, sueco, danés...), cumpliendo
así la petición de Goethe sobre una literatura mundial.
Pero además su poesía, cuentos, novelas y ensayos
trazan una vasta parábola de referencias que desde la
Biblia, pasando por las culturas islámicas y bizantinas,
hasta llegar, por ejemplo, a la figura de Simón Bolívar,
esclarece en el espacio de sus páginas las complejas
relaciones entre Europa y América. Un diálogo universal
de culturas... Mutis, como lo pedía Borges, es un buen
cosmopolita y a la vez un latinoamericano capaz de
entender, comprender y valorar, en sus creaciones, las
variadas patrias que un mundo muy amplio nos brinda
(BORDA, 2001, p.01).
A propósito da citação de Borda, quando se refere a Mutis como um
cosmopolita e um latino-americano, com capacidade de travar um diálogo
universal de culturas, retomo minhas colocações iniciais quanto à complexa
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formação do continente americano, traduzida na sua constituição tão múltipla
e ao mesmo tempo una, e como essa “unidad na diversidad” ecoa na
literatura desse espaço e qual a relação existente ou não entre a produção
poética de Mutis e a América Latina em sua formação.
Procurar definir, traçar características, buscar um mapeamento da
América, não é uma tarefa fácil para nenhum seguimento de nossas ciências.
Historiadores, sociólogos, antropólogos, filósofos e a própria literatura, ao se
proporem buscarem uma identidade para esse espaço, deparam-se sempre
com o múltiplo e a pluralidade em que emergiu esse “Novo Mundo” e que, na
contemporaneidade, continua revelando sua complexa heterogeneidade
enquanto tempo e espaço. A América Latina constitui-se de uma “totalidade
contraditória”, uma unidade de macro formação com elementos distintos de
cada particularidade. Um misto de cultura negra, indígena, européia e todas
outras que compõem esse mosaico cultural.
Dentro dessa complexa rede, como entender a literatura desse
continente? Qual a estética e a atitude literária diante dessa “totalidade
contraditória”? Como ser particular e universal simultaneamente?
Indagações como essa, é que tem gerado constantes reflexões a
cerca da literatura da América Latina, nas palavras da Ana Pizarro,
Unidad diversificada, el discurso de la literatura
latinoamericana no constituye sino la plasmación a nível
estético
de
la
organización
que
estructura
históricamente al continente y que se expresa en la
cultura a través de toda una serie de mediaciones. La
respuesta a la interrogante de qué es literatura
latinoamericana necesita, pues, ubicarse dentro de los
parámetros, de las significaciones culturales comunes
que allí se han desarrollado y que renuevan en cada
instancia sus respuestas. Es en el ámbito de una
semiologia cultural donde puede situarse entonces la
observación de la pertenencia de un discurso literario al
ámbito de nuestra historiografía. La literatura es,
sabemos, patrimonio universal y la experiencia estética
no conoce fronteras, pero las obras surgen de una
determinada cultura y se insertan en el tejido de la
sociedad que las ve emerger... Para situarlas y llegar a
su comprensión cabal necesitamos observar el sistema
donde se insertan y el imaginario social que plasman
(PIZARRO, 1985, p.18).
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Essa busca por respostas, com o intuito de definir uma identidade da
América, também é matéria de que se ocupa a crítica literária, quando
buscam no discurso ficcional dos escritores desse continente, elementos que
demonstrem que esses tematizam de alguma forma tais questões.
Muitos escritores da América buscaram e buscam em suas criações
uma definição para esse continente, essas reflexões já se faziam presentes
desde o século XIX, como por exemplo, José Martí, em seu texto capital
“Nuestra América”, discorrendo sobre uma América unida e com uma
identidade e agora, na contemporaneidade, essas questões estão presentes
em vários segmentos da sociedade e das ciências. Então, de alguma forma,
esses escritores estiveram e estão comprometidos com o seu tempo. Mas
Álvaro Mutis é apontado por muitos críticos como um escritor que não
apresenta no horizonte de sua produção literária preocupações como essas,
que não está comprometido com questões sociais e nem políticas, como de
alguma forma fosse um homem que escreve alheio às questões que
envolvem o continente americano. Carlos Fesneda (1997: s/p), em uma
entrevista a Mutis lhe diz, “Los hay que califican su literatura como escapista,
le critican por no estar nada comprometido con su tiempo”, o escritor
contesta, falando que o formidável é isso e todos, então, deveriam se valher
da literatura para escapar das rotinas diárias.
De fato o escritor intera e reintera sempre que pode, que não se
envolve em política e que sua escrita não tem caráter de comprometimento
com absolutamente nada, a não ser a estética, a beleza das palavras, o ser
poético. Declarações de Mutis como estas,
La tan llevada y traída función social del escritor es una
patraña en la cual se escudan los segundones de la
literatura. Hablar de función social en la obra de arte es
igual a que se hablara de función fisiológica cuando la
prosa de determinados escritores nos conduce
diligentemente a los caminos del más profundo sueño".
"la única función que debe tener una obra de arte es
crear valores estéticos permanentes. Si de casualidad o
de carambola estos valores estéticos coinciden con una
visión determinada de la situación del mundo o del país,
eso no significa que las masas deban exigírsela al
intelectual... El poder político es una maldición. Y todo
compromiso que el escritor tenga con el poder político
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es una prostitución lamentable, un error brutal que va a
pagar caro. Porque el político no perdona. Para el
político el escritor es un escalón para subir, que rechaza
una vez que llegó arriba (MUTIS, 1986, p.06),
ou estas,
Yo descreo completamente en esta condición de testigo
del poeta, de testigo de su tiempo y de fijador del mito,
yo diría más bien que el poeta crea el mito, el poeta
tiene una fuente de posibilidades creadoras de generar
toda suerte de mitos que son los que van a quedar y
van a permanecer... Esta es una cosa sobre la cual he
insistido por muchísimo tiempo y que yo creo
adolecemos en América Latina, de cargarle al poeta con
una serie de responsabilidades sociales y cívicas que
no me parecen sino profundamente lamentables
(MUTIS, 1986, p. 06),
mostram sua posição no mundo e o seu conceito de literatura. Mas é
necessário observar que as frequentes entrevistas que o autor tem concedido
e seus próprios artigos, de certa forma, conduzem a uma leitura de sua
escrita e de sua conduta diante do mundo. Rocio Tudela (1998) em uma
resenha a cerca do prólogo de Summa de Maqroll el Gavieiro de 1997,
escrito por Carmem Barrionuevo, destaca que,
La vieja polémica relativa a la pertinencia o no de una
crítica que «explique» la obra del autor, se diluye en
este estudio al primar la voz de Mutis sobre las voces de
los estudiosos. Desde el comienzo el propio escritor
refiere el proceso y desarrollo de su escritura, lo que
facilita la comprensión de la obra poética, cuyo
propósito último permanece envuelto en cierto
hermetismo y parece escaparse como el propio Maqroll
, guiado por el sortilegio de las palabras. Ante una obra
de tal complejidad y magnitud la autora nos lleva desde
el comienzo a la voz del poeta y a sus motivaciones,
comenzando por la explicación del símbolo que da título
a la recopilación de su obra poética completa: Maqroll
(TUTELA, 1998, p.326).
É notável ao lermos as entrevistas de Mutis que ele deixa muitas
“pistas” para a crítica, porém, muitas vezes, essas acabam condicionando a
sua literatura, e o que resulta apontarem o autor como escapista, de fora do
seu tempo, pois são leituras reguladas e limitadas pelas próprias colocações
que o escritor faz, constantemente, sobre sua escrita.
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Contudo, diante de tal panorama, então me pergunto, se Mutis não
escreve sobre política, se não apresenta comprometimento com a sociedade,
se não é testemunha de seu tempo, se não está na mesma via que muitos
dos escritores da América quando tematizam essas questões, ou mais,
especificamente, quando buscam isistentemente uma identidade da América
em meio a essa “diversidad”, então como pode ser Maqroll, como chamam os
críticos, várias teses e artigos acadêmicos, seu alter ego, seu heterônimo?
Famosas palavras de Mutis, “no hay nada en Maqroll que no sea mío. Yo no
le he puesto a Maqroll nada prestado, no hay un solo rasgo de Maqroll al
servicio de un personaje, todo lo que hay en él lo he vivido yo, sale de mí, de
mi mundo”25.
Maqroll é um dos mais políticos, um dos mais comprometidos com a
sociedade, e principalmente, aquele que mais busca na sua não nomeada
identidade, uma identidade. Sua errância pelo mundo, seu não fixar em
algum lugar, seu exílio de um espaço cotidiano, o viver no fronteiriço concreto
e imaginário, o contato sempre permanente com outro através de suas
viagens, não será então uma busca de sua identidade diante da relação com
“outro” e com outros espaços?
Se Maqroll é um homem do mundo, sujeito universal, também é ao
mesmo tempo um homem localizado, preponderantemente, na América.
Suas viagens se dão nos continentes do Oriente, da Europa, mas
essencialmente, suas aventuras estão na América, e ali que ele morre e
nasce novamente para se tornar “imortal”, é ali que muitas de suas aventuras
são relatadas e vividas. Em La nieve del Almirante, Maqroll não está em
qualquer espaço do mundo, ele está em um espaço muito concreto e
definido, ele está na América, na selva, nos trópicos. E ali que encontra outra
natureza humana, os índios, e ali que vê a arbitrariedade do poder militar, e
ali que ele chega até uma fronteira intransponível, guardada pelo estrangeiro.
Se o homem somente encontra sua morada a partir do outro, esse
outro então representa a ausência de nossa morada, Maqroll é um errante,
25
Declaração reproduzida da entrevista El placer de escribir está em encontrar a alguien que recuerda
un personaje que he criado, realizada por Marta Rivera de la Cruz, da Universidad Complutense,
Madrid, 1997.
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um constante viajante, sempre em contato com o outro, buscando se não, a
sua morada, a sua identidade. A memória e a errância de Maqroll não é mais
que um desejo de se perder para se achar, para encontrar quem realmente é.
Se Mutis diz que Maqroll é ele, "no hay nada en Maqroll que no sea mío” e se
criador e criação se confundem, como não dizer que ambos são sim, homens
de seu tempo, testemunhas do mundo que os rodeia, e que são os mais
comprometidos com os dilemas e angustias da sociedade e com os anseios e
trajetória da América.
Somente por meio dos elementos que subjazem atrás de um
discurso, “aparentemente”, fora de seu tempo, que é possível verificar que
Mutis possui uma estética que indaga, questiona e busca respostas para a
América Latina, através do estatuto ficcional, pois, conforme as palavras de
Cornejo Polar, deve-se buscar o significado das imagens hermenêuticas do
mundo que todo o texto formula, inclusive, à margem da intencionalidade do
seu próprio autor, e que tal imagem nunca é individualmente gratuita e nem
socialmente arbitrária.
Diante de toda a pesquisa bibliográfica realizada, constatei que o
estudo do cronotopo narrativo de viagem, aspecto fundamental de meu
estudo, é uma temática inédita na fortuna crítica de La nieve del Almirante,
assim como em todo conjunto artístico do autor. Igualmente foi possível
apurar que elementos que envolvem o tema da identidade como busca de
respostas satisfatórias e substanciais acerca do ser humano e do mundo e,
sobretudo, da imagem do homem latino-americano e do continente, também
é uma abordagem carente nos estudos, da mesma forma que a perspectiva
de ler Maqroll el Gaviero como um viajante que vive em zonas fronteiriças,
assim como a América Latina, uma espécie de “entre-lugar” que não se
coaduna em pureza dicotômica alguma, uma Terceira Zona do híbrido, das
contaminações de realidades, contextos e tempo sociais. Ainda apurei que
Álvaro Mutis possui pouca visibilidade no Brasil, dado os escassos estudos
que são dedicados a explorar o seu mundo ficcional. Contudo, ao mesmo
tempo, a pesquisa proporcionou o diálogo fecundo com os textos críticos,
possibilitando melhor entendimento para fundamentar as concepções que
foram apontadas neste trabalho.
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Catalogação na fonte: Ceila Soares - CRB10/926
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Pelotas, Brasil – Pelotas (RS) : Instituto Federal Sul-rio-grandense/IFSul, 2011. – v.1, 2011. - 1 CDROM.
ISSN 2238-0078
1. Conesul, integração do 2. Ciências humanas – Conesul 3. Ciências tecnológicas – Conesul I. Título.
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