FREI CLODOVIS M. BOFF, OSM
O Cotidiano
DE MARIA DE NAZARÉ
Introdução
“A bem-aventurada Virgem Maria... levou na terra uma vida
igual à de todos, cheia de cuidados familiares e de trabalhos...”1
É assim que o Vaticano II fala de Maria de Nazaré, apresentando-a como exemplo de vida para os fiéis leigos.
De fato, a Mãe de Jesus viveu como vive a maioria do povo.
Ela partilhou as humildes condições de vida de milhões e milhões de donas de casa. Do ponto de vista dos “vencedores”,
ela parece uma mulher que pertenceu às multidões “sem história”, ao mundo dos que vivem e morrem na obscuridade e no
anonimato. Em resumo, ela viveu “sem pompa e circunstância”. Nesse sentido, Maria de Nazaré pertence para sempre ao
universo dos pobres e excluídos deste mundo.
Seu próprio filho viveu apenas três anos de “vida pública”
e trinta de “vida escondida”. “Ele tornou-se semelhante aos homens, por seu aspecto foi reconhecido como homem” (cf. Fl 2,7).
“… convinha que ele se tornasse em tudo semelhante aos seus
1.Decreto sobre o apostolado dos leigos Apostolicam Actuositatem, 4.
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O cotidiano de Maria de Nazaré
irmãos” (Hb 2,17; cf. 4,15; 5,2). Ele quis participar da vida obscura das grandes massas. “… meu Servo... não elevará sua voz;
ninguém ouvirá sua voz nas praças públicas” (Mt 12,19). Assim
também foi com sua mãe.
No entanto, é no “reverso da história” que se tece, ponto
por ponto, dia após dia, a história essencial e decisiva: a história
eterna. Como ensinava Miguel de Unamuno, a história verdadeira
não é a que registram os jornais e os anais político-diplomáticos.
Esta é a história convencional, a qual representa apenas as
ondas espumosas do mar da vida, um movimento de superfície.
Já a “intra-história” é a das correntes profundas, “lá onde nunca
chega o sol”. A Mãe de Jesus participou do destino do “povo” em
sua vida suboceânica, tal como a descreve o filósofo espanhol:
Os jornais nada dizem da vida silenciosa dos milhões de seres humanos sem história, que, em todas as
horas do dia e em todos os países do globo, se levantam a uma ordem do sol e vão aos campos continuar
o obscuro e silencioso trabalho cotidiano e eterno. É
esse trabalho que, como o das madrepérolas no fundo
do oceano, lança as bases sobre as quais se erguem as
ilhotas da história. Os que fazem barulho na história
se levantam sobre a imensa humanidade silenciosa.2
Na verdade, a vida da jovem de Nazaré não foi marcada pelos
chamados “grandes acontecimentos”. Ao contrário, foi entretecida por aquela infinidade de gestos ordinários que constituem
a existência da grande massa das mulheres do povo. Decerto,
era uma mulher privilegiada. Seus privilégios, contudo, não lhe
2.Apud Luis MALDONADO, Introducción a la religiosidad popular, Santander, Sal Terrae, 1985, p. 25.
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Introdução
tornaram a vida fácil nem a retiraram da terra, antes mais profundamente a imergiram na vida de toda a gente. Eis o que diz, a
esse propósito, o conhecido mariólogo René Laurentin:
Os privilégios de Nossa Senhora situam-se no interior da condição comum dos homens no que ela tem de
mais humilde e de mais modesto. Nossa Senhora mesmo
glorifica o Senhor porque Ele olhou a “pequenez”, isto
é, a insignificância da sua “escrava”..., mas sobretudo a
aceitação do Senhor desta humilde condição segundo o
espírito dos “pobres de Javé” de que Maria é o resultado. Sim, essa criatura, “bendita entre as mulheres”, foi
primeiro uma mulher humilde, implicada nas condições
de privação, de trabalho, de opressão, de incerteza do
dia de amanhã, que são as dos países subdesenvolvidos.
Subdesenvolvimento extremo o de Nazaré, onde as
tarefas femininas eram, de manhã à noite, uma luta incessante pela vida.
Porque Maria não devia somente lavar e remendar os
vestidos, mas tecê-los. Não só tecê-los, mas, antes disso,
fiar. Devia não só fazer o pão, mas, antes, moer o trigo
e, sem dúvida, rachar ela mesma a lenha para as necessidades do lar, como fazem ainda hoje as mulheres de
Nazaré. A Mãe de Deus não foi rainha em reinos desse mundo, mas esposa e mãe de operários. Ela não foi
rica, mas pobre. Tal devia ser, com efeito, a condição do
Homem-Deus que ela teve, por missão única, de gerar e
introduzir na história humana. [...] Era preciso primeiro
que ela partilhasse com ele da condição laboriosa e oprimida que foi a da massa dos homens a resgatar, “dos
que trabalham e estão sobrecarregados” (Mt 11,28).3
3. A questão marial, Lisboa, Paulistas, 1966, p. 178-179.
7
O cotidiano de Maria de Nazaré
Tal é o autêntico retrato, ao mesmo tempo histórico e teológico, da Mãe de Jesus. Segundo F. T. Vischer, teórico da estética
de Tübingen, do início do século XX, estamos tão acostumados
a ver imagens da Virgem coradas e mesmo amaneiradas, como
aparecem nas pinturas renascentistas, que a representamos em
nossa mente mais parecida com uma moça “de família tradicional” ou com uma colegial de internato do que com uma mulher
do povo. E difícil imaginar como uma mulher assim pudesse se
casar com um simples carpinteiro. Teria certamente preferido
um gerente bem-sucedido ou um ex-seminarista exemplar.4
Não foi evidentemente essa a realidade de Maria: ela partilhou a situação social humilde da maioria das mães do povo,
situação que o texto santo chama de tapêinosis (Lc 1,48). Ela é,
essencialmente, a mulher do dia a dia.5 Portanto, para traçar a
real personalidade dessa filha de Israel, temos que conhecer o
curso de seu cotidiano, “os trabalhos e os dias” de sua carreira
terrestre. Santa Teresinha, quarenta dias antes de morrer, confessava quão pouco a havia tocado tudo o que ouvira pregar
sobre a Santa Virgem. Quanto a ela, confidenciava, com seu
realismo costumeiro, à sua irmã Inês:
O que me faz bem, quando penso na Sagrada Família, é imaginar uma vida bem comum. Não é nada
do que nos contam, nem nada do que supomos. [...]
Como gostaria de ter sido padre para pregar sobre a
Santa Virgem! [...] Primeiramente, teria esclarecido até
que ponto se conhece pouco a sua vida. [...] É preciso
4.Apud Klaus SCHREINER, Maria: virgen, madre, reina, Barcelona, Herder,
1996, p. 528.
5. Cf. o belo livro de meditação do profético bispo italiano Antonio BELLO, Maria donna dei nostri giorni, Cinisello Balsamo (Mi), Paoline, 1993, do qual há
uma má tradução em português, publicada pela Vozes (Petrópolis, 1995).
8
Introdução
ver sua vida real, e não sua vida suposta. E estou certa
de que a sua vida real devia ser absolutamente simples.
Ela é mostrada inatingível. Seria preciso mostrá-la imitável, ressaltar suas virtudes, dizer que vivia da fé, como
nós. [...] Sabe-se perfeitamente que a Santa Virgem é
Rainha... mas Ela é mais Mãe do que Rainha. [...] É bom
falar de suas prerrogativas, mas não se deve dizer só
isso. E se num sermão formos obrigados a exclamar
todo o tempo “Ah! Ah!”, ficaremos logo saturados!6
No presente livro tentaremos representar como era o dia a
dia de Maria de Nazaré. Sem dúvida, nosso trabalho tem muito de reconstrução conjetural. Não podia ser diferente. Santo
Agostinho declarava com acerto: “Não conhecemos qual era
o rosto da Virgem Maria”.7 Mas quem não se faz dela, em sua
mente, uma imagem qualquer? Ora, para ajudar a representar
a vida de Maria do modo mais próximo possível da realidade,
buscamos aqui fornecer um quadro verossímil de como poderia
ter transcorrido o seu cotidiano. Para isso, nos apoiamos em
estudos específicos sobre os costumes do tempo de Maria e
também nos dados bíblicos, embora exíguos. Estes últimos serão aqui referidos entre parênteses, muitos deles apenas como
meros lembretes ou simples evocações.
Sem dúvida, o que importa é o conteúdo sobrenatural do
Mistério, e não seu invólucro histórico-fenomenal. Contudo, o
Evangelho não é só mensagem religiosa, mas também acontecimento empírico. O mistério cristão, do qual a figura da Virgem
Theotokos é parte integrante, tem uma base histórica irrecusável.
6.“Últimas palavras” (21 de agosto dc 1897), in Teresa do Menino Jesus.
Obras completas, São Paulo, Loyola, 1997, p. 1176-1177.
7.
De Trinitate 1. VIII, c. 5: PL 42, 952.
9
O cotidiano de Maria de Nazaré
Ademais, Maria, por ser a “mulher da encarnação”, ancora
firmemente o mistério da salvação na história concreta.
Mais do que qualquer outra figura neotestamentária, essa
mulher é avessa a todo tratamento mitológico, gnóstico ou
docetista, refugindo decididamente toda idealização intelectualista ou meramente poética. A intenção deste escrito é trazer
Maria de volta para o meio da “gente humilde” que nosso Chico Buarque cantou.
Depois de descrevermos o ritmo cotidiano de Maria, exporemos também alguns eventos que interrompiam esse ritmo,
como os dias de festas e de descanso. Na última parte, enfim,
faremos breves considerações de caráter teológico-espiritual
quanto à maneira como Maria vivia, em seu coração, os fatos
de sua vida ordinária.
10
Parte I
O ritmo
normal do
cotidiano
Maria desperta
e se apronta
Ela se levanta antes do clarear do dia (Mc 1,35; 16,2), pois
os trabalhos são muitos e é preciso começar cedo. Seu primeiro
pensamento é, naturalmente, para o Eterno, como manda a
religião da Aliança, que emoldura toda a vida do Povo de Deus.
O costume de pronunciar uma berakhá ou bênção por qualquer
coisa perpassa o cotidiano de todo judeu piedoso. Baruch Adonai..., “Bendito seja o Senhor” por isso ou por aquilo. E quase
uma centena de berakhot por dia. Quem usa alguma coisa sem
antes dar graças ao Senhor é um usurpador.8
Assim, Maria, tão logo abre os olhos, louva a Deus: “Bendito sejais vós, Eterno nosso Deus, rei do universo, que abris os
8.A importância da bênção é muito acentuada pelo escritor judeu Robert
ARON: Gli anni oscuri di Gesu, Milano, Mondadori, 1978, p. 74-76 (original frânces: Paris, Bernard Grasset, 1960); e Così pregava l’ebreo Gesù,
Casale Monferrato (Al), Marietti, 1982, p. 48-60 (original francês: Paris,
Grasset et Fasquelle, 1968). Fizemos bom uso dessas obras, que doravante
citaremos de forma abreviada, respectivamente: Gli anni... e Così...
13
O cotidiano de Maria de Nazaré
olhos dos cegos”. Levanta-se e estira os braços, murmurando:
“Bendito sejais vós, Eterno nosso Deus, rei do universo, que
desatais o que está ligado”.9
Olha então para o filho Jesus e para o marido José, que
logo mais também se levantarão. Aliás, como não iriam acordar? Como dormem todos no mesmo cômodo praticamente
um ao lado do outro, basta que alguém se levante para acordar
todos os demais (Lc 11,7).
Os passarinhos, os pombos e as galinhas, no poleiro (Lc 13,34),
já haviam dado o sinal do alvorecer. O mesmo se pode dizer dos
outros animais domésticos, como as ovelhas e os cabritos, recolhidos
nos fundos da casa (2Sm 12,3). São esses, com efeito, os animais domésticos. Aqui não há gatos, raros naqueles tempos, para a alegria
dos ratos, que se multiplicam como praga. Pode haver, sim, algum
cão em casa (Mt 15,26; Lc 16,21). A maioria deles, porém, vive solta,
comendo detritos, em estado semisselvagem (Mt 7,6).
Já de pé, Maria pega sua túnica de algodão ou de linho, o
ketoneth (Mt 5,40; 10,10; Lc 6,29; Jo 19,23-24), que, antes de
deitar, pusera sobre o baú. É larga e bordada nas franjas e no
peito. Veste-a pela cabeça. A roupa lhe cai até os tornozelos. Os
pés ficam descalços. É sempre assim que anda pela casa.
Marido e filho põem também suas túnicas, que tinham ficado jogadas sobre um banquinho qualquer. A túnica masculina
é sem enfeites, mais curta, chegando até os joelhos. Em geral,
não tem mangas, o que a torna naturalmente muito cômoda
para o trabalho. Como roupa de baixo, homens e mulheres
usam o saq, calção ou tanga em forma de envoltório (como se
vê nas atuais representações de Jesus na cruz).
9.Para estas duas bênçãos, cf. R. ARON, Così..., p. 55.
14
O ritmo normal do cotidiano
Posta a túnica, Maria apanha o kishurim, faixa para a cintura, feita de tecido. Há, porém, quem use cintos feitos de couro
ou de corda. Esse é um dos principais enfeites femininos. A faixa é larga o bastante para servir de bolsa, e através de algumas
aberturas pode-se carregar nela sementes, moedas (Mt 10,9)
ou um objeto útil qualquer. Pois bem, Maria cinge-se com tal
cintura, dando três voltas no corpo e firmando a extremidade
contra o flanco, sob a primeira volta.
Em seguida, Maria esfrega óleo no rosto e nos cabelos. O
mesmo fazem os homens da casa. Lavar-se com água é prática
para antes das refeições, quando se purificam ritualmente as
mãos até o antebraço (Mc 7,3-4). Depois, ela ajeita os cabelos,
entrançando-os de modo variado ou então circundando-os na
cabeça com uma fita ou envolvendo-os numa rede. Em casa
ela não precisa usar o véu, próprio de toda mulher casada,
embora haja mulheres mais pudicas que quase nunca tiram
o véu. Conta-se que Qimhit, mãe de sete sumos sacerdotes,
orgulhava-se de que “as traves de sua casa nunca tinham visto
seus cabelos”.10
10.Cf. Joachim JEREMIAS, Jerusalém no tempo de Jesus, São Paulo, Paulinas,
1983, p. 474.
15
Maria põe a casa
em ordem
Depois de vestida, Maria dobra as esteiras sobre as quais a
família dormiu, assim como os mantos, pondo tudo num canto
da casa. A palha, que serviu para amaciar aquele leito rústico,
sob as esteiras, é varrida para outro canto. Enquanto isso, José
tira a tranca da porta e sai para o pátio.
A casa de Maria é pobre. É uma “casa gruta”, isto é, uma
habitação cavada na rocha calcárea, ampliada, em sua frente,
por uma construção coberta. Esta parte é de uma peça só, com
chão de terra batida e muros de barro, a modo de nosso pau a
pique (Mt 6,20). Se não há vigilância, os ladrões podem furar a
frágil parede e penetrar sorrateiramente (Mt 6,19; 24,43). Só os
ricos têm casas de pedra, com chão de laje.
A parte traseira da casa da Virgem adentra o declive da
montanha, dando para o vale do Esdrelon. Essa parte serve
tanto como abrigo para os animais domésticos quanto como
depósito para lenha e feno ou como despensa. De fato, notam-se aqui e ali cubas de barro para grãos e frutas secas, uma jarra
17
O cotidiano de Maria de Nazaré
de óleo, um odre de couro para o vinho (Mt 9,17) e, num canto,
o baú das roupas (Mt 13,52). Na gruta pode-se conservar também água, dentro de uma cisterna cavada no chão. Na região,
há grotas que possuem até silos caseiros bastante profundos,
com aberturas estreitas, que serviram, num passado longínquo
(século XII a.C.), para proteger as provisões das razias de beduínos e assaltantes.11
Em verdade, Nazaré é uma vila cercada de rochas de gesso,
perfuradas de grutas, algumas naturais e outras artificiais. Não
seria ela a “Aldeia branca da colina” de que faia o Talmud? De
fato, depois da conquista árabe, a cidade se chamou Medinat
labnat, a Cidade Branca. Existe para ela outro nome árabe: Oum
el maghaer, “a mãe das grutas”. Foi habitada desde o século
VIII a.C., mas há sinais de que sua sede primitiva, um pouco acima da colina em que está assentada (Lc 4,29), remonta à época
dos Patriarcas (2º milênio a.C.).
Com suas “casinhas-caverna”, tão obscuras que mais
pareciam cantinas, Nazaré tinha o “aspecto de uma aldeia
de trogloditas”.12 E, no entanto, foi precisamente aí, e não em
Jerusalém ou Roma, em Atenas ou Alexandria, que despontou
a “Aurora” que ainda não brilhara sobre o mundo, trazendo a
“grande luz” da salvação (Mt 4,16).
Sobre a presumida oficina de José existe hoje uma igreja,
a da Anunciação. Vê-se aí uma sala cavada na rocha, na qual a
Virgem teria recebido a visita de Gabriel. Como se pode constatar, essa gruta está unida à igreja por um corredor. Esse modo
11.Devo esta informação ao erudito frei Simão Voigt, em carta de 11 de janeiro de 2000.
12.Ignazio BEAUFAYS, La Vergine santissima nell’ambiante palestinese, 2ª
edição, Alba, Pia Società San Paolo, 1942, p. 69-70.
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O ritmo normal do cotidiano
de conceber a casa da Sagrada Família é hoje um ponto firme
das pesquisas arqueológicas, havendo consenso sobre isso entre
os estudiosos. A famosa “casa de Loreto” não seria realmente
a casa histórica de Maria, mas sim um símbolo que a recorda a
todo coração piedoso.13
A “casa gruta” de Nazaré só tem uma porta de entrada,
pela qual passa durante o dia um pouco de luz. Pode-se imaginar como é seu interior. Numa cavidade da parede, pode-se
ver uma lamparina (Mt 5,15; Mc 4,21), que Maria deve manter
acesa dia e noite, com a vantagem de ter sempre fogo vivo disponível. O queimar incessante da lamparina deve deixar no ar
da casa um aroma adocicado, algo acre.
Há peneiras, colheres e roupas dependuradas nas paredes;
nalgum vão, uma caldeira, pratos e copos de madeira, bem
como outras vasilhas; e, num canto qualquer, um alqueire, dessas medidas de grãos que servem também de banquinho. Num
nicho da parede uma ânfora para o óleo, aqui um cântaro para
a água, lá uma panela de farinha (1Rs 17,14).
Com a arte que lhe é própria, José deve ter feito ou, pelo
menos, melhorado, sobre a parte avançada da habitação, um
terraço com terra argilosa resistente e impermeável às águas da
chuva. Não podia tê-lo feito de lajes, porque as condições econômicas da família não lhe teriam permitido (Mc 2,4).
O terraço, como manda a Lei, está cercado por uma mureta
de proteção (Dt 22,8). Chega-se lá por uma escada externa que
sobe do pátio. Esse espaço serve para muitos fins: estender roupa,
13.Cf. F. GRIMALDI, “Loreto”, in S. DE FIORES; S. MEO (Dir.), Dicionário
de Mariologia, São Paulo, Paulus, 1995, p. 760-766. “Ao lado da verdade
puramente histórica, existe uma verdade mais íntima, mais alta e mais
decisiva” (p. 762).
19
O cotidiano de Maria de Nazaré
guardar alguma tina para lavar roupa, banhar-se sob uma tenda,
comunicar-se com algum vizinho (Mt 10,27) ou mesmo hospedar
alguém numa câmara feita antecipadamente (aliya) (1Rs 17,19).
Mas pode-se também, lá em cima, simplesmente descansar (Mc
13,15) ou orar (At 10,9) sobre uma esteira ou um tapete.
O pátio comum do clã
O pátio na frente da casa é um recinto fechado por meio
de um muro baixo. Esse pátio é comum a quatro ou cinco famílias, todas aparentadas à de José: as famílias de Tiago, de
José, de Judas e de Simão, os ditos “irmãos” de Jesus (Mc 6,3).
Todos são naturalmente de ascendência real davídica, a portadora das promessas messiânicas (Mt 1,1). Isso lhes confere um
ar de natural nobreza e lhes garante, entre os aldeões, certa
consideração, embora isenta de quaisquer privilégios exteriores.
Especial importância tem (e ainda virá a ter) Tiago (Gl 1,19; At
15,13-21; 21,18).
Maria tem também parentes e parentas. Além de, pelo
menos, uma irmã (Jo 19,25) e uma prima, Isabel (Lc 1,36), ela
tem em Nazaré algumas sobrinhas (Mt 13,56). Mas ela e o filho
Jesus estão integrados no clã do marido, com o qual, no entanto, nem sempre se entendem bem. A razão é que a Mãe de
Jesus sempre foi vista pela parentela de José como um membro
algo estranho, sobretudo pelo modo como teve o filho e pela
forma como este às vezes se comporta. Infelizmente, o futuro
das relações não parece muito promissor. Está latejando aí algo
de enigmático, se não de hostil (Mc 3,20-21; Jo 7,5). Maria,
porém, não tem ilusões: os mistérios de Deus são sempre pedra
de escândalo. Não diz o povo que “ninguém é profeta em sua
própria terra” (Mc 6,4)?
20
O ritmo normal do cotidiano
Contudo, eles acabarão por dar razão a seu filho, já então
ressuscitado (At 1,14). Quando os fatos mostrarem quem é realmente o irmão Jesus, essa gente terá motivo de que se orgulhar,
talvez mesmo um pouco demais, arvorando-se o nobre título
de “irmãos do Senhor” (1Cor 9,5; Gl 1,19). De qualquer forma,
ruim com a parentela do marido, pior sem ela. A coesão social
no clã é grandíssima e a lealdade entre seus membros é um
valor verdadeiramente vital. Por isso, todas as grandes decisões
relativas à pequena família de Maria envolvem forçosamente o
clã inteiro. Trata-se sempre de decisões corporativas, tanto para
o bem como para o mal. O certo é que, em caso de dificuldade,
a rede clânica oferece uma excelente base de sustentação, mas
que também aprisione não é menos certo.
Pois bem, é a esses parentes próximos, umas trinta pessoas ao todo, que serve o pátio coletivo. É o lugar em que vive
normalmente a família clânica. Aí também Maria realiza os
trabalhos caseiros e José tem sua oficina. Nesse lugar veem-se
também instrumentos de uso comum às outras casas: o forno
do pão, o moinho doméstico de duas pedras, o pilão de esmagar olivas, a bacia de lavar roupa. É no pátio também que as
visitas são recebidas. Por tudo isso, esse lugar é mais importante
do que a própria casa. De resto, a família de Maria, como todas
as famílias do Oriente caloroso, ama viver ao ar livre.
Nesse pátio encontram-se certamente alguns pés de flores.
A Galileia é conhecida por ser uma região de muitas flores: tulipas, jacintos, narcisos, jasmins, anêmonas ou “lírios do campo”
(Mt 6,28), sem excluir as rosas. Quem sabe cresça no pátio do
clã alguma árvore, por exemplo uma figueira, que, além dos
frutos doces e abundantes, dá excelente sombra e sob a qual é
agradável descansar (Jo 1,48; 1Rs 5,5).
21
O cotidiano de Maria de Nazaré
Quanto à videira, importante para todo israelita, cresce em
terreno vizinho. Parece mesmo que o filho de Maria tem predileção pela videira (Jo 15,1-8) e pelo suco de seu fruto (Mt 11,19),
tanto que, antes de morrer, irá deixar o vinho como sinal de sua
presença (Lc 22,17-20). Acrescente-se também que, para as necessidades naturais, existe num bosque próximo às casas uma
fossa de uso comum (Mc 7,19). Mas como, entre os judeus, tudo
remete ao Criador, também as funções físicas mais vulgares são
acompanhadas com sua berakhá:
Bendito sejais, ó Eterno nosso Deus, que plasmastes o ser humano com sabedoria e criastes nele saídas
e desafogos...
Bendito sejais, Senhor, que abençoais toda carne e
agis milagrosamente.14
14.R. ARON, Così..., p. 55.
22
Maria acompanha
a oração da manhã
Maria, como toda mulher, está dispensada de recitar as
orações formais, bem como de todo dever que implique regularidade de tempo. Contudo, como os rabinos aconselham,
acompanha as orações com toda a devoção e em silêncio
(1Tm 2,11-12), quem sabe indo de cá para lá, ocupada com
os afazeres de casa (Lc 10,40).
Seu marido José, junto com o filho – desde que o adolescente chegou à maturidade religiosa, aos 13 anos –, prepara-se para
a oração da manhã. Talvez faça como os judeus mais observantes, que põem sobre os ombros o tallith, o xale para a oração, e
amarram na testa (diante dos olhos) e no braço esquerdo (perto
do coração) os tefillin ou filactérios. São estojinhos de couro que
contêm quatro passos da Lei, como manda o Deuteronômio (6,8)
em sua interpretação literal. Todos sabem que desses filactérios
os fariseus gostam de ostentar tipos de bom tamanho (Mt 23,5).
Na oração da manhã, pai e filho se voltam para Jerusalém,
onde se encontra o Templo (SI 138[139],2; Dn 6,11). Dão três
23
O cotidiano de Maria de Nazaré
passos em frente para significar que se põem debaixo da Shekinah, a Presença do Eterno. Ficam normalmente de pé, com os
braços estendidos e as mãos abertas (SI 63,5). A posição de joe­
lhos é para outras ocasiões (SI 95[96],6; Dn 6,11). Recitam em
voz alta o “ofício da manhã”. A primeira oração é uma berakhá
cheia de luminosidade. Eis como é reportada pela tradição:
Bendito sejais, Senhor Deus do Universo, criador
da luz e das sombras, que dais a paz e criais tudo,
que com misericórdia concedeis a luz à terra e a seus
habitantes, e que a cada dia renovais, para sempre,
a primeira aurora do mundo... Vós acendereis sobre
Sião uma luz nova... [...] Iluminai nossos olhos com a
Torah... e estreitai nosso coração ao amor e ao temor
de vosso nome, e que jamais venhamos a passar vergonha, jamais e ainda jamais [...]15.
Recita-se depois o Shemá, o credo judaico, composto
de três passos da Torah, o Pentateuco de hoje (Dt 6,4-9 + Dt
11,13-21 + Nm 15,37-41). Essa profissão de fé começa com as
palavras que Jesus, como rabi, mais tarde irá retomar, provocado por um escriba:
“Ouve (Shemá), ó Israel, o Senhor nosso Deus é o
único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus com todo o
teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas
forças” (Mc 12,29-30).
Em seguida a essa confissão de fé vem a tefilá, ou seja,
a oração por excelência. Essa prece, chamada também amidá
porque dita em pé, é recitada três vezes ao dia, enquanto o
15.Cf. R. ARON, Gli anni…, p. 87.
24
O ritmo normal do cotidiano
Shemá somente duas vezes ou mesmo uma. A versão mais antiga, a palestinense, se compõe de seis bênçãos, que manifestam
uma piedade elevada e pura, toda centrada em Deus e em sua
glorificação. Já a versão babilônica inseriu mais doze berakhot,
vindo então a chamar-se shemonê esrê, a “prece das dezoito
bênçãos”. Essas bênçãos, mais recentes, estão mais voltadas
para o homem e seus interesses. Eis a fórmula breve, rezada por
Maria de manhã, à tarde e à noite:
1. Bendito sejais vós, Senhor nosso Deus, Deus de Abraão,
Deus de Isaac e Deus de Jacó, Deus altíssimo, autor do
céu e da terra, nosso escudo e escudo dos nossos pais,
confiança nossa por todas as gerações e gerações.
Bendito sejais vós, Senhor, escudo de Abraão.
2. Vós sois forte, sois aquele que abate os que se elevam,
que é poderoso e julga os violentos, que vive nos séculos, que ressuscita os mortos, guia os ventos e faz descer
o orvalho, que sustenta os vivos, que vivifica os mortos.
Num bater de olhos fazeis germinar para nós a salvação.
Bendito sejais vós, Senhor, que vivificais os mortos.
3. Vós sois santo e terrível é vosso nome. Não há Deus fora
de vós.
Bendito sejais vós, o Deus santo.
4. Sede favorável, Eterno Deus nosso, que habitais em
Sião. Que vossos servos vos sirvam em Jerusalém.
Bendito sejais vós, Eterno, para que vos sirvamos com temor.
5. Nós vos rendemos graças, a vós que sois Eterno Deus
nosso e Deus dos nossos pais, por todos os vossos
benefícios, pelo amor e pela misericórdia que nos concedestes e que testemunhastes a nós e aos nossos pais
25
O cotidiano de Maria de Nazaré
antes de nós. E se nós dizemos: O nosso pé vacila, vosso
amor, ó Eterno, nos sustenta.
Bendito sejais vós, Eterno, que vos comprazeis com a
ação de graças.
6. Ponde vossa paz em Israel, vosso povo, e na vossa cidade e na vossa herança, e abençoai-nos a nós todos em
unidade.
Bendito sejais, Eterno, autor da paz.16
16.Apud Teodorico BALLARINI (dir.), Introdução à Bíblia, tomo IV: Os Evangelhos, Petrópolis, Vozes, 1972, p. 61-62. Fizemos algumas modificações de
ordem estilística. Para a teffilá, cf. R. ARON, Gli anni..., p. 113-115; e Così...,
p. 83-85, que dá, das três últimas bênçãos, versões não coincidentes.
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Maria vai apanhar
água na fonte
Depois de arrumar a casa, a primeira coisa que Maria tem
que fazer, logo cedo, é buscar água – trabalho essencialmente
feminino (Jo 4,7.15). Ao sair de casa, entretanto, sua condição
de casada obriga-a a pôr o véu. Esse pedaço de pano é sinal
de submissão ao marido (1Cor 11,10). Seu uso em público é
obrigatório. Só em casa e no campo, longe de olhos estranhos,
pode a mulher dispensá-lo. Aparecer em público de cabelo solto
configura um verdadeiro escândalo (Lc 7,38). Pode ser motivo
suficiente para o marido pedir o divórcio (Mt 19,3). Para sair,
portanto, Maria põe seu véu, que lhe cai até a cintura e é, em
geral, colorido e bordado. Firma-o na cabeça com dois círculos
de pano ou de corda.
Em seguida veste por cima da túnica uma outra espécie de
capa ampla, também de uso obrigatório em público. Estar sem
ela equivale a estar nu (Jo 21,7). Embora essa capa tenha uma
função sobretudo social, serve também para se defender do
frio, inclusive como cobertor, durante as noites frias do Oriente.
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O cotidiano de Maria de Nazaré
Já os ricos usam longos e preciosos mantos, que carregam com
cerimônia e ostentação.
Vestida assim, ao completo, Maria pega um cântaro e desce até a fonte da cidade. Saúda as mulheres que encontra pelo
caminho com o convencional “a paz esteja contigo”. A fonte,
hoje denominada “Fonte da Virgem Maria” (em árabe Ain sitti
Mariam), é um espaço social muito importante, tanto mais que
a pequena cidade se desenvolveu ao seu redor. É, por excelência, ponto de encontro das mulheres da aldeia.
Enquanto espera a sua vez de tirar água, Maria ouve as mulheres trocarem notícias sobre a família de cada uma e sobre os
últimos acontecimentos na aldeia: o nascimento de uma criança
e como foi o trabalho da parteira; o noivado da filha de fulano de
tal e o dote combinado; a morte de uma anciã e em que condições ela deixou os filhos etc. E a conversa prossegue por aí.
O que sabe Maria da situação de seu tempo
Sobre o que mais gira a fala das mulheres na fonte? Falariam elas também da “grande política do mundo”? Que sabem
essas aldeãs, e Maria com elas, do mundo que está além dos
horizontes de Nazaré? Elas sabem certamente que Augusto reina em Roma e faz sentir seu poder (Mc 10,42) sobre os povos
colonizados através de seus legionários e seus “publicanos”,
presentes em toda a Palestina.
Sabem um pouco mais do rei Herodes, que manda sobre
toda a Palestina. Todos conhecem a crueldade desse monarca.
Cego de ciúme, mandou matar sua esposa preferida, Mariana, e,
por medo de perder o poder, estrangular dois filhos. Pouco depois
do nascimento de Jesus, ela mesma teve de se exilar com a família no Egito para escapar a seu furor sanguinário (Mt 2,13-1.8).
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O ritmo normal do cotidiano
Também não ignora que o filho daquele monarca, Arquelau, não
é menos suspicaz e violento que o pai (Mt 2,22; Lc 19,12.27),
chegando, por isso, a ser deposto e exilado pelo imperador.
Maria sabe igualmente que Herodes Antipas, rei da Galileia, embora dado ao luxo e muito esperto (Lc 13,32), é menos
truculento do que seu irmão Arquelau. Ninguém desconhece
o fato de ele estar construindo, no melhor estilo helenístico,
a cidade de Tiberíades, vizinha de Nazaré. E quando esse rei
frívolo se juntou com a cunhada Herodíades, sob os protestos
veementes do profeta João, seguidos de sua prisão (Mc 6,17-20),
a conversa das mulheres na fonte deve ter corrido solta.
Quando o velho imperador morreu – seu filho Jesus devia
ter 20 anos – todo mundo especulava sobre quem seria seu
sucessor. Por essa época também, fosse na fonte ou no mercado, todos comentavam o fato de que Anás tinha sido deposto
pelos romanos do cargo de sumo sacerdote e substituído pelo
cunhado Caifás. E, um ano antes que o filho partisse em missão,
Maria provavelmente ouviu comentários sobre o novo procurador romano, Pôncio Pilatos, que a voz popular afirmava ser um
homem corrupto, violento e sem escrúpulos.
O tom das conversas ao redor da fonte certamente baixa
quando são mencionados os zelotes. Esses revoltosos surgiram
na época em que Maria teve o filho, em Belém. Era o tempo
do recenseamento, sinal infalível de que vinha pela frente um
aumento de impostos. Daí a revolta dos zelotes. Seus fundadores, Judas Galileu e Sadoc Fariseu, arregimentavam adeptos
sobretudo entre os jovens (At 5,17), tanto mais que grassava,
na época, uma carestia tremenda.17
17.É o que diz Flávio JOSEFO, Antiquitates judaicae, 18,8: “A carestia impelia a petulância até os extremos”.
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O cotidiano de Maria de Nazaré
As mulheres de Nazaré, na fonte, também terão sabido do caso
horroroso dos dois mil zelotes que tinham sido crucificados pelos
romanos de uma só vez. Maria está consciente de que entre os parentes reina um misto de medo e simpatia por esses rebeldes.18
Por outro lado, o que sabe Maria sobre grandes pensadores contemporâneos, como Fílon, filósofo judeu, que vive
em Alexandria, ou sobre outro mestre famoso, Sêneca, que
ensina então em Roma, ou ainda sobre os famosos rabinos
Hillel, Shamai ou Gamaliel? Que interesse podem ter para ela
e para suas companheiras assuntos da “grande política” ou
temas da “alta cultura”? Talvez seus maridos e filhos entendam um pouco mais sobre tudo isso. De sua parte, ela está
convencida de que Deus “derrubou do trono os poderosos e
exaltou os humildes. Saciou de bens os indigentes e despediu
de mãos vazias os ricos” (Lc 1,52-53). O filho que teve por
obra do Espírito de Deus, contudo, não é o libertador prometido, o realizador das promessas? E, no entanto, a pergunta
volta sempre: “Como se fará isso?” (Lc 1,34).
Agora, porém, o que ela tem que fazer é “cuidar da vida”.
Depois de encher sua moringa, Maria a põe sobre a cabeça, costumeiramente protegida por uma argola de pano, exatamente
como fazem ainda hoje as mulheres no Nordeste brasileiro
quando vão apanhar água no açude. Sobe então, com porte
ereto e compassado, as ruelas tortuosas da vila, até chegar,
quase sem fôlego, em casa.
O que veem as mulheres de Nazaré na Mãe de Jesus? Nada
de mais. É para elas uma mulher como outra qualquer, uma
18.Cf. o romance histórico do sociólogo Gerd THEISSEN, A sombra do Galileu: pesquisa histórica sobre Jesus em forma narrativa, Petrópolis, Vozes,
1989, especialmente o cap. VIII, p. 82-89.
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O ritmo normal do cotidiano
Maria como tantas outras. O fato de ela ser a Mãe do Messias
prometido, e mãe virgem, não transparece aos olhos das que
a cercam. E se algo pudesse transparecer teria sido visto como
algo de estranho, que teria suscitado mais suspeita do que respeito. De fato, entre os judeus a questão de ser “filho legítimo”
é de tal importância que levantar suspeitas a esse respeito constitui a maior das ofensas (Jo 8,41). Os nazarenos, mais tarde,
não irão se referir ao filho dela mediante esta pergunta cheia de
despeito: “Não é ele o carpinteiro, o filho de Maria?” (Mc 6,3).
Pior: a tradição judaica posterior, por exemplo a do Talmud, interpretará a sua virgindade como véu para uma relação
absolutamente inconfessável: uma violação ou um adultério. O
filósofo de Alexandria Celso, do século II, reporta essas calúnias
que circulavam entre o povo:
Jesus [...] proveio de uma mulher do lugar, uma
coitada que ganhava a vida fiando [...] e que, acusada
de adultério, foi expulsa de casa por seu marido, um
carpinteiro. Foi-se embora, errando vergonhosamente, e, à sombra de uma cabana, deu à luz Jesus.19
19.Apud ORÍGENES, Contra Celsum, I, 28.32.
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DE MARIA DE NAZARÉ - Editora Ave