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Maria Manuel Seabra da Costa
Vive em Lisboa há anos, mas considera-se provinciana com muito orgulho. Natural
de São João da Azenha, Sangalhos, orgulha-se das suas origens, onde bebeu muitos
dos valores que norteiam a sua vida. À frente do Instituto de Formação de Executivos
da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, não recusa uma boa
discussão e não volta costas a um desafio. E apesar da constante evolução de
teorias no mundo da gestão, mantêm-se actuais os princípios que o seu pai lhe vem
transmitindo – lealdade, sentido de justiça, respeito pelos outros, noção de serviço.
para que assim a vida à nossa volta vá melhorando.
Se não tivesse sido assim com o meu avô e os dois
irmãos no início dos anos 20 do século passado,
hoje certamente as gerações seguintes – e não falo
necessariamente só na família, mas em todas as
pessoas que trabalharam na empresa [da família], e
ao longo dos anos foram muitos – não teriam partido de um nível melhor. Tem sido assim com o meu
pai e tenho procurado, à minha maneira, dar o meu
contributo e fazer cumprir o mesmo», acrescenta.
Terminada a licenciatura, Maria Manuel Seabra da
Costa começou de imediato a trabalhar. Menos de
uma semana depois encontrava-se na Dun & Bradstreet, na direcção de operações. «O escritório em
Portugal estava a entrar numa fase de alinhamento
internacional», um desafio que abraçou de imediato. Dois meses depois voou para Londres para
negociar a operação portuguesa. A liderar pessoas
que tinham idade para serem seus pais, «a equipa
de gestão teve o cuidado de nos colocar no devido
lugar, no sentido de nos dizer ‘os senhores vêm de
uma geração diferente, melhor preparada, mas há
que respeitar quem estava cá e tinha os seus valores». Balanço do desafio? «Muito interessante.»
Seguiu-se o Banco Santander, enquanto analista do
Gabinete de Estudos Financeiros no Departamento
de Gestão Financeira, e um MBA (Master Business
Administration), também na Universidade Católica,
que concluiu em 1993. Foi então altura de abraçar
o universo da consultoria, primeiro na McKinsey &
Company, onde desenvolveu projectos em sectores como bens de consumo, distribuição, turismo,
telecomunicações e ‘media’, e em 1999 passou
para a A. T. Kearney. «Tive, talvez, uma experiência
um bocadinho diferente das outras pessoas, que
é já ter tido uma experiência de executiva, ter liderado equipas, ter chefiado projectos no terreno, e
depois passar para o lado do consultor. Considero
que passar pela consultoria é quase outra licencia-
Formação para executivos
Criado em 1997 com base num protocolo
de colaboração entre a Faculdade de Economia da Universidade Nova e várias instituições, o Nova Forum é um instituto de
formação de executivos. Com a oferta de
programas em exclusivo para empresas
e aberto a executivos, o instituto, em oito
anos de actividade, realizou mais de 7.000
horas de formação e formou cerca de 8.500
profissionais.
Em relação à formação oferecida por outras
instituições, a administradora executiva do
Nova Forum prefere falar em complementaridade e não em concorrência, «porque é
um mercado que não tem limites». E o que
distingue o instituto dos demais? «Não sei
se é o que nos diferencia, mas tenho a certeza de que aquilo que nos tem afirmado
é a ligação próxima ao cliente, é estarmos
atentos ao mercado, às organizações, aos
executivos, e acompanharmos muito bem o
que se vive dentro de cada organização. A
aceitação do Nova Forum tem sido sustentado por esse posicionamento de ‘advisers’
– analisamos e procuramos ajudar os clientes a encontrar essa solução. Esse tem sido
o grande desafio do nosso instituto.»
Reconhecido pelo Instituto para a Qualidade na Formação (IQF), o Nova Forum viu
a sua actividade ser certificada pela European Foundation for Management Development com a «EQUIS Acreditation», um
sistema de certificação de escolas de gestão, uma vez que faz parte integrante da
Faculdade de Economia da Universidade
Nova de Lisboa. IN
Fotos: Alexandre Moreira
POR ISABEL NOBRE
rata-se de um perfil, mas muitas vezes os
verbos foram conjugados na primeira pessoa do plural. Administradora Executiva do
Nova Forum, Instituto de Formação de Executivos
da Faculdade de Economia da Universidade Nova,
Lisboa, Maria Manuel Seabra da Costa enaltece o
trabalho em equipa, daí a utilização frequente do
«nós» ao longo da conversa. À semelhança do que
sucede nas suas aulas na licenciatura de Gestão,
também nas relações profissionais no Nova Forum
afirma viver experiências muito enriquecedoras,
fruto da partilha mútua de saberes.
Maria Manuel Seabra da Costa vive em Lisboa
desde que concluiu a licenciatura em Gestão, em
1987, na Universidade Católica, mas não se sente
«alfacinha». «Continuo a considerar que Lisboa não
é a minha casa – continuo a dizer que não sou de
Lisboa, apesar de já viver há mais tempo em Lisboa do que fora daqui». Natural de São João da
Azenha, Sangalhos, define-se como «provinciana,
com muito orgulho», descendente de agricultores.
Ao lado rural foi buscar valores que hoje estão na
ordem do dia como a sustentabilidade ou o respeito pela natureza, noções que adquiriu desde cedo
e de forma natural. Também natural foi a escolha
da área profissional. O espírito empresarial do avô,
seguido pelo seu pai, deixou fortes marcas na responsável pelo Nova Forum. Mais uma vez, as raízes
familiares vincaram-lhe o carácter. Passados alguns
anos, os ensinamentos que lhe foram transmitidos
continuam actuais no mundo da gestão – o respeito
pelos outros, a lealdade, a noção de serviço. E relembra um episódio... «Estava a estudar em Lisboa
e ia passar o fim-de-semana a casa. Recordo-me
de estar à espera do comboio e de o meu pai ter
tido uma conversa comigo; partilhou a noção de
que nós temos sempre que ir mais além do que a
geração anterior; este será o nosso contributo para
que a geração seguinte parta de um nível melhor,
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tura, ou um mestrado, se assim se pode dizer; ajuda-nos muito a estruturar o raciocínio, a maneira de
montar um projecto, de fazer acontecer uma série
de coisas, de nos ajudar a pensar, a ter pensamento crítico. Aliás, são temas que hoje estão na minha
área de interesse: capacidade analítica, resolução
de problemas, comunicação.»
O «bichinho» da consultoria ficou e Maria Manuel
Seabra da Costa foi «consultora independente durante uns tempos». Desafiada por uma multinacional francesa que queria avaliar a operação brasileira, atravessou o oceano Atlântico rumo
ao país irmão, onde enfrentou um novo
ambiente laboral. «Estava habituada a
trabalhar em determinados contextos e
depois, de repente, vejo-me sozinha, em
São Paulo, num outro mundo. A empresa
era uma metalúrgica – os escritórios eram
em São Paulo, mas a fábrica era num fim
de mundo e estava em greve havia três
semanas. O presidente da fábrica era
francês e disse-me... ‘Maria Manuel, eu
sei que vem mandatada pelo presidente.
Independentemente do que quer fazer
connosco, ou me ajuda a reunir com os
sindicatos e a negociar o fim da greve
ou nem sequer vale a pena fazer o seu
trabalho porque não vai haver empresa’.»
Lançadas as cartas, era altura de agir.
«Pensei que o que tinha que fazer era
conquistar a confiança daqueles senhores; tinha que me demarcar o suficiente
da estrutura que representava e negociar
um acordo. Se foi decisivo ou não foi, é
difícil avaliar, às vezes basta aparecer alguém de fora, não precisa de fazer mais
nada, basta aparecer... Mas foi uma experiência muito diferente. E depois a partir
daí foi extremamente engraçado, porque
eu passava o tempo na fábrica, em cerca
de três meses já almoçava com os operários brasileiros, que depois confundiam tudo, não sabiam se
eu era do sindicato, se não era, mas aceitaram a
minha presença. Acima de tudo, foi uma experiência
humana extremamente enriquecedora.»
Espírito de equipa
Com a passagem do milénio, novos desafios
aguardavam Maria Manuel Seabra da Costa. Em
2000 passou a integrar o corpo docente da Faculdade de Economia da Universidade Nova de
Lisboa, tornando-se professora auxiliar convidada,
leccionando na licenciatura em Gestão. No início
do ano seguinte, integrou a equipa de gestão do
Nova Forum, primeiro como directora de clientes e
desde 2005 no lugar de administradora executiva.
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Mais uma vez, os ensinamentos que adquiriu desde cedo voltam a ser postos em prática. «Faço
aquilo que vi o meu pai fazer – a primeira coisa que
fazia quando ainda trabalhava era percorrer a empresa toda. A primeira coisa que faço é tomar um
café e circular.» A partir daí, o dia decorre ao sabor
dos compromissos que tem na agenda. «O meu
dia é particularmente caótico», reconhece, entre
reuniões internas, reuniões com clientes, recepção
de boas vindas aos alunos dos cursos ministrados
no Nova Forum e aulas na faculdade. A expressão
‘managing by walking around’ é, reconhece, a que
melhor define o seu ritmo de trabalho.
O Nova Forum conta com a dedicação e o profissionalismo de sete pessoas e Maria Manuel Seabra da Costa valoriza um verdadeiro espírito de
equipa. «A gestão é colegial – gosto de ouvir a opinião de toda a gente, pergunto a opinião mesmo a
pessoas de fora; depois, a partir do momento em
que fica decidido, é de todos. Ter estado num colégio também me marcou – pregávamos partidas
às freiras e depois ‘Quem foi? Todos!’», recorda.
Mas quando a decisão tomada é questionada fora
do Nova Forum, é a administradora executiva que
assume total responsabilidade. «Foi outra coisa
que aprendi – tudo o que se passa cá dentro, se
é questionado por fora, eu assumo a responsa-
bilidade. Depois podemos analisar responsabilidades, mas dou sempre o benefício da dúvida;
acredito que se tomou a melhor decisão possível,
que naquela altura quem decidiu fê-lo tendo por
base o melhor que soube, acreditando ser a melhor decisão para a empresa e para o cliente. Separo a questão do processo de decisões da outra
questão que é assumir a responsabilidade e que
tem de existir enquanto chefia.» Mas o espírito de
equipa é uma constante – «não sei quem é que
desenvolve mais, eu à equipa, ou a equipa a mim».
Maria Manuel Seabra da Costa é uma
presença próxima dentro do Nova
Forum, seja junto dos alunos que frequentam os cursos do instituto («estou
presente para dizer ‘estamos aqui’»),
seja junto dos seus colaboradores. Se
alguém não está bem, não passa despercebido à responsável do Nova Forum. «Passamos tanto tempo juntos
que me angustia pensar que às vezes
basta estar atento e ouvir e que por
vezes possamos limitarmo-nos a ignorar. Não precisamos de saber o que se
passa; basta ouvir ou reconhecer que
alguém tem um problema e ajudar a
dar uma gargalhada...» E rir é um traço
indiscutível da personalidade de Maria
Manuel Seabra da Costa, conhecida
por uma gargalhada forte e sonora.
Assim, também rir é «obrigatório» no
instituto. «Às sextas-feiras temos que
rir. Não podemos ir de fim-de-semana
sem rir.»
Desistir e conformar são duas palavras
que não existem no dicionário de Maria
Manuel Seabra da Costa, segundo a
própria. Afirma procurar sempre novas
soluções, o que para muito contribui o
trabalho em equipa, mais uma vez. Do
carácter da responsável do Nova Forum faz ainda
parte o gosto por uma boa discussão, «o que não
quer dizer que goste da concordância inquestionável das minhas opiniões», explica. «Valorizo quem
discorda de mim, quem me apresente pontos de
vista diferentes porque só assim é que conseguimos descobrir novas perspectivas. Há quem seja
mauzinho e diga que esta minha característica é
porque eu gosto de uma boa discussão. E a ser
verdade... É apenas porque adoro conversar.»
Fora do trabalho gosta de ler – «leio muitos jornais,
outra coisa que vem de casa» – e procura estar
com a família. «Estou em Lisboa, os meus pais no
norte, a minha irmã e os sobrinhos em Beja. Conversamos muito; somos, sem dúvida, bons clientes das empresas de telecomunicações.» ■
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Maria Manuel Seabra da Costa