Pró-Reitoria de Graduação Curso de Biomedicina Trabalho de Conclusão de Curso ISOLAMENTO E CARACTERIZAÇÃO MOLECULAR DE PEPTÍDEOS ANTIMICROBIANOS DE Punica granatum L. Autora: Maria Eugênia Zaban Silva Orientador: Dr. Octavio Luiz Franco Brasília - DF 2012 MARIA EUGÊNIA ZABAN SILVA ISOLAMENTO E CARACTERIZAÇÃO MOLECULAR DE PEPTÍDEOS ANTIMICROBIANOS DE Punica granatum L. Monografia apresentada ao curso de graduação em Biomedicina da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Biomedicina. Orientador: Prof. Dr. Octávio Luiz Franco Co-orientador: Msc. Daniel Amaro Sousa Brasília 2012 Monografia de autoria de Maria Eugênia Zaban Silva, intitulada “Isolamento e Caracterização Molecular de Peptídeos Antimicrobianos de Punica granatum L.” apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Biomedicina da Universidade Católica de Brasília, em 12/11/2012, defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo assinada: ___________________________________________ Prof. Dr. Octávio Luiz Franco Orientador Curso de Biologia – UCB ___________________________________________ Profª. Drª. Simoni Campos Dias Examinador Curso de Biologia - UCB ___________________________________________ Profª. Msc. Janaína de Souza Duarte Examinador Curso de Biomedicina – UCB Brasília 2012 Dedico este trabalho aos meus pais, pelo amor, êxito em minha educação, exemplos de vida, conselhos e construção dos meus valores morais e éticos. AGRADECIMENTO Agradeço a Deus, por me guiar em todos os caminhos e me capacitar a realizar este trabalho; Aos meus pais, Maria Luiza Zaban Silva e Silas Cardoso Silva, por terem muitas vezes deixado de lado seus sonhos para viver os meus; Ao meu irmão, Bruno Zaban Silva, por ser um grande amigo de todas as horas, pelos conselhos e incentivos; Ao meu namorado, Diogo Luiz Alves de Araújo, por todo o apoio, amor, carinho e paciência dedicados a mim; Ao Dr. Octávio Luiz Franco, pela orientação, confiança e dedicação nesses anos de iniciação científica; Ao Msc. Daniel Amaro, por ter me co-orientado durante a iniciação científica e ter me ensinado a trabalhar em laboratório. “A genialidade é 1% inspiração e 99% transpiração.” Thomas Edison RESUMO Referência: ZABAN, Maria Eugênia. Isolamento e caracterização molecular de peptídeos antimicrobianos de Punica granatum L. 2012. 53 pg. Trabalho de conclusão de curso (Biomedicina). Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2012. A bactéria Staphylococcus aureus consiste em um patógeno que causa diversas doenças, como síndrome do choque tóxico, pneumonia necrosante, endocardite e osteomielites. O uso indiscriminado de antibióticos tem contribuído para seleção de microrganismos resistentes, dentre os quais várias linhagens de S. aureus já foram reportadas, assim como algumas espécies de fungos. Em resposta a isso, inúmeras pesquisas relacionadas a antibióticos têm sido realizadas, dentre as quais algumas possuem foco na descoberta de peptídeos antimicrobianos (PAMs). As sementes de romã (Punica granatum L.) possuem um rico conteúdo proteico e propriedades fitoterápicas conhecidas, inclusive de atividade efetiva contra patógenos microbianos. Porém não existem relatos científicos destas propriedades relacionados a compostos protéicos. Desta forma, este trabalho objetiva o isolamento de peptídeos a partir de sementes de romã com atividade antimicrobiana, por meio de purificação através de técnicas cromatográficas de fase reversa em coluna analítica de HPLC e testes antimicrobianos contra cepas Escherichia coli ATCC 8739 e Staphylococcus aureus ATCC 25923. O presente trabalho relata um novo peptídeo antimicrobiano, denominado granatidina. Este peptídeo apresentou inibição de aproximadamente 30 % do crescimento de S. aureus em uma concentração de 40 g.mL-1 , não apresentando, entretanto, atividade deletéria contra E. coli e A. fumigatus nas concentrações testadas. A determinação e análise de sua sequência N-terminal foram realizadas através de um sequenciador automático, onde sua porção N-terminal apresentou 26 resíduos determinados por sequenciamento de Edman como YTVPNAELNPLANQTEHQNFGNVPRE. A massa molecular de granatidina foi analisada em MALDI-TOF, apresentou um íon majoritário de 4785,11 Da e dois contaminantes de 5055,20 Da e 5305,82 Da. Em suma, identificou-se um novo peptídeo antimicrobiano. Entretanto, existe ainda a necessidade de estudos aprofundados a cerca do potencial terapêutico desta molécula, para que seu uso como composto biotecnólogico no combate a infecções seja efetivo. Palavras-chave: Punica granatum, romã, peptídeos antimicrobianos. ABSTRACT Reference: ZABAN, Maria Eugênia. Isolation and molecular characterization of antimicrobial peptides from Punica granatum L. 2012. 53 pg. Trabalho de conclusão de curso (Biomedicina). Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2012. Staphylococcus aureus is a pathogen that causes several diseases such as toxic shock syndrome, necrotizing pneumonia, endocarditis and osteomyelitis. The indiscriminate use of antibiotics has contributed to selection of resistant microorganisms, among which several strains of S. aureus have been reported, as well as some species of fungi. In response to this problem, many studies related to antibiotics have been conducted, among which some have focused on the discovery of antimicrobial peptides (AMPs). The seeds of pomegranate (Punica granatum L) have rich protein content and known phytotherapic properties, including activity effective against microbial pathogens. This work aims to isolate peptides from pomegranate seeds with antimicrobial activities, once there are no scientific reports of these properties related to proteinaceous compounds, through purification by chromatographic techniques associated to antimicrobial evaluations against Escherichia coli ATCC 8739 and Staphylococcus aureus ATCC 25923 strains. This study reports a novel antimicrobial peptide named granatidin. This peptide was able to inhibit 30 % S. aureus growth at a concentration of 40 g.mL-1, did not showing, however, any fungicidal activity against E. coli and A. fumigatus in tested concentrations. The determination and analysis of its N-terminal sequence was carried through an automated sequencer, where 26 residues of N-terminus portion were determined by Edman sequencing as YTVPNAELNPLANQTEHQNFGNVPRE. The molecular mass of granatidin was analyzed in MALDI-TOF, showing a majority ion of 4785,11 Da two contaminants of 5055,20 Da e 5305,82 Da. In summary a novel antimicrobial peptide was here displayed. Nevertheless the need for deep studies about the therapeutic potential of this molecule seems to be essential for its use as a biotechnological compound on an effective infection control. Keywords: Punica granatum, pomegranate, antimicrobial peptides. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................. 10 1. REVISÃO DA LITERATURA ....................................................................... 12 1.1 A RESISTÊNCIA AOS ANTIMICROBIANOS CONVENCIONAIS E A PROBLEMÁTICA DAS INFECÇÕES HOSPITALARES. .............................. 12 1.2 PATÓGENOS ASSOCIADOS ÀS INFECÇÕES ..................................... 17 1.2.1 BACTÉRIAS ..................................................................................... 17 1.2.2 FUNGOS .......................................................................................... 19 1.3 PEPTÍDEOS COMO PROMISSORES COMPOSTOS ANTIMICROBIANOS .................................................................................... 21 1.4 A SEMENTE DE Punica granatum L. ..................................................... 28 2. MATERIAL E MÉTODOS .......................................................................... 30 2.1 EXTRAÇÃO E PURIFICAÇÃO DE PEPTÍDEOS ANTIMICROBIANOS DE SEMENTES DE ROMÃ .................................................................................... 30 2.2 QUANTIFICAÇÃO PROTEICA ...................................................................31 2.3 BIOENSAIOS CONTRA BACTÉRIAS ........................................................ 31 2.4 ANÁLISE DE MASSA MOLECULAR ......................................................... 32 2.5 DETERMINAÇÃO E ANÁLISE DA SEQUÊNCIA N-TERMINAL................ 32 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................ 34 4. CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS.............................................................43 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 44 10 INTRODUÇÃO O crescente número de microrganismos que se tornaram resistentes aos medicamentos disponíveis tem deixado os serviços de saúde e profissionais em alerta. Aliada a esta questão, encontra-se o fato de que indústrias farmacêuticas reduziram o interesse na fabricação de antibióticos, dando preferência a medicamentos para o tratamento de doenças crônicas que atingem uma grande parte da população, como a diabetes, a hipertensão e as cardiopatias. Essas doenças, por acompanharem o indivíduo por toda vida, conferem muito mais lucro às indústrias, enquanto que o uso de antibióticos em tratamentos tende a ser relativamente curto. Enquanto os investimentos privados diminuíram, o problema da resistência bacteriana aumentou significativamente (NORRBYA et al., 2005). As infecções hospitalares (por definição, aquelas contraídas após a admissão do indivíduo em ambiente hospitalar, seja ela manifesta durante sua internação ou após a alta) constituem um problema grave aos cofres públicos e à vida dos pacientes que são acometidos, demonstrando a necessidade de um esforço por parte de todos os de profissionais de saúde que estejam envolvidos, no sentido de detectar casos, treinar profissionais, fornecer material informativo a pacientes e acompanhantes, controlar prescrição de antibióticos e padronizar metodologias que previnam estas infecções (Portaria MS n° 2616 de 12/05/1998; Who et al. (2011). Um dos principais microrganismos associado aos quadros de infecções hospitalares consiste na bactéria Staphylococcus aureus, da família Staphylococcaceae. Esta bactéria parece ser a mais virulenta do seu gênero, podendo ser capaz de produzir toxinas deletérias a células humanas (TORTORA, 2005). As bactérias Escherichia coli e Klebsiella pneumoniae também são responsáveis por quadros graves. Além destas, existem ainda organismos provenientes do reino Fungi que possuem potencial para infectar humanos, principalmente pacientes imunocomprometidos. Dentre estes fungos, Aspergillus spp aparece como representante (ANVISA, 2004a). 11 Uma alternativa ao problema da resistência bacteriana são os peptídeos antimicrobianos (PAMs). Eles são partes integrantes da imunidade inata de diversos organismos, de bactérias a plantas, de protozoários a insetos e mamíferos. Eles se fixaram nas mais diferentes linhagens de organismos por conferir vantagem de sobrevivência a seus possuidores desde o início da vida na Terra. Já foram reportados PAMs com as mais diversas ações, entre elas contra bactérias e fungos. Já foram reportados PAMs que neutralizam lipopolissacarídeos tóxicos de bactérias Gram-negativas e modulam a resposta imune inata e adaptativa em humanos. Em plantas, as proteínas microbicidas podem ser classificadas em diversos grupos de acordo com sua massa molecular, atividade, carga e estrutura dimensional. Entre eles, encontramos as defensinas, tioninas, as α-glucanases, proteínas transferidoras de lipídeos e proteínas killer (NIZET, 2001; BENKO-ISEPPON et al., 2010). Uma vez que os PAMs têm sido encontrados nas plantas, as sementes de romã aparecem como uma alternativa, pois apresentam alto conteúdo protéico. Sendo assim, torna-se concreta a iniciativa e a perspectiva de pesquisar e identificar proteínas de defesa nesta espécie. O presente estudo foi focado fundamentalmente na busca de peptídeos com atividade antimicrobiana, com efeito contra patógenos humanos, e com potencial para serem utilizados no desenvolvimento de produtos biotecnológicos. 12 1. REVISÃO DA LITERATURA 1.1 A RESISTÊNCIA AOS ANTIMICROBIANOS CONVENCIONAIS E A PROBLEMÁTICA DAS INFECÇÕES HOSPITALARES. O aumento de microrganismos resistentes aliado ao uso indiscriminado de medicamentos tornou-se um desafio de grandes proporções, saindo do âmbito anteriormente exclusivo de hospitais para se tornar um problema de ordem pública. Juntamente com esta problemática alia-se o fato da indústria farmacêutica priorizar a produção de medicamentos destinados a patologias crônicas, devido ao grande número de pessoas que os usam e, muitas vezes, por toda a vida (NORRBYA et al., 2005). Com isso decresce o investimento a drogas antibióticas, onde estes são mais propensos à competição e a um curto tempo de administração de seus usuários. No Brasil, data-se na década de 50 os primeiros dados de infecção hospitalar, com a utilização do termo “contaminação hospitalar”. Somente no ano de 1968 começaram a surgir às primeiras Comissões de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), sendo estas, entretanto, determinadas pelo governo como de grande importância para os hospitais da previdência somente em 1976. Em 1985, a grande repercussão da morte do recém-eleito Presidente da República Tancredo Neves, por conta de uma infecção hospitalar, fez com que o Ministério da Saúde elaborasse medidas que modificassem esse quadro iminente no país, sendo que nos anos 90 foi publicada a Portaria MS nº 930/1992, sobre o Programa de Controle de Infecção Hospitalar Brasileiro. Porém, ao descaso e não cumprimento desta Portaria por grande parte dos hospitais brasileiros, o Ministério da Saúde emitiu a Lei Federal nº 9.431/1997, que determinou a obrigatoriedade da manutenção de Programas de Controle de Infecção Hospitalar (PCIH) em todos os hospitais do país, tendo como objetivo a redução máxima possível da incidência e gravidade das infecções nosocomiais (ANVISA, 2004a). No ano seguinte, em 1998, o Ministério da Saúde emitiu a Portaria nº 2.616, a qual se mantém em vigor até hoje, que prossegue com a 13 obrigatoriedade de um programa de controle de infecção hospitalar em todos os hospitais do território nacional, além de determinar a organização e competências das CCIHs, critérios e conceitos acerca dos diagnósticos das infecções hospitalares, orientações sobre a vigilância epidemiológica e cuidados ao lavar as mãos, uso de germicidas, entre outros (PEREIRA, 2005). Com o surgimento da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) em 1999, a qual, entre muitas outras atribuições, tornou-se responsável pelo controle de infecção hospitalar em todo o território nacional, as secretarias estaduais passaram a ter apoio técnico, com a expedição de normas e legislações por esta agência de vigilância, permitindo a consolidação de documentos e promovendo a socialização de informações. Portanto, para um monitoramento mais efetivo no controle de infecções hospitalares, a ANVISA elaborou a RDC nº 48/2000, que aponta a sistemática para inspeção/avaliação dos PCIHs. Recentemente, em 2010, a ANVISA lançou o manual de Indicadores Nacionais de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde, que determinou a notificação obrigatória em âmbito nacional (em Unidades de Terapia Intensiva) dos indicadores de infecção de corrente sanguínea (IPCS) em pacientes com uso de cateter venoso central (CVC), um dos principais dispositivos hospitalares associados a infecções. Através das informações acima, chegou-se a conclusão de que o principal papel da Vigilância Sanitária, na temática de infecções hospitalares, seja, de fato, a monitorização e controle de produtos, serviços e ambientes que fazem parte do sistema de saúde, sendo estas ações respaldadas pelas legislações e normas acima citadas. Um dos principais fatores analisados pode ser relacionado à higiene do local, pois quando há uma efetividade neste quesito básico há uma influência extremamente positiva em todos os outros processos referentes a este estabelecimento. Apesar, entretanto, de ser uma atividade básica e que deveria ser intrínseca, constitui, ainda atualmente, um importante foco de propagação de microrganismos, acontecimento destas infecções (PEREIRA, 2005). favorecendo o 14 Uma das principais medidas para o controle das infecções hospitalares consiste na assepsia correta das mãos e aplicação de álcool em seguida. Outra medida que deveria ser implantada obrigatoriamente diz respeito ao isolamento de pacientes já diagnosticados com infecção; logo, faz-se necessário uma conscientização máxima por parte dos funcionários que tenham acesso a estes pacientes, para que não ocorra transmissão de um leito para o outro. A correta esterilização de materiais e o uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) que se descartem em local adequado logo após o contato com estes pacientes faz-se necessário (MERMEL, 2010). Um fato muito comum e que impressiona por sua ocorrência com frequência consiste na ineficiência ou até mesmo a inatividade da CCIH em alguns hospitais, acarretando em problemas tanto pela falta de capacitação dos profissionais em relação a esta problemática, quanto ao gestor que não possui conhecimento dos problemas que ocorrem em seu estabelecimento, muitas vezes de ordem grave e que geram altos índices de mortalidade. Ocorre de maneira muito comum, mesmo que haja uma CCIH, a ausência de um PCIH, onde esta trabalha com ações sem um direcionamento efetivo (PEREIRA, 2005). Um estudo feito pela International Nosocomial Infection Control Consortium (INICC), em 2010, demonstrou a gravidade do problema em UTIs, no período de janeiro de 2003 a dezembro de 2008. Participaram deste estudo 173 UTIs de 25 países, dos continentes europeu, asiático, africano e americano, onde, deste montante, 19 eram brasileiras. Estes dados reforçam ainda mais a necessidade de uma CCIH eficiente, principalmente no que se refere à questão de países com recursos limitados, pois, em alguns destes territórios, ainda não há regras juridicamente vinculativas ou regulamentos obrigatórios; nos poucos casos em que há um quadro efetivo, a adesão ainda assim permanece irregular. O Brasil se encaixa nesta realidade, visto que, como dito anteriormente, existem ainda hospitais que não realizam o controle de infecções. Através destes dados evidencia-se a importância de uma efetiva CCIH dentro destes estabelecimentos bem como a sua integração com os outros setores do hospital, já que todos os profissionais, independente do cargo ou se estão envolvidos ou não diretamente com os pacientes estão 15 relacionados tanto no acontecimento deste problema, como no controle do mesmo. As infecções hospitalares (aquelas contraídas após a admissão do indivíduo em um ambiente hospitalar, que pode se manifestar durante a internação ou após a alta) alia-se ao uso indiscriminado de medicamentos, havendo uma concomitância da resistência microbiana com o fato do paciente já estar com a saúde comprometida, agravando mais o quadro principalmente em Unidades de Terapia Intensiva (Portaria MS n° 2616 de 12/05/1998). Indivíduos que se encontram nestas condições, além de serem mais susceptíveis, contam com a má conduta de trabalho de alguns profissionais de saúde, como a má assepsia das mãos ou mesmo péssimas condições de higiene do local de trabalho, assim como o fato do ambiente hospitalar ser inevitavelmente uma fonte de patógenos virulentos e oportunistas, sendo transmitidos tanto por vias endógenas (aquelas pertencentes ao próprio paciente podendo, também, serem transmitidos por fatores inerentes ao mesmo como quadros de imunossupressão, por exemplo) quanto exógenas, ou seja, vias externas ao paciente, como o contato por mãos não higienizadas dos profissionais de saúde ou seus acompanhantes (ANVISA, 2006). Além deste fato, as complicações resultantes deste quadro são as principais causadoras de morbimortalidade hospitalar, o que, além de elevar o tempo que os pacientes permanecem internados, diminui a rotatividade dos leitos e aumenta os custos dos hospitais como demonstrado no estudo realizado por Oliveira et al., em 2009: dos 118 pacientes estudados em uma UTI, aqueles que adquiriram infecção hospitalar tiveram o tempo de internação aumentado em 15 dias, com o tempo de aparecimento da infecção, em relação ao tempo de internação, nos 8 primeiros dias. Segundo Who et al. (2011), nos Estados Unidos o aumento de 5.7 a 6.8 bilhões de dólares nos custos dos hospitais se deve justamente a esta elevação do tempo de internação dos pacientes. Outro dado relevante abordado neste estudo diz respeito à distribuição destas infecções por local de infecção, onde os quatro sítios primários 16 principais foram, em ordem crescente: trato urinário (80 % associada ao uso de cateter uretral de permanência), trato respiratório (pacientes submetidos à ventilação mecânica correm o risco de adquirirem pneumonia), corrente sanguínea (pelo uso de cateteres) e sítio cirúrgico (relacionados ou a pacientes submetidos a procedimentos de urgência, ou que apresentaram complicações no pós-operatório), demonstrados pela Tabela 1. Tabela 1: Principais procedimentos médicos associados com infecções hospitalares, doença de base e seus respectivos patógenos. PROCEDIMENTOS DOENÇAS PATÓGENOS Bacilos Gram-negativos, Cateterização urinária Cistite Enterococcus spp. Staphylococcus spp. Cirurgia Feridas, septicemia Bacilos Gram-negativos Staphylococcus spp. Terapia intravenosa Infecção no local, septicemia Enterobactérias, Candida spp. Pseudomonas spp. Intubação respiratória Pneumonia Klebsiella spp, Serratia spp. Vírus Hepatite B, Diálise renal Sepse, reação pirogênica Staphylococcus aureus, Pseudomonas spp. (ANVISA, 2004b, com adaptações). Infere-se, portanto, que as infecções hospitalares não somente são complicações que surgem em hospitais, mas constitui também como um dos melhores indicadores de qualidade do serviço prestado ao paciente, que engloba desde pequenos procedimentos essenciais por parte dos profissionais, 17 até condições organizacionais e relacionadas à estrutura oferecida pela instituição que oferece o serviço de saúde. Estima-se que acontecem em UTIs 10 a 25 % das infecções hospitalares de um hospital sendo que, nos Estados Unidos, um estudo demonstrou que de 5 até 35 % dos pacientes que são admitidos neste local, podem ser acometidos (MERIC et al., 2005). Um estudo realizado por Oliveira (2009) comprova, em números, um dado alarmante: em UTIs brasileiras que relataram a ocorrência de infecções hospitalares, a taxa destas foi de 9%, onde 14% deste montante foi a óbito. Estes valores podem apresentar alterações pela falta de um método de vigilância único para todas as unidades de saúde, porém são dados importantes e que merecem uma maior atenção. Portanto, faz-se necessário que haja um esforço maior por parte dos profissionais de saúde (sejam eles enfermeiros, médicos, microbiologistas, farmacêuticos) no sentido de detectar casos de infecção, padronizar procedimentos, treinar os profissionais e fornecer material informativo aos pacientes e acompanhantes, controlar a prescrição de antibióticos, recomendar e respeitar as precauções e medidas de isolamento e padronizar a aquisição de equipamentos e materiais (PUCCINI, 2009). 1.2 PATÓGENOS ASSOCIADOS ÀS INFECÇÕES 1.2.1 BACTÉRIAS Dentre os principais microrganismos responsáveis pelos quadros de infecções hospitalares encontram-se as bactérias, sendo que algumas são encontradas na flora normal do indivíduo sem causar quadros patológicos. Porém, em um estado de imunocomprometimento esta harmonia pode ser desequilibrada ou pelo fato de se apresentarem em outros tecidos que não colonizam naturalmente, causando patologias associadas (ANVISA, 2004a). Sobre os principais patógenos associados a infecções encontramos os componentes da família das Staphylococcaceae, compreendendo bactérias 18 Gram-positivas, dentre elas principalmente os S. aureus (Figura 1A), sendo a bactéria mais virulenta de seu gênero (TORTORA, 2005). Estão associadas principalmente a infecções em sítios como o pulmão, endocárdio, ossos e faringe (BUNCE et al., 1992; ANVISA, 2004b). Além de possuir estruturas em sua cápsula que dificultam a fagocitose pelas células de defesa do sistema imunológico do hospedeiro, a bactéria S. aureus produz toxinas e as secreta em sua superfície causando toxicidade às células humanas. Estão entre elas: toxina alfa – responsável por formação de poros na membrana celular de humanos; esfingomielase C – degrada lipídeos, constituinte principal da membrana celular humana; toxina da síndrome do choque tóxico – ativa de forma não específica os linfócitos, ocasionando reações do sistema imune descontroladas acarretando, muitas vezes, em letalidade ao indivíduo (TRABULSI, 2004). Ainda sobre patógenos associados, dentre as maiores causadoras de infecções do grupo de bactérias Gram-negativas encontram-se as Enterobactérias, representando mais de 80 % dos microrganismos isolados em rotinas microbiológicas e estão relacionadas a 70 % das infecções do trato urinário e 50 % de septicemias. Podem ser encontradas de maneira natural no trato intestinal de humanos e animais, bem como no solo, plantas e água (ANVISA, 2004b). São seus maiores representantes a E. coli, Klebsiella sp. e Proteus sp., tanto em infecções do âmbito hospitalar, quanto em infecções na própria comunidade (ANVISA, 2004b). As enterobactérias possuem algumas características cruciais na aderência às superfícies ou membranas mucosas como as fímbrias, que aumentam seu poder de virulência (TORTORA, 2005). As Escherichia spp. são consideradas membros praticamente universais do trato intestinal de humanos e outros animais, onde desempenham importantes funções nos hospedeiros (síntese de vitamina K, por exemplo), não sendo normalmente patogênicas. Porém, algumas linhagens são patogênicas, como E. coli (Figura 1B), podendo causar diarreia, meningite, septicemia ou infecções urinárias, devido à produção de enterotoxinas, sendo que as linhagens de E. coli, uma bactéria bacilar que causa diarreia, podem ser separadas em três grupos: Enteropatogênicas (EPEC - causando diarreia 19 aquosa, característica em crianças), Enterotoxigênicas (ETEC - causando diarreia aquosa do tipo cólera) e Enteroinvasoras (EIEC – causando diarreia que evolui apresentando muco e sangue). Algumas linhagens de EPEC podem causar, com maior frequência, infecções do tipo disentéricas e febres generalizadas (TORTORA, 2005). Figura 1: Micrografia de eletrônica de S. aureus (A) e E. coli (B), causadoras de infecção hospitalar. Fonte: Dennis Kunkel Microscopy, Inc. Disponíveis em: http://www.denniskunkel.com. 1.2.2 FUNGOS O reino Fungi também possui representantes associados a infecções hospitalares, representando um problema crescente de saúde pública. BeckSagué et al. em 2003 demonstraram que, nos Estados Unidos, a prevalência de infecções fúngicas subiu de 6% para 10,4% em um período de dez anos. A espécie Aspergillus spp. está entre as principais espécies fúngicas causadoras de infecções (atrás somente da espécie Candida spp.), abrigando cerca de 200 espécies. Poucas destas, entretanto, são patogênicas ao homem, que normalmente por meio da respiração aspiram seus esporos sem manifestação de patologias (ALMEIDA, 2000). Por serem fungos oportunistas, a principal taxa de mortalidade por estes se dá em pacientes imunocomprometidos, seja pela Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA), por quadros de câncer, como a leucemia ou por uso de medicamentos imunossupressores e corticóides. 20 O principal sítio de infecção por esta espécie compreende o trato respiratório através da invasão de hifas e destruição do parênquima pulmonar, sendo causada por diversas espécies do gênero, como o Aspergillus flavus (Figura 2A), Aspergillus niger (figura 2B) e Aspergillus fumigatus (figura 2C), sendo que 95 % dos casos de aspergiloses pulmonares são causadas pelo A. fumigatus; a infecção por estes tem sido denominada aspergilose, levando a uma complicação não somente nas cavidades que alojam os pulmões, mas também aos seios paranasais, pele ou até mesmo locais que abrigam cateteres intravenosos (PIANETTI, 2005). Relatos na literatura demonstram que este aumento da ocorrência de aspergilose como importante patologia associada à infecção hospitalar se refere a obras ou reformas no ambiente hospitalar, concomitante a ausência de uma manutenção efetiva dos filtros de ar, os quais abrigam os esporos dos fungos (FRENCH, 2005). Ressalta-se, portanto, que haja uma efetiva comunicação entre a CCIH e os demais setores do hospital, inclusive com os funcionários que realizem estas obras. Figura 2: Microscopia de A. flavus (A) A. niger (B) e A. fumigatus (C). Fontes: McGinnis e Deanna A. Sutton. Disponíveis em: http://doctorfungus.org. Com o crescimento do número de infecções hospitalares concomitante ao uso abusivo de antibióticos, a seleção de microrganismos resistentes se tornou grande fonte de preocupação para profissionais, estudiosos e cientistas, pois, além de aumentar a morbimortalidade, contribui para a seleção de 21 microrganismos resistentes, o que torna imprescindível a busca por novas alternativas de combate a estes patógenos. 1.3 PEPTÍDEOS ANTIMICROBIANOS COMO PROMISSORES COMPOSTOS De encontro a esta problemática surgem os peptídeos antimicrobianos (PAMs), como promessas de ferramentas biotecnológicas capazes de retardar a resistência de microrganismos (BENKO-ISEPPON et al., 2010). Por possuir uma estrutura diferente dos antibióticos convencionais, diminui a exposição da bactéria frente a estes compostos e, consequentemente, decresce a pressão seletiva. Os peptídeos antimicrobianos (PAMs) geralmente são compostos que fazem parte do sistema imune inato de todos os seres vivos. Para aqueles que não apresentam uma resposta imunológica adaptativa, os PAMs compõem a barreira inata contra organismos patogênicos sendo que, em organismos mais complexos, os PAMs participam tanto de uma resposta inata como adaptativa, sendo de fundamental importância na resposta do hospedeiro a infecções (NIZET, 2001). Em geral, os peptídeos antimicrobianos possuem menos de 60 resíduos de aminoácidos, possuem carga líquida positiva (BROGDEN, 2005), sendo variados quando se trata de seus dobramentos estruturais, compreendendo αhélices, folhas-β e hélices estendidas, representados na Figura 3. Apresentamse também como moléculas anfipáticas. Esta propriedade deve-se a presença de resíduos básicos de lisina, arginina ou histidina, juntamente com domínios hidrofóbicos formados por alanina, leucina, isoleucina, valina, prolina, fenilalanina, triptofano e metionina. (FIDANOVA, 2010; ZHANG, 2001). 22 Figura 3 - Exemplos de grupos de PAMs baseados em estruturas. A) Defensina isolada de castanha, um peptídeo com estrutura secundária mista (pdb 1BK8). B) Tachyplesina I, um peptídeo em β-hairpin, estabilizado por pontes dissulfeto, extraído do caranguejo-ferradura (pdb 1MA2). C) Indolicidina, um peptídeo sem estrutura secundária definida (1QXQ). D) Phylloseptina-2, um peptídeo em conformação de α-hélice, extraído da secreção de sapos do gênero Phyllomedusa (pdb 2JPY). As pontes dissulfeto estão representadas por bolas e varetas. Por meio destas características apresentadas que seus mecanismos de ação são elucidados. A interação destes peptídeos se dá por inserção nas membranas citoplasmáticas bacterianas com cargas negativas, além da interação com lipopolissacarídeos presentes em bactérias Gram-negativas. Por este modo ocorre a mudança na conformação da membrana bacteriana acarretando na permeabilidade de sua bicamada lipídica, promovendo desequilíbrio osmótico e, consequentemente, a morte da célula lesada. Esta letalidade às células se deve à constituição destes peptídeos, sendo 23 diretamente influenciada por sua sequência de aminoácidos que, dependendo de qual está presente, promove além de diferentes conformações moleculares, alterações em suas propriedades bioquímicas como hidrofobicidade, carga e anfipaticidade (HANCOCK, 2000). Existem diferentes formas de interação entre esses peptídeos e as membranas citoplasmáticas para que ocorra essa desestabilização; esta acontece geralmente através de mecanismos formadores de poros através da membrana, demonstrados na Figura 4. No modelo de barril (Figura 4A), os peptídeos são inseridos de forma paralela na membrana, abrindo um poro. No modelo carpete (Figura 4B), estes peptídeos solubilizam frações da membrana, levando a formação de poros. A Figura 4C mostra a representação de um poro toroidal, o qual tem sua formação a partir de PAMs inseridos de modo paralelo, alternando-se com lipídeos da própria membrana (BRODGEN, 2005). Os outros modelos apresentados na Figura 4 surgiram a partir de estudos e experimentos científicos mais elaborados. 24 Figura 4 – Mecanismos formadores de poros em membrana. Inicialmente ocorre a interação do peptídeo com a membrana bacteriana, por adsorção. Os diferentes mecanismos são representados por: A) Modelo de barril. B) Modelo de carpete. C) Poro toroidal. D) Poro toroidal desordenado. E) Modelo afinador de membrana. F) Acumulador de lipídeos carregados. G) Formação de intermediários de membrana. H) Direcionamento a lipídeos oxidados. I) Carreador de ânions. J) Despolarização não lítica. K) Modelo de eletroporação. (Adaptado de Nguyen, 2011). Porém, apesar da atuação em membrana ser o principal alvo, os peptídeos pode possuir atividade sobre componentes dentro da célula, deslocando através da membrana e atuando sobre os processos metabólicos, ligando-se ao DNA, inibindo a replicação, entre outros. Outra atuação descrita de grande relevância diz respeito à capacidade que alguns peptídeos possuem de estimular as defesas do hospedeiro, contribuindo para a resposta imunológica do indivíduo em frente ao patógeno (BROGDEN, 2005). 25 Os peptídeos antimicrobianos estão presentes nos mais diversos organismos, pertencentes à imunidade inata destes e conferindo vantagem de sobrevivência a seus possuidores. Já foram relatados na literatura peptídeos com diferentes ações, contra vírus, bactérias, fungos, protozoários, nematoides e insetos. Alguns outros peptídeos antimicrobianos apresentam ação citotóxica seletiva para células tumorais e espermáticas. São encontrados ainda peptídeos que neutralizam lipopolissacarídeos tóxicos de bactérias Gramnegativas e modulam a resposta imune inata e adaptativa em humanos (JONES, 2006). Uma vez que os PAMs são encontrados em diversos organismos, as plantas aparecem como importantes fontes destes peptídeos. Atualmente já foram descritos centenas de PAMs em plantas os quais são agrupados em famílias estruturais. As principais famílias relatadas na literatura são a das defensinas, tioninas, proteínas de transferência de lipídios, snakinas e os ciclotídeos (GARCIA-OLMEDO et al., 1998; HAMMAMI et al., 2009), com suas funções descritas na Tabela 2 e representadas pela Figura 5. 26 Tabela 2: Peptídeos Antimicrobianos de Plantas e Suas Respectivas Funções Nome do Peptídeo Número de Aminoácidos ou Tamanho α e β Tionina 45-47 ϒ Tionina (Defensina) Proteínas de Transferência de Lipídeos (LTPs) Ciclótides Snakinas 45-54 Função do Peptídeo Referência Antifúngica/ Antibacteriana (Bohlmann et al., 1988; Florack and Stiekema, 1994; GarciaOlmedo et al., 1999) Antibacteriana e Antifúngica Efeito inibidor em Hidrolases Atividade Inseticida 90-95 Formação de Cutícula e Embriogênese Estabelecimento de Simbioses Adaptação ao Estresse Abiótico Defesa 28-37 Antibacteriana (Gram-positiva) Antifúngica Inseticida 63 Cicatrização Antifúngica Interação Planta-Patógeno (Schrader-Fischer and Apel, 1993) (Epple et al., 1995; Osborn et al., 1995; De Samblanx et al., 1997; Segura et al., 1998) (Broekaert et al., 1997) (Chen et al., 2002) (Sterk et al., 1991) (Krause et al., 1994) (Hughes et al., 1992; Torres-Schumann et al., 1992; White et al., 1994; Jung et al., 2003; Jang et al., 2004; Carvalho et al., 2006) (Terras et al., 1992; Molina et al., 1993; Segura et al., 1993; Dubreil et al., 1998; Velazhahan et al., 2001; Gonorazky et al., 2005; Diz et al., 2006) (Tam et al., 1999) (Jennings et al., 2001; Jennings et al., 2005) (Berrocal-Lobo et al., 2002) (Bindschedler et al., 2006) (FARROKHI, 2008, com adaptações) 27 Figura 5. Protótipos das principais classes de PAMs encontrados em plantas. A) Peptídeo antimicrobiano EcAMP-1, extraído de sementes de capim Echinochloa crus-galli, um α-helical hairpin (pdb 2L2R). B) Cicloviolacina-O2, um ciclotídeo extraído de Viola odorata (pdb 2KNM). C) Proteína transportadora de lipídeos de Milho (pdb 1MZL). D) VrD1, uma defensina isolada da planta Vigna radiata . Não foi resolvida nenhuma estrutura para snakinas. As pontes dissulfeto estão representadas por bolas e varetas. 28 1.4 A SEMENTE DE Punica granatum L. Mais popularmente conhecida como romã (Figura 6), Punica granatum L. constitui-se como o principal representante da família Punicaceae. Estudos mostram que este arbusto ramoso, que pode alcançar até 7 metros de altura, possui frutos esféricos, com muitas sementes róseas ou avermelhadas e gosto ligeiramente ácido. Tem como origem relatada os países da Ásia, adaptando-se na região do Mediterrâneo, em países africanos e também na América do Sul, sendo bastante conhecida no Brasil (LORENZI, 2008). Devido a essa distribuição mundial, várias culturas apresentam relatos do uso da romã em rituais e tradições, sendo, por muitas delas, considerada um fruto sagrado. No islamismo, por exemplo, o fruto representa a fertilidade e abundância; já no cristianismo, possui significado de vida eterna e ressureição. Na mitologia grega, seu significado também era de vida, renascimento; era adicionalmente o fruto símbolo de casamentos, por representar a indissolubilidade dos mesmos (LANGLEY, 2000). As propriedades fitoterápicas desta planta são amplamente conhecidas, e seus efeitos são demonstrados por todas as suas estruturas vegetais. Um estudo realizado por Langley, em 2000, demonstrou que as flores da romãzeira são comumente utilizadas para prevenir a perda de dentes, por possuírem atividades de controlar a hemostasia e adstringente. Além disto, os brotos das flores, quando liofilizados, reconstituídos e pulverizados são utilizados no tratamento da bronquite, com eficácia comprovada. O extrato de romã mostra-se eficiente em melhorar a função cardiovascular, como foi demonstrado por Mattiello e colaboradores, em 2009. Em 2010, Caligiani e colaboradores pesquisaram e sugeriram que o óleo da semente de romã auxilia no metabolismo do colesterol. Dentre tantas pesquisas realizadas acerca desta planta, também se destaca o potencial cicatrizante no tratamento de feridas em animais, demonstrado por Pirbalouti e colaboradores, em 2010. A premissa para o surgimento de estudos científicos surge a partir do momento em que a sabedoria popular faz uso de extratos obtidos da 29 natureza, sendo estas pesquisas estimuladas pela Organização Mundial da Saúde. Estes estudos proporcionam, além de trabalhos de importância científica, a produção de medicamentos em menor tempo, com baixo custo sendo, portanto, mais acessíveis à sociedade (OLIVEIRA et al., 2006). Os estudos realizados acerca desta planta se mostram promissores, porém ainda existem poucos relatos científicos que detalhem seus mecanismos de ação, efeitos dos constituintes químicos e toxicológicos. Figura 6: Fruto da Punica granatum L., popularmente conhecida como romã. Fonte: RevistaRX. Disponível em: http://revistarx.com.br/?p=2261 30 2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1 EXTRAÇÃO E PURIFICAÇÃO DE PEPTÍDEOS ANTIMICROBIANOS DE SEMENTES DE ROMÃ As romãs foram coletadas em uma área residencial localizada a 15°.88’ 06’’ S, 48° 11’ 17’’O . Em seguida foram transportadas até o laboratório, para extração, de acordo com protocolo descrito por Maria neto, 2011, com modificações. As sementes, juntamente com os arilos (pesando um total de 798 g), foram separadas da casca, trituradas e homogeneizadas, onde a fração proteica das sementes foi extraída utilizando tampão Tris-HCl a 1% com NaCl a 0,6M (1:3 m/v). Centrifugou-se este extrato a 5.000xg por 90 min a 4o C para remoção dos restos celulares. O sobrenadante foi submetido à precipitação com sulfato de amônio (0- 100%) para precipitação das proteínas, sendo em seguida centrifugado a 5.000xg por 40 min a 4 o C. O precipitado, que corresponde à fração rica em proteínas, foi dialisado contra água destilada. O extrato dialisado foi submetido à ultracentrifugação em tubos AMICON 10k (Millipore), para uma separação prévia entre os peptídeos menores e maiores de 10 kDa. A fração abaixo de 10 kDa foi liofilizada. Em seguida, 1,0 mg desta fração foi então ressuspendida com o pareador iônico ácido trifluoracético a 0,1% e aplicada em cromatografia de fase reversa em coluna analítica de HPLC (Vydac C-18TP 522), com fluxo de 1 mL.min-1, onde as proteínas retidas foram eluídas com um gradiente não linear de acetonitrila (5% /10 min, 5-17% /5 min, 17-60% / 40 min), sendo coletadas em frações P1, P2 e P3. A detecção de proteínas foi feita a 216 nm. Um miligrama da fração P2 foi aplicado novamente na mesma coluna, com a mesma configuração, com exceção de uma mudança no gradiente de acetonitrila (5% /10 min, 5-17% /5min, 17-28% /40min). A fração ativa (fração 11) foi recromatografada com o mesmo método para aumentar a resolução. 31 2.2 QUANTIFICAÇÃO PROTEICA A quantificação protéica foi realizada através do kit Quant-iT™ Protein Assay Kit (Invitrogen). Um volume de 199 μL da solução tampão Quant-iT™ foi homogeneizado por 2 s, juntamente com 1 μL do reagente fluorimétrico QuantiT™. Logo após, uma alíquota de 10 μL da amostra foi adicionada a 190 μL da solução tampão padrão do reagente + fluorocromo padrão do reagente, sendo então homogeneizada por 2 s e incubada a uma temperatura de 25° C por 15 min. Após este tempo, essa solução foi submetida ao processo de quantificação no fluorímetro QubitTM e os valores de concentração protéica presentes nas amostras foram calculados utilizando três padrões protéicos distintos como referência na calibração prévia do equipamento. 2.3 BIOENSAIOS CONTRA BACTÉRIAS Os testes contra bactérias foram realizados em meio líquido LB (45 g.L-1 de bactotriptona, 5 g.L-1 de Extrato de levedura e 10g.L-1 NaCl, diluídos em águas destilada), utilizando controle negativo (água destilada) e controle positivo (cloranfenicol 40 μg.mL-1). Determinou-se a atividade antimicrobiana pelo método de micro diluição em caldo de acordo com M100-S22 do Clinical and Laboratory Standarts Institute (CLSI, 2012). O crescimento bacteriano foi determinado por espectrofotometria em leituras temporais consecutivas utilizando um comprimento de onda de 595nm. Os ensaios foram feitos contra as bactérias E. coli e S. aureus. O ensaio foi realizado pelo método de microdiluição em caldo LB suplementado com as amostras. Neste método, diluiu-se um inóculo, com caldo LB, para aproximadamente 5x104 UFC.mL-1 e adicionou-se a uma placa de 96 poços, em triplicata, juntamente com a amostra testada, a uma concentração de 200 µg.mL -1. O volume final por poço foi para 0,1 mL. Monitorou-se o crescimento bacteriano a 595 nm, a cada 30 min, durante a fase exponencial de crescimento bacteriano. Cloranfenicol (80 µg.mL-1) foi usado como controle positivo e água destilada como controle negativo.A exceção, a fração 11 foi testada a uma concentração de 40 µg.mL -1. 32 2.4 BIOENSAIOS CONTRA FUNGOS O teste contra o fungo A. fumigatus foi realizado através de inoculação de 50 μl de amostra (extrato rico) a uma concentração de 100 e 200 μg.ml-1 em discos de papel de filtro sobre meio sólido YPD (1% de extrato de levedo, 2% de peptona e 2% de glicose, 2% de ágar). Como controle negativo usou-se água destilada e estéril e como controle positivo fungizona (anfotericina B) a 100 μg.ml-1. Os fungos foram inoculados no centro da placa, e os discos de papel nas laterais, margeando o inóculo do fungo. Os meios foram mantidos em estufa (37° C) por cinco dias. A análise da inibição foi feita avaliando-se a presença de halos em volta dos discos (CLSI, 2012). 2.5 ANÁLISE DE MASSA MOLECULAR A análise de puresa e massa molecular das frações obtidas foi realizada em espectrômetro de massa MALDI-TOF/TOF Ultraflex II (Bruker Daltonics, Alemanha) equipado com laser Smart BeamTM controlado pelo software Flexcontrol 3.0. Objetivando as análises de MALDI-TOF MS, as frações liofilizadas foram dissolvidas em água ultra pura e homogeneizadas a uma solução saturada (50 μl TFA 3%, 250 μl ACN 100% e 200 μl de H2O Milli-Q) de uma matriz constituída por ácido α-ciano-4-hidroxi-cinâmico (1:3). Em seguida foram depositadas em duplicata em uma placa do tipo Anchorchip Var-384 e cristalizadas à temperatura ambiente. Os componentes moleculares presentes tiveram suas massas moleculares determinadas por MS com calibração externa com mistura de peptídeos padrão (Peptide Calibration Standard I, Bruker Daltonics) sob modo de operação refletivo e positivo (DAVE, 2011). 2.6 DETERMINAÇÃO E ANÁLISE DA SEQUÊNCIA N-TERMINAL A sequência N-terminal do peptídeo isolado foi determinada usando um sequenciador automático de proteínas Shimadzu PSSQ-21A em colaboração 33 com o Departamento de Bioquímica da Universidade Federal do Ceará, baseado no método da degradação de Edman (EDMAN et al., 1950) Para isto, 100 µg do peptídeo puro foram ressuspendidos em 30 µL de acetonitrila e aplicados no sequenciador. Obteve-se a sequência por análise através dos programas PSI-Blast (ALTSCHUL et al., 1997) buscando por sequências similares, que posteriormente foram alinhadas pelo programa ClustalW (THOMPSON et al., 1994). 34 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A presença descrita em relatos científicos de moléculas proteicas antimicrobianas em sementes de plantas (PELEGRINI, 2008; MARIA-NETO, 2011; NOLDE, 2011; MANDAL, 2012) tem estimulado diversas pesquisas nesta área. Com este objetivo, as sementes de P. granatum foram maceradas com tampão de extração Tris-HCl a 1 % contendo com NaCl a 0,6 M (1:3 m/v). Obteve-se inicialmente um extrato bruto que não foi submetido à avaliação da atividade antimicrobiana devido à alta quantidade de compostos não protéicos, como compostos secundários, que poderiam gerar resultados falsos positivos. Uma vez que o objetivo do trabalho era caracterizar compostos protéicos com ação antimicrobiana, o extrato bruto foi então precipitado com sulfato de amônio e em seguida dialisado, obtendo-se assim a fração rica em proteínas (FR) das sementes, sendo esta testada na concentração de 200 μg.mL -1 contra as bactérias S. aureus e E. coli bem contra o fungo A. fumigatus. A fração rica foi capaz de inibir 100 % do crescimento de S. aureus e 39% do de E. coli, (figura 7) mas não foi capaz de inibir o desenvolvimento de A. Fumigatus em nenhuma das concentrações testadas (dados não mostrados). 35 Figura 7: Avaliação do potencial antimicrobiano da fração rica das sementes de Punica -1 granatum contra S. aureus e E. coli a 200 μg.mL . O percentual foi calculado tendo como base -1 o controle positivo (C+: cloranfenicol a 80 μg.mL ) como 100% de inibição, após 4 horas de incubação. Água destilada foi utilizada como controle negativo. Assim, devido a maior atividade contra S. aureus, este microrganismo foi escolhido como modelo para realização dos testes subsequentes. Dados de um estudo comparativo publicado por Gonçalves e colaboradores, em 2005, demonstraram que, assim como a FR de romã apresentou atividade contra S. aureus, outros extratos vegetais como os de Schinus terebinthifolius (conhecida como aroeira vermelha), Eugenia uniflora (pitangueira) e Psidium guajava (goiabeira) também se mostraram efetivos em inibir o crescimento de S. aureus. Extratos proteicos de melão de São Caetano (Momordica charantia), também apresentaram atividade contra S. aureus (Mahmood et al., 2012), assim como os extratos de mamona (Ricinus communis), chicória (Cichorium intybus) e manjericão (Ocimum basilicum) (Salahudin et al., 2011). Em seguida, a FR foi aplicada em filtros AMICON® Ultra filter 10K, de modo a separar e concentrar as proteínas menores de 10 kDa, gerando a fração FR10K, e proteínas maiores que 10 kDa, que foram descartadas. A fração FR10K, com concentração de 200 μg.mL-1 foi então avaliada contra S. aureus (Figura 8). 36 Figura 8: Avaliação do potencial antimicrobiano da fração FR10K contra S. aureus a 200 -1 μg.mL . O percentual foi calculado tendo como base o controle positivo (C+: cloranfenicol a 80 -1 μg.mL ) como 100% de inibição, após 4 horas de incubação. Água destilada foi utilizada como controle negativo. A FR10K (1mg por corrida, no total de 7 corridas) foi aplicada em cromatografia de fase reversa (Figura 11A), onde foram observados no perfil cromatográfico, monitorado em 216 nm, três regiões principais, P1, P2 e P3. A fração P2 mostrou atividade antibacteriana, sendo capaz de inibir 95 % o crescimento de S. aureus a uma concentração de 200 μg.mL-1 (Figura 9). 37 Figura 9: Avaliação do potencial antimicrobiano das frações P1, P2 e P3 contra S. aureus a -1 200 μg.mL . O percentual foi calculado tendo como base o controle positivo (C+: cloranfenicol -1 a 80 μg.mL ) como 100% de inibição, após 4 horas de incubação. Água destilada foi utilizada como controle negativo. A fração P2 (1 mg por corrida no total de 3 corridas) foi então recromatografada (Figura 11B) na mesma coluna, porém o gradiente de acetonitrila foi extendido para aumentar a resolução dos picos. Foram geradas 17 frações (F1 a 17) que foram então avaliadas contra S. aureus, onde apenas a fração F11 mostrou atividade antimicrobiana (Figura 10). 38 -1 Figura 10: Avaliação do potencial antimicrobiano da fração 11 contra S. aureus a 200 μg.mL . -1 O percentual foi calculado tendo como base o controle positivo (C+: cloranfenicol a 80 μg.mL ) como 100% de inibição, após 4 horas de incubação. Água destilada foi utilizada como controle negativo. A fração F11 (80 µg, apenas uma corrida) foi recromatografada nas mesmas condições para assegurar sua pureza, onde 70 ug foram coletados e esta fração foi nomeada então granatidina (Figura 11C). A granatidina demonstrou atividade contra a bactéria Gram-positiva S. aureus (26,80%), na concentração de 40 g.mL-1 (Figura 10). Na literatura encontram-se diversos exemplos de peptídeos que possuem atividade bactericida contra S. aureus, como o Pg-AMP1, obtido de P. guajava, apresentando atividade contra S. aureus e, adicionalmente, após purificação, contra Klebsiella sp. e Proteus sp. (PELEGRINI, 2008). Outros peptídeos tambem se mostraram efetivos contra o S. aureus como o Cn-AMP1, originário da água de coco (Cocos nucifera L) (MANDAL, 2009) que se mostrou efetivo contra P. aeruginosa e E. coli. Além disso o peptídeo Cr-ACP1, proveniente de sementes de Cyca revoluta, uma planta ornamental conhecida popularmente como sagu-de-jardim, demonstrou atividade deletéria contra Staphylococcus epidermitis, Bacillus subtilis e P. aeruginosa (MANDAL et al., 2012). 39 Figura 11: HPLC de Fase Reversa com 1 mg de cada fração de P. granatum com menos de 10 kDa, monitorado a 216 nm em coluna analítica Vydac C-18TP 522. Linhas diagonais indicam o gradiente de eluição com acetonitrila. A) Fração FR10K, de onde foi coletada a fração P2. B) Fração P2 recromatografada, gerando 17 frações. A fração ativa (11) está indicada com uma seta. C) Fração11 recromatografada. 40 A massa molecular de granatidina foi analisada em MALDI-TOF, que apresentou um íon majoritário de 4785,11 Da e dois contaminantes de 5055,20 Da e 5305,82 Da (Figura 12), indicando que o peptídeo ainda continha impuresas e que uma separação subsequente deve ser feita para confirmação da massa real do peptídeo. De acordo com Lehninger (2011), o cálculo do número aproximado de resíduos de aminoácidos de uma proteína simples pode ser feito, dividindo seu peso molecular por 110. Embora a massa molecular média dos 20 aminoácidos primários seja cerca de 140, os aminoácidos menores predominam na maioria das proteínas, principalmente em peptídeos antimicrobianos. Desta forma, considerando-se o peptídeo como o íon majoritário encontrado na análise de massa, a granatidina possui em torno de 44 aminoácidos. Estatísticas obtidas pelo banco de dados PhytAMP demonstram que 83,4% dos peptídeos antimicrobianos obtidos de plantas possuem entre 20 e 67 resíduos de aminoácidos. O peptídeo granatidina corrobora com esta informação, pelo número de resíduos que seu peso molecular indica possuir. Em busca realizada no banco de dados Antimicrobial Peptide Database utilizou-se como parametro de busca peptídeos antimicrobianos de plantas que possuem entre 40 e 60 aminoácidos e atividade deletéria contra bactérias Gram-positivas. Massas similares foram obtidas como a descrita para o Ct-AMP1, com 49 resíduos, obtido da espécie Clitoria ternatea, popularmente conhecida como ervilha borboleta (THEVISSEN, 2000); Pn-AMP1 apresentando 41 aminoácidos, obtido de sementes de Ipomoea nil, planta conhecida como corriola (KOO, 2004) e Ee-CBP com 45 aminoácidos, um peptídeo isolado de Euonymus europaeus L., popularmente barrete-depadre. 41 Figura 12: Massa molecular de granatidina analisada em MALDI-TOF/TOF Ultraflex II (Bruker Daltonics, Alemanha). A fração 11, após recromatografada, foi submetida ao sequenciamento por degradação de Edman, de forma que os primeiros 26 resíduos do N-terminal do peptídeo granatidina foram obtidos, YTVPNAELNPLANQTEHQNFGNVPRE. Esta sequência foi analisada e comparada em bancos de dados (nonredundant protein database (NCBI), SWISSPROT Data Bank, APD e PhytAMP), porém não foram encontradas similaridades com outras sequências. A falta de dados in silico pode ser possivelmente atribuída à baixa quantidade de dados genômicos e proteômicos da ordem Myrtales, da qual P. granatum faz parte. Similarmente, outros peptídeos antimicrobianos apresentam baixa ou nenhuma homologia com os bancos de dados, como os peptídeos Cn-AMP1, Cn-AMP2 e Cn-AMP3 isolados a partir de água de coco (C. nucifera). Ao comparar estes peptídeos com o banco NCBI não foi encontrada nenhuma similaridade relevante. Porém ao comparar a estrutura primária da granatidina 42 com o banco APD, uma baixa homologia (30%) foi observada com os peptídeos antimicrobianos temporina G e uperina 2.1 (MANDAL et al., 2009). Outros peptídeos previamente isolados também não desmonstraram homologia com o banco de dados. Como exemplo pode-se citar os peptideos IbAMP-1, IbAMP-2, IbAMP-3 e IbAMP-4, isolados a partir de Inpatiens balsâmica (TAILOR, 1997). Estes peptídeos possuem carga altamente básica e 2 pontes dissulfeto, sendo derivados todos de um mesmo precursor de cDNA. A análise de sua estrutura por dicroísmo circular e ressonância nuclear magnética por prótons demonstrou uma estrutura formada por duas folhas β conectadas pelas pontes disulfeto, padrão até então inédito em plantas (PATEL, 1998). Apesar de não apresentarem homologia de sequência em bancos de dados, estes peptídeos apresentam um padrão estrutural que já foi descrito em peptídeos derivados de animais como a tachiplesina (LAEDERACH et al., 2002), derivada de hemócitos de límulo (Limulus polyphemus); a protegrina (LAI et al., 2002), derivada de javali (Sus scrofa) e a arenicina (ANDRA et al., 2008) derivada do anelídeo Arenicola marina. Os peptídeos MiAMP-1, isolado de Macadamia integrifolia (MCMANUS, 1999) e MBP-1, isolado a partir de Zea mays (DUVICK, 1992) eram até recentemente classificados como fora de qualquer família de peptídeos de planta. Com o avanço dos dados estruturais, foi descoberto que estes peptídeos, apesar de apresentar baixa similaridade de sequência, fazem parte da família das β-hairpininas (NOLDE, 2011). Sendo assim, possivelmente, a partir do sequenciamento completo da granatidina, aliado à resolução de sua estrutura, possa situar este peptídeo em uma das famílias existentes ou uma nova família de peptídeos antimicrobianos possa ser descrita. 43 4. CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS Os dados aqui mostrados descrevem um novo peptídeo antimicrobiano, denominado granatidina, encontrado em sementes de Punica granatum L., conhecida como romã. O peptídeo, nas concentrações testadas, possui atividade antibacteriana in vitro contra S. aureus, importante bactéria causadora de infecção hospitalar, porém não apresentou atividade fungicida contra o fungo A. fumigatus, responsável por diversos casos de aspergilose em hospitais. Futuramente outros estudos serão realizados para dar continuidade ao que foi encontrado neste trabalho, como o isolamento completo do peptídeo e caracterização molecular por sequenciamento completo visando a definição de qual classe pode-se incluí-lo ou se estamos diante de uma nova família de peptídeos antimicrobianos. 44 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, A. P.; CORREA, B.; MALLOZZI, M. A. B.; SAWAZAKI, E.; SOARES, L. M. V. Mycoflora and aflatoxin/fumonisin production by fungal isolates from freshly harvested corn hybrids. Braz. J. Microbiol.; v. 31, n.4, p.321-326, 2000. ALTSCHUL, S. F.; MADDEN, T. L.; SCHÄFFER, A. A.; ZHANG, J.; ZHANG, Z.; MILLER, W.; LIPMAN, D. J. 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