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Dia
Farmacêdo
utico
Este suplemento comercial faz parte integrante do Jornal de Notícias de 26 de setembro de 2014 e não pode ser vendido separadamente.
Entrevista
António
da Rocha
e Costa
Presidente da Seção
Regional Norte da Ordem
dos Farmacêuticos
Novo Edifício
Um espaço de
encontro e de
apoio a todos
os cidadãos
Opinião
Miguel
Guimarães
DIA dO
FarmACÊUTICO
Presidente do Conselho
Regional do Norte
da Ordem dos Médicos
O farmacêutico desempenha papel fulcral
na sociedade no que concerne à procura
da cura e à melhoria da qualidade de vida
da população
ENTREVISTA * OPINIÃO * PRÉMIOS * NOVO EDIFÍCIO
Dia do Farmacêutico 2014
2 Dia do Farmacêutico | ??????
Programa das Comemorações
20 e 26 de Setembro
PORTO
Perto de Si
Promovendo a Saúde
20 set-3 out Exposição “Farmacêuticos com Expressão Artística”
Secção Regional do Porto da Ordem dos Farmacêuticos
24 set 9.00 h Acção para os Estudantes “A importância do associativismo para o contexto profissional
e político da actividade farmacêutica”
Salão Nobre da Ordem dos Farmacêuticos, Lisboa
24 set 17.00 h Conferência Comemorativa do 2.º Aniversário do Centro de Documentação Farmacêutica da
Ordem dos Farmacêuticos
Centro de Documentação Farmacêutica da Ordem dos Farmacêuticos, Coimbra
25 set 15.00 h Visita do Bastonário da Ordem dos Farmacêuticos à Exposição “Ser São João - 55 anos”
Hospital de São João, Porto
26 set 9.00 h Simposium “O Farmacêutico no Sistema de Saúde”
Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto
26 set 15.00 h Visita do Bastonário da Ordem dos Farmacêuticos à Farmácia de Campanhã
Rua da Estação n.º 100, Campanhã, Porto
26 set 17.00 h Sessão Solene
Pousada do Porto, Palácio do Freixo
26 set 20.00 h Jantar de Encerramento
Pousada do Porto, Palácio do Freixo
Dia do Farmacêutico 3
editorial
Hoje, dia 26 de setembro é, no calendário litúrgico, o Dia de São Cosme e São
Damião que, segundo a tradição, e de uma
forma altruísta, dedicaram as suas vidas a
tratar e a curar pessoas. A dedicação aos
doentes assumida por estes irmãos constitui um exemplo para quem faz “da arte de
curar” objetivo de vida, e é merecedora de
reconhecimento. Mas hoje também, tendo
como padroeiros São Cosme e São Damião,
se comemora o dia de todos os farmacêuticos, o Dia do Farmacêutico.
Desde tempos imemoriais, a arte de
curar tem sido considerada como a maior
de todas as artes, um dom pertencente apenas a alguns eleitos, que passavam entre si
esses conhecimentos.
A arte de curar evoluiu ao longo dos
tempos, de um carácter mágico e por vezes empírico para uma nova “arte” de base
eminentemente científica. Esta evolução
acarretou naturalmente a separação entre práticas de cuidados de saúde, ainda
que intimamente correlacionadas, e de
profissionais distintos que seguiram o seu
caminho de forma individual.
Os saberes e os conhecimentos científicos constituem hoje as bases essenciais da
saúde e norteiam as competências de cada
uma das distintas profissões envolvidas.
A relação muito próxima entre o farmacêutico e a sociedade é já antiga e perdura ao longo dos séculos. Na realidade, faz
parte da essência do farmacêutico o cumprimento deste “pacto social” no sentido
de desempenhar uma função ativa como
prestador de serviços de qualidade visan-
do a prevenção da doença, mas também
o bem-estar do doente e contribuir para a
sua qualidade de vida.
O farmacêutico destaca-se não só pelas suas competências académicas e científicas, mas também pelo facto de ser um
profissional de saúde cuja proximidade
com o doente é amplamente reconhecida.
A sua integração nos distintos patamares
da rede de cuidados de saúde e em equipas
multidisciplinares é uma mais-valia significativa em termos de saúde pública e em
termos económicos.
Aliás, a importância da multidisciplinaridade, da partilha de saberes e da cooperação entre os distintos profissionais de
Saúde transformou-se numa exigência e
em sinónimo de boas práticas, em especial
desde as últimas décadas do século passado.
O doente passou definitivamente a ser o
centro fulcral da saúde e não os profissionais que nela estão envolvidos.
Uma vez mais, o exemplo da prática
conjunta de Cosme e Damião, “médico” e
“farmacêutico”, é paradigmático da cooperação em saúde.
Com esta publicação, a Secção Regional do Porto, da Ordem dos Farmacêuticos, mais não quer do que prestar a sua
homenagem e reconhecimento a todos os
farmacêuticos, que, com empenho, competência e abnegação cumpriram e cumprem
a sua função nos distintos locais e âmbitos
do exercício profissional.
Professor Franklim Marques
Presidente da Mesa da Assembleia Regional
Sumário
04 ntrevista
E
António da Rocha e Costa
06 História da Farmácia
07 rémios
P
Homenageados
08 I nfraestrutura
Novo edifício
10 pinião
O
Pedro Barata
11 Opinião
Carlos Raposo Simón
12 pinião
O
Bruno Sepodes
13 pinião
O
Fernando Fernandez-Limós
14 pinião
O
Maria Goreti Ferreira Sales
15 pinião
O
Henrique Reguengo
16 pinião
O
Miguel Guimarães
17 pinião
O
Aida Batista
18 pinião
O
José Manuel Sousa Lobo
FICHA TÉCNICA
Publicação da Unidade de Soluções Comerciais Multimédia da Controlinveste Media | Coordenação e Edição LARA LOUREIRO| Textos HÉLDER PEREIRA | Fotos
D.R.| Publicidade PAULO PEREIRA DA SILVA (diretor comercial imprensa), ANTÓNIO MAGALHÃES e JOSÉ PACHECO (gestores de conta)| Design e Coordenação de Arte sofia sousa|
Paginação PEDRO ARAÚJO (DQSP Norte)
4 Dia do Farmacêutico | Entrevista
um dia
de reflExão
Entrevista a António da Rocha e Costa,
presidente da Secção Regional do Porto
da Ordem dos Farmacêuticos
Fale-nos um pouco deste Dia do Farmacêutico.
O Dia do farmacêutico celebra-se este ano
no Norte, num contexto particularmente
difícil para a classe e para o País, pelo que,
mais do que um acontecimento festivo, será
sobretudo um dia de reflexão. Do programa, destacamos o Simpósio subordinado ao
tema “O Farmacêutico no Sistema de Saúde”,
que terá lugar no auditório da Faculdade
de Farmácia da Universidade do Porto e a
Sessão Solene que se realiza na Pousada do
Freixo no Porto. Para além dos convidados,
estarão presentes farmacêuticos de diferentes gerações e dos mais diversos setores da
atividade profissional, naquele que constitui, sem dúvida, o dia mais importante para
toda a classe.
O evento mais expressivo (Sessão Solene)
realiza-se hoje. Quais as atividades que
irão decorrer nesta sessão?
A Sessão Solene constituiu desde sempre o
momento mais simbólico das comemorações do Dia do Farmacêutico, sendo também
o culminar de um conjunto de atividades
que preenchem a agenda festiva.
A Sessão Solene, que terá a presença
do Senhor Secretário de Estado da Saúde,
inicia-se com uma conferência a cargo do
ilustre convidado Dr. António Lobo Xavier
e continuará com a entrega da Medalha de
Honra da Ordem dos Farmacêuticos e do
Prémio “Sociedade Farmacêutica Lusitana”,
respetivamente aos farmacêuticos que se
distinguiram na profissão e aos melhores
alunos do último ano letivo.
Serão ainda homenageados os farma-
Entrevista | Dia do Farmacêutico 5
O farmacêutico é
hoje reconhecido
pela Sociedade Civil
como um parceiro
privilegiado, em
quem os portugueses
podem confiar e com
quem podem contar
24 horas por dia, 365
dias por ano
cêuticos que completam 50 anos de profissão.
Qual o papel da Ordem dos Farmacêuticos na sociedade civil, ao longo destes 179
anos de existência?
A Ordem dos Farmacêuticos, que no passado
não tinha esta designação, completa efetivamente 179 anos de existência.
Ao longo destes quase dois séculos de
atividade, a Ordem, enquanto associação
pública que é, assumiu, através dos seus
associados, um papel mais ou menos interventivo na sociedade civil, sobretudo no
que diz respeito aos assuntos relacionados
com a saúde.
Isso faz com que o farmacêutico seja
hoje reconhecido pela Sociedade Civil como
um parceiro privilegiado, em quem os portugueses podem confiar e com quem podem
contar 24 horas por dia, 365 dias por ano.
É claro que, como se diz na gíria popular, as coisas não caem do céu e o grau
de reconhecimento alcançado resulta de
muitos anos de investimento no aperfeiçoamento contínuo do conhecimento e das
competências que permitem, no presente,
ao farmacêutico afirmar-se como um dos
intervenientes mais qualificados do sistema de saúde.
Infelizmente, as entidades públicas nem
sempre têm reconhecido esta evidência, o
que tem tornado o nosso percurso como
classe profissional numa luta constante
pela afirmação e pelo reconhecimento por
parte dos poderes instituídos, sendo que daí
resultarão maiores e melhores benefícios
para a população.
Que balanço faz destes dois anos de mandato à frente da Secção Regional do Porto
da Ordem dos Farmacêuticos?
À Direção da Secção Regional do Porto da
Ordem dos Farmacêuticos compete, em
articulação com a Direcção Nacional e restantes Direções Regionais, cumprir as de-
terminações estatutárias e definir a política
da Ordem. No entanto, existem especificidades regionais que fazem com que a Direcção da Secção Regional tenha um plano
de atividades próprio. Nos quase dois anos
de mandato que levamos à frente da Secção
Regional do Porto, conseguimos concreti-
ações de formação e as Jornadas Atlânticas,
em colaboração com os nossos colegas farmacêuticos da Galiza. As “Noites na Ordem”,
assim se designam os encontros de reflexão
abertos ao exterior, têm sido um êxito, graças à qualidade dos conferencistas e ao interesse dos participantes. O projetado edifício,
que irá completar as atuais instalações da
Secção Regional, tem sido uma das nossas
prioridades, estando para muito breve o
início das obras. O novo espaço vai permitir, no futuro, desenvolver em colaboração
com os outros parceiros, designadamente
as faculdades e empresas, um conjunto de
atividades que tenderão a valorizar o papel
do farmacêutico, e ajudá-lo a colocar as suas
competências e os seus conhecimentos ao
serviço da Sociedade Civil.
Em colaboração com a Direção Nacional, temos prestado particular atenção à
questão da empregabilidade, numa altura
em que já grassa o desemprego na classe
e pugnado, junto das entidades competentes, pela defesa dos padrões de qualidade
exigidos para a prestação de um exercício
profissional digno e eficaz, nos vários setores da atividade farmacêutica, sobretudo na
Farmácia Comunitária e Análises Clinicas,
que ocupam a maioria farmacêuticos.
Outras atividades têm sido desenvolvidas, mas por se tratar de atividades de rotina
zar um conjunto de atividades de carácter
Técnico – Científico, designadamente várias
e constituírem um extenso rol, abstemo-nos
de as enumerar.
A Sessão Solene, que terá
a presença do senhor
secretário de Estado da
Saúde, inicia-se com uma
conferência a cargo do
ilustre convidado Dr.
António Lobo Xavier
6 Dia do Farmacêutico | História
Farmácia
em Portugal
Inicialmente os farmacêuticos eram designados
por boticários, ou seja, aqueles que trabalhavam
em boticas. Sabe-se da existência de boticários
em Portugal desde o século XII
O
primeiro diploma referente à
profissão farmacêutica que se
conhece em Portugal data de
1338. Refletindo a importância do papel do
boticário, Tomé Pires (c. 1465-1540), boticário
de D. Manuel I, foi enviado para a Índia em
1511 como Feitor das Drogas em Cananor.
O Colóquio dos simples e drogas e coisas
medicinais da Índia (Goa, 1563), do médico
Garcia de Orta (1501-1568), foi a primeira
descrição rigorosa feita in loco por um europeu das caraterísticas botânicas, origem
e propriedades terapêuticas de muitas
plantas medicinais que, apesar de conhecidas anteriormente na Europa, o eram
de maneira errada ou muito incompleta.
O contributo dos portugueses para o conhe-
Colóquio dos simples
e drogas e coisas
medicinais da Índia (Goa,
1563), do médico Garcia
de Orta (1501-1568),
foi a primeira descrição
rigorosa feita in loco
por um europeu das
caraterísticas botânicas,
origem e propriedades
de muitas plantas
medicinais
cimento da matéria médica africana e brasileira ficou muito aquém do nível observado
no Oriente.
A matéria médica do Atlântico meridional despertou inicialmente pouco
interesse entre os autores médicos portugueses, devendo-se a maior parte dos
contributos para o seu conhecimento a colonos, missionários, militares e viajantes.
A primeira tentativa de levar a cabo um estudo
organizado e sistemático da história natural ultramarina teve lugar nas duas últimas décadas
do século XVIII, através de um conjunto de expedições científicas ao Brasil e África, levadas
a cabo por naturalistas formados em Coimbra,
onde se destaca a viagem de Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815) no Brasil.
Indústria farmacêutica Portuguesa
A
indústria farmacêutica começou a desenvolverse em Portugal na última década do século XIX.
O primeiro investimento importante foi a Companhia Portuguesa Higiene, uma sociedade anónima fundada em 1891 com um capital muito apreciável para a época.
A Companhia introduziu em Portugal o fabrico de grânulos dosimétricos e iniciou, por volta de 1893, o fabrico de comprimidos.
Apesar da renovação técnica representada, em termos locais, pela
sua atividade, a Companhia Higiene baseou-se exclusivamente no
desenvolvimento de similares da indústria estrangeira. Numa
época de profundas transformações nas ciências biomédicas, a
indústria portuguesa mais desenvolvida manifestou um grande
alheamento em relação às aplicações farmacêuticas da Biologia.
Embora a reforma do ensino farmacêutico de 1902 tivesse constituído um avanço significativo em relação à situação anterior, as matérias ministradas no novo plano de estudos continuavam longe de
estar a par com os contributos científicos de finais do século passado,
com uma reduzida componente curricular no campo da Biologia.
A produção de vacinas e de antitoxinas foi de início deixada inteiramente na mão de setores alheios à produção de medicamentos. A primeira firma farmacêutica cuja expansão se começou a
desenhar no sentido das aplicações da Biologia foi a Farmácia
Freire de Andrade, a cujos laboratórios se deve o início, em 1894,
da preparação em Portugal de injectáveis em ampolas de vidro.
A pauta aduaneira de 1892 criou condições para a proliferação de laboratórios de especialidades farmacêuticas,
de forma que a Grande Guerra veio encontrar uma indústria farmacêutica suficientemente equipada para responder à falta de abastecimento em produtos medicinais.
A guerra obrigou a um esforço complementar de produção, com
o aparecimento de novas indústrias subsidiárias e de novos laboratórios. O período do pós-guerra surgiu como um dos mais promissores para a indústria farmacêutica portuguesa, dominando
um ambiente de otimismo, que esfriou com a diminuição da
proteção às especialidades nacionais pela nova pauta aduaneira
de 1923.
Prémios | Dia do Farmacêutico 7
Quadro de Honra
Farmacêuticos com 50 anos de profissão
HOMENAGEADOS
• COIMBRA – MARIA LEONOR HORTA PINTO
• COIMBRA – MARIA ODETE DOS SANTOS ISABEL
• LISBOA – ADRIANA MARIA PEREIRA GONÇALVES
JARDIM DE FREITAS
• LISBOA – CELSO LOURENÇO FERREIRA CRISTINA
AFONSO
• LISBOA – EDNA ADELAIDE RAMOS DE OLIVEIRA
PINTO
• LISBOA – FERNANDO DA COSTA LOBO DA SILVA
• LISBOA – MADALENA DE BRITO NASCIMENTO
EUSÉBIO
• LISBOA – MARIA ALICE DOS SANTOS DIAS PEREIRA
• LISBOA – MARIA CÂNDIDA RODRIGUES RATO DOS
SANTOS VICENTE
• LISBOA – MARIA DE LOURDES CARQUEIJEIRO NETO
JORGE CARAMELO
• LISBOA – MARIA GABRIELA PIRES DE MORAIS
SARMENTO
• LISBOA – M
ARIA JOSÉ BARBOSA REIS PINTO LOPES
• LISBOA – MARIA JÚDICE DIAS
• LISBOA – MARIA LUÍSA DE OLIVEIRA SANTOS HORTA
•L
ISBOA – MARIA TERESA GOMES DA GAMA MORAIS
• LISBOA – NOÉMIA AUGUSTA DA SILVA COELHO
NOBRE
•L
ISBOA – MANUELA BARBOSA
• PORTO – LÍDIA ANGELINA PINTO DE ARAÚJO
PIMENTA
• PORTO – M
ARIA AURÉLIA CATARINO DE ARAÚJO
• PORTO – MARIA DE LOURDES ALBUQUERQUE CLARO
LOPES CARDOSO
• PORTO – MARIA DE LURDES ESTEVES SARMENTO
CALVÃO
• PORTO – MARIA LUÍSA RAMOS DE ARAÚJO JORGE
PAIS CABRAL
• PORTO – MARIA TERESA LOPES RODRIGUES LIMAS
ALMEIDA E SILVA
Medalha de honra
da Ordem dos Farmacêuticos
> JOSÉ LUÍS BELBUDO SINTRA
> FACULDADE DE FARMÁCIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO - Na pessoa do seu
Diretor Prof. Doutor José Luís Costa Lima
Melhores Alunos
Prémio Sociedade Farmacêutica Lusitana
> GONÇALO FILIPE RELVAS CAMPOS - Faculdade de Ciências da Saúde da Beira
Interior
> MARIANA DIAS MONTEIRO - Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra
> ana margarida cartaxo pinheiro - Faculdade de Ciências e Tecnologia
da Universidade Lusófona
> joão pedro teixeira aguiar - Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas
Moniz
> LÍDIA MAFALDA LOPES FRANCO - Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa
> luís miguel martins rico - Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade
do Algarve
> Irene Leonor Moutinho dias - Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto
> liliana patrícia de sousa martins - Faculdade de Ciências da Saúde
da Universidade Fernando Pessoa
> luísa alexandra teixeira santos - Faculdade de Farmácia da Universidade
do Porto
> mafalda rodrigues marques tavares - Instituto Superior da Saúde – Norte
8 Dia do Farmacêutico | Infraestrutura
Novo edifício da Secção Regional do Porto
da Ordem dos Farmacêuticos
Farmacêuticos
e cidade
merecem-no
A
o abrigo de um protocolo celebrado em agosto de 2005, o
Município do Porto cedeu à
Secção Regional do Porto da Ordem dos
Farmacêuticos (OF) um terreno apto para
construção, contíguo ao atual edifício-sede, sita na Rua António Cândido.
Este protocolo sustinha como contrapartida obrigatória a construção
pela Secção Regional do Porto da OF,
num prazo de cinco anos após a celebração da respetiva escritura de um
novo edifício, que visava complementar
funcionalmente o atual, dotando assim
a Secção Regional do Porto de um instrumento privilegiado de apoio administrativo aos seus membros e também
à comunidade em geral.
Foram colocadas a consulta pública
propostas de projetos de arquitetura,
tendo sido escolhido pelos membros da
SRP o projeto apresentado pela firma
Arquitectos Bragança e Marques, Lda.,
o qual foi abalizado, sob o ponto de
vista técnico, pela Comissão de Obras,
pela Direção e pela Assembleia Geral
Novo edifício
da OE constitui
um instrumento
privilegiado de apoio
administrativo aos
seus membros
e também à
comunidade em geral
OF
Novo Edifício
O edifício apresenta uma configuração poligonal
irregular, assumindo-se como um “bloco branco”
de cariz minimalista, do qual sobressai uma “caixa
de vidro”. O rés-do-chão será constituído por um
“grande foyer”, espaço amplo, interpretado como
um espaço multiusos, personalizável e versátil;
no 1.º andar desenvolvem-se salas para formação
e espaços de apoio e desenvolvimento à prática
profissional; o último andar será constituído por um
grande auditório, espaço de grande envergadura
que beneficia de enquadramentos visuais de
excelência, um espaço a partilhar com a cidade.
da SRP da Ordem dos Farmacêuticos.
Após concluídos os trâmites necessários
para a obtenção do licenciamento para
o processo de construção, os projetos de
arquitetura e das especialidades foram
aprovados pela CMP, ficando a SRP em
condições de proceder à execução da
empreitada.
Este edifício é parte integrante de
um programa de investimento com a
finalidade de implementar um sistema
de gestão de conhecimento no domínio
das Ciências Farmacêuticas.
O elevado número de membros
e a sua dispersão geográfica associado a uma evolução e à inovação
na área das ciências farmacêuticas
torna inadiável a reformulação do
atual sistema de gestão cujo propósito é melhorar a eficiência coletiva
dos profissionais das ciências far-
Infraestrutura | Dia do Farmacêutico 9
Foram colocadas
a consulta pública
propostas de projetos
de arquitetura, tendo
sido escolhido pelos
membros da SRP o
projeto apresentado
pela firma Arquitectos
Bragança e Marques,
Lda., o qual foi abalizado,
sob o ponto de vista
técnico, pela Comissão
de Obras, pela Direção
e pela Assembleia Geral
da SRP da Ordem dos
Farmacêuticos
macêuticas, também de todos quantos
são objeto da sua área de intervenção.
Neste sentido, para além da dotação de
infraestrutura tecnológica adequada à
instalação de um repositório organizado
do conhecimento que permitirá o just in
time da informação, este novo espaço
possibilitará ainda o exercício de atividades próprias de um centro de estudos e
investigação das Ciências Farmacêuticas
em colaboração com instituições universitárias, podendo, simultaneamente, estar
apto a acolher, em fase de gestação, microempresas vocacionadas para a prestação de serviços e apoio a atividades
associadas à indústria, à industria farmacêutica, às análises clínicas e à farmácia
comunitária, entre outras.
Este projeto engloba igualmente o Centro de Interpretação das Ciências Farmacêuticas, um espaço de acesso universal
com funções museológicas, aberto a todos
quantos estejam interessados em conhecer
ou melhor compreender o percurso e a
essência destas Ciências.
Pretende-se, enfim, que este edifício
possa constituir-se como um cluster para
a dinamização, interpretação e desenvolvimento das ciências farmacêuticas. As
características físicas do edifício, onde a
transparência é a sua marca mais significativa, constituem uma manifestação
clara da relação de proximidade que a
Ordem dos Farmacêuticos da SRP pretende imprimir a toda a sociedade, e em
particular à Cidade e à comunidade onde
está inserida.
Pretende-se que o edifício constitua,
assim, um espaço de encontro e de apoio
a todos os cidadãos, empresas ou coletividades que de alguma maneira necessitem,
comunguem ou compartilhem os nossos
saberes e conhecimentos, numa associação biunívoca de interesses que certamente serão altamente frutuosos.
10 Dia do Farmacêutico | Opinião
Tal como hoje,
no passado…
R
Pedro Barata
Membro da Direção da Secção Regional do Porto
Os Descobrimentos são
frequentemente considerados como a
Época de Ouro de Portugal.
O “dar novos mundos ao mundo” foi
bem mais do que um estabelecer de novas rotas comerciais e descobrir novos
territórios. Foi também o apresentar e ser
apresentado a novas culturas e a novos
produtos, nomeadamente produtos com
atividade farmacológica.
Não é pois de surpreender que vários
estudiosos que atualmente se poderiam
considerar farmacêuticos se tenham
dedicado ao estudo e à aplicação desses
produtos.
De todos os nomes envolvidos permito-me destacar Tomé Pires, Garcia de
Orta, Cristóvão da Costa e Amato Lusitano. Imortalizados em estátuas e dando
nome a diferentes instituições de saúde,
ainda hoje é recordada a sua contribuição para o desenvolvimento das Ciências
Farmacêuticas.
Tomé Pires foi boticário do príncipe
D. Afonso, sendo proveniente de uma
família de boticários. Nascido em 1468,
partiu para Índia na armada de D. Garcia de Noronha na qualidade de feitor de
drogarias. Aí escreveu a Suma Oriental
onde descreveu a origem, características
e usos de grande numero de drogas locais,
como o aloé, o incenso e a mirra. A sua
obra abriu caminho para os trabalhos de
outros que se lhe seguiram no ramo da
botânica e da galénica.
Partiu depois, em qualidade semelhante, para a China, onde a desventura
acompanhou a embaixada de que fazia
parte.
Garcia de Orta, um cristão novo
nascido no Alentejo, estudou medicina
em Salamanca e Alcalá de Henares, na
Espanha, onde tomou contacto com o
ensino, então inovador, da botânica. Em
1534 partiu para Goa como médico do
Capitão-mor Martim Afonso de Sousa,
escapando da perseguição aos judeus
mas também seguindo o seu desejo de
conhecer drogas medicinais e mezinhas
do oriente, bem como o modo como os
médicos locais as utilizavam.
Em Goa tinha o seu próprio jardim
botânico e uma impressionante biblioteca para tais tempos. O seu livro “Colóquio dos simples e drogas e cousas medicinais da Índia” é o resultado de 30 anos
de observação atenta, experimentação
e cuidados e análises, destacando-se a
sua preocupação em fundamentar o conhecimento numa base de observação
Apresentar e ser
apresentado a
novas culturas e a
novos produtos,
nomeadamente
produtos com atividade
farmacológica
e experimentação, num dos primeiros
grandes exemplos de aplicação do método científico à Farmácia.
Cristóvão da Costa foi igualmente físico e foi igualmente destacado para servir
na Índia nessa qualidade.
Aí encontrou os colóquios de Garcia
de Orta, que estudou atentamente e tomou
como ponto de partida para o seu trabalho
que culminou na publicação do “Tractado
de las drogas y medicinas de las Indias
Orientales”. Apresenta, para além de comentários sobre a obra de Garcia de Orta,
uma descrição mais detalhada das plantas
asiáticas de uso médico mais relevante,
como a canela, a noz-moscada, o gengibre e tamarindo. Quer a sua obra, quer a
de Garcia de Orta foram traduzidas para
outras línguas e amplamente difundidas
na comunidade científica europeia.
João Rodrigues, mais conhecido como
Amato Lusitano, foi uma das personalidades científicas mais impressionantes
que Portugal já gerou.
Igualmente de origem cristão-novo,
iria durante toda a sua vida sofrer a perseguição religiosa e a intolerância da inquisição. Durante a sua juventude aprendeu
e auxiliou o boticário local, nomeadamente na preparação da teriaga, o preparado à
base de carne de víbora que servia como
antídoto quase universal. Exerceu na
Flandres, escapando à Inquisição Portuguesa, e depois na Itália, nomeadamente
em Ferrara, onde chegou a tratar o Papa
Júlio III. Buscando a sua liberdade religiosa, foi mudando de cidade em cidade,
acabando por morrer em Salónica, na
Macedónia, vitimado pela peste.
As suas obras, o “Index Dioscoridis”
e as suas centúrias foram amplamente
estudadas e foram alvo de duras críticas
e cerrado debate científico.
A sua qualidade é no entanto inequívoca. Em particular no seu Index, identifica
e adita espécies, proveniências, propriedades e métodos de cultivo e preparação,
bem como aplicações de diferentes produtos farmacêuticos. Já as centúrias são
conjuntos de 100 casos clínicos em que
frequentemente, para além da descrição
do caso clínico, apresentam o formulário
correspondente à respetiva medicação.
Foi assim, assente nos ombros destes
gigantes, que outros, como por exemplo o
Frei João Maria, com a sua Farmacopeia
Dogmática, continuaram este trabalho de
encontrar e caracterizar novas respostas
terapêuticas para a sociedade em que se
inseriam.
Opinião | Dia do Farmacêutico 11
Sinergia
entre instituições
farmacêuticas
R
Carlos Raposo Simón
Professor associado de Farmacologia da Universidade
de Farmácia Complutense de Madrid
Nos últimos anos, estamos a verificar uma
transformação do sistema de saúde europeu.
Demonstrou-se a necesidade de adaptar a estrutura às
mudanças que têm afetado a população, no atual contexto
económico.
Os cidadãos do século XXI necessitam de profissionais
de saúde que entendam as necesidades de uma sociedade
global em constante mudança. Onde o grande protagonista
tem de ser o paciente.
Sem lugar a dúvidas, os farmacêuticos devem adicionarse a este proceso de renovação do sistema de saúde, para
que este seja efetuado da forma mais segura e eficaz.
É indiscutível que a farmácia e o rol farmacêutico têm
evoluido e, neste momento, continuem
a ser prioridade nas iniciativas que relacionam o trabalho de saúde com o
paciente.
Neste contexto, temos de perceber
os farmacêuticos como os profissionais
de saúde mais próximos da população,
conscientes das novas solicitudes sociais e da situação económica em que
vivemos, que atuam com o fim de cobrir adequadamente as necesidades
dos pacientes.
Com o objetivo de projetar uns serviços farmacêuticos
eficientes no sistema de saúde, de modo a que sejam eficazes para a sociedade, devemos centrar-nos na atenção
e tratamento da saúde dos cidadãos.
Para obter este objetivo, é indispensável a cooperação pluridisciplinar entre os profisionais de saúde, onde
médicos, farmacêuticos e enfermeiros colaborem entre
si, com o intuito de obter os melhores resultados em benefício do paciente.
Para trás ficam os tempos em que o paciente era um
sujeito passivo, que recebia tratamentos e atenções dos
profissionais de saúde, com pouca ou nenhuma responsabilidade influência nas decisões sobre a sua própria saúde.
Conscientes da importância das sinergias interprofissionais e intraprofissionais, as instituições académicas,
docentes e corporações profissionais de farmácia devem
incorporar nos seus objetivos prioritários a realização
de esforços que potenciem aspetos tão relevantes como a
formação, intercâmbio de conhecimentos e experiências,
assim como colaboração mútua para partilhar experiências e estabelecer vínculos de união, orientados em
uníssono para o paciente.
É neste sentido, e aproveitando a magnífica sintonia entre os países iberoamericanos, que no ano 2012, efetuámos
um acordo de colaboração internacional no qual participaram a Ordem dos Farmacêuticos do Porto, Faculdade de
Farmácia da Universidade do Porto, Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra, Faculdade de Farmácia
da Universidade Complutense de Madrid, a Universidade
Rey Juan Carlos de Madrid, Academia Iberoamericana de
Farmácia e a Faculdade de Farmácia da
Universidade de São Paulo.
Fruto destes acordos e com o comando ativo da Ordem dos Farmacêuticos do
Porto, desenvolveu-se o I Curso de Cuidados Farmacêuticos, no qual participaram
professores das instituições mencionadas e que serviu como intercâmbio de
conhecimentos e experiências.
O intercâmbio de estudantes e
professores, o impulso da atenção farmacêutica, a prevenção da doença e a
educação na saúde, são alguns exemplos da quantidade
vasta de tarefas que se podem e devem relacionar numa
perspetiva internacional e intraprofissional.
Vivemos num contexto de crise, impensável há uns
anos atrás. A depressão económica afeta os cidadãos. As
finanças públicas de medicamentos e produtos de saúde
parecem ter tocado no fundo e afetam indústria, distribuição e farmácias.
Com este panorama, é tempo de inovar, propor e arriscar. É tempo de reflexão corajosa e compromisso.
Para tal, as intituições académicas e corporativas têm
o dever de estender pontos comuns com outras latitudes,
sem pensar nas distâncias geográficas ou diferenças de
idiomas.
O caminho está traçado, agora, é tempo de percorrêlo com convicção e confiança para fazer da profissão de
farmêutico uma profissão forte.
É indispensável
a cooperação
pluridisciplinar
entre os profissionais
de saúde
12 Dia do Farmacêutico | Opinião
Um papel para
o farmacêutico
R
Bruno Sepodes
Presidente do Comité de Medicamentos Órfãos (COMP)
da Agência Europeia do Medicamento (EMA)
Uma parte da população (felizmente cada vez
menor) ainda acha que o farmacêutico “apenas” existe, enquanto profissional, na Farmácia. A verdade que o “Ato Farmacêutico” espelha é bem diferente e reflete uma realidade
profissional diversificada para estes profissionais. Há um
número significativo de farmacêuticos com funções de relevo
na regulação e avaliação de medicamentos, por exemplo, na
Agência Europeia do Medicamento, sediada em Londres.
A principal função da Agência Europeia do Medicamento
(EMA) é a proteção e a promoção da saúde pública e animal
através da avaliação e supervisão dos medicamentos para
uso humano e veterinário. É dirigida por um Conselho de Administração independente, cujos membros são nomeados de
forma a executarem as suas tarefas em prol da saúde pública.
Não representam nenhum governo, organização ou qualquer
setor de atividade específico. Conta também com um diretor
executivo e um secretariado com mais de 500 colaboradores
que coordena as atividades da Agência.
Há farmacêuticos de diferentes nacionalidades em praticamente todas as funções científicas da EMA e associados
aos trabalhos dos diferentes comités que
fazem parte da atividade diária desta instituição. Assumem papéis de destaque na
gestão de processos e aprovação de autorização de introdução de medicamentos
pelo procedimento centralizado, mas
também no apoio e coordenação científica dos diversos grupos de trabalho que
funcionam em simultâneo com os grandes comités científicos da EMA. As suas
funções estão longe de ser meramente
administrativas, distribuindo-se por diversas vertentes de
influência científica, desde a avaliação da qualidade às discussões pré-clínicas e clínicas, para além da participação
ativa nos processos de vigilância pós-comercialização e na
ligação às associações de doentes.
Atualmente a representação dos farmacêuticos portugueses na EMA é bastante significativa, sendo de salientar
que quer o membro quer o membro alternativo no Comité
dos Medicamentos de Uso Humano (CHMP) são ambos farmacêuticos. O CHMP é o comité científico responsável por
emitir todas as opiniões sobre toda e qualquer questão relacionada com medicamentos de uso humano, sendo os seus
membros nomeados pelos diferentes estados-membros da
União Europeia, sendo ouvido o Conselho de Administração
da EMA. De destacar também que a representação portuguesa
no Comité de Farmacovigilância e Avaliação do Risco (PRAC)
está a cargo de uma farmacêutica. O PRAC avalia e monitoriza
os aspetos relacionados com a utilização de medicamentos
para uso humano, sendo a nomeação dos membros feita da
mesma forma que para o CHMP. Em 2012, pela primeira vez
na EMA, um comité científico passou a ter como presidente
um farmacêutico. Atualmente o Comité dos Medicamentos
Órfãos (COMP) é presidido por um farmacêutico português
eleito por maioria superior a 2/3 dos membros que constituem
este comité (na altura o único não-médico do Comité). O COMP
é o comité responsável pelas opiniões relacionadas com medicamentos órfãos (destinados ao tratamento
de doenças raras) e com a recomendação
à Comissão Europeia para a atribuição de
incentivos para o seu desenvolvimento,
para além de atuar como facilitador da
ligação da Comissão Europeia às outras
áreas regulamentares de relevo no campo das doenças raras (EUA, Japão, Canadá
e Austrália).
Pelo exposto, é fácil depreender que a
EMA se transforma num fórum ideal para
o aprofundamento de conhecimentos científicos e da prática clínica atual, para a discussão interpares e para colocar
em prática os amplos conhecimentos que os farmacêuticos
têm enquanto especialistas do medicamento, permitindo
que a sua presença seja considerada imprescindível para o
funcionamento deste sistema europeu do medicamento, e
que a sua participação permita um visível enriquecimento
das decisões que saem desta instituição europeia. No que
aos farmacêuticos portugueses respeita, é inegável o apoio
e confiança depositada pelo Estado Português, através do
Conselho Diretivo do INFARMED I.P., na sua nomeação para
o desempenho destas funções cuja responsabilidade e expressão europeia e nacional são inegáveis.
Atualmente a
representação
dos farmacêuticos
portugueses na EMA
é bastante significativa
Opinião | Dia do Farmacêutico 13
Profissional
da saúde
R
Fernando Fernandez-Limós
Membro da Direção da European Society of Clinical Pharmacy
Habitualmente quando pensamos em farmácias
comunitárias (vulgarmente designadas ‘farmácia de rua’) a
ideia que nos ocorre é a de um local onde podemos adquirir
medicamentos. No máximo, as pessoas reconhecem um papel
importante de aconselhamento por parte do farmacêutico
juntamente com a cedência de medicamentos. Este aconselhamento é uma atividade que tradicionalmente se realiza
nas farmácias portuguesas e que visa que os utilizadores de
medicamentos conheçam as condições ideais em que estes
devem ser utilizados. Apesar de os medicamentos serem cada
vez mais avançados, a sua utilização acarreta também alguns
riscos. Vulgarmente pensa-se em riscos relacionados com os
efeitos adversos associados aos medicamentos, não considerando tão relevantes as situações em que os medicamentos
não chegam a atingir o efeito desejado.
O farmacêutico não se dedica apenas a estudar o medicamento enquanto substância ativa. Desde há já bastantes anos,
existe uma corrente de atuação dentro da área de Farmácia
na qual o farmacêutico adquire um papel nos cuidados de
saúde do doente, co-responsabilizando-se não apenas pelo
uso correto dos medicamentos, mas também pelos resultados
obtidos em virtude da sua utilização. No nosso país, estes
cuidados de saúde fornecidos pelos farmacêuticos associados
à utilização de medicamentos foram designados: ‘cuidados
farmacêuticos’. Por cuidados farmacêuticos entende-se um
conjunto de serviços que podem ser fornecidos por farmacêuticos nos mais variados contextos assistenciais como: hospitais,
farmácias comunitárias, centros de saúde ou lares de idosos.
A implementação e impacto destes serviços farmacêuticos
têm vindo a ser amplamente estudados em países como, por
exemplo, os Estados Unidos, a Austrália, o Reino Unido ou a
Suíça. Ainda que sejam serviços que possam ser vocacionados
a vários tipos de doentes, estes têm-se centrado principalmente
em portadores de doenças crónicas, especificamente doentes
com diabetes, hipertensão arterial ou asma. Em todas estas
doenças, muitos estudos demonstraram que a contribuição
do farmacêutico, em conjunto com a restante equipa de saúde, resultou na melhoria dos sinais e sintomas associados a
estas doenças.
Em Portugal, as Universidades de Lisboa e Coimbra têm
trabalhado conjuntamente desde há vários anos no sentido de
adaptar todo o conhecimento que veio do estrangeiro à realidade sociocultural e assistencial do nosso país. Este é um claro
exemplo de que duas instituições públicas do Ensino Superior
decidem unir esforços no sentido de promover a melhoria
dos cuidados de saúde dos doentes com um objetivo comum e
deixando de lado quaisquer interesses individuais de cada uma
das partes. Juntas puderam demonstrar que serviços como o
acompanhamento farmacoterapêutico realizado por um farmacêutico em parceria com o médico de família em doentes
com diabetes melhoraram significativamente a hemoglobina
glicada, parâmetro que reflete o grau de controlo da doença.
Um outro estudo realizado conjuntamente demonstrou que
o fornecimento de um outro serviço designado “revisão da
medicação” por um farmacêutico diminuía significativamente
o risco cardiovascular de um grupo de doentes.
Estamos, portanto, na altura de implementar de forma
generalizada estes serviços farmacêuticos por todo o país.
Contudo, não se afigura uma tarefa fácil porque não se trata
apenas de demonstrar a utilidade e impacto destes serviços,
mas também de ter em linha de conta diversos fatores que
podem condicionar o sucesso deste processo. A ciência da
implementação dedica-se precisamente ao estudo do processo
necessário para implementar na prática ideias que na teoria
demonstraram algum interesse. Como um exemplo claro da
falha de um processo de implementação, podemos recordar
o caso em que o vídeo em formato VHS ultrapassou o formato
beta, chegando mesmo a eliminá-lo do mercado, quando os
próprios profissionais reconheciam a superioridade em termos de qualidade do último. É necessário que aprendamos
com este tipo de insucessos para que a implementação de
novos serviços não fique prejudicada por uma falha de habilidades na sua divulgação. Um ponto muito importante neste
processo de implementação passa pela demanda maioritária
destes serviços por parte de doentes que poderiam beneficiar
deles. O primeiro passo para esta demanda seria a divulgação
de informação por parte de entidades como a Ordem dos
Farmacêuticos e as associações profissionais. Uma vez que
o utente conheça o que o farmacêutico pode fazer pela sua
saúde, estará nas suas mãos escolher o melhor profissional
que cubra as suas necessidades de saúde. Isto levaria a que
os utentes usassem como critério de escolha da sua farmácia
a qualidade e a quantidade de serviços que esta tem para
oferecer e não somente o fator proximidade do domicílio.
Por fim, os próprios farmacêuticos devem converter-se em
profissionais que ajudem os doentes a melhorar o seu estado de
saúde, contribuindo simultaneamente para gerar poupanças
associadas aos cuidados de saúde no nosso país.
14 Dia do Farmacêutico | Opinião
Diagnóstico
laboratorial.
Novos dispositivos
R
Maria Goreti Ferreira Sales
Professora Adjunta
BIOMARK, Sensor Research
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Com uma licenciatura em Ciências Far-
macêuticas (1995) e um doutoramento em Química Analítica
(2000), ambos pela Faculdade de Farmácia da Universidade do
Porto (FFUP), associados a vários anos de docência no domínio
da Engenharia Química (no Instituto Superior de Engenharia
do Porto, ISEP) e a um enorme gosto pela Ciência e pela Investigação, encontro-me agora a desenvolver novos dispositivos
que poderão auxiliar o diagnóstico médico ou o rastreio do
cancro, de modo autónomo do ponto de vista energético. Esta
atividade conta com o suporte financeiro de uma bolsa Starting Grant da European Research Council (ERC), no valor de
1 milhão de euros, de acrónimo 3Ps e subordinada ao tema
Plastic-Antibodies, Plasmonics and Photovoltaic-Cells: on-site
screening of cancer biomarkers made possible.
O dimensionamento destes dispositivos autónomos corresponde ao ponto de encontro entre várias áreas do conhecimento e no qual ninguém tinha reparado antes... Se misturarmos a
química orgânica, a bioquímica, a biologia, a nanotecnologia e
a física chegamos aos (1) biossensores, aos (2) materiais biomiméticos e (3) às células fotovoltaicas. E se voltarmos a misturar
estes três pontos de chegada na mistura original, chegamos ao
ponto de partida da bolsa da ERC: o dispositivo autónomo 3Ps.
Este dispositivo recorre a um biossensor que usa em anticorpos
plásticos como material biomimético e que é arquitetado numa
célula fotovoltaica (com partículas chamadas plasmonics), de
modo a usufruir de plena autonomia elétrica. Materializando
a ideia do dispositivo 3Ps num exemplo bem conhecido, seria
como usar o dispositivo de monitorização da glucose para
diabéticos sem recorrer à “caixa” de medida do sinal.
O dispositivo 3Ps apresenta enormes potencialidades no
contexto clínico. A sua construção é simples e de baixo custo
e a leitura do sinal é equipment-free e pode ser realizada em
point-of-care. Não houve, por isso, dúvida quanto a testar este
novo conceito no contexto da doença cancerígena, um tema
de enorme interesse social... Os compostos-alvo do dispositivo
3Ps são, por isso, biomarcadores do cancro, biomoléculas que
circulam pelo organismo e que permitem inferir sobre o estágio da doença ou sobre a sua evolução face ao tratamento. O
biomarcador do cancro mais conhecido na atualidade será possivelmente o PSA (Prostate Specific Antigen). Considerando que
a eficácia do PSA enquanto biomarcador isolado no diagnóstico
precoce do cancro da próstata é cada vez mais controversa,
torna-se desejável recorrer a um painel de biomarcadores,
gerando assim informação clínica mais rigorosa. Enquanto
a ciência avança rumo à composição inequívoca do painel de
biomarcadores para cada doença cancerígena, o dispositivo
3Ps é aplicado aos biomarcadores patentes na literatura para
os cancros da mama, do colo do útero e do colo-retal...
Do ponto de vista prático, a bolsa da ERC permitiu já a
construção de sensores com materiais biomiméticos (imagem
1) para os biomarcadores CEA (carcinoembryonic antigen,
associado ao cancro do colo-retal), CA15-3 (cancer antigen 15-3,
associado ao cancro da mama) e Carnitina (potencial biomarcador do cancro do útero/ovário), recorrendo a elétrodos de
vários formatos. Foram também desenvolvidos com sucesso dois dispositivos 2Ps, um por fusão de célula fotovoltaica
com Plasmonics e outro por fusão do material biomimético
com a célula fotovoltaica. Este último dispositivo foi testado
na determinação de CEA em amostras biológicas reais dopadas, tendo-se obtido uma resposta sensível e seletiva para
níveis de concentração com interesse clínico. Presentemente,
desenvolvem-se dispositivos 2Ps (material biomimético em
célula fotovoltaica) análogos para os demais biomarcadores
e associam-se os plasmonics do dispositivo 3Ps.
A concretização da ideia patente na bolsa da ERC (Grant
Agreement 311086) requer ainda a extensão do conceito a 5
biomarcadores por doença cancerígena... Há por isso muito trabalho pela frente, mas muito mais ânimo para o concretizar!
imagem 1
Opinião | Dia do Farmacêutico 15
Sindicatos na
sociedade atual
R
Henrique Reguengo
Presidente do Sindicato Nacional dos Farmacêuticos
No contexto social
em que vivemos somos
confrontados com questões para as quais, mais do que respostas, temos dúvidas.
Neste caso concreto, essas dúvidas recaem não sobre
utilidade ou inutilidade de uma estrutura sindical no âmbito da profissão farmacêutica, já que a realidade das relações laborais não nos deixa grande margem para dúvidas,
mas sim e inevitavelmente, no âmbito da reflexão sobre
as formas de atuação que hoje, numa sociedade moderna,
uma instituição deste tipo pode e deve ter, de modo a ser
eficaz.
As grandes questões que hoje se nos colocam são:
– Como ser eficaz na defesa dos interesses dos farmacêuticos?
– Como compatibilizar essa defesa dos interesses individuais com a viabilização das pequenas e médias
empresas que são o grosso da oferta de emprego dos
nossos colegas?
– Como valorizar, defender e sobretudo tornar claro
à sociedade o valor da atuação do farmacêutico na
defesa e promoção da Saúde?
– Como defender e fazer compreender o âmbito e especificidade do ato farmacêutico, numa realidade evolutiva rapidíssima das competências das diferentes
profissões da Saúde?
– Como ter força política para defender os interesses
de uma profissão, quando ela própria parece ter-se
desinteressado e afastado do meio político (muito
poucos são os farmacêuticos politicamente ativos) e
com essa atitude dificultou enormemente, não tanto
o acesso, mas certamente a influência que hoje temos
nos centros de decisão política nacionais?
– Como conseguir fazer ouvir posições dos farmacêuticos
num SNS onde em números percentuais representam
menos de 1% no conjunto dos seus profissionais de
saúde?
– Finalmente, como compatibilizar a necessidade de
viabilização financeira dos centros de formação de
farmacêuticos – a Universidade – com uma regulação
consciente e realista das necessidades do país nestes
profissionais de saúde mesmo tendo em conta a diversidade de competências que as faculdades são capazes
de objetivar?
As respostas não são fáceis, nem simples! E, pior do que
isso, não existe uma solução única e particular para cada
uma das destas questões. Apenas uma visão clara da profissão, abrangendo o papel que queremos que ela desempenhe,
e a influência que pretendemos exercer na sociedade, nos
poderá nortear neste desiderato.
Ao longo dos últimos anos a existência de um Sindicato
Nacional tem sido uma peça fundamental na estratégia de
defesa do papel e das competências dos farmacêuticos.
De facto, uma tendência normalizadora e desconhecedora das realidades e competências da profissão são um dos
principais perigos que enfrentamos.
Dentro do SNS, por exemplo, a profissão sofreu um
processo de descaracterização organizativo (está integrada
desde 1991 numa carreira agregadora de várias profissões)
que dificulta quer o próprio exercício das suas competências
quer a sua articulação com as estruturas administrativas
das Instituições de Saúde e até do Ministério.
Por muito que surpreenda, é muito diferente saber-se
que existem Farmacêuticos de saber-se o que na realidade
fazem os Farmacêuticos.
Por muito que nos custe e desagrade, a verdade é que a
certeza que a sociedade tem da nossa existência não tem paralelo no que diz respeito ao conhecimento que essa mesma
sociedade tem do que são hoje as nossas competências.
Também aqui um Sindicato ativo e participante terá
sempre um papel insubstituível a desempenhar.
Mas o maior desafio que hoje, como estrutura sindical,
enfrentamos é o da captação e participação do jovens para
esta atividade. A nova geração enfrenta hoje dificuldades a
que nunca nas últimas décadas os farmacêuticos estiveram
expostos. Desemprego era algo que não constituía uma preocupação. À saída da faculdade, arranjar emprego e com um
nível de remuneração (para um recém-licenciado) excelente
era a realidade dos farmacêuticos. Hoje nada disto é assim.
O desemprego, baixos salários e um número absurdo de
farmacêuticos que finalizam os seus cursos todos os anos
levam a que também para nós a emigração comece a ser
uma opção frequente.
É por isso premente que consigamos fazer chegar a estes
jovens a mensagem de que as instituições sindicais são hoje,
ainda, uma necessidade da sociedade e que o ajustar da
sua atuação e bem como o sucesso das suas intervenções
passam inevitavelmente por uma participação ativa da nossa
juventude a todos os níveis da Instituição.
16 Dia do Farmacêutico | Opinião
Presente e futuro do SNS
R
Miguel Guimarães
Presidente do Conselho Regional do Norte da Ordem dos
Médicos
O ministro da Saúde publicou um artigo no jornal
“Expresso”, de 13 de setembro de 2014, em que elogia o Serviço Nacional de Saúde (SNS) e o seu trabalho como líder do Ministério.
A essência e a mensagem do texto são claras. Temos um SNS
prestigiado, fundado nos valores da solidariedade e justiça social,
com indicadores de saúde que demonstram de forma inequívoca
a qualidade do nosso serviço público de saúde e que resulta essencialmente da dedicação, qualidade e competência dos profissionais
de saúde. Estamos de acordo. No entanto, sublinhar, na atualidade,
a atenuação de assimetrias estruturais, sociais e territoriais, o investimento na formação e na investigação, a aposta na existência de
cuidados altamente diferenciados e a qualidade dos tratamentos
para todos e não apenas para alguns é distorcer a política que tem
sido seguida nos anos mais recentes. Nos últimos anos, todos nós,
doentes e profissionais de saúde, temos a perceção que o SNS está
a retroceder a ‘olhos vistos’. Não são necessários muitos dados
estatísticos para entender que a saúde dos portugueses depende
cada vez mais de cada um de nós e menos do Estado. O património
genético do SNS nunca esteve tão em risco. Infelizmente. A política
de saúde do Ministério está claramente a ‘empurrar’ os doentes
para o sistema de saúde privado e convencionado. De resto, não é
possível diminuir de forma brutal o orçamento de Estado para a
saúde (duplicaram os cortes propostos pela Troika) e continuar a
oferecer cuidados de saúde com a mesma qualidade.
Os dados preliminares de um estudo realizado em 2013 pelo
ISCTE-IUL e a Ordem dos Médicos, envolvendo 3448 médicos e
centrado na sua experiência profissional quanto à aplicação das
medidas após a intervenção da Troika, revelam que 80% dos médicos consideram que os cortes já aplicados no financiamento do
SNS comprometeu a qualidade e o acesso aos cuidados de saúde.
Cerca de 50% dos médicos afirmam que os doentes faltam mais
às consultas e apontam como principais motivos os custos relacionados com as taxas moderadoras e os transportes. Mais de 60%
dos médicos referem abandono frequente de terapêuticas no SNS
devido a incapacidade financeira invocada pelos doentes. Por outro
lado, 65% dos médicos afirmam que existem faltas recorrentes de
material para o exercício da profissão, e cerca de 60% consideram
que a qualidade do SNS foi afetada pelo menor acesso a atividades
de formação, referindo 80% terem menos tempo para orientação
de médicos internos.
As assimetrias no acesso aos cuidados de saúde têm-se agravado. O valor das taxas moderadoras e a falta de apoio nos transportes
seriam suficientes para entender o exacerbar da situação. Mas
uma leitura atenta do último relatório da OCDE sobre “Variações
Geográficas nos Cuidados de Saúde” confirma o que todos sabemos:
Portugal é dado como exemplo da má distribuição de cuidados
médicos. E, se adicionarmos a legislação recentemente publicada
sobre reforma hospitalar, a situação é dramática. Está previsto no
papel o encerramento de centenas de serviços de várias especia-
lidades médicas por todo o país, destruindo o acesso a cuidados
de saúde de proximidade. De resto, continuam a existir, de forma
incompreensível e injusta, assimetrias regionais importantes no
financiamento per capita que ofendem gravemente o princípio da
equidade e a eficiência do sistema.
Por outro lado, e contrariamente ao anunciado, o desinvestimento na investigação, no desenvolvimento tecnológico e na formação é alarmante. A qualidade da formação dos profissionais
de saúde com base na existência de carreiras sólidas e estáveis é a
pedra angular do nosso SNS. É, pois, inaceitável que o ministro da
Saúde não tenha concretizado na prática a defesa do SNS, desprezando a essência da sustentabilidade do sistema: apostar forte na
qualidade para controlar os custos de forma sustentada.
É abusivo falar em medicina personalizada e em tratar principalmente pessoas, quando a implementação da política de Saúde
seguida vai precisamente no sentido contrário. Existem cada vez
mais barreiras entre os doentes e os médicos (e não são apenas
informáticas), cada vez é mais escasso o tempo para a relação entre médico e doente, cada vez a medicina é menos humanizada
e personalizada, tudo no superior interesse e desígnio de obter
números para colorir favoravelmente as manchetes dos jornais.
E, para agravar a situação, o desgaste constante da imagem pública
dos médicos na comunicação social atingiu uma dimensão absolutamente intolerável. Parece demasiado evidente que os responsáveis
pela saúde em Portugal tratam os doentes como números e não
como pessoas como deveria ser. Inadmissível.
No que diz respeito à eficiência das auditorias e inspeções, já
todos entendemos os caminhos contraditórios que muitas vezes percorrem os meandros da atividade política centrada nas instituições
e organizações dependentes do Ministério. Um exemplo recente é
a questão relacionada com a morte de dois doentes no Hospital
de Santa Cruz, em que estranhamente a inspeção realizada pela
IGAS, e portanto pelo Estado, ignorou que as indicações clínicas
eram contrariadas por “razões logísticas”, da responsabilidade da
administração do Centro Hospitalar Lisboa Ocidental. A Ordem dos
Médicos documentou de forma objetiva o potencial e grave prejuízo
decorrente dos cortes orçamentais. Um exemplo que mostra que
não se pode confiar no Estado a inspecionar-se a si próprio. Termina
sempre autoilibado.
No dia em que se assinala o Dia do Farmacêutico, reforço o
elogio ao comportamento desta e das restantes classes profissionais
do setor, que diariamente se empenham em garantir a melhor
prestação de cuidados para a população. O meu desejo é que os
farmacêuticos continuem a prestar um relevante e indispensável
serviço à comunidade e que as reformas da Saúde, num futuro
próximo, possam valorizar – e não amesquinhar – o elevadíssimo
grau de diferenciação e competência dos nossos profissionais de
saúde. A mudança também tem que passar por aqui.
Opinião | Dia do Farmacêutico 17
A farmácia hospitalar
R
Aida Batista
Diretora do Serviço Farmacêutico do CHVNG/E, EPE; presidente da Associação
Portuguesa de Farmacêuticos Hospitalares; Membro da Direção da Associação
Europeia de Farmacêuticos Hospitalares
Em primeiro lugar gostaria de esclarecer que não,
estas não são as ditas “farmácias hospitalares” que têm sido alvo de
inúmeras notícias por causa das suas dívidas ao estado ou porque
estão em processo de falência. Essas não são mais do que farmácias
comunitárias, já apelidadas “de oficina”, que se instalaram no espaço físico do hospital, mas têm propriedade e gestão privadas.
As farmácias hospitalares que vos vou apresentar são um Serviço do Hospital: o Serviço Farmacêutico. O Hospital é uma das mais
complexas organizações idealizadas e construídas pelo Homem.
É aí que são tratados os doentes mais graves e de maior risco. É aí
que ocorrem as intervenções mais diferenciadas, invasivas e salvadoras de vidas. O Hospital é considerado um pilar de qualquer Sistema de Saúde e, em Portugal e noutros países, do Serviço Nacional de
Saúde. Podemos dizer que se destina a produzir o “bem” mais caro
de todos: a Saúde. Nos hospitais utilizam-se medicamentos, alguns
de custo muito elevado, que podemos considerar como tecnologias
estratégicas que visam preencher as necessidades terapêuticas dos
doentes, no sentido de lhes proporcionar uma melhor qualidade de
vida. Os medicamentos são armas terapêuticas potentes, que por
isso têm de ser utilizados com conhecimento e segurança.
Quem já teve de recorrer a um hospital para ser tratado, por
uma situação de doença mais ou menos grave, certamente foi observado por um médico que estabeleceu o plano terapêutico, alterado sempre que necessário, e foi cuidado por um enfermeiro.
Às horas corretas e previamente determinadas foi-lhe administrado o medicamento prescrito pelo seu médico, no sentido de obter
os resultados esperados: a cura ou o alívio de sintomas.
A sua experiência poderá dizer-lhe que durante a sua estadia só
contactou com “a senhora da receção” (assistentes administrativos);
médicos, enfermeiros, “auxiliares” (assistentes operacionais), mas
um hospital é uma estrutura equipada com muitos profissionais
altamente treinados, formados e especializados. Os farmacêuticos
hospitalares estão entre eles e têm também como objetivo final o
tratamento dos doentes e os melhores resultados em saúde.
O que é uma Farmácia Hospitalar?
É um serviço ou departamento, inserido num hospital, com autonomia técnica e científica. Depende diretamente dos órgãos de gestão
respetivos e é a eles que presta contas, cada vez mais exigentes, da
sua atividade. É responsável pela gestão do medicamento, produtos
farmacêuticos e também do medicamento experimental (utilizado
em ensaios clínicos). É responsável pela implementação das políticas
de utilização de medicamentos definidas a nível local, regional ou
nacional. Gere a segunda rubrica do orçamento hospitalar e cobre
áreas muito diversificadas. É dirigido por um farmacêutico hospitalar. Na farmácia hospitalar trabalham em conjunto farmacêuticos,
técnicos de farmácia, pessoal administrativo e auxiliar.
O que é um farmacêutico hospitalar?
É um profissional habilitado com o grau de especialista em
farmácia hospitalar e responsável pelo estabelecimento e cumprimento do circuito do medicamento a nível hospitalar. Para
conseguir cumprir a sua missão, o farmacêutico hospitalar tem
de aplicar o seu conhecimento específico para estabelecer critérios de seleção e aquisição de medicamentos, produtos farmacêuticos e dispositivos médicos usados no hospital, tendo em conta
os fatores de segurança, eficácia, eficiência, sem perder de vista
os custos associados. Tem de planear e pôr em prática sistemas
de distribuição e administração de medicamentos para garantir
que a qualquer hora do dia e da noite os doentes hospitalares têm
acesso aos medicamentos de que necessitam.
A produção e manipulação de medicamentos é uma área de
extrema importância nos hospitais, dando resposta a necessidades específicas dos doentes e permitindo a individualização da
terapêutica onde a indústria farmacêutica não consegue dar resposta. Os farmacêuticos hospitalares também são os responsáveis
pela validação e confirmação de todas as prescrições médicas dirigidas aos doentes em tratamento no hospital.
O farmacêutico hospitalar trabalha em colaboração com médicos e enfermeiros, ajudando a garantir que os doentes recebem
os tratamentos adequados quer no internamento quer em ambulatório. Atualmente, há muitas doenças crónicas que são tratadas
em regime de ambulatório e cujos tratamentos, normalmente de
alto custo, são cedidos aos doentes gratuitamente pelos hospitais
através dos seus serviços farmacêuticos. Para além de garantir que
existem os medicamentos corretos para cada tratamento e cada
doente, o farmacêutico hospitalar também presta informações aos
doentes, tira dúvidas, concorrendo para que seja cumprido todo o
tratamento. O farmacêutico hospitalar pode desenvolver atividades de farmácia clínica e de farmacocinética. Presta informações
de medicamentos a doentes e outros profissionais de saúde. Tem
ainda participação em várias comissões e grupos de trabalho essenciais ao bom funcionamento dos hospitais e que têm em vista
cuidados de saúde de qualidade e a segurança do doente.
O avanço da ciência e da medicina baseia-se na evidência
científica e em investigação e os farmacêuticos hospitalares fazem
parte da equipa que está envolvida nos ensaios clínicos necessários para a aprovação ou avaliação de medicamentos.
Muitas outras áreas de intervenção poderiam aqui ser listadas,
mas podemos dizer de uma forma resumida que o farmacêutico
hospitalar presta serviços a doentes e profissionais de saúde nos hospitais usando as suas competências como especialista farmacêutico,
consultor farmacoterapêutico e gestor em farmácia hospitalar.
Tudo o que se faz na farmácia hospitalar tem como objetivo
ajudar o doente e nos hospitais essa atividade sempre foi e continuará a ser um trabalho de equipa, na qual todos têm a sua
função definida.
Já conhece o seu farmacêutico hospitalar?
18 Dia do Farmacêutico | Opinião
Ainda vale a pena
estudar Ciências
Farmacêuticas?
R
Professor doutor José Manuel Sousa Lobo
Professor catedrático de Tecnologia Farmacêutica
da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto
Vivemos atualmente tempos difíceis em
Portugal, o que se reflete permanentemente no nosso dia a
dia. O problema é geral e atinge toda a população, mas, neste
Dia do Farmacêutico, permitam-me que faça algumas reflexões acerca do atual estado da profissão (nas suas diversas
vertentes) e do que é o ensino de Ciências Farmacêuticas
hoje. E, perante o que vemos quando olhamos à nossa volta,
creio que cada vez mais fazemos a nós próprios a pergunta
que serve de título a esta reflexão – ainda vale a pena estudar
Ciências Farmacêuticas?
Não vou falar em pormenor nos estudos reconhecidos
pela nossa Ordem e que habilitam ao exercício da profissão
de farmacêutico. Mas recordo apenas alguns conceitos que
reputo essenciais para fornecer aos estudantes as competências mais adequadas. Do meu ponto de vista, as três vertentes
fundamentais do atual ensino são as seguintes:
1 – a transmissão de conhecimentos, que inclui ensinar
a selecionar o que estudar, já que a quantidade de
conhecimentos existente, hoje em dia, é enorme;
2–o
contacto com a realidade profissional, como ocorre
com a obrigatoriedade de realização de um estágio
em farmácia de oficina ou hospitalar;
3–a
iniciação ao trabalho de investigação, pois a resolução de problemas muito concretos num trabalho tão
criativo é uma ferramenta essencial e característica
do ensino universitário.
Em resumo, poder-se-á dizer que a atual formação habilita os recém-graduados ao exercício da atividade farmacêutica.
Falemos, agora, na profissão e na diversidade de áreas
em que se desenvolve. Na Farmácia de Oficina, que aglutina
a maior parte dos farmacêuticos em exercício, os tempos têm
sido difíceis devido às inúmeras contingências financeiras
impostas pela conjuntura atual. Algumas não resistem ao
embate, mas a maior parte continua a percorrer o seu caminho. Ainda na área do medicamento, a Farmácia Hospitalar, a
Indústria Farmacêutica e a Distribuição Grossista (áreas que
empregam um menor número de farmacêuticos) apresentam
alguns sinais de melhoria.
Recordando a forte componente analítica ministrada aos
estudantes, pensemos nas análises clínicas, na bromatologia,
na toxicologia e na hidrololgia. Não há dúvida que em todas
elas a ação do farmacêutico tem vindo a ser fundamental.
Além disso, recentemente, surgiram algumas áreas, como o
ambiente ou a área regulamentar, habitualmente associada à
indústria farmacêutica, mas que merece tratamento distinto.
Ou também a investigação, à qual se dedica um número cada
vez maior de farmacêuticos, e as diferentes áreas políticas
associadas ao medicamento, essencialmente em instituições
europeias. Refira-se finalmente aqueles que, trabalhando em
áreas às quais já me referi como tradicionalmente farmacêuticas, se destacam em cargos de gestão de empresas nacionais
ou multinacionais.
Se fizermos um balanço final, e embora os tempos não
sejam os melhores, a profissão demonstra ter um excelente
“poder tampão” na adaptação à evolução dos acontecimentos
e tem conseguido vencer, com perseverança e esforço, as
inúmeras dificuldades com que se vai deparando.
Gostaria ainda de falar de outro facto – o traço comum
a todas as atividades farmacêuticas, que é a saúde e o bem-estar das populações. Cronologicamente, uma profissão que
foi inicialmente circunscrita à preparação de medicamentos
(à escala oficinal), rapidamente se estendeu para o aconselhamento do médico, em seguida para as análises químico-biológicas, novamente para a preparação de medicamentos
(mas desta vez à escala industrial), e depois para a bromatologia, para a hidrologia e para a toxicologia, para não falarmos
nas áreas mais recentes que mencionei acima. E para todas,
a mesma coerência de objetivos – a Saúde e o Bem-Estar de
todos. Trata-se, pois, de um percurso e de um trajeto que é
obra de gerações de profissionais, que têm sabido adaptar-se
ao que a sociedade, nas diferentes conjunturas, espera dos
farmacêuticos.
Voltemos então à pergunta inicial – ainda vale a pena
estudar Ciências Farmacêuticas? A resposta só pode ser sim.
Poderá, neste momento, existir excesso de oferta formativa
e o número de recém-graduados ser exagerado. Este problema terá certamente de ser resolvido. Mas ninguém põe
em causa a necessidade de existirem farmacêuticos, nas
suas diferentes vertentes profissionais. Não imagino o que
seria a nossa sociedade sem profissionais de farmácia – as
provas dadas são muitas e o reconhecimento demonstrado também. Por isso, vale mesmo a pena estudar Ciências
Farmacêuticas.
????????? | Dia do Farmacêutico 19
“Farmacêuticos com Expressão Artística”
EXPOSIÇÃO
Caro(a) Colega,
A Direcção da Secção Regional do Porto da Ordem dos Farmacêuticos, no âmbito das comemorações do Dia do Farmacêutico, promoveu a organização da exposição “Farmacêuticos com Expressão Artística”, cuja sessão de abertura decorreu no dia 20 de Setembro, pelas 18 horas.
A exposição está patente ao público nas instalações da Secção Regional do Porto até ao dia 3 de
Outubro.
Horário:
•Segunda,QuartaeSexta-9:00hàs18:00h
•TerçaeQuinta-9:00hàs18:00hedas21:00hàs23:00h
•Sábado(27/Setembro)-15:00hàs18:00h
Obras dos Autores/Pintores em exposição:
Ana Vasco, Fernanda Bahia, João Luís Santos, João Paulo Sena Carneiro, José Luís Barreira, Isabel
Maria Freitas, Maria Palmira Martins, Paula Moreira Silva e Paulo Lobão.
E ainda peças do espólio particular de:
José Luis Marques Nicolau e Luis Pedro Marques Liberal
Muito nos honraria a sua presença.
Atenciosamente,
A Direcção da Secção Regional do Porto da Ordem dos Farmacêuticos
RuaAntónioCândido,154,4200-074Porto
tel.:+351225073440|Fax.:+351225073449
Correioelectrónico:[email protected]
ORDEM DOS FARMACÊUTICOS
S E CÇ Ã O R E G ION A L D O P ORTO
R. António de Cândido 154, 4200 Oporto, Portugal
Dia do Farmacêutico 2012
Dia do Farmacêutico 2014
Perto de si. Promovendo a saúde
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Revista Zoom - JN Setembro 2014