UNIÃO DINÂMICA DE FACULDADE CATARATAS FACULDADE DINÂMICA DAS CATARATAS Curso Engenharia Ambiental AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA NO TRATAMENTO DE EFLUENTES LÍQUIDOS EM FRIGORIFICOS RONALDO ROCHA MARIA FOZ DO IGUAÇU- PR 2008 RONALDO ROCHA MARIA AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA NO TRATAMENTO DE EFLUENTES LÍQUIDOS EM FRIGORIFICOS Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado à banca examinadora da Faculdade Dinâmica das Cataratas – UDC, como requisito parcial para obtenção de grau de Engenharia Ambiental. Prof. Orientador: Edneia Santos de Oliveira Lourenço FOZ DO IGUAÇU- PR 2008 TERMO DE APROVAÇÃO UNIÃO DINÂMICA DE FACULDADES CATARATAS AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA NO TRATAMENTO DE EFLUENTES LÍQUIDOS EM FRIGORIFICOS TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE BACHAREL EM ENGENHARIA AMBIENTAL RONALDO ROCHA MARIA Orientador: Prof°. MSc Edneia Santos de Oliveira Lourenço ____________________________________________ Nota Final Banca Examinadora _____________________________________________ Profº. Jorge Darif _____________________________________________ Profº. MSc Adriana Meneghetti Foz do Iguaçu, _________________ de 200___. Dedico este trabalho de conclusão de curso aos meus pais, que sempre me apoiaram, em todos os momentos. AGRADECIMENTO Agradeço primeiramente a Deus por me acompanhar durante toda uma jornada. Aos meus pais, familiares e amigos que me apoiaram e me incentivaram, mesmo nos momentos mais complicados de minha vida. A minha orientadora Mestre Edneia Santos de Oliveira Lourenço pela orientação e dedicação. A todos que de alguma forma colaboraram para realização deste trabalho. “É nosso dever proteger o maior patrimônio nacional, pois a nação que destrói o seu solo destrói a si mesma”. (Theodoro Roosevelt) LISTA DE TABELAS Tabela 01 – Caracterização de efluentes de matadouros realizadas por outros autores.. ......................................................................................................................... ........ ... 23 Tabela 02 – Comparação das características da água residuária ................................ 23 Tabela 03 – Principais sistemas de tratamento de lagoas de estabilização ................. 26 Tabela 04 – Características da eficiência dos principais sistemas de lagoas ............... 27 Tabela 05 – Balanço de vantagens e desvantagens de lagoas de estabilização.......... 28 Tabela 06 – Apresenta área do empreendimento ......................................................... 44 Tabela 07 – Dimensão das lagoas ................................................................................ 47 Tabela 08 – Resultado do pH........................................................................................ 52 Tabela 09 – Resultado dos sólidos sedimentáveis........................................................ 52 Tabela 10 – Resultado de nitrato. ................................................................................. 53 Tabela 11 – Resultado de nitrito.................................................................................... 54 Tabela 12 – Resultado de fósforo ................................................................................. 55 Tabela 13 – Resultado de DQO5 ................................................................................... 56 Tabela 14 – Resultado do nitrogênio............................................................................. 56 Tabela 15 – Resultado do DBO5. .................................................................................. 57 LISTRA DE FIGURAS Figura 1 – Desembarque dos animais........................................................................... 33 Figura 2 – Bovina no curral de recepção e separada por lotes ..................................... 34 Figura 3 – Lavagem dos animais .................................................................................. 35 Figura 4 – Lavagens dos animais.................................................................................. 35 Figura 5 – Atordoamento dos bovinos para abate......................................................... 36 Figura 6 – Atordoamento dos bovinos para abate......................................................... 37 Figura 7 – Mostra quando os animais são suspensos por guinchos ............................. 38 Figura 8 – Operação de sangria dos animais................................................................ 39 Figura 9 – Remoção dos chifres.................................................................................... 39 Figura 10 – Retirada das patas dianteiras..................................................................... 40 Figura 11 – Isolamento/amarração dos órgãos excretores .......................................... 41 Figura 12 – Cortes iniciais do couro .............................................................................. 41 Figura 13 – Remoção do couro por correntes e rolete mecânico.................................. 42 Figura 14 – Abertura da carcaça para evisceração....................................................... 43 Figura 15 – Lavagem das carcaças .............................................................................. 43 Figura 16 – Leito de secagem da matéria orgânica ...................................................... 46 Figura 17 – Entrada do efluente no sistema tratamento primário.................................. 47 Figura 18 – Lagoa anaeróbia ........................................................................................ 48 Figura 19 – Lagoa Facultativa 1 .................................................................................... 49 Figura 20 – Lagoa facultativa 2 ..................................................................................... 49 Figura 21 - Aspectos das amostras coletadas pontos 1,2 e 3 ....................................... 51 LISTA DE SIGLAS CETESB - Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental. CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente. DBO - Demanda Bioquímica de Oxigênio. DQO - Demanda Química de Oxigênio. pH - Potencial Hidrogeniônico. RIISPOA - Regulamento para Inspeção Industrial e Sanitária para Alimentos de Origem Animal. SIF - Serviço de Inspeção Federal. AHPA – Standard Methods for Examination of Water and Wastewater SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...........................................................................................................14 2. OBJETIVOS ...............................................................................................................17 2.1 Gerais.......................................................................................................................17 2.2 Específicos ...............................................................................................................17 3. REVISÃO BIBLIOGRAFICA .......................................................................................18 3.1 Característica do efluente de frigorífico ....................................................................20 3.2 Tratamento do efluente de frigoríficos ......................................................................23 3.3 Lagoas de estabilização ...........................................................................................25 3.3.1 Lagoas anaeróbias seguidas por facultativas........................................................29 3.4 Estabelecimento de abate bovino ............................................................................31 3.5 Etapas do processo de abate bovino .......................................................................32 3.5.2 Banho ....................................................................................................................35 3.5.3 Boxe de atordoamento ..........................................................................................37 3.5.4 Área de vômito ......................................................................................................39 3.5.5 Sala de matança ...................................................................................................39 3.5.6 Sangria ..................................................................................................................40 3.5.8 Evisceração...........................................................................................................45 4. MATERIAL E MÉTODOS ...........................................................................................47 4.1 Descrição do local de estudo ...................................................................................47 4.2 Descrição do sistema de tratamento adotado pelo frigorífico...................................49 4.3 Coleta das amostras ................................................................................................53 4.4 Parâmetros para análises.........................................................................................54 5. RESULTADOS E DISCUSSÕES ...............................................................................54 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................63 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...............................................................................65 ANEXOS ........................................................................................................................69 Anexo A – Fluxograma do abatedouro...........................................................................69 Anexo B – Planta das lagoas .........................................................................................70 Anexo C – Certificados de ensaio físico-químico ...........................................................71 RESUMO: O estudo verificou a eficácia do sistema de tratamento de efluentes líquidos gerados pela atividade de abate de bovinos em frigoríficos. O sistema de tratamento consiste em uma seqüência de lagoas, sendo uma anaeróbia e duas facultativas dispostas em série. O tratamento de efluentes líquidos é uma das mais importantes questões ambientais dessa atividade, no que diz respeito ao atendimento da legislação e à conseqüente proteção do meio ambiente. Para determinação da eficiência do sistema de tratamento, foram analisados os seguintes parâmetros físico-químicos, pH, DBO, DQO, Nitrogênio, Nitrato, Nitrito, Fósforo, Sólidos Sedimentáveis. Os resultados mostraram uma boa eficiência na remoção dos parâmetros analisados, principalmente pelo efluente conter grande quantidade de matéria orgânica. PALAVRAS CHAVES: Resíduos; Impacto; Lagoa Facultativa. ABSTRACT: The study it verified the effectiveness of the system of treatment of effluent liquids generated for the activity of abates bovines in cold storage rooms.. The treatment system consists of a sequence lagoons, being an anaerobic and two physicians made use in series. The treatment of effluent liquids is one of the most important ambient questions of this activity, in what it says respect to the attendance of the legislation and the consequent protection of the environment. For determination of the efficiency of the treatment system, the following parameters had been analyzed physicist-chemistry, pH, DBO, DQO, Nitrogen, Nitrate, Nitrito, Match, Solids You sedimented. The results had shown a good efficiency in the removal of the analyzed parameters, mainly for the effluent one to contain great amount of organic substance. WORDS KEYS: Residues; Impact; facultative lagoon. 14 1. INTRODUÇÃO O abate de bovinos é uma das atividades econômicas mais importantes no mercado brasileiro, levando-se em conta que o Brasil é um dos maiores exportadores da carne bovina no mundo. Portanto, este é um setor que deve cumprir todas as leis sanitárias para que não haja recusa do produto pelos compradores. O cumprimento das leis sanitárias conseqüentemente leva ao cumprimento das leis de proteção ao meio ambiente. Constantemente a sociedade em geral cada vez mais se preocupa com a preservação do meio ambiente, despertando com isso uma nova consciência no questionamento ambiental. Devido ao crescimento populacional o consumo de carne passou a ter um substancial valor, que resultou no aumento da atividade do setor de abate de bovinos, trazendo junto à preocupação com meio ambiente. A demanda pela água está crescendo mundialmente, à medida que a população, a atividade industrial e a agricultura irrigada expandem-se. Os processos industriais, apesar de ocuparem a segunda posição no consumo total de água são um dos principais responsáveis pela poluição das águas, quando lançam efluentes sem tratamento adequado aos corpos de receptores (lagos, rios córregos, etc.) A atividade de abate de bovinos, além de utilizar grande quantidade de 15 água, que em quase toda sua totalidade é descartada como efluente líquido é uma das atividades econômicas de grande potencial de poluição. Os problemas ambientais gerados pela atividade de frigoríficos estão relacionados com os seus despejos ou resíduos oriundos de diversas etapas do processamento industrial. As águas residuárias contêm sangue, gordura, excrementos, substâncias contidas no trato digestivo dos animais, fragmentos de tecidos, entre outros, caracterizando um efluente com elevada concentração de matéria orgânica. Esse efluente, quando disposto ao meio ambiente sem tratamento, representa focos de proliferação de insetos e de agentes infecciosos, os nutrientes presentes nos efluentes líquidos de frigoríficos, quando em excesso, trazem sérios problemas, aos corpos receptores como o fenômeno da eutrofização. Esta atividade com grande potencial de poluição muitas vezes passa despercebido geralmente pela sociedade, uma vez que não utiliza em suas etapas de produção substâncias químicas altamente tóxicas, entretanto as pessoas que residem ao redor destes estabelecimentos sofrem com os fortes odores causados pela atividade. Embora a preocupação com o tratamento dos efluentes gerados pela atividade de frigoríficos não seja uma novidade, a descrição da eficiência dos processos utilizados e os cuidados com novas técnicas de tratamento são de interesse não só dos 16 frigoríficos, mas também dos órgãos governamentais envolvidos com a qualidade do meio ambiente, necessárias para desenvolver esta atividade econômica essencial, tomando os devidos cuidados com os resíduos líquidos gerados. Os resíduos industriais independentes da sua composição, devem atender às normas estabelecidas pela legislação. Para efluentes líquidos devem ser seguidas as normas prescritas pela RESOLUÇÃO do CONAMA Nº 357 de 17/03/05. 17 2. OBJETIVOS 2.1 Gerais Avaliar a eficácia do sistema implantado para o tratamento dos efluentes líquidos gerados pela atividade frigorífica, descartada num sistema composto por lagoas de estabilização. 2.2 Específicos Acompanhar as seqüências das fases operacionais que se desenvolvem pela atividade de frigoríficos, para determinar os parâmetros físicoquímicos. Avaliar a eficácia no sistema de tratamento, quando lançados no efluente. 18 3. REVISÃO BIBLIOGRAFICA Grande parte dos estabelecimentos de pequeno porte na atividade de abate de bovinos tem dificuldades com a destinação dos resíduos líquidos gerados pela atividade comercial, principalmente àquelas situadas em pequenos municípios. Devido a uma maior fiscalização por parte dos órgãos ambientais o tratamento de seus resíduos se tornou fator predominante no gerenciamento ambiental das empresas, a questão da utilização da água é fator determinante, pois todas as etapas do processo desde a chegada até o abate dos bovinos consomem grande quantidade de água. Segundo ESPINOSA (1998), esta atividade gera por animal abatido 1,1 a 2,9 m3 de efluente líquido, para BRAILE & CAVALACANTI (1993), o consumo de água pode variar muito, sendo difícil estimar um valor, mas cita como estimativa de vazão para o abate de bovinos à quantidade de 2.500L por animal abatido. Com a escassez da água, associada ao crescimento populacional, dos 19 processos produtivos e da agricultura utiliza-se cada vez mais os recursos hídricos, sendo um recurso indispensável. No entanto, na maioria das vezes a água é devolvida aos cursos dos rios bastante alterada. Segundo BRAGA et al. (2002), os recursos hídricos têm relação direta entre a qualidade e quantidade, estando as duas diretamente relacionadas, a qualidade da água depende diretamente da quantidade de água existente para dissolver, diluir e transportar os resíduos líquidos. Segundo IMHOFF & IMHOFF (1998), os despejos industriais particularmente os que produzem mau cheiro, como os frigoríficos, não devem ser lançados na rede coletora de esgoto e sim despejados diretamente em estações de tratamento. Para BRAILE (1971), o melhor modo de tratar o efluente de frigorífico devido a sua semelhança com esgoto doméstico seria despejar junto, mas o apropriado é que os frigoríficos tenham sua própria estação de tratamento. Em SPERLING (2002), observa-se que todos os compostos orgânicos podem ser degradados pela via anaeróbica, sendo que o processo se mostra mais eficiente e mais econômico quando os dejetos são facilmente biodegradáveis. O mesmo autor coloca que para tratamento dos efluentes de frigoríficos o mais apropriado é o sistema de lagoas anaeróbias seguidas por lagoas facultativas (anaeróbias). Os dejetos de frigoríficos são quase inteiramente orgânicos altamente 20 putrescíveis entram em decomposição rapidamente. 3.1 Característica do efluente de frigorífico Segundo NUNES (2004), o conhecimento das características das águas residuárias industriais constitui o primeiro passo para o estudo preliminar de projetos, em que os possíveis tipos de tratamentos só podem ser selecionados a partir do levantamento destas características. Da mesma forma, se conhece também o potencial poluidor, quando estes efluentes são lançados no corpo de água receptor. Segundo JORDÃO & PESSOA (2005), os despejos industriais se caracterizam por apresentar uma enorme variedade de poluentes, tanto em tipo e composição, como em volumes e concentrações. Varia de uma indústria para outra, e mesmo dentro da própria indústria, ocorrendo variações diárias e horárias, fazendo com que cada caso de poluição industrial seja investigada individualmente. A análise das características dos efluentes de frigorífico pode ser uma tarefa mais complicada do que se pensa, pois depende muito da situação operacional de cada estabelecimento. De acordo com BRAILE & CAVALACANTI (1993), os despejos de matadouros e frigoríficos têm grande carga de sólidos em suspensão, nutrientes, material flotável, graxos, sólidos sedimentáveis e uma DBO que fica entre 800 e 32.000 mgL-1 , que podem variar em função dos cuidados na operação e com o 21 reaproveitamento da matéria. Segundo VILAS BOAS et. al. (2001), nos efluentes de matadouros e frigoríficos, a matéria orgânica presente no seu efluente é composta por grande quantidade de sangue, fragmentos de tecidos, gorduras que é liberado durante o processo de abate. O sangue merece uma atenção especial, pois contêm uma carga muito elevada de DBO, devendo este ser coletado separadamente dos demais resíduos e tratado para o reaproveitamento através de subprodutos do processo de abate. Alguns nutrientes podem contribuir muito para a contaminação dos corpos hídricos, como o nitrogênio e o fósforo, mesmo sendo essenciais para o desenvolvimento de microorganismos, plantas e animais, em excesso acarretam sérios problemas, como a eutrofização dos corpos receptores. Segundo BRAILE & CAVALACANTI (1993), o aspecto das águas residuárias é desagradável, tendo uma cor avermelhada, contendo pelancas e pedaços de gorduras em suspensão, sendo praticamente opacas e em sua parte coloidal contam com a presença de microorganismos patogênicos, sempre que os animais abatidos não estiverem em perfeito estado de saúde, estes dejetos são altamente putrescíveis decompondo-se horas depois do seu aparecimento, liberando cheiro característico dos matadouros de higiene deficiente. Os despejos de matadouros e frigoríficos também possuem alta 22 concentração de sólidos em suspensão, segundo METCALF & EDDY (2003), uma das características físicas mais importantes no tratamento das águas residuárias é o conteúdo de sólidos totais. Em abatedouros de animais de carne vermelha, a água é utilizada inicialmente na lavagem das carcaças durante os vários estágios do processo e na limpeza no fim de cada etapa. De 80 a 95% da água utilizada nos abatedouros é descartada como efluente (TEIXEIRA, 2006). A Tabela 1 apresenta as principais características encontradas por outros autores. Tabela 01 - Caracterização de efluentes de matadouros realizadas por outros autores. PARÂMETRO UNIDADE Sayed (1987) - 6.8 7.1 20 15002200 490650 - pH Temperatura D.Q.O mgL °C -1 D.B.O mgL -1 Sólidos S. Totais Óleos e Graxas Alcalinidade mgL -1 mgL -1 Nitrôgenio (N) Kjedahl Fósforo mgL -1 mgL -1 O2 O2 mg CaCO3/L Borja et. al. (1995) 6.3 Manjunat h et. al. (1999) 6.5-7.3 Núñez (1999) 6.8 Pozo et. al. (1999) - Caixeta et. al. (2002) 6.3-6.6 Torkian et. al. (2003) 6.8-7.8 2450 2500 2100 1550 110077250 600-3900 1400 1200 130 300-2300 530 950 27-36 326514285 9141917 - - 210 125-400 - 150 740 110 - 20006200 13002300 8506300 40-600 - 120180 12.20 150 90-150 - 220 - 12081713 - 6 8.15 - - 15-40 - Fonte: Arruda, (2004). Segundo IDE et. al (1997), as águas residuárias de matadouros apresentam, para o efluente brutos as características apresentadas na Tabela 02: Tabela 02 – Comparação das características da água residuária. 23 Parâmetros BRAILE, 1993 DBO5,20 (mgL-1 ) OESTREICH, OUNO, 1981 de 800 a 32.000 1.050 2.015 2.500 de várias dezenas até 1g/L 1.000 - 2.780 - S. Totais (mgL ) Óleos e Graxas (mgL-1 ) NTK (mgL-1) - 2.050 460 157 420 N. Amoniacal (mgL-1) - 71 - Fosfato Total (mgL-1 ) -1 DQO (mgL ) - 155 1.531 60 - Temperatura (?C) - - 29.5 Consumo S. Sedimentáveis (mL/L) -1 Fonte: Ide et.al. (1997) Os valores apresentados por BRAILE & CAVALACANTI (1993) na Tabela 2, apresentam as variações das características do efluente bruto sem tratamento preliminar e, estas variações vinculam-se aos processos envolvidos na atividade industrial, como a produção de enlatados, fabricação de farinhas de ossos e/ou de sangue, salsicharia, etc. E que o efluente analisado por OESTREICH (1989), é restrito ao processo de abate e frigorificação. O processo industrial analisado por OUNO (1981) representa, além do abate e frigorificação, a fabricação de produtos de salsicharia. 3.2 Tratamento do efluente de frigoríficos 24 Os processos industriais constituem um dos maiores responsáveis pela poluição e contaminação das águas, quando lançados os efluentes sem o devido tratamento nos cursos naturais de água, causando uma série de danos ao meio ambiente e população, dentre os principais despejos agroindustriais que necessitam de especial atenção para se evitar a poluição das águas estão os efluentes de frigoríficos (BRAILE & CAVALACANTI, 1993). “O lançamento indevido de efluentes de frigoríficos ocasiona modificações nas características da água e solo, podendo poluir ou contaminar o meio ambiente” (MEES, 2004). De acordo CETESB (1990), para avaliação do desempenho de uma lagoa deve-se conhecer especificamente as características físicas, químicas e biológicas que vão indicar a variação da qualidade do efluente que esta sendo tratado. Conforme IMHOFF & IMHOFF (1998), os efluentes de frigoríficos podem ser tratados pelos mesmos processos que os empregados para esgotos domésticos, isto é por processo anaeróbios, por filtros biológicos de alta taxa, lodos ativados e também segundo BRAILE & CAVALACANTI (1993) podem ser por meio de discos biológicos rotativos e por sistemas de lagoas aeróbias e lagoas de estabilização. Para DIAS (1999), os principais impactos ambientais negativos estão relacionados com a geração de efluentes líquidos que podem provocar a contaminação do solo e das águas superficiais e subterrâneas, além de gerar odor indesejável na 25 decomposição da matéria orgânica. 3.3 Lagoas de estabilização As lagoas de estabilização são unidades especialmente construídas com a finalidade de tratar as águas residuárias por meios predominantemente biológicos, isto é por ação de microrganismos naturalmente presentes no meio. Segundo JORDÃO & PESSOA (2005), as lagoas de estabilização são sistemas de tratamento biológico em que a estabilização da matéria orgânica é realizada pela oxidação bacteriológica (oxidação aeróbia ou fermentação anaeróbia) e/ou redução fotossintética das algas, sendo um dos tipos de tratamento mais utilizados no país, principalmente devido às condições climáticas, custos baixos para sua implementação e operação, simples construção e manutenção. As lagoas de estabilização podem ser construídas de forma simples, escavadas no solo ou formado por diques de terra, porem devem ter os seus fundos compactados, para evitar a infiltração de águas residuárias no solo e colocar em risco a qualidade das águas subterrâneas. A Tabela 3 apresenta descrições sucintas dos principais sistemas de tratamento por meio de lagoas de estabilização. Tabela 03 - Principais sistemas de tratamento de lagoas de estabilização 26 Sistema Lagoa facultativa Lagoa anaeróbia seguida por lagoa facultativa Continuação Tabela 03 Descrição A DBO solúvel e finamente particulada é estabilizada aerobiamente por bactérias dispersas no meio líquido, ao passo que a DBO suspensa tende a sedimentar, sendo convertida anaerobicamente por bactérias no fundo da lagoa. O oxigênio requerido pelas bactérias aeróbias é fornecido pelas algas, através da fotossíntese A DBO é um torno de 50 a 70% removida na lagoa anaeróbia (mais profunda e com menor volume) enquanto a DBO remanescente é removida na lagoa facultativa. O sistema ocupa uma área inferior ao de uma lagoa facultativa única. 27 Lagoa aerada facultativa Lagoa de maturação A energia introduzida por unidade de volume da lagoa é elevada, o que faz com que os sólidos (principalmente a biomassa) permaneçam dispersos no meio liquido, ou em mistura completa. A decorrente maior concentração de bactérias no meio líquido aumenta a eficiência do sistema na remoção da DBO, o que permite que a lagoa tenha um volume inferior ao de uma lagoa aerada facultativa. No entanto, o efluente contém elevados teores de sólidos (bactérias), que necessitam ser removidas antes do lançamento no corpo receptor. A lagoa de decantação a jusante, proporciona condições para esta remoção. O lodo da lagoa de decantação deve ser removido em períodos de poucos anos. O objetivo da lagoa de maturação é a remoção de organismos patogênicos. Nas lagoas de maturação predominam condições ambientais adversas para bactérias patogênicas, como radiação ultravioleta, elevado pH, elevado OD, temperatura mais baixas que a do corpo humano, falta de nutrientes e predação por outros organismos. Ovos de helmintos e cistos de protozoários tendem a sedimentar. As lagoas de maturação constituem um pós-tratamento de processos que objetivem a remoção da DBO, sendo usualmente projetadas como uma série de lagoas, ou como uma lagoa única com divisões por chicanas. A eficiência na remoção de coliformes é elevadíssima. Fonte: Sperling, 2002 A Tabela 04 apresenta a eficiência para remoção dos parâmetros físicos químicos dos principais sistemas de lagoas de estabilização. Tabela 04 – Características da eficiência dos principais sistemas de lagoas Item geral Item específico Facultativa Eficiência DBO (%) DQO (%) Sólidos Sedimentáveis (%) Amônia (%) Nitrogênio (%) Fósforo (%) Coliformes (%) Fonte: Sperling, 2002 Sistemas de lagoas Anaeróbia Aerada facultativa facultativa 75 - 85 65 – 80 70 – 80 75 – 85 65 – 80 70 – 80 75 – 85 65 – 80 70 – 80 Aerada de mist. completa decantações 75 - 85 65 - 80 80 - 87 < 50 < 60 < 35 90 – 99 < 50 < 60 < 35 90 – 99 < 30 < 30 < 35 90 – 99 < 30 < 30 < 35 90 - 99 28 A Tabela 05 apresenta as vantagens e desvantagens dos principais sistemas de tratamento das lagoas de estabilização. Tabela 05 – Balanço de vantagens e desvantagens de lagoas de estabilização 29 Sistema Lagoa facultativa Sistema de lagoa anaeróbia – lagoa facultativa Lagoa aerada facultativa Sistema de lagoa aerada de mistura completa – lagoa de decantação Lagoa de maturação Vantagens - Satisfatória eficiência na remoção de DBO - Razoável eficiência na remoção de patógenos. - Construção, operação e manutenção simples - Reduzidos custos de implantação e operação. - Ausência de equipamentos mecânicos - Requisitos energéticos praticamente nulos - satisfatória resistência a variações de carga - remoção de lodo necessária apenas após períodos superiores à 20 anos. - Idem lagoas facultativas - Requisitos de área inferiores aos das lagoas facultativas únicas - Construção, operação e manutenção relativamente simples. - Requisitos de área inferiores aos sistemas de lagoas facultativas e anaeróbio-facultativas. - maior independência das condições climáticas que os sistemas de lagoas facultativas e anaeróbio-facultativas. - Satisfatória resistência a variações de carga. - Reduzidas possibilidades de maus odores. - Idem lagoas aeradas facultativas - Menores requisitos de áreas de todos os sistemas de lagoas - Idem sistema de lagoas precedente. - Elevada eficiência na remoção de patógenos. - Razoável eficiência na remoção de nutrientes. Desvantagens - Elevados requisitos de área - Dificuldade em satisfazer padrões de lançamento restritivos. - A simplicidade operacional pode trazer o descanso na manutenção (crescimento de vegetação). - Possível necessidade de remoção de algas do efluente para o cumprimento de padrões rigorosos. - Performance variável com as condições climáticas (temperatura e insolação) - Possibilidade do crescimento de insetos - Idem lagoas facultativas - Possibilidade de maus odores na lagoa anaeróbia. - Necessidade de um afastamento razoável às residências circunvizinhas. - Necessidade da remoção continua ou periódica (intervalo de alguns anos) de lodo da lagoa anaeróbia. - Introdução de equipamentos. - Ligeiro aumento no nível de sofisticação - Requisitos de área ainda elevadas. - Requisitos de energia relativamente elevados. - Baixa eficiência na remoção de coliformes. - Necessidade de remoção continua ou periódica (intervalo de alguns anos) do lodo. - Idem lagoas aeradas facultativas - Preenchimento rápido de lagoas de decantação com o lodo (2 à 5 anos). - Necessidade de remoção continua ou periódica (2 à 5 anos) do lodo. - Idem sistema de lagoas precedente. - Requisitos de área bastante elevados. Fonte: Sperling, (2002) 3.3.1 Lagoas anaeróbias seguidas por facultativas 30 Segundo SPERLING (2002), as lagoas anaeróbias constituem-se em uma forma alternativa de tratamento onde a existência de condições estritamente anaeróbias é essencial, devido a uma grande carga de DBO no volume da lagoa, consumindo uma taxa de oxigênio muitas vezes mais elevada que a sua produção, as lagoas anaeróbias são bastante utilizadas para tratamento de despejos indústrias predominantemente orgânicos, com altos teores de DBO, como os de frigoríficos. A lagoa anaeróbia tem uma profundidade maior podendo variar de 3 a 5 metros, por isso requer uma menor área, sua eficiência é da ordem de 50 a 70%, mas com uma DBO elevada implica na necessidade de uma lagoa facultativa posterior ao tratamento. Para lagoas facultativas a faixa de profundidade a ser adotada situa-se entre 1,5 a 3,0m, embora a faixa mais usual seja de 1,5 a 2,0m. (SPERLING, 2002). Segundo JORDÃO & PESSOA (2005), a lagoa anaeróbia criteriosamente projetada poderá operar livre de maus odores oferecendo uma redução de DBO na faixa de 50% ate 60% o conjunto de lagoas apresenta excelente eficiência de tratamento, em termos de eficiência a remoção de DBO situa-se entre 75% e 85%. Segundo CHERNICHARO (2003), as lagoas anaeróbias, combinadas com as lagoas facultativas, também denominado Sistema Australiano, devido a nossas condições climáticas, com elevadas temperaturas, constituem-se em uma alternativa apropriada para tratamento de esgoto doméstico, mas também são freqüentemente 31 utilizadas para o tratamento de despejos com alta concentração de matéria orgânica como os efluentes de frigoríficos. 3.4 Estabelecimento de abate bovino De acordo com Decreto 30.691/52, que dispõe sobre o Regulamento de inspeção Industrial e sanitária de produtos de origem animal – RIISPOA, em seu capitulo I, Artigo 21, Parágrafo 1º coloca que: Entende-se por "matadouro-frigorífico" o estabelecimento dotado de instalações completas e equipamentos adequados para o abate, manipulação, elaboração, preparo e conservação das espécies de açougue sob variadas formas, com aproveitamento completo, racional e perfeito, de subprodutos não comestíveis. No artigo nº. 110 do RIISPOA - Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (BRASIL, 1952), os animais devem permanecer em descanso, jejum e dieta hídrica nos currais por 24 horas, podendo este período ser reduzido em função de menor distância percorrida, já no seu Artigo nº 112 coloca que nenhum animal pode ser abatido sem inspeção federal. Segundo CETESB Guia técnico ambiental de abate (Bovino – Suíno ) P+L (2008), pode-se dividir as unidades de negócio do setor quanto à abrangência dos processos que realizam, da seguinte forma: 32 – Abatedouros (ou Matadouros): Realizam o abate dos animais, produzindo carcaças (carne com ossos) e vísceras comestíveis. Algumas unidades também fazem a desossa das carcaças e produzem os chamados “cortes de açougue”, porém não industrializam a carne; – Frigoríficos: Podem ser divididos em dois tipos: os que abatem os animais separam sua carne, suas vísceras e as industrializam, gerando seus derivados e subprodutos, ou seja, fazem todo o processo dos abatedouros/matadouros e também industrializam a carne; e aqueles que não abatem os animais – compram a carne em carcaças ou cortes, bem como vísceras, dos matadouros. 3.5 Etapas do processo de abate bovino Seqüência das fases operacionais que se desenvolvem antes e depois do abate desde a chegada dos animais, logo na chegada dos animais a inspeção local devera verificar os documentos de procedência e verificar a condição de saúde do lote dos animais. 3.5.1 Recepção 33 Os animais após a chegada ao frigorífico são selecionados e mantidos em currais, que devem ser localizados de maneira que os ventos predominantes não levem em direção ao estabelecimento poeiras e emanações de fortes odores, e devem estar não menos que 60 metros das dependências onde se elaboram produtos comestíveis, os animais devem permanecer em descanso, jejum e dieta hídrica recebendo somente água, essa etapa permite maior facilidade no processo de evisceração e diminui riscos de contaminação microbiana devido as fezes, o conteúdo intestinal e onde os animais recuperam-se aliviando o “stress” caudados pelo deslocamento. O período de descanso ou dieta hídrica no frigorífico é o tempo necessário para que os animais se recuperem dos transtornos causados aos animais pelo deslocamento desde o local de origem até ao estabelecimento de abate (Gil & Durão, 1985). O curral de chegada e seleção destina-se a recebimento e apontamento do gado, para se verificar os documentos de procedência e verificar as condições de saúde dos lotes. O curral de observação destina-se exclusivamente para o recebimento para um exame mais apurado do estado dos animais. Qualquer caso suspeito implica num exame clinico no animal, procedendo se necessário o isolamento de todo lote. 34 Estes procedimentos, especificados como inspeção “ante-mortem”, são necessários e devem ser aplicados nessa etapa antes do abate. O curral de matança destina-se para receber os animais aptos a matança por atordoamento, nesta área os resíduos são gerados pela limpeza dos animais e da lavagem de caminhões utilizados no transporte. Na Figura1 é apresentado o momento do desembarque dos animais Figura 1: Desembarque dos animais Fonte: Arruda, 2004. 35 Na Figura 2 são apresentados os animais nos currais separados por lotes. Figura 2: Bovinos no curral de recepção e separados por lotes Fonte: CETESB (2008) 3.5.2 Banho Os banheiros de aspersão são compostos por um sistema tubular de 36 chuveiros onde os animais passam para um banho por aspersão de jatos de água dispostos transversalmente, longitudinalmente e lateralmente. O objetivo do banho no animal antes do abate é limpar a pele para assegurar uma esfola higiênica, reduzir a poeira, tendo em vista que a pele fica úmida, e, portanto, diminuiria a sujeira na sala de abate. Os resíduos da aspersão de água nos animais que são destinados a sala de abate, também são considerados como grande fonte de geração de resíduos líquidos. Nas Figuras 3 e 4 são mostrados os animais no local de limpeza. Figura 3: Lavagem dos animais Fonte: CETESB (2008) 37 Figura 4: Lavagens dos animais Fonte: CETESB (2008) 3.5.3 Boxe de atordoamento Boxes individuais, adequados à contenção de um só bovino por vez, onde a insensibilização (atordoamento) é realizado por meio mecânico, para realização de um abate humanizado. Nas Figuras 5 e 6 é mostrado o momento em que os animais levam o atordoamento para seguida irem para outras etapas do abate. 38 Figura 5: Atordoamento dos bovinos para abate Fonte: CETESB (2008) 39 Figura 6: Atordoamento dos bovinos para abate Fonte: CETESB (2008) 3.5.4 Área de vômito Após o atordoamento mecânico dos animais geralmente ocorrem vômitos e em seguida passam pelos chuveiros para remoção e limpeza dos dejetos lançados pelos animais. 3.5.5 Sala de matança Os animais são suspensos por guinchos mecânicos, erguidos pela pata traseira, ficando com a cabeça para baixo. 40 A Figura 7 mostra quando os animais são suspensos por guinchos. A Figura 7: Suspençã dos animais. Fonte: CETESB (2008) 3.5.6 Sangria Realizada por meio de secção dos grandes vasos do pescoço do animal na altura da entrada do peito, onde é feito a retirada do sangue, que recomendase que seja recolhido em canaleta própria para o reaproveitamento do sub-produto (linha Vermelha). Um bovino descarta neste processo de 15 a 20 litros de sangue. Após a sangria os chifres são serrados e depois de secos podem sem convertidos em farinha 41 ou vendidos (CETESB, 2008). Na Figura 8 é apresentada a operação de sangria, onde o sangue é coletado separadamente, e na Figura 9 o momento do corte dos chifres. Figura 8: Operação de sangria dos animais Fonte: CETESB, 2008 42 Figura 9: Remoção dos chifres Fonte: CETESB, (2008) 3.5.7 Esfola ou remoção de couros Consiste na etapa de retirado do couro, pode ser feita manualmente ou por meio mecânico, e também são separados cabeça e mocotós. Para evitar a contaminação da carcaça por eventuais excrementos o ânus e bexiga são amarrados. (CETESB, 2008) Nas Figura 10 e 11 é mostrado a retirada das patas dianteiras dos animais e amarração dos órgãos excretores. 43 Figura 10: Retirada das patas dianteiras Fonte: CETESB, 2008 Figura 11: Isolamento/amarração dos órgãos excretores Fonte: CETESB (2008) Nas Figuras 12 e 13 é mostrado o início da remoção do couro e a 44 retirada do couro por meios mecânicos Figura 12: Cortes iniciais do couro Fonte: CETESB, 2008 45 Figura 13: Remoção do couro por correntes e rolete mecânico Fonte: CETESB (2008) 3.5.8 Evisceração A carcaça do animal é aberta com serra elétrica ou manualmente e as vísceras são retiradas. Após a lavagem, as carcaças passam por vistoria e levam o carimbo do Serviço de Inspeção Federal (SIF) do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento e são encaminhadas para câmara frigoríficas ou para desossa. As Figura 14 e 15 mostram o inicio da abertura da carcaça para 46 evisceração e a lavagem das carcaças. Figura 14: Abertura da carcaça para evisceração Fonte: CETESB, 2008 Figura 15: Lavagem das carcaças Fonte: CETESB, 2008 47 O abatedouro apresenta um fluxograma que é apresentado no anexo A. 4. MATERIAL E MÉTODOS 4.1 Descrição do local de estudo O efluente líquido empregado para análise da eficácia do tratamento foi coletado no Frigorífico Bendo Ltda, localizado no município de Santa Terezinha de Itaipu, situado no extremo oeste do estado do Paraná, possui uma capacidade de abate de até 50 animais/dia, sendo considerado um frigorífico de pequeno porte. Este frigorífico foi instalado com objetivo de fomentar a atividade pecuária da região e também regularizar as condições higiênico-sanitárias da carne bovina comercializada no município e região oeste do estado do Paraná, tendo como principal atividade o abate e a distribuição. A Tabela 06 apresenta a caracterização da área industrial do Frigorífico. Tabela 06 – Apresenta área do empreendimento Área total Terreno 24.200,00 m2 Área construída 715,87 m2 Área livre 23.484,13 m2 48 O efluente líquido procedente do frigorífico é segregado em duas linhas principais, a linha “verde” e “vermelha”, adequada para cada tipo de efluente conforme suas características: - Linha “verde” é composta pelos resíduos líquidos gerados na recepção dos animais, nas áreas de condução do animal para abate, nas áreas de lavagem dos caminhões e pátios, contendo grande quantidade de conteúdo intestinal, excrementos dos bovinos. A matéria orgânica dos currais é coletada separadamente e encaminhada para o leito de secagem, e através de compostagem os resíduos são reaproveitado como adubo orgânico, e comercializado com agricultores da região. Os resíduos líquidos do leito de secagem são drenados e encaminhados diretamente para sistema de tratamento primário. - Linha “vermelha” composta com os resíduos líquidos que contêm sangue (de varias áreas do abate em diante) das áreas de limpeza e higienização do estabelecimento. O sangue gerado no abate é coletado separadamente, para ser aproveitado como subproduto e destinado às empresas da região, para o reaproveitamento. O frigorífico utiliza como fonte geradora, para suprir suas necessidades em todas as etapas do processo de produção e limpeza do estabelecimento água 49 provenientes de poço tubular profundo. Na Figura 16 é mostrado o leito de secagem, onde é destinada a matéria orgânica dos currais, para ser realizado a compostagem, e reaproveitado como adubo orgânico. Figura 16: Leito de secagem da matéria orgânica 4.2 Descrição do sistema de tratamento adotado pelo frigorífico: O sistema de tratamento de efluentes líquidos implantado na empresa consiste no tratamento primário e secundário: 50 - Tratamento primário: consiste no gradeamento, para remoção dos sólidos grosseiros provenientes da linha “vermelha” e nos tanques de sedimentação para remoção sólidos sedimentáveis, dos efluentes provenientes das linhas “verde” e “vermelha”, A Figura 17 apresenta a entrada do efluente da linha “vermelha” para sistema de tratamento primário (gradeamento) e tanques de sedimentação em série. Figura 17: Entrada do efluente no sistema tratamento primário - Tratamento Secundário: o sistema de tratamento de lagoas de estabilização e composto de uma lagoa anaeróbia e duas lagoas facultativas ligadas 51 em série. A tabela 07 mostra o dimensionamento das lagoas de estabilização que compõe o tratamento secundário. Tabela 07 – Dimensão das lagoas Lagoa Largura (m) Comprimento (m) Altura (m) Anaeróbia 12 29 4,5 Facultativa 1 24 51 1,70 Facultativa 2 20 50 2,10 Continuação Tabela 07 As Figuras 18,19 e 20 apresentam a disposição da lagoa anaeróbia, seguida da primeira lagoa facultativa e da segunda lagoa facultativa. No anexo B encontra-se a planta das lagoas. 52 Figura 18: Lagoa anaeróbia Figura 19: Lagoa Facultativa 1 53 Figura 20: Lagoa facultativa 2 4.3 Coleta das amostras A coleta das amostras foi realizada no dia 09 de junho de 2008 às 10h00min, e composta de 3 (três) amostras distribuídas nos seguintes pontos: - Ponto 1 – Na entrada do efluente na Lagoa anaeróbia; - Ponto 2 – Na entrada do efluente na 1ª Lagoa facultativa; - Ponto 3 – Na saída do efluente da 1ª lagoa facultativa. A lagoa 2ª lagoa facultativa não esta recebendo efluente liquido da 1ª lagoa facultativa, não esta ocorrendo o lançamento do efluente liquido no corpo 54 receptor assim sendo o efluente final do frigorífico, depois de passar pelas lagoas de estabilização (lagoa anaeróbia, 1ª lagoa facultativa e 2ª lagoa facultativa) será lançado no Córrego Ipiranga, que deságua no lago de Itaipu e compõe a Bacia Hidrográfica Paraná III. No anexo B – Planta da Disposição das Lagoas 4.4 Parâmetros para análises. Para determinação da eficiência do sistema implantado pela empresa, foram utilizados os seguintes parâmetros: pH, DQO, DBO5, Fósforo, Sólidos Sedimentáveis, Nitrogênio, Nitrito e Nitrato, segundo a metodologia do (APHA, 1995). As análises foram realizadas pelo Laboratório Almicro Análise de Alimentos e Ambientais, situado em Cascavel – PR. 5. RESULTADOS E DISCUSSÕES O efluente da entrada no sistema de tratamento da lagoa anaeróbia, ponto de coleta 1, apresentava uma coloração marrom/avermelhada bastante escura, com a presença de sólidos grosseiros, matéria orgânica e sangue das diversas etapas do abate, Já o efluente da lagoa facultativa, pontos de coleta 2 e 3, apresenta uma coloração marrom claro em relação a amostra 1, perfazendo uma boa remoção dos sólidos presentes na amostra, essas características apresenta-se conforme cita BRAILE 55 & CAVALACANTI (1993). Na Figura 21 podemos observar o aspecto geral das amostras coletadas nos pontos 1, 2 e 3 Figura 21: Aspectos das amostras coletadas pontos 1,2 e 3 Os resultados das analises dos parâmetros pH,DBO5, DQO, Sólidos Sedimentáveis, Fósforo, Nitrogênio, Nitrito e Nitrato, são apresentadas na Tabela 8. A Tabela 08 apresenta os resultados do pH. TABELA 08 – Resultado do pH Parâmetro Ponto coleta 1 Ponto coleta 2 Ponto coleta 3 Variação (%) 56 pH CaCl2 8,04 8,26 8,29 3,11 Conforme observa-se o pH sofreu uma pequena variação sobre os pontos de coleta, estando esses parâmetros dentro do que preconiza a legislação através da Resolução 357/05 CONAMA, no seu Art. 34, que estabelece para lançamento de efluente líquidos pH entre 5,0 e 9,0 apresentando uma solução básica/alcalina o que favorece o bom funcionamento do sistema de tratamento secundário, já Arruda (2004) faz citação com vários autores, colocando um efluente de matadouros com pH bem inferior ao encontrado. A Tabela 09 apresenta o resultado de sólidos sedimentáveis. Tabela 09 – Resultado dos sólidos sedimentáveis. Parâmetro Ponto coleta 1 Ponto coleta 2 Ponto coleta 3 2,100 ml/L 0,300 ml/L 0,400 mgL Eficiência (%) Sólidos sedimentáveis -1 80,95 Os sólidos sedimentáveis apresentaram uma variação na ordem de 80,95% entre os pontos de coleta 1 e 3 essa variação se deve principalmente ao processo de abate, pois a empresa por ser de pequeno porte não tem uma atividade de abate constante, gerando uma quantidade diferente de efluente a cada dia de trabalho, Já nos pontos de coleta 2 e 3 é observado que a quantidade de Sólidos sedimentáveis 57 manteve-se na média, e dentro dos parâmetros conforme a resolução CONAMA, que estabelece a quantidade de 1 mgL-1 em teste de cone Imhoff, para o lançamento no corpo receptor, esses parâmetros obtidos no ponto 1(efluente bruto) ficam bem abaixo dos parâmetros citado por BRAILE & CAVALACANTI, (1993). Esses parâmetros da análise se enquadram dentro das características de eficiência do sistema, segundo SPERLING (2002), determina para o sistema uma eficiência de 70-80% de remoção dos sólidos sedimentáveis. A Tabela 10 apresenta o resultado de nitrato analisado pelo laboratório. Tabela 10 – Resultado de nitrato. Parâmetro Ponto coleta 1 Nitrato 3,7 mgL -1 Ponto coleta 2 -1 1,7 mgL Ponto coleta 3 -1 1,9 mgL O nitrato apresenta parâmetro máximo permitido para lançamento nos afluentes de acordo com a Resolução CONAMA 357/05, fixado em 10 mgL-1 , sendo este um elemento indispensável ao crescimento de algas, mas que em excesso, causa o crescimento acelerado de microorganismos, podendo causar a eutrofização do afluente, nas análises das amostras dos pontos 1, 2 e 3, pode-se observar que tanto na entrada do efluente no sistema de tratamento, como no último ponto de coleta, os parâmetros encontrados apresentam uma concentração inferior ao valor fixado pelo 58 CONAMA. No ponto de coleta 1 e 2 o sistema de tratamento obteve uma eficiência de 54,05% em relação à entrada do efluente na lagoa anaeróbia para facultativa 1, no ponto de coleta 2 ao 3, notamos uma acréscimo de concentração de nitrato 11,76% dentro da lagoa facultativa 1. A Tabela 11 apresenta o resultado de nitrito analisado pelo laboratório. Tabela 11 – Resultado de nitrito. Parâmetro Ponto coleta 1 Nitrito 0,12 mgL -1 Ponto coleta 2 -1 0,02 mgL Ponto coleta 3 -1 0,02 mgL Eficiência (%) 83,34 O Nitrito também é um dos elementos indispensáveis ao crescimento de algas, causando o crescimento de microorganismos, pela Resolução 357/05 CONAMA, o valor máximo para lançamento no afluente é de 1 mgL-1 , nas análises podemos observar que a concentração de nitrito, nos pontos de coleta 1, 2 e 3, esta bem inferior ao parâmetro máximo de lançamento nos afluentes, nota-se uma eficiência de 83,34% no tratamento entre a lagoas anaeróbia e a lagoa facultativa 1. A Tabela 12 apresenta o resultado de fósforo analisado pelo laboratório. Tabela 12 – Resultado de fósforo. Parâmetro Ponto coleta 1 Ponto coleta 2 Ponto coleta 3 Eficiência (%) 59 Fósforo -1 49,5 mgL -1 19,9 mgL -1 19,2 mgL 61,21 O fósforo pela Resolução 357/05 CONAMA para lançamento em ambiente lótico (ambiente relativo a águas continentais moventes) tem parâmetro estabelecido em de 0,15 mgL-1 , dentre as coletas de amostras podemos observar uma grande variação deste nutriente, que também é um causador do crescimento de microorganismos e algas (eutrofização). A análise apontou uma grande quantidade deste nutriente presente no sistema de tratamento, apesar de uma remoção de 61,21% na lagoa anaeróbia e facultativa 1. Os resultados obtidos demonstraram uma concentração acima do valor máximo estabelecido pelo CONAMA, conforme cita SPERLING (2002), as lagoas anaeróbias seguidas de facultativas, também denominada sistema australiano, tem dificuldades em satisfazer padrões de lançamentos restritivos (desvantagens), já no artigo de IDE et al,1997 cita que Oestreich (1989) e Ouno (1991) encontraram valores de fósforo no efluente bruto bem acima dos encontrados no ponto de coleta 1. Já conforme citado por Arruda (2004), que coloca este parâmetro como referência citando vários autores, os valores obtidos pela analise estão bem acima. A Tabela 13 apresenta o resultado de DQO analisado pelo laboratório. 60 Tabela 13 – Resultado de DQO. Parâmetro Ponto coleta 1 DQO 3490,0 mgL Ponto coleta 2 -1 Ponto coleta 3 -1 Eficiência (%) -1 734,0 mgL 705,0 mgL 79,79 DQO – Demanda Química de Oxigênio é um paramento que indica a degradação da matéria orgânica. O CONAMA não estabelece índices para este parâmetro, mas vale lembrarmos que este efluente trata-se de resíduos com grande quantidade de matéria orgânica. Na análise entre o ponto 1 e ponto 3 observa-se uma redução de 79,79%, na lagoa anaeróbia e facultativa, sendo que SPERLING (2002), cita para este sistema de tratamento uma eficiência na ordem de 70-80%, no artigo de Ide et al,1997 , cita que o efluente bruto analiso por Oestreich(1989) apresentou uma DQO bem inferior a apresentada no ponto de coleta 1. A tabela 14 apresenta o resultado do nitrogênio total analisado pelo laboratório. Tabela 14 – Resultado do nitrogênio. Parâmetro Ponto coleta 1 Nitrogênio 432 mgL -1 Ponto coleta 2 -1 139 mgL Ponto coleta 3 -1 179 mgL A análise de nitrogênio total, nos pontos de coleta 1, 2 e 3, 61 apresentaram valores que extrapolam o paramento máximo permitido conforme a Resolução 357/05 CONAMA que estabelece 20,0 mgL-1 , no artigo de Ide et al diz que no efluente analisado por Oestreich (1989), apresentou um concentração de nitrogênio bem inferior a apresenta nos pontos de coleta 1, 2 e 3, já no estudo de ARRUDA (2004), apresenta concentrações de nitrogênio próximas a quantidade encontrada no ponto de coleta 2 e 3. A Tabela 15 apresenta o resultado da DBO5 analisado pelo laboratório. Tabela 15 – Resultado do DBO5. Parâmetro Ponto coleta 1 Ponto coleta 2 Ponto coleta 3 DBO5 1296,6 mg/L 237,9 mg/L 317,1 mg/L A análise da DBO5 apresentou um parâmetro muito acima do permitido pela resolução 357/05 CONAMA com valor máximo de 10 mgL-1, no ponto de coleta 1 e 2 houve uma redução de 81,65%, estando de acordo com SPERLING (2002), que coloca para o sistema uma eficiência de 70-80% de remoção da DBO e JORDÃO & PESSOA (2005) que coloca uma eficiência para os sistema de 75-85% de remoção da DBO5, esse efluente com grande carga orgânica fica dentro dos parâmetros citados por 62 BRAILE & CAVALACANTI (1993), já IDE (1997) et al diz que o efluente analisado por OESTREICH (1989) encontrou um parâmetro inferior ao ponto de coleta , completando com o efluente analisado por OUNO (1981), com valores acima do encontrado nas analises. 63 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados demonstraram que o sistema de tratamento envolvendo a lagoa anaeróbia e facultativa, se mostrou com capacidade satisfatória de remoção dos parâmetros analisados, constituindo uma alternativa capaz de promover um elevado grau de remoção de nutrientes e conseqüentemente atender a legislação para lançamento de efluentes. Devido a uma falta de controle com a grande quantidade gerada de efluente líquido nas diversas etapas do processo produtivo, um sistema de tratamento preliminar ineficiente, com gradeamento fora dos padrões para remoção dos sólidos grosseiros e pela falta de instalação de uma peneira estática para retenção dos resíduos, sendo esta uma etapa imprescindível para o tratamento de efluente como os gerados pela atividade de frigoríficos, isto acarretaria uma substancial diminuição da grande concentração de matéria orgânica despejadas diretamente nas lagoas. O sistema apresentou boa eficiência dentro da capacidade de autodepuração do sistema (lagoa anaeróbia e facultativa 1), porém ainda não podemos observar a eficiência total do sistema implantado, pois os efluentes finais não esta sendo despejado, para determinarmos a poluição e/ou contaminação no corpo receptor. Os parâmetros obtidos através das analises demonstraram que o 64 sistema de lagoas de estabilização que compõe o tratamento do efluente líquido, promove boa remoção dos dejetos de origem predominantemente orgânicos, mas também é necessária uma adequação dos procedimentos adotados no processo de produção, gerando um efluente com menor carga de matéria orgânica, sólidos grosseiros, sangue, DBO5, DQO, para uma melhor eficiência das lagoas anaeróbia e facultativa. 65 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION. Standard methods examination of water and wastewater. 19. ed. New York: Apha, 1995. for the ARRUDA, Valmir C. Marques. 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