Produto joalheiro com design voltado para a cultura regional –
conceito no referencial cultural ítalo da serra gaucha
Produto joalheiro com design voltado para a cultura
regional - conceito no referencial cultural ítalo da
serra gaucha
Jewelry products with a design associated to the regional culture – the concept in the
Italian cultural reference in the region called ‘Serra Gaúcha’.
Lisbôa, Maria da Graça Portela. Designer. Mestre em Engenharia de Produção, Área de
Concentração em Qualidade e Produtividade pela UFSM). Professora Assistente do Curso de
Design do Centro Universitário Franciscano. Santa Maria – RS. [email protected]
Bisognin, Edir. Mestre em Educação. Professora Assistente do Curso de Design do Centro
Universitário Franciscano. Santa Maria – RS. [email protected]
Resumo
Este artigo é uma reflexão teórica sobre o design e a especificidade localista como referencial
para o conceito de criação do projeto das jóias com identidade cultural, denominada Linha
Serrana. O foco deste estudo localiza-se na região serrana do Rio Grande do Sul, que foi
desenvolvida por colonizadores oriundos da Itália, no século XIX e relaciona a importância de
se criar produtos culturalmente inseridos em um mercado globalizado, para partilhar não
somente interesses de mercado, mas também os sociais e culturais.
Palavras-Chave: design; produto; joalheria
Abstract
This article is a theoretical reflection about the design and the local specificity as a reference
for the concept of the creation of a jewelry project with cultural identity, called ‘Linha
Serrana’. The focus of this paper is located in the mountainous region of Rio Grande do Sul
state (Serra Gaúcha), which was colonized by immigrants who came from Italy in the 19th
century and it relates the importance of creating products culturally linked in a global market
in order to share the market interests as well as the social and cultural interests.
Keywords: design, product, jewelry store.
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Produto joalheiro com design voltado para a cultura regional –
conceito no referencial cultural ítalo da serra gaucha
Introdução
A importância de desenvolver produtos com identidade, para o projetista em Design,
envolve um esforço de pesquisar, diferenciar os elementos, criando peças/produtos que
traduzam os sentimentos, os hábitos e a parte da história de uma determinada cultura.
O presente trabalho visa permear o viés da história do RS, através da divisão regional
a partir do relevo, da colonização e da economia gaúcha.
Frente à diversidade geográfica/cultural que o RS abarca, encontra-se no relevo a
Campanha, as Serras do Sudeste, a Planície Litorânea, o Planalto Rio-Grandense, a Depressão
Central, esta, banhada principalmente pelos rios Ibicuí, Camaquã, das Antas, Ijuí, Jacuí, as
lagoas Mirim, dos Patos e Mangueira e pelo Oceano Atlântico. Estas terras são habitadas por
descendentes de indígenas, desbravadores africanos, portugueses, espanhóis e imigrantes
italianos, alemães, entre outros.
Busca-se nas peculiaridades regionais autenticar os elementos para a geração de idéias,
executando o esboço e croquis para a consecução do trabalho proposto.
O objetivo deste estudo foi desenvolver uma coleção de jóias, que caracterizem e
distingam culturalmente as regiões da Fronteira / Metade Sul, a Litorânea, a Serrana, a
Missioneira e a Região dos Vales. A partir do referencial teórico que explicitou peculiaridades
do Rio Grande do Sul, do seu regionalismo, foram extraídos os elementos necessários para o
desenvolvimento e geração de esboços e croquis de uma coleção (composta por cinco linhas,
com cinco peças cada uma). O presente trabalho apresenta neste artigo, a Linha Serrana,
inspirada na cultura regional dos imigrantes italianos dessa região.
O Rio Grande do Sul
O território rio-grandense foi sendo formado aos poucos, ao longo de milhares de anos
que se pode observar em sua paisagem construída pela natureza ao longo do tempo. O
Planalto compreende as terras mais altas situadas no nordeste, norte e noroeste. Na faixa
próxima ao Oceano Atlântico, as terras são baixas e constituem a planície litorânea.
O litoral é uma região de planície com muitas lagoas, entre elas a dos Patos e Mirim,
que são importantes vias de navegação. É no litoral que se situa a primeira cidade do Rio
Grande do Sul, Rio Grande, único porto marítimo. A cidade de Torres é formada por suas
belezas naturais e o Turismo. A região litorânea destaca-se também pela atividade de pesca
com frigoríficos que industrializam os seus produtos.
No oeste do Rio Grande do Sul encontram-se os campos verdes favoráveis à criação
de gado, região conhecida como campanha. Com uma parte de campos planos e coxilhas é
denominada de pampa, onde se situa uma das grandes fontes da economia gaúcha – a
pecuária. É na região da campanha que se destaca o tipo regional característico do Rio Grande
do Sul, o gaúcho.
Entre a campanha e o planalto norte, do Rio Grande do Sul, vamos encontrar nas
fronteiras, uma região considerada missioneira, onde habitaram os jesuítas espanhóis quando
vieram ocupar o território e catequizar os nativos (séc. XVIII). É nesse período que se dá
início a criação de gado no Rio Grande do Sul, trazido pelos jesuítas da Argentina por
encontrar solo com pastagem e clima adequados para a criação desses animais.
Na encosta (noroeste) no sentido da depressão central rio-grandense, vamos encontrar
as terras mais altas e frias do Estado. Esta região possui uma agricultura bastante
desenvolvida com destaque para a vinicultura, que abrange os municípios de Caxias do Sul,
Bento Gonçalves, Antonio Prado e outros.
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conceito no referencial cultural ítalo da serra gaucha
Na região dos vales, localiza-se a depressão central, banhada pelos rios Jacuí, Sinos,
Taquari, destacando-se a cultura do fumo em Santa Cruz do Sul. As flores são marca em
todos os pontos de colonização alemã, o que se pode observar nas residências, bem
características.
Os sistemas de rios, lagoas e lagos, as regiões de campos naturais e as regiões de
serras cobertas de matas, além da peculiar orla litorânea com as características físicas deste
território são fundamentalmente ligadas ao processo histórico de ocupação e desenvolvimento
do Rio Grande do Sul.1
Os principais elementos de relevo, hidrográficos, históricos, econômicos e políticos
das regiões gaúchas estão explicitados no Quadro 1.
LINHAS
1) Fronteira
Metade Sul
(campanha)
RELEVO
HIDROGRAFIA
- Campanha
- Ibicuí
ORIGENS
Pelotas, Rio
Grande, Bagé,
Uruguaiana,
Alegrete, Santa
Maria, Santana
do Livramento
- Pampeanos e
guaranis (Ganjás
e Patas) –
indígena
- Espanhóis
- Africanos
- Portugueses*
- Oceano Atlântico
Torres, Capão
da Canoa,
Tramandaí,
Osório
- Guaranis
(Carijós e Patos)
- Açorianos
(oriundos de
Porto Alegre)
- Rio das Antas
Caxias do Sul,
Garibaldi,
Bento
Gonçalves,
Antônio Prado
- Jês ou Tapuias
- 1874 chegadas
dos imigrantes
italianos
Rio Ijuí
Os Sete Povos
das Missões**
Rio Jacuí
Porto Alegre,
São Leopoldo,
Santa Cruz,
Novo
Hamburgo,
Cachoeira
- Serras do
Sudeste
- Camaquã
- Planície
Litorânea Sul
- Lagoas Mirim, dos
Patos e Mangueira
2) Litorânea
- Planície
Litorânea
Norte
3) Serrana
- Planalto riograndense
leste
4) Missioneira
- Planalto riograndense
oeste
5) Vales
CIDADES
- Depressão
central
- Guaranis
(Arachanes)
- 1886: chegada
dos poloneses
- Guaranis
(Tapes)
- 1752: 60 casais
de açorianos
chegaram em
Porto Alegre
- 1824-38:
chegaram os
alemães
ECONOMIA
OUTROS
DADOS
- Ovelha
-Charqueadas
(Uruguaiana)
- Produção de
- Vento Minuano
cebola (Rio Grande) (frio e seco)
- Pecuária
- Pampa gaúcho
- Arroz
- Pecuária
- Pêssego (Pelotas)
(estancieiro)
- Pescado ( Rio
- Cobre
Grande)
- Jazidas de
Carvão (Bagé)
- Produção do
pescado
- Paredões de
- Cana-de-açúcar
Torres
- Verduras
- Turismo
- Invernos
rigorosos com
- Parreiras e cultivo
geada e neve
da uva
- Floresta
- Metalurgia
araucária
(pinheiro)
- Soja
- Trigo
- Milho
- Terras mais
altas do planalto
- Fumo
- Couro/Calçados
- Arroz
- Pedras
preciosas e semipreciosas
* Tratado de Santo Ildefonso (1777); Tratado de Madri (1750); Tratado de Tordesilhas (1494).
** 1 – São Nicolau; 2 – São Miguel; 3 – São Luiz Gonzaga; 4 – São Borja; 5 – Santo Ângelo; 6 – São Lourenço;
7 – São João Batista.
Obs: Os índios eram classificados da seguinte maneira: 1. Guaranis (Tapes, Arachanes, Carijós e Patos), Jês ou
Tapuias (Guaianás, Coroados, Pinarés e Botocudos) e Pampeanos (Charruas, Minuanos, Guenoas, Jarós e
Guaicurus). Fonte: (MARQUES,2001)
QUADRO 1 - Principais Elementos de Relevo, Hidrográficos, Históricos, Econômicos e Políticos das Regiões
Gaúchas
Fonte: Pesquisa
1
“O processo histórico de ocupação do Estado, assim como as características físicas do seu território, influíram
decisivamente no rumo dos fatos históricos que desencadearam o processo de urbanização” (SOUZA, 2000, p.
13).
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Imigração Italiana no Sul do Brasil
Para o projeto do produto – a joia resultante da pesquisa para a Linha denominada
Serrana a peculiaridade observada foi a cultura da uva, os produtos derivados da fruta e o
contexto de produção que incide em uma força geradora de riquezas na região da serra
gaucha.
Para entendermos a conjuntura atual dessa economia, torna-se importante nos
remeter ao último quartel do século XIX, quando os imigrantes italianos integraram o
povoamento do território do Rio Grande do Sul.
A literatura nos mostra que aos referenciados imigrantes caberia ocupar a zona das
matas, que havia sido deixada de lado pelos portugueses, mais interessados na criação de
gado. Essa região está situada estrategicamente entre a região dos Campos de Cima da
Serra, onde habitavam os descendentes dos portugueses ocupados na pecuária, e a
Depressão Central, onde se localizavam os imigrantes alemães, e a zona da Campanha.
Os imigrantes saíram de sua terra natal - a Itália - em busca de dias melhores,
deixando para trás a pátria em dias difíceis, como ilustra o Jornal Zero Hora (14/05/05), "a
unificação aprofundara a ligação da Península no mercado mundial, depreciando o preço dos
cereais e golpeando a produção manufatureira rural. A população expulsa do campo
encontrava com dificuldade trabalho na indústria italiana atrasada".
É neste contexto que a população italiana desesperada, mas esperançosa, volta-se para
a América. Imbuídos de coragem e força para lutar, os italianos acreditavam na força do
trabalho como fonte geradora de riquezas, instalando-se no RS entre 1874 e 1914, como
pequenos proprietários. Desenvolveram a agricultura familiar de subsistência, enfrentaram a
mata nativa e as intempéries das dificuldades, que não eram poucas, quando praticamente
tudo estava por fazer.
Figura 1 – Cultura da Uva: Símbolo da Agricultura Familiar Italiana
Para os historiadores, a colonização como movimento civilizador, fora negociada pela
diplomacia italiana, desde o seu processo inicial de imigração e pelas classes rurais italianas,
após 1880. Era um período que se considerava o sul da América como região de terras virgens
e férteis, onde havia a possibilidade dos imigrantes desbravarem, produzirem e
desenvolverem.
Desse modo, milhares de colonos atravessaram o Atlântico para ocupar os pequenos
lotes no sul do Brasil. Assim, incentivavam-se os núcleos familiares policultores que
suprissem a carência de alimentos em uma sociedade monoprodutora. Ao lado do poder
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público, a Igreja exerceu muita influência junto a esses imigrantes, pois via no colono a
materialização do cristão verdadeiro, como enfoca a seguinte citação:
A proposta de civilização itálica do Novo Mundo selvagem foi associada à narrativa
da expansão dos católicos nas Américas. Nos anos de 1870, clérigos dilacerados
pelo avanço do socialismo e pela unificação laica da Itália, viam na América terra
para refundação do cristianismo em decadência na península. (JORNAL ZERO
HORA, 14/05/05).
A sociedade que se organizava no novo mundo provido de religião e certeza no
trabalho, modificou sobremaneira, o cenário econômico, agrícola e industrial do RS. Muito se
deve a força do trabalho e disposição de vencer desses colonizadores no processo de
transformação profunda e rica de valores culturais e sociais que se manifesta nos fazeres e
saberes regionais, valores, crenças, hábitos e costumes.
Figura 2 – Detalhes de uma Residência dos Imigrantes Italianos
Fonte: Pesquisa
Desse modo, conquistaram a estabilidade econômica e promissora em importantes
regiões do RS, como a Serra Gaúcha com seu importante Pólo Industrial, onde se observa
também, o seu potencial turístico.
O Gaúcho
Denomina-se gaúcho todo aquele brasileiro que nasce dentro do território riograndense. Mas a terminologia nos remete às peculiaridades de seus hábitos, costumes,
história, tradição, diferenciando-o dos demais brasileiros.
Zattera (1997) define a cultura genuína de um povo como sendo as expressões
alicerçadas em tradições, em conhecimentos obtidos pela convivência em grupo, somadas
com os elementos históricos e sociológicos. Seus legados e sua tradição são modificados para
as gerações e estão sujeitos a mudanças próprias a cada época e circunstancias. Essas
características lhe conferem autenticidade e marcam a formação da sua história.
No Rio Grande do Sul o povo cultiva as tradições que se originaram nas missões
fundadas pelos padres jesuítas espanhois, que vieram para esta terra com a finalidade de
organizar os índios, ensinando-lhes a religião católica, a agricultura e a pecuária. Obrigados a
abandonar as missões pelos constantes ataques dos portugueses para aprisionar os índios e
vendê-los como escravos, os padres foram embora. O gado só e livre, desenvolveu-se aos
milhares, o que atraiu a cobiça dos portugueses e espanhóis, causando o desfecho de novas
lutas/guerra até a determinação das fronteiras, o que, de certa forma, justifica a herança
caudilha e guerreira dos gaúchos, que se empenharam ao longo da história em defender as
terras do extremo sul do Brasil e cuidar da pecuária (base da economia gaúcha).
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Adaptando-se ao clima, as necessidades de moradia e vestes (botas, chiripá, poncho,
entre outras), cultiva seus hábitos e costumes, onde demonstra sua cultura nas festas
tradicionais. Seu prato predileto é o churrasco, sua bebida preferida é o chimarrão/mate, com
cuia e bomba que o acompanham. Trata-se de um tipo regional muito popular, e em geral
hospitaleiro.
Outro aspecto importante no Rio Grande do Sul é sua cultura, resultante do processo
de colonização do território, o que lhe dá certa individualidade regional dentro de suas
fronteiras, o que se pode observar mais precisamente na indumentária e na culinária, de
acordo com a localização regional. Na fronteira com o Uruguai e Argentina há certa
“legitimidade castelhana” com a incorporação de hábitos e trajes de origem espanhola, na
região serrana recebe a influência italiana, nos vales a alemã, e a influência jesuítica na região
das missões.
No cenário nacional o Rio Grande do Sul está presente uma economia agrícola,
pecuária e industrial significativa para colocá-lo entre os estados brasileiros mais
desenvolvidos.
Zattera (1997) destaca que a cultura do povo gaúcho pode ser observada nos CTGs
(Centros de Tradições Gaúchas), no folclore, nas festas, nos eventos musicais e nas diversas
formas de função social que mantém as heranças culturais através do tempo.
O gaúcho de hoje é o gaúcho de todas as querências, do campo, da serra, do mar, da
cidade. É o branco, é o negro, é o mestiço, é o indígena que nasceu no Rio Grande do Sul. É o
brasileiro rio-grandense do sul, que conhece seu estado e respeita a sua terra. Cultiva a sua
história através dos costumes e tradições, tomando seu chimarrão/mate, usando as suas
pilchas e cultuando as suas raízes.
Breve História da Joalheria na Europa e no Brasil
Mais de sete mil anos levam ao ancestral do homem moderno que resolveu utilizar
artefatos rústicos como conchas e sementes para embelezamento pessoal. Chega-se a afirmar
que a peça de adorno veio mesmo antes da roupa, e que os trajes derivaram desses
ornamentos. Hoje, as jóias e metais preciosos, não diferente das propostas de antigamente,
destacam nossos sentimentos e caracterizam a atração por materiais raros e belos.
À medida que evoluía, aprimorava as ferramentas de pedra, utilizava também enfeites
como dentes de lobos e ursos, com os quais formava colares. De acordo com Kertesz (1947, p
22) ”alguns destes dentes eram coloridos e, em outros, gravava toscos desenhos geométricos.
Podem ser observadas certas diferenças nos desenhos, mas a composição se restringe às
formas mais simples”. Esses adornos possuíam valor simbólico como troféu de caça e
testemunho de sua bravura, proporcionando-lhe ao mesmo tempo um destacado lugar na
ordem social das cavernas.
Essa forma de agir nos induz a pensar que o homem desde os tempos imemoriais
percebeu a beleza nas coisas que o cercavam, espírito e matéria se uniam numa relação
mítico-mágica onde o resultado ficava plasmado nos objetos que fabricava.
Assim, é no espírito que o homem coloca seu estado de felicidade, conquista, prazer e
os produtos existem para satisfazê-lo. E, por meio da beleza, o homem experimenta as
realizações do espírito, pela emoção prazerosa que esta lhe causa. A estética, pelas
teorias cristalizadas pode se definir também como o lugar em que os homens se
encontram, superam-se, progridem e convivem, de modo que lhes possibilitem
encontrar a felicidade (BISOGNIN, LISBOA, 2006, p.88).
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Arte da Joalheria no Renascimento
Segundo Julieta Pedrosa (2010), no Renascimento as peças históricas decoradas com
esmaltes e pedras preciosas revelam um nível artístico equiparado aos da pintura e escultura.
A autora ressalta que foram criadas peças históricas decoradas com esmaltes e pedras
preciosas, cujo nível artístico é comparado aos da pintura e da escultura do mesmo período.
Artistas eram contratados por mecenas para desenhar peças que estimulassem os
ourives renascentistas a chegar a níveis nunca antes alcançados nas técnicas de
esmaltação, gravação e cravação. No Barroco a mudança de estilo fica evidente. As
jóias tornam-se um símbolo de status social devido à grande quantidade de gemas na
mesma peça em detrimento do design, que perde sua expressão artística.
(PEDROSA, 2010).
Nesse período de grandes transformações que foi o Renascimento, viveu na Itália
Cellini, ourives e escultor. Julitea Pedrosa (2010) esclarece que, aos 14 anos, Cellini começa
a estudar no atelier do pintor Filippino Lippi, onde aprendeu a principal regra da Escola
Florentina renascentista: o desenho tinha que ser a base de toda obra de arte, devia servir para
planejar o trabalho em todos os mínimos detalhes antes da execução da obra, desde os
elementos decorativos até às soluções técnicas.
Aos 19 anos, Cellini muda-se para Roma. São anos de grande produtividade:
medalhões em ouro talhado com cenas da mitologia grega, um botão para o manto
do Papa Clemente VII e belíssimas moedas e jóias para a corte papal e vários nobres
romanos. Passa um curto período em Florença, devido a desentendimentos com o
Papa, mas retorna a Roma, onde continua atender a uma rica clientela e acumular
uma considerável fortuna pessoal, que administrava meticulosamente. (PEDROSA,
2010).
Julieta Pedrosa ensina que, apesar de ter produzido muito como ourives durante toda a
sua vida, um dos poucos trabalhos de Cellini que chegaram até os nossos dias foi o famoso
"Saleiro", feito para Francisco I, atualmente no Kunsthistorische Museum, em Viena, o qual
Cellini descreve assim em sua autobiografia:
É oval na forma e tem por volta de duas terças partes do comprimento de um braço.
Toda a peça foi trabalhada com um cinzel (..) Eu retratei Netuno e a Terra sentados
em lugares opostos e com as pernas entreunidas. As ondas da água foram lindamente
esmaltadas na sua cor natural. A Terra está representada pela figura de uma linda
mulher que segura a cornucópia em sua mão. Ela está completamente nua, assim
como Netuno. Eu fixei a peça em uma base de ébano, a qual decorei com quatro
figuras douradas em alto relevo. Estas quatro figuras representam a Noite, o Dia, o
Anoitecer e o Amanhecer (CELLINI apud PEDROSA, 2010).
A Joalheria no Barroco
Segundo Julieta Pedrosa (2010) , as jóias do período Rococó eram assimétricas e leves,
se comparadas com as do período anterior. Surgem, assim, pela primeira vez, jóias para serem
utilizadas durante o dia, mais leves, e jóias para serem usadas à noite, desenhadas
especialmente para resplandecerem iluminadas pela luz dos candelabros.
O Barroco traz para a joalheria, no século XVIII, o gosto pela opulência na
utilização do ouro e dos diamantes e de gemas como os rubis, as esmeraldas e as
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safiras. A religiosidade que marcou os períodos anteriores esvazia-se lentamente.
[...]Surge, então, a "jóia-espetáculo": as jóias passam a ser utilizadas como
ostentação pública de riqueza, poder ou credo religioso (PEDROSA, 2010).
Em Veneza, no início do século, a lapidação de diamantes se sofistica com a invenção
da lapidação em brilhante. Até então, a lapidação em rosa era a mais apreciada, onde o
diamante era talhado somente na superfície visível superior da gema. Com a lapidação em
brilhante e suas facetas dispostas de modo geométrico, a gema passa a ter maximizado brilho,
cor e fogo, refletidos pela luz. O aparecimento da lapidação em brilhante não se deve somente
ao avanço das técnicas de lapidação, mas principalmente ao novo conceito teatral que a jóia
passa a ostentar.
Julieta Pedrosa esclarece que, apesar do diamante ser a gema preferida por excelência
nesta época, rubis, esmeraldas, pérolas e safiras também foi grandemente apreciado na
joalheria do século XVIII. Outras gemas, de menor valor comercial, mas de grande efeito
decorativo, ornamentaram também as jóias de design naturalista inspirado nos jardins tão
apreciados deste século barroco: citrinos, topázios, ametistas e cristais-de-rocha. Estes últimos
eram muitas vezes lapidados em brilhante e forrados por folhas de prata na montagem da jóia,
para se assemelharem aos diamantes.
Joalheria em Portugal
O sentimento religioso que permeou as concepções artística e decorativa - traduzidas
na grande utilização de esmaltes e gemas coloridas - das jóias portuguesas dos séculos
anteriores deu lugar a jóias mais uniformes na sua decoração e design, realçando o brilho e a
cor de uma única gema.
Julieta Pedrosa (2010) explica que era tão grande a tendência pela utilização de
diamantes em uma única jóia que era considerado mais hábil o ourives que conseguisse tornar
praticamente invisíveis os suportes para as gemas. A prata tornou-se o metal preferido para
estas montagens, já que quando bem polida confundia-se com o brilho dos diamantes.
Além dos diamantes, as esmeraldas, os rubis, as pérolas e as safiras foram
largamente utilizadas na joalheria portuguesa setecentista. Mas também uma grande
quantidade de jóias foi feita com gemas de baixo valor aquisitivo, porém de grande
presença decorativa. Topázios, citrinos e cristais-de-rocha - estes últimos, lapidados
em brilhante e forrados com folhas de prata (técnica que em Portugal ficou
conhecida como "mina-nova") como substitutos dos diamantes, foram também
muito utilizados em jóias. Todas estas gemas eram encontradas facilmente no Brasil,
colônia portuguesa à época (PEDROSA, 2010).
O naturalismo foi a fonte a que recorreram ourives e joalheiros do século XVIII, tanto
em Portugal quanto em praticamente toda a Europa. Jóias em forma de ramos de flores,
estilizados ou retratados fielmente dos originais, eram as mais produzidas: a grande atenção
dada aos jardins barrocos se refletia nas jóias, transformando-as em pequenos e preciosos
jardins.
As jóias usadas na corte portuguesa do século XVIII atingiram um elevado grau de
esplendor. Nas jóias femininas, destacavam-se colares, brincos, alfinetes, anéis,
braceletes e variados adornos para os cabelos, porém a tiara só foi aparecer em fins
do século. As jóias masculinas revelavam um mundo dominado pela elegância que
foi, possivelmente, o último período de esplendor da joalheria masculina ocidental:
alfinetes de chapéus, relógios com correntes, fivelas para mantos e sapatos, botões e
insígnias (PEDROSA, 2010)
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Ainda na segunda metade do século XVIII, surgiu o laço que, como o nome indica, é
uma jóia desenhada em forma de laço de fita na qual se acrescenta um pendente. Produzido
em ouro ou prata e guarnecido com diamantes, o laço podia ser alfinete para roupas ou
chapéus, brincos ou pendente no centro de um colar.
A Joalheria na França
Segundo Julieta Pedrosa, a imperatriz Josefina, que tinha uma grande paixão por jóias,
possuía uma grande quantidade de gemas como diamantes, rubis, opalas e esmeraldas..
Após o segundo casamento do imperador, celebrado em 1810, novas parures de
Estado (pertencentes às jóias da Coroa) foram criadas para a nova imperatriz. O
mesmo ourives de Josefina, Monsieur Nitot, confecciona uma magnífica parure de
diamantes, compreendendo uma tiara para o alto da cabeça (haut-de-tête), um
diadema, um colar, dois brincos em girândola, uma escova para cabelos, dois
braceletes, um cinto e dez ornamentos para vestido. No diadema resplandeciam os
diamantes Mazarino 7 e 8, e no cinto os diamantes Mazarino 17 e 18. No mesmo
ano, Monsieur Nitot confecciona uma parure de pérolas, uma de rubis e diamantes, e
uma outra de turquesas e diamantes. Em 1811 foram anexadas às jóias de MariaLuísa uma parure de safiras e diamantes e uma de ametistas e diamantes
(PEDROSA, 2010)
Segundo a referenciada autora, da coleção encontrada por ocasião da morte da
imperatriz, em 1814, e apesar do seu divórcio de Napoleão (1809), belíssimas jóias foram
encontradas guardadas em seu quarto do castelo Malmaison, das quais quase nada chegou aos
nossos dias.
A Joalheria no Brasil
A História da Joalheria Brasileira é um retrato fiel do que acontecia na Europa. As
jóias renascentistas criadas incluíam peças históricas decoradas com esmaltes e pedras
preciosas, cujo nível artístico é comparado aos da pintura e da escultura do mesmo período:
artistas como Hans Holbein, Albrecht Dürer e Benvenuto Cellini eram contratados por
mecenas para desenhar peças que estimulassem os ourives renascentistas a chegar a níveis
nunca antes alcançados nas técnicas de esmaltação, gravação e cravação.
O Brasil ainda estava no início da sua história e as jóias aqui usadas por homens e
mulheres eram muito raras, mas as poucas que existiam já evidenciavam a moda
vinda de Portugal e de outros países europeus. Não havia, ainda, uma tradição de
ourivesaria no país: as raras peças vinham de fora. As jóias femininas, com o
abandono dos complicados penteados medievais e dos novos ares renascentistas,
tornaram-se mais leves: fivelas para sapatos, anéis e brincos - curtos no início do
século XVI, e depois mais longos - eram os preferidos. Os cabelos eram presos e
trançados com pérolas ou pequenos adornos em ouro ou pedras preciosas e usava-se
a ferronière, broche adornando a testa e preso à cabeça por uma fita. (PEDROSA,
2010).
Julieta Pedrosa esclarece que os colares passaram a ser curtos, confeccionados em
pérolas e com um broche a guisa de pendente, mas também eram usadas longas correntes
feitas em ouro que podiam ser presas ao corpo dos vestidos, nas mulheres, e ao pescoço ou
cruzadas nos ombros, para os homens. Estes usavam também anéis, fivelas decoradas em ouro
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para sapatos, broches nos chapéus e somente um brinco, moda criada pelo rei francês
Francisco I, que se estendeu por toda a Europa e também pelas Américas.
Com relação aos motivos decorativos, Julieta Pedrosa esclarece que os principais eram
a natureza, notadamente flores e pássaros do Novo Mundo, e os laços, feitos de fitas de tecido
ou de ouro, aos quais eram anexados pendentes e eram usados para adornar tanto vestidos
femininos quanto vestes masculinas. As fivelas para sapatos continuavam em moda, assim
como brincos e anéis, para homens e mulheres, pela descoberta de minas de ouro e gemas
como os diamantes, os topázios e as esmeraldas. No Brasil tenderam a ser mais pesadas e
adornadas com gemas em profusão, devido à abundância e a proximidade das minas de ouro e
pedras preciosas, evidenciando a preferência pela continuação do estilo Barroco.
Ainda em Pedrosa (2010) encontra-se que apenas para os pertencentes ao extrato mais
alto da então sociedade colonial brasileira surgem, pela primeira vez, jóias para serem
utilizadas durante o dia, mais leves, e jóias para serem usadas à noite, desenhadas
especialmente para resplandecerem iluminadas pela luz dos candelabros. E que se encontrava
também o vestuário tanto masculino quanto o feminino adornadas com correntes e fios de
ouro e até botões decorados com gemas.
A Joalheria Atual
Os valores do ofício do joalheiro, assim como outros valores da nossa cultura, nos
últimos tempos foram revistos, não somente com referência às técnicas, mas as necessidades
expressivas que integram o projeto de uma jóia.
A impressão visual, o simbolismo são características inerentes da joalheria
contemporânea2 e requerem uma técnica que se adapte às necessidades atuais, cujo valor
artístico predomina sobre o técnico, num tempo em que não existe a uniformidade de estilo e
sim uma grande variedade de materiais e conceitos. Além do progresso tecnológico que
proporciona maior liberdade ao designer, se constitui numa base para critérios, formas ou
normas estéticas, seguido do conhecimento da técnica e dos materiais, nas quais os elementos
se misturam e vão se alterando, dando lugar à expressão e a simbologia.
MATERIAIS
Metais
Os metais acompanham o homem no progresso das civilizações, e isso possibilita o
estudo a partir dos metais por elas utilizados.
Ao ouro, do latim aurum, que significa brilhante, algumas civilizações lhe atribuíam o
valor do sol com propriedades mágicas. Sabe-se pela história que os egípcios sepultavam seus
mortos recobertos com suas jóias. Na idade média, os alquimistas e filósofos conferiram-lhe
valores curativos que se descartaram com o passar dos anos.
Esse metal precioso3 sempre deslumbrou o homem e, por sua causa, se desencadearam
guerras e levantaram-se cidades, sendo seu poder ainda vigente.
2
“A joalheria atual existe graças ao esforço de todo um coletivo humano que confere a esta forma de
manifestação artística a necessária expressão e o suficiente conteúdo, sendo capaz de sentir e de se identificar
com todo o contexto social que emana de suas criações“ (CODINA, 2000, p. 7).
3
O valor do ouro enquanto sinal de ostentação e poder foi desde sempre ansiado pela maioria dos povos e das
culturas (IBIDEM).
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Produto joalheiro com design voltado para a cultura regional –
conceito no referencial cultural ítalo da serra gaucha
O ouro amarelo de 18 quilates costuma ser ligado com uma mescla composta por uma
metade de cobre e outra de prata. De acordo com a proporção utilizada, obter-se-á uma cor e
uma dureza diferentes.
Tal como acontece nas diferentes ligas de ouro amarelo (ouro verde, palha e vermelho)
o ouro branco é obtido variando 250 milésimos de liga com diferentes proporções de paládio,
prata e níquel. O ouro branco possui um tom amarelo muito pálido e por isso, dá-se a ele
habitualmente um banho electrolítico de rádio depois de ter sido polido. As ligas mais
aconselháveis pelos ourives para trabalhar são as realizadas com paládio e prata.
Quando se funde metal, é preciso usar produtos para limpá-los e protegê-los da
oxidação. O produto mais conhecido é o tórax, que, aplicado no momento de fundir, elimina
oxidação superficial e eleva ligeiramente o ponto de fusão da liga.
No manejo dos metais, todos os cuidados em relação à qualidade, segurança, materiais
e ferramentas devem ser observados.
As Gemas
Do mesmo modo que os metais, as gemas fascinam o homem ao longo dos tempos nas
diferentes culturas e civilizações. Por séculos, as pedras preciosas foram consideradas
representações de riqueza e poder, o que pode ser constatado nos símbolos da supremacia que
figuraram nas coroas até os trajes antigos, que eram ricamente decorados e adornados com
jóias e pedras preciosas.
Hoje, as pedras são vistas também como investimento de capital. A ametista, cristal de
rocha, âmbar, a gramada, jade, coral, lápis-lazúli, pérola, serpentina, esmeralda, rubi, turquesa
e outras exibem símbolos de posição social.
Encontram-se também, as Gemas Sintéticas confeccionadas em laboratórios que
possuem atributos físicos muito semelhantes às gemas naturais e são lapidadas para
imitar as verdadeiras. A atração do homem pelas gemas é tanta que era inevitável o
desejo de produzi-las artificialmente, imitando a natureza. As primeiras gemas
sintéticas começaram a surgir no século passado, e daí em diante as técnicas foram se
aperfeiçoando. A gema sintética possui as mesmas características da sua
correspondente natural.
Processo
Segundo Codina (2000, p. 26), uma vez conhecidos os princípios elementares da
metalurgia e da fundição, é necessário tratar de uma série de processos que permitam avançar
na técnica, ou seja, nos processos que constituem o trabalho com metais, como laminar e
treinar o fio, calar pranchas, forjar uma pequena pala ou soldar elemento da construção. São
processos essenciais, os quais o design precisa conhecer, não somente para construir o
produto final, mas para saber das possibilidades que as técnicas oferecem para exercer sua
criatividade.
Design
No mercado joalheiro atual, o designer pode ser uma estratégia de diferenciação e
valorização do produto, constituindo-se num fator de distinção para ganhar os consumidores
no mercado. Em jóias, o design interfere na escolha dos usuários, cuja motivação concentra-se
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conceito no referencial cultural ítalo da serra gaucha
muito nas questões simbólicas, além da qualidade dos materiais, na ergonomia e na
funcionalidade.
As jóias são bens que entram no universo dos sistemas simbólicos culturalmente
formados e, desse modo, se destaca a prevalência do simbólico sobre a necessidade/razão,
sendo a jóia um símbolo de poder e status social4, sem esquecermos que o simbolismo é
movido pelos fatores culturais que influenciam o comportamento de compra que são os
responsáveis pelo significado dos objetos.
Nos dias de hoje, cultura e consumo formam uma relação íntima, onde os objetos
deixam de ter significado para além daqueles atribuídos pelos indivíduos e a utilidade do
produto é definida culturalmente5.
Na atualidade para entendermos como se realiza o consumo, é preciso focar na
economia capitalista e nas relações de consumo que nela vigoram. As pessoas fazem do
comprar e usar objetos um sistema simbólico através do qual a cultura tem a oportunidade de
manifestar seus princípios, categorias, ideais, valores, identidades e projetos, realizando,
assim, a tomada de decisão do consumidor e a comunicação da sociedade, o que se pode
chamar de estrutura de consumo6.
Em design é comum sermos confrontados com múltiplos conceitos atribuídos ao seu
termo. Mas é importante lembrar que o design trata-se de um processo de soluções de
problemas voltados para o homem e seu meio, contempla as questões estéticas, ergonômicas,
funcionais, ecológicas, tecnológicas, simbólicas, entre outras.
O design na joalheria volta-se para o homem que utilizou os adornos para mostrar seu
poder, invocar proteção ou simplesmente se enfeitar, mostrando-se mais belo para o outro.
Neste processo, a jóia vale pelo apelo visual que causa, e por meio do seu consumo promove
mudanças significativas na sociedade7, o que se pode observar nas feiras nacionais e
internacionais de joalheria, em especial a brasileira8 a oportunidade para as jóias com matéria
prima nacional como as gemas que pelas cores exercem fascínio aos consumidores.
Projeto
Conceito: Cultura da uva - lavoro - perseverança – gemas gauchas (Ametista e
Cristal)
Linha Serrana
Compõem-se de três peças sendo dois pendentes e um brinco
4
“No campo social, as relações de prestígio passam a ser edificadas a partir dos objetos com valores simbólicos,
correspondentes a uma legenda legitimadora de prestígio social” (FAGGIANI, 2006, p. 18).
5
“A utilidade é um significado devido a sua determinação cultural” (ibidem, p. 22).
6
”Assim, a cultura por sua vez (....) é a expressão, através de idéias e atividades, do caráter de uma sociedade,
indicando aquilo que é considerado desejável” (Ibidem, p. 23).
7
O IBGM – Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos – anuncia o crescimento de 5% nas vendas de
jóias, no mercado durante o ano de 2005, quando encerrou o ano com um movimento de R$ 4,4 bilhões. (Revista
BR e J, 2006, p. 54).
8
Para se entender a importância do design, hoje, na joalheria brasileira, basta analisarmos o espaço que ele
ocupa atualmente na Tecnogold – a Feira Internacional de Máquinas e Tecnologia para o segmento em jóias,
gemas, bijouterias e materiais preciosos (...) que costuma ser visitado por empresários do Brasil e exterior
(SALEM, 2000, p. 186).
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conceito no referencial cultural ítalo da serra gaucha
Figura 3 - Desenho de ilustração e Desenho técnico do brinco da Linha Serrana
Fonte: Pórt folio Maria da Graça Portela Lisbôa
Figura 4 – Brinco Linha Serrana
Fonte: Coleção Edir Lucia Bisognin
A figura referenciada é uma das peças que compõe a Linha Serrana e foi produzida
artesanalmente.
Conclusão
A linha Serrana se inclui na categoria de produtos com referencial cultural para ser
inserido em um mercado nacional e internacional.
O mercado globalizado tem oportunidade para a especificidade local, para demonstrar
quem é e compartilhar valores não somente comercial, mas também os culturais. Os produtos
- as joias da Linha Serrana- buscam se apresentar no mercado internacional9, levando a
cultura regional do Rio Grande do Sul, e mostrando peculiaridades referentes à colonização
italiana da região da serra gaucha.
O projeto é perfeitamente possível de produção tanto industrial como artesanal o que
se constata no brinco da referenciada linha (Figura 9) que foi produzido artesanalmente no
laboratório de jóias do Centro Universitário Franciscano pela designer Maria da Graça Portela
Lisboa, autora do projeto e experimento.
9
Mesmo sem concluir se o momento que se vive é plenamente pós-moderno ou ainda moderno, sente-se que ele
é de essencial importância, e que dirige a reflexão sobre si, principalmente pela tendência globalizadora da
cultura. Se por um lado se constata este aspecto horizontal da rede de relações que se impõe, por outro, tem-se de
reconhecer o aspecto vertical, ou, seja, o da especificidade localista (HILL, 2006, p.100).
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