Zoom comunicar com interesse. faça zoom! especia l Dia Farmacêdo utico Este suplemento comercial faz parte integrante do Jornal de Notícias de 26 de setembro de 2014 e não pode ser vendido separadamente. Entrevista António da Rocha e Costa Presidente da Seção Regional Norte da Ordem dos Farmacêuticos Novo Edifício Um espaço de encontro e de apoio a todos os cidadãos Opinião Miguel Guimarães DIA dO FarmACÊUTICO Presidente do Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos O farmacêutico desempenha papel fulcral na sociedade no que concerne à procura da cura e à melhoria da qualidade de vida da população ENTREVISTA * OPINIÃO * PRÉMIOS * NOVO EDIFÍCIO Dia do Farmacêutico 2014 2 Dia do Farmacêutico | ?????? Programa das Comemorações 20 e 26 de Setembro PORTO Perto de Si Promovendo a Saúde 20 set-3 out Exposição “Farmacêuticos com Expressão Artística” Secção Regional do Porto da Ordem dos Farmacêuticos 24 set 9.00 h Acção para os Estudantes “A importância do associativismo para o contexto profissional e político da actividade farmacêutica” Salão Nobre da Ordem dos Farmacêuticos, Lisboa 24 set 17.00 h Conferência Comemorativa do 2.º Aniversário do Centro de Documentação Farmacêutica da Ordem dos Farmacêuticos Centro de Documentação Farmacêutica da Ordem dos Farmacêuticos, Coimbra 25 set 15.00 h Visita do Bastonário da Ordem dos Farmacêuticos à Exposição “Ser São João - 55 anos” Hospital de São João, Porto 26 set 9.00 h Simposium “O Farmacêutico no Sistema de Saúde” Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto 26 set 15.00 h Visita do Bastonário da Ordem dos Farmacêuticos à Farmácia de Campanhã Rua da Estação n.º 100, Campanhã, Porto 26 set 17.00 h Sessão Solene Pousada do Porto, Palácio do Freixo 26 set 20.00 h Jantar de Encerramento Pousada do Porto, Palácio do Freixo Dia do Farmacêutico 3 editorial Hoje, dia 26 de setembro é, no calendário litúrgico, o Dia de São Cosme e São Damião que, segundo a tradição, e de uma forma altruísta, dedicaram as suas vidas a tratar e a curar pessoas. A dedicação aos doentes assumida por estes irmãos constitui um exemplo para quem faz “da arte de curar” objetivo de vida, e é merecedora de reconhecimento. Mas hoje também, tendo como padroeiros São Cosme e São Damião, se comemora o dia de todos os farmacêuticos, o Dia do Farmacêutico. Desde tempos imemoriais, a arte de curar tem sido considerada como a maior de todas as artes, um dom pertencente apenas a alguns eleitos, que passavam entre si esses conhecimentos. A arte de curar evoluiu ao longo dos tempos, de um carácter mágico e por vezes empírico para uma nova “arte” de base eminentemente científica. Esta evolução acarretou naturalmente a separação entre práticas de cuidados de saúde, ainda que intimamente correlacionadas, e de profissionais distintos que seguiram o seu caminho de forma individual. Os saberes e os conhecimentos científicos constituem hoje as bases essenciais da saúde e norteiam as competências de cada uma das distintas profissões envolvidas. A relação muito próxima entre o farmacêutico e a sociedade é já antiga e perdura ao longo dos séculos. Na realidade, faz parte da essência do farmacêutico o cumprimento deste “pacto social” no sentido de desempenhar uma função ativa como prestador de serviços de qualidade visan- do a prevenção da doença, mas também o bem-estar do doente e contribuir para a sua qualidade de vida. O farmacêutico destaca-se não só pelas suas competências académicas e científicas, mas também pelo facto de ser um profissional de saúde cuja proximidade com o doente é amplamente reconhecida. A sua integração nos distintos patamares da rede de cuidados de saúde e em equipas multidisciplinares é uma mais-valia significativa em termos de saúde pública e em termos económicos. Aliás, a importância da multidisciplinaridade, da partilha de saberes e da cooperação entre os distintos profissionais de Saúde transformou-se numa exigência e em sinónimo de boas práticas, em especial desde as últimas décadas do século passado. O doente passou definitivamente a ser o centro fulcral da saúde e não os profissionais que nela estão envolvidos. Uma vez mais, o exemplo da prática conjunta de Cosme e Damião, “médico” e “farmacêutico”, é paradigmático da cooperação em saúde. Com esta publicação, a Secção Regional do Porto, da Ordem dos Farmacêuticos, mais não quer do que prestar a sua homenagem e reconhecimento a todos os farmacêuticos, que, com empenho, competência e abnegação cumpriram e cumprem a sua função nos distintos locais e âmbitos do exercício profissional. Professor Franklim Marques Presidente da Mesa da Assembleia Regional Sumário 04 ntrevista E António da Rocha e Costa 06 História da Farmácia 07 rémios P Homenageados 08 I nfraestrutura Novo edifício 10 pinião O Pedro Barata 11 Opinião Carlos Raposo Simón 12 pinião O Bruno Sepodes 13 pinião O Fernando Fernandez-Limós 14 pinião O Maria Goreti Ferreira Sales 15 pinião O Henrique Reguengo 16 pinião O Miguel Guimarães 17 pinião O Aida Batista 18 pinião O José Manuel Sousa Lobo FICHA TÉCNICA Publicação da Unidade de Soluções Comerciais Multimédia da Controlinveste Media | Coordenação e Edição LARA LOUREIRO| Textos HÉLDER PEREIRA | Fotos D.R.| Publicidade PAULO PEREIRA DA SILVA (diretor comercial imprensa), ANTÓNIO MAGALHÃES e JOSÉ PACHECO (gestores de conta)| Design e Coordenação de Arte sofia sousa| Paginação PEDRO ARAÚJO (DQSP Norte) 4 Dia do Farmacêutico | Entrevista um dia de reflExão Entrevista a António da Rocha e Costa, presidente da Secção Regional do Porto da Ordem dos Farmacêuticos Fale-nos um pouco deste Dia do Farmacêutico. O Dia do farmacêutico celebra-se este ano no Norte, num contexto particularmente difícil para a classe e para o País, pelo que, mais do que um acontecimento festivo, será sobretudo um dia de reflexão. Do programa, destacamos o Simpósio subordinado ao tema “O Farmacêutico no Sistema de Saúde”, que terá lugar no auditório da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto e a Sessão Solene que se realiza na Pousada do Freixo no Porto. Para além dos convidados, estarão presentes farmacêuticos de diferentes gerações e dos mais diversos setores da atividade profissional, naquele que constitui, sem dúvida, o dia mais importante para toda a classe. O evento mais expressivo (Sessão Solene) realiza-se hoje. Quais as atividades que irão decorrer nesta sessão? A Sessão Solene constituiu desde sempre o momento mais simbólico das comemorações do Dia do Farmacêutico, sendo também o culminar de um conjunto de atividades que preenchem a agenda festiva. A Sessão Solene, que terá a presença do Senhor Secretário de Estado da Saúde, inicia-se com uma conferência a cargo do ilustre convidado Dr. António Lobo Xavier e continuará com a entrega da Medalha de Honra da Ordem dos Farmacêuticos e do Prémio “Sociedade Farmacêutica Lusitana”, respetivamente aos farmacêuticos que se distinguiram na profissão e aos melhores alunos do último ano letivo. Serão ainda homenageados os farma- Entrevista | Dia do Farmacêutico 5 O farmacêutico é hoje reconhecido pela Sociedade Civil como um parceiro privilegiado, em quem os portugueses podem confiar e com quem podem contar 24 horas por dia, 365 dias por ano cêuticos que completam 50 anos de profissão. Qual o papel da Ordem dos Farmacêuticos na sociedade civil, ao longo destes 179 anos de existência? A Ordem dos Farmacêuticos, que no passado não tinha esta designação, completa efetivamente 179 anos de existência. Ao longo destes quase dois séculos de atividade, a Ordem, enquanto associação pública que é, assumiu, através dos seus associados, um papel mais ou menos interventivo na sociedade civil, sobretudo no que diz respeito aos assuntos relacionados com a saúde. Isso faz com que o farmacêutico seja hoje reconhecido pela Sociedade Civil como um parceiro privilegiado, em quem os portugueses podem confiar e com quem podem contar 24 horas por dia, 365 dias por ano. É claro que, como se diz na gíria popular, as coisas não caem do céu e o grau de reconhecimento alcançado resulta de muitos anos de investimento no aperfeiçoamento contínuo do conhecimento e das competências que permitem, no presente, ao farmacêutico afirmar-se como um dos intervenientes mais qualificados do sistema de saúde. Infelizmente, as entidades públicas nem sempre têm reconhecido esta evidência, o que tem tornado o nosso percurso como classe profissional numa luta constante pela afirmação e pelo reconhecimento por parte dos poderes instituídos, sendo que daí resultarão maiores e melhores benefícios para a população. Que balanço faz destes dois anos de mandato à frente da Secção Regional do Porto da Ordem dos Farmacêuticos? À Direção da Secção Regional do Porto da Ordem dos Farmacêuticos compete, em articulação com a Direcção Nacional e restantes Direções Regionais, cumprir as de- terminações estatutárias e definir a política da Ordem. No entanto, existem especificidades regionais que fazem com que a Direcção da Secção Regional tenha um plano de atividades próprio. Nos quase dois anos de mandato que levamos à frente da Secção Regional do Porto, conseguimos concreti- ações de formação e as Jornadas Atlânticas, em colaboração com os nossos colegas farmacêuticos da Galiza. As “Noites na Ordem”, assim se designam os encontros de reflexão abertos ao exterior, têm sido um êxito, graças à qualidade dos conferencistas e ao interesse dos participantes. O projetado edifício, que irá completar as atuais instalações da Secção Regional, tem sido uma das nossas prioridades, estando para muito breve o início das obras. O novo espaço vai permitir, no futuro, desenvolver em colaboração com os outros parceiros, designadamente as faculdades e empresas, um conjunto de atividades que tenderão a valorizar o papel do farmacêutico, e ajudá-lo a colocar as suas competências e os seus conhecimentos ao serviço da Sociedade Civil. Em colaboração com a Direção Nacional, temos prestado particular atenção à questão da empregabilidade, numa altura em que já grassa o desemprego na classe e pugnado, junto das entidades competentes, pela defesa dos padrões de qualidade exigidos para a prestação de um exercício profissional digno e eficaz, nos vários setores da atividade farmacêutica, sobretudo na Farmácia Comunitária e Análises Clinicas, que ocupam a maioria farmacêuticos. Outras atividades têm sido desenvolvidas, mas por se tratar de atividades de rotina zar um conjunto de atividades de carácter Técnico – Científico, designadamente várias e constituírem um extenso rol, abstemo-nos de as enumerar. A Sessão Solene, que terá a presença do senhor secretário de Estado da Saúde, inicia-se com uma conferência a cargo do ilustre convidado Dr. António Lobo Xavier 6 Dia do Farmacêutico | História Farmácia em Portugal Inicialmente os farmacêuticos eram designados por boticários, ou seja, aqueles que trabalhavam em boticas. Sabe-se da existência de boticários em Portugal desde o século XII O primeiro diploma referente à profissão farmacêutica que se conhece em Portugal data de 1338. Refletindo a importância do papel do boticário, Tomé Pires (c. 1465-1540), boticário de D. Manuel I, foi enviado para a Índia em 1511 como Feitor das Drogas em Cananor. O Colóquio dos simples e drogas e coisas medicinais da Índia (Goa, 1563), do médico Garcia de Orta (1501-1568), foi a primeira descrição rigorosa feita in loco por um europeu das caraterísticas botânicas, origem e propriedades terapêuticas de muitas plantas medicinais que, apesar de conhecidas anteriormente na Europa, o eram de maneira errada ou muito incompleta. O contributo dos portugueses para o conhe- Colóquio dos simples e drogas e coisas medicinais da Índia (Goa, 1563), do médico Garcia de Orta (1501-1568), foi a primeira descrição rigorosa feita in loco por um europeu das caraterísticas botânicas, origem e propriedades de muitas plantas medicinais cimento da matéria médica africana e brasileira ficou muito aquém do nível observado no Oriente. A matéria médica do Atlântico meridional despertou inicialmente pouco interesse entre os autores médicos portugueses, devendo-se a maior parte dos contributos para o seu conhecimento a colonos, missionários, militares e viajantes. A primeira tentativa de levar a cabo um estudo organizado e sistemático da história natural ultramarina teve lugar nas duas últimas décadas do século XVIII, através de um conjunto de expedições científicas ao Brasil e África, levadas a cabo por naturalistas formados em Coimbra, onde se destaca a viagem de Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815) no Brasil. Indústria farmacêutica Portuguesa A indústria farmacêutica começou a desenvolverse em Portugal na última década do século XIX. O primeiro investimento importante foi a Companhia Portuguesa Higiene, uma sociedade anónima fundada em 1891 com um capital muito apreciável para a época. A Companhia introduziu em Portugal o fabrico de grânulos dosimétricos e iniciou, por volta de 1893, o fabrico de comprimidos. Apesar da renovação técnica representada, em termos locais, pela sua atividade, a Companhia Higiene baseou-se exclusivamente no desenvolvimento de similares da indústria estrangeira. Numa época de profundas transformações nas ciências biomédicas, a indústria portuguesa mais desenvolvida manifestou um grande alheamento em relação às aplicações farmacêuticas da Biologia. Embora a reforma do ensino farmacêutico de 1902 tivesse constituído um avanço significativo em relação à situação anterior, as matérias ministradas no novo plano de estudos continuavam longe de estar a par com os contributos científicos de finais do século passado, com uma reduzida componente curricular no campo da Biologia. A produção de vacinas e de antitoxinas foi de início deixada inteiramente na mão de setores alheios à produção de medicamentos. A primeira firma farmacêutica cuja expansão se começou a desenhar no sentido das aplicações da Biologia foi a Farmácia Freire de Andrade, a cujos laboratórios se deve o início, em 1894, da preparação em Portugal de injectáveis em ampolas de vidro. A pauta aduaneira de 1892 criou condições para a proliferação de laboratórios de especialidades farmacêuticas, de forma que a Grande Guerra veio encontrar uma indústria farmacêutica suficientemente equipada para responder à falta de abastecimento em produtos medicinais. A guerra obrigou a um esforço complementar de produção, com o aparecimento de novas indústrias subsidiárias e de novos laboratórios. O período do pós-guerra surgiu como um dos mais promissores para a indústria farmacêutica portuguesa, dominando um ambiente de otimismo, que esfriou com a diminuição da proteção às especialidades nacionais pela nova pauta aduaneira de 1923. Prémios | Dia do Farmacêutico 7 Quadro de Honra Farmacêuticos com 50 anos de profissão HOMENAGEADOS • COIMBRA – MARIA LEONOR HORTA PINTO • COIMBRA – MARIA ODETE DOS SANTOS ISABEL • LISBOA – ADRIANA MARIA PEREIRA GONÇALVES JARDIM DE FREITAS • LISBOA – CELSO LOURENÇO FERREIRA CRISTINA AFONSO • LISBOA – EDNA ADELAIDE RAMOS DE OLIVEIRA PINTO • LISBOA – FERNANDO DA COSTA LOBO DA SILVA • LISBOA – MADALENA DE BRITO NASCIMENTO EUSÉBIO • LISBOA – MARIA ALICE DOS SANTOS DIAS PEREIRA • LISBOA – MARIA CÂNDIDA RODRIGUES RATO DOS SANTOS VICENTE • LISBOA – MARIA DE LOURDES CARQUEIJEIRO NETO JORGE CARAMELO • LISBOA – MARIA GABRIELA PIRES DE MORAIS SARMENTO • LISBOA – M ARIA JOSÉ BARBOSA REIS PINTO LOPES • LISBOA – MARIA JÚDICE DIAS • LISBOA – MARIA LUÍSA DE OLIVEIRA SANTOS HORTA •L ISBOA – MARIA TERESA GOMES DA GAMA MORAIS • LISBOA – NOÉMIA AUGUSTA DA SILVA COELHO NOBRE •L ISBOA – MANUELA BARBOSA • PORTO – LÍDIA ANGELINA PINTO DE ARAÚJO PIMENTA • PORTO – M ARIA AURÉLIA CATARINO DE ARAÚJO • PORTO – MARIA DE LOURDES ALBUQUERQUE CLARO LOPES CARDOSO • PORTO – MARIA DE LURDES ESTEVES SARMENTO CALVÃO • PORTO – MARIA LUÍSA RAMOS DE ARAÚJO JORGE PAIS CABRAL • PORTO – MARIA TERESA LOPES RODRIGUES LIMAS ALMEIDA E SILVA Medalha de honra da Ordem dos Farmacêuticos > JOSÉ LUÍS BELBUDO SINTRA > FACULDADE DE FARMÁCIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO - Na pessoa do seu Diretor Prof. Doutor José Luís Costa Lima Melhores Alunos Prémio Sociedade Farmacêutica Lusitana > GONÇALO FILIPE RELVAS CAMPOS - Faculdade de Ciências da Saúde da Beira Interior > MARIANA DIAS MONTEIRO - Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra > ana margarida cartaxo pinheiro - Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Lusófona > joão pedro teixeira aguiar - Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz > LÍDIA MAFALDA LOPES FRANCO - Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa > luís miguel martins rico - Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade do Algarve > Irene Leonor Moutinho dias - Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto > liliana patrícia de sousa martins - Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Fernando Pessoa > luísa alexandra teixeira santos - Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto > mafalda rodrigues marques tavares - Instituto Superior da Saúde – Norte 8 Dia do Farmacêutico | Infraestrutura Novo edifício da Secção Regional do Porto da Ordem dos Farmacêuticos Farmacêuticos e cidade merecem-no A o abrigo de um protocolo celebrado em agosto de 2005, o Município do Porto cedeu à Secção Regional do Porto da Ordem dos Farmacêuticos (OF) um terreno apto para construção, contíguo ao atual edifício-sede, sita na Rua António Cândido. Este protocolo sustinha como contrapartida obrigatória a construção pela Secção Regional do Porto da OF, num prazo de cinco anos após a celebração da respetiva escritura de um novo edifício, que visava complementar funcionalmente o atual, dotando assim a Secção Regional do Porto de um instrumento privilegiado de apoio administrativo aos seus membros e também à comunidade em geral. Foram colocadas a consulta pública propostas de projetos de arquitetura, tendo sido escolhido pelos membros da SRP o projeto apresentado pela firma Arquitectos Bragança e Marques, Lda., o qual foi abalizado, sob o ponto de vista técnico, pela Comissão de Obras, pela Direção e pela Assembleia Geral Novo edifício da OE constitui um instrumento privilegiado de apoio administrativo aos seus membros e também à comunidade em geral OF Novo Edifício O edifício apresenta uma configuração poligonal irregular, assumindo-se como um “bloco branco” de cariz minimalista, do qual sobressai uma “caixa de vidro”. O rés-do-chão será constituído por um “grande foyer”, espaço amplo, interpretado como um espaço multiusos, personalizável e versátil; no 1.º andar desenvolvem-se salas para formação e espaços de apoio e desenvolvimento à prática profissional; o último andar será constituído por um grande auditório, espaço de grande envergadura que beneficia de enquadramentos visuais de excelência, um espaço a partilhar com a cidade. da SRP da Ordem dos Farmacêuticos. Após concluídos os trâmites necessários para a obtenção do licenciamento para o processo de construção, os projetos de arquitetura e das especialidades foram aprovados pela CMP, ficando a SRP em condições de proceder à execução da empreitada. Este edifício é parte integrante de um programa de investimento com a finalidade de implementar um sistema de gestão de conhecimento no domínio das Ciências Farmacêuticas. O elevado número de membros e a sua dispersão geográfica associado a uma evolução e à inovação na área das ciências farmacêuticas torna inadiável a reformulação do atual sistema de gestão cujo propósito é melhorar a eficiência coletiva dos profissionais das ciências far- Infraestrutura | Dia do Farmacêutico 9 Foram colocadas a consulta pública propostas de projetos de arquitetura, tendo sido escolhido pelos membros da SRP o projeto apresentado pela firma Arquitectos Bragança e Marques, Lda., o qual foi abalizado, sob o ponto de vista técnico, pela Comissão de Obras, pela Direção e pela Assembleia Geral da SRP da Ordem dos Farmacêuticos macêuticas, também de todos quantos são objeto da sua área de intervenção. Neste sentido, para além da dotação de infraestrutura tecnológica adequada à instalação de um repositório organizado do conhecimento que permitirá o just in time da informação, este novo espaço possibilitará ainda o exercício de atividades próprias de um centro de estudos e investigação das Ciências Farmacêuticas em colaboração com instituições universitárias, podendo, simultaneamente, estar apto a acolher, em fase de gestação, microempresas vocacionadas para a prestação de serviços e apoio a atividades associadas à indústria, à industria farmacêutica, às análises clínicas e à farmácia comunitária, entre outras. Este projeto engloba igualmente o Centro de Interpretação das Ciências Farmacêuticas, um espaço de acesso universal com funções museológicas, aberto a todos quantos estejam interessados em conhecer ou melhor compreender o percurso e a essência destas Ciências. Pretende-se, enfim, que este edifício possa constituir-se como um cluster para a dinamização, interpretação e desenvolvimento das ciências farmacêuticas. As características físicas do edifício, onde a transparência é a sua marca mais significativa, constituem uma manifestação clara da relação de proximidade que a Ordem dos Farmacêuticos da SRP pretende imprimir a toda a sociedade, e em particular à Cidade e à comunidade onde está inserida. Pretende-se que o edifício constitua, assim, um espaço de encontro e de apoio a todos os cidadãos, empresas ou coletividades que de alguma maneira necessitem, comunguem ou compartilhem os nossos saberes e conhecimentos, numa associação biunívoca de interesses que certamente serão altamente frutuosos. 10 Dia do Farmacêutico | Opinião Tal como hoje, no passado… R Pedro Barata Membro da Direção da Secção Regional do Porto Os Descobrimentos são frequentemente considerados como a Época de Ouro de Portugal. O “dar novos mundos ao mundo” foi bem mais do que um estabelecer de novas rotas comerciais e descobrir novos territórios. Foi também o apresentar e ser apresentado a novas culturas e a novos produtos, nomeadamente produtos com atividade farmacológica. Não é pois de surpreender que vários estudiosos que atualmente se poderiam considerar farmacêuticos se tenham dedicado ao estudo e à aplicação desses produtos. De todos os nomes envolvidos permito-me destacar Tomé Pires, Garcia de Orta, Cristóvão da Costa e Amato Lusitano. Imortalizados em estátuas e dando nome a diferentes instituições de saúde, ainda hoje é recordada a sua contribuição para o desenvolvimento das Ciências Farmacêuticas. Tomé Pires foi boticário do príncipe D. Afonso, sendo proveniente de uma família de boticários. Nascido em 1468, partiu para Índia na armada de D. Garcia de Noronha na qualidade de feitor de drogarias. Aí escreveu a Suma Oriental onde descreveu a origem, características e usos de grande numero de drogas locais, como o aloé, o incenso e a mirra. A sua obra abriu caminho para os trabalhos de outros que se lhe seguiram no ramo da botânica e da galénica. Partiu depois, em qualidade semelhante, para a China, onde a desventura acompanhou a embaixada de que fazia parte. Garcia de Orta, um cristão novo nascido no Alentejo, estudou medicina em Salamanca e Alcalá de Henares, na Espanha, onde tomou contacto com o ensino, então inovador, da botânica. Em 1534 partiu para Goa como médico do Capitão-mor Martim Afonso de Sousa, escapando da perseguição aos judeus mas também seguindo o seu desejo de conhecer drogas medicinais e mezinhas do oriente, bem como o modo como os médicos locais as utilizavam. Em Goa tinha o seu próprio jardim botânico e uma impressionante biblioteca para tais tempos. O seu livro “Colóquio dos simples e drogas e cousas medicinais da Índia” é o resultado de 30 anos de observação atenta, experimentação e cuidados e análises, destacando-se a sua preocupação em fundamentar o conhecimento numa base de observação Apresentar e ser apresentado a novas culturas e a novos produtos, nomeadamente produtos com atividade farmacológica e experimentação, num dos primeiros grandes exemplos de aplicação do método científico à Farmácia. Cristóvão da Costa foi igualmente físico e foi igualmente destacado para servir na Índia nessa qualidade. Aí encontrou os colóquios de Garcia de Orta, que estudou atentamente e tomou como ponto de partida para o seu trabalho que culminou na publicação do “Tractado de las drogas y medicinas de las Indias Orientales”. Apresenta, para além de comentários sobre a obra de Garcia de Orta, uma descrição mais detalhada das plantas asiáticas de uso médico mais relevante, como a canela, a noz-moscada, o gengibre e tamarindo. Quer a sua obra, quer a de Garcia de Orta foram traduzidas para outras línguas e amplamente difundidas na comunidade científica europeia. João Rodrigues, mais conhecido como Amato Lusitano, foi uma das personalidades científicas mais impressionantes que Portugal já gerou. Igualmente de origem cristão-novo, iria durante toda a sua vida sofrer a perseguição religiosa e a intolerância da inquisição. Durante a sua juventude aprendeu e auxiliou o boticário local, nomeadamente na preparação da teriaga, o preparado à base de carne de víbora que servia como antídoto quase universal. Exerceu na Flandres, escapando à Inquisição Portuguesa, e depois na Itália, nomeadamente em Ferrara, onde chegou a tratar o Papa Júlio III. Buscando a sua liberdade religiosa, foi mudando de cidade em cidade, acabando por morrer em Salónica, na Macedónia, vitimado pela peste. As suas obras, o “Index Dioscoridis” e as suas centúrias foram amplamente estudadas e foram alvo de duras críticas e cerrado debate científico. A sua qualidade é no entanto inequívoca. Em particular no seu Index, identifica e adita espécies, proveniências, propriedades e métodos de cultivo e preparação, bem como aplicações de diferentes produtos farmacêuticos. Já as centúrias são conjuntos de 100 casos clínicos em que frequentemente, para além da descrição do caso clínico, apresentam o formulário correspondente à respetiva medicação. Foi assim, assente nos ombros destes gigantes, que outros, como por exemplo o Frei João Maria, com a sua Farmacopeia Dogmática, continuaram este trabalho de encontrar e caracterizar novas respostas terapêuticas para a sociedade em que se inseriam. Opinião | Dia do Farmacêutico 11 Sinergia entre instituições farmacêuticas R Carlos Raposo Simón Professor associado de Farmacologia da Universidade de Farmácia Complutense de Madrid Nos últimos anos, estamos a verificar uma transformação do sistema de saúde europeu. Demonstrou-se a necesidade de adaptar a estrutura às mudanças que têm afetado a população, no atual contexto económico. Os cidadãos do século XXI necessitam de profissionais de saúde que entendam as necesidades de uma sociedade global em constante mudança. Onde o grande protagonista tem de ser o paciente. Sem lugar a dúvidas, os farmacêuticos devem adicionarse a este proceso de renovação do sistema de saúde, para que este seja efetuado da forma mais segura e eficaz. É indiscutível que a farmácia e o rol farmacêutico têm evoluido e, neste momento, continuem a ser prioridade nas iniciativas que relacionam o trabalho de saúde com o paciente. Neste contexto, temos de perceber os farmacêuticos como os profissionais de saúde mais próximos da população, conscientes das novas solicitudes sociais e da situação económica em que vivemos, que atuam com o fim de cobrir adequadamente as necesidades dos pacientes. Com o objetivo de projetar uns serviços farmacêuticos eficientes no sistema de saúde, de modo a que sejam eficazes para a sociedade, devemos centrar-nos na atenção e tratamento da saúde dos cidadãos. Para obter este objetivo, é indispensável a cooperação pluridisciplinar entre os profisionais de saúde, onde médicos, farmacêuticos e enfermeiros colaborem entre si, com o intuito de obter os melhores resultados em benefício do paciente. Para trás ficam os tempos em que o paciente era um sujeito passivo, que recebia tratamentos e atenções dos profissionais de saúde, com pouca ou nenhuma responsabilidade influência nas decisões sobre a sua própria saúde. Conscientes da importância das sinergias interprofissionais e intraprofissionais, as instituições académicas, docentes e corporações profissionais de farmácia devem incorporar nos seus objetivos prioritários a realização de esforços que potenciem aspetos tão relevantes como a formação, intercâmbio de conhecimentos e experiências, assim como colaboração mútua para partilhar experiências e estabelecer vínculos de união, orientados em uníssono para o paciente. É neste sentido, e aproveitando a magnífica sintonia entre os países iberoamericanos, que no ano 2012, efetuámos um acordo de colaboração internacional no qual participaram a Ordem dos Farmacêuticos do Porto, Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra, Faculdade de Farmácia da Universidade Complutense de Madrid, a Universidade Rey Juan Carlos de Madrid, Academia Iberoamericana de Farmácia e a Faculdade de Farmácia da Universidade de São Paulo. Fruto destes acordos e com o comando ativo da Ordem dos Farmacêuticos do Porto, desenvolveu-se o I Curso de Cuidados Farmacêuticos, no qual participaram professores das instituições mencionadas e que serviu como intercâmbio de conhecimentos e experiências. O intercâmbio de estudantes e professores, o impulso da atenção farmacêutica, a prevenção da doença e a educação na saúde, são alguns exemplos da quantidade vasta de tarefas que se podem e devem relacionar numa perspetiva internacional e intraprofissional. Vivemos num contexto de crise, impensável há uns anos atrás. A depressão económica afeta os cidadãos. As finanças públicas de medicamentos e produtos de saúde parecem ter tocado no fundo e afetam indústria, distribuição e farmácias. Com este panorama, é tempo de inovar, propor e arriscar. É tempo de reflexão corajosa e compromisso. Para tal, as intituições académicas e corporativas têm o dever de estender pontos comuns com outras latitudes, sem pensar nas distâncias geográficas ou diferenças de idiomas. O caminho está traçado, agora, é tempo de percorrêlo com convicção e confiança para fazer da profissão de farmêutico uma profissão forte. É indispensável a cooperação pluridisciplinar entre os profissionais de saúde 12 Dia do Farmacêutico | Opinião Um papel para o farmacêutico R Bruno Sepodes Presidente do Comité de Medicamentos Órfãos (COMP) da Agência Europeia do Medicamento (EMA) Uma parte da população (felizmente cada vez menor) ainda acha que o farmacêutico “apenas” existe, enquanto profissional, na Farmácia. A verdade que o “Ato Farmacêutico” espelha é bem diferente e reflete uma realidade profissional diversificada para estes profissionais. Há um número significativo de farmacêuticos com funções de relevo na regulação e avaliação de medicamentos, por exemplo, na Agência Europeia do Medicamento, sediada em Londres. A principal função da Agência Europeia do Medicamento (EMA) é a proteção e a promoção da saúde pública e animal através da avaliação e supervisão dos medicamentos para uso humano e veterinário. É dirigida por um Conselho de Administração independente, cujos membros são nomeados de forma a executarem as suas tarefas em prol da saúde pública. Não representam nenhum governo, organização ou qualquer setor de atividade específico. Conta também com um diretor executivo e um secretariado com mais de 500 colaboradores que coordena as atividades da Agência. Há farmacêuticos de diferentes nacionalidades em praticamente todas as funções científicas da EMA e associados aos trabalhos dos diferentes comités que fazem parte da atividade diária desta instituição. Assumem papéis de destaque na gestão de processos e aprovação de autorização de introdução de medicamentos pelo procedimento centralizado, mas também no apoio e coordenação científica dos diversos grupos de trabalho que funcionam em simultâneo com os grandes comités científicos da EMA. As suas funções estão longe de ser meramente administrativas, distribuindo-se por diversas vertentes de influência científica, desde a avaliação da qualidade às discussões pré-clínicas e clínicas, para além da participação ativa nos processos de vigilância pós-comercialização e na ligação às associações de doentes. Atualmente a representação dos farmacêuticos portugueses na EMA é bastante significativa, sendo de salientar que quer o membro quer o membro alternativo no Comité dos Medicamentos de Uso Humano (CHMP) são ambos farmacêuticos. O CHMP é o comité científico responsável por emitir todas as opiniões sobre toda e qualquer questão relacionada com medicamentos de uso humano, sendo os seus membros nomeados pelos diferentes estados-membros da União Europeia, sendo ouvido o Conselho de Administração da EMA. De destacar também que a representação portuguesa no Comité de Farmacovigilância e Avaliação do Risco (PRAC) está a cargo de uma farmacêutica. O PRAC avalia e monitoriza os aspetos relacionados com a utilização de medicamentos para uso humano, sendo a nomeação dos membros feita da mesma forma que para o CHMP. Em 2012, pela primeira vez na EMA, um comité científico passou a ter como presidente um farmacêutico. Atualmente o Comité dos Medicamentos Órfãos (COMP) é presidido por um farmacêutico português eleito por maioria superior a 2/3 dos membros que constituem este comité (na altura o único não-médico do Comité). O COMP é o comité responsável pelas opiniões relacionadas com medicamentos órfãos (destinados ao tratamento de doenças raras) e com a recomendação à Comissão Europeia para a atribuição de incentivos para o seu desenvolvimento, para além de atuar como facilitador da ligação da Comissão Europeia às outras áreas regulamentares de relevo no campo das doenças raras (EUA, Japão, Canadá e Austrália). Pelo exposto, é fácil depreender que a EMA se transforma num fórum ideal para o aprofundamento de conhecimentos científicos e da prática clínica atual, para a discussão interpares e para colocar em prática os amplos conhecimentos que os farmacêuticos têm enquanto especialistas do medicamento, permitindo que a sua presença seja considerada imprescindível para o funcionamento deste sistema europeu do medicamento, e que a sua participação permita um visível enriquecimento das decisões que saem desta instituição europeia. No que aos farmacêuticos portugueses respeita, é inegável o apoio e confiança depositada pelo Estado Português, através do Conselho Diretivo do INFARMED I.P., na sua nomeação para o desempenho destas funções cuja responsabilidade e expressão europeia e nacional são inegáveis. Atualmente a representação dos farmacêuticos portugueses na EMA é bastante significativa Opinião | Dia do Farmacêutico 13 Profissional da saúde R Fernando Fernandez-Limós Membro da Direção da European Society of Clinical Pharmacy Habitualmente quando pensamos em farmácias comunitárias (vulgarmente designadas ‘farmácia de rua’) a ideia que nos ocorre é a de um local onde podemos adquirir medicamentos. No máximo, as pessoas reconhecem um papel importante de aconselhamento por parte do farmacêutico juntamente com a cedência de medicamentos. Este aconselhamento é uma atividade que tradicionalmente se realiza nas farmácias portuguesas e que visa que os utilizadores de medicamentos conheçam as condições ideais em que estes devem ser utilizados. Apesar de os medicamentos serem cada vez mais avançados, a sua utilização acarreta também alguns riscos. Vulgarmente pensa-se em riscos relacionados com os efeitos adversos associados aos medicamentos, não considerando tão relevantes as situações em que os medicamentos não chegam a atingir o efeito desejado. O farmacêutico não se dedica apenas a estudar o medicamento enquanto substância ativa. Desde há já bastantes anos, existe uma corrente de atuação dentro da área de Farmácia na qual o farmacêutico adquire um papel nos cuidados de saúde do doente, co-responsabilizando-se não apenas pelo uso correto dos medicamentos, mas também pelos resultados obtidos em virtude da sua utilização. No nosso país, estes cuidados de saúde fornecidos pelos farmacêuticos associados à utilização de medicamentos foram designados: ‘cuidados farmacêuticos’. Por cuidados farmacêuticos entende-se um conjunto de serviços que podem ser fornecidos por farmacêuticos nos mais variados contextos assistenciais como: hospitais, farmácias comunitárias, centros de saúde ou lares de idosos. A implementação e impacto destes serviços farmacêuticos têm vindo a ser amplamente estudados em países como, por exemplo, os Estados Unidos, a Austrália, o Reino Unido ou a Suíça. Ainda que sejam serviços que possam ser vocacionados a vários tipos de doentes, estes têm-se centrado principalmente em portadores de doenças crónicas, especificamente doentes com diabetes, hipertensão arterial ou asma. Em todas estas doenças, muitos estudos demonstraram que a contribuição do farmacêutico, em conjunto com a restante equipa de saúde, resultou na melhoria dos sinais e sintomas associados a estas doenças. Em Portugal, as Universidades de Lisboa e Coimbra têm trabalhado conjuntamente desde há vários anos no sentido de adaptar todo o conhecimento que veio do estrangeiro à realidade sociocultural e assistencial do nosso país. Este é um claro exemplo de que duas instituições públicas do Ensino Superior decidem unir esforços no sentido de promover a melhoria dos cuidados de saúde dos doentes com um objetivo comum e deixando de lado quaisquer interesses individuais de cada uma das partes. Juntas puderam demonstrar que serviços como o acompanhamento farmacoterapêutico realizado por um farmacêutico em parceria com o médico de família em doentes com diabetes melhoraram significativamente a hemoglobina glicada, parâmetro que reflete o grau de controlo da doença. Um outro estudo realizado conjuntamente demonstrou que o fornecimento de um outro serviço designado “revisão da medicação” por um farmacêutico diminuía significativamente o risco cardiovascular de um grupo de doentes. Estamos, portanto, na altura de implementar de forma generalizada estes serviços farmacêuticos por todo o país. Contudo, não se afigura uma tarefa fácil porque não se trata apenas de demonstrar a utilidade e impacto destes serviços, mas também de ter em linha de conta diversos fatores que podem condicionar o sucesso deste processo. A ciência da implementação dedica-se precisamente ao estudo do processo necessário para implementar na prática ideias que na teoria demonstraram algum interesse. Como um exemplo claro da falha de um processo de implementação, podemos recordar o caso em que o vídeo em formato VHS ultrapassou o formato beta, chegando mesmo a eliminá-lo do mercado, quando os próprios profissionais reconheciam a superioridade em termos de qualidade do último. É necessário que aprendamos com este tipo de insucessos para que a implementação de novos serviços não fique prejudicada por uma falha de habilidades na sua divulgação. Um ponto muito importante neste processo de implementação passa pela demanda maioritária destes serviços por parte de doentes que poderiam beneficiar deles. O primeiro passo para esta demanda seria a divulgação de informação por parte de entidades como a Ordem dos Farmacêuticos e as associações profissionais. Uma vez que o utente conheça o que o farmacêutico pode fazer pela sua saúde, estará nas suas mãos escolher o melhor profissional que cubra as suas necessidades de saúde. Isto levaria a que os utentes usassem como critério de escolha da sua farmácia a qualidade e a quantidade de serviços que esta tem para oferecer e não somente o fator proximidade do domicílio. Por fim, os próprios farmacêuticos devem converter-se em profissionais que ajudem os doentes a melhorar o seu estado de saúde, contribuindo simultaneamente para gerar poupanças associadas aos cuidados de saúde no nosso país. 14 Dia do Farmacêutico | Opinião Diagnóstico laboratorial. Novos dispositivos R Maria Goreti Ferreira Sales Professora Adjunta BIOMARK, Sensor Research Instituto Superior de Engenharia do Porto Com uma licenciatura em Ciências Far- macêuticas (1995) e um doutoramento em Química Analítica (2000), ambos pela Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto (FFUP), associados a vários anos de docência no domínio da Engenharia Química (no Instituto Superior de Engenharia do Porto, ISEP) e a um enorme gosto pela Ciência e pela Investigação, encontro-me agora a desenvolver novos dispositivos que poderão auxiliar o diagnóstico médico ou o rastreio do cancro, de modo autónomo do ponto de vista energético. Esta atividade conta com o suporte financeiro de uma bolsa Starting Grant da European Research Council (ERC), no valor de 1 milhão de euros, de acrónimo 3Ps e subordinada ao tema Plastic-Antibodies, Plasmonics and Photovoltaic-Cells: on-site screening of cancer biomarkers made possible. O dimensionamento destes dispositivos autónomos corresponde ao ponto de encontro entre várias áreas do conhecimento e no qual ninguém tinha reparado antes... Se misturarmos a química orgânica, a bioquímica, a biologia, a nanotecnologia e a física chegamos aos (1) biossensores, aos (2) materiais biomiméticos e (3) às células fotovoltaicas. E se voltarmos a misturar estes três pontos de chegada na mistura original, chegamos ao ponto de partida da bolsa da ERC: o dispositivo autónomo 3Ps. Este dispositivo recorre a um biossensor que usa em anticorpos plásticos como material biomimético e que é arquitetado numa célula fotovoltaica (com partículas chamadas plasmonics), de modo a usufruir de plena autonomia elétrica. Materializando a ideia do dispositivo 3Ps num exemplo bem conhecido, seria como usar o dispositivo de monitorização da glucose para diabéticos sem recorrer à “caixa” de medida do sinal. O dispositivo 3Ps apresenta enormes potencialidades no contexto clínico. A sua construção é simples e de baixo custo e a leitura do sinal é equipment-free e pode ser realizada em point-of-care. Não houve, por isso, dúvida quanto a testar este novo conceito no contexto da doença cancerígena, um tema de enorme interesse social... Os compostos-alvo do dispositivo 3Ps são, por isso, biomarcadores do cancro, biomoléculas que circulam pelo organismo e que permitem inferir sobre o estágio da doença ou sobre a sua evolução face ao tratamento. O biomarcador do cancro mais conhecido na atualidade será possivelmente o PSA (Prostate Specific Antigen). Considerando que a eficácia do PSA enquanto biomarcador isolado no diagnóstico precoce do cancro da próstata é cada vez mais controversa, torna-se desejável recorrer a um painel de biomarcadores, gerando assim informação clínica mais rigorosa. Enquanto a ciência avança rumo à composição inequívoca do painel de biomarcadores para cada doença cancerígena, o dispositivo 3Ps é aplicado aos biomarcadores patentes na literatura para os cancros da mama, do colo do útero e do colo-retal... Do ponto de vista prático, a bolsa da ERC permitiu já a construção de sensores com materiais biomiméticos (imagem 1) para os biomarcadores CEA (carcinoembryonic antigen, associado ao cancro do colo-retal), CA15-3 (cancer antigen 15-3, associado ao cancro da mama) e Carnitina (potencial biomarcador do cancro do útero/ovário), recorrendo a elétrodos de vários formatos. Foram também desenvolvidos com sucesso dois dispositivos 2Ps, um por fusão de célula fotovoltaica com Plasmonics e outro por fusão do material biomimético com a célula fotovoltaica. Este último dispositivo foi testado na determinação de CEA em amostras biológicas reais dopadas, tendo-se obtido uma resposta sensível e seletiva para níveis de concentração com interesse clínico. Presentemente, desenvolvem-se dispositivos 2Ps (material biomimético em célula fotovoltaica) análogos para os demais biomarcadores e associam-se os plasmonics do dispositivo 3Ps. A concretização da ideia patente na bolsa da ERC (Grant Agreement 311086) requer ainda a extensão do conceito a 5 biomarcadores por doença cancerígena... Há por isso muito trabalho pela frente, mas muito mais ânimo para o concretizar! imagem 1 Opinião | Dia do Farmacêutico 15 Sindicatos na sociedade atual R Henrique Reguengo Presidente do Sindicato Nacional dos Farmacêuticos No contexto social em que vivemos somos confrontados com questões para as quais, mais do que respostas, temos dúvidas. Neste caso concreto, essas dúvidas recaem não sobre utilidade ou inutilidade de uma estrutura sindical no âmbito da profissão farmacêutica, já que a realidade das relações laborais não nos deixa grande margem para dúvidas, mas sim e inevitavelmente, no âmbito da reflexão sobre as formas de atuação que hoje, numa sociedade moderna, uma instituição deste tipo pode e deve ter, de modo a ser eficaz. As grandes questões que hoje se nos colocam são: – Como ser eficaz na defesa dos interesses dos farmacêuticos? – Como compatibilizar essa defesa dos interesses individuais com a viabilização das pequenas e médias empresas que são o grosso da oferta de emprego dos nossos colegas? – Como valorizar, defender e sobretudo tornar claro à sociedade o valor da atuação do farmacêutico na defesa e promoção da Saúde? – Como defender e fazer compreender o âmbito e especificidade do ato farmacêutico, numa realidade evolutiva rapidíssima das competências das diferentes profissões da Saúde? – Como ter força política para defender os interesses de uma profissão, quando ela própria parece ter-se desinteressado e afastado do meio político (muito poucos são os farmacêuticos politicamente ativos) e com essa atitude dificultou enormemente, não tanto o acesso, mas certamente a influência que hoje temos nos centros de decisão política nacionais? – Como conseguir fazer ouvir posições dos farmacêuticos num SNS onde em números percentuais representam menos de 1% no conjunto dos seus profissionais de saúde? – Finalmente, como compatibilizar a necessidade de viabilização financeira dos centros de formação de farmacêuticos – a Universidade – com uma regulação consciente e realista das necessidades do país nestes profissionais de saúde mesmo tendo em conta a diversidade de competências que as faculdades são capazes de objetivar? As respostas não são fáceis, nem simples! E, pior do que isso, não existe uma solução única e particular para cada uma das destas questões. Apenas uma visão clara da profissão, abrangendo o papel que queremos que ela desempenhe, e a influência que pretendemos exercer na sociedade, nos poderá nortear neste desiderato. Ao longo dos últimos anos a existência de um Sindicato Nacional tem sido uma peça fundamental na estratégia de defesa do papel e das competências dos farmacêuticos. De facto, uma tendência normalizadora e desconhecedora das realidades e competências da profissão são um dos principais perigos que enfrentamos. Dentro do SNS, por exemplo, a profissão sofreu um processo de descaracterização organizativo (está integrada desde 1991 numa carreira agregadora de várias profissões) que dificulta quer o próprio exercício das suas competências quer a sua articulação com as estruturas administrativas das Instituições de Saúde e até do Ministério. Por muito que surpreenda, é muito diferente saber-se que existem Farmacêuticos de saber-se o que na realidade fazem os Farmacêuticos. Por muito que nos custe e desagrade, a verdade é que a certeza que a sociedade tem da nossa existência não tem paralelo no que diz respeito ao conhecimento que essa mesma sociedade tem do que são hoje as nossas competências. Também aqui um Sindicato ativo e participante terá sempre um papel insubstituível a desempenhar. Mas o maior desafio que hoje, como estrutura sindical, enfrentamos é o da captação e participação do jovens para esta atividade. A nova geração enfrenta hoje dificuldades a que nunca nas últimas décadas os farmacêuticos estiveram expostos. Desemprego era algo que não constituía uma preocupação. À saída da faculdade, arranjar emprego e com um nível de remuneração (para um recém-licenciado) excelente era a realidade dos farmacêuticos. Hoje nada disto é assim. O desemprego, baixos salários e um número absurdo de farmacêuticos que finalizam os seus cursos todos os anos levam a que também para nós a emigração comece a ser uma opção frequente. É por isso premente que consigamos fazer chegar a estes jovens a mensagem de que as instituições sindicais são hoje, ainda, uma necessidade da sociedade e que o ajustar da sua atuação e bem como o sucesso das suas intervenções passam inevitavelmente por uma participação ativa da nossa juventude a todos os níveis da Instituição. 16 Dia do Farmacêutico | Opinião Presente e futuro do SNS R Miguel Guimarães Presidente do Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos O ministro da Saúde publicou um artigo no jornal “Expresso”, de 13 de setembro de 2014, em que elogia o Serviço Nacional de Saúde (SNS) e o seu trabalho como líder do Ministério. A essência e a mensagem do texto são claras. Temos um SNS prestigiado, fundado nos valores da solidariedade e justiça social, com indicadores de saúde que demonstram de forma inequívoca a qualidade do nosso serviço público de saúde e que resulta essencialmente da dedicação, qualidade e competência dos profissionais de saúde. Estamos de acordo. No entanto, sublinhar, na atualidade, a atenuação de assimetrias estruturais, sociais e territoriais, o investimento na formação e na investigação, a aposta na existência de cuidados altamente diferenciados e a qualidade dos tratamentos para todos e não apenas para alguns é distorcer a política que tem sido seguida nos anos mais recentes. Nos últimos anos, todos nós, doentes e profissionais de saúde, temos a perceção que o SNS está a retroceder a ‘olhos vistos’. Não são necessários muitos dados estatísticos para entender que a saúde dos portugueses depende cada vez mais de cada um de nós e menos do Estado. O património genético do SNS nunca esteve tão em risco. Infelizmente. A política de saúde do Ministério está claramente a ‘empurrar’ os doentes para o sistema de saúde privado e convencionado. De resto, não é possível diminuir de forma brutal o orçamento de Estado para a saúde (duplicaram os cortes propostos pela Troika) e continuar a oferecer cuidados de saúde com a mesma qualidade. Os dados preliminares de um estudo realizado em 2013 pelo ISCTE-IUL e a Ordem dos Médicos, envolvendo 3448 médicos e centrado na sua experiência profissional quanto à aplicação das medidas após a intervenção da Troika, revelam que 80% dos médicos consideram que os cortes já aplicados no financiamento do SNS comprometeu a qualidade e o acesso aos cuidados de saúde. Cerca de 50% dos médicos afirmam que os doentes faltam mais às consultas e apontam como principais motivos os custos relacionados com as taxas moderadoras e os transportes. Mais de 60% dos médicos referem abandono frequente de terapêuticas no SNS devido a incapacidade financeira invocada pelos doentes. Por outro lado, 65% dos médicos afirmam que existem faltas recorrentes de material para o exercício da profissão, e cerca de 60% consideram que a qualidade do SNS foi afetada pelo menor acesso a atividades de formação, referindo 80% terem menos tempo para orientação de médicos internos. As assimetrias no acesso aos cuidados de saúde têm-se agravado. O valor das taxas moderadoras e a falta de apoio nos transportes seriam suficientes para entender o exacerbar da situação. Mas uma leitura atenta do último relatório da OCDE sobre “Variações Geográficas nos Cuidados de Saúde” confirma o que todos sabemos: Portugal é dado como exemplo da má distribuição de cuidados médicos. E, se adicionarmos a legislação recentemente publicada sobre reforma hospitalar, a situação é dramática. Está previsto no papel o encerramento de centenas de serviços de várias especia- lidades médicas por todo o país, destruindo o acesso a cuidados de saúde de proximidade. De resto, continuam a existir, de forma incompreensível e injusta, assimetrias regionais importantes no financiamento per capita que ofendem gravemente o princípio da equidade e a eficiência do sistema. Por outro lado, e contrariamente ao anunciado, o desinvestimento na investigação, no desenvolvimento tecnológico e na formação é alarmante. A qualidade da formação dos profissionais de saúde com base na existência de carreiras sólidas e estáveis é a pedra angular do nosso SNS. É, pois, inaceitável que o ministro da Saúde não tenha concretizado na prática a defesa do SNS, desprezando a essência da sustentabilidade do sistema: apostar forte na qualidade para controlar os custos de forma sustentada. É abusivo falar em medicina personalizada e em tratar principalmente pessoas, quando a implementação da política de Saúde seguida vai precisamente no sentido contrário. Existem cada vez mais barreiras entre os doentes e os médicos (e não são apenas informáticas), cada vez é mais escasso o tempo para a relação entre médico e doente, cada vez a medicina é menos humanizada e personalizada, tudo no superior interesse e desígnio de obter números para colorir favoravelmente as manchetes dos jornais. E, para agravar a situação, o desgaste constante da imagem pública dos médicos na comunicação social atingiu uma dimensão absolutamente intolerável. Parece demasiado evidente que os responsáveis pela saúde em Portugal tratam os doentes como números e não como pessoas como deveria ser. Inadmissível. No que diz respeito à eficiência das auditorias e inspeções, já todos entendemos os caminhos contraditórios que muitas vezes percorrem os meandros da atividade política centrada nas instituições e organizações dependentes do Ministério. Um exemplo recente é a questão relacionada com a morte de dois doentes no Hospital de Santa Cruz, em que estranhamente a inspeção realizada pela IGAS, e portanto pelo Estado, ignorou que as indicações clínicas eram contrariadas por “razões logísticas”, da responsabilidade da administração do Centro Hospitalar Lisboa Ocidental. A Ordem dos Médicos documentou de forma objetiva o potencial e grave prejuízo decorrente dos cortes orçamentais. Um exemplo que mostra que não se pode confiar no Estado a inspecionar-se a si próprio. Termina sempre autoilibado. No dia em que se assinala o Dia do Farmacêutico, reforço o elogio ao comportamento desta e das restantes classes profissionais do setor, que diariamente se empenham em garantir a melhor prestação de cuidados para a população. O meu desejo é que os farmacêuticos continuem a prestar um relevante e indispensável serviço à comunidade e que as reformas da Saúde, num futuro próximo, possam valorizar – e não amesquinhar – o elevadíssimo grau de diferenciação e competência dos nossos profissionais de saúde. A mudança também tem que passar por aqui. Opinião | Dia do Farmacêutico 17 A farmácia hospitalar R Aida Batista Diretora do Serviço Farmacêutico do CHVNG/E, EPE; presidente da Associação Portuguesa de Farmacêuticos Hospitalares; Membro da Direção da Associação Europeia de Farmacêuticos Hospitalares Em primeiro lugar gostaria de esclarecer que não, estas não são as ditas “farmácias hospitalares” que têm sido alvo de inúmeras notícias por causa das suas dívidas ao estado ou porque estão em processo de falência. Essas não são mais do que farmácias comunitárias, já apelidadas “de oficina”, que se instalaram no espaço físico do hospital, mas têm propriedade e gestão privadas. As farmácias hospitalares que vos vou apresentar são um Serviço do Hospital: o Serviço Farmacêutico. O Hospital é uma das mais complexas organizações idealizadas e construídas pelo Homem. É aí que são tratados os doentes mais graves e de maior risco. É aí que ocorrem as intervenções mais diferenciadas, invasivas e salvadoras de vidas. O Hospital é considerado um pilar de qualquer Sistema de Saúde e, em Portugal e noutros países, do Serviço Nacional de Saúde. Podemos dizer que se destina a produzir o “bem” mais caro de todos: a Saúde. Nos hospitais utilizam-se medicamentos, alguns de custo muito elevado, que podemos considerar como tecnologias estratégicas que visam preencher as necessidades terapêuticas dos doentes, no sentido de lhes proporcionar uma melhor qualidade de vida. Os medicamentos são armas terapêuticas potentes, que por isso têm de ser utilizados com conhecimento e segurança. Quem já teve de recorrer a um hospital para ser tratado, por uma situação de doença mais ou menos grave, certamente foi observado por um médico que estabeleceu o plano terapêutico, alterado sempre que necessário, e foi cuidado por um enfermeiro. Às horas corretas e previamente determinadas foi-lhe administrado o medicamento prescrito pelo seu médico, no sentido de obter os resultados esperados: a cura ou o alívio de sintomas. A sua experiência poderá dizer-lhe que durante a sua estadia só contactou com “a senhora da receção” (assistentes administrativos); médicos, enfermeiros, “auxiliares” (assistentes operacionais), mas um hospital é uma estrutura equipada com muitos profissionais altamente treinados, formados e especializados. Os farmacêuticos hospitalares estão entre eles e têm também como objetivo final o tratamento dos doentes e os melhores resultados em saúde. O que é uma Farmácia Hospitalar? É um serviço ou departamento, inserido num hospital, com autonomia técnica e científica. Depende diretamente dos órgãos de gestão respetivos e é a eles que presta contas, cada vez mais exigentes, da sua atividade. É responsável pela gestão do medicamento, produtos farmacêuticos e também do medicamento experimental (utilizado em ensaios clínicos). É responsável pela implementação das políticas de utilização de medicamentos definidas a nível local, regional ou nacional. Gere a segunda rubrica do orçamento hospitalar e cobre áreas muito diversificadas. É dirigido por um farmacêutico hospitalar. Na farmácia hospitalar trabalham em conjunto farmacêuticos, técnicos de farmácia, pessoal administrativo e auxiliar. O que é um farmacêutico hospitalar? É um profissional habilitado com o grau de especialista em farmácia hospitalar e responsável pelo estabelecimento e cumprimento do circuito do medicamento a nível hospitalar. Para conseguir cumprir a sua missão, o farmacêutico hospitalar tem de aplicar o seu conhecimento específico para estabelecer critérios de seleção e aquisição de medicamentos, produtos farmacêuticos e dispositivos médicos usados no hospital, tendo em conta os fatores de segurança, eficácia, eficiência, sem perder de vista os custos associados. Tem de planear e pôr em prática sistemas de distribuição e administração de medicamentos para garantir que a qualquer hora do dia e da noite os doentes hospitalares têm acesso aos medicamentos de que necessitam. A produção e manipulação de medicamentos é uma área de extrema importância nos hospitais, dando resposta a necessidades específicas dos doentes e permitindo a individualização da terapêutica onde a indústria farmacêutica não consegue dar resposta. Os farmacêuticos hospitalares também são os responsáveis pela validação e confirmação de todas as prescrições médicas dirigidas aos doentes em tratamento no hospital. O farmacêutico hospitalar trabalha em colaboração com médicos e enfermeiros, ajudando a garantir que os doentes recebem os tratamentos adequados quer no internamento quer em ambulatório. Atualmente, há muitas doenças crónicas que são tratadas em regime de ambulatório e cujos tratamentos, normalmente de alto custo, são cedidos aos doentes gratuitamente pelos hospitais através dos seus serviços farmacêuticos. Para além de garantir que existem os medicamentos corretos para cada tratamento e cada doente, o farmacêutico hospitalar também presta informações aos doentes, tira dúvidas, concorrendo para que seja cumprido todo o tratamento. O farmacêutico hospitalar pode desenvolver atividades de farmácia clínica e de farmacocinética. Presta informações de medicamentos a doentes e outros profissionais de saúde. Tem ainda participação em várias comissões e grupos de trabalho essenciais ao bom funcionamento dos hospitais e que têm em vista cuidados de saúde de qualidade e a segurança do doente. O avanço da ciência e da medicina baseia-se na evidência científica e em investigação e os farmacêuticos hospitalares fazem parte da equipa que está envolvida nos ensaios clínicos necessários para a aprovação ou avaliação de medicamentos. Muitas outras áreas de intervenção poderiam aqui ser listadas, mas podemos dizer de uma forma resumida que o farmacêutico hospitalar presta serviços a doentes e profissionais de saúde nos hospitais usando as suas competências como especialista farmacêutico, consultor farmacoterapêutico e gestor em farmácia hospitalar. Tudo o que se faz na farmácia hospitalar tem como objetivo ajudar o doente e nos hospitais essa atividade sempre foi e continuará a ser um trabalho de equipa, na qual todos têm a sua função definida. Já conhece o seu farmacêutico hospitalar? 18 Dia do Farmacêutico | Opinião Ainda vale a pena estudar Ciências Farmacêuticas? R Professor doutor José Manuel Sousa Lobo Professor catedrático de Tecnologia Farmacêutica da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto Vivemos atualmente tempos difíceis em Portugal, o que se reflete permanentemente no nosso dia a dia. O problema é geral e atinge toda a população, mas, neste Dia do Farmacêutico, permitam-me que faça algumas reflexões acerca do atual estado da profissão (nas suas diversas vertentes) e do que é o ensino de Ciências Farmacêuticas hoje. E, perante o que vemos quando olhamos à nossa volta, creio que cada vez mais fazemos a nós próprios a pergunta que serve de título a esta reflexão – ainda vale a pena estudar Ciências Farmacêuticas? Não vou falar em pormenor nos estudos reconhecidos pela nossa Ordem e que habilitam ao exercício da profissão de farmacêutico. Mas recordo apenas alguns conceitos que reputo essenciais para fornecer aos estudantes as competências mais adequadas. Do meu ponto de vista, as três vertentes fundamentais do atual ensino são as seguintes: 1 – a transmissão de conhecimentos, que inclui ensinar a selecionar o que estudar, já que a quantidade de conhecimentos existente, hoje em dia, é enorme; 2–o contacto com a realidade profissional, como ocorre com a obrigatoriedade de realização de um estágio em farmácia de oficina ou hospitalar; 3–a iniciação ao trabalho de investigação, pois a resolução de problemas muito concretos num trabalho tão criativo é uma ferramenta essencial e característica do ensino universitário. Em resumo, poder-se-á dizer que a atual formação habilita os recém-graduados ao exercício da atividade farmacêutica. Falemos, agora, na profissão e na diversidade de áreas em que se desenvolve. Na Farmácia de Oficina, que aglutina a maior parte dos farmacêuticos em exercício, os tempos têm sido difíceis devido às inúmeras contingências financeiras impostas pela conjuntura atual. Algumas não resistem ao embate, mas a maior parte continua a percorrer o seu caminho. Ainda na área do medicamento, a Farmácia Hospitalar, a Indústria Farmacêutica e a Distribuição Grossista (áreas que empregam um menor número de farmacêuticos) apresentam alguns sinais de melhoria. Recordando a forte componente analítica ministrada aos estudantes, pensemos nas análises clínicas, na bromatologia, na toxicologia e na hidrololgia. Não há dúvida que em todas elas a ação do farmacêutico tem vindo a ser fundamental. Além disso, recentemente, surgiram algumas áreas, como o ambiente ou a área regulamentar, habitualmente associada à indústria farmacêutica, mas que merece tratamento distinto. Ou também a investigação, à qual se dedica um número cada vez maior de farmacêuticos, e as diferentes áreas políticas associadas ao medicamento, essencialmente em instituições europeias. Refira-se finalmente aqueles que, trabalhando em áreas às quais já me referi como tradicionalmente farmacêuticas, se destacam em cargos de gestão de empresas nacionais ou multinacionais. Se fizermos um balanço final, e embora os tempos não sejam os melhores, a profissão demonstra ter um excelente “poder tampão” na adaptação à evolução dos acontecimentos e tem conseguido vencer, com perseverança e esforço, as inúmeras dificuldades com que se vai deparando. Gostaria ainda de falar de outro facto – o traço comum a todas as atividades farmacêuticas, que é a saúde e o bem-estar das populações. Cronologicamente, uma profissão que foi inicialmente circunscrita à preparação de medicamentos (à escala oficinal), rapidamente se estendeu para o aconselhamento do médico, em seguida para as análises químico-biológicas, novamente para a preparação de medicamentos (mas desta vez à escala industrial), e depois para a bromatologia, para a hidrologia e para a toxicologia, para não falarmos nas áreas mais recentes que mencionei acima. E para todas, a mesma coerência de objetivos – a Saúde e o Bem-Estar de todos. Trata-se, pois, de um percurso e de um trajeto que é obra de gerações de profissionais, que têm sabido adaptar-se ao que a sociedade, nas diferentes conjunturas, espera dos farmacêuticos. Voltemos então à pergunta inicial – ainda vale a pena estudar Ciências Farmacêuticas? A resposta só pode ser sim. Poderá, neste momento, existir excesso de oferta formativa e o número de recém-graduados ser exagerado. Este problema terá certamente de ser resolvido. Mas ninguém põe em causa a necessidade de existirem farmacêuticos, nas suas diferentes vertentes profissionais. Não imagino o que seria a nossa sociedade sem profissionais de farmácia – as provas dadas são muitas e o reconhecimento demonstrado também. Por isso, vale mesmo a pena estudar Ciências Farmacêuticas. ????????? | Dia do Farmacêutico 19 “Farmacêuticos com Expressão Artística” EXPOSIÇÃO Caro(a) Colega, A Direcção da Secção Regional do Porto da Ordem dos Farmacêuticos, no âmbito das comemorações do Dia do Farmacêutico, promoveu a organização da exposição “Farmacêuticos com Expressão Artística”, cuja sessão de abertura decorreu no dia 20 de Setembro, pelas 18 horas. A exposição está patente ao público nas instalações da Secção Regional do Porto até ao dia 3 de Outubro. Horário: •Segunda,QuartaeSexta-9:00hàs18:00h •TerçaeQuinta-9:00hàs18:00hedas21:00hàs23:00h •Sábado(27/Setembro)-15:00hàs18:00h Obras dos Autores/Pintores em exposição: Ana Vasco, Fernanda Bahia, João Luís Santos, João Paulo Sena Carneiro, José Luís Barreira, Isabel Maria Freitas, Maria Palmira Martins, Paula Moreira Silva e Paulo Lobão. E ainda peças do espólio particular de: José Luis Marques Nicolau e Luis Pedro Marques Liberal Muito nos honraria a sua presença. Atenciosamente, A Direcção da Secção Regional do Porto da Ordem dos Farmacêuticos RuaAntónioCândido,154,4200-074Porto tel.:+351225073440|Fax.:+351225073449 Correioelectrónico:[email protected] ORDEM DOS FARMACÊUTICOS S E CÇ Ã O R E G ION A L D O P ORTO R. António de Cândido 154, 4200 Oporto, Portugal Dia do Farmacêutico 2012 Dia do Farmacêutico 2014 Perto de si. Promovendo a saúde