Em Busca da Conceituação de Livro Acessível 1 Prof. Ms. Lívio Lima de Oliveira Doutorando pela ECA-USP e professor de Produção Editorial na Faculdade Editora Nacional – FAENAC 2 Resumo Este artigo visa apresentar uma tentativa de conceituaçao de livro acessível, baseando-se na história do livro brochado (o mass market paperback) nos EUA e na Europa. Foi a partir dos 1860 que aparece, no mercado editorial europeu, livros com acabamento mais simples e com preços mais baixos que os feitos até então. Isso graças às novas tentativas editoriais e às inovações tecnólogicas no mercado papeleiro e gráfico. Tal período (final do século XIX a primeiras décadas do XX) é chamado por alguns estudiosos de paperback revolution (ou revolução da brochura). No Brasil, infelizmente, as tentativas de edição de livros de preço acessível ainda são incipientes o que dificulta a conceituação desse produto no nosso país. Palavras-chave Livro de bolso, Livro de preço acessível, Mercado editorial brasileiro, História do livro A questão do livro como produto acessível é central neste trabalho. Acredito que tornálo acessível é mais uma maneira de garantir que o cidadão exerça efetivamente sua cidadania. Garantir o acesso a um meio diverso da televisão, do rádio e, atualmente, da Internet, é fundamental para a nossa sociedade, pois, entre outros benefícios, podemos ajudar a formar um público mais crítico. Em uma obra básica para o estudo do livro (A revolução do livro), Robert Escarpit observa que “como todas as revoluções, também esta tem causas múltiplas e complexas: explosão demográfica, difusão da educação, aumento da duração dos lazeres que propiciam a leitura”. Diz também que “em fins de 1964, a Conferência Geral da Unesco ressaltou a importância das publicações para a compreensão mútua e do desenvolvimento econômico e social. Reconheceu também a necessidade de reforçar a cooperação internacional no campo da edição e da difusão do livro e de estimular a sua publicação a preço baixo” (Escarpit, 1976: V). Nesta obra, Escarpit trata também da conceituação do livro: [...] A Conferência Geral da Unesco, de 19 de novembro de 1964, adotou uma “Recomendação relativa à normalização internacional das estatísticas da edição de livros e periódicos”. Há muito tempo preparada, esta recomendação – se respeitada por todos os países – deveria resolver o 1 Trabalho apresentado ao NP 04 – Produção Editorial, do IV Encontro dos Núcleos de Pesquisa da Intercom. Mestre pelo departamento de Jornalismo e Editoração da ECA-USP, sob orientação da Profa. Dra. Maria Otília Bocchini e doutorando no mesmo departamento. Professor de Planejamento Editorial, Produção Gráfica e Oficinas de Produção Editorial Impressa da Faculdade Editora Nacional – FAENAC. Produto Editorial da Editora Companhia das Letras. 2 0 problema a longo prazo, adotando definições uniformes. Livro é uma publicação não-periódica impressa, contendo um mínimo de 49 páginas, excluindo-se as capas. Folheto é uma publicação não-periódica impressa, contendo um mínimo de cinco e um máximo de 48 páginas, excluindose as capas (idem: 35). Andrade também trata desse problema da conceituação e como ele atrapalha as estatísticas, remetendo a Escarpit: A conceituação do livro não é problema só nosso, e nem de fácil solucão. Escarpit, na obra que já referimos, mostra objetivamente a sua diferença em vários países, diferença que faz com que, por exemplo, a Índia, com um conceito extremamente liberal de livro, se apresente muito bem situada nas estatísticas internacionais, enquanto a Itália, com o seu conceito severo, ali compareça com números reais, porém aparentemente perdendo para o outro país, onde um simples folheto é considerado livro... Antes o autor já mostrara como a conceituação de livro é difícil. [....] Sem o estabelecimento de uma conceituação de livro, as estatísticas continuarão a nos deixar desarvorados no trato do assunto (Andrade, 1974: 69-70). Mas falar de livro acessível nos remete a vários pontos de vista. O que é o livro acessível? O garante essa acessibilidade? Diversos são fatores que influem nessa questão como, por exemplo, o que é um livro acessível para um cego? É um livro em braile. Para um brasileiro? É um livro escrito, preferencialmente, em português. Para um estudante de línguas? Um escrito na língua que ele está tentando aprender. O fator aí é a língua. E para uma criança? Tem de ser legível (de preferência diagramado com uma fonte de corpo grande), ilustrado (melhor ainda se for em cores), adequado ao seu tamanho (se for o livro for muito grande, é um adulto ou uma criança maior que terá que manuseá-lo). Para uma pessoa mais idosa, a produção do livro tem de levar em conta a questão dos problemas visuais que vão se acentuando com o tempo. Todos esses tipos de livros e de públicos acima descritos lerão livos impressos em papel? Essa é outra questão importante. Antigamente, não existia o papel, não existia a escola, não haviam professores (como os temos hoje), pois a leitura era uma atividade altamente intelectualizada. Não era para o povo. Dos primeiros registros pictóricos (em cavernas) ao aparecimento/invenção da escrita como sistema de comunicação muita coisa mudou. O livro, manuscrito ou impresso, nem sempre pode ser adquirido. Ele pode ser emprestado (um dos papéis da biblioteca) ou lido para várias pessoas (que não sabem ler)3 . Foi preciso pensar em suportes para essa invenção. Letras/caracteres/ideogramas já pousaram sobre vários suportes diferentes: argila, papiro, pergaminho, couro (Diringer, 3 “Nos meios populares também se pode encontrar uma mesma pluralidade dos usos do impresso – com a diferença de que em tais meios os impressos nem sempre são lidos. A leitura em voz alta feita por quem sabe ler para os que sabem menos bem ou nada constitui uma prática habitual, na cidade e no campo, por trabalho ou por lazer, ao acaso da rua ou entre companheiros de labuta” (Chartier, 1991: 155). 1 1982)4 , papel e, por fim, bytes. O suporte, anteriormente “analógico” (desde os homens das cavernas até o livro impresso em papel), agora também tem sua versão “eletrônica” ou “digital” (caso do CD- ROM e do e-livro, invenções do final do século XX, cujo sucesso é ainda questionável devido à insignificância das vendas5 e à facilidade da pirataria). Então, vamos considerar que a acessibilidade do livro depende de certos fatores, tais como: a língua (o idioma), o público-alvo, a legibilidade (elementos gráficos que a diagramação deve privilegiar para que o texto fique legível), o suporte ou a matéria-prima [tipo de material que o editor utilizou para imprimir (já existem até livros de plástico que podem ser lidos debaixo do chuveiro6 )], a finalidade (será usado na escola ou apenas para uma leitura de lazer?), entre outros tantos. Mas este trabalho vai centrar-se em dois desses fatores, o formato e o preço do livro, uma vez que há indícios que essas duas características liguem-se fortemente. A questão do formato do livro já foi bastante discutida. O formato é um dos fatores que acabam englobando outros: o seu estudo remete ao material utilizado na produção do livro, ao problema da legibilidade, ao local onde o livro deve ser guardado (a armazenagem), aos locais onde ele será vendido (distribuição e vendas). Em 1978, Walter Adolfo Voss, em um artigo intitulado “Aspectos dimensionais do assim chamado livro de bolso”, relatou seu estudo sobre a portabilidade conseqüente de livros, em que levanta os dados e analisa os fatores dimensionais que a determinam. Ele estudou 384 exemplares-amostras7 de livros de bolso (livros até 130x210 mm) em alemão, francês, português (Brasil e Portugal), espanhol (Espanha e países hispano-americanos) e inglês (Inglaterra e EUA) (Voss, 1978: 6-7). Vários desses livros são de coleções apresentadas na minha dissertação de mestrado, em um capítulo no qual traço um breve histórico do livro de preço acessível no mundo e no Brasil8 . Para Voss, o livro de bolso é caracterizado pela sua portabilidade e pela sua facilidade de “sentar” na mão, o que faz da largura um item mais importante que a altura. A largura acaba também sendo responsável pela leiturabilidade (ou legibilidade), pois os livros com mancha de texto de no máximo 90 mm de largura, usanto tipos de 8 a 10 pontos tipográficos, garantem maior legibilidade (idem: 24-5). 4 Diringer, David. The book before printing: Ancient, Medieval and Oriental. Nova York, Dover Publications, Inc., 1982. Interessante trabalho sobre o livro antes de Gutenberg. Nele, são apontados diversos suportes da escrita utilizados nas idades Antiga e Média (tanto no Ocidente quanto no Oriente). É uma reimpressão de um livro publicado em 1953, intitulado The Hand-Produced Book. 5 The New York Times, “Forecasts of an E-Book Era Were, It Seems, Premature”, 28/08/2001. 6 Jornal da Tarde, Variedades, “Que tal ler um livro embaixo do chuveiro?”, 12/11/2000. 7 O autor conseguiu reunir esses livros através de contatos em livrarias e bibliotecas particulares (Voss, 1972: 26). 8 Oliveira, Lívio Lima de. O livro de preço acessível no Brasil: o caso da coleção L&PM Pocket. 2 Após a análise, – o autor mostra, no artigo supracitado, diversos gráficos envolvendo larguras, alturas, manchas e formatos das coleções pesquisadas – Voss percebeu que, quanto às alturas dos livros, destacava-se nitidamente a medida de 180 mm e quanto às larguras dos livros, a maioria dos exemplares concentrava-se entre 106 e 120 mm.. E quanto ao formato (altura x largura) propriamente dito, notou diferenças nos livros, conforme sua procedência: – brasileiros, uma certa preferência pelas alturas de 160 a 180 mm e pela largura de 120 mm; – portugueses, a preferência pelo formato 120x190 mm; – franceses, uma concentração nos formatos 110x165 mm, 113x180 mm e 120x187 mm; – alemães, larguras médias de 114 a 116 e alturas de 180 a 190 mm, além de uma concentração nas alturas de 150 a 156 mm; – ingleses e norte-americanos, destacam-se as medidas 105 a 107 mm x 162 a 165 mm e 105 a 111 mm x 176 a 182 mm (idem: 23-4). Assim, concluiu que há uma tendência para a altura de 180 mm, mas no caso da largura, as medidas variam bastante, mas propõe o formato 110x180 mm, como o formato médio do livro de bolso que oferecia ao usuário “um objeto cultural de fácil manuseio e de franca portabilidade” e beneficiaria também as gráficas, livrarias, bibliotecas e distribuidores. O autor chega a propor, com essa padronização, a elaboração de móveis e utensílios para receber esse tipo de livro de bolso e montar, por exemplo, bibliotecas pessoais portáteis. Além desse formato, chegou, pela tabulação gráfica, a outros: 105x150 mm, 106x162 mm, 109x170 mm e o “super bolso” 120x190 mm (idem: 25-6). Nesta pesquisa para a dissertação de mestrado, encontrei apenas dois trabalhos – em português – voltados para a questão do formato do livro bolso: o artigo já citado de Walter Adolfo Voss e outro de Edilberto Coutinho 9 , pois a bibliografia, em português, sobre essa questão do formato pareceu-me rara. Mas em inglês, existem diversos livros que mostram as primeiras tentativas de editar livros populares. Para essa popularização se tornar possível, alguns ajustes foram feitos: o acabamento foi modificado (o livro passa a ser brochado, já que até então era feito em capa dura) e o formato, reduzido. Isso fez com que o preço do livro baixasse consideravelmente. As primeiras tentativas nesse sentido começaram no final do século XIX e culminaram nos difíceis anos 1930. A bibliografia consultada chama esse período de Paperback Revolution (Revolução da Brochura): 3 In addition, they served as the forerunners fot what later became known as the “paperback revolution,” the worldwide production and distribution of inexpensive mass-marketed books, universally and widely available at prices most people could afford (Schreuders, 1981: 12). […] Similarly, perhaps, the phenomenal growth of the paperback since the mid-1930s is not so much the result of a good idea (which was by no means new) being brilliantly put into practice by one person, and subsequently spreading to many parts of the world, as a development whic h had to happen as a reflection of, and a stimulus to, the great changes in society which we have seen since the end of the Second World War (Schmoller, 1974: 285). Entre os vários títulos consultados, há uma certa uniformidade em classificar as coleções, tanto brasileiras quanto estrangeiras, de mass market paperbacks ou livros de massa. Mas a diferença é que nos países desenvolvidos o mass market paperback foi um grande instrumento para aumentar o hábito de leitura de suas populações. São países com índices socioeconômicos absolutamente incomparáveis aos do Brasil e de outros países classificados comos “subdesenvolvidos”, “Terceiro Mundo” ou ainda “em desenvolvimento”. Steinberg classifica o livro brochado (tradução para mass market paperback) como “o primeiro exemplo genuíno do livro como meio de comunicação de massa” e “fenômeno do século XX”, mas é ciente de que como qualquer produto da indústria cultural esse tipo de livro sofra, pois “os métodos de distribuição de massa são tais que apenas os livros que se vendem constantemente permanecem em exposição” (Steinberg, 1972: 381-2). Na mesma obra, Kurt Enoch, um dos principais personagens da paperback revolution – tanto na Europa (quando atuou na Albatross) quanto nos EUA (responsável pela Penguin e pela New American Library10 ) – também acredita que “o freguês que procura determinados títulos não os encontra e o editor precisa contar muito mais com a compra que decorre do impulso do que com a compra que supõe a escolha” (idem: 392-3). E ainda sintetiza algumas características e funções sociais dos mass market paperbacks: Sobre os serviços prestados pelo livro: eles derivavam do fato dele não ter sido um meio de comunicação de massa, já que satisfazem a certos propósitos culturais que não são prontamente satisfeitos por nenhum outro meio, graças à simples qualidade da extensão. Essa extensão permite que o livro sirva a vários pontos de vista e formas de expressão cultural. Além disso, o livro está mais imune às pressões legais e econômicas que qualquer outro meio. Livros e democracia: a democracia precisa de governantes cuja visão não derive de alguns meios; para que essa visão seja completa é preciso contar com a experiência comum do significado fundamental da civilização ocidental que só os livros são capazes de transmitir. Quanto ao público de massa: “Por vulgarização entendo a degradação da qualidade que nasce da convicção às vêzes corrente de que o público de ‘massa’ possui o nível baixo de inteligência 9 "O livro de bolso no Brasil", artigo de Edilberto Coutinho publicado na Revista do Livro, Brasília, n. 41, 1970, pp.85-91. A Albatross e a Penguin, européias, e a New American Library, norte-americana, foram algumas das editoras européias que, nas primeiras décadas do século XX, começaram a produzir livros a preços acessíveis (o mass market paperback). 10 4 e um gôsto barato; por uniformidade, a mesmice insôssa que provém da ilusão de que existe apenas um público de massa, para o qual só há uma fórmula bem-sucedida de atração”. Comparação com outros mass media: a deterioração de veículos como a televisão, cujo desenvolvimento deformou e aviltou seu significado ajudaram no crescimento e interesse do livro: objeto que, independentemente do preço, acabamento e canais de distribuição, precisa transmitir seu indispensável caráter essencial. Indústria do livro brochado: tem como desafio provar que o público de massa não é um público inferior e é capaz de digerir algo mais que a chamada subliteratura e que esse público é pequeno, se comparado com o do rádio, televisão e cinema, e é, ainda, heterogêneo, apresentando-se como desafio aos editores. Função do editor: se os editores de livros brochados forem capazes de contribuir para o objetivo de levá-los a milhões de leitores a baixo preço, sem sacrificar, nesse processo, a rija independência e a diversidade de pensamento ou a rica variedade que os livros sempre significaram, estarão participando de uma alentadora e significativa revolução cultural (idem: 402-5, grifos meus). Nos anos 1950, uma discussão entre alguns profissionais do mercado editorial norteamericano registrada pelo American Scholar Forum, mostra que existem opinões divergentes entre o paperback (o livro brochado, ou brochura) e o hardcover (o livro encadernado, ou em capa dura). Na época, uns achavam que aquele dominaria e excluiria este. Mas a maioria acredita que o paperback estava sendo o responsável pelo aumento do hábito de leitura e pela maior procura de livros e que o êxito desse tipo de livro empurrou quase todo o mercado editorial norte-americano na direção de uma indústria de massa e, assim, transformando-o, de fato, em um genuíno meio de comunicação de massas nos EUA (American Scholar Forum, 1972: 406-38) Assim, a paperback revolution, responsável pela disseminação do mass market paperback, acabou criando um público leitor e consumidor nos EUA e na Europa, capaz, inclusive, de aceitar, com o decorrer do tempo, preços mais altos de livros com um melhor acabamento (caso do hardcover, ou capa dura). Mas isso só possível graças ao alto investimento (e ao risco nele contido) para que as suas coleções pudessem se tornar conhecidas nos países onde eram editadas e comercializadas. Para isso, imprimiam tiragens astronômicas e desenvolveram tecnologia para tal. Colocaram o livro nos mais diversos locais, igualando-o a uma caixa de fósforos ou a um maço de cigarro, em suma, vulgarizandoo como um produto da indústria cultural. E essa vulgarização, para eles, funcionou. Foi um caminho para mostrar à população um tipo de produto que poderia ser adquirido sob um olhar descartável. Já no Brasil, as tentativas de se editar esse tipo de livro, que praticamente não dá pra chamar de mass market paperback, foram, na maioria das vezes, efêmeras. Tiveram, sim, um período de sucesso, mas, por vários fatores acabavam. O investimento aqui não tinha como ser o mesmo que o do exterior. As tiragens sempre foram bem mais modestas. No caso da 5 coleção “L&PM Pocket” – objeto de estudo de minha dissertação de mestrado –, as tiragens médias são de 2.000 exemplares por título. Dentre os personagens brasileiros dessa história do livro de preço acessível temos Pedro da Silva Quaresma – que conseguiu vender porque produziu os livros que o povo realmente queria comprar e sabia ler –, Henrique Bertaso – que apostou em uma linha editorial mais intelectualizada, já que estava sediado em um estado com melhores índices educacionais, o Rio Grande do Sul e, mesmo a preços módicos, não conseguiu vender bem. Cada coleção ou tentativa tinha sua história particular11 . Para alguns editores, os livros de bolso nada mais são que uma maneira rápida e barata de se livrar de encalhes de estoque. Osman Lins cita, em “Frankfurt e a Feira”, alguns diálogos entre editores estrangeiros, falando do que fazer com refugos: Ugné Karvelis, da Gallimard: – Livros nos quais o departamento de vendas apostava, não se venderam tanto assim. E já não se vendem absolutamente. E autores nos quais eles não acreditavam, agora se vendem bastante bem. Maurice Nadeau, de Lettres Nouvelles/Denoel: – Autores que eu lancei e que então eram considerados inacessíveis, hoje são publicados em livros de bolso. (Lins, 1977: 118). Já Hallewell, cita o livro de bolso como uma das soluções para maior venda e acesso ao livro. O livro de bolso descartável, exposto à venda em lugares onde se vendem outras mercadorias, atrai a atenção pela sua capa vistosa (ou sensasional) e custa tão pouco que o leitor sente que pode permitir-se “correr o risco” de comprá-lo, e jogá-lo fora se não lhe agradar. Como assinalamos acima, isto ainda está para acontecer no Brasil (Hallewell, 1985: 573). Marshall McLuhan não faz uma definição de livro de bolso, mas acredita em um caráter portátil do livro. “Assim como a pintura de cavalete desinstitucionalizou a pintura, assim a tipografia quebrou o monopólio das bibliotecas” [...] “é desejo muito natural de se ter facilmente livros à disposição, e livros de formato cômodo e portáteis”, mas adverte que esse caráter portátil “muito contribuiu para o novo culto do individualismo” (McLuhan, 1972). Em suma, conceituar o livro de preço acessível nos EUA e na Europa não é tarefa tão árdua, já que existe um classificação feita por grande parte dos estudiosos: o mass market paperback (para os ingleses e norte-americanos) ou o livre de poche (para os franceses), o taschenbuch (para os alemães), o libro tascábile (para os espanhóis). Nesse caso, falamos de 11 Para detalhamento do histórico do livro de preço acessível no Brasil e no mundo, consultar O livro de preço acessível no Brasil: o caso da coleção “L&PM Pocket”. 6 países que já têm sua economia consolidada, o formato e o preço desses livros sempre são medidas diretamente proporcionais. Mas no Brasil, a história é outra, pois como a situação econômica nunca é das melhores, o livro, independentemente do tamanho, não é um produto de consumo certo para a massa. Assim, preço baixo e formato pequeno não quer dizer certeza de acessibilidade. Na Europa e nos EUA, o binômio é perfeito, mas no Brasil, nem sempre dá certo. Referências bibliográficas AMERICAN SCHOLAR FORUM. “O futuro dos livros nos Estados Unidos” in: STEINBERG, Charles S. (org.). Meios de comunicação de massa. São Paulo : Cultrix, 1972, pp. 406-38. ANDRADE, Olímpio de Souza. O livro brasileiro: progressos e problemas – 1920-1971. Rio de Janeiro : Paralelo; Brasília : INL, 1974. 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Jornal da Tarde, Variedades, “Que tal ler um livro embaixo do chuveiro?”, 12/11/2000. 8